O Campo No Japao Um Pequeno Ensaio Sobre

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Campo Japão

Citation preview

  • Ponto Urbe16 (2015)Ponto Urbe 16

    ................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    Gil Vicente Nagai Loureno

    O Campo no Japo: Um Pequeno EnsaioSobre a Noo de Casa e o Parentesco................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    AvisoO contedo deste website est sujeito legislao francesa sobre a propriedade intelectual e propriedade exclusivado editor.Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digitaldesde que a sua utilizao seja estritamente pessoal ou para fins cientficos ou pedaggicos, excluindo-se qualquerexplorao comercial. A reproduo dever mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e areferncia do documento.Qualquer outra forma de reproduo interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casosprevistos pela legislao em vigor em Frana.

    Revues.org um portal de revistas das cincias sociais e humanas desenvolvido pelo CLO, Centro para a edioeletrnica aberta (CNRS, EHESS, UP, UAPV - Frana)

    ................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    Referncia eletrnicaGil Vicente Nagai Loureno, O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco,Ponto Urbe [Online], 16|2015, posto online no dia 31 Julho 2015, consultado o 13 Outubro 2015. URL: http://pontourbe.revues.org/2717; DOI: 10.4000/pontourbe.2717

    Editor: Ncleo de Antropologia Urbanahttp://pontourbe.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em:http://pontourbe.revues.org/2717Documento gerado automaticamente no dia 13 Outubro 2015. NAU

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 2

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    Gil Vicente Nagai Loureno

    O Campo no Japo: Um Pequeno EnsaioSobre a Noo de Casa e o Parentesco

    To reach a house, you must first enter the gate. The gate is a pathway leading to the house.After passing through the gate, you enter the house and meet its master. Learning is the

    gate to reaching the Way. After passing through this gate, you reach the Way. Learning isthe gate, not the house. Dont mistake the gate for the house. The house is located farther

    inside, after the gate is passed. Heiho Kaden Sho, Yagyu Munenori.1 Vivi por quase trs anos no Japo, de 2012 ao incio de 2015, juntando algumas visitas

    entrecortadas. Por um lado esses quase trs anos, obviamente, no so suficientes para umacompreenso satisfatria da Cultura Japonesa, pelas suas profuses, suas conexes complexascom outras culturas, suas dobras e multiplicidades. E sempre algo me escapa, pela razo deno ter sido criado nesta cultura, no ter nascido e crescido no Japo, embora pudesse tersido criado em outra cultura japonesa fora do territrio japons. No obstante, com o sensode humildade decorrente das dificuldades ao longo do caminho, os anos vividos no Japome abriram os olhos para uma compreenso um pouco mais ampla sobre uma dada operaode parentesco e uma srie de operaes scio-antropolgicas na prtica. Neste tempo, tivecontato com inmeras pessoas relacionadas a artes marciais japonesas, desde japoneses epessoas nascidas em outros contextos e culturas, alm de conviver e ter uma possibilidadede saber sobre diversas solues tanto nativas quanto outras a respeito do que significaestar no Japo e se relacionar nos meios dos caminhos marciais. Desses encontros e conversas,compreendi em forma fragmentria, pouco a pouco, como as ptalas das flores de Sakuracaindo levemente ao sabor do vento no incio da primavera japonesa, que este trabalhohaveria de ser mais longo do que o tempo de pesquisa. Muitas pessoas vivenciaram, muitospesquisadores passaram e passam suas vidas estudando sobre o que estudei no Japo, a saber,sobre a noo de Ki e suas relaes com a prpria condio de ser humano; portanto, comofazer uma cincia de algo to fugidio e ao mesmo tempo to presente em tudo e todos, sendouma forma de dobra mltipla entre natureza e cultura?

    2 Neste artigo veremos reflexes em carter de ensaio mais do que concluses acabadas.Tomaremos as relaes dadas no Kendo [esgrima japonesa] como matria de reflexo, edentro dele alguns termos importantes como guias neste caminho, a saber, o conceito de Casa,relacionado ao conceito de Ie [casa japonesa] e Dojo [salo de treino] e outros correlatos noo e construo do corpo, passando por uma interpretao inicial dos dados por meio doparentesco. O plano do artigo apresentar os dados sobre esses conceitos e procurar relacion-los.

    Ser e se tornar3 Trabalhei tanto no Brasil quanto no Japo coletando dados dentro dos ginsios de

    treinamento de Kendo e, naturalmente, treinando. Isso precisa ser compreendido para seentender sob quais condies o presente estudo foi realizado. Treinar Kendo era e o modopertinente de se falar sobre ele, e a respeito das relaes que se estabelecem no seu meio. Eisso importante menos pela questo da teoria do Kendo que interessa menos a antroplogosdo que a kendocas do que dos modos de se fazer relaes, e relacionalidades1. E, no mais,isso importa porque o Kendo se trata de um caso particular de se atualizar uma japonesidade,ou seja, um modo de se demonstrar um tornar-se que ocorre sobretudo no Japo mas noapenas l.

    4 Ao viver no Japo, descobri que existe uma mirade de modos de subjetivao bastantedistintos entre si e que se ligam com uma constelao de culturas e prticas variadas. Serjapons neste sentido coloca um problema e um limite. Qual o modo pelo qual uma pessoa setorna japonesa? E em segundo lugar, qual seria o ideal a partir do qual teramos uma matriz decomparao? Afinal, existem processos de subjetivao diferentes, que rotulados por termos

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 3

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    amplos como sociedade, nacionalidade, cultura colocam mais problemas do que os resolvem.Simplificando as coisas, tudo depende do lugar na qual essa mesma pessoa est e faz. E dentrodos caminhos marciais, existem modos especficos de subjetivao que sequer passam peloJapo ps ou supra moderno dos eletrnicos de Akihabara ou dos custos exorbitantes dasgrandes marcas multinacionais de Ginza ou ainda da vida capitalista consumista, ligada a umway of life amrica-japonizado. Para algumas pessoas, o ser japons ser trabalhador de umagrande companhia como Hitachi ou Mitsubishi, ir a Nomikais2 depois do expediente e ver afamlia por uma ou duas horas ao dia. Por outro lado, ser japons, para outras justamentequerer viver em paz, estar em contato com essas prticas indgenas, antigas, por meio das quaisse opera um devir, ou um tornar-se. Ter o passado como futuro. Naturalmente isso no querdizer negar o presente; as pessoas continuam a ter smartphones, laptops e outras muitas coisasdo mundo capitalista.

    5 Vrias das pessoas com as quais tive contato durante a pesquisa no Japo se inserem nestesegundo grupo [incluindo no japoneses]. E, apenas para efeito comparativo, outras pessoas cuja lei lhes confere o estatuto de japoneses se ligam a outras culturas, outros modosde subjetivao que pouco teriam a ver com o Japo. Temos de reconhecer esse ponto, umavez que simplesmente dizer que o Japo isso ou aquilo, e que todos so japoneses noreconhecer as especificidades locais. Assim como seria impossvel no caso do Brasil e deoutros tantos pases descartar as realidades regionais e locais muito diversas entre si, ondepodemos notar toda uma constelao de modos de ser e meios de se tornar, assim o seria parao caso do Japo, e de modos de subjetivao diferentes presentes no arquiplago.

    6 Do ponto de vista de uma antropologia, da qual sou representante, poderamos reconhecer umadefinio de Japons, dentro da Cultura Japonesa, por meio de trs pontos. Em primeiro lugar,um principio hierrquico subjacente a organizao social japonesa; em segundo, pela palavranativa e em terceiro, pelo parentesco. H japoneses e japoneses, diria o senhor Morishima[2010]. Logo, seguimos apenas os nativos. E que se pese, h alguns japoneses no japoneses.E h no japoneses, japoneses. Portanto, ficaremos com uma definio provisria de Japonsenquanto uma adjetivao, positiva. E discorreremos sobre os casos que podem ser alinhadosem modos de transformao que pressupem o Japo enquanto horizonte, sendo este horizonteum presente prximo ao passado heroico.

    7 Antroplogos avaliam e comparam cultura[s]. E a cultura de outrem pode muito bemcomportar a diferena, como o caso para vrias. E o modo como lidar com a[s] diferena[s]parece ser questo importante. E o parentesco, entre outras coisas, pode ser visto como umamquina de se fazer gente. Que essa mquina tenha verses diferentes e peas antropolgicasmais adequadas ou menos para descrever o seu funcionamento, no significa que percasua importncia como modo de se construir gente, e sobretudo relaes que no se limitam aindivduos/ famlias, e que s vezes sequer passam pelo sangue como critrio de necessidade.

    Kendo uma mquina para o passado?8 Para comear, o Kendo3 palco de discursos mticos e rituais sobre o modo de conduo moral

    de seus praticantes, a saber japoneses, descendentes e no japoneses. Desenvolvi pesquisa decampo em Associaes Japonesas no Brasil e em locais nos quais se apresentava essa prticano Japo. O Kendo significa o Caminho da Espada e se trata de uma modalidade de esgrimajaponesa na qual usada uma armadura e espadas de bambu para os combates, compreendendosries de movimentos corporais e um cdigo moral, resumido no Bushido4, vivenciado pelospraticantes5. Isso no quer dizer que as pessoas coloquem esse cdigo sempre em aplicaoe que isso seja sempre passvel de observao. O cdigo por si apenas um indicativo paraum problema e pode ser visto apenas como modo sinttico de resumir em um plano inteligveluma dada ideia de japonesidade vivenciada por essas pessoas.

    9 Essas prticas, embora ocorram em todos os lugares do Japo e em muitos pases em todos oscontinentes6, tm certas especificidades que as localizam mais prximo a um passado heroicojapons. E isso razo suficiente mas no necessria para que muitas pessoas adentremnesses espaos de treino procurando por esse passado. Vistas por dentro, as relaes so maissutis. Por exemplo, em um Dojo que pratiquei em Tsuchiura e que continuo a praticar quando

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 4

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    possvel, o Sensei [70 anos, 8o Dan, ex-tcnico de Kendo aposentado da polcia de Tquio,a famosa Keishicho7, ou Polcia Metropolitana de Tquio] dono de seu prprio Dojo, mestreem Ittoryu, com Menkyo-Kaiden8, ministra aulas de Kendo para crianas, adolescentes, paise interessados em geral. Em primeiro, as famlias acompanham os treinamentos, significandoque mes e pais assistem, alm de ajudar na limpeza, no servir o ch e demais acomodaes.Em segundo, O Dojo habitado por parentes, vivos e mortos. Vivos, que o visitam por causade seus filhos e das relaes com o Sensei. Mortos, por causa das fotos dos Senseis que estodependuradas nas paredes, constando parentes no geral e mestres de linhagens, e vivos nopresentes, como fotos de crianas que passaram por esse espao, indicando uma linhagem deformao que no pra no Sensei, mas se distende para o passado e para o futuro igualmente,sendo ele o cruzamento de diversos caminhos, de muitas pessoas. Decorrem duas coisas nestemomento, que analisaremos a seguir: a posio social do professor [e as pessoas relacionadasa ele] e seu espao de ensino, o Dojo.

    Sobre os espaos de treino Dojo 10 No Japo, existe uma grande estrutura para treinamento de artes marciais, em praticamente

    todos os lugares e cidades. Normalmente os grandes estdios para artes marciais so chamadosde Budoukan9 [salo para a prtica de artes marciais], e dentro destes, existem os Dojos, ousales de treinamento. Por outro lado, existem Dojos locais e famosos no Japo, de variadostamanhos, dependendo da fama e histria dos professores sucedneos, contemporneosou passados. Na cidade de Tsukuba, onde estive, existe um grande Budoukan dentro dauniversidade, como o caso em vrias universidades que visitei, e em escolas secundriasencontramos esses sales em escala reduzida, uma vez que o curso de Kendo eletivopara os estudantes. Nos departamentos policiais nos quais estive, e em algumas empresas,encontramos esses sales de treinamento

    11 Fiz o trabalho de campo nos Dojos . Esses espaos de treinamento so ginsios para aprtica de artes marciais, possuindo um piso de madeira especial, inscries nas paredes, e ofamoso Kamidana, um pequeno oratrio de madeira delicado e finamente ornamentado, ondeest presente uma das noes de divino para o Shinto [Kuroda 1981]. Estes lugares so tratadoscom zelo e esmero pelas pessoas. Sempre, e todo dia de treino ele limpo ao incio e ao final,seja por crianas ou por adultos. Normalmente, se existem crianas elas fazem a limpeza; casono, os adultos. Frequentei diferentes Dojos com diferentes pblicos, tanto de crianas, jovens,adultos, japoneses e com presena de no japoneses.

    12 Sobre os Dojos japoneses notamos que s vezes eles so verdadeiras extenses das Casasjaponesas, principalmente quando se tratam de locais fixos ou de propriedade de um Sensei.Propriedade de fato algo difcil de argumentar uma vez que eles contam com doaes dedinheiro para sua construo, doaes essas feitas por empresas ou pessoas fsicas, alm dofato de serem utilizados por um pblico relativamente amplo, e cuidado por essas pessoas.Neles tambm ocorrem pequenas confraternizaes, conversas e naturalmente treinamentos.H Dojos famosos pela sua histria, por exemplo, o famoso Dojo do templo Kashima10, emIbaraki, templo dedicado s artes marciais e que sempre recebe peregrinaes de praticantesde artes marciais no ano novo japons11, e durante todo o ano12. O templo dedicado divindade chamada de Takemikazuchi no Kami13, ou divindade da tempestade, do trovo e daespada. Alm de ser esse o Templo no qual Tsukahara Bokuden, o santo da espada atingiua iluminao [Sakai 2010] e no geral dedicado s artes marciais.

    13 Somando-se a isso, no Kendo e em todas as outras prticas japonesas, note-se, h umahierarquia bsica que organiza as pessoas. Em primeiro lugar os professores (Sensei)14, emseguida os alunos mais antigos (Senpai)15 e os praticantes iniciantes (Kouhai)16. Este sistemahierrquico primrio base de grande parte das hierarquias no Japo, vindo a funcionar emmuitas relaes, desde empresas, escolas, universidades e doravante nas prticas marciais ouBudo17, ao menos de acordo com minha experincia e a de meus informantes. O professor aquele que ministra as aulas e tratado com deferncia, pois responsvel pelos ensinamentose tambm pelas pessoas que treinam no local, alm de possuir as credenciais para o ensino.Ora, esse princpio importante e liga o passado ao futuro. Existem linhagens de escolas e

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 5

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    professores no Japo, e pesa sobre cada atitude o entendimento, mesmo que inconsciente,sobre essa ligao de mestre e discpulo. E a responsabilidade correlata a essa vinculao. OsSenpais so os mediadores entre os novatos e os Senseis, e por fim, os novatos. Sobre isso,ver Loureno [2014].

    14 Ora, o sistema Sensei, Senpai e Kouhai de grande importncia para se entender a prpriaestrutura social japonesa, tal qual amparado em minha experincia de campo no Japo e emquestionamentos junto aos meus informantes. Este sistema hierrquico primrio o primeiroe mais presente sistema de organizao social no Japo, existindo em todos os lugares nosquais tive a chance de observar. Infelizmente poucos trabalhos citam en passant esse tipo derelao e nenhum acadmico, ao menos at este momento. Grande parte dos outros sistemas seutiliza dele em lgica parecida e seu funcionamento leva em conta basicamente a regncia datemporalidade. Quanto mais tempo em uma dada atividade, tanto mais uma pessoa deve saber.E ensinar. Em segundo lugar, ele operante em grande parte das relaes japonesas de ensino-aprendizado-trabalho. O que quer dizer que em muitos lugares e relaes onde haja troca oudiferena de conhecimentos, e onde haja diferena de idade, esse sistema pode operar.

    15 Dentro do Japo, ao que parece as pessoas se tornam japonesas tambm. E sob certo ponto devista, elas podem tambm no se tornar, quando desejam viver sob outras lgicas. Mas aindasim, esse sistema vlido. verdade que ele pode ser modulado e/ou diminudo em seu teor eoperao, principalmente nos casos onde se coloca em xeque a posio ou validade do ensinodo Senpai, mas permanece como um sistema de organizao de grande parte das prticassociais. A K. Sensei me disse vrias vezes sobre como eu era mais japons do que muitaspessoas que ela conhecia. O caso do Abe-san comeou a demonstrar isso; no meu treinamentosemanal, no cuidado com que eu tratava as pessoas, no conhecimento sobre alguns rituaisjaponeses. Isso causava surpresa a essas pessoas, a tal ponto de eu ser tratado e naturalizadocomo uma pessoa em parte do Japo. Eu no era apenas o Gil do Brasil; ainda era, mascomeava a me tornar o Jiu Chuva bem-vindado Kendo e do Iaido que estudava o Kie a Cultura Japonesa. De certo modo fui inserido em um sistema de parentesco japons e nahierarquia de correlao Sensei, Senpai e Kouhai. Vejamos alguns exemplos.

    Parentesco que faz parentes16 Dido San, 38 anos, de nacionalidade italiana, casado no Japo com japonesa, dois filhos, foi

    um dos Senpais que encontrei ao longo dos treinos, e que possui uma histria longa no Japo.Viveu cerca de oito anos l, vindo a estudar lngua e Cultura Japonesa em Tquio e passoua trabalhar no Japo; de acordo com nossa conversa, ele foi motivado pelo Kendo. Em certomomento ele conheceu I. Sensei e passou a estudar Ittoryu18, e isso mudou algumas coisas queele via no Japo pois passou a fazer parte de uma grande famlia, em suas palavras. Disse-me que, vindo da Itlia, foi uma coisa muito boa encontrar um professor como o I. Sensei,porque logo ele passou a se sentir em famlia, visto que alm de exmio espadachim, tem umcorao aberto e receptivo a quem deseja aprender. Alm disso, I. Sensei foi a convite de Dadopara a Itlia, para ministrar seminrio, e isso marcou a relao de responsabilidade de I. Senseipara com os italianos praticantes e mais especialmente com Dado, que se tornou praticamenteum filho para I. Sensei.

    17 M. Ishikatsu, 38 anos, de nacionalidade inglesa, casado com japonesa, filho recm-nascido,trabalhando em High School japonesa como professor de Lngua Inglesa. Vem para o Japoaps viver na Austrlia e l estudar, casa-se com a mulher que conheceu na Austrlia.Principalmente interessado em Kendo e artes marciais, passa a ter famlia e trabalho no Japo,fazendo com que fixe residncia em Kanagawa. De acordo com M., a vida no Japo foi possvelpela famlia que cultivou e pelo interesse em artes marciais, alm de desejar viver l em razoda esposa e da criana. Disse-me ele que o Japo seria engraado porque voc sempre pareceestar em famlia: em casa, no Dojo de Kendo, at mesmo em Isakayas [bares] com amigos.Isso, segundo ele, era uma das coisas que ele gostava. Alm disso, ele faz uma mudana emseu sobrenome, recebendo o Ishikatsu de sua esposa. Uma das razes para isso a questoda nominao do filho, uma vez que para que a criana receba o sobrenome composto, preciso que o pai tambm tenha o mesmo sobrenome. A composio de sobrenomes deve ser

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 6

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    feita na prefeitura local [para mudana do sobrenome do esposo, no caso]; o Ministrio daJustia apenas acionado em caso nos quais a esposa solicite a mudana de sobrenome ou acomposio de novo sobrenome. Isso pode ocasionar a fundao de um novo ramo familiar.

    18 A. Fisherman, 28 anos, ingls, casado com japonesa, dois filhos, trabalhando em loja desuprimentos de Kendo em rea de vendas internacionais. Vai para o Japo em 2009 para seaprimorar no Kendo e acaba conhecendo a esposa. Diz que o Japo o melhor lugar para ter otipo de vida que ele tem, a saber, de cuidar da famlia, de treinos e de trabalho e espera viverpor l mais anos, e se sagrar campeo europeu de Kendo em um futuro possvel. Reconheceque preciso ter algo dentro do corao para desejar morar no Japo e ele se sente como setivesse um corao japons, de tanto que gosta de viver e aprender. Diz que a vida no foi fcilno incio, mas motivado pelo Kendo e pelo desejo, aprendeu a amar o Japo.

    19 G. MacCallinghan, 40 anos, escocs, professor de ingls, casado com japonesa, vive em Osakah 10 anos. Veio como estudante de Cincias de Computao pelo Monbukagakusho, mas arazo de fundo, disse ele, foi pelo Kendo. Ele mantm um website com informaes e traduesem ingls de textos famosos, sendo uma referncia importante no meio do Kendo por fazer atraduo desses textos e por dar diversas dicas sobre os treinamentos no Japo, sendo tambmeditor de alguns livros sobre assuntos correlatos a artes marciais. Tivemos uma entrevista em2013, quando ele me disse que de fato adorava viver no Japo e treinar l, porque isso no eraestranho para ningum. De acordo com ele, o ponto importante possuir um esprito japonse que isso algo possvel, e tem a ver com confiana no que se est fazendo e vivendo e, alm,essa no seria uma qualidade unicamente japonesa, uma vez que eles prprios precisam seesforar para se tornarem japoneses.

    20 Todas as quatro narrativas aqui destacadas so de homens de pases europeus casados comjaponesas, a maioria com filhos. Este recorte no intencional uma vez que tenho no bancode dados cerca de trinta e cinco por cento de testemunhos de mulheres, uma grande partecasada ou com relaes com japoneses. Por outro lado neste momento apenas destaquei algunstestemunhos que colocam em centralidade a questo da famlia19 e a anlise trar em minha teseos testemunhos relacionados por um recorte de gnero. Bem, como juntar essas experinciasem algo inteligvel?

    Sobre a casa e o Dojo construo de um modelo21 A noo de casa possui uma conotao importante no caso das prticas de caminhos marciais,

    uma vez que ela se trata de uma metfora para a operao do parentesco e para uma noode corporalidade para os japoneses. E por conseguir comportar em seu sentido um conjuntoimportante de experincias. Apenas um comentrio sobre a noo de casa20 as modalidades detreinamento se do em espaos nos quais Senseis orientam. Esses professores no raro tratamseus alunos como filhos e vemos relaes de afeto nesses espaos, no apenas obrigaesrelativas ao treinamento. Sobre a casa, duas coisas so importantes o espao interno ea disposio dos elementos que retraam o parentesco e naturalmente as relaes que seestabelecem, com os vivos e os mortos.

    22 Segundo Lvi-Strauss [1986: 186-187] na Europa e noutras partes do mundo como noJapo as casas medievais apresentam exatamente as mesmas caractersticas, definindo-se pela posse de um domnio composto de riquezas materiais e imateriais as Honras entre as quais se situam at mesmo tesouros sobrenaturais. E o importante que, para seperpetuarem, as casas apelavam amplamente para o parentesco, quer se trate de alianaou de adoo. Na falta de herdeiros masculinos, e por vezes em concorrncia com eles, asirms e as filhas podiam assegurar a transmisso dos ttulos [Lvi-Strauss 1986: 186-187],[1981: 153 e seguintes]. Pensamos que este modelo pode ser adequado para se pensar o modocomo o Dojo enquanto modalidade da Casa Japonesa pode render em uma interpretaoantropolgica. Sobre isso, consultar Loureno 2010a: 76-101, 2010b, justamente pelo motivode que a noo de Casa aplicada ao Dojo apresentou modalidades possveis de diversificaoda relacionalidade-parentesco [Machado 2006 a; 2006b, 2011; 2014], [Carsten 1995, 2004]e notamos nos contextos etnogrficos que a teoria da Casa [Lvi-Strauss 1981, 1985, 1986,1992]; [Carsten & Hugh-Jones 1995] e Casa-Dojo [Loureno, idem] ainda operante. Sobre

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 7

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    as devidas relaes e a aplicao deste modelo, ver Loureno [2014]. Sobre desdobramentossobre ele e a utilizao em nosso laboratrio no Brasil, ver Machado [2013].

    Ie e casa sobre parentesco23 Em primeiro lugar, o Ie ou a casa japonesa enquanto um problema de parentesco

    trouxe dvidas nos modelos utilizados at ento, principalmente formulados por europeuse americanos [Shimizu, 1991]. No Japo normalmente o Kazoku entendido como famlianuclear e o Ie, como a Casa, em sentido estrito. Porm, estudiosos de diversas reas dascincias sociais comearam a pesquisar o ambiente rural japons na dcada de 1930, quando osestudos clssicos sobre parentesco tiveram bastante influncia no Japo e passam a se centrarno conceito de Ie, uma vez que era um daqueles conceitos-chave que colocavam problemaspara uma teoria do parentesco. Dentre eles, se notou que o Ie apresentava problemas em relaoa parentes e no parentes, consanguinidade e afinidade; embora pudesse ser considerado comofamlia em sentido amplo, possua uma variedade de termos irregulares, tais como os citadosanteriormente, mais problemas decorrentes da primogenitura, adoo, chefia, entre outros[Idem: 378].

    24 Apesar de o Ie estar baseado na famlia, problemas no se solucionaram com as ferramentas deparentesco at ento utilizadas. Como uma regra, o filho mais velho deveria suceder o pai comochefe da famlia [Kazoku21]. Aqui, o Ie foi interpretado como uma descendncia patrilinear[Oikawa 1967 [1940]], apud Shimizu, [1991]. Aruga interpretou a partir da primogenitura,distinguindo os membros da famlia a partir da linhagem de sucesso, colocando de lado osparentes colaterais. No obstante esta soluo trouxe problemas em decorrncia, uma vezque outros parentes que no na linha de sucesso ideal, os chamados adopted sons in-law,como os sucessores adotados e os servos, como deveriam ser interpretados, se eram entendidosdentro do contexto familial japons como parentes? A soluo foi centrar nos primeiros [tantono caso de no ter filhos na linha de sucesso, quanto no caso de ter apenas mulheres] pormeio da prtica do muko [no caso do marido] yoshi [adoo], ou seja, ele se transformava emum filho adotado [Muko-yoshi]; ou seja, enquanto parentes adotados de acordo com o debate,eles poderiam concorrer linha de sucesso22.

    25 Por outro lado, os servos seriam ponto de disputa por algum tempo dentro da literatura eacademia japonesas [Nakano 1978-81 [1964]]; [Oikawa 1967 [1940]] Shimizu, [1991], umavez que eram incorporados casa e eram reconhecidos por meio de uma solidariedade familiar,e tornando-se membros das famlias e das casas de fato e de direito.

    26 Com a transformao e com o aumento das reas urbanas ou como se v no Japo, as reasrural-urbanas principalmente no ps-guerra, transformaes ocorrem mas em princpio, asrelaes a partir do Ie no foram profundamente transformadas, e o que se via em termos deconfiguraes de famlia e solidariedade familiar nas reas rurais se move e passa a funcionardentro de empresas e pequenos negcios familiares, por meio de uma formalizao dos laosde parentesco.

    27 Mas o debate e disputa entre as duas interpretaes feitas por Aruga e Kitano, sendo o primeiroque procurou interpretar o Ie em um meio mais sinttico, baseado na consanguinidade, e osegundo, por um modo mais amplo incorporando os afins continuou at meados da dcada de60, quando Nakane [1964, 1967, 1970] retorna da Inglaterra e procura aplicar os estudos emvoga nos anos 60, de onde se observam os conceitos principais de descendncia e famlia, epassa a duvidar que esses conceitos possam explicar o ie/dozoku. Esse o segundo movimentodos estudos japoneses sobre o ie/dozoku [Shimizu, ibidem]. Resumindo, ela diz que o Ie nopode ser interpretado como famlia e nem como famlia extensa, uma vez que a filiao nose faz pelo sangue/nascimento e seria dependente da residncia e economia locais.

    28 A terceira onda de estudos veio com as crticas ao trabalho de Nakane. Por exemplo, Gamo[1968, 1970] acusa Nakane de ver na famlia apenas uma decorrncia de um parentescobiolgico, centrado na consanguinidade e laos de sangue. Naturalmente os pesquisadoresliderados por Gamo rediscutiram as noes e conceitos de parentesco, e viram que muitosno eram adaptveis ao caso do Ie/Dozoku; tambm argumentaram que havia aspectos queno poderiam ser negligenciados. Gamo analisou smbolos importantes e reavaliou o Ie/

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 8

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    Kazoku, defendendo a ideia do Kamado, ou do corao da famlia. De acordo comas definies dadas por seus informantes, os filhos adotados e sucessores adotados eramconsiderados parentes da mesma forma que os de sangue. Alm disso, a unidade simblicado Ie incorporava amplamente os parentes por casamento e os parentes por adoo [Gamo1968; 1970]. Essa seria uma sada interessante, uma vez que aponta para uma linha de umparentesco social e relacional, diferentemente de um baseado no sangue. Esse ponto centralem minha interpretao, pois o que vi no Japo aparece em decorrncia do fato de que famliastradicionais incorporam estrangeiros, s vezes dentro de seu prprio parentesco e em muitoscasos dentro dos Dojos de artes marciais enquanto uma modulao do parentesco de fato.

    29 Portanto, sobre a noo de Casa. Ela parece ser til para pensar o caso do Ie/Kazoku, desde queconsideremos outros aspectos alm do quadro dado pelos grupos corporados de parentesco.Para o caso do Ie, quatro nveis podem ser considerados, de acordo com Shimizu [ibdem:385-86]: a entidade social chamada de Ie significa casa de habitao [diferentemente deKazoku que se refere a famlia nuclear] e percebida como independente de seus membros.Para cada casa h uma identificao com nome, status social e histria. Este aspecto Shimizuchama de Ie simblico e regula como ele incorporado e vivido nos membros e como eles seapresentam em suas vidas sociais. O outro aspecto, que ele chama de Ie incorporado [embodiedIe], se estabelece em dois nveis: hotoke ou os mortos, e os vivos organizados em gruposcorporados. Os mortos so alinhados em pares de casamento, e o sistema de status no Iecorporado seria modelado por esse alinhamento. Aqui, estes precedem os pares de casamentose antecedem os futuros chefes do Ie, que estabelecero por meio do casamento e da diviso detarefas entre os gneros a continuao e sobrevivncia da casa. Neste caso, h predominnciahierrquica do homem sobre o adotado, da criana nascida sobre a adotada, do homem sobrea mulher, mas dentro dos limites do parentesco, as regras para a adoo permanecem vlidas.Este modelo naturalmente focado em uma valorao do sangue, em detrimento dos laospossveis e arranjos manipulveis a partir do Ie. Esse foi um critrio elencado por Shimizu,levando em considerao seu estudo de campo de reas rurais no Japo ao final do Sculo XX,mas ele mesmo aponta que o Ie no pode ser somente interpretado tendo por base o sanguee, no mais das vezes, o sangue relegado como um dos aspectos, menor, em detrimento deoutros. Justamente essa hiptese, menor, a que me aproveito para pensar o Ie-Casa-Dojo. Deacordo com Shimizu, teramos o seguinte desenho:

    30 O primeiro ponto a se destacar seria qual a comparao possvel entre Dojo, Ie, e noo decasa a partir da estrutura cultural desenhada acima. Bem, em primeiro lugar, o Dojo podeser entendido como casa, de onde todas as demais relaes podem ser retraadas. O Dojosimblico estando em conformidade com as linhagens; o incorporado, por meio das relaes evinculaes levando em considerao as famlias e demais relaes. O sistema de status e por

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 9

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    conseguinte os membros e relaes. Em segundo, seria isso parentesco? Satisfaz as condies?Bem, as condies so satisfeitas e incorporaes so feitas, sendo que essas pessoas se tratampor meio do idioma do parentesco e mantm as atitudes coerentes com a vinculao.

    31 No caso de uma srie de Dojos no Japo, vemos algumas constantes que alinham a esseparentesco. A unidade bsica consiste em trs geraes: mais velhos, adultos seniores e jovens.Em segundo, os pontos importantes so o nascimento, a nomeao e a produo do corpopor meio dos treinamentos. Dentro do Dojo, temos apenas uma delas, que o treinamento para japoneses e s vezes a nomeao para pessoas que comeam a fazer parte de umDojo, quando em caso de no nascidos no Japo [em caso de nascidos no Japo, retraa-se apartir do sobrenome e nome]. Em terceiro e fundamentalmente, o caso japons mostra umadimenso de construo social do parentesco, no qual poderamos distinguir trs ou maismomentos de construo. A primeira, relativa ao parentesco por procriao; a segunda, porconstruo do corpo e do Ki [Energia corporal] e a terceira, por meio de um alinhamento emtermos ideolgicos e/ou simblicos.

    32 Sobre a primeira, teramos naturalmente a noo de nascimento e pertencimento a uma relaode famlia dada pela consanguinidade. Sobre essa, as relaes que iniciam a delimitar e fazer acriana, e seu corpo nomeao, alimentao, ritos religiosos etc. Sobre a segunda, parentescopor construo do corpo e do Ki, implica em que no Japo o nascimento por si s insuficientepara fazer das pessoas membros da sociedade: alimentao, ritos religiosos, grupos de faixasetrias e atividades conjuntas etc. Neste caso, diversas atividades habilitam o corpo e a pessoaa essa fase. E dentro dela que grande parte dos no japoneses incorporada, tanto a famlias[Dozoku], casas [Ie] quanto Dojos. Por fim, um parentesco ideolgico e/ou simblico, sendonesta etapa tambm que podemos ver no japoneses presentes. Nela, notamos um aparatosimblico que atesta a vinculao, como os emblemas da casa, os Senseis passados, as escolas[Ryuha: ], o pertencimento e filiao ao Sensei etc.

    33 Essas trs formas podem ser vistas como progressivas no tempo, embora possam tambm servistas como concntricas, como o caso de reas rurais do Japo e, ao que vem aparecendoem minha pesquisa, vlidas igualmente para Dojos de reas urbanas e companhias familiares.Embora o sangue tenha se tornado algo que define famlias no Japo moderno [ps-Meiji], porvrias razes e relaes, a dimenso do parentesco enquanto uma mltipla construo [alme aqum do sangue] ainda pode ser encontrada.

    Ainda sobre o parentesco Concluso34 A partir deste momento podemos ver que esta perspectiva diferente abre outras possibilidades

    para estudos posteriores, ou seja, o que se concebe como corpo, Seishin e Ki, pois isso fazcom que o parentesco e a anlise do parentesco funcionem. Ora, o corpo para os japoneses algo construdo, desde o nascimento at a morte. No se admite que uma pessoa se torneum membro efetivo da sociedade a no ser atravs de um trabalho incessante de formao docorpo [ao menos dentro dos caminhos marciais que tm esse horizonte heroico como destino].O Seishinpor outro lado, seria aquilo relativo mente, esprito, inteno. Esse termo noparece menor em relao ao corpo, sendo motivo igual de ateno e constante formao. O Ki por outro lado, indica a prpria noo de energia vital, em grande medida relacionada comelementos que no so levados em considerao em anlises do parentesco, como as relaescom a natureza no estanque e fixa, mas continuamente dobrvel sobre a cultura. O Ki tambm uma coisa fabricada em certa medida, por procedimentos repetidos constantemente nos locaisde treinamento. Ora, essas coisas efetuam uma dobradura mltipla entre natureza e cultura. Oque os analistas veem como parentesco ou como cultura, algo que se dobra constantementesobre a natureza. Admite-se que os corpos so diferentes, os espritos so diferentes, mas essadiferena no se situa na cultura ou na natureza, mas em ambas ao mesmo tempo. A questono um multiculturalismo [ocidente] contra um multinaturalismo [Amaznia] [Viveiros deCastro 2009], ou adaptaes entre consanguinidade e afinidade para poder comparar. Ambosso desdobrveis. Contra a diferena de corpos, a nutrio e as prticas. Contra a diferena deespritos, a nutrio e as prticas. Contra a noo de famlia nuclear, o desdobramento do Ie.A questo aqui no fabricar japoneses por si, de forma a ver japoneses em todos os lugares,

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 10

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    mas admitir que em certo sentido, apenas com um balano entre uma natureza desdobrvelna cultura e uma cultura desdobrvel na natureza, a vida social possvel. O parentesco possvel. Uma dada humanidade possvel. Como um equilbrio tnue.

    35 O que dado e o que construdo? [Wagner 2010] Ora, depende. Depende das relaes a partirdas quais o parentesco feito, a partir das dobraduras possveis entre natureza e cultura parao caso analisado no contexto japons. Tudo conta para esse parentesco, no apenas o sangue,o corpo ou a alma, ou a terra, a casa e as plantas - que tambm existem. O parentesco japonscoloca esse tipo de problema e dificuldade. Depende, talvez seja uma sada elegante. E sbia.

    36 Por outro lado, a ideia de mutualidade do ser [Sahlins 2011]; [Machado 2014] bastanteinteressante para pensar a forma pela qual relaes de parentesco se fazem no Japo, incluindono japoneses; pessoas que participam intrinsecamente nas existncias de outras pessoas,vivem as vidas de outras pessoas e compartilham das mortes de outras pessoas. Em sumae sobretudo, a experincia dessas pessoas mostra uma participao da e na vida das outraspessoas.

    37 O Ie pode ser construdo tanto social como genealogicamente. Pode ser interpretado comonfase no biolgico, no nascimento, no papel do homem e mulher, transformao do corpo, enos ancestrais e substncias, entre elas o espirito [Ki, Seishin], sangue, smen. Na etapa ps-natal: comensalidade, residncia, reencarnao, adoo, amizade, sofrimento compartilhado.E nas ideologias como escolas, linhagens, vinculaes, faixas etrias, deuses, espritos etc.Ora, vemos que a noo de Ie guarda e permite uma srie de operaes de parentesco naprtica. Longe de dividir, seria melhor justamente afirmar que essas etapas, concntricas, soparentesco/relacionalidade. E que esse parentesco se desdobra em seus membros. Japonesese no japoneses.

    38 Ora, o ser humano ou ningen um espao na pessoa. Um intervalo, preenchido poroutras pessoas, relaes, parentescos, substncias, moralidades, modos de vida, de agncia,de natureza, de cultura. O que seria o Ie, para um parentesco? Ora, muito provavelmenteum preenchimento por meio de interparticipaes mutuamente implicadas; um modo deorganizao e fabricao, desdobramento, mutualidade. Mais do que mutualidades de ser,talvez seria o caso de se pensar em mutualidades de se tornar parentes. Talvez aqui esteja odetalhe, que faltava aos tericos do Ie, e da noo de casa; e que provavelmente uma anlisemais detida do Dojo ou dos sales de treinamento possa explicitar. Mas essa apenas umaideia que vem sendo desenvolvida.

    Bibliografia

    BACHNIK, Jane M. 1983,Recruitment Strategies for Household Succession: Rethinking JapaneseHousehold Organization. Man, New Series, Vol. 18, No. 1 pp. 160-182. Royal Anthropological Instituteof Great Britain and Ireland, Mar., Stable URL: http://www.jstor.org/stable/2801769

    BEILLEVAIRE, P. 1986, Le Japon, une socit de la maison. In Burguire A. Klapisch-Zuber, C.,Segalen, M., Zonabend, F. (Org.). Histoire de la famille 2, Temps mdivaux, Orient/Ocident. Paris,Armand Colin, p. 287-340

    CARSTEN, J. HUGH-JONES, S. 1995: About the House. Cambridge University. Press

    CARSTEN, J.1995: The substance of kinship and the heat of the hearth: feeding, personhood, andrelatedness among malays in Pulau Langkawi. American Ethnologist 22(2): 223-41

    CARSTEN, J 2000. Knowing where you've come from: Ruptures and continuities of time and kinshipin narratives of adoption reunions. J. R. Anthropol. Inst. vol. 6, no4, pp. 687-703

    CARSTEN, J. 2004: After kinship. Cambridge University Press

    CHANBERLAIN, Basil Hall 2013 [1882].Seo VIII, The slaying of the fire-deity. A Translation of the"Kojiki," or a record of ancient matters. Transactions of the Asiatic Society of Japan. Tuttle publishing,Global Grey

    DAVIS, W.: Japanese religion and society: paradigms of structure and change. State University of NewYork press, Albany, 1992

    DAVIS, W. 1982. Dojo: magic and exorcism in modern Japan, Stanford University Press

    DOI, T. 1973. The anatomy of dependence. Kodansha, Tokyo

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 11

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    DUMONT, L. 1992: Homo hierarchicus. Edusp, SP

    DUMONT, L. 2000: O Individualismo. Rocco, Rio de Janeiro

    FOUCAULT, . 1984: Histria da Sexualidade I: a vontade de saber. Graal

    FOUCAULT, . 1984: Histria da Sexualidade II: o uso dos prazeres. Graal

    FOUCAULT, . 1985: Histria da Sexualidade III: o cuidado de si. Graal

    FRANKLIN & McKINNON. 2001: Introduction, in Relative Values: reconfiguring kinship studies.Duke University Press, London

    GAMO, M. 1968. 'Nihon no shinzoku soshiki' oboegaki: descent group to dozoku ni kan'shite. Sha 2,80-5

    GAMO, M. 1970. Nihon no dentoteki kazoku no ichi kosatsu. In Minzokugaku kara Mita Nihon: OkaMasao kyoju koki kinen ronbunshu. Tokyo: Kawade Shobo Shinsha

    HRITIER, F. 1999: Two sisters and their mother. Zonebooks

    KITAMURA, A. . 2008. Gender Equality Dilemma in Japanese Society: How Traditional IdeasAffect both Women and Men, 19 2008

    KURODA, Toshio, James C. Dobbins and Suzanne Gay. 1981. Shinto in the History of JapaneseReligion, Journal of Japanese Studies,Vol. 7, No. 1 (Winter, 1981), pp. 1-21, Published by:The Societyfor Japanese Studies, Article Stable URL:http://www.jstor.org/stable/132163

    KUMAGAI, H.1988. Ki: the fervor of vitality. Symbolic Interaction, Volume 11, Number 2, pages175-190.

    LAMBEK, M.& STRATHERN, A. 1998: Bodies and persons: comparative perspectives from Africaand Melanesia. Cambridge University Press

    LVI-STRAUSS, C. 1976a: Mitolgicas 4: El hombre desnudo. Siglo veintiuno editores, Mxico

    LVI-STRAUSS, C. 1976b: Antropologia Estrutural 2. Biblioteca Tempo Universitrio, (45), RJ

    LVI-STRAUSS, C. 1981: A via das mscaras. Editorial Presena, Lisboa

    LVI-STRAUSS, C.1985: Os pensadores. Abril Cultural

    LVI-STRAUSS, C.1986: Minhas palavras. Brasiliense

    LVI-STRAUSS, C.1992: Verbete Maison in BONTE&IZARD: Dictionnaire de LEthnologie et deLAnthropologie. PRESSES UNIVERSITAIRES DE FRANCE, P. 434-436

    LVI-STRAUSS, C. 2003: As estruturas elementares do parentesco. Vozes, Petrpolis

    LVI-STRAUSS, C.2004: O Cru e o Cozido. [Mitolgicas Vol. 1] Cosac & Naify, So Paulo

    LINGER, Daniel T. 2001. No One Home: Brazilian Selves Remade in Japan, Stanford University Press,California

    LOURENO, G. V. 2014. O campo no Japo antigo visto do presente: Algumas reflexes sobre oparentesco. in MACHADO, Igor Jos de Ren [ORG] 2015. Deslocamentos e parentesco PROPOSTADE LIVRO- FAPESP-2014-2015 [No prelo]

    Fapesp edufscar, 2015

    LOURENO, G. V. 2011. O caminho da espada como mquina de operao da japonesidade, inMACHADO, I.J.R. [ORG],: LEM novos estudos sobre a presena japonesa no brasil. Fapesp UFSCar

    LOURENO, G. V. 2010a Identidades, prticas e moralidades transnacionais: etnografia da esgrimajaponesa no Brasil. Dissertao de mestrado em Antropologia Social, So Carlos, SP, UFSCar [2009],[disponvel em www.gilvicenteworks.wordpress.com ]

    LOURENO, G. V. 2010b Kendo: devir samuraico, mitolgicas e ritolgicas nipnicas. Adentrandoa Casa Japonesa [Parte II]. Revista de Antropologia Social dos alunos do PPGAS-UFSCAR [2010].V.1, No. 2, p 64-93, So Carlos, So Paulo. Disponvel em: http://gilvicenteworks.wordpress.com/academico/,

    LOURENO, G. V. 2010c Dos mares do Japo s terras frteis do Brasil: consideraes sobre oBrasil, a imigrao japonesa e sua influncia na agricultura. Brasil Japo. Observao: em anlisepara o Livro sobre a Contribuio dos Japoneses Agricultura no Brasil. [Aos interessados, contatar-mepelo site: http://gilvicenteworks.wordpress.com/contato/ ]

    LOURENO, G. V. 2010d. O caminho da espada como mquina de transporte para um Japo ideal.VIII Congresso internacional de estudos japoneses no Brasil e XXI ENPULLCJ, (Congresso) Site: http://www.enpullcj.com/

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 12

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    LOURENO, G. V. 2008: A esgrima japonesa, a i[e]migrao e os direitos humanos: algumasconsideraes. REHMU 31, Outubro de 2008. ISSN: 1980-8585, PP.306-316; No de pginas: 592

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2015. Deslocamentos e parentesco PROPOSTA DE LIVRO-FAPESP-2014-2015 [No prelo]

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2014. A antropologia de Schneider: pequena introduo. EDUFSCar

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2003: Crcere Pblico: processos de exotizao entre imigrantesbrasileiros no Porto, Portugal. Tese de doutorado em Cincias Sociais, Unicamp, Campinas

    MACHADO, Igor Jos de Ren..2004: Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes denao, In Revista de Antropologia, vol.47, no.1, p.207-233. ISSN 0034-7701

    MACHADO, Igor Jos de Ren..2002a Brasileiros no exterior e cidadania. [mimeo] in caminhos dacidadania org. Bela F. Bianco, ed. UNICAMP, SP

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2002b. Mestiagem arqueolgica. in Estudos Afro-Asiticos, Ano 24,n 2, pp. 385-408

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2006a: Laos de sangue e fluxo de dinheiro: notas sobre o parenteausente no contexto migratrio transnacional Portugal/Governador Valadares Texto apresentado naABA

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2006b: Um mar de identidades: A imigrao brasileira em Portugal.EdUFSCAR, So Carlos,SP

    MACHADO, Igor Jos de Ren..2004: Imigrantes brasileiros no Porto. Aproximao perenidade deordens raciais e coloniais portuguesas. In Lusotopie: 121-140, ditions Karthala, Paris

    MACHADO, Igor Jos de Ren. 2011. [ORG],: LEM novos estudos sobre a presena japonesa noBrasil. FAPESP-EDUFSCAR

    MENCIUS: 1984, translated by D.C. Lau. Chinese University Press

    MORISHIMA, Tateo, [2010]. , 163

    NAKAGAWA, H. 2008. Introduo cultura japonesa. Ensaio de antropologia recproca. Martins Fontes

    NAKANE, C. 1964. 'le' no kozo bunseki. In Ishida Eiichiro kyoju kanreki kinen ronbunshu. Tokyo:Kadokawa Shoten.

    NAKANE, C. 1967. Kinship and economic organization in rural Japan. London: Atione

    NAKANE, C. 1970. Kazoku no kozo. Tokyo: Tokyo Daigaku Shuppankai

    OCADA, F.: 2002: A cultura e o Habitus japons: ingredientes da experincia. XIII Encontro da Ass.Brasileira de Estudos Populacionais, Minas Gerais

    OHNISHI T. 2007. How Far Can Ki-energy Reach? A Hypothetical Mechanism for the Generation andTransmission of Ki-energy. University of Pennsylvania, School of Medicine., eCAM 2009;6(3)379391doi:10.1093/ecam/nem102. Advance Access Publication, October 2007

    OIKAWA, H. 1967 [1940]. Dozoku soshiki to kon'in oyobi soso no girei. In H. Oikawa: Dozoku soshikito sonraku Seikatsu. Tokyo: Miraisha

    1993

    2007. About Ki. Kendo World, 4.1.

    1990

    RAMBELLI, F.2010, Home Buddhas: Historical Processes and Modes of Representation of the Sacredin the Japanese Buddhist Family Altar (Butsudan). Japanese Religions, Vol. 35 (1 & 2): 63- 86

    REYNOLDS, D. 1976. Morita Psychotherapy. Berkeley: University of California Press

    SAHLINS, M. 2011. What Kinship is (One and Two). Journal of Royal Anthropological Institute (N.S.)17, 2-19

    SATO, H. 1985. The Sword and the Mind, The Overlook Press

    SATOU, K. (1996). Ki, Tokyo: Sanseido Co. Ltd.

    2000 - .

    2010 ()()

    SCHNEIDER, D. 1987. A critique of the study of Kinship. The University of Michigan press, Ann Arbor

    SCHNEIDER, D. 1968: American kinship: a cultural account. Prentice-hall

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 13

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    SINGER, K.1989. Mirror,SwordandJewel, Tokyo: Kodansha International

    SHIMIZU, A. 1991. On the Notion of Kinship. Man, New Series, Vol. 26, No. 3 (Sep., 1991), pp. 377-403

    SHIMIZU, A. 1987a. Ie and dozoku: family and descent in Japan. Curr. Anthrop 28(4), supplement,85-90

    SHIMIZU, A. 1987b Ie, shintai, shakai: kazoku no shakai jinruigaku. Tokyo: Kobundo

    STRATHERN, M. 1992: Reproducing the future. Manchester University Press

    Takuan Soho: 1985, Fudochi Shinmyo Roku, The unfettered mind. Writings of the Zen master to theSword master, in the Sword and the mind, Hiroaki Sato, Overlook press, NW

    TOKITSU, K. 2012. Ki e o caminho das artes marciais, Cultrix

    VIVEIROS DE CASTRO, E. 2009. "The Gift and The Given.Three Nano-Essays in Kinship and Magic"in Sandra Bamford and James Leach (eds.)Kinship and BeyondBerghan Books pp.235-268

    Yagyu Munenori, 2012. Heiho kadensho- The Life-giving Sword, traduo de William Scott Wilson,Shambhala, London

    WAGNER, R. 2010. A inveno da Cultura. Cosac Naify

    Sites:

    http://www.kendo.or.jp/all [Acesso em outubro, 2014]

    http://www.kendo-fik.org/index.html [Acesso em outubro, 2014]

    http://www.nipponbudokan.or.jp/ [Acesso em outubro, 2014].

    http://www.jnto.go.jp/eng/location/spot/shritemp/kashimajingu.html [ Acesso em outubro, 2014].

    http://kashimajingu.jp/[ Acesso em outubro, 2014].

    http://www.gender.go.jp/english_contents/pr_act/pub/pamphlet/women-and-men13/ [Acesso emoutubro, 2014]

    Notas

    1 Sobre o conceito de relacionalidade e sua utilizao no Laboratrio de Estudos Migratrios da UFSCar,ver [Machado 2014, 2015].2 Nomikai. Encontro para beber ou comer, bastante comuns em companhias japonesas e outrosgrupamentos de colegas de trabalho/ atividades conjuntas.3 Kendo: - O caminho da Espada.4 Bushido . Refere-se a virtudes e caminhos para conduo moral de samurais principalmenteno perodo Edo, sendo motivo de uma srie de livros e escritos por vrios samurais e monges, entreeles Yamamoto Tsunetomo, Takuan Soho, Miyamoto Musashi, Yagyu Munenori etc. Inazo Nitobe foinotabilizado pelo seu famoso livro, de mesmo titulo. Essas virtudes-conceitos eram passadas oralmenteno Japo, de gerao a gerao e podem ser sintetizadas em sete princpios: Retido, Coragem,Benevolncia, Respeito, Sinceridade, Honra e Lealdade.5 Sugiro ler o captulo 2 de minha dissertao (2010a).6 http://www.kendo-fik.org/index.html [Acesso em outubro, 2014]7 Keishicho Polcia Metropolitana de Tquio. Grupamento de Elite da Polcia Japonesa.8 Menkyo-Kaiden. Diploma atestando maestria na arte.9 Salo para prtica do Budo, ou caminhos marciais.10 http://www.jnto.go.jp/eng/location/spot/shritemp/kashimajingu.html, http://kashimajingu.jp/ Acessoem outubro, 2014.11 Oshogatsu Ano Novo. O templo Kashima recebe perto de 600 mil pessoas todos os anos,de acordo com estimativas do Templo, divulgadas no local.12 Ora, embora as divindades tenham agncia ilimitada pelo espao e pelo tempo, os templos so vistoscomo as casas das divindades, e as divindades tm a agncia potencializada dentro desses espaossagrados. Desenvolverei o argumento sobre os templos enquanto casas das divindades na tese uma vezque a noo de casa primordial para se entender o Japo.13 Takemikazuchi, Kashima-no-kami, Uma das divindades da tempestade, troves, artesmarciais, e da Espada. No livro Kojiki o nome dessa divindade s vezes escrita completa, "Brave-Awful-Possessing-Male-Deity". Ele tambm porta os nomes alternativos Takefutsu ("Brave-Snapping-Deity"?)e Toyofutsu("Luxuriant-Snapping Deity"?). No templo est localizada

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 14

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    a pedra Kaname, ou pedra piv. Esta pedra marca a posio do peixe que est abaixo do solo darea do templo Kashima, e este peixe [Namazu ()] controlado pela divindade Takemikazuchi, cujotrabalho mant-lo calmo por meio da espada. Caso isso no acontea, terremotos ocorrem. Chamberlain,Basil Hall [1882].Part VIII, The slaying of the fire-deity. A Translation of the "Kojiki," or a record ofancient matters. Transactions of the Asiatic Society of Japan. Tuttle publishing, Global Grey 2013.14 Sensei professor ou mestre.15 Senpai veterano.16 Kouhai calouro.17 Budo caminhos marciais.18 Escola antiga, um das que fundamentaram o Kendo moderno.19 Agradeo ao parecerista do artigo esse comentrio bastante pertinente.20 Sobre a Casa, Lvi-Strauss nos diz (Dictionnaire de LEthnologie, 1992, p.435):La maison est unepersonne morale, dtentrice dun domaine compos la fois de biens matriels et immatriels, et qui seperptue par la transmission de son nom, de sa fortune et de ses titres em ligne relle ou fictive, tenuepour lgitime la condition que cette continuit puisse se traduire dans le langage de la parent ou delalliance, ou le plus souvent les deux ensemble21 22 H variados casos de adoo para o Japo, embora a adoo do genro seja a mais comum [Muko Yoshi]de acordo com Beillevaire (1986, p. 318). Mas pode contar com a adoo de um casal [Ffu Yoshi],que a forma direta de perpetuao da casa quando de impossibilidade de um parente na linhagemconsangunea, o que leva a um processo de consanguinizao de um duplo afim. Sobre isso tambm,pode-se ver Bachnik (1983) e Shimizu (1987).

    Para citar este artigo

    Referncia eletrnica

    Gil Vicente Nagai Loureno, O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa eo Parentesco, Ponto Urbe [Online], 16|2015, posto online no dia 31 Julho 2015, consultado o 13Outubro 2015. URL: http://pontourbe.revues.org/2717; DOI: 10.4000/pontourbe.2717

    Autor

    Gil Vicente Nagai LourenoDoutorando em Antropologia Social Universidade Federal de So Carlos - UFSCAR. Candidatoa ps- doutoramento Tsukuba University. Membro das seguintes sociedades cientficas: ABEJ Associao Brasileira de Estudos Japoneses, LEM Laboratrio de Estudos Migratrios-UFSCAR., ABA Associao Brasileira de Antropologia, ABMON Associao dos Estudantes doMonbukagakusho e Academia Japonesa de Artes Marciais.E-mail [email protected]

    Direitos de autor

    NAU

    Resumos

    Este texto se refere a uma linha de interpretao de minha pesquisa de campo realizada noJapo, entre os anos de 2012 a 2014, e procura relacionar fatos etnogrficos levantados juntoa praticantes de esgrima japonesa entre eles japoneses e no japoneses atravs das relaespresentes em espaos de treinamento, chamados de Dojo, nos quais operam os conceitos dehierarquia e famlia. Neste sentido procuramos traar uma analogia com a noo de Casa,tal qual considerada em forma breve na teoria antropolgica. A utilizao do salo de treinocomo unidade de anlise em correlao ao conceito de casa importante e decorrente dasobservaes de campo e anlises posteriores.

  • O Campo no Japo: Um Pequeno Ensaio Sobre a Noo de Casa e o Parentesco 15

    Ponto Urbe, 16 | 2015

    This article is based on an interpretation line ow my fieldwork carried out in Japan between2012 and 2014, concerning ethnographical data gathered among japanese fencing practitioners Japanese and non-Japanese alike within relationships present in training spaces, calledDojos, where notions of hierarchy and family are held. We aim to trace an analogy with theconcept of House, as conceived in anthropological theory. The uses of the training room as theanalysis unity, compared to the concept of house, is an aftermath of fieldwork and followinganalysis.

    Entradas no ndice

    Keywords :Hierarchy, Family, Notion of House, Japaneseness, KinshipPalavras chaves :Hierarquia, Famlia, Noo de Casa, Japonesidade, Parentesco