O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado

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  • 8/15/2019 O Católico Ideal_ Dissertaçãod e Mestrado

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    UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UniversidadePaulista  – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.

    FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL

    SÃO PAULO

    2013

    O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL

    E ESTÉTICA CLASSICISTA NO PORTAL DOS

    ARAUTOS DO EVANGELHO

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    UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UniversidadePaulista  – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.

    Orientadora:

    Prof. Dra. Malena Segura Contrera

    FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL

    SÃO PAULO

    2013

    O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL

    E ESTÉTICA CLASSICISTA NO PORTAL DOS

    ARAUTOS DO EVANGELHO

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     Amaral, Flavia Gabriela da Costa Rosa.O católico ideal : cultura do imaterial e estética classicista no

    portal dos arautos do evangelho / Flavia Gabriela da Costa Rosa Amaral - 2013.

    112 f. : il.

    Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Midiática da UniversidadePaulista, São Paulo, 2013.

     Área de Concentração: Comunicação e Cultura Midiática.Orientadora: Profª. Malena Segura Contrera.

    1. Imaginário Midiático. 2. Cibercultura. 3. Ciber-religião. 4. Arautos do evangelho. I. Título. II. Contrera, Malena Segura(orientadora).

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    FLÁVIA GABRIELA DA COSTA ROSA AMARAL

    O CATÓLICO IDEAL: CULTURA DO IMATERIAL E ESTÉTICA CLASSICISTA NO

    PORTAL DOS ARAUTOS DO EVANGELHO

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

    graduação em Comunicação da UniversidadePaulista  – UNIP, para a obtenção do título deMestre em Comunicação.

    Aprovado em: ____/____/_____.

    BANCA EXAMINADORA

     _________________________/___/___Prof. Dr. Alberto Klein

    Pontifícia Universidade Católica – PUC

     _________________________/___/___Prof. Dr. Jorge Miklos

    Universidade Paulista – UNIP

     _________________________/___/___

    Prof. Dra. Malena ContreraUniversidade Paulista - UNIP

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    DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho aos meus filhos, Júlio Luciano da Silva Júnior e Maria

    Júlia Rosa Amaral, por entenderem minha ausência para dedicação aos estudos e

    serem companheiros em todos os desafios nos quais estivemos juntos ao longo dos

    anos de Mestrado. Amo vocês. À minha orientadora, Malena Contrera, pela

    dedicação especial ao meu projeto e por entender como poucas pessoas a alma

    feminina. Aos meus pais, meu marido e demais professores do Programa.

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    AGRADECIMENTOS

     Agradeço a Deus por me iluminar no caminho de mais uma etapa acadêmica,

    dando-me entusiasmo e força para seguir quaisquer que fossem os obstáculos.

     À minha mãe, Rosa Maria da Costa, que jamais me abandonou na minha

    caminhada, como pessoa, como mãe, como profissional, como estudante. Ao meu

    pai, Argemiro Serafim Rosa, que embora não esteja fisicamente conosco, me deu

    suporte com seus ensinamentos em curtos 13 anos, para ser quem hoje sou.

     Ao Valdir Amaral, meu marido, com quem partilhei sonhos e reflexões acerca

    deste projeto, pelo seu apoio e auxílio sempre que precisei.

    Meu especial agradecimento ao PROSUP, por acreditar no projeto,

    possibilitando concluir esta importante e sonhada etapa da minha vida.

     Aos professores que tanto contribuíram com seu conhecimento e visão de

    mundo, em especial ao professor Jorge Miklos.

     À minha mestra Malena Contrera, que contribuiu com seu conhecimento e

    visão de mundo. Você alargou meus horizontes e possibilitou percorrer o doce

    caminho do conhecimento, reforçando o que aprendi ainda menina, que mestre não

    é aquele que nos carrega nos braços, mas que nos mostra o caminho das pedras e

    nos diz: ‘vá, você consegue!’. 

     Aos colegas de Mestrado, André Nakamura, Vâner Lima, Glaucya Tavares e

    Suely Schiavo, pelo companheirismo. Nosso encontro de vida certamente não foi por

    acaso.

     Ao secretário do Programa de Pós-graduação, Marcelo Rodrigues; com seu

    profissionalismo e pró-atividade me auxiliou em todas as necessidades durante o

    curso.

     Aos colegas Ana Clara Stockler, Aline Gomes, Marcela Caroline, Polyana

    Gonzaga, Mylena Camargo, Juliana Valin e Carlos Alberto, pelos diálogos e auxílio

    que extrapolaram o âmbito profissional.

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    RESUMO

     A presente pesquisa pretende investigar as relações comunicacionais presentes

    entre cibercultura e religião frente às novas tecnologias digitais de comunicação.

    Para tanto, elegemos uma vertente católica denominada Arautos do Evangelho e

    sua presença no cyberspace. Nesse contexto, nosso objetivo foi analisar a

    transformação da linguagem dos Arautos do Evangelho e os recursos utilizados pelo

    grupo para se relacionar com seu público no cyberspace e se existe a tentativa de

    criação de um ambiente para um sujeito não corpóreo. Nossas hipóteses

    consideraram que esse movimento religioso procura estimular a cultura do imaterial

    por meio do uso de elementos da estética classicista no cyberspace. Para efetivar aanálise estabelecemos como corpus  o portal do movimento na internet

    (www.arautos.org) no período de fevereiro de 2011 a dezembro de 2012. A pesquisa

    se utilizou do método científico, baseado em fundamentação teórica com uma lógica

    qualitativa. O referencial teórico da pesquisa utilizou como alicerce conceitual no

    campo da Teoria da Mídia, as obras de Muniz Sodré, Norval Baitello Júnior e Jesus

    Martín Barbero. Acerca dos estudos da contemporaneidade e a ambiência sócio-

    cultural das comunidades contemporâneas, a pesquisa utilizou os estudos deZigmunt Bauman, Konrad Lorenz e Jean Baudrillard. Sobre o tópico cibercultura, a

    pesquisa utilizou os estudos de Paul Virillo e Eugênio Trivinho. Ao que se refere aos

    estudos sobre o fenômeno religioso, a pesquisa se utilizou os estudos de Mircea

    Eliade, Joseph Campbell e Vilém Flusser. A propósito da intersecção entre Mídia e

    Religião, a pesquisa utilizou os estudos de Alberto Klein e Jorge Miklos. Malena

    Segura Contrera contribui com seus estudos sobre mediosfera e seu lugar no

    imaginário religioso. Para obter bases para análise acerca do processo detranscendência e consciência, a pesquisa fundamentou-se nas contribuições de

    Boris Cyrulnik e Antônio Damásio. No âmbito da teoria da imagem a pesquisa

    buscou apreciações nas obras Norval Baitello Júnior.

    Palavras-chave: Imaginário Midiático; Cibercultura; Ciber-Religião; Arautos do

    Evangelho.

    http://www.arautos.org/http://www.arautos.org/

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    ABSTRACT

    The present research aims to investigate the communication relationship found

    between cyber culture and religion in face of the new digital communication

    technologies. Therefore, we chose Catholic section called Heralds of the Gospel

    (Arautos do Evangelho) and its presence in cyberspace. In this context, our objective

    is to analyze the transformation of the language of the Heralds of the Gospel and the

    resources used by the group to relate to their audience in cyberspace and if there is

    an attempt to create an environment for a non- corporeal subject. Our hypotheses

    considered that this religious movement seeks to stimulate the immaterial culture

    through the use of elements of classicist aesthetics in cyberspace. To conduct theanalysis we established as corpus  the site of the movement on the Internet

    (www.arautos.org)  from February 2011 to December 2012. The research used the

    scientific method, based on theoretical basis with a qualitative logic. The theoretical

    framework of the research used as conceptual foundation in the field of media theory,

    the works of Muniz Sodré, Norval Baitello Junior and Jesus Martín Barbero.

    Concerning to the contemporary studies and the socio-cultural ambience of the

    contemporary communities, the research used the studies of Zygmunt Bauman,Konrad Lorenz and Jean Baudrillard. On the topic of cyberculture, the research used

    the studies of Paul Virillo and Eugenio Trivinho. Concerning to studies on the

    religious phenomenon, the research used the studies of Mircea Eliade, Joseph

    Campbell and Vilén Flusser. For the purpose of a intersection between Media and

    Religion, the research used the studies of Alberto Klein and Jorge Miklos. Malena

    Safe Contrera contributed with her studies about mediosfera and its place in the

    religious imaginary. In order to obtain the base for analysis of the process oftranscendence and awareness, the research used as a reference the contributions of

    Boris Cyrulnik and Antonio Damasio. Concerning to the theory of image the research

    sought assessments in the works of Norval Baitello Junior.

    Key words: Imaginary media, cyber culture, cyber-Religion; Heralds of the Gospel

    http://www.arautos.org/http://www.arautos.org/

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Os Arautos do Evangelho em foto no Vaticano: perfilação e tentativa de

    busca pelo e perfeito. ................................................................................................ 12

    Figura 2 - Os Arautos do Evangelho em procissão com a imagem de Nossa Senhora

    de Fátima. Na página do fundador dos Arautos do Evangelho destacam-se o carisma

    do grupo e a opção pela evangelização a partir da cultura e da arte. ....................... 13

    Figura 3 - Os Arautos do Evangelho em foto após aprovação pontifícia. Disponível

    em http://www.aprovacaopontifica.arautos.org/caregory/mensageiros-do-evangelho.

     Acesso em 10.02.2011. ............................................................................................. 14

    Figura 4 - Home do site www.tfp.org ......................................................................... 29

    Figura 5 - Home do site www.tfp.org - “Visitas da Imagem de Nossa Senhora de

    Fátima”.  ..................................................................................................................... 30

    Figura 6 - Home do blog desdobramento do portal dos Arautos do Evangelho. ....... 30

    Figura 7 - Home do site desdobramento dos Arautos do Evangelho. Sob o título“Imagem peregrina recebe devotas manifestações de afeto” constata -se que no site

    dos Arautos e no da Cavalaria de Maria, a ‘visita da Imagem’ está em destaque. ... 31

    Figura 8 - Indumentária Arautos do Evangelho (Reprodução livro comemorativo pela

    aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício, publicado em julho de

    2001). ........................................................................................................................ 34

    Figura 9 - Arautos do Evangelho perfilados como exército (reprodução livro

    comemorativo pela aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício,

    publicado em julho de 2001). .................................................................................... 35

    Figura 10 - Indumentária dos Cavaleiros Templários ................................................ 35

    Figura 11 - Indumentária dos Cavaleiros Templários ................................................ 36

    Figura 12 - Catedral de Notre Dame ......................................................................... 40

    Figura 13 - Igreja Nossa Senhora do Rosário  – Serra da Cantareira, construída e

    coordenada pelos Arautos do Evangelho. ................................................................. 40

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    Figura 14 - Newsletter enviada diariamente aos cadastrados no site ....................... 46

    Figura 15 - Imagem do rodapé da página com a diversidade de logomarcas

    utilizadas pelos Arautos do Evangelho ...................................................................... 48

    Figura 16 - Imagem da área www.ittanoticias.arautos.org. ....................................... 49

    Figura 17 - Na imagem, uma reprodução do vídeo mostra repórter da TV Arautos

    entrevistando uma idosa acamada. ........................................................................... 52

    Figura 18 - Imagem da página www.rezempormim.arautos.org.br ............................ 53

    Figura 19 - Imagem da página http://www.rezempormimblog.arautos.org.br. .......... 54

    Figura 20 - Área do site onde se encontram imagens para personalização do fundo

    de tela dos computadores. ........................................................................................ 55

    Figura 21 - Página de redirecionamento aos blogs dos Arautos do Evangelho. ....... 55

    Figura 22 - Imagem da página a que se é direcionado ao clicar no link Tv Arautos . 60

    Figura 23 - Links para os interessados fazerem parte das redes de relacionamento

    dos Arautos do Evangelho. ...................................................................................... 62

    Figura 24 - Imagem da página principal do portal www.arautos.org, na ocasião ...... 63

    Figura 25 - Imagem da página oficial dos Arautos do Evangelho no Facebook

    (Acesso em 10.09.2012) ........................................................................................... 64

    Figura 26 - Imagens postada na página oficial dos Arautos do Evangelho no

    Facebook................................................................................................................... 64

    Figura 27 - Imagens postada na página oficial dos Arautos do Evangelho no

    Facebook................................................................................................................... 65

    Figura 28 - Imagem da página a que se é direcionado ao clicar no link Orkut do

    portal www.arautos.org. ............................................................................................ 66

    Figura 29 - Área de notícias do portal dos Arautos do Evangelho. ........................... 71

    Figura 30 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook.. .................... 77

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    Figura 31 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. ..................... 77

    Figura 32 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. A busca pela

    perfeição e a insistência na pureza. Acesso em 08.03.2013..................................... 78

    Figura 33 - Defesa da proposta de evangelização por meio da beleza, disponível no

    portal dos Arautos do Evangelho. Acesso em 13.03.2013. ....................................... 82

    Figura 34 - Arautos do Evangelho em missa na catedral de Nossa Senhora do

    Rosário, localizada na Serra da Cantareira. .............................................................. 84

    Figura 35 - Arautos do Evangelho em trabalhos pelo Brasil. ................................... 85

    Figura 36 - Arautos do Evangelho trabalhos no Rio de Janeiro. ............................... 86

    Figura 37 - Menino Jesus com a Cruz Templária estampada no peito. Disponível em

    na página oficial do facebook dos Arautos do Evangelho. ........................................ 88

    Figura 38 - Imagem do templo construído pelos Arautos do Evangelho na Serra da

    Cantareira. Acima o brasão do Vaticano, a imagem do Sagrado Coração de Jesus e

    do Sagrado Coração de Maria em Nossa Senhora de Fátima. Disponível em na

    página oficial do facebook dos Arautos do Evangelho. ............................................. 89

    Figura 39 - Nossa Senhora das Dores na timeline do face book dos Arautos do

    Evangelho. Em seu manto a Cruz Templária ............................................................ 90

    Figura 40 - Post compartilhado na rede Facebook, em página oficial dos Arautos do

    Evangelho. ................................................................................................................ 92

    Figura 41 - Post dos Arautos do Evangelho na rede social Facebook. Acesso em

    15.03.2013. ............................................................................................................... 95

    Figura 42 - Imagem de Nossa senhora de Fátima, que se repete nas páginas do

    portal e do Facebook dos Arautos do Evangelho. ..................................................... 95

    Figura 43 - Imagem publicada na rede social Facebook, lembrando os seguidores do

    grupo sobre a oração do Terço da Misericórdia, rezada pelo grupo todas as

    primeiras sextas-feiras do mês, às 15h. Em detalhe o relógio que figura atrás da

    imagem de Jesus Crucificado. ................................................................................. 99

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

    1. ARAUTOS DO EVANGELHO ............................................................................ 17

    1.1. Lugar das associações e movimentos na Igreja Católica............................. 17

    1.2. Sobre os Arautos do Evangelho - surgimento/contextualização .................. 19

    1.3. Os Arautos do Evangelho e TFP .................................................................. 26

    1.3.1. O “racha” da TFP ................................................................................... 28

    1.3.2. João Clá Dias e Plínio Corrêa ............................................................... 29

    1.3.3. Sociedade secreta ................................................................................. 31

    1.4. Cavaleiros Templários .................................................................................. 33

    1.4.1. Guardiães do Santo Graal? ................................................................... 40

    2. O PORTAL DO EVANGELHO ........................................................................... 45

    2.1. Análise de acessos e ferramentas de interatividade - o Portal dos Arautos do

    Evangelho e a comunicação no ciberespaço ......................................................... 45

    2.1.1. Os Arautos do Evangelho e as Redes Sociais ...................................... 62

    2.2. A cibercultura e os arautos do evangelho: tentativa de utilização do

    cyberspace para sedimentação da comunidade. ................................................... 66

    2.2.1. A Igreja Católica se abre para o diálogo com o mundo: João Paulo II - o

    Papa midiático .................................................................................................... 68

    2.3. Lugar possível entre a matriz religiosa cristã e a internet  –  a noção de

    religare na mídia contemporânea........................................................................... 71

    3. O AMBIENTE IMAGINÁRIO DOS ARAUTOS DO EVANGELHO E SUA

    RELAÇÃO COM OS IDEAIS ESTÉTICOS CLASSICISTAS NO PORTAL .............. 79

    3.1. Elementos estéticos classicistas relevantes para a criação da imagem

    pública dos Arautos do Evangelho no portal .......................................................... 81

    3.2.  A criação de um ambiente ideal para o homem “imaterial” - o cyberspace .. 93

    3.3. Criação de um ambiente ideal para o homem “imaterial” - o cyberspace .... 96

    CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 103

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 107

    ANEXOS ................................................................................................................. 107

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    INTRODUÇÃO

     A Igreja Católica se apresenta como vertente do cristianismo e grande

    número de adeptos, mas reconhece que o islamismo já supera o número de

    seguidores da “Igreja de Pedro”, como se referencia. Define-se como ‘Una, Santa,

    Católica, Apostólica”1. No entanto, observam-se características diferentes em grupos

    nas quais ela se subdivide. Um desses grupos que se define como Associação de

    Direito Pontifício são os Arautos do Evangelho.

    Com o objetivo de utilizar a internet para expressar e reverberar seus valores,

    esses grupos aumentam gradativamente sua presença no ciberespaço, o que

    demonstra o desejo de se apropriar de um instrumento simbólico - a internet. O uso

    pode revelar a busca de uma nova forma de participação mística, ‘sacralizando a

    mídia’. 

    Essa manifestação religiosa que vemos pipocar nos fenômenoscomunicativos e midiáticos (inclusive da teleparticipação) seria não apenasum resíduo ou ressurgimento de formas religiosas arcaicas, mas a busca oua invenção de outro plano de realidade, no qual os conteúdos arcaicos seimiscuíram sem serem convidados. (CONTRERA, 2005, p.4).1 

    Em relação aos Arautos do Evangelho, não se menciona nas publicações

    oficiais, inclusive na página oficial na internet, em que tipo de universo simbólico

    cristaliza-se a sua principal ideologia; no entanto, dentro dos formatos específicos da

    internet, a vertente demonstra grande necessidade de autoafirmação, como parte da

    Igreja Católica e movimento político articulado.

    O levantamento de dados deu-se pela análise do portal dos Arautos do

    Evangelho (www.arautos.org), como dispositivo e discurso.

    Chegou-se ao tema em consequência da ampla vivência da pesquisadora na

    Igreja Católica, principalmente no que se refere ao local onde atualmente trabalha, O

    Santuário Nacional de Aparecida, maior templo católico dedicado a Maria no mundo,

    sendo constante a presença dos Arautos do Evangelho.

     As roupas utilizadas pelos Arautos do Evangelho - a grande cruz dos

    1  Informação extraída da internet no site do Vaticano, parágrafo 3, sobre a Profissão da Fé Cristã,disponível no endereço http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2cap3_683-1065_po.html#PARÁGRAFO_3_ – Acesso em 05.01.2013

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    Cavaleiros Templários ostentada no peito e as publicações com presença marcante

    da figura feminina de Maria -, despertam a atenção não apenas pela estética

    medieval que incorpora uma série de elementos da estética clássica, mas pela forma

    como os membros se impõem: perfilados, sincronizados, bandeiras em punho etc.

    Figura 1 - Os Arautos do Evangelho em foto no Vaticano: perfilação e tentativa debusca pelo e perfeito.

    Fonte: http://arautosdoevangelho.com.br/especial/13824/Arautos.html. Acesso em 10.02.2011.

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    Figura 2 - Os Arautos do Evangelho em procissão com a imagem de Nossa Senhora deFátima. Na página do fundador dos Arautos do Evangelho destacam-se o carisma do grupo

    e a opção pela evangelização a partir da cultura e da arte.

    Fonte: http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp. Acesso em: 01.05.2013.

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    Figura 3 - Os Arautos do Evangelho em foto após aprovação pontifícia. Disponível emhttp://www.aprovacaopontifica.arautos.org/caregory/mensageiros-do-evangelho. Acesso em

    10.02.2011. 

    Fonte: http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp. Acesso em: 10.02.2011.

    Desperta curiosidade o discurso que se dirige aos seguidores no ciberespaço.

    O ‘lócus’, considerado então democrático e espaço livr e, é usado, com frequência,

    para um público específico, que decifre os códigos e os discursos.

     Avaliar as sobreposições e antagonismos na cibercultura pelo discurso e as

    formas de comunicação dos Arautos do Evangelho provocaria nova discussão sobre

    o espaço e as lacunas que ainda existem nessa ferramenta, que pode ser utilizada

    para o bem ou para o mal. Deve-se ressaltar ainda o modo como um grupo com

    características de estética medieval ocupa a internet - espaço considerado

    contemporâneo, que possui a natureza virtual e tecnológica própria da atualidade.

    Sobre a questão central, o estímulo à cultura do imaterial, a pesquisa analisa

    de que forma o conceito é reforçado pelo grupo em seu canal na internet, e como os

    elementos da estética classicista se apresentam nesse meio de comunicação.

    Como será feita a análise do portal com base na observação da construção e

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    imaterial na busca pelo homem perfeito? Como os Arautos utilizam a cibercultura

    para autolegitimar-se? Existe a tentativa do grupo de utilizar a cibercultura para

    estabelecer uma relação comunitária?

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    1. ARAUTOS DO EVANGELHO

    1.1. Lugar das associações e movimentos na Igreja Católica

    O Concílio Vaticano II, que aconteceu de 1962 a 1965, em Roma, provocou

    na Igreja Católica grandes reflexões e nela estabeleceu novas posturas. Embora,

    quase 50 anos depois, diversos líderes religiosos e outras associações e

    movimentos da Igreja Católica ainda resistam às definições surgidas no Concílio,

    assembleia histórica para a Igreja, não se pode negar que uma das grandes

    novidades foi a visão gregária que a Igreja assumia, a partir daquele momento, que

    se refere ao lugar dos movimentos e associações na instituição.

    Frei Betto, renomado teólogo da Igreja Católica, em declaração ao site

    www.revistadehistoria.com.br 3, menciona os modelos pastorais que ganharam

    espaço da hierarquia da Igreja, como as Comunidades Eclesiais de Base e a

    Teologia da Libertação. Ana Maria Tepedino, teóloga da PUC-RJ, comunga das

    ideias de frei Betto e destaca a mudança de postura da instituição em relação aos

    leigos, agora “convidados a uma participação maior e mais efetiva na Igreja”. 

    Sobre os movimentos, o site oficial do Vaticano4 dispõe de uma seção sobre o

    DECRETO APOSTOLICAM ACTUOSITATEM   em latim, ou Decreto sobre o

     Apostolado dos Leigos, que explana a “importância e atualidade do apostolado dos

    leigos na vida da Igreja”. A página cita em seu primeiro parágrafo: 

    1. O sagrado Concílio, desejando tornar mais intensa a atividade apostólicado Povo de Deus (1), volta-se com muito empenho para os cristãos leigos,

    cujas funções próprias e indispensáveis na missão da Igreja já em outroslugares recordou (2). Com efeito, o apostolado dos leigos, que deriva daprópria vocação cristã, jamais poderá faltar na Igreja. A mesma SagradaEscritura demonstra abundantemente como foi espontânea e frutuosa essaatividade no começo da Igreja (cfr. Act. 11, 19-21: 18, 26; Rom. 16, 1-16; Fil.4, 3).Os nossos tempos, porém, não exigem um menor zelo dos leigos; maisainda, as condições atuais exigem deles absolutamente um apostoladocada vez mais intenso e mais universal. Com efeito, o aumento crescenteda população, o progresso da ciência e da técnica, as relações mais

    3  Material publicado em 14 de fevereiro de 2013. Acesso em 07.05.2013. Disponível emhttp://www.revistadehistoria.com.br/secao/conteudo-complementar/forum. 

    4  DECRETO APOSTOLICAM ACTUOSITATEM, disponível no site do Vaticano. Acesso em07.05.2013. Disponível em:http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651118_apostolicam-actuositatem_po.html

     

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    estreitas entre os homens, não só dilataram imensamente os campos doapostolado dos leigos, em grande parte acessíveis só a eles, mas tambémsuscitaram novos problemas que reclamam a sua atenção interessada e oseu esforço. Esse apostolado torna-se tanto mais urgente quanto aautonomia de muitos setores da vida humana, como é justo, aumentou, por

    vezes com um certo afastamento da ordem ética e religiosa e com graveperigo para a vida cristã. Além disso, em muitas regiões onde os sacerdotessão demasiado poucos ou, como acontece por vezes, são privados daliberdade de ministério, a Igreja dificilmente poderia estar presente e ativasem o trabalho dos leigos4.

    Como explica o documento, a Igreja Católica viu nas associações e

    movimentos a oportunidade de se aproximar das comunidades, levando em

    consideração que a crise na formação de novos padres para esse exercício já é há

    algum tempo realidade enfrentada pela instituição.

    O site www.veritatis.com.br, que congrega outros sites católicos, pertencente

    a frente tradicionalista da Instituição, o Apostolado Veritatis Splendor, explica os

    espaços que hoje os movimentos e associações ocupam na estrutura da Igreja e

    como se configuram:

    Canonicamente, não existe ‘movimento’. Essa figura jurídica não aparecenas leis canônicas. Daí que, em termos gerais, movimento é qualquer

    agrupamento humano com um fim. Nesse sentido, o franciscanismo é ummovimento, o monasticismo também, até o Opus Dei, ainda que todos elessejam figuras jurídicas distintas. (...) Quais os tipos de personalidade jurídicapara agrupamento humano que temos aqui? Institutos de vida consagrada(que se dividem em institutos de vida religiosa e institutos seculares),sociedades de vida apostólica, e associações de fiéis. Institutos de vidaconsagrada são aqueles aos quais o membro se liga mediante votos oupromessas. Podem ser de dois tipos: institutos de vida religiosa e institutosseculares. Os primeiros pedem que o vínculo jurídico de pertença sejam osvotos, e também obriga o uso de um hábito, bem como a vida comunitária.(...) Já aos segundos, os membros se ligam ou por votos ou por promessasequivalentes, não são obrigados, pelo Código, ao hábito (embora suasconstituições possam obrigar), nem à vida comunitária (idem). (...)

    Sociedades de vida apostólica são aquelas aos quais o membro se ligaapenas pelo compartilhamento de um carisma e pela vida comunitária, massem votos. Associações de fiéis são grupos de leigos e sacerdotes que seunem por um fim comum. Podem ter votos privados, promessas, vidacomunitária, espiritualidade própria, mas nada disso é obrigatório. Algunstêm ramos com promessas e vida comunitária, e ramos que vivem nomundo etc. Muitas dessas associações são ligadas a um instituto de vidaconsagrada ou sociedade de vida apostólica5.

    Os Arautos do Evangelho configuram-se como Associação Internacional de

    Fiéis de Direito Pontifício. Os detalhes da outorga estão nos capítulos seguintes.

    5  A explanação postada em 17 de julho de 2009 pode ser lida na íntegra no sitehttp://www.veritatis.com.br/doutrina/a-igreja/1441-sobre-os-movimentos-da-igreja-catolica. Acessoem 07.05.2013.

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    1.2. Sobre os Arautos do Evangelho - surgimento/contextualização

    Naturalmente, as teorias, assim como as doutrinas, alimentam-se dos

    desejos, aspirações, temores, paixões, obsessões dos humanos; aspróprias teorias científicas são alimentadas pelos themata (Holton, 1982),ideias fixas obsessionais dos cientistas. (E. Morin)

    Quem são os Arautos do Evangelho

     Antes de conceituá-los, deve-se justificar o termo cyberspace, ao invés da

    palavra em português cyberespaço, tendo em vista que na pesquisa o termo será

    citado. Optou-se por cyberspace porque a adoção da versão original inglesa, de

    acordo com Eugênio Trivinho em “A dromocacia cibercultural: lógica da vida humana

    na civilização mediática avançada”; (2007; Paulus, p. 67), deve-se a razões de

    fidelidade à categoria crítica em todos os níveis epistemológicos da construção

    teórica. Trivinho cita:

    Trata-se, a rigor, de política da teoria como forma de rechaço organizado àtão em voga sedução da ingenuidade política e histórica. (....) Vale lembrarque a noção de cyberspace, egressa da ficção científica norte-americana  – 

    ela foi cunhada, como se sabe, em 1984, por william gibson (1985), que lhehavia concedido significado inteiramente surreal e futurista -, é, nos diascorrentes, assimilada, grosso modo, ao espaço-tempo imaterial produzidopela rede planetária de computadores, criada no final dos anos 60 do séculoxx, a internet, hoje em fase hipermediática (web), desencadeada no iníciodos anos 1990, com a invenção do modelo de interface gráficacibericonizada” (trivinho, e. 2007; p. 67.) 

    Sobre a definição, em livro comemorativo publicado em julho de 2001, a

    associação, grupo de afirmação católica, comemora o título de Associação

    Internacional de Fiéis de Direito Pontifício6

    , “que ocorreu por ocasião da festalitúrgica da Cátedra de São Pedro, (22 de fevereiro) em 2001”. 

     A aprovação lhes conferia a partir daquele momento um mandato especial,

    que implicava à comunidade uma relação própria com a Cátedra de São Pedro, ou

    seja, com o Papa, líder máximo da Igreja Católica, possibilitando que não mais

    estivesse como ponto de referência um bispo.

    De acordo com informações do Código de Direito Canônico, promulgado pelo

    6  Trecho de Publicação Comemorativa dos Arautos do Evangelho intitulada  –  Surge um novocarisma na Igreja, julho.2001. Pag.13.

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    Papa João Paulo II, o superior de Institutos Religiosos Clericais de Direito Pontifício

    e das Sociedades Clericais de Vida Apostólica de Direito Pontifício possui o direito

    de “poder executivo ordinário”. 

    Cân. 134 — § 1. Com o nome de Ordinário designam-se, em direito, alémdo Romano Pontífice, os Bispos diocesanos e os outros que, mesmo sóinterinamente, são colocados à frente de uma Igreja particular ou de umacomunidade equiparada segundo o cân. 368, e ainda os que nas mesmastêm poder executivo ordinário geral, a saber, os Vigários gerais eepiscopais; do mesmo modo, para com os seus súditos, os Superioresmaiores dos institutos religiosos clericais de direito pontifício e dassociedades clericais de vida apostólica de direito pontifício, que tenham pelomenos poder executivo ordinário.§ 2. Com o nome de Ordinários do lugar designam-se todos os referidos no§ 1, excetuados os Superiores dos institutos religiosos e das sociedades de

    vida apostólica.7

     A medida fez a vertente, agora mais próxima do Papa, ganhar respeito da

    comunidade católica e expandir os trabalhos. Sua organização demonstra

    complexidade quando o assunto é defini-los. De acordo com seu site oficial, o

    www.arautosdoevangelho.com.br, “a Associação dos Arautos é composta

    predominantemente por jovens entre 15 e 25 anos, e está presente em 78 países”8.

    O canal na internet afirma que os membros da Associação, embora hajaexceção àqueles que abraçam o sacerdócio, são leigos, ou seja, não professam

    votos, mas praticam o celibato e “dedicam-se integralmente ao apostolado, vivendo

    em casas destinadas especificamente para rapazes ou para moças, os quais

    alternam a vida de recolhimento, estudo e oração com atividades de evangelização

    nas dioceses e paróquias, dando especial ênfase à formação da juventude”9. 

    Compreende ainda a Associação Arautos do Evangelho outra categoria de

    membros, denominados Cooperadores. Segundo o site:

    7  De acordo com informações do Código de Direito Canônico, promulgado pelo Papa João Paulo II,versão portuguesa, 4ª edição, disponível no item ‘Normas Gerais’, subitem Do poder de governo(p. 23). O material está disponível na íntegra no endereço http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf

    8  A afirmação está disponível em http://www.arautos.org.br/view/show/341-arautos-do-evangelho

    acesso em 21.05.20119  Embora o Estatuto dos Arautos do Evangelho não esteja disponível em seu canal, taisinformações constam em vídeo disponível no portal e descrita na página de apresentação davertente. Ver: http://www.arautos.org/view/show/13713-arautos Acesso em: 21.05.2011

     

    http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdfhttp://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf

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    Embora sintam-se identificados com o espírito da Associação - lê-se nosEstatutos - não podem comprometer-se plenamente com os objetivos dela,devido a seus compromissos sacerdotais, ao fato de pertencerem a alguminstituto de vida consagrada ou sociedade de vida apostólica, ou a seusdeveres matrimoniais ou profissionais10.

    Sobre essa categoria, os Arautos do Evangelho demonstram grande simpatia

    àqueles que, embora parte de outra vertente da Igreja Católica ou tenham

    constituído família, ou ainda, exerçam profissão que não permita tempo livre para se

    envolver com as atividades do grupo, dispõem-se a participar dos encontros

    periódicos dos Arautos, e frequentam as ações de evangelização e rituais propostos.

    O grupo ainda se desdobra na Sociedade Clerical Virgo Flos Carmeli11,

    constituída por membros dos Arautos do Evangelho que se ordenaram sacerdotes

    após conviver na comunidade, e na feminina Regina Virginum, ramificação feminina

    dos Arautos12. Ambas receberam aprovação pontifícia em 4 de abril de 2009. Os

     Arautos contam com diversos conjuntos musicais, sendo o mais conhecido os

    Cavaleiros do Novo Milênio. Aqui verificamos mais um entre os vários itens de

    identificação da vertente com os Cavaleiros Templários, sobre o qual se tratará mais

    adiante.

    Deve-se observar como os Arautos do Evangelho, de cunho religioso,

    possuem normas e regras determinadas em um estatuto além daquelas próprias da

    Igreja Católica, demonstrando seu aspecto de associação. Os membros - leigos,

    casados, solteiros, sacerdotes, diáconos, religiosos devem, além de observar os

    deveres próprios a seu estado, viver de acordo com o carisma e a espiritualidade da

     Associação, comprometendo-se a cumprir as obrigações de membros do grupo.

    No que se refere ao seu estatuto, não disponível no canal na internet,

    10  Sobre a categoria do grupo chamada ‘cooperado’, o único local do site em que se encontrareferência faz a menção citada acima. Ver http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp Acesso em05.06.2011

    11  Informação disponível no desdobramento do site dedicado a essa ramificação da Associação.Cita que "A Sociedade nasce como expressão do carisma da Associação Arautos do Evangelho,com a especificidade da vocação sacerdotal, manifestando a vontade de atuar em comunhão demétodos e metas com a mencionada associação, e empenhando-se particularmente em que osfiéis que se sentem atraídos por este carisma tenham uma assistência ministerial, sobretudo, osque vivem em comunidade". Acesso em 04.03.12, disponível emwww.virgofloscarmeli.org/page/artigo/25280

    12  Informação disponível no desdobramento do site dedicado a essa ramificação da Associação. Citaque “nasce como expressão do carisma dos Arautos do Evangelho, aplicado às especificidades davida feminina, empenhando-se de modo particular em manifestar as suas características própriasno mundo secularizado”. Acesso em 04.03.12, disponível em www.reginavirginum.org.

     

    http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011http://www.joaocladias.org.br/arautos.asp%20Acesso%20em%2005.06.2011

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    conforme mencionado anteriormente, cita-se no portal que está delineada a sua

    vocação:

    Esta Associação nasceu com a finalidade de ser instrumento de santidadena Igreja, ajudando seus membros a responderem generosamente aochamamento à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade,favorecendo e alentando a mais íntima unidade entre a vida prática e a fé13.

     As palavras “plenitude” e “perfeição” são claros sinais de um discurso de

    autoengrandecimento de um grupo que se pretende eleito, escolhido, ou seja,

    exemplo para os demais, bem peculiar à estética classicista. 

    Esse comportamento se daria em decorrência do fechamento neles mesmos,e assim os membros enxergam-se como parte integrante dessa “comunidade”. O

    fechamento, o qual Zygmunt Bauman (2001: 16) denomina como círculo

    aconchegante, prevê uma organização viva e fechada (sem acesso), na qual seus

    membros se sentem seguros, capazes de defendê-la contra possíveis “invasores” ou

    demais fatores que abalariam sua estabilidade.

     As lealdades humanas, oferecidas e normalmente esperadas dentro do

    ‘círculo aconchegante’, não derivam de ‘uma lógica social externa ou dequalquer análise econômica de custo-benefício’. Isso é precisamente o quetorna esse ‘círculo aconchegante’: não há espaço para o cálculo frio quequalquer sociedade em volta poderia apresentar, de modo impessoal e semhumor, como ‘impondo-se’ à razão. E essa é a razão porque as pessoasafetadas por essa frialdade sonham com esse círculo mágico e gostariamde adaptar aquele mundo frio ao seu tamanho e medida. Dentro do ‘círculoaconchegante’ elas não precisam provar nada e podem, o que quer quetenham feito, esperar simpatia e ajuda14. (BAUMAN. Z. 2001, p. 16).

    Nesse trecho, Bauman menciona como o diálogo estabelecido entre o grupo

    pode diferir daquele entre as demais pessoas, conferindo a ele uma característicaprópria, em virtude de estar fechado em si mesmo, impossibilitando o olhar sob

    pontos de vista diferentes. 

    O fechamento do grupo em si mesmo é latente no já citado estatuto dos

     Arautos do Evangelho. Em livro comemorativo publicado em 2001 cita-se que o

    13  Informação disponível em www.arautosdoevangelho.com.br. Acesso em maio de 2011.14  No livro “Comunidades: a busca por segurança no mundo atual”, Zygmunt Bauman menciona que

    quanto mais fechadas as comunidades, mais segurança elas sentem e mais homogêneas são,não permitindo a interferência externa, logo, questionamentos sobre condutas e discursos. Pag.16.

     

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    estatuto de criação foi aprovado em 21 de setembro de 1999, por dom Emílio

    Pignoli, então bispo diocesano de Campo Limpo (SP), que abarca parte da região da

    cidade de São Paulo.

    Sobre sua origem, as informações oficiais da Associação não são

    elucidativas. O mesmo livro (2001; 56) menciona que a origem dos Arautos “teve a

    Providência seus desígnios misteriosos”, referindo-se aos “insondáveis desígnios de

    Deus”. 

    Sua origem remonta, em meados do século passado, a um grupo de jovens que se aglutinou em São Paulo para admirar a harmonia e cultivar aespiritualidade que se evoca do canto gregoriano, em meio ao estudo daDoutrina Católica. Por essa via estava a Providência convidando-os para seentregarem por inteiro ao verdadeiro Autor de todas as pulcritudes. Aomesmo tempo, o Espírito Santo suscitou em suas almas o anseio deformarem uma instituição de cunho religioso, com a finalidade depromover a santificação pessoal,  enquanto utilizariam a música e acultura em geral como meio de evangelização15.

    Há novamente elementos da estética classicista no discurso dos Arautos do

    Evangelho, como a relação entre arte e espiritualidade. Observa-se aqui o uso de

    um discurso que reforça a noção de antiguidade, e que na verdade não condiz com

    a realidade.

    De acordo com o mesmo material, a partir desse momento “os Arautos do

    Evangelho passavam a ser instrumentos vivos da Sagrada Hierarquia a serviço da

    Nova Evangelização”. Nota-se o esforço dos Arautos em se afirmar como grupo

    escolhido em todo o discurso da vertente, no site oficial e nas demais publicações.

    Mostrar-se como ‘ligados diretamente ao Papa’, líder máximo da Igreja Católica,

    pregar a ‘nova Evangelização’, como se a existente não fosse a ideal para umprojeto de salvação são afirmações que denotam essa característica.

    Como já evidenciamos através de imagens do portal, essa insistência na

    hierarquia faz parte da linguagem gestual dos Arautos do Evangelho. A organização

    e disposição do grupo nos sugere um exército sempre pronto para agir. Segundo

    Boris Cyrulnik em O homem e o encantamento do mundo (1999; p. 100), devido a

    sua aptidão para a palavra, o homem fala também pelos gestos.

    15  Publicação comemor ativa “Arautos do Evangelho – surge um novo carisma na Igreja”; 2001. Pág.57.

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    Durante uma reunião política, a decoração do estrado, a disposição dosdirigentes e o panurgismo nos seguidores estruturam no espaço uma“geometria que quer dizer”. Se o chefe subir para um estrado com TREmetros de altura, equivalente moderno de um trono, enquanto a multidão évigorosamente ordenada por um serviço de ordem, esta geometria elabora

    um discurso sem palavras. (...) O espaço e os gestos pré-dizem e, tal comoas palavras, podem mentir. (CYRULNIK, B. 1999; p. 100)

     A linguagem textual dos Arautos do Evangelho nos falam tanto quanto o texto

    que constroem em seu canal. neste sentido, destacamos também a linguagem

    utilizada para a internet: a figura do fundador, monsenhor João Scognamiglio Clá

    Dias. João Clá possui uma área criada especificamente para suas mensagens, no

    endereço www.joaocladias.org.br, que detalha das origens do fundador à trajetória

    da sua vida pública.

    João Clá Dias, segundo informações dessa área, é brasileiro, nascido em São

    Paulo, a 15 de agosto de 1939. O canal enfatiza a data comemorativa da Igreja

    Católica por ocasião do nascimento de João Clá: a 15 de agosto se celebra a

    solenidade da Assunção de Nossa Senhora.

     Afirma ainda que seus pais, António Clá Dias e Annitta Scognamiglio Clá

    Dias, “constituíam uma família de imigrantes europeus (o pai era espanhol e a mãeitaliana), na qual a fé católica, herdada de seus maiores, era ainda muito viva”16.

    Com fotos do fundador em quase todas as páginas, o site menciona o grau

    acadêmico de João em vários momentos, inclusive na página oficial dos Arautos do

    Evangelho, evidenciando a busca pela excelência.

    Informações sobre o surgimento e a fundação da Associação não são

    próprias dos canais oficiais. No entanto, há na página de João Clá Dias detalhes

    sobre sua tese de doutorado:

    O objetivo da tese é abordar cientificamente o problema que consiste emencontrar a figura jurídica mais adequada para enquadrar a obra dos Arautos do Evangelho no ordenamento canônico, garantindo-lhe a unidadeinstitucional com o englobamento dos diversos estados de vida, o que evitao risco de uma fragmentação futura da instituição e de um desvirtuamentodo carisma; problema de máxima atualidade para diversos movimentoseclesiais que iniciaram sua trajetória institucional como associação privadade fiéis17.

    16  Disponível em http://www.joaocladias.org.br/Mostra_Noticia.aspx?id=11. Acesso em 25.05.2011.17  Disponível em http://www.arautos.org/artigo/19510/Os-homens-de-fe-mudam-os-rumos-da-

    Historia.html. Acesso em 25.05.2011.

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    Esses conceitos estão estampados no brasão19 que ostentam, no portal e nas

    roupas. Afirma o site:

     A espiritualidade tem como linhas mestras a adoração a Jesus Eucarístico,de inestimável valor na vida da Igreja, para construí-la como una, santa,católica e apostólica, corpo e esposa de Cristo (EE 25, 61); a filial piedademariana, imitando a sempre Virgem  e aprendendo a contemplar n’Ela orosto de Jesus; e a devoção ao Papado, fundamento visível da unidade dafé20. 

    Como mencionado, a importância da hierarquia sob a qual se organizam é

    tratada com seriedade.

    Sobre a obediência a Maria, apesar da possível devoção dos pais de JoãoClá Dias e a data na qual o fundador nasceu, não se pode esquecer que é um dos

    dogmas principais da fé católica. Com relação à adoração de Jesus Eucarístico, fala-

    se novamente de um dos dogmas da fé cristã-católica, que crê na encarnação do

    ‘corpo de Cristo’ no pão e no ‘sangue de Cristo no vinho’, momento em que Deus se

    faria presente nesses dois itens.

    Dessa forma, ‘corpo de Cristo’, como a Igreja se refere àqueles que fazem

    parte do corpo da Igreja Católica, é uma tentativa de os Arautos demonstrarem que

    fazem parte desse corpo-igreja.

    1.3. Os Arautos do Evangelho e TFP

     A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade  – TFP

    define-se21  como entidade cívica legalmente registrada em São Paulo em 1960.

    Fundada por um grupo de católicos leigos tradicionalistas, encabeçados por Plínio

    19  Sobre o brasão ver http://www.arautos.org.br/imprimir/19510.html Acesso em 22.05.2011.20  Um dos dogmas da fé católica é a assunção de Maria, Mãe de Jesus, ao céu, de corpo e alma.

    Diante da pureza e virgindade de Maria, ela não mereceria morrer como uma pessoa qualquer. Oscatólicos acreditam que, devido à sua obediência e resignação, Maria teria sido levada aos céuspelos anjos, por isso essa data é tão importante, e achamos relevante citá-la nesta parte dapesquisa, considerando ainda a Obediência filial à Maria um dos pilares dos Arautos doEvangelho. Ver citação em http://www.acnsf.org.br/article/19510/Os-homens-de-fe-mudam-os-rumos-da-Historia.html. Acesso em 22.05.2011.

    21  Quem é a TFP. Disponível em http://www.tfp.org.br/tradicao-familia-e-propriedade/luz-agua-ou-lenha. Acesso em 05.06.2011.

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    Corrêa de Oliveira22  e com atuação política destacada nas décadas seguintes ao

    seu surgimento, a TFP, mesmo com a morte de seu criador, em 1995, ainda possui

    sócios que mantêm sua organização original. Formam, em cada Estado, uma seção,

    tendo à frente um diretório seccional, que se divide em subseções, coordenadas por

    dois órgãos de jurisdição em todo o país: o Conselho Nacional, com o encargo das

    atividades sociais em seus aspectos culturais e cívicos, e a Diretoria Administrativa e

    Financeira Nacional, cujo campo de ação é definido pelo próprio título.

    Segundo Gizele Zanotto (2006)23:

    Sua matriz de interpretação do mundo deriva do catolicismo integrista,

    doutrina contrarrevolucionária que preconiza uma reedificação da ordemsocial cristã como a única solução aceitável para a solução dos problemasengendrados desde o fim da época medieval pela chamada modernidade(ZANOTTO, G. 2006; p. 8).

    Em seu site oficial, o www.tfp.org.br, mantido por membros da TFP que ainda

    tentam preservar o que sobrou da Sociedade após a morte de Plínio, está a

    afirmação de que a finalidade da TFP “é combater a ‘maré -montante do socialismo e

    do comunismo’24, o que comparam com ‘a tuberculose simples e a tuberculose

    galopante”. Segundo a concepção dos tefepistas, ambos os “males” (exposto desta

    forma no site) repousam sobre a mesma base filosófica, que induzem a uma série de

    máximas culturais, sociais e econômicas. Portando, a sociedade teria como objetivo

    combater essas correntes filosóficas. Utilizam como principal instrumento as obras

    doutrinárias escritas por sócios ou amigos, cujo sistema de difusão consiste na

    22  Plínio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo/SP em 1908. Sua militância católica iniciou-se nosanos 20, como integrante da Congregação Mariana na Paróquia de Santa Cecília, e se estendeu

    até seus últimos dias, tendo participado ativamente de atividades de inspiração cristã, como afundação da Ação Universitária Católica – AUC, na Faculdade de Direito, onde estudava (1929); acriação da Liga Eleitoral Católica - LEC (1932); deputado federal na Assembleia Constituinte(1934-1937); diretor do jornal O Legionário, Órgão da Congregação Mariana de Santa Cecília,transformado em porta-voz oficioso da Arquidiocese de São Paulo (1933-1947); presidente daJunta Arquidiocesana da Ação Católica Paulista (1940-1943); orientador e inspirador do mensáriode cultura Catolicismo (fundado em 1951); fundador e presidente vitalício da Sociedade Brasileirade Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP. Plínio Corrêa de Oliveira faleceu em SãoPaulo, no ano de 1995, em odor de santidade, segundo seus sequazes. Ver Gizele Zanotto, artigo“Tradição, Família e Propriedade: cristianismo, sociedade e salvação”, 2006. 

    23  ZANOTTO, Gizele. “Tradição, Família e Propriedade: cristianismo, sociedade e salvação”, In: XICONGRESSO LATINO-AMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE - MUNDOSRELIGIOSOS: IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS, 2006, São Bernardo do Campo/SP. Anais do

    XI Congresso Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade - Mundos Religiosos: Identidades eConvergências. São Bernardo do Campo/SP: UMESP/ALER, 2006. v. I. 

    24  Acesso em 05.06.2011. Disponível em http://www.tfp.org.br/tradicao-familia-e-propriedade/luz-agua-ou-lenha

     

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    venda em logradouros públicos, por grupos de jovens que levam o característico

    estandarte rubro com o leão rompante. O símbolo seria uma referência a um grupo

    de militantes da Igreja tradicionalista do início do século XX.

    1.3.1. O “racha” da TFP 

    Matéria publicada pela revista Veja25  menciona que as grandes brigas que

    racharam a TFP se deram após a morte de Plínio, como mencionado, em

    decorrência da disputa por donativos entre a TFP e os Arautos do Evangelho.

    Matéria publicada pela Folha de S.Paulo, e reproduzida no site

    www.fundadores.org.br, datada de 13 de dezembro de 2008, afirma:

    Eles perderam o controle da entidade em 2004, numa disputa judicial quehavia começado em 1997. Um grupo dissidente, liderado pelo hojemonsenhor João Scognamiglio Clá Dias, exigiu na Justiça o direito de queas decisões da organização não fossem tomadas apenas pelo pequenogrupo de, então, oito sócios-fundadores remanescentes. Os dissidentesperderam em primeira instância, mas ganharam a causa e o controle daTFP em decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo em 2004. Desde entãoo processo aguarda julgamento final no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

    Entre 2004 e 2006, os sócios-fundadores e seus seguidores se separaramda “nova” TFP e passaram a se denominar “Associação dos Fundadores daTFP”. Há dois anos, nova decisão proibiu o uso da sigla pelos fundadores.Eles então passaram a se denominar apenas “Associação dos Fundadores”.Clá Dias e seus seguidores, também fundadores da associação ligada àIgreja Católica Arautos do Evangelho, são acusados pelos fundadores deterem tomado o controle da entidade que teve seu auge no regime militar(1964-1985) para abandonar a principal característica da TFP: a militânciapolítica em defesa intransigente do direito de propriedade e combate amovimentos sociais que ameacem esse princípio. (FOLHA DE S.PAULO; 13de dezembro de 2008)

     A matéria afirma, na ocasião em que se celebrava o centenário de Plínio(2008), que fundadores do grupo perderam o direito de usar a sigla da TFP e que

    disputas judiciais após a morte de Plínio deram poder ao grupo dos Arautos do

    Evangelho, que teria deixado de fazer militância política.

     Aqui caberia questionar se na ênfase da vertente nas questões de disputas

     judiciais estaria sinalizada, na realidade, uma disputa financeira.

    25  Matéria “A TFP do B”, publicada pela revista Veja em 28 de abril de 2004. Disponível emhttp://veja.abril.com.br/280404/p_094.html. Acesso em 24.06.2011.

    http://www.fundadores.org.br/http://www.fundadores.org.br/

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    1.3.2. João Clá Dias e Plínio Corrêa

    Dados históricos como os citados revelam que na base da disputa pelas

    propriedades deixadas pela TFP e pelo legado da Sociedade surgem os Arautos do

    Evangelho. Embora não haja sequer uma citação sobre a TFP no site oficial, é

    possível encontrar referências do vínculo entre a TFP e os Arautos em diversas

    publicações.

    No site oficial da TFP (www.tfp.org.br), por exemplo, a imagem de Nossa

    Senhora de Fátima aparece nos mesmos moldes de utilização do site oficial dos

     Arautos do Evangelho.

    Figura 4 - Home do site www.tfp.org

    Fonte: www.tfp.org (acesso em 18.08.12)

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    30 

    Figura 5 - Home do site www.tfp.org - “Visitas da Imagem de Nossa Senhora deFátima”. 

    Fonte: site www.tfp.org (acesso em 18.08.12)

    Figura 6 - Home do blog desdobramento do portal dos Arautos do Evangelho. 

    Fonte: www.cavalariademaria.blog.arautos.org. Acesso em 18.08.12.

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    Figura 7 - Home do site desdobramento dos Arautos do Evangelho. Sob o título“Imagem peregrina recebe devotas manifestações de afeto” constata-se que no site

    dos Arautos e no da Cavalaria de Maria, a ‘visita da Imagem’ está em destaque. 

    Fonte: Disponível em www.cavalariademaria.blog.arautos.org. Acesso em 18.08.12

    Na matéria veiculada pela Veja, a relação de João Clá Dias e Plínio Corrêa é

    clara. João Clá teria militado por mais de 30 anos na TFP. Nos anos 60 se

    aproximou de Plínio, de quem foi secretário particular.

    O fundador dos Arautos do Evangelho se tornou uma espécie de ‘amigo da

    família’ e da mãe de Plínio, conhecida por dona Lucília, e “se prontificado a escrever

    um livro sobre ela: uma obra de três volumes ricamente ilustrada”

    26

    .

    1.3.3. Sociedade secreta

    Este capítulo será encerrado com informações sobre a possível participação

    de João Clá Dias em uma ‘sociedade secreta’.

     A matéria da revista Veja menciona, sem citar a fonte, que um ex-teefepista

    declarou ao repórter a participação do fundador dos Arautos do Evangelho em ‘uma

    26  Ver www.tfp.org.br/fundador. Acesso em 20.07.2012.

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    32 

    ala da TFP que cultuava as figuras de Plínio e de dona Lucília como se fossem

    santos’, ou seja, uma sociedade com ritos secretos, fazendo referência a João Clá

    como sucessor espiritual de Plínio.

    Sérias acusações sobre o mesmo assunto são feitas ainda pela Associação

    Cultural Monfort27, vertente tradicionalista que prega a defesa da Igreja Católica e

    seus ensinamentos contra o que denominam “erros do tempo”. Em seu site oficial28 

    há uma série de artigos que relacionam os Arautos à TFP. A Monfort menciona que

    essa sociedade secreta, intitulada “Sempre Viva”, era citada em código como

    ‘Família de Almas’. 

    Seu grupo inicial permaneceu longo tempo muito reduzido, um tanto estranho,e muito reservado. Ele inicialmente fazia reuniões na Rua Martim Francisco,onde morava o Cônego Antônio de Castro Mayer. Depois, ao receberem doisapartamentos num edifício da Rua Vieira de Carvalho, doados a eles, depoisda morte de um membro do grupo inicial, este passou a se denominarcorriqueiramente como o grupo da Vieira de Carvalho. Como na Maçonaria,se designam as lojas com o nome de Loja da Rua Tal, assim também semprefoi costume na TFP: as várias sedes sempre eram designadas como grupo darua Tal ou da rua Tal outra. E sua gíria interna sempre teve termos usados naMaçonaria. (Site oficial da Associação Monfort.http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra )

    O texto menciona que o grupo de Plínio manteve-se reduzido até a década de

    1950.

     A Monfort teria denunciado a sociedade secreta conhecida por “Sempre Viva”

    por trás da TFP na obra “Por trás do estandarte” (Editora: 2000) .  Afirma ainda que

    em 1975 Plínio teria se declarado fundador da instituição secreta, que passou a ser

    intitulada “Sagrada Escravidão”, pois todos os seus membros, na cerimônia de

    iniciação, deviam fazer uma consagração pessoal como escravos do Dr. Plínio,entregando-lhe sua pessoa, corpo e alma, bens interiores e exteriores.

    27  De acordo com seu site oficial, a Associação Cultura Monfort é formada por leigos católicos,fundada por Orlando Fedeli em 1983. O grupo declara seguir as orientações de dom CastroMayer, bispo da Igreja Católica que, durante o Concílio Vaticano II, assumiu-se como um doslíderes da área conservadora, especialmente no campo da ortodoxia. Ainda define em seu site queo centro de suas atividades “é a luta em defesa da Igreja Católica e de seus ensinamentos, contraos erros de nosso tempo, especialmente no que se refere às doutrinas modernas e suasconsequências que se difundiram na Igreja após o Concílio Vaticano II”. Mais detalhes noendereço http://www.montfort.org.br/quem-somos/. Acesso em 10.05.2013.

    28  No endereço em que está disponível uma extensa coleção de artigos acusando os Arautos do

    Evangelho de ‘esconderem’ uma sociedade secreta, há uma coleção digital de arquivos referentesà história da Igreja, do Papa, arte, ciência e fé, dentre outras. Disponível emhttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&. subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra . Acesso em 15.07.2011.

     

    http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=brahttp://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cadernos&.%20subsecao=religiao&artigo=pco-vii&lang=bra

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    Todas as teses da Monfort resultariam na publicação “No país das

    maravilhas: a gnose burlesca da TFP e dos Arautos do Evangelho”, escrita por

    Orlando Fedelli. O resumo do livro (tem, no total, mais de 300 páginas) está

    disponível para download em diversos sites da internet.

    Sociedades secretas ou não, TFP e Arautos do Evangelho possuem em sua

    configuração diversas semelhanças. Gizele Zanotto (2006), que estudou a TFP e

    seus conceitos, afirma que a prática social do grupo vivenciada por seus membros

    baseia-se essencialmente em três fontes:

    Que sistematizam a compreensão de que o mundo moderno é tido por

    catastrófico em função de um pluricelular processo maligno de destruição dacivilização cristã, que só será detido se os homens novamente seconverterem à verdadeira fé e praticarem a verdadeira devoção a NossaSenhora, padroeira da Contrarrevolução e responsável pela vitória do bemsobre o mal pela distribuição da graça. As três fontes são “Revolução econtrarrevolução”, obra de Plínio Corrêa de Oliveira lançada em 1959; adevoção Mariana, fundamentada na obra de São Luís Maria Grignion deMonfort, “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”; e amensagem contrarrevolucionária de Nossa Senhora de Fátima (ZANOTTO,Gizele, 2006; p.2).29 

     Além dos citados elementos da estética classicista encontrados na

    comunicação dos Arautos do Evangelho, há aqui esse tipo de presença igualmente

    na TFP. Como exemplo, a revolução em busca dos ideais de perfeição humana.

    É possível verificar ainda que os Arautos do Evangelho herdaram da TFP

    toda a espiritualidade e devoção a Nossa Senhora de Fátima, que aparece em

    vários momentos. O devotamento segue o modelo traçado por São Luís Maria

    Grignion de Monfort.

    1.4. Cavaleiros Templários

    Em busca dos referenciais simbólicos que norteiam os Arautos do Evangelho,

    deparamo-nos com as constantes semelhanças com os Cavaleiros Templários.

    29  A publicação da pesquisadora Gizele Zanotto cita que nas obras mencionadas acima, o fundadorda TFP descreve os problemas que impulsionaram a decadência da cristandade e quais as táticasde contrarrevolução para combater a decadência da cristandade. Sobre São Luís Maria Grignion

    de Monfort, os Arautos do Evangelho declaram em seu site que a espiritualidade da vertente, ouseja, o modo como costumam vivenciar a prática da fé baseia-se, segundo o santo, conhecidopela crença católica, no trabalho com os pobres e por ser defensor da piedade, e ‘pelaconsagração a cristo pelas mãos de Maria’. Ver: www.cademeusanto.com.br. 

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    Na história, tudo o que provoca pouca informação é passível de devaneios,

    oriundos da capacidade imaginativa do ser humano. Encontrar informações que

    sejam fiéis aos Cavaleiros Templários não foi tarefa fácil, dado o número de

    especulações sobre sua verdadeira história.

    Esta pesquisa não tem como objetivo principal aprofundar-se na história da

    ‘Ordem Militar e Religiosa’, mas pretendeu averiguar as semelhanças entre os

    Cavaleiros Templários e os Arautos do Evangelho, a fim de compreender as

    influências dos Templários. As semelhanças vão além da indumentária.

    Figura 8 - Indumentária Arautos do Evangelho (Reprodução livro comemorativo pelaaprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício, publicado em julho de

    2001).

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    Figura 9 - Arautos do Evangelho perfilados como exército (reprodução livrocomemorativo pela aprovação do grupo como Associação de Direito Pontifício,

    publicado em julho de 2001). 

    Figura 10 - Indumentária dos Cavaleiros Templários

     Fonte: www.ohistoriador.com.br. Acesso em 15.05.12

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    Figura 11 - Indumentária dos Cavaleiros Templários

    Fonte: www.virgiliocamposhistoriaantiga.blogspot.com. Acesso em 15.05.12

    O fascínio pelas sociedades secretas alimenta lacunas dos mais diversos

    tipos, que vão do fanatismo religioso às teorias de conspiração, não muito diferentes

    do que se lê sobre os Templários e do que se estudou aqui sobre os Arautos.

    Oddvar Olsen, no livro “Templários: as sociedades secretas e o mistério do

    Santo Graal” (1971; p. 24), menciona que, se “por um lado os Templários eram

    conhecidos como devotos, leais e famosos guerreiros monásticos das Cruzadas – os

    cavaleiros brancos da cristandade medieval, por outro lado havia rumores de que

    eles faziam rituais místicos, guardavam o Santo Graal e possuíam tesouros perdidos

    no Templo de Jerusalém”. 

    Em artigo apresentado no Congresso Internacional de História (setembro de

    2011), Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis30 citam que em 1120

    “alguns cavaleiros cruzados que participaram da tomada de Jerusalém, receberam a

    missão de proteger os peregrinos que viajavam à Terra Santa contra os ataques dos

    muçulmanos”.

    Segundo Oddvar Olsen, autor de “Templários - sociedade secreta e o mistério

    do santo graal (Editora Best Seller, 2011), a Ordem dos Cavaleiros Templários

    30   Artigo intitulado “A estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários”,apresentado no Congresso Internacional de História, setembro de 2011, disponível emhttp://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf. Acesso em 20.12.2012.

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    existiu de 1118 a 1312; segundo Willian de Tiro (cidade localizada no Líbano, na

    costa do Mar Mediterrâneo), arcebispo de Acre (região ao sul de Sidônia, também no

    Líbano), que escreveu o livro “The History of the Deeds Byoung the Sea”,

    considerada uma das obras mais confiáveis em termos de informações históricas a

    respeito do assunto, os primeiros Templários eram de famílias nobres da França. Ele

    cita como os mais notáveis dos nove cavaleiros fundadores: Hugo de Payen e

    Godofredo de St. Homer, além de André Montbard, Payen de Montdidier,

     Achambaud de St. Amand, Geoffroi Bisol e Godofredo de Boillon.

    Olsen contextualiza:

     Ao chegarem à Terra Santa, eles se apresentaram ao irmão mais jovem deGodofredo de Boillon (que havia aceitado o título de Rei Balduíno II deJerusalém), que deu à Ordem recém-fundada instalações com conexão coma mesquita Al-Aqsa. A missão dos Templários, como declarado na obra deWillian de Tyre, era ‘(...) guardar as rotas e as estradas (...) com umaatenção especial para a proteção dos peregrinos...(ODDVAR, Olsen. 2011;p. 25)

     Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis (2011) definem de forma

    semelhante a estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários. O

    grupo buscou, como afirmam, a proteção dos peregrinos e o reconhecimento da

    Igreja Católica para oficialmente terem uma identidade.

     Ao completarem nove anos de estadia em Jerusalém, Hugo de Payns,representando aquele pequeno grupo de cavaleiros, compareceu diante doConcílio de Troyes, com a intenção de obter o reconhecimento da Ordempela Igreja Católica, acabar com a crise de identidade que os irmãospassavam e conseguir uma Regra que pudesse normatizar seufuncionamento” (MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime Apud Demurger. 2011).31 

     A publicação “Sociedades secretas”, número 1, da Editora Escala (55; 2011),

    reproduz as informações dos pesquisadores citadas nas duas fontes acima.

    Segundo a revista, “em 1118, após a tomada de Jerusalém pela Pr imeira Cruzada e

    o surgimento de um reino cristão no Oriente, Hugo de Payen e oito cavaleiros que

    31  Augusto Moretti Junior e Jaime Estêvão dos Reis citam os estudos de Alain Demurger sobre aestruturação do poder na Ordem dos Templários. Moretti e Estêvão mencionam que em 26 denovembro de 1095 “um dia antes da proclamação da primeira Cruzada”, houve uma discussão

    sobre as mudanças de propostas de direcionamento da Igreja Católica, que ficou conhecida comoReforma Gregoriana. Apoiados nos estudos de Demurger, os historiadores mencionam que “areforma visava, prioritariamente, libertar a Igreja do domínio dos laicos”. O artigo pode ser lido naíntegra no link: http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf

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    participaram da empreitada pediram autorização a Bauduíno II para permanecer na

    cidade. O objetivo era defender os territórios cristãos conquistados e proteger os

    peregrinos que se deslocavam ao local sagrado” (2011; p.55). 

    Os historiadores Moretti Junior e Estevão dos Reis destacam que as origens

    da Ordem do Templo são pouco conhecidas em consequência da ausência de

    documentos.

    Os relatos históricos que abordam a fundação da Ordem são bemposteriores à sua fundação. O mais célebre relato pertence ao bispoGuilherme de Tiro. Esse religioso escreve que os primeiros fundadoresforam Hugo de Pains e Godofredo de Saint Omer. Segundo ele, a nova

    Ordem não tinha Igreja e nem um domicílio permanente. Então, o Rei deJerusalém, Balduíno II, permitiu que eles se alojassem por certo tempo nopalácio real, situado ao lado do Templo do Senhor, a Cúpula da Rocha.(MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime. 2011; p. 4)

     A partir daí encontramos as primeiras semelhanças entre os Arautos do

    Evangelho e os Cavaleiros Templários. Segundo o livro de Olsen, em 1139, no

    Concílio de Troyes, em Champagne, França, “os Cavaleiros Templários foram

    reconhecidos por São Bernardo de Claraval e criaram a Regra dos Cavaleiros

    Templários. Essa regra outorgou aos Templários autonomia legal e o direito de, apartir de então, obedecerem apenas ao papa e a Deus. O papa aprovou oficialmente

    a Ordem em 1139”. 

    Moretti Junior e Estevão dos Reis mencionam que com a formação da Ordem

    do templo surgiria a figura dos monges-cavaleiros.

    Esses monges viviam sob uma Regra, e diferentemente dos seuspredecessores que viviam isolados em monastérios e levavam uma vidacontemplativa, atuavam no mundo em defesa de Cristo e a serviço daIgreja, embora pertencessem a uma instituição independente,vinculada diretamente ao papa  (MORETTI, A. e ESTEVAO, Jaime ApudDemurger. 2011)32.

     A edição da revista “Sociedades secretas”33  menciona que “uma das

    principais características da Ordem era sua autonomia em relação à hierarquia da

    32   Artigo intitulado “A estruturação do poder na Ordem Militar dos Cavaleiros Templários”,

    apresentado no Congresso Internacional de História, setembro de 2011, disponível emhttp://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/68.pdf

    33   A revista “Sociedades secretas” utilizada como fonte nesta pesquisa é a edição de número 1 e foipublicada pela Editora Escala no ano de 2001.

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    Igreja. Seus membros estavam sujeitos apenas ao papa” (2011; p. 56). 

    Os Arautos do Evangelho se preocupam em se respaldar em um estatuto que

    os ampara nas regras e orientações de vida do membro. Por esse estatuto o grupoconseguiu a Aprovação de Direito Pontifício34, que lhe dá, assim como aos

    Templários, o direito de responder diretamente ao papa, o que é na realidade o que

    os caracteriza no cenário das vertentes católicas do Brasil. Outra semelhança refere-

    se ao estilo de vida dos Templários: votos de castidade, pobreza e dedicação

    altruística, e ‘uma vida monástica bastante disciplinada e de rotina rígida’. 

    Destaca-se ainda a opção dos Cavaleiros Templários, segundo Olsen, pelas

    catedrais góticas.

    Os Cavaleiros Templários usaram sua sabedoria e suas habilidades paraconstruir muitas das magníficas catedrais góticas. O conhecimento daOrdem sobre geometria e simbolismo sacro pode ser visto em Chartres,Notre Dame, e em outras maravilhas arquitetônicas. Além disso, a influênciado design do Santo Sepulcro (em Jerusalém) pode ser vista nas clássicasigrejas redondas dos Templários, baseadas na geometria octogonal”.(OLSEN , Odwar. 1971; p. 21)

    Os Arautos do Evangelho manifestam, igualmente, sua opção pela arquiteturagótica, haja vista o belíssimo templo construído pelo grupo em São Paulo (SP), no

    alto da Serra da Cantareira.

    34  Trecho da homilia citada em publicação comemorativa da aprovação dos Arautos como

     Associação de Direito Pontifício, datada de julho de 2001 e distribuída gratuitamente relata: “Aaprovação não é uma coisa estática, é preciso sublinhar, é uma coisa dinâmica, é um mandato.Sabendo o que os senhores querem fazer, o que os senhores se propuseram a fazer, depois deum atento exame, a Santa Sé, pelo Conselho dos Leigos, o Santo Padre, por meio desteConselho, considera oportuno, importante e atual. Isso, os senhores, a partir de agora, a partirdesta aprovação-ereção pontifícia, o fazem com esta orientação, decisão, mandato especial. Oque implica que a comunidade dos senhores estendida pelo mundo adquire com a Cátedra dePedro uma relação própria. E o ponto de referência dos senhores, que até agora era o bispo tal ouqual, o bispo da diocese em que os senhores já haviam sido previamente aprovados, agora, oponto de referência é o que está representado aqui acima de mim, ou seja, a Santa Sé, a Cátedrade Pedro". Trecho da homilia do cardeal Jorge María Mejia, Arquivista da Igreja Católica epresidente da Biblioteca Vaticana, em 27 de fevereiro de 2001, que concelebrou a missa queconcedeu aos Arautos o Título de Associação Internacional de Direito Pontifício. Dessa forma, a

     Associação ganhou autonomia para suas atividades de evangelização, sem necessariamenteprecisar de autorização do bispo da diocese à qual pertencem. Essa relação é estabelecida comoforma de orientação e 'respeito' ao bispo, e não implicitamente aprovação do que o grupo desejarealizar.

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    40 

    Figura 12 - Catedral de Notre Dame

    Fonte: megaconstrucciones.net/images/edificios-religiosos/foto/catedral-notre-dame-2.jpg. Acesso em15.05.12

    Figura 13 - Igreja Nossa Senhora do Rosário – Serra da Cantareira, construída ecoordenada pelos Arautos do Evangelho.

    Fonte: www.thabor.blog.arautos.br. Acesso em 15.05.2012

    1.4.1. Guardiães do Santo Graal?

    Sobre as especulações acerca do segredo que a Ordem protegia, mais se

    destaca a de que os Templários seriam guardiões do Santo Graal. O mistério

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    acontece pelo que realmente seria o Santo Graal e quais indícios fizeram com que

    essa questão permanecesse latente no imaginário humano. O Graal, segundo a

    revista Sociedades Secretas, seria uma taça.

    Diz a lenda que foi a taça na qual Jesus bebeu na última ceia; outra lendadiz que foi a taça em que José de Arimateia colheu o sangue que saiu dasferidas de Jesus na cruz. Uma terceira versão da mesma lenda diz queMaria Madalena teria coletado o sangue de Jesus nessa taça.(SOCIEDADES SECRETAS, Escala, 2011; p. 96).

    Jean Chevalier, no “Diccionario de los Símbolos” (1986, p. 536), cita várias

    definições para o Graal. Menciona Julius Evola (Julius Evola, en BOUM, 53), quando

    define “el grial... es propriamente un objeto sobrenatural, cuyas principales virtudesson: que alimenta (don de vida); ilumina (espiritualmente); hace invencible.

    Segundo o autor, entre as várias explicações, a menos delirante é a de Albert

    Béguin, que define o Graal como sangue de Jesus Cristo; o do cálice, que segundo

    a doutrina católica foi oferecido aos discípulos na última ceia, no ritual em que é

    lembrado em todas as missas, e aquele sangue que impregnou os tecidos do

    sepulcro:

    El graal representa a la vez, y substancialmente, a Cristo muerto por loshombres, el cáliz de la santa cena (es decir la gracia divina concedida porCristo a sus discípulos), y en fin el cáliz de la misa, que contiene la sangrereal del Salvador. La mesa donde reposa el vaso es, pues, según estos tres planos, la piedra del santo sepulcro, la mesa de los doce apóstoles, y por finel altar donde se celebra el sacrificio cotidiano. Estas tres realidades, lacrucifixión, la cena y la eucaristía, son inseparables y la ceremonia del griales su revelación, al ofrecer en la comunión el conocimiento de la persona deCristo y la participación en su sacrifício salvifico. (CHEVALIER, 1986, apudBEGG, p. 18).

    Lendas e especulações à parte, é possível analisar pela contextualização do

    surgimento dos Arautos do Evangelho que há a busca incessante pelo modelo de

    perfeição e beleza.

    Os elementos de semelhança com os Cavaleiros Templários permitiriam

    afirmar que se acreditaria defensora de um Santo Graal.

    Em ambas as Ordens estão implícitos conceitos de eugenia: para ‘ser de

    Deus’ é preciso, além de aceitá-lo e viver de acordo com os ensinamentos da Igreja

    Católica, pertencer a um grupo de pares idênticos, belos e perfeitos.

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    No documentário “Arquitetura da destruição”35  (Peter Cohen, Suécia, 1992),

    há a descrição de toda a ação do ditador alemão Adolph Hitler para eliminar o que

    não se enquadrava no que entendia por perfeição. A produção detalha em imagens

    e descrições históricas como o ditador alemão sacrificou vidas que se não se

    encaixavam no seu padrão de beleza: assassinou doentes mentais, idosos e

    portadores de deficiência física. Outro documentário do mesmo diretor, “Homo

    Sapiens 1900” (1998), detalha em fotografias e documentos o que é o conceito de

    limpeza racial para a construção de uma raça superior. O ideal de perfeição é o que

    hoje entendemos por ‘eugenia’. O termo foi popularizado no século XIX por Francis

    Galton, que se consagrou, entre outras teorias, como um dos fundadores da

    antropologia, segundo estudo de Geraldo Salgado-Neto36.

    Segundo Salgado-Neto, Galton apresentou o termo “eugenia” pela primeira

    vez na obra “Inquiries into human faculty” (1883) que significaria “de boa cepa” ou

    “bem nascer”. O autor afirma que nessa obra Galton cunhou o termo “nature and

    nurture” (Natureza e Criação), em uma versão vitoriana da eugenia, que vinha desde

    Platão.

    Platão descrevia, em ‘A República’, a sociedade humana se aperfeiçoandopor processos seletivos (Esparta já praticava a eugenia frente aos recém-nascidos 700 a.C.). Galton propôs que o homem pode dirigir a suaevolução, descreveu os resultados dos seus estudos e concluiu que seriaperfeitamente possível criar uma raça de homens altamente dotados, pormeio de casamentos escolhidos durante gerações consecutivas, e sugeriuque a espécie humana poderia ser artificialmente melhorada através dereprodução seletiva. (SALGADO-NETO, G. 2011; p. 227)

    Com a evolução dos estudos de Galton e o trabalho de Gregor Mendel, no

    campo da hereditariedade, em 1900, a eugenia ganhou ainda mais notoriedade. Em

    nome de estudos da área da ciência genética milhões de vidas foram sacrificadas

    em busca de uma ‘raça pura, bela e perfeita’. Entra em foco a luta das raças. (acho

    dispensável isso, deixe terminando em perfeita(...)

     A realidade é ainda mais gritante quando são detalhadas a proporção e as

    35  No documentário “Arquitetura da destruição”, de aproximadamente 121 minutos, o sueco PeterCohen enfoca a trajetória do ditador alemão Adolph Hitler, que culminou no extermínio de milhares

    de judeus, sob a prerrogativa de purificação da raça humana.36  Citação de Geraldo Salgado-Neto, doutor em Agronomia pela  Universidade Federal de SantaMaria, em artigo Sir Francis Galton e os extremos superiores da curva normal. Publicado naRevista de Ciências Humanas - Florianópolis - Volume 45, Número 1 - p. 223-239 - Abril de 2011.

     

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    consequências do que viveu a Alemanha. Salgado-Neto destaca apurações do

    alemão Alfred Ploetz (1860 –1940), que ‘se impressiona com as ideias de Francis

    Galton e cria a Sociedade para Higiene Racial (1880)’. 

    Foi a estreia da eugenia na Alemanha. Hitler foi responsável em pouco maisde 12 anos pelo genocídio de quase 12 milhões de pessoas. Com suaautorização, antissemitas queimaram dezenas de sinagogas, mataramcentenas de judeus e levaram mais de 30 mil pessoas para os campos deconcentração. O ‘programa eutanásia’ matou mais de 70 mil doentesmentais e portadores de deficiência. (SALGADO-NETO, G. 2011; p. 232)

    Não é objetivo desta pesquisa se aprofundar no tema eugenia, mas as

    citações demonstram como na contemporaneidade alguns ideais permanecem vivos

    nos discursos, inclusive no âmbito religioso.

    Já são uma realidade as discussões acerca da pesquisa genética

    contemporânea, que tem a clonagem como objeto, reavivando os ideais eugênicos.

     A primeira imagem sobre os Arautos do Evangelho é a indumentária e a

    relação que se estabelece com os Cavaleiros Templários, incluídas a organização e

    a semelhança dos integrantes. Em uma primeira análise, chega-se a supor que se

    trata de uma vertente tradicional do catolicismo.

    O que não se pode afirmar é se os Arautos se veem como releitura dos

    Cavaleiros Templários, desde a sua essência