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O caso enrolado do menino calado

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Editora Salesianas

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Page 1: O caso enrolado do menino calado

Amélia, uma pulga pra lá de tagarela,resolve se mudar para trás da orelha esquerdado Beto. Acontece que o Beto é um meninomuito calado e esconde um desejobem no fundo do coração.Imagine se a Amélia não vai fazer de tudopara descobrir que mistério é esse!

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Para André Neves,

amigo de tantos caminhos literários.

O caso enrolado do menino calado.Ou: Pulga fofoqueira atrás da orelha.

Ou também: Pondo a boca no trombone.Ou apenas: O menino e a pulga enxerida.

Aliás, esqueça todas essas opções.Melhor deixar somente: O caso enrolado do menino calado.

Fim de papo.E começo da história...

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Era uma vez uma pulga fofoqueira que vivia fazendo as malase mudando de casa. Uma correria danada. De cachorro para cobertor,de frasqueira de manicure para perna gorda de avó, de penteadeirade cabeleireira para pele macia de bebê... e nada. Nenhum lugartinha um astral legal para montar o seu escritório de fofocas.

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A pulga Amélia estava quase desistindo quando conheceu aquelaorelha confortável, impecável. Foi amor à primeira vista. A Améliaficou amarrada, quer dizer, gamada pela orelha esquerda do Beto.Por outro lado, a tal orelha também ficou encantada com tantaconversa que a pulga conversava.

Pronto, estava decidido!Ela montaria o escritório ali mesmo,na orelha esquerda do Beto. Foi assimque o Beto ficou com a pulga atrás da orelha.

A vida do Beto era um mar de sossego. Afinal de contas,ele não tinha irmão para brigar ou irmã para implicar.Nada acontecia de interessante.

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Acontece que, ultimamente,o Beto andava triste e mal-humorado. É, ele andava sufocadode tanto arranjar esconderijo paraum desejo que pintou de repentena sua vida. Ele não comentavacom ninguém sobre o assunto.Mas, para não se sentir tão sozinhoassim, conversava com os seusbotões e com o seu pensamento.

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Mal acabou de montar o escritório, a pulga começou a falar peloscotovelos. Ela não parava nem para respirar! Ia juntando uma palavracom outra e aumentando um ponto a cada fofoca que fazia.

Falou tanto nos primeiros dias que nem percebeu a tristeza do Beto.E o mais triste de tudo: nem percebeu o menino conversandocom os seus botões e com o seu pensamento.

Só depois de uns oito dias de falação afobada e despejada,a pulga sossegou o pito. Até deu um suspirinho:

� Ai, ai...

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A orelha esquerda do Beto aproveitou aquele momento de silênciopara puxar assunto:

� Pena que a língua do Beto não tem o mesmo fôlego que a sua...

� Por quê? Ela não gosta de falar?

� Acho que ela nem saberia onde arranjar palavra pra contartudo o que está guardado no coração do Beto.

� E o que tanto o Beto anda guardando?

� Coitado, as estantes e gavetas do seu coração estão abarrotadasde um desejo muito grande que ele cismou de ter!

� Orelha esquerda, me esclareça uma dúvida: por que ele não fazuma faxina definitiva e põe pra fora esse segredo de uma vez?

� Dona Pulga, se eu soubesse como desenrolar o casodesse menino calado, já teria desfeito esse nó da gargantadele faz tempo.

A Amélia ficou toda empolgadacom um caso tão intrigante.

� Dona Pulga, por que a senhoranão vai falar com o coração do Beto?Se eu não estivesse grudada na cabeçado Beto, eu ia com a senhora.

� Você tem razão, senhora Orelha!Vou até lá. Antes, preciso esquematizarum plano engenhoso e infalível.Fique quietinha pra eu me concentrar.

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� Não está mais aqui quem falou.

� Obrigada.

E a Amélia atravessava a orelha de ponta a ponta, coçandoa cabeça. Ela ia e voltava. Levantava e deitava.Dançava e sossegava.

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