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O CONTO DE TERROR E SUSPENSE: uma proposta de sequência didática para os

7º anos do Ensino Fundamental

Abigail Araújo(PDE) 1

Cláudia Valéria Doná Hila (Orientadora UEM) 2

RESUMO

A simples observação da realidade das avaliações das escolas, especificamente nas aulas de Língua Portuguesa, assim como as periódicas do sistema, dão conta da gravidade dos problemas que os alunos apresentam em suas práticas de linguagem de leitura e de produção textual. Esse cenário, comprovado pelas avaliações nacionais, requer que professores ressignifiquem suas aulas, quer teórica e metodologicamente. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é apresentar resultados referentes à implementação de um projeto de intervenção no 7º ano, a partir da narrativa de terror e suspense, no ano de 2011, no Colégio Estadual Unidade Polo, em Maringá, Paraná. Adotou-se a sequência didática (DOLZ, NOVERRAZ, SCHENEUWLY, 2004) como organização metodológica e a Análise Dialógica do Discurso (BAKHTIN, 1992) como aporte teórico. Os resultados demonstraram que, apesar das limitações do material, os alunos desenvolveram capacidades linguajeiras para a escrita desses gêneros. Acrescente-se, ainda, que a elaboração do modelo didático e da sequência didática, doravante SD, aproximaram a professora PDE de teorias e métodos que lhe facilita o trabalho com este e outros gêneros textuais, em sala de aula. Além disso, a ferramenta SD, é metodologicamente idealizada sob a ótica do Interacionismo sociodiscursivo, na sua vertente mais didática e configura nas diretrizes curriculares do Estado do Paraná.

Palavras-chave: letramento crítico; narrativa de terror e suspense; sequência didática.

ABSTRACT

The simple observation of reality evaluations of schools, specifically in the

1. Pós-Graduada em Língua Portuguesa Descrição e Ensino pela FAFIJAN, Graduada em Letras – Língua Portuguesa pela UEM, professora da rede pública estadual no Col. Estadual Unidade Polo - Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante e professora PDE 2010.

2 . Cláudia Valéria Doná Hila. Professora Adjunta do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá.

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Portuguese Language classes, as well as the periodic system, show the seriousness of the problems students have in their language practices of reading and text production. This scenario, as demonstrated by national assessments requires that teachers resignify their classes, either theoretically and methodologically. In this sense, the objective of this paper is to present results concerning the implementation of an intervention project in 7th grade, from the narrative of terror and suspense, in 2011, in State College Polo Unit, in Maringa, Parana. Adopted the didactic sequence (Dolz, NOVERRAZ, SCHENEUWLY, 2004) as methodological organization and Dialogic Discourse Analysis (Bakhtin, 1992) as theoretical. The results showed that despite the limitations of the material, the students developed skills linguajeiras for writing these genres. I would add also that the development of model educational and didactic sequence, hereafter SD, the teacher approached the PDE theories and methods that makes working with this and other kinds of texts in the classroom. In addition, the SD tool is methodologically designed from the perspective of interactionism sociodiscursivo, in its most didactic and sets curriculum guidelines in the State of Paraná.

Keywords: critical literacy; tale of terror and suspense; didactic sequence.

INTRODUÇÃO

Este artigo é resultante de estudos realizados dentro do Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), em parceria da Secretaria de Estado da

Educação (SEED) com a Instituição de Ensino Superior UEM (Universidade

Estadual de Maringá) e dos resultados obtidos a partir da implementação

pedagógica, de uma sequência didática para o ensino do gênero textual narrativa de

terror e suspense, aplicada em turma do 7º ano, Ensino Fundamental.

Tendo em vista que os gêneros textuais, como objeto de ensino das aulas de

língua portuguesa, já configuravam desde os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs)(1998) e que as Diretrizes Curriculares Estaduais(DCEs) (2008) os reiteram,

trazendo ao professor o papel de efetivar a transposição didática dos mesmos, a fim

de que sejam ensináveis, esta proposta pretende apresentar uma intervenção

através da metodologia de sequência didática (DOLZ, NOVERRAZ, SCHENEUWLY,

2004).

A realidade das salas de aula, quanto ao trabalho com a linguagem, fica

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evidenciada quando são observados os resultados apontados pelas avaliações

oficiais como SAEB, PISA, IDEB. Os baixos índices de alfabetização e letramento,

em todas as modalidades de ensino, sinalizam que os progressos alcançados, nos

estudos com gêneros discursivos, precisam chegar ao ambiente escolar.

As DCEs incentivam a escola a fim de que promova, através de uma

variedade de textos, com funções sociais diferentes, o letramento do aluno, para que

o mesmo se envolva em diversas práticas discursivas. Cabe à escola possibilitar a

participação de seus alunos em diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a

escrita e a oralidade pois desta maneira serão inseridos nas diversas esferas de

interação e não ficarão à margem dos novos letramentos, necessários para que se

constituam na sociedade letrada que se tem.

Para Bakhtin (2003) a comunicação não acontece por palavras, frases ou

textos, mas por gêneros que circulam socialmente e podem garantir cidadania. Hila

(2009) afirma que é no contato com os diferentes gêneros textuais que a criança se

insere nas mais variadas práticas sociais, possibilitando seu efetivo letramento.

O domínio dos variados gêneros textuais é necessário para que o falante de

uma língua possa participar ativamente de uma comunidade verbal em que esteja

inserido. O estudo dos gêneros é muito importante para o alcance do leitor crítico

pois é através deles que as práticas sociais se concretizam. O letramento é, na

realidade, uma apropriação destes gêneros. Rojo(2009) afirma que quanto mais alto

for o nível de letramento da pessoa, mais poder ela terá na vida social. Nesse

sentido, o ensino dos gêneros textuais pode promover mudanças profundas na

participação social do indivíduo e como tal não pode ser ignorado pela escola,

considerada por muitos como principal agência de letramento da sociedade.

Dolz e Scheneuwly (2004), semelhantes a outros teóricos que tratam de

texto/discurso, também acreditam que é através dos textos que o Ensino da Língua

Portuguesa deve ser feito, por isso, sugerem o trabalho da língua pautado nos

diferentes gêneros textuais, sejam eles orais ou escritos. De acordo com os autores,

os gêneros são formas de funcionamento da língua e linguagem, sendo criados

conforme as diferentes esferas da sociedade em que o indivíduo circula. Tratam-se

de produtos sociais muito heterogêneos, o que possibilita infinitas construções

durante a comunicação.

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A fim de que os alunos dominem diferentes gêneros, é necessário que o

professor construa estratégias de ensino-aprendizagem, com o objetivo de levá-los a

desenvolver tais capacidades.

Faz-se, então, necessário que a escola promova o ensino-aprendizagem

destes gêneros para que desenvolva a competência linguística dos discentes.

Tendo em vista estes fatos, desenvolveu-se um trabalho de implementação

pedagógica que pautou-se na sequência didática de SCHENEUWLY e DOLZ(2004,

p.97), entendida como “um conjunto de atividades escolares organizadas, de

maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”.

A SD foi elaborada a partir da leitura de duas narrativas de terror:O retrato

oval de Edgar Allan Poe (1842) e Os dentes de Madalena de Edson Gabriel Garcia

(1992).Sendo a narrativa de Poe uma tradução de Márcia Pedreira, publicada em

1991.

A escolha de narrativas de terror e suspense como alternativa para o trabalho

sistematizado de ensino-aprendizagem, com gênero textual, é uma tentativa de

atrair os pré-adolescentes e adolescentes para o universo da leitura e escrita.

O artigo apresenta-se assim dividido: pressupostos teóricos, metodologia,

resultados do instrumento SD e as conclusões.

1. Pressupostos teóricos

A Linguística Aplicada, através de seus estudos sobre a linguagem, tem

motivado e influenciado sobre as propostas oficiais (PCN, PCN+DCNEM, DCEs)

possibilitando,direta ou indiretamente, que a escola conduza os seus alunos a uma

prática social (forma organizada de uma sociedade envolvendo atividades e ações)

mais crítica e eficaz, tanto na escrita, quanto na oralidade.

Tais práticas sociais movimentam muitas atividades de linguagem, as quais

envolvem variadas formas de expressão, através dos gêneros do discurso,

concretizados em diferentes tipos de textos, os quais resultam em diversas

capacidades de compreensão e de produção.

Barbosa , (apud HILA, 2009, p. 161), explica a importância do trabalho com os

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gêneros textuais na sala de aula:

a) abrem a possibilidade de se interagir a prática da leitura, da escrita e da

análise linguística, comumente estanques nos currículos da escola básica;

b) permitem a concretização de um ideal de formação com vistas ao

exercício pleno da cidadania (já que se utilizam de textos de efetiva

circulação social e de diferentes esferas e práticas sociais);

c) possibilitam a concretização de uma perspectiva enunciativa para as

aulas de língua portuguesa, o que quer dizer, uma perspectiva que leve em

conta o conhecimento situado, a linguagem efetivamente em uso, o trabalho

com textos e práticas didáticas plurais e multimodais;

d)conseguem dar conta tanto de noções discursivas como mantém noções

eminentemente estruturais ou linguísticas/enunciativas, todas elas

necessárias para o letramento do sujeito e para a correta compreensão do

próprio gênero;

e) fornecem subsídios para (re)pensarmos novas formas de organização

curricular. (BARBOSA, 2000).

Em vista do exposto, o papel da escola é importante para (re)construir uma

situação de produção e recepção dos textos, visando maior êxito no objetivo de

formar leitores/produtores, de textos, socialmente eficazes e críticos.

Nesta perspectiva, (GERALDI,1993, p.189) aponta a condição necessária

para que essa prática se concretize em sala de aula quando diz que criadas as

condições para atividades interativas efetivas em sala de aula, quer pela produção

de textos,quer pela leitura de textos , é no interior destas e a partir destas que a

análise linguística se dá.

Quanto ao estudo dos gêneros em sala :

No caso da prática da leitura, o que se tem ressaltado é que a escola

precisa formar leitores críticos que consigam construir significados para

além da superfície do texto, observando as funções sociais da leitura e da

escrita nos mais variados contextos, a fim de levá-los a participar plena e

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criticamente de práticas sociais que envolvem o uso da escrita e da

oralidade. A noção, portanto de prática social, convoca um dos primeiros

argumentos em defesa do uso dos gêneros em sala de aula.

Podemos considerar as práticas sociais como formas de organização de

uma sociedade das atividades e das ações realizadas pelos indivíduos em

grupos organizados (HILA, 2009, p.151-154).

Brandão(apud HILA, 2009, p.162), tematizando a questão da leitura afirma

que “o professor , ao mediar o aprendizado de estratégias de leitura adequadas aos

gêneros textuais, estará contribuindo para formar um cidadão no seu sentido pleno”.

Isso porque o uso do gênero na sala de aula permite incorporar, conforme

Nascimento(2008), em um único objeto, elementos da ordem do social e do

histórico, do conteúdo temático, da estrutura composicional, do estilo e da situação

de produção de um dado discurso

Para o trabalho com a formação de leitores na sala de aula, partiu-se da

defesa de que um dos objetivos da escola é possibilitar a inserção de seus alunos

nas atividades de linguagem que envolvem práticas sociais de sua comunidade; e,

um outro,que é o de mediar processos de formação para que se possa integrar os

aprendizes às diversas categorias de textos em que se materializam as práticas

sociais.

Para Bakhtin, a situação social mais imediata, que compõe as condições de

produção do enunciado:

São elementos essenciais desta situação social mais imediata, os parceiros

da interlocução: o locutor e seu interlocutor, ou horizonte/auditório social,a

que a palavra do locutor se dirige. São relações sociais, institucionais e

interpessoais desta parceria, vista do foco da apreciação valorativa do

locutor que determinam muitos aspectos temáticos, estilísticos e

composicionais do texto ou discurso.( ROJO, 2005, p.197).

O conceito de gênero textual e as implicações de seu estudo em sala de aula

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foi ancorado sobre correntes teóricas como : O Interacionalismo Social (Bakthin), O

Interacionismo Sociodiscursivo e a Escola de Genebra (Bronckart, Scheneuwly,

Dolz, Noverraz). No campo mais aplicado, as contribuições de Bakhtin e da Escola

de Genebra tem sido as mais utilizadas.

Detaca-se , então, o conceito de gênero mais famoso , que é o de Bakhtin

(1992,p.261) por ser o mesmo o mais utilizado e por embasar a concepção de

linguagem das Diretrizes de Educação Básica do Paraná - Língua Portuguesa.

O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma

das esferas, não só por seu conteúdo(temático) e por seu estilo verbal, ou

seja, para seleção operada nos recursos,da língua –recursos lexicais,

fraseológicos e gramaticais, mas também, e, sobretudo, por sua construção

composicional. Estes três elementos (conteúdo, estilo e construção

composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos

eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação.

Qualquer enunciado considerado isoladamente, é, claro, individual,mas

cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente

estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso

(apud PARANÁ, 2008, p. 52 ).

Bakhtin (apud ROJO, 2000) apresenta as três dimensões que constituem os

gêneros do discurso: 1. os temas – são os conteúdos, as ideias, que se tornam

possíveis de dizer através do discurso; 2. a forma composicional – são as estruturas

semelhantes que definem determinado gênero; 3. o estilo – são os traços da posição

enunciativa do locutor e também da forma composicional do gênero.

Os gêneros do discurso são construções históricas e sociais, são maleáveis e

dinâmicos, transformam-se e se adaptam às necessidades e atividades sociais e

culturais. Cada gênero tem seu campo predominante da existência, onde é

insubstituível, não suprimindo aqueles já existentes. Cada novo gênero aumenta a

influência com os gêneros de determinada esfera e o seu desaparecimento se dá

pela ausência das condições sócio -comunicativas que o

engendraram(RODRIGUES, 2005).

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A noção de gênero de texto , para Bronckart, é equivalente à noção

bakhtiniana(1953,p.279) de gênero do discurso, segundo a qual as diferenças das

atividades humanas, sócio -historicamente, elaboram tipos relativamente estáveis de

enunciados, os gêneros do discurso, que se caracterizam por apresentarem

conteúdos, estruturação, relações entre os interlocutores e estilo específicos.

Baseado sobretudo nas ideias de Bakhtin, como a dimensão ideológica da

linguagem, na teoria de Habermas sobre o agir comunicativo e nos trabalhos de

Vygotsky acerca do processo de internalização, Bronckart (2003, p. 93) define o

contexto de produção de um texto (oral ou escrito) como “conjunto dos parâmetros

que podem exercer uma influência sobre a forma como o texto foi organizado”.

Desta forma, Bronckart elenca seis fatores que correspondem às condições

enunciativas constituintes de toda a produção de linguagem e que foram didatizados

por Saito e Nascimento(2005,p.14):

1)A esfera da comunicação: cenário ou formação social na qual o texto se localiza.

2) A identidade social dos interlocutores: o lugar social de onde falam os parceiros

da interação, isto é, o texto além de ter um emissor que é a pessoa que produz e um

receptor a que recebe, também apresenta posições sociais por eles

desempenhadas.

3) Finalidade: objetivo ou o intuito discurso de interação. (intenção nessa interação)

4) Concepção do referente : o conteúdo temático, o referente de que se fala.

5) Suporte material: as circunstâncias físicas em que o ato da interação se

desenrola(livro didático, outdoor, jornal- online,oral ou escrito).

6) A relação interdiscursiva: o modo como se dá o diálogo entre as vozes que

circulam no texto.

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As SDs foram desenvolvidas por Schneuwly e Dolz, entre 1997 e 1998, na

Suíça. É uma proposta de ensino-aprendizagem organizada a partir de gêneros

textuais que permite ao professor a observação e a avaliação das capacidades de

linguagem dos alunos, antes e durante sua realização, proporcionando-lhe

orientações para sua intervenção didática; já para os alunos, o trabalho com gêneros

constitui em uma forma de se confrontar com situações sociais efetivas de produção

e leitura de textos, além de ser uma maneira de progressivamente dominá-los. A

finalidade geral das sequências é o domínio, na produção e na recepção, dos

gêneros de textos, na medida em que se constituem socialmente. É um conjunto de

atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero

textual oral ou escrito.

Esta ferramenta metodológica serve para dar acesso ao aluno, às práticas de

linguagem novas ou dificilmente domináveis. Apresentam uma estrutura, elaborada

para levar o aluno ao aprendizado do gênero que está constituído como objeto de

ensino. Devem ser adaptadas às capacidades de linguagem que deseja desenvolver

nos alunos em relação ao contexto de produção e de gênero em tela.

As SDs definem-se como “um conjunto de atividades escolares organizadas,

de maneira sistemática, em torno de um gênero textual” (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHENEUWLY , 2004, p. 97). O objetivo primordial de uma SD é levar o aluno a se

apropriar e a reconstruir uma prática de linguagem sócio- historicamente construída.

A aplicação desta metodologia permite explorar as características do modelo

didático, um conjunto de ideias e formas de atuação que se relacionam com o

conhecimento escolar, o que se constitui em fonte de informações para o professor

acompanhar e orientar as práticas de estudo do gênero tela.

O termo sequência diz respeito à construção de uma série de atividades e

exercícios que seguem uma ordem determinada para resolver, progressivamente, as

dificuldades dos alunos. Cada ferramenta dessa deve ser organizada a partir de um

projeto de apropriação das dimensões que constituem o gênero. Sua estrutura de

base comporta a produção de um primeiro texto, a fim de delimitar as capacidades e

as dificuldades do aluno. O modelo de sequência didática , de Dolz e Scheuwly é

composto por quatro partes:

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- apresentação da situação que explicita o Projeto para a turma;

- produção inicial em que o professor realiza um diagnóstico oral ou escrito daquilo

que a turma sabe sobre o gênero específico;

- oficinas que trabalharão os problemas detectados na produção inicial;

-produção final que revela ao professor o que foi aprendido daquilo que foi

ensinado,respeitando as fases da escrita, quais sejam:planejamento, revisão e

reescrita.

2. Metodologia

Elaboramos uma Sequência Didática3 como ferramenta metodológica de

implementação pedagógica por entendermos que esta propõe o estudo com gêneros

textuais dentro da ótica dos documentos oficiais do Estado do Paraná, as DCEs,

qual seja, o Interacionismo Social e a Dialogia bakhtiniana, em sua versão mais

didática, proposta por Dolz e Scheneuwly.

A SD foi produzida considerando as etapas propostas pelos seus

idealizadores: apresentação da situação; produção inicial; oficinas e produção final.

A produção do material deu-se no período de Abril a Julho de 2011 e a aplicação e

implementação com os alunos(7º ano), entre Agosto e Novembro do mesmo ano.

No Projeto de Intervenção Pedagógica havíamos pretendido a realização de

quatro etapas, denominadas naquela ocasião como “Momentos”. Entretanto, ao

produzirmos o material para o aluno, entendemos que ficaria mais claro para o

mesmo uma divisão de atividades em seis oficinas, a saber:

Oficina 1 - Acordando para o assunto: Manuseio de narrativas sem texto(não

3. Os interessados no acesso a esta Sequência Didática, poderão encontrá-la no site diaadiaeducacao, no link das produções didáticas da turma de 2010, sob o título: “O conto de terror e suspense: Uma proposta de sequência Didática para o 7º ano”. Ressaltamos que o material disponibilizado para o aluno continha ilustrações não apresentadas no portal, para evitar problemas com direitos autorais.

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verbais). Criação de sequências narrativas orais. Questionamentos investigativos

sobre conhecimentos prévios de estrutura narrativa e do tema pretendido, terror e

suspense. Compartilhar de “causos assombrosos” difundidos por familiares,

oralmente. Escrita de uma narrativa de terror conforme os alunos saibam, sem

qualquer elucidação quanto ao conteúdo e forma.(recolhida para diagnóstico e

modelagem didática através de transposição didática dos conteúdos pretendidos)

Oficina 2 – Reconhecendo uma narrativa: Apresentação geral da SD para a

turma. Atividades de reconhecimento e identificação dos agrupamentos de gêneros

narrativos, conforme propostos por Dolz e Scheneuwly(2004). Entendimento dos

elementos narrativos. Identificação dos elementos estáveis em diversas

manifestações narrativas, tais como: lenda; mito; fábula; conto de fadas; conto

moderno; narrativas de suspense, terror/horror, enigma; romance; novela.

Solicitação da leitura dos contos: O retrato oval de Edgar Allan Poe e do conto Os

dentes de Madalena de Edson Gabriel Garcia.

Oficina 3 – Trabalhando com os temas: Comentários sobre os elementos estáveis

dos dois textos. Semelhanças e diferenças . Sugestão de clipes dos textos lidos para

comparação dos suportes e adaptações. Audição de clipes de músicas com letras

poético-narrativas. Percepção dos contextos de produção das duas narrativas nas

versões trabalhadas. Atividades. História do gênero narrativo de terror, horror e

suspense. Breve biografia de Edgar Allan Poe e de Edson Gabriel Garcia.

Oficina 4 – Trabalhando com a Estrutura Composicional: Estudo da forma de

composição compartilhada pelos textos do gênero narrativo de terror. Desfechos

característicos . Diferenciação entre as narrativas de terror e as de horror. Atividades

de caracterização das narrativas lidas anteriormente. Identificação da narrativa de

Poe (de terror) e da narrativa de Garcia (de horror), fazendo uso do quadro de

caracterização dos gêneros de terror e horror.4

4 Quadro elaborado pela professora a partir de pesquisa em diversos trabalhos sobre o assunto:Chislene Moreira Cardoso; Rosa Gens; Daiana C. Castilhos; Giuliano Hartmann; Grace de Castro Gonçalves; Rita de Cássia Chagas; Jaqueline Peixoto Barbosa; Renilson J. Menegassi e Júlio França-Alexsander M. Silva.

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NARRATIVAS DE TERROR NARRATIVAS DE HORRORExpande a alma Contrai e congela os sentimentosDesperta a inteligência Quase aniquila a inteligênciaReação de efeito emocional Reação física leve a intensaProporciona reflexões/mudanças de comportamento/amedronta

Promove sensação de incapacidade /impotência/desespero/paralisia

Abertura e mobilidade Restrição e paralisiaHistórias mais refinadas, lidam com crenças pessoais e sociais do leitor

Histórias menos refinadas, repulsivas, grotescas, chocantes e presença da ironia

Ambientação em local deslocado Ambientação em local conhecidoRepresentação do inconsciente coletivo, utiliza o sobrenatural

Representação do inconsciente coletivo utiliza o cotidiano, o usual

Aspecto social de distanciamento Aspecto social de inserçãoViolência implícita Violência explícitaProvoca sensações de medo Provoca sensações de aversão

Quadro 1 – Caracterização das Narrativas de Terror e de Horror ( ARAÚJO,A. ,2012)

Oficina 5 – Trabalhando com o Estilo: Estudo das unidades linguístico-discursivas

que são mais comuns ao gênero em estudo. Atividades (estruturas frasais,

vocabulário preferencial, utilização de determinados tempos verbais, de

determinadas classes gramaticais, verbos dicendi ou de elocução, vozes

gramaticais, usos do discurso- direto/ indireto).

Oficina 6 - “Conterrorizando” - Produção textual e Sarau Final – Produzir uma

narrativa de terror ou horror fazendo uso das caracterizações trabalhadas. Após a

conclusão da mesma, uso de uma FICHA DE AVALIAÇÃO DA ESCRITA, fornecida

pela professora no final do material. Entrega à professora, para análise e

comparação com a primeira produção realizada no início da SD. Devolução das

análises e correções. Preparo das narrativas para a mostra/sarau através de

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apresentações variadas das narrativas produzidas, em sala ambientada para

terror/horror.

FICHA DE AVALIAÇÃO DA ESCRITA

Aspectos a observar De acordo Melhorar1. Criou um espaço característico do gênero terror/horror?

2. As personagens têm aparência ou comportamento voltados para o tipo discursivo abordado?

3. O narrador desempenhou papel importante para criar o suspense?

4. Criou um conflito envolvendo as personagens?

5. O desfecho foi surpreendente, inesperado?

6. Conseguiu estabelecer suspense ao longo da narrativa? Segurará o interesse do seu leitor até o final?

7. Evitou a ambiguidade e a redundância?

8. Evitou a repetição de palavras substituindo-as por pronomes ou sinônimos?

9. Os verbos no Pretérito foram utilizados para expressarem exatamente o que deveriam?

10. O título é adequado ao texto, instigante e curto?

Quadro 2 – Ficha de autocorreção para primeira correção da narrativa (ARAÚJO,A., 2012)

3 . Resultados do instrumento SD

Iniciamos a aplicação da SD didática a partir da estimulação sobre o que a

turma conhecia de narrativas de suspense, terror e medo. Sem nada explicar sobre

o tipo de trabalho que iniciávamos, solicitamos que compartilhassem, oralmente,

com a sala toda, as histórias de assombro que conheciam. Como esperávamos, foi

preciso organizar as participações, tamanha a agitação por oportunidade de

expressão. Constatamos que grande número de alunos sabia a diferença de uma

narrativa de terror das demais narrativas que se poderia apontar. Percebiam os

traços deste tipo de texto em relação a outros do mesmo domínio narrativo. Para

melhor visualizar a noção que apresentavam, solicitamos a escrita de um primeiro

texto, uma narrativa de terror ou suspense( produção inicial).

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Constatamos que na produção inicial do gênero narrativa de terror, houve o

reconhecimento e identificação do gênero em questão, oralmente, mas na escrita a

narrativa apresentava imperfeições, incompletude de elementos constituintes do

gênero discursivo. Para exemplificar, vejamos o texto a seguir:

O mascarado

Um dia um homem, chamado Roberto, chegava em casa. Quando ouviu a voz de sua mulher aos gritos: _ Socorro! Acudam! Ele estava com medo de abrir a porta de casa e entrar. A mulher continuava gritando. Precisava tentar socorrê-la. Abriu a porta devagar, já com um pedaço de pau na mão. Viu as costas de um homem que agarrava a sua esposa com força e a arrastava. Mas ela estava de frente para a porta de entrada e viu quando o marido entrou, armado com uma vara grossa. Pelo olhar dela, o homem mascarado percebeu que alguém havia entrado. Mas Roberto foi rápido e deu uma paulada na cabeça do tal homem . Ele caiu morto na mesma hora. Roberto e a mulher se abraçaram felizes .Estavam livres do bandido.

(S.R.L. 7º ano, 2011)

Quadro 3 – Produção Inicial do gênero narrativa de terror. (Agosto, 2011)

Podemos notar que o texto é uma narrativa, entretanto, falta-lhe a maioria das

características estáveis para que seja tido como uma narrativa de terror. O aluno não

fez uso das adjetivações de personagens ou espaço que são próprias deste gênero.

Deixou de explorar o narrador de primeira pessoa. Não há elementos fantásticos,

sobrenaturais ou muito transgressores. Estabeleceu apenas um pouco de suspense.

Mas o mesmo foi rompido facilmente por um desfecho totalmente fora dos padrões

das histórias de terror. Houve restabelecimento do equilíbrio, pela morte do bandido.

O referido aluno acompanhou atentamente às atividades propostas ao longo

da SD e apresentou uma apropriação evidente dos elementos constitutivos do

gênero em evidência:

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O misterioso livro de matemática

Há alguns dias atrás eu estava voltando do colégio e chovia muito naquela tarde. O Rafa estava comigo. Lembrei que havia deixado o livro de matemática debaixo da carteira. Fiquei com medo de perdê-lo e pedi que meu amigo me acompanhasse de volta . Se perdesse o livro meu pai me mataria pois teria que pagá-lo. Mas, chegando de volta ao prédio do colégio, a noite começava a cair. Ainda chovia um pouco. Já que estávamos lá e éramos em dois, resolvemos entrar pulando o muro. Sabíamos que àquela hora as zeladoras estariam limpando as salas para as aulas da noite. Esperávamos encontrar alguma delas para que nos ajudassem a chegar até a nossa sala. Meu amigo estava começando a mostrar medo e passando para mim: _ Cara, vamos embora! Amanhã você tenta encontrar... tá muito escuro...e chovendo... _ Deixa de ser mole... tá parecendo mulherzinha... venha comigo! _ Não tenho outra opção, né... melhor estar com você... Finalmente chegamos à porta de nossa sala. Apalpando a parede chegamos aos interruptores. Nada de acender... nem sinal das zeladoras... Lá fora a chuva engrossava e o vento começou a soprar forte. Estava começando um daqueles vendavais assustadores. Vi os olhos arregalados do Rafael quando um relâmpago brilhou na janela da sala de aula... e o trovão que o seguiu foi horroroso. Nesta hora apareceu uma luz vinda debaixo de minha carteira. Era o meu livro de matemática... estava vermelho. Flutuou até perto de nós e começou a bater em nossas cabeças com força. Comecei a passar mal... uma voz saiu do livro: _ Vou entrar em seu cérebro e consumir sua mente … Ao terminar a frase, se arremessou com tanta força na cabeça de meu colega que acabou por abri-la sumindo como se tivesse mesmo entrado nela. A luz da sala voltou a se acender. Tive tanta ânsia de vômito que não conseguia me levantar para ver o Rafael... (S.R.L. 7º ano, 2011)

Quadro 4 – Produção Final do gênero narrativa de terror. ( Novembro, 2011)

Os avanços do aluno são evidentes. Apresenta mais domínio do gênero.

Marca fortemente com elementos discursivos do gênero narrativo de terror. Sua

caracterização é notadamente mais aprimorada. Apresenta a estrutura

composicional bem delineada pois adjetiva o lugar, o tempo e a hora

adequadamente para o tema proposto. A ambientação é criada para aumentar o

suspense. A hesitação das personagens e a metamorfose do livro de matemática

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completam o caráter de terror do texto. O estilo também é um elemento discursivo

melhor apresentado pelo aluno pois o narrador em primeira pessoa, as construções

frasais, o vocabulário e o tempo verbal utilizado reforçam a proposta de terror. Além

disso, o desfecho construído para a narrativa foi voltado para o mais próprio deste

gênero discursivo, ou seja, não volta ao equilíbrio inicial.

Temos ainda, um pequeno grupo de alunos que apresentava diversos

problemas na primeira versão e que pouco melhorou na segunda versão:

O sonho

Maria tava em sua casa sozinha e resolveu tirar uma soneca. Dormiu bastante. Quando acordou tava com um poco de fome e resolveu beber uma xícara de leite. Acontece que na hora em que acabou de encher a xícara, viu que o leite tinha virado sangue. Começou a gritar feito louca e jogou a caneca na janela que começou a bater e balançar as cortinas. Quando ia começar a gritar para valer, reparou que tava acordando e que tudo não passou de um sonho...

(G.M.C. 7º ano, 2011)

Quadro 5 – Produção Inicial do gênero narrativa de terror (Agosto, 2011)

Vemos no exemplo acima um aluno que apresentou diversos problemas na

construção de sua narrativa. Seus problemas ortográficos são menores do que os de

caracterização de narrativa de terror. Teve falhas quanto aos elementos

composicionais, temáticos e de estilo. Não conseguiu sequer criar um pouco de

suspense e sustentá-lo. Pelo título do texto desmontou a pequena possibilidade de

suspense que poderia existir. O desfecho também contribui para desmontar

qualquer tentativa de suspense. Temos uma volta à estabilidade quando a

personagem acorda. O discurso é indireto, o narrador de terceira pessoa e a seleção

lexical pobre do ponto de vista temático. Não há criação de hesitação, ou de

personagem que seja própria desta narrativa. A ambientação também não é

adequada bem como a caraterização da personagem.

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Este mesmo aluno não apresentou grande melhora em sua produção final,

após a completa aplicação da SD. Teve faltas, deixou de realizar as atividades e se

mostrou um tanto apático ao assunto. A sua segunda narrativa é quase tão ruim

quanto a primeira. Entretanto, o problema agora é por excesso de caracterização.

Fato que tornou o texto quase engraçado e não propriamente uma narrativa de

terror:

O fantasma assassino da casa assombrada

O moço morava em uma cidade praticamente fantasma, em uma casa mal assombrada e na companhia dos primos bruxos que odiava. Em uma noite de tempestade o moço endoidou de vez e saiu matando quem passava na frente dele. Até que atirou no espelho e morreu machucado por um caco de vidro que saiu de lá. Virou fantasma naquele dia. Ninguém sentiu falta dele porque ele era muito mal.

(G.M.C. 7º ano, 2011

Quadro 6 – Produção Final do gênero narrativa de terror ( Novembro, 2011)

Como vemos, o aluno exagerou na ambientação, na caracterização da

personagem e no título do texto. Deixou de criar suspense pelo excesso das

adjetivações muito próximas e pobres, para um texto tão curto. A tentativa de

apresentar um ambiente assustador é fraca pois totalmente inverossímil e mal

construída. É repetitivo e óbvio na construção temática, no estilo e na composição.

De um modo geral, os ganhos foram muito evidentes. A grande maioria dos

alunos apresentou competência e domínio sobre os aspectos ensináveis acerca do

gênero explorado e melhorou a produção escrita final quanto aos aspectos

temáticos, na estrutura composicional e no estilo.

Demonstraram muito interesse em aprender a diferenciar as narrativas de

terror e de horror. Praticamente todos entenderam que a maior diferença envolve um

dos elementos do contexto de produção que é o interlocutor(parceiro de interação) já

que a responsividade do mesmo é que ocasiona a classificação.

É preciso considerar, ainda, que os problemas de uso do discurso direto e

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indireto, de repetições desnecessárias, de construção da textualidade imprópria de

narrativa de terror, de excesso ou falta de caracterização das personagens e

ambientação inadequada, foram atendidos ao longo de toda a SD. As segundas

produções, aqui denominadas finais, mostraram-se melhores, na sua quase

totalidade.

É preciso , no entanto, que se admita um erro detectado na SD. Por conta de

tantas demandas, percebidas no diagnóstico com as primeiras produções, a mesma

acabou ficando um tanto extensa para a aplicação dentro do prazo previsto. .

Cumpri-la na íntegra exigiu bastante esforço. Este material, portanto, poderia ter

ficado mais condensado. Além disso, as atividades voltadas para o trabalho com

discurso, foram acrescentadas ao material impresso entregue aos alunos.

Percebemos que o que havíamos preparado não foi suficiente para sanar todas as

dificuldades e foi preciso o acréscimo de atividades extras. Principalmente atividades

de inversão do discurso para manejo com os tempos verbais e verbos dicendi.

Considerações Finais

No início do artigo tínhamos o propósito de comprovar a eficiência da

sequência didática como ferramenta metodológica de apropriação de um dado

gênero textual. Fato este claramente confirmado em face dos resultados obtidos. A

proposta com os contos O retrato oval e Os dentes de Madalena, que elaboramos,

colocou em evidência não somente a possibilidade de reconhecimento dos gêneros

por parte dos alunos como também, a apropriação na condição de produtor deste

mesmo gênero.

Surpreendentemente, a possibilidade de diferenciação entre as narrativas de

terror e de horror revelaram um interesse muito acima do esperado, da parte dos

alunos. Os educandos quiseram pesquisar mais e passaram a tentar “rotular” outros

textos e até filmes, nesta ou naquela categoria narrativa. Percebemos que tal

interesse foi favorável ao ensino-aprendizagem do gênero em tela. Junto com os

conhecimentos de linguagem que interessaram,a apropriação dos outros elementos

do contexto de produção puderam acontecer.

Apesar das muitas falhas do material, que poderão ser retomadas e

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futuramente corrigidas, tais como: excesso de atividades com identificação dos

elementos narrativos, reduzido trabalho com uso dos discursos(direto/indireto),

nenhuma atividade para diferenciação dos tipos de desfechos, a SD didática revelou

ser uma excelente ferramenta, eficiente para a apropriação deste e de tantos outros

gêneros que se queira trabalhar, pois lida com a arquitetura interna do texto, os seus

mecanismos de enunciação e modalização.

A experiência colocou em evidência a necessidade de buscarmos

alternativas eficientes para o trabalho com os gêneros em sala de aula. A SD é uma

destas alternativas e já tem demonstrado resultados que justificam o seu uso.

Encerramos, por fim, a nossa exposição com palavras extraídas das DCEs,

2008, p.53, que revelam a importância da apropriação dos gêneros textuais na vida

dos educandos e a nossa responsabilidade, enquanto educadores, nesta tarefa: “O

aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior

propriedade se lhe for dado a conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o

caráter dinâmico dos gêneros discursivos. O trânsito pelas diferentes esferas de

comunicação possibilitará ao educando uma inserção social mais produtiva no

sentido de poder formular seu próprio discurso e interferir na sociedade em que está

inserido”.

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