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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012 O conceito BIM e a especificação IFC na indústria da construção e em particular na indústria de pré-fabricação em betão Miguel Ferraz 1 Ruben Morais 2 RESUMO Building Information Modeling (BIM) representa o processo que inclui a geração e gestão de representações digitais de características físicas e funcionais de um edifício, que se estende além do projeto ou término da construção. Com este processo pretende-se facilitar o armazenamento, intercâmbio e interoperabilidade de informação em formato digital, oferecendo aos arquitetos, engenheiros, construtores e proprietários uma visão global clara de todos os seus projetos. São diversas as vantagens da utilização deste processo, como o aumento da produtividade e fiabilidade e a redução de custos, mas apesar do conceito remontar ao final dos anos 70 do século XX e de as primeiras aplicações datarem já de 1987, a sua utilização na indústria da construção civil, designadamente em Portugal, encontra-se muito pouco divulgada. Associado ao processo BIM e tendo em vista potenciar e fomentar a interoperabilidade entre aplicativos surgiu a especificação Industry Foundation Classes (IFC) que é um formato de arquivo baseado em objeto, neutro e aberto, independente de um fornecedor de aplicativos, ou conjunto de fornecedores. Neste artigo estudam-se os princípios do processo BIM e da especificação IFC e a aplicabilidade destes na indústria da construção e em particular na pré-fabricação de betão. Analisam-se as vantagens e desvantagens associadas à sua utilização e a interoperabilidade entre vários aplicativos BIM. Por fim apresenta-se um aplicativo desenvolvido no âmbito deste trabalho capaz de criar modelos BIM em formato IFC de pavilhões industriais regulares, utilizáveis no seu processo de conceção, fabrico e exploração. Palavras-chave: BIM, IFC, MIC, Modelação numérica 1. BUILDING INFORMATION MODEL - BIM Existem duas teorias para a origem da sigla BIM, a primeira diz que foi inventada pelo Professor Charles M. Eastman, do Instituto de Tecnologia da Georgia, uma vez que Building Information Model é basicamente o mesmo que Building Product Model, termo que o professor tem usado extensivamente em seus livros e documentos desde finais dos anos 70 do século XX. A segunda teoria afirma que 1 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, Portugal. [email protected] 2 Ruben Morais. [email protected]

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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012

O conceito BIM e a especificação IFC na indústria da construção e em particular na indústria de pré-fabricação em betão

Miguel Ferraz1 Ruben Morais2 RESUMO Building Information Modeling (BIM) representa o processo que inclui a geração e gestão de representações digitais de características físicas e funcionais de um edifício, que se estende além do projeto ou término da construção. Com este processo pretende-se facilitar o armazenamento, intercâmbio e interoperabilidade de informação em formato digital, oferecendo aos arquitetos, engenheiros, construtores e proprietários uma visão global clara de todos os seus projetos. São diversas as vantagens da utilização deste processo, como o aumento da produtividade e fiabilidade e a redução de custos, mas apesar do conceito remontar ao final dos anos 70 do século XX e de as primeiras aplicações datarem já de 1987, a sua utilização na indústria da construção civil, designadamente em Portugal, encontra-se muito pouco divulgada. Associado ao processo BIM e tendo em vista potenciar e fomentar a interoperabilidade entre aplicativos surgiu a especificação Industry Foundation Classes (IFC) que é um formato de arquivo baseado em objeto, neutro e aberto, independente de um fornecedor de aplicativos, ou conjunto de fornecedores. Neste artigo estudam-se os princípios do processo BIM e da especificação IFC e a aplicabilidade destes na indústria da construção e em particular na pré-fabricação de betão. Analisam-se as vantagens e desvantagens associadas à sua utilização e a interoperabilidade entre vários aplicativos BIM. Por fim apresenta-se um aplicativo desenvolvido no âmbito deste trabalho capaz de criar modelos BIM em formato IFC de pavilhões industriais regulares, utilizáveis no seu processo de conceção, fabrico e exploração. Palavras-chave: BIM, IFC, MIC, Modelação numérica 1. BUILDING INFORMATION MODEL - BIM Existem duas teorias para a origem da sigla BIM, a primeira diz que foi inventada pelo Professor Charles M. Eastman, do Instituto de Tecnologia da Georgia, uma vez que Building Information Model é basicamente o mesmo que Building Product Model, termo que o professor tem usado extensivamente em seus livros e documentos desde finais dos anos 70 do século XX. A segunda teoria afirma que

1 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, Portugal. [email protected] 2 Ruben Morais. [email protected]

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Eastman criou o conceito mas não o termo, e considera que terá sido o arquiteto e estratega da indústria Phil Bernstein da Autodesk, a usar pela primeira vez o acrônimo BIM para Building Information Modeling. A sigla foi popularizada por Jerry Laiserin ao padronizar o termo como um nome comum para a representação digital de um processo de construção de edifícios. Até então cada fornecedor de aplicativos utilizava uma terminologia diferente, por exemplo a Graphisoft [1] utilizava a designação Virtual Building, a Bentley Systems [2] a designação Integrated Project Models e a Autodesk [3] a designação Building Information Modeling. De acordo com alguns autores a primeira implementação do BIM foi efetuada através do Virtual Building da aplicação ArchiCAD da Graphisoft em 1987 [4]. A difusão do conceito BIM tem sido notável estando neste momento disponível, por exemplo, uma versão de um visualizador tridimensional designado BIMx da Graphisoft [1] para dispositivos móveis com sistema operativo Android ou iPhone/iPad. No Quadro 1 apresentam-se alguns dos principais aplicativos BIM existentes no mercado.

Quadro 1. Alguns dos principais aplicativos BIM

Geometria Estruturas Serviços de construção Autodesk ADT Autodesk Revit Bentley Architecture Informatix microGDS Graphisoft Archicad Nemetschek Allplan

CSI Friedrich & Lochner Tekla Autodesk Robot Sofistik Strusoft Intercad RIB

DDSGranlund Lawrence Berkeley A-NULL Climawin elcoCAD RoCAD Klima2000 CONTAMW

Visualizadores Base de Dados Cálculo de custos NavisWorks Octaga DDS Solibri TNO Univ. Karlsruhe

EPM Technology Oracle CBIM Secom Eurostep STEP Tools

Focus Tocoman Timberline Cadquant Sumitomo Kajima

No processo BIM os projetos deixam de ser meras representações gráficas de elementos através de linhas, textos ou imagens passando a ser formados por um conjunto de elementos individuais parametrizáveis, com significado e propriedades associadas, e a interação entre estes. É usual o processo BIM ser confundido com a representação tridimensional de produtos da construção ou uma nova geração de ferramentas CAD (Computed-aided design ou em português Desenho Assistido por Computador) devido à representação gráfica utilizadas por muitos dos aplicativos que implementam este processo. No entanto essa analogia é muito redutora do conceito pois para além da informação dimensional necessária à representação gráfica o modelo BIM pode, e deve, incorporar muitos outros tipos de informação. Esta informação pode ser virtualmente de qualquer tipo sendo no entanto a mais usual relativa ao dimensionamento, características físicas dos materiais que compõe os produtos, ao processo construtivo, à quantificação de trabalhos, prazos, custos e mão-de-obra, desde a fase inicial de projeto até ao fim do ciclo de vida do edifício. Existem diversas formas de designar modelos BIM, por exemplo, BIM 4D onde para além das características dimensionais do modelo se adiciona a variável tempo ou BIM 5D onde para além das referidas características se adiciona a variável tempo e custo. Com o desenvolvimento do processo surgirão certamente modelos nD, englobando os mais diversos tipos de informação, como por exemplo, cadernos de encargos, fotografias, registo de operações de manutenção, reabilitação ou reforço. Um aspeto fundamental considerado no processo BIM é capacidade de definir a forma como os elementos interagem entre si, como por exemplo a forma como se ligam diversos elementos estruturais

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ou como se posicionam os elementos arquitetónicos relativamente aos elementos estruturais. Este tipo de informação permite a inclusão no processo BIM de modelos de cálculo de diversas áreas, desde a arquitetura, as estruturas, a térmica ou a mecânica, e a automatização do processo de alteração e ajuste. A definição das relações entre elementos é também um dos maiores desafios BIM pois uma vez que existem inúmeras formas de cada dois tipos de elementos se relacionarem entre si o número de relações possíveis aumenta de forma exponencial com o número de elementos disponíveis. Na Figura 1 apresenta-se um gráfico com a relação custo/esforço versus decisão no projeto (Curva de MacLeamy) onde se observa que a utilização do processo BIM (projeto integrado) permite antecipar a tomada de decisão no decurso do projeto com consequências ao nível da redução de custos e melhoria da qualidade final da construção.

Legenda: 1 – Impacto no custo e capacidade funcionais 2 – Custo de alterações de projeto 3 – Projeto tradicional 4 – Projeto integrado PD – Anteprojeto SD – Projeto esquemático DD – Projeto de desenvolvimento CD – Documentação de construção PR - Aquisição CA – Administração de construção OP - Operação

Figura 1. Relação custo/esforço versus decisão de projeto. Do exposto atrás podem-se enumerar algumas vantagens do processo BIM em fase de projeto [5-6]:

a) Visualização melhorada; b) Incorporação e vinculação de informações vitais; c) Automatização do processo de alteração e ajuste; d) Deteção automática de interferências e erros; e) Melhoria da partilha de informação; f) Melhoria da cooperação interdisciplinar; g) Redução de prazos e erros de projeto; h) Automatização de fluxos de trabalho;

A utilização do processo BIM pode ser pensada a uma escala bastante superior à do edifício através da associação de diversos modelos baseados em BIM. Desta forma é possível a representação de uma urbanização, localidade ou cidade através da junção de diversos modelos representativos das construções, vias de comunicação, infraestruturas, relevo, etc.. Pensado para todo o ciclo de vida de um edifício o uso do processo BIM vai além da fase de planeamento e elaboração do projeto, estendendo-se aos processos de gestão de custos e construção e exploração das instalações. Para assegurar uma gestão eficaz do processo BIM pode ser nomeado um gerente de BIM cuja função é acompanhar o desenvolvimento do modelo, controlando os objetivos de desempenho previstos e fornecendo apoio multidisciplinar. Desta forma um modelo BIM bem desenvolvido possui também diversas vantagens na fase de construção, como por exemplo:

a) Uma vez que cada um dos especialistas envolvidos pode inserir informações críticas no modelo antes do início da construção, existe a oportunidade de pré-fabricar ou pré-montar alguns sistemas em estaleiro;

b) Estando perfeitamente definidos os prazos de cada operação os resíduos em obra podem ser minimizados e os produtos entregues apenas no momento de utilização evitando-se o armazenamento em obra;

c) Mapas de trabalhos e quantidades atualizados podem ser facilmente extraídos a qualquer momento;

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d) Sistemas de montagem, construção e de armazenamento, por exemplo gruas, centrais de betonagem e silos, poderão ser representados no modelo de forma a compatibilizar a sua instalação e operacionalização;

e) Qualquer alteração ou atraso ocorrido em obra pode ser introduzido no modelo obtendo-se imediatamente um modelo completamente atualizado a todos os níveis, seja de geometria, de prazos ou outros.

O processo BIM está em constante desenvolvimento e atualização permitindo a integração de tecnologias muito recentes, por exemplo, atualmente é já possível inserir no modelo BIM informação dinâmica sobre a construção, tais como medições de sistemas de monitorização, funcionando desta forma o modelo como uma valioso contributo nas operações de construção e manutenção. Todas as vantagens referidas contribuem para o aumento da produtividade e redução de custos a nível de projeto, construção e exploração dos edifícios. Desta forma o processo BIM tem sido promovido como uma solução para reduzir o desperdício e ineficiência na indústria da construção civil. 2. INDUSTRY FOUNDATION CLASSES - IFC Associada ao processo BIM surge a especificação Industry Foundation Classes (IFC) que é um formato de arquivo baseado em objeto que define a forma como a informação (por exemplo: geometria, cálculo, quantidades, preços, etc.) deve ser fornecida/armazenada para todas as fases de um ciclo de vida de projetos BIM. A IFC é uma especificação neutra e aberta, independente de um fornecedor de aplicativos, ou conjunto de fornecedores, considerada a chave no processo que pretende tornar possível guardar e trocar dados entre diferentes aplicativos BIM de forma a aumentar a interoperabilidade na arquitetura, engenharia e indústria de construção. Assim os principais objetivos do IFC são:

a) A coordenação interdisciplinar de modelos de informação de edifícios; b) A troca e partilha de informação entre aplicativos; c) A transmissão e reutilização de informação para dimensionamento e operações a jusante do

projeto; A origem do IFC remonta a 1994, quando a Autodesk [3] formou um consórcio de 12 empresas norte-americanas para desenvolver um conjunto de classes em C++ que poderiam apoiar o desenvolvimento de aplicativos integrados. O consórcio, inicialmente designado por Industry Alliance for Interoperability, mudou seu nome em 1997 para International Alliance for Interoperability e tornou-se uma organização sem fins lucrativos, liderada pela indústria, com o objetivo de desenvolver o IFC, só em 2005 o consórcio adotou a sua designação atual: buildingSMART [7]. O formato IFC está registrado pela ISO (International Organization for Standardization) como ISO / PAS 16739 e está em processo de se tornar a Norma Internacional ISO / IS 16739 [7]. Devido à facilidade de interoperabilidade entre plataformas de aplicativos são diversos os organismos governamentais que impuseram como obrigatória a utilização do formato IFC em projetos de construção pública, como por exemplo em Portugal [8-9], na Dinamarca [10] e na Finlândia [11]. Como seria de esperar a definição e implementação de um formato de intercâmbio é um processo moroso e trabalhoso. O formato IFC atualmente em vigor, IFC2x3, possuindo mais de 600 classes, encontra-se suficientemente estável e abrangente ao ponto dos principais fornecedores de aplicativos BIM o terem já adotado como opção para intercâmbio de informação. Em novembro deste ano está prevista a submissão da nova versão de IFC, a versão IFC4, à International Organization for Standardization [7]. Para se utilizar o formato IFC é necessário conhecer minimamente a sua arquitetura baseada em objeto que é definida por um modelo de relações entre as várias centenas de entidades organizadas numa hierarquia de herança. Não sendo objetivo deste trabalho expor o conceito de objeto ou de classe, uma

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vez que este se encontra plenamente difundido na literatura atual, far-se-á em seguida uma apresentação sumária das principais classes e relações da referida especificação. Todas as classes IFC, exceto classes de recurso, são subtipos da classe IfcRoot e possuem um identificador único universal GUID (Globally Unique Identifier). A classe IfcRoot fornece serviços básicos para o modelo como:

a) Identidade do objeto; b) Nomenclatura de local e descrição; c) Informações sobre a propriedade e alterações.

Há três classes fundamentais no modelo de IFC, todos derivados da classe IfcRoot:

a) Objetos (classe IfcObject): Generalização de qualquer coisa (ou item); b) Relações (classe IfcRelationship): Generalização de todas as relações entre as coisas (ou

itens); c) Propriedades (classe IfcProperty): Generalização de todas as características que podem ser

atribuídos aos objetos. Os objetos por sua vez dividem-se em sete tipos fundamentais:

a) Produtos (classe IfcProduct): São coisas físicas (fabricado, fornecido ou criado); b) Processos (classe IfcProcess): São ações de, por exemplo, aquisição, construção ou

manutenção, que decorrem durante um período de tempo e podem incorporar uma medida da produtividade;

c) Controlos (classe IfcControl): São conceitos que restringem outros objetos por exemplo, as especificações;

d) Recursos (classe IfcResource): São conceitos que descrevem a utilização de um objeto dentro de um processo;

e) Atores (classe IfcActor): São pessoas e organizações que trabalham dentro de um projeto ou ocupantes futuros do edifício. Podem ter nomes, endereços, filiação, papéis, etc.;

f) Grupos (classe IfcGroup): São coleções arbitrárias de objetos; g) Projeto (classe IfcProject): É o recipiente para todas as informações trocadas e detém

informação global sobre o projeto, incluindo as unidades padrão usadas, o sistema de coordenadas, etc. Só pode haver um IfcProject dentro de um arquivo ou banco de dados da IFC.

São cinco os tipos de relações fundamentais no modelo IFC, a saber:

a) Atribuição: Permite a um objeto aplicar serviços de outros objetos; b) Associação: Permite a um objeto a possibilidade de se associar a fontes externas; c) Decomposição: Define um todo/parte da hierarquia ou montagem; d) Definição: Aplica-se à definição de um tipo conjunto de propriedades de um objeto; e) Conexão: Define a ligação entre objetos.

Um projeto BIM em formato IFC é dividido em 4 subconjuntos gerenciáveis:

a) Site; b) Edifício; c) Andares; d) Espaço.

As especificações das “coisas reais” em IFC dividem-se em 4 elementos tipo:

a) De construção; b) De distribuição; c) De mobiliário; d) De equipamentos.

As vantagens da existência de um formato universal de intercâmbio estende-se muito para além do dono de obra e dos projetista e permite, por exemplo, às indústrias fabricadoras de componentes para a

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construção civil facultarem uma base de dados com todos os seus produtos em formato IFC de forma que estes sejam facilmente representados num modelo BIM criado por um qualquer aplicativo ou utilizador externo, permitindo a execução de projetos mais detalhados e realistas com um esforço muito reduzido e ao mesmo tempo uma maior divulgação do próprio produto. Apesar de todas as vantagens enunciadas e de todos os progressos realizados ainda existem algumas dificuldades na utilização dos IFC, por exemplo, qualquer utilizador já se deparou com o facto de ser quase impossível importar um arquivo IFC para uma aplicação que o exportou ou qualquer outra aplicação IFC compatível sem perda de dados ou funcionalidade. A buildingSmart refere que esse não é um objetivo nem um critério de certificação da especificação IFC, estando apenas preocupada com os resultados das funções dos aplicativos, e não como eles foram obtidos. Por outro lado os fornecedores de aplicativos seriam contra a exportação de dados que expõe informações proprietárias e segredos comerciais. Assim alguns aplicativos tentam contornar o problema “ajustando” o formato IFC para armazenar dados proprietários, no entanto tais ficheiros só podem reutilizados pela própria aplicação e perde-se assim o conceito de universalidade e, consequentemente, parte do interesse em usar IFC. Mesmo não incluindo a totalidade da informação de um modelo BIM os IFC Open podem ser utilizados para a coordenação de projeto, construção e exploração de edifícios através de modelos criados e partilhados por diferentes aplicativos. 3. GERADOR DE MODELOS DE PAVILHÕES INDUSTRIAIS PRÉ- FABRICADOS De forma a avaliar a dificuldade de aplicação e interoperabilidade do modelo BIM em formato IFC foi desenvolvido um gerador de modelos BIM em formato IFC e aplicado à geração de modelos de pavilhões industriais pré-fabricados. O gerador foi desenvolvido em linguagem orientada por objetos, designadamente o C#, incluído no ambiente de desenvolvimento integrado Visual Studio da Microsoft [12], sendo a sua utilização potenciada pelo facto do formato IFC ser igualmente baseado em objetos. A utilização de classes específicas para a representação de elementos estruturais como vigas (IfcBeam), pilares (IfcColumn), sapatas (IfcFooting) existente na especificação IFC permite a execução de modelos estruturais consistentes com a arquitetura e com os diversos tipos de ligação entre elementos. Uma vez que o aplicativo foi baseado num conjunto de classes desenvolvidas de uma forma genérica facilmente pode ser utilizado na geração de modelos BIM em formato IFC de outro qualquer tipo de edifício. O gerador permite de uma forma muito simples e com o mínimo de intervenção por parte do utilizador gerar um modelo em formato IFC de um pavilhão industrial regular. Além de escolher o número de pórticos e o afastamento entre estes o utilizador pode escolher o tamanho e o número de vãos, as secções dos elementos estruturais e arquitetónicos, os materiais utilizados, etc.. Na Figura 2 pode observar-se uma representação do menu de entrada do gerador de modelos. Note-se que foi privilegiada a utilização de bases de dados de secções e materiais, pois além de facilitar a tarefa do utilizador é mais coerente com o funcionamento da indústria de pré-fabricação de betão ou da construção civil em geral. Assim o utilizador pode escolher as secções de pilares, vigas delta, vigas secundárias, madres e chapas de cobertura, e ainda definir a dimensão das sapatas e painéis de fachada. Na Figura 3 apresenta-se o aspeto do gerador de modelos aquando da definição da secção transversal das madres.

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Figura 2. Menu de entrada do gerador de modelos.

Figura 3. Definição da secção transversal das madres.

O posicionamento global do modelo, necessário para a utilização em sistemas SIG (Sistema de Informação Geográfica ou GIS - Geographic Information System) não foi esquecido pelo que é possível criar o modelo utilizando coordenadas globais de posicionamento definindo a origem do sistema de coordenadas local e a rotação do mesmo em relação ao referencial global. Na fase de desenvolvimento atual do gerador de modelos ainda não se chegou ao detalhe das armaduras nos elementos de betão, das ligações entre os diversos elementos estruturais ou arquitetónicos, no entanto está previsto fazê-lo, assim como se pretende alargar o campo de aplicação do gerador de modelos a outras áreas da engenharia como, por exemplo, a hidráulica, a eletricidade e a mecânica. O objetivo final do modelo será a geração automática de modelos BIM que incluam todas as especialidades necessárias à execução e exploração de um pavilhão industrial. 4. EXEMPLO DE APLICAÇÃO Utilizou-se o gerador de modelos para criar um modelo BIM em formato IFC de um pavilhão industrial com dois vãos, de 20m metros cada, e quatro pórticos, afastados de 10m entre si, de forma a demonstrar a aplicabilidade do gerador automático de modelos de pavilhões industriais apresentado no ponto anterior. Nas Figuras 4 a 6 apresentam-se algumas das fases construtivas do pavilhão industrial. As imagens apresentadas foram obtidas através do Solibri Model Viewer [13], um dos diversos aplicativos gratuitos disponíveis na internet capazes de visualizar e manipular ficheiros em formato IFC.

Figura 4. Fase de construção 2

(Montagem dos pilares).

Figura 5. Fase de construção 5

(Montagem das madres).

Figura 6. Fase de construção 7

(Montagem dos painéis de fachada).

A aplicabilidade da tecnologia BIM na indústria da pré fabricação de betão

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Na Figura 7 apresenta-se em pormenor o apoio das vigas Delta sobre os pilares centrais onde se pode observar o pormenor dos elementos modelados assim como dos afastamentos entre os mesmos.

Figura 7. Pormenor do apoio das vigas

Delta sobre os pilares.

Figura 8. Visualização de características dos elementos.

Conforme foi já referido existem diversos aplicativos capazes de manipular a informação dos ficheiros IFC, permitindo por exemplo a realização de desenhos de pormenor para o fabrico de cada um dos elementos ou a execução automática de mapas de quantidades. Na Figura 8 pode-se observar uma vista do interior do modelo do pavilhão e um painel de propriedades do elemento selecionado, a verde, designadamente uma viga delta. Utilizaram-se alguns dos modelos desenvolvidos pelo gerador de forma a analisar a capacidade de diversos aplicativos BIM abrirem e manipularem modelos IFC gerados exteriormente aos mesmos. Infelizmente os resultados não foram ideais uma vez que foram poucos os aplicativos que conseguiram ler a totalidade da informação contida nos referidos modelos, sendo que alguns importaram apenas informação generalista. 5. CONCLUSÕES Apesar de atualmente o conceito BIM estar já muito difundido, de parecem evidentes as suas vantagens em relação a outras formas de modelação mais tradicionais e dos fornecedores de aplicativos e consultores continuarem a promovê-lo como uma ferramenta para melhorar a eficiência da indústria da construção, a maioria das organizações ainda não aderiu completamente ao mesmo pois aguarda por evidências de retorno sobre o investimento que a adesão ao processo acarreta. O investimento não pode ser considerado apenas económico uma vez que a utilização deste processo interfere com hábitos individuais e práticas de trabalho instituídas, no entanto as vantagens não se restringem à redução de custos, mão-de-obra ou tempo necessário à realização de uma atividade mas também com o aumento do rigor e qualidade de construção. A utilização da tecnologia BIM poderá ter um impacto bastante forte na indústria da construção civil, e especificamente na indústria da pré-fabricação, uma vez que contribuirá para o aumento do rigor e otimização de recursos, numa indústria atualmente distribuída e fragmentada. A utilização do formato IFC em aplicativos existentes é possível através da utilização de um “tradutor” de formatos sendo a implementação deste muito facilitada em aplicativos que utilizam formato baseado em objeto. No entanto a sua utilização está ainda longe de ser universal pelo facto de que muitos dos aplicativos que o utilizam ainda não fazerem convenientemente a importação dos modelos neste formato, sendo que inclusivamente alguns dos aplicativos não conseguem importar um modelo em formato IFC criado por ele próprio. No entanto a especificação IFC é um esforço e um avanço enorme na procura da interoperabilidade sendo que o desenvolvimento de um modelo de informação completo para a construção será ainda um esforço a médio ou longo prazo.

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Como conclusão final pode dizer-se que o processo BIM se encontra suficientemente desenvolvido para ser eficaz e rentavelmente aplicado, a especificação IFC já se encontrar numa fase muito avançada de desenvolvimento mas a sua utilização ainda se faz com bastantes restrições nos aplicativos existentes. REFERÊNCIAS

[1] Graphisoft. (2012, Graphisoft web page. Available: http://www.graphisoft.com/ [2] Bentley. (2012, Bentley web page. Available: http://www.bentley.com [3] Autodesk. (2012, Autodesk web page. Available: http://usa.autodesk.com [4] J. Laiserin. (2012, The Laiserin Letter web page. Available: http://www.laiserin.com [5] C. U. Roundtable (2004), Collaboration, Integrated Information and the Project Lifecycle in

Building Design, Construction and Operation: Construction Users Roundtable. [6] GEQUALTEC. (2012, GEQUALTEC web page. Available: http://paginas.fe.up.pt/~gequaltec/ [7] buildingSMART. (2012, buildingSMART International Available: http://buildingsmart.com/ [8] S. d. S. Caetano (2012), "Parque Escolar - Um caso prático da aplicação ProNIC," Construção

Magazine, [9] P. M. d. S. Carvalho (2011), "Análise de preços de propostas de concursos, com base na

desagregação de trabalhos ProNIC," Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, Tese de Mestrado Integrado

[10] A. Hermund 2009, "Building Information Modeling in the Architectural Design Phases: And why

Compulsory BIM can Provoke Distress among Architects," in Computation: The New Realm of Architectural Design Istanbul, Turkey.

[11] F. M. o. Finance. (2012, Senate Properties is a government owned enterprise under the aegis of

the Finnish Ministry of Finance. Available: http://www.senaatti.fi/ [12] Microsoft. (2012, Microsoft Visual Studio web page. Available:

http://www.microsoft.com/visualstudio/ [13] I. Solibri. (2012, Solibri Home Page. Available: http://www.solibri.com/