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JEANE FIGUEIREDO O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica São Luís 2015

O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

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JEANE FIGUEIREDO

O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

São Luís

2015

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RESUMO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se manifesta antes dos três anos de idade. No contexto epidemiológico, é quatro vezes mais comum entre meninos do que em meninas. O diagnóstico, desta síndrome, baseia-se na observação de sinais e sintomas identificados pelos pais e cuidadores. Entretanto, atualmente conta-se com terapias medicamentosa e comportamental. Ressalta-se a importância do desenvolvimento de pesquisas e grupos de estudos sobre o autista. No Brasil, buscam-se políticas sérias e consistentes voltadas para a síndrome do autismo. Esse estudo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica com abordagem quali-quantitativa, sendo utilizado um corte temporal de cinco anos de trabalhos publicados, tendo como fonte de pesquisa os bancos de dados da SIELO, LILACS e site do Ministério da Saúde e da Associação de Amigos do Autista (AMA). Foram selecionados 15 artigos, cujos resultados mostraram que a maioria dos autores concordam que as causas do autismo ainda são desconhecidas, com sintomas e graus de manifestações extremamente variados do autismo. Houve consenso na literatura sobre a importância da identificação e intervenção precoce do autismo, bem como a importância da assistência de enfermagem no apoio e orientação da família da criança autista. Palavras-chave: Autista. Espectro do Autismo. Transtornos do desenvolvimento.

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ABSTRACT

Autism is a developmental disorder that is manifested before the age of three. In an epidemiological context, it is four times more common in boys than in girls. The diagnosis of this syndrome, based on the observation of signs and symptoms identified by parents and caregivers. However, today it is counted on drug and behavioral therapies. We emphasize the importance of developing research and study groups on the autistic. In Brazil, are sought serious and consistent policies for the autistic syndrome. This study deals with a literature review of research with qualitative and quantitative approach, and used a temporary cut five years of published works, and as a research source of the SIELO databases, LILACS and site of the Ministry of Health and Association of Friends of Autistic (AMA). 15 items were selected whose results showed that the majority of the authors agree that the causes of autism are unknown, symptoms and with extremely varying degrees of symptoms of autism. There was consensus in the literature on the importance of early identification and intervention of autism, and the importance of nursing care in the support and guidance of the autistic child's family.

Keywords: Autistic. Autism Spectrum. Developmental disorders.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRA – Associação Brasileira de Autismo

ASA – Sociedade Americana do Autismo

AMA – Associação de Amigos dos Autistas

CDC – Center of Deseases Control and Prevetion

CID-10 – Código Internacional da Doença

CAA – Comunicação Aumentativa e Alternativa

DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatística de Transtorno Mentais

HCV – Habilidade Comunicativa Verbal

NAS – National Austistic Society

ONU – Organização das Nações Unidas

PECS – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras

RID – Intervenção Desenvolvimento de Relacionamento

SA – Síndrome de Asperger

TEAs – Transtorno do Espectro do Autismo

TEACCH – Tratamento e Educação para Crianças Autista e com Distúrbios

Correlatos da Comunicação

TGDs – Transtorno Globais do Desenvolvimento

TIDs – Transtorno Invasivos do Desenvolvimento

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Características mais freqüentes do autismo............................... 31

Gráfico 2 - Fatores de risco para desenvolvimento do autismo.................... 32

Gráfico 3 - Formas de diagnóstico................................................................ 33

Gráfico 4 - Formas de tratamento ................................................................ 35

Gráfico 5 - Intervenção de enfermagem em relação ao autismo.................. 37

Gráfico 6 - Dificuldades da família do autista................................................ 38

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 07

2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................10

2.1 História do autismo ........................................................................................10

2.2 Epidemiologia ............................................................................................... 12

2.3 Autismo no Brasil...............................................................................................13

2.4 Autismo no Maranhão ........................................................ ..........................14

2.5 Formas de tratamento ...................................................................................15

2.5.1 Tratamento medicamentoso ........................................................................... 15

2.5.2 Terapia Comportamental ................................................................................ 15

2.6 Relação família x autista .................................................................................. 17

2.7 A enfermagem e os cuidados a saúde da criança autista..............................19

3 OBJETIVOS............................................................................................................21

3.1 Objetivo Geral.....................................................................................................21

3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................21

4 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................21

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 23

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 35

REFERENCIAS.................................................................................................... 41

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1 INTRODUÇÃO

Historicamente, destaca-se o médico austríaco Leo Kanner, que

descreveu pela primeira vez em 1943 nos Estados Unidos, algumas das

características da pessoa com autismo. Um ano depois, em 1944, o médico

austríaco Hans Asperger, descreveu o sintoma de autismo de maneira muito

semelhante à de Kanner, mesmo sem ter havido nenhum contato entre eles.

(SOUZA, 2011).

Há relatos que em 1962, fundaram a primeira associação no mundo de

famílias de autistas a National Austistic Society (NAS). Essa associação tinha como

principais objetivos: abrir uma escola infantil para autistas, um domicílio para os

adultos e conceber um serviço de comunicação e apoiando outros pais (MELLO;

SILVA, 2013).

Desde a primeira descrição feita pelo médico Leo Kanner em 1943 existe

um consentimento em torno da compreensão de que as características do autismo

são aspectos observáveis que indicam déficits na comunicação e na interação

social, além dos comportamentos repetitivos e áreas restritas de interesses. Essas

características estão presentes antes dos três anos de idade, atingindo 0,6% da

população, sendo quatro vezes mais comuns em meninos do que em meninas

(CARNIEL et al, 2011).

Ainda segundo Carniel et al (2011) as particularidades da síndrome

autista variam de acordo com o desenvolvimento cognitivo; tendo quadros de

autismo associados à deficiência intelectual grave, sem o desenvolvimento da

linguagem, com padrões repetitivos simples, e também quadros de autismo,

chamados de Síndrome de Asperger, sem deficiência intelectual, sem atraso

significativo na linguagem, com interação social, e sem movimentos repetitivos tão

evidentes.

Para Silva e Mulick (2009), o autismo infantil está dentro de um grupo de

transtornos do neurodesenvolvimento que são chamados de: Transtornos Globais

do Desenvolvimento (TGDs), Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TIDs) ou

Transtornos do Espectro do Autismo (TEAs). Esses transtornos dividem-se em três

áreas específicas são elas: déficits de habilidades sociais, déficits de habilidades

comunicativas (verbais e não verbais) e presença de comportamentos, interesses e

ou atividades restritos, repetitivos e inalteráveis.

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Diversos estudos da literatura sobre o autismo têm destacado que esta

síndrome é uma doença que não tem um diagnóstico fechado e não tem cura.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), acredita-se que deve haver

mais de 70 milhões de pessoas com autismo no mundo (BRASIL, 2011).

Sabendo-se que as alterações do desenvolvimento normalmente, são

percebidas aos seis meses de vida, destacam-se como os primeiros sinais de

autismo: alterações do sono, indiferença em relação aos cuidadores, ausência de

sorriso social, desconforto quando acolhido no colo e desinteresse pelos estímulos

oferecidos, por exemplo, os brinquedos, ausência de atenção compartilhada (não

compartilham o foco de atenção com outra pessoa) e de contato visual (não

estabelecem contato "olho no olho"); comportamentos inalteráveis, ausência de

resposta ao chamado dos pais ou cuidadores, aparentando surdez, ausência de

reação de surpresa ou dificuldade para brincar de "faz de conta”, hipersensibilidade

a determinados tipos de sons, autoagressão, interesses circunscritos, às vezes,

gosta de girar objetos. (BRASIL, 2011).

As crianças autistas vivenciam experiências sociais restritas, ocasionados

por um distúrbio que altera as relações sociais e pessoais, provocando isolamento,

falta de empenho pelo próximo, déficits no desenvolvimento na linguagem, na

conduta, relacionam-se apenas com o meio familiar próximo, pessoas de escolas

especiais e terapeutas (BAGAROLLO; PANHOCA; 2010).

Corroborando com o exposto, Laznik (apud FLORES, 2013), diz que as

em relação às crianças que apresentam sintomas físicos, dificuldades em se

alimentar, irritabilidade, rigidez, atrasos no engatinhar, andar, sentar, é necessário

também observar à troca de olhares entre o bebê e sua mãe e se essa criança

busca ativamente o olhar da mãe, se ele corresponde a sua voz.

Vale ressaltar, a necessidade no contexto brasileiro, da criação de

políticas de saúde pública para o tratamento e diagnóstico do autismo, que possam

auxiliar nas pesquisas sobre o transtorno, tendo em vista o diagnóstico precoce, com

a intervenção prematura (BRASIL, 2011).

Com o diagnóstico precoce, as crianças que apresentam algum sinal de

autismo podem ser encaminhamento para neuropediatras, psiquiatra ou

neurologistas. O começo de um tratamento deve acontecer o mais rápido possível,

sendo importante disseminar, junto a diversos profissionais as informações sobre a

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detecção precoce, cooperando, por tanto, para o desenvolvimento da competência

nos atendimentos especializados (VISANI; RABELO, 2012).

Diante do exposto, ressalta-se a importância da atenção dos familiares,

que comumente, estão numa forte relação de contato e na sua grande maioria ainda

não sabem lidar com o autista e por desconhecerem a doença, muitos pais acabam

buscando informações através da internet, de amigos ou conhecidos que têm filhos

com o mesmo transtorno (SANINI et al, 2010).

É essencial ter conhecimento para saber avaliar as famílias de modo que

as intervenções sejam também, no sentido de apoiá-las, assim como mostrar

estratégias para minimizar o impacto da perturbação autista em suas vidas

(NOGUEIRA 2011).

A atenção por parte do profissional de enfermagem deve envolver não só

o portador do autismo, mas também, a família. Deste modo cabe a este profissional,

comunicar, aconselhar e fazer valer os direitos do ser humano, facilitando todos os

tipos de serviços que podem melhorar a qualidade de vida dos que sofrem

transtornos invasivos do desenvolvimento e de seus familiares (COSTA; VOLPATO,

2009).

Para se alcançar uma resposta mais efetiva da criança, observa-se que o

atendimento deve ser voltado para uma equipe multiprofissional de modo que todos

estejam completamente envolvidos em uma mesma linha de cuidados. O diálogo

entre os profissionais da área de saúde é fundamental, tanto para se avaliar a

evolução da criança, quanto para se planejar intervenções mais eficazes de

tratamento (CARNIEL et al, 2011).

Diante do exposto, enfatiza-se a importância deste estudo na busca de

conhecimentos atualizados relacionados ao tema, o qual servirá para ampliar o

entendimento sobre o autismo, tornando-se um subsídio para os profissionais da

Enfermagem e de outras áreas da saúde. Neste contexto, o estudo partiu dos

seguintes questionamentos: Quais os principais sintomas e características do

autismo encontrados na literatura? Quais as possíveis formas de intervenção de

enfermagem junto ao autista, apontados pela literatura especializada no assunto? E

quais ações que podem ser implementadas pela enfermagem no sentido de apoiar e

orientar família?

A motivação e o interesse em se estudar o autismo se deu

principalmente, em razão desta patologia ser ainda pouco conhecida entre os

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profissionais de enfermagem, embora a mídia venha dando uma certa atenção para

este tipo de transtorno. Com a repercussão da televisão, notou-se um maior

interesse de diversas áreas do conhecimento em dedicar esforços para

compreender e atender as necessidades do autista.

Sentiu-se a necessidade de ampliar o conhecimento produzido sobre este

assunto, buscando reduzir o desconhecimento a respeito dos sinais do autismo,

especialmente na área da saúde fornecendo subsídios para que entender o

comportamento autista e desta forma aprender a lidar com o problema.

Esse estudo tem como foco realizar uma revisão bibliográfica sobre

autismo em crianças, de modo a investigar a prevalência de sexo e idade, além de

relatar as dificuldades de uma família com uma criança autista e abordar as algumas

das terapêuticas existentes.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 História do autismo

A palavra autismo tem origem do grego "syndromé", cujo significado é

"reunião”, sendo um termo bastante utilizado para caracterizar o conjunto de sinais e

sintomas que definem uma determinada patologia ou condição (SURÓS, 2009).

Do ponto de vista etiológico é também uma palavra origem grega, advindo

do termo “autos” que significa “Eu próprio”, designação que tem acepção direta com

uma perturbação global do desenvolvimento humano, onde o indivíduo se centra

em si mesmo e se isola do “mundo exterior”. Quando acrescido do sufixo “ismo” dá

ideia de orientação ou estado (OLIVEIRA; ARAGÃO, 2011).

A história do autismo tem início em 1943 com o psiquiatra Leo Kanner

que desenvolveu uma teoria sobre a síndrome por observar clinicamente 11

crianças. Em 1911, o pesquisador Bleuler definiu o autismo como um dos sintomas

de esquizofrenia adulta (SANTOS; SANTOS, 2012).

É com base nessa perspectiva sobre o transtorno autista como

esquizofrenia, Bleuler que determinou alguns "sintomas fundamentais", tais como:

perda associativa, ou seja, o autista não consegue fazer associação e distúrbios

afetivos (VENANCIO, 2010).

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Segundo Souza (2011), Bleuler relata a síndrome dissociativa na psicose

adulta, particularmente na esquizofrenia. Neste estudo, o autor faz uso do termo de

esquizofrenia ao invés de demência que era utilizado pelo autor Kraeplin em 1896,

considerando ao mesmo tempo o autismo como uma perda de contato da realidade

em clientes que sofrem de esquizofrenia.

Kanner reformulou o termo como distúrbio autístico da convivência afetiva

relatando a síndrome com o mesmo sinal clínico de isolamento. E assim, analisou

um grupo de crianças com idades entre 2 anos e 4 meses a 11 anos. Tendo como

resultados: 1) ausência de linguagem ou incapacidade no uso significativo da

linguagem; 2) ecolalia; 3) extrema dificuldade para estabelecer vínculos com

pessoas ou situações; 4) recusa de comida; 5) repetição de atitudes; 6) boa

memória mecânica; 7) manipulação de objetos; 8) físico normal; 9) reação de horror

a ruídos fortes e movimentos bruscos (BRASIL, 2013).

O austríaco, Hans Asperger (1906-1980), passou a usar a palavra

autismo para um "espectro de distúrbios", o qual também estaria dentro do distúrbio

de Asperger. Ele estava convicto de que o autismo era resultado de uma relação

entre os fatores genéticos, biológicos e fatores ambientais (FLEISCHER; GRINKER,

2010).

Segundo a Associação Amigos do Autista (AMA, 2012), em 1944, Hans

Asperger pesquisou e classificou a Síndrome de Asperger, um dos espectros mais

conhecidos do Autismo. Reconheceu que embora os sintomas e problemas mudem

com o tempo, o problema em geral raramente acaba. O mesmo escreveu que “no

curso do desenvolvimento, certas características predominam ou recuam, de modo

que os problemas apresentados mudam consideravelmente”.

Segundo Vila et al (2009), a Síndrome de Asperger é uma perturbação

pouco comum, sendo muito tarde o diagnóstico devido à falta de capacidade em

conhecer os sinais e sintomas por parte dos profissionais, professores e

educadores.

Asperger aplicou descrições de alguns casos clínicos, caracterizando

aspectos físicos e comportamentais, desempenho nos testes da inteligência, além

de enfatizar a preocupação com a abordagem educacional desses indivíduos e a

história familiar. Diante dessa perspectiva histórica, evidencia-se que no princípio os

estudos do autismo estão intimamente ligados com as características psiquiátricas

da esquizofrenia, em razão da coincidência de traços de isolamento social. E

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atualmente desprende-se da ideia de psicose para transtorno de desenvolvimento.

(TAMANAHA et al, 2009).

A Síndrome de Asperger (SA) é muitas vezes difícil de dissociar do

autismo e ainda apresentam dúvidas questionáveis ligadas à decisão de causas,

não tendo sido confirmado claramente fatores que poderiam responder pelo

aparecimento de uma ou de outra. As duas patologias têm seus principais sintomas

relacionados a complicações nas áreas de interação social, da linguagem e do

repertório comportamental, principalmente das habilidades sociais. A principal

modificação, indicado entre ambas as patologias, refere-se ao fato de a SA não

incluir desenvolvimento cognitivo e deficiência de linguagem.

2.2 Epidemiologia

A prevalência é estimada em 1 (um) em cada 88 nascimentos dando a

comprovação de que o autismo tem se tornado um dos transtornos do

desenvolvimento mais comum entre outras síndromes. (BRASIL, 2013). Embora

exista a comprovação científica da prevalência masculina de casos já registrados, é

possível levantar a hipótese de casos que não foram diagnosticados e, portanto não

devidamente somados as estatísticas.

Segundo Silva e Mulick, (2009), os primeiros estudos apontavam uma

prevalência de 4 a 5 casos de autismo infantil por 10.000 nascimentos. Porém,

investigações mais recentes avaliam um grande aumento de casos, alcançando a

média de 40 a 60 casos a cada 10.000 de nascimentos.

No Brasil, as pesquisas sobre o autismo, bem como dados sobre a

incidência da patologia são consideradas escassas. O assunto foi discutido no I

Encontro Brasileiro para a Pesquisa sobre o Autismo, onde se estimou um

quantitativo de 500 mil pessoas com autismo em âmbito nacional, cujos dados foram

baseados no de 2000 (BRASIL, 2013). Já a Associação Brasileira de Autismo

acredita que há aproximadamente 600 mil pessoas apresentam essa síndrome.

(CAMARGO, 2009).

Segundo a AMA (2012), os melhores resultados encontrados até o

momento, é que no Brasil a Síndrome de Asperger é notavelmente, mais comum

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que o autismo clássico. Enquanto o autismo tem tradicionalmente sido descoberto a

taxa de 4 a cada 10.000 crianças, estima-se que a Síndrome de Asperger esteja na

faixa de 20 a 25 por 10.000.

2.3 O Autismo no Brasil

Segundo a AMA (2014), atualmente no Brasil os indivíduos que são

portadores do autismo chegam a 1% da população de acordo com o próprio

Ministério da Saúde.

O país aderiu a partir do dia 02 de abril de 2008 a celebração do Dia

Mundial de Conscientização do Autismo, decretado pela Organização das Nações

Unidas (ONU). A intenção é chamar a atenção da sociedade sobre a síndrome e

levantar discussão a respeito do autismo. A cor azul foi escolhida como símbolo do

autismo, tendo em vista a comprovação de que a patologia é mais comum nos

meninos (BRASIL, 2013).

No que se refere realidade brasileira, Melo (apud COSTA, 2009), declara

que no Brasil existem leis que são utilizadas para a garantia dos direitos das

pessoas com autismo e seus familiares. Elas dispõem sobre o direito ao melhor

tratamento do sistema de saúde.

Recentemente, o Ministério da Saúde lançou uma cartilha que auxilia o

diagnóstico precoce do autismo, contando com uma tabela que traz indicadores de

todo o processo do desenvolvimento infantil (em anexo) e também alguns alertas os

médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL, 2014).

Outra associação relevante é a Associação Brasileira de Autismo (ABRA),

que é uma entidade civil sem fins lucrativos, com sede e foro em Brasília-DF, mas

com funcionamento itinerante, originalmente destinada a congregar associações de

pais e amigos de autistas. Ressalta-se que a AMA de São Paulo foi à primeira

associação de pais e amigos da pessoa com autismo no Brasil, fundada em 1983.

(ABRA, 2014).

Em termos de políticas públicas no contexto brasileiro, direcionadas ao

autista, a Portaria n. 962/2013, Institui Comitê Nacional de Assessoramento para

qualificação da Atenção à Saúde das Pessoas com Transtornos do Espectro do

Autismo no âmbito do Ministério da Saúde, considerando a Lei n° 12.764/2012, que

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institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do

Espectro Autista. (BRASIL, 2013).

2.4 Autismo no Maranhão

No que se refere ao contexto maranhense, atualmente a capital São Luís

conta com o Grupo Ilha Azul – Associação dos Pais, Familiares e Amigos de

Pessoas com Transtorno do Espectro Autista em São Luís que funciona na Rua dos

Papagaios, Jardim Renascença. E no interior do Estado, no município de Caxias há

a Associação de Amigos dos Autistas do Maranhão. (ABRA, 2014).

O grupo Ilha Azul é uma organização não governamental, fundado em

2011. O grupo tem como objetivo captar profissionais para atuarem junto ao portador

do transtorno autista, capacitando os que residem na cidade.

2.5 Formas de Tratamento

2.5.1 Tratamento medicamentoso

Não há medicamentos específicos ou comprobatórios para o autismo, os

medicamentos são receitados quando ocorrem outros sintomas paralelos ao

autismo, como hiperatividade, epilepsia e outros (HO, 2013).

O uso da medicação deve ser prescrito pelo médico, sendo indicado, por

exemplo, quando existe alguma co-morbidade neurológica e/ou psiquiatra e quando

os sintomas interferem na vida cotidiana. É muito importante o médico comunicar

sobre o que se espera com a medicação, qual o prazo esperado para que se

percebam os efeitos, bem como os possíveis efeitos colaterais (AMA, 2013).

Conforme assinala Oliveira (2011), existe diversas medicações,

desenvolvidas para outras situações que são eficientes para tratar alguns dos

sintomas e dos comportamentos encontrados frequentemente nas pessoas com

autismo. Alguns destes sintomas incluem: ansiedade, impulsividade, dificuldades de

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atenção e hiperatividade. O objetivo da medicação é diminuir estes comportamentos

para permitir que as pessoas com autismo tenham vantagem nos tratamentos

educacionais e comportamentais.

Segundo Vila et al (2009), os fármacos usados para o tratamento são:

Paxil, Ritalin, Risperal, Prozac, Addrerall, tendo ainda Desipramina e Nortiptylina

(anti-depressivos tricíclicos), estabilizadores de humor (Valproate, Lítio), beta

bloqueadores (Nadolol, Clonidina), a Clomipramina e a Fluoxetina, entre outros.

Com maioria dos psicofármos, estas medicações têm efeitos secundários e o risco

pode ir contra o processo terapêutico sendo necessário ter atenção nesse processo,

pois o risco é bem maior nas crianças.

2.5.2 Terapia comportamental

Atualmente, existem várias opções de tratamento e diferentes métodos

terapêuticos que podem ser usados isoladamente ou em conjunto. Ressalta-se que

embora um tratamento possa ter bons resultados para uma criança, poderá não ter o

mesmo resultado para outra, tornando cada situação única.

Para o indivíduo com autismo, o aprendizado de algumas atividades

diárias como usar o banheiro, tomar banho, cumprimentar as pessoas, brincar

ocorre de maneira limitada, lenta e conturbada para os padrões impostos pela nossa

sociedade atual. O comportamento não adequado, por vezes agressivo e ausente

para com as pessoas ao seu redor, é maneira que o autista tem de se comunicar

com o mundo exterior e estranho que o desafia (SURÓS, 2009).

Para entender e ajudar os autistas, foram elaboradas por estudiosos,

terapias, técnicas e métodos que comprovadamente deram grandes resultados no

tratamento, gerando desta forma uma melhor qualidade de vida tanto para o autista,

como para os seus familiares. As terapias comportamentais são um marco para a

reintrodução do indivíduo autista a sociedade, pois, muitos autistas tornaram-se

independentes e passaram a ter uma nova perspectiva de vida (BORGES et al,

2010).

Uma forma de tratamento comportamental é o método indutivo conhecido

como: Análise Aplicada do Comportamento (ABA), sendo ainda o único modelo de

intervenção exaustivamente estudado e comprovado em termo de resultados e tem

por objetivo ensinar por etapas habilidades que a criança não possui. Cada

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habilidade em geral é ensinada em um plano individual, de maneira associada a

uma indicação ou instrução, levando a criança autista a trabalhar de forma positiva.

(HERRERA, 2009).

Todavia, conforme destaca Mello e Silva (2009) o método ABA é criticado

por supostamente robotizar as crianças. A ideia é realizar uma intervenção precoce,

para promover o desenvolvimento da criança, de forma que ela pode ser

independente o mais cedo possível. A esse método junta-se o uso funcional de

figuras de comunicação conhecido como PECS.

O método PECS ou Sistema de Comunicação por Troca de Figuras foi

elaborado com a intenção de ajudar crianças e adultos autistas a adquirir

capacidade de comunicação. É um método é simples e de baixo custo, e quando

bem implantado apresenta resultados significativos na comunicação, com a

utilização de cartões junto às crianças que não falam, e auxilia também, na

organização da linguagem verbal das crianças que falam, mas, que precisam

organizar a linguagem (GONÇALVES; CASTRO, 2013).

Semelhante a ABA, há o programa Intervenção Desenvolvimento de

Relacionamento (RDI), onde os pais recebem treinamento para realizar atividades

repetidamente durante o decorrer do dia, com oportunidades de aproximação com a

criança (DRUMMOND, 2013).

Já o modelo de intervenção Habilidade Comunicativa Verbal (HCV),

possui etapas e sessões que tendem a desenvolver a criança por métodos de

interação, atividades lúdicas, jogos com regras e contos de histórias, além de usar o

sistema temporal, onde as sessões vão diminuído sistematicamente à medida que

os resultados aparecem (HERRERA, 2009).

Um dos métodos utilizados como alternativa para crianças que não

desenvolvem a linguagem oral é a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA).

Este método é aplicado com a estratégia de fala sinalizada, que não requer o uso de

recursos externos, podendo ser utilizada com ou sem auxílio de recursos. Sendo

também indicada para estimular a oralidade, através de variadas combinações.

(AVILA et al, 2011).

Há ainda o método denominado de Tratamento e Educação para Criança

Autista e com Distúrbios Correlatos da Comunicação (TEACCH) que consiste na

organização do ambiente físico através de rotinas organizadas em quadros, painéis

ou agendas e sistema de trabalho de forma a adaptar o ambiente, tornando mais

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fácil para a criança compreendê-lo. Através da organização do ambiente e das

tarefas da criança, o TEACCH é muito eficaz, pois ajuda a desenvolver a

independência da criança de modo que mesmo ela necessitando do professor para

o aprendizado, possa também passar grande parte do seu tempo ocupando-se de

forma independente (PESSIM; HAFNER, 2011).

2.6 Relação família x autista

Ter um membro familiar com autismo é um desafio para toda a família,

que não atinge somente o pai e a mãe, mas, todos os familiares que agregam

valores ao grupo familiar.

Neste contexto, cada membro familiar vivencia a presença do autista de

uma forma diferente, passando pela fase do susto, do estresse, da angústia, da

rejeição, chegando à perda da identidade dos membros da família e o

direcionamento dessa identidade ao autista. Atualmente, os pais e os membros

familiares, são reconhecidos como imprescindíveis no tratamento. A partir desta

constatação, a família passou a ser reconhecida como ponto primordial, tornando-se

equivocada a tendência de culpar os pais, por problemas familiares para o próprio

autista (WALTER, 2013).

Há evidências na literatura de que dentre os membros da família de uma

criança com autismo, as mães podem ser bastante atingidas emocionalmente,

apresentando choro, confusão, ansiedade, humor lábil e deprimido, sintomas que

podem persistir por mais de um ano. Essas mães precisam ser acompanhas pelos

profissionais da área da saúde, no sentido de prestar a elas apoio necessário para

saber lidar com o autismo. (SANINI et al, 2010).

Segundo Montardo e Passerino (2010) muitas famílias procuram a AMA,

não somente para encontrar locais onde os seus filhos possam ser atendidos, mas

também, para aprender a lidar com eles e encontrar apoio emocional, haja vista que

as relações sociais são muito importantes para o desenvolvimento do indivíduo

autista.

Nogueira (2011) afirma que são variadas as dificuldades, alterações e

necessidades que podem ser sentidas pela família, que tem no seu núcleo, crianças

com autismo e estas conduzem a um conjunto de vivências, que irão afetar a família

em geral, tanto positiva como negativamente.

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Segundo Ho (2013), o impacto do autismo sobre as famílias é muito

grande do ponto de vista emocional, social e econômico. Pouquíssimas famílias têm

condições econômicas de arcar com o custo do tratamento adequado e, para

atender as necessidades geradas pelo autismo todas elas dependerão, em algum

momento, de algum tipo de apoio institucional. Além disso, muitas famílias são

desfeitas e diversos estudos comprovam que os pais estão muito mais sujeitos à

depressão e ansiedade.

Corroborando com o exposto, Smeha e César (2011) afirmam que

normalmente, a mãe é quem assume o papel de cuidadora, sendo este mais um

ponto de dificuldade para os familiares, pois a figura materna muitas vezes, renuncia

sua carreira profissional para cuidar integralmente de uma criança que vai necessitar

de cuidados desde o momento do seu diagnóstico e no decorrer de sua vida. A

rotina de cuidados é uma tarefa árdua, difícil e cansativa, pois compreende tarefas

estressantes e cotidianas, como alimentação, organização do ambiente, organização

de hábitos e higiene, transporte, apoio em tarefas escolares e acompanhamento do

autista nas atividades rotineiras e recreativas. Essas rotinas costumam ser

sobrecarregadas de desgaste físico, emocional e financeiro.

2.7 A enfermagem e os cuidados a saúde da criança autista

Há algumas décadas atrás era possível encontrar no interior de clínicas e

hospitais profissionais de enfermagem e médicos que desconheciam a síndrome

autista e de certa forma acabavam taxando o autista como deficiente mental ou

esquizofrênico, encaminhando essas crianças para as alas psiquiátricas.

(DELFRATE et al, 2009).

Mas, ainda hoje é possível identificar profissionais de enfermagem e de

áreas a fins despreparados para identificar e realizar o diagnóstico de uma criança

com autismo. Um aspecto que contribui para esta realidade é que no Brasil não há

ainda, políticas sérias e consistentes voltadas para a síndrome do autismo, e deste

modo não há como orientar e iniciar o tratamento precoce e necessário que a

criança precisa. (SANINI, et al, 2010).

Um dos poucos programas voltados para a saúde da criança e de

conhecimento dos profissionais de enfermagem chama-se Programa Saúde da

Page 20: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Criança, onde o enfermeiro acompanha o crescimento e o desenvolvimento da

criança de zero a cinco anos. Entretanto, dentro deste programa não há uma

especialização ou até mesmo a simples preparação para diagnosticar uma criança

autista (FENSTERSEIFE, 2010).

Diante da alta complexidade do autismo e dos prejuízos individuais como

a dificuldade de socialização, intervenções afetivas são exigidas dos profissionais de

diversas áreas, atendendo não apenas a questão educacional, mas também, um

acompanhamento terapêutico eficaz (GOUVEIA, et al 2013). É nessa expectativa,

que os profissionais de enfermagem devem atuar preferencialmente, de modo

interdisciplinar, consentindo um enfoque ampliado do problema. É recomendada a

participação de médicos com experiência no atendimento infantil, psicólogos,

enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes social,

fisioterapeutas, pedagogos e técnicos de enfermagem, dentre outros. É necessário

enfocar que experiências de trabalho com famílias também deve fazer parte da

qualificação da equipe. (TEIXEIRA, 2010).

É essencial que haja um esforço de conscientização do público quanto ao

uso das categorias diagnósticas como instrumento de ação dos profissionais e não

para o julgamento das pessoas pela sociedade. Neste sentido, um investimento na

capacitação e educação constante dos profissionais de saúde e o estabelecimento

de medidas regulatórias apropriadas serão importantes para reduzir preconceitos

com relação às pessoas com transtorno mentais e deficiências a se estabelecer o

uso racional e ético das classificações diagnósticas (BRASIL, 2013).

A profissão da enfermagem não se resume meramente em cuidados

limitados ao seu cliente. Ao contrário, a visão dessa profissão é macro, englobando

o paciente e a família. Sabe-se que ninguém se encontra preparado para lidar com

nenhum tipo de deficiência, transtorno ou qualquer outra dificuldade que seja julgada

como fora do padrão normal. Neste caso, o eixo do plano de cuidados tem a família

como protagonista do processo.

Há relatos na literatura de que muitos profissionais expressam

sentimentos e dificuldades ao lidar com a família da criança autista, bem como

desenvolver um plano de cuidados específico para essa família. Em contrapartida,

enfatiza-se a família − enquanto peça fundamental no tratamento da criança −, além

de merecer uma atenção especial da enfermeira no que diz respeito ao apoio,

Page 21: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

orientação e compreensão, deve ser envolvida no tratamento da criança (CARNIEL

et al, 2011).

Segundo Costa e Volpato (2009) baseado no processo de enfermagem, é

possível definir alguns diagnósticos de enfermagem para o plano de cuidados com

pacientes autistas, entre eles: risco de automutilação relacionada a alterações

neurológicas, interação social prejudicada relacionada às barreiras de comunicação,

comunicação verbal prejudicada relacionada à capacidade prejudicada de produzir a

fala secundária a alteração neurológica, distúrbio da identidade pessoal relacionado

a alterações neurológicas, risco para desenvolvimento retardado relacionado a

alterações neurológicas e outros.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar os principais aspectos do autismo infantil, destacando a

assistência de enfermagem no seu diagnóstico, tratamento e orientação a família, a

partir dos fatores que condicionam a prevalência da patologia, apontados pela

literatura especializada.

3.2 Objetivos específicos

a) Identificar o perfil das crianças com possibilidades de desenvolver o

autismo infantil;

b) Destacar as formas de diagnóstico e tratamento da patologia;

c) Descrever as possíveis consequências do autismo para a criança;

d) Identificar a assistência do profissional de enfermagem junto à criança

autista e seus familiares.

4 MATERIAL E MÉTODOS

Page 22: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

4.1 Tipo de estudo

Estudo descritivo com abordagem quali-quantitativa, realizado por meio

de uma revisão de literatura com o objetivo de descrever os principais aspectos do

autismo infantil, destacando a atuação da enfermagem no diagnóstico e tratamento,

bem como a assistência da enfermagem na orientação as famílias.

4.2 Coleta de dados

Para a seleção da literatura que respondessem aos objetivos da presente

pesquisa, realizou-se uma busca de artigos científicos em diferentes bancos de

dados, entre os quais: Google acadêmico, Scientific Eletronic Library Online

(SCIELO), e Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

(LILACS).

Foram pré-selecionados 32 documentos e destes 14 foram selecionados.

Inicialmente selecionou-se os artigos com base em títulos e resumos e, quando

relacionados aos objetivos da pesquisa, buscou-se o texto completo.

Os artigos científicos, teses e dissertações revisados foram publicados

entre 2010 e 2014, obtidos por meio de descritores, utilizados isoladamente ou

agrupados, tais como: autismo, transtorno do desenvolvimento e assistência de

enfermagem, sendo selecionados estudos que tratavam diretamente do autismo

infantil. Os dados foram coletados no período de setembro a outubro de 2014.

4.3 Análise dos dados

Após o levantamento dos referenciais que foram estudados, se fez a

seleção e análise dos mesmos, coletando as informações e discussões pertinentes

ao tema destacando o posicionamento e os resultados de cada estudo.

Na análise e delineamento de toda a amostra estudada para a construção

do presente trabalho monográfico, identificou-se que os artigos selecionados

tratavam-se de revisão de literatura, estudos quantitativos e qualitativos, relatos de

experiências e estudos transversais.

Page 23: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Para o desenvolvimento deste trabalho foram percorridas as seguintes

etapas:

a) Na primeira etapa ocorreu a identificação do tema da pesquisa, que se

desenvolveu a partir da escolha da temática que seria abordada: Autismo infantil;

b) Na segunda etapa levou-se em conta os critérios de inclusão e

exclusão dos artigos de acordo com os objetivos da pesquisa, ou seja, documentos

em língua portuguesa, publicados entre 2010 e 2014 com abordagem direta sobre

autismo infantil;

c) Na terceira etapa ocorreu a busca dos artigos, realizada na internet nas

bases de dados LILACS e SCIELO, utilizando-se as palavras-chave já mencionadas.

Os dados coletados foram transferidos posteriormente para uma planilha do

programa Microsoft Excel, onde continha o título do artigo, nome dos autores, ano

de publicação, tipo de estudo, tamanho da amostra, local do estudo e objetivos de

cada autor. Posteriormente, foi elaborada uma tabela, preenchida de acordo com os

objetivos deste estudo relacionado-os com os resultados de cada autor lido.

d) Em seguida, na fase analítica, a partir da análise do material

selecionado fez-se o ordenamento das informações coletadas com a comparação de

resultados entre este estudo e os estudos analisados.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As pesquisas já realizadas sobre o autismo, especialmente, na infância,

têm contribuído para ampliar o conhecimento acerca da patologia, sendo

encontrados centenas de estudos realizados em diferentes partes do mundo,

inclusive no Brasil, que buscam investigar aspectos importantes relacionados com a

sua incidência, causas, diagnóstico, tratamento e consequências para que seja

possível implementar programas de controle e estratégias de educação com a

finalidade de ajudar na realização de um melhor acompanhamento da criança com

suspeita ou diagnosticada com a síndrome. Neste sentido, cabe revisar e analisar

alguns destes estudos considerando seus principais resultados.

Os estudos selecionados e analisados para esta pesquisa foram

organizados e agrupados a partir do título, autor, ano, tipo de estudo, amostra e

objetivo, conforme observado no quadron1 a seguir:

Page 24: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Quadro 1 – Estudos selecionados para revisão de literatura

Título Autores Ano Tipo de estudo

Tamanho da Amostra

Objetivo

Caracterização da Síndrome do autismo

Sousa; Santos

2010 Qualitativo, descritivo e documental

Bibliográfico

Esclarecer conceitos e caracterizar sumariamente a Perturbação Autista

Autismo

Fernandes et al.

2011 Qualitativo, descritivo

Bibliográfico

Explicar as causas do comportamento da criança autista, suas mudanças com a idade e suas modificações mediante o tratamentos

Síndrome do autismo: importância do diagnóstico precoce

Vasconcelos 2012 Qualitativo explicativo-descritivo

Bibliográfico

Discutir e ressaltar a importância do

tratamento precoce do autismo em

crianças que foram diagnosticadas

precocemente como casos de risco desta patologia

Um olhar sobre o autismo e sua especificação

Marinho e Makler

2012 Qualitativo Bibliográfico

Compreender como é realizado o

diagnóstico autístico,

Autismo: a psicose infantil e seu não lugar na atual nosografia psiquiátrica

Bernadino 2010 Qualitativo Bibliográfico Discutir as teorias que caracterizam o autismo

Autismo: compreendendo para

melhor inclui

Gikovate 2010 Descritivo; Qualitativo

Revisão de literatura

Apresentar dados Para que se

compreenda melhor o que é autismo,

quais são as peculiaridades

cognitivas envolvidas neste diagnóstico

Transtorno do Espectro Autista Figueira 2012

Descritivo-explicativo Qualitativo

Bibliográfico Caracterizar o

transtorno autista

Autismo e Esquizofrenia:

compreendendo diferentes condições

Vargas; Schimidt

2011 Qualitativo explicativo

Revisão de literatura

Diferenciar Autismo e Esquizofrenia

conforme a literatura

O diagnóstico do autismo

Mosqueira; Teixeira

2010 Qualitativo descritivo

Revisão de literatura

Revisar e discutir alguns conceitos do

autismo, as novas possibilidades

de auxílios no diagnóstico

Autismo Infantil e as intervenções

terapêuticas não

Salim; Junqueira

2012 Qualitativo Descritivo

Revisão de literatura

Identificar as intervenções

terapêuticas não

Page 25: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

medicamentosas medicamentosas utilizada

s nos últimos 5 anos com crianças

autistas.

Perturbações do Espectro do Autismo

no Adulto e suas Co-morbilidades

Psiquiátricas

Ramos et al 2011 Qualitativo Descritivo

Revisão seletiva da literatura

Discutir as dificuldades no diagnóstico e

tratamento do autismo infantil

Família e Autismo: Uma Revisão da

Literatura Abreu; Teodoro

2012 Qualitativo, descritivo e documental

Revisão seletiva da literatura

Analisar o im- pacto da presença

de um membro com Autismo na família,

bem como suas implicações para o

funcionamento familiar.

O método Son-rise e o ensino de crianças

autistas Mesquita; Campos

2013 Qualitativo descriivo

Bibliográfica

Descrever as principais formas de tratamento para o transtorno autista

Você sabe o que é autismo? Fonseca 2011

Qualitativo Descritivo Explicativo

Revisão de literatura

Caracterizar a síndrome autista

Fonte: Lilacs; Scielo (2014)

A partir da leitura e análise dos estudos selecionados, os resultados foram

apresentados conforme os objetivos específicos propostos nesta pesquisa, sendo

descritos em forma de gráficos e tabelas.

O gráfico 1, apresenta o resultado quanto as características mais

freqüentes do autismo.

Gráfico 1 – Características mais freqüentes do autismo

Fonte: Soares; Barroso (2014)

35%

45%

20%

Dificuldades decomunicação/linguagem emovimentosrepetitivos

Tendência aoisolamento social.Prejuizo nos cntatossociais

Coordenaçãomotora irregular.

Page 26: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Conforme os autores pesquisados, ao analisar as principais

características do autismo, percebeu-se que os sintomas variam amplamente de um

autista para o outro, constituindo um espectro de distúrbios.

Entre as características apontadas nos artigos, 35% dos autores

destacaram as dificuldades de comunicação, linguagem e movimentos repetitivos;

45% apontou uma tendência ao isolamento sócia e prejuízo nos contatos sociais e

outros 20% destacaram como principal característica a coordenação motora irregular

Comportamentos oscilantes e incoerentes.

Conforme foi destacado nos estudos de Mosqueira e Teixeira (2010) as

limitações de comunicação, os comportamentos indesejados, associados ao

isolamento, dentre outros sintomas, os estão entre os sintomas mais comuns do

autismo que levam a busca pela melhor intervenção terapêutica.

Vargas e Schmidt (2011) concluíram em seu estudo que os indivíduos

com autismo apresentariam déficits específicos em três áreas: imaginação,

socialização e comunicação, o que ficou conhecido como “Tríade de Wing”.

O gráfico 2 apresenta os fatores de risco apontados pela literatura

analisada para a ocorrência do autismo.

Gráfico 2 – Fatores de risco para o desenvolvimento do autismo

Fonte: Soares; Barroso (2014)

De acordo com o gráfico 3, 60% apontaram o sexo como um fator de

risco para o desenvolvimento do autismo, ou seja, os meninos são de quatro a cinco

60%

30%

10%

O sexo da criança

O histórico familiar

Associação comouros transtornos

Page 27: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

vezes mais propensos a desenvolverm o autismo do que meninas. Outros 30%

apontaram o histórico familiar, ou seja, famílias que já tenham tido algum integrante

com autismo correm riscos maiores de ter outro posteriormente. Da mesma forma, é

comum que alguns pais que tenham gerado algum filho autista apresentem

problemas de comunicação e de interação social eles mesmos.

E um pequeno percentual de 10%, apontou como fator de risco a

associação do autismo com outros transtornos. Neste caso, crianças com alguns

problemas de saúde específicos tendem a ter mais riscos de desenvolver autismo do

que outras crianças.

Quanto ao risco maior para o sexo masculino, os dados epidemiológicos

internacionais indicam uma grande incidência de Transtorno do Espectro Autista

(TEA) nos meninos, com uma intensidade de 4 nascimentos para cada menina

(FONSECA, 2011).

Ao se considerar o histórico familiar Sousa e Santos (2010) afirmam que

alguns estudos recentes apontaram que a hereditariedade do autismo pode chegar a

50%, contrariando outras pesquisas que afirmavam que esta possibilidade poderia

alcançar de 80% a 90% de chance. Os resultados obtidos sugerem uma associação

entre autismo fatores genéticos.

Figueira (2012) assinala que não é possível determinar com precisão as

causas do transtorno autista, mas, sabe que certos aspectos são identificados como

fatores de risco: história familiar paterna ou materna, doença crônica materna,

infecções congênita e respiratória na gestação, sangramento e ou hemorragia pré-

natais, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, trabalho de parto prematuro, dentre outros.

Gikovate (2010) afirma que existem hoje evidências incontestáveis de que

o autismo se trata de um problema biológico e não psicológico. E dentre as inúmeras

evidências o autor cita: a correlação do autismo com determinadas doenças, o

fato de 25% dos autistas apresentar crises convulsivas e o fato de 90% das

crianças do espectro autístico, entre 2 e 4 anos de idade, apresentar cérebros

de maior volume e peso do que os controles.

Além disso, segundo Girovate (2010) o autismo pode está associado à

síndrome de rubéola congênita, anomalias de formação do cerebelo, esclerose

tuberosa, síndrome de Rett, síndrome de West, e síndrome do X-frágil.

Page 28: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Conforme é destacado por Fernandes et al (2011), acredita-se que a

origem do autismo esteja relacionada com alguma anormalidade em alguma área do

cérebro ainda não definida, e provavelmente, de origem genética.

O gráfico 3 apresenta os resultados em relação as formas de diagnóstico

do autismo.

Gráfico 3 – Formas de diagnóstico

Fonte: Soares; Barroso (2014)

Dos estudos analisados, considerando a variável formas de diagnóstico,

ficou bastante evidente as dificuldades para diagnosticar a síndrome, pois não há

sinais físicos aparentes, marcadores biológicos, nem exames determinados. Há

ainda muita variação no quadro clínico e confusões com outras patologias.

Porém, conforme o gráfico 2, 30% dos artigos pesquisados não fazem

qualquer menção as formas de diagnóstico, enquanto que 65% dos autores fazem

referência ao diagnóstico e apontam necessidade de equipe multiprofissional, pois

dificilmente, um único profissional terá acumulado conhecimento e prática suficientes

para fazer uma avaliação criteriosa de todos os aspectos comprometidos no

desenvolvimento de uma criança com autismo. E apenas 5% destacam a

necessidade de exames complementares para confirma o diagnóstico.

A maioria os autores indicam que uma equipe de avaliação e diagnóstico

deve ser composta por pediatra, psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta

ocupacional. Dependendo da idade e dos resultados dessas avaliações, a criança é

encaminhada ainda para avaliações com o neurologista, fisioterapeuta e geneticista.

65,0%

5%

30%

Avaliação deequipemultiprofissional

Exameslaboatoriaiscomlementares

Page 29: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Sudré et al (2012) diz que após a avaliação diagnóstica feita pela

equipe multidisciplinar, é importante que a criança, seja encaminhada para grupos

específicos da Enfermagem, ou Psicologia e/ou Terapia Ocupacional

Girovate (2010) diz que não existe exame complementar capaz de

comprovar se a criança tem autismo. O diagnóstico de autismo se baseia somente

em dados clínicos (história e observação do comportamento). Os exames

complementares permitem apenas investigar a presença de doenças que estão

comumente associadas com autismo, mas, não afirmar o diagnóstico de autismo.

Fernandes et al (2011) também concorda que não há testes laboratoriais

para a deteccão da síndrome, por isso, o diagnóstico deve ser feito por um

profissional com formação em medicina e experiência clinica em diagnosticar essa

patologia. Os autores complementam que devido o autismo não possuir um

marcador biológico, isto e não possuir testes laboratoriais específicos, raramente o

diagnóstico é conclusivo antes dos vinte e quatro meses, sendo que a idade mais

frequente é superior aos trinta meses.

Salim e Junqueira (2012) ressaltam que devido ao fato do diagnóstico

pode estar associados a outras patologias, tais como a epilepsia, paralisias

cerebrais, síndromes genéticas e entre outras, se torna uma tarefa complexa,

mesmo por uma equipe multiprofissional, diagnosticar com segurança a síndrome,

pois, freqüentemente o quadro clinico do autismo passa desapercebido e

confunde se com outros quadros patológicos.

Marinho e Merkle (2012) colaboram ao afirmarem que a questão do

diagnóstico passa a ser mais complexa na medida em que são consideradas as

chamadas síndromes de Asperger, que são inseridas dentro do Continuo

Autístico.

Em relação às formas de tratamento do autismo, observou-se também,

nos estudos analisados os métodos mais indicados, conforme apresentado no

gráfico 3 a seguir.

Gráfico 4 – Formas de tratamento

Page 30: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Fonte: Santos; Martins (2014).

A partir da análise dos artigos observou-se que existem várias formas de

tratamento para o autismo, no entanto, dependem da combinação de terapias,

remédios, alimentação e aceitação da criança pela família.

Desta forma, conforme o gráfico 4, 45% dos artigos pesquisados enfatizam

as terapias; 35% acreditam que o tratamento medicamentoso é um método eficaz e

20% destacam a aceitação da família como um aspecto relevante.

Bernadino (2010) destaca em seu estudo algumas medidas interventivas

importantes que precisam ser consideradas no tratamento do autismo. Entre elas:

iniciar os programas de intervenção o mais cedo possível, tratamento intensivo,

atenção adulta, individualizada e diária, inclusão de um componente familiar,

incluindo treinamento para os pais e mecanismos para avaliação contínua.

As terapias incluem um trabalho interdisciplinar durante o qual,

especialistas utilizam-se de várias técnicas e procedimentos, tanto com as crianças

quanto com os pais, de forma integrada, ajudando-os a minimizar a evolução do

quadro (MEQUISTA; CAMPOS, 2013).

Salim e Junqueira (2011) destacam em seu estudo que geralmente, as

intervenções terapêutica mais utilizadas são: a Integração Sensorial, e as menos

comuns são: ABA, Equoterapia, PECS (Picture Exchange Communication System),

TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication

Handicapped Children), Psicoterapia Lúdica, Intervenções Educacionais,

Tratamentos Psicossociais e Terapia com animais

O tratamento medicamentoso é também pode auxiliar no controle de

movimentos exacerbados, repetitivos e automutilantes, além de minimizar as

45%

35%

20% Terapias

Tratamentomedicamentoso

A aceitação da família

Page 31: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

75%

25%

Apoio as famílias eorientação aos pais

Sem referência

consequências de outras doenças que a criança possa vir a ter. Há pesquisas

recentes que mostram que a homeopatia pode ser útil ao tratamento (FONSECA,

2011).

Em relação à aceitação da família, este aspecto é considerado um dos

principais meios de tratamento para o autismo, pois quando a criança se sente

aceita pelos pais, significa que eles estão juntos com a criança. (MESQUITA;

CAMPOS, 2013).

Sudré et al (2012) consideram o atendimento aos pais e responsáveis um

aspecto importante no tratamento do autista. Durante os atendimentos as crianças, o

enfermeiro também ouve as queixas e dificuldades dos pais e orienta-os como lidar

com o comportamento de seus flhos.

De acordo com Vasconcelos (2012) a idade no início do tratamento é

um dos fatores relevantes para a sua melhor evolução. Não só a idade, mas

também, o tipo de tratamento e a freqüência dos atendimentos à criança e aos

pais Conforme assinala a autora, os melhores resultados clínicos são alcançados

quando o tratamento é iniciado antes dos três anos, idade na qual se pode fazer

um diagnóstico definitivo, pois, segundo a autora, quanto mais precoce for iniciado

o atendimento da criança, melhor será a evolução do caso.

Outro aspecto analisados nos artigos selecionados foi quanto a assistência

e a intervenção de enfermagem junto a criança autista, cujo resultado é apresentado

no gráfico 5.

Gráfico 5 – Intervenção de enfermagem em relação ao autismo

Page 32: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

Fonte: Santos; Martins (2014).

De acordo com o que se observa no gráfico 5, há uma predominância nos

artigos pesquisados (75%) em apontar como principal intervenção da enfermagem

em relação ao autismo, o apoio a família.

Conforme é destacado por Ramos et al (2011) é fundamental ter

competências para saber avaliar estas famílias de modo a que a intervenção siga no

sentido de se dar apoio à família, assim como apontar estratégias de forma a

minimizar o impacto da perturbação autista na vida familiar. A Enfermagem tem um

papel decisivo nestas intervenções.

Vasconcelos (2012) afirma que por não conhecer a doença, a família

muitas vezes, precisa de apoio e orientação, que a ajude a entender melhor a

síndrome e diminuir o impacto negativo sobre a família. E desta forma, os

profissionais de saúde se constituem numa importante fonte informação.

Sudré et al (2012) e neste contexto, é imprescindível que o profissional de

enfermagem goste de trabalhar com crianças e tenha habilidade para lidar com

suas alterações do comportamento.

Conforme ressalta Sudré et al (2012) para a avaliação e intervenção de

Enfermagem é possível utilizar os seguintes instrumentos: consulta de Enfermagem,

observação de comportamento, tratamento e educação para Autistas e crianças

com déficit relacionados à comunicação, uso do método ABA – Análise Aplicada do

Comportamento (um tratamento que visa ensinar à criança habilidades que ela não

possui).

É enfatizado em alguns artigos analisados, que todas as atividades de

Enfermagem junto à criança autista devem seguir os passos do Processo de

Enfermagem preconizados por Horta (histórico, entrevista, exame físico, diagnóstico

de enfermagem; planejamento; implementação e evolução de enfermagem.

O gráfico 6, mostra o resultado quanto as principais dificuldades da família

do autista. Conforme o gráfico, 80% dos artigos apontou com predominância as

Page 33: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

80%

25%

Dificuldades de aceitar odiagnóstico

Falta de informaçaosobre a doença

dificuldades de aceitar o diagnóstico e 25% destacou a falta de informação sobre a

doença.

Gráfico 6 – Dificuldades da família do autista

A falta de informação sobre a doença deixa os pais bastante vulneráveis,

que buscam ajuda e auxilio nas instituições de saúde que muitas vezes não podem

ajudar muito, pois, não estão preparadas para lidar co a patologia (FONSECA,

2011).

Segundo Ramos et al (2011) o impacto do diagnóstico de uma doença

crônica, como é o caso do autismo, será a primeira dificuldade com que se confronta

a família. Após o diagnóstico de autismo, "para muitas famílias, a aceitação da

perturbação da criança é um processo gradual, nunca concluído".

Abreu e Teodoro (2012) ressaltam que diante do início da apresentação

dos sintomas de Autismo, o contexto familiar sofre rupturas imediatas na medida em

que há interrupção de suas atividades rotineiras e transformação do clima emocional

no qual se vive.

Há evidências da existência de estresse agudo em famílias que possuem

um membro com diagnóstico de Autismo. Estresse, ansiedade e depressão são

maiores em pais de crianças com Transtornos do Espectro Autístico, quando

comparado com pais a condição afeta todos os membros da família, causando

estresse diretamente, como na redução das interações sociais.

A participação dos pais e dos familiares é considerada um elemento

essencial nas medidas de intervenção para crianças diagnosticadas com a síndrome

Page 34: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

autista. Por isso, a maneira como os profissionais de enfermagem abordam os pais

e os incorpora no processo de intervenção é importante (ABREU; TEODORO, 2012).

Diante dos resultados apresentados, percebeu-se que há ainda muitas

divergências e dúvidas quanto a Síndrome do Autismo e por isso, é importante que

se discuta e se realiza estudos mais aprofundados sobre o assunto visando

comparar as informações e chegar a um consenso acerca das causas, diagnóstico e

tratamento da patologia.

6 CONCLUSÃO

O estudo acerca do autismo infantil permitiu reconhecê-lo como um

problema a ser discutido, tendo em vista, a existência de vários pontos importantes a

realçar, que foram observados na análise dos estudos selecionados.

Observou-se nos estudos analisados a dificuldade de identificar os fatores

que podem contribuir para o desenvolvimento do autismo infantil. Perante aos riscos

Page 35: O AUTISMO INFANTIL: uma revisão bibliográfica

7

observados e suas possíveis consequências, algumas medidas interventivas foram

propostas e também apontadas nos estudos.

Diante das constatações, a enfermagem tem um papel fundamental no

sentido de orientar adequadamente a família, podendo assim intervir e melhorar a

qualidade de vida da criança autista. A assistência de enfermagem prestada às

crianças tem demonstrado ser eficiente e os resultados são visíveis, levando-se em

conta a individualidade de cada criança e as características peculiares a cada grupo

familiar.

Além disso, após a revisão sistemática evidenciou-se que a participação

da família no tratamento é fundamental para o desenvolvimento da criança autista.

Com causas ainda desconhecidas, com sintomas e graus de

manifestações extremamente variados do autismo, ficou claro que ainda há

controvérsias sobre qual intervenção seria a mais apropriada, por outro lado, existe

também um ponto de consenso na literatura que é a importância da identificação e

intervenção precoce do autismo e seu relacionamento com o desenvolvimento

subsequente.

Quanto ao diagnóstico e ao tratamento, a terapia ocupacional e

abordagem dependem da composição da equipe interdisciplinar, dos conhecimentos

e experiências dos diferentes tipos de intervenção e abordagem. Mas, vale ressaltar

que há um consenso sobre a importância do acompanhamento do autista por uma

equipe multiprofissional.

REFERENCIAS

ABREU, Aline; TEODORO, Maycoln Leôni Martins. Família e Autismo: uma revisão da literatura. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. julho-dezembro 2012. ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO AUTISTA (2012). Disponível em: http://autismoinfantil.com.br/amas-no-brasil.html/.Acessoem: 20 out 2014. _________. Diagnóstico. (2014). Disponível em: http://www.ama.org.br/site/pt/diagnostico.html/. Acesso em: 20 out 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AUTISMO. Disponível em: http://www.autismo.org.br/site/comunidade-ligada-ao-autismo/entidades-afiliadas-cadastradas.html/. Acesso em: 20 out 2014

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