O Bispo - A História Revelada de Edir Macedo

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  • 8/14/2019 O Bispo - A Histria Revelada de Edir Macedo

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    OO BBIISSPPOO

    AA HHiissttrriiaa RReevveellaaddaa ddee

    EEddiirr MMaacceeddoo

    Christina Lemos & Douglas Tavolaro

    Editora Larousse do Brasil

    ISBN: 9788576352655

    Scan: PILINGUINHAExclusivo para o frum warez THERESBELS

    Reeditado por SusanaCap

    SEMEADORES DA PALAVRA E-BOOKS EVANGLICOS

    mailto:[email protected]://www.therebels.com.br/http://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://www.therebels.com.br/mailto:[email protected]
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    S u m r i o

    APRESENTAO FIO DA NAVALHA

    O PRISIONEIRO - HOJEDE VOLTA PARA TRS DAS GRADESUM REGISTRO HISTRICO

    O PRISIONEIRO - ONTEMMOS AO ALTOPADRE NO INTERROGATRIOCAMINHO DA RUA

    O FILHOABORTAR E NASCERUM ARREPENDIMENTO

    O INDIGNADOINTIMIDADE REVELADAA PRIMEIRA VEZ

    O AMANTEA F E A MULHERSOCOS DE RAIVA

    O PREGADORREGIMENTO DE PASTORESLUZ NA FUNERRIATTICAS DE SERMOMANUAL DO EXORCISMODE OLHO NA TELEVISO

    O ARTICULADORXADREZ PELA RECORD"QUERO NEGOCIAR, SILVIO"CHANCELA DO PLANALTOALM DA VERSO OFICIAL

    O ACUSADOCONFIDENCIAS INDITASCHUTE NA SANTAFIM DO SILNCIO

    O POLEMISTADINHEIRO NA IGREJALIGAES POLTICASMENTE CONTROVERSA

    O COMANDANTEIMPRIO DE COMUNICAOIMPRIO RELIGIOSO

    E AGORA?

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    APRESENTAO

    FIODANAVALHA

    Escrever a biografia autorizada do bispo Edir Macedo foi um desafioque aceitamos com um misto de entusiasmo e preocupao. Entusiasmopor saber que estvamos diante daqueles momentos em que a vidareserva uma nica chance. Quando reserva. E preocupao pelo peso doque nos foi proposto: contar a vida do homem que criou a Igreja Universaldo Reino de Deus, liderou um processo de crescimento religioso semparalelo na histria do Brasil e construiu um imprio de comunicao.

    Por tudo isso, e tambm pelas caractersticas de uma personalidadecarismtica, arrojada e corajosa, Edir Macedo fez amigos e inimigos. amado e odiado. Reverenciado e criticado. Tudo em grandes propores.Um livro sobre o dono desse histrico certamente vai gerar polmica.

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    Provocar reaes exasperadas. Mas a polmica em si no nos incomodava.O que nos incomodava era a possibilidade de no traduzirmos com justiaa dimenso real do biografado. Tanto para os que o exaltam quanto paraos que o detratam.

    Mais que um pregador, Edir Macedo o retrato bem-acabado doque chamamos de lder. Foi assim, rompendo desde cedo com aperspectiva de uma vida decente mas comum, que ele se firmou comoalgum que no estava aqui para ser coadjuvante. Algum que no seacomoda. O bispo, como hoje reconhecido, fez dessa inquietude ummodo de vida. Ainda pastor, surpreendia pela vasta cabeleira e pelogestual, a ponto de ser chamado de "pastor bossa-nova". Surpreendia,sobretudo, pelo discurso. A "teologia da prosperidade", pregada por ele,

    foi um divisor de guas na histria recente dos movimentosneopentecostais no pas. bom lembrar que naquela poca, final dos anos1970, os "crentes", como eram popularmente conhecidos os evanglicos,nem de longe tinham a importncia que tm hoje na sociedade brasileira.

    No gratuito afirmar que as multides extraordinrias reunidaspela Igreja Universal em seus encontros foram o sinal para que osevanglicos comeassem a ser mais respeitados. Em razo da "teologia daprosperidade", Edir Macedo foi agredido, chamado de charlato e preso.A seus detratores, sempre respondeu com a fora da sua obra. Uma obraque cresceu tanto que assusta aos que se dispem a tentar entend-la.

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    O AUTOR E O PERSONAGEMSetenta horas de gravaes em catorze meses

    Aos 62 anos, o bispo Edir Macedo tem milhares de seguidores nomundo todo. Isso mesmo: seguidores. Quando paramos para pensar nafora dessa palavra, nossos medos afloraram. Como expor a vida desse

    homem para esse povo sem mago-lo? Como falar das suas fraquezas semferir os que nele acreditam? Como relatar fragilidades? E os momentos deagonia? Como vasculhar a histria de algum to aclamado? O homemsobrevive ao mito? E o mito, pode ser desnudado?

    Essas questes ganharam ainda maior dimenso porque ns, osautores, Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo, e Christina Lemos,reprter especial em Braslia, somos funcionrios da Rede Record deTeleviso. Em portugus claro: Edir Macedo nosso patro. Como teriseno para contar a vida de quem paga nosso salrio?

    O leitor pode se perguntar: "Se eles tinham tantas dvidas, por queaceitaram a empreitada?". Nesse momento prevaleceu o profissional.Tnhamos conscincia do valor jornalstico formidvel dessa obra. Do queela pode representar como documento histrico. Afinal, depois de dozeanos, o bispo Macedo rompia o silncio para falar de sua vida.

    O primeiro encontro com Edir Macedo confirmou que tnhamostomado a deciso correta. Para quem no o conhece, ele surpreende pelasimplicidade. E sinceridade. Assim, de modo objetivo, enxuto, sem

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    rodeios, como de seu estilo, deixou claro que no queria um livro-reportagem "chapa-branca". Obviamente, no gostaria de ser vilipendiadopelos autores, mas recusava qualquer tipo de bajulao. Ficamosconvencidos de que ele s queria que soubssemos contar o que tinha paradizer. A partir da, a angstia acabou. Iramos escrever o livro para o

    bispo. E pelo bispo. Para os fiis e os no-fiis. Para quem v nele aconsagrao da obra de Deus ou para quem ele no merece nenhumrespeito.

    H mais de um ano, comearam as primeiras entrevistas. Estivemoslado a lado com Edir Macedo por meses. Logo de imediato, chamou nossaateno a maneira desmedida com que falava sobre qualquer assunto:acusaes de estelionato, charlatanismo, explorao de miserveis, Igreja

    Catlica, Rede Globo, priso, ligaes com presidentes da Repblica,compra da Record, chute na santa, corrupo de dissidentes da Universal,desafetos.

    CHRISTINA LEMOS E O CORETO

    Reportagem voltou s origens da Universal

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    Enfim, todo e qualquer assunto que perguntssemos era respondido.Sem amarras. Sem nuances. Segredos guardados por anos, dcadas.Confidencias. Revelaes exclusivas sobre a Universal e a Record. Relatosque ajudam a enxergar melhor o pas em que vivemos nos ltimos trintaanos.

    Nas mais de setenta horas de gravaes de conversas, o que maissobressai, no entanto, o pastor. Desde mtodos doutrinrioscontroversos, como o exorcismo e a coleta de dzimos e ofertas, passandopela disciplina rgida com que comanda a igreja, Edir Macedo discorresobre os alicerces em que criou a Universal. E mais: no se abstm de falarde sexo, camisinha, celibato, drogas, casamento, aborto ou outro temamais espinhoso. Para os poucos a quem permite intimidade, essas

    posies, algumas com vis extremamente ousado, podem parecerrepetitivas. No nosso caso. O contedo da fala enrgica masincrivelmente pontuada de Edir Macedo provoca reaes de estupefaoem quem a escuta pela primeira vez.

    Como j foi dito aqui, no incio ficamos apreensivos sobre seconseguiramos realizar com xito a tarefa que nos foi encomendada.Tnhamos como parmetro nosso rigor profissional, mas sabamos dopassado de preconceitos contra os evanglicos brasileiros. Preconceitosque, em algumas camadas da populao, ainda duram at hoje. Em ummomento importantssimo de sua vida, Edir Macedo conta que foiachincalhado pelos colegas de trabalho quando revelou sua converso.Mesmo nos dias atuais, isso no soa como algo irreal. Pelo contrrio.

    Por isso, escrevemos este livro caminhando sobre uma espcie de fioda navalha. Tentando eliminar do texto qualquer agresso aos preceitosreligiosos dos membros da Igreja Universal, mas ao mesmo tempo

    preservando com total preciso o que nos foi relatado. Uma linha tnueque separa o respeito crena dos fiis da necessidade jornalstica deperguntar o que todos gostariam de saber da vida desse homem tocontrovertido. Assumimos esse compromisso com o bispo Edir Macedo ecom outros 149 entrevistados nos ltimos catorze meses, em treze cidadesde sete pases. Um compromisso, sobretudo, com o leitor.

    A voc cabe o julgamento.

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    O PRISIONEIRO - HOJE

    COM ESTER, A LEMBRANA- O chefe dos presos disse: "Lava a mo antes de puxar a

    descarga"

    DEVOLTAPARATRSDASGRADES

    A histria de Edir Macedo Bezerra, o bispo, comea na priso.Quinta-feira, 24 de maio de 2007. Nesse mesmo dia, h exatos

    quinze anos, o bispo Macedo iniciava a maior penitncia de sua vida.Atrs das grades, no cho de uma cela espremida e malcheirosa, surgia older mximo da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record deTeleviso.

    Uma dcada e meia depois, voltar cadeia um desafio. Edir aceitao convite a pedido dos autores deste livro. Aps meses de gravao dedepoimentos, de minucioso levantamento de arquivos pessoais e dedocumentos inditos, da revelao de cicatrizes e memrias nunca antes

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    conhecidas, chegou a hora da entrevista mais dura. Se no a maisimportante, a mais carregada de lembranas amargas entre as que seresumiram nas 276 pginas deste livro.

    O dia est escuro. Nuvens cinzentas escondem o sol. O encontro na avenida Joo Dias, em Santo Amaro, no templo mais conhecido daIgreja Universal em So Paulo - e tambm um dos lugares onde EdirMacedo se hospeda no Brasil. O local se chama Catedral da F. Na manhgelada, com vento de secar a pele, somos recebidos para um ligeiro caf-da-manh.

    Edir parece alegre, descontrado. Antes da refeio, o bispo reza.

    A seu lado o tempo todo, Ester Eunice Rangel Bezerra, com quem

    casado h 35 anos, e Romualdo Panceiro Silva, bispo e seu assessor diretoque comanda a igreja em todo o pas.

    Ainda na mesa, com uma xcara de caf forte na mo, o momentode encarar o calendrio. E de enfrentar o passado.

    - Eu no olho para trs. Odeio carregar peso do que j passou.Somente algumas coisas ficam marcadas como lio para a vida que segue- diz Edir, instantes depois de oferecer po e torrada.

    Como hoje, Ester estava ao lado do marido h quinze anos. Nomomento da priso, sentava no banco de passageiro do carro guiado porEdir Macedo. Provocamos a lembrana no casal.

    - Foi to marcante que parece ter acontecido ontem - afirma a esposa.

    - Foi como um ataque cardaco. De repente, o terror. Comecei a viverum pedao do inferno - define o bispo, sucintamente, ao tomar a palavra.

    Hora de partir. Descemos pelo elevador da cobertura de um dosprdios anexos ao templo. Edir veio ao Brasil especialmente pararelembrar esse dia. Interrompeu sua atribulada agenda de viagens pararomper o silncio de mais de uma dcada.

    O carro deixa Santo Amaro, mesmo bairro do qual o bispo Macedopartiu para a priso. Ele saa de um culto com a famlia quando foicercado por dezenas de policiais com armamento pesado. Mas esse

    episdio, com bastidores intrigantes at hoje no revelados, ser contadoem detalhes no captulo "Mos ao alto".

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    Somos seguidos de perto por escolta particular. Seguranas comtreinamento especial cuidam da proteo do bispo 24 horas. O destino adelegacia de Vila Leopoldina, do outro lado da cidade. Foi para l queEdir Macedo acabou levado, sozinho, naquele 24 de maio de 1992. Edir eEster seguem no banco de trs rememorando detalhes da data, mas

    atentos ao caminho.- Estamos perto da Marginal? - pergunta Ester, olhos curiosos no

    quarteiro de indstrias desativadas da regio.

    - No tenho idia, Ester - responde o marido. - Em So Paulo,conheo apenas o caminho da igreja e o de casa.

    Edir Macedo veste jaqueta de couro marrom-clara e uma discreta

    malha de l azul. Diferente do traje social, seu uniforme de trabalho. Eleacredita que a roupa bem alinhada compe a imagem de credibilidade dopastor evanglico. Ester veste cala escura e camisa branca, um leve toque

    de maquiagem.

    NA DELEGACIA

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    - De repente, comecei a viver um pedao do inferno.

    O endereo o mesmo: avenida Doutor Gasto Vidigal, 307. Acarceragem modesta, pequena, pouco mudou em quinze anos. A pinturaum tanto arranhada, a moblia confusa, o entra-e-sai de sempre. A mesa

    do investigador, o balco do boletim de ocorrncia, a sala do delegadotitular. No corredor dos presos, as mesmas quatro celas. Duas dzias dehomens esperam por transferncia atrs das grades em Vila Leopoldina.

    A entrevista com o bispo Edir Macedo ser exatamente nacarceragem em que ele ficou detido por onze dias. Simptico,cumprimenta todos. Tambm esto presentes outros jornalistas ereprteres cinematogrficos da Rede Record, que preparavam um

    documentrio sobre a data. , foi aqui... quinze anos. Foram onze dias de dor, onze dias de

    tormento, onze dias de desespero. Onze dias de revolta... revolta - refleteEdir, em p, olhar fixo na inscrio 91 DP em preto e branco. - A injustia um castigo que marca a alma do homem.

    Injustia? Edir recorre aos advogados para definir o que fizeramcontra ele. Sua junta de defensores conta ter inocentado o bispo Macedo

    de todos os inquritos criminais daquela poca.Lento, observador, ele atravessa a lateral da delegacia.

    O bispo, que no gosta de carregar o peso do passado, arrastalembranas.

    Eu cheguei a este lugar j de noite. Depois que desci da viatura,entrei na delegacia cercado por dois agentes armados. Tudo s pressas

    lembra ele, passos vagarosos, de braos dados com Ester. Estamosreproduzindo o mesmo caminho que eu fiz h quinze anos, s que numasituao bem mais tranqila. Daqui fui levado at a ltima porta esquerda.

    Caminhamos mais alguns metros. O bispo Macedo parece recordarcomo se fosse algo prximo, de dias atrs.

    aqui. Eu me lembro bem deste porto de ferro. Aqui comea o

    corredor das celas.

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    UMREGISTROHISTRICO

    O delegado que autorizou a entrevista apressa a entrada. Um dosagentes abre a carceragem. A pintura branca com toques de laranja recente, diferente daquele perodo. No h janelas, sol, luz. O ar sufocante. O cheiro incomoda. Uma combinao de suor, urina, fezes,comida estragando.

    No somos autorizados a entrar na cela por motivos de segurana.

    Edir Macedo est a quatro passos do lugar onde ficou preso.

    - A cor mudou. Fizeram uma reforma aqui. No tinha essa parede.Foi ali no cho que eu dormi - diz, apontando para o centro da cela. - No

    tinha cama. No tinha lugar para mim. Quando cheguei, estava cheia,lotada. Tinha mais de vinte pessoas.

    O bispo se aproxima da grade de ferro.

    Mais lembranas. A riqueza de detalhes surpreende.

    - Todas as camas estavam ocupadas. Ali, naquele canto, e ali, pertoda parede, tambm. Tinha um banheiro do outro lado. Quando cheguei, o

    chefe dos presos logo me recebeu e disse: "Voc entra no banheiro por estaporta e lava a mo neste lugar antes de puxar a descarga" - relembra,gesticulando o tempo todo. - Os detentos me receberam bem, mereconheceram assim que cheguei. Alguns me disseram: "Olha, s no temlugar para o senhor dormir". Ento o chefe dos presos me pediu paraesticar o colchonete no cho mesmo, no corredor da cela.

    Edir diz que no jantou. Deitou sozinho no piso, entre duas belichesocupadas por outros detentos. A cadeia era para presos com cursosuperior - determinao da lei que prev cela especial para diplomados,padres e demais ministros religiosos. O sono demorou. Passou amadrugada sendo acordado pelos presos que pisavam no seu colchopara ir ao banheiro.

    - um choque muito grande, uma agresso violenta. S quem jficou atrs das grades pode explicar o que exatamente significa define,num tom mais reflexivo. - Foi uma grande lio na vida, transformar as

    adversidades, como eles me diziam, fazer do limo uma limonada.

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    Em p, frente a frente com a cela, as memrias remodas. Impossvelno lembrar o primeiro pensamento de algum atrs das grades. EdirMacedo volta infncia.

    - Eu fui criado com sete irmos numa educao muito rgida. Meupai era agressivo, bruto, e s vezes nos batia. Mas sempre achei que piormesmo era receber o castigo de no poder sair de casa. Era terrvel,machucava mais do que levar uma surra. Eu pensava assim quando eracriana. Agora imagine, depois de velho, casado, pai de trs filhos, av deum neto, ficar de castigo onze dias numa priso. Imagine o que eu sentivoz altiva, braos cruzados. Estava cheio de indignao, mas em pazcomigo mesmo.

    No entendemos a conciliao desses dois sentimentos. Edir Macedo

    conta que tinha o controle de suas prprias reaes, mas ao mesmo tempodescreve a priso como um grande trauma. Queremos entender melhor.

    Eu estava espiritualmente em paz, mas emocionalmente abalado.Uma coisa o esprito, outra a alma. A alma estava agredida pelaviolncia, pela sensao de sofrer injustia. O esprito estava tranqilopela crena que carrego dentro de mim. Eu tinha total autocontrole. Euno seria capaz de fazer uma bobagem, de tomar qualquer atitude

    impensada. Tinha muita raiva, sim, me sentia vtima de um compl, masestava confortado no meu interior.

    Tambm no ntimo ser que o bispo Macedo pensou que sua igrejapudesse desaparecer? Imaginou em algum momento, nos onze dias decadeia, que sua carreira de lder religioso estava ameaada?

    Nunca. Pelo contrrio. Eu sabia que a priso me traria enormesbenefcios. Sabe por qu? Porque eu era a vtima, e a vtima sempre ganha.

    Nunca o algoz. Eu tinha certeza de que o trabalho se desenvolveria aindamais, no apenas no Brasil, mas em todo o mundo. a recompensa dosacrifcio.

    O sentimento de que fora vtima foi compreendido pelos fiis daUniversal, avalia Edir Macedo.

    - A minha priso ajudou o povo a entender suas lutas. Jesus sofreuinjustia, foi preso tambm. Os membros da Igreja compreenderam que asinjustias s fazem bem para a f. a garantia de vencer l na frente afirma, com nfase semelhante a seus discursos no plpito. Fui presopor qual motivo? O que eu tinha feito? Eu roubei? Eu matei? O que eu fiz?

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    Eu acusei, machuquei, agredi algum? Ofendi algum? No, eu no fiznada disso. Fui preso por qual motivo?

    Perguntamos se o bispo Macedo sabia dos crimes dos quais tinhasido acusado.

    S soube na primeira conversa com meus advogados. At entono tinham sequer me mostrado a ordem de priso. Fui acusado decharlatanismo, curandeirismo... diz, fazendo uma pequena pausa emseguida. Charlato? Curandeiro? Por qu? Porque prego o poder daorao pela f? Porque prego o que a Bblia ensina?

    Interrompemos o bispo. Lembramos que o Ministrio Pblicotambm o denunciou por estelionato.

    Por qu? A quem eu enganei? A quem eu ultrajei? A quem euroubei? A quem eu fiz mal? A pergunta essa: a quem eu fiz mal? Quemfoi prejudicado pelo meu trabalho? Quem? questiona, j com arespirao nervosa. O bispo Macedo pede gua. E, enftico, continua odepoimento.

    A Igreja Universal tem a mesma doutrina h trinta anos, e ela scresce em todo o mundo. E por que cresce? Porque as pessoas esto sendo

    enganadas? Esto sendo vtimas de estelionato? A Igreja cresce em pasesdesenvolvidos e no sofre preconceito como em nosso pas.

    Interrompemos novamente. Afirmamos que a Igreja Universal jsofreu vrios processos na Espanha, por exemplo, onde est instalada hquinze anos.

    Mas l um dos pilares da Igreja Catlica, bero do Opus Dei eda Ordem dos Jesutas. A Igreja desenvolve o mesmo trabalho livremente

    e com sucesso na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos e at no Japo, e nunca enfrentamos nenhum problema. Por que s no Brasilsomos vtimas de tantos ataques?

    A conversa pra por um instante. Edir Macedo reclama do cheiro decigarro dentro da carceragem. Embora tenha experimentado tabacoapenas trs vezes na adolescncia, seu faro no falha.

    Tem gente fumando a. Eu no agento cigarro esbraveja,

    abanando o ar com as mos.No h o que fazer. Detentos soltam fumaa no fundo do corredor.

    O bispo retoma a palavra rapidamente.

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    Sabe, eu prezo a justia. Sem justia no h ordem, no hsociedade, no h pas. Deus amor, mas antes de tudo justia. Antes deser amor, Ele justia - segue a meditao.

    Em seguida, dispara novamente.

    - Voc quer saber a verdade? Eles deram vrios tiros no p. Asituao se reverteu a meu favor, para frustrao de meus inimigos.

    Inimigos?

    - Eu tinha e tenho muitos inimigos. Quem eram e quem so essesinimigos?

    - Quem eram? O clero catlico, a Rede Globo e gente poderosa usada por eles. Eu at entendo tantos ataques, realmente h motivos para isso.A Igreja Universal incomoda, a Record incomoda. Ns assustamos. Nossocrescimento assustou muita gente na poca da minha priso e continuaassustando at hoje.

    Edir deixa a carceragem. Andamos calmamente em direo ao carro.Na porta do distrito policial, policiais e funcionrios observam intrigados.Quem passa pela calada pra por alguns minutos para tentar saber quemest provocando o pequeno tumulto.

    O bispo Macedo aponta para a porta pela qual ganhou a liberdadeno distrito de Vila Leopoldina. Pedimos para descrever essa sensao.

    - Vocs no podem imaginar. Embora as luzes das cmeras dosreprteres atrapalhassem minha viso, vi as pessoas da igreja. Vi o povo eos pastores alegres, fazendo algazarra, festejando. Foi emocionante, nod para esquecer.

    Foram quase duas horas de entrevista na exata data em que a prisode Edir Macedo completou quinze anos. Um registro jornalstico histrico.

    quase hora do almoo. Na volta para casa, j dentro do carro, uminstante intimista. Ele nos chama mais para perto e escora a mo direitaem nosso ombro. Quase sussurrando, diz:

    - Quer saber qual o caminho? Em nenhum momento eu pensonegativo. Podem falar bem ou falar mal, sempre parto para cima. Sou

    idealista. assim que lidero a igreja, a Record e todos os meus projetos.Vamos conhecer o "idealista" Edir Macedo, mas antes preciso

    voltar sua priso. preciso voltar a outro 24 de maio: a 24 de maio de

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    1992, mais precisamente 1h30 da tarde. O bispo Macedo detido pelapolcia, repentinamente, em um cenrio cercado de mistrios at hojepouco esclarecidos.

    O PRISIONEIRO - ONTEM

    MOSAOALTO

    Edir, voc passou o farol vermelho? - pergunta, afoita, Ester.

    Na imagem do retrovisor do antigo BMW preto, o motivo da dvida:viaturas da polcia em arrancada, algumas em ziguezague, sirenes ligadas.O carro cercado por um aparato policial. Cinco delegados e treze agentes

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    civis e federais. Coletes prova de bala, rdios e capuzes. Nas mos,escopetas, metralhadoras e revlveres.

    Edir Macedo, sua mulher, a filha Viviane Rangel Bezerra e umaamiga da famlia deixavam o culto de uma Igreja Universal em SantoAmaro, bem prximo atual Catedral da F, que ainda no existianaquela poca. A 200 metros do templo, na rua So Benedito, a cena decinema.

    - Pararam nosso carro e saltaram com armas em punho contaEster.

    - O bispo! O bispo! gritou um dos delegados.

    Edir Macedo recebe voz de priso. Desce do BMW com as mos

    erguidas. A Bblia no banco de trs, ao lado da filha. O bispo arrastadopara uma das viaturas. No h resistncia.

    - Eu achava que fosse um seqestro. Foi uma cena terrvel! O pastorLaprovita Vieira vinha no carro de trs e tentou evitar que o levassem. Atmostrou a carteira de deputado federal. Os policiais empurraram acarteira, jogaram meu marido dentro de um dos carros e saram em altavelocidade - relembra Ester.

    - As pernas ficam bambas. O corao dispara. A gente perde a noodas coisas. Eu fui detido como se fosse um delinqente perigoso acusaEdir.

    Colocado no banco de trs do camburo, apertado entre doisagentes armados, o bispo seguiu calado.

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    FLAGRANTE

    Policiais de So Paulo levam Edir Macedo para a priso

    - Foi um risco grande. Os policiais estavam muito nervosos,desequilibrados, com adrenalina fora de controle, o que poderia provocaruma desgraa - recorda. - Eu no vi nada dentro da viatura. O motoristacorria muito, virava nas curvas com velocidade, de forma perigosa. Sconseguia sentir indignao. Pensava onde a minha famlia estarianaquele momento.

    Na rua So Benedito, mais nervosismo. Ester se dividia entre odesespero por no saber o destino do marido e o medo pela reao da

    filha.- Saltei do carro e comecei a gritar: "Meu pai! Meu pai! Pelo amor de

    Deus, levaram meu pai!" - conta Viviane, na poca com 17 anos.

    Incapaz de qualquer ao, Ester ligou para Honorilton Gonalves,um dos integrantes mais antigos da Igreja e amigo prximo de EdirMacedo. Chorando, pediu socorro.

    - Tentei acalmar a Ester. Ela estava aflita. A violncia da polciaaterrorizou todo mundo. Disse que iria encontrar o bispo, para ficar

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    tranqila, que tudo iria dar certo. No sabia o que tinha acontecido,passavam vrias situaes pela minha cabea recorda Gonalves.

    No dia seguinte, o governador de So Paulo poca, Luiz AntnioFleury Filho, desqualificou a operao da polcia. E admitiu os abusos:

    - O espetculo que se viu no momento da priso no aconselhvelpara ningum. E altamente constrangedor, at porque o bispo no foicondenado. No entro no mrito das razes que o levaram priso, mas aforma foi exagerada.

    Era para ser pior. Somente agora, quinze anos depois, o delegadoMarco Antnio Ribeiro de Campos, que comandou a operao, faz umarevelao surpreendente: a ordem de priso deveria ser cumprida dentro

    do templo da Igreja Universal em que o bispo realizou culto na manhdaquele domingo. Era o endereo determinado no documento emitidopela Justia.

    No difcil imaginar os contornos da tragdia se os cincodelegados e os treze policiais invadissem o templo para prender Edir emcima do altar. Como controlar o mpeto de 1.500 fiis que lotavam a igrejanaquele dia? As conseqncias, certamente, seriam maiores.

    A deciso do delegado de no prender o bispo no altar, para evitar areao dos fiis, no tirou o estardalhao do episdio. Nem era o objetivo.Ao deixar a rua So Benedito, sem saber para onde era levado, o bispoMacedo passou pelo Departamento Estadual de Investigaes Criminais,o Deic, e, horas depois, acabou transferido para a delegacia de VilaLeopoldina.

    Ao chegar s duas bases da polcia, uma estranheza. A TV Globo j

    estava l. Era o nico veculo de imprensa a mostrar Edir Macedo sendopreso. As imagens foram ao ar no Fantstico do mesmo dia, que teve aseguinte manchete na voz da atriz Carolina Ferraz, ento apresentadorado programa:

    - O criador da Igreja Universal do Reino de Deus est na cadeia! Obispo Edir Macedo foi acusado de estelionato e charlatanismo.

    Pela primeira vez, em meses de crise poltica, o governo Fernando

    Collor de Mello dividia a principal notcia do dia. Mesmo enrascado emuma teia de acusaes de corrupo, o assunto do dia seguinte, segunda-feira, era Edir Macedo - e seria pelos dez dias seguintes.

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    Braslia estava em polvorosa. Maio de 1992 marcou o pice da crisedo governo Collor. No exato dia da priso de Edir Macedo, foi s bancas aedio da revista Veja em que Pedro Collor, irmo do presidente, acusavaPaulo Csar Farias, o PC Farias, de articular um espantoso esquema decorrupo dentro do Planalto, com a conivncia do primeiro mandatrio

    da Repblica. As denncias ainda repercutiam e sinalizavam um futuronebuloso na capital do pas. Seguiu-se, ento, um processo de investigaoem que o Congresso Nacional e a mdia mobilizaram a opinio pblicapela apurao completa dos fatos.

    Mas na segunda-feira, 25 de maio, a manchete era a priso do bispoMacedo. A partir dali, segundo o especialista em comunicao GabrielPriolli, da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, a TV Globo

    adotaria uma linha editorial contrria a Edir, Igreja Universal e sdemais igrejas evanglicas. Uma batalha acirrada desde a compra da RedeRecord pelo bispo, em novembro de 1989.

    Para quem viveu aquele perodo de perto, a aquisio da Recordseria outro motivo obscuro da priso de Edir. Naquele tempo, a concessoda emissora ainda no havia sido autorizada pela ento Secretaria dasComunicaes, o que viria a acontecer somente no final de 1992. Aconcesso o direito que o governo d para a operao de um canal deteleviso, que, segundo a lei, de controle do Estado.

    O epicentro do impasse que havia uma guerra velada entre grupospoderosos pelo controle da Record, alguns at com apoio do alto escalodo Planalto. Hoje, em entrevista sobre o assunto, o ex-presidenteFernando Collor de Mello admite a existncia de "presses" para tirar aRecord do verdadeiro dono.

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    DENNCIAS

    Escndalo Collor estourou no exato dia da priso: 24 de maiode 1992

    - Havia uma forte carga de preconceito contra o bispo Macedo.Lembro que havia uma disputa entre vrios grupos pela concesso daRecord. Houve presso, sim, mas natural quando h uma concorrnciadesse tipo - afirma Collor.

    Mas no havia concorrncia. Edir Macedo havia comprado aemissora do apresentador e empresrio Silvio Santos e da famliaMachado de Carvalho e reunia os requisitos para ganhar a concesso. A

    documentao e os processos burocrticos estavam em dia. Edir Macedona priso era sinnimo de caminho aberto para quem ambicionava tomara Record.

    PADRENOINTERROGATRIO

    Osinteressados subiam a rampa do Planalto numa busca persistente.Na maioria das vezes, tinham como interlocutor um dos homens fortes dogoverno Collor, que at hoje se manteve em silncio: o ex-ministro Joo

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    Eduardo Cerdeira de Santana. Durante onze meses, foi ele quemcomandou o Ministrio da Infra-Estrutura - uma pasta polpuda, criadapara englobar os setores de Comunicaes, Transportes e Minas e Energiado pas.

    Localizamos o ex-ministro em um escritrio de advocacia em SoPaulo. Aos 50 anos, aps longa fase de ostracismo poltico, o advogadorevela:

    - Dar a concesso de um canal de tev para o bispo, por tudo o queele representava, incomodava muita gente. E os incomodados estavampor todos os lados. As influncias para impedir a transferncia do direito aEdir Macedo ocorreram durante todo o processo.

    O ex-ministro Santana cita nomes de empresrios e grupos decomunicao. Mas esse episdio da trajetria do bispo Macedo ser maisbem compreendido logo adiante.

    Ainda no domingo da priso, ao cair da noite, Ester localizou omarido Edir com o auxlio de Honorilron Gonalves. Para agravar asituao, o ento advogado da igreja, Campos Machado, o mesmo que seelegeu deputado estadual em So Paulo, estava em viagem.

    - De imediato fui cadeia encontrar Edir. Ele estava calmo. Choreimuito ao v-lo injustamente preso conta, sensibilizada, Ester.

    - Encontrar minha esposa no domingo me deu foras para suportar apriso - afirma Edir. - Ester estava muito abatida.

    Naquela noite, Ester e a filha Viviane passaram a noite sozinhas emcasa. Abraadas no quarto, choraram at de manh. Hoje, as duas seemocionam ao relembrar aquela madrugada.

    - E s comear a lembrar que logo vm as lgrimas. No d parasegurar - diz Viviane.

    O mandado de priso do bispo tinha sido expedido dois dias antes.Quem assinou o documento foi o juiz paulista Carlos Henrique Abrao,ento um jovem magistrado de 31 anos. Abrao cobria frias de trinta diasda juza titular da 21 Vara Criminal de So Paulo quando decidiu expedira ordem de priso.

    Edir Macedo no tinha antecedentes criminais, comparecia a todosos interrogatrios e tinha residncia fixa. Mesmo assim foi detido sob asacusaes de estelionato, charlatanismo e curandeirismo, com as

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    justificativas de que era necessrio prosseguir a investigao e de quepoderia fugir do pas.

    - Eu notei que nos autos existiam fortes elementos para as dennciasde lavagem cerebral e manipulao de fiis - afirma o juiz, em entrevistapara este livro-reportagem. Fui cobrir a ausncia da juza titular edecidi prender Edir Macedo. Depois que acabou minha designao, elaretomou o processo, que pouco depois acabou transferido para outro juiz.

    Passado o curto perodo de frias, Abrao foi enviado de volta antiga jurisdio.

    No dia seguinte priso, a imprensa publicava os motivos da ordem judicial. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, foi incisivo: "O juiz

    determinou que, em liberdade, Macedo poderia intimidar testemunhas,alm de cometer 'crimes continuados' com o uso de publicidade enganosapara levar pessoas ao fanatismo". Na foto, de terno cinza e gravatavermelha, Edir aparece escoltado por trs policiais civis.

    - J preso, uma das primeiras coisas que Edir me pediu foi a Bblia -lembra Ester.

    A calma da primeira noite no distrito de Vila Leopoldina no se

    repetiria nos prximos dias. Na segunda, a delegacia amanheceu agitada.Dentro, a surpresa dos detentos com o novo companheiro de cela. Fora, acuriosidade da imprensa do Brasil inteiro, que montava acampamentopara cobrir o caso em meio s graves acusaes contra o presidenteFernando Collor de Mello.

    - Fui destacada para fazer a cobertura pela TV Record. Enquantorecebi orientao de mostrar a defesa do bispo, com base na lei, alguns

    colegas de veculos concorrentes tinham ordens explcitas para carregarno tom das denncias. Era o que se dizia, claramente, por trs dacobertura oficial - lembra a jornalista Maria Paula Bexiga, h dezesseisanos funcionria da Record, que acompanhou, passo a passo, os onze diasda permanncia do bispo Macedo na carceragem, com acesso exclusivoaos bastidores.

    Na segunda, logo pela manh, Edir recebeu a visita de parentes ecompanheiros da igreja. A partir dali, a esposa Ester estaria presente todosos dias. O bispo tambm passou a ganhar a amizade dos demais presos.Eram 22 pessoas, entre advogados, mdicos, juizes, empresrios e atpolticos.

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    O responsvel pela guarda de Edir foi o delegado Darci Sassi, titulardo distrito de Vila Leopoldina em 1992 e que atualmente cumpre funesburocrticas na Polcia Civil.

    - O bispo chegou escoltado por dois investigadores. Era naturalencontrar uma pessoa revoltada, como geralmente ocorre com todos ospresos. Mas no. A atitude do bispo impressionou todos. Quando oencontrei pela primeira vez, ele ouviu as regras da cadeia e abaixou acabea. Depois, eu quis me compadecer, disse que a Justia era assimmesmo, que a justia dos homens nem sempre funcionava. Ele me olhoubem fundo e disse: "No, doutor, se tenho de passar por isso, eu voupassar. E vou passar de cabea erguida porque tenho f em Deus" lembra o delegado.

    O bispo Macedo tentou fazer da delegacia uma extenso da igreja.No intervalo das visitas, consumia as horas em discretas rezas e naincansvel leitura da Bblia. Sempre sereno, concentrado, pensativo.

    Em p ou sentado, parado na cela ou caminhando em vaivns nocorredor da carceragem, no desgrudava um instante da Bblia. Um dosdetentos daquela poca, o ex-vereador Osvaldo Serva, chegou a declarar imprensa que a convivncia com Edir Macedo foi harmoniosa.

    O comportamento do bispo conquistou os detentos e os policiaisda delegacia. Por incrvel que parea, foram os onze dias mais pacficosque vivi em Vila Leopoldina. Embora houvesse todo aquele tumulto emtorno da priso, o clima era de paz - afirma o delegado Sassi.

    Uma das poucas imagens de Edir atrs das grades ganhou as capasdos jornais de todo o pas. O flagrante de um dos seus momentos demeditao virou smbolo daquele perodo. Sentado nos fundos da cela,

    culos no rosto e a Bblia nas mos, apoiada sobre as pernas cruzadas.Vestia camisa branca de mangas curtas e cala social cinza, entregues diasdepois pela esposa junto com um punhado de roupas.

    A serenidade registrada pela fotografia traduzia a conduta do presoEdir. Paciente, atendia aos reprteres com amabilidade. Recorria sempres suas convices religiosas para dar entrevistas. Foi assim na primeiradeclarao depois de encarcerado.

    Eu sinto o batismo de fogo. Eu no mereo, mas me sinto comoum apstolo, porque estou sentindo o que eles sentiram naquela poca.

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    Paradoxalmente, isso um privilgio: sofrer como eles sofreram por umacausa e por um Senhor que ns abraamos de todo corao.

    O bispo Macedo parecia cansado, mas seguiu o depoimento:

    No momento a gente pode at nem entender a situao, mas

    tenho certeza de que isso para o bem; para o bem da Igreja, para o bemda obra que ns abraamos, para o bem da f de todos ns, para o bemda obra de Deus.

    HOLOFOTE37 dias antes de ser preso, Edir Macedo lotou o Maracan

    A declarao foi exibida para todo o Brasil pela Record. E gerouuma inesperada corrente de solidariedade. A reao ao que muitos

    consideravam um ato arbitrrio espalhou-se pelo pas: autoridades,polticos, personalidades e at lderes de outras religies recriminaram apriso de Edir.

    Uma das declaraes mais indignadas foi a do ento presidente doPartido dos Trabalhadores, Luiz Incio Lula da Silva, hoje presidente daRepblica. Lula tinha recente na memria a experincia de ter sido alvo demanipulaes do jogo poltico. Havia sido derrotado por Collor na disputa

    presidencial de 1989, eleio marcada por uma edio induzida da Globono ltimo debate antes do segundo turno de votao. Lula criticou opreconceito religioso por trs da deteno:

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    - Acho um absurdo a priso sob o argumento de que o bispo est en-ganando as pessoas com sua religio. As pessoas tm f naquilo quequerem ter f. Eu estou convencido de que, se a gente no tomar cuidadoneste pas, daqui a pouco a polcia entrar em sua casa e prenderqualquer um, sem nenhum critrio.

    Lula falou mais. Atacou duramente a deciso do Judicirio e citouuma gigantesca concentrao religiosa organizada por Edir no Estdio doMaracan, que havia reunido mais de 200 mil pessoas, 37 dias antes dapriso.

    - Precisamos discutir o critrio pelo qual o juiz julga o charlatanismo.A Igreja Universal do Reino de Deus consegue lotar o Maracan e isso vis to por alguns religiosos ou pela polcia como charlatanismo. O bispo

    dizia: "E as pessoas que fazem romaria, as pessoas que acreditam emoutro tipo de santo, tambm no esto sendo vtimas de charlatanismo?".Para que as pessoas soas sejam presas, preciso a apurao total daresponsabilidade e do crime cometido. Fora disso, acho que todos osbrasileiros tm o direito de esperar seu processo em liberdade.

    Polticos de lados opostos uniram-se na crtica deciso da Justia.Alosio Nunes Ferreira, ento deputado federal pelo PSDB, tambm

    visitou a cadeia de Vila Leopoldina: pura violncia, pura perseguio. Tem meu maior repdio.

    Edson Arantes do Nascimento, o Pele, veio a pblico demonstrarsua indignao:

    LULA NA TEV

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    Lder poltico na poca questionou acusao de charlatanismo

    O ADVOGADOEx-ministro da Justia Thomaz Bastos derrubou priso

    preventiva

    - Desde que ns temos livre-arbtrio, a liberdade deixada por Deus,

    importante que a prpria pessoa escolha o que quer seguir. No a lei quevai determinar o que fazer.

    Para annimos prximos ao bispo Macedo, porm, a dor foi maior.Pastores e integrantes da Igreja Universal eram ridicularizados no dia-a-dia. Para a famlia, foi o momento de maior angstia. A me de Edir,Eugnia, viajou do Rio de Janeiro para So Paulo e acampou na igreja,pedindo a volta do filho.

    - Durante os dias em que ele esteve na cadeia, minha me chorava.Vinha aquele monte de jornalistas para cima de ns. ramos as primeirasa chegar e as ltimas a sair da igreja. Foram dias tenebrosos - lembra ErisBezerra Crivella, irm do bispo Macedo e me do senador MarceloCrivella.

    - Quando mame chegava cadeia, chorava sem parar. Eu acabavaconsolando ela. Uma mulher de idade, uma senhora que vivia uma

    situao delicadssima - conta Edir, cabisbaixo.Nos ltimos dias de maio, os advogados se esforaram para libertar

    Edir Macedo. No dia seguinte priso, j havia sido impetrado um

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    pedido de habeas corpus. A defesa alegava que a cadeia era uma medida"violenta e inconstitucional, sem nenhuma justificativa, mesmo porque, seo bispo for condenado, ter direito a priso domiciliar, pois primrio etem bons antecedentes".

    O juiz Henrique Abrao defendeu a priso preventiva com osargumentos de que era necessrio "garantir a ordem pblica e anormalidade da instruo criminal e para a defesa dos interesses dasociedade". Em seu despacho, o juiz fez uma concluso considerada napoca bastante controversa: "Conveno-me sobre os nefastos e malsinadosefeitos que redundam na eventual liberdade do agente, propagando-se adoutrina e contando com a colaborao de massas enfileiradas de pessoasincautas e incultas, com o propsito notadamente mercantilista".

    Os advogados de Edir se indignaram. Em resposta ao despacho,acusaram o juiz de preconceito religioso: '"Nefasta e malsinada' puraquesto opinativa, pois assim no pensam milhares de fiis que corremaos templos e aos estdios para ouvir sua pregao".

    O primeiro pedido de libertao de Edir Macedo foi negado.

    A deciso contrria, de desesperana para quem torcia pelo bispo,reverteu-se nas ruas. Multiplicavam-se os brasileiros solidrios a Edir.Mesmo os que criticavam a Igreja Universal passaram a defender aliberdade do bispo. Pastores e fiis da igreja mobilizaram-se de norte a suldo Brasil. Evanglicos de diversas denominaes iniciaram manifestaesde protesto. Centenas de pessoas passaram a fazer viglia na porta dadelegacia de Vila Leopoldina.

    A esposa Ester, diariamente na priso, acompanhou tudo bem deperto:

    As pessoas perceberam que havia sido uma arbitrariedade.Muitos deixaram de nos criticar e mudaram a forma de nos ver. Passaramat a gostar da gente.

    Na primeira semana da priso, a delegada de planto Slvia SouzaCavalcanti, preocupada com o crescimento de manifestantes, solicitou aobispo a gravao de uma mensagem de rdio para acalmar os fiis:

    - S peo s pessoas que fazem parte desta famlia Universal doReino de Deus que orem e faam jejum para que venhamos a sair daqui omais rpido possvel. Que Deus, no tempo certo, venha nos livrar e

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    possamos ento comungar juntos a f crist. Eu quero agradecer o carinhode todos nestes momentos difceis. Conto com a orao de cada um. Muitoobrigado.

    Edir recorda aquele momento com clareza.

    - O povo da igreja queria invadir a cadeia. Curiosamente, eu, queprecisava ser acalmado, tinha a obrigao de acalmar toda aquela gente.

    Na primeira semana, Edir Macedo saiu da priso para prestardepoimento. Colocado no banco de trs da viatura policial, vestia camisabranca e terno azul-marinho. Estava um tanto constrangido, com a Bbliasempre nas mos. J no frum, diante do juiz Carlos Henrique Abrao,uma cena atpica. Uma revelao guardada por esses anos todos.

    Um padre assistia ao meu interrogatrio e fazia anotaes. Emtodos os meus depoimentos, nunca era permitida a entrada de ningum,mas naquele dia havia um padre. E, ainda por cima, o juiz me fez umapergunta pouco importante ao processo: queria saber se, com minhapriso, havia diminudo o nmero de pessoas na igreja. No entendi omotivo da pergunta, mas respondi que no. Disse: "Pelo contrrio,excelncia, aumentou mais ainda" - conta Edir Macedo.

    O segundo pedido de liberdade tambm foi negado.

    CAMINHODARUA

    Nas ruas, as manifestaes cresciam. E pressionavam o Judicirio.Com o passar dos dias, era maior a quantidade de pessoas acampadas em

    frente delegacia de Vila Leopoldina. Homens, mulheres, jovens e idosos,a maioria fiis da Igreja Universal, em viglia pela libertao de EdirMacedo. Dia e noite, rezavam por horas seguidas, atitude que sensibilizouat quem tinha a obrigao de manter-se imparcial.

    - Olhava pela janela da delegacia e no acreditava. Senhoras, muitasat com sade frgil, de mos dadas, rezando horas e horas sem parar.Faziam rodas na calada, algumas seguravam fotos do bispo Macedo e

    choravam com sinceridade. Era fcil notar. Qualquer um,independentemente da religio que professasse, se emocionaria comaquelas cenas - recorda o delegado Darci Sassi.

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    Hoje, ao ouvir as lembranas do delegado Sassi, o bispo Macedo secomove. Em seu silncio pensativo, percebem-se os olhos marejados.

    - Veja como so as pessoas da igreja, gente que acompanha toda anossa histria, gente que nunca vou saber quem diz o bispo.

    De sol a sol, as imagens se repetiam. Certo dia, uma reaoimprevisvel parou o trabalho dos policiais e agitou o distrito. Mais de milpessoas, que protestavam pacificamente na porta da delegacia, abraarama cadeia numa enorme corrente de mos dadas. O pedido era um s: alibertao de Edir Macedo.

    - Estava deitado na cama, dentro da cela, quando recebi a notcia.Fiquei comovido com a iniciativa do povo lembra Edir.

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    No dia 1 de junho, outro grande ato em favor do bispo. Aos poucos,centenas de fiis se aglomeraram em frente ao Palcio 9 de Julho, sede daAssemblia Legislativa do Estado de So Paulo, aos gritos de "Queremos

    Justia". Pouco depois, eram 3 mil. Novamente deram-se as mos,cercaram o prdio do Poder Legislativo paulista, cantaram e oraram.

    Dentro do prdio, mais de trezentos pastores de 34 igrejas evanglicaspediam que o bispo fosse solto. Todos assinaram um documento exigindorespeito Constituio brasileira, que garante liberdade religiosa.

    A sada de Edir Macedo, no entanto, era sempre obstruda apsintensa -guerra judicial. Foi ento que o advogado criminalista MrcioThomaz Bastos, ex-ministro da Justia de Lula, foi contratado comoadvogado do bispo no processo iniciado pelo Ministrio Pblico. Preo do

    trabalho: o equivalente a 500 mil dlares. Em sua primeira declaraopblica, Thomaz Bastos foi enftico:

    - No existe denncia em lugar nenhum do mundo. No hdenncia nenhuma no processo, o inqurito est fora dos cartrios. Eletem direito de se defender de uma priso preventiva ilegal. Em um pasonde o crime violento aumenta tanto, creio que se d uma atenoexcessiva ao bispo Macedo. Ele vai resistir ao pedido de priso.

    No dia 3 de junho, quarta-feira, o Tribunal de Justia de So Paulo julgou o terceiro pedido de habeas corpus a Edir. No plenrio, ThomazBastos argumentou que no existia base para manter a deteno. Oadvogado recorreu a quatro elementos para derrubar a priso preventiva:o bispo Macedo possua bons antecedentes, famlia, residncia fixa e nohavia se recusado, em nenhum momento, a prestar esclarecimentos sobreas acusaes. O discurso durou quinze minutos. A tese da promotoria foidesmontada. Por 3 votos a 0, os desembargadores decidiram, finalmente,

    pela libertao do bispo.- Estamos diante de um caso em que vo entrar em jogo princpios

    extremamente importantes, como a intolerncia, o preconceito, o conflitoentre as religies, o princpio da liberdade de culto. Questesfundamentais para que o Brasil construa realmente um regimedemocrtico - declarou Thomaz Bastos, aps a vitria.

    De imediato a notcia se espalhou pelo pas. s 7 da noite, a rua dadelegacia de Vila Leopoldina estava tomada por reprteres, cinegrafistas,fotgrafos, fiis e curiosos. A ansiedade era grande. Na cela, Edir recolhia

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    roupas e objetos pessoais com o auxlio da esposa. Vestiu terno azul-marinho e camisa branca.

    A sensao era de alvio, justia, misso cumprida lembra obispo.

    Na mesma noite, mandou distribuir dezenas de Bblias na cadeia.Policiais e investigadores do distrito organizaram um corredor humanopara a sada do bispo. Edir se despediu dos companheiros de cadeia,agradeceu o convvio daqueles onze dias, cumprimentou um a um. Epartiu.

    - Foi um tumulto geral. Quase o espremeram na parede, todomundo I queria falar com ele conta o delegado Sassi, que destaca um

    detalhe no comportamento de Edir Macedo:

    Percebi que o bispo noabaixou a cabea em r momento algum. Nem para entrar nem para sair dacadeia. Estava sempre de cabea erguida, no parecia demonstrar medo.

    Edir saiu apressado, calado, e entrou no mesmo BMW preto do qualfora arrancado para a priso. Os veculos de imprensa seguiram o bispo.Era hora de ir para casa. Ou melhor, inesperadamente, hora de voltar paraa igreja. O destino que o aguardava, antes de ser preso, fora mudado emcima da hora. Aps onze dias atrs das grades, decidiu seguir com afamlia direto ao mesmo templo, em Santo Amaro, de onde havia sado nodia 24 de maio.

    Ao entrar, Edir Macedo se emocionou. Mais de 1.500 pessoaslotavam a Universal. Os assentos e corredores tomados, gente do lado defora. Enfileirados, aglomeravam-se fiis e pastores, muitos dos quehaviam feito dias de viglia na porta da delegacia. Ao surgir no altar, obispo foi aplaudido de p.

    E, ao microfone do templo, comeou um desabafo. Relembrou suahistria, falou das dificuldades enfrentadas por ser pastor e deu umtestemunho i sobre a angstia dos dias na cadeia. Agradeceu o apoio dafamlia, da esposa e de todos que se uniram a ele no momento mais difcilde sua vida. E falou sobre como a f o ajudou a superar o que considerouuma humilhao.

    Edir tambm rebateu as acusaes uma a uma. Todos os veculos decomunicao acompanhavam o discurso, exceto a TV Globo. Em seguida,profissionais de imprensa deixaram a reunio a pedido da direo daigreja.

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    Veio o momento de intimidade com os fiis. A reunio s foiinterrompida por palmas e abraos trocados entre Edir e a famlia.

    - No final do culto, fui chamada para ir aos fundos do templo.Recebi a informao de que o bispo, apesar de exausto e louco para chegarem casa, ainda daria uma entrevista exclusiva Record - conta a jornalistaMaria Paula.

    Era uma sala pequena e improvisada, com duas cadeiras simples.

    - O bispo Macedo se apresentou como nos dias anteriores. Eu disseque estava muito feliz com a libertao dele e que, sabendo do cansao,poderamos gravar assim que quisesse - lembra.

    Antes da entrevista, porm, Edir Macedo solicitou que, em nome

    dele, a reprter levasse um pedido de desculpas a todos os colegas da TVRecord "pela vergonha" que sentiram ao longo da priso do dono daemissora.

    - No sabia o que dizer. Cheguei a falar que nenhum profissional daRecord tinha motivo para sentir vergonha. Mas ele insistiu. Assim quecheguei redao, transmiti o recado para toda a equipe.

    Na entrevista, a ltima daquela fase, palavras sem rancor:

    - Eu creio na justia dos homens, mas sei que todos falham. Ohomem falha. possvel que a Justia falhe tambm, mas eu confio nanossa Justia.

    Hoje, ao olhar para o passado, Edir faz uma reflexo jamais feitasobre os dias na cadeia.

    - A priso foi um marco na minha vida. Eu no entendi naquele mo

    mento, mas foi minha vlvula de escape. Muitos esperavam que eudeixasse a cadeia morto, mas aconteceu exatamente o contrrio - afirma obispo Macedo. - o que eu repeti o tempo todo e em que acredito, estna Bblia: tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.

    Parte da ateno do pas estava voltada para Edir Macedo, mas oBrasil continuava de cabea para baixo. Durante os dias na priso, aCmara dos Deputados aprovou em Braslia a instalao de uma

    Comisso Parlamentar de Inqurito para investigar as denncias de PedroCollor contra o tesoureiro PC Farias e suas possveis ligaes comFernando Collor de Mello - fio de novelo que desenrolaria o primeiroimpeachment de um presidente da Repblica na histria do Brasil.

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    Procuramos Collor de Mello, hoje senador da Repblica, para quecontasse sua verso sobre a priso do bispo Macedo. Desconcertado, o ex-presidente deu uma resposta curta mas intrigante:

    - No me lembro.

    Repetimos. Lembramos ao ex-presidente quando ocorreu a priso eem quais circunstncias.

    - No me lembro da priso do bispo Macedo. Guardo apenas boaslembranas sobre o bispo. No me lembro da priso talvez porque euestivesse muito preocupado com as turbulncias polticas da poca - disseCollor.

    Depois do depoimento reprter da Record e onze dias de priso,

    Edir finalmente chegou em casa. A partir daquela noite, o bispo Macedolideraria a slida expanso da Igreja Universal e o crescimento de suaemissora de televiso.

    O FILHO

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    ABORTARENASCER

    Edir Macedo tinha 47 anos quando foi preso. Hoje, aos 62, continua

    com caractersticas fsicas bem semelhantes. Pele branca, olhos claros detom levemente esverdeado, dentes alinhados, estrutura ssea pequena,estatura de 1,69 metro. Est apenas mais magro seu peso alterna entre62 e 64 quilos e com algumas marcas da idade. Cabelos mais ralos egrisalhos e miopia que o obriga a usar culos para ler.

    O tempo passou. Nem Edir nem a Igreja Universal eram toconhecidos naquela poca como so hoje. Bastam alguns passos na rua ou

    em outro lugar pblico, em qualquer ponto do Brasil, para ele serreconhecido. Em todas as viagens ao lado do bispo, constatamos suacondio de "celebridade", embora ele rejeite radicalmente esse rtulo.Edir Macedo classifica-se como "pregador do Evangelho".

    - Bispo, que prazer encontrar o senhor! Somos obreiros {espcie de vo-luntrios da Igreja Universal do Reino de Deus) de Maca - diz um seguranado Aeroporto Internacional do Galeo, no Rio de Janeiro, minutos depois

    de Edir e sua mulher pisarem no saguo.- mesmo um privilgio ver o senhor completa o colega,

    sorridente, estendendo a mo para receber o cumprimento do bispo.

    Nosso vo para Macei, capital de Alagoas, onde ser inauguradaa nova sede da Igreja Universal no estado. Tambm embarcam juntosRomualdo Panceiro e sua mulher. Os dois casais passam, pacientemente,pelos trmites legais de embarque. Edir caminha desconfiado. Olha ao

    redor o tempo todo at chegar ao avio particular.- O seguro morreu de velho, e o desconfiado ainda est vivo diz

    ele, afivelando os cintos e preparando-se para as trs horas de viagem, emque decide assistir ao ltimo filme do espio 007, intercalado por instantesde cochilo.

    A aeronave aterrissa em Macei no meio da noite. Somos recebidospelo pastor titular da igreja em Alagoas, escoltado por um grupo de

    seguranas. Os trs carros no percorrem mais de 50 metros. Um confusoprotesto de taxistas interdita a rodovia de sada do aeroporto, obrigandoRomualdo a desligar o automvel. O congestionamento aumenta.

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    Motoristas e passageiros, parados na fila, conversam no acostamento. Emmenos de cinco minutos, o bispo Macedo se levanta e decide atravessar otumulto a p. As mulheres seguem juntas poucos metros atrs.

    - A, Edir Macedo! - gritam alguns manifestantes, em meio paralisao dos sindicalistas. - Aleluia!

    Os bispos so proibidos de entrar nos txis. Seguem um longotrecho da rodovia a p at serem levados por dois carros particulares, quefazem transporte informal.

    A estrada foi liberada apenas na manh do dia seguinte.

    A sada a p em meio manifestao dos taxistas de Macei revelaum dos pontos marcantes da personalidade do bispo Macedo: a

    obstinao. Edir no olha para nada quando quer alguma coisa. E agerpido. Sua histria de vida mostra isso.

    A Igreja Universal , sem dvida, a maior representante domovimento neopentecostal brasileiro. E boa parte disso se deve gestodo bispo Edir Macedo. O que foi construdo por ele nos trinta anos daigreja impressionante, um verdadeiro imprio. Independentemente doque se acredite, inegvel que ele sabe muito bem o que est fazendo.

    uma pessoa obstinada, de muita determinao - analisa Enio da CostaBrito, professor titular de religio na ps-graduao da PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo.

    a primeira vez que o bispo Macedo prega em Alagoas. No eventode inaugurao, reuniu mais de 10 mil fiis. Outros 4 mil se aglomeravamdo lado de fora, em frente a um telo na entrada do templo. O prdiotornou-se uma das construes mais arrojadas da capital alagoana, ao

    custo de 29 milhes de reais. Tem 4.800 poltronas estofadas, ar-condicionado, som estreo de cinema e quatrocentas vagas noestacionamento. O acabamento da arquitetura refinado. No dia anterior,Edir conheceu a obra e discutiu detalhes com os arquitetos.

    - Papai precisava ter visto esta igreja - afirma, ao contemplar ocolorido dos vitrais e o altar de mrmore.

    Henrique Francisco Bezerra, pai de Edir, era alagoano de Penedo,

    cidade do semi-rido de Alagoas. Com pouca escolaridade, ouvinteassduo da Hora do Brasil- histrico noticirio de rdio brasileiro -,Henrique fez a vida como autodidata. Aprendeu a tocar violo sozinho,

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    dedilhando o instrumento dentro de casa. Costumava perguntar semprequem ensinara o professor, quem havia primeiro descoberto oconhecimento, e metia-se a aprender o que no sabia.

    A dedicao ao trabalho, nas reas rurais do interior ou no subrbiodos centros urbanos, foi sua grande lio.

    Henrique teve criao catlica, mas chegou a ser maom. Tambmera severo, duro, um tanto emburrado. Torcedor do Amrica do Rio, tinhano futebol uma de suas paixes. Certo dia, um dos irmos de Edirprovocou o pai ao exibir a manchete de um jornal de esportes queestampava a derrota do Amrica por 3 a 0 para o Fluminense.

    Levou um tapa no rosto.

    TEMPLO EM MACEIDiante da obra, bispo se lembra do pai, alagoano

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    O alagoano Henrique tinha 32 anos quando chegou para trabalharna pequena Rio das Flores, interior do Rio de Janeiro e divisa com MinasGerais. Poucos dias no municpio que ainda se chamava SantaThereza, e o sertanejo logo se encantou por Eugnia, moa bonita, entocom 16 anos, metade da idade dele.

    Nascida no Stio do Abarracamento, Eugnia, de famlia catlica,nutria o sonho de ser me. Em pouco tempo, os dois se casaram. Por anos,dividiram uma casa apertada, prxima a uma cooperativa de leite, em queHenrique era diretor comercial. Logo veio a primeira gravidez de Eugnia.Uma de muitas.

    A mame todo ano tinha um filho

    brinca Eris Bezerra Crivella,uma das filhas.

    No chegou a tanto. Mas esteve perto. Nos 54 anos em que viveucom Henrique, Eugnia teve 33 gestaes. Sofreu dezesseis abortos eperdeu dez filhos prematuros. Sete sobreviveram.

    COOPERATIVA EM RIO DAS FLORESExploso de caldeira precipitou o nascimento de Edir Macedo

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    - Hoje, as pessoas me imploram para eu colocar a mo defeituosa nacabea delas. E eu digo: "Minhas mos no vo resolver nada. S Deuspode transformar algum complexado numa pessoa livre".

    Didi cresceu com seis irmos: Eris, Elcy, Eraldo, Celso, Edna eMadalena. Eris, Madalena e Elcy vivem no Rio de Janeiro. Edna e Celso,em So Paulo. Eraldo morreu em outubro de 2006. Ele, Celso e Ednachegaram a se eleger deputados com apoio dos freqentadores da IgrejaUniversal. Em razo de sua agenda apertada, Edir tem pouco contato comos irmos. Mesmo com Celso, o mais prximo nos tempos de infncia.

    - Ele corria mais, subia em rvores em que eu no conseguia. OCelso sempre me protegia por causa do meu defeito nas mos. Era o meuprotetor.

    GENTICADeficincia na mo esquerda herdada da av paterna

    Elcy ajudou a me criar, era muito apegada a mim. A Eris, o Eraldo, a

    Edna, a Madalena, todos foram muito importantes na minha vida. Os pais tiveram dificuldades para criar os sete filhos em Rio das

    Flores.

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    Logo aps o nascimento de Didi, Henrique saiu da cooperativa deleite e abriu um armazm na cidade. A antiga prtica do "fiado", comumem pequenos estabelecimentos do interior, fez que o negcio noprosperasse. Com a venda do armazm, foi necessrio buscar outro meiode sobrevivncia. Henrique foi trabalhar na contabilidade da Fazenda da

    Forquilha, administrada por um amigo dele e que plantava caf eproduzia cachaa. A famlia viveu na fazenda at o incio da dcada de1950.

    Depois desse perodo em Rio das Flores, Didi foi, aos 6 anos, morarcom os pais e os irmos em Petrpolis, na regio serrana fluminense, emuma casa cercada por hortnsias, em um local bastante arborizado. Asrefeies tinham horrio sagrado: o almoo s 10 da manh, e o jantar s 7

    da noite.- uma cidade que no sai do meu corao. Gostaria de viver o

    resto dos meus dias l - conta o bispo Macedo.

    Por causa do trabalho do pai, a famlia teve de se mudar diversasvezes. No Rio de Janeiro, passaram pelo Morro do Catumbi antes de SoCristvo, onde moraram por cerca de dez anos.

    Nesse perodo, Didi e os amigos aprontaram uma "brincadeira" quevirou lio de vida. A turma roubou picols de uma sorveteria local.Quando Didi chegou em casa, o pai descobriu o furto. E, ao contrrio doscorretivos costumeiros, seu Henrique fez algo mais dolorido par a o filho.Obrigou Didi a ir ao estabelecimento pagar o que devia pelo sorvete epedir desculpas ao proprietrio.

    Ele foi chorando, mas foi. Meu pai era a pessoa mais honesta quej conheci relembra Celso.

    Assim que concluiu o primrio, aos 11 anos, Didi parou de estudarpara ajudar o pai no novo negcio: um bar montado em So Cristvo.Henrique no tinha condies de pagar empregado, e Didi, por ser o maisdedicado, acabou escolhido para ajud-lo. Foi o primeiro emprego.

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    dona Eugnia com o primeiro liquidificador de sua vida. A casa ondemoravam era tpica de uma famlia simples. No tinha geladeira nemteleviso.

    - Para vermos tev, tnhamos de ir casa do vizinho. Mas, graas aDeus, nunca passamos fome conta Celso.

    Didi tinha 15 anos quando a famlia fez nova mudana: dessa vez deSo Cristvo para o municpio de Simo Pereira, no interior de MinasGerais. Passaram a viver do dinheiro de uma pequena quitanda. Moraramnesse lugar por cerca de um ano. Foi quando ele voltou aos estudos ecomeou o ginsio.

    ME E FILHODona Geninha foi a primeira a acreditar no pastor Macedo

    - A gente levantava de manh e pegava carona para ir estudar. S

    amos para o colgio se pegssemos carona lembra Celso.Didi cursou apenas o primeiro ano do ginsio. O pai novamente

    precisou mudar. Era a volta em definitivo para a cidade do Rio de Janeiro.

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    Nos altos e baixos dos Macedo Bezerra, o esteio da famlia semprefoi a me, Eugnia. Ela cuidava da educao dos filhos e da organizaodo lar. Na roa, Eugnia acordava de madrugada para cuidar da casa. Semnunca ter tido uma empregada sequer, cozinhava no fogo a lenha ecarregava gua do poo. Na cidade grande, mesmo sem o ensino primrio,

    ajudava o marido a tocar os negcios.Tempos depois, a me continuaria exercendo papel singular na vida

    do filho Edir, como ao se tornar fiadora do primeiro templo da IgrejaUniversal do Reino de Deus um voto de confiana que ser detalhadono captulo "Luz na funerria".

    Os pais de Edir j faleceram. Os dois eram freqentadores fiis daigreja do filho. Aposentado, Henrique Bezerra viveu seus ltimos dias em

    Juiz de Fora, Minas Gerais. Eugnia Macedo teve uma morte mais sofrida.Aps fortes dores no pulmo, provocadas por um problema neurolgico,deu entrada s pressas no mais caro hospital de So Paulo. Foi internadacom as mos e os ps amarrados e, mais tarde, submetida a respirao poraparelhos.

    - A ltima coisa que mame queria era ir para o hospital. Ela sempreme dizia: "Filho, nunca me deixe nas mos dos mdicos". E foi justamente

    o que aconteceu recorda o bispo, com a voz triste. Eu deveria tertrazido minha me para casa. Eu me arrependo de ter deixado ela nohospital. Eu me arrependo...

    No dia 17 de dezembro de 1997, Eugnia foi enterrada ao lado domarido, no cemitrio de Simo Pereira.

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    O INDIGNADO

    INTIMIDADEREVELADA

    Foi da criao no interior do Rio de Janeiro que Edir Macedo herdouo estilo de vida que preserva at hoje, depois de conhecer dezenas depases e culturas em todos os continentes. A residncia fixa do bispo nosEstados Unidos, mas ele atravessa o ano em contnuas viagens ao redor doplaneta.

    Alm de sua casa, os lugares em que mais tempo permanece emsuas visitas so Portugal, Inglaterra e, claro, Brasil. Seu lugar dehospedagem sempre o mesmo: a principal sede da Igreja Universal emcada pas. Nos ltimos meses, estivemos em todos esses lugares,retratando de perto sua rotina. a primeira vez que o bispo abre, semreservas, sua vida para jornalistas.

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    O cotidiano de Edir Macedo surpreende pela simplicidade. Nos diasde semana, acorda antes das seis para escrever mensagens religiosas.Depois do caf, consome a manh em reunies com pastores. Almoasempre com a mulher e os bispos responsveis pelo pas onde est depassagem. Depois do almoo, invariavelmente, descansa por 1 hora.

    - Se no durmo, meus olhos encolhem e fico zonzo.Durante a tarde, l a Bblia e grava seu programa de rdio, e noite,

    durante um ou mais dias da semana, exercita sua funo predileta:comandar cultos no altar. Em qualquer canto, um compromisso lei:reunies com os fiis nas noites de quarta e nas manhs de domingo nos Estados Unidos prega em espanhol, e em Londres, em ingls. Nasnoites em que no est no plpito, despacha sobre decises estratgicas da

    Universal: a compra de terrenos, a construo de novos templos, osinvestimentos em mdia, a transferncia de pastores, as obras sociais.

    CAF-DA-MANHRefeio simples, bem cedo, aps escrever a mensagem

    religiosa do dia

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    PALADAR INTERIORANO

    - Se o arroz e o feijo estiverem bons, no me incomodo com

    o resto

    Para cumprir sua agenda de compromissos no Brasil e no exterior, obispo Macedo utiliza um Falcon 2000 EX Easy um jato particular commenos de trs meses de uso.

    - No um luxo. uma ferramenta necessria para o trabalho.Resolvemos os problemas da igreja com mais agilidade afirma Edir.

    O condicionamento fsico para viajar impressiona. Para se ter idia,copiamos, aleatoriamente, um perodo ininterrupto de dois meses de suaagenda. Nesse tempo, Edir Macedo esteve quatro dias em Atlanta; setedias em Luanda, capital de Angola; sete dias em Johannesburgo, na fricado Sul; trs dias em Londres; dois dias na Alemanha; trs dias em NovaYork; trs dias na Califrnia; dez dias em So Paulo; cinco dias no Rio de

    Janeiro; dez dias em Miami; e sete dias na Cidade do Mxico.

    Em 61 dias, o bispo enfrentou 57 horas de vo e 28 fusos horriosdiferentes, excetuando-se os deslocamentos internos.

    - No bom para minha sade nem para a da Ester viajar tanto, mas um sacrifcio. O povo e os pastores precisam. Temos conscincia,fazemos isso pelo povo.

    Tanto tempo no ar fez de Edir Macedo um passageiro seguro.

    - Ele tem um senso de segurana muito bom. Apia as decisesdelicadas nos momentos de vo mais arriscados - conta o comandanteRoberto Gago, piloto do bispo.

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    Lazer mesmo somente aos sbados. Quando est no Brasil,raramente sai de casa. E nem faz muita questo.

    - Sou extremamente caseiro. Eu no gosto de muita gente, a no serna igreja. Mas em outro ambiente, logo que comea a juntar pessoas, euvou embora. Acho que sou anti-social.

    As folgas de sbado divide com a mulher e os demais bispos. Seupassatempo preferido jogar buraco.

    - Odeio perder, mesmo de brincadeira.

    Alm da Bblia, seu livro de cabeceira atualmente a verso emingls de romance do escritor-advogado John Grisham, famoso por suasfices inspiradas em histrias reais do sistema judicirio americano.

    No passa mais de trs ou quatro horas longe do computador. Nasvrias casas em que estivemos com Edir, flagramos a mesma situaorepetidas vezes: ele, a mulher e os demais pastores, cada um com umlaptop, espalhados pela sala. Assistem tev ao mesmo tempo, entre umachecada ou outra nos e-mails.

    Outro prazer do bispo Macedo so os filmes. Aprecia os de ao,documentrios e, principalmente, os clssicos, como o legendrio drama1900, de Bernardo Bertolucci, e Cinema Paradiso, assistido sucessivamente.O que mais encanta Edir no sucesso do cineasta italiano GiuseppeTornatore so as trilhas sonoras. O bispo fascinado por msicainstrumental, em especial pelas criaes do maestro Enio Morricone. Ascomposies melodiosas servem de fundo para suas oraes em cultos ouem seus programas de rdio.

    No ano passado, deu uma ordem indita a seus pastores: mandou

    que todos exibissem nos templos um clipe de uma das apresentaes deMorricone. E transmitiu a explicao a ser repassada:

    - A igreja deve funcionar assim: como uma orquestra. Cada msico,seja o que toca o instrumento mais ou menos relevante, seja o que apareces uma vez ao longo da cano, tem participao vital no conjunto da obra.O maestro Jesus. Repare que cada msico tem os olhos fixos em suapartitura. Ningum se preocupa se o outro est tocando direito ou no. a

    disciplina, a ordem. O problema do maestro, ele d o sinal para cada umtocar. O maestro quem rege a orquestra.

    Curiosamente, Edir Macedo pouco admira a msica gospel.

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    ANIMAL DE ESTIMAO

    Com o co labrador Budy durante passagem por So Paulo

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    FOTOGRAFIA, UMA PAIXO

    Imagens da natureza em vrios continentes

    - So cada vez mais raras as boas msicas neste meio. Gosto apenasdas canes tradicionais, tocadas nas igrejas. O gospel que fazem hoje,normalmente, comercial. Tem muito apelo emotivo, feito para vender.Isso no me agrada.

    Paixo mesmo a fotografia. Edir mostra com alegria as centenas defotos armazenadas em seu computador, com retratos e paisagens feitos aoredor do mundo. As preferidas so os jacarands de Pretria, na frica do

    Sul, o pr-do-sol na cidade de Cascais, no litoral de Portugal, e as rvoressecas retorcidas pelo inverno de Londres.

    - No gosto de fotografar gente. Gosto da natureza. O cu, as monta-nhas, as flores.

    Uma mquina fotogrfica profissional, apoiada num trip preto, estsempre a seu lado. Segue o bispo em todas as suas viagens. O hobby motivo para longas conversas com quem entende do assunto. Foi assimnos encontros com nosso reprter fotogrfico, o peruano Luiz MiguelZnica, destacado para produzir as imagens de Edir Macedo.

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    - Qual a melhor lente para fotografar pessoas? Qual a boa paracloses? Que tipo de equipamento deve ser utilizado em local com neve? -perguntava.

    Em uma de nossas entrevistas com o bispo, em So Paulo, o temadominou a conversa. Edir pediu para ver as duas cmeras de Znica.Divertiu-se fazendo foco nos autores e em alguns ngulos da cozinha. Emum dos escritrios, abriu uma mala e mostrou o conjunto de lentes queutiliza nas viagens pelo planeta.

    Na sala ntima da casa, falou sobre a vontade de tirar fotos emlugares diferentes. Revelou o desejo de ir Finlndia somente parafotografar a aurora boreal - fenmeno ptico que ocorre em regiesprximas a zonas polares. E, para surpresa de todos os presentes,

    convidou Znica.O bispo escolhe pessoalmente os ternos que usa nas pregaes. A

    maioria das camisas tem abotoaduras nas mangas, golas sem boto e asiniciais de seu nome costuradas na altura do bolso. Fora do altar, tambmanda alinhado. Veste roupas sociais esportivas, mas no dispensacamisetas e moletons. Carrega sempre um leno no bolso. um hbitoantigo. Ele mesmo quem faz seu armrio e define o que vai vestir.

    - Eu no gosto do gosto da Ester, e ela no gosta do meu gosto. Mas claro que sempre ouo a opinio dela.

    - O estilo dele clssico conta a esposa.

    Edir nos mostra seu closet de gravatas, a maioria por ele mesmoescolhida. So mais de trinta modelos italianos. Seda pura, encorpada,acabamento de primeira. Predominam tons azuis e vermelhos

    coincidentemente, as cores da Igreja Universal. Na cmoda, os perfumesfavoritos do casal so duas flagrncias italianas: para ele, Aqua di Parma;para ela, Salvatore Ferragamo.

    - O conforto primeiro, depois a esttica. assim que vivo.

    A norma vale para seus hbitos alimentares. Edir apreciaespecialmente bacalhau. Ao forno, gratinado, com ou sem batatas. O salna medida certa, sem conservantes. Para o bispo, "bacalhau bacalhau".

    Sempre acompanhado por uma taa de vinho tinto, de preferncia chilenoou sul-africano. Ao menos uma vez por semana, Edir degusta uma dasvariaes do tradicional prato portugus.

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    Quem organiza seu cardpio, esse item, sim, Ester. O tempero, osacompanhamentos, a bebida, a sobremesa. Tudo controlado pela mulher.Nada de comidas gordurosas, excesso de frituras ou doces em exagero.No final da tarde, geralmente um prato de mingau. Quase sempre, o bispotoma caf, almoa e janta na prpria igreja. Quando decide fazer refeio

    fora, situao rarssima pela exposio em pblico, os restaurantes soescolhidos a dedo.

    - Quando a gente viaja, ele s come massa. Nada de comidasofisticada - comenta Ester.

    - Se o arroz e o feijo estiverem bons, no me incomodo com o resto.Sei que existem pratos maravilhosos, mas no me atraem. Nasci na roa,sou roceiro.

    - O arroz no pode estar muito solto, moo diz a baiana IraildesAlves de Oliveira, a Dinha, cozinheira de Edir Macedo h seis anos e quemuitas vezes viaja com o bispo para preparar sua comida. Costela,rabada sem gordura, farofa. Ele gosta de comida simples.

    A qualidade da alimentao imprescindvel para a sade de Edir.Ele faz mensalmente o controle da taxa de diabetes, resultado dos seus 62anos de idade. Por isso, cumpre uma rigorosa tabela nutricional e caminhana esteira durante uma hora diariamente. Ele e a famlia soacompanhados por uma equipe de mdicos brasileiros. O cardiologistaWagner Fiori, um dos maiores especialistas do pas, cuida do corao dobispo.

    Ele tem sade de ferro. O que ajuda bastante sua disposiopara o trabalho, sua vontade de estar sempre em atividade. O ritmo deviagens em que vive, parando dois ou trs dias em cada lugar, com fusos

    horrios tremendos, exige sade afirma o mdico, que atende EdirMacedo h uma dcada. Fazemos exames de rotina anualmente,falamos por telefone sempre que h qualquer problema. Ele um pacientebastante disciplinado.

    O cardiologista faz um diagnstico: o controle emocional do bispoMacedo a matriz de sua vitalidade.

    Em nenhum momento de crise notei meu paciente abalado.Acompanhei as fases crticas dele e de sua igreja e nunca isso afetou suasade. Edir avesso a desperdcios, em especial de comida. Para quemviveu tempos de escassez no incio da Igreja Universal, em que, muitas

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    vezes, era preciso contar com a generosidade de um fiel para ter umalimento melhor, prato bom prato na medida certa. Em uma de suasincurses pelo Norte do Brasil, logo aps uma reunio, o bispo seespantou com uma mesa enorme, lotada de iguarias. Pronto. Pastoresmais prximos, que acompanham Edir nos itinerrios, j sabem de cor:

    momento de o anfitrio levar uma bronca sutil.- Nada de desperdcio, pastor. Para que tanta comida? Chame os

    outros pastores para comerem tudo isso diz, antes de algumasbeliscadas.

    Na hora do alimento, outro costume sempre convidar mesaquem est por perto. O fotgrafo, o cinegrafista, o tcnico de som, osegurana, o auxiliar da igreja. Em um dos almoos com Edir na frica,

    ele interrompeu a conversa, pediu licena e convidou a manicure de suamulher para almoar.

    - Senta, filha. Aqui somos todos iguais.

    CLOSET DE GRAVATASPara ele, roupa alinhada d credibilidade ao pastor

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    APRIMEIRAVEZ

    Se os hbitos alimentares de Edir Macedo preservam o menino daroa que ele foi, sua intimidade revela o adolescente de vida tambmsimples no centro e na Zona Norte do Rio de Janeiro nos anos 1960.

    Edir Macedo tinha 16 anos quando a famlia mudou-se em definitivopara o Rio, de novo para o Morro do Catumbi, na regio central da cidade.Foi l que Edir concluiu o ginsio. A famlia ainda passou pelos bairros daTijuca e da Glria.

    De volta capital fluminense, Edir conseguiu o segundo empregonum escritrio administrativo. Ganhava um salrio mnimo, dinheiro

    usado para ajudar nas despesas de casa e para pagar os estudos. Valeramos esforos: Edir logo concluiu o cientfico, o equivalente ao ensino mdiode hoje.

    Mais tarde, em 1963, Edir iniciou carreira no funcionalismo pblico:virou contnuo na Loteria do Estado do Rio de Janeiro, a Loterj, graas aum empurrozinho de Carlos Lacerda, ento governador do estado.

    - Meu pai no gostava de pedir nada a ningum, mas minha me

    insistiu. Fomos at a porta da casa do governador e esperamos at a horade ele sair. Quando nos viu, Lacerda chamou meu pai lembra o irmoCelso, que tambm conseguiu um trabalho no Departamento de trnsitodo Rio. - Ele foi muito gentil conosco, nos colocou no carro dele, emdireo ao Palcio das Laranjeiras. Fui na frente com o governador,apertado; atrs foram minha me, meu pai, o Edir e o ajudante-de-ordensdo Lacerda.

    Por amizade, Henrique, o pai de Edir, havia ajudado o governadorem diversas campanhas eleitorais. Pela primeira vez pedia um favor aopoltico. A famlia foi atendida.

    Entre as atribuies de Edir estava a de servir caf para a diretoria.Sua remunerao no chegava a um salrio mnimo, mas trabalhavaapenas meio expediente. Aos poucos ganhou a simpatia dos superiores,em razo de seu empenho. Quando completou uma dcada de Loterj,recebeu um diploma de bons servios prestados.

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    seguia para dar aula de matemtica e, finalmente, s 7 da noite, comeavana Escola de Estatstica -lembra Edir. Chegava em casa por volta demeia-noite. Era muito pesado.

    Sobrava pouco tempo para o lazer na juventude. Nas poucas horasvagas, Edir dedicava-se ao futebol e aos namoros. Quando morava em SoCristvo, freqentava o Maracan aos domingos para ver os jogos doBotafogo, seu time de corao.

    - Assisti a vrias partidas com Garrincha, Grson, Carlos Alberto,Nilton Santos, Didi. Eu ia com amigos do armazm em que eu trabalhava.

    LOTERJEdir completou dezesseis anos de carreira como funcionrio

    pblico

    Ainda hoje revive o gosto pelo futebol nas folgas com os pastoresnos stios da Universal. Torcer calorosamente, como nos tempos da

    juventude, faz parte do passado.

    - como chupar uma bala. E doce, bom, mas quando acaba j era -diz ele, criticando o fanatismo de alguns torcedores.

    O futebol no era o nico deleite do jovem Edir. As mulherestambm. Os bailes, os cinemas e os encontros nas praas. Aos 18 anos, elee o irmo j tinham carteira de habilitao para dirigir. Compraram um

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    jipe azul, ano 1962, pago em trinta meses. Era nele que saam para abadalao.

    Edir sempre foi muito namorador. A deficincia nas mos nunca foibarreira para exercitar o papel de galanteador. Apesar da timidez, tinhaconversa sedutora. Vaidoso com a aparncia, dono de farta cabeleira, lisa ecomprida, chegou maioridade com muitas namoradas. Mas teve suaprimeira relao sexual dois anos antes, aos 16, numa farra com os colegasde escola no bairro do Catumbi.

    - Foi antes do casamento, antes da minha converso. Foi num bordelem frente ao colgio em que eu estudava noite.

    J as drogas no fizeram parte da juventude de Edir Macedo.

    Somente cigarro, que fumou apenas trs vezes na vida.- Eu no sei o que droga. No sei o que maconha nem cocana.

    Nunca vi nenhum tipo de droga na minha frente.

    Enquanto se divertia na juventude, um medo atormentava EdirMacedo: ter o inferno como destino aps a morte. Aos 17 anos, ento,decidiu acompanhar a famlia em mais uma mudana. Era o despertar desua religiosidade.

    Elcy, a irm mais velha, foi a primeira a seguir o caminho da fevanglica. Passava madrugadas acordada, sem ar, sufocada, com crisesde bronquite asmtica. Nas noites de frio, a casa da famlia Macedo viravaum inferno. Eugnia, a me, carregou a filha para igrejas catlicas e atpara centros espritas.

    - Sem soluo. At que um dia me impressionei ao ouvir pelo rdioas palavras de um pastor canadense. Ele convidava os ouvintes para irem

    a uma igreja chamada Nova Vida - lembra Elcy, que dias depois decidiuconhecer o lugar.

    Foi a primeira de muitas idas. Segundo Elcy, os ataques de asmanunca mais aconteceram.

    A histria da irm intrigou Edir Macedo. E coincidiu com uma fasede buscas por respostas interiores.

    - Nesse tempo, fui buscar ajuda espiritual numa celebrao catlica. J tinha visitado centros de espiritismo com meu pai, como o SantoAntnio de Pdua. Levava passe e tudo, mas no me acrescentou nada.Era Semana Santa. Quando entrei na missa, vi a imagem do corpo de Jesus

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    estendido no cho e dezenas de pessoas orando (era a Adorao ao SenhorMorto, assim chamada na Igreja Catlica). A me perguntei: "Quemprecisa mais de ajuda aqui? Ele ou eu?". E fiquei me repetindo aquelapergunta, completamente indignado - relembra.

    Com o apoio da irm, Edir passou a se dedicar meditao da Bblia.E logo passou a freqentar a Nova Vida, na sede da Associao Brasileirade Imprensa, no centro da cidade do Rio, onde se reuniam quinhentaspessoas. Desde o incio, era orientado pelo pastor nos ensinamentosbblicos. No foi fcil: tinha muita dificuldade para entender assimbologias e perdia-se ante a enxurrada de dogmas.

    Aos poucos, o ambiente de f, as msicas, as preces, juntamente comas pregaes, motivaram Edir Macedo.

    - Teoricamente, eu estava firme. Mas, na prtica, o meu corao erao mesmo: no havia mudado nada. Apenas me tornei mais educado econsciente das coisas espirituais, mas nenhuma transformao prtica nomeu carter e na vida pessoal havia ocorrido.

    Aos 19 anos, impulsionado por uma decepo amorosa, Edir afirmater ocorrido o que ele chama de converso. Pedimos ao bispo para explicaro que isso significa.

    - Percebi em mim uma energia que (...) *

    Recebi um novo corao. Uma alegria indescritvel passou a fazerparte do meu ser. Fiquei livre dos complexos, da solido e da dependnciade terceiros. Percebi que havia em mim uma energia prpria que me faziacapaz de todas as coisas em nome do meu Senhor. Que maravilha... Foi amaior alegria de toda minha vida: meu encontro com Deus.

    A mudana de comportamento gerou situaes constrangedoras. Notrabalho na Loterj, ao contar que tinha se tornado evanglico, erarotineiramente alvo de piadas e provocaes. Os colegas do departamento,por exemplo, incitavam Edir ao lhe mostrar fotos de revistas masculinas.Certo dia, uma funcionria escancarou na mesa de Edir o pster de umamulher nua.

    Olhe, se voc for homem de verdade dizia, em meio

    gargalhada geral.

    * Trecho pequeno de final de pgina faltando na digitalizao.

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    Passada a situao, eu me trancava no banheiro para orar. Choreimuito no banheiro da Loterj - lembra o bispo.

    Alguns anos mais tarde, Edir Macedo deixaria de ser um simplesfreqentador fervoroso ao desenvolver sua capacidade para a pregao.Mas antes encontraria a quem ele chama de alma gmea.

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    O AMANTE

    AFEAMULHER

    De um lado da mesa, Ester e as filhas, Cristiane e Viviane. Do outro,os dois genros e o filho adotivo Moiss. Na ponta, o bispo. O sol de Miami,nos Estados Unidos, inunda a sala de almoo no apartamento dos MacedoBezerra. Acompanhamos um dia de raro encontro entre toda a famlia.

    Na sala de Miami e dos demais endereos pelo mundo, o mesmoobjeto de decorao: retratos e mais retratos do lbum de famlia. umatradio criada por Ester. Ela e Edir Macedo so um s. A afinidade dosdois evidente. Um olhar, um gesto, meia palavra, e marido e mulher j

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    entendem o recado. Nem sempre significa afinidade de opinies, massaber o que fazer, ou deixar de fazer, para agradar ao outro.

    O casal est sempre junto, desde o primeiro dia de 35 anos de unio,completados em 2007. Nas refeies, no avio, no descanso do sbado, nahora de se arrumar para a pregao. A esposa ajuda a fechar a gola dacamisa do marido, que, por sua vez, palpita sobre a combinao das coresdo vestido da esposa. Nos eventos de Edir com fiis ou pastores, l estela, Ester, sempre na primeira fileira.

    - Sabe qual meu outro segredo? Outro segredo do crescimento daIgreja Universal? pergunta o bispo Macedo, provocando mistrio. Af e a mulher.

    O bispo no brinca quando o assunto casamento. A unio no altar rigorosamente levada a srio dentro de sua instituio religiosa. Pastoressomente crescem na hierarquia do grupo quando so bem casados.Divrcio sinal de que algo est errado, mas no o fim. Quando amulher abandona o marido responsvel por alguma funo na igreja, logoaps a separao ele recebe apoio para casar-se novamente.

    Ensino que o casamento no pode ser feito na base da paixo.No podemos seguir o corao, ignorando o raciocnio. Casar no exigeapenas amor, mas, acima de tudo, f.

    Entre os solteiros, tambm h normas. Noivas de pastores passampor uma espcie de estgio ao conviver at doze meses com casaisreligiosos mais experientes. Os candidatos a npcias, pastores ou fiis daigreja, so incentivados a se unir com diferena etria de, no mximo,cinco anos. E so orientados a se casar somente depois dos 23 anos.

    Se a pessoa no acredita que o casamento vai dar certo, melhorno se casar. Mesmo que goste do outro. O mau casamento transforma avida de qualquer um em inferno.

    Para o bispo, sexo uma ddiva. E pilar do casamento.

    Sexo para ter prazer. A cama a base de uma aliana no altar.No so os filhos, o dinheiro nem o carinho. Se um no der o que o outroprecisa, j era. uma necessidade humana, como comer e beber. O

    marido deve ser o amante da esposa, e vice-versa.

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    VIDA EM COMUM

    Em casa, o sorriso ao ganhar um afago da esposa

    Provocar Edir Macedo question-lo sobre dogmas religiosos que serefiram abstinncia sexual.