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O CONSELHO DE CLASSE E A IMPORTÂNCIA DO PEDAGOGO

Autora: Marissuze Luppi Ferracin1

Orientadora: Sandra Regina Ferreira de Oliveira2

Resumo

Este trabalho é fruto de um estudo de caso de caráter descritivo e reflexivo realizado a partir da observação do Conselho de Classe em uma escola pública com a intervenção do pedagogo como mediador do processo ensino-aprendizagem. O Conselho de Classe, nesta análise, é compreendido como uma possível ferramenta de promoção da Gestão Democrática na escola, e tem sido apontada por alguns teóricos como uma das instâncias colegiadas mais importantes no favorecimento de melhorias e readequações do processo de ensino e de aprendizagem, beneficiando alunos, professores e demais integrantes da comunidade escolar. No entanto, ainda é comum observar que, na prática, tais reuniões ocorrem a cada final de bimestre, com a participação de professores, diretor e equipe pedagógica, e acabam reduzindo-se a discussões sobre problemas de comportamento e/ou notas e a aprovação ou reprovação dos alunos. Tal cenário exige do pedagogo uma postura de mediador na condução do Conselho de Classe. Diante deste contexto, este trabalho buscou reconhecer como que se dá a atuação do pedagogo no Conselho de Classe em uma escola pública, fornecendo subsídios para compreender, de maneira apropriada, esta instância escolar, assim como reconhecer quais os limites, a relevância e as perspectivas possíveis para o trabalho do pedagogo.

Palavras-chave: Gestão Democrática; Conselho de Classe; processo de ensino-aprendizagem; atuação do pedagogo.

1 Especialista em Gestão Escolar: Administração, Supervisão e Orientação Educacional

(Universidade Norte do Paraná - UNOPAR); Pedagoga (Instituto Educacional de Assis - IEDA); Professora da Rede Municipal de Ensino e Professora-Pedagoga do Colégio Estadual Jayme Canet -(Bela Vista do Paraíso). 2 Doutora em Educação. Docente no curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Londrina.

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1 Introdução

A escola pode ser entendida como um espaço de transformação do homem e

da sociedade, na medida em que ocorrem ações coletivas por parte da comunidade

escolar. Na busca por este propósito, necessita-se mobilizar e capacitar os

profissionais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, destacando-se

assim, a mediação do pedagogo.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394 de 20 de

dezembro de 1996 estabeleceu a Gestão Democrática em seu artigo 12, inciso VI, e

instituiu uma nova perspectiva de planejamento participativo possibilitando a

autonomia das escolas e a participação da comunidade escolar na busca por

decisões que visem a promoção da formação da cidadania e reorganização da

prática docente.

Atualmente, embora ainda distante do ideal, pois há a necessidade de ir além

das mudanças organizacionais, as tentativas de se estabelecer estes processos

coletivos de participação e decisão, tem-se mostrado elementos importantes na

busca por uma educação e qualidade.

Nesse sentido, o Conselho de Classe instituído como um eixo da Gestão

Democrática torna-se valorizado, visto que representa um movimento reivindicatório

que possibilita a participação e interação de profissionais dos diferentes segmentos

da escola como professores e equipe pedagógica, na tentativa de buscar soluções

que visem o cumprimento da função desta instituição que é promoção da

aprendizagem de forma efetiva e significativa.

Os Conselhos de Classe foram implementados nas escolas em função da

necessidade de um espaço coletivo de avaliação que considerasse as diferentes

percepções e encaminhamentos do trabalho pedagógico. No entanto, ainda é

bastante comum observar que seu papel, muitas vezes, volta-se somente para a

legitimação dos resultados dos alunos, não pautando-se na intervenção do processo

ensino e aprendizagem. Frente a este contexto, o pedagogo, muitas vezes

considerado como o profissional responsável pela resolução de conflitos e cumpridor

de atividades do cotidiano escolar, necessita conscientizar-se da sua importância

dentro da escola, e agir de forma mais atuante nos Conselhos de Classe, mediando,

interando, organizando e articulando o trabalho pedagógico e buscando alternativas

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para promover ações educativas e sociais que viabilizem o processo de ensino e

aprendizagem dos alunos e que auxiliem o trabalho dos professores.

Diante deste cenário, idealizou-se um projeto de intervenção pedagógica

intitulado “A participação do pedagogo no Conselho de Classe”. A implementação

deste projeto ocorreu durante o ano letivo de 2011, voltado para os profissionais de

ensino e alunos do período noturno de uma escola pública de Bela Vista do Paraíso,

no estado do Paraná, com o objetivo de promover o reconhecimento e reflexão

sobre esta instância colegiada e com a pretensão de indicar práticas de reavaliação

do Conselho de Classe nesta escola.

Inicialmente, a proposta deste trabalho foi apresentada aos professores e à

equipe pedagógica. A implementação do projeto em questão ocorreu em períodos

pré-estabelecidos como, por exemplo, na Semana Pedagógica de 2011 e em datas

que antecederam as reuniões de Conselho de Classe.

A escolha do assunto abordado neste trabalho justifica-se pela própria

experiência vivida como pedagoga de escola pública ao participar de Conselhos de

Classe. Buscou-se romper com ações ancoradas no autoritarismo e na exclusão,

promovendo como contrapartida, estratégias pedagógicas que promovam a

participação coletiva e sejam capazes de aprimorarem o processo de ensino e

aprendizagem.

Pretendeu-se também com este trabalho, promover o reconhecimento sobre

o Conselho de Classe nesta escola pública tanto para os profissionais de ensino

quanto para os alunos, possibilitando especialmente aos professores, a

compreensão das funções desta instância colegiada. Ainda almejou-se que novas

práticas de reavaliação dos Conselhos de Classe fossem estabelecidas, otimizando

e, incorporando novas práticas e abandonando outras que não favorecem a melhoria

na qualidade de ensino.

As discussões apresentadas neste artigo somam-se às reflexões apontadas

pelos professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Tais

contribuições possibilitaram analisar as várias concepções e modelos de Conselho

de Classe vivenciadas por professores de outras instituições escolares do Estado.

De um modo geral, os resultados apontaram para a necessidade de

mudança em relação a importância dada ao Conselho de Classe, tanto por

professores quanto por alunos, e geraram embasamento para a resignificação de

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qual é o papel do pedagogo na construção de Conselhos de Classe mais

significativos para toda a comunidade escolar.

2 Fundamentos sobre os princípios da Gestão Democrática e o Conselho de

Classe

Algumas instâncias colegiadas, incluindo os Conselhos de Classe, são

estabelecidas para organizar o trabalho pedagógico e garantir o princípio da Gestão

Democrática nas escolas públicas. Uma escola fundamentada neste modelo de

Gestão requer a participação coletiva de professores, equipe pedagógica, alunos e

pais. Essa participação efetiva-se, por exemplo, na participação da comunidade

escolar na elaboração do Projeto Político-Pedagógico que explicita a concepção

educacional e orientação da prática pedagógica.

Para Camargo e Adrião (2009), a implementação de práticas democráticas

na escola, remete a uma confluência de espaços uma vez que estas práticas

permitem a ampliação e reflexão das informações sobre os processos educacionais

e se estabelecem como um espaço político e de construção de cidadania, pois

oportunizam a todos os envolvidos refletirem e agirem em torno de questões de

interesse do grupo.

De acordo com os autores citados, entendem-se os Conselhos Escolares

como os órgãos colegiados que se apresentam

Como espaços públicos privilegiados, nos quais tensões e conflitos a respeito de questões educacionais podem surgir, superando práticas monolíticas ou pretensamente “harmoniosas”, ao mesmo tempo em que se configuram como espaços institucionais de articulação de soluções locais para os problemas do cotidiano escolar. No intuito de contribuir para este fim e na perspectiva de se instalar novos procedimentos que busquem superar sua existência meramente formal, algumas ações são necessárias (CAMARGO e ADRIÃO, 2009, p. 6).

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Considerados como eixos da Gestão Democrática, a qual consiste em uma

perspectiva de planejamento participativo permitindo a autonomia das escolas e a

participação da comunidade escolar na busca por decisões voltadas para o processo

de ensino e aprendizagem, as instâncias colegiadas desempenham um papel

importante no exercício da prática democrática visto que demandam da criação de

espaços propícios para que novas relações entre os segmentos escolares

aconteçam (GRACINDO, 2005).

Como exposto por Abranches,

Os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de novas formas de gestão por meio de um modelo de administração coletiva em que todos participam dos processos decisórios e de acompanhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo as questões

administrativas, financeiras e pedagógicas (2003, p. 54).

Citam-se como instâncias colegiadas a Associação de Pais e Mestres, o

Grêmio Estudantil e o Conselho de Classe, este último voltado para a promoção do

ensino e da aprendizagem.

Segundo Silva,

O Conselho de Classe caracteriza-se como uma reunião periódica que ocorre na instituição escolar, na qual reúnem-se professores, coordenadores, supervisores, diretores, orientadores e em determinadas situações alunos, para que coletivamente reflitam e avaliem o processo de ensino-aprendizagem (2009, p. 178).

Em um adendo, destaca-se que o processo de ensino e aprendizagem é

estudado e por assim definido, sob enfoques diversos. Neste texto, ensino e

aprendizagem são destacados como componentes articulados no processo

educativo e não devem ser entendidos como duas faces de um mesmo processo em

que só podem existir as alternativas: “o aluno aprendeu, ou não aprendeu”. Assim

como citado por Weisz (2006), o professor, neste complexo processo, deve ver a

aprendizagem como uma reconstrução que o aprendiz tem de fazer dos seus

esquemas interpretativos.

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Sendo o Conselho de Classe uma instância com vistas ao aprimoramento do

ensino e da aprendizagem, é válido afirmar que esta “é a mais importante das

instâncias colegiadas da escola, pelos objetivos de seu trabalho, pois é capaz de

dinamizar o coletivo escolar pela via da gestão do processo de ensino, foco central

do processo de escolarização” (DALBEN, 2006, p. 57). Para a autora, é esta

instância colegiada a responsável pelo processo coletivo de avaliação da

aprendizagem do aluno, uma vez que “guarda em si a possibilidade de articular os

diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo a avaliação da

aprendizagem e do ensino, eixos centrais do processo de trabalho escolar"

(DALBEN, 2006, p. 16).

Segundo Rocha “uma vez instituído, o Conselho de Classe vem

desempenhando importante papel, dentro do sistema escolar, como mecanismo de

ação conjunta dos professores, orientação pedagógica e orientação educacional”

(1984, p. 11).

No entanto, embora seja um dos espaços mais ricos de transformação da

prática pedagógica, talvez, segundo Cruz (2005) um dos mais mal aproveitados nas

escolas visto que:

O Conselho de Classe se transformou em instância de julgamento dos alunos, sem direito à defesa e em espaço de críticas improdutivas sobre a prática pedagógica. Como tem sido praticado em muitas escolas, camufla e, com isso, reforça dentro da escola os mecanismos de controle arbitrário, de concentração de poder e de exclusão social (CRUZ, 2005, pág. 11).

Equivocadamente, na maioria dos casos a prática do Conselho de Classe

está diretamente relacionada ao processo de avaliação do mérito adquirido pelo

aluno de acordo com o ensinado pelo professor. Para Perrenoud (1999), os alunos

são classificados a partir do êxito ou do fracasso na escola porque são avaliados em

função de exigências manifestadas pelos professores ou outros avaliadores que

seguem os programas e outras diretrizes determinadas pelo sistema educativo.

Como contraparte, Veiga expõe que “[...] o objeto do Conselho de Classe é o

ensino e suas relações com a avaliação da aprendizagem” (2001, p. 117). Alia-se a

esta assertiva a ideia de Weisz que defende que “avaliar a aprendizagem do aluno é

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também avaliar a intervenção do professor, já que o ensino deve ser planejado e

replanejado em função das aprendizagens conquistadas ou não” (2006, p.95).

Deste modo, espera-se que o processo avaliativo que ocorre nos Conselhos

de Classe vise uma avaliação coletiva caracterizando esta instância como um

espaço educativo com a finalidade de promover ações que permitam os educadores

superarem as dificuldades apresentadas no seu trabalho, tornando esta prática em

um ambiente transformador de atitudes e decisões (FERNANDES, 2010).

Para Cruz,

A avaliação no Conselho de Classe é uma ação pedagógica histórica, isto é, inserida dentro do processo de vida da escola, intencionalmente executada e com um fim claro. É ainda um espaço de reflexão pedagógica em que o professor e o aluno se situem conscientemente no processo que juntos desenvolvem. Não é apenas um espaço burocrático de “entrega de notas dos alunos à coordenação”. Para isso, não há necessidade de Conselho de Classe (2005, p. 16).

Na realidade, são poucas as escolas que discutem questões relacionadas a

processos, métodos ou conteúdos assim como quanto ao significado e

consequências para a aprendizagem do aluno ou mesmo sobre relações entre tais

aspectos e o Projeto Político-Pedagógico da Escola (CRUZ, 2005).

Ao afastar-se de aspectos importantes para o processo de ensino e

aprendizagem, as discussões realizadas nos Conselhos de Classe acabam por não

fornecer aos professores subsídios para se autoavaliarem tampouco para se

aperfeiçoarem diante dos problemas ocorridos no ambiente escolar.

Essa inadequação da prática ao que se propõe ser, nos faz questionar se o nome de Conselho de Classe é pertinente. Primeiro porque só se reúnem professores e não a classe, a turma que é avaliada. Em segundo lugar, porque pela prática observada nas escolas, o Conselho de Classe tem sido mais Conselho Disciplinar do que Conselho de Avaliação Diagnóstica (CRUZ, 2005, p. 12-13).

Assim sendo, destaca-se que o Conselho de Classe precisa ser

compreendido como uma prática que possibilita a análise da atividade do professor

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como ação pedagógica e não como um mecanismo de julgamento de notas ou

problemas de comportamento.

Para Rocha (1984), o Conselho de Classe tem múltiplos objetivos como, por

exemplo, avaliar o aproveitamento dos alunos e da turma como um todo; chegar a

um conhecimento mais profundo do aluno e promover a integração dos professores

e de outros membros da escola.

Outros autores tem destacado a importância da participação nos estudos

sobre os Conselhos de Classe. Segundo Rocha,

[...] grande parte da importância do Conselho de Classe está em suas características e participação, a tal ponto que quão maior for a participação por ele promovida, mais efetiva será a sua força de atuação e, da mesma maneira, à medida que deixa de ser um processo participatório, deixa de caracterizar-se como Conselho de Classe (1984, p. 11).

Um Conselho de Classe Participativo, que inclui todos os interessados na

melhoria do processo educacional, reforça o diálogo e permite a professores e

alunos repensarem seus papéis em sala de aula.

Especificamente para os professores, o Conselho de Classe constitui-se

como uma oportunidade de influenciar no processo de tomada de decisão e na

possibilidade de conduzir ou implicar em mudanças nas relações e procedimentos

da escola.

Para Rocha,

O professor muitas vezes sente a necessidade de uma troca de vivências, sente necessidade de apoio, e de uma verdadeira realimentação, e a sua expectativa em relação ao Conselho de Classe parece ser a de encontrar pessoas disponíveis para ouvi-lo. Sendo na prática a principal e, na maioria dos casos, a única reunião institucional, oficializada e que ocorre com relativa frequência, à qual o professor necessariamente deve comparecer, poderá constituir o Conselho de Classe uma oportunidade para que o docente se posicione e reflita sobre o seu trabalho, buscando uma maior integração profissional e social (1984, p. 12).

Para os alunos, a participação em Conselhos de Classe pode ser

conveniente na medida em que são a figura central das discussões e avaliações,

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pois é neste espaço que são abordados seus resultados, sucessos,

desenvolvimentos, resistências, fracassos, necessidades e dificuldades (DALBEN,

2006).

Essa postura democrática na qual permite a participação de todos os

envolvidos no processo educacional configura o comprometimento com a melhoria

na educação e contribui para a construção de um novo conhecimento, que passa a

colaborar para um ensino de qualidade, já que:

Democraticamente orientado, o Conselho de Classe pode reforçar e valorizar as experiências praticadas pelos professores, incentivar a ousadia para mudar e ser instrumento de transformação da cultura escolar sobre avaliação. É o momento e o espaço de avaliação diagnóstica da ação educativa da escola, feita pelos professores e pelos alunos, à luz do Projeto Político Pedagógico (CRUZ, 2005, p. 15).

Para o autor citado, uma avaliação realizada de forma participativa contribui

na formação da subjetividade e criticidade do professor e do aluno, sendo o

Conselho de Classe um o elemento auxiliar para tal processo porque reflete a ação

pedagógico-educativa, desde que não se restrinja somente a discussões sobre

notas, conceitos ou problemas de determinados alunos.

A participação direta, efetiva e entrelaçada dos profissionais que atuam no

processo pedagógico, é o que distingue o Conselho de Classe das demais

instâncias colegiadas, visto que é possível analisar e discutir o trabalho de sala de

aula relacionando-o com o rendimento do aluno, o que faz com que o próprio

docente seja objeto de reflexão (DALBEN, 2006).

Nesse sentido, muito se questiona o papel do pedagogo diante da prática de

Conselho de Classe. Faz-se necessário conhecer como este profissional promove

estratégias pedagógicas que visem a superação das dificuldades dos alunos, uma

vez que de acordo com Gura e Schneckenberg o Conselho de Classe “reúne vários

profissionais da área da educação a fim de resolver as questões atribuídas no

ensino dos alunos, e no processo de avaliação, entre estes profissionais, está

presente o pedagogo” (2011, p. 5107).

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2.1 Contextualização do papel do Pedagogo e a sua participação no Conselho

de Classe

O papel do pedagogo no ambiente escolar ainda é motivo de controvérsia e,

muitas vezes, de desconhecimento. Os equívocos em relação às suas atividades

têm descaracterizado sua função, fazendo com que, muitas vezes, seja considerado

como fiscal de professores e disciplinador de alunos.

De acordo com Almeida,

O pedagogo é o profissional competente para desenvolver uma práxis comprometida com a transformação social, que não colabore para perpetuar o distanciamento entre o saber da experiência e o saber sistematizado, mas que valorize esses saberes que são distintos, porém complementares

(2010, p. 130).

Compreender a atuação do pedagogo é uma tarefa considerada no mínimo

complexa, pois, assim como exposto por Santos e Santos:

O trabalho pedagógico sempre se situa no meio de um conflito ideológico, que interfere de forma preponderante na vida escolar. O pedagogo continuará sendo visto simplesmente como aquele que detém um poder junto à direção, caso não tenha consciência, ele mesmo, de seu verdadeiro papel de elemento mediador e articulador do conhecimento, e caso não compreenda em profundidade a sua relação com os pares da escola (2006, p. 207).

De acordo com o Edital 10/2007 (SEED-PR), o pedagogo tem a função de

“participar e intervir junto a direção, na organização do trabalho pedagógico escolar,

no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar”. Ainda

são responsabilidades do pedagogo, realizar o encaminhamento individual dos

alunos, estabelecer contato com as famílias, organizar reuniões coletivas com os

responsáveis para tomada de decisões sobre o processo de aprendizagem dos

alunos (PIZOLI, 2009).

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De tal modo, é possível observar que o pedagogo exerce na escola, uma

função generalista, pois é ele quem participa da elaboração e organização do

calendário escolar, que se reúne com pais para discutir e resolver problemas sobre

os alunos, que busca resolver conflitos internos na escola e participar do processo

de ensino e aprendizagem.

Diante da dimensão de seu trabalho, pode-se afirmar que:

O pedagogo dentro da instituição de ensino tem como objetivo ajudar a escola a escolher a melhor forma do aluno obter o conhecimento. Ele deve ter contato direto com o professor e questionar quais as dificuldades que ele está encontrando e assim buscar junto com o professor a melhor forma de ajudar a resolver questões relacionadas com o ensino-aprendizagem (GURA e SCHNECKENBERG, 2011, p. 5114).

Para Santos e Santos o pedagogo é visto como “mediador e articulador de

uma práxis pedagógica voltada para interdisciplinaridade e comprometida com a

transdiciplinaridade” (2006, p. 206).

Nesse contexto, o pedagogo contribui para a organização do espaço

pedagógico e, no que se refere a sua participação no Conselho de Classe, é o

profissional que orienta os professores sobre sua prática de ensino e avaliação.

O Conselho de Classe dinamiza a atividade de avaliação por intervenção

das variadas análises de seus participantes e assim possibilita outras formas de

organizar os trabalhos pedagógicos (GURA e SCHENECKENBERG, 2011).

Segundo as autoras, é neste contexto que se caracteriza a ação e o trabalho do

pedagogo como profissional responsável pela organização da prática pedagógica,

tendo como uma de suas atribuições, organizar o Conselho de Classe e encaminhar

o professor quanto ao planejamento metodológico no sentido de atender as

dificuldades de aprendizagem dos alunos.

Para Hoffman e Szymanski (2008), as discussões sobre o encaminhamento

do Conselho de Classe estão articuladas às práticas avaliativas do processo de

ensino e aprendizagem, de modo que cabe ao pedagogo, encaminhar e organizar

ações que impliquem na mobilização de uma prática que legitime os princípios desta

instância colegiada de caráter consultivo e deliberativo, de forma a promover ações

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pedagógicas centradas no processo de ensino e aprendizagem em detrimento das

práticas de exclusão e de reprovações.

É durante a realização do Conselho de Classe, que o pedagogo pode buscar, junto aos professores, alternativas às dificuldades enfrentadas pela escola no que se refere a organização do tempo, no intuito de enfrentar com rigor a lógica que determina os inconvenientes da organização por séries ou ciclos (SELLA, 2007, p. 59).

Segundo Dalben (2006), os participantes do Conselho de Classe têm suas

atribuições específicas, sendo o professor pedagogo responsável por coordenar e

mediar o processo; promover discussão coletiva de forma integrada; ser o elo para

encaminhamento de ações relacionadas ao processo ensino-aprendizagem; articular

o processo de construção e reconstrução desse mesmo processo e analisar

elementos totalizantes e unificadores do processo de ensino e de produção do

conhecimento.

É importante que o pedagogo proporcione à comunidade escolar, a

intervenção nos problemas que são destacados no Conselho de Classe, assim como

os resultados do aproveitamento de conteúdos, sobre os aspectos qualitativos e

quantitativos do processo de ensino-aprendizagem na escola (GURA e

SCHENECKENBERG, 2011).

Pinzan et al. (2003), ao apresentarem uma reflexão sobre a atuação do

pedagogo em uma perspectiva do trabalho coletivo na organização escolar, afirmam

que independentemente da função exercida por este profissional dentro do espaço

escolar, seu objeto será sempre o processo de produção do conhecimento, ou seja,

o processo de transmissão e assimilação do conhecimento elaborado

cientificamente.

A atuação do pedagogo o pressupõe como um professor que atue como investigador da prática educativa, uma vez que, é como o coletivo da escola pública e na prática educativa que o trabalho de configura por meio da definição das atividades para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem, envolvendo a apropriação dos conhecimentos com qualidade, por parte de todos os estudantes (HOFFMANN e SZYMANSKI, 2008, p. 8).

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Portanto, cabe ao pedagogo fazer o acompanhamento do processo de

aprendizagem do aluno nas reuniões do Conselho de Classe, assim como organizar

e coordenar esta instância colegiada de modo a estender a reflexão sobre o trabalho

pedagógico durante todo o ano (GURA e SCHENECKENBERG, 2011).

Mesmo com a complexidade de suas atribuições

[...] cabe ao pedagogo viabilizar articulações no processo ensino-aprendizagem promovendo abertura no interior da escola para que professores, alunos e pais de alunos, como um todo, possam estudar, discutir e avaliar a qualidade dos conteúdos trabalhados, bem como o material didático, procedimentos de ensino, avaliação e programas, ou seja, tudo o que faz parte do trabalho pedagógico na sua totalidade. Assim, o pedagogo estará comprometido com a construção de uma sociedade democrática, visando à superação do trabalho fragmentado dentro da estrutura educacional. Certamente, é grande o desafio do pedagogo em efetiva seu trabalho no âmbito da ação coletiva (PINZAN et al., 2003, p. 27).

Diante deste contexto compreende-se que o Conselho de Classe constitui-se

como um espaço de reflexão pedagógica, no qual os sujeitos do processo educativo

discutem alternativas e propõem ações educativas eficazes que colaborem no

processo de ensino e aprendizagem.

3 Implementação do Projeto de Intervenção na Escola

Este estudo foi realizado no Colégio Estadual Jayme Canet – Ensino Médio

e Normal, da cidade de Bela Vista do Paraíso, Estado do Paraná, tendo como

sujeitos da pesquisa os profissionais da educação e alunos do período noturno.

A proposta iniciou-se com uma reflexão junto aos professores a partir de

estudos de textos e dos filmes “Entre os Muros da Escola” e “Esperando o Super-

Homem”. A princípio houve uma certa dificuldade para reunir todos os profissionais

para desenvolvimento do trabalho. Alguns lecionam em outras escolas, e não tinham

disponibilidade de permanecerem no colégio para as atividades. Outros são

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professores contratados pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) e, por vezes,

cumprem carga horária em períodos diferentes e também em outras escolas.

Apesar da dificuldade encontrada, os momentos de discussões permitiram

que os professores levantassem pontos importantes sobre as “falhas” que ainda

permeiam o cotidiano escolar, especificamente em relação ao Conselho de Classe.

Observou-se a prevalência da opinião de que, na realidade, a teoria é bem diferente

da prática e o que predomina nas reuniões dos Conselhos de Classe são discussões

sobre a indisciplina e a falta de interesse por parte dos alunos, indicadores

apontados como causas para o “insucesso” escolar.

O Conselho de Classe no Colégio no qual se realizou esta pesquisa ocorre

de forma interdisciplinar, reunindo profissionais de ensino, diretora e pedagoga e

foca-se na avaliação das condições que levam determinado aluno a não atingir o

proposto pelo professor. Todos os profissionais fazem intervenções nas discussões

auxiliando na avaliação do aluno em questão, apontando as características que este

apresenta nas demais disciplinas e apresentando questões relacionadas a

comportamento, participação e notas. É importante destacar que, na escola em

questão, são desenvolvidas ações visando a superação de problemas de alunos e

professores como, por exemplo: os pré-conselhos em períodos que antecedem as

reuniões de Conselhos de Classe; elaboração de fichas de registro e avaliação

diagnóstica e paralela, na tentativa de colaborar na resolução das eventuais

dificuldades.

Na segunda etapa deste trabalho, alunos das três séries do ensino médio do

período noturno e professores responderam questionários com dez perguntas de

diferentes tipologias (múltipla escolha e dissertativas) relacionadas ao conhecimento

dos mesmos sobre o papel e importância do pedagogo e sobre o Conselho de

Classe. A identificação foi opcional.

Cumpre destacar que os alunos da primeira série do Ensino Médio eram

todos provenientes de outras instituições escolares, já que o Colégio analisado não

dispõe do Ensino Fundamental. Portanto, suas respostas expressam as concepções

que trazem de outras realidades escolares. Mesmo assim, as respostas dos alunos

foram analisadas em conjunto.

Buscou-se conhecer um pouco mais sobre a realidade do aluno do curso

noturno, trabalhadores em sua maioria. Perguntou-se sobre as dificuldades que

encontram em uma ou mais disciplinas; se realizam as atividades solicitadas pelos

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professores e sobre o que consideram como pontos insatisfatórios nas disciplinas.

Dos alunos (total de 70) que participaram desta etapa do projeto, a maioria (69%)

afirmou que já foi avaliada por Conselho de Classe sendo 51% aprovados e 18%

reprovados.

No que diz respeito ao conhecimento dos alunos sobre o Conselho de

Classe, observa-se que 74%, apontam o mesmo como “um espaço onde se avalia o

aluno em relação ao seu desempenho acadêmico no decorrer nos bimestres”. Para

a maioria dos alunos, dos Conselhos de Classe deveriam participar professores,

equipe pedagógica e representantes de turma, sendo que para poucos a

participação da APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários), faz-se

necessária. Esse anseio em participar deste espaço de reflexão por parte dos alunos

pode ser explicado pelo fato do mesmo ainda ser um elemento passivo e sem voz,

mesmo sendo o centro das atenções no Conselho de Classe (DALBEN, 2006).

No que diz respeito a atuação do pedagogo a maioria dos alunos respondeu

que esse profissional deve resolver as questões que envolvem o aluno dentro do

espaço escolar como: indisciplina, atraso, notas, atendimento aos pais entre outros.

Outras respostas apontam para as seguintes funções: compreensão dos problemas

pessoais do aluno; atuação junto aos professores em situações conflitantes como,

por exemplo, em resultados de avaliação, não cumprimento das atividades

propostas, discussões com colegas de classe, etc. Os alunos indicam como menos

importante a função do pedagogo como substituto de professor ausente ou aplicador

de avaliação de segunda chamada.

Assim como apresentado por Savani et al. (2009), a imagem que os alunos

tem do pedagogo, depende do contato que este profissional estabelece com os

mesmos, sendo possível que os alunos tenham uma imagem voltada para o

compromisso educacional, com a formação humana e profissional dos estudantes,

ou até mesmo de amizade. Tais noções transmitem a ideia de que o papel do

pedagogo é importante para a aprendizagem. Para os autores, essa imagem

estabelece uma relação amparada em princípios que podem influenciar no

envolvimento do estudante com a sua formação e com o contexto político e social.

Como exposto, outra parte deste trabalho, foi a aplicação do questionário

junto aos professores, com questões que buscavam conhecer a sua situação na

escola - se professor pertence ao QPM (quadro próprio do magistério ou não), o que

ele considera como mais importante em seu trabalho, dentre outras.

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No que diz respeito ao Conselho de Classe, assim como apresentado nas

respostas dos alunos, a maioria dos professores considera que esta instância

colegiada “é um espaço onde se avalia o aluno em relação ao seu desempenho

acadêmico no decorrer dos bimestres” e apenas um dos professores entrevistados

considera que o “Conselho de Classe não é importante, pois só é utilizado para

julgar a aprovação ou não do aluno” e que “deveria ter a discussão com a finalidade

de buscar soluções para os problemas diagnosticados” (grifos do professor).

A análise dessas frases, juntamente com os questionamentos realizados no

decorrer deste trabalho, levou à reflexão sobre a existência de uma opinião já

formada e cristalizada entre os professores de que as discussões nos Conselhos de

Classe restringem-se a conceitos e que qualquer tentativa de mudança nesse

sentido, não se efetiva. Os professores tem consciência de que estas instâncias

deveriam amparar-se nas potencialidades e dificuldades dos alunos e nas suas

próprias metodologias de ensino. No entanto, é mais forte a tendência de levar as

discussões para temáticas como a falta de interesse e indisciplina dos alunos, da

falta de incentivo, de motivação e até de preparo diante das transformações que a

escola e sociedade exigem.

Diferentemente dos alunos, a maioria dos professores entrevistados

expressou que em um Conselho de Classe deveria haver a participação apenas de

professores e equipe pedagógica (pedagogo e direção), sendo poucos os que

consideram importante estender essa participação para representantes de turma

e/ou APMF.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394

de 20 de dezembro de 1996) em seu artigo 14: “os sistemas de ensino definirão as

normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo

com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos

profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II –

participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

equivalentes”.

Isso nos faz refletir se, de fato, a escola cumpre a democratização do

sistema educacional, se pensa e age no coletivo, visto que a participação de alunos

nos Conselhos de Classes não parece ser apreciada. Isso nos leva a questionar se

essa resistência em compartilhar esse espaço com os alunos se dá porque o

sistema educacional por si só já favorece o aluno (com médias exigidas aquém do

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ideal, por exemplo), ou se os professores acham que os alunos só participariam dos

Conselhos de Classe para expor as características particulares e negativas de cada

professor, apontando o que não gosta na aula de cada um ou o que eles julgam

como errado em suas metodologias de ensino?

Para essa análise, é possível se amparar na afirmação de Dalben (2006), de

que já foram desenvolvidas experiências frustrantes em escola que favoreceram a

participação de alunos nas reuniões de Conselho de Classe, uma vez que os alunos

falam, expõem as questões discutidas por eles sobre cada professor o qual justifica

suas atitudes, encerrando assim, os argumentos, tornando esse processo em “bate-

bola” sem fundamento e não em um diálogo.

A participação de toda a comunidade escolar em Conselhos de Classe é um

elemento que necessita ser reavaliado. Tal instância colegiada não deve ser

praticada baseando-se no apontamento de apreciações pessoais dos envolvidos, e

sim nas melhorias da qualidade de ensino. Os Conselhos de Classe têm como

propósito diagnosticar os problemas e buscar soluções para os alunos, para as

turmas e para os professores.

Para professores e alunos que participaram desta pesquisa, a “disciplina,

incluindo comportamento e realização de atividades” é o que deveria ser priorizado

em um Conselho de Classe, sendo que para poucos professores, é importante se

considerar as questões particulares de cada aluno. Entre os que expuseram sua

opinião, destaca-se as afirmações de que o Conselho de Classe deveria priorizar a

“reflexão sobre a aprendizagem dos alunos, possibilitar a tomada de decisão para

um novo fazer pedagógico, mudanças para estratégias mais adequadas” e

“rendimento individual dos alunos em relação ao ensino-aprendizagem dos

conteúdos para cada série” (grifos dos professores).

No que concerne ao papel do pedagogo, os professores elencaram o que

consideram como mais importante, e indicaram que “Atuar junto aos professores em

situações conflitantes como, por exemplo, em resultados de avaliação, não

cumprimento das atividades proposta, discussões com colegas de classe, entre

outros” é a função mais relevante deste profissional e “Atuar em problemas que não

estão relacionadas aos alunos e sim as questões administrativas do Colégio” é a

alternativa indicada como menos importante na atuação do pedagogo.

Os professores apontam ainda que “atendimento individualizado”,

“atividades em grupo”, “alteração da metodologia de exposição do conteúdo”,

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“retomada de conteúdos”, “conhecimento sobre a realidade individual do aluno”, são

alguns atributos que os mesmos realizam para melhorar ou superar os problemas de

aprendizagem que por ventura acontecem, uma vez que há opiniões de que o

fracasso escolar está geralmente relacionado ao desempenho do aluno, não se

considerando a metodologia aplicada pelo professor.

Como componente deste projeto, realizou-se a atividade conhecida como

GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que ocorre via online. Foram expostas

experiências distintas sobre o Conselho de Classe e atuação do pedagogo.

Independentemente das variadas vivências dos profissionais que participaram do

projeto, percebeu-se os anseios que os mesmos apresentam em relação a atuação

do pedagogo no Conselho de Classe, são semelhantes. É de opinião comum que

esta instância é extremamente importante quando pensada na promoção da

aprendizagem, devendo o pedagogo mediar as relações que viabilizam a tarefa

educativa, assegurando aos alunos uma educação de qualidade.

Diante do exposto, este trabalho procurou conhecer a realidade apresentada

em um Conselho de Classe e como se estabelece a relação entre escola-pedagogo-

professor-aluno e o processo de ensino e aprendizagem. Ousando utilizar um

apontamento de uma das professoras participantes deste GTR, com intuito de expor

a ideia de que o trabalho do pedagogo não deve ser alienado, direcionado para

questões momentâneas, mas sim voltado para os Conselhos de Classe e pautado

na reflexão, na coparticipação e na busca por soluções mesmo que em longo prazo,

mas que sejam eficazes para a melhoria do ensino. Sendo assim: “Refletir sobre o

Conselho de Classe remete refletir acerca de outros temas que se interligam e se

correspondem, como: processo ensino e aprendizagem, gestão democrática da

escola, processo de avaliação, relação professor-aluno, formação de docentes, entre

outros. Percebo que a escola necessita reinventar-se, haja vista a tão almejada

qualidade de ensino [...]. Há que se encorajar e promover as devidas discussões e

debates para implementar as mudanças. O Conselho de Classe enquanto órgão

colegiado poderia iniciar este processo. Os desafios a serem transpostos estariam

relacionados à cultura escolar, ou seja, transpor conceitos arcaicos de avaliação, de

maneiras de ensinar e de aprender. Rever a relação professor-aluno, direção-aluno,

pedagogo-aluno, pedagogo-professor, enfim, rever os papéis desempenhados por

cada um na escola e mais as responsabilidades e o compromisso assumido com a

função social da escola e a busca de uma educação pública de qualidade. Vejo

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também um desafio para os cursos de formação de docentes que deverão com

urgência repensar seu currículo para formar professores(as) melhor preparados para

o exercício da docência, [...] enfim, profissionais ricos de conhecimentos específicos

da licenciatura escolhida, mas ricos igualmente de conhecimentos de como se dá o

processo de ensinar e de aprender (grifos da autora).

4 Considerações Finais

Ainda que o eixo principal deste trabalho tenha tido enfoque sobre a atuação

do pedagogo no Conselho de Classe, é importante ressaltar a relevância desta

instância colegiada como ferramenta de reconstrução do processo ensino-

aprendizagem, para que de fato, o papel do pedagogo como mediador deste

processo seja efetivo. Como exposto, o Conselho de Classe enquanto componente

da Gestão Democrática pode promover a melhoria na qualidade pedagógica, na

medida em que se encontra amparada na realidade própria da escola, agregando

todos os membros da comunidade escolar, de forma a colaborar com o

desenvolvimento do trabalho escolar, desde que não esteja sendo aplicado para

legitimar resultados, mas sim intervindo no processo de ensino e de aprendizagem.

De tal modo, buscou-se conhecer como o Conselho de Classe se estabelece

em uma escola pública, qual é o seu papel na avaliação da aprendizagem, qual é a

intervenção do pedagogo mediante esta instância colegiada de modo a refletir e

reconhecer quais são os progressos e prospecções na idealização de práticas

pedagógicas direcionadas para uma educação mais efetiva.

A intervenção realizada forneceu material para a construção deste trabalho

com o qual foi possível perceber que a escola observada realiza um Conselho de

Classe interdisciplinar, com a participação de todos os professores, além da diretora

e da pedagoga. Ressalta-se ainda que, a partir do reconhecimento das dificuldades

e anseios expostos por professores e alunos, percebeu-se que o trabalho do

pedagogo é fundamental e precisa ser aprimorado.

O Conselho de Classe implica um processo de participação coletiva que não

deve ser utilizada em determinados momentos na tentativa de solucionar os

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problemas de alguns alunos, devendo se constituir em uma instância de avaliação

constante considerando o trabalho pedagógico e demais atividades escolares.

Nesse sentido, compete ao pedagogo um papel de mediador das relações

pedagógicas entre professor, aluno, metodologia, organização curricular, processo

de ensino-aprendizagem e processo de avaliação.

Porém, o pedagogo que por sua vez contempla distintas vertentes dentro da

escola, sendo que por vezes, é considerado como substituto e fiscal de professores

ou como agente responsável por solucionar conflitos do cotidiano escolar, ocupa um

amplo espaço na organização do trabalho pedagógico e por si só não é capaz de

modificar a postura estagnada do Conselho de Classe e promover uma construção

pedagógica crítica e democrática, baseada em princípios construtivos para um

ensino de qualidade.

É o pedagogo o profissional responsável por promover a discussão coletiva,

mediar as políticas educacionais e articular o processo de reconstrução do ensino e

da aprendizagem, visando melhorias para o processo educacional da escola onde

trabalha.

Nesse sentido, fazendo um paralelo entre a função do pedagogo no

Conselho de Classe, pode-se considerar que cabe a este profissional, compreender

a natureza o trabalho coletivo na escola e perceber a necessidade de pensar a

educação, e então, mediar os fundamentos pedagógicos que permitem todos a

apropriarem-se de formas diferenciadas de saber.

Ainda é preciso considerar que ao se referir a Gestão Democrática, essa

mudança de postura tem que ser de toda a comunidade escolar. Não basta o

professor estar preparado, disposto a buscar recursos metodológicos para transmitir

um conteúdo de forma adequada, a escola estar engajada na melhoria do ensino, se

os alunos não estão. Da mesma forma, não basta, por parte dos alunos, querer

aprender, buscar melhorias no âmbito pessoal e escolar, se os professores não se

adéquam a realidade daquela escola ou não aperfeiçoam suas metodologias. É

preciso pensar e agir no coletivo, para que a atuação em conjunto de pedagogos e

professores, no desenvolvimento de suas atividades relacionadas ao processo

educativo, resgate a função social da escola ao mesmo tempo em que aperfeiçoa as

relações humanas e aprimora a educação.

Por fim, o trabalho apresentado considera que o Conselho de Classe é a

principal instância colegiada da escola por ser um momento em que as práticas

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escolares são discutidas e analisadas. É durante o Conselho que se verifica a

necessidade de se promoverem formas diferenciadas de ensino que garantam

aprendizagem efetiva. No entanto, é importante destacar que as reflexões

apresentadas neste trabalho, não devem ser entendidas como modelo de

organização de todas as instituições escolares.

Este artigo não se amparou no julgamento da atuação do Conselho de

Classe e suas práticas, nem mesmo no apontamento das características

consideradas equivocadas da atuação pedagogo. Este trabalho pautou-se na

exposição de uma realidade fundamentada no exercício do pedagogo perante o

Conselho de Classe e tem a pretensão de promover um maior conhecimento acerca

da influência que este profissional e que esta instância colegiada têm na melhoria da

educação.

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