O BEIJO DE O BEIJO DE PAPAI!!PAPAI!!

AUSTÓGENO VANDERLEI

Foi no tempo da guerra,

Entre a Russia Potente.

Os heróicos impõe calmos

Os filhos do oriente.

*

Entorno do posto Arthur,

o cerco se apertava,

Como em sintas de ferro

O fogo fechava.

As portas das cidades,

A quem valente ousasse,

Por ali penetrar,

Ou por ali passasse.

*

Da boca dos canhões a morte a sorrir traiçoeira,

Partia a cada instante a mais veloz carreira,

E ia ceifando as vidas dos míseros soldados,

Tão desumanamente assim sacrificados.

Quando uma tarde em que cessara por um momento,

O canhoneiro como que acabar de um novo alento.

Junto a linha de fogo, uma adorável criança,

Lhe aparece correndo...

*

Olhar de quem procura ansiosa,

Descobrir naquela massa escura,

Um uniforme conhecido,

O risonho perfil de um semblante querido.

Ao ver a pequena um bravo

Que com a língua pátria entendia-se a do Eslavo.

Pergunta-lhe, tomando em suas mãos calosas,

Aquela mãozinha tão alva e tão cetinosa.

*

Que desejas pequena? Que procuras

Em meio a tropa que vês exposta ao bombardeio?

Quem és tu? De onde vens?

Que nome tens menina?

Meu nome eu lhe direi: É Lina.

Procuro meu Papai, que a muito foi embora.

A muito não o vejo,

E queria vê-lo agora.

*

Para que? Pergunta o filho do nascente.

Dizendo em continente:

Ele aqui já não está

Foi mais à frente.

Porém, se algum recado, ou algo semelhante

Quiseres que eu lhe dê, logo irei vê-lo.

Descreva-me de quem falas e

Prometo satisfazer o seu desejo ardente!

*

Óh, é fácil conhecê-lo, respondeu Lina contente,

É alto meu Papai, forte, musculoso,

É formoso seu rosto barbado,

São loiros os seus cabelos.

Da cor dos meus. Como bem pode vê-lo.

E assim dizendo tira do bolso um retrato,

E acrescenta á sorrir.Façamos um contrato:

Eu lhe dou este Papai, para que não te esqueça,

E vendo-o em breve reconheça.

Chama-se Ivam.

Pois bem, disse o nobre soldado,

Que ao retrato guardou.

Dê-me agora o recado

Que eu procurarei seu Papai.

*

Óh, mas não é recado que eu quero que leves,

Replicou a pequena.

Então diga o que queres,

Prometo fazer tudo, tudo que disseres.

Oh, sim é este meu desejo,

Chegue junto a Papai e entregue este beijo.

E assim dizendo salta ao colo do soldado

E beija-lhe a fronte em lágrimas.

*

Um bravo,

Que não chora ante uma horrível matança,

Chorou,

Ao receber o beijo de uma criança.

Como que da boca dos canhões

Ouvisse a voz bramindo,

Lina pôs-se a correr por onde havia vindo,

Pois o sol já clareava na rósea madrugada.

*

Pelos campos á fora, mortos, feridos,

Era por todos indistintamente recolhidos.

Ao ver um soldado, face descorada,

Pendido sobre o peito, a blusa ensangüentada...

Lembra-se da feição da criança,

Olha o retrato, vê perfeita semelhança.

Era um Russo ferido.

O Japonês o chama: Ivan?

*

O que queres de mim?

O moribundo exclama!

Surpreso por ouvir seu nome pronunciado

Por lábios inimigos.

Trago escondido, o bravo continua...

Um beijo que te envia sua filhinha Lina.

Ela mesmo o daria, se pudesse vir cá.

Mas não podendo, guardei-o para depô-lo agora,

*

E assim dizendo.

Calmo, o filho do nascente

Beija a fronte do Russo.

E o abraça ternamente.

Quando declamo este poema para os pacientes, ficam admirados com a beleza da história. Pelo tamanho do poema, quantidade de versos e principalmente pela capacidade de seres inimigos se unirem através de um beijo, gesto puro praticado pela inocente Lina, personagem principal de nossa história.

Por alguns instantes se desligam da dor que estão sentindo e concentram na dor do próximo de nossa história, o que nos faz lembrar que o mundo está repleto de dores e de alegrias, pois a vida não para, segue seu rumo... Dia após dia e as crianças vão nos dando lições de amor incondicional. Participação especial de minha filha Thalita Barbosa Silva.

Felizes os que sabem amar como as crianças....