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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O autismo na educação infantil Por: Rita de Cássia Araújo Paredes Prof. Orientador: Maria Esther de Araujo Rio de Janeiro – RJ 201 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O autismo na educação infantil

Por: Rita de Cássia Araújo Paredes

Prof. Orientador: Maria Esther de Araujo

Rio de Janeiro – RJ

201

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O Autismo na Educação Infantil

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Especial e Inclusiva

Por: Rita de Cássia Araújo Paredes

Prof. Orientador: Maria Esther de Araujo

Rio de Janeiro – RJ

201

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Resumo

O Tema Autismo ganhou grande força na sociedade atual como um todo, e não só na esfera educacional, pois não envolve só profissionais de educação, mas também familiares que são de grande importância no progresso educacional da criança. Sendo assim esse projeto tem como objetivo mostrar que o Autismo não deve mais se tratado somente como patologia e que é possível sim inserir essas crianças no universo dos considerados "normais". Esse projeto tem como objetivo também, mostrar a importância do professor em desmistificar todo o preconceito que existe quanto a capacidade da criança autista fazendo desse o principio básico da inclusão escolar. Será abordado também a importância da escola como janela central que possibilite a criança enxergar muito além das suas limitações. Falaremos sobre aspectos relacionados à parte física de uma sala de aula, tais como o tamanho ideal, a iluminação, ventilação e luz, quesitos esses essenciais para o desenvolvimento dessas crianças. Acima de tudo esse projeto quer elucidar que nesse conjunto de participações essenciais para o progresso da criança autista, o professor sem duvida é o agente transformador principal, ainda com falta de apoio, de condições de trabalho, o mesmo se adapta para poder abraçar essa criança da forma mais digna possível. Vale lembrar que recentemente essas crianças eram vistas como doentes apenas, e que mudanças recentes como a Declaração Mundial de Educação para todos, 1990 e Declaração de Salamanca 1994, foram um marco a todo esse movimento de inclusão.

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Metodologia

Será realizada pesquisa bibliográfica acompanhada de pesquisa qualitativa de campo. Participou desse estudo a professora da creche Obra do Berço- RJ Eliane Souza, responsável pela turma do Pré-1 a qual existem a possibilidade de dois alunos autistas (em investigação diagnóstica). Dentre os autores pesquisados estão Krebs, Cool e Mantoan. Foi realizada entrevista com a responsável pela turma sobre as dificuldades que o profissional da educação encontra no dia a dia ao lidar com uma turma heterogênea composta por 25 alunos onde dois desses alunos apresentam características autistas.

O objetivo da pesquisa foi de analisar os procedimentos adotados pela professora uma vez que ela atua com crianças autistas na educação básica, identificar os conhecimentos que a mesma apresenta sobre o tema em questão, além de avaliar as dificuldades no dia a dia encontrada pelos professores e também as dificuldades encontradas por alunos autistas em se adaptar a um ambiente o qual ele não se sente realmente inserido.

Para isso realizamos uma entrevista com a professora. Observamos que na grande maioria das respostas, a professora entende o autismo como um problema que isola o aluno das demais crianças e funcionários da escola, permanecendo centrado em um mundo particular sem interatividade. Na visão dela, o autismo é um transtorno que mantêm a criança em um mundo isolado prejudicando principalmente o seu relacionamento social e as trocas com o meio.

Essa definição mencionada acima pela professora vai de encontro do que preconiza Cool et al (1995) quando propõe que “o que se observa em primeiro lugar é que a criança é muito passiva, ou seja, demonstra pouca sensibilidade as pessoas e aos objetos que estão a sua volta permanecendo isolada e alheia ao meio em que está inserida.” Observamos com isso que a característica do isolamento social é algo muito visível e perceptível. Por conta disso, tal característica, acaba por configurar-se como definição de autismo no âmbito mais amplo.

Para a professora a principal característica encontrada em um aluno autista é o isolamento, demonstrando talvez a falta de um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade dos autistas. Ainda com relação às características a professora cita ter observado dificuldades na aprendizagem em geral, resistência à alteração da rotina, falta de contato visual, movimentos repetitivos, repetição na fala.

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Segundo a professora o maior obstáculo na convivência com essas crianças é justamente o fato delas viverem em seu próprio universo não existindo um nível de comunicação entre elas. Existe também o fato do corpo docente não receber nenhum tipo de orientação, capacitação técnica ou ao menos a presença de um mediador em sala de aula para facilitar esse processo, uma vez que nem todas as escolas já aderiram a esse recurso reforçando a tese de que o tema inclusão ainda merece uma atenção especial e precisa ser levado a sério através de políticas específicas que saiam do papel e façam parte do dia a dia escolar. Além disso, existe também uma dificuldade muito grande em encaminhar essas crianças para avaliações a fim de serem realizados os diagnósticos o mais cedo possível, caindo mais uma vez toda a responsabilidade nas mãos do professor.

Rodrigues, Krebs, Freitas (2005) afirmaram isso ao dizer que:

O currículo pode ser identificado como um dos obstáculos a inclusão. A diferenciação curricular que se procura na inclusão é a que tem lugar num meio em que não se separam os alunos com base em determinadas categorias, mas em que se educam os alunos em conjunto, procurando aproveitar o potencial educativo das suas diferenças, em suma, uma diferenciação na classe assumida como um grupo heterogêneo. (Rodrigues, Krebs, Freitas. 2005)

A professora nos informou que tem observado uma maior incidência de alunos com características autista em sala de aula e que inclusive já havia encaminhado tais alunos para o setor de psicologia e fonoaudiologia da instituição a fim de que fossem realizadas avaliações mais específicas. Relatou ainda que reconhece sua deficiência em relação as estratégias de ensino utilizada para promover a inclusão e garantir aprendizagem dessas crianças pois para isso seria necessário que ela mesmo se aprofundasse mais nesse tema.

Afirmou também não saber agir em determinada situações com esses alunos e que procura sempre a ajuda de profissionais afins para ajudá-la. Isso vai de encontro ao discurso de Rodrigues, Krebs, Freitas (2005) ao dizer que:

O curso de formação de professores na maioria dos casos não aborda os alunos com necessidades especiais e quando abrangem o assunto é de uma forma que raramente retrata a realidade. Por isso a dificuldade do professor em lidar com essas crianças em sala de aula. Não há preparo suficiente e nem recursos oferecidos são adequados pra se trabalhar. Há com certeza uma grande falta de estrutura e com alunos autistas é necessária uma estruturação especial.

Cool (1995) também afirmou que:

O ambiente não deve ser complexo demais a fim de facilitar sua aprendizagem e compreensão. Além disso, o professor deve manter uma postura de educador facilitador frente aos autistas e por esse motivo a necessidade de se ter uma formação mais completa, abrangendo os alunos especiais.

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A professora afirma que além de cursos, palestras e seminários sobre o tema inclusão, deveria haver também em sala de aula a figura de um mediador escolar oferecendo um suporte a mais e fazendo uma ponte entre esses alunos e o professor, uma vez que numa turma com media de 25 alunos não tem como o professor oferecer uma orientação especifica e atividades dirigidas para esses alunos.

Com isso vemos a importância de termos profissionais especializados auxiliando todo o corpo docente da escola (psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, etc.) a fim de que a inclusão realmente aconteça e de forma satisfatória para todos os envolvidos nessa questão.

A educação especial é tarefa árdua, precisa está muito bem constituída por toda uma equipe multidisciplinar que oriente o trabalho do professor a fim de que esse possa ser consolidado da melhor maneira possível. Gauderer (1985) defende que tais profissionais são essenciais para auxiliarem o desenvolvimento e suprir informações dos alunos autistas aos pais e familiares em geral esclarecendo dúvidas frequentes e ajudando na interação entre autistas e o meio social que vivem.”

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Sumário

Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------6

Capítulo I: ------------------------------------------------------------------------------------------------8

Autismo na Educação Infantil -------------------------------------------------------------------------8

1.1 Um breve conceito ----------------------------------------------------------------------------------------------- 8

1.2 A Etiologia do Autismo ---------------------------------------------------------------------------------------- 10

1- Teoria Psicogenética ou Psicanalítica ----------------------------------------------------------------- 10

2- Teoria Biológica. -------------------------------------------------------------------------------------------- 11

3- Teoria Psicológica. ----------------------------------------------------------------------------------------- 12

1.3 Inclusão da Criança Autista na Escola. ------------------------------------------------------------------- 12

1.4 Fatores de Risco ------------------------------------------------------------------------------------------------ 13

1.5 Estilos de Aprendizagem ------------------------------------------------------------------------------------- 14

1.6 A Família da Criança Autista. ------------------------------------------------------------------------------- 15

1.7 A Escola como Janela para o Mundo ---------------------------------------------------------------------- 17

1.8 O Espaço Físico Ideal da Sala de Aula -------------------------------------------------------------------- 18

1.10 A Formação dos Professores de Alunos Autistas --------------------------------------------------- 20

Capítulo II ---------------------------------------------------------------------------------------------- 24

Pais e Educadores – Parceiros no Crescimento da Criança Autista. --------------------------- 24

2.1 Aceitação do Educador ---------------------------------------------------------------------------------------- 24

2.2 Desenvolvimento Social da Criança Autista ------------------------------------------------------------- 26

Capítulo III --------------------------------------------------------------------------------------------- 29

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A Sexualidade da Criança Autista, a Intervenção nos Comportamentos Inadequados e Tratamento --------------------------------------------------------------------------------------------- 29

3.1 A sexualidade da criança autista: -------------------------------------------------------------------------- 29

3.2 Intervenção nos Comportamentos Inadequados ------------------------------------------------------ 31

3.3 Tratamento ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 33

Conclusão ----------------------------------------------------------------------------------------------- 35

Referências Bibliográficas --------------------------------------------------------------------------- 37

Anexo --------------------------------------------------------------------------------------------------- 38

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Introdução

O Objetivo desse trabalho é mostrar as dificuldades que os autistas enfrentam dia a dia no processo educacional. Isso nos leva prioritariamente a fazer uma retrospectiva histórica passando pela marginalização e segregações promovidas na idade média até um período mais humanista que nasceu na Europa logo após a revolução Francesa e consequentemente chegando ao século XIX, onde iniciaram os estudos sobre as deficiências propriamente ditas. Vale ressaltar que se entende por autismo uma inadequação no desenvolvimento que se apresenta de maneira grave durante toda a vida. Costuma aparecer nos três primeiros anos de vida e desde já traz certa incapacidade para o indivíduo que a possui.

Pesquisas têm demonstrado que os alunos autistas são fortemente presos a rotina. Esses alunos respondem melhor aos sistemas organizados, sendo assim professores de alunos autistas necessitam organizar e manter certa rotina em sala de aula para efetivamente conseguirem ensinar essas crianças. Organizar a sala de aula ao nível da compreensão do aluno autista faz com que suas dificuldades de aprendizagem sejam diminuídas. Independente da idade de um aluno autista, a organização física, a programação das atividades, os métodos de ensino fazem toda diferença no processo de aprendizagem. Muitas vezes o aluno não compreende a explicação do professor o que pode causar uma reação agressiva ou desmotivação por parte dele; outras vezes é a linguagem do aluno que é insuficiente para manter uma comunicação efetiva com o professor fazendo através de um comportamento inadequado.

Os autistas possuem vida psíquica e uma rede de relações sociais que com eles tendem a interagir, mas sua socialização é sempre muito difícil. Muitos deles, por não serem diagnosticados como autistas quando crianças são tidas como retardados ou psicóticos. Faz-se então necessário que haja um diagnostico realizado por uma equipe multidisciplinar objetivando uma melhor qualidade de vida para os portadores dessa síndrome que compromete o desenvolvimento da criança da realidade exterior e a criação mental de um mundo autônomo, o mais cedo possível. Atentemo-nos as palavras de Amy, “O autismo foi objeto de hipóteses formuladas por psicanalistas, educadores, biólogos, geneticistas, e cognitivistas. Permanece, no entanto, um mistério quanto a sua origem e evolução” (Amy, 2001, p. 19).

O Capitulo I abordará o autismo na educação, conceituando a síndrome, a forma como os autistas conseguem aprender, as barreiras encontradas pelo professor, e as

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dificuldades dos pais em inserir seus filhos na sociedade. No Capitulo II iremos falar sobre o preconceito existente no cotidiano escolar da criança autista. Preconceito esse embutido no próprio professor que por muitas vezes limita o potencial do aluno autista, tratando – o como incapaz de ser inserido no contexto escolar e social. O Capitulo III dará ênfase a sexualidade dos autistas e a necessidade de uma orientação específica relacionado a esse tema no sentido de orientá-los a um comportamento social adequado. Abordaremos também os diversos tipos de tratamentos e terapias indicadas.

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Capítulo I:

Autismo na Educação Infantil

1.1 Um breve conceito

Considerando o fato de que atualmente o autismo não é mais considerado uma patologia que estigmatiza a criança para aprender, é possível que a criança autista faça parte do universo pedagógico junto a crianças ditas “normais”. Para isso professores estão sendo preparados para inserir essas crianças no ambiente escolar principalmente através da adaptação curricular. É imprescindível que essas crianças sejam alfabetizadas em escolas normais para que não haja segregação ou isolamento em escolas especializadas. O professor é peça fundamental em desmistificar todo o preconceito que existe em relação à capacidade cognitiva do aluno autista. Muito pode ser feito por essas crianças, mas o principal é acreditar que elas têm potencial para aprender. O papel do professor na pré-escola é bastante relevante, pois através de uma avaliação diagnóstica ele classificará o aluno autista segundo o seu grau de dificuldade para aprendizagem e conseqüentemente criara estratégias de facilitação de forma que o aluno se sinta inserido no contexto escolar.

A atenção especial deve ser dada as deficiências que essas crianças possuem em comunicação, interação, linguagem e do comportamento e a programação psicopedagógica ser traçada em cima dessas necessidades. Levando em consideração que a criança autista se caracteriza fundamentalmente pela falta de uniformidade em seu rendimento o professor precisa seguir uma programação educacional baseada na diagnose e na avaliação dos resultados, observando principalmente quais os canais de comunicação que o incapacita. É aconselhável que os professores tenham algum conhecimento de Psicologia do Desenvolvimento e que sejam orientados para uma atuação adequada nos graves distúrbios de comportamento que apresentam essas crianças.

O diagnóstico precoce é apenas o primeiro desafio que o Brasil estava começando a utilizar, dando com isso um novo olhar para educação dessas crianças. É importante que esse diagnóstico seja realizado antes dos 36 meses de idade. Convém salientar que o autismo está presente também em algumas crianças que apresentam inteligência e fala preservadas.

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O autismo basicamente é mais conhecido como uma alteração que provoca um afastamento da criança do mudo exterior, encontrando-se sempre centrado em si mesmo o que evidencia sérias perturbações das relações afetivas com o meio. Quando desenvolve a linguagem essa é caracteristicamente descontextualizada em relação ao uso das palavras. O transtorno autista se apresenta como uma desordem que se manifesta desde o nascimento e por toda a vida. Esse transtorno acomete cerca de 20 entra cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do que meninas. Porém quando a menina é acometida os sintomas são mais graves.

Devido a esse conjunto de sinais, o aluno autista, no contexto de inclusão escolar, necessita de um planejamento específico das práticas pedagógicas conforme o seu desenvolvimento, e o professor ao se deparar com uma criança autista poderá perceber certas características como: Ausência de linguagem verbal ou linguagem verbal pobre e inadequada (incapacidade de manter uma comunicação eficiente) ecolalia imediata ou tardia, hiperatividade ou passividade, contato visual deficiente (raramente olha nos olhos dos professores e dos pais), comunicação receptiva deficiente (apresenta grande dificuldade em compreender o que lhe é dito, não obedecem a ordens nem mesmo simples e muitas vezes também não atendem quando chamados pelo nome), problema de atenção e concentração, ausência de interação social, mudança de humor sem causa aparente, usar adultos como ferramenta, ausência de interesse por matérias ou atividades da sala de aula, interesse obsessivo por um determinado objeto ou coisa.

Vale ressaltar que na Síndrome do Autismo estamos diante de uma criança com dificuldade para aprender e não com uma impossibilidade, sendo assim todos os recursos facilitários devem ser empregados na inclusão dessas crianças. Atualmente no Brasil vários eventos são realizados a fim de desmistificar e esclarecer vários pontos relacionados a essa síndrome. Podemos citar, por exemplo, a criação do dia da conscientização do autismo (dois de abril) e as leis Berenice Piana segundo a qual os portadores do autismo devem ser considerados deficientes, para fins legais isso foi um verdadeiro marco na conscientização da síndrome. É fundamental que haja uma preparação da sociedade para receber e aceitar os autistas e com isso exercitar a cidadania, pois isso só e possível quando manifestamos esforços para entender, tolerar e não discriminar.

A inclusão do aluno autista em escola regular passa necessariamente pela presença do mediador escolar que são profissionais devidamente habilitados para promover a saúde e a interação entre todos os alunos. Quando a convivência com o deficiente se transformar em um habito rotineiro e feito sem alardes, a sociedade será de fato inclusiva. Vale salientar o fato de que durante décadas, renomados médicos especialistas acreditavam que as pessoas com autismo possuíam algum tipo de limitação mental, sabemos que em

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alguns casos isso realmente acontece, porém esse fato se deve muito mais a razão da criança autista não ir para escola. A criança autista necessita aprender regras sociais, o que chamamos de “currículo oculto”. Isso pode parecer muito fácil para uma pessoa sã, porém para o aluno autista é um grande desafio.

Luca Surian (2010) afirma que “A criança autista apresenta uma aderência inflexível a rotina ou rituais reagindo com intensa ansiedade a mudanças imprevistas no ambiente”; sendo assim cabe ao professor utilizar uma metodologia diferenciada ao lidar com esses alunos a fim de amenizar todo estresse causado na rotina escolar. Compreender e detectar o modo peculiar do aluno autista situar-se no mundo permite aos professores desenvolver sua pratica de modo a auxiliar o desenvolvimento infantil em consonância com os objetivos da educação infantil.

1.2 A Etiologia do Autismo

Ao longo de muito tempo, vários estudiosos se esforçaram e se aprofundaram em questões referentes às causas do autismo. Vários questionamentos a respeito das capacidades inatas que tornam o ser humano capaz de interagir com o outro foram realizados, e perguntas do tipo o que faz um ser humano se fechar sobre si mesmo foram feitas. Surgiram três teorias principais que procuram investigar quais os fatores que podem originar o autismo. São elas:

1- Teoria Psicogenética ou Psicanalítica

Na década de 50 e 60 o conceito de autismo estava direcionado a uma resposta desadaptada em face de um ambiente desfavorável e não a um déficit inato. Alguns autores consideravam o autismo como uma reação há relação parental, alegando que a criança poderia ser alvo de tratamento mecânico frio e obsessivo pelos pais. Outros autores sugeriram que a criança autista era vitima de falta de estimulação, rejeição e falta de amor ou de conflitos intrapsíquicos originados de interações desviantes da família.

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Em meados da década de 70 começaram a surgir relatos que contrariavam os postulados dessas teorias. São exemplo disso às crianças vitimas de maus tratos e atos de negligencias que não deram origem a um quadro de autismo. Sendo assim as teorias psicogênicas foram sendo cada vez mais criticadas. Apesar de todas as contribuições das perspectivas psicogenéticas, convém salientar que ela teve uma influencia assoladora para muitos pais, visto que passaram a sentirem-se inteiramente culpados por terem “causado” tamanha perturbação em seus filhos.

O desapontamento confirmado pelas intervenções psicanalíticas bem como a descoberta pela Associação do Autismo a fatores orgânicos contribuíram para por fim as teóricas psicogênicas. Aos poucos essa teórica foi abandonada e surgindo a hipótese da existência de uma base genética inerente ao autismo.

2- Teoria Biológica.

Atualmente considera-se que as causas do autismo sejam de origem neurológica. O argumento mais contundente contra a teórica psicogênica se deve ao fato dos autistas terem grande probabilidade de sofrerem de epilepsia e cuja incidência aumenta durante a infância e adolescência podendo chegar a ser de 25% dos adultos.

Apesar de muitos estudos efetuados ainda não há certezas quanto ao papel dos genes no aparecimento do autismo. Sabemos porem que a síndrome acomete mais meninos do que meninas com total de cinco para um. Atualmente com base da relação do autismo com diversas patologias (rubéola, paralisia cerebral, meningite, etc.) o autismo tem sido descrito pela ocorrência em associação com uma grande variedade de perturbações de base biológica. Com base nesses dados se aceita que o autismo resulte da perturbação de determinadas áreas do sistema nervoso central que atingem a linguagem, o desenvolvimento cognitivo e intelectual, assim como a capacidade de estabelecer relação, podendo estar associada a uma gama de desordem cerebral. As investigações neurobiológicas evidenciaram a origem orgânica do autismo, embora ainda não tenha sido identificado de forma efetiva. Pode-se concluir que o autismo é causado por perturbações biológicas diversas, ou seja, que a um caráter multicausal para ela.

As teorias biológicas dividem-se em: Teórica Genética, Teoria Neurológica, Teoria Neoquímico, Teoria Imunológica, Fatores pré, peri e pós natais.

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3- Teoria Psicológica.

Apesar de o autismo ser uma síndrome definida em termos comportamentais, é aceito também atualmente que existam déficits cognitivos e vários níveis que a ela são associados. Em 1964 surge a primeira teoria psicológica defendida por Rinland. Essa teoria sugeria que crianças autistas tinham dificuldade na associação dos estímulos recebidos com a memória resultante de experiências anteriores, porém foram os estudos defendidos o Hermelin e O’Connor (1970) que deram a importância definitiva a essas investigações, como objetivo de identificar o déficit cognitivo básico associado aos distúrbios fundamentais do autismo. Esses autores defendem a teoria de que os autistas armazenam as informações verbais de forma neutra (sem analisá-las, atribuir-lhes significados ou reestruturá-las), não fazendo uso da estrutura sequencial para facilitar a consolidação da memória. Em seus estudos em meados da década de 70 permitiram destacar uma das deficiências mais importantes e específicas do autismo: A incapacidade de avaliar a ordem e sua estrutura, assim como o voltar usar a informação. Sendo assim conclui-se que os autistas seriam incapazes de extrair regras ou de estruturar experiências, tanto o domínio verbal, como não verbal; o que explicaria a dificuldade em realizar tarefas orientadas Por ordens complexas como a linguagem e interações sociais.

Segundo essas teorias as anomalias sociais seria um resultado de falhas cognitivas e da incompreensão linguística. Esta concepção estimulou a pesquisa de uma anomalia de nível encefálico das funções linguísticas que incluem déficit na comunicação verbal e não verbal. Em 1980 surgem então a teoria da mente que seria mais uma das faces da teoria psicológica.

1.3 Inclusão da Criança Autista na Escola.

Ao longo das últimas décadas, o mundo vem discutindo no campo da educação, o que vem a ser inclusão e qual a melhor maneira de fazê-la. Alguns autores defendem a ideia de que independentemente do nível de dificuldade, todas as crianças devem ser incluídas na rede regular de ensino, mesmo que sejam em salas especiais. Outros autores

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defendem a inserção do aluno em sala regular sempre. Porém a inclusão de crianças autistas deve ser realizada de modo criterioso e bem orientado o que vai variar de acordo com as possibilidades e diferenças individuais de cada aluno. Na escola regular uma estratégia de facilitação da inclusão do aluno autista são as salas de apoio, professores especializados e a presença do mediador escolar. Esse professor especializado não necessita atender somente a uma escola, porém deverá saber realizar avaliações, organizar sistemas de trabalho, avaliar sua eficiência, avaliar problemas de comportamento e definir estratégias.

O primeiro passo para a real inclusão do aluno autista consiste na aplicação do PEP-R pelo professor especializado (PEP –R = Perfil Psicoeducacional Revisado). Trata-se de uma avaliação simples desenvolvida com a intenção de testar o coeficiente de desenvolvimento de crianças autistas. Para Mantoan (1997), a inclusão deve causar uma mudança de perspectiva educacional, pois ela não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas beneficia a todos: Professores, Alunos, Gestores Escolar para que obtenham sucesso no processo educativo.

A Escola que possui a proposta de inclusão leva em consideração as necessidades de todos os alunos e é estruturada em função dessas necessidades. Segundo Fávero et al (2004), reforça-se a ideia de que a inclusão é um desafio que ao ser enfrentado pela escola comum provoca a melhoria da qualidade da educação básica e superior. Essa discussão em respeito da inclusão ultrapassa a esfera da educação especial, pois ao falarmos em uma escola para todos questiona-se a constituição das interações nesse espaço e das relações da sociedade como um todo. Embora para o conhecimento as diferenças e semelhanças sejam fundamentais o desafio está em relacioná-las em um modo diverso, reconhecendo as semelhanças sem apagar as diferenças, mas colocando-se em relação a elas e aprendendo com elas.

Segundo Sant’Ana (2005) em uma pesquisa realizada com dez professores do ensino fundamental sobre a inclusão foi verificado que essas dificuldades existem há décadas e pertencem a toda a estrutura educacional do país. Desta forma sabemos que existe grande necessidade de mudança na reestruturação do sistema escolar para que ocorra efetivamente a inclusão.

1.4 Fatores de Risco

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Alguns fatores são considerados de risco para o desenvolvimento do autismo. São eles: Sexo, ou seja, meninos são de quatro a cinco vezes mais propensos a desenvolver autismo, sendo que a causa disso ainda é desconhecida, o histórico familiar também é levado em consideração, sendo assim, observamos que famílias que já tenham tido algum integrante com autismo correm risco maiores de ter um outro integrante posteriormente. Da mesma forma é comum que alguns pais que já tenham gerado um filho autista apresentem problemas de comunicação e de interação social. Outros tipos de transtornos também são encontrados, crianças com alguns problemas de saúde específicos tendem a ter mais riscos de desenvolver autismo do que outras crianças. Encontramos também casos de epilepsia e esclerose tuberosa entre esses transtornos. A idade dos pais também é fator relevante sendo observado que quanto mais avançada a idade dos pais, mais chances de a criança desenvolver autismo até os três anos de idade. Não há uma fórmula correta para prevenir o autismo, mas estudos recentes mostram que papel da herança genética para o desenvolvimento do transtorno não é tão grande como se supunha. Os genes desempenham 50% das chances de uma criança vir a ter autismo. Ou seja, em pelo menos metade dos casos não há muito a se fazer contra a genética humana. Mas os outros 50% correspondem a fatores externos, muito relacionados ao ambiente em que a criança cresce e a hábitos comportamentais. Isso abre um campo enorme de pesquisa, especialmente no que diz respeito à prevenção do autismo.

1.5 Estilos de Aprendizagem

Os estilos de aprendizagem variam de criança para criança, daí a importância do corpo docente levar em consideração as diferenças individuais no processo de apropriação de saberes. Quando falamos em estilos de aprendizagem estamos falando nas características particulares que cada pessoa possui para aprender, ou seja, cada indivíduo possui um estilo único e diferenciado no processo de adquirir conhecimentos. Essa diversidade dos estilos de aprendizagem pode e deve ser entendido não como um problema, mas sim como mais um recurso enriquecedor. Os três principais estilos de aprendizagem são:

. Estilo linguístico auditivo: Sabe-se que 60% das pessoas têm tendência a trabalhar melhor a informação de modo oral, revelando muita dificuldade em transformar a

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oralidade em escrita. Esse grupo tem a tendência de estudarem em voz alta e preferem realizar trabalhos em grupo.

. Estilo linguístico visual: Fazem parte desse grupo 35% das pessoas. Elas preferem trabalhar a informação de modo escrito e são mais bem sucedidas em trabalhos individuais. Apresentam dificuldades em transformar a imagem mental em verbalizações.

. Estilo cinestésico visual-auditivo: Apenas fazem parte desse grupo 5% das pessoas. Não apresentam um estilo definido. Preferem trabalhar as informações enquanto se movimentam, ou seja, conseguem trabalhar as informações enquanto estão vendo, ouvindo, mexendo.

Peeters (1997) defende que o estilo de aprendizagem mais usado pelos autistas é o visual, nesse sentido as tarefas deverão ser decompostas em pequenas partes visualmente distintas.

1.6 A Família da Criança Autista.

A família é uma rede complexa de relações e emoções, sintetizando é formada por um grupo que controla as respostas de seus membros aos estímulos e as informações interiores e exteriores. Andolf (1981) exprime a ideia de que o comportamento de um indivíduo é a causa de um comportamento de outro. É um grande erro dizer que se uma criança não se comporta bem na escola é porque a família não a educou de forma adequada.

Conforme conceitualiza Sampaio Gameiro (1985), a vida de uma família é um longo ciclo de eventos desenvolvimentais: Nascimentos, crescimentos, mortes, sentimentos de ódio e de amor, que abrangem gerações e vários contextos históricos sócios culturais.

Frente ao exposto, proporcionar o desenvolvimento do autista implica em uma atitude da família em conjunto com a equipe profissional especializada. É fato que se faz necessário um trabalho estruturado e organizado por parte dos profissionais, que acima de tudo devem dar suporte, informações a respeito da síndrome autista e seu desenvolvimento. Com isso, não somente a família terá as bases de como precisara agir frente a essas dificuldades, mais também terá como objetivo melhora a qualidade de vida do autista, proporcionando a ele o desenvolvimento de suas habilidades.

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A síndrome autista compromete seriamente o grupo familiar. As relações familiares são afetadas quando um elemento de seu grupo apresenta uma doença. As limitações que uma doença traz levam a família a alguns tipos de limitação permanente e isso é claramente visto na capacidade adaptativa ao longo do desenvolvimento da vida familiar.

É evidente de quando os pais recebem a notícia de que seu filho é portador do autismo, um profundo sentimento de luto é vivenciado pela perda da criança saudável que esperavam. Segundo Krynski (1969) apresentam sentimentos de desvalia por terem sido escolhidos para viver essa experiência dolorosa.

Após um período conturbado na descoberta do filho autista, vem a aceitação e uma maior tranquilidade. É nesse momento que se deve recorrer a terapia a fim de conseguir um suporte para lidar com tantas emoções. Pais de autistas observam alterações no comportamento de seus filhos desde cedo, que nenhum profissional enxergaria em pouco tempo de contado.

Gauderer (1992) já contava para o sofrimento da família dos autistas e pontuava a necessidade da mesma receber uma abordagem que acolhesse esse sofrimento, tanto por razões humanitárias quanto principalmente para que funcione melhor uma vez que a família saudável proporciona uma qualidade de vida melhor para a criança deficiente. Toda família precisa aprender a lidar com o filho autista e principalmente administrar o tempo em prol dessa criança. Cabe a família integrar a criança na sociedade, funcionando também como meio de cultura, crescimento e bem estar. Cada criança necessitará dependendo de suas características clinicas de maior ou menor cuidado e atenção, situação essa que pode muitas vezes gerar um estresse na família. É justamente nesse processo catalizador das relações que entra o suporte terapêutico, cabendo a esse profissional orientar quanto ao manejo de situação de crise, promover a autonomia do individuo, acolher a família e impor limites.

A família será sempre uma forte aliada terapêutica para o sucesso da intervenção. É notório que quanto mais saudável for o funcionamento familiar melhor serão as condições de cuidar do doente.

Sem duvida criar um filho divergente traz angustias e encargos adicionais para os pais. Com tudo é necessário recordar que criar um bebe normal também pode ser um processo angustiante para muitos pais, não sendo, portanto um fato exclusivo e inerente a excepcionalidade. De qualquer maneira devemos ter sempre em mente que a família de uma criança excepcional necessita tanto de atendimento e orientação quanto o próprio individuo, não só para a sua própria organização e ajustamento como também para que possa constituir um elemento de apoio e ajuda ao processo de educação e reabilitação do indivíduo que dela necessita. A

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primeira etapa da orientação familiar consiste em auxiliar os pais a uma aceitação emocional da criança excepcional, que pode ser definida como a concordância entre os fatores internos (sentimentos dos pais) e os fatores externos (a realidade da situação). Só então os pais terão condições de propiciar situações que favorecem o desenvolvimento pleno e seus a seus filhos. (AMIRALIAN,1986, P 51-52).

1.7 A Escola como Janela para o Mundo

Embora sempre houvesse uma necessidade de capacitar os professores para que a inclusão realmente aconteça na prática, existe uma duvida a respeito de qual, ou quais, modelos de formação continuada são mais eficazes para desenvolver as competências desejadas nos docentes. Nessa temática podemos observar dois grupos de professores: Os que atuam em classe comum e os que trabalham em escolas especializadas. Temos que ter em mente também o público alvo que será envolvido com a proposta de formação continuada. A partir desse princípio o diálogo e as metas deverão ser traçadas. Temos que ter sempre em mente que qualificar uma escola para a inclusão dos alunos autistas implica em reestruturar todo o ensino e suas práticas (usuais e excludentes). Na inclusão não é a criança que se adapta a escola e sim a escola que se molda para receber o aluno. Vale ressaltar que muitas vezes como não só os professores como também os coordenadores escolares não estão aptos para desenvolver um plano pedagógico coerente com as necessidades do aluno autista, lança-se mão de um orientador terapêutico que poderá ser um psicólogo ou um fonoaudiólogo o que é um erro. Não se deve promover a substituição do profissional. Esses profissionais podem até fazer parte da equipe técnica, porém de forma complementar, sem que isso não diminua a responsabilidade do professor.

O professor precisa ir além de ser um transmissor de conhecimento, na escola o aluno deficiente ou não deverá vivenciar experiências significativas para o seu processo de aprendizagem. A escola cria significados, promove reflexões, resgata valores e socializa. O papel da escola é também usar de todos os recursos possíveis para transformar o entorno. Hoje se pode dizer que a escola é a maior responsável pela educação e formação de um indivíduo, e nesse processo o professor é a pessoa intermediária disso. Todo indivíduo depende de uma estrutura social e política para uma boa sobrevivência, afinal as crianças de hoje serão futuramente as responsáveis pelas grandes transformações socioeconômicas, culturais e políticas de nosso país. É necessário que todo trabalho educativo esteja voltado também para a construção moral dos cidadãos objetivando o bem-estar não só pessoal como também o coletivo.

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Werneck (1995) cita, “A formação para a cidadania é o ponto mais importante e supõe evidentemente uma formação pessoal.” Sendo assim é preciso que a escola contribua para uma nova postura ética. Cabe ao professor além de alfabetizar e passar conhecimentos específicos, ensinar seus alunos a tomar decisões, a saber escolher entre o certo e o errado em uma época de diversas transformações na sociedade e no mundo.

O sentido da vida só pode ser aprendido pela própria pessoa, mas as atitudes podem ser ensinadas. Segundo Arantes (2003):

A sociedade solicita que a educação assuma funções mais abrangentes que incorporem em seu núcleo de objetivos a formação integral do ser humano. Essa proposta educativa objetiva a formação da cidadania, visando que alunos desenvolvam competências para lidar de maneira consciente, crítica, democrática e autônoma com a diversidade e conflitos de idéias, com as influências da cultura e com os sentimentos e as emoções presentes nas relações que estabelecem consigo mesmo e com o mundo a sua volta. (Arantes, 2003)

1.8 O Espaço Físico Ideal da Sala de Aula.

Antes de planejar a organização física da sala de aula o professor deve avaliar o meio ambiente de um modo geral. Alguns aspectos devem ser considerados que são o tamanho da sala de aula, outras salas que estão próximas, o número de acesso a pontos de luz, a qualidade da iluminação, se há ou não ventilação adequada, se há algum tipo de estímulos em excesso na parede que possa distrair os alunos, qualquer outro tipo de aspectos móveis que possam interferir negativamente no processo de aprendizagem,

Alguns aspectos indesejáveis podem ser desprezados ou mesmo serem modificados, mas existem algumas situações que podem necessitar uma mudança na sala. Por exemplo: Uma sala com muitas saídas não é indicada quando se tem alunos que tem habito de correr; um ambiente prioritário e localização do banheiro. Os professores que estão treinando os alunos a usar o banheiro não querem ter que andar grandes distâncias cada vez que o aluno tenha que ir lá.

Definir áreas apropriadas para tarefas de aprendizagem específicas, identificar com clareza os limites e definir matérias facilmente acessíveis ajudam os alunos a

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identificarem de forma independente onde devem estar e onde obter seus próprios materiais. Desta forma os professores não têm que estar constantemente repetindo instruções ou lembrando algo aos alunos, causando menos confusão. Cheguei a estas palavras observando as aulas da professora regente, o comportamento e desenvolvimento dos autistas em sala de aula.

Através de toda observação em sala de aula pude perceber que a melhor maneira de usar a organização para ajudar os alunos a ter um desempenho bem sucedido: é na montagem das tarefas dos professores. Isto torna as situações de aprendizado mais fáceis e ajuda-os a superar a distração a resistência a mudanças e a falta de motivação. As instruções podem ser dadas verbalmente ou não. Em qualquer caso as instruções devem ser dadas ao nível de compreensão do aluno. Instruções verbais também podem ser acompanhadas de gestos, para ajudar a compreensão. Ao dar instruções o professor precisa estar certo que as expectativas e consequências estão organizadas e claras para o aluno.

Para ensinar eficazmente alunos autistas, o professor deve proporcionar uma organização do método de trabalho, incluindo a sala de aula, de maneira que os alunos entendem onde ficar, o que fazer e como fazê-lo, de forma mais independente possível.

1.9 A Avaliação Diagnóstica

A inclusão do aluno autista infelizmente ainda está associada à necessidade de se fazer uma forte reestruturação em todo currículo e planejamento escolar, assim como a uma adaptação específica com profissionais especializados. Na medida em que vemos o aluno somente pelo ângulo de suas limitações, passamos a desacreditar ser possível a sua educabilidade e a sua permanência em uma escola comum.

Pesquisas realizadas mostraram que os professores muitas vezes apresentam ideias distorcidas a respeito desses alunos principalmente no que se refere a sua capacidade de comunicação, daí a necessidade de se realizar a avaliação diagnóstica. Essa avaliação nada mais é do que um ensaio sobre o nível de dificuldade que cada aluno apresenta. É uma avaliação não punitiva e que vai além da forma clássica, o objetivo é contabilizar acertos e erros, interpretando a produção do aluno. Com isso o professor consegue definir em que etapa do processo de construção do conhecimento seu aluno se encontra administrando assim as ferramentas necessárias para estimular o seu progresso. Esse diagnóstico vai

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permitir que o professor possa adequar sua metodologia de ensino as necessidades de cada aluno. Com essa avaliação conseguimos levantar os pontos fracos e fortes dos alunos desde que utilizemos estratégias variadas em sua execução. É necessário que essa avaliação não se limite ao início do ano letivo, mas sim que seja utilizada ao logo do processo de aprendizado. Pode-se lançar mão de dinâmicas, jogos, debates, vídeos, apresentações e etc.. Quando realizamos no início do ano ela objetiva fornecer dados para que o planejamento seja ajustado e contemple medidas para retomada do conteúdo ou até mesmo para possíveis encaminhamentos (reforço escolar, fonoaudiologia, etc.). Quando feita ao longo do ano possibilita que o professor reavalie os resultados alcançados e modifique sua estratégia mudando a forma de como o conteúdo está sendo transmitido.

Os dados dessa avaliação não podem classificar o aluno em “aluno bom ou ruim”. Até porque ao fazer uso dessa ferramenta o professor também terá a oportunidade de rever conceitos sobre a sua prática. A avaliação não serve só para diagnosticar o grau de conhecimento dos seus alunos como também se estão ou não assimilando o conteúdo que está sendo passado, daí a necessidade de realizá-la ao longo de todo o ano letivo. A abordagem do autismo é relativa a diferentes formas de identificar déficits com objetivos diagnósticos. As características diagnósticas do autismo tais como os déficits na área social e problemas de comunicação, são úteis para distingui-las de outras deficiências, mas são relativamente imprecisos na sua conceituação de como o individuo entende o mundo, como age com base nesta compreensão e aprende.

1.10 A Formação dos Professores de Alunos Autistas

Apesar de muito empenho sabe-se que a inclusão implica em transformações lentas e sofridas e que não acontecerá da noite para o dia. Mudar a escola é uma árdua empreitada que exige que se coloque sempre a aprendizagem como base, pois ela foi constituída para que todos aprendam de acordo com suas peculiaridades.

Os profissionais de educação estão cada vez mais se deparando com um grupo heterogêneo de alunos, o que dificulta o trabalho e o seu desenvolvimento. Os docentes se vêem impotentes e forçados a encontrar respostas aos diversos problemas presentes em sala de aula. Os alunos ditos normais já são por si só um desafio constante, pois sabe-se que cada um tem um ritmo próprio e não respondem da mesma forma aos conteúdos lecionados. Esse fator toma proporções ainda mais alarmantes e desesperantes quando se

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tratam de alunos com necessidades educativas especiais. Apesar da formação acadêmica, o educador sente-se frustrado perante tantos obstáculos, pois não sente o apoio desejado nem possuem na maior parte das vezes, condições de trabalho favoráveis ao combate dos mesmos. Porém muito dos educadores conscientes dessa realidade que nos rodeia, partem numa exploração sem fim par obter algumas respostas, noções, estratégias, enfim, tudo que seja útil para prestar auxílio aos alunos mais necessitados, tornando a sua prática pedagógica a mais completa e frutífera possível.

O aluno autista requer que seu aprendizado receba uma atenção especial e uma formação específica por parte dos professores devido ao conjunto de sinais e sintomas peculiares a essa síndrome. É necessário haver muita conversa com a família e muita troca de informações com toda equipe multidisciplinar envolvida no processo para que consigamos uma ajuda eficaz a esse aluno.

Os professores diante de tantas interrogações, tantas dúvidas necessitam de uma formação mais aprofundada e porque não dizer um reconhecimento também financeiro objetivando a prática da real inclusão desses alunos em sala de aula. É necessário que haja uma sinalização prévia dos possíveis casos de autismo em sala de aula para que a intervenção aconteça o mais previamente possível. Sabemos que quanto mais cedo esses casos forem diagnosticados e tratados não só na esfera médica como também no educacional, os professores terão mais facilidades em reduzir ou até mesmo anular certos comportamentos que possam a vir comprometer a vida acadêmica dessas crianças. O educador infantil ao se deparar com um aluno autista deverá ter em mente que terá como objetivos principais desenvolver ao máximo as competências, favorecer um equilíbrio pessoal o mais harmonioso possível, fomentar o bem estar emocional e apresentar-lhe um mundo repleto de relações significativas.

O professor precisa prever concretamente os estímulos condicionantes em função do objetivo que pretende atingir para uma determinada tarefa, para isso ele deverá: Não trabalhar muitos aspectos ao mesmo tempo, tendo o cuidado de escolher as prioridades, sempre utilizar uma linguagem clara e precisa, estabelecer rotinas de fácil assimilação e entendimento, ser consistente ao trabalhar comportamentos particulares e se preciso for pedir ajuda aos psicólogos da instituição, a comunicação entre os indivíduos envolvidos na educação da criança autista devera ser continua, ou seja, todos devem usar a mesma regra, sempre que possível tentar utilizar uma postura calma e divertida ao se deparar com os comportamentos inadequados, quando a intervenção e a confrontação se fizerem necessários certificar-se antecipadamente de que é capaz controlar a situação com sucesso, ser sempre cuidadoso para não reforçar comportamentos indesejáveis, ter o hábito de dividir todas as tarefas de comportamentos a serem trabalhados e abordados em passos

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pequenos, ser paciente e persistente pois o comportamento da criança autista demora a se modificar, solicitar ajuda sempre que necessário for, ter em mente os pontos positivos da situação e não olhar só para os problemas ou pontos negativos.

A grande problemática e o grande obstáculo dos professores diante dos alunos autistas são justamente a falta de qualificação específica desses profissionais e as salas de aula cada vez mais numerosas. Sabemos que a educação da pessoa autista não tem recebido a atenção necessária. Até mesmo profissionais competentes que se deparam com esses alunos, que parecem não compreender a vida, sentem sua segurança e até mesmo sua competência abalada e muitos acabam desistindo. Não podemos esquecer que a educação tem papel muito importante no desenvolvimento de todas as crianças, a atividade educativa tem por objetivos proporcionar o desenvolvimento de habilidades e competências, garantir o equilíbrio pessoal, estabelecer relações significativas e até mesmo proporcionar um bem estar emocional. Apesar desses objetivos educacionais serem para todos, os autistas necessitam de modelos especiais, uma vez que apresentam fortes deficiências de comunicação, interação, e atenção.

É importante ressaltar que para se educar um autista é preciso também promover sua integração social, sendo possível por meio dela aquisição de conceitos importantes para a vida. O maior desafio para se garantir uma qualidade de ensino é o de existir essa política educacional forte na formação de professores e de um bom projeto político educacional.

A formação de todos os professores atuantes na escola necessita de uma coerência com a política educacional que busca a integração dos alunos com necessidades especiais no ensino regular. Em se tratando da formação inicial percebemos que apesar da grande necessidade, muitos cursos de formação de professores não promovem o desenvolvimento na área das necessidades especiais, ou até, por várias vezes não divulgam esse conhecimento.

Em se tratando de educação contínua o que se apresenta aos professores raramente está inserido na realidade em que se identificam os problemas das necessidades especiais. Sem contar que a disponibilização de materiais oferecidos é crítica, insuficiente e inadequada. Para trabalhar com educação especial é preciso ter forte determinação profissional, sendo esta fundamental para que se possa desenvolver uma prática educacional adequada e eficaz.

É fundamental para se trabalhar com alunos autistas um profissional com ampla formação geral, com capacidades educativas e interdisciplinares, a fim de lidar com os seus

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alunos de forma plena. Isso porque a formação superior não garante uma prática com qualidade melhor ou pior, e sim uma qualificação na área educacional para lidar com as inúmeras diversidades existentes no âmbito escolar, é preciso muito mais que graduação. É preciso ter competência profissional.

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Capítulo II

Pais e Educadores – Parceiros no Crescimento da Criança Autista.

Pais e professores necessitam internalizar o conceito de que quando se trabalha com inclusão escolar de alunos autistas, ausência de fala não significa déficits cognitivos irremediáveis. Quando esse preconceito for finalmente transportado, estratégias deverão serem criadas a fim de facilitar a compreensão dos autistas em relação ao que esperamos deles. Estímulos sensoriais diversos podem e devem ser utilizados através de vários canais perceptivos. Com a ajuda da comunicação corporal aos poucos a criança autista começa a entrar em contato com o mundo que o cerca, e essa estimulação deverá começar desde bebê pela família. Cabe ao educador criar sempre um caminho visual organizado e ilustrativo, aliado a comandos verbais e ao letrado, pedindo sempre uma coisa de cada vez.

2.1 Aceitação do Educador

A preparação dos profissionais para o trabalho com os alunos portadores de autismo é de suma importância, pois o educador é um dos agentes responsáveis não somente por transmitir conteúdos pedagógicos como também transmitir valores e normas sócias que possam inserir a criança na esfera simbólica do discurso social. Sendo assim, o trabalho com os educadores deverá englobar, de forma permanente, programas de capacitação, supervisão e avaliação. (Sant’ Ana, 2005).

A escola deve ser sempre uma fonte rica para o desenvolvimento da valorização e diminuição da rejeição, pois através dela diminuiremos o preconceito e consequentemente a rejeição e a estigmatização.

Para facilitar e viabilizar o trabalho dos professores com os alunos autistas é necessário criar nas escolas tradicionais, em suas classes comuns, um trabalho terapêutico

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em conjunto passando pela figura do mediador escolar. Isso é uma experiência nova e muita promissora, pois os pacientes estão migrando dos consultórios para a escola e não mais o contrario.

Segundo Ellis (2001), “O movimento inclusivo nas escolas por mais que seja ainda muito contestado e de caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente no meio educacional, é irresistível e convence a todos pela lógica de seu desenvolvimento social.” Muitos professores apresentam ideias distorcidas a respeito do aluno autista principalmente no que se refere a sua capacidade de comunicação. E essas concepções acabam interferindo nas práticas pedagógicas e na expectativa em relação à educabilidade dessas crianças.

Pesquisas indicam que os professores manifestam uma tendência a centralizar suas preocupações em aspectos pessoais como medo e ansiedade diante do quadro autista e a grande duvida é sempre em relação à agressividade desses alunos. Quando não há uma aceitação dessas crianças por parte dos professores assim como um ambiente inapropriado a possibilidade de ganhos no desenvolvimento sede lugar ao prejuízo, porém quando há uma efetiva participação da escola em conjunto com a família, o aprendizado de coisas simples do dia a dia é notório como, por exemplo, conhecer-se e torná-los independentes.

É bem verdade que a diversidade de manifestações comportamentais dos alunos autistas é enorme e talvez a insegurança de alguns professores em lidar com a situação. Sabemos que a inclusão movimenta toda a escola, mais são os professores aqueles que diretamente precisam “dar conta” das peculiaridades de cada aluno. Esse fato por si só justifica tanto receio por parte do corpo docente diante do aluno autista. Porém, todo esse processo afeta também as famílias dos alunos. Embora ter o filho autista em classes comum ser o grande desejo da maioria dos pais muitos deles declaram que nem sempre essa convivência é harmoniosa e respeitosa. Sabemos que para 53% dos pais de crianças autistas o principal motivo para levarem seus filhos á escola é a socialização. Apenas 18% acreditam que a escola desenvolva de fato a aprendizagem, a independência, a comunicação, e o comportamento dessas crianças.

Vale lembrar que durante muito tempo essas crianças eram tratadas como doentes que precisavam apenas de atendimentos médico, não de educação. Só na década de 90 que as ideias assistências foram suplantadas pela tese da inclusão. Tudo ainda é muito novo para o professor e documentos como A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) foram um marco no movimento da inclusão. A inclusão só acontecera realmente quando houver uma parceria dos pais com a escola com

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um só pensamento de que nos caminhos da inclusão para atender a diversidade todos saem beneficiados.

O professor precisa ficar atento e atualizado, pois com as novas políticas educacionais, o professor precisa ter uma formação mais ampla e cabe a ele elaborar um plano educacional especializado para cada estudante, como objetivo de diminuir as barreiras específicas de todos eles. A missão maior do professor é acima de tudo desmistificar o estigma de que o aluno autista não consegue aprender. É preciso que seja criada facilitações de ensino para esses alunos tendo como base e apoio o planejamento curricular.

2.2 Desenvolvimento Social da Criança Autista

O desenvolvimento psicossocial dos autistas também é muito incerto pelos déficits e desvios no desenvolvimento da linguagem apresentado desde os primeiros balbucios. Não é raro os números desses gestos serem reduzidos ou diferentes do normal; alguns autistas nem chegam a desenvolver uma linguagem comunicativa, porém quando alguns a desenvolvem, é necessário uma atenção maior para que eles a desenvolvam o máximo possível, ou seja atenção especial deverá ser dada a essa área através de estimulações específicas. Segundo Williams e Wright, (2008) é de extrema importância auxiliar crianças e jovens a melhorar o desenvolvimento de aptidões sociais, para que esses possam sentir-se mais a vontade em um mundo que é em grande parte social. Os autores acreditam que uma intervenção precoce reduz o isolamento e a ocorrência de comportamentos repetitivos, fora de suas barreiras. Para que isso ocorra o convívio fora de instituições especializadas e com o grupo mais heterogêneo possível precisa ser uma pratica diária. Precisamos preparar esses indivíduos para que eles possam conhecer um mundo que fica muito além de suas limitações físicas, mentais e sociais e isso só poderá ser feito com uma política séria voltada para a inclusão e para uma melhor preparação técnica dos professores.

A questão social abrange necessariamente a inclusão, pois é a inclusão que vai oferecer ao aluno autista o máximo de autonomia. Conforme Weschenfelder (1996), a integração social é quem constrói a identidade sócio-cultural, sendo assim, observamos que a reabilitação psicosocial busca trazer o individuo autista de suas dificuldades ao mundo novo, como mais expectativas que o articule em seu espaço social. Não podemos deixar de

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ressaltar que em algum momento os autistas necessitarão de uma trégua do mundo social, pois a inclusão para eles necessita ser feita como cuidado maior devido a forte resistência a mudanças que eles apresentam.

A inclusão dos autistas assistida minuciosamente por uma equipe multidisciplinar é uma realidade. Pesquisas demonstram que os autistas de auto-funcionamento podem ter uma vida próxima do normal se bem acompanhados e inseridos no contexto social deles. É interessante observamos a criança inserida em uma escola tradicional e observarmos os ganhos obtidos pela mesma não só no campo pedagógico como também no social. A interação com crianças ditas normais proporciona contextos sociais que permitem vivenciar experiências que dão origem a troca de ideias, de papeis e o compartilhamento de atividades que exigem negociação interpessoal e discussão para resolução de conflitos. O conceito de competência social é muitas vezes utilizado para nos referirmos as habilidades sócias, porém a habilidade social se refere a descrição do desenvolvimento do individuo, já a competência é entendida como uma avaliação da ação de um individuo em uma determinada situação. Isso pressupõe que crianças com maiores habilidades sociais são socialmente mais competentes.

Estudos desenvolvidos por Lordelo e Carvalho (1998) com crianças pequenas em creche identificaram notáveis ganhos no desenvolvimento social dessas crianças a partir da oportunidade de interação com os pares, proporcionado pelo ambiente, e isso vale também para os portadores de autismo. Almeida (1997) parte da noção de que o ser humano está inatamente programado para estabelecer vínculos sociais, mais que o desenvolvimento social só se constrói na sequência de interações em qualquer estágio da vida. Concluímos então que proporcionar as crianças autistas oportunidades de conviver com outras crianças da mesma faixa etária possibilita o estímulo ás suas capacidades interativas impedindo o isolamento contínuo. A oportunidade de convívio com crianças normais é a base para o seu desenvolvimento. Esse convívio em escolas regulares oportuniza os contatos sociais enriquecendo os desenvolvimentos delas. É importante ao lidar com a criança autista o segmento de regras, pois é através delas que os pais preparam o filho para serem inseridos na sociedade. Devemos sempre ter em mente que, embora a convivência do autista na sociedade seja algo difícil, há diversas técnicas para eles se socializarem e cada um têm um nível de eficiência de acordo com o perfil psicosocial. Conforme Weschenfelder (1996) a integração social é quem constrói a identidade sócio-cultural. E para que haja oportunidade de construção social é preciso que as escolas quebrem o estigma de excluir essas crianças.

A família como peça fundamental nesse processo deverá receber um treinamento afim de que saibam utilizar técnicas comportamentais que auxiliem na

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adequação dessa criança na sociedade. É fato que nossa organização social impõe muitas barreiras culturais que necessitam ser modificadas a fim de assegurar a igualdade de possibilidades a todos os cidadãos. De um modo geral, ignoramos tudo o que não esteja no padrão considerado normal. Devemos nos esforçar (família, escola, estado) a fim de trazer do isolamento os estigmatizados, para que não sejam mais condenados a inviabilidade de políticas retrogradas e para expor os obstáculos enfrentados pelos autistas.

A verdade é que na prática pouco foi feito. Temos que sair do mundo do papel para o operacional, no entanto a mudança nas leis da inclusão já foi o primeiro importante passo para a concretização dos direitos sociais dos autistas, faltando porém, colocá-las em prática o mais rápido possível.

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Capítulo III

A Sexualidade da Criança Autista, a Intervenção nos Comportamentos Inadequados e Tratamento

A pessoa com Autismo tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e único. A repressão da sexualidade é usualmente encontrada e entendida nestes grupos, como consequência de um desequilíbrio interno, dos afetos, dos comportamentos, da maneira de se relacionar no mundo, diminuindo assim as possibilidades de se tornarem seres psiquicamente saudáveis.

Observamos nos casos em que a sexualidade é bem encaminhada na vida destas pessoas: melhora o seu desenvolvimento afetivo, transcurso da puberdade/adolescência/vida adulta mais tranquila e feliz, facilita a capacidade de se relacionar, melhora a auto-estima, permite a construção da identidade adulta e a adequação à sociedade.

O tema sexualidade em nossa cultura vem sempre acompanhado de preconceitos e discriminações, e quando se trata de pessoas com necessidades especiais a repercussão é bem maior. Notamos que a sobrecarga de valores morais e preconceitos aumentam quando o tema passa a ser sexualidade da pessoa autista, gerando polêmica quanto às diferentes formas de abordá-lo, isto acontece na sociedade, na família, com os pais e na escola.

3.1 A sexualidade da criança autista:

A dificuldade de expressão e a falta de habilidade social são as características mais difíceis de serem eliminadas no autismo o que torna o grande obstáculo em suas vidas para o desenvolvimento da sua sexualidade.

O fato dos autistas não conseguirem interagir socialmente acarreta uma grande frustração. Essa rejeição gera muita ansiedade e tristeza, não só nos autistas como em toda a família. Na verdade é muito difícil lidar com o sentimento de rejeição principalmente a

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“afetiva sexual”. Para o autista isso se torna ainda mais complexo, pois apesar deles não conseguirem demonstrar de forma convencional seus interesses por outras pessoas, eles existem ainda em que um grau e uma lógica diferente da comumente assistida em outras pessoas. Porém a falta de experiência de comunicação e interação que deveria ter sido vivenciada na infância fará toda a diferença nesse momento da vida, principalmente no que diz respeito a lidar com os estados mentais e emoções dos outros.

De acordo com a psicóloga Vera Soares: “O ideal é eles terem uma vida sexual saudável, mas as convenções como namoro, casamento e constituição familiar são de difícil assimilação. Geralmente desenvolve afeições por pessoas do seu meio, o que é recomendável, pois a aceitação é mais favorável.”

Muitas teorias qualificam os autistas como serem hermético, ou seja, sem interesse pela sexualidade, porém na prática vemos justamente o oposto, com uma revelação de um instinto sexual bem aflorado, fato esse que acarreta muita preocupação em toda família. Na verdade os psicólogos defendem a tese de que a questão não é de que eles sejam mais impulsivos do que as outras pessoas, é que eles têm muita dificuldade em estabelecer uma censura para os seus impulsos.

É necessário que aqueles que lidam com uma pessoa autista tenham em mente que a sexualidade faz parte do desenvolvimento do organismo e do processo normal de maturação. A puberdade, caracterizada pelo crescimento repentino e mudanças no corpo físico, acarreta ansiedade na pessoa autista. Sendo assim é importante que pais e educadores estejam preparados para enfrentar essa fase inevitável do desenvolvimento orgânico. Nesse momento toda a família necessita ser orientada em como lidar com essa situação. Independente do grau do autismo, a instrução sexual deverá ser uma realidade de preferência antes das primeiras manifestações (toques dos próprios órgãos genitais, ereção perceptível no caso dos meninos) e da ansiedade que possa acompanhá-los. Deve-se ter em mente a necessidade de focar-se em toda a família nesse processo e não somente no indivíduo com transtorno invasivo do desenvolvimento, pois o problema persiste e desenvolve de acordo com o desenvolvimento da criança autista. Ou seja, outros problemas aparecem com a chegada da adolescência e da puberdade. Surge então o desejo sexual e todos os transtornos que isso pode causar, pois o desenvolvimento sexual humano é muito mais complexo que em outros seres, já que não depende apenas da maturação orgânica. Depende também do intelecto, o que dificulta a aceitação no jovem autista.

O jovem autista de médio a alto funcionamento deverá ser instruído verbalmente do mesmo modo que se faz em um adolescente normal, pois provavelmente as instruções do orientador sexual serão assimiladas por ele. O importante nesse processo é

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passar tranquilidade e mostrar que o processo de excitação sexual é natural, não havendo o que temer.

É imprescindível estipular regras a fim de que não venha a ser vítimas de violência sexual ou demonstrarem um comportamento sexual socialmente incorreto, assim como redirecionar comportamentos inadequados. Precisamos estar atentos, pois quando a sexualidade é ignorada ou ainda renegada contribui para o surgimento de comportamentos sexuais errôneos. A negação da sexualidade e a infantilização das pessoas com deficiência só colaboram para que apresentem mais dificuldades para se tornarem mais independentes, bem como para estabelecerem relacionamentos.

3.2 Intervenção nos Comportamentos Inadequados

A melhor técnica para eliminar comportamentos desajustados seja na esfera da sexualidade ou não é a aprendizagem insistente do comportamento adequado. Nesse sentido são propostas as seguintes medidas face aos comportamentos como birras, agressões e outro: Eliminar sempre o estímulo que desencadeia os maus comportamentos e atitudes inadequadas, ensinar-lhes a fazer frente a determinadas situações desencadeantes desses comportamentos, reforçar os comportamentos adequados e já aprendidos de forma que a criança seja motivada a empregar estes comportamentos com maior frequência, eliminação do reforço do comportamento desajustado, retirada da atenção, deixando a criança sozinha, isolada se for o caso, aplicação de castigo positivo a fim de eliminar comportamento inadequado, antes que crie uma habituação, castigo negativo, não dar a criança aquilo que ela espera obter através de um comportamento inadequado, relaxação e auto – instrução perante as fobias e medos. Nesse momento é importante haver firmeza e clareza nas instruções dadas.

As reações bizarras e inusitadas vão se instalando no repertório comportamental da criança gradualmente e a esse fator percebe-se que se faz uma diferença significativa nas relações vinculadas a esta sociedade. Para trabalhar todas essas áreas Pereira (1996) sugere um leque variado de modelos de intervenção que são aplicados aos autistas como, por exemplo, o Modelo Comportamentalista; o qual tem como base as teorias de aprendizagem (condicionamento clássico e o condicionamento operante). Esse modelo pressupõe eliminar os comportamentos desajustados e ensinar os comportamentos adequados através de um estímulo que é o reforço apreciado.

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A aplicação desse estímulo condicionante que deverá ser previsto em função dos objetivos que se pretende atingir. Esse estímulo provocará um determinado comportamento na criança que deverá ser previsível para o educador. Para alguns autores os esforços sociais tem pouco significado para essas crianças, sendo os esforços sensoriais e alimentares os mais eficazes.

. Modelo TEACHH (Treatment and Education of Autistic and Related Comunication Handcapped Children): Esse modelo pretende fazer com que a pessoa autista se torne autônoma em qualquer contexto da vida. É um modelo sinônimo de estruturação. Para alguns autores que defendem esse modelo o ambiente deve proporcionar um aumento da capacidade de motivação, atenção, memória e comunicação. Por exemplo, a estruturação física da sala de aula, o horário de trabalho que permite a criança antecipar acontecimentos, a área de trabalho independente onde a criança pode realizar tarefas autonomamente, as rotinas, etc.,

. Modelo Flootime: Foi desenvolvido com o objetivo de desenvolver um modelo integrador da abordagem das perturbações da comunicação e da relação. Essa abordagem é traduzida como um tempo no chão e é um modelo de intervenção interativa não dirigida que tem como objetivo envolver a criança numa relação afetiva. Esse modelo tenta mobilizar em simultâneo os seis níveis funcionais que são atenção, envolvimento, reciprocidade, comunicação, utilização de sequências de ideias e pensamento lógico emocional.

. Modelo ABA (Análise Comportamental Aplicada): Consiste na aplicação de métodos de análise comportamental com o objetivo de modificar comportamentos. Os princípios fundamentais do ABA são, criar situações de acertos, isto é iniciar as tarefas que o aluno consegue realizar com sucesso, oferecer apoio em caso de dificuldade para ir avançando e retirando o apoio as poucos, criar situações de acertos, isto é iniciar as tarefas que o aluno consegue realizar com sucesso, oferecer apoio em caso de dificuldade para ir avançando e retirando o apoio as poucos, responder adequadamente com uma recompensa, fornecer instruções claras e concretas, oferecendo apoio material compatível, reforçar sempre a conduta correta.

Esse modelo se assenta na premissa de uma terapia intensiva, que pode ir até 40 horas semanais durante aproximadamente dois anos em contexto escolar ou não.

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3.3 Tratamento

Segundo Assumpção (2000), o tratamento do autismo consiste em intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem ou comunicação.

O ideal é que a criança autista seja avaliada por uma equipe multidisciplinar e que a partir disso seja criado um plano de intervenção. Dentre os profissionais que fazem parte dessa equipe podemos citar: Psicólogos, Fonoaudiólogos, Psiquiatras, Terapeuta Ocupacional, Fisioterapeuta e Educador Físico ou Psicomotricista.

Atualmente recorre-se a três métodos de intervenção para o desenvolvimento e a estruturação do autista no mundo e que possui eficácia comprovados que são:

1) TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Comunication Handcapped Children) : Esse programa combina diferentes materiais visuais para organizar o ambiente físico através de rotinas e sistemas de trabalho de forma a tornar o ambiente o mais compreensível e estruturado possível dentro das dificuldades do aluno autista, visando sempre a independência e o aprendizado espontâneo.

2) PECS (Picture Exchange Communication System): Esse método utiliza figuras e adesivos para facilitar a comunicação e a compreensão na medida em que estabelece uma associação entre a atividade e o símbolo.

3) ABA (Applied Behavior Analysis): Análise comportamental aplicada que se embasa na aplicação dos princípios fundamentais da teoria do aprendizado que se baseia no condicionamento operante e reforçadores para incrementar comportamentos socialmente significativos, reduzir comportamentos indesejados e desenvolver habilidades.

Com relação aos medicamentos, eles devem ser prescritos pelos médicos e serão sempre indicados quando houver alguma morbidade neurológica ou psiquiátrica, e quando seus sintomas interferem no cotidiano. Vale ressaltar que até o momento não existe uma medicação específica para o tratamento do autismo. A o longo das últimas décadas devido ao aumento do número de nascimento de crianças autistas foram criadas intervenções efetivas para auxiliar não só o autista, mas também oferecer um suporte para toda a família. O que vai estabelecer o sucesso ou não do desenvolvimento da criança autista é justamente esse apoio e intervenção familiar feita organizadamente seguindo critérios traçados pela equipe multidisciplinar. O pressuposto dessa intervenção

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comportamental dos pais é de que o comportamento da criança é aprendido e mantido através do contexto familiar a qual ela é inserida, sendo assim é responsabilidade dos pais modificarem esses padrões se o mesmo não estiver causando um efeito positivo no desenvolvimento da criança.

Com base no relato e em pesquisas realizadas os comportamentos mais difíceis encontrados nessas crianças são limites baixo para frustrações, distração, irritabilidade, falta de atenção, hiperatividade, repetição compulsiva, isolamento, instabilidade de humor e movimento de mãos estereotipados, e muitas das vezes também um comportamento agressivo.

Deve-se recorrer a escalas e instrumentos específicos para avaliar essas manifestações clínicas e consequentemente criar programas de tratamento. O tratamento da criança autista deverá ser capaz de atingir vários níveis como: medicamentoso, terapia psicanalítica, terapia comportamental, terapia de orientação cognitiva, terapia de integração sensorial e terapia de contenção.

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Conclusão

Falar sobre autismo é uma tarefa difícil, pois muito ainda precisa ser descoberto a respeito da síndrome principalmente em relação a sua etiologia. Podemos afirmar que o que acontece no autismo é uma falha no simbólico, o lugar da linguagem. E que para a constituição do sujeito, ou dois primeiros anos de vida são cruciais para ajudar essas pessoas a funcionar adaptativamente em nossa cultura sendo necessário conceber programas tendo como base os pontos fortes e déficits fundamentais do autismo que afetam o aprendizado e a interação no seu dia a dia. O professor atualmente necessita cada vez mais frequentar cursos de especializações ou capacitações a fim de que possa realmente praticar a inclusão. Muito tem sido feito a fim de que essas crianças sejam tratadas levando em consideração sua real carência objetivando a ocupação de seu lugar como cidadão na sociedade.

O mais importante nessa proposta de inclusão é que ela precisa necessariamente ser realizada dentro de escolas regulares. É necessário considerar a função social da escola oportunizando cada vez mais vivências pedagógicas que incrementem a inclusão. Uma escola inclusiva implica em oferecer igualdade de oportunidades não só para aprender como também para a participação na vida social e para isso o currículo deve ser apropriado segundo as necessidades de cada um. Vale ressaltar que na inclusão não é a criança que se adapta a escola, mas sim a escola que para recebê-la deve se transformar. Qualificar uma escola a fim de que atenda os preceitos da inclusão necessariamente, implica em medidas de reestruturação de práticas usuais e excludentes.

O resultado dessa pesquisa nos mostra que a grande realidade vivida hoje no sistema educacional: O despreparo para lidar com alunos autistas, bem como educá-los e ensiná-los. Tal despreparo é causado pela insuficiente formação profissional nas áreas especiais e pela falta de informações que se tem atualmente sobre o autismo e suas manifestações.

O que se observa nos questionamentos dos professores é que realmente eles não sabem como intervir na educação e na vida dos autistas. Alguns professores nunca conviveram, mesmo que indiretamente com um autista. Vimos professores com apenas um conhecimento muito superficial sobre as características dos alunos autistas e justamente e justamente só conhecem aquelas principais características como, por exemplo, a dificuldade de interação social, o “isolamento” social, as dificuldades de aprendizagem, na fala e no contato visual.

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De um modo geral vimos que o grau de instrução e informações desses professores não é suficiente para trabalhar de forma funcional adequada e significativa com autistas. Os autistas necessitam de uma estrutura eficiente, de métodos específicos de ensino, de ambientes especiais, de preparação prévia, e de uma abordagem abrangente para terem o mínimo desenvolvimento no processo de aprendizagem.

Diante do exposto, acredita-se que esse estudo possa somar com outros estudos desenvolvidos a cerca do autismo e suas manifestações, uma vez que resume de maneira objetiva as principais características desse distúrbio, buscando resgatar a importância da educação especial dos autistas. Pode-se até dizer que existem tentativas de desenvolver o processo de inclusão desses alunos, porém talvez a forma como esta introdução esteja sendo realizada não apresenta ainda resultados efetivos. A verdade é que muito se fala da educação especial e inclusiva de alunos deficientes visuais, deficientes auditivos, deficientes físicos, deficientes mentais entre outros, porém o aluno autista tem sido esquecido. Há falta de incentivo por parte das autoridades em relação a formação de profissionais capacitados e habilitados para atuarem com esse alunado e como consequência, vemos a deficiência existente na vida de autistas e de seus familiares que se veem presos a essa realidade.

Finalizo esse trabalho com a esperança de ver futuros estudos a cerca do autismo, e professores executando trabalhos efetivos com esse grupo de crianças amparados por cursos e profissionais experientes e capacitados, trazendo sentido e nova realidade a vida todos autistas.

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Referências Bibliográficas

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• BAPTISTA, Claudio Roberto; BOSA, Cleonice. Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção/ organizado por Claudio Roberto Baptista e Cleonice Bosa. – Porto Alegre: Artemed., 2002.

• Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas- Coord. Organiz. Mund. Da Saúde ; trad. Dorgival Caetano – Porto Alegre : Artes Médicas. 1993.

• CUNHA, Eugênio. Autismo e incluso: psicopedagogia práticas educadativas na escola e na familia/ Eugênio Cunha.-Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.

• GANDERER, E. Christians. Autismo, uma atualização para os que atuam na área : do especialista aos pais. Brasília: Corde, 1993.

• GOLDBER, K. (2002). A Percepção do professor acerca do seu trabalho com crianças portadores de Autismo e Síndrome de Down.

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• ORRÚ, S.E. (2003). A formação de professores e a educação de autistas. Revista Iberoamericana de Educacion, 31,01-15.

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Anexo

Questionário realizado na pesquisa de campo:

1- Defina autismo. 2- Entre os seus alunos existem casos de crianças com características autistas? 3- No seu entendimento quais as características mais marcantes em um aluno autista? 4- Como foi a experiência de trabalhar com esses alunos? 5- Você recebeu alguma instrução especial para lidar com eles? 6- Atualmente entre os seus alunos existem casos de crianças com características autistas?

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