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A D IVERSIDADE DA G EOGRAFIA B RASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2289 O AVANÇO DO AGROHIDRONEGÓCIO NA ALTILLANURA COLOMBIANA NO SÉCULO XXI E SEUS DESDOBRAMENTOS PARA O TRABALHO DOS CAMPONESES E DE COMUNIDADES TRADICIONAIS 1 Robinzon Piñeros Lizarazo 2 Esse trabalho analisa os arranjos do agronegócio na Colômbia no caso da região denominada de Altillanura, localizada no leste do país, a qual tem sido avaliada pelas instituições públicas de planejamento como a última fronteira agrícola do país, com uma extensão de 6.450.936 ha. Nessa área se concentra atualmente a maior quantidade de terras com plantios de dendê, e notasse um significativo avanço da cana-de-açúcar, para a produção de agrocombustíveis (Biodiesel e Etanol). Essa região possui, além dos plantios existentes até hoje, um potencial de desenvolvimento agrícola e pecuário pelas planícies favoráveis à mecanização e pela disponibilidade de terra; constituída por grandes extensões de terras devolutas, florestas, produção camponesa e de comunidades tradicionais. O aproveitamento produtivo dessa região, nas últimas duas décadas, está alicerçando um re- ordenamento territorial do espaço produtivo colombiano com os arranjos do agrohidronegócio apoiado pelas políticas de desenvolvimento rural. O objetivo deste trabalho é apresentar a territorialização do capital do agrohidronegócio na região, avaliando a dialética dos desdobramentos territoriais das inovações técnicas e gerenciais das empresas que atuam sob o controle do bloco de poder dos agrocombustíveis com o intuito de controlar a terra, a água, os recursos naturais e o trabalho. Nesse intuito, apresentará reflexões ao respeito dos desdobramentos para o trabalho dos camponeses e comunidades tradicionais, os quais são engajados através das estratégias das companhias para trazer trabalhadores migrantes de outras regiões do país, mesmo que fazendo uma integração produtiva dos camponeses locais, seja como operários ou como ―empresários‖ e/o ―empreendedores‖. Palavras chave: agrohidronegócio, Colômbia, Altillanura, classe trabalhadora, agrocombustíveis. Introdução: A produção da nova fronteira agrícola na Altillanura colombiana O centro leste e sudeste da Colômbia, para além da cordilheira dos Andes, são parte das bacias do Rio Orinoco e Amazonas, é um território que historicamente tem sido compreendido como marginal à dinâmica política, populacional e económica do país. Suas condições espaciais atrelam agricultura camponesa, latifúndio pecuário e agronegócio, resguardos indígenas, áreas de colonização camponesa, florestas nativas, áreas naturais protegidas, zonas inundáveis, áreas de mineração e exploração de petróleo. Além disso, nas últimas décadas parte deste território passou a ter uma intensa centralidade na 1 O texto apresenta reflexões preliminares realizadas no âmbito da pesquisa de doutorado em andamento sob orientação do Prof. Antonio Thomaz Junior FCT/UNESP. 2 Sociólogo Universidad Nacional de Colombia, Magister em Ciências Sociais FLACSO Argentina, Doctorando en Geografia FCT-UNESP Presidente Prudente (Brasil). Pesquisador do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho CEGET- e do Coletivo CETAS de Pesquisadores -Centro de Estudos e Pesquisas do Trabalho Ambiente e Saúde, FCT/UNESP.

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O AVANÇO DO AGROHIDRONEGÓCIO NA ALTILLANURA COLOMBIANA NO SÉCULO XXI E SEUS DESDOBRAMENTOS PARA O TRABALHO DOS CAMPONESES E DE

COMUNIDADES TRADICIONAIS1

Robinzon Piñeros Lizarazo2

Esse trabalho analisa os arranjos do agronegócio na Colômbia no caso da região denominada de Altillanura, localizada no leste do país, a qual tem sido avaliada pelas instituições públicas de planejamento como a última fronteira agrícola do país, com uma extensão de 6.450.936 ha. Nessa área se concentra atualmente a maior quantidade de terras com plantios de dendê, e notasse um significativo avanço da cana-de-açúcar, para a produção de agrocombustíveis (Biodiesel e Etanol). Essa região possui, além dos plantios existentes até hoje, um potencial de desenvolvimento agrícola e pecuário pelas planícies favoráveis à mecanização e pela disponibilidade de terra; constituída por grandes extensões de terras devolutas, florestas, produção camponesa e de comunidades tradicionais. O aproveitamento produtivo dessa região, nas últimas duas décadas, está alicerçando um re-ordenamento territorial do espaço produtivo colombiano com os arranjos do agrohidronegócio apoiado pelas políticas de desenvolvimento rural. O objetivo deste trabalho é apresentar a territorialização do capital do agrohidronegócio na região, avaliando a dialética dos desdobramentos territoriais das inovações técnicas e gerenciais das empresas que atuam sob o controle do bloco de poder dos agrocombustíveis com o intuito de controlar a terra, a água, os recursos naturais e o trabalho. Nesse intuito, apresentará reflexões ao respeito dos desdobramentos para o trabalho dos camponeses e comunidades tradicionais, os quais são engajados através das estratégias das companhias para trazer trabalhadores migrantes de outras regiões do país, mesmo que fazendo uma integração produtiva dos camponeses locais, seja como operários ou como ―empresários‖ e/o ―empreendedores‖. Palavras chave: agrohidronegócio, Colômbia, Altillanura, classe trabalhadora, agrocombustíveis. Introdução: A produção da nova fronteira agrícola na Altillanura colombiana

O centro leste e sudeste da Colômbia, para além da cordilheira dos Andes, são

parte das bacias do Rio Orinoco e Amazonas, é um território que historicamente tem sido

compreendido como marginal à dinâmica política, populacional e económica do país. Suas

condições espaciais atrelam agricultura camponesa, latifúndio pecuário e agronegócio,

resguardos indígenas, áreas de colonização camponesa, florestas nativas, áreas naturais

protegidas, zonas inundáveis, áreas de mineração e exploração de petróleo. Além disso,

nas últimas décadas parte deste território passou a ter uma intensa centralidade na

1 O texto apresenta reflexões preliminares realizadas no âmbito da pesquisa de doutorado em

andamento sob orientação do Prof. Antonio Thomaz Junior FCT/UNESP. 2 Sociólogo Universidad Nacional de Colombia, Magister em Ciências Sociais FLACSO Argentina,

Doctorando en Geografia FCT-UNESP Presidente Prudente (Brasil). Pesquisador do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho –CEGET- e do Coletivo CETAS de Pesquisadores -Centro de Estudos e Pesquisas do Trabalho Ambiente e Saúde, FCT/UNESP.

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dinâmica do conflito interno armado, entanto a guerrilha das FARC possui áreas de domínio

político-econômico-militar que têm utilizado para se salvaguardar dos ataques militares do

Estado e os paramilitares3. Concatenadas nessas dinâmicas, existem extensas áreas de

plantio de culturas ilegais (coca e maconha) mantidas por camponeses colonos inseridos

numa economia ilegal disputada por traficantes, guerrilha e paramilitares. Essa descrição

geral configura um cenário que acolhe nas últimas décadas o avanço do capital legal4

através das monoculturas ―promissórias‖, particularmente aquelas que se integram no

mercado global de commodities de energia (agrocombustíveis) e alimentos, como a Palma

de Azeite/Africana (Dendê) e recentemente a cana-de-açúcar e soja, aprimorando um

reordenamento do espaço produtivo.

A dinâmica espacial deste processo se desenvolve na bacia do Rio Orinoco,

compartilhada pela Venezuela (65%) e pela Colômbia (35%), a qual está diretamente

relacionada com a bacia amazônica pela sua proximidade. A área de nosso interesse está

localizada na Colômbia, sendo uma das dez regiões dessa bacia, denominada como

―altillanura orinoquense‖; reconhecida pelas planícies (llanuras) elevadas e não inundáveis

dos departamentos do Meta e Vichada, vinculadas aos rios Meta, Metica, Vichada, Mataven,

Tuparro, Tomo e Vita (LASSO et al., 2010, p. 70). Sobre essa área natural se justapõe a

divisão político administrativa de sete municípios (Mapa 1), três do departamento do Meta

(Puerto López, Puerto Gaitán, Mapiripán) e quatro do departamento de Vichada (Puerto

Carreño, La Primavera, Santa Rosalia e Cumaribo).

Desde a década dos 70 as características de planície não inundável avaliam-se

como propriedades ótimas para constituir um banco de terras a serem desenvolvidas por

meio de pacotes tecnológicos à produção agrícola, mormente de monoculturas. Com esse

intuito foram financiadas pesquisas focadas ao melhoramento das propriedades dos solos,

caracterizados pela baixa fertilidade atribuída à sua acidez, com fins de adaptar gramíneas

(soja, arroz e milho), pastagens e espécies florestais (borracha, acácia, eucaliptos e palma

de azeite), ao mesmo tempo atingindo ao melhorar a produção pecuária (bovinos e suínos).

Dita função de pesquisa para o desenvolvimento tem sido concretizada pelo Estado

através do Instituto Colombiano Agropecuario –ICA-, e a partir dos anos noventa pela sua

instituição apêndice, a Corporação Colombiana de Investigación Agropecuaria –

3 O paramilitarismo é um fenômeno que se acrescenta desde a década dos oitentas como estratégia

militar paraestatal das elites agrarias e pecuárias para conter o avanço das guerrilhas. 4 Fazemos a ênfase no capital legal pela presença neste mesmo território dos capitais ilegais do

tráfico de cocaína, o qual não é foco dessa pesquisa, mesmo cabe esclarecer que serão tidos em conta alguns dos seus desdobramentos.

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CORPOICA-5 (RESTREPO, 2010). Nesse cenário, a pesquisa tem se orientado através da

parceria com setores privados e instituições internacionais (públicas e privadas),

especialmente o Centro Internacional de Agricultura Tropical -CIAT6- e o Centro

Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo –CIMMYT7-, mesmo que na última década

tem estabelecido parcerias com a EMBRAPA, trazendo como experiência positiva as

pesquisas feitas para o desenvolvimento agrícola do bioma do Cerrado no Brasil (RUBIO,

2012).

A estrutura fundiária dos sete municípios da Altillanura está atrelada à propriedade

pública, sob a figura jurídica de baldios8 (pode-se homologar como terras devolutas no

Brasil), áreas naturais protegidas, mesmo que propriedades coletivas de comunidades

indígenas; assim mesmo, nos últimos anos observa-seo incremento da propriedade privada,

alicerçada pela via de entrega oficial de terras a famílias camponesas9, assim como de

processos de compra fraudulenta por empresários (nacionais e internacionais) e

latifundiários (SALINAS, 2012, p. 183). Desse modo, a estrutura fundiária atual é produto

da dinâmica potenciada pelo avanço do capital do agrohidronegócio (THOMAZ JUNIOR,

2010) e da exploração de petróleo10 apoiados pelo Estado, mesmo como da ação de grupos

armados (guerrilha, paramilitares e exército nacional), e a subsistência de camponeses e

indígenas nessa realidade adversa pela voracidade do capital e a violência armada.

As características ambientais e fundiárias constituem o interesse político do Estado

colombiano para delimitar esse território ―isolado‖ e ―estratégico‖ através do seu

planejamento. Os governos nacionais neste século XXI tem remarcado esse interesse

5 A CORPOICA foi criada em 1993 com o objetivo de fortalecer a parceria corporativa com setores

privados com interesse na pesquisa e o desenvolvimento agropecuário do país, deixando a função de vigilância fitossanitária para o ICA. 6 O CIAT é uma instituição sediada na Colômbia desde 1967, criada com fundos da Fundação

Rockefeller, Ford e Kellog com o interesse de desenvolver pesquisas para a transformação da agricultura tropical. Atualmente tem sedes em Nairobi, Kenia e Vietnam. 7 O CIMMYT está sediado no México, é uma instituição criada pela parceria do governo com a

Fundação Rockefeller nas décadas dos 1940 e 1950 com o intuito de melhorar a produtividade da agricultura mexicana. Esse centro é reconhecido como um dos precursores da Revolução Verde (CIMMYT, 2015). 8 Segundo a Lei 160 de 1994 as terras na Colômbia se classificam em dois grupos: a) Terras da

nação ou baldios, b) terras que têm saído do domínio do Estado em possessão de particulares através de formas individuais, associativas ou coletivas –no caso dos grupos étnicos. 9 A entrega de terras baldias para as famílias camponesas está baseada em processos tanto de

colonização dirigida, como de ―restituição‖. Essa última é produto do conflito armado e os interesses latifundiários que tem deslocado mais de 5 milhões de camponeses e trabalhadores rurais nas últimas três décadas (SALINAS, 2012, p. 181). A unidade mínima de terra é definida como ―Unidad Agrícola Familiar -UAF-‖ na Lei 160 de 1994 e tem variabilidade regional segundo as condições agrícolas. 10

Os munícipios de Puerto Gaitán e Puerto López têm algumas das explorações de petróleo mais importantes do país.

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inserindo a Orinoquia em geral, e a Altillanura em particular, nos Planos Nacionais de

Desenvolvimento11. No Plano do segundo governo de Álvaro Uribe Vélez (2006-2010) o

território nacional foi classificado segundo seu nível de desenvolvimento socioeconómico, do

que emerge uma divisão de territórios com critérios evolutivos: a) em formação; b) em

processo de decolagem; c) em expansão; d) em consolidação. Os departamentos que

compõem a Altillanura foram colocados como território em formação (Vichada) e em

processo de decolagem (Meta), o que significa que fazem parte de territórios de fronteira

agrícola, com baixa densidade populacional muita desta indígena e camponesa, e com

recursos naturais a serem inseridos nas cadeias produtivas nacionais e mundiais,

(DEPARTAMENTO NACIONAL DE PLANEACIÓN, 2007, p. 473-474).

Mantendo a mesma orientação, o governo seguinte passa ao segundo momento do

planejamento produzindo estudos para caracterizar o espaço a desenvolver mercê das

forças do capital. Nos 2011 o Departamento de Planeación Nacional –DNP- aprofunda essa

ênfase em duas atividades econômicas: a agropecuária e a energética (petróleo e

agrocombustíveis), baseada na continuidade das garantias para o investimento de capital

nacional e internacional com amparo do Estado. O mencionado estudo vai delimitar

geograficamente e avaliar o potencial produtivo do território Altillanura com uma extensão de

6.450.936 ha. distribuídas para o uso agrícola (45.957 ha.), agroflorestal (3.996.222 há.),

florestal (2.098.510 ha.) e pecuário (310.247 ha.), das quais:

[…] 4.352.425 hectáreas para uso agropecuario [e agroforestal], que no han sido aprovechadas porque requieren mejoramiento de suelos, uso de tecnologías apropiadas, provisión y adecuación de infraestructura vial, de comunicaciones y transportes, entre otros (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PLANEACIÓN, 2011, p. 29)

11

O Plano Nacional de Desenvolvimento é um roteiro da política do governo nacional que tem que ser apresentado com obrigatoriedade de parte do executivo para o legislativo. Desse modo constitui-se no referente para a construção da política pública do país todo no período de governo.

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Mapa 1. Municípios da Altillanura Orinoquense

Destaca-se a intensificação do interesse do Estado por melhorar as possibilidades

de territorialização na Altillanura do capital nacional e internacional alicerçada pela lógica de

liberalizar as barreiras econômicas e políticas, disponibilizando recursos naturais (água,

florestas nativas) e terra para a produção de commodities (soja, palma de azeite, borracha,

cana-de-açúcar e petróleo), produzindo um reordenamento territorial do espaço produtivo

(JIMÉNEZ, 2012). Toda essa intensificação se desenvolve com o intuito de transformar

esses recursos em vantagens comparativas para reposicionar o país no mercado global,

logo após da crise e abandono do café como a principal commoditie nacional do século XX

(RINCÓN, 2005). Dessa maneira, concilia-se com os interesses do bloco de poder

transnacional agroindustrial-financeiro-tecnológico-energético que estrutura as cadeias

produtivas especulativas, mobilizando o capital pelo planeta segundo as possibilidades de

obtenção de renda, transformando e/ou ameaçando aos sistemas produtivos camponeses e

tradicionais, e mudando o valor de uso da natureza pelo valor de troca dos recursos naturais

susceptíveis de exploração, transformação e comercialização (THOMAZ JUNIOR, 2011;

CHESNAIS, 1996: SMITH, 1988).

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O reordenamento do espaço produtivo colombiano na viés do sociometabolismo do

capital

A produção estatal de uma nova fronteira agrícola visando a desenvolver uma

porção do território nacional vincula-se aos interesses do capital, contrariando os modos de

vida de indígenas e camponeses (llaneros, vaqueiros), mesmo que ao interesse do latifúndio

pecuário e ao capitalismo ilegal do tráfico de cocaína. Tudo isso transforma à Altillanura em

um território em disputa, seja pela contradição capital x trabalho manifesta nas lutas dos

trabalhadores (camponeses, operários etc.), seja pelas lutas das comunidades em defesa

dos seus territórios (indígenas, camponeses, habitantes urbanos), tanto quanto pelas

disputas internas do capital para se territorializar e espalhar o seu próprio modelo produtivo

(soja, palma de azeite, cana, pecuária, assim como a exploração petroleira e outros) se

apropriando de terras, água e outros recursos naturais (THOMAZ JUNIOR, 2011).

Nessa seara o projeto desenvolvimentista apresenta avanços em quatro grandes

componentes projetados pelo Estado, os quais refletem diretamente no reordenamento do

espaço produtivo nacional, e no caso da Altillanura nas territorializações do capital, assim

como nas resistências desse processo.

Infraestrutura de transportes: a necessidade de integrar os municípios e garantir

o encadeamento produtivo desde a área de produção/plantio até os núcleos urbanos de

transformação e consumo (Bogotá) ademais dos portos (Buenaventura), colocaram como

prioridade a construção de infraestrutura de transporte multimodal (terrestre e fluvial). O eixo

de integração conecta todos os municípios da Altillanura (Mapa 1) com o maior centro

regional que é o município de Villavicencio12 (Meta), a capital Bogotá e o porto de

Buenaventura (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PLANEACIÓN, 2011). Além disso, essa

infraestrutura também faz parte da integração binacional com a Venezuela no contexto da

IIRSA através da conexão do Oceano Pacífico (Porto de Buenaventura) com o Oceano

Atlântico (Porto Ordaz)13.

Gerir as políticas fiscais, creditícias com o intuito de atrair o investimento do

capital do agrohidronegócio (palma de azeite, cana-de-açúcar, soja e florestal) e da

mineração. As políticas públicas creditícias para o setor agropecuário (FINAGRO e Fondo

Agropecuario de Garantías -FAG-) na última década têm como objetivo o investimento em

12

A importância de Villavicencio é destacada, entanto é a cidade principal que centraliza o aceso ao Centroeste e Leste do país, composto pelos departamentos de Meta, Vichada, Arauca, Guaviare e Guainia. 13

Os projetos que fazem parte desse objetivo são: ―Proyecto multimodal Puerto Gaitán - Puerto Carreño, incluye mejoramiento de la navegabilidad del Río Meta‖, ―Corredor vial Buenaventura-Bogotá‖, Paso de frontera Puerto Carreño‖ e ―Tramos faltantes de pavimentación entre Villavicencio e Puerto López‖ (IIRSA, 2012).

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produtos de produção camponesa14, e monoculturas, mormente para aquelas de tardio

rendimento como a palma de azeite e os florestais. Estas são atreladas aos incentivos

fiscais cobiçados com as figuras de Zonas Francas15, Certificados de Incentivos Florestais16

-CIF- e Apoios as Alianças Produtivas entre empresários e pequenos produtores17 -PAAP-.

Alguns desses incentivos têm desdobramentos nos municípios da Altillanura,

mesmo que nos municípios do departamento do Meta e Casanare pertencentes a outra área

da bacia orinoquense o Piedemonte (ou Orinoquia Andina), estes últimos com tradição no

plantio de Palma de Azeite. Em primeiro plano comparece a instalação de três zonas

francas, a primeira foi criada em 2010 para a construção de uma das maiores plantas no

país de agroprocessamento de cana-de-açúcar para a produção de Etanol (álcool

carburante) em Puerto López18 (Meta), a outra em 2012 para a refinação de azeite de Palma

no município de Puerto Rico19 (Meta). Uma última está em processo de legalização,

encontra-se localizada em Puerto Gaitán (Meta) e se especializa no plantio de soja e milho

para a criação de suínos.

Outrossim com o escopo da ampliação da fronteira da palma de azeite no país, tem

sido utilizada a estratégia de verticalização com o nome de ―Alianzas Produtivas

Estratégicas‖ (SALINAS, 2012, p. 189). No Piedemonte tem sido alavancada pelo interesse

de controle político do território para disputar a influencia das FARC, paramilitares e

traficantes na agricultura camponesa (uma parte vinculada com a cultura da coca).

Segundo Fajardo Montaña (2014) por meio dos grupos empresariais de palma de azeite e

os fundos da cooperação internacional norteamericana (USAID) foram estabelecidos desde

2003 programas de aliança produtiva com o interesse de melhorar as condições económicas

14

A produção camponesa e inserida após de processos judiciais contra o Ministro de Agricultura do governo Álvaro Uribe (2006-2010) pelo programa Agro Ingreso Seguro que ficou monopolizado por grandes empresários do país. 15

Em 2005 começou o processo de reformas das normas legais que regulavam essa figura fiscal e financeira (Lei 1004/2005, Decreto 383/2007 e Decreto 4051/2007) visando a atração e investimentos e criação de empregos em setores produtivos. Uma das figuras criadas foi a Zona Franca Agroindustrial que garantem os investimentos nesse setor e terão desdobramentos na Altillanura. 16

O CIF é um incentivo para a reflorestação com fins comerciais, estabelecido pela Lei 139/1994 e o Decreto 1824/1994. Atualmente é definido pelo Ministerio de Agricultura e Desarrollo Rural -MADR- como: ―un aporte directo en dinero, como un reconocimiento del Estado a las externalidades positivas de la reforestación, que consiste en una bonificación en efectivo de los costos de siembra de plantaciones forestales con fines protectores-productores en terrenos de aptitud forestal‖ (MINISTERIO DE AGRICULTURA Y DESARROLLO RURAL, 2015) 17

As PAAP têm por objetivo: ―Incrementar la competitividad y el desarrollo empresarial de las comunidades rurales pobres, de manera sostenible, a través de alianzas orientadas por la demanda del sector privado comercializador‖ (MINISTERIO DE AGRICULTURA Y DESARROLLO RURAL, 2015) 18

Bionenergy Zona Franca SAS. 19

Aceites Cimarrones SAS.

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dos camponeses dos municípios de Puerto Lleras, Puerto Rico e San Martin, no sul do

departamento do Meta, o quais foram inseridos como trabalhadores integrados nesse

plantio. O esquema dessa aliança consiste em:

[...] el suministro de palma por proveedores, generalmente pequeños productores, a <<empresas ancla>>, a través de contratos de exclusividad. Los términos del contrato comprometen a la <<empresa ancla>> al suministro de material vegetal y la asistencia técnica; por su parte, los campesinos, algunos de los cuales fueron productores cocaleros y firmaron convenios de erradicación, se obligan a aportar capital y mano de obra por un valor equivalente al 30% de la inversión total (…) destinar sus tierras al proyecto y vender la producción a la empresa (p. 123)

Gerir as políticas de titulação de terras para o Capital do Agrohidronegócio: A

realidade de espoliação violenta da terra no país conecta a barbaridade do conflito interno

armado nas costas do campesinato deslocado20 com o avanço dos plantios de monoculturas

sob a compra ou apropriação ilegal das terras espoliadas. Aliás, a amplificação do interesse

do Capital por terras na Altillanura como o intuito de transforma-las em ―produtivas‖, tem

causado diversos procedimentos legais e ilegais para apropriar baldios, áreas de resguardos

indígenas e propriedades camponesas (FAJARDO, 2014; SALINAS, 2012). Nesta tecedura

ao redor da posse e propriedade da terra, o Estado tem legislado nas últimas décadas sobre

a entrega de baldios unicamente para famílias camponesas sobre uma medida básica da

Unidade Agrícola Familiar (Lei 160 de 1994).

Segundo a lei não é possível possuir mais de uma UAF com o intuito de conter o

latifúndio, e indiretamente tem significado uma limitante para o agrohidronegócio. Entendida

como uma dificuldade para a ―confiança dos investidores e o desenvolvimento, os últimos

governos têm procurado modificar o marco legal para permitir a acumulação de mais de

uma UAF, sobretudo com o interesse de entregar baldios na Altillanura (SALINAS, 2012). A

última investida foi nesse 2015 com a proposta de Lei para a criação de ―Zonas de Interés

de Desarrollo Rural Económico y Social (Zidres)‖ a qual mistura a possibilidade de

acumulação de terra com o supracitado modelo de alianças estratégicas (EL

ESPECTADOR, 2015).

Pacificação pela via do desenvolvimento econômico: A origem rural do conflito

interno armado está na desigual estrutura fundiária do país, e tem desdobramentos nas

desigualdades sócio espaciais entre regiões. Temos visto que na Altillanura, e na Orinoquia

colombiana em geral, existe uma junção de fatores que impulsionam os conflitos pela terra,

20

Traduzimos o termo em espanhol ―desplazado‖ como ―deslocado‖ para identificar aos camponeses que têm sido expulsos de maneira violenta de suas terras pelos atores do conflito interno armado: guerrilha, paramilitares e exército estatal. O número de deslocados nas últimas décadas ultrapassa os cinco milhões. Essa definição está contemplada para os afetados pelos conflitos armados internos no Direito Internacional Humanitário -DIH-.

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a presença de atores armados, o plantio e tráfico de cocaína, os interesses do

agrohidronegócio e o desmatamento, entre outros. Não obstante, o Estado ao tentar gerir

esses conflitos tem incentivado uma estratégia de pacificação ao dinamizar as condições

de desenvolvimento capitalista com acumulação por espoliação (HARVEY, 2005),

aprofundando a contradição capital x trabalho, reproduzindo relações de dominação

baseadas no uso direto do aparato militar, e difusão do modo de vida do capital. A produção

da fronteira agrícola como uma região a pacificar para a territorialização do capital está

influenciada pelas polissemias (re) produzidas pelo Estado com o intuito de gerar uma

malha territorial (RAFFESTIN, 1993); desse modo é representada como a terra prometida

para o agrohidronegócio, a terra para os programas de restituição de terras para os

camponeses deslocados, é a última fronteira agrícola do país etc., aspectos que integram o

avanço voraz do capital sobre os territórios.

Eis o sociomentabolismo do capital numa acelerada produção de valores de troca

sobre a natureza, produzida pela orientação espacial do Estado visando à valorização do

capital em territórios ―não desenvolvidos‖. Assim o século XXI têm sido o cenário de

emissão dos sinais para atrair capitais nacionais e internacionais para que ao se

territorializarem transformem seus exponenciais ganhos econômicos em desenvolvimento

local e paz da mão do mercado. Sendo que a Colômbia já possui encadeamentos

produtivos do agrohidronegócio em outras regiões como o Vale do Cauca (cana-de-açúcar),

as do Rio Magdalena baixo e meio (palma de azeite e florestais) e o Urabá (banana), a

produção dessa outra fronteira agrícola tem significado se inserir no modelo de

desenvolvimento do Sul que faz sucesso econômico no Brasil (THOMAZ JUNIOR, 2009).

Tanto os documentos técnicos e funcionários do governo, quanto a mídia, reproduzem a

imagem do Cerrado como o modelo que levou ao Brasil a se tornar ―uma potencia agrícola

mundial‖ (SEMANA, 2010), e que a similitude dessas condições na Colômbia são um

potencial que oferece uma oportunidade única.

O objetivo do desenvolvimento da Altillanura, ou como é nomeado

publicitariamente, o ―Cerrado colombiano‖, apontou à inserção da monocultura da Soja, mas

o crescimento da área plantada não tem sido exponencial até hoje, ainda que Federação

Nacional de Cereales –FENALCE- projeta aumenta-la até 2022 (MONTEALEGRE, 2014).

Não obstante, observa-se no Mapa 2 como a soja está-se deslocando entre 2007 e 2013

desde os municípios do centro do departamento do Meta para as terras da Altillanura nos

município de Puerto López e Puerto Gaitán (Meta) e Cumaribo (Vichada). Esse aumento

está relacionado com a localização do investimento do Grupo Aliar (Colômbia) e seu

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empreendimento La Fazenda21 (note-se a ênfase no português para remarcar a ideia do

Cerrado) que integra a cadeia de produção suína. Sua territorialização tem produzido

abertura de processos por acumulação de terras (SALINAS, 2012), e desde 2013 vêm se

realizando protestos pelos indígenas dos resguardos próximos, os quais estão sendo

afetados pela poluição da água e do ar, e consequentemente das doenças produzidas

(GRAIN, 2013).

Mapa 2. Avanço das monoculturas na Altillanura e o Piedemonte orinoquense 2007-

2013

21

http://www.aliar.com.co/WebAliar/site/Quienes.html

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Outra parte desse processo de reordenamento do espaço produtivo também é

arranjada pela política nacional de agrocombustíveis. A produção de agrocombustíveis tem

uma história de plantio e utilização recente na Colômbia, notadamente a partir dos finais do

século XX. As ideações de leis e políticas públicas direcionadas para a promoção do uso,

plantio e pesquisa de agrocombustíveis tiveram um notável interesse na década dos 1990, e

impulsionaram as políticas de mistura de etanol e biodiesel. Isto é, em 2001 a Lei 693

regulamentou o uso e produção de álcool, ditando a mistura da gasolina com o 10% de

álcool, e ainda a Lei 939 de 2004 que regulamentou a mistura de 5% de biodiesel ao diesel.

Nessa seara, se acrescentaram as áreas de plantio de palma de azeite e cana-de-açúcar na

Altillanura (Puerto López e Puerto Gaitán) e nos municípios do Piedemonte orinoquense no

departamento do Meta e Casanare.

No Mapa 2 também apresenta-se a mobilidade dos plantios de palma de azeite

desde o norte, e de cana-de-açúcar desde o sudoeste do país. Os fatos mais importantes

para analisar essa mobilidade estão na construção de plantas agroprocessadoras de Etanol

em Puerto López (Meta), e de Agrodiesel em San Carlos de Guaroa (Meta). As duas são

projetos de investimento do capital canavieiro fora de seu território histórico, o Vale do Rio

Cauca no oeste. No caso da palma de azeite o grupo empresarial Manuelita desde os anos

noventa do século XX iniciou a produção no município de San Carlos de Guaroa com o

intuito de diversificar seus investimentos no setor de azeites de palma (Dendê), e

posteriormente nesse mesmo município ampliou seu investimento com a produção de

agrodiesel. A destilaria de Etanol Bioenergy de Puerto López22 é um enclave que tem

transformado a paisagem agrícola do município em 4 anos, passando de nenhuma hectare

de cana para 8.000ha. em 2013, com projeção as 14.000 há. Os conflitos laborais tanto nos

plantios como nas usinas tem aumentado nos últimos anos, sobretudo pela terciarização

através de Cooperativas de Trabalho Asociado, forma de precarização que esses grupos já

têm utilizado historicamente nos plantios de cana no Vale do Cauca. Além disso, esses

empreendimentos do capital canavieiro têm alicerçado a mobilidade de força-de-trabalho de

afrocolombianos de outras regiões, sobre tudo do suroeste, e recentemente do noroeste por

terem melhor ―biótipo‖ para o degradante trabalho no plantio e pela experiência nessas

monoculturas23. Eis a dupla mobilidade do capital canavieiro com a mobilidade de força-de-

trabalho, culturalmente associadas por relações de dominação de classe e de raça,

reproduzindo desdobramentos fatais para os trabalhadores e para o ambiente de forma

geral.

22

Nessa destilaria participa outro grupo canavieiro nacional importante o Grupo Rio Paila. 23

Em depoimentos recolhidos em trabalho de campo no ano 2015 na área de San Carlos de Guaroa, foram evidenciadas as estratégias das empresas para levar negros para seus plantios, baseados em formas de paternalismo.

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Reflexões sobre os desdobramentos das monoculturas e os agrocombustíveis na

classe trabalhadora

Esse cenário de mobilidade do capital para reordenar territorialmente a Altillanura

com monoculturas está mantendo formas históricas e renovadas de dominação que inserem

tanto aos trabalhadores que migram, quanto aos camponeses, mais ainda aos integrados às

Alianças Produtivas, forma de verticalização da produção que aprofunda a precarização do

trabalho em diferentes categorias da classe trabalhadora.

E importante trazer o debate sobre a classe trabalhadora nos espaços rurais da

Colômbia, mais ainda nos últimos anos que o governo e a guerrilha das FARC estão

negociando um pacto de paz, no qual a discussão sobre o desenvolvimento rural tem sido

central. Nesse sentido, Londoño (2014) aponta a abrir a mão na analisse do trabalho no

campo: Si se tiene en cuenta la coexistencia de diferentes formas de producción en las zonas rurales del país, así como la heterogénea composición de la fuerza de trabajo rural — campesinos con tierra y sin tierra, colonos, comunidades étnicas, arrendatarios, aparceros, jornaleros, obreros, trabajadores familiares sin remuneración, artesanos, patronos, comerciantes, empleados, etc.— los enunciados de la política de desarrollo rural integral se refieren casi exclusivamente a las economías campesinas (incluidas las comunidades étnicas). Mientras tanto, de la producción agraria capitalista y, por consiguiente, de la fuerza de trabajo asalariada, solo se hace una referencia implícita en el punto 5 de la agenda [entre o governo e as FARC]: la ―formalización laboral‖ es incluida como un aspecto del ―estímulo a la producción agropecuaria y a la economía solidaria y cooperativa (LONDOÑO, 2013)

Essa reflexão reforça nossa pesquisa en andamento sobre as formas de controle do trabalho nos agrocombustíveis no departamento do Meta, além que sinaliza a importância de nosso marco teórico e do posicionamento político com a classe trabalhadora e suas resistências, as quais são colocadas por Thomaz (2009, 2010, 2013) como uma ―leitura‖ geográfica do trabalho na dimensão da regulação sociedade-espaço. a partir da analisse dos:

[...] rearranjos da ordem metabólica do capital em nível mundial, que adota as formas e procedimentos derivados/combinados do taylorismo-fordismo para o toyotismo, bem como outras formas de organização do processo de trabalho que impactam diretamente na diminuição do operariado industrial tradicional, na expropriação de milhões de camponeses, no aumento crescente da legião de desempregados, na profunda redefinição do mercado de trabalho .

TRABALHOS CITADOS

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