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15 Prefácio do autor Há um caminho pelo qual podemos nos libertar do pecado, da doença, da pobreza e das conseqüências das guerras e das crises econômicas. Este caminho consiste na mudança da nossa visão materialística da existência pela compreensão e consciência da espiritualidade da vida. Ao longo dos séculos, a visão materialística do universo e do homem gerou o medo acerca de nós mesmos e de nossas nações. Isto continuará e até mesmo se intensificará à medida que sejam descobertas forças materiais sempre mais destrutivas. A última descoberta anunciada foi um produto químico do qual bastaria apenas uma onça para destruir toda a população dos Estados Unidos e do Canadá, e mesmo este não seja talvez o máximo das forças materiais. Não há poder material que supere isto ou o da bomba atômica, não há esperança na matéria e na visão materialística. O caminho da segurança, da harmonia e da saúde está em obter um certo grau de consciência espiritual. O grande segredo está em que, apesar de crermos o contrário, o poder não está na matéria ou na visão materialista sobre o homem e o universo, tanto para o bem como para o mal. Aqueles que alcançaram um certo grau de consciência espiritual, comprovam a realidade do Espírito. A necessidade de abandonar a concepção materialística da vida para obtermos a consciência espiritual da vida e de seus desdobramentos, é o segredo de todos os videntes, profetas e santos de todos os tempos. Que tudo isto é praticável, é demonstrado pelos trabalhos de cura e regeneração feitos por muitos estudiosos de modernas escolas de Cristianismo científico ou prático. Quando o mundo perceber que todo sucesso obtido em melhorar as condições de saúde e de segurança por estes seguidores modernos dos antigos ensinamentos foi possível apenas através da renúncia à visão materialista em favor da obtenção da consciência espiritual, poderemos ter novas esperanças. A questão é: Que pode o homem fazer para obter esta consciência espiritual e com isso abandonar o sentido materialista? A resposta é: "Leia e estude as verdades reveladas ao longo dos tempos sobre a Consciência universal, Alma ou Espírito e sobre a criação espiritual e suas leis. Absorva o sentido destas revelações". Neste pequeno livro descrevi a verdade espiritual como a visualizei durante mais de trinta anos de estudos das maiores religiões e filosofias de todos os tempos, dos quais os últimos quinze empregados em aplicar praticamente as verdades aos problemas da existência humana — problemas de saúde, de negócios, de vida familiar e segurança. Tenha a certeza de que, à medida que você se voltar para a consciência espiritual, encontrará a paz, e o seu dia-a-dia se tornará mais calmo. O mundo externo se amoldará à compreensão interior da Verdade. A testemunha de todas estas revelações será você mesmo, na medida em que vivenciar as transformações interiores e exteriores. Não é preciso sair para ver melhor, nem assomar à janela. Habite apenas no centro do seu ser; quanto mais dele se afastar, menos saberá. LAO-TSÉ

O Caminho Infinito

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O Caminho Infinito

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    Prefcio do autor

    H um caminho pelo qual podemos nos libertar do pecado, da doena, da pobreza e das conseqncias das guerras e das crises econmicas. Este caminho consiste na mudana da nossa viso materialstica da existncia pela compreenso e conscincia da espiritualidade da vida.

    Ao longo dos sculos, a viso materialstica do universo e do homem gerou o medo acerca de ns mesmos e de nossas naes. Isto continuar e at mesmo se intensificar medida que sejam descobertas foras materiais sempre mais destrutivas.

    A ltima descoberta anunciada foi um produto qumico do qual bastaria apenas uma ona para destruir toda a populao dos Estados Unidos e do Canad, e mesmo este no seja talvez o mximo das foras materiais.

    No h poder material que supere isto ou o da bomba atmica, no h esperana na matria e na viso materialstica. O caminho da segurana, da harmonia e da sade est em obter um certo grau de conscincia espiritual.

    O grande segredo est em que, apesar de crermos o contrrio, o poder no est na matria ou na viso materialista sobre o homem e o universo, tanto para o bem como para o mal.

    Aqueles que alcanaram um certo grau de conscincia espiritual, comprovam a realidade do Esprito.

    A necessidade de abandonar a concepo materialstica da vida para obtermos a conscincia espiritual da vida e de seus desdobramentos, o segredo de todos os videntes, profetas e santos de todos os tempos. Que tudo isto praticvel, demonstrado pelos trabalhos de cura e regenerao feitos por muitos estudiosos de modernas escolas de Cristianismo cientfico ou prtico. Quando o mundo perceber que todo sucesso obtido em melhorar as condies de sade e de segurana por estes seguidores modernos dos antigos ensinamentos foi possvel apenas atravs da renncia viso materialista em favor da obteno da conscincia espiritual, poderemos ter novas esperanas.

    A questo : Que pode o homem fazer para obter esta conscincia espiritual e com isso abandonar o sentido materialista? A resposta : "Leia e estude as verdades reveladas ao longo dos tempos sobre a Conscincia universal, Alma ou Esprito e sobre a criao espiritual e suas leis. Absorva o sentido destas revelaes".

    Neste pequeno livro descrevi a verdade espiritual como a visualizei durante mais de trinta anos de estudos das maiores religies e filosofias de todos os tempos, dos quais os ltimos quinze empregados em aplicar praticamente as verdades aos problemas da existncia humana problemas de sade, de negcios, de vida familiar e segurana.

    Tenha a certeza de que, medida que voc se voltar para a conscincia espiritual, encontrar a paz, e o seu dia-a-dia se tornar mais calmo. O mundo externo se amoldar compreenso interior da Verdade.

    A testemunha de todas estas revelaes ser voc mesmo, na medida em que vivenciar as transformaes interiores e exteriores.

    No preciso sair para ver melhor, nem assomar janela. Habite apenas no centro do seu ser; quanto mais dele se afastar, menos saber.

    LAO-TS

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    A verdade est dentro de ns. H um centro profundo em todos ns, onde mora a Verdade em sua plenitude; e, para saber, antes rasgar um caminho por onde possa sair o esplendor cativo que mergulhar na luz que imaginamos externa.

    ROBERT BROWNING

    Um Deus fez sua morada em nosso peito: quando Ele nos desperta, a chama da inspirao nos aquece; este supremo xtase brota das sementes que a mente divina semeou no homem.

    OVDIO

    Muitos no assumem o problema para si mesmos, no para o recndito de sua prpria mente, mas para o primeiro grupo de pessoas que encontram.

    VALDIVAR

    O reino de Deus est dentro de vs.

    JESUS

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    C A P T U L O I

    Assumindo a imortalidade

    No princpio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne..." "O Verbo se fez carne" mas ainda o Verbo. No mudou sua natureza, sua qualidade ou substncia por ter-se feito carne. A Causa tornou-se visvel como efeito, mas a essncia ou substncia continua sendo o Verbo, o Esprito ou Conscincia.

    Por este prisma, podemos compreender que no h um universo espiritual e um universo material, mas que o que se nos apresenta como o nosso mundo o Verbo feito carne, o Esprito tornado visvel, ou a Conscincia que se expressa como idia.

    Todo o erro que se consumou durante os sculos baseia-se na teoria ou crena em dois mundos, um sendo o reino celeste ou vida espiritual e o outro um mundo material ou existncia mortal, separados um do outro.

    Apesar desta crena em dois mundos, o homem sempre tentou levar a harmonia s mazelas da existncia humana, tentando, por meio da orao, fazer contato com tal outro mundo, ou reino espiritual, para que o Esprito, ou Deus, atue na chamada existncia material.

    Comecemos por entender que o nosso mundo no um mundo errneo, mas trata-se do reino da realidade do qual mantemos um falso conceito. Para obtermos sade e harmonia em nossa vida, no temos de nos desfazer nem mesmo mudar este universo material e efmero, mas bastar corrigirmos a viso limitada que temos da nossa existncia.

    O pesquisador da verdade comea sua busca com um problema talvez com vrios deles. Os primeiros anos de sua busca so empregados na superao da desarmonia e na cura das doenas pela orao a um Poder mais alto ou pela aplicao das leis espirituais ou da verdade s condies humanas. Chega, porm, o dia em que percebe que a aplicao da verdade aos problemas humanos j no funciona mais, ou, pelo menos, no como funcionava no incio, e que j no traz a mesma inspirao e satisfao aos seus estudos.

    Por fim receber, eventualmente, a grande revelao: os mortais podem assumir a imortalidade apenas na medida em que anulem a mortalidade eles no podem acrescentar harmonia de espiritualidade imortal s condies humanas. Deus no criou nem rege as coisas humanas. "O homem natural no compreende as coisas do Esprito de Deus, pois que lhe parecem loucura: nem pode entend-las, porque s se podem discernir espiritualmente."

    Estaremos ns buscando as "coisas do Esprito de Deus" com algum propsito humano? Ou de fato estamos nos esforando para nos livrar do que mortal, para podermos contemplar a harmonia do reino espiritual?

    Enquanto lutamos e combatemos os pretensos poderes deste mundo, combatendo a doena, o pecado e a carncia, o sentido espiritual, por sua vez, revela-nos que "O meu reino no deste mundo". Somente quando soubermos transcender o desejo de melhorar nossa vida humana que compreenderemos o sentido desta mensagem vital; quando deixamos os limites do aperfeioamento humano, temos o primeiro vislumbre do significado das palavras: "eu venci o mundo".

    No teremos vencido o mundo enquanto mais buscarmos seus prazeres e menos desejarmos suas dores. E se no superarmos a postura de luta contra as coisas do mundo, no entraremos no reino das coisas do cu.

    "Porque todo o que nascido de Deus, vence o mundo." A conscincia espiritual vence o

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    mundo tanto os prazeres como as dores do mundo. No podemos conseguir a evangelizao da humanidade pelo poder mental ou pela fora fsica, mas apenas pela viso espiritual da vida, que pode ser cultivada por todos que devotam seus pensamentos s coisas do Esprito.

    "Porque tudo o que est no mundo, os prazeres da carne, os prazeres dos olhos, o orgulho, no vem do Pai, vem do mundo." Observemos, por um pouco de tempo, nossos pensamentos, nossas ambies e interesses e vejamos se a nossa mente est voltada para a nossa sade, para os prazeres dos sentidos ou para os ganhos mundanos. Se constatarmos tais pensamentos mundanos, aprendamos a afast-los, pois j no estamos no caminho do aperfeioamento das coisas humanas, mas a caminho do reino espiritual.

    "No tenhas amor ao mundo nem ao que do mundo. Pois no homem que ama o mundo no est o amor do Pai." Significaria isto que devemos nos tornar ascetas? Deveramos desejar uma vida diferente do que normal, alegre e de sucesso? No nos enganemos. Somente aqueles que aprenderam a manter sua ateno nas coisas do esprito saborearam a completa alegria do lar, do companheirismo e dos empreendimentos de sucesso. Somente aqueles que em certo grau se centraram em Deus encontraram segurana, proteo e paz em um mundo combalido pela guerra. O pensamento espiritual no nos afasta do nosso meio normal, no nos priva do amor e do companheirismo to necessrios para uma vida plena. Ele apenas coloca tudo isto em um nvel mais alto, onde no mais dependemos da sorte, das mudanas ou do azar, onde se manifesta o valor do que chamamos de cenrio da vida.

    "No vos esforceis pelo alimento que perece, mas pelo alimento que dura pela vida eterna... Pois que o Reino de Deus no consiste em comer e beber, mas na justia, na paz e no contentamento no Esprito Santo."

    Quando nos defrontarmos com um problema humano, em vez de nos esforarmos para melhorar as humanas condies, afastemos essa imagem e concentremo-nos na presena do Esprito divino em ns. Esse Esprito dissolve as aparncias humanas e revela a harmonia espiritual, ainda que essa harmonia se nos apresente como uma melhora de sade ou de riqueza. Quando Jesus alimentou as multides, o que apareceu como po e peixe foi a sua conscincia espiritual de abundncia. Quando curou os doentes, foi o seu sentimento da Presena Divina que se manifestou como sade, fora e harmonia.

    Tudo isso pode ser resumido nas palavras de Paulo: "Voltai vosso olhar para as coisas do alto, no para as coisas da terra".

    Vivemos em um universo espiritual, mas a finitude de nossos sentidos desenhou para ns uma imagem de limitaes. Enquanto tivermos nossos pensamentos voltados para o cenrio nossa frente "este mundo" , estaremos nos esforando para melhor-lo ou mud-lo. Mas, assim que elevarmos nosso olhar e no mais nos preocuparmos com o que comer, beber ou vestir, comearemos a perceber a realidade espiritual; e embora nos parea apenas uma crena mais perfeita, de fato a manifestao mais intensa da realidade. Esta manifestao traz consigo uma alegria inimaginvel, aqui e agora, uma satisfao com a qual nem sonhamos e o amor de todos com quem fazemos contato, mesmo daqueles que desconhecem a fonte da nova vida que descobrimos.

    "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. No como o mundo a d." "No recebemos o esprito do mundo, mas o Esprito que vem de Deus... Coisas que tambm falamos, no com as palavras ditadas pela sabedoria dos homens, mas como as ensina o Esprito Santo... O homem natural no compreende as coisas do Esprito, que lhe parecem loucura; nem pode compreend-las porque elas se discernem espiritualmente."

    Quantas vezes nos enganamos neste ponto! Com quanta freqncia tentamos compreender a verdade espiritual com nosso intelecto humano! E isso leva indigesto mental, pois que tentamos digerir alimento espiritual com nossa mente erudita. Isso no funciona. A verdade no um processo de raciocnio, e por isso s pode ser entendida espiritualmente. A verdade no est

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    normalmente na esfera do nosso entendimento, e, quando parece estar, deve ser investigada mais profundamente para verificar sua autenticidade. Temos de desconfiar de uma verdade que nos parea fcil de compreender.

    Jesus caminhou sobre as guas, alimentou multides com poucos pes e peixes, curou os doentes e ressuscitou os mortos parece aceitvel para o seu intelecto? Se o princpio subjacente a essas experincias pudesse ser entendido com a inteligncia, todas as igrejas o ensinariam como um meio vivel e recomendariam seu uso. Este princpio, porm, s apanhado pelo sentido espiritual, e esta conscincia espiritual elevada pode fazer as coisas que o Cristo fez. Aquilo que foi possvel Cristo-conscincia no tempo de Jesus, possvel mesma Conscincia agora.

    Cultivando este sentido espiritual, nosso sucesso ser tanto maior na proporo que abandonarmos o esforo mental e nos tornarmos receptivos s coisas que o Esprito de Deus nos ensina. Em vez de tentarmos fazer que o Esprito atue sobre nossos corpos e nossas coisas materiais, aprendamos a desviar nosso olhar desses quadros terrenos, dirigindo-o para as coisas do alto. Quando "descermos novamente terra", perceberemos que as desarmonias e as limitaes dos sentidos desapareceram, e apareceu mais claramente a Realidade.

    O Reino de Deus no consiste em mais e melhor matria, nem encerra um mais rico vocabulrio sobre a verdade. Todavia, os frutos da compreenso espiritual so uma maior harmonia, paz, prosperidade, contentamento e amizades e relacionamentos mais prximos do ideal.

    Assim compreendemos que "agradecemos por isso continuamente a Deus pois vs, que recebestes a palavra de Deus ouvida de ns, no a recebestes como palavra humana, mas como ela de fato, a palavra de Deus que atua sobre vs para que nela creiais".

    Para recebermos a Palavra de Deus, ou sentido espiritual, precisamos mais sentir que raciocinar.

    E a isso que a Bblia se refere com a expresso receber a palavra "no corao". Notemos que o desenvolvimento da conscincia espiritual redunda em maior capacidade de intuir a harmonia do Ser. Compreendemos que nem a viso, nem o ouvido, o tato, o olfato ou o paladar podem nos revelar a verdade espiritual ou sua harmonia; por isso tal revelao s pode nos acontecer atravs de outra faculdade, a intuio, que atua pelo sentimento.

    At o momento, ao orar ou meditar, vinha-nos de imediato uma enxurrada de palavras e pensamentos. Talvez estivssemos comeando a reafirmar a verdade e a rejeitar o erro. , porm, evidente que isso ocorria completamente no domnio da mente humana.

    Ao cultivarmos o sentido espiritual tornamo-nos receptivos aos pensamentos que emanam das profundezas do nosso ser. Mais do que falar a Palavra, tornamo-nos seus ouvintes. Nesse estado, a sintonia com o Esprito tal que sentimos a harmonia do Ser; sentimos a presena real de Deus. Transcendidos os cinco sentidos materiais, nossa faculdade intuitiva fica desperta, receptiva e sensvel s coisas do Esprito; e aps este renascimento espiritual, comeamos uma nova existncia.

    Estvamos, at aqui, ocupados com a palavra da Verdade; e daqui em diante nos ocuparemos apenas com o Esprito da Verdade. J no nos interessa saber o que seja a Verdade, mas sim em sentir a Verdade. E isso conseguimos na medida em que dedicarmos menos empenho na letra do que receptividade e ao sentir. A palavra "sentir", alis, se refere tambm revelao, conscincia e ao sentido da verdade. Agora j no estamos falando da verdade, e sim recebendo a verdade, e aquilo que recebemos no silncio, podemos falar abertamente e com autoridade.

    A cura espiritual o resultado natural de uma conscincia divinamente iluminada. Mas esta iluminao s nos dada na medida em que estejamos receptivos e sensveis a ela.

    um mal entendido associarmos a idia de imortalidade pessoa humana ou ao sentido individualista de eu. A morte no produz a imortalidade nem pe fim ao sentido do eu, e tampouco a continuao do humano viver leva obteno da imortalidade.

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    Obtemos a imortalidade na medida em que superamos o sentido pessoal do eu, nesta vida ou depois dela. E, ao nos despojarmos do nosso ego e alcanarmos a conscincia do nosso Eu verdadeiro nossa Realidade, ou Conscincia divina , chegamos imortalidade. E isso pode acontecer aqui e agora.

    Ao contrrio, o desejo de perpetuarmos nosso falso conceito de corpo e seu bem-estar nos amarra morte, nos enleia na mortalidade.

    O primeiro passo para obtermos a imortalidade viver a partir do centro do nosso ser, como uma idia de desdobramento do nosso ntimo, mais que a idia de acrscimo vindo de fora.

    mais no sentido de dar do que de receber, de ser mais que obter. Nessa conscincia no h julgamento ou crtica, dio ou medo, e sim um sentimento contnuo de amor e de perdo.

    No coisa fcil descrever a alegria e a paz da imortalidade, pois para aqueles que no querem abandonar seus atuais conceitos de ser, ela pode transparecer um processo de extino. Mas no bem isso: ela a eterna preservao de tudo o que real, belo, nobre, harmonioso, gracioso, altrusta e pacfico. a realidade, trazida luz, em substituio iluso dos sentidos. o despertar da conscincia da infinitude do ser individual, em substituio ao sentido finito de existncia. O egosmo e o amor-prprio se vo de ns quando temos a percepo da divindade do nosso ser.

    Esta percepo nos ensina a ser pacientes e indulgentes com aqueles que ainda lutam com a conscincia material, mortal. E isto estar no mundo, no ser do mundo.

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    C A P T U L O I I

    Iluminao espiritual

    A iluminao espiritual nos capacita discernir a verdade espiritual quando se nos apresenta um conceito meramente humano. A conscincia espiritual reconhece a verdade naquilo que aparece como um conceito.

    O desenvolvimento da conscincia espiritual comea quando, pela primeira vez, percebemos que aquilo que apreendemos atravs dos sentidos da viso, da audio, do olfato, do tato e do paladar no a realidade das coisas. Retirando por completo a ateno das aparncias, o primeiro raio da iluminao espiritual nos traz um fulgor do divino, do eterno e do imortal. Isso, por sua vez, torna as aparncias menos reais para ns, tornando-nos assim mais receptivos iluminao.

    Nosso progresso rumo ao Esprito ocorre na medida da nossa iluminao, o que nos capacita apreender cada vez mais a Verdade. O enfoque usual da vida se deve a uma interpretao errnea, devida falsa percepo das coisas; por isso devemos abandonar qualquer inteno de curar, corrigir ou mudar o cenrio material para que possamos ver a Verdade nele oculta.

    A iluminao espiritual comea a nos ser concedida quando da primeira busca da Verdade de nossa parte. Acreditamos estar procurando o bem e a Verdade; contudo, foi a luz que comeou a brilhar em nossa conscincia e nos impeliu a dar aqueles primeiros passos.

    Todo aumento de nossa compreenso espiritual representa mais luz para ns, que expulsa as trevas dos sentidos. Este fluxo de iluminao continuar at que tenhamos compreendido por inteiro que a nossa verdadeira identidade a "luz do mundo". Sem a iluminao, lutamos contra as foras do mundo, trabalhamos para viver, nos esforamos para manter nossa posio e competimos por riquezas e honrarias. Muitas vezes lutamos contra nossos amigos, para acabarmos percebendo que lutamos contra ns mesmos. No h segurana nas posses materiais, mesmo que tenhamos vencido a luta pela sua obteno.

    A iluminao nos traz primeiro a paz, e depois a confiana e a segurana; isto nos d repouso das contendas do mundo, e ento todo o bem flui para ns pela Graa. Podemos agora perceber que no vivemos pelo que ganhamos ou conquistamos; vivemos, sim, pela Graa.

    Tudo que temos ddiva de Deus; ns no ganhamos o nosso bem, pois que j o possumos. "Filho, tu ests sempre comigo, e tudo que tenho teu." Os prazeres e os sucessos do mundo nada so se comparados com as alegrias e os tesouros

    que se desdobram diante de ns pela conscincia espiritual. luz da Verdade, os maiores triunfos e felicidades mundanas so como nada, diante dos tesouros da Alma e sua imensa glria, insondvel e desconhecida pelos sentidos.

    Possuindo a Luz divina dentro de si, ganha o homem sua liberdade do mundo, e a segurana contra todos os perigos terrestres e humanos. Nosso momento histrico tem amedrontado e assustado a muitos. Os espiritualmente iluminados reconhecero que nenhum bem aparece ou desaparece, que a atividade espiritual tem por natureza a realizao, e que, como a sua iluminao lhes revelou a verdade dos fatos, eles esto ancorados Alma, conscincia divina, paz espiritual, segurana e serenidade.

    No mais temeremos as mudanas das condies exteriores, que no passam do reflexo da totalidade interior. Com a certeza de que somos conscincia espiritual individual, embora infinita, e que incorpora todo o bem, no mais precisamos levar em considerao aquilo que os sentidos nos mostram.

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    A iluminao espiritual revela a harmonia do Ser e dispersa as aparncias captadas pelos sentidos materiais. Ela nada muda no universo, pois que o universo espiritual, habitado pelos filhos de Deus, mas muda nossa viso do universo.

    Este apenas o comeo deste vasto tema, e enquanto discutimos a seu respeito, mantenhamos nosso pensamento o mais longe possvel do mundo dos sentidos e ancorado conscientizao da realidade espiritual.

    Sempre houve homens que trouxeram a divina mensagem da presena de Deus e da irrealidade do mal: Buda, na ndia, Lao-Ts, na China, Jesus de Nazar. Estes, e muitos outros, trouxeram a Luz da Verdade aos homens, e os homens sempre tomaram os mensageiros como se fossem a Luz, sem perceber que aqueles que pensavam ser algum "exterior" eram a Luz da Verdade dentro de sua prpria conscincia.

    Na adorao de Jesus, os homens perderam o Cristo. Na sua devoo a Jesus, no perceberam o Cristo; procurando o bem atravs de Jesus, no encontraram o Cristo onipresente em sua prpria conscincia.

    Em todos os casos, o mensageiro que apareceu aos homens foi a vinda do Cristo conscincia individual, e quando isto for compreendido o homem ter alcanado a libertao do conceito de "pessoa" e de limitao pessoal.

    Jesus disse "... se eu no for, o Consolador no vir at vs". Isso no ficou bastante claro, para que todos compreendessem? Se no pudermos ver alm do sentido pessoal de salvao, de mediao e guia, nunca encontraremos a grande Luz dentro de nossa prpria conscincia.

    A iluminao espiritual no vem de uma pessoa, mas do Cristo impessoal, da Verdade universal, da conscincia iluminada do nosso Eu.

    A iluminao espiritual dispersa a viso do "eu pessoal" com seus problemas, doenas, idades e erros. Revela o Eu verdadeiro, o Eu que Eu Sou, ilimitado, irrestrito, sem problemas, harmonioso e livre. Este Eu em ns nos ser revelado quando nos recolhermos dentro de ns mesmos diariamente e aprendermos a "ouvir" e a observar. Assim, em vez de ficarmos ansiosos sobre o trabalho do dia, ou sobre os eventos futuros, deixemos que a Alma, ou Esprito divino, v nossa frente aplanando e preparando o caminho, e deixemos que esta influncia divina permanea nossa retaguarda, salvaguardando cada passo das iluses dos sentidos.

    A conscincia iluminada sempre sabe que existe uma Presena infinita, todo-poderosa, que faz prosperar todos os atos e que abenoa todos os pensamentos. Sabe que todos aqueles que cruzam o nosso caminho sentem a bno do nosso pensamento.

    Quando a conscincia est inflamada com a Verdade e o Amor, destri todo sentido de medo, toda dvida, todo dio, inveja, doena e discrdia e esta pura conscincia percebida por todos a quem encontramos, e lhes alivia os fardos. impossvel ser a "luz do mundo" e no desfazer as trevas dos que nos rodeiam.

    Reconheamos que todo o bem que vivenciamos emana de nossa prpria conscincia, mesmo que nos parea vir de ou atravs de outro indivduo. Reconheamos que toda aparncia de mal uma percepo falseada da harmonia, e por isso no para ser temida ou odiada; e, como resultado, a iluso desaparecer e a realidade se tornar clara. Apenas a conscincia iluminada pode olhar para as aparncias de mal e perceber a realidade divina. Somente o Cristo em nossa conscincia pode separar o erro da sua aparente realidade e retirar-lhe os espinhos.

    A iluminao espiritual nos revela que no somos mortais nem mesmo seres humanos , mas que somos puro ser espiritual, conscincia divina, vida que se auto-sustenta, mente oniabrangente. E esta luz desfaz as iluses do sentido pessoal.

    A iluminao desfaz todas as amarras materiais e une os homens uns aos outros com as douradas correntes da compreenso; ela s reconhece a liderana do Cristo.

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    No h rituais ou regras: somente o divino e impessoal Amor universal; no tem outro culto que no a chama interior que fulgura eternamente no santurio do Esprito.

    Esta unio um estado de livre fraternidade. A nica limitao a disciplina da Alma, e assim conhecemos a liberdade sem licenciosidade; somos um universo coeso sem limites fsicos, um servio divino a Deus sem cerimonial ou credo.

    O iluminado caminha sem medo pela Graa. Sabemos que somos a realizao de Deus, somos a condio de conscincia onde emana a

    Luz de Deus, e isto ter a mente espiritual. A percepo que em cada indivduo h a presena de Deus, e que tudo o que ele , uma aparncia de Deus, a conscincia espiritual. A compreenso que tudo o que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos ou saboreamos com nossos sentidos no passa de um conceito finito de realidade e que no tem relao com a realidade espiritual, sentido espiritual.

    A Cristo-conscincia reconhece Deus onde quer que brilhe, atravs da bruma do sentido pessoal. Para ela no h pecador a se redimir, doena a se curar ou pobre para se enriquecer. A iluminao espiritual desfaz os falsos conceitos ou imagens da limitada percepo, e revela que tudo que existe manifestao de Deus.

    A Luz da conscincia individual revela o mundo da criao de Deus, o universo da realidade, os filhos de Deus. Sob esta Luz, desaparece o cenrio da mortalidade e o mundo de conceitos; "este mundo", cede lugar ao Meu Reino, realidade das coisas como elas so.

    Temos tambm com freqncia a sensao de, no nosso ntimo, termos companhia. Sentimos um calor interior, uma presena viva, uma segurana divina. Sentimos, por vezes, uma mo forte sobre as nossas, ou uma face sorridente por sobre nossos ombros. Nunca estamos ss, e sabemos disso. Esta Presena suave nos d tranqilidade interior; permite-nos relaxar das labutas do mundo e nos brinda com a alegria da paz. Na verdade trata-se de um "paz, s quieto" frente aos problemas e tenses do humano existir. uma influncia reparadora dentro de ns, e todavia pode ser percebida por todos que esto nossa volta.

    Esta Presena interior da qual tomamos conscincia a Verdade em si mesma, que se nos revela como presena, poder, companhia, luz, paz e poder curador como o Cristo. A conscincia deste Ser interior o resultado de nossa maior iluminao espiritual, de nossa conscincia espiritual cultivada. Esta Verdade o Deus que cura nossos males e que caminha nossa frente tornando suaves nossos caminhos. Esta Verdade a riqueza que se mostra sob a forma de suprimento farto. Nenhuma circunstncia ou humana condio pode reduzir a nossa riqueza, enquanto habitarmos nesta conscincia da presena do Amor.

    Estabelea esta verdade dentro de voc, e ela se tornar o seu verdadeiro ser, sem conhecimento de nascimento ou de morte, juventude ou velhice, sade ou doena apenas a eternidade do ser harmnico. Esta verdade desfaz todas as iluses dos sentidos, e revela a infinita harmonia do seu ser; desfaz a mortalidade e revela sua imortalidade. Devemos nos livrar de qualquer coisa, em nossos pensamentos, que no seja a divina Presena, o Eu Real, para podermos beber a pura gua da Vida e comermos o po espiritual da Verdade.

    Temos de livrar o corao dos erros do nosso eu, da obstinao, dos falsos desejos, da ambio e da ganncia para refletir a luz da Verdade, como um diamante perfeito reflete sua prpria luz interior.

    Cerca de quinhentos anos antes de Cristo, algum escreveu: "Pode facilmente acontecer que algum, tomando banho, pise em uma corda molhada e imagine tratar-se de uma serpente. Ficar horrorizado, tremer de medo ao antecipar, em pensamento, as agonias causadas pela mordida venenosa da cobra. Que grande alvio sentir ao constatar que a corda no uma serpente! A causa do seu pavor estava em seu erro, em sua ignorncia, sua iluso. Reconhecendo a verdadeira natureza da corda, voltar sua serenidade; ficar aliviado, contente e feliz. Este o estado de

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    esprito de quem descobre que no h um eu pessoal, e que a causa de todos os seus problemas, cuidados e vaidades, no seno uma miragem, uma sombra, um sonho".

    Reafirmamos, a iluminao revela que no existe o erro, que aquilo que nos pareceu ser a serpente pecado, discrdia, doena e morte a Verdade mal interpretada pelos nossos sentidos limitados. Assim, a discrdia no para ser odiada, temida ou lamentada, e sim reinterpretada, at que a natureza verdadeira da corda a realidade possa ser discernida pelos sentidos espirituais. A cobra doena ou discrdia apenas um estado mental, que no corresponde realidade exterior. Devemos compreender que nenhuma iluso pode assumir forma exterior.

    A iluminao espiritual pode ser alcanada por aqueles que constantemente vivenciam a conscincia da presena da perfeio, e continuamente traduzem as aparncias para a Realidade. Todos os dias e noites nos defrontamos com aparncias desarmoniosas, e estas devem ser imediatamente traduzidas pela nossa compreenso da "nova lngua", a linguagem do esprito.

    Todos os acontecimentos do nosso dia-a-dia nos oferecem novas oportunidades de usarmos nossa compreenso espiritual, e cada uso dessas faculdades espirituais resulta em maior percepo espiritual que, por sua vez, nos revela sempre mais e mais da luz da Verdade.

    "Orai sem cessar... e conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertar." Reinterprete as aparncias e os fatos da vida diria nos termos da nova lngua, a lngua do

    esprito, e a conscincia sofrer uma expanso contnua, at que a traduo ocorra automaticamente, sem a necessidade de se pensar.

    Isto tornar-se- um estado habitual de conscincia, uma percepo constante da Verdade. S desse modo poderemos ver nossa vida se desdobrar com harmonia a partir do centro do

    nosso ser, sem que para isto precisemos conduzir qualquer pensamento. Nossa vida, em vez de ser uma seqncia de "demonstraes", tornar-se- o feliz, harmonioso e natural desdobramento do bem. No lugar dos contnuos esforos para atrair o bem, v-lo-emos emanar visivelmente a partir das profundezas do nosso prprio ser sem esforo consciente de nossa parte, quer fsico quer mental. No mais dependeremos de pessoas ou circunstncias, nem mesmo do nosso esforo pessoal. A iluminao espiritual nos permite abandonar os esforos pessoais e confiar cada vez mais na Divindade, que se revela e desdobra como cada um de ns.

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    C A P T U L O I I I

    O Cristo

    Uma antiga escritura revela: " difcil de se entender: doando nosso po, nos tornamos mais fortes; dando nossas roupas aos outros, ganhamos em formosura; fundando moradas de pureza e verdade, adquirimos grandes tesouros".

    Abrao, pai dos hebreus, baseou a prosperidade do seu povo na idia do dzimo doar um dcimo dos ganhos para propsitos espirituais e caritativos, sem pensar em retorno ou recompensa.

    "A imortalidade se pode alcanar apenas pela prtica contnua de atos de benevolncia, e a perfeio se obtm pela compaixo e pela caridade." Quanto maior o degrau de amor altrusta que galgamos, mais nos aproximamos da compreenso do Eu universal como nosso ser real.

    O sentido pessoal de "eu" est ocupado em ter, em obter, em desejar, em conseguir e acumular; enquanto nosso Eu verdadeiro est empenhado em dar, conceder, repartir e abenoar.

    O sentido pessoal de "eu" representa a corporificao de todas as nossas experincias humanas, muitas das quais limitadas e indesejveis. O Eu verdadeiro corporifica as idias e atividades infinitas, espirituais, que se manifestam continuamente, sem limites ou restries.

    O pequeno "eu" preocupa-se basicamente com seus problemas pessoais e seus negcios, dilatando seus limites para incluir neles seus parentes prximos e seus amigos. O sentido pessoal, muitas vezes, avana alm, envolvendo-se em trabalhos caridosos e de assistncia comunitria, mas quando analisamos seus motivos percebemos tratar-se de ao governada pelo prprio sentido pessoal.

    O "Eu" verdadeiro alimenta sua vida do centro do seu prprio ser, abenoando todos os que dele se aproximam; reconhecido pelo seu altrusmo e desinteresse, por no buscar o reconhecimento, a recompensa ou qualquer engrandecimento pessoal. No se trata de uma entidade sem vigor ou de um boneco que possa ser manipulado pelos mortais de fato no pode nunca ser visto nem compreendido pelos mortais.

    Recordo-me de dois belos exemplos que, em quadros comoventes, revelam as diferenas entre o pequeno eu pessoal e o Eu imortal.

    Sidharta, que abandonara o lar e a famlia em busca da Verdade, recebeu por fim a iluminao, tornando-se o Buda, o Iluminado ou, poderamos dizer, o Cristo do seu tempo. Seu pai, grande rei, sentindo a morte se aproximar e desejando rever o filho, mandou procur-lo, pedindo que retornasse. Ao rever o filho, percebeu que o perdera, em sentido pessoal de pai e filho, mas assim mesmo tentou reconquist-lo. Disse o rei: "Eu te daria meu reino, mas se o fizesse, teria para ti o mesmo valor da cinza". Buda respondeu-lhe: "Sei que o corao do rei transborda de amor... mas deixe que os laos do amor que te prendem ao filho que perdeste enlacem igualmente todos os teus sditos; assim em lugar de Sidharta recebers algo muito maior: recebers o Iluminado, o Mestre da Verdade, o Pregador da Retido e ainda a Paz de Deus em teu corao".

    O outro exemplo diz respeito ao grande Mestre. "E falando ainda multido, estavam fora sua me e seus irmos que desejavam falar-lhe. E disse-lhe algum: Eis que esto l fora tua me e teus irmos querendo te falar. Mas ele respondeu quele que o chamara: Quem minha me? E quem so meus irmos? E abrindo seus braos, apontando seus discpulos, disse: Pois qualquer um que faa a vontade do meu Pai que est no cu, este minha me, minha irm e meu irmo."

    medida que nos tornamos espiritualmente iluminados, somos procurados por aqueles que buscam se libertar de diversas formas de trevas materiais da doena, do pecado, do medo, da

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    limitao, da agitao e da ignorncia. E ns podemos defrontar estas necessidades impersonalizando tanto o bem como o mal, e compreendendo que a harmonia uma atividade e uma qualidade da Alma, que se expressa universal e individualmente.

    Na meditao, ou comunho, nos tornamos receptivos Verdade que se desdobra dentro de ns e a isto ns chamamos de orao. Nosso orar no deve ter ligao com o chamado paciente. De fato, a orao no um processo, uma combinao de palavras ou pensamentos, de colocaes, de declaraes, de afirmaes ou de negaes. A orao um estado de conscincia no qual experimentamos a percepo da harmonia, da perfeio, da unidade, da alegria, da paz e do domnio. Com freqncia, a meditao ou comunho traz ao indivduo alguma verdade especfica, e esta verdade aparece externamente como o fruto de sua prpria conscientizao do ser real.

    Foi revelado, vezes incontveis, que o talento, habilidade, educao e a experincia de cada indivduo so de fato a Conscincia que se desdobra em caminhos individuais como artista, msico, vendedor, homem de negcios ou ator. Segue-se disso que a Conscincia, que expressa a Si mesma, nunca est sem oportunidade, reconhecimento e aceitao. Assim, no pode haver dom sem reconhecimento, um talento ou habilidade sem expresso, um esforo sem recompensa, uma vez que todos os esforos e aes so Conscincia expressando suas infinitas capacidades e possibilidades. A percepo consciente desta verdade far dispersar a iluso de desemprego, a falta de recompensa ou de reconhecimento. Contudo, guarde isso muito bem, a repetio destas palavras sem uma parcela de "sentimento" da verdade que encerram, ser como "nuvens sem chuva", "vs repeties", nada.

    Desta mesma maneira j foi revelado que h apenas uma Vida, e que esta nica Vida nunca est sujeita ao perigo de doena, de acidente ou morte. Esta Vida a vida do ser individual. Nunca necessrio tratar diretamente uma pessoa ou um animal, mas estar sempre alerta para nunca aceitar a idia ou sugesto de qualquer outra presena, poder ou atividade que no a nica Vida, a nica Lei, a nica Alma. O viver constantemente nesta conscincia do bem, da harmonia, dissipar a iluso dos sentidos, quer se manifeste como pessoa doente ou pecadora. O simples declarar ou afirmar constante desta verdade nos seria de bem pouca valia, enquanto sua conscientizao ou sentimento se nos manifestar como cura, como modificao, como renovao e at mesmo como ressurreio.

    Recentemente, escrevi a um amigo por ocasio de seu aniversrio, e creio que ele gostaria que eu compartilhasse com vocs as idias que me ocorreram no caso:

    Quanto aos votos de aniversrio, eu apenas gostaria que no tivesse qualquer aniversrio, de modo que se lhe tornasse familiar a idia de continuidade da existncia consciente, sem parada ou interrupo a conscientizao do desenvolvimento progressivo.

    Na verdade, no h interrupo na continuidade da conscincia que desenvolve, nem pode a conscincia deixar de estar cnscia do corpo, assim como voc jamais perde a conscincia musical ou artstica, ou qualquer outro talento que porventura possua.

    A conscincia se desdobra de dentro para fora de uma fonte ilimitada, da infinitude do seu ser, para a percepo individual de si mesma, em infinitas variedades, formas e expresses.

    A morte a crena de que a conscincia perde a percepo do seu corpo. A imortalidade a compreenso da verdade de que a conscincia est eternamente ciente de sua prpria identidade, corpo, forma ou expresso.

    A conscincia, cnscia do seu infinito ser e corpo eterno, a imortalidade atingida no aqui e agora. A percepo da conscincia da manuteno de sua prpria identidade e forma a vida eterna. A percepo da conscincia que se desdobra eternamente nas formas individuais da criao ou manifestao, a imortalidade demonstrada aqui e agora. "Esta conscincia voc."

    A conscincia espiritual o abandono do esforo pessoal na realizao de que a harmonia algo que "j ". Esta conscincia, com a renncia ao esforo pessoal, atingida quando percebemos

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    o Cristo dentro de ns como uma realidade presente. O Cristo a atividade da Verdade na conscincia individual. mais uma receptividade Verdade do que a sua verbalizao. Na medida em que conseguimos a quietude interior, tornamo-nos sempre mais receptivos Verdade que se nos revela, dentro de ns mesmos. A atividade desta Verdade na nossa conscincia o Cristo, a prpria presena de Deus. A Verdade recebida e mantida continuamente em nossa conscincia a lei da harmonia em todas as nossas vicissitudes. Ela governa, dirige, orienta e suporta todas as nossas atividades da vida cotidiana. Quando nos aparecer a idia de doena ou carncia, esta Verdade onipresente ser o nosso curador e nosso recurso; ser mesmo nossa sade e nosso suprimento.

    Para muitos, a palavra Cristo continua sendo um termo mais ou menos misterioso, uma entidade desconhecida, algo raramente ou nunca vivenciado diretamente. Se, porm, quisermos nos beneficiar com a revelao da Presena divina ou Poder dentro de ns, feita por Cristo Jesus e outros, teremos de modificar este estado de coisas. Devemos chegar experincia do Cristo como uma revelao permanente e contnua. Temos de viver com a percepo consciente e contnua da verdade interior ativa; mantendo sempre uma atitude receptiva ouvidos atentos no demorar para que tenhamos a experincia do despertar interior. Esta a atividade da Verdade dentro da conscincia, ou o Cristo que alcanamos.

    Uma tal compreenso do Cristo nos esclarecer a respeito da orao. Todas as definies do dicionrio so unnimes em conceituar a orao com base na crena errnea de que haja um Deus, em algum lugar, a esperar que Lhe imploremos de algum modo. Ento, se pudermos encontrar este Deus bem disposto, teremos nossas oraes respondidas favoravelmente; a menos que, logicamente, nossos pais ou avs, at a terceira ou quarta gerao tenham pecado e, neste caso, seremos imputveis pelos seus pecados e teremos nossas oraes jogadas na cesta do lixo do cu.

    Ns temos um sentido diferente do que seja a orao. Percebemos que qualquer bem que nos acontea o resultado direto da nossa prpria compreenso da natureza do nosso prprio ser. Nossa compreenso da vida espiritual se desenvolve medida da nossa receptividade Verdade, no orando a Deus, mas deixando que Deus Se revele e Se manifeste a ns. Este o mais alto conceito de orao; alcanado quando dedicamos alguns minutos, tanto de dia como de noite, meditao, a comungar, a escutar. Na quietude, chegamos a um estado de receptividade que nos abre o caminho para sentir ou para perceber a presena real de Deus. Esta percepo, ou sentimento, a atividade de Deus, a Verdade em nossa conscincia, o Cristo, nossa Realidade.

    Normalmente, vivemos imersos num mundo sensorial, e nos preocupamos apenas com o objeto de nossos sentidos. E isso nos traz nossa experincia de bem e de mal, de dor e de alegria. Se ns, atravs do estudo e da meditao, nos voltarmos mais para o lado mental da vida, veremos que nossos pensamentos se tornam mais elevados e, com isso, teremos melhores condies. A medida que refinamos nossas qualidades mentais e manifestamos mais pacincia, mais gentileza, caridade e perdo, estas qualidades se refletiro sobre nossa experincia humana. Mas no paremos por aqui.

    Mais alto que o plano do corpo e da mente est o domnio da Alma, o reino de Deus. Aqui encontramos a realidade do nosso ser, nossa natureza divina no que o corpo e a mente estejam separados ou afastados da Alma; apenas que a Alma o recndito mais profundo do nosso ser.

    Nos domnios da Alma encontramos completa tranqilidade, paz absoluta, harmonia e domnio. Aqui no encontramos nem bem nem mal, nem dor nem prazer, apenas a alegria de ser. Estamos no mundo, mas no pertencemos a ele, pois no mais vemos o mundo dos sentidos como aparenta ser, mas, tendo despertado nosso sentido espiritual, ns o "vemos como ele " vemos a Realidade atravs das aparncias.

    At aqui, buscamos nossa felicidade no universo objetivo, em pessoas, lugares ou coisas. Agora, porm, atravs do sentido espiritual, do sentido da Alma, o mundo todo tende a nos trazer seus presentes, embora no mais pela busca direta de pessoas ou coisas, mas servindo-se destas como canais. No sentido material, pessoas e coisas so os objetivos aquilo que desejamos. Atravs do sentido da Alma, nosso bem se desdobra a partir do nosso interior, embora se apresente

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    como pessoas e condies melhoradas. O sentido da Alma no nos priva dos amigos, da famlia e do conforto da existncia humana, mas nos d isso com maior segurana, num nvel de conscincia mais alto, mais belo e duradouro.

    Por muitos sculos, a ateno foi focalizada em Jesus Cristo como o Salvador do homem, e ao longo deste sculo o sentido espiritual da vida oscilou entre dois extremos, entre a luz e as trevas. Um mestre do sculo XVI escreveu: "Cristo (Jesus) chamou a Si mesmo de Luz do mundo, mas completou dizendo que Seus discpulos tambm eram a Luz do mundo. Todo cristo em quem esteja vivo o Esprito Santo, isto , os verdadeiros cristos, so um com o Cristo em Deus e so como o Cristo (Jesus). Portanto, eles tero experincias semelhantes, e o que Cristo (Jesus) fez, eles tambm faro".

    Nossa tarefa a descoberta do Cristo na prpria conscincia. Reconhecemos com alegria e amor profundo o quanto do Cristo foi alcanado, no s por Jesus, mas por muitos videntes espirituais e profetas de todos os tempos. Nosso corao est cheio de gratido pela revelao do Cristo para tantos homens e mulheres de nossos dias. E olhamos agora para a frente, para a realizao do Cristo em nossa prpria conscincia. "O reino de Deus est em vs, e aquele que o procura fora de si mesmo nunca o encontrar, pois fora de si mesmo ningum pode ver ou achar Deus; pois aquele que procura Deus, em verdade j O tem."

    Temos de compreender a palavra "conscincia", pois s podemos comprovar aquilo de que estamos conscientes. Como estamos em termos de conscincia? Somos ainda mortais? Ou j renunciamos nossa individualidade material e reconhecemos ser o Cristo a plenitude, a presena de Deus? Algum dia teremos de abandonar o esforo para tudo conseguir e reconhecer a ns mesmos como sendo o eterno Doador em ao. Temos de alimentar cinco mil pessoas sem ter a preocupao de onde vir o alimento. A multido pode ser alimentada pela nossa cristicidade. E onde estaria, pois, a carncia a no ser na crena de que somos apenas humanos? Temos de nos livrar desta crena e proclamar nossa verdadeira identidade.

    Quando nos deparamos com pessoas ou circunstncias que tm aparncia de mortalidade, devemos reconhecer: "Tu s o Cristo, o Filho de Deus vivo", e aquilo que nos aparece como mortal iluso, nada. No temos de temer nenhuma circunstncia mortal ou material, uma vez que reconhecemos sua nulidade.

    A Verdade simples. No h verdade metafsica profunda ou misteriosa. Ou verdade ou no verdade; e no pode haver verdade profunda ou superficial nem pode haver diversos graus de verdade. Para a verdade ser verdade, deve ser verdade absoluta. Ocupamo-nos agora com a verdade de que ns individualizamos o poder infinito. No devemos procurar um poder fora ou separado de ns mesmos. Ns individualizamos o poder infinito na medida de nossa conscientizao da Verdade.

    A Vida, que Deus, nossa vida. H apenas uma Vida, e esta a vida de todos os seres, de todos os indivduos. Ns individualizamos esta vida eterna, e no h menos Deus em alguns seres do que em outros. E esta vida, em todos, sem doena e imortal. Nossa conscincia desta verdade a influncia curadora dentro de ns.

    Existe apenas uma Conscincia, Deus. Em ns se individualiza esta Conscincia onipotente e onisciente; por isso, nossa conscincia o socorro sempre presente em qualquer circunstncia. Por esta razo no oramos ou buscamos a um Ser longnquo, mas percebemos a onipresena da divina Conscincia como nossa conscincia, e deixamos que o aparente problema se v. A percepo desta verdade nos confirma na conscincia da presena da Vida, da Verdade, de Deus. A compreenso da unidade da Conscincia como a nossa conscincia, da Vida como a nossa vida, a Verdade eterna.

    O prximo passo no desenvolvimento a descoberta de que, como individualizao da Conscincia, ns incorporamos em nossa prpria conscincia nosso corpo, nossos negcios e nosso lar. Podemos comprovar nosso domnio sobre o tempo, o clima, a renda, a sade e o corpo apenas na medida em que sabemos serem idias da conscincia que somos. O lar, o trabalho e o corpo so

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    idias nossas, sujeitas nossa compreenso, e a conscientizao desta verdade nos confere o domnio. Isto no nos exalta como seres humanos nem nos torna divinos: isto varre de ns a natureza humana e revela nossa divindade.

    Podemos medir nosso desenvolvimento espiritual observando se estamos, ou no, tentando melhorar uma condio fsica. Temos de lembrar que a vida orgnica do homem, do animal ou da planta no a Vida, Deus, e sim conceitos humanos e limitados da Vida real; assim, qualquer tentativa de curar, mudar ou corrigir o universo fsico uma evidncia de que no temos desenvolvido o suficiente a conscincia espiritual.

    A Cristo-conscincia reconhece que toda a vida Deus mas percebe que aquilo que nos aparece como viso ou som materiais no a Vida, mas mera iluso ou um falso sentido de existncia. A conscincia espiritual distingue a vida que real.

    J que no podemos resolver um problema em seu prprio nvel, temos de subir alm das aparncias para trazer s claras a harmonia do ser. Aquilo que recai sob os cinco sentidos no a realidade das coisas; assim no podemos julg-las neste nvel. Deixando de lado as aparncias, damos as costas ao quadro que se apresenta aos nossos sentidos e comeamos a ter conscincia da Realidade daquilo que eterno.

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    C A P T U L O I V

    Nossa verdadeira existncia

    Nossa verdadeira existncia como o esprito, e s abandonamos o falso sentido de vida material na medida em que percebemos isto. Vemos ento que a vida fsica, do homem, do animal e da planta no passa de um sentido enganoso da existncia; aquilo que geralmente nos preocupa com as chamadas necessidades da vida material , de fato, desnecessrio; que embora todas as belezas que contemplamos apontem para uma criao de Deus, elas no so a criao espiritual e perfeita de Deus; que as aparncias de doena, de envelhecimento e morte no fazem absolutamente parte da vida real. Quando atingimos este estado de conscincia, comeamos a ter vislumbres da eterna existncia espiritual, intocada pelas condies materiais ou pensamentos mortais. Quando damos as costas para o mundo sensorial, que podemos ver, ouvir, cheirar, saborear e apalpar, temos vises inspiradas que nos mostram a terra como criao de Deus.

    No trabalho de cura, temos de dar as costas para o mundo fsico, assim como o vemos. Temos de lembrar que no fomos chamados para cur-lo, para mud-lo, para corrigi-lo ou salv-lo; temos de perceber, antes de mais nada, que ele existe s como uma iluso, como um sentido da vida totalmente falso. E deste ponto elevado de conscincia, ns olhamos, atravs do sentido espiritual, para a "casa que no foi construda com as mos, eterna no cu".

    Temos o hbito de considerar certas pessoas como bons provedores, bons merecedores, bons vendedores ou curadores. Entendamos isso corretamente. Nunca uma pessoa, e sim um estado de conscincia, que cura, que regenera, que pinta, escreve ou compe. O estado de conscincia se manifesta a ns como pessoa por causa do conceito finito que temos de Deus e do homem. Ficamos com freqncia desapontados quando algum no corresponde ao quadro que formamos dele. E isto porque lhe atribumos as boas qualidades de conscincia; e quando a pessoa no preenche tais qualidades, que ns acreditamos erroneamente serem sua personalidade, sofremos.

    Na Bblia, nos deparamos com as figuras de Moiss, de Isaas, de Jesus e de Paulo. Percebemos que Moiss representa o estado de conscincia chefe, ou liderana; Isaas nos apresenta a profecia; Jesus mostra a conscincia messinica, ou a Graa da salvao e da cura; e Paulo traz a conscincia do mensageiro, do pregador ou mestre. Contudo, sempre se trata de um estado de conscincia especfica que se manifesta a ns como homem.

    George Washington representa certamente a conscincia da integridade nacional; Abraham Lincoln, a conscincia da integridade e da igualdade individuais.

    Pensando em ns mesmos, esqueamos nossa natureza humana com suas qualidades humanas e tentemos compreender o que ns representamos como conscincia, para ento perceber que esta conscincia que se expressa como ns tambm o que nos mantm e faz prosperar nosso empenho.

    O fracasso ocorre freqentemente por causa da descrena de que ns somos a expresso de Deus, ou da Vida, ou da Inteligncia ou das qualidades divinas. Isso nunca verdade. Deus, ou a Conscincia, expressa eternamente a Si mesmo e Suas qualidades. A conscincia, a vida, o Esprito, nunca pode falhar. Nossa tarefa aprender a relaxar e deixar que nossa Alma se manifeste. O egosmo a tentativa de ser ou de fazer algo pelo esforo pessoal fsico ou mental. O no nos preocupar nos privar do pensamento consciente e deixar que as idias divinas preencham nossa conscincia. Uma vez que somos Conscincia espiritual individual, podemos sempre confiar que a Conscincia realize a Si mesma e Sua misso. Somos expectadores e testemunhas desta divina atividade da Vida que realiza e manifesta a Si mesma.

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    Cada vez mais devemos nos tornar expectadores ou testemunhas. Temos de ser observadores da Vida e Sua harmonia. A cada manh temos de acordar ansiosos para ver um novo dia que revele e desdobre, a cada hora, novas alegrias e vitrias. Diversas vezes por dia temos de perceber conscientemente que estamos testemunhando a revelao da Vida eterna, o desdobramento da Conscincia e de Suas infinitas manifestaes, da atividade do Esprito e de Suas grandiosas formas. Em cada situao do nosso dia-a-dia, aprendamos a ficar por trs de ns mesmos e ver Deus ao trabalho, testemunhar a ao do Amor nas nossas vicissitudes e esperar que Deus Se revele em tudo que nos rodeia.

    Temos de perceber, toda noite, que o nosso descanso no nos leva a uma interrupo da atividade de Deus sobre nossa vida, mas que o Amor a influncia protetora e a substncia do prprio descanso, que a Conscincia nos transmite suas idias mesmo durante o sono, que o Princpio a lei que nos guia durante a noite toda. Nada de externo pode penetrar em nossa conscincia para nos perturbar, e esta verdade fica de sentinela ao portal de nossa mente, para permitir o acesso s realidade e suas harmonias.

    Sejamos observadores, testemunhas; vejamos o desvelar-se do Cristo na nossa conscincia. H um estado de guerra permanente entre a carne e o Esprito, e isso continuar enquanto

    mantivermos o sentido de identificao corprea, mesmo pequeno. A tentativa de trazer o Esprito e suas leis para atuar sobre as concepes materiais, o que constitui esta guerra, e a paz s poder ser alcanada quando o sentido material do universo e corporal do homem tiverem sido superados.

    Observe com quanta freqncia tentamos aplicar alguma verdade metafsica a algum problema humano, e descobrir os motivos do conflito dentro de voc. Nosso verdadeiro intento mais a obteno da harmonia espiritual do que a continuidade do enfoque material da existncia, com mais facilidades e conforto.

    Nos momentos iniciais de nossa busca da Verdade, no tnhamos provavelmente outra preocupao que no curar um corpo doente, fazer um pobre mais prspero ou transformar um pecador em algum tico. No h dvida de que, ao nos tornarmos um praticante ou mestre de conscincia espiritual, parecamos ter atingido esta finalidade, e por algum tempo continuamos a "usar" a Verdade, ou Deus, para direcionar nossa concepo material do homem e do mundo.

    Foi s com a continuao de nossos estudos e da meditao que nos apercebemos do conflito interior. Nos regozijamos com momentos de grande elevao; ns camos no vale da incerteza; conseguimos vitrias e amargamos fracassos; oscilamos entre as aparncias de bem e de mal, sucesso e fracasso, espiritualidade e mortalidade, sade e doena. Este o conflito interior que se evidencia como uma guerra entre a carne e o Esprito. E isso s terminar quando abandonarmos o conceito de mortalidade e a identificao corporal para alcanarmos a conscincia da existncia espiritual.

    "Meu reino no deste mundo" representa o fundamento da construo de uma nova e mais alta conscincia. A vontade e a capacidade de olharmos para alm do sentido material de pessoa e coisa, e de perceber o homem e o universo da criao de Deus, so fatos essenciais.

    Ganhar mais dinheiro no suprimento espiritual; poupar mais no significa segurana; sade fsica no necessariamente a base de vida eterna: tudo isso constitui meramente uma crena humana melhorada.

    O estudioso avanado abandonar aos poucos sua tentativa de melhorar crenas ou aspectos humanos, para que a verdade da existncia espiritual possa desabrochar em sua conscincia.

    O reino espiritual a fonte da sade que , na verdade, a eterna harmonia do ser; uma conscincia de suprimento sem limites, e que obtido sem esforo. Lembre-se, contudo, de que no estamos associando novamente Deus, ou o Esprito, com o conceito humano de sade e suprimento. Estamos, antes, entrando numa concepo espiritual de sade e suprimento. At aqui, nossos esforos foram na direo de manifestar maior harmonia e domnio em nossos negcios terrenos.

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    verdade que esta conscincia de ser celestial parece resultar num viver humano mais harmonioso, mas estas so "as coisas dadas de acrscimo", conseqncia da busca do cu e de sua justia. E ser visto como sendo muito diferente do conceito humano de bondade, e este conceito mais elevado o que devemos estar buscando.

    "Meus pensamentos no so os teus pensamentos e os meus caminhos no so os teus caminhos." Por esta razo no tentamos ter mais ou melhores pensamentos humanos, ou tornar nossos caminhos humanos mais planos. Na verdade estamos buscando aprender os pensamentos de Deus e o caminho de Deus.

    Nesse estgio de desenvolvimento, sentimos a necessidade de nos desfazer das preocupaes com nossa pessoa e com o nosso bem-estar. Aprendemos que os cuidados com nosso bem-estar so como construir sobre areia, enquanto uma vida voltada para a busca da Verdade como uma base de slida rocha sobre a qual podemos construir o templo eterno da vida. Encontramos felicidade e prosperidade permanentes quando temos um princpio ou uma causa a que podemos nos devotar. Assim encontramos menor escala da personalidade em nossa existncia, e, por isso mesmo, deixamos espao para a revelao e o desdobramento do nosso divino Eu. Nesse Eu encontramos nossa completeza e a infinitude de nosso ser. Aqui tambm descobrimos a razo de nossa existncia.

    Deus criou o mundo e tudo o que nele existe. O que ns observamos atravs dos sentidos no o mundo, mas uma imagem finita e falsa do mundo que Deus criou. medida que nos elevamos em termos de conscincia, comeamos a perceber o universo espiritual e um pouco de sua finalidade.

    Aquele que encontrou seu Eu profundo, descobre que um com todos os homens, animais e coisas. Ele sabe agora que aquilo que afeta um, afeta todos. A universalidade desta verdade encontrada em todas as escrituras, como pode ser visto nestes exemplos:

    Conquista o homem avarento, com um presente. A caridade rica em recompensas; a caridade a maior riqueza, pois embora esbanjando, nunca traz arrependimento.

    ESCRITURA HINDU

    Deles era a plenitude dos cus e da terra; quanto mais davam aos outros, mais possuam.

    ESCRITURA CHINESA

    D quele que teu parente o que lhe devido, e d tambm aos pobres e aos viajores. E os bens que envias frente da tua alma, reencontrars em Deus.

    ESCRITURA TURCA

  • 33

    E mais abenoado dar que receber. ... D, e te ser dado; uma medida boa, compacta e sacudida, transbordante, ser posta no teu colo. Pois com a mesma medida com que medes, tu tambm sers medido.

    A BBLIA

    medida que percebemos nossa unidade, ou unicidade com toda a criao, nos tornamos mais amveis, gentis, pacientes e compreensivos. S ento cumprimos o grande ensinamento "Ama teu prximo como a ti mesmo" e s ento temos um vislumbre do reino de Deus, do templo "no construdo com as mos", do homem e do universo criados por Deus. E a este homem espiritual, o homem criado por Deus, que foi dado o domnio sobre toda a terra.

    No h mistrio algum, referente vida interior, exceto o mistrio da natureza divina. Todos os que pensam esto preocupados com seu bem-estar, com o bem-estar da famlia e da comunidade, do seu pas ou mesmo do mundo. Contudo, a experincia logo os convence de que no h esperana para a humanidade nas pessoas ou nos poderes deste mundo. Os homens so por demais egostas. No geral, esto demais ocupados e preocupados com seus prprios interesses para serem totalmente altrustas em sua atitude diante do mundo.

    Os mais ambiciosos so com freqncia aquinhoados com talento fsico ou mental superiores, e logo se sentam no trono dos poderosos e o mundo ento liderado por estes, que carecem de integridade e de amor. Os polticos raramente se elevam acima de seu prprio egosmo, e o eventual homem estadista perde-se neste quadro.

    Aqui e acol, pelo mundo afora, existem homens e mulheres inspirados que anseiam pela vinda do dia em que os homens se irmanaro. Seu corao se condi pelo constante ridculo a que so expostos os homens de boa vontade e pelo sucesso dos embriagados pelo poder e dos vidos de dinheiro, que se repetem a cada gerao. Estes nobres visionrios so levados de um lado para outro, entre a sua esperana de progresso da humanidade e a percepo da futilidade da superao das foras malignas que atuam no pensamento humano. Talvez a mesma pergunta ocorra a todos: No haver um poder para pr um paradeiro a este reino do mal, para sustar as guerras, para evitar a fome e as pragas? Ser o homem desamparado diante dos quatro cavaleiros do Apocalipse?

    A busca de libertao das provas e das atribulaes da vida humana j foi iniciada. Na verdade, trata-se da busca de Deus, e ela comea em qualquer condio de conscincia em que o indivduo possa estar. Se ele tiver um forte sentido religioso, com o suporte de uma Igreja, pode encontrar o Poder na f recproca, em algum credo ou dogma ou alguma forma especfica de adorao. O intelectual buscar, sem dvida, o Poder no campo da filosofia, ou em um dos ensinamentos religiosos filosficos. Mais recentemente, a busca pode se orientar para os ensinamentos metafsicos ou para as prticas orientais de yga. Sem dvida, muitos iro passar de um estgio para outro, sempre buscando Deus ou o Poder que possa pr um basta ao reino da mortalidade.

    Mas um dia, no nosso interior, algo acontece. A conscincia se expande e v aquilo que antes era invisvel. Sentimos um fluxo de calor: uma Presena, antes desconhecida, torna-se tangvel, muito real. Isto, muitas vezes, uma experincia fugaz. Podemos mesmo duvidar que ela tenha ocorrido. Subsiste na memria, mais como um sonho do que como uma realidade, at que se repita, e desta vez com mais clareza, mais definio, e, talvez, por um tempo maior. Aos poucos se fixa na nossa conscincia a percepo de uma Presena constante. Esta Presena pode ser sentida como que furtiva por trs da conscincia ordinria. Por vezes se torna uma Presena imperiosa, que domina a situao ou a experincia daquele instante.

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    Nesse momento, contudo, o mal se torna menos real; a doena no to aguda; a tenso financeira e mesmo a necessidade cedem caminho para a suficincia; a preocupao consigo mesmo desaparece, pois as necessidades so satisfeitas sem aflies, sem que planejemos, sem que nos aborreamos ou temamos. As pessoas ou os poderes que antes temamos, se esvanecem agora da vista, ou at desaparecem da nossa vida, ou ento so vistas em sua impotncia. Os desejos se fazem menos pungentes. Os medos se esvaem. Segurana, confiana, ateno e entusiasmo se tornam evidentes, no apenas para ns mesmos, mas tambm para aqueles que encontramos e com quem lidamos na vida quotidiana.

    A Presena interior torna-se tambm um Poder interior. De uma experincia fugaz, transforma-se em conscincia contnua. A fora da dor e do prazer na vida externa diminui, enquanto nos tornamos cientes de um poder interior que real, e que gera e direciona a vida externa de modo harmonioso e proveitoso. No h mais o medo do mundo exterior, nem h o prazer intenso nas alegrias do mundo exterior. possvel ter os prazeres do mundo e se alegrar com eles, ou no t-los e no lhes sentir a falta. O que passa a existir, uma alegria interior que no precisa de estmulos externos.

    Nesse estado de conscincia, reconhecemos Deus como sendo a luz interior ou, no mnimo, sentimos esta luz como uma emanao de Deus. Deus sentido como uma Presena divina, ou uma Influncia interna. E sentido por aqueles que entram em contato com o homem que encontrou seu Eu profundo. Reflete-se na sua sade e no seu sucesso. Irradia dele como os raios irradiam do sol.

    Encontrando sua vida interior, o homem encontra a paz, a alegria, a harmonia e a segurana. Mesmo em meio a um mundo to decadente, ele permanece indiferente e intacto a exata presena do Ser imortal.

    Quando no mais estamos limitados pelos cinco sentidos materiais e alcanamos, mesmo em parte, o sentido espiritual, ou a Cristo-conscincia, ns no mais nos sentimos limitados pelos termos aqui ou acol, agora ou depois. O que h um entrar e sair sem qualquer sentido de espao e de tempo, um desdobrar-se sem graduaes, uma percepo sem um objeto.

    Nesse estado de conscincia, desaparece o sentido de finitude, e a viso se torna sem fronteiras. A vida vista e compreendida como uma forma totalmente liberta e de beleza infinita. Mesmo a sabedoria milenar ser abarcada em instantes. A morte desaparece, e vemos novamente aqueles que foram separados de ns por esta barreira tida como intransponvel. Esta comunho no a comunicao como entendida nos ensinamentos espritas; antes uma conscientizao da vida eterna, intocada pela morte. a realidade da imortalidade que percebida e compreendida; uma viso da vida sem comeo nem fim. a realidade trazida luz. Nesse estado, no h barreiras fsicas de espao e de tempo. A viso abarca todo o Universo; funde o tempo e a eternidade; inclui todos os seres.

    Nessa luz, vemos no com os olhos; ouvimos sem os ouvidos; compreendemos coisas que desconhecamos. Onde ns estamos, Deus est, pois no h mais separao ou diviso. Aqui no h recompensas ou punies. H harmonia. A vida no depende de um processo; ns no vivemos s do po. Temos a sensao de espreitar para o cu e ver o que olhos mortais no podem ver.

    O sentido espiritual no est ligado a bens humanos; porm, esta Cristo-conscincia revela a harmonia do ser que se apresenta como nossa experincia humana e de forma utilizvel em nossas condies atuais. Embora o "meu reino no deste mundo", "vosso Pai sabe que precisais destas coisas" e Ele supre nossos desejos antes mesmo que lho faamos.

    ...e disse para Seus discpulos: "Portanto vos digo: no andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir.

    A vida vale mais que o sustento e o corpo mais que as vestes.

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    Considerai os corvos, eles no semeiam, no ceifam, nem tm dispensa nem celeiro; entretanto, Deus os sustenta. Quanto mais vaieis vs do que eles?

    E qual de vs, por mais que se preocupe, pode acrescentar um s cvado durao de sua vida?

    Se vs, pois, no podeis fazer nem as mnimas coisas, por que estais preocupados com as outras?

    Considerais os lrios, como crescem; no fiam nem tecem; contudo vos digo: nem Salomo, em toda sua glria, jamais se vestiu como um deles.

    Se Deus, portanto, veste assim a erva que hoje est no campo e amanh lanada ao forno, quanto mais a vs, homens de pouca f!

    No indagais pois o que haveis de comer ou que haveis de beber; e no andeis com vs preocupaes.

    Porque os homens do mundo que se preocupam com todas estas coisas; mas vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso.

    Buscai antes o reino de Deus e sua justia, e todas estas coisas vos sero dadas por acrscimo.

    No temas, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o reino".

    LUCAS-12 (22-32)

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    C A P T U L O V

    A alma

    A Alma a parte do homem pouco conhecida e s raramente percebida. Muitas vezes, aqueles que esto imersos em profunda aflio rompem a nvoa do sentido material at o recesso do seu ser interior, onde descobrem a Alma, ou a Realidade do ser. Tornam-se conscientes da Alma, encontram novos valores, novos recursos, uma fora nova e diferente e uma maneira de ser de natureza totalmente diferente.

    Exercer as faculdades da Alma resulta na quebra da iluso dos sentidos. Toda discrdia humana o produto do sentido material e vivenciada atravs dos cinco sentidos fsicos isto , todas as desarmonias mortais so vistas, ouvidas, sentidas, saboreadas ou cheiradas. Por existirem apenas neste estado material de conscincia, as discrdias e as doenas tm o seu ser em falsas idias, em iluses, embora naturalmente paream muito reais aos nossos sentidos.

    H muitos meios que nos proporcionam alvio temporrio para as condies falazes de suprimento, de sade ou outras desarmonias que se apresentam na vida diria. A destruio completa e definitiva do erro, porm, s obtida ao se encontrar e exercitar as faculdades da Alma. A Alma a parte do homem que jaz enterrada mais profundamente dentro dele, e por isso raramente percebida. Ns usamos nossas faculdades matemticas ou musicais porque jazem mais prximas superfcie do nosso ser, e, muito mais do que estas, nossas faculdades habituais de comrcio, ou o nosso sentido de orientao, ou mesmo o nosso senso artstico; mas os artistas, os autores e os msicos de talento vo mais fundo dentro do seu ser, e de l trazem luz as grandes harmonias da boa msica, a boa literatura, pintura, escultura ou arquitetura.

    Escondida ainda mais profundamente, embora ao alcance de nossa conscincia, jaz a Alma com suas faculdades. Quando tocamos tais poderes da Alma, estes emanam do nosso interior e atingem todos os caminhos da nossa vida quotidiana, trazendo inspirao, beleza, paz, alegria e harmonia para cada instante da nossa existncia, e revestem todos os acontecimentos da vida com amor, compreenso e sucesso.

    Aqueles, contudo, que estiverem demais envolvidos com as dores e os prazeres dos sentidos no chegaro, com certeza, at o reino da Alma. Ao longo da histria, este convite para se dessedentar na fonte de guas vivas foi estendido a toda a humanidade, e todas as geraes tm produzido muitos homens e mulheres que encontraram a eterna paz e juventude dentro se si mesmos. E assim sempre surge aquele que bebeu mais profundamente na fonte da Alma, e todos estes videntes sempre deram notcias do reino interior e da vida que pode ser vivida pela Graa, uma vez atingida esta conscincia. Por outro lado, muitos respondem que tm grandes encargos humanos que lhes ocupam todo o tempo; outros despendem tempo demais no prazer dos sentidos, passatempos e recreaes; outros ainda esto ocupados em realizar e adquirir.

    Cada vez mais, as pessoas comeam a perceber que a libertao do medo, da insegurana, da necessidade, e da pouca sade no se encontra no reino da matria. As guerras no acabam com a guerra; as aplicaes no garantem segurana contra a falta. A medicina alivia as dores, mas no traz uma sade verdadeira. Devemos extrair um poder maior daquele que encontrado no corpo ou nos pensamentos humanos, que nos d a felicidade, a harmonia e a paz que so direitos nossos de nascena. Tal poder est disponvel para todos, pois ele j faz parte do nosso ser na verdade, a parte maior do nosso ser. Como um iceberg, que mostra apenas uma parte de si fora da gua, assim os poderes humanos do corpo e da mente no representam seno uma parcela de nossos poderes e faculdades.

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    As foras da Alma so mais reais e tangveis do que qualquer poder material da natureza ou da capacidade inventiva. Elas trabalham num nvel mais elevado de conscincia, mas se tornam visveis nas coisas chamadas de humanas.

    As foras da Alma agem sobre o corpo humano para produzir e manter a sade e a harmonia. Permeiam todos os caminhos da vida quotidiana com influncias protetoras e so a fonte de suprimento infinito.

    As pessoas deste mundo que so conscientes de sua Alma vivem uma vida interior de paz, de contentamento e domnio, e uma vida exterior em completa harmonia consigo mesmas e com o resto do mundo dos homens, dos animais e das coisas. Esto sintonizadas com seus poderes da Alma, e isto constitui sua unificao com toda a criao.

    Todos podemos ter acesso Alma. Ela jaz nas profundezas ntimas do nosso prprio ser. O desejo de realizaes mais elevadas da vida o primeiro requisito, e, a partir da, deve-se manter uma constante orientao para o prprio interior at que a meta tenha sido alcanada.

    Um bom comeo pode ser a percepo da verdade que h muito mais na existncia humana do que sade fsica e suprimento material. Quando temos o vislumbre do fato de que mais dinheiro, mais casas ou automveis no constituem o suprimento, que mais viagens no so recreao, que a ausncia de doena no significa necessariamente sade em outras palavras, que "meu reino no deste mundo" , estamos na direo correta para descobrir o reino da Alma.

    Todos sabemos como empregar a fora fsica, como quando usamos o esforo muscular para erguer algum peso, ou fazemos fora com os braos ou as pernas; e sabemos tambm como exercer presso mental, como em profunda meditao ou pela vontade pessoal.

    Sabemos que h um poder da Alma, mas saber que este poder pode fazer muito mais por ns do que os poderes materiais e mentais juntos, isto poucos sabem. Talvez uma razo pela falta de interesse por parte do mundo neste tema to vasto seja o fato de que este imenso reservatrio de poder que est em ns no possa ser utilizado para fins egostas. Pensemos na grandeza disso um grande e maravilhoso poder mo, mas que jamais pode ser usado para satisfazer a fins egostas. Nisto est o segredo do porqu to poucos atingirem a conscincia da Alma. S podemos perceber a presena da Alma aps nos termos libertado dos desejos egostas, e termos individualizado este poder infinito dentro de ns mesmos na medida do nosso desejo de servir aos interesses da humanidade.

    justo, natural e normal que vivamos uma vida plena, prspera e feliz, mas ns podemos viver isto sem nos preocuparmos conosco, com nosso suprimento e mesmo com nossa sade. Todo o bem necessrio ao nosso bem-estar nos ser fornecido em grande abundncia quando pudermos aceitar que temos de abandonar nossos esforos e desejos de ter, de conseguir ou realizar, e nos aprofundarmos no desejo de cumprirmos apenas nosso destino sobre a terra. Estamos aqui como parte de um plano divino. Somos Conscincia, que realiza e expressa a si mesma de forma individual; e se aprendermos a desprender o nosso pensamento de ns mesmos, ou da preocupao com nosso lugar, nosso suprimento ou sade, e a deixar que Deus cumpra seus desgnios atravs de ns ou como cada um de ns, acharemos de fato que todas as coisas nos sero acrescentadas.

    A Bblia literalmente verdica quando afirma: "Do Senhor a terra, e tudo o que nela se contm" e "Filho... tudo que meu teu". No h, pois, necessidade de ter qualquer ansiedade quanto ao nosso bem-estar. Esquecendo de ns mesmos e aprendendo a manter um estado de receptividade, perceberemos estar plenificados pelo poder da Alma, da conscincia e recursos da Alma, e nossa vida ser aquinhoada com a companhia de outros homens e mulheres que partilharo conosco a alegria de sua descoberta.

    A mente que estava em Jesus Cristo no algo afastado, tampouco ela a mente de uns poucos lderes religiosos: a mente que estava em Cristo Jesus a sua, e est pronta para se manifestar em voc na medida em que se esquea do seu ego e se torne receptivo divina sabedoria

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    que est em seu ntimo. Os recursos da Alma esto porta de nossa conscincia, prontos a se derramar em ns, mais do que possamos receber, mas no para satisfazer algum desejo pessoal ou egosta. Tais falsos desejos so as pedras de tropeo do nosso desenvolvimento espiritual, e no devemos pensar em usar nossos poderes espirituais para fins pessoais ou egostas. A cano da Alma liberdade, alegria e eterna felicidade; a cano da Alma amor para toda a humanidade; a cano da Alma voc.

    Por que demoramos tanto para obter a libertao da doena, da discrdia e de outras mazelas do mundo material? Inteiramente por causa de nossa incapacidade de apanhar a grande revelao no h realidade no erro.

    Pusemos tanta ateno na f em Deus como nosso benfeitor, ou na f em algum curador ou mestre que passamos por cima da grande verdade: o erro no real no existe matria, pois a substncia da matria de fato mental.

    Aprendemos com os cientistas fsicos, e tambm com os metafsicos, que aquilo que tem sido chamado de matria uma interpretao equivocada da mente. A mente um instrumento de Deus, e Deus Esprito; assim, tudo o que existe substncia espiritual, apesar do nome ou da natureza que lhe tenha sido atribudo pelos sentidos finitos.

    Deus a conscincia do indivduo; assim tudo o que se nos depara como pessoa, coisa ou condio, nos vem como conscincia, na conscincia e atravs da conscincia; e Deus, a Conscincia, a Alma de todo indivduo; Deus, o Princpio, a lei de toda ao; Deus, o Esprito, a Substncia de tudo de que temos conscincia.

    Pela educao equivocada, que estrutura nossos sentidos finitos, chegamos a temer certos indivduos, coisas ou condies, sem perceber que estas coisas nos chegam pelo caminho da conscincia, e que so todas Seres de Deus, Conscincia que se nos revela, consubstanciadas de Esprito. A conscincia material o sentido finito e enganador que considera o homem e o Universo limitados, como bons e maus. A conscincia espiritual a percepo do indivduo como um ser de Deus, que tem apenas a mente de Deus e o corpo do Esprito. Reconhece o Universo todo como manifestao da mente e governado pelo Princpio divino. A conscincia espiritual a capacidade de ver a realidade alm das aparncias, perceber e reconhecer que, como Deus a nossa mente, tudo o que se nos apresenta est em e vem de Deus, nossa nica conscincia.

    A conscincia espiritual no supera nem destri a matria ou as condies materiais: apenas sabe que tais condies no existem, pelo menos da forma com que nos so mostradas pelos sentidos finitos. Ela traduz para ns as aparncias, revelando-nos a verdadeira natureza das coisas que esto presentes.

    O poder espiritual provm da Alma da sua Alma, da minha Alma. impessoal e imparcial. Todos podemos abrir as janelas da Alma e contemplar as glrias infinitas de um mundo bem acima do universo dos sentidos. O mundo da Alma muito maior que tudo que possamos ter visto ou ouvido, o mundo que observado atravs do sentido espiritual. Sabemos que o pensamento no iluminado v o Universo como algo material, enquanto a conscincia iluminada, ou sentido da Alma, v e compreende o Universo como algo espiritual.

    No desenvolvimento de nosso sentido espiritual, ou poder da Alma, nada h de s terico, no aplicvel prtica. Esta conscincia elevada capacitou Moiss para liderar seu povo em sua libertao da escravido, atravs do Mar Vermelho, rumo conscientizao da abundncia. Atravs de Jesus ela curou muitos dos males que afligiam aquela gente, alimentou multides com alimento real e ressuscitou os mortos. Atravs de Paulo, ergueu uma parte da humanidade acima dos profundos pesares e persecues, para a Cristo-conscincia e a liberdade espiritual.

    A conscincia espiritual nos eleva para acima de toda forma humana de limitao e nos permite um sentido mais amplo da vida, da sade e da liberdade. Onde houver esta conscincia espiritual, no haver escravido a pessoas, lugares ou coisas, e no haver limitaes para nossas realizaes.

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    At onde se saiba, Jesus nunca deixou uma palavra escrita e, contudo, seus ensinamentos so os fundamentos morais e ticos de boa parte da humanidade. Muitos outros videntes deixaram apenas as palavras ditas a seus seguidores, embora, pelo seu poder intrnseco, tais mensagens tenham se tornado guas vivas durante pocas sem conta. A sabedoria dos tempos, propalada por homens e mulheres espiritualmente iluminados, que nunca sonharam que seus pensamentos corressem em volta da terra e influenciassem a vida e a conduta das pessoas, no est confinada no tempo e no espao. O pensamento crstico1, que preenche sua conscincia, dela irradia como crculos na gua atingida por uma pedra, criando crculos cada vez maiores, at atingir toda a humanidade. Sim, a conscincia espiritual tem aplicao prtica. Nosso desejo de abundncia, contudo, deve ser o desejo de abundncia para outros, antes que possamos ter a experincia da graa, que o presente de Deus.

    A meditao a porta para o mundo da Alma, e a inspirao o seu caminho. Quando aprendemos a ficar cinco ou dez minutos cada manh, tarde e noite, sentados em silncio com os ouvidos "de ouvir"; quando nos voltamos para dentro de ns mesmos e aprendemos a esperar pela "pequena voz silenciosa", adquirimos o hbito da meditao e desenvolvemos a habilidade nesta tcnica, at que sejamos possudos pela inspirao e que ela nos leve para o cu de nossa Alma. Este o princpio de nosso novo nascimento, e aqui aprendemos a nova linguagem do Esprito. E a vida comea a ter um novo significado.

    1 Adotamos o neologismo "Crstico" e seus derivados dos escritos do Prof. Huberto Rohden. (N. do T.)

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    C A P T U L O V I

    A meditao

    Meditar significa: "fixar a mente em"; "pensar em algo ininterruptamente"; "contemplar"; "envolver-se em reflexo contnua e contemplativa"; "deixar-se ficar mentalmente em alguma coisa"; "remoer"; "cogitar".

    Em linguagem espiritual, meditao orao. A orao verdadeira, ou meditao, no pensamento voltado para ns mesmos ou para nossos problemas; antes a contemplao de Deus e de Suas obras, da natureza de Deus e do mundo que Deus criou.

    Todo mundo deveria reservar algum tempo, diariamente, para se recolher a um canto quieto e meditar. Durante este perodo deveria voltar seu pensamento para Deus, ponderar a sua compreenso de Deus e buscar uma compreenso mais profunda da natureza do Esprito e de Suas formas. Deveria tomar o cuidado de no levar para o estado meditativo problemas seus ou de outros. Este um momento especial, parte, dedicado e consagrado reflexo sobre Deus e Seu universo.

    Deus a Alma e a Mente de todos os indivduos e, por isso, possvel a todos ns sintonizarmos com o reino de Deus, receber as divinas mensagens e promessas e os benefcios do Amor infinito. A Graa de Deus que recebemos nestes momentos de meditao ou orao se nos torna tangvel na forma de preenchimento das chamadas necessidades humanas. Se, porm, ns no abrirmos a nossa conscincia para recebermos a compreenso espiritual, no teremos de ficar surpresos se no experimentarmos nenhum bem espiritual na vida cotidiana. E no h outro caminho para abrirmos nossa conscincia para o reino da Alma a no ser pela meditao ou orao, atravs da contemplao das coisas de Deus. "Tu manters em perfeita paz aquele cuja mente est fixada em ti."

    Durante o dia todo, nossos pensamentos esto voltados para as atividades da vivncia humana, nos cuidados e deveres para com a famlia, nos ganhos necessrios ao sustento, nos negcios sociais e comunitrios e, por vezes, at nos grandes negcios de Estado. No pois natural que durante o dia ou ao anoitecer nos disponhamos a nos retirar por um tempinho para as profundezas de nossa conscincia, que o Templo de Deus, e aqui nos envolvermos com as coisas de Deus? E, acima de tudo, temos de desenvolver o sentido de receptividade, de modo a nos tornarmos sempre mais cientes da presena real de Deus em Seu templo sagrado, que a nossa conscincia. No lugar secreto do Altssimo, do Santo dos Santos, que a nossa prpria conscincia profunda, ns recebemos a iluminao, a direo, a sabedoria e o poder espiritual. "Na confiana e na quietude estar vossa fora."

    Quando aprendemos a ouvir a "pequena voz silenciosa", o Esprito de Deus abre nossa conscincia para o reconhecimento imediato do bem espiritual. Somos ento preenchidos com as divinas energias do Esprito, iluminados pela luz da Alma; recebemos o refrigrio das guas da Vida e alimentados pelo po que no perece. Este alimento espiritual nunca negado queles que aprendem a encontrar Deus no templo de seu ser.

    Para recebermos a Graa de Deus, devemos nos retirar do mundo dos sentidos, aprender a silenciar os sentidos materiais e nos encontrarmos com Deus. Deus deve se tornar, para ns, uma realidade viva, uma divina presena, o Esprito Santo em nosso ser; e tudo isso s pode nos acontecer quando tivermos aprendido a meditar, a orar e a contemplar Deus.

    Pela meditao, nos tornamos conscientes da presena do Cristo, e esta percepo permanece conosco durante todo o dia e a noite toda, mesmo que estejamos lidando com as coisas de nossa existncia humana. Esta percepo permeia toda nossa experincia e faz prosperar todos nossos

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    empenhos. Esta conscincia do Cristo a luz para os nossos passos e uma estrela guia para nossas aspiraes. a Presena que caminha nossa frente e aplana nossos caminhos. uma qualidade em ns que nos torna compreendidos e apreciados pelos nossos semelhantes.

    Ao acordar pela manh, e de preferncia antes de sair da cama, volte seus pensamentos conscientizao de que "Eu e o Pai somos um... Filho... tudo que tenho teu... O lugar onde ests solo sagrado"; e deixe ento que o significado disso se desdobre de dentro de sua prpria conscincia. Alcance a convico de sua unidade com o Pai, com a Vida universal, com a Conscincia universal. Sinta a infinitude do bem dentro de voc, que a evidncia da sua unidade com a infinita Fonte de seu prprio ser.

    To logo sinta uma emoo, um estado de paz profunda ou uma onda de Vida divina, levante-se e faa os preparativos fsicos para o seu dia. Antes de sair de casa, sente e pondere sobre sua unidade com Deus.

    A onda uma com o oceano, indivisvel e inseparvel do oceano como um todo. Tudo o que o oceano , a onda ; e todo o poder, a energia, toda a fora, toda a vida e substncia do oceano esto expressas em cada onda. A onda atinge tudo o que est sob si mesma, pois que a onda de fato o oceano, assim como o oceano a onda, uno, inseparvel, indivisvel. Notemos aqui um ponto importante: no h um lugar onde uma onda termine e outra onda comece, de modo que a unidade da onda com o oceano subentende a unidade de uma onda com a outra.

    Do mesmo modo que a onda una com o mar, assim somos um com Deus. Nossa unidade com a Vida universal constitui nossa unidade com cada expresso individual desta Vida; a unidade com a divina Conscincia a unidade com cada concepo desta Conscincia. Assim como a infinitude de Deus brota atravs de voc para abenoar todos aqueles com quem se relaciona, lembre-se de que tambm transborda de todos os outros indivduos sobre voc. Ningum compartilha com voc qualquer coisa que seja seu mesmo, pois tudo o que tem do Pai; assim tambm tudo o que voc tem do Pai, e voc o compartilha com o mundo. Voc um com o Pai, com a Conscincia universal, e tambm um com cada idia espiritual abarcada por esta Conscincia.

    Se pudermos apanh-la, esta uma idia poderosa. Significa que o que do seu interesse o tambm para todos os indivduos do mundo; significa que aquilo que interesse dos outros o tambm para voc; significa que no temos interesses separados uns dos outros e mesmo que no temos interesses separados dos de Deus; significa de fato que tudo o que o Pai tem tambm nosso e tudo o que ns temos para o benefcio de todos, e o que os outros tm tambm para nosso benefcio, tudo isso para a glria de Deus.

    Esta idia deve desdobrar-se dentro de ns de maneira prpria. Deve, aos poucos, dia aps dia, assumir formas diferentes, e sempre com significados maior por causa da infinitude da Conscincia. Pode observar como uma rvore tem muitos ramos, e como cada ramo um com o tronco e, por isso, um com a raiz, e a raiz da rvore uma com a terra, e retira dela tudo o que a terra tem a oferecer, e, alm disso, que cada ramo no s um com a rvore toda, mas tambm com cada outro ramo, como partes interligadas do todo.

    Ao ponderarmos esta idia de nossa unidade com Deus e com cada conceito individual do esprito, surgiro em ns novas idias, novas imagens e smbolos originais. Terminando esta meditao matinal, acharemos que sentimos realmente a presena de Deus dentro de ns; sentiremos de fato a divina energia do Esprito; sentiremos surgir uma vida nova dentro de ns; e isso nos levar ainda a outros pensamentos.

    Sempre que vamos de um lugar para outro, como quando deixamos nossa casa para ir ao trabalho, ou do trabalho para ir Igreja, ou desta para voltar para casa, paremos por uns momentos para perceber que a Presena andou nossa frente para preparar o caminho, e que esta mesma Presena divina ficou atrs de ns como uma bno para todos que passam pelo mesmo caminho. No incio, poderemos esquecer de fazer isso diversas vezes ao dia, mas, exercitando nossa memria,

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    isso se tornar provavelmente uma atividade habitual em nossa conscincia, e ento no mais caminharemos sem sentir a divina Presena sobre e atrs de ns, e assim ns seremos a luz do mundo.

    Um dos assuntos que mais nos preocupa nestes ltimos anos a paz, embora tenhamos bem pouca esperana numa paz duradoura baseada em qualquer documento ou organizao humanos. Realmente, estes tm um propsito e so uma etapa necessria para os seres humanos, assim como os Dez Mandamentos foram uma etapa necessria at que fossem substitudos pelo Sermo da Montanha com sua viso superior. Ns no precisamos dos Dez Mandamentos, pois ns no precisamos de exortaes para no roubar, mentir ou fraudar, nem precisamos de ameaas de punio para nos mantermos honestos, limpos e puros; no entanto, os Dez Mandamentos so necessrios para aqueles que ainda no aprenderam a justia como fim a si mesma.

    Do mesmo modo, o mundo est grandemente necessitado de algum tipo de organizao ou documento humanos para manter alguma forma ou alguma medida de paz no mundo. Mas a paz verdadeira, definitiva, s vir como veio para cada um de ns individualmente, pela percepo de que no precisamos de qualquer coisa que outros tenham e, por isso, no h motivos para guerrear. Tudo o que o Pai tem nosso. Que mais poderamos querer alm disso? De fato, como co-herdeiros de Deus com Cristo, poderamos alimentar cinco mil a cada dia, sem sequer nos preocuparmos de onde o alimento viria.

    Quando toda a humanidade atingir esta conscincia de sua verdadeira identidade, no mais haver guerras, competio, conflitos. Ganhando a plena conscincia de nossa verdadeira identidade, o demonstraremos por um maior senso de harmonia, de sade e sucesso, e atrairemos a ns, um a um, os que buscam o mesmo caminho. Desse modo, todos os homens sero por fim conduzidos ao reino dos cus.

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    C A P T U L O V I I

    A orao

    Vos pedis, e nada recebeis, pois pedis mal", disse o Apstolo Jaime. J se deram conta de que, por algum tempo, oraram e no obtiveram resposta s suas oraes? "Pedis errado." Esta a razo.

    A orao, baseada na crena de que h uma necessidade ou um desejo insatisfeitos, nunca ser consoante com a verdadeira orao cientfica. Uma orao para que Deus faa alguma coisa, mande ou fornea algo, ou cure algum, no tem nenhum poder. Cremos, por vezes, que Deus precise de um canal atravs do qual ven