O Bom e o Bonito Em Design

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    7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design

    O Bom e o Bonito em Design

    Goodness and Beauty in Design

    Iida, Itiro; Doutor, Universidade de Brasília, [email protected] 

    Mühlenberg, Poema; Graduanda, UnB, [email protected] 

    Resumo

     No senso popular, as duas qualidades essenciais do produto são o bom e o bonito. O lado bom significa ter qualidades técnicas e funcionais. Bonitosignifica ter qualidades sensoriais, sendo agradáveis ao olhar, tato, audiçãoe olfato. Os métodos e técnicas geralmente aplicados no Design tendem

    a priviligiar o lado bom, e isso nem sempre resulta também no bonito. ODesign pode apoiar-se em conhecimentos de outras áreas como engenhariade materiais e processos, informática, ergonomia e outras, para produzirobjetos eficientes, confortáveis, fortes e duráveis. Contudo, ainda nãoexistem métodos e técnicas adequadas para se chegar ao bonito. Recentes

     pesquisas na área de design and emotion colocam a emoção como umdos temas centrais do design. Desenvolvimentos nessa área procuramidentificar as características do produto que se associam a certos tipos deemoções, para produzir o bonito.

    Palavras-Chave: funcionalidade, estética, prazer, emoção.

     Abstract 

     In the popular sense, the two essential qualities of the product are

     goodness and beauty. The goodness relates to technical and functional

    qualities. The beauty relates to sensorial qualities, being pleasant to the

    look, touch, hearing and smell. The methods and techniques generally

    applied in Design tend to privilege goodness, that nor always produces

    beauty. Design can be supported by the knowledge of other areas, such

    as engineering of materials and process, computer science, ergonomics

    and others, to produce efficient, comfortable, strong and durable objects.

     However, still there are no methods and suitable techniques to achieve

    beauty. Recent research in design and emotion places emotion as one

    of the central subjects of design. Developments in this area look for

    identifying the product characteristics that are associated to certain types

    of emotions, for the beauty.

     Keywords: functionality, aesthetics, pleasure, emotion.

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    Introdução

    O ensino superior do Desenho Industrial surgiu no Brasil em 1963, naESDI, sob forte influência da orientação racionalista da escola alemã. Essatendência foi confirmada nos currículos mínimos dos cursos de graduação

    de 1969 e de 1987, devido à atuação dos docentes e ex-alunos daquelecurso. Assim, aquela configuração inicial da ESDI acabou moldando amaioria dos cursos de Design, que se estabeleceram posteriormente no

     país.Essa orientação é bem aceita, tanto pelos docentes como pelos

    alunos, devido à similaridade metodológica com as ciências naturais, comoa física, química, matemática e biologia. Os alunos são bastante instruídosnessas disciplinas, durante o ensino de segundo grau e o vestibular.Aprendem um raciocínio lógico e determinístico. Segundo estes, paracada problema só existiria uma única solução certa. Isso leva a soluções

     padronizadas e monótonas. Aí reside justamente o maior problema doDesign, que deve criar novas soluções, fugindo do lugar comum.Grande parte das metodologias e técnicas aplicadas no design

    é derivada de outras áreas, como as engenharias e arquitetura. Estas privilegiam as disciplinas técnicas e as metodologias sistemáticas, onde o projeto deve evoluir passo-a-passo, com um encadeamento lógico.  O pensamento racional rejeita as soluções advindas da intuiçãoe da emoção, considerando-as como elaborações de segunda ordem.Contudo, desenvolvimentos recentes em design colocam a emoção e o

     prazer como foco de uma nova metodologia, tirando-os da marginalidadea que estavam relegados.

      Isso é condizente com o mundo atual, onde as pessoas estão ávidas por inovações. Elas querem, cada vez mais, expressar suas individualidades.Para isso, podem valer-se dos produtos inovadores. Os designers sãoconvocados para criar essas inovações. Contudo, para terem sucesso, elesdevem incorporar novas posturas e novos métodos ao seu trabalho.

    As Duas Faces do Design

    Cabe aos designers projetar objetos funcionalmente adequados, comaplicação dos conhecimentos técnicos e da ergonomia. Entretanto, os

    mesmos também devem ter qualidades estéticas e simbólicas, para quesejam atraentes ao consumidor.

    Em linguagem popular, pode-se dizer que o bom deve ser aliadoao bonito. Cada um exige aplicação de um conjunto de conhecimentose metodologias distintas, que podem ser designados, repectivamente, de

     fatores racionais e  fatores emocionais (Figura 1).  Alguns profissionais, como os engenheiros e físicos, fazem usoextensivo dos fatores racionais. Outros, como os artistas plásticos e poetas,usam predominantemente aqueles emocionais.

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      Os designers fazem uso simultâneo desses dois fatores. Em cadatipo de produto, poderá haver predominância de um deles. Por exemplo,no projeto de ferramentas manuais ou placas de sinalização, haverá

     predomínio dos fatores racionais. Já para objetos de uso pessoal, comoroupas, calçados e jóias, poderá haver predomínio dos fatores emocionais.

    Isso acontece também em produtos que devem chamar a atenção, comono caso dos cartazes, embalagens e capas de livros. De qualquer forma,ambos estarão sempre presentes em um trabalho de design, em diferentes

     proporções.  Os designers que privilegiam os fatores racionais são chamadosde funcionalistas. Para eles, a forma do produto deve seguir a sua função.A beleza não seria uma qualidade própria, mas uma consequênciada funcionalidade. Assim, produtos de boa funcionalidade seriamintrinsecamente belos. Contudo, nas últimas décadas, essa postura vemsendo questionada, pois as características do bonito seriam independentes

    daquelas dobom. Pode-se fazer um produto bonito, sem ser necessariamente bom e vice-versa. O profissional em design deve equilíbrar adequadamenteesses dois conjuntos de fatores.

     Fatores Racionais Fatores Emocionais

    1 Bom Bonito

    2 Função prática Função estéticaFunção simbólica

    3 Funcionalidade  -Utilidade

    Beleza  - Forma  - Cores  - Decoração

    4Usabilidade  - ErgonomiaTécnicas  - Materiais  - Processos  - Acabamentos

    CulturaSociedadeModa  - Tendências

    5

    Análises técnicas

      - Análise da função  - Análise da tarefa  - Análise morfológica  - MAP  - QFD  - OutrasMétodos determinísticos

    Sínteses holísticas

    Percepção global  - Visão  - Audição  - Olfato  - Paladar   - TatoMétodos criativos

    6FísicaQuímicaBiologiaEngenharias

    ArtePsicologiaAntropologiaSociologia

      Figura 1. Os fatores do design.

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      Já existem muitos conhecimentos acumulados e metodologiasestabelecidas para se resolver os aspectos racionais do produto. Contudo,ainda pouco se conhece sobre as emoções exercidas pelos produtos e ascaracterísticas necessárias para que sejam classificados como bonitos.

    Transitoriedade do Design

    Determinadas circustâncias podem condicionar o predomínio dos fatoresracionais ou daqueles emocionais, em diferentes etapas da evolução daeconomia e da sociedade. Vejamos algumas delas.

    Tecnologia

    A evolução tecnológica leva ao desenvolvimento de novos materiais, processos e sistemas, aumentando o grau de liberdade na solução dos

     problemas. A introdução dos materiais plásticos e da indústria petroquímica, principalmente a partir de década de 1950, levou à criação de inúmerasformas e cores, antes impensáveis, na era da madeira e metais.

    De forma análoga, a substituição dos equipamentos eletro-mecânicos por outros, informatizados, trouxe muita liberdade e flexibilidadena criação de novos produtos. Por exemplo, os antigos walkman tinhamsempre a forma de caixinhas, para acomodar as fitas cassete. Hoje, osalgoritmos de MP3 aumentaram incrivelmente as possibilidades desoluções formais, inserindo-se até em telefones celulares. Essa evoluçãotecnológica, aumentando o grau de liberdade nas criações, favoreceu aintrodução dos fatores emocionais no projeto de produtos.

    Mercado

    O mercado pode ser classificado basicamente em demandante e ofertante.É demandante quando há, relativamente, maior número de consumidorese escassez de produtos. O mercado ofertante ocorre no caso inverso, ouseja, quando há excesso de produtos para um número insuficiente deconsumidores.  O design, no mercado demandante, tende a privilegiar aracionalidade. À medida que o mercado vai se saturando e a concorrência

    se acirra, os fabricantes tendem a valorizar mais os fatores emocionais.Por exemplo, na história do automóvel, no início do século XX,

    a pioneira Ford fabricava um único modelo, todos pintados em preto.A General Motors, que chegou depois, viu-se obrigado a usar outros“trunfos” para entrar no mercado, adotando os fatores emocionais, vistoque os carros da Ford eram funcionalmente adequados para a época.

    Para isso, contratou o artista Harley Earl, projetista do famosoCadillac La Salle, de 1934. Ele intoduziu o estilo no projeto do automóvel,movimento que ficou conhecido posteriormente por styling  e que atingiuo apogeu na década de 1950, quando os automóveis carregavam até meia

    tonelada de enfeites, sem nenhuma relação com a sua funcionalidade.Evolução semelhante, com crescente valorização dos fatores emocionais,

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     pode ser constatado na história de outros produtos, como nos aparelhos desom e telefones celulares.

    Moda

    Moda é um fenômeno social, que tende a tornar obsoletos determinadosestilos de produtos, mesmo que não sejam acompanhados de melhoriafuncional. Ela impõe mudanças de materiais, cores, formas e outrascaracterísticas ao novo produto, a fim de datar essas características a certasépocas. É importante que o novo seja percebido como diferente daqueleanterior. O designer de moda usa intensivamente os fatores emocionais naformulação de novas configurações para os produtos.  A moda torna-se mais importante em mercados ofertantes, quandoas empresas mais dinâmicas procuram diferenciar-se dos seus concorrentes.Aquelas empresas com pouca capacidade de adaptação não conseguirão

    seguir as novas tendências e poderão ser alijadas do mercado.Classes sociais

    Pessoas de diferentes classes sociais tendem a valorizar diferentes aspectosdo produto, que melhor satisfaçam às suas necessidades. Psicólogos comoMaslow e Alderfer (ver Iida, 2005) estabeleceram certas hierarquias dasnecessidades humanas. Basicamente, existiriam três níveis de necessidadeshumanas:

     Nível 1 – Necessidades básicas, no nível fisiológico, como a satisfação da fome,

    sede, conforto térmico, fuga das situações hostis e perigosas. Nível 2 –  Necessidades de relacionamento, satisfazendo ao espírito gregário,sentindo-se aceito e amado pela família, grupo de trabalho e a sociedade emgeral. Nível 3 – Necessidade de crescimento, relacionada à manifestação do ego e auto-realização, diferenciando-se e sobressaindo-se dos demais e conquistando podersobre os outros.

      Segundo os defensores dessa teoria, as necessidades do nível 2só seriam motivadoras quando as necessidades do nível 1 já estiveremsatisfeitas e o mesmo se aplica ao nível 3, em relação aos níveis 1 e 2.

    Aplicando-se ao Design, pode-se considerar que as necessidades de nível1 relacionam-se predominantemente com os fatores racionais. Os de nível3, aos emocionais. No nível 2, pode haver uma mistura de ambos. Assim,quando uma sociedade evolui, passando para os níveis superiores dahierarquia de necessidades, tende a valorizar, cada vez mais, os fatoresemocionais.  Além disso, há uma influência do nível de instrução. Pessoas de

     baixo nível de instrução costumam apresentar limiares de percepção maiselevados. Isso significa dizer que elas gostam de produtos mais volumosos,formas salientes, cores vibrantes e sons mais intensos. Ao contrário, aquelas

    com maior nível de instrução, são mais sensíveis e preferem produtosmenos extravagantes, mas com finos detalhes que lhes evoquem emoção

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    e prazer. Naturalmente, podem haver diferenças individuais significativasquanto a essas preferências.

    Em Busca do Prazer 

    Desde os tempos remotos, os seres humanos buscam o prazer. Sentimos prazer ao apreciar a natureza, tomar um banho de sol, cheirar um perfumeou comer algo delicioso. Sentimos prazer também com o sucesso

     profissional e ao superar os outros, demonstrando força, habilidade einfluência.  Os prazeres podem ser proporcionados também pelos objetosque nos cercam. Durante muitos séculos, os seres humanos têm criadoobjetos funcionais e decorativos, em busca de prazeres. Esses prazeresestão associados, basicamente, com os aspectos funcionais e emocionaisdo produto (Jordan, 2000).

      Aspectos Funcionais. São aqueles associados ao bom desempenhodo produto. Por exemplo, uma máquina de lavar eficiente está associadaao prazer da roupa limpa, cheirosa e sem danos. Uma roupa bemconfeccionada pode proporcionar conforto e auto-confiança.  Aspectos Emocionais. Estão relacionados às sensações provocadas

     pelo produto, como a excitação, interesse e alegria. Elas resultam dedeterminadas características como a beleza, odor ou maciez no contatofísico. Um barbeador elétrico, além de ser funcionalmente eficiente, pode

     proporcionar prazer visual pelas suas formas e cores, e um tato agradáveldurante o manuseio.  Os aspectos emocionais são percebidos primeiro. Podemos decidir

    se gostamos ou não de um produto, apenas com uma exploração visual,olfativa ou auditiva, durante 30 segundos. Aqueles funcionais já são maisdemorados, pois dependem do uso.  Portanto, caberia, ao designer, elaborar projetos que tenhamcaracterísticas capazes de proporcionar esses dois tipos de prazeres aosseus usuários. Aqueles de natureza emocional são mais imediatos, devendomerecer atenção prioritária dos projetistas. Se uma pessoa decidir que nãogosta de um produto, em seu primeiro contato emocional, dificilmente essaopinião será modificada posteriormente, durante o uso, pelos benefíciosfuncionais.

    A Personalidade dos Produtos

    Jordan (1997) desenvolveu uma técnica chamada de  Atribuição de Personalidade ao Produto  –  APP.  Ele propõe que os produtos sejamconsiderados como entes vivos, dotados de personalidade. Seriamatribuídos traços de personalidade aos produtos, associados às suasqualidades estéticas. Assim, as interações desses produtos com as pessoas

     poderiam ser estudadas com maior profundidade.Para selecionar os descritores de personalidade, ele baseou-se em

    3 pares de figuras opostas entre si, sendo:

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    - uma pessoa conhecida simpática e outra detestável;- uma figura pública simpática e outra detestável; e- um ator simpático de filmes ou TV e outro detestável.

    A seguir, organizou-se uma sessão de brainstorming  com4 pessoas, que deveriam descrever as personalidades dessas 6 figuras.Chegou-se a uma coleção de 209 descritores de personalidades.

    Os descritores considerados equivalentes entre si (por exemplo,autoritário, mandão, dominador, arrogante) foram agrupados. Os descritoresopostos entre si (p. ex., fraco, enérgico) foram utilizados para se construiruma escala. Assim, chegou-se a uma coleção de 17 descritores (Figura 2),usados na construção de um formulário para avaliação de produtos.  Esse formulário foi aplicado na avaliação de 7 tipos de produtos:ferros de engomar, barbeadores elétricos, estojos para barbeadores,depiladores, purificadores de ar, secadores de cabelo, e aparelhos de café.Foram selecionados dois modelos diferentes de cada tipo, totalizando 14

     produtos. A seguir, os mesmos foram avaliados por 4 designers, aplicando-se o formulário. As marcas dos produtos foram ocultadas durante asavaliações.

    1  2 3 4 5

    Desonesto Honesto

    Individualista Sociável

    Racional Emotivo

    Obscuro Brilhante

    Inseguro Seguro

    Modesto Narcisista

    Rígido Flexível

    Oportunista Solidário

    Introvertido Extrovertido

    Ingênuo Esperto

    Moderado Excessivo

    Conformado Rebelde

    Fraco Enérgico

    Meigo Agressivo

    Simples ComplexoPessimista Otimista

    Autoritário Liberal

     Figura 2. Formulário para avaliar a personalidade dos produtos (Jordan, 1997).

      As análises estatísticas dos resultados demonstraram que os produtos apresentam traços coerentes de personalidade. Por exemplo, trêsdesses produtos selecionados (um ferro de engomar, um depilador e umaparelho de café) eram da marca Braun, que é conhecida por ter uma linhade produtos de estilo característico. Foi encontrado um conjunto de traçosde personalidade comum a esses produtos, o que permite supor que exista

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    uma “personalidade de produto Braun”, caracterizado por ser: honesto,racional, brilhante, seguro, solidário, esperto, conformado, e autoritário.

     Nesse caso, não se constatou uma tendência definida em relação aosdemais traços avaliados.

    Esse instrumento poderia ser aplicado para gerar certas

    características físicas no produto, conforme a personalidade que se queratribuir ao mesmo. Por exemplo, certos desenhos de produtos poderiam ser percebidos pelos consumidores como meigos ou agressivos. Os produtos para bebês devem ser meigos. Já os equipamentos para esporte radicaldevem ter traços agressivos.

    Design Emocional

    O estudo das emoções tem interessado cada vez mais aos designers, devidoa sua grande importância na tomada de decisões. Em muitos casos, elas

    suplantam aqueles aspectos racionais, na escolha dos produtos.  Emoção é uma reação global do organismo a certas situaçõesexternas ou internas. É global porque mobiliza o ser inteiro, envolvendo ocorpo e a mente. As situações que provocam emoções podem ser externas,como o som de uma buzina, ou internas, quando se lembra de uma pessoaamada (Martins, 2004).  As emoções vão desenvolvendo-se gradativamente no ser humano,desde o seu nascimento, e classificam-se em: proto-emoções (0 a 4 mesesde idade); emoções básicas (5 a 12 meses) e emoções combinadas (maisde 12 meses). Estas podem ser negativas ou positivas (Figura 3). As duas

     primeiras são consideradas como emoções de primeira ordem, para defesa,

    apego e auto-regulação. As emoções combinadas são de segunda ordeme resultam de diversos tipos de associações entre as emoções básicas.Aparecem nos casos de auto-afirmação, simbolização, fantasia, jogo esocialização.  A mesma emoção pode ser expressa em diferentes intensidades.Por exemplo, são gradações do ódio: ressentimento, contrariedade,indignação, rancor, raiva, ira e fúria. Nem todas as emoções podem serexpressas corretamente por palavras. Além disso, há diferenças entre aslínguas – emoções traduzidas de uma língua para outra podem expressarsentidos diferentes.

    Valência Proto-emoções

    (0 a 4 meses)

     Emoções básicas

    (5 a 12 meses)

     Emoções combinadas

    (mais de 12 meses)

     NEGATIVASDesprazer SustoIncômodoInquietação

    ÓdioMedo

     NojoVergonhaTristeza

    TimidezCulpaCiúme

    POSITIVASPrazer ContentamentoDeleite

    AlegriaCuriosidadeInteresseSurpresa

    AfeiçãoAmor Orgulho

      Figura 3. Evolução das emoções humanas, a partir do nascimento (Martins, 2004).

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      Desmet (2002) realizou uma pesquisa para associar as emoçõesaos produtos. Para isso, desenvolveu um instrumento chamado de Product

     Emotion Mesurement – PrEmo.  No caso, foram considerados apenas asemoções provocadas pelo aspecto visual do produto. Assim, excluiram-se aquelas associadas ao uso ou manipulação do produto. Em princípio,

    encontrou-se 347 palavras (em holandês) expressando as emoções humanas.Ele selecionou apenas aquelas que estivessem relacionadas ao aspectovisual dos produtos e fez um agrupamento delas, chegando a um conjuntode 14 emoções (Figura 4). A seguir, construiram-se bonecos animados,com expressões faciais e sons para expressar cada uma dessas emoções.Para isso, buscou-se ajuda de atores profissionais e de caricaturistas.

     Emoções Negativas

    (Desprazer)

     Emoções Positivas

    (Prazer)

    Indignação

    DesprezoDesgostoSurpresa desagradávelInsatisfaçãoFrustraçãoMonotonia

    Desejo

    Surpresa agradávelInteresseDeleiteAdmiraçãoSatisfaçãoFascínio

      Figura 4. As emoções associadas aos produtos (Desmet, 2002).

      As 14 expressões faciais foram organizadas na tela de umcomputador e apresentadas simultaneamente com um determinado

     produto, a ser avaliado durante 10 segundos. Depois, as expressões foramapresentadas, uma a uma, em ordem aleatória. Nesse caso, o tempo nãofoi fixado. Para cada expressão apresentada, o sujeito deveria avaliar aemoção provocada pelo produto, usando-se uma escala, contendo trêsníveis:

     Nível 1: Eu não sinto a emoção expressa nesta figura Nivel 2: Eu sinto parcialmente a emoção expressa nesta figura Nível 3: Eu sinto toda a emoção expressa nesta figura

      Usando-se esse método, foram avaliados diferentes conjuntos de

     produtos, como: carros, cadeiras, telefones e chaleiras. Os testes foramrealizados em 4 países – Holanda, Estados Unidos, Finlândia e Japão,com cerca de 30 sujeitos em cada experimento. Os resultados estatísticosmostraram coerência total entre os experimentos da Holanda e dos EstadosUnidos. Duas expressões foram consideradas inválidas na Finlândia e 3no Japão. Os autores atribuem essa discrepância a problemas de traduçãoou a questões culturais, pois nem todos os povos expressam as mesmasexpressões de forma idêntica. Por exemplo, os japoneses expressam o

     Desejo de forma diferente dos holandeses.  Apesar das dificuldades encontradas, por se tratar de

    um método experimental, o autor considerou o instrumentoválido, podendo ser utilizado, por exemplo, na avaliação de

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    diversas alternativas para configuração de um produto.Com o uso de instrumentos como o PrEmo, as avaliações podem

    ser feitas ainda na etapa de projeto. Isso pode prevenir gastos vultosos naconstrução de protótipos ou um fracasso após lançamento. Assim, muitos

     prejuízos poderiam ser evitados.

    Conclusões

    As metodologias de design, vigentes na maioria dos casos, tendem a privilegiar os fatores funcionais, em detrimento daqueles emocionais.A atual situação mundial da economia e da sociedade aconselham umainversão dessa ordem.  A economia mundial caracteriza-se, atualmente, por uma acirradaconcorrência em nível mundial. Países como a China, Índia e aquelesdo Leste Europeu emergiram como grandes produtores de artigos de

    tecnologias tradicional e intermediária, tais como calçados, vestuários,móveis, eletrodomésticos e automóveis. Nesses setores, a tecnologia jáé amplamente dominada. Assim, a diferenciação entre os produtos devefazer-se principalmente pela aplicação do design emocional.  Antigamente, a moda era restrita aos objetos de uso pessoal. Hoje,estende-se aos bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, inclusiveaos bens de capital, como máquinas operatrizes e equipamentos de

     produção.  Por outro lado, a melhoria do poder aquisitivo da população,aliada ao avanço da informatização e dos meios de comunicação, temfeito com que os consumidores fiquem cada vez mais exigentes. Estes não

    se contentam apenas com a qualidade funcional dos produtos. Buscam,cada vez mais, a emoção e o prazer. Aos olhos do moderno consumidor,esses aspectos passam a ser dominantes, suplantando aqueles racionais,inclusive a funcionalidade e o preço.  Os caminhos apontados por algumas técnicas como o  APP   e o

     PrEmo  podem constituir-se em instrumentos valiosos para o designeraprimorar os aspectos emocionais dos projetos.

    Referências

    BAXTER, Mike. Projeto de Produto. 2ª ed. São Paulo: Blücher, 2000.DESMET, Peter. Designing Emotions. Delft: Universidade Tecnológica deDelft, 2002.

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    Contemporary Ergonomics. London: Taylor & Francis, 1997.JORDAN, Patrick W. Designing Pleasurable Products. London: Taylor &

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    Petrópolis: Vozes, 2004.

    McDONAGH, Deana, HEKKERT, Paul e GYI, Diane. Design and Emotion. London: Taylor & Francis, 2004.

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     NORMAN, Donald A. Emotional Design. New York: Basic Books, 2004OVERBEEKE, Kees e HEKKERT, Paul. Proceedings of the First

    International Conference on Design and Emotion. Delft: School of DesignEngineering, 1999.

    TIGER, Lionel. The Pursuit of Pleasure. New Brunswick, New Jersey:Transaction Publishers, 2000.

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