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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO WANDERSON AUGUSTO DA SILVA MARINHO SANTOS O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS DIMINUI ASSIMETRIA PROPULSIVA EM SEUS PRATICANTES? VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2016

O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS DIMINUI ASSIMETRIA … · 2019-10-25 · manual em cadeiras de rodas, assim como avaliar os aspectos cinéticos presentes nesse sistema, constitui-se

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

WANDERSON AUGUSTO DA SILVA MARINHO SANTOS

O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS DIMINUI ASSIMETRIA PROPULSIVA EM SEUS PRATICANTES?

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE

WANDERSON AUGUSTO DA SILVA MARINHO SANTOS

O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS DIMINUI ASSIMETRIA PROPULSIVA EM SEUS PRATICANTES?

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2016

TCC apresentado ao Curso de Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de bacharel em Educação Física. Orientador: Profº. Me. Saulo Fernandes Melo de Oliveira.

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Catalogação na fonte

Sistema de Bibliotecas da UFPE – Biblioteca Setorial do CAV Bibliotecária Jaciane Freire Santana – CRB-4/2018

S237b Santos, Wanderson Augusto da Silva Marinho.

O basquetebol em cadeira de rodas diminui assimetria propulsiva em seus

praticantes?/ Wanderson Augusto da Silva Marinho Santos. - Vitória de

Santo Antão, 2016.

44 folhas: fig.

Orientador: Saulo Fernandes Melo de Oliveira.

TCC (Graduação)– Universidade Federal de Pernambuco. CAV, Bacharelado

em Educação Física, 2016.

Inclui bibliografia

1. Basquetebol em cadeira de rodas. 2. Propulsão manual. 3. Atletas –

rendimento. I. Oliveira, Saulo Fernandes Melo de (Orientador). II. Título.

796.3238 CDD (23.ed.) BIBCAV/UFPE-075/2016

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WANDERSON AUGUSTO DA SILVA MARINHO SANTOS

O BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS DIMINUI ASSIMETRIA PROPULSIVA EM SEUS PRATICANTES?

TCC apresentado ao Curso de Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de bacharel em Educação Física.

Aprovado em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profº. Me. Saulo Fernandes Melo de Oliveira

Universidade Federal de Pernambuco

_________________________________________ Profº. Me. Flávio Campos de Morais

Universidade Federal de Pernambuco

_________________________________________ Profº. Dr. Francisco Xavier dos Santos Universidade Federal de Pernambuco

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Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais, ao meu orientador, demais familiares e

amigos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a produção do mesmo.

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AGRADECIMENTOS

Essa é a porção deste trabalho que mais me alegro em redigir, pois ela abriga uma

jornada de longos anos marcados por grandes aprendizados. Impossível não

devotar meu primeiro registro de gratidão ao Deus que é autor de toda minha fé e

que, ainda que eu não mereça, insiste em me abençoar. A Ele seja dada toda honra,

glória e louvor! Também faço menção honrosa à Srª. Sueli da Silva Marinho Santos

e ao Sr. Moézio Lima dos Santos, meus pais amados, que jamais abriram mão de

me educar e de me incentivar em meus estudos. Não tenho dúvida de que essas

palavras aqui postas são frutos de tudo o que os senhores um dia plantaram. Ao

Professor Saulo Fernandes Melo de Oliveira, por quem tive a honrosa oportunidade

de ser orientado, minha perene gratidão. Tenho certeza de que a ciência que o Sr.

tanto ama, é abrilhantada com sua história, com sua entrega, com sua humanidade

e com o impacto do seu legado. Por fim, agradeço aos meus familiares e amigos por

pacientemente respeitarem a minha ausência. Quantas vezes, cheio de tarefas, tive

de cancelar momentos e desfazer compromissos, mas a maturidade de vossos

sorrisos sempre me inspirou compreensão e sempre me levou adiante. Por medo de

cometer injustiças, não citarei mais nomes. E não é pela escassez deles, muito pelo

contrário. Sou tão dependente de tantos, que me faltaria vocabulário para qualificá-

los e, acima de tudo, memória para citá-los. Mais uma vez, muito obrigado. Amo

todos vocês.

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“Podemos nos alegrar, igualmente, quando nos encontrarmos diante de sofrimentos

pois, sabemos que os sofrimentos produzem a paciência. E a paciência desenvolve

em nós a força de caráter, e a força de caráter desenvolve em nós a esperança.”

(BÍBLIA, Romanos, 5, 3-4)

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RESUMO

Durante uma partida de basquetebol em cadeira de rodas, o atleta está intimamente

ligado à sua cadeira de rodas, fazendo-se importante entender os mecanismos

envolvidos na capacidade de propulsão manual. Do ponto de vista clínico, a

verificação de simetria/assimetria representa um método para quantificar a

distribuição de variáveis relacionadas às estruturas corporais, tornando-se possível

diagnosticar lesões, incapacidades e possibilidades funcionais desse grupo de

sujeitos. Com isso, o objetivo desse trabalho é avaliar a potência de propulsão em

atletas de basquetebol em cadeira de rodas e sujeitos não atletas, a fim de

comprovar se a prática do esporte em questão pode diminuir assimetria propulsiva.

Participaram deste estudo 34 indivíduos, divididos em dois subgrupos: grupo 1 (G1),

constituído por 17 atletas de basquete em cadeira de rodas; e grupo 2 (G2),

constituído por 17 pessoas sem deficiência física e não atletas. Todos os sujeitos

foram testados por meio de protocolos estacionárias. As medidas foram obtidas com

um dinamômetro compacto (OLIVEIRA et al., 2013) e indicaram que atletas de

basquetebol em cadeira de rodas e indivíduos não atletas possuem valores de

potência propulsiva muito próximos. Porém, foi constatado que a assimetria

propulsiva é menor em atletas.

Palavras-chave: Basquetebol em cadeira de rodas. Propulsão manual. Assimetria

colateral.

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ABSTRACT

During a game in wheelchair basketball, the athlete is closely linked to his

wheelchair, making it important to understand the mechanisms involved in manual

propulsion capacity. From a clinical point of view, checking the symmetry/asymmetry

is a method for quantifying the distribution of variables related to body structures,

making it possible to diagnose injuries, disabilities and functional possibilities of this

group of subjects. Thus, the aim of this study is to evaluate the propulsive power in

wheelchair basketball athletes and in persons not athletes, to see if the sport in

question can decrease propulsive asymmetry. The study included 34 subjects,

divided into two subgroups: group 1 (G1) consisting of 17 wheelchair basketball

athletes; and group 2 (G2), consisting of 17 people without disabilities and non-

athletes. All subjects were tested by means of stationary protocols. The

measurements were obtained with a compact dynamometer (OLIVEIRA et al., 2013)

and indicated that wheelchair basketball athletes and non-athletes have very close

propulsive power values. However, it was found that the propulsive asymmetry is

lower in athletes.

Keywords: Wheelchair basketball. Manual propulsion. Asymmetry collateral.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 REVISÃO DE LITERATURA 14

2.1 Basquetebol em cadeira de rodas: uma abordagem clínica e funcional 14

2.2 A cadeira de rodas e as consequências da propulsão manual 16

2.3 Propulsão manual e simetria/assimetria de membros superiores 21

3 OBJETIVOS 25

4 METODOLOGIA 26

5 RESULTADOS 28

6 DISCUSSÃO 30

7 CONCLUSÃO 32

REFERÊNCIAS 33

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1 INTRODUÇÃO

A deficiência e suas variantes vêm sendo alvo de constantes debates nos

dias hodiernos, principalmente quando a pauta discutida é a inclusão social

(COSTA, SOUSA, 2004). Aliás, é essa “exclusão” ou fuga de padrão na sociedade,

imposta ao indivíduo deficiente no tratar sobre sua limitação na execução de tarefas

cotidianas, que aponta para o próprio conceito de deficiência.

Até o ano de 2012, 10% da população mundial possuía algum tipo de

deficiência, número equivalente a cerca de seiscentos milhões de pessoas

(KOLAYIS, 2012). Dentre os tipos de deficiência, são tidas como mais comuns,

respectivamente: o autismo, o retardo mental e a deficiência física (YANCI et al.,

2015), sendo essa última o foco do presente estudo.

Apesar da expectativa de vida dessa população ter aumentado ao longo dos

anos com o avanço científico, uma série de obstáculos de caráter psicossocial,

ambiental e econômico têm levado o deficiente a adotar um estilo de vida

sedentário. Com isso, o risco de desenvolvimento de doenças crônicas e/ou

incapacitantes (como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, etc.)

aumenta consideravelmente. Essas são apontadas, inclusive, como as principais

causas de mortalidade da população deficiente (LASKIN, SLIVKA, FROGLEY,

2004).

A falta de infraestrutura, observada alarmantemente nos países

subdesenvolvidos, resulta no surgimento de barreiras limitantes à autonomia e

acessibilidade de deficientes físicos nas esferas da vida social. O ato de um usuário

de cadeira de rodas deslocar-se em diferentes locais, por sua livre escolha, migra da

simplicidade para um paradigma a ser quebrado por caracterizar-se excludente

(SILVA et al., 2013).

Nesse contexto, o esporte há muito tem sido visto como uma estratégia

inclusiva para essas pessoas nas sociedades diversas, tanto no Brasil como no

mundo. A história narra, por exemplo, a associação do esporte com o deficiente

físico desde 2500 a.C., creditando aos chineses o pioneirismo dessa iniciativa, ainda

que isenta de um caráter científico (COSTA, SOUSA, 2004).

Entretanto, abordar assuntos que envolvem tal associação é um pujante

desafio. As pesquisas envolvendo essa parte da população constituem-se um

campo novo do conhecimento que tem muito a ser descoberto, já que só foram

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impulsionadas pelo fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por conta do

grande número de homens lesionados no conflito (MOLIK et al., 2013).

Dessa forma, foi nesse período pós-guerra que os governos passaram a

estimular um ajuste na vida de seus ex-combatentes de guerra, que mesmo voltando

para seus países com algum tipo de lesão irreversível, poderiam se tornar heróis

nacionais também se dedicando a algum esporte. Era uma forma de se manterem

produtivos e não caírem no esquecimento da população (SILVA, DRIGO, 2012).

Em meio a essas pretensões, dá-se sobretudo na Inglaterra e nos Estados

Unidos o surgimento de muitos esportes adaptados, como o arco e flecha, o tênis de

mesa, o arremesso de dardos e o basquetebol em cadeira de rodas, sendo esse

último criado especificamente entre os anos 1945-1946 nos hospitais da

Administração de Veteranos e que é considerado o mais popular deles (SILVA,

DRIGO, 2012).

Costa e Sousa (2004) afirmam que no Brasil o desenvolvimento do esporte

adaptado ocorreu com a formação do Clube dos Paraplégicos em São Paulo e do

Clube do Otimismo no Rio de Janeiro, datados de 1958. Ambos surgiram tendo que

lutar em prol da desmistificação da concepção de corpo perfeito, saudável e

produtivo, que existia na época.

A Federação Internacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas (IWBF1),

principal órgão responsável pelo esporte, estima que há aproximadamente 30.000

jogadores em todo o mundo (YANCI et al., 2015; CRESPO-RUIZ, DEL AMA-

ESPINOSA, GIL-AGUDO, 2011). Durante uma partida desse esporte, o atleta está

intimamente ligado à sua cadeira de rodas. É uma relação de interdependência que

os torna um único elemento dentro de quadra. Por isso, além da observância do tipo

de lesão ou incapacidade do indivíduo, faz-se importante a análise da eficácia na

utilização da cadeira de rodas pelo mesmo.

Portanto, entender os mecanismos envolvidos na capacidade de propulsão

manual em cadeiras de rodas, assim como avaliar os aspectos cinéticos presentes

nesse sistema, constitui-se em objeto de estudo de diversos pesquisadores na área

da saúde, tais como profissionais de educação física, médicos e fisioterapeutas, a

fim de diagnosticar lesões, incapacidades e possibilidades funcionais desse grupo

de sujeitos.

1 Sigla oriunda do inglês, para International Wheelchair Basketball Federation.

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Do ponto de vista clínico, a verificação de simetria/assimetria representa um

método para quantificar a distribuição de forças, torques, potência e outras variáveis

relacionadas às estruturas corporais responsáveis no suporte da carga interna

gerada pela carga externa (AMBROSIO et al., 2005). Entretanto, poucos estudos

foram realizados com o objetivo de quantificar o impacto ou o efeito de prática

esportiva em cadeira de rodas na simetria/assimetria de variáveis de propulsão.

Equipamentos ergométricos foram desenvolvidos no sentido de medir ou

estimar a máxima capacidade de exercer trabalho muscular em esforços utilizando

cadeira de rodas. Todavia, a maior parte deles desconsideram a ergonomia do

movimento (HUTZLER et al., 1998), possuem tamanho excessivo (JANSSEN et al.,

1992; AMBROSIO et al., 2005), calibração complexa (DIGIOVINE, COOPER,

BONINGUER, 2001) e estão restritos à laboratórios de análises terapêuticas.

Recentemente, Oliveira et al. (2013), validaram um novo dinamômetro para

uso em cadeiras de rodas, compacto, denominado DINACOM, para avaliação da

capacidade de propulsão em cadeiras com várias dimensões. O DINACOM foi

construído utilizando rolos de treinamento para ciclismo e possui uma interface

analógica-digital toda baseada em software livre (Arduíno®, Itália), permitindo a

avaliação em tempo real dos usuários. Além disso, o equipamento permite que os

atletas possam ser avaliados no próprio local do treinamento e/ou reabilitação.

Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a potência de propulsão de atletas de

basquetebol em cadeira de rodas e comparar os resultados com um grupo de

indivíduos fisicamente capazes e que não possuem nenhum tipo de deficiência, a

fim de comprovar se a prática de basquetebol em cadeira de rodas pode diminuir

assimetria propulsiva.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Basquetebol em cadeira de rodas: uma abordagem clínica e

funcional

O basquetebol em cadeira de rodas se trata de um esporte bastante

dinâmico, rico em movimentos, a exemplo do basquetebol para pessoas sem

deficiência, cujos fundamentos e regras foram aplicados ao jogo adaptado, como

número de jogadores em quadra, tempo de partida, etc. Assim, o basquete em

cadeira de rodas é jogado por duas equipes de cinco jogadores cada. O objetivo do

jogo é que uma equipe faça mais pontos, arremessando a bola na cesta adversária,

e evite que a outra equipe faça o mesmo. O jogo é controlado por árbitros oficiais,

oficiais de mesa e um delegado (OFFICIAL WHEELCHAIR BASKETBALL RULES,

2014).

O WB2 é uma atividade intermitente, que combina repetidas sessões de

exercícios curtos e intensos que incluem corrida rápida, aceleração e desaceleração, mudanças dinâmicas de posição e manutenção ou obtenção de uma posição na quadra. O jogo ocorre ao longo de um período de tempo prolongado e é caracterizado por numerosos períodos curtos de ações de alta ou máxima intensidade de exercício e sprint, intercalados com breves períodos de recuperação (YANCI et al., 2015, p. 71, tradução nossa).

Diversos são os agentes etiológicos que podem acometer um indivíduo

saudável, fazendo-o necessitar do uso da cadeira de rodas para deslocar-se de um

canto a outro. Dentre eles, parecem destacar-se as lesões medulares, as sequelas

causadas pela poliomielite e a amputação de membro(s) inferior(es) (ROCCO,

SAITO, 2006). Nas práticas esportivas adaptadas, principalmente as que dependem

da utilização de cadeira de rodas, como o basquetebol, muito provavelmente

existirão atletas em uma mesma disputa com diferentes níveis de lesões e, por

conseguinte, diferentes limitações.

A fim de proporcionar concorrência igualitária na disputa foram concebidos

para cada esporte, sistemas de classificação da funcionalidade dos jogadores,

levando-se em consideração os diversos graus de deficiência que podem limitar os

movimentos destes (DE LIRA et al., 2010). Esse processo de classificação pode ser

melhor descrito como uma forma de avaliação médica e/ou funcional com a

2 WB ou Wheelchair Basketball, em inglês, Basquetebol em Cadeira de Rodas.

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finalidade de colocar os atletas com deficiência no nível mais adequado de

competição (DOYLE et al., 2004).

No basquetebol em cadeira de rodas, os atletas são classificados com base

em uma escala que engloba 8 pontuações, sendo elas: 1, 1.5, 2, 2.5, 3, 3.5, 4 e 4.5.

Na escala, os números inteiros representam classes que englobam aqueles

jogadores com características funcionais bem definidas, enquanto as pontuações

intermediárias, casos excepcionais, que apresentam traços transitórios entre uma

classe e outra (INTERNATIONAL WHEELCHAIR BASKETBALL FEDERATION,

2014).

Tal distribuição é dada de acordo com o sistema de classificação funcional

desenvolvido pela IWBF, fazendo-se perceber que quanto maior a pontuação de um

atleta, maior sua capacidade funcional e vice-versa. Além disso, uma equipe não

pode ter ao mesmo tempo, em quadra, um somatório maior que 14 pontos,

imposição criada para estimular o equilíbrio e a competitividade entre as equipes

(PERRIMAN, 2014; DE LIRA et al., 2010; MOLIK, 2013).

Além do mais, o sistema de classificação funcional

[...] baseia-se, principalmente, na competência do classificador em reconhecer a capacidade física de um jogador na execução de movimentos fundamentais através de testes de campo e observação de jogo. Esses movimentos incluem e estabilidade do tronco, equilíbrio sentado e movimentação do tronco [...], como ao empurrar e manusear a cadeira de rodas, driblar, passar, arremessar e recuperar a bola (DE LIRA et al., 2010, p. 638, tradução nossa).

Toda essa regulamentação e empenho para desenvolver o esporte fez com

que o basquetebol em cadeira de rodas, deixasse de ser visto como amador e

apenas praticado com fins inclusivos, recreativos e reabilitacionais, fazendo-o

também assumir um perfil mais competitivo, com um caráter profissional e voltado ao

alto rendimento (SILVA, DRIGO, 2012; VITAL et al., 2007).

Nesse sentido, Vanlandewijck, Spaepen e Lysens (1995) evidenciaram um

nível de desempenho inferior em atletas com classificações funcionais menores.

Essas desvantagens funcionais acarretam menor capacidade de manobra da

cadeira de rodas e limitação do alcance das ações em quadra. Essas habilidades

são necessárias, principalmente, em jogadas individuais, tanto em situações de

ataque quanto de defesa. No estudo, jogadores com maior grau de

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comprometimento motor tiveram baixo aproveitamento em arremessos feitos

próximo à cesta, contrapondo os demais.

Assim como nos demais esportes de alto rendimento, adaptados ou não, no

basquete em cadeira de rodas, detalhes de caráter técnico são levados em

consideração. Afinal, a busca pela eficiência do movimento é sempre um objetivo a

ser alcançado, e não por acaso, já que a mesma se trata de uma característica

relacionada diretamente com o desempenho do atleta e, consequentemente, das

equipes (MASON et al., 2012).

Contudo, os jogadores de alto rendimento são submetidos a inúmeros

treinamentos e competições, o que eleva o risco de sofrerem traumas e lesões,

podendo ser essas agudas ou crônicas. Dentre elas, destacam-se: contusões,

rupturas musculares, estiramentos musculares, câimbras, entorses, luxações,

fraturas, tendinites e bursites (ROCCO, SAITO, 2006). Por sinal, Vital et al. (2007)

caracterizam esse grupo de lesões como esportivas, por ser composto de uma gama

de danos que podem ser ocasionados durante a prática de atividades esportivas.

Ferreira, Bussmann e Greguol (2013) investigaram 11 atletas de basquetebol

em cadeira de rodas do sexo masculino com lesão medular de origem traumática,

com idade média de 30 anos e praticantes do esporte há pelo menos seis meses.

Quatro deles apresentaram lesões no ombro e um, no braço. O resultado foi

apontado como esperado, pois o ombro é a parte mais exigida dos membros

superiores nas ações do jogo, como sprints, mudanças de direção, início e término

dos deslocamentos em quadra, etc.

São essas questões que fazem treinadores e pesquisadores interessados no

basquetebol em cadeira de rodas, terem o interesse comum de trazer melhoria ao

desempenho de atletas, os selecionando e treinando de maneira eficiente. Dessa

forma, a identificação de fatores importantes para o sucesso das ações dos

jogadores e o êxito nas competições, é tida como crucial (WANG et al., 2005).

2.2 A cadeira de rodas e as consequências da propulsão manual

Além de ser um meio de locomoção, a cadeira de rodas representa uma

importante forma de integração comunitária e de participação social para quem a

usa. Por isso é tida como uma tecnologia assistiva, ou seja, que contribui para

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proporcionar ou ampliar habilidades funcionais e com isso promover inclusão e

relativa independência (OSSADA et al., 2014; BERSCHE, TONOLLI, 2006).

Infelizmente, há um estigma negativo como pano de fundo para esse objeto,

já que muitos a têm como um aparelho que indica incapacidade, que passa a ideia

de inaptidão e fraqueza. Tais tabus fogem do objetivo desse tipo de tecnologia,

criado para ressaltar, para dar relevância e apoiar as possibilidades dos seus

usuários (BERTONCELLO, GOMES, 2002).

Todavia, é inegável a importância da cadeira de rodas na vida das pessoas

que possuem comprometimentos motores crônicos nos membros inferiores. A

relação de interdependência entre sujeito e objeto é tão patente, que Oliveira (2012)

narra a importância de se considerar a interação desse binômio para o estudo da

locomoção nessa população.

Em um de seus estudos, Bertoncello e Gomes (2002) fizeram um apanhado

de grupos de cadeiras de rodas, e pontuaram os seguintes: cadeiras de rodas de

armação rígida, cadeiras de rodas dobráveis, cadeiras de rodas motorizadas e

cadeiras de rodas para uso em esportes. O primeiro grupo de cadeiras é mais

rústico e limitado a ambientes internos; o segundo pode ser usado em ambiente

interno e externo; o terceiro é geralmente empregado para quem tem tetraplegia e

ampla paralisia em membros superiores; já o último, é constituído por cadeiras com

material aerodinâmico, ultraleve.

A CR3 considerada adequada deve apresentar características ergonômicas

personalizadas em relação ao design e configuração. Fator importante que deve ser considerado durante sua prescrição pelos profissionais envolvidos. Essa adequação garante ao usuário maior mobilidade, aceitação, estabilidade, conforto e dirigibilidade (OSSADA et al., 2014, p. 163).

No esporte adaptado, a cadeira de rodas e o atleta são apontados como um

único elemento, sendo a cadeira, específica para cada usuário. Tal interação é

salutar para o desenvolvimento esportivo e a precisão das medidas na produção da

cadeira de rodas exclusiva ao atleta é tida como fundamental (MORAES et al.,

2011).

A cadeira de rodas manual é utilizada por cerca de 90% dos cadeirantes. É o

meio mais comumente usado tanto nos esportes, quanto no cotidiano dos indivíduos

3 Sigla utilizada pelo autor para se referir à cadeira de rodas, de uma forma geral.

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que dependem desse implemento. Entretanto, é considerada um instrumento com

baixa eficiência mecânica (LENTON, 2012) e corroborando com essa problemática,

ainda temos que:

Além da baixa eficiência mecânica da CRM4, os membros superiores

(MMSS) são estruturas que naturalmente não foram preparadas para gerarem altas taxas de forças e para repetitividades de movimento. [...] Para os cadeirantes, os problemas de sobrecarga dos MMSS são tão importantes quanto os riscos cardiovasculares oriundos de um estilo de vida sedentário (SAGAWA et al., 2012, p. 186).

Atrelada à limitação de locomoção por parte da cadeira, a escassez de

atividade física e/ou a grande repetição dos movimentos sobre o aro das rodas da

mesma, podem levar o indivíduo a desenvolver patologias. Analisando esse último

fator, observa-se que a propulsão manual em cadeiras de rodas pode induzir o

usuário a adquirir lesões por sobrecarregar as estruturas envolvidas com o

movimento (BAUERFEIND et al., 2015).

Então, a propulsão manual em cadeira de rodas pode ser entendida como um

movimento cíclico, bimanual e com fases de movimentos que se repetem

intervaladamente. O movimento possui uma eficiência bruta de 10-12% (LENTON,

2012). Ainda, vale ressaltar que durante o movimento de propulsão pode-se

observar mais de um padrão, constituídos ou não de uma ação consciente.

Crespo-Ruiz, Del Ama-Espinosa e Gil-Agudo (2011), propuseram um estudo

com 10 jogadores da elite do basquetebol em cadeira de rodas e classificados em

classes funcionais propostas pela IWBF. Os autores tinham por objetivo analisar a

propulsão manual dos atletas, levando em consideração suas classificações

funcionais. A partir disso foi observado um aparente aumento no plano de elevação

do ombro e na movimentação do punho dos atletas, paralelamente ao aumento da

classificação funcional dos mesmos, o que possibilita diferenças nos padrões de

propulsão manual.

Sagawa et al. (2012), ratificam que para haver propulsão na cadeira de rodas

manual, são necessárias aplicações de forças bimanuais repetidas, fora do campo

visual do sujeito, em um fino aro de tração (que varia 15-19 mm de diâmetro) e

durante um curto período de tempo, o qual é considerado cerca de 20% a 40% de

todo o ciclo de movimento.

4 Sigla utilizada pelo autor para referir-se à cadeira de rodas manual.

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A capacidade de propulsão manual em cadeiras de rodas define-se como uma característica que está relacionada não só ao desempenho físico do sujeito, mas também às variáveis biomecânicas, ergonômicas e estratégicas do manuseio da cadeira de rodas [...], sendo, por este motivo, uma variável multifuncional e que requer instrumentos para sua avaliação que proporcionem condições metodológicas específicas (OLIVEIRA, 2012, p. 9-10).

O movimento de propulsão manual ocorre quando o cadeirante aplica força

no aro propulsor da cadeira, constituindo um padrão que pode ser sistematicamente

dividido em duas fases, sendo elas: fase propulsiva (ou de toque) e fase de

recuperação. Enquanto a primeira tem início quando usuário entra em contato ativo

com os aros de propulsão, a outra começa quando o mesmo perde o contato com os

aros de propulsão e balanceia os braços para trás, objetivando atacar novamente os

aros e iniciar um novo ciclo (DEVILLARD et al., 2001; AMBROSIO et al., 2005;

MEDOLA, 2014).

Durante nove meses, Bauerfeind et al. (2015) acompanharam a rotina de 24

atletas, jogadores de rugby em cadeira de rodas, de três divisões da Liga Nacional

Polonesa. No período foram notificadas 102 lesões nesses jogadores, sendo que 43

delas por sobrecarga muscular e 19 por tensões musculares. A propulsão manual da

cadeira de rodas foi ressaltada como uma forte hipótese para tal apontamento.

É importante salientar que as lesões nos membros superiores podem gerar

incapacidade naqueles que dependem da cadeira de rodas para locomoção, já que

todas as ações de manuseio do objeto dependem do desempenho de braços e

mãos. Por isso, a preservação dessas estruturas passa a ficar em foco, aumentando

a responsabilidade dos profissionais responsáveis pela projeção do design dessas

cadeiras, sobre o entendimento da movimentação do deficiente (MEDOLA, 2014).

Estabilidade e desempenho devem ser levados em consideração também por

profissionais da área da saúde, ao se prescrever uma cadeira de rodas. A

compreensão da influência das mudanças na configuração da cadeira sobre o

trabalho e a estabilidade do usuário é necessária para minimizar a demanda dos

membros superiores durante a propulsão e otimizar a mobilidade do mesmo

(MEDOLA et al., 2014).

A alta incidência de dor na extremidade superior cria desafios para usuários

de cadeiras de rodas manuais realizarem atividades diárias (AMBROSIO et al.,

2005). Esses segmentos são utilizados para realização de transferências, propulsão

da cadeira de rodas, atividades ligadas ao desporto, entre outras (GIANINI,

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CHAMLIAN, ARAKAKI, 2006). Nesse último caso, a coordenação dos membros

superiores possui influência na capacidade dos atletas (DE LIRA et al., 2010).

Além disso, a necessidade de se manterem sentados na cadeira de rodas por

longos períodos, obriga os deficientes realizarem muitas atividades e ações, tanto

ligadas às tarefas diárias como aos esportes, com os braços levantados acima do

nível da cabeça. Essa realidade resulta em desequilíbrio e sobrecarga muscular nos

membros superiores (GIANINI, CHAMLIAN, ARAKAKI, 2006).

Rocco e Saito (2006), se propuseram a identificar as lesões esportivas mais

frequentes no basquetebol em cadeira de rodas. A amostra da pesquisa continha 26

atletas do sexo masculino com idade entre 18 e 47 anos, que possuíam deficiência

física permanente, mas que não apresentavam complicações clínicas e estavam

participando de uma competição estadual do esporte. Eles foram entrevistados por

meio de questionário que abordava informações pessoais dos indivíduos, etiologia

da deficiência física, tempo de prática esportiva, rotina semanal de treinos, queixas e

quantificação de dor (feita através da escala verbal analógica de dor – VAS5),

histórico de lesões e tempo de afastamento. Foi observado que 14 dos 26 atletas

(56% da amostra) sentiam algum tipo de dor no momento da investigação, a maioria

em membros superiores.

Especificamente, o local que sofre mais lesões musculoesqueléticas com a

repetitividade dos ciclos propulsivos é o ombro, visto entre 31% e 73% dos casos

estudados. Entre 49% e 73%, a causa neurológica mais comum das lesões nesses

segmentos, é a síndrome do túnel do carpo, provocada por danos no nervo mediano

(BONINGER et al., 2002; BONINGER et al., 1999).

Portanto, todas essas questões fazem alusão à importância de estudar a

forma com que as pessoas impulsionam a cadeira de rodas, por ela poder estar

vinculada à incidência de patologias. Essas análises de propulsão são importantes

para o acompanhamento de variáveis biomecânicas, como velocidade, força,

potência, etc. (COLLINGER et al., 2008).

5 A VAS (do inglês Verbal Analogic Scale) corresponde a um instrumento criado para

mensuração da dor, de maneira geral. A escala possui um sistema de pontuação que varia de 0 a 10,

onde 0 indica ausência de dor, enquanto 10 indica dor insuportável. Dessa forma, é possível ter

noção da intensidade da dor de um indivíduo, após ele pontuar na escala o número correspondente à

sua sensação (ROCCO, SAITO, 2006; SILVA, DELIBERATO, 2009).

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O diagnóstico clínico de estresses articulares e de desenvolvimentos de dores

e lesões nos membros superiores, também depende do estudo cinemático da

propulsão manual da cadeira de rodas. Tal estudo tem por finalidade determinar

padrões de movimento em indivíduos lesionados e usuários desse tipo de cadeira

(COLLINGER et al., 2008; MORROW, KAUFMAN, AN, 2010).

2.3 Propulsão manual e simetria/assimetria de membros superiores

A capacidade de exercício em cadeira de rodas de propulsão manual pode

assumir diferentes padrões de movimento, já que é influenciada por vários

determinantes, como: idade, sexo, tipo de lesão funcional, período de reabilitação,

nível de atividade física, sensação de dor, deficiências secundárias, entre outros

(VAN KOPPENHAGEN et al., 2013).

Aspectos que envolvem a lateralidade também podem influenciar diretamente

na capacidade de propulsão do usuário de cadeira de rodas. Isso ficará evidenciado

se através do monitoramento da musculatura participante, déficits de força, potência

ou resistência, forem apontados por diferenças existentes entres os segmentos

superiores direito e esquerdo (OLIVEIRA, 2012). A ausência desses déficits indica

que os membros do indivíduo estão agindo em simetria, ou seja, de forma

harmônica, semelhante. Se ocorrer o oposto, fica evidenciado o fenômeno da

assimetria, que se mostra mais comum que o anterior.

Em várias atividades do cotidiano humano, as ações simétricas são

fundamentais. Mover objetos, suspendê-los, abaixá-los, deslocá-los de um canto a

outro, são exemplos de tarefas comuns às pessoas. Porém, a grande maioria dos

indivíduos parece ter um membro preferido para realizá-las, ainda que muitas vezes

de forma inconsciente. Essa preferência pode causar diferenças na aplicação de

forças entre membros e grupamentos musculares (MEDEIROS, 2013).

Essa unilateralidade pode conduzir a diferenças observadas na capacidade

motora (principalmente na força e na coordenação), resultando em assimetria

funcional dos membros. Prejuízos de desempenho e aumento da incidência de

lesões são consequências que confirmam a sobrecarga causada pela intensa

repetição de movimentos (MENZEL, CHAGAS, CRUZ, 2006).

No comportamento motor humano as assimetrias laterais estão presentes

tanto na preferência quanto no nível de desempenho apresentado pelos segmentos

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corporais. É sugerido que essas assimetrias podem ser abordadas do ponto de vista

genético ou do ponto de vista ambiental, isto é, provocadas por ações extrínsecas

ao organismo do indivíduo, como no caso de lesão que compromete um membro de

uma das partes do corpo (superior ou inferior), forçando-o a recorrer com mais

intensidade e frequência ao membro correspondente, do lado oposto, para a

realização de tarefas desejadas (TEIXEIRA, PAROLI, 2000).

Sobre isso, ainda é possível afirmar que:

Assimetrias laterais podem ocorrer de fatores morfológicos que resultam da constituição genética do indivíduo e da sua interação com o ambiente durante o desenvolvimento, ou de fatores funcionais que estão relacionados com as capacidades físicas como a magnitude da força muscular e a coordenação motora [...]. (SILVA, 2008, p. 15).

Teixeira e Paroli (2000), também fazem ressalva aos fatores ambientais por

esses serem efetivamente determinantes nas diferenças laterais de desempenho,

destacando em particular o efeito da quantidade de prática específica com cada

membro, havendo prioridade na utilização do membro dominante em relação ao não

dominante.

Menzel, Chagas e Cruz (2006), contextualizam as assimetrias bilaterais, as

explicando como fruto da variabilidade do movimento humano, que se trata de um

fenômeno biológico natural, e também do desempenho de flutuação, ou seja, das

oscilações do comportamento motor dos membros dos indivíduos, traduzidas nas

diversas ações dos mesmos.

No dinamismo do basquetebol em cadeira de rodas, as ideias anteriormente

postas se aplicam às diversas ações que os jogadores praticam durante um treino

ou uma partida, tanto em relação à cadeira de rodas quanto aos fundamentos do

esporte. Relacionados à cadeira, destacam-se o início e o término da propulsão

manual e as mudanças de direção; relacionados aos fundamentos estão as ações

de manipulação da bola, como arremessos, passes, dribles, entre outros (WANG,

2005).

Em suma, as assimetrias podem ser compreendidas como desequilíbrios

neuromusculares, constatados tanto em força quanto em habilidades funcionais. O

acompanhamento de membros assimétricos é capaz de revelar déficits de força,

neural ou estrutural em um dos segmentos, o que predispõe uma pessoa a ter lesão,

caso essa não seja prevenida. É válido ressaltar que um membro assimétrico além

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de sobrecarregar o seu colateral, também o expõe a lesões por estresses e

sobrecargas consecutivas (MARCHETTI et al., 2012).

Como a natureza da propulsão põe as extremidades superiores em risco, por

implicar em um potencial impacto que ao longo do tempo pode ser danoso àquele

que depende dessa ação para se locomover, os estudos biomecânicos têm ganhado

notoriedade na busca da prevenção e do tratamento desses danos. A força de

propulsão é um indicador que pode ser avaliado através de cadeiras de rodas com

aros devidamente instrumentados. Em contrapartida, esse tipo de tecnologia possui

custo elevado (HURD et al., 2008).

Segundo Coutts (1994), a medição da dinâmica da cadeira tem se limitado a

situações laboratoriais com uso de dispositivos que simulam a locomoção de uma

cadeira real. Essa situação pode ocasionar diminuição na credibilidade dos

resultados, já que os protocolos não conseguem reproduzir totalmente o ambiente

de rotina do indivíduo e muitos desconsideram até a cadeira de rodas utilizada pelo

mesmo, no seu dia a dia.

Com os equipamentos criados para tais simulações, características

ergonômicas e antropométricas dos sujeitos são deixadas de lado (BRUBAKER,

1986), desfavorecendo avaliações mais detalhadas do desempenho da cadeira, e

consequentemente, a análise quantitativa ou qualitativa de fatores que estão

inerentes ao ciclo propulsivo (BONINGER et al., 2002), dentre eles, a

simetria/assimetria entre os lados de propulsão (HURD et al., 2009).

Oliveira et al. (2013), precisaram a importância da relação dos fatores

cinéticos presentes na propulsão manual com o desempenho esportivo de atletas

com deficiência. Os autores contrariaram equipamentos descritos na literatura para

análise da propulsão manual, por esses desconsiderarem a naturalidade do

movimento.

Em contrapartida, validaram um dinamômetro compacto (DINACOM),

equipamento menor que os demais, que pode ser deslocado para outros locais e

que tem como objetivo principal a avaliação da potência propulsiva em cadeira de

rodas. Essa variável aponta a quantidade de trabalho realizada pelo cadeirante no

momento da propulsão, considerando todo o sistema (sujeito e cadeira). Outra forte

vantagem, é que o equipamento permite a utilização da cadeira de rodas

pertencente ao próprio avaliado, o que corrobora com a fidelidade dos resultados

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(OLIVEIRA, 2012). O DINACOM foi utilizado no presente estudo, a fim de que a

pergunta que norteia o mesmo seja respondida.

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3 OBJETIVOS

Objetivo Geral:

Avaliar a potência e a assimetria de propulsão em atletas de basquetebol em

cadeira de rodas e sujeitos não atletas sem deficiência física.

Objetivo Específico:

Comparar os resultados de assimetria entre um grupo de atletas de

basquetebol em cadeira de rodas e sujeitos não atletas sem deficiência física.

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4 METODOLOGIA

A presente investigação caracteriza-se como sendo descritiva do tipo

comparativa. A pesquisa está devidamente cadastrada no Comitê de Ética em

Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Pernambuco, sob o nº 078/11.

Foi parte de uma pesquisa maior que focava no desenvolvimento de tecnologias e

metodologias para avaliação de pessoas com deficiência, em orientações especiais

para usuários de cadeira de rodas.

Participaram deste estudo 34 indivíduos, divididos em dois grupos. O primeiro

grupo (G1) foi formado por usuários de cadeiras de rodas, sendo eles 17 atletas de

basquete em cadeira de rodas (idade: 30 ± 15 anos; tempo da prática esportiva: 4 ±

0,5 anos). Todos os atletas já possuíam classificação funcional para esse esporte,

variando em um intervalo entre 1 e 3.5. Possuíam deficiências variadas, tais como

lesões na medula espinal (N = 14), amputações e más-formações (N = 2) e

comprometimento neurológico (N = 2).

O grupo 2 (G2) foi constituído por 17 pessoas sem deficiência física e não

atletas, (idade: 20,9 ± 2,4 anos; massa: 68,9 ± 7,9kg; altura: 174,0 ± 7,1cm; IMC:

22,7 ± 2,5 (kg•m2). Todos os sujeitos foram testados por meio de protocolos

estacionários. O G1 foi avaliado no próprio local de treinamento e cada atleta usou a

sua cadeira de rodas específica para a prática do basquete em cadeira de rodas. O

G2 foi testado em laboratório com temperatura de 24ºC e umidade relativa de 44%.

No entanto, os sujeitos do G2 utilizaram a mesma cadeira de rodas de basquete

com 0º de inclinação (cambagem) e pneus inflados até o máximo (50psi).

O principal instrumento da pesquisa foi o dinamômetro compacto (DINACOM),

que é um equipamento mecatrônico montado por dois kits de cilindros

independentes com dois sensores indutivos ligados em ambos os lados (esquerdo e

direito), possibilitando a verificação das rotações. A potência propulsiva (PO), em

cada um dos cilindros, foi calculada pela relação entre o momento de inércia e o

número de rotações, de maneira independente em ambos os lados. Para tal, foi

usado o modelo matemático: PO (W) = (MI ∙ m ∙ RPM) / 1, onde MI é o momento de

inércia, m é a distância horizontal percorrida por uma rotação completa e RPM é o

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número de rotações por minuto. Os dados foram transferidos pela placa digital a um

computador pessoal, para armazenamento e análise.

Figura 1 – Protótipo do dinamômetro compacto (DINACOM)

Fonte: Oliveira, Saulo Fernandes Melo, 2013.

Inicialmente, os voluntários tiveram um período de aquecimento de 2 minutos

para familiarização com o equipamento. Em seguida, o teste foi realizado baseado

em esforço máximo por um período de 20 segundos, de acordo com estudos

anteriores (KNECHTLE et al., 2003). Para normalidade e homocedasticidade dos

dados, foram utilizados os testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. A

diferença percentual (DIF%) foi calculada para determinar a diferença entre os lados

(esquerdo e direito) na variável PO, em ambos os grupos, de acordo com a

equação:

DIF% = [(máxima-mínima) / máx] • 100

Máxima e mínima são os respectivos valores de PO entre os lados. Para

comparar os dois grupos (G1 e G2), foi usado o teste t não pareado. Devido a

características não paramétricas, para comparar a DIF% entre os mesmos utilizou-

se o teste U de Mann-Withney. Foram consideradas diferenças de significância

quando P ≤ 0,05.

(A) Sistema de calibração do Momento de

Inércia;

(B) Sistema de cilindros paralelos para

posicionamento e apoio do peso;

(C) Sistema eletromecânico de contagem,

cálculo e armazenamento de informações de

velocidade e potência.

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5 RESULTADOS

Os dados estão demonstrados na figura 2. Os resultados não mostraram

diferenças estatísticas entre a potência máxima, direita (G1=0,50W; G2=0,50W) ou

esquerda (G1=0,51W; G2=0,53W). No entanto, a DIF% foi significativamente menor

no grupo de atletas usuários de cadeira de rodas, quando comparado ao grupo de

não atletas e não usuários de cadeira de rodas (9% contra 20%, respectivamente).

Figura 2 – Comparação das medidas de potência entre grupos analisados: usuários

de cadeira de rodas/atletas (UCR’s) e não usuários de cadeira de rodas/não atletas

(n-UCR’s)

Legendas: (A) Comparação entre usuários de cadeira de rodas/atletas e não usuários de cadeira de

rodas/não atletas na máxima potência; (B) Comparação entre usuários de cadeira de rodas/atletas e

não usuários de cadeira de rodas/não atletas na potência apenas no lado direito; (C) Comparação

entre usuários de cadeira de rodas/atletas e não usuários de cadeira de rodas/não atletas na potência

apenas no lado esquerdo; (D) Comparação entre usuários de cadeira de rodas/atletas e não usuários

de cadeira de rodas/não atletas na diferença percentual entre os lados direito e esquerdo.

Fonte: Santos, Wanderson Augusto da Silva Marinho, 2016.

Nota: Figura elaborada pelo autor com base nos resultados obtidos na pesquisa.

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Em suma, a principal descoberta foi a menor DIF% observada nos membros

superiores do grupo de atletas de basquetebol em cadeira de rodas, em comparação

com o grupo de indivíduos fisicamente capazes. Neste sentido, a prática do

basquetebol refletiu como uma possível alternativa para ser utilizada em processos

de reabilitação ou iniciação esportiva.

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6 DISCUSSÃO

Inúmeros benefícios ao deficiente físico podem ser apontados com a inserção

desses em algum esporte adaptado. Esses benefícios podem ser de caráter

psicológico, social ou fisiológico. Nesse último aspecto, melhoras são apontadas na

função cardiopulmonar, coordenação motora, equilíbrio de tronco, flexibilidade e

também no comportamento da força muscular do indivíduo (ROCCO, SAITO, 2006).

A respeito do dinamismo da força muscular de membros superiores, por

exemplo, Hurd et al. (2009) encontraram diferentes resultados na potência de

arranque e no trabalho propulsivo executado em situações pré-estabelecidas, como

propelir a cadeira de rodas em rampa e em terreno plano. O objetivo dos estudiosos

foi comparar o comportamento dessas variáveis em membros superiores dominantes

e não dominantes de 13 indivíduos voluntários à sua pesquisa, sendo eles

experientes no uso da cadeira de rodas manual e possuidores de espinha bífida ou

lesões na medula espinal. Foi observado que não houve diferença significativa no

trabalho propulsivo dos membros no manuseio da cadeira em terreno plano. Isso

constitui um indício bastante forte na explicação do que foi achado na presente

pesquisa, visto que a quadra de jogo do basquete adaptado possui semelhante

superfície.

A simulação do local real de prática parece ser algo que não deve ser

desconsiderado. Ao estudar índices de simetria entre os lados de propulsão em

diversas circunstâncias, em sujeitos com idade entre 18 e 65 anos, Hurd et al.

(2008) comprovaram menores valores de assimetria propulsiva em testes ocorridos

em ambientes mais próximos do cotidiano dos indivíduos, em comparação a testes

laboratoriais.

Outro fato que colabora com os achados, é a íntima ligação do estudo voltado

aos padrões de movimento no basquetebol em cadeira de rodas às variáveis

biomecânicas envolvidas com as ações do jogo. A manipulação da cadeira de rodas

(início de propulsão, sprint, travagem, mudança de direção, bloqueio) corresponde a

dinâmicas que durante a prática esportiva dependem de fatores fundamentais, como

a força muscular e a potência propulsiva das extremidades superiores (WANG,

2005).

Todas essas ações, para que sejam executadas com eficiência, dependem da

utilização de ambos os lados do corpo e com o tempo de prática, há fortes chances

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de haver uma padronização e uma harmonia na distribuição desses fatores

fundamentais ao ciclo propulsivo (VANLANDEWIJCK, SPAEPEN, LYSENS, 1995).

Desse modo, têm-se uma diminuição da assimetria propulsiva entre membros

superiores. Faz-se importante trazer à memória, que os atletas que se submeteram

a este estudo tinham mais de três anos de prática esportiva e se encaixam nessa

linha de raciocínio.

Teixeira e Paroli (2000), também sugerem que a assimetria lateral de

desempenho pode ser retraída com a prática repetitiva de tarefas em que há

utilização de ambos os lados do corpo. É válido ressaltar que tal mecanismo é

contrariado se o indivíduo voluntariamente der preferência à utilização de um

segmento, fazendo pouco caso do outro.

Livramento et al. (2014), indicam que a quantidade de prática, espelhada no

tempo de treinamento de atletas, interfere nos padrões de força desses sujeitos,

inclusive, a depender da função de cada um na equipe. É notório como tais

conhecimentos auxiliam treinadores e pesquisadores da área no planejamento e na

condução de treinos e de testes.

Contudo, deve ser apontado como principal limitação desse estudo, o fato dos

17 indivíduos do grupo 2 não serem deficientes físicos, diferentemente do primeiro

grupo. A amostra da pesquisa foi assim composta, por conta da dificuldade de se

conseguir sujeitos deficientes físicos e usuários de cadeiras de rodas dispostos a se

tornarem voluntários.

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7 CONCLUSÃO

As medidas obtidas com o DINACOM indicaram que atletas de basquetebol

em cadeira de rodas e indivíduos não atletas e não usuários de cadeira de rodas

possuem valores de potência propulsiva muito próximos. Porém, foi constatado que

a assimetria propulsiva é menor em atletas. Dessa forma, a prática de basquetebol

em cadeira de rodas pode minimizar as diferenças existentes entre os lados de

propulsão. Esses resultados refletem a diminuição do risco de lesões relacionadas à

propulsão manual, provocadas por sobrecargas unilaterais nos membros superiores

de usuários de cadeira de rodas.

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