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Av. Lins de Vasconcelos, n.º 1251, Sala 01, Cambuci, CEP 01537-001 Fone (11) 3339-4866 – E-mail: [email protected] O BIOMÉDICO E O PROJETO DE LEI 770/2016 DE AUTORIA DA ILUSTRÍSSIMA DEPUTADA ESTADUAL LECI BRANDÃO Trata-se de antiga questão entre Biomédicos e Tecnólogos/técnicos em Radiologia acerca do exercício de atividade de radiodiagnóstico, conforme previsto no artigo 5º da Lei 6.684/1979 – que estabelece a profissão de Biomédico. A controvérsia reside na suposta alegação de que a Lei 7.394/1985 – reguladora da profissão de técnico em radiologia – revogou a disposição do referido artigo 5º, ora, é posterior. Extensos argumentos serão expostos a seguir. Em geral, a alegação é afastada na esfera judicial, ora, inexiste expressa derrogação do diploma normativo (logo, não preenchendo o requisito para do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei 4.657/42). Não obtendo sucessos na esfera judicial, os tecnólogos/técnicos em radiologia objetivam a mudança pela esfera legislativa estadual – pleiteando, como requisito da atividade de radiodiagnóstico, o curso técnico em radiologia. 1. Da Inconstitucionalidade formal

O BIOMÉDICO E O PROJETO DE LEI 770/2016 DE AUTORIA … · Av. Lins de Vasconcelos, n.º 1251, Sala 01, Cambuci, CEP 01537-001 Fone (11) 3339-4866 – E-mail: [email protected]

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O BIOMÉDICO E O PROJETO DE LEI 770/2016 DE AUTORIA DA

ILUSTRÍSSIMA DEPUTADA ESTADUAL LECI BRANDÃO

Trata-se de antiga questão entre Biomédicos e

Tecnólogos/técnicos em Radiologia acerca do exercício de atividade de

radiodiagnóstico, conforme previsto no artigo 5º da Lei 6.684/1979 – que

estabelece a profissão de Biomédico.

A controvérsia reside na suposta alegação de que

a Lei 7.394/1985 – reguladora da profissão de técnico em radiologia – revogou a

disposição do referido artigo 5º, ora, é posterior. Extensos argumentos serão

expostos a seguir.

Em geral, a alegação é afastada na esfera

judicial, ora, inexiste expressa derrogação do diploma normativo (logo, não

preenchendo o requisito para do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei 4.657/42).

Não obtendo sucessos na esfera judicial, os

tecnólogos/técnicos em radiologia objetivam a mudança pela esfera legislativa

estadual – pleiteando, como requisito da atividade de radiodiagnóstico, o curso

técnico em radiologia.

1. Da Inconstitucionalidade formal

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De plano, observa-se flagrante violação à

Constituição Federal a aprovação de lei que regule atividade profissional no

âmbito estadual. Ora, encontra-se expressa na carta magna a previsão de que

apenas a esfera federal (União) pode regular atividades profissionais. Conforme

se observa:

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

(...)

XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;” (Grifo nosso)

Não obstante, diversos grupos já objetivaram[1] a

mesma pretensão (i.e regulamentação da atividade profissional na esfera

estadual), seja quando em defesa da própria classe, seja buscando o prejuízo de

outra. Em todas hipóteses, a inconstitucionalidade é declarada pelo Supremo

Tribunal Federal (ou tribunal estadual) constatando a usurpação de competência:

1. Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei Distrital no 3.136/2003, que "disciplina a atividade de transporte de bagagens nos terminais rodoviários do Distrito Federal". 3. Alegação de usurpação de competência legislativa privativa da União para legislar sobre direito do trabalho (CF, art. 22, I) e/ou sobre "condições para o exercício de profissões" (CF, art. 22, XVI). 4. Com relação à alegação de violação ao art. 22, I, da CF, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é o caso de declarar a inconstitucionalidade formal da Lei Distrital no 3.136/2003, em razão da incompetência legislativa das unidades da federação para legislar sobre direito do trabalho. Precedentes citados: ADI no

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601/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão, Pleno, unânime, DJ 20.9.2002; ADI no 953/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, unânime, DJ 2.5.2003; ADI-MC no 2.487/SC, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno, unânime, DJ 1.8.2003; ADI no 3.069/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, unânime, DJ 16.12.2005. 5. Quanto à violação ao art. 22, XVI, da CF, na linha dos precedentes do STF, verifica-se a inconstitucionalidade formal dos arts. 2o e 8o do diploma impugnado por versarem sobre condições para o exercício da profissão. Precedente citado: ADI-MC no 2.752/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Pleno, maioria, DJ 23.4.2004. 6. Ainda que superado o reconhecimento de ambas as inconstitucionalidades formais indicadas, com relação ao art. 1o da Lei Distrital, verifica-se violação ao art. 8o, VI, da CF, por afrontar a "liberdade de associação sindical", uma vez que a norma objeto desta impugnação sujeita o exercício da profissão de carregador e transportador de bagagens à prévia filiação ao sindicato da categoria. 7. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da legislação impugnada.

(ADI 3587, Relator: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 12/12/2007, DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-2008 EMENT VOL-02308-01 PP-00149 LEXSTF v. 30, n. 353, 2008, p. 75-84) (Grifo nosso)

Ademais, uma vez que tal legislação gera

transgressão à competência privativa da União, é cabível, ao menos no âmbito do

Estado de São Paulo, a declaração de inconstitucionalidade pelo Tribunal de

Justiça – observando, dentre outros, violação ao artigo 1º da CE/SP:

Artigo 1º - O Estado de São Paulo, integrante da República Federativa do Brasil, exerce as competências que não lhe são vedadas pela Constituição Federal. (Grifo nosso)

Portanto, cristalina e flagrante a

inconstitucionalidade de eventual dispositivo normativo estadual a ser produzido,

com pretensão de regulamentar qualquer profissão prevista no artigo 22, inciso I e

XVI da Constituição Federal.

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2. Da Inconstitucionalidade material

Ainda que completamente ignorada a questão

acerca da inconstitucionalidade formal, a matéria também constitui flagrante

violação à garantia constitucional prevista no artigo 5º, XIII da Constituição

Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; (Grifo nosso)

Ora, a restrição da atividade de radiodiagnóstico,

seja pela necessidade de diploma técnico para utilização de equipamentos, seja

por qualquer outro motivo, entra em direto confronto com a lei que regulamenta a

profissão de Biomédico.

A esfera estadual, mesmo que estivesse dentro

de suas prerrogativas, não poderia prover legislação cujo conteúdo afrontasse o

exercício das atividades atribuídas aos biomédicos por legislação federal. Assim

já decidiu o TJ-SP:

MANDADO DE SEGURANÇA - PORTARIA QUE EXCLUI O BIÓLOGO DO ROL DE PROFISSIONAS HABILITADOS AO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE RESPONSÁVEL TÉCNICO DE

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LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS -ATO NORMATIVO QUE RESTRINGE O LIVRE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL - ILEGALIDADE - APELAÇÃO PROVIDA. O ato normativo que restringe os termos da legislação específica, privilegiando alguns profissionais em detrimento de outros não excluídos pela lei infraconstitucional, afronta o art. 5o, XIII, da CF.

(TJ-SP - APL: 994090262280 SP, Relator: Francisco Bianco, Data de Julgamento: 25/10/2010, 5ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 19/11/2010)

Nesse sentido, Paulo Gustavo Gonet Branco[2]

assim observa:

“A vinculação do legislador aos direitos fundamentais significa, também, que, mesmo quando a Constituição entrega ao legislador a tarefa de restringir certos direitos (p. ex., o de livre exercício de profissão), há de se respeitar o núcleo essencial do direito, não se legitimando a criação de condições desarrazoadas ou que tornem impraticável o direito previsto pelo constituinte. Nesse sentido, o STF já declarou a inconstitucionalidade de limitação, por desarrazoada, de um período de quarentena de dois anos, a que certa lei submetia os juízes aposentados, antes de passarem a exercer a advocacia. ”[3]

Desse modo, a inconstitucionalidade de qualquer

diploma legal estadual que objetive a exclusão do Biomédico na atividade de

radiodiagnóstico, também será material, observando o confronto direto a garantia

constitucional da livre atividade profissional.

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3. Da inexistência de ilegalidade nas atividades exercidas pelos profissionais

Biomédicos

De acordo com os argumentos reiteradamente

trazidos pelos profissionais Técnicos e Tecnólogos em Radiologia, sem os rodeios

costumeiramente utilizados, busca-se pura e simplesmente suspender o

exercício e a execução de técnicas radiológicas pelos profissionais

Biomédicos, na clara, nítida e evidente tentativa de ‘MONOPOLIZAÇÃO’ das

atividades profissionais ligadas à radiologia e imagenologia.

Para demonstrar os fundamentos que rebatem

toda e qualquer tentativa de proibir o profissional Biomédico de exercer atividades

radiológicas, se faz necessária uma breve descrição das atribuições de ambas as

profissões, quais sejam: Biomédicos x Técnicos/Tecnólogos em Radiologia.

Em 03 de setembro de 1979, com o objetivo de

regulamentar e disciplinar a profissão de Biomédico, foram criados por meio da

Lei Federal nº 6.684, posteriormente alterada pela Lei Federal nº 7.017 de 30 de

agosto de 1982, a figura do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de

Biomedicina. Consecutivamente em 28 de junho de 1983, foi publicado o Decreto

nº 88.439, com a finalidade de regulamentar exclusivamente o exercício da

profissão de Biomédico, de acordo com as referidas normas.

Conforme disposto nos artigos 4º e 5º, II e III, da

Lei nº 6.684/79, in verbis:

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“Art. 4º - Ao Biomédico compete atuar em equipes de saúde, a nível tecnológico, nas atividades complementares de diagnósticos. (Grifamos de propósito)

Art. 5º - Sem prejuízo do exercício das mesmas atividades por outros profissionais igualmente habilitados na forma da legislação específica, o Biomédico poderá:

I - realizar análises físico-químicas e microbiológicas de interesse para o saneamento do meio ambiente;

II - realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação[4];

III - atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiagnóstico e de outros para os quais esteja legalmente habilitado;

IV - planejar a executar pesquisas científicas em instituições públicas E privadas, na área de sua especialidade profissional.

Parágrafo Único - O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste artigo fica condicionado ao currículo efetivamente realizado que definira a especialidade profissional.” (Grifos e destaques nossos)

Neste sentido, conforme demonstrado nos artigos

supratranscritos, e posteriormente repetidos pelo Decreto nº 88.439 em seus

artigos 3º e 4º, incisos II e III, estão entre as atribuições do profissional

Biomédico a realização de serviços de radiografia, excluída a interpretação,

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bem como a atuação, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia,

de radiodiagnóstico e de outras atividades para as quais esteja legalmente

habilitado.

Posteriormente, mais precisamente em 29 de

outubro de 1985, foi publicada a Lei Federal nº 7.394, com o objetivo de regular o

exercício da profissão de Técnico em Radiologia.

Importante destacar que o exercício da profissão

de Biomédico é privativo dos portadores de diploma devidamente registrado

de Bacharel em Ciências Biológicas - Modalidade Médica, diferentemente do

profissional Técnico em Radiologia, o qual deve ser portador de certificado de

conclusão do ensino médio, com formação profissional mínima obtida em

Escola Técnica de Radiologia.

Conforme destacado, a lei que instituiu a

profissão de Técnico em Radiologia é do ano de 1985, diferentemente da lei

que regulamentou a profissão de Biomédico que é de 03 de setembro de

1979.

Embora se trate de uma lei promulgada

posteriormente, em nenhum momento restou disposto a exclusividade no

exercício de radiografia ao Técnico de Radiologia.

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Assim, destaca-se que ambas as leis (Lei

Federal nº 6.684 e Lei Federal nº 7.394) garantem aos seus profissionais,

respectivamente Biomédicos e Técnicos em Radiologia, o direito ao exercício de

atividades radiológicas.

Conforme disposto no artigo 2º da Lei de

Introdução às Normas do Direito Brasileiro, in verbis:

“Art. 2º - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

§ 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

§ 2º - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. (Grifos nossos)

Neste sentido, conforme destacado nos

dispositivos acima transcritos, uma lei deve ser aplicada até que seja revogada ou

modificada por outra.

No presente caso, não há que se falar em

nenhuma das causas de inaplicabilidade da lei anterior, ou seja, da lei que

regulamenta a profissão de Biomédico.

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Assim, resta claro que a lei regulamentadora da

profissão de Técnicos em Radiologia em nenhum momento revogou ou alterou

os dispositivos da lei dos Biomédicos, no tocante às atribuições voltadas ao

exercício de atividades radiológicas, visto que não houve nenhuma

manifestação expressa, nem tão pouco tácita, que introduzisse preceitos

novos e incompatíveis com a lei anterior, muito menos trouxe qualquer

dispositivo que lhe permitisse a referida exclusividade, capaz de alterar

CLÁUSULA EXPRESSA DE CONCORRÊNCIA E COMPATIBILIDADE do

exercício das mesmas atividades executadas por outros profissionais

legalmente habilitados (Lei nº 6.684/79, artigo 5º, caput).

Em simples leitura das referidas normas,

podemos perceber que em ambas as leis, restam muito bem definidos seus

objetivos e seus respectivos âmbitos de aplicação, não existindo entre elas

nenhuma matéria estranha a seus objetivos ou a estas não vinculadas por

afinidade, pertinência e conexão entre suas respectivas regulamentações

profissionais.

Nesse sentido, assim decidiu recentemente o

Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso

do Sul):

“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. EXERCÍCIO PROFISSIONAL. CONSELHO REGIONAL DOS TÉCNICOS EM RADIOLOGIA (CRTR). MULTA POR EXERCÍCIO DE ATIVIDADE SEM REGISTRO. BIOMEDICINA. LEI N.º 6.684/79. ATRIBUIÇÕES. HEMOTERAPIA E RADIODIAGNÓSTICO. POSSIBILIDADE.

1. O livre exercício profissional é um direito fundamental assegurado pela Constituição da República em seu art. 5º, inciso XIII, de norma de eficácia contida, ou seja, possui aplicabilidade

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imediata, podendo, contudo, ter seu âmbito de atuação restringido por meio de lei que estabeleça quais os critérios que habilitam o profissional ao desempenho de determinada atividade, visando, assim, por meio do aferimento de sua capacitação profissional, a garantir a proteção da sociedade.

2. Por sua vez, a Lei n.º 6.684/79, que regulamenta a profissão de biomédico, além de criar o Conselho Regional de Biomedicina, atribuiu a esta autarquia federal a competência para disciplinar e fiscalizar as atividades exercidas pelos profissionais em comento, prevendo a possibilidade de o biomédico realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação e atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiagnóstico e de outros para os quais esteja legalmente habilitado.

3. A fiscalização e a imposição de penalidades aos profissionais inscritos compete ao respectivo Conselho, sendo admitido aos demais apenas o direito de denunciar às autoridades competentes e principalmente à instituição responsável, sobre o exercício irregular da profissão, motivo pelo qual entendo ilegítima a aplicação das multas pela ré contra filiado de outro órgão, tendo em vista que cada Conselho tem sua competência para fiscalizar e autuar seus próprios filiados, no que restou configurado ter o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia da 5ª Região extrapolado de sua competência.

4. Apelação improvida.” (TRF3/SP 0000501-56.2000.4.03.6103, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL CONSUELO YOSHIDA, Data de Julgamento: 20/09/2012, 6ª TURMA) (Grifo nosso)

Deste modo, verifica-se que não se trata em

reconhecer se cabe ou não a prestação dos serviços de radiologia aos

profissionais Biomédicos, mas apenas demonstrar que tal prerrogativa é

assegurada pela legislação ordinária (artigo 5º, incisos II e III da Lei nº

6.684/79), conforme decisão já proferida pelo Egrégio Tribunal Regional da 4ª

Região (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina):

“MANDADO DE SEGURANÇA. BIOMÉDICA. TÉCNICO EM RADIOLOGIA. ATIVIDADES. CRTR/SC. 1. As atribuições legais do Biomédico NÃO CONFLITAM com as dos Técnicos em Radiologia.

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A Lei 6.684/1979 reconhece expressamente a possibilidade dos Biomédicos atuarem nos campos da radiografia e do radiodiagnóstico, sem excluir 'o exercício das mesmas atividades por outros profissionais igualmente habilitados', de forma que não se tratam de atividades privativas dos Técnicos em Radiologia. 2. A prática de serviços de radiografia e do radiodiagnóstico por Biomédicos tem amparo legal. 3. As autuações realizadas pelo Conselho requerido aos Biomédicos ilegais e abusivas”. (TRF4, APELREEX 5000406-66.2010.404.7200, Quarta Turma, Relatora p/ Acórdão Loraci Flores de Lima, D.E. 27/06/2012) (Grifos nossos)

Assim, a par dos já mencionados dispositivos

legais que garantem o pleno exercício dos profissionais Biomédicos no campo da

radiologia, demonstra-se que inexiste o fundado receio, como busca fazer

acreditar os profissionais técnicos e tecnólogos em radiologia.

4. Da tentativa de rediscutir questão já julgada pelo Egrégio Tribunal Regional Federal

da 3ª Região

Conforme constantemente podemos verificar, as

entidades representantes da categoria profissional dos Técnicos em Radiologia,

buscam claramente rediscutir e modificar entendimento já firmado pelo

Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, EM TODO O ESTADO DE

SÃO PAULO.

Até pouco tempo atrás, os profissionais

Biomédicos do Estado de São Paulo, inscritos no Conselho Regional de

Biomedicina da 1ª Região, reiteradamente se viam ameaçados por aplicações de

multas e autuações ilegalmente realizadas pelo Conselho Regional de Técnicos

em Radiologia da 5ª Região, sob infundada alegação de exercício ilegal da

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profissão, por considerar que as atividades exercidas pelos Biomédicos eram

exclusivas aos Técnicos em Radiologia.

A fundamentação utilizada pelo Conselho

Regional de Técnicos em Radiologia para a aplicação das referidas autuações,

limita-se a sua interpretação de que qualquer atividade realizada por meio de

aparelho radiográfico deve ser operada exclusivamente por Técnicos em

Radiologia ou por aqueles que se encontram inscritos em seus quadros.

Contudo, conforme já demonstrado, tal

entendimento não está de acordo com a realidade, uma vez que a própria lei que

regulamenta a profissão de Biomédico (Lei nº 6.684/79), estabelece competência

para realização de serviços de radiologia (sem interpretação), e atuação sob

supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiagnóstico e de outros

para os quais esteja legalmente habilitado.

Baseados nesta previsão legal que reconhece ao

Biomédico o direito de realizar serviços de radiografia, ingressou o SINDICATO

DOS BIOMÉDICOS PROFISSIONAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO –

SINBIESP com ação judicial contra o Conselho Regional de Técnicos em

Radiologia da 5ª Região, pleiteando pela suspensão de autuações, imposição de

multa ou cobrança destas, bem como declarar o direito dos Biomédicos a não

serem fiscalizados ou acusados de exercício ilegal de atividade.

O processo nº 0008136-53.2007.4.03.6100 foi

distribuído a 19ª Vara da Justiça Federal do Estado de São Paulo, em 20 de abril

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de 2007. Em decisão proferida em sede de antecipação de tutela, assim

fundamentou o Desembargador Federal Nery Júnior:

“[...] no tocante à imputação de multa às pessoas físicas que, a ‘primo oculi’, embora sem a formação de Técnico em Radiologia, são capacitadas e autorizadas pela lei para o exercício da atividade, a competência do Conselho não se resplandece tão vigorosa.

Compulsando os autos, verifica-se que no caso em apreço, são os profissionais biomédicos que vêm sendo autuados por exercício em área de diagnóstico sem, contudo, o registro no Conselho de Radiologia.

Ocorre que nos termos dos artigos 4º e 5º, II e III, da Lei nº 6.684/79, os profissionais de biomedicina também estão legitimados para a atuação na área em questão, de modo que temerária a imputação de multa neste momento.

Ante o exposto, defiro a antecipação dos efeitos da tutela recursal para obstar novas autuações de biomédicos pelo Conselho de Radiologia, bem como suspender a execução das multas já impostas.”

Após dois anos de trâmite processual, esta ação

foi julgada procedente, tendo Ilmo. Juiz Federal confirmado a decisão liminar

que reconheceu os profissionais de biomedicina como legitimados para a atuação

na área em discussão.

Inconformado, o Conselho Regional de Técnicos

em Radiologia da 5ª Região ingressou com recurso de Apelação, pleiteando pela

total reforma da decisão proferida. Recebido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, o processo foi distribuído a Egrégia Terceira Turma, tendo como Relator

o Desembargador Federal Nery Júnior.

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Em decisão publicada em 19 de setembro de

2011, o referido recurso foi negado, mantendo-se integralmente a decisão de

1ª Instância. No voto condutor proferido o Desembargador Federal Nery Júnior

destacou que:

“[...] Cumpre, ainda, ressaltar que, tendo-se em vista o princípio da legalidade privada, qualquer restrição ao direito do cidadão deve estar consignada em lei ‘strictus sensu’, sob pena de violação do artigo 5º, inciso XIII, da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

[...] Compulsando os autos, verifica-se que o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia da 5ª Região - CRTR/SP lavrou auto de infração alegando a prestação de serviços por Biomédicos inerentes à função de Técnico em Radiologia sem o devido registro perante os seus quadros.

Com base nos autos de infração, acostados às folhas 119/120, pode-se inferir a ilegalidade do ato, posto que as irregularidades constatadas, ou seja, a realização de tomografia computadorizada e de ressonância magnética, enquadram-se dentre as atribuições previstas na legislação que rege a profissão de Biomédico.” (Grifos nossos)

Em voto proferido no mesmo julgamento pelo

Ilmo. Desembargador Carlos Muta, restou destacado que não há exclusividade

dos Técnicos em Radiologia para o exercício da atividade, desde que respeitados

os limites das legislações vigentes, apontando que:

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“[...] A radiologia é a ciência, enquanto a radiografia é o exame típico da especialidade, que utiliza a técnica do raio X para investigações com finalidade precipuamente médica.

É nítido que ambas as leis atribuem a duas categorias profissionais distintas o desempenho da mesma atividade, daí o conflito que se estabelece acerca do exercício profissional e a respectiva fiscalização. Todavia, é possível extrair do exame conjunto a conclusão necessária para solucionar o presente conflito.

Primeiramente, apesar do artigo 19 da Lei nº 7.394/85, não concluo pela revogação do exercício profissional previsto pela Lei nº 6.684/79. Embora a lei dos técnicos em radiologia seja posterior, nela não consta cláusula expressa de exclusividade do exercício profissional, de modo a excluir a cláusula expressa de concorrência prevista na lei dos biomédicos, segundo a qual "Sem prejuízo do exercício das mesmas atividades por outros profissionais igualmente habilitados na forma da legislação específica, o Biomédico poderá (...)" (artigo 5º).

A lei dos técnicos em radiologia não excluiu, portanto, a ressalva do exercício do serviço de radiologia por biomédicos, nos termos da respectiva lei reguladora da profissão. Não se trata, em consequência, de reconhecer que caiba a prestação de tal serviço, em todo e qualquer caso, pelo biomédico, mas que tal prerrogativa é assegurada nos termos da respectiva legislação.” (Grifos nossos)

O terceiro voto, proferido pelo Ínclito

Desembargador Federal Marcio Moraes, destacou a impossibilidade de exigência

de duplo registro para exercício de atividades radiológicas:

“[...] de acordo com as competências legalmente estabelecidas aos Conselhos Regionais de Biomedicina, a eles compete, dentre outras atribuições, a fiscalização do exercício profissional dos seus filiados, inclusive no tocante à limitação das atividades naquilo para o que estiverem devidamente habilitados, de acordo com seus currículos e respectivos registros no Conselho.

Portanto, a nosso ver, não há possibilidade de conferir ao Conselho de Técnicos em Radiologia a faculdade de obrigar os

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biomédicos a inscreverem-se nos seus quadros, e, em consequência, o poder de exercer fiscalização ou autuação desses profissionais, mesmo em caráter suplementar, eis que não há lei que regulamente tal possibilidade [...].” (Grifos nossos)

Neste sentido, seguindo todos os pontos

destacados da decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região,

restou indubitavelmente declarada a impossibilidade de fiscalização realizada por

órgão que não regulamente a própria categoria (neste caso o CRTR), entendendo

como ilegítima, ilegal e invalida qualquer aplicação de penalidade impetrada

contra os profissionais biomédicos, declarando expressamente que o

profissional Biomédico tem plena legitimidade ao exercício de atividades

radiológicas, levando por terra a injusta acusação de exercício ilegal da

profissão.

5. Da Jurisprudência

Conforme vasta jurisprudência de nossos

Tribunais, colacionamos alguns julgados sobre o tema, como forma de

demonstrar a equivocada interpretação legal atribuída ao caso em tela:

“MANDADO DE SEGURANÇA. BIOMÉDICA. TÉCNICO EM RADIOLOGIA. ATIVIDADES. CRTR/SC.

1. As atribuições legais do Biomédico não conflitam com as dos Técnicos em Radiologia. A Lei 6.684/1979 reconhece expressamente a possibilidade dos Biomédicos atuarem nos campos da radiografia e do radiodiagnóstico, sem excluir 'o exercício das mesmas atividades por outros profissionais igualmente habilitados', de forma que não se tratam de atividades privativas dos Técnicos em Radiologia.

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2. A prática de serviços de radiografia e do radiodiagnóstico por Biomédicos tem amparo legal.

3. As autuações realizadas pelo Conselho requerido aos Biomédicos ilegais e abusivas. (TRF4, APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5000406-66.2010.404.7200/SC – RELATOR Des. Federal LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE – Julgamento: 26 de junho de 2012) (Grifo nosso)

“EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - CONSELHO REGIONAL DOS TÉCNICOS EM RADIOLOGIA - FORMAÇÃO EM BIOMEDICINA - POSSIBILIDADE DE OPERAÇÃO DE APARELHOS RADIOLÓGICOS.

1. A formação em Biomedicina habilita os profissionais para a operação de aparelhos radiológicos.

2. Apelação desprovida.” (TRF3, AC n.º 0009594-92.2003.4.03.6182, Rel. JUIZ CONVOCADO PAULO SARNO, Quarta Turma, j. 15/12/2011, e-DJF3 23/12/2011) (Grifo nosso)

“PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - REMESSA OFICIAL - EXERCÍCIO PROFISSIONAL - RADIOGRAFIA - POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE RAIO-X POR PROFISSIONAIS DA BIOMEDICINA CASO PREENCHIDOS OS REQUISITOS LEGAIS - LEI Nº 6.684/79 - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.

I - Cuidando-se de ação declaratória em que não há valor certo em discussão, há de ser tida como submetida a remessa oficial, condição de eficácia da sentença, conforme previsto no artigo 475 do CPC.

II - A Lei nº 6.684/79, que regulamenta a profissão de biólogo e biomédico, dispõe em seu artigo 5º, II, que este último, quando devidamente habilitado, está apto a "realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação". Aos técnicos em radiologia são assegurados, por lei (Lei nº 7.394/85), operar aparelhos de Raios X utilizando-se de técnicas de radiologia, radioterapia e radioisotopia.

III - Conforme pontificado pelo Desembargador Federal Carlos Muta, em seu voto nos autos do processo nº 2007.61.00.008136-6, julgado na sessão de 24 de junho de 2010, "radiologia é a ciência, enquanto a radiografia é o exame típico da especialidade, que

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utiliza a técnica do raio X para investigações com finalidade precipuamente médica."

IV - A Lei nº 7.394/85 NÃO REVOGOU a Lei nº 6.684/79 porque não assegurou exclusividade profissional ao técnico de radiologia, cuja atividade pode coexistir com a do biomédico que realiza exames de radiografia, eis que a legislação antiga já veiculava cláusula expressa de concorrência.

V - Para que os biomédicos realizem exames de radiografia é indispensável o cumprimento do estatuído no artigo 5º da Lei nº 6.684/79, in verbis: "O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste artigo fica condicionado ao currículo efetivamente realizado que definirá a especialidade profissional." Sem este, não estão habilitados ao serviço.

VI - Sucumbência recíproca, arcando cada parte com os honorários de seus patronos.

VII - Apelação e remessa oficial, havida por submetida, parcialmente providas.”

(TRF3, AC n.º 0009652-68.2008.4.03.6102, Rel. Des. Fed. CECILIA MARCONDES, Terceira Turma, j. 27/10/2011, e-DJF3 16/11/2011) (Grifos nossos)

“CONSELHO REGIONAL DE TÉCNICOS EM RADIOLOGIA - CRTR/SP - DECRETO nº 88.439 - LEI nº 6.684/79 - LEI nº 7.017/82 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - ATUAÇÃO DO BIOMÉDICO - FUNÇÕES DO TÉCNICO EM RADILOGIA.

Os Conselhos de profissões regulamentadas têm dentre os seus objetivos não apenas a fiscalização dos inscritos em seus quadros, mas também a defesa da sociedade.

O Decreto nº 88.439/83 prescreve em seu artigo 1º que o Biomédico somente poderá atuar se for portador da Carteira de Identidade Profissional, expedida pelo Conselho Regional de Biomedicina da respectiva jurisdição.

Outros artigos do referido Decreto e da Lei nº 6.684/79 estabelecem quais são as atividades que os Biomédicos podem atuar, ressaltando não haver prejuízo do exercício das mesmas por outros profissionais, desde que habilitados na forma da legislação específica.

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Da análise da legislação pertinente ao caso, foi possível verificar que poderá o Biomédico atuar em equipes de saúde, a nível tecnológico, nas atividades complementares de diagnósticos, realizar análises físico-químicas e microbiológicas de interesse para o saneamento do meio ambiente, realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação, atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiagnostico e de outros para os quais esteja legalmente habilitado, planejar e executar pesquisas científicas em instituições públicas e privadas, na área de sua especialidade profissional, condicionado para o desempenho de algumas dessas atividades apresentação de currículo que o capacite.

O Conselho Regional de Técnicos em Radiologia da 5ª Região - CRTR/SP lavrou auto de infração alegando a prestação de serviços por Biomédicos inerentes à função de Técnico em Radiologia sem o devido registro perante os seus quadros.

Com base nos autos de infração pode-se inferir a ilegalidade do ato, posto que as irregularidades constatadas enquadram-se dentre as atribuições previstas na legislação que rege a profissão de Biomédico.

Quanto ao apelo do Sindicato dos Biomédicos Profissionais do Estado de São Paulo, entendo que sentença ‘a quo’ deve ser mantida.

Não há argumentação substancial para que se exija dos Biomédicos, inscritos no Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região, o registro no Conselho Regional de Radiologia da 5ª Região, o que caracterizaria duplo registro, bem como a fixação da verba honorária sobre o valor da condenação. Apelações não providas. (TRF3, AC n.º 0008136-53.2007.4.03.6100, Rel. Des. Fed. NERY JUNIOR, Terceira Turma, j. 24/06/2010, e-DJF3 16/09/2011, p. 1130) (Grifo nosso)

No tocante ao reconhecimento de nulidade em

autuações realizadas por Conselhos, cujos profissionais não eram seus inscritos,

os Tribunais Regionais Federais pátrios, assim já se manifestaram:

“ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO. AUTUAÇÃO POR EXERCICIO IRREGULAR DA PROFISSÃO.

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ATIVIDADES PRIVATIVAS DE ADMINISTRADOR. INOCORRÉNCIA. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE.

I- Afigura-se ilegítima a aplicação de multa pelo Conselho Regional de Administração - CRAJDF a profissional que não detém título de bacharel em administração, posto que sua competência para fiscalização restringe-se aos seus filiados (AMS 2001.34.00.020708-8, data da decisão em 1710212003).

II - Não se enquadra como privativo de Bacharel em Administração o exercício de cargo de Chefe de Serviço de Material e Patrimônio do Tribunal de Contas do Estado, por falta de previsão especifica na Lei Estadual que a criou.

III - Apelação e remessa oficial não providas.” (TRF da 1ª Região, AMS 200433000210263, 83 Turma, DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS FERNANDO MATHIAS, DJ DATA: 1/9/2006 PAGINA: 147) (Grifo nosso)

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONSELHO PROFISSIONAL. FISIOTERAPIA, AUXILIAR DE FISIOTERAPIA. NULIDADE DA AUTUAÇÃO DE QUEM NÃO É REGISTRADO NO CONSELHO.

I - É nula a autuação de quem não é registrado em conselho de fiscalização de profissão, à falta do respectivo poder disciplinar.

II - Ademais, a atividade de auxiliar de fisioterapia não é própria da profissão de fisioterapeuta, cujo exercício reclama registro no respectivo conselho regional. Precedentes deste Tribunal: REO n° 95.01.08922-MG, relator Juiz FERNANDO GONÇALVES, e AC N° 93.01.18442-MG, relator Juiz TOURINHO NETO.

III - Remessa de oficio improvida.” (TRF da 1ª Região, REO 9601215250, 3ª Turma, Rel. Juiz. Candido Ribeiro, DJ DATA: 12/11/1999 PAGINA: 134) (Grifo nosso)

“ADMINISTRATIVO - CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA - APLICAÇÃO DE MULTA, QUANTO À INFRAÇÃO PREVISTA NO ART. 15 DA LEI N. 5991/73 - INCOMPETÉNCIA - OBSERVÂNCIA AO PRINCIPIO LEGALIDADE. Os Conselhos Regionais de Farmácia, como autarquias corporativas que são, destinam-se ao regulamentar e fiscalizar as atividades exercidas pelos profissionais de farmácia, no interesse da categoria que representam. Em obediência ao art. 24 da Lei 3.820/60, aos estabelecimentos farmacêuticos cumpre comprovar a contratação de farmacêutico habilitado e registrado,

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sendo, de outro turno, da competência dos Conselhos Regionais a aplicação de multa àqueles que inobservarem os ditames da norma referida. [...]

Tais as razões, outra conclusão não nos é possível, senão a de que é incompetente o Conselho Regional de Farmácia, para aplicar penalidades à empresa farmacêutica que descumprir a obrigação legal de manter um responsável técnico, durante todo o seu horário de funcionamento, sendo tal mister da competência exclusiva dos órgãos de controle sanitário. Recurso especial parcialmente conhecido, apenas quanto ao dissídio jurisprudencial alegado e improvido”. (STJ, RESP 414961, 2ª Turma, Rel. Ministro Paulo Medina, DJ DATA: 05/08/2002 PAGINA: 316.) (Grifo nosso)

Portanto, conforme demonstrado, a jurisprudência

também milita favoravelmente no sentido de manter a devida interpretação da lei,

garantindo aos Biomédicos o devido exercício profissional na operação de

aparelhos radiológicos.

6. Considerações finais sobre o pleno exercício radiológico dos biomédicos

Na esfera judicial, observando os diplomas

constitucionais, bem como as tendências dos tribunais, é certo que o

aparecimento de qualquer legislação que busque a exclusividade da atividade de

radiodiagnóstico aos tecnólogos/técnicos em radiologia estará maculado de

inconstitucionalidade – Tanto formal quanto material.

Sua declaração (inconstitucionalidade) é

extremamente provável, se não no próprio âmbito estadual, no âmbito

constitucional, conforme dispositivos legais e demais fundamentações

supracitadas, as quais demonstram claramente a excelência dos profissionais

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Biomédicos na aplicação de técnicas radiológicas, conforme garantido pela nossa

legislação pátria.

Deste modo, importante observar que o projeto

assinado 11 de outubro de 2016, pela Ilustríssima Deputada Estadual Leci

Brandão, recebeu o nº de tramitação interna da Casa Legislativa 770/2016,

conforme publicado em 15 de outubro de 2016, visando: “Torna obrigatório o

diploma de Técnico em Radiologia ou de Tecnólogo em Radiologia para a

operação de equipamentos e fontes emissores de radiação corpuscular e

eletromagnética, bem como o devido uso de equipamentos de proteção individual

para o cuidado, preservação e zelo da saúde do paciente/cliente, profissionais

envolvidos na empregabilidade destas e dá outras providências”.

Assim como qualquer outro projeto de lei, seguirá

todas as fases legislativas, o que em regra pode levar anos até eventual entrega

para sanção ou veto do Governador, conforme fases do processo legislativos

abaixo extraídos do site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

(http://www.al.sp.gov.br/processo-legislativo/), conforme segue:

1. A proposta é escrita na forma de um Projeto de lei, lida no expediente da sessão plenária e publicada para que todos a conheçam.

2. As primeiras opiniões divergentes são apresentadas na forma de Emendas ao Projeto de lei. Para tanto, abre-se um prazo chamado de Pauta. As Emendas também são publicadas para que todos as conheçam.

3. Divulgados o Projeto e as Emendas, são enviados pelo Presidente da Assembleia para a análise e deliberação das Comissões Permanentes. Essas Comissões iniciam o debate das proposições nos seus aspectos de legalidade, temas e recursos públicos exigidos. Podem apresentar outras formas de aprovar a proposta em debate, que são chamados de

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Substitutivos e realizar audiências com os cidadãos interessados. Todas as reuniões são abertas ao público.

4. A primeira prova acontece na Comissão de Constituição e Justiça, que vai dizer se as proposições são legais e permitidas pela Lei Maior, que são as Constituições do Brasil e do Estado. O Projeto e as Emendas devem atender às suas exigências. Aprovado nesta Comissão devem ser analisados e aprovados quanto ao seu conteúdo, pela Comissão especializada.

5. Conforme o tema tratado, o Projeto será analisado por uma Comissão Permanente chamada de comissão de mérito. São 18 comissões temáticas, definidas nos artigos 29 a 31 do Regimento Interno. Aprovada quando ao seu conteúdo a proposição poderá ir para o debate na Comissão de Finanças e Orçamento, caso sua realização necessite de recursos públicos.

6. A Comissão de Finanças e Orçamento vai debater e deliberar sobre as verbas públicas necessárias, caso a proposta contida no Projeto e nas Emendas se transforme em lei, bem como sobre a programação orçamentária mais adequada.

7. Concluídas as avaliações das Comissões, o Projeto está pronto para ser votado pelo conjunto de todos os Deputados, que compõem o Plenário. As deliberações das Comissões são publicadas para que todos as conheçam, na forma de Pareceres sobre o Projeto e as Emendas, e o Presidente da Assembleia as inclui na Ordem do Dia das votações.

8. O Plenário, reunindo todos os representantes eleitos dos cidadãos, é a instância máxima de debate e deliberação. Pode propor novas emendas, que devem voltar às Comissões para serem também analisadas, de modo a produzir o acordo político entre as propostas e, finalmente, aprovar ou rejeitar a proposição através do voto.

9. Aprovado, o Projeto será submetido à Comissão de Redação, caso tenham sido acatadas as emendas apresentadas, e publicado um Autógrafo, que é um decreto da Assembleia Legislativa expressando a forma final da proposta aprovada pelos representantes dos cidadãos. Caso não tenha sido aprovado com emendas, será elaborada uma minuta de autógrafo de modo a adequar à proposição à melhor técnica legislativa.

10. O Autógrafo é enviado para o Governador do Estado que pode aprová-lo, promulgando então a Lei, ou rejeita-lo, com base em motivos justificados, vetando total ou parcialmente. Vetado o Projeto, ele retorna à Assembleia que repetirá os passos de 1 a 9 para apreciar os motivos da rejeição pelo Governador. Caso a Assembleia concorde com os argumentos do Governador aprovará o veto e arquivará o projeto, caso discorde rejeitará o veto e promulgará a Lei.

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11. Além das proposições, que expressam a competência legislativa da Assembleia, há também os instrumentos do processo legislativo destinados a realizar a função fiscalizadora do Poder Legislativo, em relação aos atos do Poder Executivo e ao cumprimento de direitos humanos, sociais e do consumidor, na sociedade.

Por fim, destacamos que o SINDICATO DOS

BIOMÉDICOS PROFISSIONAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO – SINBIESP

encontra-se atento e vigilante, a esta, e a todas as tentativas de violação aos

direitos dos profissionais Biomédicos, não medindo esforços para que nossos

direitos sejam sempre respeitados.

São Paulo, 24 de outubro de 2016.

Dr. LUIZ GUEDES

Presidente do SINBIESP

Sindicato dos Biomédicos Profissionais do Estado de São Paulo