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O “Bagulhão”, a voz dos presos políticos contra a ditadura Introdução: um documento da voz dos presos políticos Em outubro de 1975, os presos políticos do Presídio da Justiça Militar Federal enviaram uma longa carta (também guardada no Arquivo Público do Estado de São Paulo) ao então presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o civilista Caio Mário da Silva Pereira, que havia declarado para a imprensa que não tinha conhecimento de casos concretos de prisões irregulares e de arbitrariedades policiais. Tratava-se do começo do governo Geisel, época em que persistiam os assassinatos de opositores políticos. Os presos dirigiram-se à OAB na condição de sobreviventes da estrutura da repressão: “[...] todos passamos pelos órgãos repressivos e por suas câmaras de torturas. Submetidos às mais diversas formas de sevícias, ainda fomos testemunhas do assassinato de muitos presos políticos, como nós também vítimas de violência militar-policial. Não é força de expressão, portanto, dizer-se que somos sobreviventes.” 1 Nessa condição, fizeram uma pormenorizada denúncia dos mecanismos de tortura, dos agentes da repressão, das irregularidades jurídicas, e de casos emblemáticos de vítimas da ditadura. Os trinta e cinco presos eram Alberto Henrique Becker, Altino Rodrigues Dantas Júnior; André Tsutomu Ota; Antonio André Camargo Guerra; Antonio Neto Barbosa (falecido); Antonio Pinheiro Sales; Ariston Oliveira Lucena (falecido); Artur Machado Scavone; Aton Fon Filho; Carlos Victor Alves Delamônica; Celso Antunes Horta; César Augusto Teles; Diógenes Sobrosa de Souza (falecido); Élio Cabral de Souza; Fábio Oscar Marenco dos Santos (falecido); Francisco Carlos de Andrade; Francisco Gomes da Silva (falecido); Gilberto Luciano Beloque; Gregório Mendonça; Hamilton Pereira da Silva; Jair Borin (falecido); Jesus Paredes Soto; José Carlos Giannini; José Genoíno Neto; Luis Vergatti (falecido); Manoel Cyrillo de Oliveira Neto; Manoel Porfírio de Souza (falecido); Ney Jansen Ferreira Filho (falecido); Oswaldo 1 COMISSÃO DA VERDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO (CEV) “RUBENS PAIVA”. “Bagulhão”: A voz dos presos políticos contra os torturadores. São Paulo, 2014, p. 12; Relatório - Tomo I - Parte I - O Bagulhão: A Voz dos Presos Políticos Contra a Ditadura www.verdadeaberta.org

O “Bagulhão”, a voz dos presos políticos contra a ditadura

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O “Bagulhão”, a voz dos presos políticos contra a ditadura Introdução: um documento da voz dos presos políticos

Em outubro de 1975, os presos políticos do Presídio da Justiça Militar Federal

enviaram uma longa carta (também guardada no Arquivo Público do Estado de São

Paulo) ao então presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB), o civilista Caio Mário da Silva Pereira, que havia declarado para a imprensa que

não tinha conhecimento de casos concretos de prisões irregulares e de arbitrariedades

policiais.

Tratava-se do começo do governo Geisel, época em que persistiam os

assassinatos de opositores políticos. Os presos dirigiram-se à OAB na condição de

sobreviventes da estrutura da repressão: “[...] todos passamos pelos órgãos

repressivos e por suas câmaras de torturas. Submetidos às mais diversas formas de

sevícias, ainda fomos testemunhas do assassinato de muitos presos políticos, como

nós também vítimas de violência militar-policial. Não é força de expressão, portanto,

dizer-se que somos sobreviventes.”1 Nessa condição, fizeram uma pormenorizada

denúncia dos mecanismos de tortura, dos agentes da repressão, das irregularidades

jurídicas, e de casos emblemáticos de vítimas da ditadura.

Os trinta e cinco presos eram Alberto Henrique Becker, Altino Rodrigues

Dantas Júnior; André Tsutomu Ota; Antonio André Camargo Guerra; Antonio Neto

Barbosa (falecido); Antonio Pinheiro Sales; Ariston Oliveira Lucena (falecido); Artur

Machado Scavone; Aton Fon Filho; Carlos Victor Alves Delamônica; Celso Antunes

Horta; César Augusto Teles; Diógenes Sobrosa de Souza (falecido); Élio Cabral de

Souza; Fábio Oscar Marenco dos Santos (falecido); Francisco Carlos de Andrade;

Francisco Gomes da Silva (falecido); Gilberto Luciano Beloque; Gregório Mendonça;

Hamilton Pereira da Silva; Jair Borin (falecido); Jesus Paredes Soto; José Carlos

Giannini; José Genoíno Neto; Luis Vergatti (falecido); Manoel Cyrillo de Oliveira Neto;

Manoel Porfírio de Souza (falecido); Ney Jansen Ferreira Filho (falecido); Oswaldo

1 COMISSÃO DA VERDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO (CEV) “RUBENS PAIVA”. “Bagulhão”: A voz dos presos políticos contra os torturadores. São Paulo, 2014, p. 12;

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Rocha; Ozéas Duarte de Oliveira; Paulo de Tarso Vannuchi; Paulo Walter Radtke;

Pedro Rocha Filho; Reinaldo Morano Filho; Roberto Ribeiro Martins.

Os presos lograram escrever a denúncia nos momentos em que não sofriam

vigilância: “’Usei uma caneta com ponta bem fininha, a gente usava a ponta 0,1

milímetro para escrever e escondíamos os escritos embaixo dos colchões’, explicou o

ex-preso político Gilberto Luciano Beloque.”2.

Mal terminaram a carta, Herzog foi assassinado; houve tempo, no entanto, de

mencioná-lo em um adendo. A carta foi retirada do Presídio de Barro Branco com

auxílio do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que defendia alguns dos autores.

Ela foi apelidada de “Bagulhão” pois, como explicou Manoel Cyrillo de Oliveira

Netto (um dos seus signatários), era algo clandestino na cadeia, e de grande porte:

“Dentro do linguajar de cadeia, bagulho é quase tudo. [...] ‘Consegui um bagulho

sensacional, que coisa maravilhosa, muito bom!’. Então, bagulho é uma coisa ruim, é

uma coisa clandestina; tudo era um bagulho. [...] E Bagulhão, bagulhão era uma coisa

de mais importância ainda.”3.

Tratava-se da “mais completa denúncia de violências já surgida”4. Quase

quarenta anos após sua elaboração, o valor deste documento histórico foi corroborado

na presente fase do processo de justiça de transição no Brasil: A CEV “Rubens Paiva”

publicou-o em livro, com artigos de ex-presos políticos, Reinaldo Morano Filho (um dos

autores da carta) e Maria Amélia Teles, e do pesquisador Pádua Fernandes.

No relatório final da Comissão Nacional da Verdade, tornou-se um dos

documentos mais citados. Ele aparece como fonte comprobatória nos perfis de vários

mortos e desaparecidos políticos, como Carlos Marighella, Edgar Aquino Duarte, José

Maria Ferreira de Araújo, Hiroaki Torigoe, Olavo Hanssen, Virgílio Gomes da Silva. Ele

é fonte dos capítulos sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade, detenções

2 BARRETO, Thais. Ustra lidera primeira lista pública de denúncia de torturadores. Carta Capital, 17 jun. 2014, disponível em < http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ustra-lidera-primeira-lista-publica-de-denuncia-contra-torturadores-9465.html >. 3 CEV “Rubens Paiva”, audiência de 16 jun. 2014, disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=-atw8-96gnY >. 4 Comentário da revista Veja, muitos anos depois da carta; no entanto, a revista não chegou a publicar a denúncia (VEJA. A culpa é do torturado: Figueiredo e Nini souberam tudo. 25 nov. 1987, p. 8).

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ilegais e arbitrárias, sobre tortura, e a respeito dos desaparecimentos forçados (volume

I, respectivamente capítulos 1, 8, 9 e 12).

Ao processo em que era discutido o tema da censura na correspondência dos presos políticos, foi anexado procedimento instaurado em dezembro de 1975 a partir do ofício do Conselho Federal da OAB sobre uma denúncia de tortura pelos presos políticos de São Paulo. [...] O fato de ter sido anexada a esse processo é forte indício de que a censura nos presídios tinha como um de seus objetivos - talvez o principal deles - evitar que a violência cometida contra os presos políticos viesse a ser publicamente denunciada.5

No entanto, a caracterização como “uma denúncia de tortura” é

excessivamente modesta, pois a carta denunciava todo o sistema, desde os locais de

tortura e execução, as irregularidades jurídicas da prisão (“melhor é dizer sequestro”,

bem escrevem os presos políticos, tendo em vista a ilegalidade sistemática das ações

policiais) até o cumprimento da sentença. Além dos casos de presos políticos

assassinados ou mutilados, a carta trazia o nome e/ou codinome de 233 agentes da

repressão envolvidos com crimes contra a humanidade.

Embora os autores tenham se fundamentado na experiência pessoal que

tiveram nos centros de repressão, eles buscaram situá-la e compreendê-la no âmbito

institucional. Nesse sentido, o documento, em que pese sua menor extensão e

abrangência, corresponde a um antecessor do Nunca más argentino, porém muito mais

inesperado, pois escrito em plena ditadura (ela ainda duraria uma década) em

condições precárias e sigilosas pelos próprios presos políticos e, mais surpreendente

ainda, no interior do monumento mais típico desse regime político: uma prisão.

A estrutura da carta e as denúncias de tortura

A ditadura militar foi violenta desde o início. As cassações, prisões arbitrárias e

a tortura começaram em 1964, e as denúncias também:

Antes da carta, houve outras denúncias de tortura de presos políticos, que logo a ditadura militar buscou silenciar. Elas começaram pouco depois do golpe de

5 COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório. Brasília, 2014, volume I, p. 364.

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1964, e o primeiro livro dedicado ao assunto foi Torturas e Torturados (Rio de Janeiro: Idade Nova, 1966), de Márcio Moreira Alves, censurado e recolhido pelo governo federal no próprio ano da publicação. Ele foi liberado judicialmente em 1967, mas por pouco tempo; o então deputado federal pelo MDB logo teve que partir para o exílio em razão do AI-5. Márcio Moreira Alves contou que, para escrever a obra, penetrou incógnito na Penitenciária do Recife, participou de redes clandestinas de militantes políticos e recolheu depoimentos de cerca de cem torturados, e assim foi “descobrindo a sistemática da tortura, vendo que ela não era uma aberração praticada por elementos incontrolados da polícia e do Exército mas sim uma necessidade do regime, ditada pela sua política econômica”.6

A censura à imprensa, mais intensa após o AI-5, de 13 de dezembro de 1968,

tornou mais difíceis as denúncias de tortura no Brasil. A censura federal, porém, não

poderia agir no estrangeiro, onde o crescente número de exilados e banidos buscava

repercutir as notícias das violências do regime. Em 1970, o Papa Paulo VI mostrou-se

preocupado com a situação de direitos humanos no Brasil; a FBI (Frente Brasileira de

Informações), formada por exilados brasileiros na França, logrou publicar em The New

York Review of Books denúncias das presas políticas na Ilha das Flores (no Rio de

Janeiro) de 8 de dezembro de 1969.

A estratégia da FBI (que ironicamente adotou a sigla da agência de controle e

vigilância dos EUA) de divulgar no exterior as denúncias contra a ditadura brasileira

decorria, naturalmente, da própria censura que as publicações brasileiras sofriam:

“Esta censura, no entanto, falhará em esconder do resto do mundo os métodos brutais

que estão sendo amplamente usados pela polícia e pelos serviços paramilitares, que

os próprios brasileiros comparam aos nazistas.”7

Esse tipo de denúncia era encarada, pelas autoridades instituídas, como

“campanha internacional contra o Brasil”, exemplo de “guerra psicológica adversa”, e,

portanto, uma conduta criminosa segundo a Lei de Segurança Nacional então vigente,

o Decreto-lei nº 898/1969, que previa o crime de “propaganda subversiva”:

6 FERNANDES, Pádua. A carta à OAB em 1975: os presos políticos denunciam a ditadura. CEV “Rubens Paiva”. “Bagulhão”: A voz dos presos políticos contra os torturadores: O documento de 1975 que foi a primeira denúncia política contra os agentes da ditadura militar. São Paulo, 2014, p. 9. 7 “This censorship, however, will fail to conceal from the rest of the world the brutal methods that are being widely used by the police and the para-military services, which the Brazilians themselves compare to those of the Nazis.” (FRENTE BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES. Torture in Brazil. The New York Review of Books. 26 fev. 1970. Disponível em <www.nybooks.com/articles/archives/1970/feb/26/torture-in-brazil/>, acesso em 7 jan. 2015).

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Art. 45. Fazer propaganda subversiva: I - Utilizando-se de quaisquer meios de comunicação social, tais como jornais, revistas, periódicos, livros, boletins, panfletos, rádio, televisão, cinema, teatro e congêneres, como veículos de propaganda de guerra psicológica adversa ou de guerra revolucionária ou subversiva; II - Aliciando pessoas nos locais de trabalho ou ensino; III - Realizando comício, reunião pública, desfile ou passeata; IV - Realizando greve proibida; V - Injuriando, caluniando ou difamando quando o ofendido fôr órgão ou entidade que exerça autoridade pública ou funcionário, em razão de suas atribuições; VI - Manifestando solidariedade a qualquer dos atos previstos nos itens anteriores: Pena: reclusão, de 1 a 3 anos. Parágrafo único. Se qualquer dos atos especificados neste artigo importar ameaça ou atentado à segurança nacional: Pena: reclusão, de 2 a 4 anos.

Não se tratava, evidentemente, de normas compatíveis com um direito penal

democrático. O caráter indeterminado das locuções (não chegam a ser conceitos)

“guerra psicológica adversa” e “guerra revolucionária ou subversiva” encorajavam os

agentes da repressão a agirem com arbitrariedade, eis que a tipificação dessas

condutas, por assim dizer, era de uma vagueza incompatível com a boa técnica

legislativa, com o próprio princípio da tipicidade de um direito penal democrático, e com

as garantias fundamentais, no entanto ainda previstas na Constituição de 1967. O

Decreto-lei nº 898 de 29 de setembro de 1969 foi a mais severa e arbitrária norma de

segurança nacional da ditadura militar e possuía diversas previsões incompatíveis com

a liberdade de pensamento, ensejando a criminalização das denúncias das violações

de direitos humanos cometidas pelas autoridades.

Apesar dessa conjuntura política e jurídica desfavorável, os presos políticos

decidiram escrever a carta após terem lido esta matéria jornalística, cujo início citamos,

em que o presidente do Conselho Federal da OAB afirmava à imprensa não ter

recebido denúncias concretas sobre prisões e maus tratos:

Já está praticamente pronto o memorial que a Ordem dos Advogados enviará ao presidente Geisel, provavelmente até domingo, denunciando prisões irregulares e maus tratos ocorridos recentemente nas principais capitais do País. Caio Mario da Silva Pereira, presidente da OAB, lamentou não ter conseguido “especificações objetivas” por parte das pessoas que se queixaram das arbitrariedades policiais, o que forçou o documento a tratar do problema de uma maneira genérica, com muito pouca objetividade: “Não consegui que as

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pessoas contassem fatos concretos, respostas objetivas, específicas, e por isso o memorial tratará das irregularidades de maneira geral”, disse o presidente.8

Essa notícia foi transmitida em telegrama confidencial da Embaixada dos

Estados Unidos para a Secretaria de Estado daquele país, com o seguinte comentário:

Uma mensagem como essa tem a função potencial, como os esforços do governo para parecer sensível às listas de “pessoas desaparecidas”, de fazer o aparelho de segurança notar que práticas irregulares correm algum risco de denúncia e (presumivelmente, no mínimo) medida disciplinar. É concebível que a longo prazo essa tática possa ter algum efeito significativo e, como já percebemos, houve sinais de que elementos da segurança fizeram algum esforço para melhorar as aparências [...] Por outro lado [...] as prisões arbitrárias e a tortura continuaram. Ademais, neste caso, a força do sinal foi consideravelmente diminuída pelo aparente fato de que Silva Pereira, em vez do governo, ter sido a fonte do jornal.9

Os diplomatas dos EUA estavam corretos em notar a continuidade das prisões

arbitrárias e das torturas, e perspicazes em notar a fraqueza dos efeitos do anúncio

sobre a máquina de repressão política por ele ter vindo do presidente da OAB, e não

do governo federal.

No entanto, a afirmação de Caio Mário da Silva Pereira sobre a falta de fatos

concretos não correspondia à verdade. Não era nem mesmo verossímil. Não só já

existiam diversas denúncias públicas, e um dos primeiros exemplos foi o livro de

Márcio Moreira Alves, que é uma das comprovações de que a ditadura militar foi

violenta desde 1964, como os próprios representantes da OAB tiveram a oportunidade

de recebê-las mais de uma vez, especialmente no Conselho de Defesa dos Direitos da

Pessoa Humana, órgão ligado ao Ministério da Justiça, em que a OAB tinha assento.

8 FOLHA DE S. PAULO. OAB apronta as denúncias que fará a Geisel. 1º de agosto de 1975, Primeiro caderno, p. 3. 9 “Such a message has the potential function, as did the government’s efforts to appear responsive to the ‘missing persons’ lists, of putting the security apparatus on notice that irregular practices run some risk of exposure and (presumably, at least) disciplinary action. It remains conceivable that over the long term this tactic may have some meaningful effect, and as we have previously noted, there have been signs that security elements have made some effort to improve appearances […] On the other hand […] arbitrary arrest and torture have continued. Furthermore, in this instance the strength of the signal was considerably diminished by the apparent fact that Silva Pereira, rather than the government, was the newspaper’s source.” (EMBAIXADA DOS EUA NO BRASIL. Telegrama para a Secretaria de Estado, set. 1975, R 111240Z, documento confidencial. US Department of State).

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A OAB elaborava o mencionado memorial no âmbito do que chamou de

tentativa de participação no “processo de distensão”, a longa marcha da abertura

política. Caio Mário da Silva Pereira, em sua posse como Presidente do Conselho

Federal da Ordem, tentou enquadrar essa tarefa entre as próprias “exigências” da

carreira advocatícia:

O Advogado, afeito pelas exigências da profissão aos problemas sociais, tem todas as condições para colaborar no processo da distensão. Acompanha com o mais vivo interesse o despertar da liberdade de imprensa, que sempre defendeu e procurou sustentar. Recolhe, com o maior carinho, os pronunciamentos dos Presidentes das duas Casas do Congresso, e compartilha de seus desejos e de seus planos reconstrutivos. E, sobretudo, confia na atitude e nos propósitos do Sr. Presidente da República, quando reabre o diálogo até agora interrompido, com a opinião pública já descrente, porém apta e sempre disposta a retomá-lo com calor, e a realizar estes grandes objetivos.10

Com efeito, na abertura da carta, os presos políticos recordam palestra de

Miguel Seabra Fagundes na V Conferência Nacional da OAB, em que o jurista afirmou

que é dever do advogado denunciar “a todas as entidades qualificadas para tal pelas

suas atribuições e idoneidade, as violações dos Direitos Humanos, quaisquer que elas

sejam, resultantes de leis ou medidas para as quais se invoque razão de Segurança

Nacional”11.

Depois dessa abertura, a carta divide-se em três partes:

I. Descrição dos métodos e instrumentos de tortura comumente utilizados nos órgãos repressivos, e transcrição de nomes de torturadores e demais policiais e militares envolvidos nessa prática no Brasil; II. Apresentação das irregularidades jurídicas de toda a ordem que são cometidas contra presos políticos e verificadas desde o ato da prisão até a soltura, demonstrando que nem as próprias leis de exceção do regime vigente – de natureza discricionária, violentando os mais comezinhos direitos do homem em pleno século XX — são cumpridas neste país; III. Narração de casos de presos políticos assassinados ou mutilados em virtude de torturas.12

10 LUIZ, Edson Medeiros Branco. A atuação política da Ordem dos Advogados do Brasil durante o governo Geisel: As eleições do Conselho Federal da Ordem dos advogados do Brasil - 1974 a 1979. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009, p. 8-9. 11 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 12. 12 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 14.

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Na primeira parte, além da explicação detalhada de quinze métodos de

torturado sofridos diretamente pelos autores da carta (o primeiro deles, o pau de arara,

originalmente usado contra os escravos), com mais dez tipos que são indicados,

lembrando o caráter meramente exemplificativo da lista, e mais cinco tipos, que foram

infligidos em outros presos, encabeçados pela “coroa de cristo”, forma de afundamento

do crânio por meio de uma fita de aço que é apertada progressivamente, com que foi

assassinada Aurora Maria Nascimento Furtado.

A lista de 233 torturadores foi inaugurada pelo nome do Major de Infantaria do

Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi no período de

setembro de 1970 a janeiro de 1974. A escolha dos signatários da carta reflete-se nos

processos judiciais que tramitam atualmente no Judiciário. Ustra foi o primeiro dos

agentes da repressão política da ditadura militar a ser declarado judicialmente como

torturador, em 2008, pelo juiz Gustavo Santini Teodoro da 23ª Vara Cível central de

São Paulo, em processo da família Teles. Essa condenação foi ratificada pelo Tribunal

de Justiça de São Paulo em agosto de 201213 e pelo Superior Tribunal de Justiça em

dezembro de 201414. Em recente derrota judicial, Ustra não conseguiu ver-se excluído

da ação movida pelo Ministério Público Federal em razão do desaparecimento forçado

de Edgar de Aquino Duarte15. A CEV “Rubens Paiva”, em conjunto com a Comissão

13 Trata-se de ação de natureza declaratória, para que Ustra seja reconhecido como torturador em razão dos crimes praticados contra os ex-militantes do PCdoB Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles, Criméia Schmidt de Almeida, e os filhos de Maria Amélia e César, Janaína Teles e Edson Luís Teles (que tinham 5 e 4 anos, respectivamente, na época da prisão), no período de 1972 a 1973, quando causou danos morais e à integridade física dos autores da ação. O advogado Fábio Konder Comparato, que representou a família na causa, foi claro em argumentar que a Lei de Anistia não poderia ser aplicada em favor de Ustra: “Comparato também havia rechaçado a tese de que a ação da família Teles estava impedida de continuar por causa da Lei de Anistia. ‘É preciso uma dose exemplar de coragem para sustentar hoje que a anistia penal elimina a responsabilidade civil. O artigo 935 do Código Civil é textual: a responsabilidade criminal independe da civil’, disse. Na ocasião, o advogado dos Teles afirmou ainda que o que estava em jogo no julgamento da ação era a credibilidade do Estado brasileiro diante da opinião pública nacional e internacional.” (OJEDA, Igor. TJ nega recurso de Ustra contra sentença que o declara torturador. Carta Maior. 14 ag. 2012. Disponível em < http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/TJ-nega-recurso-de-Ustra-contra-sentenca-que-o-declara-torturador-/5/25723 >). 14 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Lei da anistia não impede ação de vítimas da ditadura contra coronel, 17 dez. 2014. Disponível em < http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/sala_de_noticias/noticias/Destaques/Lei-da-Anistia-n%C3%A3o-impede-a%C3%A7%C3%A3o-de-v%C3%ADtimas-da-ditadura-contra-coronel >, acesso em 10 jan. 2015. 15 A decisão, da Justiça Federal de São Paulo, foi publicada em 15 de outubro de 2014, e se fundamentou na natureza de crime permanente do desaparecimento forçado, e que impede a aplicação

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Nacional da Verdade, realizou uma audiência pública sobre os processos das famílias

Teles e Merlino contra o Major Ustra16.

A CEV “Rubens Paiva” apurou o nome completo de alguns dos torturadores

que estavam identificados somente pelo codinome ou com o nome parcial:

Dalmo Lúcio Cyrilo (na carta, “Capitão de Intendência do Exército Dalmo

Luiz Cirilo”);

Pedro Antônio Mira Graciere (“Pedro Ramiro”, investigador da equipe B

de interrogatório do DOI-Codi);

Artur Paulo de Souza (“Paulo Artur” do DOPS/RS);

Capitão André Pereira Leite (“Edgar” do DOI-Codi);

Ênio Pimentel Silveira (“Dr. Nei” do DOI-Codi);

Lourival Gaeta (“Escrivão de Polícia Gaeta” da equipe C de

interrogatório do DOI-Codi);

Médico psiquiatra do HGE Carlos Vitor Mondaine Maia (“Dr. José”, chefe

da equipe A de interrogatório do DOI-Codi);

Delegado da polícia civil do Estado de São Paulo Aparecido Laertes

Calandra (“Capitão Ubirajara”, chefe da equipe B de interrogatório do

DOI-Codi);

Delegado da polícia civil do Estado de São Paulo Dirceu Gravina

(“Dirceu” da equipe A de interrogatório do DOI-Codi);

João Thomaz (“Capitão da Polícia Militar de SP Tomaz – ‘Tibúrcio’”);

Carlos Alberto Augusto (“Carlinhos Metralha” da equipe de

investigadores do delegado Fleury no DEOPS/SP);

da Lei de Anistia: “A 9ª Vara publicou no Ato Ordinatório no dia 15 de outubro a decisão que negou o pedido de “extinção da punibilidade” de Carlos Alberto Brilhante Ustra. ‘Verifica-se, assim, que este Juízo, em cognição preliminar, entendeu que ao caso em tela não se aplica a Lei de Anistia, vez que o delito descrito na denúncia, de natureza permanente, se protrai no tempo, ultrapassando o período estabelecido pela mencionada lei, considerando que até o presente momento não é conhecido o paradeiro da vítima Edgar de Aquino Duarte’.” (BARRETO, Thais. Justiça Federal nega extinção da punibilidade para Carlos Alberto Brilhante Ustra. 30 out. 2014. Disponível em < http://www.thaisbarreto.com/justica-federal-nega-extincao-da-punibilidade-para-carlos-alberto-brilhante-ustra/ >, acesso em 10 jan. 2015). 16 Audiência realizada na data de 19 de agosto de 2013, disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=_wfoBSqf0fs >, acesso em 10 jan. 2015.

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José Ribamar Zamith (“Coronel do Exército Zamich – comandante do

CODI/GB em 1970”);

Agente da polícia federal Solimar Adilson Aragão (“Solimar” do

CENIMAR/GB);

Coronel do Exército Aluisio Madruga de Moura (“Capitão do Exército

Madruga”);

Tenente coronel reformado do Exército Paulo Malhães (“Malhães” do

CIEx/RS)17;

Alcebíades Maria da Luz (“Alcebíades”, carcereiro do DEOPS/SP);

Carlos Elias Lott (“Tenente da Polícia Militar de SP Lott”);

Abel Rodrigues de Lima (“Cabo do Exército Abel”);

Capitão José Brant Teixeira (“Dr. César” do CODI/GB);

Marcelo Paixão Araújo (“Tenente do Exército Marcelo” do 12º RI em

Belo Horizonte – MG).

A segunda parte da carta analisava as irregularidades jurídicas desde as

capturas dos presos até o ato de soltura, passando pelo inquérito, o processo judicial e

o cumprimento de pena. A prisão de todos os autores da carta desobedeceu os

preceitos da Constituição de 1967 e do Código de Processo Penal Militar, que

determinavam a comunicação da prisão ao juiz competente: “Todos nós fomos

sequestrados, muitos em plena via pública, por bandos de homens armados, sem

nenhum mandado judicial e que não poucas vezes desferiram tiros à queima-roupa

[...]”18. Por conseguinte, eram inconstitucional e ilegalmente mantidos em

incomunicabilidade, na condição de presos “enrustidos”, sem a assistência de

advogados e submetidos a todo tipo de violências. O Estatuto da Ordem dos

Advogados do Brasil então vigente também era violado, pois o regime de

incomunicabilidade não poderia vedar o acesso ao advogado, que é uma condição

necessária para o exercício do direito de defesa.

17 Paulo Malhães foi assassinado em 25 de abril de 2014 após dar depoimentos às Comissões da Verdade do Rio de Janeiro e à Nacional assumindo graves violações de direitos humanos e revelando parte do esquema de tortura e desaparecimentos forçados da ditadura militar. 18 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 33.

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Os presos políticos afirmam nesse ponto a ilegitimidade e a ilegalidade

fundamentais da ditadura militar:

Já dissemos que nem as próprias leis do regime vigente são cumpridas neste país. Assim, discorreremos agora sobre as principais irregularidades jurídicas que são cometidas contra os presos políticos e verificadas desde o ato da prisão até o momento da soltura. O regime militar aqui imposto em 1º de abril de 1964 baixou uma enxurrada de atos e leis de exceção. Nesses onze anos e meio, apenas variaram alguns métodos e algumas práticas abusivas, permanecendo inalterado o mesmo caráter opressor e repressivo do regime. A partir da edição do Ato Institucional nº 5, por exemplo, que suspendeu os direitos e garantias constitucionais (art.6º), a vigência do instituto do "habeas-corpus" (art.10º) etc., investiu-se o Executivo de poderes cada vez mais discricionários, subjugando o Legislativo e o Judiciário de modo ainda mais absoluto e podendo suspender os direitos políticos de qualquer cidadão pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais (art.4º) etc. E para não deixar qualquer dúvida sobre seu caráter, estabelece o AI nº 5 em seu art. 11: "Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos". Em setembro de 1969, a Junta Militar então no Poder exacerbou o clima de terror imperante no país ao editar, entre outros, o AI nº 13, instituindo a figura do banimento e o AI nº 14, implantando as penas de prisão perpétua e de morte a opositores ao regime, e decretar a chamada Lei de Segurança Nacional (Decreto-Lei nº 898, de 29/9/69), em vigor. Se a letra de todos esses dispositivos draconianos, por si só, já fere a consciência jurídica contemporânea, a prática dos órgãos repressivos tem sido, ao longo dos anos, um permanente atentado à condição humana: a repressão generalizada, o sequestro, a tortura e o assassinato de opositores ao regime implantaram o medo na vida nacional. E apenas o terror impede que o repúdio a esse estado de coisas se manifeste com mais força. Os órgãos repressivos, na certeza da impunidade que lhes é assegurada pelo regime discricionário, praticam toda espécie de violência contra os que a ele se opõem. Desde um simples carcereiro até os oficiais superiores que dirigem aqueles centros de repressão, todos se investem de poderes para prender, torturar e assassinar, sem nenhuma necessidade de prestar conta de seus atos a quem quer que seja.19

O que os presos afirmam sobre as condições institucionais serem propícias para

os abusos contra os direitos humanos foi confirmado em outras ditaduras. Na

introdução deste relatório da CEV “Rubens Paiva”, citamos a esse respeito Miriam

Lewin e Olga Wornat em análise da última ditadura militar na Argentina:

Em um campo de concentração é irrelevante verificar se existiu uma ordem expressa de estuprar, do mesmo modo que o é se existia uma ordem de aplicar

19 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 32-33.

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uma forma de tortura e não outra. O importante era que havia um sistema que autorizava uma forma de tratar, uma conduta prototípica.20

Uma vez que o sistema, em sua lógica de funcionamento, autorizava essa

“forma de tratar”, os órgãos da repressão prestavam informações falsas até mesmo ao

Superior Tribunal Militar, certos da impunidade:

Tem sido usado o recurso do “habeas-corpus", não para garantir a liberdade do cidadão sequestrado (já vimos que, para estes casos, sua vigência foi suspensa pelo AI nº 5), mas para tentar a localização do preso ou quebrar sua incomunicabilidade e, em última instância, tentar preservar sua vida. Os órgãos de repressão costumam negar informações ao próprio Superior Tribunal Militar quando julgam necessário continuar mantendo o preso clandestinamente.21

A petição de habeas corpus servia, pois, para tentar localizar o preso e para

que a prisão fosse enfim legalizada, tendo em vista a sistemática ilegalidade dos

procedimentos das autoridades militares e policiais. As famílias também eram

atingidas: “Muitos de nós tivemos parentes presos que passaram pelas mesmas

vicissitudes. Crianças que presenciaram torturas, quando não as sofreram diretamente;

mães ameaçadas, esposas posteriormente processadas, tudo isso por serem nossos

familiares.”22.

Na Justiça Militar, os presos políticos encontraram uma continuidade do

sistema de repressão:

As condenações, regra geral, são determinadas pelos órgãos de repressão; é comum que os torturadores antecipem aos presos, com exatidão, as penas a serem atribuídas a eles nos julgamentos. A ausência de provas não significa nenhum obstáculo à condenação do réu. Adota-se, de fato, a chamada “Escola do Direito Penal da Vontade”, da Alemanha nazista, de há muito condenada por todas as entidades jurídicas internacionais e pela opinião pública mundial. As confissões obtidas mediante tortura na fase policial-militar têm sido, na maioria dos casos, a única “base legal” para imposição de pesadas penas.23

20 “En un campo de concentración es irrelevante verificar si existió una orden expresa de violar, del mismo modo que lo es si existía una orden de aplicar una forma de tortura y no otra. Lo importante era que había un sistema que autorizaba una forma de tratar, una conducta prototípica.” (LEWIN, Miriam; WORNAT, Olga. Putas y guerrilleras. Buenos Aires: Planeta, 2014, p. 352). 21 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 34. 22 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 34. Sobre esse tema, os menores atingidos pela ditadura militar, ainda pouco explorado dos debates sobre a violência da ditadura militar no Brasil, a CEV “Rubens Paiva” organizou o ciclo de audiências “Verdade e infância roubada”, em maio de 2013, e publicou o livro “Infância roubada” em 2014. 23 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 36.

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Dessa forma, é infundada a recente alegação do Superior Tribunal Militar

(STM) de que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) errou ao comprovar que a

Justiça Militar teve papel fundamental na execução de perseguições e punições

políticas. Em nota de 12 de dezembro de 2014 (uma rápida reação ao relatório final da

CNV, divulgado dois dias antes), o STM alegou que a Justiça Militar “assegurou os

princípios garantistas e os direitos humanos”24. No entanto, o próprio relatório Brasil:

Nunca mais havia demonstrado, com os documentos processuais, há três décadas, as

diversas irregularidades presentes nas condenações dos presos políticos.

Quatro décadas atrás, o “Bagulhão” já as apontava:

O fato de as penas serem determinadas pelos órgãos repressivos se reflete na própria conduta dos Juízes: alguns simplesmente cochilam durante as sessões, enquanto outros ficam a resolver palavras cruzadas – e isso até nas audiências de julgamento. A vinculação das Auditorias Militares aos órgãos repressivos é inegável, tanto que não raro há oficiais nos Conselhos Permanentes que são oriundos daqueles próprios organismos.25

A participação de agentes da repressão na Justiça Militar foi confirmada no

Brasil: Nunca mais e reitera o caráter nada ou pouco garantista dos direitos humanos

desse ramo do Judiciário durante a ditadura.

Destacam-se ainda nesta seção quatro casos por suas graves irregularidades

jurídicas: Altino Rodrigues Dantas Júnior, Walkíria Queiroz Costa, Ângela Maria Rosa

dos Santos (citada mais adiante nos casos de mutilações psicológicas) e Ivan Akselrud

Seixas.

Em seguida, os presos autores da carta criticaram os locais de prisão em São

Paulo, em que sua condição de presos políticos não era respeitada; o presídio

Tiradentes (“de instalações precaríssimas”), a Casa de Detenção de São Paulo

(“passávamos semanas sem sair das precaríssimas celas individuais onde nos

confinavam”), o Presídio do Hipódromo (“onde são alojados centenas de presos

comuns; constantemente ouvíamos seus gritos por estarem sendo torturados”),a

24 SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. Nota à imprensa do Superior Tribunal Militar. 12 dez. 2014. Disponível em < http://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/3862-nota-a-imprensa-do-superior-tribunal-militar >, acesso em 10 jan. 2015. 25 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 37.

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Penitenciária do Estado de São Paulo (“acinte à condição humana, tratando-se de

verdadeira masmorra medieval”), Penitenciária Regional de Presidente Venceslau (“há

casos de presos comuns assassinados sob tortura”)26, bem como presídios em outros

Estados, por que também passaram, e em que também reinavam condições

subumanas.

A terceira parte do “Bagulhão” destaca os presos políticos assassinados ou

mutilados segundo o testemunho pessoal dos signatários da carta. São apresentados

de forma individualizada os casos de Virgílio Gomes da Silva, Roberto Macarini, Olavo

Hanssen27, Edson Cabral Sardinha, Eduardo Leite (Bacuri), Joaquim Alencar de

Seixas, Aluísio Palhano, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, Hiroaki Torigoe, Hélcio

Pereira Fortes, Frederico Eduardo Mayr, Kleber Gomes, Lourival Paulino, José Júlio de

Araújo, Carlos Nicolau Danielli e Alexandre Vannucchi Leme. Em todos esses casos, a

ditadura militar divulgou versões falsas para as mortes.

Os presos autores da carta explicam que a mudança de tática da ditadura

militar, que fez os desaparecimentos forçados prevalecerem a partir de 1973, deu-se

pelo fato de que os comunicados oficiais com as versões falsas das mortes não

convenciam mais a opinião pública e por outra razão: a ditadura militar jamais executou

nenhum preso político ou opositor de acordo com a lei:

Pois o regime vigente nunca teve condições políticas para aplicar publicamente a pena de morte instituída pelo Ato Institucional nº 14 em setembro de 1969. E na impossibilidade de assumir a aplicação desse dispositivo discricionário, optou pelo assassínio nos porões dos órgãos repressivos.28

Reitera-se, nesse ponto, o fato de que o regime autoritário não cumpria nem

mesmo o próprio direito de exceção que produzia.

Em seguida apontam-se mais 19 desaparecidos políticos, cujos nomes foram

incluídos em abaixo-assinado dirigido ao Superior Tribunal Militar, em que foi

denunciada a conhecida nota pública do Ministro da Justiça, Armando Falcão, sobre os

desaparecidos políticos, de 6 de fevereiro de 1975. A nota oficial classificava

26 CEV “RUBENS PAIVA”, op. cit., p. 39 e 40. 27 Na carta se escreve “Hansen”, grafia errônea que foi divulgada pelos órgãos de repressão e pela imprensa na época. 28 CEV “Rubens Paiva”, op. cit., p. 48.

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desaparecidos de “terroristas foragidos”, ou apenas “banidos”, e incluía pessoas cujo

destino era conhecido29.

Em seguida, são indicados 20 nomes de mortos e desaparecidos (alguns já

destacados anteriormente, como Virgílio Gomes da Silva), “conhecidos por amplos

setores da população”, como o Deputado Federal Rubens Paiva. São apresentados os

casos de Joaquim Pires Cerveira, Fernando Augusto de Santa Cruz e Edgard de

Aquino Duarte.

O “Bagulhão” apresenta, como casos de mutilações físicas e psicológicas, Frei

Tito de Alencar Lima (que acabou se suicidando no exílio), Antônio Carlos Melo

Pereira, José Angeli Sobrinho, Antônio Carlos de Oliveira, Ângela Maria Rocha dos

Santos e Gregório Gomes Silvestre.

No fecho da carta, os presos afirmam participar da “luta pelos direitos da

pessoa humana em nosso país”, “parte da luta mais geral que travamos contra a

opressão e a repressão vigentes no Brasil”30.

O “Bagulhão” teve ainda um post scriptum: os autores da carta tiveram tempo

de acrescentar menção a Vladimir Herzog, assassinado em 25 de outubro de 1975 no

DOI-Codi de São Paulo, duvidando da versão oficial do suicídio, e da honestidade do

laudo de Harry Shibata. Os presos políticos, que conheciam bem o modus operandi da

repressão política, estavam corretos nisso também.

A divulgação da carta e os ataques terroristas em prol dos torturadores

Tendo em vista a forte censura da época, a divulgação inicial da carta se deu

de forma clandestina ou no exterior. Maria Amélia Teles, em texto escrito para a

publicação da CEV “Rubens Paiva”, explicou a dificuldade desse trabalho de

distribuição do “Bagulhão”: 29 Dias depois, o Ministro foi à tevê ratificar as versões falsas do regime: “Em 20/02/1975, o então ministro da Justiça Armando Falcão fez um pronunciamento em rede de televisão para falar sobre 27 desaparecidos políticos, estando dentre esses o nome de Paulo de Tarso. Na versão do ministro, estavam todos foragidos.” (BRASIL. SECRETARIA ESPECIAL DE DIREITOS HUMANOS. COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS. Direito à memória e à verdade. Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007, p. 168). 30 CEV “Rubens Paiva’, op. cit., p. 54.

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Apesar da vigência da censura prévia e das várias formas de repressão, a carta foi bastante distribuída, com cópias feitas quase clandestinamente, entregues muitas em mãos para a imprensa, órgãos internacionais e nacionais de direitos humanos. A carta chegou a ser publicada pela Editora Maria da Fonte, em Portugal e em muitos outros países da Europa, América do Norte entre outros locais. O trabalho de divulgação feito de forma anônima por familiares, advogados, religiosos, artistas e intelectuais tornou o documento uma das principais ferramentas das campanhas de divulgação das torturas e assassinatos que foram fundamentais para impor desgaste político à ditadura.31

O Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil colaborou com a

difusão clandestina da carta, divulgando a lista dos torturadores:

Neste ano, por ocasião da 4ª Reunião de nosso Comitê nos limitaremos a transcrever extensa relação de torturadores denunciados por presos políticos da cidade de São Paulo, através de importante documento dirigido, em meados do ano ao Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, e que obteve significativa divulgação nacional e internacional. São coligidos, nesse documento, 233 nomes [...]32

A publicação francesa no Dial (Diffusion de l’information sur l’Amérique Latine),

em março de 1976, incluiu apenas os 151 primeiros torturadores, os que participaram

diretamente das torturas. O periódico não deixou de destacar a falta de notícias na

imprensa brasileira:

Através da Ordem dos advogados, ele [o relatório] é especificamente destinado, segundo os próprios termos do relatório, “a todas as entidades que se têm empenhado na defesa dos direitos humanos”. A existência – mas não o texto – deste documento foi indicada à opinião pública pelo jornal O Estado de São [sic] Paulo de 20 de janeiro de 1976 sob o título “Relatório aponta violências”. Tendo chegado a nós integralmente, dispusemo-nos a dar o resumo e trechos dos textos.33

31 TELES, Maria Amélia de Almeida. Carta dos presos políticos do Barro Branco (São Paulo): a criação da memória coletiva! CEV “Rubens Paiva”. “Bagulhão”: A voz dos presos políticos contra os torturadores: O documento de 1975 que foi a primeira denúncia política contra os agentes da ditadura militar. São Paulo, 2014, p. 9. 32 COMITÊ DE SOLIDARIEDADE AOS REVOLUCIONÁRIOS DO BRASIL. Relatório da IV Reunião do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil, fev. 1976, Arquivo Nacional. 33 “A travers l’Ordre des avocats, il est spécifiquement destiné, selon les propres termes du rapport, ‘à toutes les organisations qui s’attachent à la défense des droits de l’homme’. L’existence – mais non le texte – de ce document a été signalée par le journal ‘O Estado de São Paulo’ du 20 janvier 1976 sous le tittre: ‘Relatório aponta violências’. Ce texte nous étant parvenu dans son intégralité, nous sommes à même d’en donner le résumé et d’en publier des extraits.” (DIAL (Diffusion de l’Information sur l’Amérique Latine). Brésil: les 151 tortionnaires de prisonniers politiques. Paris, n. 287, 4 mars 1976).

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A matéria do Estado de S. Paulo, muito sucinta, foi publicada na mesma página

da reportagem sobre a morte de Manoel Fiel Filho em 17 de janeiro de 1976, no DOI-

Codi em São Paulo, que trazia a nota oficial do Comando do II Exército comunicando a

morte, bem como a instauração de inquérito policial militar com o fim de apurar o

ocorrido. A reportagem não revela quando o jornal entrou em contato com a carta:

As violências contra presos políticos, os métodos de tortura adotados, os nomes dos torturados (muitos dos quais morreram na prisão), os nomes e funções dos torturadores – tudo isso chegou ao conhecimento das principais autoridades do País, no final do ano passado, por intermédio de um documento que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil recebeu de um grupo de 25 presos políticos.34

A matéria era bastante sucinta. A lista dos torturadores não foi divulgada, mas

foram indicadas algumas das modalidades de tortura referidas no “Bagulhão”: pau de

arara, choque elétrico, cadeira do dragão, afogamento, telefone, soro da verdade,

crucificação, latas, alicate e cigarro. O número de 300 mortos e desaparecidos políticos

também foi apontado.

Em 15 de fevereiro de 1976, o jornal Folha de S. Paulo publicou a matéria “O

documento dos 22 presos”, errada desde o título, pois eram 35. A matéria é composta

basicamente por trechos da carta, mas sem se referir aos tipos de tortura, tampouco à

lista dos torturadores; menciona, porém, os desaparecimentos de Fernando de Santa

Cruz Oliveira e de Edgard de Aquino Duarte, bem como os casos de mutilações35.

Reinaldo Morano Filho, um dos signatários da carta, em texto que escreveu

para a publicação da CEV ”Rubens Paiva”, destacou que a carta “não ensejou uma

única ação legal, um único pedido de abertura de inquérito, por injúria, calúnia ou

difamação, contra os denunciantes – todos identificados (as assinaturas foram

propositadamente legíveis) e de ‘endereço’ conhecido.” 36.

No entanto, as autoridades se preocuparam em saber se as assinaturas da

Carta eram verdadeiras e montaram um dossiê sobre os signatários, desqualificando-

os como “terroristas”. Isso ocorreu em um contexto marcado pelos recentes 34 O ESTADO DE S. PAULO. Relatório aponta violências. 20 jan. 1976. 35 FOLHA DE S. PAULO. O documento dos 22 presos. 15 fev. 1976. Arquivo Ana Lagôa. 36 MORANO FILHO, Reinaldo. Para que não esqueça, para que nunca mais aconteça! CEV “Rubens Paiva”. “Bagulhão”: A voz dos presos políticos contra os torturadores: O documento de 1975 que foi a primeira denúncia política contra os agentes da ditadura militar. São Paulo, 2014, p. 5.

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assassinatos de Herzog e Fiel Filho, e um clima de medo nas grandes cidades.

Segundo pesquisa do Instituto Gallup, divulgada no início de 1976, 67% dos

paulistanos temiam ser presos:

[...] o Instituto Gallup fez uma pesquisa sobre “o medo nas grandes cidades”, revelando que 67% dos paulistanos temiam ser presos. O Comando do II Exército, muito incomodado com a pesquisa, que foi explorada na imprensa contra a ditadura militar, chamou o diretor do Instituto, Carlos Eduardo Meirelles Matheus, para prestar explicações. No documento confidencial de 6 de fevereiro de 1976 que difundiu o caso para órgãos da comunidade de informações, chegou-se praticamente a admitir as torturas denunciadas na carta dos presos políticos: “A difusão do dado coincidiu, logo após a mudança do novo Comandante do II Exército, com a exploração do depoimento-KONDER, memorial dos jornalistas levantando dúvidas sobre a lisura do IPM-HERZOG, torturas de presos políticos exploradas pela OAB e intervenções do jornalista ALBERTO DINES na coluna Jornais dos Jornais da Folha de São Paulo [sic], agredindo a Revolução [...]”. No mesmo dia, ficou pronta outra informação confidencial do II Comando, com o “resumo da vida criminosa dos terroristas signatários do Manifesto enviado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e transcrito parcialmente na Imprensa de São Paulo”; sua elaboração foi uma tentativa de desqualificar as denúncias: “Para se ter a ideia da periculosidade de tais elementos e, por conseguinte, suas denúncias não são dignas de fé [...]”.37

O movimento do governo, pois, foi o de desqualificar os autores da denúncia, e

não o de investigá-la. A própria OAB foi tratada, em informação confidencial do Serviço

Nacional de Informações (SNI), como órgão infiltrado por esquerdista, e mesmo Caio

Mário da Silva Pereira, que não era um homem de esquerda, assim foi caracterizado,

em razão da divulgação da denúncia dos presos políticos, que alcançara o exterior.

Menciona-se, em grafia incorreta, a matéria nos Estados Unidos do jornal Miami

Herald:

Esta entidade está atuando dentro do esquema subversivo, programado pelo MCI, e executado pelos seus sequazes no BRASIL. Este órgão, já infiltrado pelos comuno-esquerdistas, fugindo à ética que alega na sua representação, divulgou ao mesmo tempo e através do seu presidente, à imprensa estrangeira – objetivando a agitação e a desmoralização dos órgãos de segurança do País, no exterior – o documento que estava enviando ao GAB CIV DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. O jornal “THE MIAMI RERALD/EUA” [sic], na sua edição de 04 Dez 75, publicou o artigo “PRESOS FALAM DE TORTURA NO BRASIL”, onde acrescenta que o Presidente da OAB havia liberado o documento citado e que

37 FERNANDES, op. cit., p. 63.

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também o estava remetendo ao Presidente ERNESTO GEISEL e ao Congresso Nacional (Anexo T). Esta má fé caracteriza a posição do seu presidente CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, elemento esquerdista e anti-revolucionário, bem como de seu vice-presidente HELENO FRAGOSO, militante comunista e notório defensor de presos subversivos, inclusive do recém expulso PADRE FRANÇOIS JENTEL, como bem mostram os prontuários respectivos (Anexo U). [grifos do original]38

O primeiro jornal brasileiro a publicar a lista dos torturadores foi o semanário

Em Tempo39. O jornalista Bernardo Kucinski, na audiência da CEV “Rubens Paiva”,

lembrou que, como editor do jornal, se opôs à publicação da lista, que julgou “meio

panfletária”. Ele foi voto vencido, e ela projetou o jornal no cenário da época: “a lista,

inclusive pra minha surpresa, que eu achei que era uma coisa meio chutada, a lista

teve um enorme impacto. Foi o que lançou o jornal Em Tempo. Tudo aquilo, aquelas

manchetes de antes, não tiveram o efeito que teve a lista.”40.

O governo federal tentou, por vias institucionais, punir o jornal Em Tempo pela

divulgação da carta. O Ministério do Exército oficiou ao Ministério da Justiça, que

detinha a competência legal para a censura, para processar o periódico com base na

Lei de Imprensa:

A publicação no jornal Em Tempo teve imediata repercussão no Exército, como vemos em documento confidencial difundido ao DOI do II Exército, com a queixa da falta de providências do Ministério da Justiça em processar o jornal com base na Lei de Imprensa: “O Exmº Sr. Ministro do Exército, pelo Aviso nº 97/3, de 27 de julho de 1978, solicitou ao Exmº Sr. Ministro da Justiça providências no sentido de que o referido semanário fosse processado. Pela Informação 1031/S-112-A11-CIE, de 21 Ago 78, o CIE remeteu ao CMP/11ª RM, cópia dos pareceres da Divisão de Pareceres e Estudos e do Consultor Jurídico do Ministério da Justiça, relativos ao caso. A Diretora da Divisão anteriormente referida, Doutora THEREZA HELENA SOUZA DE MIRANDA LIMA, após extensas considerações de ordem legal, julga necessário “uma cuidadosa e profícua investigação preliminar, na qual se verifiquem a existência do documento (que, segundo o periódico, teria servido

38 Trata-se da Informação confidencial nº 022/16/AC/76 do SNI (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório parcial: V – Estado ditatorial militar: coesão a qualquer custo, 2013). 39 Tratava-se de jornal quinzenal que, em 1978, tornara-se semanário: “O projeto editorial de Em Tempo, proposto por Bernardo Kucinski, visava o rompimento com o padrão tabloide da imprensa alternativa. O jornal foi criado a partir do “racha” de Movimento, em abril de 1977, e tinha participações de antigos colaboradores de Opinião e Movimento, além de novos grupos políticos, a maioria com inclinação trotskista.” (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório. 2014, tomo II, p. 374). 40 CEV “Rubens Paiva”, audiência de 16 jun. 2014, disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=-atw8-96gnY >, acesso em 12 jan. 2015.

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de base à notícia em tela) seu teor, as colocações nele feitas passíveis de apuração” (o grifo é do CMP/11ª RM). Ressalta a Doutora THEREZA “que, para a condenação por delito previsto no Decreto Lei 898/69 (Lei de Segurança Nacional), há que estar provado o dolo específico, isto é, a vontade determinada de atingir a segurança nacional tal como conceituada, ela, no seu Art 3º”. Com isso, parece-nos, a jurista em tela ainda põe em dúvida o caráter doloso do artigo.”

A tentativa do Ministério do Exército de punir o jornal com base na Lei de

Imprensa foi, portanto, barrada pelos empecilhos jurídicos levantados pelo Ministério da

Justiça, tendo em vista o prazo para o oferecimento de queixa contra o jornal, e as

diligências que a assessoria jurídica do Ministério da Justiça julgou necessárias para a

instrução do pedido:

É claro, no documento, que a jurista incomodou as autoridades do Exército ao apontar a verdadeira questão (o que, certamente, levou ao grifo assinalado): dever-se-ia investigar se o documento e suas alegações (ou seja, as torturas, os desaparecimentos, as execuções) eram verdadeiros. Ela ainda considerou que seria necessário verificar o público e a penetração do Em Tempo, bem como descobrir como ele era financiado, uma vez que recebia escassa publicidade. Essas diligências impediriam, perceberam as autoridades militares no mesmo documento, que se observasse o prazo de três meses da data de publicação para oferecer queixa contra o jornal, previsto na então vigente Lei de Imprensa: Em seu Artigo 41, a Lei 5250/67 (Lei de Imprensa) estabelece que “o direito de queixa ou representação prescreverá, se não for exercido dentro de 3 meses da data de publicação”. No caso, o prazo acima referido terminará em 26 de Setembro de 1978. “Com as informações disponíveis até o momento, parece a este Comando que as “cuidadosas investigações e levantamentos sugeridos”, e aprovados pelo Consultor Jurídico do Ministério da Justiça, Dr RONALDO REBELLO DE BRITTO POLETTI, redundarão no esgotamento do prazo legal, necessário para a medida punitiva solicitada, e na consequente impunidade do semanário “EM TEMPO”.”41

A publicação ocorreu na edição de 26 de junho a 2 de julho de 1978. O jornal,

nesse ano, sofreu três ataques, dois em Belo Horizonte, como é narrado no Dossiê

sobre os atentados terroristas cometidos por grupos paramilitares em Belo Horizonte,

assinado pelo Movimento Feminino pela Anistia/MG, pelos jornais Em Tempo e De

Fato, pelo DCE-UFMG, o advogado Geraldo Magela Almeida, o Grupo de Padres pelos

Direitos Humanos e a Igreja São Francisco das Chagas em 20 de setembro de 1978:

41 FERNANDES, op. cit., p. 64.

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No dia 28/7/78, pela madrugada, aproximadamente a uma hora, segundo relato posterior dos vizinhos, ocorreu o atentado. A porta central (são três portas de entrada) foi arrombada. Praticamente todas as paredes, além de algumas cadeiras e mesas, foram pichadas em “spray” vermelho e preto, com vários dizeres: MAC + GAC: A VOLTA SERÁ PIOR, ENTREI DE SOLA E VOLTO, etc. Foram roubados máquinas e documentos diversos (mimeógrafo e uma calculadora eletrônica, papéis diversos). No próprio dia do atentado, por volta das 10 horas da manhã, dois soldados da Polícia Militar, dizendo terem recebido ordens, compareceram à sucursal. Como não havia sido chamada a polícia, até aquele momento, e eles não quiseram se identificar e nem identificar quem dera aquela ordem, foram dispensados. Mais ou menos uma hora depois, outra pessoa, dizendo-se da Polícia Federal, procurou a sucursal. Também se recusou a identificar-se. Não foram respondidas as suas perguntas. [...] Mais ou menos duas horas após, chegou outra pessoa que se dizia do Serviço de Informação do Exército e apresentou carteira com o nome de Eustáquio Ferreira – Sargento. Disse estar ali em nome do Coronel e que o Governo não tinha responsabilidade pelo atentado, principalmente neste período de abertura política e às vésperas das eleições. Informou haver estado na Polícia Federal e que essa de nada sabia.42

Estranhamente, a Polícia Militar chegou sem ser chamada ou avisada. As

siglas MAC e GAC correspondiam, segundo os terroristas (nunca identificados), a

Movimento Anticomunista e Grupo Anticomunista. Esse atentado ao Em Tempo teve

logo grande repercussão e despertou a solidariedade da regional de São Paulo do

Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA/SP):

Vivemos no Brasil uma situação contraditória. Enquanto o regime militar, no intuito de superar a sua crise, acena com reformas e promessas de “liberalização”, continua exercendo plenamente seu poder repressivo, com prisões, torturas e perseguições políticas. Não nos podem inspirar confiança alguma, reformas que não falam em melhorar as condições de vida de nosso povo, estabelecer suas liberdades fundamentais e na Anistia Ampla e Irrestrita aos presos e perseguidos políticos, no fim das torturas e dos órgãos de repressão que a mantém [sic]. Noutro sentido, a realidade nos mostra situações bem diferentes, que continuam mostrando o caráter repressivo do regime, como podemos ver pela manutenção arbitrária da prisão do companheiro Edval Nunes (Cajá) em Recife; pela invasão da sucursal do jornal “EM TEMPO” em Curitiba e Belo Horizonte, feitas por organismos clandestinos da repressão (CCC), que atuam ameaçadoramente na mais completa impunidade; pela invasão da sucursal do jornal “VERSUS” em Brasília e pelas prisões efetuadas também nesta cidade.43

42 A QUEM INTERESSA O TERROR? Dossiê sobre os atentados terroristas cometidos por grupos paramilitares em Belo Horizonte, 20 set. 1978, 50-Z-130-5175, APESP, Acervo DEOPS/SP. 43 COMITÊ BRASILEIRO PELA ANISTIA/SÃO PAULO. Convocatória. 1978, 50-Z-627-07-fl.49, APESP, Acervo DEOPS/SP.

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Em resposta a esse atentado e às outras arbitrariedades mencionadas no

panfleto citado, incluindo outro jornal de esquerda, o Versus, o CBA/SP convocava a

população para uma vigília na Câmara Municipal de São Paulo em 31 de julho de 1978,

pela anistia e em solidariedade aos presos políticos.

O ato durou das 20h30min até a meia-noite e contou com a presença do

advogado Luiz Eduardo Greenhalgh (cujo nome é escrito “Grenhaud” no relatório de

espionagem do DOPS/SP), que dirigiu os trabalhos em nome do Comitê Brasileiro pela

Anistia, e dos artistas Ruth Escobar, Lélia Abramo, Raul Cortez e Plínio Marcos:

[...] todos foram unânimes em protestar contra a invasão do jornal “Versus” em Brasília, e pelos atentados terroristas contra o jornal “Em Tempo” acontecidos em Curitiba e em Belo Horizonte. Também, falou-se na prisão ilegal de seis elementos do jornal “Versus” em Brasília, e a recente prisão de dois elementos que distribuíam panfleto em S. Paulo [...] 44

Um segundo atentado na sucursal de Belo Horizonte ocorreu em 18 de agosto

de 1978, desta vez causando mais prejuízos:

Segundo informações posteriores dos vizinhos, entre 2:45 horas e 3 horas da madrugada, a sucursal foi invadida e colocaram uma bomba sob ou sobre a mesa da sala de redação que, ao explodir, destruiu a própria mesa, uma máquina de escrever, os vidros da janela, a persiana, a luminária e perfurou o teto e todas as paredes laterais, além de danificar papéis e documentos ali existentes. Todas as portas de todas as dependências foram danificadas, ao que parece com outro instrumento, umas mais, outras menos, sendo que duas ficaram completamente destruídas. Uma janela que dá para a entrada da sucursal também foi arrombada. Um veículo estacionado em frente teve seu vidro lateral traseiro danificado. Foram roubados vários documentos. Um dos vizinhos chamou a Rádio-Patrulha por volta das três horas da manhã. A polícia esteve no local desde essa hora, até aproximadamente 9 horas da manhã, sem a presença de qualquer uma das pessoas da sucursal. Aliás, a primeira empregada da sucursal a chegar no local foi impedida de entrar e os policiais se negaram a dizer o que a perícia estava levando (saíram portanto vários embrulhos). Foram procurados o DOPS e a Polícia Federal — ambos responderam que de nada sabiam, sendo que o Delegado da Polícia Federal, Wilson Ramalho, afirmou que não realizava e nem realizaria perícia por não ter equipamento para tanto. Pouco tempo depois disso, no entanto, compareceram à sucursal dois agentes da Polícia Federal, Sr. Jose Osmar e Sr. Taveira, que fizeram várias perguntas e anotaram nome e endereço de três pessoas da sucursal. Disseram que não sabiam para que fim seriam utilizadas as informações ali colhidas. Foi procurada a Polícia Militar e o Capitão Gladstone

44 DOPS/SP. “Vigília” cívica na Câmara Municipal, 31 jul. 1978, 50-Z-627-923, APESP, Acervo DEOPS/SP.

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informou que a Polícia Militar estivera no local, guardando-o, até por volta das 9 horas da manhã, e que a perícia fora feita pelo Instituto de Criminalística.45

Esse atentado gerou protesto da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que

organizou um ato de repúdio em sua sede no dia 4 de setembro46. Em São Paulo,

organizou-se um ato na Faculdade de Direito da USP, com a presença de diversas

organizações, como a ABI, a Associação de Docentes da USP (Adusp), o CBA/SP, o

Teatro Ruth Escobar, o Jornal Brasil Mulher, os DCE da USP e da PUC e outros47.

O ataque em Curitiba ocorreu no dia 24 de julho e foi reivindicado por um grupo

que se autodenominou CCC, que, no que aparentava ser uma paródia às facções da

esquerda clandestina, deixou a inscrição “Ala os 233”.

Na nossa edição nº 17 publicamos parte de um documento assinado por 13 [sic] presos políticos da Penitenciária Barro-Branco [sic], São Paulo, que denunciaram seus torturadores. Trata-se de um documento minucioso, relatando mais de 20 métodos de tortura, o assassinato de 16 presos políticos e acusando 233 policiais e militares como responsáveis pela prática de torturas. Agora, num ato de desespero e tentando nos intimidar para que denúncias deste porte não sejam levadas a público, elementos do CCC invadiram a sede de nossa sucursal em Curitiba, picharam as paredes e os móveis com spray e roubaram documentos administrativos. Identificando-se claramente com os torturadores denunciados pelos presos políticos do Barro Branco, estes membros do Comando de Caça aos Comunistas picharam nossa sucursal de Curitiba com os seguinte dizeres: “CCC– Ala os 233”.48

A nota foi assinada por Tibério Canuto, diretor presidente do jornal. O

Secretário de Segurança do Paraná, General Alcindo Pereira Gonçalves, no entanto,

45 A QUEM INTERESSA O TERROR? Dossiê sobre os atentados terroristas cometidos por grupos paramilitares em Belo Horizonte, 20 set. 1978, 50-Z-130-5175, APESP, Acervo DEOPS/SP. 46 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA; EM TEMPO; SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO RIO DE JANEIRO; COMITÊ DE IMPRENSA INDEPENDENTE. Ato público. Documentos Brasil: Nunca Mais. Disponível em < http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=docbnm&pagfis=69342&pesq=&esrc=s >, acesso em 10 jan. 2015. 47 ATENTADO A BOMBA CONTRA A IMPRENSA INDEPENDENTE. Documentos Brasil: Nunca Mais. Disponível em < http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=docbnm&pagfis=69342&pesq=&esrc=s >, acesso em 10 jan. 2015. 48 EDITORA APARTE S/A. Nota Oficial Diretoria do Jornal Em Tempo. Documentos Brasil: Nunca Mais. Disponível em < http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=docbnm&pagfis=69342&pesq=&esrc=s >, acesso em 10 jan. 2015.

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afirmava que “o CCC não existia” 49. O modus operandi de tentar sufocar a imprensa de

esquerda com medidas ilegais, chegando ao terrorismo, permaneceria até o início da

década de 1980 – e, em 1980 esse jornal sofreria novo atentado à bomba. Em 1978,

antes da divulgação do “Bagulhão”, Em tempo já relatava as perseguições que sofria,

assim como outros periódicos:

No caso do recente sequestro de Juracilda Veiga, colaboradora do semanário Movimento, em Curitiba, nenhuma autoridade assumiu qualquer responsabilidade, ficando tudo por conta do misterioso “braço clandestino da repressão”. Em regra, os ataques à imprensa, aqui e ali, correm à margem das formalidades legais definidas pelo próprio regime. Na tarde do último dia 6, aparentemente por humor de seu comandante, dois soldados e um oficial do 2º Batalhão da Polícia Militar recolheram exemplares de EM TEMPO no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro e fato inédito – prenderam dois jornaleiros pelo “crime” de venderem em suas bancas um jornal independente. Isso indica que se procura pressionar os jornaleiros para que não exponham em suas bancas jornais como Repórter, Flagrante, Movimento e EM TEMPO. É isto que explica a atitude da Polícia Federal, em Fortaleza, ao chamar alguns jornaleiros que vendem EM TEMPO [...]50

A reação do terror (jamais elucidada pelas autoridades constituídas) contra a

divulgação da lista confirmava, na prática, as denúncias da carta, especialmente no

tocante à ilegalidade fundamental do sistema de repressão que, como indicava o

“Bagulhão”, incluía a tortura e o assassinato de presos comuns. Reinaldo Morano Filho

destacou a imbricação entre o Esquadrão da Morte e a repressão política:

Já em 1969, essa parcela dos presos políticos detidos no Presídio Tiradentes participou da denúncia do Esquadrão da Morte, um grupo de extermínio de presos “correcionais” (chamados de “presos comuns”, em contraposição aos “presos políticos”). A partir do contato com os correcionais ali confinados, elaboraram-se listas de nomes dos “condenados” pelo Esquadrão, a seguir encaminhadas clandestinamente à Cúria Metropolitana de São Paulo. Lamentavelmente, os presos vieram a ser assassinados. E o Esquadrão da Morte, integrado por policiais violentos, agindo na franja do submundo das drogas, foi logo aproveitado pela máquina da repressão da ditadura para a perseguição de militantes políticos.51

49 EDITORA APARTE S/A. Ao Comitê Brasileiro de Anistia CBA-SP. Documentos Brasil: Nunca Mais. Disponível em < http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocBNM&PagFis=69342&Pesq= >, acesso em 13 jan. 2015. 50 EM TEMPO. Violências contra a imprensa alternativa, n. 7, 17 abr. 1978, p. 3. Arquivo Ana Lagôa. 51 MORANO FILHO, op. cit., p. 4.

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Também neste caso, não se tratava de exagero algum dos presos políticos. De

fato, o Esquadrão da Morte, organização criminosa a que estavam relacionados

diversos crimes (o delegado Sérgio Fleury, entre outros crimes, praticava o tráfico de

drogas) integrou-se à máquina de tortura e execução da ditadura militar, que era um

regime político que se sustentava em crimes contra a humanidade e instrumentalizava,

a seu favor, outros criminosos.

A essência criminosa do regime tampouco se limitava à sua base hierárquica,

mas vinha do alto. O general francês Paul Aussaresses, que foi, oficialmente, adido

militar francês entre 1973 e 1975 no Brasil, e ministrou em Manaus cursos de tortura e

repressão para os militares, foi próximo e gozou da confiança do general Figueiredo,

que, na época chefiava o Serviço Nacional de Informações. Aussaresses, em longa

entrevista dada a Jean-Charles Deniau, com colaboração de Madeleine Sultan, afirmou

que Figueiredo (que se tornaria o último presidente da ditadura militar) dirigia os

esquadrões da morte:

– Justamente, fala-se que era Figueiredo quem dirigia os esquadrões da morte… É verdade? – Sim, certamente, mas é uma forma de falar. Não se chamavam realmente de esquadrões da morte, mas foram apresentados dessa forma.52

Como o regime era essencialmente criminoso, a ponto de os seus chefes

máximos comandarem máquinas de execução, não é de estranhar que a imprensa

tenha sido atingida pelo terror.

A denúncia de 1975 com outra que foi elaborada pelos presos do Presídio

Barro Branco, em 12 de dezembro de 1977, e também dirigida ao presidente do

Conselho Federal da OAB (nesse momento, Raymundo Faoro), foram objeto de

publicação em um caderno Presos Políticos do barro Branco, editado em 1979 em São

Paulo53. O “Bagulhão” seria ainda encaminhado pela OAB aos debates parlamentares

sobre a Lei de Anistia de 1979, com outras denúncias de presos políticos, e dele foram

52 ”- Justement, on dit que c’est Figueiredo qui dirigeait les escadrons de la Mort… C’est vrai? - Oui, bien sûr, mais c’est une façon de parler. Cela ne s’appelait pas vraiment les escadrons de la Mort, mais on l’a présenté comme ça.” (AUSSARESSES, Général. Je n’ai pas tout dit: Ultimes révélations au service de la France. Paris: Éditions du Rocher, 2008, p. 148). 53 VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly. Fome de liberdade. 2ª ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009, p. 37.

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retiradas cópias para a Comissão Mista sobre Anistia, que realizou uma visita ao

presídio de Barro Branco em 1979.

A Comissão realizou várias visitas aos presos políticos de vários Estados,

porém, em regra, com ausência dos parlamentares do partido da situação, a Arena,

que faltavam também muitas vezes aos próprios debates da Comissão. O deputado

Del Bosco Amaral, do MDB, em 9 de agosto de 1979, dirigindo-se ao presidente da

Comissão Mista, Senador Teotônio Vilela, não deixou de salientar o procedimento dos

congressistas que apoiavam a ditadura militar:

Sr. Presidente, compreendo que V. Exª., pelos deveres éticos no exercício da Presidência e pela grandeza de espírito que tem, poupe à ARENA as críticas mais contundentes e até nem dê sentido de crítica, registrando a ausência da Aliança Renovadora Nacional. Mas eu não me vejo obrigado à mesma posição e lendo os documentos atentamente, colhidos por V. Exª. durante o recesso, e lendo as manifestações vindas de Barro Branco e de outros lugares de presos políticos, entendo perfeitamente que a ARENA evita, de todas as maneiras, comparecer onde se fala de tortura, de morte, de violência em cárceres oficiais, porque o que se faz neste País deixa muito ditador da África – muito ditador de outros continentes e, possivelmente, até o falecido Duvallier – com água na boca.54

A Arena tentava também evitar o quórum para evitar as deliberações sobre a

oitiva da sociedade civil a respeito do projeto de anistia; em sete de agosto de 1979, o

partido governista apareceu enfim para rejeitar essas oitivas, que incluiriam, entre

outras organizações, a ABI, a OAB e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB)55.

Encaminhada pela OAB, e sem o nome dado pelos presos políticos

(“Bagulhão”), a carta dos presos do Barro Branco foi publicada no livro do Congresso

Nacional que recolheu os debates sobre a Lei de Anistia com outros documentos que

serviram de subsídio aos parlamentares56.

Conclusão: o legado da tortura

54 BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. COMISSÃO SOBRE ANISTIA. Anistia. Brasília: Congresso Nacional, 1982, vol. I, p. 523. 55 VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly, op. cit., p. 130. 56 BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. COMISSÃO SOBRE ANISTIA, op.cit,, vol. II, p. 500-514.

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A tortura continua a ser praticada pelas autoridades policiais. A primeira

decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos em relação ao Brasil foi uma

medida provisória em relação à Penitenciária Urso Branco, de Porto Velho (RO), em 18

de junho de 2002, para que a vida e a integridade pessoal dos presos fosse

resguardada57.

A última medida provisória da Corte Interamericana, no momento em que este

Relatório é escrito, diz respeito ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas em São Luís

(MA), também por motivo de tortura e execução de presos (com a ocorrência de

decapitação), que ganharam repercussão nacional e internacional. A medida foi

exarada em 14 de novembro de 201458.

No caso Gomes Lund (Caso Araguaia), em que o Brasil foi condenado por não

ter encontrado os corpos dos mortos na Guerrilha do Araguaia (entre guerrilheiros e

camponeses), tampouco punido os responsáveis pelas torturas, execuções e

desaparecimentos, a Corte pôde ratificar o entendimento, no Direito Internacional, de

que a proibição da tortura é um direito inderrogável, próprio do respeito à dignidade

humana, e que a anistia para os torturadores é considerada inválida:

171. Este Tribunal já se pronunciou anteriormente sobre o tema e não encontra fundamentos jurídicos para afastar-se de sua jurisprudência constante, a qual, ademais, concorda com o estabelecido unanimemente pelo Direito Internacional e pelos precedentes dos órgãos dos sistemas universais e regionais de proteção dos direitos humanos. De tal maneira, para efeitos do presente caso, o Tribunal reitera que “são inadmissíveis as disposições de

57 Esta foi apenas a primeira medida da Corte sobre a Penitenciária: “Requerer ao Estado que adote todas as medidas que sejam necessárias para proteger a vida e integridade pessoal de todas as pessoas recluídas na Penitenciária Urso Branco, sendo uma delas a apreensão das armas que se encontram em poder dos internos.” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso da Penitenciária Urso Branco. Medidas Provisórias solicitadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos a respeito da República Federativa do Brasil. Resolução de 18 jun. 2002. Disponível em < http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/urso_se_01_portugues.pdf>, acesso em 15 jan. 2015.. 58 Essa medida foi concedida após o Estado brasileiro violar medida cautelar da Comissão Interamericana para a proteção dos presos. A Corte, no primeiro parágrafo resolutivo, determinou: “Requerer ao Estado que adote, de forma imediata, todas as medidas que sejam necessárias para proteger eficazmente a vida e a integridade pessoal de todas as pessoas privadas de liberdade no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, assim como de qualquer pessoa que se encontre neste estabelecimento, incluindo os agentes penitenciários, funcionários e visitantes.” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Assunto do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Medidas Provisórias a respeito do Brasil. Resolução de 14 nov. 2014. Disponível em <http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/pedrinhas_se_01_por.pdf>, acesso em 13 jan. 2015).

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anistia, as disposições de prescrição e o estabelecimento de excludentes de responsabilidade, que pretendam impedir a investigação e punição dos responsáveis por graves violações dos direitos humanos, como a tortura, as execuções sumárias, extrajudiciais ou arbitrárias, e os desaparecimentos forçados, todas elas proibidas, por violar direitos inderrogáveis reconhecidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos”.59

O legado da impunidade das graves violações de direitos humanos cometidas

durante a ditadura militar inclui a prática da tortura. Não obstante o Estado brasileiro ter

ratificado em 1989 a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e outros

Tratamentos ou Penas Cruéis e Degradantes, celebrada em 1984, e ter finalmente

tipificado o crime de tortura por meio da lei nº 9445 de 7 de abril de 1997, a prática

continua insistente, como uma pesada sombra sobre a democracia.

Em 2007, foi ratificado o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e

Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 2002. Ele prevê

sistemas (nacional e internacional) de visitas a prisões para prevenir a prática de

tortura:

Artigo 1 O objetivo do presente Protocolo é estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 2 1. Um Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra a Tortura (doravante denominado Subcomitê de Prevenção) deverá ser estabelecido e desempenhar as funções definidas no presente Protocolo. 2. O Subcomitê de Prevenção deve desempenhar suas funções no marco da Carta das Nações Unidas e deve ser guiado por seus princípios e propósitos, bem como pelas normas das Nações Unidas relativas ao tratamento das pessoas privadas de sua liberdade. 3. Igualmente, o Subcomitê de Prevenção deve ser guiado pelos princípios da confidencialidade, imparcialidade, não seletividade, universalidade e objetividade. 4. O Subcomitê de Prevenção e os Estados-Partes devem cooperar na implementação do presente Protocolo. Artigo 3 Cada Estado-Parte deverá designar ou manter em nível doméstico um ou mais órgãos de visita encarregados da prevenção da tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (doravante denominados mecanismos preventivos nacionais).

59 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Gomes Lund e Outros (“Caso Araguaia”) vs Brasil. Resolução de cumprimento de sentença. 17 out. 2014. Disponível em < http://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/gomes_17_10_14_por.pdf >, acesso em 18 jan. 2015).

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O Decreto nº 8154 de 16 de dezembro de 2013 regulamentou o Sistema

Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. No entanto, para que tenha efetividade,

falta uma adesão maior dos Estados federados, bem como maior independência dos

Institutos Médico-Legais (para que não se repitam os laudos falsos, tão comuns na

ditadura militar), bem como uma efetiva assistência jurídica aos presos, para que é

necessário o fortalecimento das Defensorias Públicas (dos Estados e da União), que,

em nome das garantias fundamentais, não podem ser tratadas como se fossem menos

importantes do que o Ministério Público.

Em 1979, a Revista Veja publicou matéria sobre tortura, escrita por Antonio

Carlos Fon, que se refere à lista de 233 torturadores “divulgada em meados de 1978

por presos de São Paulo, acusados de atos de subversão” – na verdade, a lista era de

1975, e somente em 1978 foi divulgada pela imprensa brasileira, pelo mencionado Em

tempo. O delegado Firmiano Pacheco Neto, o número 25 da lista, foi ouvido pela

matéria e acabou pedindo para que seu nome não fosse excluído, se a lista fosse

divulgada:

“Somos como os lixeiros: ninguém gosta deles, mas todos precisam dos seus serviços. A polícia é o lixeiro da sociedade.” De que forma as acusações que lhe são feitas afetaram sua vida? “Esse é o tipo do assunto que sempre prejudica de alguma forma”, admite. “É evidente que ser chamado de torturador me prejudica com uma parcela da sociedade. Mas negar a participação também me deixa mal com outra parcela.” Pacheco medita alguns segundos e, antes de encerrar a conversa, solicita: “Olha, se você publicar a lista de torturadores, não tira meu nome não: isso pode prejudicar a minha carreira.”60

Esse orgulho na prática de crimes contra a humanidade foi um dos principais e

mais catastróficos legados da ditadura militar no Brasil, razão pela qual uma formação

em direitos humanos é necessária para as forças militares e policiais no Brasil, o que já

foi objeto de recomendação geral deste Relatório, bem como do Relatório final da

Comissão Nacional da Verdade.

60 VEJA. Descendo aos porões: A história dos órgãos de segurança, seus crimes e métodos de trabalho foi, durante dez anos, o maior tabu imposto pela censura à imprensa. 21 de fevereiro de 1979, p. 61.

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Recomendações: 1) Investigação das denúncias contidas no “Bagulhão”, para identificação dos agentes

da repressão que ainda restam a ser identificados e investigação de todos os nomes

indicados, para que sejam processados os responsáveis pelos crimes apontados;

2) Fortalecimento dos mecanismos contra a tortura, especialmente o Sistema Nacional

de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT);

3) Fortalecimento e independência funcional das Defensorias Públicas, tanto dos

Estados quanto da União;

4) Desvinculação dos Institutos Médico-Legais dos órgãos de polícia.

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ANEXOS 

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dial DIFFUSION DE L’INFORMATION

Hebdomadaire - n°287 - 4 mars 1976 - 4 FSUR L ’ A M E R I Q U E L A T I N E

170, BOULEVARD DU MONTPARNASSE

7 5 0 1 4 P A R I S - F R A M

TÉL. 3 2 0 .3 6 .2 0 C. C. P. 1 2 4 8 -7 4 N PARIS

-D 287 BRESIL: LES 151 TORTIONNAIRES DE PRISONNIERS POLITIQUES

"Nous soussignés, prisonniers politiques détenus au Péni­tencier de justice militaire fédérale, à Sao Paulo, (...)nous voyons dans l ’obligation, en tant que victimes, survivants et témoins de très graves violations des droits de l’homme au Brésil, de vous faire parvenir un rapport objectif et détail­lé sur tout ce que nous avons subi au cours des six dernières années, et sur ce que nous avons personnellement vu ou suivi durant la période récente de l’histoire de notre pays.”

C’est en ces termes que commence le très long-rapport éla­boré par trente-cinq prisonniers politiques de Sâo Paulo, le 23 octobre 1975, et adressé au président du Conseil fédéral de l'Ordre des avocats du Brésil. A travs^S l’Ordre des avo­cats, il est spécifiquement destiné, selon les propres termes du rapport, "à toutes les organisations qui s’attachent à la | défense des droits de l’homme”. L’existence - mais non le tex­te - de ce document a été signalée à l’opinion publique du Brésil dans un article publié par le journal "0 Estado de Sâo Paulo” du 20 janvier 1976 sous le titre: "Relatorio aponta violências”. Ce texte nous '‘.étant parvenu dans son intégrali­té, nous sommes à même d'en donner le résumé et d’en publier des extraits.

Dans une première partie intitulée "Méthodes et instrumente! de torture", le rapport présente les dix-neuf formes princi­pales de torture couramment utilisées; il fait 'état d’une lis te des 151 tortionnaires recensés par les victimes, et d’une autre de 82 personnes n ’ayant pas directement pratiqué la tor ture mais ayant prêté leur collaboration aux tortionnaires.La deuxième partie est consacrée aux irrégularités juridiques pratiquées au cours des différentes phases de la détention, des dépositions, du jugement et de l’accomplissement de la peine; des détails sont donnés sur les conditions d’incarcé­ration dans dix-sept centres de détention. La troisième par* tie, enfin, relate les cas de prisonniers politiques assassi­nés ou mutilés par suite des tortures pratiquées par les or­ganismes de répression. Le nombre des morts dans ces condi­tions est proche de 300; des détails vécus accompagnent la re lation de seize cas d’assassinat de prisonniers politiques.

La liste des 151 tortionnaires que nous publions ci-desscus est tirée de la première partie du rapport. Nous avons laissé les surnoms ou sobriquets dans leur version originale.

(Note DIAL)

SIGLES* OBAN: Opération pionniers (Operaçâo Bandeirantes) - CODI/DOI: Centre d’opérations pour la défense intérieure/Détachement d’opérations et d’informations - DEOPS: Département d’Etat de l’ordre-politique et social - SNI; Service national d’information - DPF: Département de police fédérale - DVS: Département de vigilance sociale (N.d.T.)D 287-1/8

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I- METHODES ET INSTRUMENTS DE TORTURE (' ---------------------------------------------------—Nous présentons maintenant une liste de noms de policiers et de mili­

taires qui font partie des organismes de répression et que nous connais­sons personnellement. Il est important de souligner que les noms ici men­tionnés sont uniquement ceux des agents que nous connaissons personnel­lement, car la liste des tortionnaires dont nous savons le nom mais que nous ne connaissons pas personnellement est évidemment bien plus grande.

Etant donné que nous nous restreignons aux organismes de répression par lesquels nous sommes passés et aux époques où nous y avons été, nous prendrons pour base, dans l’indication de la période au cours de laquelle ces agents ont fait partie de ces organismes, les dates auxquelles nous avons été leur victime* Cela ne veut pas dire que ces individus sont res­tés là uniquement durant les périodes que nous indiquons".

Par ailleurs, afin de donner une information plus complète, nous ci­terons, chaque fois que possible, les sobriquets s©us lesquels ces indi­vidus cherchent à se camoufler.

1- Nous donnons d’abord la liste des policiers et des militaires qui ont directement participé à des séances de torture au cours desquelles nous avons subi des sévices par l’application des méthodes et instruments dont nous avons donné la description plus haut. On relève les noms de:a- Tortionnaires dont nous savons le nom et sur lesquels nous avons d’au­tres renseignements (les sobriquets de ces individus sont cités entre guillement s) :1) Commandant d’infanterie de 1’Armée de terre Carlos Alberto Brilhante

Ustra - "Dr. Tibiriçâ" - chef du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1970/ 1974« Actuellement lieutenant-colonel au 9eRM, à Campo Grande.

2) Capitaine d’artillerie de l’Armée de terre Beroni de Arruda Alberraz - chef de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1969/1971. A servi auparavant au 2e GCan 90.

3) Capitaine de l’Armée de terre îtalo Rolin - chef de 1’équipe d’inter­rogatoire du C0DI/D0I(0BAN) - Professeuï* à la Fondation Getûlio Var- gas. A servi auparavant au 4e RI.

4) Lieutenant-colonel de l’Armée de terre Waldir Coelho - chef du CODI/ DOI(OBAN) dans la période 1969/1970. Affecté ensuite au commandement du BEC à Pindamonhangaba.

5) Capitaine d’intendance de l’Armée de terre Dalmo Luiz Cirilo - ’’Major Hermenegilde", "Lucio", "Garcia" - actuellement chef du CODI/DOI(OBAN) Ancien chef-adjoint de ce détachement dans la période 1969/1974. Est aujourd'hui commandant.

6) Capitaine d’infanterie de l’Armée de terre Mauricio Lopes Lima - chef de l ’équipe de recherche et coordinateur d'interrogatoires du CODI/DOI (OBAN) dans la période 1969/1971. A servi auparavant au 4e RI. A étu­dié en 197O à l'institut d’histoire et de géographie de..l'USP.

7) Commandant de 1'Armée de terre Inocêncio Fabrxcio Beltrao - du CODI/ DOI(OBAN) en 1969. Servait d'officier de liaison entre le 2e Bureaude la Ile Armée et le CODI/DOI(OBAN). Nommé plus tard attaché militai­re au Secrétariat d'Etat à la Sécurité publique de Sâo Paulo.

8) Capitaine d’artillerie de l’Armée de terre Homero César Machado - chef de l ’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1969/7*

9) Capitaine de la Police militaire de SP Francisco AntSnio Coutiriho da Silva - équipe d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans lé période 1969/1970. Actuellement commandant. A été chef de la Police de la route de l’Etat en 1973»

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10) Lieutenant de la Police militaire de SP Devanir Antônio de Castro Queiroz - "Bezerra" - coordination des équipes de recherche du GODI/ DOI(OBAN) dans la période 1970/1973* Actuellement commandant.

11) Sergent de la Police militaire de SP Paulo Bordini - "Americano", "Risadinha" - équipe A d*interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la pé­riode 1969/1971* Equipe de recherche depuis 1971«

12) Commissaire de police Otavio Gonçalves Moreira Junior - "Varejeira", "Otavinho" - Commissaire du DEOPS/SP affecté au CODI/DOI(OBAN) de 1969 au 25 février 1973« Appartenait à la coordination générale des enquê­tes et participait aux interrogatoires. A appartenu au Commando de chasse aux communistes (CCC) et à la Société brésilienne de défensede la tradition, de la famille et de la propriété (TFP).

13) Aderval Monteiro - "Carioca", "Ricardo" ~ équipe C d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1971/1972« Au second semestre de1972 a été transféré au DEOPS/SP«

14) Agent de police fédérale Maurîcio José de Freitas - "Lunga", "Lunga- reti" - équipe A d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1969/1971« Geôlier dans la période 1972/197^«

15) Inspeoteur Paulo Rosa - "Paulo Bexiga" - équipe A d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1969/1970«

16) Inspecteur Pedro Ramiro - "Tenente Ramiro" - équipe B d'interroga­toire du CODI/DOI(OBAN) depuis 1969« H a une ancre tatouée sur l’un des bras«

17) Commissaire de police Davi dos Santos Araujo - "Capitâo Lisboa" - équipe B d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1970/1971. Au milieu de 197"1 est passé à l'équipe de recherche. Actuellement af­fecté à un commissariat de la zone sud de la ville de Sao Paulo.

18) Commissaire de police AntÔnio Vilela - équipe de recherche du CODI/ DOI(OBAN) dans la période 1971/1972.

19) Premier lieutenant du Corps de pompiers de la Police militaire de SP Edson Faroro - "Bombeiro" - de l'équipe B d'interrogatoire du CODI/ DOI(OBAN) en 1970. f

20) Commissaire de police Alcides Singillo - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP dans la période 1970/1975«

2 1) Commissaire de police Cleyde Gaia - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP depuis 1970.

22) Inspecteur Henrique Perrone - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP - Chef des inspecteurs de l'équipe du commissaire Fleury depuis 1969«

23) Commissaire de police Josecyr Cuoco - chef de l'équipe d'interroga­toire du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP depuis 1970«

2k) Commissaire de police Edsel Magnotti - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP depuis 1969«

25) Commissaire de police Firminiano Pacheco Neto - du commissariat d'or­dre social du DEOPS/SP en 1969«

26) Commissaire de police Raul Ferreira - "Pudin" - du commissariat d'or­dre social du DEOPS/SP dans la période 1969/1970« Considéré comme membre de 1 'Escadron de la mort«

27) Secrétaire-greffier Samuel Pereira Borba - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP dans la période 1969/1971«

28) Inspecteur Amador Navarro Parra - "Parrinha" - du commissariat d'or­dre social du DEOPS/SP dans la période 1969/1972«

29) Inspecteur José Campos Correa Filho - "Campâo" - du commissariat d'ir- dre social du DEOPS/SP en 1969/1970« Considéré comme membre de 1*Es­cadron de la mort«

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30) Inspecteur Joâo Carlos Traili - du commissariat d* ordre social duDEOPS/SP depuis 1969« considéré comme membre de l'Escadron de la mort»

3'1) Inspecteur Antônio Lázaro Constancia - "Lazinho" - du commissariat d'ordre sooial du DEOPS/SP en 1969» Ancien professionnel de football*

32) Commissaire de police Sergio Fernando Paranho Fleury - "Comandante Barreto'1 - du CQpimissariat d'ordre social du DOPS/SP depuis 1969» Ac­tuellement titulaire du commissariat. Considéré comme le chef de 1' Escadron de la mort»

33) Commissaire de police Ernesto Milton Dias - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP en 1970. Considéré comme membre de l'Esadron de la mort*

34) Inspecteur Salvio Fernandes Monte - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP en 1970. Considéré comme membre de 1'Escadron de la mort*

33) Inspecteur Rubens de Souza Pacheco - "Pachequinho" - du commissariat d'ordre social du DEOPS/SP en 1969»

36) Lieutenant de l'Armée de terre Agostinho dos Santos Neto - chef de l'équipe de torture, du PIC du Bataillon de police de l'armée de Sao Paulo $n 1971»

37) Deuxième lieutenant de 1'Armée de terre Afonso Marcondes - du Service secret de l'armée. A servi à la caserne de Lins (SP) en 1973*

38) Commissaire de police RaUl Nogueira - "Raul Careca" - commissairedu DEOPS/SP affecté au CODI/DOI(OBAN) en 1969» A appartenu au Commando de chasse aux communistes (CCC).

39) Commandant de l'Armée de terre Gomes Carneiro - du CODI/GB en 1970» Etait lieutenant en 1968 quand il servait au 12e RI à Belo Horizonte(MG]

0 Fiúga 40) Colonel de l'Armée de terre0- chef du CODI/GB en 1973» Nommé par'la de Castro suite secrétaire d*État à la Séourité publique de l'Etat de la Guana-

bara. Actuellement général.41) Colonel d'infanterie de l'Armée de terre Eny de Oliveira Castro -

commandant le 10e BC, à Goiânia, en 1972.42) Commissaire de police Pedro Carlos Sellig - "Major" - du DEOPS/RS

dans la période 1970/ 1972»43) Inspecteur Nilo Hervelha - " Silvestre" — du DEOPS/RS dans la période

1970/197244) Enerino Baixet - "Comissário Gala" - du DEOPS/RS dans la période

1970/1972.45) Itacy Oliveira - "Mao de Ferro", "Mao de Onça" - du DEOPS/RS dans la

période 1970/1972» Est inspecteur»46) Énio Melich Coelho - "Tio Ênio" - du DEOPS/RS dans la période 1970/

1972. Est inspecteur»47) Inspecteur Omar Gilberto Guedes Fernandes - du DEOPS/RS dans la pé­

riode 1970/1972.48) Ivo Sebastiao Fischer - du DEOPS/RS dans la période 1970/1972.49) Paulo Artur — "Inspetor Eduardo", "Maneco" — du DEOPS/RS en 1970»

Sert dans plusieurs autres organismes de répression dans d'autres Etats50) Inspecteur Luiz Carlos Nunes - du DEOPS/RS dans la période 1972.5 1) Commandant de cavalerie de l'Armée de terre Dinalmo Domingos - chef

de l'équipe de torture à la 7e Cie de Gardes de Recife en 1964.52) Capitaine d'artillerie de l'Armée de terre Bismarck Baracux AmSncio

Ramalho, de la 7e Cie de Gardes de Recife en 1964.53) Inspecteur Luiz da Silva - du Secrétariat d'Etat à la Sécurité pu­

blique de Pernambuco en 1963»54) Inspecteur Abxlio Pereira - du Secrétariat d'Etat à la Sécurité pu­

blique de Pernambuco en 1963»53) Commissaire de police Tacir Menezes Sia - du DVS(ex-DEOPS) du Minas

Gérais dans la période 1964/1970»

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56) Général de division. Antônio Bandeira - du PIC de Brasilia dans la période 1970/1973» Commandant la 5e Brigade d'infanterie de Brasilia. Directeur du DP]? en 1973» Actuellement chef du 4e RM de Juiz de Fora(MG

57) Commissaire de police José Xavier Bonfim - du DPF/Goias depuis 1964. Chef actuel de ce Département.

58) Commissaire de police Jesús Fleury - du DPF/Goias dans la période1964/1972.

59) Capitaine d*infanterie de l’Armée de terre Sergio Santos Lima - du 10e BC/Goiás en 1972.

60) Capitaine de la Police militaire du Piaui Astrogildo Pereira Sampaio- Directeur du DOPS/Piaui dans la période 1968/1969.

k“ Tortionnaires dont nous ne savons pas le nom complet ou que« très sou­vent, nous ne connaissons que par leur sobriquet, et sur lesquels nous avons quelques renseignements:6 1) Capitaine d'artillerie de l’Armée de terre Orestes - "Capitao Ronal-

do", "Faria" - chef de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1971/1973» Officier de la promotion de 1957« Est ac­tuellement commandant.

62) "Edgar" - de l’équipe d'analyse du CODI/DOI(OBAN) depuis 1972. En 1971 utilisait le nom de "capitao Anxiré" et participait aux interro­gatoires dans ce détachement. Est capitaine de l’Armée de terre.

63) "CristSvao" - de l’équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) en 1971»64) "Dr Nei" - chef d’enquête et d’analyse du CODI/DOI(OBAN) dans la pé­

riode 1972/1973»65) "Bismark" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans

la période 1972/1973» Est officier de marine.66) "Capitao Castilho" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN)

dans la période 1971/1973»67) "Âtila" - chef de l’équipe C d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN)en 197268) "Caio", "Alemao" - équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) en 1971» E—

quipe A d’interrogatoire dans la période 1972/1974. Commissaire de po­lice» _ '

69) "Capitao Homero" - chef de l’équipe C d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN) en 1974» Il ne s’agit pas d’Homero César Machado cité au n°8)»

70) "Douglas" - de l ’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) en 1974»71) "Galvâo" - de l’équipe d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) en 1974»72) Commissaire de police Raul - de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/

DOItOBAN) dans la période 1969/1970» A déjà été commissaire de police à Sao Carlos (SP)»

73) Secrétaire-greffier Saeta - "Mangabeira" - de l’équipe C d’interro­gatoire du CODI/DOI(OBAN) depuis 1969»

74) "Capitao Lisboa" - chef de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN) en 1971» H ne s'agit pas du commissaire de police Davi dos Santos Araújo cité au n° 17)de cette liste.

75) "Pedro", "DKV" - geôlier et interrogateur au CODI/DOI (OBAN). dansla période 1970/1971» Est soldat de la Police militaire de Sâo Paulo.

76) Soldat de l'Armée de l’air Roberto - "Padre", "Bento" - geôlier au CODI/DOI (OBAN) dans la période 1969/1971. Passé ensuite à l'équipe B

d’interrogatoire de ce détachement, où il est resté jusqu'en 1972.Est aujourd'hui caporal. Membre du Commando de chasse aux communistes.

77) "Casadei", "Muniz", "Altair" - geôlier de l’équipe B du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1972/1974. Etait en 1971 de l'équipe de recherche dece même organisme.

78) "Dr José" - chef de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 197^/1974.

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79) "Jacó" - de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN) dans la période *197'l/'î97̂ *• Est caporal de l’Armée de l’air.

80) "Ênio", "Matos" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN) en 1971. En 1972 est passé à l’équipe A d’interrogatoire. Est lieute­nant de la Police militaire de Sâo Paulo.

81) "Dr Jorge" - chef de l’équipe C d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la.-période 1972/1974.

82) "Capitao Paulo" - chef de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) an 1974. Est capitaine de l’Armée de terre. Descendant de coréen.

83) "Durekll - de l’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN) en 1974*84) "Capitao Ubijara" - chef de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI

(OBAN) depuis 1972» Est capitaine de l’Armée de terre.85) "Tenente Samuel" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI (OBAN)

en 1974*86) "Dr Nobaro", "Kung Fu" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI

(OBAN) en 1974« Est descendant de japonais.8?) "Capitao Amici" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN)

dans la période de février 1971 à février 1972.88) Dirceu - "Jesus Cristo", "JC" - de l’équipe A d’interrogatoire du

CODI/DOI(OBAN) dans la période 1971/1972« A auparavant été photographe et auxiliaire d’interrogatoire au DEOPS/SP en 1970.

89) Sergent de l’Armée de terre Carlos - "Mario" - de l’équipe C d’inter­rogatoire du CODI/DOI (OBAN) dans la période 1972/1974. En 1971 a été chef de recherche. Champion de tir à la cible en tournoi militaire. Originaire du Rio Grande do Sul.

90) "Tenente Formiga" - de l’équipe C d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) en 1970 et 1971«

91) Deuxième lieutenant de l’Armée de terre Portugal - du PIC du Batail­lon de police militaire de Sâo Paulo. Commandant, à titre intérimaire, le Peloton en 1971.

92) Sergent de l’Armée de terre Chaves - du PIC du Bataillon de police militaire de Sâo Paulo en 1971«

93) ’’Oberdan", "Zé Bonitinho" - de l’équipe C d’interrogatoire du CODI/ DOI(OBAN) depuis 1970. Originaire du Ceara. /

94) Soldat de la Police militaire de Sâo Paulo Mauricio - "Alemâo" - geSlier auxiliaire et auxiliaire d’interrogatoire de l’équipe C du CODI/DOI(OBAN) depuis 1970. A résidé à-Osasoo.

95) Capitaine de la Police militaire de Säo Paulo Tomaz - "Tiburcio" —de l ’équipe A d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1969/ 1970. En 1971 est devenu coordinateur des équipes de recherche.

96) "Peninha" - secrétaire-greffier du CODI/DOI(OBAN) et geôlier subs­titut en mars 1973»

97) Agent do la Police fédérale Américo - affecté au CODI/DOI(OBAN) en 1969, dans l’équipe d’interrogatoire. A plus tard été chef des geô­liers au DPF/SP.

98) "Maréchal" - geôlier de l’équipe C du CODI/DOI(OBAN) depuis 1969*99) "Dr Tomé", "Capivara", "Gaguinho" - de l’équipe A d’interrogatoire

dt CODI/DOI(OBAN) dans la période 1970/1974.100) "Capitao Cabrai" - de l’équipe B d’interrogatoire du CODI/DOI(OBAN)

en 1973« En 1974 est passé à l’équipe C.101) "Indio" — infirmier de l’équipe B du CODI/DOI(OBAN) dans la période

1970/1974. Appartient à l’Armée de terre. Originaire du Acre.102) Marteli - infirmier de l’équipe A du CODI/DOI(OBAN) dans la période

1971/ 1974. Appartient à l’Armée de terre.103) "Zorro" - du DEOPS/SP en 1971« Est inspecteur de police*

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104) Inspecteur Marcio - du DEOPS/SP en 1971*105) Inspecteur Luiz - du DEOPS/SP en 1971«106) "Finos" - du DEOPS/SP en 1971» Est inspecteur de police*107) "Carlinh.os Metralha" - de l'équipe d'inspecteurs du commissaire

Fleury au commissariat d’Ordre social du DEOPS/SP depuis 1969*108) "Gauchâo" - chef dés inspecteurs du DEOPS/SP en 1969*109) Caporal do l'Armée de terre Gii - geôlier du CODI/GB en 1970.110) Colonel de l'Armée de terre Zamich - commandant le CODI/GB en 1970.111) Solimar - du CENIMAR/GB depuis plusieures années. Officier de marino.112) Caporal de l'Armée de terre Lelis - recruté pour le CODI/GB quand

il servait au Bataillon de police militaire de la Guanabara en 1970. Originaire de l'Etat de Santa Catarina.

113) "Baiano" - inspecteur du DEOPS/GB affecté au CODI/GB en 1970*114) "Fiavio", "Roberto" - du CODI/GB en 1970. Est venu à Sâo Paulo en

1973 où il a assumé le commandement du "Groupe spécial4' du CODI/DOI (OBAN). Ce groupe cumule les fonctions d'interrogatoire, d'analyse, d’investigation et de capture. Est capitaine de 1 *Aimée de terre.

113) Inspecteur Pires - du BOPS/RS dans la période 1970/1972.116) "Tonho", "Catarina", "Goulart" - du BOPS/RS dans la période 1970/

1972.117) Inspecteur César - "Chispa" - du DOPS/RS dans la période 1970/1972*118) Inspecteur Cardoso - "Casdasinho" - du DOPS/RS dans la période

197O/1973.119) "Chapéu" - du DOPS/RS dans la période 1970/1972. Est inspecteur de

police*120) Inspecteur Joaauim - Du DOPS/RS dans la période 1970/1972*121) Melo - du DOPS/RS' dans la période 1970/1972.122) Commandant de l'Armée de terre Âtila - du Centre 3*information

de l’araée (CIEX)/RS. Actuellement au SNI à Brasilia*123) Lieutenant de l'Armée de terre Fleury - du 3e REC MEC da Porto Alegre

(RS), dans la période 1970/1972.124) Inspecteur Felipe - "Boco Moco" - du DOPS/RS dans la période 1970/

1972* ̂ j123) Capitaine de l'Armée de terre Orlando - du 12e RI de Belo Horizonte

(MG) en 1968.126) Inspecteur Frederico - du DVS (ex~D0PS)/MG dans la période 1964/1970*127) Secrétaire-greffier Ariovaldo - du DVS(ex-DOPS)/MG en 1968.128) Sergent de l'Armée de terre Arraes - de la caserne de Lins(SP) en

1973.129) "Piaui" - du C ODI/Brasilia en 1972.130) "Bugre" - du PIC du Bataillon de police militaire de Brasilia en

1972* Est lieutenant de l'Armée de terre.131) Caporal de l’Armée de terre Torrezen - du PIC du Bataillon de police

militaire de Brasilia en 1972.132) Caporal de l'Armée de terre Martins - du PIC du Bataillon de police

militaire de Brasilia en 1972.133) Caporal de l’Armée de terre Calegârdo - du PIC du Bataillon de po­

lice militaire de Brasilia en 1972.134) Sergent de la Polioe militaire de Goiâs Marra - commissaire de po­

lice à Xambioâ (GO) en 1972.135) Commandant de l’Armée de terre Othon - commandant le PIC du Batail- ' .Ion de police militaire de Brasilia en 1972.136) Sergent de l’Armée de terre Vasconcelos - du PIC du Bataillon de po­

lice militaire de Brasilia en 1972.

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137) Sergent de l'Armée de terre Ribeiro « du PIC du Bataillon de police militaire de Brasilia en 1972«

138) Capitaine de 1*Armée de terre Madruga - "Meireles" - du PIC du Ba­taillon de police militaire de Brasilia en 1972*

139) Caporal de 1 *Armée de terre Egon - du PIC du Bataillon de police militaire de Brasilia.

140) Capitaine Magalhâes, parachutiste de l1Armée de terre - de la Bri­gade de parachutistes de Rio de Janeiro. Chargé de l'activité répressive dans la région de Xaraboia (GO) en 1972*

141) Caporal de l'Armée de terre Nazareno - du PIC du Bataillon de poli­ce militaire de Brasilia en 1972.

142) Sergent de l'Armée de terre Avro - du 10e BC de Goiânia(GO) en 1972*143) "Rubens" - de l'équipe A d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans la

période 1972/1974*144) "Romualdo" - de l'équipe B d'interrogatoire du CODI/DOI(OBAN) dans

la période 1973/1974*145) Malhâes - du Centre d'information de l'armée (CIÉX)/RS, avec des ac­

tivités dans d'autres Etats, dans la période 1970/1972* Est officier de l'Armée de terre.

146) "Turco" - de l'équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1972/1974 et également geôlier auxiliaire* Est soldat de la Police militaire de Sao Paulo.

147) "Satanas" - de l'équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) dans la pé­riode 1971/1972* A aussi collaboré aux séances de coups*

148) "Santana" - de l'équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) dans la pé­ri ode- 1971/1 973. Collabore aussi aux sévices.

149) "Leao" •» chef de l'équipe de recherche du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1971/1972* „

150) Soldat Souza, de la Police militaire de Sao Paulo - geôlier auxiliai­re du CODI/DOI(OBAN) dans la période 1971/1972.

151) Sergent Ferronato, de l'Armée de terre - de la caserne de Lins (SP) en 1973* *

2- Nous donnons en second lieu la liste des autres policiers et mili­taires que nous connaissons personnellement dans les organismes de ré­pression et qui y remplissent différentes fonctions relevant toutes du schéma de torturés en vigueur dans ces organismes, et qui, par suite des circonstances, n'ont pas directement participé aux sévices dont nous a- vons été victimes* De toute façon, leur collaboration effective avec la pratique de la torture est sans équivoque, et ils ne peuvent être exempts d'une responsabilité directe dans l'existence et les activités des orga­nismes répressifs: s

(Suite une liste de 82 personnes)

(Traduction DIAL — En cas de reproduction, nous vous serions obligés d'indiquer la source DIAL)

Abonnement annuel: France 140 F - Etranger 160 F(avion: tarif spécial)

Directeur de la publication: Charles ANTOINE Imprimerie: DIAL, 170 Bd du Montparnasse, 75014 Paris Commission paritaire de presse: n° 56249

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-RELATÓRIO DA I V REUNI AO ANUAL DO COMITÊ DE SOLIDA­

RIEDADE AOS REVOLUCIONÁRIOS DO BRASIL©

I - INTRODUÇÃO

I I - MAIS "DESAPARECIDOS"

I I I - NOVAMENTE A JPARSA DOS SUICÍDIOS

I V - O "BRAÇO CLANDESTINO DA REPRESSÃO"

V - IDENTIFICAÇÃO DOS TORTURADOS

V I - CONCLUSÃO

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# \ - I U T R O S U Ç A O

Conseguindo s u p e r a r obstáculos apa r en t emen t e i n t r a n s p o n í v e i s , r e u n i u - s e em a l gum p o n t o do p a i s , p e l a q u a r t a vez em q u a t r o anos , o Comitê de SoljL dar iedâne aos Revo luc i oná r i o s do B r a s i l e

Em f e v e r e i r o de 1 9 7 3 consumou-se n o s s a p r i m e i r a r eun ião , c u j o r e l a t ó r i o dos t r a b a l h o s f o i endereçado e s p e c i a l m e n t e aos i n t e g r a n t e s da Conferênc ia N a c i o n a l dos B i s p o s do B r a s i l , em vésperas de se r e u n i r e m n a c a p i t a l p a u ­l i s t a p a r a d i scussão , e n t r e o u t r o s ternas, do p r o b l e m a dos D i r e i t o s Huma­nos n o p a i s *

Nesse r e l a t ó r i o co l i g íamos 28 casos de p r e s o s o o l í t i c o s a s s a s s i n a d o s sob t o r t u r a e descrevíamos cada e p s o d i o com t o d a s as minuciías. A esse r o l a c r e s c e n t amamos a c i t a ção de numerosos o u t r o s r e v o l u c i o n á r i o s b r a s i l e i r o s c^^c,üo.L,....-.o~ p . l c o o -bb i r ros cia d i t a d u r a m i l i t a r o, Imalmente, uma s i n t e — t i c a d e s c r i ç ão de a l g u n s dos p r i n c i p a i s i n s t r u m e n t o s e métodos de t o r t u r a u t i l i z a d o s p e l o a p a r e l h o de r epressão p o l i t i c a oue a t e r r o r i z a o povo b r a -s i l e i r o * »

Doze meses d e p o i s , em alguma l o c a l i d a d e do t e r r i t ó r i o n a c i o n a l , d e s a f i á ­vamos, novamen te , a d i t a d u r a dos m i l i t a r e s f a s c i s t a s e nos reuníamos p o r tempo r e l a t i v a m e n t e mais p r o l o n g a d o , c onsegu indo e l a b o r a r um r e l a t ó r i o ma is l o n g o , s u b s t a n c i o s o e r i c o em novos dados , t r a z i d o s a t é nós p o r e l e ­mentos que , mesmo v i n c u l a d o s p r o f i s s i o n a l m e n t e a maqu ina m i l i t a r de s u s ­t en tação do r e g i m e , nao se t i n h a m d e i x a d o c o r r ompe r e m a n t i v e r a m p o s t u r a de d i g n i d a d e p a t r i ó t i c a p e r a n t e os f a s c i s t a s ocupantes do poder<> C t r a b a l h o f o i d e d i c a d o ao T r i b u n a l B e r t r a n d R u s s e l e i n c l u i a d e t a l h a d a explanação s o ­b r e o " S i s t e m a N a c i o n a l de Repressão P o l í t i c a " , com o p a p e l n e l e r e p r e s e m -t a d o p e l o s o rgan i smos de cúpula, como o S N I , o C 8 N e o EMPA, i n d o a t e a d e s c r i ç ã o do f u n c i o n a m e n t o i n t e r n o do GODI/DOI, sem esouece r o desempenho dos g r u p o s p a r a m i l i t a r e s f a s c i s t a s t i p o CCC, TFP, FAU e MAC, e também dos DOPS e DPP de cada E s t a d o 0 Em s e g u i d a descrevemos novamente a l g u n s dos p r i n c i p a i s métodos de t o r t u r a , com mais pormenor i zações , e r e l a c i o n a m o s , p e l a p r i m e i r a v e z , uma l i s t a com nomes de mandantes e e x e c u t o r e s de t o r t u r a s i g u a l m e n t e r esponsáve i s p e l o s i g n o m i n i o s o s c r i m e s que vem sendo p e r p e t r a ­dos c o n t r a a Pessoa Humana n o B r a s i l « S a metade f i n a l do l o n g o r e l a t ó r i o É de 9 6 p a g i n a s e r a v o l t a d o , ma is uma v e z , p a r a a d e n u n c i a de numerosos a s ­s a s s i n a t o s de p r e s o s p o l í t i c o s , sempre i n c o r p o r a n d o dados novos ao Re­l a t ó r i o o Ass im e r a i n t r o d u z i d o , d e s t a f e i t a , o i t e m r e f e r e n t e aos r e v o l u c i o n a r i o s a s s a s s i n a d o s p e l o r e g i m e m i l i t a r : " T o r t u r a d o s a t é a m o r t e , f u z i l a d a s u m a r i a m e n t e ou a s s a s s i n a d o s em combate , esses p a t r i o t a s vencem a d e r r a ­d e i r a b a t a l h a de suas v i d a s , d e r r o t a n d o seus t o r t u r a d o r e s e a s s a s s i n o s p e l o a t o de n a d a i n f o r m a r , de nao se r e n d e r , de nao t r a i r a l u t a do povo b r a s i ­l e i r o * , Por i s s o , e p e l a ded icação i n t e g r a l de s u a e x i s t ê n c i a à causa que a -braçam, serão sempre l embrados p e l o h o j e e x p l o r a d o povo b r a s i l e i r o e p o r t o d o s os povos i n i m i g o s da op r e s são " .

Em f e v e r e i r o de 1 9 7 5 , a i n d a sob acordes da m a l o r o u e s t r a d a f a r s a da " r e a b e r ­t u r a p o l i t i c a " , e s t e Comitê r e a l i z a v a s e u t e r c e i r o encon t r o * . D e s f a l c a d o de a l g u n s dos p a r t i c i p a n t e s das reuniões a n t e r i o r e s , n o s s o o r gan i smo nao á o f r e r a , n o e n t a n t o , q u e b r a em s u a capac idade operac iona l *> Na o cas i ão , a l -gunâ i n c a u t o s a i n d a a c r e d i t a v a m nas manobras demagógicas c a p i t a n e a d a s p e l o

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n o v o d i t a d o r - c h e f e e s e u c a m a r e i r o da Gasa C i v i l e, p o r i s s o , a a p r e s e n t a ­ção do I I I ? R e l a t ó r i o d e s c o r r i a : " Às promessas de " r e a b e r t u r a ^ ' c o r r e s p o n d e u , n a p r á t i c a , um m a i o r a p r i m o r a m e n t o da ação r e p r e s s i v a dos orgaos m i l i t a r e s p o l i c i a i s d e s s i m i n a d o s p o r t o d o o B r a s i l . Longe de d i m i n u i r a v i o l ê n c i a de s u a p o l í t i c a r e p r e s s i v a d i r i g i d a c o n t r a t o d o o povo b r a s i l e i r o , c u i d o u a d i ­t a d u r a f a s c i s t a de c a m u f l a r - ou m e l h o r , de t e n t a r c a m u f l a r - mais a i n d a a s u a atuação c r i m i n o s a . Ao desmedido s i g i l o que j a e n c o b r i a o a p a r a t o r e p r e s s o r do E s t a d o , v e i o somar -se a adoção, a g o r a quase como r e g r a sem exceção , de um método an t e s u t i l i z a d o a c e s s o r i a m e n t e nas i n v e s t i d a s c o n t r a p a t r i o t a s e r e v o l u c i o n á r i o s ; o s e q u e s t r o , a s s a s s i n a t o e d e s a p a r e c i m e n t o do cadáver de m u i t o s dos que se opõem de f o r m a consequen te a d i t a d u r a m i l i t a r <> Ass im p r o ­cedendo, os m i l i t a r e s n o pode r t e n t a m a p r e s e n t a r ao mundo as maos l i m p a s de sangue dos que se i n susgem c o n t r a o r e g i m e de exp loração e opressão v i ­g e n t e n o B r a s i l . Essa t e n t a t i v a se i n s e r e no c o n j u n t o de manobras p o l í t i c a s t e n d e n t e s a m o s t r a r que a d i t a d u r a e s t a r i a se abrandando g rada t i vamente " »

0 pa í s v i v i a , en tão , o drama de dezenas de f a m í l i a s que p r o c u r a v a m seus p a ­r e n t e s d e s a p a r e c i d o s , numa pereg r inação in t e rm ináve l p e l a s p o r t a s de t o d a s os cá rce res p o l i t i c o s , de t o d o s os o r gaes c onhec i dos de r e p r e s s ã o , p o r t o ­das as a u t o r i d a d e s r esponsrave i s p e l a s p r i s õ e s de o p o s i t o r e s ao r e g i m e * A a n g u s t i a dessas f a m í l i a s e r a a s s i m p i n t a d a p o r A l c e u Amoroso L i m a , em a r t i ­go de j o r n a l : " Ha n e s t e momento,no B r a s i l , sem que s eoue r se p o s s a c i t a r -l h e s os nomes, ao l a d o de n o s , dezenas de l a r e s e n e l e s c en t enas de c o r a ­ções que s o f r e m em s i l ê n c i o a t r a g e d i a da e s p e r a , da d u v i d a ^ o b r e a v i d a ou a m o r t e dos seus mais q u e r i d o s . Sao p a i s , i rmãos , n o i v a s , m u l h e r e s , quem s a ­be m a r i d o s , que esperam s u r g i r o A u s e n t e , de um momento p a r a o u t r o , sempre que se ab re a p o r t a da r u a . Ou sonham com a cena, nos i n t e r v a l o s das i n s ó ­n i a s . Ou p i o r a i n d a , quando as p o r t a s em que b a t e m , os cansados de e s p e r a r , se f e cham de t o d o ou ma l se e n t r e a b r e m * ( o «> o ) Ate quando haverá n o B r a s i l , mu l h e r e s que nao sabem se são v i u v a s ; f i l h o s que não sabem se são ór fãos ; c r i ­a t u r a s humanas que b a t e m em vão em p o r t a s i m p l a m a v e l m e n t e f e c h a d a s , de um B r a s i l , q u e julgávamos ingenuamente isenifco de t a i s c r u e l d a d e s ? "

Sendo a s s i m , embora cuidássemos de a p o r também a l g u n s dados s o b r e a " E s t r u ­t u r a e f u n c i o n a m e n t o do A p a r a t o de Repressão " , s o b r e os "Métodos e I n s t r u ­mentos de T o r t u r a " e completássemos o e x t e n s o r o l de t o r t u r a d o r e s com novos nomes, a essênc ia do I l i s R e l a t ó r i o e s t a v a v o l t a d a p a r a a questão dos "desa— p a r e c i d o s " , e as c o r a j o s a s e incansáve i s f a m í l i a s desses combaten tes h e r ó i ­cos e r a d e d i c a d o o nosso t e r c e i r o e n a o n t r o 0

Concluímos a g o r a n o s s a 4 — Reunião, num momento em que j a se e n c o n t r a l e t a l -mente a b a l a d a a f a r s a da " d i s t e n s ã o " g e i s e l i a n a . Às f a l a s e n v o l v e n t e s que p r o m e t i a m r e a b e r t u r a l e n t a , g r a d u a l , mas s e g u r a , sucederam-rse d i s c u r s o s d u ­r o s e d i r e t o s , que a g i r a m como duchaB de agua g e l a d a no a r d o r dos que se d e i x a r a m a r r a s t a r p e l a s promessas i l u s ó r i a s .

O A t o I n s t i t u c i o n a l n ^ 5 , aberração j u r í d i c a que e s c a n d a l i z a a c onsc i ênc i a da op in ião p u b l i c a do mundo t o d o , nao permaneceu r e c o l h i d o à g a v e t a p r o m e t i ­da p e l a n o v a e q u i p e de d i t a d o r e s , mas v o l t o u à r u a , n o mês -passado, com t o ­da s u a abominável p o t e n c i a , a t i n g i n d o d o i s p a r l a m e n t a r e s p a u l i s t a s , que o u ­saram u l t r a p a s s a r o- l i m i t e e s t r e i t o da " c r í t i c a p e r m i t i d a " . E as cassações v o l t a r ã o a o c o r r e r , sem sombra de d u v i d a , t o d a vez que o mesmo l i m i t e i n d e f i ­n i d o f o r c o n s i d e r a d o d e s r e s p e i t a d o . , F a l a - s e a b e r t a m e n t e em d i s so lução dos p a r t i d o s p o l í t i c o s e x i s t e n t e s , f o rmados p e l o p r ó p r i o r e g i m e em 1 9 6 5 o

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P r o p a g a n d e i a - s e , às c l a r a s , a incorporação do A I - 5 à Cons t i tu i ção v i g e n t e sem v i g ê n c i a , e também em transformações das " e l e i ç õ e s " e s t a d u a i s d i r e t a s de 1 9 7 8 ^ em i n d i r e t a s o No campo^mais i n t i m a m e n t e v i n c u l a d o aos d i r e i t o s h u ­manos, as p r i s õ e s de r e v o l u c i o n á r i o s e d e m o c r a t a s , as t o r t u r a s , -pouca a l t e ­ração 'houve n o panorama» No campo dos o p r e s s o r e s f a s c i s t a s o f a t o a ovo f o i " a inauguração, oii ma is p r e c i s a m e n t e , s u a ev idenc iaçao a informação p u b l i c a , de um macabro "Braço C l a n d e s t i n o da Repressão " , que s e r a d e s c r i t o n e s t e r e ­l a t ó r i o o No campo o p o s t o , a c a r a c t e r í s t i c a de m a i o r v u l t o f o i o p u j a n t e avan­ço da g r i t a p o p u l a r c o n t r a o e s t a d o de c o i s a s i m p e r a n t e e coa j t ra os c r i m e s que se r e p e t e m c r e s c e n t e m e n t e nos anos da d i t a d u r a m i l i t a r . Esse c l amor v e i o à l u z mais n i t i d a m e n t e nos e p i s ó d i o s , em quase t u d o i d ê n t i c o s , de a l g u n s a s s a s s i n a t o s n o CODI/DOI de Sao P a u l o *

S i m b o l i z a n d o t o d o s os r e v o l u c i o n á r i o s e democra tas a s s a s s i n a d o s nos ú l t imos 0 a

doze meses, c o n h e c i d o s ou nao seus nomes, dedicamos e s t e R e l a t ó r i o da 4 — Re­união A n u a l do Comitê de S o l i d a r i e d a d e aos Revo luc i onár i o s do B r a s i l a memo­r i a de V l a d i m i r H e r z o g , r e p r e s e n t a n t e k e r o i c o dos j o r n a l i s t a s compromet idos com a v e rdade o

I I - M A I S "DESAPARECIDOS"

O B r a s i l a i n d a v i v i a ecos do p r o t e s t o n a c i o n a l c o n t r a ff " d e s a p a r e c i m e n t o " de numerosos p a t r i o t a s , p r o t e s t o quedesmascarara as -promessas m e n t i r o s a s do G-eneral G o l b e r y e l e v a r a o M i n i s t r o Fa lcão a p u b l i c a r c i n i c a n o t a o f i c i a l p e l a i m p r e n s a - f a t o s j á abordados em nosso r e l a t ó r i o do ano passado - , e o u t r o s democra tas b r a s i l e i r o s eram a t i n g i d o s p e l o ^ a p a r e l h o r e p r e s s i v o de ma­n e i r a a b s o l u t a m e n t e i d ê n t i c a à dos dezenove cidadãos c u j o - p a r a d e i r o v i n h a sendo t ão i n s i s t e n t e m e n t e p r o c u r a d o p e l o s f a m i l i a r e s e e n t i d a d e s i n t e r e s s a ­das n a p rese rvação dos D i r e i t o s Humanos„

Com e f e i t o , a i n d a r e p e r c u t i a m . a s c r í t i c a s a m e n t i r o s a r e s p o s t a dada p e l a d i t a d u r a m i l i t a r a t ravés de s e u M i n i s t é r i o da J u s t i ç a , e os mesmos anúncios de j o r n a i s v o l t a v a m às p a g i m a s , estampando f o t o s e nomes de pessoas que h a v i ­am d e s a p a r e c i d o m i s t e r i o s a m e n t e de seus l a r e s , a s s i n a d o s p o r p a r e n t e s d e s e s ­p e r a d o s , que i n f o r m a v a m , em algumas n o t a s , t r a t a r - s e a pessoa " d e s a p a r e c i d a " de c idadão que h a v i a s o f r i d o pe rsegu ições a n t e r i o r e s , em v i r t u d e de s u a opo ­s i ç ã o ao r e g i m e f a s c i s t a que opr ime o nosso pov/o© Aos dezenove p a t r i o t a s c o n s t a n t e s da l i s t a d i v u l g a d a a t e então p o r seus f a m i l i a r e s e p o r e n t i d a d e s democrát i cas , deve -se a c r e s c e n t a r p e l o menos os s e g u i n t e s nomes:

l o BfiSON COSTA - Eni r e l a ç ã o ao r e f e r i d o p a t r i o t a , ampl iamos a d i vu l gação do desespe rado a p e l o f e i t o p o r s u a esposa , que c o n s t a de uma n o t a mandada p u ­b l i c a r em p e r i ó d i c o s da c i d a d e de São P a u l o n o f i n a l da 1 — q u i z e n a de março. Acompanhada de uma f o t o de r o s t o de E l s o n , d i z i a a n o t a : PESSOA BES APARECI D A-E n c o n t r a - s e d e s a p a r e c i d o , sem nenhum m o t i v o de ordem p e s s l a o , desde o d i a 1 5 de j a n e i r o , o S r 0 E l s o n C o s t a , f i l h o de João Soares da Cos ta e M a r i a de Novaes C o s t a , n a t u r a l de P r a t a , Es tado de Minas G-erais, n a s c i d o a 26 de Acos t o de 1 9 1 3 o Respondeu d i v e r s o s p r o c e s s o s p o l í t i c o s e e r a c o n h e c i d o t a m ­bém p e l o nome de Manoe l Souza Gomes, Segundo a v i z inhança onde morava , a r u a T i m b i r a s , 1 9 9 , Santo Amaro, f o i d a l i r e t i r a d o p o r um g r u p o de pessoas e c o l o c a d o num aotomotoel© Foram i n ú t e i s , a t e a g o r a , as d i l i g e n c i a s emprega­das p a r a d e s c o b r i r s e u p a r a d e i r o j u n t o as A u t o r i d a d e s M i l i t a r e s , DEOPS, Su— p e r i o r T r i b u n a l M i l i t a r e M i n i s t é r i o da J u s t i ç a . Sua m u l h e r , d e s e s p e r a d a , age i a p a r a as a u t o r i d a d e s de t o d o o pa í s p a r a que a judem-na a d e s c o b r i r s e u

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s e u m a r i d o , podendo q u a l q u e r informação s e r f o r i i e c i d a p a r a a r u a Paes de A r a u j o , 3 1 , I t a i n u Sao P a u l o , 10 de mar~§o de 1 9 7 5 . Olgae de Souza C o s t a ,

2o JOSE MONTENEGRO BE LIMA - ( ? ) 30 de setembro» 0 S e c r e t a r i a d o Permanente d< de nosso Comitê r e c e b e u car tão e n v i a d o do Exte—

r i o r e p u b l i c a d o p e l a Federação Mui d i a l da J u v e n t u d e Democrát ica, t r a z e n d o uma f o t o de Jose Monteneg ro e, no v e r s o , i m p r e s s o s em c a s t e l h a n o , os d i z a r e s -:" 0 a p a r e l h o de segurança do g o v e r n o b r a s i l e i r o s e a u e s t r o u o e x - d i r i g e n t e , e s t u d a n t i l Jose Monteneg ro de L i m a . Pedomos- lhe d e n u n c i a r esse a t o a r b i t r á ­r i o p a r a i m p e d i r s e u assass ina to » A l u t a p e l a l i b e r t a ç ã o de Jose Monteneg ro de L ima se rá uma con t r i bu i ção i m p o r t a n t e n a l u t a p e l a l i b e r t a ç ã o i m e d i a t a de t o d o s os p a t r i o t a s p r e s o s p o r r a z o e s p o l i t i c a s n o B r a s i l " o

3 « JAIME AMORIM DE MIRANDA.

4 o IRAN PEREIRA

5 * .ARMANDO ffRUTUOSO

Sobre os t r e s p a t r i o t a s c i t a d o s ac ima nao se ob t e v e mais in formações a t e o momento, além do t e s t emunho de pessoas l i g a d a s às f a m í l i a s e que puderam comprovar que t o d o s e l e s f o r a m p rS se s - s e o u e s t r a d o s • p e l o s órgãos de s e ­gurança d u r a n t e o ano de 1 9 7 5 o

A l é p desses 5 b r a s i l e i r o s p r e s o s d u r a n t e os 1 2 meses que nos separam de n o s s a u l t i m a I r e u n i a o , a lem dos dezenove a n t e r i o r m e n t e c i t a d o s , das d e - ' * zenas de o u t r o s r e v o l u c i o n á r i o s que nos ú l t imos anos desaparece ram sem d e i s e x a r v e s t í g i o s , quan tos o u t r o s podem t e r s i d o t r a g a d o s p e l a maou ina r e p r e s ­s o r a que a t e r r o r i z a o p a i s , sem que seus nomes tenham alcançado as p a g i n a s dos j o r n a i s ?

E há uma questão g rav í s s ima a se f r i s a r : se a t á t i c a de a s s a s s i n a r os com­b a t e n t e s a n t i f a s c i s t a s e f a z e r desaparece rem seus cadáveres , não assumindo as m o r t e s , j a e r a c o n h e c i d a h a a l g u n s anos , como c o n s t a nos r e l a t ó r i o s de

a a ** * n o s s a 1— e 2__ Reuniões , p e l o menos n a m a i o r i a dos casos c o n h e c i d o s a t e então houve p r e s o s p o l i t i c o s , s o b r e v i v e n t e s das t o r t u r a s , que p r e s e n c i a r a m à c u r t a d i s t â n c i a a consumação dos a s s a s s i n a t o s . Nos ú l t imos a n o s , p o r e m , nos dezenove casos amplamente d enunc i ados em 1 9 7 4 , aos o u a i s somam-ae os 5 nomes ac ima c i t a d o s , a c a r a c t e r í s t i c a ma is marcan t e - r e v e l a n d o n o v o r e q u i n t a m e n t o nos métodos f a s c i s t a s de r epressão - e o f a t o de a m a i o r i a dessas pessoas nao t e r e m s i d o j a m a i s ^ v i s t a s p o r o u t r & o p r e s o s em nenhum dos ma is c o n h e c i d o s o rgaos de r ep r e s são , f a z endo c r e r que tenham s i d o t o r t u r a d o s a t e a m o r t e em l o c a l i d a d e s de endereços a i n d a não c o n h e c i d o s p e l a op in ião p u b l i c a n a c i o n a l . E o ma is t e n e b r o s o e entendermos oue s eoue r podemos a f i r ­mar com segurança: £oram a s s a s s i n a d o s . De s eu a p r i s i o n a m e n t o não r e s t a dú­v i d a a l guma , em m u i t o s dos casos ^ha t e s t emunhas o c u l a r e s do a t o da p r i s ã o . Mas a d u v i d a c r u e l que p e r s i s t e e p e n s a r n a p o s s i b i l i d a d e de a l g u n s desses b r a s i l e i r o s permanecerem v i v o s a i n d a h o j e * m a n t i d o s c l a n d e s t i n a m e n t e sob in imag ináve i s t o r t u r a s em a l gum a p a r e l h o " n ã o - o f i c i a l " de r ep r essão aos m i l i t a n t e s democra tas e a n t i - f a s c i s t a s 0 Nossa preocupação f i c a r á m e l h o r e n t e n d i d a n o i t e m I V d e s t e r e l a t ó r i o , quando abordaremos a questão do c h a ­mado "Braço C l a n d e s t i n o da Repressão " .

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I I I - NOVAMENTE A FARSA DOS SUICÍDIOS

Desgas tado , p e l o uso a b u s i v o , o método do d e s a p a r e c i m e n t o p u r o e s i m p l e s dos m i l i t a n t e s r e v o l u c i o n á r i o s c a i d o s nas malhas da Gestapo b r a s i l e i r a , em meados de 75 s e r i a r e a t i v a d o o mode lo a n t e r i o r m e n t e a d o t a d o , dos s u i c í d i o s f a b r i c a d o s o 0 e s t i l o nao e r a n o v o . E n t r e m u i t o s exemp los , nesses anos r e c e n t e s da H i s t o r i a b r a s i l e i r a j á h a v i a m s i d o n o t i c i a d a s como " s u i c í d i o " , as m o r t e s , n a v e rdade sob b a r b a r a s t o r t u r a s , dos r e v o l u c i o n á r i o s João Lucas A l v e s , O lavo Hansen, N o r b e r t o N e h r i n g , I s m a e l S i l v a J e s u s , A n t o n i o Bene -t a z z o e A l e x a n d r e V a n u c h i Leme. A r e p e t i ç ã o i n s i s t e n t e e i n v a r i á v e l do mesmo t i p o de mascara ( a t r o p e l a m e n t o , e n f o r c a m e n t o , envenenamento p o r i n § % t i e i d a , e t c « ) j a p u d e r a s e r r a z o a v e l m e n t e d e n u n c i a d a , impondo a l t e r a ­ção, mesmo momentânea, co compor tamento dos orgaos r e p r e s s i v o s p e r a n t e cada a s s a s s i n a t o oue s o m e t i a m . F o r a t e n t a d a a f o r m a de d e s a p a r e c i m e n t o . A d e ­n u n c i a p o p u l a r e n c u r r a l o u novamente os t o r t u r a d o r e s , e o r e g i m e , num m o v i ­mento de' v a i - e - v e m , r e t o r n a ao método dos " s u i c i d i o s " . Ate quando? O J o r ­n a l M 0 Es tado de Sao P a u l o " , 04/LO/75* n o t i c i a n d o a remessa a A u d i t o r i a M i l i t a r d a 2® CJM de um i n q u é r i t o i n s t a u r a d o c o n t r a numerosos i n t e g r a n t e s da P o l i c i a M i l i t a r do E s t a d o , i n f o r m a v a a m o r t e , n o d e c o r r e r do i n q u é r i t o , de d o i s dos i n d i c i a d o s : Jose Max imino de Andrade N e t o , c o r o n e l r e f o r m a d o , e Jose F e r r e i r a de A l m e i d a , 22 Tenente r e f o r m a d o .

A m o r t e r e p e n t i n a do c o r o n e l PM, r e f o r m a d o , José Max imino de Andrade N e t o , o c o r r i d o n a c l í n i c a " C l i n i - C o r " , em consequência de e n f a r t e do m iocá rd i o , a lgumas h o r a s apos s u a l i b e r t a ç ã o p e l o DOI/GODI de Sao P a u l o , nao p a s s o u d e s a p e r c e b i d a o A v e rdade e r a o u t r a . Jose M a x i m i n o , apesar de avançada i d a ­de , f o i t o r t u r a d o p o r o f i c i a i s , s o l d a d o s e c i v i s e x e c u t o r e s de " o r d e n s s u ­p e r i o r e s " a té o p o n t o de nao mais r e s i s t i r às s e v í c i a s a que f o i s u b m e t i d o o Teve um e n f a r t e d e n t r o da câmara de t o r t u r a , sendo a t e n d i d o p e l o s méd icos -t o r t u r a d o r e s aue a t e s t a r a m s u a i n c a p a c i d a d e de recuperação f i s i e a . I m e d i a ­t a m e n t e f o i p r o v i d e n c i a d a s u a l i b e r d a d e p a r a e v i t a r que s u a m o r t e o c o r r e s s e d e n t r o das i n s t a l a ç õ e s do DOI/CODI. Jose Max im ino so t e v e tempo de r e v e r a f a m i l i a an t e s de s e r i n t e r n a d o n a c l i n i c a onde- tfeio a f a l e c e r , 8 h o r a s apos a s u a s o l t u r a * .

A r e - s p e i t o de José de A l m e i d a h a v i a chegado às nossas maos, em a g o s t o , um v o l a n t e do q u a l t r a n s c r e v e m o s a l g u n s t r e c h o s : " P a l e c e u no d i a 07 do cor rente » nas dependências do DOI , segundo c o n s t a , em h o r a i n c e r t a , o 2^ t e n e n t e Jose H e r r e i r a de A l m e i d a , da P o l i c i a M i l i t a r , d i r e t o r do Clube dos I n a t i v o d e do ©entro dos O f i c i a i s da Rese r va da PM. Casado, com 63 aüos de i d a d e , h a v i a s i d o p r e s o n o d i a D 7 de j u l h o pp e encaminhado p a r a o D O I . D a l i f o i r e m o v i ­do p a r a o D0P3 e novamente v o l t o u ao D O I . Sua esposa pode v ê - l o uma única v e z , quando das. queb ra da i n c o m u n i c a b i l i d a d e . H a v i a s i d o espancado , subme­t i d o a choques e l é t r i c o s , socos e pontapés . T i r a r a m - l h e também os d e n t e s da f r e n t e ( u m a pequena p o n t e m o v e i ) , p r o r n e t e n d o - l h e que a mesma so l h e s e r i a d e v o l v i d a cuando e s t i v e s s e m o r t o . Sua casa f o i v a s c u l h a d a . Jose P e r r e i r a de A l m e i d a s o f r i a de ú l c e r a d u o d e n a l e n e c e s s i t a v a de t r a t a m e n t o médico . Em v i r tuáe ; das t o r t u r a s a que f o i s u b m e t i d o e c o n s i d e r a n d o - s e o s eu e s t a d o de saúde e sua i d a d e e s t e s o l d a d o MORRE.

Sua m o r t e , d e c r e t a d a p e l a r epressão r e i n a n t e em n o s s o p a í s , ê j u s t i f i c a d a p e r a n t e a i f a m í l i a como um caso de s u i c í d i o p o r e s t r a n g u l a m e n t o e a s f i x i a© Com f r i e z a de d i t a d o r e s que detêm o pode r s o b r e a v i d a humana, um m i l i t a r c omun i ca a n o t í c i a à f a m í l i a , " p o r ordem s u p e r i o r " . Nenhuma u i o t í c i a se t em s o b r e o s u s p e i t o " s u i c í d i o " . ( . . . )

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que Ú O C O J o _ l - t&iò i ^ t o f l se sucedem ele f o r m a teo a c e l e r a d a é imposs í v e l a q u a l q u e r b r a s i l e i r o m e l h o r a v i s a d o a c r e d i t a r nas p r o m e s ­sas de d i s t enção p o l í t i c a , de b u s c a de d e s e n v o l v i m e n t o p a c í f i c o e de r e - -democrat ização p a r a a f a m i l i a b r a s i l e i r a © Não h a f a l a s p r e s i d e n c i a i s nem d i s c u r s o s m i n i s t e r i a i s que possam e n c o b r i r a d i t a d u r a v i g e n t e o E l a e s t á p r e s e n t e n a c i d a d e e no^campo, p e n e t r a em nossas casas , amordaça n o s ­sas b o c a s , a lgema nossas maos, t i r a nossas vidas©

P a r a os b r a s i l e i r o s c o n s c i e n t e s que l u t a m p e l o s D i r e i t o s Humanos e o e l a s L i b e r d a d e s P o l í t i c a s o nome de Jose F e r r e i r a de A l m e i d a - p a s s a p a r a a H i s t ó r i a como um combatente que « « B A T E U 0 B O M C O M B A T E l n

0 p a n f l e t o de d e n u n c i a , a c i m a * t r a n s c r i t o em suas p r i n c i p a i s p a s s a g e n s , s u b l i n h a algumas c a r a c t e r í s t i c a s da f a r s a . E p r e c i s o r e p i s a r a l g u n s p o n ­t o s . Sm o f í c i o d a t a d o de 14 de a g o s t o de 1975 , o G e n e r a l A n t o n i o F e r r e i r a Marques , Chefe do E s t a d o - M a i o r do I I E x e r c i t o , a s s i m se d i r i g e ao J u i z A u d i t f c r da A u d i t o r i a de São P a u l o : " I n f o r m o a V.Exa© que f o i e n c o n t r a ­do m o r t o p o r a s f i x i a mecânica p o r e n f o r c a m e n t o , no x a d r e z e s p e c i a l " 1 " , n o DOI/CODI/ I I E x e r c i t o , o p r e s o Jose F e r r e i r a de A l m e i d a , que p a r a t a l u t i l i z o u - s e de uma t i r a de p a r a que a t o u n a g rade e n o pescoço"© Ora , p a r t i c i p a n t e s da 4— Reunião de n o s s o Comitê, que ^ t i v e r a m a amarga e x p e r i ­ênc i a de p a s s a r p o r esse t e n e b r o s o DOI/CODI nos ú l t imos d o i s a n o s , são a b s o l u t a m e n t e c o n v i c t o s em a f i r m a r que as pessoas p r e s a s p o r a q u e l e ó r ­gão , a s s i m que r e c o l h i d a s aos xad r e z e s sao despo jadas das p r óp r i a s r o u ­pas e v e s t i d a s com um macacão sem c i n t o e sem q u a l q u e r e spéc i e de t i r a que pudesse s e r u t i l i z a d a como i n s t r u m e n t o de e n f o r c a m e n t o .

f 0

O a s p e c t o ma is c í n i c o , e n t r e t a n t o , e que o g e n e r a l F e r r e i r a Marques , em s e u p a p e l de mandante de t o r t u r a s , f a z anexar a s eu o f i c i o uma c o p i a do l a u d o de Exame de Corpo de D e l i t o oue t r a z a a s s i n a t u r a - j a em s i d e s m o r a l i z a d a r a - do c o n h e c i d o e desmascarado Dr© H a r r y S h i b a t a , e spe ­c i a l i s t a em f o r j a r exames cadavér i cos que i n v a r i a v e l m e n t e acompanham as n o t a s o f i c i a i s a n u n c i a d o r a s dos f a l s o s s u i c í d i o s . Alem d i s s o , segue também anexa uma c o p i a do "exame" do l o c a l do s u i c í d i o " , r e a l i z a d o p e l o p e r i t o F r a n c i s c o Gordo M i e z a , a p e d i d o do d e l e g a d o - t o r t u r a d o r A l c i d e s S i n g i l l o , do DOPS de Sao P a u l o , em oue se a f i r m a : " No i n t e r i o r dessa c e l a , em suspensão i m c o m p l e t a , n a s Dosiçoes e s i tuações r e p r o d u z i d a s nas f o t o s n2 2 e 3 f o i e n c o n t r a d o o c a d á v e r . . . " O g r i f o e n o s s o . "Suspensão i n ­c o m p l e t a " quer d i z e r que Jose F e r r e i r a de A l m e i d a , segundo t e n t a m mos­t r a r nas f o t o s anexas , t e r i a se e n f o r c a d o de uma a l t u r a i g u a l a s u a p r ó p r i a e s t a t u r a e, p a r a s u i c i d a r - s e , manteve v o l u n t a r i a m e n t e as p e r n a s d o b r a d a s , p a r a que não t o cassem o chão, enquanto se a r r a s t a v a a a s f i x i a que o t e r i a l e v a d o à morte© Os t o r t u r a d o r e s , n a p r e s s a desespe rada de montarem seus á l i b i s , j a nao são capazes de compor v e rsões com um pouco ma is de c o n s i s t ê n c i a .

De São P a u l o e que nos chegaram as mais c o n s t a n t e s e a c i n t o s a s v i o l a ç õ e s dos D i r e i t o s Humanos nesses ú l t imos doze meses, a m a i o r i a dos a s s a s s i n a ­t o s , dos p r o t e s t o s p o p u l a r e s . Mas o pa í s t o d o , de n o r t e a s u l , f o i s a ­c u d i d o p o r p r i s õ e s em massa, i n q u é r i t o s e p r o c e s s o s j u d i c i a i s nos q u a i s , i n v a r i a v e l m e n t e , os r e u s i n i c i a v a m seus depo imentos r e l a t a n d o as s e v í c i ­as s o f r i d a s quando da p r i s ã o e i n t e r r o g a t ó r i o s . So r e d u z i d a p a r c e l a de t a i s a t r o c i d a d e s chegou a s e r p u b l i c a d a n a imprensa»

No Ceará, em F o r t a l e z a , n o d i a 15 de s e t e m b r o , e r a s e q u e s t r a d o de d e n t r o de um ônibus o p e d r e i r o Pedro Jerónimo de Souza . D o i s d i a s aoos s u a p r i s ã o , d e p o i s de s e r l e v a d o do DPF p a r a o DOPS, v e i o à púb l i c o a n o t f -

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n o t i c i a do " s u i c í d r o " de P e d r o . A i n s t i t u c i o n a l i z a ç ã o da v i o l ê n c i a , j u n t a m e n t e com a i m p u n i d a d e dos a s s a s s i n o s , e t ão p u b l i c a aue * . . " "o a u t o de exames' cadavér i co do l e g i s t a . J o s e C a r l o s R i b e i r o e s c l a r e c e aue o p r e s o se s u i c i d o u com uma t o a l h a - " a s f i x i a mecânica vor e n f o r ­c a m e n t o " - em dependências do DOPS. Ja o a t e s t a d o de ó b i t o , a s s i n a d o p e l o l e g i s t a F r a n c i s c o No ronha F i l h o , a p o n t a o l o c a l como sendo o De­p a r t a m e n t o de P o l i c i a F e d e r a l " * (JT - 2 5 / 0 9 / 7 5 ) o

Mas em f i n s de o u t u b r o o B r a s i l s e r i a a g i t a d o p o r um f r ê m i t o de i n d i g n a ^ çao p e r a n t e ma is um desses c a l u n i o s o s s u i c i d i o s : e r a o a s s a s s i n a t o do j o r n a l i s t a V l a d i m i r H e r z o g , a quem dedicamos o p r e s e n t e r e l a t ó r i o * D i z e r aue o r e g i m e f o i a b a l a d o p e l o f u r o r do p r o t e s t o n a c i o n a l s e r i a c a l c a r e x c e s s i v a m e n t e a e s c r i t a * Mas f o i desnudado p o r c o m p l e t o e e x i b i d o em s u a v e r d a d e i r a essênc ia* Aqu i e nos mais d i s t a n t e s Es tados do P a i s , as atenções se v o l t a r a m p a r a a c a p i t a l p a u l i s t a *

V l a d i m i r Her zog e r a j o r n a l i s t a , d i r e t o r de t e l e - j o r n a l i s m o da T V - C u l ­t u r a , c u j a c a r r e i r a i n i c i a r a em 1959 como r e p ó r t e r do j o r n a l "O E s t a ­do de Sao P a u l o " o F o i um dos f u n d a d o r e s da S u c u r s a l daque l e j o r n a l em B r a s i l i a , nos p r i m e i r o s anos de sua e x i s t ê n c i a . D e s e n v o l v e u , -o a r a l e i a -m e n t e , a t i v i d a d e s l i g a d a s ao c inema , f i l m a n d o um d o c u m e n t a r i o , M a r i m -b a s , que r e t r a t a v a a v i d a dos pescado r e s de^ Copacabana. Sm 1 9 6 3 , i n i ­

c i o u s u a c a r r e i r a de j o r n a l i s t a n a T e l e v i s ã o , como r e d a t o r e s e c r e t á ­r i o do p r o g r a m a "Show de F o t i c i a s " , t e l e - j o r n a l d i á r i o - h o j e e x t i n t o - , acumulando e s t e t r a b a l h o com o j a d e s e n v o l v i d o em " 0 Es tado de São P a u l o " *

F o i c o n t r a t a d o em 1965 p e l a BBC de L o n d r e s , onde permaneceu d u r a n t e t r ê s anos , exe r cendo as funções de p r o d u t o r e a p r e s e n t a d o r de p r o g r a ­mas p a r a o B r a s i l 0

Em 1 9 6 8 , j á no B r a s i l , f o i e d i t o r c u l t u r a l da r e v i s t a " V i s ã o " e ma i s t a r d e t o r n o u - s e p r o f e s s o r de T e l e v i s ã o n a Facu ldade de Comunicações da Fundação Armando A l v a r e s Penteado„ Em 1972 , f o i c o n v i d a d o p a r a s e ­c r e t a r i a r o p r o g r a m a de T e l e - j o m a l i s m o da T V - C u l t u r a , do g o v e r n o do Es tado de São P a u l o e, ao mesmo tempo , a l e c i o n a r n a E s c o l a de Comunica ­ções e A r t e s da U n i v e r s i d a d e de São Paulo<,

T i n h a 38 anos , n a t u r a l i z a d o b r a s i l e i r o e n a s c i d o n a l u g u s l a v i a , de onde f o r a t r a z i d o p o r seus p a i s , a i n d a c r i a r ç a , t a n g i d o s p e l a f e r a n a z i s t a que v i o l a r a s u a p á t r i a .

Mo b o j o de uma onda maciça de p r i s õ e s nos meios j o r n a l í s t i c o s de Sao P a u l o e de o u t r o s E s t a d o s , e também como r e s u l t a d o de uma campanha d e ­l a t o r a que o j o r n a l i s t a - p o l i c i a l Cláudio Marques , a t ravés de um p a s ­qu im de anúncios chamado " S h o p p i n g News" , v i n h a movendo c o n t r a Herzog-, e s t e f o i p r o c u r a d o em seu l o c a l de t r a b a l h o , n a n o i t e de 24 de o u t u b r o , p o r agentes do DOI/CODI/ I I Exe r c i t o „ A sequência dos f a t o s e s t a c o n t i d a n a n o t a d i v u l g a d a p e l o S i n d i c a t o dos j o r n a l i s t a s p r o f i s s i o n a i s do E s ­t a d o de São P a u l o , aue t r a n s c r e v e m o s n a i n t e g r a : " S J P B S P cumpre o d o ­l o r o s o deve r de comun i ca r a p r i s ã o e m o r t e do j o r n a l i s t a V l a d i m i r Her zog ( V l a d o ) o c o r r i d a ontem nas dependências do DOI , do I I E x e r c i t o , em Sao P a u l o * A sequência dos a c o n t e c i m e n t o s que c o n d u z i r a m a e s t e t r á g i ­co âiesfecho f o i e s s a : l ) S e x t a - f e i r a , d i a 2 4 , I s 2 1 * 3 0 h s 0 , a g en t e s de segurança f o r a m à T V - C u l t u r a , l o c a l de t r a b a l h o do j o r n a l i s t a , com o r ­dens de l e v a - l o p a r a o DOI* Houve i n t e r f e r ê n c i a da D i reção da e m i s s o r a e de c o l e gas de t r a b a l h o do j o r n a l i s t a * Os agen tes de segurança, apos c o n s u l t a a seus s u p e r i o r e s , comunicaram ao j o r n a l i s t a V l a d i m i r Her zog '

*e e l e ^ e v e r i a conmarecer n o d i a s egu in te , sábado , as 8 h s f t aouelede"Darta—-.

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que e l e d e v e r i a momparecer n o d i a s e g u i n t e , sábado, às 8 h o r a s , àoue— l e d e p a r t a m e n t o , a f i m de p r e s t a r depoimento» 0 j o r a a l l s s t a comprome­t e u - s e a i r , sem n e c e s s i d a d e de e s c o l t a p o l i c i a l o

2) No sábado, à h o r a marcada , o j o r n a l i s t a chegou ao D01 num t a x i , acompanhado de um c o l e g a de t r a b a l h o da T V - C u l t u r a que f o i d i s p e n s a d o em s e g u i d a . 3 ) À s p r i m e i r a s h o r a s da n o i t e de sábado, as a u t o r i d a d e s de segurança i n f o r m a r a m que o j o r n a l i s t a se su i c idaôa n a p r i s ã o e que uma n o t a o f i c i a l do I I Exé r c i t o s e r i a d i s t r i b u í d a . 0 f a t o f o i comunicado à f a m i l i a a t ravés do p r e s i d e n t e da T V - C u l t u r a e o I n s t i t u t o Medico— L e g a l f o r n e c e u um a t e s t a d o de ób i t o i n f o r m a n d o como causa da m o r t e " " a s f i x i a mecânica p o r e n f o r c a m e n t o , como l o c a l à r u a Tomás C a r v a l h a l , 1030 ( sede do D01) e " h o r a i g n o r a d a " .

Segundo informações chegadas à f a m i l i a , o c o rpo do j o r n a l i s t a V l a d i ­m i r He r zog t i n h a s i d o e n t r e g u e ao I n s t i t u t o M e d i c o - L e g a l p o r v o l t a das 17 h o r a s .

Nao o b s t a n t e as informações o f i c i a i s f o r n e c i d a s p e l o I I E x é r c i t o , em n o t a d i s t r i b u i d a à I m p r e n s a , o S i n d i c a t o dos j o r n a l i s t a s d e s e j a n o t a r oue , p e r a n t e à l e i , a a u t o r i d a d e e seinore r esponsáve l p e l a i n t e g r i d a ­de f i s i c a das pessoas oue c o l o c a sob s u a g u a r d a o

0 S i n d i c a t o dos j o r n a l i s t a s que a i n d a agua rda e s c l a r e c i m e n t o s necessá ­r i o s e c o m p l e t o s , d e n u n c i a e r e c l a m a das a u t o r i d a d e s um f i m a e s t a s i t u ­ação em oue j o r n a l i s t a s p r o f i s s i o n a i s , n o p l e n o , c l a r o e p u b l i c o e x e r ­c í c i o de s u a P r o f i s s ã o , cidadãos com t r a b a l h o r e g u l a r e r e s i d ê n c i a c o ­n h e c i d a , permanecem s u j e i t o s ao a r b i t r i o de órgãos de segurança, oue os l e v a m de suas casas ou seus l o c a i s de t r a b a l h o , sempre a p r e t e x t o de que i r ã o p r e s t a r d e p o i m e n t o s , e os mantém p r e s o s , incomunicáve is , sem a s s i s t ê n c i a f a m i l i a r e j u r í d i c a , p o r v á r i o s d i a s e a t e v á r i a s s e ­manas em f l a g r a n t e d e s r e s p e i t o a l e i .

T r a t a - s e de uma s i tuação , p e l a s suas p a r t i c u l a r i d a d e s , capaz de c o n d u z i r a d es f e chos t r á g i c o s , como da m o r t e do j o r n a l i s t a V l a d i m i r H e r z o g , aue se a p r e s e n t a r a espontaneamente p a r a um d e p o i m e n t o .

0 SJPESP comun ica a i n d a oue o s e p u l t amento do j o r n a l i s t a V l a d i m i r H e r ­zog s e r a r e a l i z a d o s e g u n d a - f e i r a , as 10:30hs, s a i n d o o v e l ó r i o do H o s ­p i t a l A l b e r t E i n s t e i n , no Morumb i , p a r a o Cemi té r io I s r a e l i t a , n o Knwl5 da R o d o v i a Raposo T a v a r e s . S conc lama os j o r n a l i s t a s de t o d a s as r e d a ­ções de j o r n a i s , r e v i s t a s , r a d i o e t e l e v i s ã o , sem exceção , a oue compa­reçam p a r a p r e s t a r a u l t i m a homenagem ao companhe i ro d e s a p a r e c i d o . A D I ­RETORIA"©

0 ânimo r e v o l t a d o começava a s s i m a e v i d e n c i a r - s e n o momento mesmo em que se comun icava à op in ião p u b l i c a a m o r t e de H e r z o g .

Os l a u d o s o f i c i a i s r e a p a r e c i a m com o mesmo diapasão dos a n t e r i o r e s . 0 exame p e r i c i a l de e n c o n t r o do cadáver, r e a l i z a d o p o r Motoho C h i o t a a p e d i d o do cap i t ão Üb i ra j a ra do DOI/CODI ( i n d i v í d u o r e l a c i o n a d o n a l i s t a de t o r t u r a d o r e s ' i n c l u i d a n o R e l a t ó r i o de n o s s a 2—Reunião e oue c o n s t a também do r o l t r a n s c r i t o n o i t e m V d e s t e r e l a t ó r i o ) , e s t a b e l e c e : " J u n t o a j a n e l a dessa c e l a , em suspensão i n c o m p l e t a e s u s t e n t a d o p e l o pescoço , a t ravés ^de uma c i n t a de t e c i d o v e r d e , f o i e n c o n t r a d o o cadáver/ de um homem de cú t i s b r a n c a , apontado como sendo o de V l a d i m i r Herzogífjftn

Os g r i f o s são n o s s o s , p a r a e v i d e n c i a r f l a n c o s vu lne rá v e i s da farsa©

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O exame n e c r o s c ó p i c o , a s s i n a d o p e l o mesmo Has r y S h i b a t a , com d a t a de 27 de o u t u b r o de 1975, a l i n h a v a as c o s t u m e i r a s m e n t i r a s d e s t i n a d a s a l e g i t i m a r um s u i c i d i o i n v e n t a d o .

Mas ^a i m p r e n s a e d i v e r s a s e n t i d a d e s a s s i m se m a n i f e s t a r a m s o b r e o e-p i s o d i o : 0 " J o r n a l da T a r d e " , de 3 0 de o u t u b r o , n o t i c i a v a uma reun ião da Ordem dos Advogados do B r a s i l ( O A B ) . O j u r i s t a Jose R i b e i r o de Cas­t r o , e x - p r e s i d e n t e da OAB e x p l a n o u s ob r e o^caso, c u j o s t r e c h o s s e l e c i o ­nados demonstram a t o t a l descrença n a ve r são de s u i c í d i o o f i c i a l m e n t e d i v u l g a d a : . a c h o oue a OAB deve se r e b e l a r c o n t r a os r e c e n t e s a c o n ­t e c i m e n t o s em Sao Pau l o e b r a d a r permanentemente c o n t r a a v i o l ê n c i a . "

E ma is a d i a n t e : " L i , e s t a r r e c i d o , a n o t í c i a da m o r t e do j o r n a l i s t a e l e m b r e i - m e de caso b a s t a n t e s eme lhan t e o c o r r i d o n o Paraná, ouando a u a -t r o advogados f o r a m p r e s o s e t r a n s f e r i d o s p a r a Bras í l i a * , Um d e l e s s o ­f r i a de c l a u s t r o f o b i a e, segundo informações das a u t o r i d a d e s ( g r i f o n o s s o ) r esponsáve i s p o r s u a p r i s ã o , acabou se matando n a c e l a "

C o n t i n u a n d o : "Em nenhum dos casos - do j o r n a l i s t a e do advogado - e x i s ­t e a menor d i f i c u l d a d e de i d e n t i f i c a r os a l g o z e s , p o i s e l e s f o r a m p r e ­sos num o u a t t e l , e a í e p o s s í v e l s abe r quem os r e c e b e u e owern. e r a o r e sponsáve l p e l o s i n t e r r o g a t ó r i o s . "

Nem seque r o v e l ó r i o e s e p u l t a m e n t o do j o r n a l i s t a a s s a s s i n a d o pode. t r a n s c o r r e r l i v r e m e n t e das i n t e r f e r ê n c i a s dos mesmos o rgan i smos oue h a v i a m p o s t o f i m a v i d a de H e r z o g .

" l i o d o m i n g o ( 2 6 . 1 0 ) ,d e p o i s da autóps ia , uma segunda t e n t a t i v a p a r a v e r o c o r p o : do irmão da v i u v a o líao c o n s e g u i u . E l e t e n t o u o b t e r uma a u t o ­p s i a , r e a l i z a d a p o r o u t r o med i co do I n s t i t u t o Med i co L e g a l . Nao c o n s e ­g u i u e a a legação e r a de aue a p a r t e b u r o c r á t i c a do I n s t i t u t o e s t a v a f e c h a d a .

C l a r i c e , ( e sposa de V l a d i m i r ) chegou ao IML a tempo de acompanhar o c o r p o de s eu m a r i d o ao H o s p i t a l A l b e r t E i n s t e i n o

Pouco an t e s das 16 h o r a s , n o b a i r r o de M o r u m b i , agen tes dos órgãos de segurança v i s t o r i a v a m o V e l ó r i o do H o s p i t a l A l b e r t E i n s t e i n , p a r a onde o c o r p o de V l a d i m i r f o i l e v a d o as l6:30hs. 0 c o rpo f o i r e c e b i d o mo Ve ­l ó r i o p o r j o r n a l i s t a s e amigos de VTadoV(Mensar io EX,nov./75)«

" A l i p e r c ebe ram a presença de p o l i c i a i s a p a i s a n a , que mant inham uma v i g i l â n c i a d i s c r e t a " ( 0 Es tado de Sao P a u l o , 2 8 . 1 0 . 7 5 ) o

"A ação desses agen tes to± aue f r u s t r o u a segunda t e n t a t i v a de C l a r i c e de f a z e r novo exame n o c o rpo de V T a d o . " ( E X , n o v . 7 5 ) •

" C l s r i c e chegou a p e n s a r em l e v a r o c o r p o p a r a s u a casa , mas i s s o a c a ­b o u não se c o n c r e t i z a n d o : d i z i a - s e que um medico t i n h a conco rdado em f a z e r a a o t o p s i a , mas h a v i a a o f i c i a l , que acabou sendo c o n s i d e r a d a d e f i n i t i v o " ( J o r n a l da T a r d e , 27.10.75 . ) .

" C l a r i c e manteve - se f i r m e e c o r a j o s a , apesar das pressões d u r a n t e o v e l o r i i o Passou ,po rem, p o r v a r i a s c r i s e s de c h o r o , i n c l u s i v e auando se i n i c i a r a m as c e r i m o n i a s do r i t u a l j u d a i c o . " ( B X , n o v . 7 5 ) •

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" F o r a m c e r i m ô n i a s n o r m a i s , p o i s o C h e v r a h K a d i s h - S o c i e d a d e S a g r a d a - nao e n c o n ­t r o u i n d í c i o s que comprovassem s u i c í d i o do j o r n a l i s t a , o que i m p l i c a r i a a a l t e r a ­ção dos p r o c e d i m e n t o s , i n c l u s i v e s e p u l t a m e n t o em l u g a r d i f e r e n t e . " ( 0 E c t a d o de S 0 P J , 3 1 . 1 Q . 7 5 .

" 0 domingo t e r m i n o u com uma preocupação no a r § " a de que o s ó r g ã o s de segurança f i z e s s e m p r e s s ã o s o b r e a f a m í l i a de V l a d i m i r p a r a que o e n t e r r o f o s s e f e i t o ao a m a n h e c e r . Os j o r n a l i s t a s , p r e o c u p a d o s , o r g a n i z a r a m um r e v e z a m e n t o no v e l ó r i o , n o i ­t e a d e n t r o , p a r a g u a r d a r o c o r p o do V l a d o " » (Ex , n o v / 7 5 ) •

0 e n t e r r o f o i a s s i m r e l a t a d o : " 0 j o r n a l i s t a V l a d i m i r H e r z o g f o i s e p u l t a d o o n t e m de manhã no C e m i t é r i o I s r a e l i t a de Butantà , d u r a n t e uma c e r i m ô n i a s i m p l e s e r á p i ­d a , a s s i s t i d a p o r u n s 600 r e p ó r t e r e s , r e d a t o r e s , e d i t o r e s , c i n e g r a f i s t a s , R a d i a ­l i s t a s , a r t i s t a s , e s t u d a n t e s ^ d e p u t a d o s je s enadores , , Sfão h o u v e nenhum i n c i d e n t e d u r a n t e o e n t e r r o , c o m excepção d a i n d i g n a ç ã o de f a m i l i a r e s p e l a p r e s s a com que f o i f e i t o ( . . . ) A c e r i m ô n i a de s e p u l t a m e n t o dujreni apenas 15 m i n u t o s , e nao as d u a s h o r a s que c o s t u m a d u r a r quando o b s e r v a d o s t o d o s ó& r i t u a i s e p r e c e i t o s j u d a i c o s . ( . • • ) 0 c l i m a , e n q u a n t o i s ^ t o , e r a d e e x t r e m a e x p e c t a t i v a , m a i s p o r c a u s a dos a g e n t e s a r m a ­dos que p a s s a r a m a m a d r u g a d a no h o s p i t a l , que l o g o cedo f o r a m s u b s t i t u í d o s g o r f o t ó g r a f o s e c i n e g r a f i s t a s que não p e r t e n c i a m ao s i n d i c a t o o u a cpa lquer o r g a o de i m p r e n s a . " ( J o r n a l da í a r d e , 2 8 . 1 0 . 7 5 ) .

"A e s p o s a de H e r z o g deu s i g n i f i c a t i v o e x e m p l o d e - c o r a g e m e e n e r g i a d u r a n t e t o d o s o s e v e n t o s , nao se d e i x o u d e r r o t a r p e l o c r i m e * h e d i o n d o j q u e l h e r o u b a r a o c o m p a n h e i r o e p a i de s e u s f i l h o s . " . . . Quem não deve nao teme e f i q u e i t r a n q u i l a . Me a r r e p e n d o m u i t o d e s t a p o s t u r a , mas a i n d a c o n t i n u o n e l a . É um n e g o c i o i n c r i v e l ! Sabe , a q u e l a

sensação de segurança , de que n a d a pode a c o n t e c e r com v o c ê , de que n a d a pode m e x e r com v o c ê , v o c ê é i n v i o l á v e l ? Eu não s e i . Em nenhum momento e u r e a l m e n t i e s e n t i medo, como não s e n t i medo a i n d a . S i n t o m u i t a r a i v a , mas medo e u nao s i n t o . " ( . . . ) . " D e p o i s de m u i t o a r g u m e n t a r , c o n s e g u i m o s que V l a d o se a p r e s e n t a s s e no d i a s e g u i n t e . F i q u e i t r a n q u i l a . Eu s a b i a que e l e i a a p a n h a r , l e v a r c h o q u e , mas v o l t a r i a p a r a c a s a " . " P o r m a i s t r a n q u i l a que eu e s t i v e s s e , meu m a r i d o e s t a v a p r e s o , n a c e r t a sendo t o r ­t u r a d o , en tão e u e s t a v a com uma c e r t a a n s i e d a d e . I n c l u s i v e t i v e de a v i s a r à mae do V l a d o que e l e t i n h a s i d o p r e s o , p i ra e l a nao f i c a r sabendo p e l o s j o r n a i s no o u t r o d i a , i s s o à s s e i s e m e i a da t a r d e , quando V l a d o j á e s t a v a m o r t o . Eu a v i s e i , e l a f i c o u d e s e s p e r a d a . o . " ( . . . ) " N a h o r a em q u e e s s e s q u a t r o c a r a s e n t r a r a m a q u i em c a s a eu p r e s s e n t i o que h a v i a a c o n t e c i d o . E l e s me c o m u n i c a r a m que V l a d o e s t a v a m o r t o e i n ­c l u s i v e me deram a v e r s ã o de q u e e l e se t i n h a s u i c i d a d o . E u , em nenhum momento a c r e ­d i t e i n i s s o . Eu t i n h a c e r t e z a de que e l e t i n h a m o r r i d o t o r t u r a d o . " ( « . . ) " E u v o u s e r c o n v o c a d a p a r a d e p o r no i n q u é r i t o que i n v e s t i g a como meu m a r i d o m o r r e u . Pode s e r que nao a d i a n t e n a d a . I%s e u , meus f i l h o s e V l a d o merecem que e u t e n t e . Com a Ordem d o s A d v o g a d o s , com a Comissão de J u s t i ç a e Paz da Cúria^ com o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s , o u so z i n h a . " ( E x , n o v . 7 5 ) .

Quan to às c o m c l u s o e s do IPM i n s t a u r a d o p a r a a p u r a r as c a u s a s d a m o r t e de V l a d i m i r H e r z o g , a s s i m se p r o n u n c i a r a m a I m p r e n s a e o S i n d i c a t o dos J o r n a l i s t a s : " 0 IPM d i z que V l a d i m i r H e r z o g s e ^ e n f o r c o u n a g r a d e d a c e l a em que f o r a c o l o c a d o , " u s a n d o $ a r a t a n t o a c i n t a do macacão que u s a v a " , , Não há, porém^ em t o d o o i n q u é r i t o , nenhuma e x ­p l i c a ç ã o p a r a o f a t o de o p r e s o e s t a r usando macacão com c i n t a . E s t a comissão p a r e ­ce c o n t r a d i z e r t o d a a ên f a s e que t o d a s ( v á r i a s ) t e s t i m u n h a s dao à ques tão de s e g u ­rança d o s d e t i d o s : o c h e f e da 2» Secção , Éo Comandante do p O I , um i n v e s t i g a d o r èjum c a r c e r e i r o mencionam^em s e u s d e p o i m e n t o s , além do f o r n e c i m e n t o ^ de r o u p a s e s p e c i a i s , r o n d a s de f i s c a l i z a ç ã o p e r m a n e n t e , como m e d i d a de c a u t e l a . E s s a s m e d i d a s são t o m a d a s , como se sabe , em q u a l q u e r r e p a r t i ç ã o p o l i c i a l , e uma d e l a s é a r e t i r a d a de q u a l q u e r o b j e t o que p o s s a s e r v i r de i n s t r u m e n t o p a r a s u i c í d i o , i n c l u s i v e c i n t o s e c o r d o e s de s a p a t o s . E p e l o çpe s e^conhece , do r e l a t o de p e s s o a s q i i e j á e s t i v e r a m n a q u e l a dependên­c i a m i l i t a r , o s macacões f o r n e c i d o s a o s p r e s o s não possuem c i n t o s »

* 2--#poi?iiidb-s

Relatório - Tomo I - Parte I - O Bagulhão: A Voz dos Presos Políticos Contra a Ditadura

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" 2 - A p o i a n d o - s e n o s l a u d o s p e r i c i a i s do I n s t i t u t o Médico L e g a l , o R e l a t ó r i o a c e n t u a a § e i n e x i s t ê n c £ a de q u a l q u e r v í c i o que p o s s a d e s a c r e d i t á - l o s " . No e n ­t a n t o , e x i s t e uma i n c o e r ê n c i a , a i n d a i n e x p l i c a d a : 1 1 0 l a u d o do Exame de Corpo e D e l i t o , d o s l e g i s t a s H a r r y Shibafca e A r i s d l % V i a n a , ^ d e s c r e v e a r o u p a com o c o r p o c h e g o u v e s t i d o p a r a a n e c r o p s i a , e e s t a r o u p a não é o macacão d e s c r i t o no Laudo de E n c o n t r o do Cadáver (com f o t o s ) , dos p e r i t o s Matoho S h i o t a e S i l v i o S h i -b a t a . A r o u p a com que c h e g o u ao I M L , segundo o l a u d o , é a mesma com que V l a d i ­m i r H e r z o g s a í da de c a s a p e l a manha, p a r a se a p r e s e n t a r .

" D i a n t e d i s s o p e r g u n t a m o s : " Não se e x i g e que o c adáve r s e j a l e v a d o p a r a o exame de c o r p o e d e l i t o e x a t a m e n t e como f o i e n c o n t r a d o ? "

"Como se e x p l i c a que o c o r p o t e n h a s i d o e n c o n t r a d o de macacão e d e p o i s t e n h a c h e ­gado ao I M L com o u t r a r o u p a ? "

" O u t r a ques t ão : Po rque não f o i o u v i d o no IPM o c a p i t ã o U b i r a j a r a , o f i c i a l do DOI/CODI, c u j o #ome a p a r e c e n o s l a u d o s como r e q u i s i t a n t e da p e r í c i a ? "

" 3 - Todas as t e s t i m u n h a s l i g a d a s ao DOI a f i r m a m no IPM que h a v i a o r d e n s e x p r e s ­sas p a r a que V l a d i m i r H e r z o g não p e r n o i t a s s e n a p r i s ã o e f o é e e l i b e r a d o l o g o após e s c r e v e r s eu d e p o i m e n t o . 0 c a r c e r e i r o d i z mesmo, em s e u d e p o i m e n t o , que o e n c o n t r o u e n f o r c a d o quando f o i à c e l a "com a f i n a i d a d e de r e t i r a r V l a d i m i r H e r ­z o g a f i m de s e r l i b e r t a d o " .

" P e r g u n t a m o s : " C o m o p o d e r i a m as a u t o r i d a d e s s a b e r de antemão, como f i c o u r e g i s ­t r a d o no I PM , - s e r de p o u c a r e l e v â n c i a o d e p o i m e n t o d a q u e l e j o r n a l i s t a n o s f a ­t o s i n v e s t i g a d o s ? "

"Se o d e p o i m e n t o e r a de p o u c a r e l e v â n c i a , p o r que h o u v e a t e n t a t i v a de p r e n d ê - l o n a v é s p e r a , à n o i t e , p r i m e i t o em s u a c a s a , e d e p o i s em s e u l o c a l de t r a b a l h o , só c o n s e n t i n d o a a u t o r i d a d e com s u a ap resen tação no d i a s e g u i n t e após i n t e r f e r ê n c i a d a d i r e ç ã o da E m p r e s a ? "

" Como e r a p o s s í v e l s a b e r o t e o r do d e p o i m e n t o de V l a d i m i r H e r z o g , p a r a se t e r a c e r t e z a de que s e r i a l i b e r t a d o em s e g u i d a ? "

" 4 - 0 R e l a t ó r i o do IPM d e s t a c a também q u e " o c o r p o d e V l a d i m i r H e r z o g e n c o n t r a - s e s e p u l t a d o n a Q u a d r a 2 8 , t u m u l o 6 4 , á r ea em q u e são e n t e r r a d o s o s s u i c i d a s " . E s s a i n ­formação ê b a s e a d a no d e p o i m e n t o de um membro d a Congregação I s r a e l i t a P a u l i s t a .

"No e n t a n t o , in formação d i f e r e n t e f o i dada n a o c a s i ã o da m o r t e de V l a d i m i r H e r ­z o g p e l o r a b i n o H e n r y S o b e l . q u e . a nosso c o n v i t e , p a r t i c i p o u n a c e l e b r a ç ã o do c u l t o ecomênico em memória do j o r n a l i s t a . Numa e n t r e v i s t a p u b l i c a d a no mesmo d i a do c u l t o , o r a b i n o d i s s e que o s r i t o s s e g u i d o s no s e p u l t a m e n t o t i n h a m s i d o n o r m a i s , p o i s a C h e v r a h E a d i s c h não e n c o n t r o u i n d í c i o s que comprovassem s u i c í d i o do j o r n a l i s t a , o que i m p l i c a r i a a a l t e r a ç ã o dos p r o c e d i m e n t o s , i n c l u s i v e o s e ­p u l t a m e n t o em l o c a l d i f e r e n t e " . ( 0 E s t a d o de S , P a u l o , 3 1 . 1 0 . 7 5 )

S o b r e a s duas v e r s õ e s c o n f l i t a n t e s , de d o i s membros da mesma r e l i g i ã o , q u a l a v e r ­d a d e i r a ?

" 5 - 0 r e l a t ó r i o do IPM i n f o r m a que f o r a m o u v i d a s 2 1 t e s t i m u n h a s " c u j a s d e p o i ­m e n t o s f o r a m t o m a d o s sem q u a l q u e r c o n s t r a n g i m e n t o f í s i c o o u m o r a l " . P e l o que s a ­bemos, a l g u m a s t e s t i m u n h a s f o r a m o u v i d a s e n q u a n t o a i n d a e s t a v a m no D O I , sob c u s ­t ó d i a , em ú l t i m a i n s t a n c i a , d a s a u t o r i d a d e s c u j a atuação no caso da m o r t e de V l a ­d i m i r H e r z o g e s t a v a sendo i n v e s t i g a d a .

" I n d a g a m o s : I s t o nao c o n s t i t u i r i a , p a r a a t e s t i r a u n h a , uma f o r m a de c o n s t r a n g i m e n t o ? " (Documento e n v i a d o à 1 » A u d i t o r i a do 22 CJM, p e l o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s , com 4 6 7 a s s i n a t u r a s ) .

" A BEM DA VERDADE" - "À v i s t a da c o n s t a n t e d o s i t e n s 28 e 30 do r e l a t ó r i o c o n c l u ­s i v o do IPM p a r a a p u a a r a s c a u s a s da m o r t e de V l a d i m i r H e r z o g , " 0 E s t a d o de São P ã o l o " t e m a / i n f o r m a r com o o b j e t i v o de r e s t a b e l e c e r a V e r d a d e naquálo que a e l e , e s p e c i f i c a m e n t e d i z r e s p e i t o : 1 . Ê f l a g r a n t e a c o n t r a d i ç ã o e n t r e as d e l c a r a ç o e s do j o r n a l i s t a L o b a t o e do c o r o n e l Paes : e n q u a n t o o p r i m e i r o s i t u a a d a t a d a 5 d e -m i s s ã o " de H e r z o g em 1 9 6 3 , o segundo a dá como o c o r r i d a em 1 9 5 8 , o c a s i ã o em que o j o r n a l i s t a d i z t ê - l o c o n h e c i d o no " E s t a d o " ;

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2 0 o D r . J u l i o M e s q u i t a F i l h o n u n c a d e s p e d i u f u n c i o n á r i o ne«fei nhum da e m p r e s a , t a r e f a sempre p r i v a t i v a de se j i s a u x i l i a r e s i m e d i a t o s ;

3 . n u n c a h o u v e , a n t e s o u d e p o i s do m o v i m e n t o de março de 1 9 6 4 , " e x p u r g o " n e s t a c a s a ;

4 . como no rma h a v i d a de s e u s m a i o r e s e p a r t e i n t e g r a n t e de s e u c ó d i g o de é t i c a p r o f i s s i o n a l , o s d i r e t o r e s do " E s t a d o " n u n c a e x i g i r a m ^ a t e s ­t a d o de i d e o l o g i a de s e u s f u n c i o n á r i o s , f o s s e p a r a f a c i l i t a r o u n e g a r admissão, o u p e r m i t i r demissão . Em época a l g u m a h o u v e , n e s t a e m p r e s a , " e x p u r g o " . . . de e l e m e n t o s m a r c a d a m e n t e de e s q u e r d a " . O único c r i t é r i o que n o r t e i a a s e v e n t u a i s demissões r e ­g i s t r a d a s n a Redação o u em o u t r o s D e p a r t a m e n t o s d a e m p r e s a é o d a c a p a c i d a d e p r o ­f i s s i o n a l e o d a l e a l d a d e , p r o f i s s i o n a l m e n t e e x i g i d a , às d i r e t r i z e s . e d i t o r i a i s d a Casa ;

5 . o S r . L u i z Wejs f o i de f a t o n o s s o f u n c i o n á r i o e r e t i r o u - s e e s p o n t a n e a m e n t e , da e m p r e s a , em 1 9 6 3 , a c o n v i t e d a r e v i s t a " C l a u d i a " ;

6 . O S r . V l a d i m i r H e r z o g também f o i n o s s o f u n c i o n á r i o , t e n d o s o l i c i t a d o e s p o n t a n e a m e n t e demissão em 1965« quando f o i p a r a L o n d r e s t r a b a l h a r n a BBC;

7 . não c o r r e s p o n d e % a v e r d a d e d o s f a t o s as a f i r m a ç e e s c o n s ­t a n t e s do r e l a t ó r i o c o n c l u s i v o do I PM , i t e n s 2 8 , b , e 3 0 , i 0

O a s s a s s i n a t o do j o r n a l i s t a V l a d i m i r H e r z o g p a r e c i a t e r s i d o o momento e x t r e m o do g r a u a t i n g i d o p e l a r e p r e s s ã o . A o p i n i ã o g e r a l e r a a d e que após tão i n f a m a n t e a t i t u d e , o E x é r c i t o e s e u s t e n t á c u l o s r e p r e s s i v o s d a r i a m uma t r é g u a p a r a o nosso s o f r i d o p o v o . A t r é g u a , podem, n u n c a e x i s t i u e nem se rá p o s s í v e l e n q u a n t o p e r d u r a r a d i t a d u r a a s -s a s i n a que o p r i m e t o d a a nação .

Og e s b i r r o s d a d i t a d u r a s i m u l a r a m que t o m a r i a m uma a t i t u d e , t r a n s f e r i n d o , b u r o c r a t i c a ­m e n t e , o c h e f e d a 2& S e c ç ã o ( S e r v i ç o S e c r e t o ) do E s t a d o - M a i o r do I I E x e r c i t o , c o r o n e l J o s é B a r r o s Paes , p a r a a c h e f i a do E s t a d o - M a i o r d a 9 Ô Reg ião M i l i t a r , em Campo G r a n ­de , Ma to G r o s s o ; e o t e n e n t e - C o r o n e l H o r r u s AzambuHa, a s s i s t e n t e do c o m a n d a n t e do I I . E x e r c i t o n o s a l t i m o s 2 a n o s , p a r a o comando do C e n t r o de P reparação de O f i c i a i s d a R e s e r v a de Sao P a u l o ) C P O R ) . E s s e s d o i s o f i c i a i s e ram c o n s i d e r a d o s o s r e s p o n s á v e i s m a i s d i r e t o s p e l a r e p r e s s ã o o f i c i a l em Sao P a u l o . P a r a s e u s p o s t o s f o r a m i n d i c a d o s homens de c o n f i a n ç a do g e n e r a l - d i t a d o r a f i m de que " f o s s e m e v i t a d o s e x c e s s o d o s ó r ­gãos de s e g u r a n ç a " .

Os i ngênuos m a i s uma v e z a c r e d i t a r a m n a " h o n e s t i d a d e " d a s a t i t u d e s t o m a d a s . Dessa v e z a i l u s ã o d u r o u p o u c o e No d i a 20 de j a n e i r o os j o r n a i s de t o d o o p a í s p u b l i c a v a m a s e g u i n t e n o t a : " 0 comando do I I E x é r c i t o l a m e n t a i n f o r m a r que f o i e n c o n t r a d o m o r t o , à s 1 3 : 0 0 h o r a s do d i a 17 do c o r r e n t e , sábado, em um d o s x a d r e z e s do D O I / C 0 D I / I I E x e r ­c i t o , o S r . M a n o e l P i e i P i l h o . " ( J o r n a l d a T a r d e , 2 0 . o l . 7 6 ) .

" . . . t o d o s sabem que p DOI é uma c a s a de h o r r o r e s onde o s p r e s o s sao s u b m e t i d o s a t e r r i v e i s c o n s t r a n g i m e n t o s e v i o l ê n c i a s , i n c l u s i v e com c h o q u e s e l é t r i c o s que podem p r o v o c a r a m o r t e . " - p r o f . H e l e n o F r a g o s o , v i c e - p r e s i d e n t e d a OAB. ( J o r n a l d a T a r d e , 2 0 . o l . 7 6 ) . Também soube o e m i n e n t e c a u s í d i c o f a z e r o p o r t u n a obse rvação s o b r e a t r o c a de comandos , eue n a q u e l a o c a s i ã o se p r o c e s s o u no I I E x é r c i t o , d e v i d o à p u b l i c a ç ã o o f l < c i a i d e s s e novo " s u i c í d i o " : " D e n a d a v a l e r á t r o c a r o s comandos se se m a n t i v e r o t e r r o r p o l i c i a l , q u e v i o l a a c o n s t i t u i ç ã o e a s l e i s do p a í s " . ( J o r n a l da T a r d e , 2 0 . 0 1 . 7 6 ) .

M a n o e l F i e l F i l h o n a s c e u em Quebrangúlo . E s t a d o de A l a g o a s , em 1 9 2 7 , m o r a v a à r u a C o r o n e l R o d r i g u e s 1 5 5 , V i l a G u a r a n i , Mun i c í p i o de São P a u l o , e f o i p r e s o às 900 & s . do d i a 15 de j a n e i r o , 5 f t f e i r a , n a f i r m a M e t a l - A r t e , onde t r a b a l h a v a .

M a n o e l - que n o s seus 19 a n o s de t r a b a l h o n a t a l f i r m a f o i a j u d a n t e , p r e n s i s t a e e n c a r r e g a d o de seção - f o i p r e s o p o r d o i s homens que se i d e n t i f i c a r a m como p e r ­t e n c e n t e s ao BEOPS. No d i a 1 7 , sábado, ao f i n a l d a t a r d e , s u a f a m í l i a f o i i n f o r m a d a de s e u " s u i c í d i o " e p r e s s i o n a d a a r e a l i z a r o e n t e r r o n a q u e l e mesmo d i a i ' Como podemos o b s e r v a r , a n o t a e m i t i d a p e l o comando do I I E x e r c i t o é d a t a d a de 1 9 de j a n e i r o , s e g u n d a - f e i r a , e nao a s s i n a l a , de m a n e i r a o f i c i a l , como se d e u a m o r t e . Uma v e z q u e , comia f a r s a m o n t a d a p a r a e x p l i c a r o a s s a s s i n a t o de H e r z o g , f i c o u d e f i n i t i v a m e n ­t e s u s p e n s a a p u b l i c a ç ã o de t a i s t e s e s de " s u i c í d i o s " , p o i s não t i n h a m a mínima c r e ­d i b i l i d a d e , o s o r g â n i c o s r e p r e s s i v o s não f o r n e c e r ã o nenhuma v e r s ã o o f i c i a l e a g u a r d a -

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vam o r e s u l t a d o de u m " I n q u e r i t o P o l i e i a l - M i l i t a r " . . . f e i t o p o r íeles mesmos.

E x t r a - o f i c i a l m e n t e , a t r a v é s de i n f o r m a ç õ e s f i l t r a d a s p e l o I M L , c o m u n i c a v a - s e que M a n o e l h a v i a - s e e n f o r c a d o , u t i l i z a n d o - s e p a r a i s s o de um p a r de m e i a s .

Na I g r e j a P a r o q u i a l de V i l a G u a r a n i , n a a v e n i d a Sapopemba, f o i r e a l i z a d o no d i a 2 4 , às 1 9 h s . , um c u l t o ecumênico onde se t r a d u z i a a náo a c e i t a c ç á o do " s u i c í d i o " p e l o s s e t o r e s r e l i g i o s o s e t r a b a l h a d o r e s de Sao P a u l o 0

Ao t e r m i n o d o s t r a b a l l h o s d e s s a 4 6 Reunião A n u a l f omos s e g u r a m e n t e que e s t á p r e s t e s a s e r e n v i a d o à A u d i t o r i a M i l i t a r o i n q u e ± i t o q u e a p u r o u a m o r t e de M a n o e l . A mesma f o n t e a s s e g u r o u - n o s q u e , d u r a n t e um g r a n d e l a p s o de t e m p o , os e l e m e n t o s a l i c o n t i d o s não se rão d i v u l g a d o s p a r a e v i t a r que se r e p i t a m as r e a ç õ e s que o c o r r e r a m quando da p u b l i c a ç ã o d a s c o n c l u s õ e s do i n q u é r i t o s o b r e o " s u i c í d i o " de V l a d i m i r H e r z o g .

I V - 0 "BRAÇO CLANDESTINO DA REPRESSÃO"

Nao b a s t a s s e o CSN,o S N I , 0 DPP, os^DOPS, o s CODI-DOI e t o d a s as o u t r a s e n g r e n a g e n s do s i s t e m a de f i n f oamação e r e p r e s s ã o que t r a n s f o r m a r a ^ o p a í s num i m e n s o campo de c o n c e n t r a ç ã o , que f i a e r a b a i x a r p o r s o b r e t o d o s o s r i n c õ e s d a p á t r i a uma p r o l o n g a d a n o i t e de s i l ê n c i o e medo, que a p o n t a r a o B r a s i l à e x e c r a ç ã o d a c o n s c i ê n c i a democrá­t i c a : . i n t e r a o s ú l t i m o s do zetyie se sa ra rão à l u z o s l o n g o s e p e g a j o s o s t e n t á ­c u l o s de um o r g a n i s m o a u t o d e n o m i n a d o " Braço C l a n d e s t i n o d a R e p r e s s ã o " .

P i l h o m o n s t r u o s o do faefc ismo b r a s i l e i r o , o "Braço C l a n d e s t i n o d a R e p r e s s ã o " , s e ­g u i n d o a r e g r a de t o d o s o s s eus c ongêne r e s o f i c i a i s - v e r d a d e i r a s a c a d e m i a s de t o r ­t u r a e h o r r o r - não se detém d i a n t e de q u a l q u e r f o r m a de d e c ê n c i a , h u m a n i d a d e e m o r a l . Sua m o r a l , s i m , é a d e f e s a - r a i v o s a e v i r u l e n t a - d a q u e l e s i n è e r e s s e s e s p ú r i o s que e x i g e m a manutenção, a q u a l q u e r p r e ç o , d a d i t a d u r a a n t i n a c i o n a l e a n t i p o -vo d o s g e n e r a i s , ,

V i n d o ao c o n h e c i m e n t o p ú b l i c o n o s ú l t i m o s t e m p e s , s e r i a o "Braço C l a n d e s t i n o d a R e p r e s s ã o " uma n o v a a r m a , n o v a e o r i g i n a l , a s e r u t i l i z a d a p e l o " S i s t e m a " em s u a i n g l ó r i a l u t a c o n t r a o povo t

R e p r e s e n t a r i a uma n o v a f o r m a de o r g a n i z a ç ã o dos ó r g a õ s r e p r e s s i v o s , e v i d e n c i a n d o m u ­dança e qi ã i dade em s e u s métodos o u s e r i a , d i f e r e n t e m e n t e , a man i f e s t a ção de c o n f l i ­t o s " i n t r a m u r o s " d a d i t a d u r a , onde tuna d a s p a r t e s em d i s p u t a , i m p e c i sãmente d e n o m i n a ­d a " l i n h a d u r a " o u " d u r í s s i m a " , d e s e o n t e n t e ^ c o m a " e x c e s s i v a b r a n d u r a " e s u p o s t a i n e f i c i * e n c i a d o s ó r gãos o f i c i a i s de r e p r e s s ã o , r e s o l v e s s e , numa demonstração de f o r ^ ça, o p o r à q u e l e s o s s eus p r ó p r i o s ó r g a õ s s de r e p r e s s ã o e de " s e g u r a n ç a " , i l e g a i s e c l a n d e s t i n o s , num v e r d a d e i r o p a r a l e l i s m o de p o d e r t

A r e s p o s t a à s q u e s t o e s a c i m a só poderá s e r e n c o n t r a d a h a a n á l i s e m i n u c i o s a d o s s e u s métodos de a tuação , no exame c u i d a d o s o d a s m a r c a s d e i x a d a s g sua passagem e no e s t u d o a p r o f u n d a d o de s u a s m a n i f e s t a ç õ e s de v i d a . E q u a i s f o r a m e s s e s m a n i f e s t a ç õ e s ?

R e c e n t e m e n t e , emá c a r t a d i r i g i d a a um j o r n a l i s t a , a n t e r i o r m e n t e p r ê s o e t o r t u r a d o p o r um d o s chamados"órgaõs de s e g u r a n a a " , que s o l t o , f i z e r a denúnc ias à i m p r e n s a d o s maus t r a t o s s o f r i d o s d u r a n t e a p e r i o d o de p r i s ã o , o "Braço C l a n d e s t i n o daRep r e s são " e s c r e ^ : " Se a i m p r e n s a nao f o s s e l i v r e , v o c ê e s t a r i a " c u r t i n d o " a l g u n s anos de p r i s ã o o u nem c h e g a r i a a p u b l i c a r e s s e s e s c á r n i o s " . "Somente num B r a s i l l i v r e e que um COMUNA, DELATOR e SEM-VERGONHA como v o c ê a i n d a c o n s e g u e emprego num Sxgao de i m p r e n s a ( de d i v u l d a ç ã o ) .

S e r i a de bom a l v i t r e , d a q u i p o r d i a n t e , v o c ê m e d i r s u a s p a l a v r a s , m o s t r a n d o - s e m a i s s e n s a t o e c o e r e n t e , do c o n t r a r i o e s t a r á s u j e i t o a s e r j u l g a d o p o r um TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO. P e r g u n t e a l t a l de AFONSO CELSO NOGUEIRA MONTEIRO, o que é s e r u r e s o n e l o "BRAÇO CLANDESTINO DA REPRESSÃO". A e l e f o i dado uma " c o l h e r de c h á " , p a r a q s " t o d o s o s comunas sa ibam^o que é p a s s a r p o r um c á r c e r e c l a n d e s t i n o . Você q u e r d a r uma de"macho' , ' c o i s a que não é , e com i s s o " j o g a r m e r d a " no v e n t i l a d o r . L e m b r e - s e que quando a ^ " m e r d a f e d e r " , nenhum de s e u s o u v i n t e s ( B I C U D O , e t c ) i r á s e g u r a r a s " p o n t a s " p a r a v o ­c ê , p o i s também t e r ã o o pescoço a p r êm io . Você é um, nós somos m i l h a r e s , "

" G o s t a r i a o s de f a z e r - l h e cqá d e s a f i o d a p u b l i c a ç ã o d e s t a c a r t a a b e r t a . E n t r e t a n t o , sabemos que nao o f a r á , e n g o l i n d o t u d o , p o r q u e a d i v u l g a ç ã o d e s t a s v e r d a d e s não são do s e u i n t e r e s s e e de s eus a m i g o s do PARTIDO". Lr\Ad o v i n l - t n « A~ A- J - - J

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Após a n á l i s e do t e x t o , d e s p r e g a n d o s e u e v i d e n t e "baixo n í v e l , a l g u m a s c o n s i d e r a ç õ e s p r e l i m i n a r e s fáram t e n t a d a s . Pode -se c o n c l u i r , com r a z o á v e l margem d e p r e c i s a o , s e r c o r r e t o c l a s s i f i c a r e s s a e n t i d a d e k a f k i a n a como uma Organ i zação P a r a m i l i t a r F a s c i s t a (OPF) , c u j o s métodos sao em t u d o s e m e l h a n t e s aos u s a d o s p o r o u t r a s o r g a n i z a ç õ e s do mesmo t i p o , t a i s como o Esquadrão da M o r t e , TFP,CCC,MAC,PAC e t a n t a s o u t r a s j á d e ­n u n c i a d a s no r e l a t ó r i o d a n o s s a 2 & Reunião A n u a l , em f e v e r e i r o de 1974o As l i ­gações e n t r e o "Braço C l a n d e s t i n o d a R e p r e s s ã o " e e s s a s o u t r a s o r g a n i z a ç õ e s sao e v i ­d e n t e s . A r e f e r e n c i a f e i t a ao p r o c u r a d o r H é l i o B i c u d o , que se n o t a b i l i z o u p o r s e u d e s t e m o r em t e n t a r , a d e s p e i t o de t o d o s o s o b s t á c u l o s , p r e s s õ e s e ameaças, c o l o c a r no banco d o s r éus o s membros do f an i g e r a d o EM. p a j i l i s t a , é , sem dúv ida , uma p r o v a i n c o n t e s t e d e s s a f r a t e r n i d a d e .

A semelhança n o s métodos c h e g a , às v e z e s , às r a i a s da i d e n t i d a d e . A t e n t e m o s p a r a o s t e r m o s d a c a r t a , d i r i g i d a àque l e mesmo j o r n a l i s t a , a s s i n a d a p o r um d e s s e s o r g a n i s ­mos, o MAC ( q u e , p o r s i i i a l , após a l g u n s anos de a p a r e n t e i n a t i v i d a d e , p a r e c e v o l t a r à p l e n a a t i v i d a d e , p romovendo d i v e r s a s p i c h a ç ó e s no e i x o R i o -São P a u l o ) : " T i v e m o s a o p o r t u n i d a d e de l e r suas d e c l a r a ç õ e s p r e s t a d a s aos j o r n a i s " .

Será que v o c ê u s o u d a v e r d a d e em suas d e c l a r a ç õ e s ?

P e l o que soubemos, v o c ê , no momento que t o m o u c o n h e c i m e n t o da m o r t e do H e r z o g , f i c o u t a o a p a v o r a d o em s e r t a x a d o de d e l a t o r que d i s s e : " v o u s a i r do p a í s , n o i s mao a r r a n ­j a r e i m a i s emprego , além de e s t a r c o r r e n d o o r i s c o de v i d a " .

"Temos a s c ó p i a s de s u a s d e c l a r a ç õ e s p r e s t a d a s com sua l e t r a n a Operação B a n d e i r a n t e s . . Que t a l se as env iássemos p a r a o s j o r n a i s , TV e p a r a t o d a s as e s q u e r d a s ?

N e l a s , d e n t r o de uma s e q u e n c i a l ó g i c a e c o e r e n t e , v o c ê c o n t a t o d a a s u a v i d a de c o m u n i s t a , a l e m d e " d e d a r " v á r i o s o u t r o s c o m p a n h e i r o s do PCB e de p r o f i s s ã o . Nao v e -n h a a l e g a r que e l a s f o r a m d i t a d a s o u t omadas sob coação , p o i s i s t o s e r i a i m p o s s í ­v e l . Você bem sabe d i s t o , s e r á que nao f o i a g o r a c o a g i d o a mudá-las? A c r e d i t a m o s que s i m . Se t i v é s s e m o s uma AAA no B r a s i l , com t o d a a c e r t e z a v o c ê e n c a b e ç a r i a a l i s t a . Nãose esqueça que a " o n d a " poderá v i r a r . Já p e n s o u n i s s o ? P e l o que também soubemos, os s eus d e m a i s c o m p a n h e i r o s nao ( Ju i s e ram e n t r a r n e s s a " f r i a " , p o i s o q u e d e c l a r a r a m no i n q u é r i t o e r a a b s o l u t a m e n t e v e r d a d e . S e j a i n t e l i g e n t e e s a f e s u a p e l e e a de s u a f a m í l i a . Em " b r i g a de ma r com a s p e d r a s , cr o s m a r i s c o s e n t r a m p e l o c a n o " .

V ê - s e que a demonstração de dforça nao sao a c o n s t a n t e das o r g a n i z a ç õ e s do g ê n e r o . T e n t a m , com i s s o , m o s t r a r - s e o n i p r e s e n t e s e o n i p o t e n t e s , i m p o s s í v e l de se l h e s e s ­c a p a r , i m p o s s í v e l de l h e s b a t e r . E t a n t o m a i s f o r t e s sao q u a n t o m a i s a c r e d i t e o s que a s s i m o s e j a m . Daí a t e n t a t i v a de i n t i m i d a ç ã o , a impos i ção do s i l ê n c i o f a c e % a s a r b i t r a r i e d a d e s e a i n j u s t i ç a s . P o r q u e e s s e s m o n s t r o s , como o s i s t e m a que o s e n g e n ­d r o u , se a l i m e n t a m de s i l ê n c i o e m e d o . A q u i , as ameaças d i r e t a s e b r u t a i s - a t i n g e m t u d a uma f a m í l i a . O que v a l e é a impos i ção do raêdo. O que v a l e é a manutenção do r e ­g ime de t e r r o r - e é de t e r r o r o r e g i m e que v i t i m a o p a í s . L e m b r a - s e a q u i ans n o r ­mas de d i g n i d a d e e moralnão p a s s a r i a de s i m p l e s e x e r c í c i o s de i n g e n u i d a d e .

A r e f e r ê n c i a a t r i s t e m e n t e c é l e b r e A l i a n ç a A n t i c u m u n i s t a A r g e n t i n a ( A A A ) q u e t e m co i ­f a d o , com i m e n s o s r e q u i n t e s de p e r v e r s i d a d e , a v i d a de c e n t e n a s d o s m e l h o r e s f i ­l h o s do povo a r g e n t i n o , v e r d a d e i r o Esquadrão da M o r t e a g i n d o com f i n a l i d a d e s e x c l u ­s i v a m e n t e p o l í t i c a s , f a z - n o s i n t u i r l i g a g õ e s e n t r e a s O r g a n i z a ç õ e s P a r a m i l i t a r e s F a s c i s t a s do f a s c i s m o c a b o c l o e s u a s i rmãs do e x t e r i o r , uma v e r d a d e i r a " m u l t i n a c i o ­n a l do t e r r o r " ,

Uma m u l t i n a c i o n a l onde f u n c i o n a uma M a c a b r a " t r o c a de g e n t i l e z a " , c o n f o r m e podemos c o m p r o v a r p e l o t e o r d a d e n u n c i a f e i t a à J u s t i ç a A r g e n t i n a p e l o advogado M i g u e l R a d i o -z z a n i G o n i . A d e n u n c i a f e i t a à J u s t i ç a e s t a b e l e c e " v í n c u l o s e n t r e a AAA e o s e s q u a ­d r õ e s da m o r t e que a tuam t a n t o no B r a s i l como no U r u g u a y " e como p r o v a d e s s a a c u ­sação , c i t a o caso do " M a j o r C e r v e i r a " , a s i l a d o p o l í t i c o p r o c e d e n t e do C h i l e e de o r i g e m b r a s i l e i r a que f o i s e q u e s t r a d o n a A r g e n t i n a e a p a r e c e u m o r t o , pouco temno d e p o i s , no B r a s i l , d e n t r o de uma ambu lânc i a . ( o E s t a d o de São P a u l o , 1 5 . o 7 . 7 5 ) . ' Já as l i g a ç õ e s com os o r g a n i s m o s o f i c i a i s de r e p r e s s ã o são bem m a i s e v i d e n t e s .

Operação B à n d e i r a n t e s ^ é o a n t i g o ^ n o m e do a t u a l CODI/DOI de São P a ü o , Como se e x p l i c a ­r i a a e x i s t ê n c i a de c ó p i a s das j á " f a m o s a s " d e c l a r a ç õ e s de p r ó p r i o p u n h o " ? P o d e r i a a l ­guém, e s t r a n h o a este o r g a n i s m o , t e r a l g u m a p o s s i b i l i d a d e de a c e s s o " a seus u l t r a s e c r e * t o s a r q u i v o s ?

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acesso a s eus u l t r a s e c r e t o s a r q u i v o s ?

Sobre e s s a s l i g a ç õ e s , v a l e l e m b r a r novamen t e o r e l a t ó r i o de n o s s a 2* Reunião A n u ­a l , q u e s o b r e o CCC d i z i a : " . . . o r g a n i z a ç ã o de c u n h o m i l i t a r que t r a b a l h a e s t r e i t a ­m e n t e l i g a d a aos s e t o r e s o f i c i a i s de r e p r e s s ã o p o l í t i c a , i n c l u s i v e d e l a p a r t i c i ­pando a g e n t e s do D0PS( como é o caso dos D e l e g a d o s R a u l N o g u e i r a - " R a u l C a r e c a " - e P ed ro Amér ico L e a l ) , do CODI ( D e l e g a d o O t á v i o Gonça l ves M o r e i r a J r . - " O t a v i n h o , R o ­b e r t o " P a d r e " - e x - c a r c e r e i r o , a t u a l m e n t e t o r t u r a d o r , c a p i t ã o do E x é r c i t o Maur í c i o Lopes L i m a ) , d a s Fo rças Armadas-em g e r a l ( como o t e n e n t e - c o r o n e l I l u s , do R e g i m e n t o de C a v a l a r i a Mecah i zada-REC-MEC- em P o r t o A l e g r e , R S , . . ) . ( . . . ) r e c e b e , a i n d a a r m a ­m e n t o s e t r e i n a m e n t o m i l i t a r d e s s e s o r g a n i s m o s o f i c i a i s de r e p r e s s ã o " .

E s t a s são a l g u m a s das f a c e s d e s s a s o r g a n i z a ç õ e s p a r a m i l i t a r e s " c l a n d e s t i n a s " . M u i t a s o u t r a s há a d e s v e n d a r . A s s i m , t u d o o que v i m o s a t é a q u i é pouco p a r a n o s d a r c o n d i ç õ e s de r e s p o n d e r àque l a s i n t e r r o g a ç õ e s o f i c i a i s . P a r a t a n t o , do a u t o -i n t i t u l a d o "Braço C l a n d e s t i n o da Rep r e s são , f a z - s e n e c e s s á r i o c o n h e c e r m a i s a f u n ­do s u a s e s t r u t u r a s , s e u s métodos , s u a i n f r a - e s t r u t u r a , m a t e r i a l , s eu d i a a d i a de a tuação . P a r a i s s o , t o m a m o s c o n h e c i m e n t o d o s g r a v í s s i m o s f a t o s o c o r r i d o s em o u t u ­b r o de 1 9 7 5 , quando o advogado e p r o f e s s o r A f o n s o C e l s o N o g u e i r a M o n t e i r o , e x -v e r e a d o r à Camara M u n i c i p a l de N i t e r o i - R J e e x - d e p u t a d o à Assemb l é i a L e g i s l a t i ­v a do E s t a d o do R J , f o i s e q u e s t r a d o , m e t i d o p r i s i o n e i r o e t o r t u r a d o p o r esse o r ­g a n i s m o . E i s o r e l a t o : " R e l a t ó r i o d o " S e q u e s t r o " de A f f o n s o C e l s o N o g u e i r a M o n t e i ­r o , o c o r r i d o em 1? de o u t u b r o de 1 9 7 5 , n a c i d a d e de Sao l a i l o .

l o C e r c a de 9 : 3 0 h s , próximo à b a n c a de j o r n a i s s i t u a d a n a e s q u i n a da Rua V i s c o n ­d e s s a de Sao J o a q u i m com A v e n i d a B r i g a d e i r o L u i s A n t o n i o , f o i a g a r r a d o p o r d o i s h o m e n s , d o m i n a d o e e m p u r r a d o p a r a d e n t r o de um VW, c u j a c o r nao i d e n t i f i c a , e n c a ­puçado e m e t i d o , à f o r ç a , com a cabeça e n t r e as p e r n a s e com o c o r p o c o b e r t o , no q u e supõe, com um p a l e t ó . 0 c a r r o p a r t i u em s e g u i d a .

Na o p o r t u n i d a d e em que f o i a g a r r a d o , g r i t o u d i z e n d o - s e s e q u e s t r a d o e que i a m ma­t á - l o e t o r t u r á - l o , t e n d o p r e c e b i d o que f o r m o u - s e um a g l o m e r a d o de p e s s o a s que p a s ­savam no l o e a l .

No c a r r o em q u e o c o n d u z i a m i a m 3 s e q u e s t r a d o r e s , d o i s no banco d a f r e n t e e, no b a n co de t r á s , um o u t r o que o m a n t i n h a c u r v a d o , com a c abega e n t r e as p e r n a s e q u e , l o ­go de i n í c i o , t i r o u - l h e o r e l ó g i o e o a l g e m o u com as maos n a s c o s t a s .

O u v i u um d o s o c u p a n t e s - o que se e n c o n t r a v a ao l a d o do m o t o r i s t a - d i z e r que " o o u t r o c a r r o e s t á v i n d o n a c o b e r t u r a " . Tem a impressão que o c a r r o d o b r o u à e s q u e r d a ao e n t r a r n a Av . B r i g a d e i r o L u i s A n t o n i o , s a i n d o d a r u a V i s c o n d e s s a de Sao J o a q u i m , mas nao g a r a n t e o i n t i n e r á r i o , p o i s f i c o u a t o r d o a d o com o i n o p i n a d o e a r a p i d e z do " s e q u e s t r o " .

Nao t e m e l e m e n t o s p a r a i n f o r m a r o r o t e i r o s e g u i d o , p o r q u e além do a t o r d o a m e n t o i n i c i a l j á r e f e r i d o , h o u v e , como é ó b v i o , empenho do m o t o r i s t a em i m p o s s i b i l i t a r h i p o t é t i c o s e g u i m e n t o do i t i n e r á r i o .

D u r a n t e o percuasso , " o s s e q u e s t r a d o r e s " r e c o l h e r a m d o c u m e n t o s , ano tações e p e r t e n ­c e s que se e n c o n t r a v a m n o s b o l s o s do " s e q u e s t r a d o " , t i r a r a m - l h e o c i n t o e p r o c u r a ­r a m d a r a impressão de serem p o l i c i a i s l i g a d o s à r e p r e s s ã o ao t r á f i c o de t ó x i c o s , a f i r m a n d o ^ q u e e l e e r a acusado de p e r t e n c e r a uma q u a d r i l h a de t r a f i c a n t e s , com r a m i f i c a ç õ e s no P a r a g u a i , r e s p o n s á v e l p e l a g u a r d a de duas m a l a s de c o c a í n a e que após d e p o i m e n t o s e a c a r e a ç õ e s , s e f o s s e i n o c e n t e s e r i a p o s t o em l i b e r d a d e .

Embora c o n v e n c i d o d a n a t u r e z a p o l í t i c a do " s e q u e s t r o " } l i m i t o u - s e a d e c l a r a r que n a d a s a b i a s o b r e o a s s u n t o p r e t e x t a d o .

2 . Após c e r c a de a p r o x i m a d a m e n t e 20 m i n u t o s r o d a d o s em zona u r b a n a , o c a r r o e n t r o u e e s t a c i o n o u em uma e s p é c i e de á r ea i n t e r n a , l u g a r m o v i m e n t a d o , com c i r c u l a ç ã o de p e s s o a s e c a r r o s , p a r e c e n d o p á t i o de cu a r t e l . p e q u e n o o u d e l e g a c i a g r a n d e , o n d e , após p e r m a n e c e r u n s c i n c o m i n u t o s , f o i t r a n s f e r i d o p a r a a banco t r a s e i r o de o u t r o c a r r o , com s u b s t i t u i ç ã o de c a p u z p o r v e n d a de b o r r a c h a e p o r ó c u l o s que p r e s u m e e s ­c u r o s , Duas p e s s o a s o c u p a r a m o banco d i a n t e i r o desse VW e f o i i n i c i a d a v i a g e m que d u r o u , ao que s u p õ e , p e r t o de uma h o r a , d a s q u a i s u n s dez m i n u t o s em zona s u b u r b a n a , m e i a h o r a em e s t r a d a de t r á f e g o i n t e n s o e v i n t e m i n u t o s em e s t r a d a a s c e n d e n t e não p a v i ­m e n t a d a , de s o l o i r r e g u l a r , c h e i a de c u r v a s , e que a t r a v e s s a uma l i n h a f é r r e a , f a t o

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e s t e i n d i c a d o p e l a c o i n c i d ê n c i a da p a s s a g e m , n a o c a s i ã o , de um t r e m a v e l o c i d a d e "bem r e d u z i d a .

3 . Chegando ao d e s t i n o f o i r e t i r a d o do c a r r o p o r alguém que chamando-o p e l o nome, d è s s e - l h e e s t a r em p o d e r do "b raço c l a n d e s t i n o d a r e p r e s s ã o do g o v e r n o " , do qp. a l ninguém p o d e r i a t i r á - l o e que h a v i a chegado a h o r a .

Em s e g u i d a , é c o n d u z i d o p o r um gramado a t é uma c a l ç a d a c i m e n t a d a , t r a n s p o s t a a q u a l s e g u e - s e uma e s c a d a que desce u n s q u a t r o l a n c e s em a n g u l o r e t o , a t é um r e ­c i n t o que denominam " b u r a c o " , onde o c o l o c a m v o l t a d o p a r a um c a n t o de p a r e d e . I m e d i a t a m e n t e d e s n u d a m - n o , desca l çam-no , a m a r r a m - l h e a s maos , s e g u r a m - n o e l h e a p l i c a m c h o q u e s e l é t r i c o s , i n i c i a n d o - s e o p r o c e s s o de t o r t u r a , que c o n t i n u a s u s -p e n d e n d o - o no " p a u - d e - a r a r a " , a p l i c a n d o s i m u l t a n e a m e n t e c h o q u e s e l é t r i c o s em t o d o o c o r p o e p a n c a d a s n a s p a r t e s m u s c u l a r e s e x p o s t a s , p r i n c i p a l m e n t e nádegas , d o r s o , espáduas e b r a ç o s e

E n q u a n t o i s s o , v á r i o s c i r c u n s t a n t e s ( t a l v e z 5 ) , i d e n t i f i c a d o s p o r t i m b r e s e v o l u ­mes d i f e r e n t e s de v o z e s , f a zem p e r g u n t a s d i f e r e n c i a d a s e d e s c o n e x a s , i n d i c a n d o o i n t u i t o de t u m u l t u a r m e n t a l m e n t e a v í t i m a , e não de o b t e r q u a l q u e r p o s s í v e l r e s p o s t a . I g u a l m e n t e , l h e são d i r i g i d o s i m p r o p é r i o s , i n j ú r i a s , acusações e amea­ç a s , v i s a n d o , p o r c e r t o , a b a t e r - l h e o m o r a l .

R e t i r a d o do " p a u - d e - a r a r a " , p r o s s e g u e m os choques e l é t r i c o s p o r t o d o o c o r p o d u r a n ­t e a l g u m t e m p o .

D u r a n t e e s s a f a s e de t o r t u r a , embora nao p o s s a d i s t i n g u i r p e s s o a s nem o b j e t o s no a m b i e n t e , p o r p e rmanece r em c o n t i n u a m e n t e v e n d a d o s o s s eus o l h o s , pode p e r c e b e r , em v i r t u d e d a s f u l g u r a ç õ e s e i l u m i n a r e s e l é t r i c o s dos c h o q u e s , v u l t o s d i v e r s o s . S e n t e que o chao l a m a c e n t o é de c i m e n t o e e s c o r r e g a d i o e que a s p a r e d e s sao úmi­d a s , com o r e b o c o em decompos ição , c a i n d o aos pedaços ao n e l e se a p o i a r . Supõe, p o r i s s o , t r a t a r - s e de a m b i e n t e s u b t e r r â n e o .

4 . Após c e r t o tempo d e t o r t u r a , c u j a duração nao pode p r e c i s a r , i n c l u s i v e p o r p r e s u ­m i r h a v e r d e sma i ado no d e c u r s o da mesma, p o i s r e c o r d a - s e de se s u r p r e e n d e r d e i t a d o no chao l a m a c e n t o sem que se l e m b r e de se t e r d e i t a d o c o n s c i e n t e m e n t e , f o i l e v a d o p a r a um q u a r t o de p i s o de t a c o s , t e n d o passado de novo p e l a c a l ç a d a e p e l o g ramado , e n t r a d o em um p r é d i o , âub ido n o v a e s c a d a e a t r a v e s s a d o c o r r e d o r e s que dob ram em ân­g u l o r e t o .

Nessa s a l a , sempre n u , é a u r o r i z a d o a d e i t a r - s e no chão, i n i c i a n d o o i n t e r r o g a t ó r i o , d u r a n t e o q u a l d u a s p e s s o a s o i n t e r r o g a m , a l t e r n a r d o - s e i n d a g a n d o s o b r e p o s s í v e i s e n c o n t r o s m a r c a d o s com d i v e r s a s p e s s o a s , s o b r e nomes e ende r e ços , que d e s c o n h e c e , mo m u n i c í p i o de Sao P a u l o . 0 i n t e r r o g a t ó r i o é demorado e c h e i o de ameaças.

5» I n s a t i s f e i t o s com o r e s u l t a d o do i n t e r r o g a t ó r i o , é c o n d u z i d o ao l o c a l das t o r t u ­r a s , onde , n o v a m e n t e , e com m a i s v i o l ê n c i a e i n t e n s i d a d e , é s u b m e t i d o à sessão de c h o q u e s e l é t r i c o s , s e g u i d a de novo " p a u - d e - a r a r a " , acompanhado de c h o q u e s e de r e p e 4 t i d a s a s f i x i a s p o r t amponamento da b o c a e das n a r i n a s , o p e r a ç ã o s i m u l t a n e a m e n t e e f e ­t i v a d a p o r t r ê s e x e c u t o r e s .

R e t i r a d o do " p a u - d e - a r a r a " , s e n t e - s e d e s f a l e c e r , d e l í q u i o de que se c e r t i f i c a ao se s u r p r e e n d e r n o v a m e n t e r e t o r n a d o à c o n s c i ê n c i a d e i t a d o n a l a m a do chão e ao o u v i r de a l g u é m : " e sse f r o u x o a c o r d o u " .

6 . R e t o r n a d o , sempre n u e v e n d a d o , ao q u a r t o do i n t e r r o g a t ó r i o , e s t e é r e i n i c i a d o , a i n d a com p e r g u n t a s s o b r e p e s s o a s e l u g a r e s de Saõ P a u l o , e m a i s p e s s o a s e l u g a r e s de S a n t o s , Sao B e r n a r d o , h i p o t é t i c a s l i g a ç õ e s com p a r l a m e n t a r e s e e c l e s i á s t i c o s , c u ­j o s nomes e ende r e ços r e i t e r a não c o n h e c e r . 0 i n t e r r o g a t ó r i o é e x a u s t i v o e, também d e s t a v e z , c h e i o de ameaças de &ovas t o r t u r a s . I n t e r r o m p i d o o i n t e r r o g a t ó r i o , p e r m a n e c e d e i t a d o no chão, s o b r e j o r n a i s , s e n t i n d o - s e s a n g r a r nos^mmfâliros , nádegas e d o r s o , com d o r e s p o r t o d o o c o r p o , com f r i o , fome e s e d e .

SupÕe h a v e r d e sma i ado o u d o r m i d o p o r b a s t a n t e t e m p o , sendo a c o r d a d o p o r alguém que l h e a p r e s e n t a v a s o b r e t m b a n c o , ao que p e r c e b e u p e l o t a t o , um p r a t o de sopa e uma c o ­l h e r * T e n t o u t o m á - l a , mas embora f o s s e m u i t o g r a n d e a f ome , não o c o n s e g u i u , uma v e z

que r r

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e r a demas i ado s a l g a d a , t que m a i s que a f ome , m a r t i r i z a v a - o a sede e nao q u i s a g r a ­v á - l a cora a água de s a l que l h e davam. Deve t e r s o f r i d o n o v o ^ d e s m a i o e d e r r u b a d o a sopa , p o i s r e t o r n a n d o a s i , o p r a t o e a c o l h e r e s t a v a m no chão e e s t e m o l h a d o .

7 . R e i n i c i a - s e o i n t e r r o g a t ó r i o s o b r e os mesmos a s s u n t o s e , f a c e as n o v a s f r u s t r a ç õ ­es das r e s p o s t a s , é m a i s uma v e z l e v a d o à A o r t u r a , a g o r a ^ a o a r l i v r e , ^sem " p a u - d e -a r a r a " , mas com novo método que c o n s i s t e em p e n d u r a r a v í t i m a p e l o s p é s , man t endo os b r a ç o s s u s p e n s o s , p o s i ç ã o em que o socam à a l t u r a do estômago e dos r i n s , t a l v e z com as maõs p r o t e g i d a s p o r l u v a s o u o u t r a c o b e r t u r a m a c i a , p o i s o i m p a c t o e r a s e n t i d o , ^ não' porém os nódu los d o s d edos dos s o q u e a d o r e s . Também, n e s s a o c a s i ã o e n e s s a n o s i ç a o , l h e são a p l i c a d o s c h o q u e s e l é t r i c o s . O u t r a s v e z e s , n a mesma p o s i ç ã o , a v í t i m a e a b r a ­çada p e l a c a i x a t o r á c i c a , f o r t e m e n t e a p e r t a d a e p u x a d a p a r a b a i x o . T e r m i n a a sessão de " t r e i n a m e n t o de b o x e " em saco de a r e i a humano, é d e r r a m a d o s o b r e o c o r p o , a p a r ­t i r d o s p é s , água que e n t r a p e l a s n a r i n a s e ao f i n a l , um l í q u i d o que p r o v o c a i n t e n ­s a sensação de a r d ê n c i a e c a l o r , c u j a n a t u r e z a nao i d e n t i f i c o u *

D e s c i d o do novo i n s t r u m e n t o de m a r t í r i o , p e r g u n t a r a m - l h e se s a b i a n a d a r e i n f o r m a ­ram-no de que t o m a r i a um banho de c a c h o e i r a e^a s e g u i r de r i o . 0 p r i m e i r o banho c o n s i s t e em s e r d e i t a d o e m a n t i d o n e s s a p o s i ç ã o no l e i t o p e d r e g o s o de um r e g a t o p o u ­co p r o f u n d o , c u j a s águas c r e s c e m r e p e n t i n a m e n t e de v o l u m e e ímpe t o , d e t e r m i n a n d o d e ­s e q u i l í b r i o e r e v o l v i m e n t o do c o r p o n a s p e d r a s , aumentando os f e r i m e n t o s e d o r e s .

No banho de r i o , a v í t i m a é a m a r r a d a n e l a c i n t u r a , e m p u r r a d a p a r a um poço o u p e q u e n a p i s c i n a c i m e n t a d a , com f u n d o l i m ò s o ; onde v á r i o s homens se d i v e r t e m com r i s a d a s e c o ­m e n t á r i o s " e s p i r i t u o s o s " i m p o n d o - l h e s u c e s s i v a s a f o g a m e n t o s , a t é o p r e s u m i d o l i m i t e de r e s i s t ê n c i a .

8 . T e r m i n a d o o ú l t i m o b a n h o , é c a r r e g a d o p a r a a dependênc ia próx ima,onde é j o g a d o numa cama, c o b e r t o com uma l o n a r e s s e q u i d a e á spe ra , sob a q u a l , i m p o s s i b i l i t a d o de r e s p i r a r p o r v i o l e n t a s d o r e s no p e i t o e n a s c o s t e l a s , p e r m a n e c e u p o r l a r g o tempo a t r e m e r de f r i o . A n t e s de c o n s e g u i r d o r m i r , p e l a p r i m e i r a v e z desde o " s e q u e s t r o " ^ c o ­meu a l g u m a c o i s a : uma sopa r a l a que l h e t r o u x e r a m ebebeu água.

Passado q u a n t o tempo nao s a b e , f o i a c o r d a d o , l e v a d o p a r a um b a n h e i r o onde o a u t o r i z a ­ram a t o m a r b a n h o , após o q u a l , j á de v e n d a n o s o l h o s , p a s s a m pomada n o s seus f e r i m e n ­t o s e o encaminham p a r a o q u a r t o onde f o i i n t e r r o g a d o . N e l e é i n s t a l a d o numa cama c o ­b e r t a com j o r n a i s , com o u t r o s j o r n a i s p a r a c o b r i r - s e , a l g e m a m - l h e a mão d i r e i t a , p r e n d e n « do a o u t r a p u l s e i r a das a l g emas n a g u a r d a da cama. T r a z e m - l h e c a f é com l e i t e e pão , d e i x a n d o - o s o z i n h a p o r l a r g o tempo em q u e , d e s c a n s a d o e m a i s a t e n t o , pode d e d u z i r p e l o s r u í d o s e sons que d i s t i n g u i a , i n c l u s i v e g r i t o s , que além d e l e , o u t r a s p e s s o a s e s t a v a m sendo t o r t u r a d a s no imóve l em que se e n c o n t r a v a .

Com o t e m p o , e r e c o r d a n d o a p r ó p r i a e x p e r i ê n c i a , p a s s o u a r e l a c i o n a r o r u i d o das c h e g a d a s de c a r r o s com a s u b s e q u e n t e t o r t u r a de n o v o s s e q u e s t r a d o s , g e r a l m e n t e com um i n t e r v a l o de uns dez m i n u t o s e n t r e a chegada do c a r r o e o s p r i m e i r o s g r i t o s dos s u ­p l i c i a d o s .

A p a r t i r d e s s a ^ f a s e a r o t i n a de t o r t u r a s s e g u i d a s de i n t e r r o g a t ó r i o s , f o i s u b s t i t u i d a p o r i n t e r r o g a t ó r i o s m a i s espaçados , a l t e r a n d o i n c l u s i v e o s t emas das p e r g u n t a s , q u e Pas-saram^do p e r í o d o de s u a r e s i d ê n c i a em São P a u l o , e o u t r a s épocas de sua v i d a . Nes sa o c a s i ã o f o r a m - l h e a p r e s e n t a d a s v a r i a s f o t o s , e n t r e as q u a i s " a s de s u a c o m p a n h e i r a , p e s s o a sem e n v o l v i m e n t o p é l í t i c o , c o n i n s i n u a ç ã o de e v e n t u a l ameaça, como e l e m e n t o de p r e s s ã o o p o r t u n a .

D u r a n t e d i a s s e g u i d o s , o u v i u , em p e r i o d o s d i s t i n t o s , g r i t o s que e v i d e n c i a v a m q u e o s mesmos o u n o v o s s e v i c i a d o s e s t a v a m sendo s u b m e t i d o s às c r u e l d a d e s p o r q u e p a s s a r a .

t i c a , a s s m t o m a s , m u s i c a s , e t c . A q u a l q u e r h o r a do d i a o u da n o i t e em que e s t i v e s s e em e s t a d o de c o n s c i ê n c i a , o mesmo b a r u l h o q u e , p o r s í s ó , d e t e r m i n a v a t r e m o r e s e a l u c i n a ­ç õ e s q u e o a c o m e t i a m , r e n o v a n d o o s h o r r o r e s das t o r t u r a s s o f r i d a s .

Em r e l a ç ã o aos f e r i m e n t o s g e n e r a l i z a d o s e o u t r a s c onsequênc i as r e s u l t a n t e s das s e v í c i ­a s s o f r i d a s , i n i c i a r a m tratamer fco , i n c l u s i v e a l i m e n t a ç ã o , com v i s t a s à r e cupe ração o r g a » n i c a »

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9 . Após p e r m a n e c e r onde se e n c o n t r a v a , p o r tempo q u e , na o c a s i ã o , n a s c o n d i ç õ e s de i s o l a m e n t o e de f a l t a de in f o rmações u s u a i s , não pode p r e c i s a r , é i n f o r m a d o de

que i a s e r t r a n s f e r i d o p a r a o u t r o l o c a l , o cu e f o i f e i t o , v endado e a l g e m a d o , em v i a g e m de c e r c a de uma h o r a . Chegado ao novo l o c a l , p u s e r a m - n o em um q u a r t o de c i m e n t o , i l u m i n a d o à l u z e l é t r i c a , sem v e n t i l a ç ã o d i r e t a , uma ve z que o pequeno b a s c u l a n t e e x i s t e n t e no a l t o d a p a r e -de do f u n d o , de c e r c a de 3 0 x 5 0 cm. e s t a v a c o n s t a n t e m e n t e f e c h a d o . N e s t e l o c a l , JCBK l h e f o i p e r m i t i d o , quando s o z i n h o , r e t o r a r a v e n d a d o s o l h o s , com a cond i ção de u -sa^um c a p u z um c a p u z sempre que c a r c e r e i r o s e n t r a s s e m , o que l h e e r a a v i s a d o p r e ­v i a m e n t e . E v i d e n c i o u - s e , desde o i n í c i o , q u e no l o c a l onde se e n c o n t r a v a s e r i a o b j e t o de i n t e n ­s i v o t r a t a m e n t o de r e cupe ração o r g â n i c a , com v i s / t a s a r e p i l o , o q u a n t o a n t e s , n a s m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de a p r e s e n t a ç ã o , e l i m i n a n d o as p r o v a s de t o r t u r a s e m a u s - t r a t o s a n t e r i o r m e n t e s o f r i d o s . A l imen tação e medicação a d e q u a d a s , p o s s i b i l i d a d e de l e i t u r a c a p a z de c o n t r i b u i r p a ­r a a l i v i a r a t ensão a n t e r i o r , a u t o r i z a ç ã o p a r a p e r m a n e c e r sem c a p u z , quando s o z i n h o no q u a r t o , i n t e r r o g a t ó r i o menos f o r çado e sem ameaças ,p r inc i pa lmen t e s o b r e a b i o g r a ­f i a p o l í t i c a do " s e q u e s t r a d o " f o r a m as m o d i f i c a ç õ e s i n t r o d u z i d a s n a n o v a s i t u a ç ã o .

No e n t a n t o , p a r a que s u a cond ição de p r i s i o n e i r o não f o s s e e s q u e c i d a , " g r i l h õ e s " p r e n d i am p e r m a n e n t e m e n t e uma de suas p e r n a s * a cama onde se e n c o n t r a v a e, em im d o s ângu­l o s do q u a r t o , e x i s t i a m d o i s b l o c o s c ú b i c o s de c i m e n t o com a r g o l a s , e v i d e n t e m e n t e d e s t i n a d o s ao a c o r r e n t a m e n t o de alguém em o u t r a f a s e do s e q u e s t r o e permanência a l i .

1 0 . No mesmo d i a da e n t r a d a n e s s e p o s t o de r ecuperação i n t e n s i v a f o i i n f o r m a d o q u e , f a c e à movimentação p r o m o v i d a p o r sua mae e o u t r a s p e s s o a s , a s u a s i t u a ç ã o de s e q u e s ­t r a d o j á e r a de domínio p ú b l i c o , t e n d o s i d o d e n u n c i a d a no Senado , na Camara dos De­p u t a d o s , em A s s e m b l e i a s L e g i s l a t i v a s , r á d i o s e j o r n a i s . T a l f a t o c a u s a v a a o s s e q u e s ­t r a d o r e s a l g u n s embaraços^ p o i s a s a u t o r i d a d e s de segurança do g o v e r n o l h e s e s t a v a m c o b r a n d o a sua a p r e s e n t a ç ã o ; mas e s t a nao p o d i a s e r f e i t a no momento p o r q e , embora s a t i s f a t ó r i o o a n d a m e n t o , a sua r e cupe ração o r g â n i c a a i n d a não se c o m p l e t a r a , sendo m u o t o n u m e r o s a s e e n t e n s a s as f e r i d a s e e q u i m o s e s a i n d a e x i s t e n t e s . N e s t a o p o r t u n i d a d e f o i - l h e d i t o , a i n d a , que a l g u m a s h i p ó t e s e s e x i s t i a m p a r a a so lução de s eu c a s o :

1„ e l im inação f í s i c a , o que , n a s c i r c u n s t a n c i a s , não e s t a v a sendo

c o g i t a d o , 2 ^ l e v a ( í o ^ ^ . ^ e n t i n a , com a a j u d a da ÁAA desse p a í s , onde , a t é sé

q u i z e s s e , p o d e r i a l i g a r - s e a c o m p a n h e i r o s p o l í t i c o s s e u s ;

3 . s e r l i b e r a d o em l o c a l d i s t a n t e , a p a r t i r de onde e quando p o d e r i a , c o n ­f o r m e p r e f e r i s s e , a p r e s e n t a r - s e às a u t o r i d a d e s de segurança o u t e n t a r v i d a c l a n d e s t i n a .

Na h i p ó t e s e de ap r esen tação às a u t o r i d a d e s , e s s a não d e v e r i a o c o r r e r a n t e s d e t r a n s ­c o r r i d o p r a z o que l h e s e r i a f i x a d o , p e r í o d o n e c e s s á r i o e s u f i c i e n t e p a r a que o s e t o r s e q u e s t r a d o r c l a n d e s t i n o a d o t a s s e m e d i d a s p r o t e t o r a s de a u t o - p r e s e r v a ç ã o . Se p r e f e ­r i s s e a c l a n d e s t i n i d a d e , f i c a r i a a v i s a d o , desde l o g o , que um novo e n c o n t r o s i g ­n i f i c a r i a t r a t a m e n t o bem d i f e r e n t e , i n s i n u a n d o p o s s í v e l e l i m i n a ç ã o . A p a r t i r das n o v a s c o n d i ç õ e s , f o i - l h e p o s s í v e l r e e s t r u t u r a r - s e em r e l a ç ã o a espaço e t e m p o . Deduz iu , en t ão , que o l o c a l onde e s t i v e r a e r a de n a t u r e z a r u r a l , s i t u a d o em m e i o à m a t a , onde se o u v i a m pássa ro s e, o c a s i o n a l m e n t e , r u i d o de c h u v a o u v e n t o em á r ­v o r e s , e c u j a ún i ca r e f e r e n c i a com c i d a d e e r á a p e r i ó d i c a chegadade c a r r o s , quase sem­p r e s e g u i d a d o s g r i t o s dos t o r t u r a d o s .

No l o c a l a t u a l , l h e e r a e v i d e n t e e s t a r em zona de subúrb io , o u v i n d o , com r e g u l a r i ­d a d e , passagem de c a r r o s , i n c l u s i v e ôn ibus e, embora menor o número de p e s s o a s com q u e t e v e c o n t a t o (4- a p e n a s ) - i d e n t i f i c a d a s p e l a v o z - ( c o n t i n u a v a com c a p u z n a p r e s ença d o s mesmos ) , e r a m a i s f r e q u e n t e a e n t r a d a e s a í da de c a r r o s .

Quan to às c a r a c t e r í s t i c a s dos i m ó v e i s , o a n t e r i o r r u r a l , supõe s e r s í t i o o u f a z e n d a de bom n í v e l de cons t rução e t r a t a m e n t o , com a j a r d i n a d o e i n s t a l a ç õ e s de l a z e r ( p i s c i n a o u p o ç o ) , amp lo e com m a i s de um b l o c o de c o n s t r u ç ã o . Já o imófrel da n o v a e s t a d i a e r a e v i d e n t e m e n t e u r b a n o ( s u b u r b a n o em r e l a ç ã o a São P a u l o ) , d e tamanho médio , c o m p r i d o , de l a g e , de acabamento t o s c o , c o m c o r r e d o r de l a d r i l h o s e v á r i o s q u a r t o s ao l o n g o do c o r r e d o r . D i s p u n h a de g e l a d e i r a , c h u v e i r o e l é t r i c o no b a n h e i r o e l h e p a r e c e u s e r o ún i co p r i s i o n e i r o n a o p o r t u n i d a d e , s a l v o se o tamanho do imóve l f o s s e bem m a i o r do que supõe, de modo a p r m i t i r t o t a l i s o l a m e n t o em r e l a ç ã a o u t r a o u o u t r a s u n i d a d e s de c a r c e r a g e m .

Relatório - Tomo I - Parte I - O Bagulhão: A Voz dos Presos Políticos Contra a Ditadura

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Em r e l a ç ã o ao t e m p o , s u p u s e r a , a t é c h e g a r às n o v a s c o n d i ç õ e s , t e r t r a n s c o r r i d o , n ô máximo, u n s s e t e d i a s e n t r e s eu s e q u e s t r o e a sa ída do l o c a l de t o r t u r a . Em s u a n o v a p r i s ã o , a p o s s i b i l i d a d e de d i s t i n g u i r d i a e n o i t e , f a c e à c l a r i d a d e d o ( b a e - ) b a s c u l a n t e do q u a r t o e p e l a r o t i n a a m b i e n t e , pôde c o n t a r s e t e d i a s e f e t i v o s de permanênciao No sé t imo d i a , à n o i t e , l h e f o i c o m u n i c a d o que i a s e r l i b e rado , »

11o H o r a s d e p o i s l h e f o r a m d e v o l v i d a s r o u p a s e p e r t e n c e s , i n c l u s i v e d i n h e i r o , a r r e c a ­d a d o s quando do s e u s e q u e s t r o , e f o i c o n d u z i d o , v endado com t a p a o l h o s de b o r r a c h a e ó c u l o s de armação l a r g a , com as maos l e v e m e n t e a m a r r a d a s , à o u t r a r e g i ã o , p o r e s ­t r a d a s d i v e r s a s e de d i v e r s a s n a t u r e z a s , em v i a g e m de a p r o x i m a d a m e n t e 3 h o r a s .

Na o c a s i ã o , r e c e b e u i n s t r u ç õ e s s o b r e o p r o c e d i m e n t o s u b s e q u e n t e : t e l e f o n a r i a p a r a s u a mãe, a v i s a n d o - a de que e s t a v a v i v o e de s eu próximo a p a r e c i m e n t o ; a g u a r d a r i a no l o c a l em que f o s s e d e i x a d o , tempo que l h e s e r i a p r e s c r i t o n a h o r a , p a r a d e s l o c a r - s e no s e n t i d o d e t e r m i n a d o ; não d a r i a , e m nenhuma h i p ó t e s e , i n d i c a ç õ e s que c o n t r i b u i s s e p a r a i d e n t i f i c a r e l o c a l i z a r o u f a c i l i t a r a i d e n t i f i c a ç ã o e l o c a l i z a ç ã o de s e u s s e ­q u e s t r a d o r e s ; só após t r a n s c o r r i d o o p e r í o d o mínimo de 3 d i a s p o d e r i a a p r e s e n t a r - s e a q u a l q u e r a u t o r i d a d e . A t r a n s g r e s s ã o de q u a l q u e r d e s s a s i n s t r u ç õ e s , e das que s e r i a m c o m p l e m e n t a d a s no mo­m e n t o d a l i b e r a ç ã o , d e t e r m i n a r i a punição i m e d i a t a o u p o s t e r i o r , c o n f o r m e o c a s o , c u j a n a t u r e z a , c r i t é r i o - e f o r m a se r e s e r v a r i a m d e c i d i r .

Av i agem f o i c o b e r t a , segundo comentavam, p o r o u t r o c a r r o que v i n h a acompanhando , e d e u - s e , i n i c i a l m e n t e , pòr r u a s de subúrb io (uns dez m i n u t o s ) , d e p o i s , t a l v e z d u a s h o ­r a s , em e s t r a d a p r i n c i p a l de t r á f e g o i n t e n s o e, p o r f i m , m a i s o u menos uma h o r a , em e s t r a d a de t e r r a , i r r e g u l a r , a c i d e n t a d a , c o m b a s t a n t e s c u r v a s .

1 2 . Os ú l t i m o s de z m i n u t o s de p e r c u r s o c o n s t i t u í r a m m a n o b r a s q u e , p e l a s u a n a t u r e z a , d e t e r m i n a v a m f o r t e t ensão , p o i s s u c e s s i v a s e r á p i d a s p a r a d a s , com sa ída do c a r r o de um o u d o i s d o s c o n d u t o r e s , m a r c h a s a r é e avanços r e p e t i d o s e s i l v o s de a p i t o a n t e c e d e ­ram a p a r a d a d e f i n i t i v a .

Então , o que d i r i g i a o c a r r o d e c l a r o u q u e , n a q u e l e l o c a l , a b s o l u t a m e n t e e rmo , o p r i ­s i o n e i r o p o d e r i a s e r l i q u i d a d o e e n t e r r a d o e que j a m a i s s e r i a d e s c o b e r t o , mas que i s t o não s e r i a f e i t o p o i s , " s e u ó d i o e r a c o n t r a o comun ismo , não c o n t r a os c o m u n i s ­t a s " . ^Em s e g u i d a , f o i r e t i r a d o do c a r r o , l e v a d o a t é uma á r v o r e próx ima, l i b e r a r a m - l h e a s maõs d a s c o r d a s e as p u s e r a m em t o r n o da r e f e r i d a á r v o r e ; mandaram que c o n t a s s e a t é m i l , e m v o i a l t a , e n q u a n t o o c a r r o se a f a s t a s s e e q u e , só após t e r m i n a r a c o n - ' t agem r e t i r a s s e a v e n d a , p a r a então i n i c i a r a c a m i n h a d a p e l a e s t r a d a de t e r r a que h.avi« a em f r e n t e , a t é a c i d a d e que e n c o n t r a r i a ao f i m d a mesma. Não p o d e r i a , p e l o tempo de d u a s h o r a s , p ô d i r quãquer " c a r o n a " , p o i s e s t a r i a a s e r r e c o l h i d o p o r p e s s o a s do g r u p o s e q u e s t r a d o r , o que não l h e s e r i a " c o n v i n i e n t e " . Seu r e l ó g i o e s t a v a s i n c r o n i ­zado com o d e l e s , p e l o que nao t e r i a m d i f i c u l d a d e s em o b s e r v a r as d e t e r m i n a ç õ e s de h o ­r á r i o .

I n i c i a d a a c o n t a g e m , n a a l t u r a de v o z que f i x a r a m , o c a r r o a f a s t o u - s e v e l o z m e n t e , d e ­s a p a r e c e n d o o r u í d o c o r r e s p o n d e n t e a n t e s que a c o n t a g e m t e r m i n a s s e . T e r m i n a d a a c o n ­t a g e m , com os o l h o s e a cabeça i n t e n s a m e n t e d o l o r i d o s p e l a v i o l e n t a p r e s são do t a p a ­o l h o s de b o r r a c h a de p n e u , como d e p o i s i d e n t i f i c o u , t e n d o que a g u a r d a r c e r t o tempo a t e q u e , c e s s a d o s os e f e i t o s da compressão e descompressão o c u l a r o c o r r i d a s , p u ­desse a começar a v e r a l g u m a c o i s a em t o r n o , l o c a l i z o u a e s t r a d a r e f e r i d a e i n i ­c i o u a c a m i n h a d a .

1 3 . Eram d u a s h o r a s d a madrugada do d i a 22 de o u t u b r o de 1975 e o s e q u e s t r o se d e r a a 12 de o u t u b r o do mesno a n o . F o i p o s s í v e l , en tão , a v e r i g u a r , com s u r p r e s a , que n p l o c a l da t o r t u r a , h a v i a p e r m a n e c i d o c e r c a de 14 o u 15 d i a s . D e l e s t i v e r a v a g a c o n s c i ê n c i a do t r a n s c u r s o de 6 o u 7 . Do r e s t o d e s s e t e m p o , p a s ­s a r a - o i n c o n s c i e n t e , p o r e f e i t o das t o r t u r a s , i n c l u s i v e d r u í d o e x c e s s i v o ; d e b i l i ­t a ç ã o ; p í l u l a s q u e , p e l o menos t r ê s v e z e s , se r e c o r d a , l h e f i z e r a m t o m a r ; d a t ensão dos i n t e r r o g a t ó r i o s s u c e s s i v o s , d e m o r a d o s e c h e i o s de ameaças;das a n g ú s t i a s em o u ­v i r o s g r i t o s t o r t u r a d o s de o u t r o s s e r e s humanos , i n c l u s i v e m u l h e r e s , a l g u n s dos q u a i s p o s s i v e l m e n t e s eus a m i g o s , c u j a r e s i s t ê n c i a f í s i c a e p s í q u i c a não p o d i a p r e s u m i r e c u j a s v i d a s ^ t a l v e z f o s s e m c o r t a d a s , e m s e g u i d a , p e l a c r u e l d a d e i r r a c i o n a l e mórbida, mas, o que é i n o m i n á v e l , i n t e i r a m e n t e a c o b e r t a d a e p r o t e g i d a p o r t o d o o p o d e r de e s t a d o a i n d a m a i s c r i m i n o s o .

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Quanto a s i , um p e s a d e l o p a r e c i a h a v e r t e r m i n a d o . Que o u t r o s , m a i o r e s e m a i s d o l o r o ­s o s , t a l v e z f a t a i s , l h e s o b r e v e r i a m no f u t u r o , num p a í s e num e s t a d o de c o i s a s em que t u d o é p o s s í v e l , com a n a t u r a l i d a d e a p a r e n t e ^ d e um i m e n s o h o s p i t a l de a l i e n a d o s , o n ­de se h a r m o n i z a m e m a t e r i a l i z a m , como p r o j e ç õ e s c o n c r e t a s , as m a i s e q u í v o c a s e c o n ­t r a d i t ó r i a s i n c o n g r u ê n c i a s que c o n s t i t u e m o mundo m e n t a l i l u s ó r i o de c a d a i n s a n o ?

14o Que p o d e r i a e d e v e r i a f a z e r p a r a c o n t r i b u i r , com a l g u m a e f i c á c i a , p a r a que o s que f i c a r a m sob t o r t u r a s se jam s a l v o s e p a r a que o u t r o s não o s sucedam n a q u e l e n i n h o de m o n s t r o s , e n t r e g u e s a e s s e s sem q u a l q u e r d e s e s a , p r i n c i p a l m e n t e a m a i s o u v m i c a e f i c i e n t e - o c o n h e c i m e n t o do f a t o de s eu s e q u e s t r o p o r p a r e n t e s e a m i g o s , p a r a que possam c o b r a r , pB l a denúncia p ú b l i c a do f a t o , a d e vo lução à v i d a e à i n t e g r i d a d e f í s i c a d a s p e s s o a s s e q u e s t r a d a s p e l o a u t o - d e n o m i n a d o "b raço c l a n d e s t i n o d a r e p r e s s ã o " do ^ovêrno?

Cumpre , e com a u r g ê n c i a m a i s a b s o l u t a , a i d e n t i f i c a ç ã o e e x t i n ç ã o d e s s a a n o m a l i a t e r a t o l ó g i c a , que ameaça a c a d a p e s s o a deees p a í s . Somente a denúnc ia d o s p a r e n t e s , a m i g o s , r e p r e s e n t a n t e s da c o l e t i v i d a d e em t o d o s o s n í v e i s , e n t i d a d e s de t o d a s as n a t u r e z a s , t o d o s os m e i o s de comunicação, do povo e n -f i m A pode s a l v a r os q u e , n e s t e i n s t a n t e , em São P a u l o e o u t r o s p o n t o s do p a í s , e s t ã o sendo c r u e l m e n t e t o r t u r a d o s n o s " b u r a c o s " s e c r e t o s da r e p r e s s ã o , a s s a s i n a d o s e l a n ç a d o s com os pés a m a r r a d o s ao c o r p o em q u a l q u e r r i o , l a g o , r e p r e s a o u p o n t o do m a r , o u e n t e r r a d o s em q u a l q u e r l o c a l e s c o n d i d o da f l o r e s t a , pântano ou campo b r a s i l e i r o , n e g a d o s seus c o r p o s ao doUtimo o l h a r , ab raço , e ó s cu l o dos p a i s , c ô n j u ­g e s , f i l h o s , n a r e n t e s e a m i g o s , ou mesmo q u a l q u e r in fo rmação de seu " d e s a p a r e c i m e n ­t o * .

Desde 1964 a e s t a p a r t e , q u a n t o s b r a s i l e i r o s s o f r e r a m e s s e s a g r a v o s ? Q u a n t o s s o f r e ­r ã o , a i n d a , no f u t u r o , se p e r m i t i r m o s t a l c o i s a ? O s i l e n c i o s e r á t o l e r â n c i a , c o n i v ê n c i a , n a p o i o . A denúncia s e r á r e p u l s a , c o n d e n a ç ã o , e x t i r p a ç ã o d e s s a e x c r e c e n c i a .

Quando a l e r t a d o p e l o s membros do "b raço c l a n d e s t i n o d a r e p r e s s ã o " de que e r a de bom c o n s e l h o , uma v e z s o l t o , não r e v e l a r o que l h e o c o r r e r a , r e s p o n d e u que se empe­n h a r i a ao máximo p a r a que o u t r o s nao m a i s passassem p e l o que p a s s a r a .

E s t e empenho começa o seu c u r s o , n e s t e r e l a t ó r i o em q u e , p a r a f i n a l i z a r , sao c i t a d a s a l g u n s nomes s o b r e os q u a i s o i n t e r r o g a t a m i com m a i s i n s i s t ê n c i a e que t u d o i n d i c a , sáo p e s s o a s que também l á se e n c o n t r a v a m sob t o r t u r a ou q u e , p a r a serem t o r t u r a d o s , e s t a v a m sendo p r o c u r a d a s : u m c a s a l , j o v e m ao que d i z i a m , com c o d i n o m e s de G u i l h e r m e e R a q u e l ; E m í l i o B o n f a n t e de M g r i a , q u e a p e l i d a v a m de I v o e C a b r a l ; S e b a s t i ã o V i t o r i n o d a S i l v a , c h a m a d o André de C a s t r o ; rçamos; C h i c o ; J u l i o ; S í l v i o ; F e l i p e ; M i l a n i ; B r e n o ; J u c a ; R a u l e o u t r o s que não r e c o r d a .

L e m b r a - s e a i n d a de que l h e p e r g u n t a r a m se c h e g o u a c o n h e c e r o u t r o s p i l í t i c o s , d e n t r e o s q u a i s i n c l u i a m os nomes de L u i z I n á c i o Maranhão,David C a p i s t r a n o , J a i m e Amor im de M i r a n d a , I r a n P e r e i r a , E l s o n C o s t a e o u t r o s , c u j o s nomes a i m p r e n s a j á n o t i c i o u como " s u m i d o s " .

Tem c l a r e z a dos r i s c o s que p a s s a a c o r r e r com a r e v e l a ç ã o d e s s a s t e r r í v e i s v e r d a d e s . E n t r e t a n t o , t e m a c o n s c i ê n c i a de q u e , se c a d a um a s s u m i r seu d e v e r de d e n u n c i a r , p r o ­t e s t a r e c o m b a t e r e s s e s c r i m e s , d e i x a r á de h a v e r l u g a r p a r a e l e s .

P o r o u t r o l a d o , a omissão s i g n i f i c a c o m p a c t u a r e e s t i m u l a r o c r e s c i m e n t o d e s s a o n d a de t e r r o r que se a v o l u m a s o b r e SB f a m í l i a s da p á t r i a b r a s i l e i r a ?

R i o de J a n e i r o , 26 de o u t u b r o de 1 9 7 5 . A f f o n s o C e l s o N o g u e i r a Mon­t e i r o .

Após o i m p a c t o d a c r u a e o h j e t i v a nar ração d e s s e s abomináve i s a c o n t e c i m e n t o s - que n o s f a z p e r g u n t a r se não e s t a r e m o s t o d o s v i v e n d o um h o r r í v e l p e s a d e l o - , c abe c o n ­c l u i r :

- O q u e , de i n í c i o , f o r a apenas i n d í c i o , m o s t r a - s e a g o r a i n q u e s t i o n á v e l r e a ­l i d a d e : as l i g a ç õ e s e cooneraçáo e n t r e as OPF v e r d e - a m a r e l a s e suas c ongéne r e s e s ­t r a n g e i r a s . Ao e n c e r r a m e n t o dos t r a b a l h p s d e s s a r eun ião a n u a l somos t r a g i c a m e n t e s u r p r e e n d i d o s com m a i s umamanifestação d o s i n s t r u m e n t o s r e p r e s s i v o s i n t e r n a c i o n a i s : d e sde o d i a ^ l 5 de j a n e i r o d e s t e ano , o b r a s i l e i r o S y d n e i F i x Ma rques d o s S a n t o s , r e s i d e n t e há 3 anos em Buenos A i r e s , f o i l e v a d o de sua c a s a p o r de z j o v e n s c a b e l u ­dos que se d i z i a m a g e n t e s d a Supe r i n t endênc i a d a P o l í c i a F e d e r a l ,

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No d i a s e g u i n t e , os c a b e l u d o s v o l t a r a m a i n v a d i r e m a c a s a , r e v i s t a r amena e f o r a m embora ameaçando os f a m i l i a r e s de S y d n e i . S e u p a i , que e s t á em Buenos A i r e s , p r o c u ­r o u a P o l í c i a F e d e r a l a r g e n t i n a , m a s e l a negou sua p a r t i c i p a ç ã o no s e q u e s t r o e d i s s e não s a b e r onde S y d n e i e s t á . Sua Mãe j á e s c r e v e u ao M i n i s t r o d a s R a l a ç õ e s E x t e r i o r e s do B r a s i l , m a s n a d a c o n s e ­g u i u a t é o momento . C a r t a s f o r a m e n v i a d a s ao M i n i s t é r i o do I n t e r i o r e ao c o m a n d a n ­t e em c h e f e do E x é r c i t o A r g e n t i n o , também sem r e s u l t a d o s .

As v i n c u l a ç õ e s e n t r e e s s a s OPF e o s ó r g ã o s o f i c i a i s de r e p r e s s ã o p o l í t i c a v o l t a m a f i c a r c l a r a s : a passagem, l o g o após o a t o do s e q u e s t r o , p o r q u a r t e l o u d e l e g a c i a ; a i n f o r m a ç ã o , p r e s t a d a p e l o s s e q u e s t r a d o r e s , de que as denúnc ias p u b l i c a s de s eu d e ­s a p a r e c i m e n t o l h e s e s t a v a m c a i s a n d o " a l g u n s ©ibaraços, p o i s as a u t o r i d a d e s de segurança do g o v e r n o l h e s e s t a v a m c o b r a n d o as sua a p r e s e n t a ç ã o " ; a preocupação , comum, em a p a ­g a r , a n t e s d a apresen tação do p r i s i o n e i r o , as m a r c a s e os s i n a i s de t o r t u r a i m p r e s ­s o s no c o r p o do t o r t u r a d o ; o s métodos e i n s t r u m e n t o s de t o r t u r a s u t i l i z a d o s , em t u ­do i d ê n t i c o s ( e t o d o s e l e s j á p o r nós d e n u n c i a d o s em r e l a t ó r i o s a n t e r i o r e s ) . As v i n c u l a ç õ e s , como os c á r c e r e s p r i v a d o s , e x i s t e m p o r t a n t o , e nao sao r e c e n t e s . Já no R e l a t ó r i o de n o s s a 2& Rgunião o provávamos com os e p s ó d i o s d p s a s s a s s i n a t o s do P a ­d r e H e n r i q u e P e r e i r a N e t o a s s e s s o r do A r c e b i s p o de O l i n d a , Dom Hé lde r Camara , e d o s l í d e r e s r e v o l u c i o n á r i o s E d u a r d o L e i t e ( " B a c u r i " ) e J o a q u i m câmara F e r r e i r a ( " T o l e d o " ) .

I s t o p o s t o , c o n c l u i - s e que o "b raço c l a n d e s t i n o d a r e p r e s s ã o " , como d b ^ r e s t o t o d a s a s o u t r a s OPP^ nao pode s e r c o n s i d e r a d o como uma n o v a f o r m a de o r g a n i z a ç ã o d o s ó r g ã o s de r e p r e s s ã o , que e v i d e n c i a s s e mudança de q u a l i d a d e ( a q u e l e s c o n t i n u a m e x i s t i n d o l e ­g a l m e n t e , com s u a e s t r u t u r a p r e s e r v a d a , e f u n c i o n a n d o a t o d o v a p o r . E ex is tem,também as 0PF# com s u a " c l a n d e s t i n i d a d e " ( b u f a ) . Nem s i g n i f i c a r i a p a r a l e l i s m o de p o d e r . Se d i v e r g ê n c i a s há no s e i o d a d i t a d u r a - e e l a s e x i s t e m ( p r o v a i r r e f u t á v e l sao o s r e c e n ­t e s a c o n t e c i m e n t o s de Sao P a u l o , c u l m i n a n d o com a exoneração do c o m a n d a n t e do I I E x é r ­c i t o , g e n e r a l E d n a r d o D 1 A v i l a M e l l o ) - sao t o d a s àe g r a n d e z a s e c u n d á r i a .

Todos os f a s c i s t a s se c o n c e r t a m quando se t r a t a de r e p r i m i r os d e m o c r a t a s , os p a ­t r i o t a s , os r e v o l u c i o n á r i o s .

A e x i s t ê n c i a d a s OPF, p o i s e s t á em p l e n o a c o r d o , é uma e x i g ê n c i a , é uma n e c e s s i d a d e i n t r í n s e c a do " S i s t e m a " q u e , com maõs de f e r r o , d o m i n a o B r a s i l d e h o j e . Há uma l i g a ç ã o í n t i m a , e s s e n c i a l e l ó g i c a e n t r e t o d o s os o r g a n i s m o s r e p r e s s i v o s , s e j am e l a s l e g a i s , s e j a m e l e s " c l a n d e s t i n o s " . 0 " S i s t e m a é um só e v a i dos g a b i n e t e s do p l a n a l t o à s í t i o s s u b u r b a n o s " c l a n d e s t i n o s " . A d i t a d i r r a n e c e s s i t a p o s s u i r a l t e r n a t i v a s d e a t u a -ç ã o . E s t a a v e r d a d e i r a c a r a c t e r í s t i c a d a s OPF - são a l t e r n a t i v a s dea tuação . A í e s t á a r a zão de sua i m p u n i d a d e . U s a n d o - a s , a d i t a d u r a t e n t a m o s t r a r - s e com as maos l i m p a s de s a n g u e .

Quando a f a r s a das " t e n t a t i v a s de f u g a " , d o s f a t r o p e l a m e n t o s " , dos " s u i c í d i o s " , d a s " m o r t e s em t i r o t e i o " nao m a i s se s u s t e n t a ; quando a o p i n i ã o p ú b l i c a n a c i o n a l e i n t e r ­n a c i o n a l se e l e v a , un í ssona , a g r i t a de ind i gnação e r e p ú ê i o , e i s c h e g a d a a h o r a , e i s chegado o momento de e l a s e n t r a r e m em ação .

v - IDENTIFICAÇÃO DOS TORTUR ADORES

Nas ú l t i m a s r e u n i õ e s do Comitê de S o l i d a r i e d a d e aos R e v o l u c i o n á r i o s do B r a s i l d e d i c a m o s p a r t i c u l a r a t enção ao t r a b a l h o de i d e n t i f i c a ç ã o das p e s s o a s r e s p o n s á v e i s d i r e t a o u i n d i r e t a m e n t e p e l a a p l i c a ç ã o de t o r t u r a a p r e s o s p o l i t i c o s , c ô n s c i o s de que a d i v u l g a ç ã o de seus nomes, c a r g o s e p a t e n t e s é t a r e f a i m p o r t a n t e n a l u t a de o p o ­s i ç ã o ao f a s c i s m o b r a s i ü e i r o , com v i s t a s à s u a d e s t r u i ç ã o .

N e s t e a n o , p o r o c a s i ã o d a 4 & Reunião de n o s s o Comitê n o s l i m i t a r e m o s a t r a n s c r e v e r e x t e n s a r e l a ç ã o de t o r t u r a d o r e s d e n u n c i a d o s p o r p r e s o s p o l í t i c o s da c i d a d e de São P a u l o , a t r a v é s de i m p o r t a n t e documen to d i r i g i d o , em meados do ano ao P r e s i d e n t e d a Ordem d o s Advogados do B r a s i l , e que o b t e v e s i g n i f i c a t i v a d i v u l g a ç ã o n a c i o n a l e i n t e r ­n a c i o n a l . Sao c o l i g i d o s , n e s s e d o c u m e n t o , 235 n o m e s , s o b r e o s q u a i s o s p r e s o s p o l í ­t i c o s que e l a b o r a r a m e s t e documento o b s e r v a m o s e g u i n t e :

N O T A: "1.RELACIONAREMOS,EM PRIMEIRO LUGAR, AQUELES P O L I C I ­A I S E MILITARES QUE PARTICIPARAM DIRETAMENTE DE SESSÕES DETORTURA ONDE NÓS FOMOS SEVICIADOS M E D I ­ANTE A APLICAÇÃO DOS MÉTODOS E INSTRUMENTOS QUE VIEMOS DE DESCREVER;DENTRE ESTES AGENTES, TEMOS:

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a ) t o r t u r a d o r e s d o s q u a i s sabemos os nomes c o m p l e t o s e o u t r o s d a d o s ( o s nomes " f r i o s " d e s s e s i n d i v í d u o s e s t ã o c o l o c a d o s e n t r e a s p a s ) ; ( são o s nomes r e l a c i o n a d o s que vao do nfi 1 ao n9 6 0 ) ,

Tl) t o r t u ô a d o r e s d o s q u a i s não sabemos os nomes c o m p l e t o s o u , em m u i ­t o s c a s i o s , que conhecemos anenas p o r s eus nomes " f r i o s " , e d o s q u a i s possuímos a l g u n s o u t r o s dados ( são o s nomes que vão do nQ 6 1 ao ne 1 5 l ) ;

8)EM SEGUNDO LUGAR,RELACIONAREMOS OUTROS P O L I C I A I S E MILITARES QUE CONHECEMOS PESSOALMENTE NOS ÓRGÃOS REPRESSIVOS E QUE ALÍ DESEMPENHAM AS/I MAIS D I ­VERSAS FUNÇÕES-TODAS INTEGRADAS NO ESQUEMA DE TORTURAS ESTABELECIDOS NAQUELES ÓRGíOS - E QUE, CIRCUNSTANCIALMENTE NÃO PARTICIPARAM DIRETAMENTE DAS SEVÍCIAS A NÓS APLICADAS; DE"QUALQUER MODO, SUA COLABORAÇÃO EFETIVA COM A PRÁTICA DE TORTURAS É INEQUÍVOCA E NÃO PODEM SER EXIMIDOS DE RESPONSABILIDADE DIRETA NA EXISENCIA E A T I V I J DADES DOS ÓRGAÕS REPRESSIVOS( são o s nomes que vão do n& 152 a t é o n& 233 )

Os 233 nomes c o l i g i d o s sao os s e g u i n t e s :

1 . MAJ0R DE INFANTARIA DO EXÉRCITO CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA, "DR. T IB IR IÇA " : ; - c o ­m a n d a n t e do C0DI/D0 I (0BAN ) no p e r í o d o 1 9 7 0 / 7 4 . A t u a l m e n t e é t e n e n t e - c o r o n e l n a 9 f tRM Campo G r ande«

2 . CAPITÃO DE ARTILHARIA DO EXÉRCITO BENONI DE ARRUDA ALBERNAZ - c h e f e da E q u i p e A de i n t e r r o g a t o a r i o do CODI/DOI (OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 . A n t e r i o r m e n t e s e r v i u no 25 Gcan 9 0 .

3.CAPITÃO DE EXÉRCITO ÍTALO ROLIM - c h e f e de e q u i p e de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 . P r o f e s s o r d a Fundação r j e t i i l i o V a r g a s . A n t e r i o r m e n t e s e r v i u no 4^ R I 0

4 . TENENTE-CORONEL DO EXÉRCITO VALDIR COELHO - c omandan t e do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 . P o s t e r i o r m e n t e e s t e v e no comando do BEC de P i n d a m o n h a n g a b a .

5 . CAPITÃO DE INTENDÊNCIA DO EXÉR<HT0 DALMO L U I Z C I R I L O , "MAJOR HERMENEGILDO", " L I C I O " , "GARCIA" - a t u a l c omandan t e do CODI/DOI (OBAN) . F o i subcomandan t e d e s t e d e s t a c a m e n t o no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 4 . H o j e é m a j o r .

6 . CAPITÃO DE INFANTARIA DO EXÉRCITO MAURÍCIO LOPES L I M A - cheffe de e q u i p e de b u s c a e o r i e n t a d o » de i n t e r r o g a t ó r i o s do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 6 9 / 7 1 . A n t e r i o r m e n t e s e r v i u no 4^ R I . E s t u d o u , em 1 9 7 0 , no I n s t i t u t o de H i s t ó r i a e G e o g r a f i a da USP.

7 . MAJOR DO EXÉRCITO IMOCÊNCTO F1BRÍCI0 BELTRÃO - CODI/DOI(OBAN) em 1 9 6 9 . Desempenha­v a a t a r e f a ' d e o f i c i a l d e l i g a ç a o e n t r e a 2 * Seção do E x é r c i t o e o CODI/DOI . P o s t e r i ­o r m e n t e f o i A s s e s s o r M i l i t a r d a S e c r e t a r i a de Segurança P ú b l i c a de São P a u l o .

8 . CAPITÃO DE ARTILHARIA DO EXÉRCITO HOMERO CÉSAR MACHADO - c h e f e da E q u i p e B de i n t e r -g o g a r ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 1 9 7 0 .

9 . CAPIT&ODA POLÍCIA MIL ITAR DE SÃO PAULO FRANCISCO ANTONI© COUTINHO DA S I L V A - e q u i p e de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 . A t u a l m e n t e é m a j o r . F o i c o m a n d a n t r d a P o l í c i a R o d o v i á r i a do E s t a d o de SP. em 1 9 7 3 .

10.TENENTE DA POLÍCIA M I I I T A R DE SÃO PAULO DEVANIR ANTONIO DE CASTRO QUEIROZ "BEZERRA$-coordenação d a s e q u i p e s d e b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 1 9 7 3 . A t u a l ­m e n t e é m a j o r .

11.SARGENTO DA POLÍCIA MIL ITAR DE SÃO PAULO BORDINI , "AMERICANO", " R I S A D I N H A " - E q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 . E q u i n e de b u s c a desde 1 9 7 1 .

1 2 . DELEGADO DE POLÍCIA OTÁVIO GONÇALVES MOREIRA JÚNIOR,"VAREJEIRA", "OTAVTNHO"-de l e ­gado do DOEPS/SP c o m i s s i o n a d o no CODI/DOI(OBAN)desde 1969 a t é 25 de f e v e r e i r o de 1 9 7 3 . E r a d a coordenação g e r a l das i n v e s t i g a ç õ e s e p a r t i c i p a v a dos i n t e r r o g a t ó r i o s . P e r t e n c e u ao Comando de Caça aos C o m u n i s t a s ( C C C ) e à S o c i e d a d e B r a s i l e i r a de D e f e s a da T r a d i ç ã o , F a m í l i a e P r o p r i e d a d e ( T F P ) .

1 3 . ADERVAL MONTEIRO,"CARIOflA"- E q u i p e C de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no n e r í o -do de 1 9 7 1 / 7 2 . No segundo s e m e s t r e d e i 9 7 2 f o i t r a n s f e r i d o p a r a o DEOPS/SP.

1 4 . AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL MAURÍCIO JOSÉ DE FREITAS, "LUNGA", " LUNGARET I " -Equ ineAde i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í d d o de 1 9 6 9 / 7 1 . C a r c e r e i r o no n e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 4 .

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1 5 . INVESTIGADOR PAULO ROSA."PAULO BEXIGA" - E q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI (OBAN/fío p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 .

1 6 . INVESTIGADOR PEDRO RAMIRO,"TENENTE RAMIRO"- E q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI (OBAN) desde 1 9 6 9 . Tem uma âncora t a t u a d a num d o s b r a ç o s .

1 7 . DELEGADO DE POLÍCIA DAVI DOS SAN TOS ARAÚJO, "CAPITÃO L I S B 0 A " - B q u i p e B de i n t e r r o ­g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN)noperíodo de 1 9 7 0 7 1 ; em meados de 1 9 7 1 p a s s o u à e q u i p e de b u s c a . A t u a l m e n t e l o t a d o numa d e l e g a c i a da zona s u l d a c i d a d e de Sao P a u l o .

1 8 . DELEGADO DE POLÍCIA ANTONIO V ILELA - e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 9 . PRIMEIRO TENENTE DO CORPO DE BOMBEIROS DAPM DE SP EDSON FAROR0-"BOMBEIRO* - d a E q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 0 .

20. DELEGADO DE POLÍCIA CLEYDE GAIA - d a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP desde 1 9 7 0 .

2 1 . DELEGADO DE POLÍCIA AECIDES S I 1-i G IL IO - da D e l a g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP. no p e r í o d o de 1 9 7 0 7 5 .

2 2 . INVESTIGADOR HENRIQUE PERRONE- da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP.Chefe d o s I n v e s t i g a d o r e s d a e q u i p e do d e l e g a d o F l e u r y desde 1 9 6 9 .

2 3 . DELEGADO DE POLÍCIA JOSECYR CUOCCCchefe de e q u i p e de i n t e r r o g a t ó r i o d a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP. desde 1 9 7 0 .

2 4 . DELEGADO DE POLÍCIA EDSEL MAGNOTTI - da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP. desde 1 9 6 9 .

2 5 . DELEGADO DE POLÍCIA FIRMINIANO PACHECO NETO - d a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 6 9 .

2 6 . DELEGADO DE POLÍCIA RAUL FERREIRA, "PUDIM"-da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP. no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 , É t i d o como membro do Esquadrão da M o r t e .

2 7 . ESCRIVÃO SAMUEL PEREIRA BORBA-da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP. no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 .

2 8 . INVESTIGADOR AMADOR NAVARRO PARRA, "PARRINHA"-da D e l e g a c i a de O r d e m S o c i a l do DEOPS/ SP no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 2 .

29. INVESTIGADOR JOSÉ CAMPOS CORREA FILHO, " "CAKPÃO"" - d a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 6 9 / 7 0 , É t i d o como membro do esquadrão d a m o r t e ,

3 0 . INVESTIGADOR JOÃO CARLOS T R A L L I - d a ^ D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP desde 1 9 6 9 . É t i d o como membro do esquadrão d a m o r t e .

3 1 . INVESTIGADOR ANTONIO LÁZARO C0NSTÂN2IA , " LAZ INHO" -da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 6 9 . E x - j o g a d o r de f u t e b o l p r o f i s s i o n a l .

3 2 . DELEGADO DE POLÍCIA SÉRGIO FERNANDO PARANHOS FLEURY-"COMANDANTE BARRETO"-da D e l e ­g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP d e s d e l 9 6 9 . A t u a l m e n t e é t i t u l a r d e s s a d e l e g a c i a . T i d o como c h e f e do esquadrão d a m o r t e .

3 3 o DELEGADO DE POLÍCIA ERNESTO MILTON D I A S - da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 7 0 , É t i d o como membro do esquadrão d a m o r t e .

3 4 . INVESTIGADOR SÁLVTO FERNANDES MONTES- da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l d a DEOPS/SP em 1 9 7 0 . É t i d o como membro do Bsquadrão da m o r t e ,

3 5 . INVESTIGADOR RUBENS DE 2DUZA PACHECO -"PACHEQUINHO"- da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l em 1 9 6 9 .

3 6 . TENENTE DO EXÉRCITO AGOSTINHO DOS SANTOS NETO - c h e f e d a e q u i p e de t o u t u r a s do PIC do Ba ta lhão de P o l í c i a do E x é r c i t o de São Pau lo (BPE/SP ) em 1 9 7 1 .

3 7 . SEGUNDO TENENTE DO EXERCITO AFONSO MARCONDES - do S e r v i ç o S e c r e t o do E x é r c i t o . S e r ­v i u no Q u a r t e l de L i n s - S P . em 1 9 7 3 .

3 8 . DELEGADO DE POLÍCIA RAUL NOGUEIRA, "RAUL CABECA" -D e l e g ado do DEOPS/SP ,comiss ionado no CODI/DOI(OBAN) em 1 9 6 9 . P e r t e n c e u ao CCC.

3 9 . MAJOR DO EXÉRCITO GOMES CARNEIRO-do CODIGB em 1 9 7 0 . E r a t e n e n t e em 1968, opa^do s e r v i u no 12° S l ( B e l o - H o r i z o n t e - M G ) o

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4 0 . CORONEL BO EXÉRCITO FIÚZA DECASTRO - Comandante do 60DI/GB em 1 9 7 3 . P o s t e r i o r ­m e n t e f o i S e c r e t á r i o de Segurança P ú b l i c a do E s t a d o da G u a a n a b a r a . A t u a l m e n t e ! G e n e r a l .

4 1 . CORONEL DE INFANTARIA DO EXÉRCITO ENY DE OLIVEIRA CASERO- c o m a n d a n t e do 109BC, em G o i â n i a em 1 9 7 2 .

4 2 o DELEGADO DE POLÍCIA PEDRO CARLOS SELLIG#"MAT OR"-do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

4 3 . INSPETOR NILO HERVELHA,"SILVESTRE"-do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / / 7 2 .

4 4 . ENERINO DAIXET,"COMISSÁRIO GALÃ"-do DOPS/SS no p e r í o d o de 1 9 7 0 ^ 2 .

4 5 o ITACY OLIVEIRA, "MÃO DE FERRO", "MÃO DE ONÇA"- do DOPS/RS no p e r i o d o de i970/72 .É i n v e s t i g a d o r .

4 6 . ÊNIO MELICH COELHO,"TIO ÊNIO" - do DOPS/RS no p e r í o d o de 1970/72.É i n v e s t i g a d o r .

4 7 . INSPETOR OMAR GILBERTO GUEDES FERNANDES - d o DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

4 8 . IVO SEBASTIÃO FJECHER - do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

4 9 o PAULO ARTUR, "INSPETOR EDUARDO""MANECO"»—do DOPS/RS em 1 9 7 0 . S e r v e a v á r i o s o u t r o s ó r g ã o s r e p r e s s i v o s em o u t r o s e s t a d o s .

5 0 . INSPETOR LUÍS CARLOS NUNES-do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

5 1 . MAJOR DE CAVALARIA DO EXERCITO DINALMO DOMINGOS-chefe de e q u i p e de t o r t u r a n a 7 * @ia . de G i i a rdas de R e c i f e em 1 9 6 4 .

5 2 . CAPITÃO DE ARTILHARIA DO EXÉRCITO MISMARCK BARACUÍ AMÂNCIO RAMALHO- da 7& C i a . de G u a r d a s do R e c i f e em 1 9 6 4 .

5 3 . INVESTIGADOR LUÍS DA S ILVA- d a S e c r e t a r i a de Segurança P ú b l i c a de Pernambuco em 1 9 6 5 .

5 4 . INVESTIGADOR ABÍLIO PEREIRA- da S e c r e t a r i a de Segurança P ú b l i c a de Pernambuco em 1 9 6 5 .

5 5 . DELEGADO DE POLÍCIA TACIR MENEZES S I A - do D e p a r t a m e n t o de V i g i l â n c i a S o c i a l (DVS, e x DOPS) em M i n a s G e r a i s no p e r í o d o de 1 9 6 4 / 7 0 .

5 6 . GENERAL DE BIVISÃO ANTONIO BANDEIRA- do PIC de B r a s í l i a no p e r i o d o d e l 9 7 0 / 7 3 . A t u ­a l m e n t e é c omandan t e d a 4 f t R M ( J u i z de F o r a - M G . )

5 7 . DELEGADO DE POLÍCIA JOSÉ XAVIER BONFIM- do DPF/GO desde 1 9 6 4 . A t u a l c h e f e d e s s e d e ­p a r t a m e n t o .

5 8 . DELEGADO DE POLÍCIA JESUS FLEURY- do DPF/GO no n e r í o d o de 1 9 6 4 / 7 2 .

5 9 . CAPITÃO DE INFANTARIA DO EXÉRCITO SÉRGIO SANTOS L IMA- do 109BC/G0.em 1 9 7 2 .

6 0 . CAPITÃO DA POLÍCIA MI L I TAR DO PIAUÍ ASTROGILDO PEREIRA SAMPAI O - d i r e t o r do DOPS/ P i a u í no n e r í o d o de 1 9 6 8 / 6 9 .

6 1 . CAPITÃO DE ARTILHARIA DO EXÉRCITO ORESTES, "CAPITÃO RONALDO", " F A R I A " , c h e f e da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOl(OBAN) no p e r í o d o 1 9 7 1 / 7 3 . O f i c i a l d a t u r m a de 1 9 5 7 . A t u a l m e n t e é m a j o r .

6 2 . "EDGAR"-da. e q u i p e de a n á l i s e do CODI/DOI(OBANj desde 1 9 7 2 . Em 1 9 7 1 u s a v a o nome de " C a p i t ã o Andr é " e p a r t i c i p a v a dos i n t e r r o g a t ó r i o s naq i e l e mesmo d e s t a c a m e n t o . É

c a p i t ã o do e x é r c i t o .

6 3 . "CRISTÓVÃO"- d a e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 .

6 4 o "DP..NEI " - c h e f e de i n v e s t i g a ç ã o e a n á l i s e do CODI/DOI (OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 3 . 6 5 . "BISMARCK" - d a e q u j p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no n e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 3 .

O f i c i a l da M a r i n h a .

6 6 . "CAPITÃO CAST ILHO" - d a e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no n e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 3 .

6 7 . " Í T I L A " ( Á T I L A ) - c h e f e da e q u i p e 0 de i n t e r r o gatóario do CODI/DOI (OBAN) em 1 9 7 2 .

6 8 . ^ " C A I O " , "ALEMÃO"- e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 ; e q u i p e A de i n t e r r o ­g a t ó r i o no n e r í o d o de 1972/74.É d e l e g a d o de n o l í c i a .

6 9 . "CAPITÃO HOMERO"-chefe d a e q u i p e C de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 4 .

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-Não se t r a t a de Homero 6ésar Machado , c i t a d o a n t e r i o r m e n t e .

7 0 . "DOUGLAS"- da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI) (OBAN) em 1 9 7 4 .

7 1 . "GALVÃO"- da e q u i p e de i n t e r r o g a t ó r i o do CODl/DOI(OBAN) em 1 9 7 4 .

7 2 . DELEGADO RAUL- da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 . Já f o i d e l e g a d o de p o l í c i a em São C a r l o s-SP.

7 3 . ESCRIVÃO DE POLÍCIA GAETA, "MANGABEIRA"- d a e q u i p e C de i n t e r r o g a t ó r i o do CODl/ DOI(OBAN) desde 1 9 6 9 .

7 4 o "CAPITÃO L I S B O A " - c h e f e da e q u i p e S de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 . Naao se t r a t a do D e l e g a do D a v i dos S a n t o s A r a ú j i , c i t a d o a n t e r i o r m e n t e .

7 5 . " P E D R O " , " D K W " - c a r c e r e i r o e i n t e r r o g a d o r üo CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 f f i / 7 1 o E s o l d a d o da P o l í c i a M i l i t a r de Sao P a u l o .

7 6 . SOLDADO DA AERONÁUTICA R O B E R T O , " P A D R E " - c a r c e r e i r o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 . P o s t e r i o r m e n t e p a s s o u à e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o d e s s e d e s t a c a m e n t o , onde p e r m a n e c e u a t é 1 9 7 2 . H o j e é c a b o . Membro do CCC.

7 7 . "CASADEI " , "MUNIZ " , " A L T A I R " - c a r c e r e i r o da e q u i p e B do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 4 . Em 1 9 7 1 f o i d a e q u i p e de b u s c a do mesmo ó r g ã o .

7 8 . "DR. JOSÉB - c h e f e da e q u i p e A de i n t e r r o g a t o ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 4 .

7 9 o "JACÓ"- da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 4 . É cabo da A e r o n á u t i c a .

8 0 . "ÊNIO" . "MATOS"- da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 . E m 1 9 7 2 p a s s o u à e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o , é t e n e n t e da PM de Sao P a u l o .

8 1 . "DR. JORGE"- c h e f e da e q u i p e C de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no n e r í o s o de 1 9 7 2 / 7 4 .

8 2 . "CAPITÃO PAULO^-che fe da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 4 , é c a p i t ã o do E x e r c i t o . D e s c e n d e n t e de c o r e a n o s .

8 3 o "DUROK"- d a e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 4 .

8 4 o "CAPITÃO UB IRAJARA" - che f e da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) desde 1 9 7 2 . È c a p i t ã o do E x é r c i t o .

8 5 . "TENENTE SAMUEL"- da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do C O D I / D O I ( O B A N ) , 1 9 7 4 .

8 6 . "DR. NOBURO","KUNF F U " - da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAK) em 1 9 7 4 . É n i s s e i . ,

8 7 . * "CAPITÃO A M A C I " - da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI (OBAN) no p e r i o d o de f e v e r e i r o de 1 9 7 1 a f e v e r e i r o de 1 9 7 2 .

8 8 . DIRCEU,"JESUS C R I S T O " , " J C " - d a e q u i p e A d e i n t e r r o g a t o r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e ­r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 . A n t e r i o i e m e n t e f o i f o t ó g r a f o de i n t e r r o g a t ó r i o s no DEOPS/SP. em 1 9 7 0 .

8 9 . SARGENTO DO EXÉRSITO CARLOS^MARIO",- da e q u i p e © d e i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI ( OBAN) no p e r í o d o de 197Ô/74. Em 1 9 7 1 f o i c h e f e de e q i i i p e de busca.Campeão de t i r o ao a l v o em t o r n e i o m i l i t a r . É gaúcho.

9 0 . "TENENTE FORMIGA" da e q u i p e C d e i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 0 / 7 1 .

9 1 . SEGUNDO TENENTE DO EXÉRCITO PORTUGAL- do PIC do BPE/SB; c omandan t e i n t e r i n o d e s s e p e l o t ã o em 1 9 7 1 .

9 2 . SARGENTO DO EXÉRCITO CHAVES- do PIC do BPE/SP em 1 9 7 1 .

9 3 . "OBERDAN", "ZÉ BONETINHO"-da e q u i p e C de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) desde 1 9 7 0 . É c e a r e n s e .

9 4 . SOLDADO DA POLÍCIA MIL ITAR DE SP MAURÍCIO, "ALEMÃO"- a u x i l i a r de c a r c e r e i r o e i n ­t e r r o g a t ó r i o da e q u i p e C do CODI/DOI (OBAli ) desde 1 9 7 0 . R e s i d i u em OSASCO/SP.

9 5 . CAPITÃO DA POLÍCIA M IL ITAR DE SP TOMAZ, "T IBURCIO" - da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI (OBAN) no p e r í o d o de . 1 9 6 9 / 7 0 . Em 1 9 7 1 P a s s o u a c o o r d e n a d o r g e r a l d a s e -q u i p e s de b u s c a .

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. 2 6

Em 1 9 7 1 p a s s o u a c o o r d e n a d o r g e r a l das e q u i p e s de b u s c a .

9 6 . " P E N I N H A " - e s c r i t u r a r i o do CODl/DOI (OBAN) e c a r c e r e i r o s u b s t i t u t o em março de 7 3 .

9 7 . AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL AMÉRICO- c o m i s s i o n a d o no CODl/DOI(OBAN) em 1 9 6 9 , em e q u i p e d e / M é e r r o g a t o r i o . P o s t e r i o r m e n t e f o i c h e f e de c a r c e r a g e m no DPF/SP.

9 8 . "MARECHAL"- c a r c e r e i r o da e q u i p e C do C 0 D l / D 0 l ( 0 B A N ) deède 1 9 6 9 .

9 9 . "DR. TOMÉ","CAPIVARA", "GAGUINHO"- da e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODl/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 0 7 4 .

1 0 0 . "CAPITÃO CABRAL"- da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODl/DOI(OBAN) em 1973 .Em 1 9 7 4 p a s s o u p a r a a e q u i p e C.

1 0 1 . " Í N D I O " - e n f e r m e i r o da e q u i p e B do CODl/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 4 . É do E x e r c i t o , e do E s t a d o do A c r e .

1 0 2 . M A R T E L I - e n f e r m e i r o d a e q u i p e A do CODl/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1971/74.É do E~ x é r c i t o .

1 0 3 . "ZORRO"- do DEOPS/SP em 1 9 7 1 . É i n v e e s t i g a d o r da p o l í c i a .

1 0 4 . INVESTIGADOR MÁRCIO- do DEOPS/SP em 1 9 7 1 .

1 0 5 . INVESTIGADOR LUÍZ - do DEOPS/SP em 1 9 7 1 .

1 0 6 . " F I N O S " - do DEOPS/SP em 1 9 7 1 . É i n v e s t i g a d o r de p o l í c i a .

107."CARLINH0S METRALHA"- da e q u i p e de i n v e s t i g a d o r e s do d e l e g a d o F l e u r y n a D e l e g a c i a

de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP desde 1 9 6 9 .

1 0 8 . "GAÚCHO"- c h e f e de i n v e s t i g a ç ã o ( d e i n v e s t i g a d o r e s ) do DEOPS/SP em 1 9 6 9 .

1 0 9 . CABO DO EXÉRCITO GTL- c a r c e r e i r o do CODl/DOl/GB em 1 9 7 0 .

1 1 0 . CORONEL DO EXÉRCITO ZAMICH- c o m a n d a n t e do CODI/GB em 1 9 7 0 .

1 1 1 . SOLIMAR-do CINEMAR/GB há v á r i o s a n o s . É o f i c i a l d a M a r i n h a . 1 1 2 . CABO DO EXÉRCITO L E L I S - r e c r u t a d o p a r a o CODl/GB quando s e r v i a no BPE/GB em 1 9 7 0 .

É c a t a r i n e n s e .

1 1 3 . "BA IANO" i n v e s t i g a d o r do DOPS/GB c o m i s s i o n a d o no CODl/DOI(OBAN) em 1 9 7 0 .

1 1 4 . "FLÁV IO" , "ROBERTO"- do CODI/GB em 1 9 7 0 . V e i o p a r a Sáo P a u l o em 1 9 7 3 , onde a s s u m i u a c h e f i a do " G r u p o E s p e c i a l " do C 0 D I / D 0 I ( 0 B A N ) , Esse g r u p o a c u m u l a as funções de i n t e r r o g a t ó r i o , a n á l i s e , i n v e s t i g a ç ã o e c a p t u r a . É c a p i t ã o do E x e r c i t o 0

1 1 5 . INVESTIGADOR PIRES - do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 1 6 . " TONIO" , "CATARINA", " G 0 I « R T " - do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 . É i n v e s t i g a d o r .

1 1 7 . INVESTIGADOR CÉSAR "CHISPA" - do DOPS/RS no n e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 1 8 . INVESTIGADOR CARDOSO," CARDOSINHO"- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 3 .

1 1 9 . "CHAPÉU"- do DOPS/RS no p e r í d d d de 1 9 7 0 / 7 2 . É i n v e s t i g a d o r de p o l í c i a .

1 2 0 . INSPETOR JOAQUIM- do DOPS/MS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 2 1 . MELO, do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 2 2 . MAJOR DO EXÉRCITO ÁTILA- do C e n t r o de In fo rmação do E x e r c i t o (C IEx/RS . A t u a l m e n t e em B r a s í l i a .

1 2 3 . TENENTE DO EXÉRXITO FLEURY-do 3 * REC MEC em P o r t o A l e g r e ( R S ) no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 2 5 . INVESTIGADOR FEL IPE , $ BOCO MOCO" - do DOPS/RS no n e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 2 5 . CAPITÃO DO EXÉRCITO ORLANDO- do 12° R I em B e l o H o r i z o n t e ( M G ) em 1 9 6 8 .

1 2 6 . INVESTIGADOR FREDERICO- do DVS ( ex-D0PS)/MG nojrf p e r í o d o de 1 9 6 4 / 7 0 .

1 2 7 . ESCRIVÃO ARIOVALDO - do DVS (ex-DOPS/MC) em 1968.

1 2 8 . SARGENTO DO EXÉRCITO ARRAES- do q u a r t e l de L i n s ( S P em 1 9 7 3 .

1 2 9 . " P I A U Í " - do CODI/BRASÍLIA em 1 9 7 2 .

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1 3 0 . "BUGRE"- do PIC do BPE/BRASÍLIA em 1 9 7 2 . Ê t e n e n t e do E x é r c i t o .

1 3 1 . CABO DO EXÉRCITO TORREZAN- doPIC do BPE/ B r a s í l i a em 1 9 7 2 .

1 3 2 . CABO DO EXÉRCITO MARTINS- do PIC do B P E / B r a s í l i a em 1 9 7 2 .

1 3 3 . CABO DO EXÉRCITO CALEGARI- do PIC de BPE/Bras í l i a em 1 9 ? 2 .

1 3 4 . SARGENTO DA POLÍCIA MIL ITAR DE GO. MARRA- d e l e g a d o de p o l í c i a em Xamboiá(GO) em 1 9 7 2 .

1 3 5 . KÀJBR DO EXÉRCITO 0TH0N- c omandan t e do PIC Do B P E / B r a s í l i a em 1 9 7 2 .

1 3 8 . SARGENTO DO EXÉRCITO VASCONCELOS - do PICdo B P E / B r a s í l i a em 1 9 7 2 .

1 3 7 . SARGENTO DO EXÉRCITO R I B E I R O - PIC do BPE/Bras í l i a em 1 9 7 2 .

1 3 8 . CAPITÃO DO EXÉRCITO MADRUGA,"MEIRELES"- do PIC do B P E / B r a s í l i a em 1 9 7 2 ,

1 3 9 . CABO DO EXÉRCITO EGON- do PIC do B P E / B r a s i l i a em 1 9 7 2 .

1 4 0 . CAPITÃO PARAQUEDISTA DP EXÉRCITO MAGALHÃES- d a B r i g a d a de P à r a q * i e d i s t a s do R i o R i o de J a n e i r o . E n c a r r e g a d o de a t i v i d a d e s r e p r e s s i v a s na r e g i ã o do Xambioá(GO) , em 1 9 7 2 .

1 4 1 . CABO DO EXÉRCITO NAZARENO- do PIC do BPE/ B r a s í l i a em 1 9 7 2 .

1 4 2 . SARGENTO DO EXÉRCITO AVRO- do 102 BC de Go iãn ia (GO) em 1 9 7 2 .

1 4 3 . "RUBENS- d a e q u i p e A de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 4 .

1 4 4 . "ROMUALDO"- da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) no p e r . de 1 9 7 3 / 7 4 .

1 4 5 . MALHÃES- do CIEx/Ré, com a t i v i d a d e s também em o u t r o s E s t a d o s , no p e r í o d o de 1 9 7 0 7 2 . Ê o f i c i a l do E x é r c i t o .

1 4 6 . "TURCO"- da e q u i p e de b u s c a do CODI/BOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 4 e também a u ­x i l i a r de c a r c e r a g e m . É s o l d a d o d a P o l í c i a M i l i t a r de São P a u l o .

1 4 7 . "SATANÁS"- da e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1971/72.Também a u x i ­l i o u n o s e s p a n c a m e n t o s .

1 4 8 . "SANTANA"- da e q u i p e de b u s c a do CODI/DOIJOBAN) no p e r í o d o de 1971/73.Também a u ­x i l i a v a n a s t o r t u r a s .

1 4 9 . "LEÃO*- c h e f e de e q u i p e de b u s c a do COBl/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 5 0 . SOUZA, SOLDADO DA POLÍCIA MIL ITAR DE SÃO PAULO- a u x i l i a r de c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 5 1 . SARGENTO DO EXÉRCITO FERRONATO- do q u a r t e l de L i n s ( S P ) em 1 9 7 3 .

1 5 2 . DELEGADO DE POLÍCIA RENATO D 1ANDREA- d e l e g a d o do DOPS/SP c o m i s s i o n a d o no CODI/DOI/ (OBAN) desde 1 9 7 0 . Em a l g u n s p e r í o d o s a t u a np DEOPS/SP, onde f o i c h e f e deuma e q u i ­

pe d e i n v e s t i g a d o r e s n a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l . Bm o u t r o s , a t u a no CODI/DOl/OBAN)onde, a t u a l m e n t e , é r e s p o n s á v e l p e l o s e t o r de apreensão d e m a t e r i a ! .

1 5 3 . DELEGADO DE POLÍCIA FÁBIO LESSA- do DEOPS/SP , no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 . A t u a l men te é D i r e t o r do P r e s í d i o p a r a p o l i c i a i s c i v i s d e l i d o s , l o c a l i z a d a anexo à P e n e n t e n c i -á r i a do E s t a d o de SãoP&ulo,

1 5 4 o DELEGADO DE POLÍCIA ROBERTO CARDOSO DE MELDD TUCUNDUVA- do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 8 9 / 7 0 .

155« ' DELEGADO DE POLÍCIA ROBERTO GUIMARÃES- do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 .

1 5 6 . DELEGADO DE POLÍCIA VALDIR SIMONETI - do DEOPS/SP em 1 9 6 9 .

1 5 7 . DELEGABO DE POLÍCIA VALTER FERNANDES- da D e l e g a c i a de Oedem S o c i a l , do PEOPS/SB. em 1 9 6 9 .

1 5 8 . DELEGADO DE POLÍCIA IVAHIR DE FREITAS GARCIA- d i r e t o r do DEOPS/SP em 1 9 6 9 . A t u a l m e n t e é d e p u t a d o f e d e r a l p o r São P a u l o .

1 5 9 . DELEGADO DE POLÍCIA L U I Z GONZAGA SANTOS BARBOSA, d i r e t o r de c a r c e r a g e m do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 1 o A t u a l m e n t e d m r e t o r d a P e n e n t e n c i á r i a do E s t a d o de Sao P a u l o .

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1 6 0 . DELEGADO BENEDITO NUNES D I A S - d i r e t o r do DEOPS/SP em 1 9 6 9 , f o i s u b s t i t u i d o p o r I v a h i r de F r e i t a Garc ia »

1 6 1 . DELEGADO DE POLÍCIA DÉCIO KEGDA- da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SB em 1 9 7 1 . P o s t e r i o r m e n t e f o i p r e s o p o r c o r rupção .

1 6 2 . DELEGADO DE POLÍCIA FAUSTO MADUREIRA PARÁ- do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 6 3 * DELEGADO MARANHÃO- do DEOPS/SP em 1 9 7 4 .

1 8 4 . DELEGADO DEPOLÍCIA ACRA- do DEOPS/SP no n e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 6 5 . DELEGADO DE POLÍCIA DAVID HAZAN-do D e p a r t a m e n t o de V i g i l â n c i a S o c i a l ( D V S - e x DOPS), em M i n a s G e r a i s , n o p e r í o d o de 1 9 6 4 > / 7 I .

1 6 6 . DELEGADO DE POLÍCIA MARCO AURÉLIO- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 6 7 . DELEGADO DE POLÍCIA FIRMINO LOPES CARDOSO- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 6 8 . DELEGADO DE POLÍCIA VALTER- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 6 9 . DELEGADO DE POLÍCIA CLÁUDIO ROCA- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

1 7 0 . INVESTIGADOR ASTORIGE CORREA DE PAOLA E SILVA, "CORREINHA"-do DOPS/SP em 1 9 7 1 . onde a u x i l i a v a n o s i n t e r r o g a t ó r i o s . E t i d o como membro do esquadrão d a m o r t e .

171. INVESTIGADOR ADEMAR AUGUSTO DEOLIVEIRA, " F I N I N H O " - do D e p a r t a m e n t o E s t a d u a l de I n v e s t i g a ç õ e s C r i m i n a i s ( D E I C ) de são P a u l o . T o r t u r o u p r e s o s p o l í t i c o s no DEOPS/SPs em^1971 ,quando l á se e n c o n t r a v a o f i c i a l m e n t e p r e s p . É t i d o como membro do Esqu a -drão da m o r t e .

1 7 2 . INVESTIGADOR JULIO CÉSAR RIBEIRO CAMPOS- d a d e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/ SP. em 1 9 6 9 .

1 7 3 . ODILON RIBEIROCAMPOS F I L H O - da D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 6 9 .

1 7 4 . INVESTIGADOR VENCESLAU"SÁ SDBRIKHCL. X d a D e l e g a c i a de Ordem S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 7 1 , onde desempenhava a função de e s c r i v ã o . P o s t e r i o r m e n t e p r e s o p o r c o r ­rupção .

1 7 5 . INVESTIGADOR MIGUEL JOSÉ OL IVEIRA- d a D e l e g a c i a de O r d e m S o c i a l do DEOPS/SP em 1 9 7 1 , onde f a z i a p a r t e d a e q u i p e do d e l e g a d o F l e u r y .

1 7 6 . "GOIANO"- do DEOPS/SP em 1 9 7 1 . É i n v e s t i g a d o r de p o l í c i a .

1 7 7 . "CARIOCA"- c h e f e dos i n v e s t i g a d o r e s do DEOPS/SP a p a r t i r de 1 9 7 0 .

1 7 8 . "ALCEDÍADES- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 3 .

1 7 9 . SARMENTO- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP desde 1 9 6 9 .

1 8 0 . MAURÍLIO- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 1 . A t u a l m e n t e é g u a r d a d a P e n e n t e n e i á r i a d o E s t a d o de Sáo P a u l o .

1 8 1 . DIRCEU- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP desde 1 9 6 9 .

1 8 2 . ELÓI- c a r c e r e i r o doDEOPS desde 1 9 7 0 .

1 8 3 . ADÃO- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP desde 1 9 6 9 .

1 8 4 . AUGUSTO- c a r c e r e i r o do DEOPS/SP desde 1 9 7 0 .

1 8 5 o LEÃO - c a r c e r e i r o do DEOPS/SP no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 4 .

1 8 6 . MONTEIRO- do DEOPS/SP em 1 9 7 4 . É i n v e s t i g a d o r .

1 8 7 o CABO DA PM DE SP SILAS BISPO FECH,"FLECHA"- da e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) , a t é 20 de j a n e i r o de 1 9 7 2 .

1 8 8 . " S A M U E L " , " S A M U C A " , " B E N J A M I N " - c a r c e r e i r o da e q u i p e do C0DI/D0 I ( 0BAN ) d esde 1 9 7 4 . A n t e r i o r m e n t e f o i a u x i l i a r de c a r c e r a g e m . É s o l d a d o da P o l í c i a M i l i t a r de S , P a u l o .

1 8 9 . L I M A - d a e q u i p e de a n á l i s e do CODI/DOI(OBAN em 1 9 7 2 . É do E x é r c i t o .

1 9 0 . FÁBIO- d a e q u i p e de b u s c a do CODl/DOl(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 9 1 . "R INGO" - d a e q u i p e de b u s c a do CODl/DOl(OBAN) n o p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

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1 9 2 . SARGENTO DA PM SE SP DULCÍDIO VANDERLEI J30SCHILA, § J U I Z " - do CODI/DOI(OBAN) no n e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 3 , onde e x e r c i a a função de e s c r i t u r á r i o . É j u i z de f u t e b o l .

1 9 3 . CAPITÃO DO EXÉRCITO ROBERTO PONTUSCHLOA P ILHO- do CODl/DOl(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 6 9 / 7 0 . No segundo s e m e s t r e de 1 9 7 1 f o i do C o n s e l h o P e r m a n e n t e d a 2» A u d i ­t o r i a d a 2» CJM.

1 9 4 . CAPITÃO DO EXÉRCITO PEDRO IVO MOÉZIA L I M A - r e s p o n s á v e l n e l a Secção A d m i n i s ­t r a t i v a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

1 9 5 . PAULO HENRIQUE SAWAIA JÚNIOR- da Coordenação do C O D I / D O I ( O B A N ) . A r r e c a d o u f i n a n ç a s e n t r e o s i n d u s t r i a i s n a r a a sus t en tação d a q u e l e ó r g ã o . P a r t i c i p o u de e q u i p e s de b u s c a s .

1 9 6 . DELEGADO CAVALLARI- d e l e g a d o do DEOPS/SP c o m i s s i o n a d o no CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 0 .

1 9 7 . " BEÊ JOHNSON"- i n v e s t i g a d o r do DEOPS/SP c o m i s s i o n a d o no C 0 D l / D 0 l ( 0 B A N ) em 1 9 7 0 .

1 9 8 . TENENTE LOTT, DA PM DE S P . - c h e f e de e a u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í ­odo de 1 9 7 1 / 7 2 . A n t e r i o r m e n t e f o i c omandan t e da g u a r d a de R e c o l h i m e n t o de P r e s o s T i r a d e n t e s .

1 9 9 . S I D N E I - c a r c e r e t o do CODI/DOI(OBAN/ em 1 9 7 1 .

2 0 0 . SOLDADO DA PM DE S P , D I N I Z , " Q U I N C A S " - a u x i l i a r de c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) desde 1 9 7 0 .

2 0 1 . GABRIEL, SOLDADO DA PM DE SÃO PAULO - a u x i l i a r d e c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) d esde 1 9 7 0 .

2 0 2 . ROSSI . SOLDADO DA PM DE S.PAULO- " L u i z " - a u x i l i a r de c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) d esde 1 9 7 1 .

2 0 3 . SODRÉ, SOLDADO DAPM DE SÃO PAULO- a u x i l i a r de c a t c e r a g e m e t o r t u r a s no CODI/DOI( (OBAN) desde 1 9 7 1 .

2 0 4 . "MICHURA"- a u x i l i a r de c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) desde 1 9 7 2 .

2 0 5 . "CHANO"- a u x i l i a r de c a r c e r a g e m do CODI/DOI(OBAN) desde 1 9 7 2 .

2 0 6 . ABEL, CABO DO EXÉRCITO "FOGUINHO", r e s p o n s á v e l p e l o " r a n c h o " do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 1 . Em 1 9 7 2 p a s s o u * a e q u i p e de b u s c a . É pe rh&mbucano de C a n h o t i n h o .

2 0 7 . "MARINHEIRO"- da e q u i p e de b u s c a do C 0 D l / D 0 l ( 0 B A N ) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

2 0 8 * "LOPES" - da e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 2 .

2 0 9 . "BAMBU"- d a e q u i p e de b u s c a do CODI/DOI(OBAN) no p e r í o d o de 1 9 7 1 / 7 3 .

2 1 0 . " S I M A S " - da e q u i p e de b u s c a do C0DI/D0 I ( 0BAN ) em 1 9 7 2 . É v e n d e d o r de l i v r o s .

2 1 1 . ™ S Í L V I O " - da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o no p e r í o d o de 1 9 7 2 / 7 3 no CODI/DOI (OBAN) .

É e s c r i v ã o da n o l í c i a .

2 1 2 . ^EDUARDO"- da e q u i p e B de i n t e r r o g a t ó r i o do CODI/DOI(OBAN) em 1 9 7 3 .

2 1 3 . DELEGADO DE POLÍCIA LAUDELINO COELHO- d i r e t o r do DPP/Ceará no p e r í o d o de 1 9 6 8 / 7 2 .

2 1 4 . AGENTE UBIRATAN L I M A - do DPP/Ceará no p e r í o d o de 1 9 6 4 / 7 0 .

2 1 5 . MAJOR DO E x e r c i t o , D I M I U R G O - do CODI/GB era 1 9 7 0 2 1 6 . MAJOR DO EXÉRCITO,DALMATURGO-da B r i g a d a ^ d e P â r a q u e d i s t a s do R i o de J a n e i r o . P a r t i ­

c i p o u de a t i v i d a d e s r e p r e s s i v a s n a r e g i ã o de Xambioá(GO) em 1 9 7 2 .

2 1 7 . COMISSÁRIO MARIO BORGES- do DOPS/GB em 1 9 7 0 .

2 1 8 . NELSON SARMENTO- do ClNEM AR e DVS(ex-D0PS)MG. desde 1 9 6 4 .

2 1 9 . SAJCAI, SARGENTO DO EXÉRCITO- do PIC D ü 3PE/SP em 1 9 7 1 .

2 2 0 . ALCIBÍADES, SARGENTO DO EXÉRCITO- d o P I C do BPE/SP em 1 9 7 1 .

2 2 1 . CLÁUDIO- do CINEMAR/GB há v á r i o s a n o s .

2 2 2 . '"'DR. CÉSAR"- do CODI/GB em 1 9 7 2 .

2 2 3 . ESCOLARIC- do DVS(ex-D0PS)MG. no p e r í o d o de 1 9 6 8 / 7 o .

2 2 4 . MACHADO- do DOPS/RS no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

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225«, "FELIPÃO-do DVS(ex-DOPS/MG) em 1 9 7 1 , É i n v e s t i g a d o r de p o l í c i a .

2 2 6 . "PADRE"- do DPP/SP em 1 9 7 0 .

2 2 7 . MARCELO, TENENTE DO EXÉRCITO, do 12? R I , e m ~ B e l o H o r i z o n t e , M f f l . em 1 9 7 1 .

2 2 8 . HOGUEIRA, SARGENTO DO EXÉRCITO, do PIC do BPE/BRASÍLIA em 1 9 7 2 .

2 2 9 . THOMPSON, TENENTE DO EXÉRCITO- do 1 0 ° BC, em Gi i iãn ia , em 1 9 7 2 .

2 3 0 . A R I , CORONEL DO EXERCITO-do B P E / B r a s í l i a no p e r í o d o de 1 9 7 0 / 7 2 .

2 3 1 . "'CASCAVEL" - a g e n t e do DPP/Goiás , em 1 9 7 2 .

2 3 2 . "CARAJÁ"- a g e n t e do DPP/GOIÁS,em 1 9 7 2 .

2 3 3 . " TONTO" -agen t e do DPP/GOIÁS,em 1 9 7 2 .

V I - C O N C L U S Ã O

0 s i m p l e s f a t o de t e r m o s c o n s e g u i d o r e a l i z a r sem i n t e r r u p ç õ e s , d u r a n t e qu -a t r o anos c o n s e c u t i v o s , as r e u n i õ e s o r d i n á r i a s do c o m i t ê de S o l i d a r i e d a d e aos R e v o l u c i o n á r i o s do B r a s i l j á r e p r e s e n t a , em s í , uma d e r r o t a do r e g i m e m i l i t a r v i g e n t e e v i t o r i a da opos i ç ão a n t i f a s c i s t a . Náo f o r a m p o u c a s as d i f i c u l d a d e s e a l g u n s de n o s s o s c o l a b o r a ­d o r e s e n f r e n t a r a m , no i n t e r v a l o , o i m p a c t o d a t o r t u r a n a p r ó p r i a c a r n e , sem t e r e m f o r n e c i d o q u a l q u e r in fo rmação s o b r e a s a t i v i d a d e s de Nosso Comi t ê . E s t a m o s , p o r t a n t o , d i a n t e de uma d u p l a v i t ó r i a .

A denúncia d o s c r i m e s da d i t a d u r a m i l i t a r c r e s c e u enormemente no ú l t i m o a n o , c o n f o r m e se d e p r e e n d e d a l e i t u r a do r e l a t ó r i o que o r a conc lu ímos .Mas o q u a d r o g e r a l de d e s ­r e s p e i t o aos D i r e i t o s Humanos, c r i m e s , t o r t u r a s , a s s a s s i n a t o s , c o n t i n u a d e s o l a d o r . i m -pondo n e c e s s i d a d e de d e s d o b r a r m o s n o s s o s e s f o r ç o s . Quando há a m p l a m o b i l i z a ç ã o p o ­p u l a r de p r o t e s t o c o n t r a d e t e r m i n a d o c r i m e da d i t a d u r a m i l i t a r - como o c o r r e u n o s assas­s i n a t o s de V l a d i m i r H e r z o g e M a n o e l P i e i F i l h o - a má_quina de r e p r e s s ã o e t o r t u r a em­p e r r a m o m e n t a n e a m e n t e , e n g a s g a e d e c o r r e c e r t o p e r í o d o em que o s t o r t n r a d o r e s se mantém em a t i t u d e de t e m e r o s a d e f e n s i v a . Só a p e r s i s t ê n c i a de um m o v i m e n t o v i g o r o s o e c o n s t a n t e denúncia de t a i s c r i m e s pode rá/ p r o d u z i r r e s u l t a d o s m a i s d u r a d o u r o s , c a p a z e s de a u x i l i a r subs tanc iosãmente a l u t a p e l a d e s t r u i ç ã o do r e g i m e f a s c i s t a que esmaga o povo b r a s i l e i r o .

Não t i v e m o s a p r e t e n s ã o de d e s c r e v e r , s e q u e r s u p e r f i c i a l m e n t e , t o d o s o s a t e n t a d o s c o m e t i d o s n e s s e s 1 2 meses c o n t r a a d i g n i d a d e do homem b r a s i l e i r o . F o r a m em número m u i t o m a i o r do que d a b e r i a num r e l a t ó r i o , o u p o d e r i a s e r d i s c u t i d o numa r e u n i ã o . 0 ano de 1 9 7 5 f o i o p e r í o d o de p r i s õ e s em massas , a t i n g i n d o quase t o d a s as u n i d a d e s da f e d e r a ç ã o . A t o r t u r a e s t e v e i n v a r i a v e l m e n t e p r e s e i k e . P r e s o s p o l í t i c o s s o b r e v i v e n ­t e s à f a s e das s e v í c i a s c o n t i n u a r a m s u b m e t i d o s a d e g r a d a n t e s c o n d i ç õ e s c a r c e r á r i a s e à p r o v o c a ç õ e s de t o d a e s p é c i e : o s r e c o l h i d o s à I l h a Grande f o r a m à g r e v e de fome a p a r t i r do d i a 5 de m a i o , e n q u a n t o que o s r e c l u s o s à I l h a de I t amaracá , e s t a d o de P e r n a m b u c o , t i v e r a m que r e c o r r e r a e s t e d u r o e e x t r e m a d o r e c u r s o em duas o p o r t u n i d a ­de s no ano p a s s a d o , uma em j u l h o e o u t r a no mês de o u t u b r o .

Em Sao P a u l o e n a G u a n a b a r a , há o caso de d o i s j o v e n s p á t r i o t a s - I v a n Akrse lnud S e i x a s e Cé sa r Q u e i r o z B e n j a m i m - , p r e s o s meno r e s de i d a d e ( l o anos ) em 1 9 7 1 e q u e se e n c o n ­t r a m d e t i d o s a t é h o j e .

Ás t e n t a t i v a s dos advogados e . s o l t á - l o s o s ó r g ã o s de r e p r e s s ã o r e spondem com amea­ças e t r a n s f e r ê n c i a s s u c e s s i v a s de .p isão . Não e s t ã o c o n d e n a d o s , n e m s u j e i t o a q u a l q u e r l e i . Só se rão s o l t o s quando " d e i x a r e m de a p r e s e n t a r a l t o í n d i c e de p e r i c u l o s i d a d e " . I s t o é , d e i x a r e m de se orar o p o r à d i t a d u r a f a s c i s t a .

Na á r ea r u r a l b r a s i l e i r a o homem c o n t i n u a a s e r p i s o t e a d o p e l a s g r a n d e s e m p r e s a s q u e p e n e t r a m no t e r r o t ó r i o , i m p u l s i o n a d a s p e l o c a p i t a l n o r t e - a m e r i c a n o e e s c o l t a d a s p e l a s f o r ç a s p o l i c i a i s c o l o c a d a s a s eu s e r v i ç o . Exemplo de i m e n s a a t u a l i d a d e f o i c o l h i d o n o s p r ó p r i o s d i a s da r e a l i z a ç ã o d e n o s s a 4 S Reun ião . Recebemos, d u r a n t e os t r a b a l h o s , c a r t a a s s i n a d a p e l a E q u i p e de P a s t o r a l d a T e r r a , d a D i o c e s e de Go i á s , e d a t a d a de 7 do c o r r e n t e mês. n a q u a l é d e n u n c i a d a a de tenção de s e i s t r a b a l h a d o r e s r u r a i s d a l o ­c a l i d a d e de I t a g u a r u . As p r i s õ e s , e f e t u a d a s em 23 de j a n e i r o de 1 9 7 6 , f o r a m uma r e ­p r e s á l i a c o n t r a e sse g r u p o de t r a b a l h a d o r e s , Por t e r e m p r e t e n d i d o se c a n d i d a t a r à d i r e t o r i a .do S i n d i c a t o l o c a l e i m p e d i r a e l e uma l i n h a ^ d e d d e f e s a dos i n t e r e s s e s r e ­a i s de seus r e p r e s e n t a n t e s .

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r e a i s de seus r e p r e s e n t a n t e s , ,

l io campo e n a s c i d a d e s p r o s s e g u i a a m os a t a q u e s e as p e r s e g u i ç õ e s ao homem b r a s i ­l e i r o , e n o s campos e n a s c i d a d e s se deve m u l t i p l i c a r nosso e s f o r ç o de denúnc ia e i s o l a m e n t o d o s m i l i t a r e s que opr imem nosso povo há 1 2 a n o s , a s o l d o de monopó l i o s e s t r a n g e i r o s .

F r a t e r n a l m e n t e s o l i d á r i o s com os p o v o s do mundo empenhados no mesmo c a m i n h o d a l i b e r ­t a ç ã o , e x u l t a n t e s com a v è t ó r i a h i s t ó r i c a dos p o v o s do V i e t n a m , do Cambodge, do L a ­o s , d a G u i n e - B i s s a u , de Moçambique e de A n g o l a , em s u a l u t a h e r ó i c a p e l a i n d e p e n ­d ê n c i a n a c i o n a l e p e l a cons t rução de uma s o c i e d a d e j u s t a , e n c e r r a m o s os t r a b a l h o s de n o s s a 4 & Reunião a n u a l c o n c l a m a n d o t o á o s os b r a s i l e i r o s a c e r r a r e m f i l e i r a s n a l u t a c o n t r a o f a s c i s m o , n a a t i v i d a d e de denúncia das v i o l a ç õ e s aos d i r e i t o s h u m a ­nos e n a d e f e s a d a v e r d a d e i r a d e m o c r a c i a , que nasce rá d a q u e d a do r e g i m e a t u a l de t e j r r o r e c r i m e s e x e c r á v e i s .

COMITÊ PE SOLIDARIEDADE AOS REVOLUCIONÁRIOS DO BRASIL.

F e v e r e i r o de 1 9 7 6 .

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F

February 26, 1970 Issue

Torture in Brazil

Ilha das Flores

To the Editors:

The Greek military régime was excluded from the Council of Europe for murdering andtorturing political prisoners. The European community took this step after a long andconcerted effort to inform public opinion about the Greek government was made bywriters, reporters, editors, and publishers throughout the Western Hemisphere. Anexcellent investigation, conducted by International Amnesty, provided the necessaryfactual evidence for juridical sanctions to be taken.

No such effort is being done about Brazil. In the largest and most populous country ofLatin America a military régime murders and tortures its political opponents as freely asin Greece. The UN’s Declaration of Human Rights, as well as that of the Organization ofAmerican States, is fully disregarded in our country. No Brazilian is safe from systematicbrutality, the press is censored and all opponents of the régime stand trial at militarycourts.

Greece is the birthplace of Western culture, while Brazil is only the backyard of theAmerican empire. A century-old propaganda campaign, together with the long history ofcivil wars in Latin America, somehow makes the American and the European public ratherexpect bloody political repressions in our Continent and, perhaps, find it natural. But is itso? Are murder and torture against a Brazilian a lesser crime than against a Greek, aFrench, or an American citizen? Are the consciences of the peoples of the developedworld not to be disturbed by massacres in Vietnam, Nigeria, Brazil, or any other countryof the Third World? How can one explain the silence that surrounds the Braziliancriminals with official recognition and popular oblivion?

ollowing this letter are two documents written by political prisoners in Brazil. One isa statement by fifteen women still on a prison island, Ilha das Flores, in Rio’s harbor;

the other is a report by a man whose name must be kept secret, for he is now free andinside the country. All the names he mentions are real.

Please consider this as being an insufficient effort to document the realities of Braziltoday. Foreign correspondents, if they are cautious enough, can still work in our country.Why not send someone of your own staff to Brazil?

Brazilian Information Front

LETTER FROM A BRAZILIAN POLITICALPRISONER

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S

An army major called Valdir is the commanding officer of the Operation Bandeirantes,(O.B.), in Sao Paulo. This operation is entrusted to three groups which work on twenty-four-hour turns and are subdivided into smaller ones, in charge of questions, captures,investigations, etc. Each group has a chief, and normally the group in charge of questions(tortures) is headed by an Army captain. Privates are only employed as guards. The rest ofthe work is done by sergeants, officers, detectives, and police officers. These are thepeople responsible for tortures. When a prisoner arrives, handcuffed, he is dragged up astaircase while his guards try to unbalance him. As he is pushed when in handcuffs, a fallgenerally means a broken wrist.

Antenor Meyer, a Law student, after having broken both legs was thus dragged and alsobroke a wrist.

Normally, a new prisoner is immediately taken to the interrogation room, on the secondfloor of Operaçao Bandeirantes‘s headquarters, a building on Sao Paulo’s Tutoia Streetthat lies behind Police Station no. 34, across from a large and muddy parking lot, alwayswatched by armed sentinels.

O.B.’s political prisoners are kept in a row of small cells, next to those of the policestation. There is no water or light and steel bars stand instead of doors. The jail is apartboth from the police station and the O.B. building. To get to the interrogation room aprisoner has to walk some 150 meters, going through two steel doors, two staircases, andseveral small wooden partitions.

eptember 29, 1969, was a rainy day. In spite of the downpour and distance, the terriblescreams of those being tortured had no trouble in crossing the doors, walls, and the

parking lot to get to the three common cells that held ten men each. It is hard to describethe sounds made by men being tortured. They come out involuntarily, deep from the lungs.They cannot be reproduced, but one who has heard them never forgets. It is alsoimpossible to tell how one feels while being tortured but it isn’t only pain.

The interrogation room is small, perhaps 2m. by 2m., and is divided by a wooden wall twometers high. From that height on there is an open space up to the ceiling of the amplesecond floor hall. There are no chairs or tables, for the torturers stand up while working.There is only the “Dragon’s Chair,” on which no one wants to sit. The torturer’s workingequipment is simple: four wooden stools, steel rods, some Army campaign telephones,sticks, a bucket with water, a ferule, ropes, torn shirts, and blankets.

This equipment was used on me for two hours, but there is no limit for the torturesessions and this is, in itself, a form of torture.

When the prisoner arrives at the interrogation room he is told, after a few blows and kicks,to undress. If he refuses, as has already happened, his clothes are torn from his body.Naked, he is made to sit on the floor, bent forward, hands around the ankles. Generally,blanket strips are attached to wrists and ankles, where ropes are to be placed, in order toprevent lasting scars. After being tied strongly, a steel pole is passed under his knees and

*

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J

elbows. He is then lifted some five feet from the ground as the pole’s ends rest on two ofthe stools. In this position, one’s weight rests entirely on the knee and elbow joints. It isthen that the shock machine and the ferule are put to work.

There are several types of shock machines—I was a victim of some five or six differentones—but the most commonly used is an Army campaign telephone. I am not sure, but itseems that it works with an alternating current of 90 volts. A 110-volt machine is alsoused. Sometimes a partly dismantled TV set is employed and for the “Dragon’s Chair” thewires come directly out of the wall. I do not know if they use a transformer or somethingof this nature, but I am certain that the electricity comes out of a normal plug.

If, as usual, a campaign telephone is used, the two wires that come out of the little box areattached to the most sensitive parts of the body. Normally one of the poles is connectedto a finger or a toe while the other is often moved from the tongue to the penis, then to thenose, the anus, the lips. The shock produces a terrible pain and violent muscularcontraction. These contractions are so strong that the body rises and sometimes almostcompletely turns over itself.

When the machine stops for a moment, the muscles relax and the body goes back to itsoriginal position. The shocks are so intense that if the prisoner’s mouth is not stuffed witha piece of cloth, his tongue shrinks inside his mouth and he bites himself to such a degreethat for several days he is unable to speak or eat. The muscular contractions and theposition in which the victim is kept for hours make him lose control over his bowels andbladder. While he is hanging from the steel pole, he is also being beaten with sticks on thesoles, buttocks, and back.

After some time of this treatment, the victim is no longer able to feel legs or stomach, forall is reduced to a terribly painful mass that no longer obeys any orders from the mind. Ithought that my legs had been completely destroyed, as if I had been run over by a tractor.In this state one no longer thinks and very easily slips from semi-consciousness to fullunconsciousness. When this happens, the torturers try to bring back their victim bythrowing water on him and giving more shocks. Water has a tenfold multiplying effect onthe shocks.

I was tortured in this manner for two and a half hours at the Operaçao Bandeirantes‘sheadquarters and, later, for two more hours at the DOPS, political police. I believe I wouldnot have survived a few minutes longer. Prisoners of a stronger build than I have beentortured for many more hours. One of them, Carlos Eduardo Fleury, who later tried tocommit suicide, had a heart failure and was saved by a police officer who was visiting theO.B. and gave him a heart massage. He is alive and can confirm this story, as well as all theother persons whose names I shall mention, except Virgilio Gomes da Silva, murdered,and those who became insane, a fairly large number.

onas was buried as a pauper but in a first-class coffin. His funeral and even his formalblack suit were presents from his murderers, the agents of the Operaçao Bandeirantes

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that tortured him to death on September 29, 1969. They paid him a last tribute for hisgallantry.

Almost at the same moment Jonas’s body was being buried, on the 30th of September,Hilda Gomes da Silva, Virgilio’s wife, was tied to the “Dragon’s Chair,” seeing her four-month-old son being tortured. Virgilio Gomes da Silva’s alias was Jonas.

Carlos Eduardo Fleury, a student accused of revolutionary activities, was tortured forthree hours on his first day in prison, four hours on the second, when he was weaker,three-and-a-half on the third. He couldn’t be tortured on the fourth day, for he hadattempted suicide by twice plunging a pair of scissors in his breast.

Paulo de Tarso Venceslau, a student leader, was tortured for four hours on his first day andhardly twelve hours later, next morning, was tortured again for four hours.

Manoel Cirilo de Oliveira Neto, a student accused of having worked with the group thatkidnapped US ambassador Charles Elbrick, was tortured for three-and-a-half hours aftermaking the 160-mile trip from Sao Sebastiao to Sao Paulo, tied inside the trunk of a car.He was given half an hour rest and then taken in for another session of the same length—torture had only been interrupted while the torturers were having dinner.

Susuki, a painter, was arrested on a street of suburban Osasco, while walking with his four-year-old son, who was left crying on the sidewalk. A madman said he was a member of anonexistent terrorist organization called “Apollo 11.” He was taken to O.B.’s headquartersand tortured. When, a few days later, it was discovered that his accuser was insane, he alsolost his mind.

Takao Amano, a student member of a revolutionary organization, was arrested during a gunfight with the Army and had a 44-caliber bullet in his left leg. He was immediately taken toO.B.’s headquarters and, before getting any medical assistance, was tortured. Each time hewas given an electric shock a blood spurt would stain the walls and the floor. When finallytaken to the Military Hospital, he lay unconscious for days. As soon as he got better, ateam from Operaçao Bandeirantes began to visit him. He was “questioned” while in bed.The visits ended when a doctor found out that the men from the O.B. were stuffing hismouth with sheets in order to prevent his cries from being heard. Takao was tortured againa few days later, when taken back to O.B.’s barracks. His wounds healed only after histransfer to the DOPS jail, where he was no longer tortured.

Carlos Lichtsztein, a twenty-two-year-old student of Austrian descent, was arrested withTakao. He had two Winchester slugs in his legs and a broken femur. He was also torturedbefore getting any medical attention and the O.B. officers twisted his broken leg severaltimes. He survived by falling into a coma. He will have to keep a body length plaster up toMarch or April, 1970, and it is doubtful that he will ever recover entirely.

Where lies the limit for torture? Captain Guimaraes—all torturers call themselves“Guimaraes,” in order to avoid identification—gives an exact definition, when he says:

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“You are all ours here. We will keep you as long as we need to make you talk. Here,everyone talks, or never talks again, got it?”

But it isn’t only to make one talk that torture is used in the Operaçao Bandeirantes.“Laughing” Guimaraes—no one knows for sure his real name, but any prisoner canrecognize him—tortures for pleasure. When his chief is already tired and the questioningover, he asks for fifteen minutes more. He always gets his fifteen minutes, for the O.B.has only one rule: torture, as an everyday routine.

STATEMENT BY WOMEN PRISONERS HELDAT ILHA DAS FLORES (RIO)

We, prisoners held at the Ilha das Flores (Flower’s Island), in Rio de Janeiro, wrote thisletter, at a moment when the Brazilian public begins to be informed about the atrocitiescommitted against political prisoners in our country and still may doubt that these crimesare really happening. We can assure everyone that torture does exist in Brazil. And more—everything that is said about torture methods is very little, compared with the truefacts. We have been victims and witnesses of tortures inflicted here and we consider it ourduty toward truth and justice to denounce them.

Many may ask why it is only now that denunciations are appearing, from every corner ofour country. Threats of more tortures and even death have, up to now, kept us silent.Recently, however, statements by the President of the Republic and the Minister ofJustice, as well as reports by the local and international press, make us believe that we aremore protected against such reprisals. The Facts

1. Ziléa Resnik, 22, arrested on June 5, 1969, accused of belonging to the MR-8revolutionary organization, was kept incommunicado for forty-five days—thirty-fivemore than even the military law allows—during which time she was often beaten.

2. Rosane Resnik, 20, Ziléa’s sister, was arrested on the same charges on July 27, 1969.Stripped naked by her torturers, she was beaten and suffered electric shocks on variousparts of the body, including her nipples.

3. Iná de Souza Medeiros, 20, married to Marco Antonio Faria Medeiros, arrested on thesame charges in Curitiba, Paraná, on July 6, 1969. In Curitiba she was made to witnessthe tortures inflicted upon one of her friends, Milton Gaia Leite, who hung naked froma pole while the radio transmitted, at its loudest, a mass in order to cover up his cries.At the DOPS’s (political police) jail, she was informed that her husband, arrested twomonths before, had died. She panicked, but this information was later proven wrong.Brought to the Ilha das Flores prison, she was beaten, received electric shocks andthreats of sexual assaults.

4. Maria Candida de Souza Gouveia, 22, arrested in Curitiba on July 3, 1969, on the samecharges, was immediately beaten and kicked. Her wrists and ankles were brutallytwisted. She was also stripped.

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5. Maria Mota Lima Alvarez, 20, arrested in Rio de Janeiro on July 9, 1969, on the samecharges, was stripped and beaten. One of her fingers was broken, as can be seen fromphotographs taken by the press when invited to meet the members of MR-8.

6. Marijane Vieira Lisboa, 22, arrested in Rio on September 2, 1969, accused of being amember of the Açao Popular revolutionary movement, was made to strip, beaten, andsubmitted to electric shocks that ended only when she fainted from a heart failure.

7. Marcia Savaget Fiani, 24, arrested in Rio, on the same day and charges as thepreceding, was also made to strip and beaten. The electric shocks administered to herwere made more intense by water previously thrown on her body. On account of theshocks she has now a partial paralysis of her right hand’s fingers. She was keptincommunicado for fourteen days.

8. Solange Maria Santana, 25, was also arrested in Rio on the same day and charges. Shewas stripped naked, beaten, and submitted to electric shocks. She became momentarilyinsane.

9. Ilda Brandle Siegl, 25, arrested in Rio on October 29, 1969, was stripped, beaten andsubmitted to electric shocks, including on her nipples.

10. Maria Elódia Alencar, 38, arrested in Rio on October 30, 1969, was also beaten andsuffered electric shocks. She was tortured by strangling and forced to sign her finaltestimony under torture. Her torturers persistently threatened to arrest and torture herfifteen-year-old son.

11, 12, 13. Priscila Bredariol, 23, Vania Esmanhoto, 24, and Victoria Pamplona, 26,militant members of the JEC, Catholic Student Youth, were arrested in Rio on October31, 1969, on charges of belonging to the Açao Popular, were all beaten and forced tolisten to the cries of Celso Bredariol, Priscila’s husband, and Geraldo Azevedo, Victoria’sfinacé, who were being tortured next door, at the CENIMAR’s officers (Naval InformationCenter).

1. Dorma Tereza de Oliveira, 25, arrested in Rio on October 30, 1969, suffered thecustomary beatings and electrical shocks, plus strangling, drowning, and wounds onher breasts, produced by pincers. Needles were thrust under her finger wounds on herbreasts, produced by pincers. Needles were thrust under her finger

2. Marta Maria Klagsbrunn, 22, arrested in Rio on September 2, 1969. Her husband,Victor Hugo Klagsbrunn was tortured and the jailers threatened several times to takeher to see how they were treating him.

3. Arlinda… arrested on November 14, 1969, in Rio, is kept incommunicado up to thisday. (December 8, 1969).

e can also witness to many other torture cases. We can state, for instance, the caseof Jean Marc Van der Weld, President of The National Student Union, who was

beaten, hung from a pole and submitted to electric shocks during six days, with the resultthat his eardrums are pierced and he suffers from serious neurological disorders. CelsoBredariol and Mario Fonseca Neto were also tortured. The latter was submitted to thetorture called “galetto.” While he was hanging from a pole a fire was set under his body.

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This technique was also employed against Milton Gaia Leite.

Torture cases are being endlessly repeated. We know for sure that the following personswere tortured: Luiz Carlos de Souza Santos, Sebastiao Medeiros Filho, Marco AntonioFaria de Medeiros, Milton Gaia Leite, Rui de Abreu Xavier, Pedro Porfirio Sampaio,Antonio Roger Garcia da Silveira, Geraldo Galiza, Thiago de Almeida, Nielse Fernandes,Aluisio Palmar, Umberto Trigueiros Lima, Helio Medeiros, Jorge Valle, Rodrigo FariaLima, Paulo Roberto das Neves Benchimol, Cesar Cabral, Joao Manoel Fernandes, MauroFernando de Souza, Joseph Bartold Calvet, Victor Hugo Klagsbrunn, Pedro Garcia Gomes,Mario Fonseca Neto, Celso Simoes Bredariol, Geraldo Azevedo, Luiz Henrique Perez,Antonio Oscar Fabino Campos, Flavio Monteiro, André Smolentzov.

Maria Luiza Garcia Rosa, 18, was arrested in Rio, raped and quickly released, for she hadno connection with the revolutionary organizations.

e have four further points to clarify:

1. Torture sessions are commonly held at the Ilha das Flores prison, at theCENIMAR’s offices, on the fourth floor of the Naval Ministry, at the DOPS jails inRio de Janeiro and Curitiba.

2. The torturers are highly placed officers of the CENIMAR, and tortures are known tothe commanding officers and all the military personnel serving here. Torturers try tohide their identity under nicknames such as Dr. Claudio, Commander Mike, Dr.Alfredo, Dr. Breno, and several others.

3. Some privates and petty officers also take part in torture sessions, such as sergeantAlvaro and soldier Sergio.

4. Torturers often visit the island and are “technical advisors” of the island’s commandingofficer, Comdr. Clemente José Monteiro Filho.

We know that our present attitude, denouncing tortures, can spark reprisals against us. Wefear, for it would not be the first case, the simulation of an escape or a suicide to try tohide the truth we are now stating. We call the attention of all those interested in findingout the truth and in punishing the guilty to the fact that we are at the mercy of all types ofviolence and need now, more than ever, the decisive help of all.

Ilha das Flores

December 8, 1969

Signed by: Marta Maria Klagsbrunn, Priscila Magalhaes Bredariol, Martha Alvarez,Rosane Resnik, Vania Esmanhoto, Dorma Tereza de Oliveira, Victoria PamplonaMonteiro, Iná de Souza Medeiros, Marcia Savaget Fiani, Ilda Brandle Siegl, Maria Elodiade Alencar, Solange Maria Santana, Marta Candida Gouveia, Marijane Vieira Lisboa andZiléa Resnik.

After the preceding letter arrived at the New York Review offices, the following

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appeared in Le Monde—Weekly Selection of January 28:

BRAZIL—OFFICIAL BLACKOUT ONVATICAN STAND AGAINST TORTURE

Brazilian authorities have ordered the news media not to publish a statement issued by thePontifical Commission for Justice and Peace condemning the “deplorable violations ofhuman rights” that are taking place in Brazil.

It is quite understandable that the Brazilian authorities should go to any lengths to preventpublication of a Vatican text condemning the use of torture by the police and armyservices engaged in fighting “subversion.”

This condemnation from the Vatican, which adds that Pope Paul VI “is following thesituation of the Church in Brazil with vigilant attention,” could very well encourage thoseBrazilian bishops who have remained silent to denounce the specific cases of torture andthe violations of human rights that have been brought to their attention. There is also thedanger that the Vatican statement will further weaken the government’s credit with theBrazilian public.

This censorship, however, will fail to conceal from the rest of the world the brutalmethods that are being widely used by the police and the para-military services, which theBrazilians themselves compare to those of the Nazis. That the situation could have beenallowed to reach such a point in Brazil, the country of “amiability” and “non-violence inpolitics” should prompt any leaders not yet entirely blinded by the “battle againstsubversion” to try to save their country’s reputation.

Everything indicates that the evidence gathered to date and condensed in Dossier Noir dela Torture (Black Book of Torture), published in Paris, represents only a small part of thebrutalities perpetrated by the police. A few courageous voices, like those of the journalistHelio Fernandes writing in Tribuna da Imprensa and Luis Edgar Andrade in the Jornal doBrasil, are being raised in protest and the intervention of the President of the Republic,General Garrastazu Medici, is being sought. But who will report on the brutal methodsemployed by the military police in the Northeast and other remote states of the interior,which are subjected to total despotism?

The Dragon's Chair is a metal chair connected to an electric current, used for giving electric shocks.↩

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