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5 O conflito Israel - Palestina

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O conflitoIsrael - Palestina

Kjeld Jakobsen

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Publicado pela Secretaria de Relações Internacionais doPartido dos Trabalhadores - Brasil

Equipe da Secretaria:

Partido dos Trabalhadores - Brasil

Comissão Executiva Nacional (CEN)Integrantes da CEN para o biênio 2008/2009(Direito a voto e voz)

Membros observadores da CEN(Direito a voz sem direito a voto)

José Eduardo Dutra - Presidente, Maria de Fátima Bezerra - Vice-presidente, - Vice-presidente, Rui Falcão - Vice-presidente, José E.

Cardozo - Secretário Geral Nacional, João Vaccari Neto - Secretário Nacional de Planejamento e Finanças, André Luiz Vargas Ilário - Secretário Nacional de Comunicação, Paulo Frateschi, Secretário Nacional de Organização, Iriny Lopes - Secretário Nacional de Relações Internacionais, Geraldo Magela - Secretário Nacional de Assuntos Institucionais, Carlos Henrique Árabe - Secretário Nacional de Formação Política, Renato Simões - Secretário Nacional de Movimentos Populares, Jorge Coelho - Secretário Nacional de Mobilização, Fernando Ferro - Líder na Câmara dos Deputados, Aloísio Mercadante - Líder no Senado, Benedita da Silva - Vogal,João Constantino Pavani Motta - Vogal, Marinete Pantoja de Lima - Vogal, Arlete Sampaio - Vogal, Virgílio Guimarães - Vogal, Maria do Carmo Lara - Vogal

Humberto Costa

João Felício - Secretário Sindical Nacional, Severine Macedo - Secretária Nacional da Juventude, Morgana Eneile - Secretária Nacional de Cultura, Júlio Barbosa - Secretário Nacional de Meio- Ambiente e Desenvolvimento, Laisy Moliére - Secreária Nacional de Mulheres, Cida Abreu - Secretaria Nacional de Combate ao Racismo

Iriny Lopes - Secretária de Relações Internaconais do PT

Valter Pomar ([email protected])

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Esse texto pretende contribuir para a discussão no Partido

dos Trabalhadores sobre um dos aspectos, certamente o

mais grave, dos conflitos existentes no Oriente Médio que

é a ocupação do território palestino pelo Estado de Israel.

Dada a complexidade do tema devido à diversidade de

atores e interesses envolvidos, bem como a subjetividade

dos aspectos culturais e religiosos também presentes, o

texto não tem nem a pretensão de esgotar o tema e

tampouco de representar uma opinião consensual ainda

mais num momento em que a solução do problema parece

estar cada vez mais distante.

Quando avaliamos o desenvolvimento da história ou de

alguns de seus aspectos no longo prazo, normalmente

O conflito Israel-Palestina

Introdução

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identificamos um processo de avanços e retrocessos, mas

que no seu conjunto quase sempre resulta em progresso.

Por exemplo, se analisarmos a evolução dos direitos civis,

políticos e sociais no mundo a percepção é de progresso

dos direitos alcançados pelo homem, comparando a

situação atual com a do século XVIII, mesmo ocorrendo os

momentos de retrocesso durante o período nazi-fascista e

de outras ditaduras ou extraindo casos particulares. Por sua

vez, os detalhes dos avanços e retrocessos e

conseqüentemente do bem estar e do sofrimento, são mais

visíveis quando olhamos para períodos históricos mais

curtos.

No entanto, a análise da história de um século do povo

palestino mostra que seus direitos civis, políticos e sociais

se encontram em fase descendente e o sofrimento e a

desesperança em ascensão, praticamente, desde o início da

ocupação judaica da Palestina no final do século XIX e a

posterior conformação do Estado de Israel. Pior ainda, com

agravamentos durante as últimas décadas. Há poucos

momentos onde a percepção aponta para possibilidades de

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saídas para o conflito.

Um deles, e talvez o único, ocorreu no início dos anos 1990

quando houve a tentativa de estabelecer uma nova relação

entre israelenses e palestinos por meio das negociações dos

“Acordos de Oslo”, embora ainda repleta de polêmicas e

contradições. Mesmo assim, a afirmação do princípio da

constituição de “Dois Estados” aceito por ambas as partes,

a devolução de uma pequena parcela dos territórios

ocupados, o reconhecimento da Autoridade Nacional

Palestina (ANP), a eleição do presidente e do parlamento

da Palestina, as tentativas de estabelecer uma infra-

estrutura física e econômica do Estado Palestino davam a

impressão que se avançava, mesmo que lentamente e pela

primeira vez, rumo a uma solução definitiva e pacífica.

Ledo engano. O processo foi manipulado e sabotado de tal

maneira que chegamos ao ponto em que hoje se cogita

dissolver a ANP e abandonar a proposta da constituição de

dois Estados. Isso significaria adotar o caminho de um

Estado e dois povos, o que, pelo menos num primeiro

momento tornaria o conflito mais agudo, pois a população

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israelense minoritária tentaria manter a submissão da

população palestina majoritária para manter seu status quo

à semelhança do que ocorreu na África do Sul,

primeiramente durante o período colonial e depois no

tempo do “Apartheid”. Porém, neste caso os palestinos não

lutariam mais pela devolução das terras que lhes foram

tomadas e sim pelo poder político no estado único, o que

seria possível sob um regime democrático pela sua

situação de maioria étnica.

Portanto, a atenção da comunidade internacional para o

que está ocorrendo nos territórios palestinos ocupados,

bem como as iniciativas de solidariedade política em busca

da paz, do respeito aos direitos humanos e dos direitos do

povo palestino nunca foram tão necessárias.

Além desta introdução, o texto inclui um resumo do

processo histórico do conflito até o presente, uma

descrição dos principais atores políticos israelenses e

palestinos envolvidos e conclui apontando para alguns

posicionamentos e relacionamentos importantes para o PT.

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Após a diáspora judia provocada pela ocupação romana da

Palestina, no início da era cristã, a região esteve sob disputa

por diversas vezes, inclusive entre cristãos e muçulmanos

(árabes) durante as cruzadas que terminaram em 1204. A

partir do início do século XVI a Palestina caiu sob controle

do Império Otomano até o fim da I Guerra Mundial em

1918 quando ela foi dividida entre França e Inglaterra. A

primeira ocupou o que hoje são os territórios da Síria e

Líbano, enquanto a Inglaterra ocupou o que atualmente são

os territórios do Iraque, Jordânia, Israel e Palestina. Após a

segunda guerra mundial todos eles, de alguma maneira, se

tornaram independentes com exceção desta última.

O local mais sagrado para os judeus era o Templo de

Salomão em Jerusalém que foi destruído pelos romanos no

ano 70 e do qual somente resta o “Muro das Lamentações”.

Os árabes muçulmanos, posteriormente, construíram duas

mesquitas sobre as ruínas do Templo: a “Cúpula da Rocha”

Antecedentes históricos

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e a Al Aqsa. Estas atualmente representam o terceiro lugar

mais sagrado para os fiéis desta religião depois das cidades

de Meca e Medina. A cidade de Jerusalém também é um

local importante para os cristãos por ter sido o local de

vários eventos vinculados ao cristianismo, entre eles, a

crucificação de Jesus Cristo. Estes locais tornaram-se

extremamente sensíveis no desenrolar do futuro conflito

palestino-israelense.

Os judeus se dispersaram por diversas regiões,

principalmente, pelo Oriente Médio, Norte da África e

Europa. Nesta última se concentraram no lado oriental,

atualmente representado pela Polônia, Ucrânia, Lituânia e

Rússia onde ocuparam espaço econômico importante no

comércio. Sua coesão e identidade foram mantidas por

quase dois milênios, principalmente, por meio da religião.

As transformações ocorridas no Leste Europeu na segunda

metade do século XIX com a mudança da economia quase

feudal para o modelo capitalista moderno provocou a

ascensão de uma pequena burguesia local que começou a

disputar o espaço do comércio com os judeus,

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freqüentemente, por meio de violência que afetava toda a

comunidade judaica, principalmente nas localidades

menores. O fortalecimento das idéias nacionalistas nesta

mesma época e estas perseguições (“pogroms”) na Europa

Oriental motivaram a proposta de “retorno” ao Oriente

Médio para constituir um Estado Judeu. Até então nunca

houvera iniciativas relevantes nesse sentido e os judeus

que eventualmente iam a Palestina, costumavam fazê-lo

para visitar os locais sagrados.

O local almejado para a instalação deste Estado era a

Palestina onde, no entanto, vivia uma população local

majoritariamente árabe (palestinos) composta

basicamente por pequenos produtores agrícolas ou

arrendatários que trabalhavam na terra de árabes mais ricos

que viviam nas grandes cidades como Damasco, Beiruth,

Haifa, Jerusalém e outras. Em 1880 registrava-se a

presença de 24.000 judeus, descendentes dos que não se

dispersaram, numa população total de 500.000 habitantes e

os primeiros colonos chegaram em 1882. O banqueiro

Rothschild – um judeu que tinha altos negócios em

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Londres, Paris e outras capitais européias – foi o principal

financiador das 19 primeiras colônias agrícolas (“Kibutz”)

e construção de uma escola técnica agrícola (Salem, 1977).

O movimento criado para promover esta migração tornou-

se conhecido como Sionismo devido à referência à Colina

de Zion em Jerusalém como marco simbólico do “retorno”.

Para viabilizar a colonização, inicialmente, a terra era

comprada dos pequenos agricultores e, principalmente,

dos fazendeiros árabes, mas em pouco tempo começou a

haver choques de interesses entre os emigrantes e a

população local, pois, os sionistas, ao contrário dos

colonizadores tradicionais não pretendiam transformar os

árabes nos proletários de uma nova sociedade capitalista.

Seu objetivo era criar um Estado Nacional com classes

sociais compostas apenas por judeus. (Salem, 1977).

O sionismo se consolidou em torno de três vertentes: a

cultural, a política e a trabalhista. A primeira via a

constituição de um Estado Judeu como essencial para a

sobrevivência da religião e da cultura judaica ameaçadas

pela integração numa civilização cada vez mais secular.

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O “Judaísmo” somente sobreviveria a partir da

concentração de um grande número de judeus num mesmo

território. O sionismo político via as alianças com as

grandes potências da época como essenciais para viabilizar

o Estado Judeu, por exemplo, tentando convencer o Sultão

otomano Abdul – Hamid a autorizar a emigração em troca

da reorganização das finanças do império ou

argumentando com os ingleses que seria útil para eles

terem um “Estado Avançado” no meio de um território

hostil. O segundo argumento teve efeitos e a Inglaterra

promulgou a “Declaração Balfour” em 1917 apoiando a

criação de um “Estado Judeu” na Palestina “sem prejuízo

da população local”. O efeito prático foi autorizar a

emigração judaica para a Palestina após o final da I Guerra

Mundial quando este território se tornou um protetorado

britânico. Entre 1936 e 1937 houve vigorosas greves e

manifestações da população árabe contra a emigração

judaica, conhecida como a “Grande Revolta”, que foi

reprimida pelas autoridades britânicas com a colaboração

do “Haganah”, o exército secreto dos israelitas, criado para

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defender os “Kibutz” (Salem, 1977).

O sionismo trabalhista, no entanto, tornou-se a linha

política hegemônica e seus integrantes defendiam que o

Estado de Israel deveria ser construído pelos “Kibutzin”

agrícolas e pelo proletariado urbano constituindo um

“Estado Judaico Socialista”. Embora o conteúdo

programático desta concepção socialista variasse muito,

havia um consenso entre todas as correntes sionistas pela

constituição de um Estado (Finkelstein, 2005). Esta

hegemonia durou dos anos 1930 e alimentou os principais

conflitos armados na região até a primeira vitória eleitoral

do Partido Likud em 1977, principal representante do

“sionismo revisionista”, e a posse de Menahem Begin

como primeiro ministro.

A grande revolta de 1936 e outras mobilizações que se

seguiram, bem como a necessidade de manter os territórios

do Oriente Médio sob controle levaram a Inglaterra a

defender, embora sem muito entusiasmo, a proposta do

Este advogava pela formação da “Grande Israel” incorporando definitivamente ao território de Israel, a Cisjordânia ocupada que denominava pelos seus nomes bíblicos de Judéia e Samaria.

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estabelecimento de um Estado palestino independente com

ambos os povos compartilhando o governo. Ao mesmo

tempo limitou a migração de judeus para a região, que, no

entanto, prosseguiu clandestinamente, pois devido à

perseguição nazista desencadeada contra a população

judia na Alemanha, muitos tentaram fugir. Mais de

200.000 se dirigiram à Palestina entre 1932 e 1938 (Sitten

apud Salem, 1977).

Durante a II Guerra Mundial vigorou a tese do sionismo

político de cooperação com a Inglaterra para enfrentar o

nazismo e fortalecer politicamente os judeus que se

encontravam na Palestina. Quando a guerra terminou, o

Império Britânico não estava mais em condições de manter

as suas colônias e de enfrentar os movimentos de

independência em desenvolvimento, particularmente, na

Índia e no Oriente Médio. As lideranças judias na Palestina

buscavam negociar as condições para criação do Estado de

Israel, enquanto grupos terroristas israelitas como o Irgun

(de Menahem Begin) e o Stern promoviam ações armadas

contra os ingleses e palestinos e os sionistas trabalhistas se

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preparavam para guerra que viria fortalecendo o

“Haganah” e o “Palmach” (milícia dos socialistas).

Pressionado pelas ações dos israelitas e moralmente

impedido de exercer pressão sobre um povo que passara

pelo holocausto nazista que cobrou a vida de milhões de

judeus, o governo britânico submeteu a questão

judaica/palestina para ser decidida pela recém criada

Organização das Nações Unidas (ONU) em fevereiro de

1947. Uma Comissão Especial criada para analisar o tema

propôs a partilha da Palestina em dois Estados: Um judeu e

um árabe permanecendo a cidade de Jerusalém sob tutela

internacional. Esta proposta foi aprovada pela Assembléia

Geral da ONU e em maio de 1948 os ingleses se retiraram e

foi proclamada a criação do Estado de Israel.

No entanto, os judeus haviam dado início à expulsão dos

palestinos ainda em 1947, alegando a proximidade de um

ataque dos países árabes vizinhos contrários à criação do

seu Estado. Centenas de vilarejos palestinos foram

destruídas e houve vários massacres. O mais conhecido foi

o da aldeia de Deir Yassin onde o Irgun assassinou cerca de

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250 habitantes incluindo mulheres, crianças e idosos.

Tropas egípcias, sírias, libanesas, jordanianas e iraquianas

atacaram os israelenses em seguida à declaração de criação

do seu Estado, mas foram derrotadas devido a sua falta de

preparo e ao apoio externo que os israelenses receberam,

particularmente, da União Soviética que os equipou com

armas e aviões de guerra por intermédio da

Tchecoslováquia. A URSS via com bons olhos a

substituição da presença inglesa no Oriente Médio pelo

novo Estado.

A vitória israelense possibilitou que ampliassem em quase

40% o território inicialmente previsto pela partilha da

ONU e, apesar do armistício firmado em janeiro de 1949,

Israel permaneceu em estado de guerra com o Egito até

1977 e com a Jordânia até 1994 quando foram negociados

acordos de paz. Isso até hoje não ocorreu com o Líbano,

Síria e Iraque.

Cerca de 700.000 palestinos foram expulsos de seu

território durante a guerra e os territórios previstos pela

ONU para a criação do Estado palestino que não foram

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ocupados por Israel, foram ocupados pelo Egito (Faixa de

Gaza) e Jordânia (Cisjordânia).

Israel mudou para o outro lado da “Guerra Fria” na década

de 1950 tornando-se um aliado incondicional dos EUA e

vice-versa. Estes passaram a armá-lo possibilitando a

continuidade de sua expansão. Inicialmente Israel havia

tentado um movimento neste sentido, articulado com a

Inglaterra e França, durante a crise do Canal de Suez em

1956 quando deu início a uma invasão do Egito, mas foi

obrigado a recuar devido à pressão americana e soviética.

Os armamentos americanos permitiram a Israel enfrentar

novamente seus vizinhos árabes em 1967 depois de

realizar uma série de provocações armadas que levaram à

guerra e derrotá-los na “Guerra dos Seis Dias”. Ao fim dela

ocupava as Colinas de Golan pertencentes a Síria, a

Cisjordânia e Jerusalém Oriental até então ocupados pela

Jordânia, a Faixa de Gaza administrada pelo Egito e a

Península de Sinai pertencente a este último. Porém, desta

vez, ao contrário de 1947 e 1948, os israelenses adotaram

uma política de colonização e submissão dos palestinos,

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invés de expulsá-los. Mesmo assim, o número de

palestinos vivendo em campos de refugiados no Líbano,

Síria, Jordânia e novos territórios ocupados já superavam

um milhão de pessoas no início dos anos 1970 e hoje a

diáspora palestina envolve quase cinco milhões de

pessoas.

A resistência palestina à ocupação teve início no final dos

anos 1960, embora alguns grupos como o Al Fatah tenham

sido fundadas antes. A própria Organização para a

Libertação da Palestina (OLP) nasceu em 1964 agrupando

diferentes frações da resistência.

As forças armadas egípcias realizaram um ataque surpresa

contra o exército de Israel em 1973 que se tornou

conhecido como a Guerra do Yom Kippur. Embora dias

depois os israelenses tenham conseguido armar um contra

ataque, pela primeira vez firmou-se um armistício com

Israel na defensiva, propiciando que se estabelecesse o

“Acordo de Camp David” de paz entre os dois países em

1977 e a devolução da Península de Sinai ao Egito.

A partir deste momento, o tema que mais chamava a

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atenção internacional era a situação do povo palestino, pois

a OLP conseguiu angariar uma série de apoios e aliados.

Entretanto, em 1982, Israel ocupou o sul do Líbano e

bombardeou pesadamente a capital Beirute sob a

justificativa de deter as ações guerrilheiras da OLP em

território israelense a partir do território libanês. Esta

organização tinha mudado sua sede da Jordânia para o

Líbano após o massacre de quase 10.000 palestinos

cometido em 1970 pelo exército jordaniano no episódio

que se tornou conhecido como “Setembro Negro”.

Mesmo após a retirada dos militantes da OLP do Líbano e

cuja sede se mudou para a Tunísia, Israel manteve a

ocupação de uma faixa no sul do país de onde se retirou

apenas no final dos anos 1990 por força das ações armadas

do Hezbollah, uma organização local da comunidade xiita.

Porém, nesse meio tempo o exército israelense e seus

2

2 O governo do rei Hussein se sentia ameaçado pela grande presença de refugiados palestinos e pelas incursões armadas que a OLP promovia contra os israelenses a partir da Jordânia que provocava retaliações de Israel contra o território jordaniano. O governo jordaniano sentia a OLP como um Estado dentro de outro e colocou suas forças armadas para expulsá-la. Certos setores políticos libaneses posteriormente adotaram postura semelhante.

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aliados cristãos da “Falange Libanesa” cometeram os

massacres dos campos de refugiados palestinos de Sabra e

Shatila, entre outras barbaridades decorrentes da

ocupação.

O Movimento “Paz Agora” em Israel foi criado a partir de

um manifesto de oficiais das forças armadas que

questionavam a ocupação dos territórios palestino, sírio e

libanês e chegou a reunir aproximadamente 400.000

pessoas em Tel – Aviv numa manifestação pela paz e

provocou uma investigação sobre os massacres ocorridos

no Líbano que apontaram a responsabilidade do general

Ariel Sharon. Este, no entanto, nunca foi punido. Pelo

contrário, mais tarde tornou-se primeiro ministro de Israel.

Em 1987 intensificaram-se os choques entre as forças de

segurança israelenses e jovens palestinos na Cisjordânia

provocando a morte de vários destes. Cada enterro

ensejava novas manifestações, novas repressões, mortes,

enterros e assim sucessivamente transformando-se em

greves gerais e um movimento de insurreição da sociedade

palestina, a primeira “Intifada”. As imagens de jovens e

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Page 22: O conflito Israel - Palestina

adolescentes palestinos enfrentando com estilingues e

atiradeiras os soldados israelenses ‘armados até os dentes’

abalaram a opinião pública mundial e a própria sociedade

israelense, a ponto de 250.000 judeus jovens, em média,

começarem a deixar o país anualmente, tornando negativo

o fluxo de migração para Israel naquele momento.

A OLP decidiu no seu Congresso Nacional Palestino em

1989 reconhecer o Estado de Israel e apoiar a Resolução

242 da ONU que condenou a tomada de territórios por

meio da guerra e demandou a retirada das tropas

israelenses dos territórios ocupados.

Esta nova conjuntura favoreceu o início de uma série de

contatos secretos entre israelenses e palestinos que

culminaram com as negociações dos “Acordos de Oslo”

que previam a instalação de um governo palestino

autônomo em algumas áreas como a Faixa de Gaza e o

município de Jericó, a serem ampliadas num prazo de cinco

anos. Em paralelo, o governo israelense também

formalizou a paz com a Jordânia.

O acordo foi questionado por várias personalidades e

Page 23: O conflito Israel - Palestina

grupos palestinos como o escritor Edward Said e o Hamas.

Said alegava que o Acordo de Oslo se confrontava com a

Resolução 242 da ONU, pois a OLP estaria aceitando

implicitamente a continuidade da ocupação em detrimento

da determinação da Resolução que demanda a retirada

incondicional de Israel dos territórios ocupados

(Finkelstein, 2005). O Hamas adotava a posição de não

reconhecer o Estado de Israel e, por isso, considerava as

negociações ilegítimas.

Porém, o questionamento maior partiu da sociedade

israelense. Os colonos estabelecidos nestas duas áreas

recusavam-se a partir e o Primeiro Ministro trabalhista,

Yitzhak Rabin que havia patrocinado as negociações foi

assassinado por um membro da ortodoxia religiosa do País

em 1995. Seis meses depois o Likud voltou ao governo de

Israel com o primeiro ministro Benyamin Netanyahu,

enquanto Yasser Arafat era eleito presidente da Palestina.

Israelenses e palestinos haviam voltado a negociar um

pouco antes do assassinato de Rabin e haviam estabelecido

um cronograma para a devolução de novos territórios, mas

Page 24: O conflito Israel - Palestina

este se atrasava constantemente, os assentamentos

israelenses prosseguiam, principalmente, em Jerusalém

Oriental e os grupos palestinos que discordavam dos

Acordos de Oslo haviam dado início a uma série de

atentados suicidas por meio de bombas em áreas públicas

israelenses. Netanyahu declarou durante a campanha

eleitoral que respeitaria os acordos e que prosseguiria com

as negociações desde que a segurança de Israel estivesse

assegurada. Alguns prisioneiros políticos palestinos,

incluindo a brasileira Lamia Maruf, foram libertados

durante seu mandato, mas a política de assentamentos foi

acelerada e os acordos de transferir mais territórios para o

controle palestino foi recusado por Netanyahu sob

alegação que a Autoridade Nacional Palestina não estava

contribuindo com a manutenção da segurança.

Mesmo com o interregno do governo trabalhista de Ehud

Barak de 1999 a 2001 que prometia dar seqüência à política

inaugurada por Rabin, não houve avanços e com o retorno

do Likud ao governo liderado por Ariel Sharon, o processo

azedou de vez. Em outubro de 2001, o ministro de turismo

Page 25: O conflito Israel - Palestina

de Israel foi assassinado por um comando da Frente

Popular para Libertação da Palestina (FPLP) e tropas

israelenses ocuparam várias cidades palestinas. Sharon

exigia que a ANP entregasse os responsáveis, o que Arafat

não teria como fazer nem que quisesse e a sede da ANP em

Ramallah foi cercada por tanques e soldados israelenses

colocando o Presidente da Palestina, na prática, em prisão

domiciliar.

Nova Intifada se iniciou nesse momento e os atentados

suicidas continuaram. A retaliação israelense destruiu toda

a infra-estrutura nas cidades que os palestinos governavam

na Cisjordânia e iniciaram a construção de um muro em

torno das áreas palestinas que além de isolá-las,

inviabilizaria qualquer desenvolvimento econômico.

Arafat faleceu em 2004 e foi substituído por Mahmoud

Abbas também do Al Fatah que fez diversas concessões na

busca da retomada das negociações e os 8.000 colonos

israelenses que viviam na Faixa de Gaza foram removidos

para que esta área fosse passado ao “controle” palestino.

Sharon sofreu um derrame e entrou em estado de coma no

Page 26: O conflito Israel - Palestina

final de 2005, sendo substituído por Ehud Olmert. Ambos

haviam fundado um novo partido chamado Kadima que

reunia políticos oriundos do Likud e do Partido

Trabalhista, principalmente.

No início de 2006, o Hamas foi o vencedor das eleições

para o parlamento palestino assegurando o direito de

indicar o Primeiro Ministro da Palestina. Em função disso,

os EUA e a União Européia suspenderam a ajuda

financeira para a ANP e Israel cortou o fluxo de

combustível para a Faixa de Gaza para pressionar o Hamas

a reconhecer o Estado de Israel, o que não ocorreu.

No final de junho de 2006, militantes do Hamas e do

H e z b o l l a h r e a l i z a r a m i n c u r s õ e s a r m a d a s ,

respectivamente, no sul e no norte de Israel matando alguns

soldados israelenses e prendendo outros. A reação do

governo Olmert foi a de bombardear Gaza e o Líbano.

Neste último, destruiu a maior parte da infra-estrutura

libanesa e bombardeou pesadamente áreas residenciais de

maioria xiita. Mais de 1.300 pessoas perderam a vida.

Porém, ao invadir o sul do Líbano, o exército israelense

Page 27: O conflito Israel - Palestina

enfrentou forte resistência do Hezbollah, o que

transformou a campanha bélica num grande fiasco

desgastando enormemente o governo israelense. Os EUA

que relutavam em apoiar um armistício antes que o

exército israelense completasse seus objetivos de destruir

ou debilitar o Hezbollah tiveram que acelerar a negociação

de um cessar fogo no âmbito da ONU para que os

israelenses tivessem uma justificativa para “bater em

retirada”.

Neste meio tempo, a disputa entre o Al Fatah e o Hamas se

acirrou a ponto de os militantes do primeiro serem

expulsos de Gaza em 2007.

O desmoralizado governo Olmert se sustentou a duras

penas até fevereiro de 2009 quando ocorreram eleições

parlamentares. Porém, sob a justificativa do disparo de

foguetes sobre localidades israelenses próximas a faixa de

Gaza, o governo do Kadima tentou se reeleger

desencadeando um intenso bombardeio sobre a Faixa de

Gaza seguido por ações terrestres que causaram a morte de

aproximadamente 1.400 palestinos em sua maioria

Page 28: O conflito Israel - Palestina

crianças, velhos e mulheres. Esta ação acaba de ser

condenada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Mesmo assim, a eleição foi vencida pelo Likud, retornando

Netanyahu que compôs um governo em aliança com outros

partidos ainda mais à direita e os trabalhistas que já

estavam coligados com Olmert.

A expectativa dos palestinos e de todos os que desejam a

paz e o respeito ao direito do povo palestino de obter o seu

Estado era que o novo governo americano de Barack

Obama jogasse mais duro com Israel. No entanto,

prosseguiu a política de expansão dos assentamentos e a

Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, declarou

que a ANP deveria prosseguir com as negociações com o

governo de Israel mesmo assim. Por isso, agora se cogita

do lado palestino abandonar a perspectiva de dois povos,

dois Estados conforme apresentado em artigo recente de

John Whitbeck, assessor da equipe de negociação palestina

que inclusive menciona 2011 como a data limite para

mudança da postura israelense (ESP, 22/11/2009).

Page 29: O conflito Israel - Palestina

a) Os israelenses

Israel é uma república parlamentar e teocrática onde o

presidente possui pouquíssimo poder. Seu parlamento

(“Knesset”) é composto por 120 membros e

tradicionalmente, entre 15 e 20 partidos conseguem

representação. Assim, nenhum deles tem maioria

isoladamente e os governos são de coalizão.

A sociedade é composta majoritariamente por judeus e por

minorias árabes e drusas. Os judeus tradicionalmente se

dividem em quatro grupos étnicos/culturais a partir de sua

origem antes de se estabelecerem na Palestina. Há os

Ashkenazim oriundos do norte da Europa, unidos e mais

organizados. Foram hegemônicos no sionismo trabalhista

e conseqüentemente no aparelho de Estado por um longo

período. Os Sephardim com origem nos Bálcãs,

Mediterrâneo e Oriente Médio e os Orientais provenientes,

principalmente, da África do Norte e da Ásia. Este último

Os principais atores do conflito

Page 30: O conflito Israel - Palestina

grupo compõe a população israelense mais pobre e

marginalizada, mas que vota principalmente nos partidos

de direita. Após o colapso dos regimes de socialismo real

nos países do Leste Europeu houve uma grande onda

migratória de judeus que viviam na Rússia. Formam um

grupo extremamente conservador, porém menos apegados

à religião que os grupos anteriores. Um de seus principais

líderes, Avigdor Lieberman, atual Ministro de Relações

Exteriores, defende a separação entre Igreja e Estado, pois

em Israel existe a justiça civil que lida com a criminalidade

e questões afins e a justiça religiosa que trata de

casamentos, separações, heranças, entre outras.

A maioria dos partidos políticos israelenses de alguma

maneira têm origem no sionismo. Os principais da direita

são: o Likud (neoliberal clássico), Kadima (centro – direita

dissidente do Likud), partidos religiosos fundamentalistas

como o Shas e o Dvar Torá e os partidos xenófobos que

advogam a expulsão dos árabes de Israel e territórios

ocupados como o Yisrael Beitenu de Lieberman e o

Moledet.

Page 31: O conflito Israel - Palestina

O Partido Trabalhista (Avoba) que hoje está coligado à

direita no governo com Ehud Barak como Ministro da

Defesa descende do sionismo trabalhista (Poale Zion) que

em 1930 criou o Mapai que em 1968 se cindiu em duas

vertentes: a direita que se tornou o Partido Trabalhista e a

esquerda que se uniu a uma organização da juventude

judaica chamada Hashomer Hatzair formando o Mapan

que depois se tornou o atual Meretz ao se unir ao Ratz

favorável à paz e promoção dos direitos civis e ao Shinui

um partido liberal de centro.

Mais à esquerda está o Partido Comunista Israelense

(Maki) que tem origem no proletariado judeu e palestino

dos anos 1920 e 1930 e hoje apóia o Hadash que é um

partido judeu – árabe socialista e anti – sionista criado em

1977 que defende a retirada completa de Israel dos

territórios ocupados, evacuação dos assentamentos,

indenização aos palestinos e retorno dos refugiados.

Desenvolve importante ativismo ambiental e possui quatro

cadeiras no parlamento atualmente.

O Hadash também é apoiado pelos remanescentes dos

Page 32: O conflito Israel - Palestina

“Panteras Negras”, um agrupamento político formado

durante os anos 1970 para lutar contra o racismo sofrido

pelos judeus Orientais e pelo acesso destes à educação.

Há ainda o Balad formado pela minoria árabe em Israel que

também é anti – sionista e laico, além de defender posições

semelhantes ao Hadash quanto à questão palestina, mas

não possui representação no parlamento atualmente.

Na eleição parlamentar de 2009, o Comitê Eleitoral tentou

impedir dois partidos da minoria árabe de concorrer sob

alegação de “vínculos com terroristas”, o Ra'am (Lista

Árabe Unida) e o Ta'al. Porém, eles conquistaram o direito

de concorrer na Suprema Corte de Israel e saíram coligados

elegendo um parlamentar. São a favor de dois Estados com

Jerusalém Oriental como capital da Palestina.

Há diversas organizações da sociedade civil israelense

como a Central Sindical Histadrut fundada na década de

1920 por David Ben Gurion, sionista trabalhista, que

também foi um dos fundadores do Mapai, além de ter sido o

primeiro presidente do país depois da guerra de 1947/48.

No final dos anos 1970 surgiu um vigoroso movimento

Page 33: O conflito Israel - Palestina

chamado “Paz Agora” (Shalom Achshav) que propunha o

retorno às fronteiras de 1967. Este fez recentemente um

balanço dos seus 30 anos de atuação, onde seu Secretário

Geral atual, Yariv Oppenheimer se mostrou muito otimista

quanto à “solução sionista possível” que foram os acordos

de paz com o Egito e a Jordânia e o reconhecimento da

proposta dos dois Estados para dois povos e que no curto

prazo também haverá um acordo de paz com a Síria.

chamado “Paz Agora” (Shalom Achshav) que propunha o

retorno às fronteiras de 1967. Este fez recentemente um

balanço dos seus 30 anos de atuação, onde seu Secretário

Geral atual, Yariv Oppenheimer se mostrou muito otimista

quanto à “solução sionista possível” que foram os acordos

de paz com o Egito e a Jordânia e o reconhecimento da

proposta dos dois Estados para dois povos e que no curto

prazo também haverá um acordo de paz com a Síria.

a) Os palestinos

A maioria dos palestinos (97%) é muçulmana e do ramo

sunita. Os demais são cristãos, judeus, samaritanos, etc. Há

atualmente 11 partidos políticos na Palestina, mas nem

todos são membros da Organização para Libertação da

Palestina (OLP) e há seis partidos com representação no

Conselho Legislativo da Palestina (Parlamento).

Um dos principais partidos da Palestina e que antes fora

uma organização guerrilheira é o Al Fatah (“Começo” em

árabe). Foi fundada em 1958 por Yasser Arafat e outros e se

juntou a OLP em 1964, tornando-se a maior fração do

Page 34: O conflito Israel - Palestina

movimento palestino de libertação nacional, além de ser

um partido secular. A OLP foi reconhecida pela Liga Árabe

em 1974 como a única representante do povo palestino.

Ideologicamente o Al Fatah é nacionalista, de centro-

esquerda e filiada a Internacional Socialista. Possui uma

fração interna chamada “Brigadas dos Mártires de Al-

Aqsa” que surgiu durante a segunda Intifada para disputar

espaço com o Hamas e também é responsável por vários

atentados suicidas contra alvos israelenses.

O partido encontra-se politicamente muito desgastado

atualmente por investir nas negociações de paz que não têm

trazido resultados, além de ter assumido o governo em

áreas onde grassa o desemprego e as condições sociais são

péssimas em função das constantes agressões israelenses.

Os palestinos que têm emprego dependem do trabalho

oferecido pelos israelenses onde são geralmente

extremamente explorados e freqüentemente têm sua

liberdade de ir e vir violada pelas autoridades de Israel,

havendo ou não conflitos, o que piora suas relações de

trabalho e renda.

Page 35: O conflito Israel - Palestina

O Presidente da Palestina Mahmoud Abbas é do Al Fatah e

cogita não se candidatar à reeleição por falta de apoio

internacional, particularmente dos EUA, nas negociações

com Israel.

Nos anos 1960 foi fundada a Frente Popular para a

Libertação da Palestina (FPLP), marxista-leninista e

nacionalista e que era dirigida por George Habbash. Era

também um movimento de libertação como o Al Fatah e

outros, mas sua posição era que a relação entre árabes e

israelenses somente seria resolvida com a revolução

socialista. Um dissidente do grupo, Ahmed Jibril criou em

1968 a FPLP – CG (Comando Geral). Outra cisão da FPLP

em 1969 levou à criação da Frente Democrática para

Libertação da Palestina (FDLP) e uma nova divisão levou à

criação da União Democrática Palestina (UDP). Estas

divisões estavam relacionadas às transformações da

esquerda internacionalmente, além da influência do

chamado “socialismo árabe” dos partidos Baath da Síria e

do Iraque. Há outros partidos que também se reivindicam

de esquerda como o Partido Comunista Palestino (PCP) e o

Page 36: O conflito Israel - Palestina

Partido do Povo Palestino (PPP).

Um partido que disputa a hegemonia política com o Al

Fatah é o Hamas que não é membro da OLP. É um

movimento de resistência islâmico criado em 1987 durante

a primeira Intifada e nasceu inspirado na experiência da

“Irmandade Islâmica do Egito”. É contra os “Acordos de

Oslo” e defende a criação de um “Estado Islâmico” embora

afirme que a disputa com Israel é política e não-religiosa. O

Hamas possui um forte enraizamento junto à população ao

organizar e promover uma série de programas sociais como

hospitais, escolas, bibliotecas, etc. A sua ala armada são as

“Brigadas Iss-al-Din Quassam”.

Há ainda outro grupo que adota a mesma tática das

“Brigadas” mencionadas que é o Jihad Islâmico.

O Hamas elegeu 74 parlamentares do total de 132 do

Conselho Legislativo da Palestina (CLP) em 2006 contra

45 do Al Fatah; três da FPLP; dois de uma coligação

chamada “Badeel” composta pela FDLP, UDP e PPP; dois

da “Terceira Via” (empresários e ex-membros do Al Fatah)

e seis cadeiras para independentes, cristãos e samaritanos.

Page 37: O conflito Israel - Palestina

Quando o Hamas e o Al Fatah romperam em 2007, o

Presidente Abbas destituiu o Primeiro Ministro palestino

que era do Hamas, Ismail Hanyieh e nomeou Salam

Fayyad que é da “Terceira Via”. O Hamas obviamente não

concordou com esta medida, mas pouco pode fazer além de

atuar na Faixa de Gaza onde tem hegemonia após expulsar

o Al Fatah. Além da Presidência e do CLP existe ainda o

tradicional Conselho Nacional Palestino composto por 669

membros que atualmente são 88 membros do CLP, 98

representantes de territórios palestinos e 483

representantes dos territórios ocupados. Estes escolhem

entre si uma executiva de 17 membros.

Além dos partidos e grupos de resistência há também

organizações da sociedade palestina como a Federação

Geral de Sindicatos da Palestina, uma central sindical.

Page 38: O conflito Israel - Palestina

O Segundo Encontro Nacional do PT realizado em 1982

manifestou expressamente o “apoio à luta do povo

palestino pela reconquista de sua terra”. Esta posição foi

reafirmada de forma mais ampla e objetiva no PAG da

campanha Lula em 1989 afirmando “apoio à luta do povo

palestino para criação de seu Estado independente e

respeito á existência do Estado de Israel”. A política

externa do governo Lula reflete atualmente este

posicionamento de maneira concreta ao fazer inclusive

gestões para a promoção da paz, tendo inclusive

participado da Conferência da Annapolis nos EUA em

dezembro de 2007 que tinha o objetivo de relançar as

negociações entre palestinos e israelenses.

Outros partidos políticos e organizações sociais do Brasil

também têm sido solidários com a causa palestina, como a

CUT que em 2001 organizou uma coleta de remédios e

Conclusão

Page 39: O conflito Israel - Palestina

e materiais de primeiros socorros para serem remetidos a

Ramallah.

Há várias questões que se tornaram resoluções da ONU

como, por exemplo, a coexistência dos dois Estados, o direito

à autodeterminação palestina, assistência aos refugiados

palestinos, preservação das propriedades palestinas e seus

rendimentos, remoção das colônias israelenses do território

palestino, preservação dos direitos humanos do povo

palestino e desocupação das Colinas de Golan. Estas

resoluções foram normalmente aprovadas por quase

unanimidade, pois apenas Israel votou contra todas elas e os

EUA contra a maioria. Algumas vezes os israelenses

contaram também com os votos contrários das Ilhas

Marshall, Nauru, Micronésia e Tuvalu (Finkelstein, 2005).

Além destas questões trata-se também de estabelecer as

fronteiras do Estado Palestino de acordo com a Resolução

242 da ONU que são as fronteiras anteriores à guerra de

1967, mas acompanhadas dos recursos para viabilizar

economicamente e socialmente o novo país, bem como a

infra-estrutura necessária. A indenização aos palestinos

Page 40: O conflito Israel - Palestina

pela tomada de suas terras e demais conseqüências da

ocupação que, no caso dos territórios ocupados em 1967 já

dura 42 anos poderia ser a fonte dos recursos.

No aspecto território e infra-estrutura há ainda uma questão

fundamental sobre a qual se fala pouco que é o acesso

universal aos recursos hídricos, principalmente numa região

tão populosa e carente de fontes de água.

Os ataques mútuos necessitam ser interrompidos e é

inaceitável que Israel se outorgue o direito de ser juiz e polícia

ao mesmo tempo, mesmo quando há incidentes armados.

Por fim, os palestinos refugiados em outros países que

quiserem regressar devem ter este direito e os prisioneiros

políticos palestinos igualmente devem ser libertados.

Estas são algumas questões mínimas a serem resolvidas

uma vez mantida a posição da OLP de lutar pelo seu

Estado. Se a concepção mudar para “vários povos, um

Estado”, as demandas mudam e a questão democrática

tornar-se-á essencial.

O Brasil por meio de seu governo, sua sociedade e partidos

progressistas têm como ajudar, mas para isso é necessário

Page 41: O conflito Israel - Palestina

tolerância e compreensão sobre a realidade. Obviamente, a

parte mais vulnerável (palestinos) necessita de maior

apoio, mas se quisermos nos tornar interlocutores junto às

duas partes em conflito, para ajudar na superação deste,

não podemos transformar nossas opiniões e posições sobre

o mesmo em hostilidade à parte mais forte (israelenses).

Por isto, o PT recentemente fez uma visita a Palestina,

mantendo contatos não apenas com a Autoridade Palestina,

OLP e Fatah, mas também com partidos progressistas e

laicos que não possuem alas armadas como o PCP, o PPP e

a UDP. Da mesma forma, durante uma visita a Israel a

convite do Meretz, buscou contatos com partidos como o

Hadash, o Balad, o Partido Comunista Israelense, a Lista

Árabe Unida e o Movimento Paz Agora. Espera-se com

estas atitudes contribuir para a paz na região.

Page 42: O conflito Israel - Palestina

Referências bibliográficas

Diretório nacional do PT, Secretaria Nacional de Formação

Política e Fundação Perseu Abramo (Org). Resoluções de

Encontros e Congressos: 1979 – 1998. São Paulo: Editora

Fundação Perseu Abramo, 1998.

Enciclopédia do Mundo Contemporâneo. São Paulo:

Publifolha, 2000.

FINKELSTEIN, Norman G. Imagem e realidade do conflito

Israel – Palestina. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005.

FLINT, Guila. Imagem de Paz: Israel e Palestina Processos e

Retrocessos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

SALEM, Helena. Palestinos os novos judeus. Rio de Janeiro:

Eldorado, 1977.

WHITBECK, John V. Solução de 2 Estados está em xeque

(Artigo). São Paulo: O Estado de São Paulo, 22/11/2009.

Sites de internet visitados em novembro de 2009:

www.fateh.ps

www.dflp-palestine.org

www.medea.be

www.rebel ion.org

www.peacenow.org.il

www.pal-plc.org

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