o Arquiteto Eo Imperador

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    O ARQUITETO E OIMPERADOR DA ASSRIA

    FERNANDO ARRABAL

    Cidado espanhol, Fernando Arrabal vive na Frana desde 1955. Contrrio ao regime dogeneralssimo Francisco Franco, partiu para um elio voluntrio, da mesma !orma "ue outros

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    intelectuais espanh#is, como o pintor $ablo $icasso %1&&1'19()* e o cineasta +us u-uel. Com amorte de Franco, em 19(5, muitos desses artistas puderam retornar. enos Arrabal, /persona nongrata0 no pas desde 19(.

    2esse ano, acompanhado da esposa. +uce oreau, Arrabal via3ou para a 4spanha. 4m adri, !oiabordado por um 3ovem "ue, entregando'lhe um volume de seu livro mais recente (Celebrando aCerimnia da Confuso),pediu uma dedicat#ria e um aut#gra!o. Alguns dias depois, em rcia,

    sua casa !oi invadida por um grupo de policiais. 6evia segui'los a !im de responder a uminterrogat#rio7 usariam a !ora, se recusasse. Arrabal s# veio a saber do motivo de sua priso"uando !oi enviado para a $enitenciria de adri. 4ra acusado de ter escrito uma dedicat#riasacrlega e antipatri#tica, pela "ual poderia ser condenado de seis a do8e anos de recluso.4n"uanto +uce oreau procurava, por todos os meios possveis, conseguir sua liberdade, Arrabal

    permanecia encarcerado numa solitria uma placa de metal lhe servia de cama, e os ratospasseavam livremente pelo cho. Foi solto, algumas semanas mais tarde, : espera do processo. Asautoridades espanholas haviam !icado surpresas com os telegramas e cartas de protestos "uechegaram do mundo inteiro.4m setembro, Arrabal so!reu um 3ulgamento absurdo pelo "ual !oi condenado a pagar cin";enta mil

    pesetas de multa. ua me, Carmen Ieran Arrabal, mulher muito religiosa e devotada rigidamente :s obriga?esdom=sticas, envergonhava'se do marido ateu e /vermelho0, omitindo a Fernando e seus dois irmostodas as in!orma?es sobre o marido.

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    Arrabal ui8, estava vestido apenas com um pi3ama. as nem sua morte nem sua sobrevivEnciapuderam ser provadas. uitos anos depois, Arrabal tentou locali8'lo, conversando com guardas ealguns de seus companheiros, mas nada conseguiu apurar.

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    ou!!=mont, onde !icaria um ano e meio.Fernando Arrabal considera o perodo em ou!!=mont um dos melhores de sua vida /Conservo asmelhores recorda?es do sanat#rio. Iinha todo o tempo livre para mim, o pessoal era bom e acomida !arta0. 4m ou!!=mont escreveu "uatro peas Fando e Lis (Fando et Lis), Cerimnia #araum $e%ro &ssassinado (C'r'monie #our un $oir &ssassin',), O Labirinto (Le Labrinte,) e Os

    Dois Carrascos (Les Deux Bourreaux*)* 2o !im de sua estao no sanat#rio, +uce encaminhou o

    teto de O !riciclo a Pean'arie >erreau "ue, !ascinado com Arrabal, comprometeu'se a publicartodas as suas obras.Animado pela perspectiva dos )RR !rancos mensais "ue >erreau se propOs a pagar, Arrabalentregou'se !reneticamente : tare!a de escrever. 4m dois anos, produ8iu oito tetos Cemit'rio de

    &utom+eis (Le Cimetire des .oitures), Orquestra/o !eatral (Orcestration !'atrale), Os0uatro Cubos (Les 0uatre Cubes,), & Primeira Comuno (La Communion olennelle), em 195(, eno ano seguinte, Concerto Dentro de um Oo (Concert Dans un Oeuf)1 2uernica (2uernica) e &

    Bicicleta do Condenado (La Bicclette du Condamn') !oram escritas em 1959.erreau montou a primeira pea de Arrabal, Pique-nique no Front, o nome do escritor 3era conhecido nos meios intelectuais parisienses. >erreau via no teatro de Arrabal a mesmatendEncia para o absurdo "ue marcava a obra de ecGett, Qonesco e outros dramaturgos. Apesar da

    admirao pelos autores de vanguarda, Arrabal a!irmava "ue suas obras tinham hori8ontes maisselvagens, menos especulativos e mais espetaculares. +onge de "ual"uer preocupao te#rica,colhia a mat=ria teatral dentro de sua mem#ria, de seus medos e pesadelos. Lbcecado por umain!ncia prisioneira, Arrabal criava personagens sem idade de!inida, usando uma linguagem e umal#gica "ue no !a8iam parte do mundo dos adultos. >o !re"uentes os 3ogos de palavras, o nonsense,a violEncia instintiva, as imagens colhidas no inconsciente. Arrabal di8 "ue escreve tudo o "ue lhe

    passa pela cabea, "ue no revE o "ue cria, nem se det=m numa palavra ou !rase para re!a8E'la. 2o= incomum "ue suas peas girem em torno do mesmo tipo de personagem, temas e situa?es,in!atigavelmente repetidos, como se o autor tivesse um compromisso muito maior consigo mesmo"ue com o pblico. /4u escrevo para mim, como para me drogar. >e o pblico no gosta, tanto pior.S um 3ogo, uma ealtao.0Beralmente o her#i de Arrabal = ambguo. Iirano e escravo, bom e cruel, inocente e culpado, vtimae carrasco, vive sempre : margem de um mundo ordenado "ue ele no compreende. >eu espao, aterra de ningu=m7 sua condio, a mis=ria. A maior ameaa "ue paira sobre ele vem do mundoeterior, epressa atrav=s da represso brutal e anOnima "ue surpreende seus valores antisociais esua liberdade, acabando por imobili8'lo. 2essa situao, a personagem !eminina de Arrabal = maislcida "ue o homem, reali8ando a mediao entre o her#i e o mundo opressor. A mulher aparecesempre sob um trplice aspecto de me'criana'prostituta, plena de instintos e intuio. 4scrava oud=spota, ela = a !onte de todas as possibilidades de iniciao do homem. 4 toda a dramaticidade deArrabal vem do 3ogo das rela?es entre as personagens e das mltiplas combina?es "ue seuscaracteres ambguos lhes permite.

    4m Fando e Lis, dois adolescentes reescrevem a hist#ria de omeu e Pulieta. >eu amor = negadono pelas !amlias, mas por sua condio !sica. Fando condu8 +is, "ue = paraltica, dentro de umcarrinho de criana. >em poder possu'la !isicamente, ele trans!orma seu dese3o seual emviolEncia. as +is, a invlida, consegue encontrar certa !ascinao no so!rimento, e, "uando do'mina a situao, = capa8, por seus mutismos, de levar Fando ao desespero. As invers?es brutais narelao senhor'escravo so um dos aspectos mais notveis nas peas de Arrabal.

    Fidio e +ilb= de Ora/o (Oraison), ap#s matarem uma criana, decidem se tornar bons e puros7para isso, lEem o Melho e o 2ovo Iestamento. as a descoberta da hist#ria de Pesus os desconcerta./L menino a3udou seu pai "ue era carpinteiro a !a8er mesas e cadeiras. Como ele era muito sbio, ame o abraava muitas ve8es. %...* 6epois ele se !e8 homem e o mataram eles o cruci!icaram comcravos nas mos e nos p=s. MocE se d contaT 4ssa pea. escrita em 195(, anuncia a id=ia de

    Cemit'rio de &utom+eis, produo de 19R, onde 4manou, o her#i, tamb=m = tomado porirresistvel dese3o de ser bom e acaba como Cristo, trado e assassinado.A encenao mais !amosa de Cemit'rio de &utom+eis !oi reali8ada em 19 pelo diretor argentino

    J

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    Mictor Barcia. 2a montagem "ue ele apresentou pela primeira ve8 no Festival de 6i3on eposteriormente em $aris e >o $aulo. Cemit'rio de &utom+eis era apenas uma das "uatro peas deArrabal integradas :s vrias se";Encias do espetculo. Funcionando como pr#logo, estava Ora/o,logo a seguir vinha o 1U ato de Cemit'rio de &utom+eis, depois a ao de Os Dois Carrascos,sucedida pelo @U Ato do Cemit'rio, o teto dePrimeira Comuno e, !inalmente, o eplogo da pea

    principal.

    2um cemit=rio de pesadelo, entre sucata e carcaas de autom#veis, Fidio, personagem de Ora/o,ao descobrir a hist#ria de Pesus, prepara os espectadores para 4manou, de Cemit'rio de &utom+eis,uma esp=cie de Cristo da era do 3a88, "ue tem )) anos e dois amigos, Iop= %Pudas* e FodVre%$edro*.

    2a interseco de Primeira Comuno, nos momentos !inais de Cemit'rio de &utom+eis, MictorBarca procurou no romper com a ao da pea mestra. 4scrita em 195&, Primeira Comuno =

    praticamente um longo mon#logo de uma av# "ue se dirige : netinha "ue vai comungar pelaprimeira ve8, discorrendo sobre as virtudes da ordem e da limpe8a e as vantagens de uma vidacrist. 4n"uanto a av# discursa para uma menina desinteressada, prepara'se paralelamente osuplcio de Cristo'4manou.Ap#s uma par#dia das cenas da paio de Cristo, nas "uais Pudas'Iop= bei3a e trai o her#i e FodVre'

    $edro o renega trEs ve8es, 4manou = cruci!icado numa motocicleta, mas, ao contrrio de Pesus, notem esperanas de ressurreio.A violEncia de Cemit'rio de &utom+eis !oi acentuada pela ao de Os Dois Carrascos* 6e cunhoautobiogr!ico, essa pea conta a hist#ria de denncia e morte, na "ual uma me delata o marido/culpado de ter comprometido o !uturo dos seus !ilhos0 em atividades subversivas, aurice eenoit, seus !ilhos, tomam posi?es radicalmente opostas em relao ao gesto "ue levaria o pai :

    priso, onde ele seria torturado e morto. 4n"uanto enoit se coloca ao lado da me, aurice repelecom horror a delao. as Franoise, a me, no papel da grande mrtir, consegue "ue aurice lhe

    pea perdo, pois acima de tudo !oi pensando neles "ue assim procedeu. >em muita convico e"uase chorando, o !ilho /rebelde0 abraa a me. Wouve "uem visse na personagem de aurice osmbolo de um povo humilhado, mas no vencido.

    O HUMOR, A POESIA, O PNICO

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    pnico e aos encenadores "ue gravitavam em torno dele. Como di8 o pr#prio Arrabal, o pnicoestava no ar. $ossivelmente, no o mesmo tipo de pnico, mas a preocupao com um teatro onde a

    plat=ia !osse atingida numa relao direta, torturante e muitas ve8es !sica. Apesar de di!erirem dastentativas de Per8X BrotoHsGi, de $eter rooG. ou do +iving Iheatre, nenhum deles negava anecessidade do teatro se !a8er ritual, romper seus espaos convencionais e entrar num contato maisestreito com o pblico. Como Antonin Artaud, eles achavam "ue o teatro devia reali8ar uma !uno

    /L teatro no poder tornar a ser ele pr#prio, ou se3a, constituir um meio de iluso verdadeira, seno !ornecer ao espectador modelos verdicos de sonhos, em "ue seu apetite do crime, suasobsess?es er#ticas, sua selvageria, suas "uimeras, sua noo ut#pica de vida e das coisas e seu

    pr#prio canibalismo transbordem para um plano "ue no = suposto nem ilus#rio, mas interior0.Antonin Artaud elaborara seu3anifesto do !eatro da Crueldade em 19)@. Irinta anos depois suasid=ias encontraram eco numa nova gerao de encenadores. 4 muitos deles, mesmo ignorando asteorias de Artaud, chegavam por seus pr#prios caminhos a conclus?es semelhantes. L pnico !oiinicialmente revelado por Arrabal nos romances O 4nterro da ardina (L54nterrement de laardine), de 191, e& Pedra da Loucura (La Pierre dela Folie,), de 19J. As primeiras peas doteatro pnico surgiram em 19J& Coroa/o (La Couronnement), O 2rande Cerimonial (Le 2randC'r'monial,) e tri#!ease do Ci6me (tri#-!ease de la 7alousie)* 6ois anos depois ele escreveria

    uma das melhores peas da sua carreira, O &rquiteto e o 8m#erador da &ss9ria (L5&rcitecte etL54m#ereur d5& ssrie)*

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    contar um !ato de sua vida, ou pedem voluntrios para um ritual sadomaso"uista. 2a Frana e nos4stados Dnidos, mais da metade da audiEncia "ueria participar, o "ue trans!ormava o espao cEniconuma grande rea de psicodrama. Arrabal colocava nessa obra todos os pontos do mani!esto deArtaud, alguns dos "uais 3 tinham aparecido em peas anteriores, sobretudo na montagem "ueMictor Barca reali8ou para Cemit'rio de &utom+eis*4m 19(R, Arrabal voltou'se para o cinema e reali8ou o !ilme .ia La 3uerte=, uma adaptao de

    seu romance Baal-Babilinia* >eguiram'se & >rore de 2uernica (L5&rbre de 2uernica) e 4uCorrerei como um Caalo Louco, onde os mitos e obsess?es de Arrabal so levados ao paroismo.Alguns crticos sustentam "ue Arrabal, onde "uer "ue mani!este seu gEnio criativo, reali8a sempre amesma obra, delirante e autobiogr!ica, cu3a !onte = a 4spanha mstica, blas!ema, reprimida,repressora, trgica, !arsesca e barroca. L pr#prio ecGett di8ia aos 3ui8es de adri, em carta "ue !oilida pelo advogado de Arrabal durante o processo de 19( /Lnde "uer "ue suas peas se3ammontadas e elas so montadas em todos os lugares a 4spanha est ali0.

    PROCURA DA METAMORFOSE

    L cenrio de O &rquiteto e o 8m#erador da &ss9ria = uma ilha deserta. As personagens, dois

    homens. Dm, civili8ado, nico sobrevivente de um desastre a=reo. L outro, um primitivo. A peainicia'se precisamente com um "uadro rpido o encontro do civili8ado com o assustado homem

    primitivo. A lu8 se apaga e "uando o palco volta a se iluminar, dois anos decorreram. Agora. elesso o ar"uiteto e o imperador da Assria.L sobrevivente, herdeiro de um mundo hierr"uico [ o mundo dos civili8ados [ ressuscitou comoum hipot=tico Qm=rio, !e8'se imperador e nomeou como seu absurdo ar"uiteto o homem primitivo.

    2os dois anos "ue se seguiram ao acidente, o imperador ensinou o selvagem a !alar eincansavelmente tenta ainda !a8er com "ue seu aluno assimile os valores de sua cultura.4m seu re!gio numa antiguidade hipot=tica, o homem civili8ado no conseguiu banir seus!antasmas e, apesar dos es!oros "ue !a8 para es"uecer o passado, ele vem : lu8 a todo instante,tra8ido do !undo de sua mem#ria e de seu inconsciente. Ao se !a8er supremo mandatrio de umanao impossvel, constatou "ue seu nico sdito e servidor go8a de mais vantagens do "ue ele, poisno tem passado, nem mem#ria e, principalmente, no tem me.esmo distante do mundo civili8ado e traumtico, o imperador no consegue deiar de sonhar e!antasiar suas pervers?es e seus medos, arrastando continuamente para seu 3ogo o parceiro nico.Dma imagem, uma lembrana, uma palavra, so capa8es de desencadear uma s=rie de situa?es,sentimentos, con!litos, "ue se multiplicam e se movimentam com a velocidade das imagenscinematogr!icas. A todo momento as mscaras se modi!icam e se invertem os pap=is dedominador'dominado. Ls dois homens so alternadamente me e !ilho, marido e mulher, vtima ecarrasco, 3ui8 e criminoso. W momentos de verdade no intervalo do 3ogo, mas eles escapam ao

    parceiro. Cada uma das personagens entrega'se a representao de vrias pessoas num

    caleidosc#pio de situa?es. 4ntretanto, sob a aparente desordem, o espectador sente a dramaticidadesutil "ue nasce das rela?es entre os 3ogadores.A solido = permanentemente preenchida por esse perp=tuo 3ogo de !a8'de conta. 2os momentos detr=gua, um tortura o outro com a possibilidade de abandono ou se !echa num silEncio desesperador"ue o outro no suporta. Ambos se inve3am, cada "ual por seus motivos, L ar"uiteto dese3a tornar'se civili8ado o imperador aspira : barbrie, a inocEncia, a ignorncia e ao poder sobre anature8a de "ue o ar"uiteto des!ruta.6issimulando sua !ragilidade, o imperador a todo instante ostenta sua superioridade de civili8ado/L mundo civili8adoN

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    esto condenados a viver 3untos. Qncapa8 de levar at= o !im a !arsa da superioridade, o imperadoreige para si um 3ulgamento, no "ual ele ser o r=u, e o ar"uiteto, o 3ui8. >ua culpa ter assassinadoa me. \nica atenuante estava su!ocado pelo amor materno.L longo processo "ue toma todo o segundo ato vai revestir'se das mesmas caractersticas deambivalEncia. L imperador veste as mscaras da esposa, do irmo, de um cego, das vrias outrastestemunhas de acusao. $or seu turno, o ar"uiteto tem dois pap=is dominantes o de presidente do

    tribunal e o da vtima %a me*.Ap#s des!ilar seus motivos e testemunhos, o imperador eige "ue se3a eecutado pelo ar"uitetonuma cerimonia de antropo!agia. 4, como num ritual de comunho solene, o ar"uiteto come seucorpo, suga seu c=rebro e descobre subitamente o in!erno da consciEncia culpada e solitria "uetanto atormentara o imperador. 4ste, sem c=rebro e sem mem#ria. reencarna'se no homem primitivo

    [ e a pea termina eatamente como comeou. 6'se uma eploso e um homem entra em cena,di8endo /Cavalheiro, venha me a3udar, sou o nico sobrevivente do acidente0. ># "ue desta ve8 osobrevivente = o ar"uiteto. 4 o 3ogo pode recomear.Arrabal considera O &rquiteto e o 8m#erador da &ss9ria uma pea terna. 6i8 tE'la escrito com /umagrande !elicidade misturada com so!rimento e muita alegria0. $ara muitos crticos = a demonstraomais !eli8 do teatro pnico. 4 embora no rompa com os limites convencionais do teatro, relativos

    ao espao palco'plat=ia, o espectador entra no 3ogo e representa consigo mesmo a tragicom=dia dacena.$or seu movimento delirante, O &rquiteto e o 8m#erador da &ss9ria no permite "ue o pblico se3aapenas assistente. co!!ield, resumindo sua eigEncia numa pe"uena!rase />_QA Y%uarda-rou#a rico, estimentas anti%as emodernas, de estilo barroco*

    L A

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    ATO I

    & a/o se #assa numa #equena clareira, numa ila onde o &rquiteto ie s+*Cenrio:uma cabana e uma es#'cie de cadeira r6stica* &o fundo, abrolos, ur?es*

    QUADRO 1

    Barulo de aio*O &rquiteto como um animal #erse%uido e amea/ado #rocura um ref6%io, corre

    em todas as dire/@es, escaa a terra, treme, recome/a a correr e #or fim enfia a cabe/a na areia*4x#loso* Claro forte de camas*O &rquiteto, com a cabe/a enfiada na areia, ta#a os ouidos com as mos e treme de medo*

    &l%uns instantes de#ois o 8m#erador entra em cena* !ra? consi%o uma %rande mala* Possui umacerta ele%Ancia afetada* Procura %uardar seu san%ue frio*!oca o outro com a #onta da sua ben%ala, di?endo

    Cavalheiro, venha me a3udar. >ou L nico sobrevivente do acidente.

    A

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    ame, mame, mame.

    Q$4A6L (assustado)Lnde !oi "ue vocE ouviu essa palavraT

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    Q$4A6L (mudando de conersa)MocE preparou a cru8T

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    Q$4A6L (derrubando a ta/a)L "ue = "ue eu vou !a8er com essa guaT ># bebo vodGa. . . (:isino*)

    AelvagemN

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    Aupremo Ar"uiteto da Assria,"uando vocE ignora at= os rudimentos da ar"uiteturaT L "ue diro os vi8inhosT

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    Aou eu, estouso8inho a"ui, todos me es"ueceram, mas vocE.

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    Q$4A6L

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    MocE prometeu "ue ho3e ia me ensinar como = "ue a gente !a8 para ser !eli8.

    Q$4A6LAgora no7 mais tarde, prometo.

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    oriental.

    Q$4A6LBrandissssimo asnoN 4 o contrrioN

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    as = assim "ue vocEs lutam por um mundo melhorT

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    Q$4A6LComoT MocE no = bati8adoT 4st perdido. 6urante toda a eternidade vai assar dia e noite e as mais

    belas diabinhas sero escolhidas para ecit'lo, mas elas lhe en!iaro !erros em brasa no cu.

    Aou eu outra ve8 "ue !ao o papel de con!essorN Fora da"ui, seu pestinhaidiota. 2o o con!esso. Mai morrer esmagado pelo peso dos seus crimes e "ueimar por toda aeternidade por culpa minha.

    Aonhei "ue. . .

    Q$4A6L

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    e me bater com !ora, uma ve8 chega.

    Q$4A6LLnde devo aoit'lo, meu senhorT (Com nfase) >obre as r#seas ndegas, sobre seu torso do =bano,sobre as suas pernas, colunas elegacas da imortal 4sparta. . .

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    para redimir a humanidade so8inhoT (3ima a crucifica/o* De re#ente, urrando) Ar"uitetoNAr"uitetoN (3ais baixo) $erdoe'me. (olu/a e se assoa* 3ima a crucifica/o*) Ls p=s, sim. Ls p=sconsigo pregar melhor do "ue um centurio, mas. . . (3ostra com %estos a dificuldade de #re%ar asmos*) Ar"uitetoN Molte, eu lhe bato "uanto vocE "uiser e com a !ora "ue vocE "uiser. (Cora* O

    &rquiteto entra* 3uito di%no o 8m#erador #Hra de solu/ar*) Ah, est a, no =T 4scutando atrs dasportasT e espionandoT

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    escovei os dentes.

    ML` 6L A

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    Conte, conteN

    Q$4A6L(maestosamente, enquanto se senta no trono)$ssaroN S, vocE "ue est a nesse galho, v apanhar para mim uma perna de cabrito. 2o estouvindoT >ou o imperador da Assria. (4s#era, numa #ose de %rande senor* 8nquieto) ComoT MocEousa se revoltar contra o meu poder ilimitado, contra a minha ciEncia e a minha soberana

    elo";Encia, minha palavra e meu orgulhoT Lrdenei "ue !osse buscar uma perna de cabrito. (4lees#era* O 8m#erador a#ana uma #edra e a o%a na dire/o do %alo*) $ois bem, vocE vai morrer. .. einarei apenas sobre sditos obedientes.

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    Malete de "uET

    Q$4A6LMalete de paus. Faa o "ue peo. S muito simples vocE coloca um pau entre as minhas ndegas para"ue eu possa !icar de p=, e me vista com uma !antasia de valete.

    Aua vontade ser !eita.

    Q$4A6LAiN 4stou morrendo, estou morrendoN Faa o "ue eu pedi. (O &rquiteto tra? um basto e a fantasiaum saco* 4le disfar/a o 8m#erador* &bre um buraco no saco #ara que a fi%ura a#are/a*) AiNme8inha, estou morrendo.

    Aelvagem, herma!rodita, d=bil mental.

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    simpticoN >empre brincandoN (Fin%indo enrubescer) Dma declarao. $residente, n#s no estamosmais no internato. (Pausa*) as no, no leve a coisa para esse lado, no sabia "ue o senhor erahomosseual. Fa8er uma declarao a mimN Melho libidinoso, libertinoN (Pausa*) ComoT Dmadeclarao de guerra ao meu pasT (Com c+lera) 6o alto desses arranha'c=us, de8 mil s=culos voscontemplamN 4u vos estriparei como uma mosca estripa um ele!ante selvagem, meu povo invadir ovosso e. . . L "uET Dma bomba de hidrogEnio vai estourar nas nossas cabeas dentro de trinta

    segundosT ame, mame. (& seu secretHrio) Dm guarda chuvaN (O &rquiteto abre um %uarda-cua e ambos se refu%iam debaixo* &o telefone) Criminoso de guerraN Assassino das sograsN (&o&rquiteto) 4 n#s "ue tnhamos preparado os avi?es para 3ogar as bombas de surpresa amanh :scinco horas. eu reino por um FEniN

    (4les mimam o barulo da queda de uma bomba* 3orrem, 9timas do bombardeio* Caem nosabrolos* De re#ente sur%em o &rquiteto, o 8m#erador, imitando dois macacos* 4les se unam norosto* Contem#lam a desola/o em que tudo ficou de#ois das bombas*)

    A

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    Aeria bem

    di!erente se vocE !osse !ormado, se tivesse cursado uma universidade, "ual"uer uma. 2#s no noscompreendemos. $ertencemos a dois mundos di!erentes.

    A

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    Q$4A6L (aidoso)Ienho sonetos !amososN 4 peas de teatro, com mon#logos e apartes. 2enhum escritor conseguiuigualar'se a mim. Ls melhores me copiaramN eethoven. d]Annun8io, Pames PoXce. o pr#prio>haGespeare e seu sobrinho ernstein.

    A

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    3ovem e sedutor. L prov=rbio = verdadeiro tal imperador, tal escravo. 6eie'me abraar o seuventre de !ogo.

    Aetivesse continuado poderia subir pelo elevador principal e conseguiria a chave do escrit#rio dosdiretores. (Pausa* ai* .olta com uma saia feita de feixes e a enfia cerimoniosamente enquanto

    )J

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    continua falando*) onhava "ue ia ser o primeiro em tudo. ou seu subordinadoN Lrdene. (Pausa*) MocE se entedia, eu me mato, masterei "ue alegr'lo. (ai e olta com um #inico* Leanta as saias e senta* Fa? for/a*) Qmpossvel.4stou com priso de ventre. (Lon%o momento de silncio* O 8m#erador continua sentado no #inico*

    Passa um lon%o tem#o* Leanta-se e lea embora o #inico* .olta sem ele* Come/a a corar*)$oderia ter sido relo3oeiro. Ieria sido livre e teria ganho muito dinheiro, so8inho, em casa,consertando os rel#gios, sem patro, sem superiores, sem ningu=m para debochar de mim.(Coramin%a*)

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    3ato de gua cristalina para banhar seus p=s brancos. . .0 e pensava ainda muitas outras coisas epassei toda a noite desenhando para ela7 como ignorava seu nome, decidi cham'la de +is. 2amanh seguinte !ui correndo para o encontro7 como estava emocionadoN Irabalhei na escrivaninha,meus che!es me acharam es"uisito.

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    ML` 6L Q$4A6L2o encontro. . . Lnde !oi "ue esse mole"ue en!iou issoT 4, no entanto, no = por !alta de eu lhedi8er /$onha tudo em ordem cada coisa no seu lugar0. Como saber onde ele deia as coisasT Dm

    penteN LraN Dm preservativo nessa ilhaT >er "ue o anticoncepcional chegou at= a"uiT Mou coloc'loN 4 ainda por cima serve certinho em mim. (2rita*) Ar"uitetoN Lnde vocE botou o meu vestidoT6eve estar remando como um condenado ou como um degenerado dos Pogos LlmpicosN AhN a

    3uventudeN

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    Com esse pobre velho "ue mora so8inho no "uinto andar.

    Q$4A6L (confessor)$erversa, vocE en!iou alguns espinhos a mais na carne do Cristo, com esse !arrapo humano. into as ltimas dores. Lnde= "ue est a padiolaT (Deita-se nela*)

    Q$4A6L (#arturiente)6iga'me uma coisa, doutor, vou so!rer muitoT (ilncio*)

    Q$4A6L (doutor)espire como cachorrinho.

    (4le res#ira*)

    Q$4A6L (doutor, ?an%ado)MocE no aprendeu a !a8er parto sem dorT espire. Assim AhN AhN

    (4le res#ira mal*)

    Q$4A6L (#arturiente)6outor, no consegui aprender. A3ude'me. 4stou so8inha... abandonada por todos.

    Q$4A6L (doutor)MocE s# sabe treparN 4 a nica coisa "ue vocEs sabem !a8er sem aprender. AhN AhN (:es#ira comocacorrino, mas bem*) Miu como = !cilT (4le res#ira mal*) Qn!eli8N $ensar "ue vocE !icava de"uatro como um animal com seu homem, e agora no sabe latir.

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    6outor, me a3ude. 6E'me a mo.

    Q$4A6L (doutor)$oli me tan%ere*

    Q$4A6L (#arturiente)

    >into as ltimas contra?esN P vem. 4stou sentindo

    Q$4A6L (doutor)Ah, a"ui est a cabea, boa cabea . . .aparecem os ombros. . . ons ombros.

    (.o? ofe%ante, ele #arturiente %eme, urra, baba*)

    A"ui est o peito, belo peito. Dm ltimo es!oro. ais um es!oro.

    Q$4A6L (#arturiente)2o ag;ento mais, doutor. e anestesie. 6E me uma droga.

    Q$4A6L (doutor)MocE pensa "ue = Ihomas 6e

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    Q$4A6L (me)Fisioterapeuta, = o "ue h de mais chi"ue. >uas mos vo massagear as costas, as coas, os ventresde todos os homens do mundo. 4la vai ser a reencarnao de aria adalena. (Curta #ausa* 4moutro tom, diri%indo-se ao 8m#erador-es#antalo) Qmperador, Qmperador. (4m outro tom, num %rilodoloroso) Ar"uiteto Ar"uiteto Ar"uiiiii (& o 8m#erador) Me3a s# como ele =N 4le me detesta, me

    abandona minha triste sina Foi embora em busca de aventura nessas ilhas e s# 6eus sabe o "ueencontrar. (P@e-se de quatro*) Qmperador. sou um camelo sagrado do deserto, suba nas minhascostas "ue eu vou lhe mostrar os mais !ascinantes mercados de escravos machos e !Emeas de todo oLriente. >uba nas minhas costas, Qmperador. ata'me com o seu chicote imperial, para "ue meu

    passo se3a duro e e!ica8 e para "ue a sua divina pessoa possa, dentro em breve, puri!icar'se aocontato de corpos educados, 3ovens e vigorosos. (4ndireita-se*) e _caro, +eonardo daMinci ou 4instein levantassem do tmuloN $ara "ue n#s inventamos os helic#pterosT (Pausa*) 999

    pontos. >em a"uele bEbado eu marcaria automaticamente de8 pontos a mais. A partida, 6eus. Lsan3os. L c=u e o in!erno. Ls bons e os maus. L santo prepcio e seus milagres. As h#stias "uesobem ao c=u em clices suspensos por correntes de ouro. L concilio medindo o comprimento das

    asas dos an3os. As esttuas da Mirgem "ue choram lgrimas de sangue. As piscinas e as !ontesmilagrosas, o asno, a vaca, a mangedoura. (;m tem#o* Citando) /Iudo o "ue h de atro8, enauseabundo, de !=tido, de vulgar, se resume numa palavra 6eus.0 (:i*) 4sse = dos meus. # !a8em o "ue lhes d natelha. A educao moderna, L progresso. A sociedade protetora dos animaisN Iudo anda de pernas

    para o ar. Dm dia os discos voadores descero na terra. (3ima a ce%ada*) >enhor arciano. . . %A#arte) >upondo "ue se3am marcianos. . . >e3am benvindos a terra.

    Q$4A6L (marciano)Blu'tri'tro'piiiii.

    Q$4A6L (ao 8m#erador-es#antalo)Ls marcianos !alam assim. (&o marciano) L "ue = "ue vocE est di8endoT

    Q$4A6L (marciano)Iru'tri' loo'piiiiii.

    Q$4A6L (ao 8m#erador-es#antalo)4le !ala dos sistemas de educao. (&o marciano) >im, eu compreendo. MocE tem ra8o. Comnossos sistemas caminhamos para o abismo.

    Q$4A6L (marciano)Flu'!lu '!lu ' !lu'!lu'3iiiii.

    Q$4A6LMocE "uer me levar para o seu planetaT (&terrado)2o. muito obrigado, pre!iro !icar a"ui.

    Q$4A6L (marciano)

    Iri'clu'tri'clu'tri . . .

    Q$4A6L

    JR

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    4u sou o terr"ueo mais engraado "ue vocE conheceuT (4nrubescendo) 4uT $obre de mimN as eusou como todo o mundo.

    Q$4A6L (marciano)$lu'plu'plu'griiii.

    Q$4A6LMocE no vai me botar no 3ardim 8ool#gicoT

    Q$4A6L (marciano)$li pli. . .Q$4A6LAhN Feli8mente.

    Q$4A6L (marciano)Plu'3li'gni'gni'poooo.

    Q$4A6LA !ilha do rei dos marcianos est apaionada por mimT 4la me amaT

    Q$4A6L (marciano)i 'Glo' looooo.

    Q$4A6LAhN 6esculpe, eu compreendi mal. MocE = muito bonitinho. 4n!im.. . mais ou menos.

    Q$4A6L (marciano)Bri ' gri ' treeeee.

    Q$4A6L

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    um autom#vel para "ue possa percorrer todos os meus pensamentos. (3uito triste) 4 cachimbos deonde vai 3orrar a !umaa l"uida, onde as espirais se trans!ormaro em despertadores, enugarei os

    pntanos para "ue sur3a do seu lodo uma n=voa de !lamingos vermelhos com coroas de papelprateado, temperarei as iguarias mais deliciosas e vocE beber licores destilados com a essEncia dosmeus sonhos . . Ar"uiteto N (2rita*) Ar"uiteto (0uase corando*) >eremos !eli8es. (Baixa a cabe/ae fica assim al%um tem#o* :ecom#@e-se.Di? com nfase) 4u o ve3o, Qmperador. Me3o seu

    despertar. A televiso da Assria "ue transmite em dose as primeiras batidas dos seus clios sobre osolhos !echados . . . em todos os povoados e nas aldeias, as mulheres deviam chorar ao contempl'lo.(3uda de tom*)2o, ele no tem mais de )5 anos, tem )5 no mimo. 4le = to criana, to poeta,de uma to grande espiritualidade, "ue id=ia nome'lo Ar"uitetoN (!em uma id'ia luminosa*)Qmperador, podemos saber a idade dele. $odemos calcular . . . (Diri%e-se #ara a cabana*) A"ui esto saco. (O es#ectador no o que ele fa?* ai*) Mou eplicar. Mai ver como = simples. 4le corta oscabelos uma ve8 por ano e, por causa de uma superstio, ele os enrola numa !olha e coloca nosaco. $ara saber a idade dele basta contar o numero de !olhas. MocE compreende. Qmperador, comoso brilhantes as minhas id=iasN inha me 3 di8ia como meu !ilho = inteligenteN (4ntra nacabana*)

    ML` 6L Q$4A6LDm, dois, trEs... as tem muitas !olhas... (8nquieto) "uatro, cinco, seis, sete.. . (Pausa* Lon%o

    silncio* 4le sai a#aorado*) S impossvel, h centenas de !olhas. >er "ue, por acaso, essa !onte.. .Centenas de !olhas, pelo menos mil. . . anhando'se todos os dias. . . il talve8. (4ntra na cabana*

    Lon%a es#era* ai*) 4 todas as !olhas com cabelos, os cabelos dele, alguns 3 meio podres... A !onteda 3uventude... (&terrado) as como... 4le nunca me disse. econheo os cabelos dele, sempre damesma cor, do mesmo tom. . . Como = "ue pode.

    (4s#antado, sai correndo* ilncio* 4ntra o &rquiteto*)

    A

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    mHscara*) A senhora e a esposa do acusadoT

    Q$4A6L (es#osa)>ou, senhor 3ui8.

    A

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    A senhora o traiu com outros homensT

    Q$4A6L (es#osa,)4 o "ue = "ue o senhor "ueria "ue eu !i8esse o dia inteiro so8inhaT 4sperar por eleT

    A

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    A

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    2unca !omos l para verN

    Q$4A6L4nto vamos. AhN P imaginou eu tran";ilamente no centro, cercado de terra por todos os lados,!eli8 como um verme, completamente louco e pensando ser um transistor.

    Aeu es"uenta'comida, seu co8inheiro de nabos, seu

    papa'moscas.

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    :ecoloca a mHscara de #residente do tribunal*)

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    Q$4A6LCale a boca, miservelN Lua a brisa dos s=culos "ue proclama a nossa obra imortal. (ilncio*) 6oalto desses. . . ("esita*) MocE ser ar"uiteto, o ar"uiteto supremo, o grande organi8ador, um deus de

    bolso, para me epressar melhor. 4, diante de vocE, condu8indo'o, o grande Qmperador, mod=stia :parte, eu mesmo, regendo o destino da Assria e condu8indo a humanidade para gloriosos amanhs.

    Ainto como se um enorme olho. . .

    Q$4A6L4u tamb=m. . . um grande olho de mulher.

    A

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    ele comeava a tremer e a se 3ogar de encontro banheira. +embro'me de "ue, um dia, acaboudando um corte pro!undo na mo e molhou seu seo com o sangue, entoando um cntico e solu'ando. (!ira a mHscara, come/a a corar e cantarola*)

    Dies irae, dies illa

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    chorar para causar boa impresso, de ter um ar arrependido. $ara o diabo todos os conselhosN 4 para"ue continuar com todos esses tru"ues do tribunalT $ara "ue continue a representar a grandecom=dia da 3ustia. >e choro ou tenho um ar contrito, os senhores no acreditaro nem nas minhaslgrimas nem no meu arrependimento, mas compreendero "ue assumo o meu papel nessa pea elevaro isso em conta na hora da sentena. Ls senhores esto a para me dar uma lio mas sabemmuito bem "ue a lio pode ser dada a "ual"uer um, a comear pelos senhores. $ouco me importam

    os seus tribunais, seus 3ui8es de opereta, seus promotores marionetes, suas pris?es vingativas.

    (De re#ente o &rquiteto tira a to%a e fala*)

    A

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    P estou cansado de coar. Assim "ue comeo, vocE dorme.

    Q$4A6L6urmoT S assim "ue vocE trata um Qmperador da AssriaT Dm Qmperador da Assria ainda por cimachi!rudo, o "ue no "uer di8er nada ho3e em dia. Miva a monar"uiaN

    A

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    Q$4A6L (anso)Puro di8er toda a verdade.A

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    Lbrigado pelo seu depoimento. L tribunal dese3a ouvir ainda uma ve8 a esposa do acusado.

    (O 8m#erador troca a mHscara*)

    Q$4A6L (es#osa)$recisam ainda do meu testemunhoT

    A

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    Llho por olho, dente por dente.

    (O 8m#erador muito triste dH uma olta #elo #alco e se senta no co, dando as costas ao&rquiteto* !orna a cabe/a entre as mos* O &rquiteto o obsera com um ar contrariado* De#ois,endo que o caso =s'rio, se diri%e #ara ele* 4xamina-o minuciosamente e #or fim tira a mHscara*)

    Acalme'se, no = to grave assim.

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    Aou o seu cachorro policial.

    Q$4A6LDhN =dorN M buscar, v buscar. (O &rquiteto come/a a arranar a terra como um #olicial*)

    Me3amos o "ue vai descobrir o meu bom e !iel co.

    (O &rquiteto continua escaando e latindo* Por fim tira da terra uma #erdi? ia, que se%ura entreas mand9bulas e lea correndo, feli?* Lo%o olta* O 8m#erador o acaricia com ternura e le dHta#inas no lombo*)

    /2a escala das criaturas apenas o homem inspira um no3o constante, a repugnncia "ue inspira oanimal = apenas passageira.0 (O cacorro-arquiteto a#roa feli? e late ale%remente*) 4sse = dosmeus. Fi"ue para sempre ao meu lado, como um cachorro, e o amarei por toda a eternidade.

    (Fica ce%o e coloca +culos de ce%o*)

    Q$4A6L (ce%o tom solene)/Cante, # minha musa, a c#lera de A"uiles.0 Acho "ue 3 disse isso antes. Dma esmolinha para umcego de nascena "ue no pode ganhar seu po. Dma esmolinha. Lbrigado, minha senhora, asenhora = muito boa, "ue 6eus lhe dE uma longa vida e lhe conserve por muitos anos. Dmaesmolinha pelo amor de 6eus sabe, agora "ue sou cego, = "ue ve3o 6eus com mais clare8a. >enhor, ve3o'vos com os olhos da !=, agora "ue meus olhos esto cegos. L >enhor, como sou !eli8N>into a mesma coisa "ue >anta Ieresa de vila, v#s me introdu8is uma espada no cu.

    Aenhor, sinto tamb=m, como a santa,"ue os diabos 3ogam bola com minha alma. >enhorN Finalmente encontrei a !=.

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    L "ue "uer di8er com esse tom irOnicoT

    Q$4A6L (Olm#ia)Acho "ue ningu=m desaparece, mas "ue desaparecem com a pessoa.

    Ae teu p=. . .0 >er por isso "ue ho3e em dia h tantos pernetasT

    Ae "uiser podemos blas!emar 3untos agora.

    Q$4A6L (inquieto)PuntosT 4u e vocET las!emarT

    A

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    Aabe o "ue !ao "uando vou pra longeT 4vacuo com grande dignidade, em recolhimento.

    6epois, com o produto, "ue me serve de tinta, escrevo /6eus = um !ilho da puta. . .0MocE acha "ueum dia ele vai me trans!ormar em esttua de salT

    A

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    Ae cobrem de meias e ligas de mulher.6e noite, as estrelase chamam para o interior de meu c=rebro.

    (O .&rquiteto-me dan/a com ele uma es#'cie de farAndola*)

    Q$4A6L (#Hra de re#ente)

    Mou dar vocE para o cachorro.

    A

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    Q$4A6Lentia'me muito in!eli8. ei3avaminha me, e minhas mos e meus lbios !icaram su3os de sangue.

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    S. . . (Baixa a cabe/a, timidamente*)

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    Q$4A6L4u o respeito, "ue = "ue vocE entende dissoT

    Aer "ue no me obedecem maisT Me3amos.

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    3orde e saboreia a dentada*) WumN at= "ue = gostoso. Fico com a boca cheia d]gua. (De re#ente#Hra de comer, aterrori?ado*) 4spero "ue ho3e no se3a dia de 3e3uar. >er "ue = seta'!eiraT Acho"ue no. into'me outro

    (

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    homem. em "ue mereo uma sesta. Borilas da !loresta, vo buscar uma rede. (4s#era comconfian/a*) L "ue ' "ue est acontecendoT 2o ouviramT $edi uma rede. (4s#era comim#acincia*) as comoT 2o "uerem me obedecerT (Diri%e-se #ara as fola%ens*) 4i, vocE a,gorila. M buscar uma rede para mim. (4s#era al%um tem#o*)2o somente no me obedece, comosai correndo. S o cmuloN (enta-se %emendo tristemente*) $erdi toda a minha autoridade.

    (Escurido.)

    QUADRO III

    obre a mesa no restam do 8m#erador seno os ossos* O &rquiteto tem a mesma entona/o de o?que o 8m#erador, os mesmos %estos* 0uando olta a lu?, o &rquiteto estH cu#ando o 6ltimo osso*

    Aer "ue o sol ainda meobedeceT Mamos veri!icar "ue caia a noite. ($o acontece nada* Cu#ando de noo o 6ltimo osso,ele o coloca sobre a mesa*) Agora posso di8er, sem mentir, "ue terminei. (Os ossos ficam sobre amesa, onde formam uma es#'cie de esqueleto deslocado*) Falo so8inho como se estivesse com ele.4 preciso me dominar. (4m#urra a mesa com a mo e um dos ossos cai no co* 4le se abaixa #araa#anH-lo* Desa#arecem totalmente aos olos dos es#ectadores*)

    ML` 6L Aereno.Iran";ilo. Feli8. >em complica?es, sem su3eio. Mou estudar e chegarei a descobrir so8inho oeterno movimento do universo. (4stende uma #erna e ola na dire/o o#osta*) Coce'me a perna,me !aa c#cegas. (Lentamente, o rosto irado #ara o lado o#osto, deixa escorre%ar uma das mos

    #ara a #erna* $o momento em que toca o oelo com a mo, di? olu#tuosamente) Assim, a, coce,a, devagar, mais embaio, com a unha. Com mais !ora. Com as unhas. 4stou di8endo com asunhas. Com mais !ora. Coce com mais !ora. A. ais ainda. ais para baio. Com !ora. Com!ora.

    (De re#ente ' tomado de frenesi* e%ura com a outra mo aquela que o estaa co/ando, como seela no tiesse ida, e a contem#la sur#reso*)

    &

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