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O CORAÇÃO DA MÃO DIREITA

O Coração da Mão Direita

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Uma história de mudança de vida, de transformação, o livro "O Coração da mão Direita" é a história da vida da senhora Kyoko Hatano.

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O CORAÇÃO DA MÃO

DIREITA

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O Coração da Mão Direita

INTRODUÇÃO

O mestre Kametarou Nakayama é

Reverendo da religião Konkokyo, quando dos

seus cinco anos de idade devido a um grave

acidente sofrido nos trilhos de uma ferrovia,

acabou tragicamente perdendo seus dois pés e

um dos braços.

Apesar dessa tragédia, por um grande

milagre divino o mestre teve sua vida salva. E

dentro desta terrível angústia, graças a sua fé

fervorosa nos deixou uma famosa frase:

“Sofra com intensidade, viva com total

lealdade. Ame o destino e vivifique-o.”

Quando completei cinco anos de idade, eu

também fui vítima de um acidente num trilho de

ferrovia, como o do mestre Nakayama e perdi o

meu braço direito. Dentro dessa grande tristeza,

com o passar do tempo e vendo que era uma

pessoa anormal, comecei a ter um terrível

ressentimento dessa desgraça, comecei a odiar

esse meu “destino” e até reclamava desse com

palavras terríveis.

Caso eu não encontrasse em minha vida a

Konkokyo e caso não me encontrasse com Deus

Universal, não estaria hoje liberta desse

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O Coração da Mão Direita

sofrimento como também minha vida teria um

final desastroso.

Uma vida sem esperança e sem espírito de

luta, vivia numa escuridão que parecia não

haver fim. Foi nessa ocasião que Deus pousou os

olhos em mim. E com muita misericórdia, Ele

estendeu suas mãos em meus ombros e me

levantou. Era como se Ele tivesse refletido em

cima de mim, uma luz no fim do túnel. E com

muita paciência cuidou de meu coração ferido,

cicatrizando toda aquela angústia sofrida.

Demorou muito, mas hoje aprendi a “Amar

o destino” e “vivificar o destino”. E descobri

dentro de tudo isso que na verdade, fora tudo

obra de Deus e que o “destino é que me amava” e

também o “destino é que me vivificou”. Aprendi a

transformar o sofrimento, numa alegria a ser

vivida. A minha vida é uma luz iluminada por

Deus.

Este livro “O Coração da Mão Direita”,

relata toda a minha vida e hoje não sinto

carência de algo no meu dia a dia, como também

não sinto nenhuma inconveniência e está

sustentando meu espírito, coração de luta com a

fé em Deus.

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O Coração da Mão Direita

ÍNDICE

O Nascimento e a Casa da Família

dos Matsuo

O Acidente na Ferrovia

Uma criança Sem a Mão Direita

Líder

A Primeira Mão Postiça

O Casamento

A morte da mãe

A Grande Mudança de Rumo

Divórcio e o Impasse

Vivendo por algo

O Encontro da Vida

Segundo Casamento e as Dúvidas

Sobre a Fé

A Mudança do Coração

(Renovação)

Desistindo a Mão de Postiço

A Mudança do Marido

A Mudança da Família de Meu

Filho

A Mudança de Meus amigos

Yoshimi chan

Amado Pelo Destino e Vivificado

pelo Destino

Epílogo

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O Coração da Mão Direita

■ O Nascimento e a Casa da Família dos

Matsuo

Eu nasci no dia 28 de Janeiro de 1945, no

estado de Fukuoka, subdistrito de Kasuya cidade

de Umi. Sou filha de Matsuo e Misano Matsuo.

Minha família é composta por oito irmãos sendo

eu, a caçula da família.

Meu pai trabalhava como técnico de

mineração e tinha um caráter muito autoritário.

Estava sempre rodeado por pessoas, mas tinha

ao mesmo tempo uma conduta muito rígida. Era

uma pessoa típica daquele que “bebe, bate,

compra”, pensando apenas em si próprio. E

quando ingeria bebida alcóolica sempre

violentava a minha mãe. Como era uma pessoa

de temperamento muito curto, quando estava

mal humorado era capaz de lançar qualquer

objeto que estivesse segurando.

Quando meu pai recebia o seu salário, não

usava para as despesas da família e vivíamos

numa pobreza profunda. Devido a dificuldades

financeiras, a minha irmã Kimiko, depois de

terminar o ginasial foi para a cidade de Tóquio

em busca de trabalho. E com o trabalho que

conseguiu, enviava parte do salário para a

família.

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O Coração da Mão Direita

E foi por essa razão a qual não tive

recordações dos momentos de infância que vivi

com essa minha irmã. No ano novo ela comprava

para os irmãos mais novos casacos e blusas como

presentes, mas nós não chegávamos nem a vestir

essas roupas, porque o meu pai usava como

pagamento dos impostos e também para comprar

sua bebida.

Até os meus irmãos que começaram a

trabalhar muito jovem na mineração, foram

vítimas de roubo de nosso pai. Caso tentasse

enganá-lo, éramos violentamente espancados e

mesmo sentindo revoltas, o pavor era maior e se

agravava cada vez mais, não tendo outra opção

se não obedecê-lo.

Ele traia minha mãe com sua amante,

tornando-se algo frequente. O sofrimento de

minha mãe diante desta enorme tristeza era algo

indescritível.

Dentro desta situação de indigência, e

vendo minha mãe sofrer diante de nossos olhos,

todos nós queríamos que ela pudesse viver com

maior tranquilidade. Então nós, nos ajudando

um ao outro com muito esforço conseguimos sair

com sucesso de uma pobreza extrema.

Não tenho boas lembranças de meu pai.

Durante muito tempo deixei tapado no fundo de

um poço essa tristeza que vivi com ele.

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O Coração da Mão Direita

Quando nascemos nesse mundo, não há

como escolher nossos pais. Assim como os pais,

não tem como escolher o seu filho.

Caso o filho tivesse esse privilégio é lógico

que escolheria um pai amoroso, carinhoso, que

pudesse ajudar em todos os momentos e que

estivesse sempre sorrindo de alegria. E teria

também escolhido ter nascido numa vida mais

rica materialmente.

E caso o pai pudesse escolher pelo seu

filho, com certeza escolheria um filho que

pudesse ter inteligência e capacidade de sucesso

no futuro e que também fosse obediente.

Mas isso não é algo possível.

Deus escolheu para mim essa família dos

“Matsuo” e foi essa família que também me

escolheu.

■ O Acidente na Ferrovia

No ano de 1950, quando completei 5 anos

de idade, tinha uma vizinha que era muito amiga

minha. Ela se chamava Yoshimi e tinha 12 anos

de idade. E ela sempre cuidava e brincava

comigo.

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O Coração da Mão Direita

E num dia, como sempre, ela me chamou

para passearmos juntas com o seu cachorro de

estimação.

__ Kyoko, vamos! - ela me chamava.

Nesse dia, para encurtar a caminhada

Yoshimi juntamente com seu cachorrinho usou o

caminho que percorria nos fundos de minha casa.

Nesse local, havia uma linha ferroviária.

Yoshimi já havia atravessado a linha

férrea e eu corria muito para alcança-la. Essa

linha que ficava numa parte mais alta, ficava

parecendo um pequeno morrinho no meio da

estrada.

Foi como num piscar de olhos, para

atravessar essa linha férrea, tive que apoiar as

minhas mãos numa das trilhas e foi nesse exato

instante que o trem passara em alta velocidade

esmagando a minha pequena mãozinha, fazendo

com que sangrasse muito.

Não sabia nem o que estava acontecendo

comigo. Mas uma dor terrível tomou conta de

meu braço e comecei a chorar desesperadamente.

__ Iaaaaaa! - E ouvindo esse choro

desesperado de sua filha, minha mãe veio me

socorrer rapidamente.

E mesmo sangrando muito ela me levou ao

hospital mais próximo. Caso fosse num hospital

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O Coração da Mão Direita

moderno como atualmente, essa tragédia teria

acabado somente com a amputação das mãos.

Mas naquela época, devido ao término da

Segunda Guerra Mundial, o médico que

trabalhava nesse hospital era um soldado médico

do exército japonês.

Esse médico fez um tratamento muito

escabroso. E aproveitando-se do desespero e

aflição de minha mãe, disse:

__ Há o perigo de contrair tétano. - E ele

amputou o meu braço do cotovelo até as mãos.

E quando fiquei sabendo desta realidade

comecei a sentir ódio desse médico. E também do

meu pai, que estava bebendo durante a tarde e

nem se mostrou preocupado com a minha

situação.

__ Por que não fizeram uma cirurgia e não

apenas um tratamento? Por que o meu pai não

veio me ver? Por que perdi o meu braço direito?

Por que tive que ter esse azar? Foram dúvidas

que começaram percorrer minha cabeça durante

anos.

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O Coração da Mão Direita

■ Uma criança Sem a Mão Direita

Foi antes de começar a cursar o primário,

na olimpíada que a escola promovia todo ano.

Numa das competições, havia o pique-bandeira.

Cada criança segurava em cada mão uma

bandeira. Mas fiquei com duas bandeiras na mão

esquerda e desfilei dessa forma no campo.

Sabendo que começaria meus estudos no

primário, fazia me sentir muito feliz, me

mantendo sorridente durante esse desfile. E

minha mãe vendo essa minha aparência alegre

chorava muito e me aplaudia muito.

__ Por que a mãe chora tanto. - perguntava

dentro de mim.

Não entendia essas lágrimas de minha

mãe. E também ainda não sabia da profundidade

de ser uma pessoa de deficiência física. E minha

mãe com certeza sempre pensava dolorosamente:

__ Como será a vida de minha filha?

Ela se culpava muito por essa tragédia que

eu sofri.

Eu era ainda uma pequena criança, mas

essa lembrança ficou gravada profundamente em

meu coração.

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O Coração da Mão Direita

Não tinha como saber das dificuldades de

minha mãe e não sabendo disso, o sofrimento que

ela tinha com o comportamento de meu pai e

agora cuidar de uma filha com deficiência física,

trouxe ainda mais preocupações a ser

encarregada.

Durante a minha infância fiquei sem saber

o sorriso alegre de minha mãe.

Dentro deste todo sofrimento, a minha

única alegria era a relação com meus irmãos.

Devido a essa minha deficiência, eles sempre me

protegiam e me ajudavam muito.

Num certo dia, durante minhas aulas de

educação física, tivemos o treinamento de pular o

cavalinho. É um treinamento que fazemos para

pular uma caixa com estofado em cima usando as

duas mãos.

Meus amiguinhos conseguiam pular sem

problemas, mas eu nem tentava, não tinha

coragem devido ao meu braço. Quando me sentia

muito decepcionado, lembrei-me das palavras de

meu irmão, Fukumi:

__ Kyoko, não há algo que você não

consiga. É só porque você acha que não consegue.

Se você tem coragem, levantando essa vontade

não há algo que você não consiga. - disse ele com

muito carinho e tocando suavemente em meu

braço.

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O Coração da Mão Direita

E lembrando disso olhava fixamente para o

cavalinho que sentia ficar pequenino e pensei:

__ Tenho a certeza que consigo.

E com essa convicção, comecei a correr em

direção ao cavalinho. E com apenas um braço

para me sustentar em cima do cavalinho,

consegui pular com sucesso. Foi um momento de

muita emoção para mim e me lembro como se

fosse ontem. Pular um cavalinho é algo comum

para uma pessoa saldável, mas para mim não

era. E ter conseguido realizar essa proeza, foi

uma experiência nova com uma emoção

indescritível.

Meu irmão, Fukumi, me ensinou outra

palavra:

“Querendo poderás, não querendo não

poderás. Para tudo se eu não querer nada

poderei”.

Essa frase se tornou no lema de minha

vida.

Meu outro irmão, Fuyumi, trabalhava na

mineração e à noite frequentava o curso de

contabilidade. Creio que seja pensando no futuro

que ele resolveu fazer esse curso.

Quando ele voltava do curso, praticamente

todos os dias, íamos para o sofá e ele me

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O Coração da Mão Direita

ensinava a aritmética mental. E foi graças a isso

aprendi muito sobre como fazer cálculos.

Infelizmente não tive amor paterno, mas o

amor fraterno dos irmãos preencheram meu

coração deste enorme vazio que sentia. Mesmo

estando num ambiente familiar de muitas

desgraças, o amor entre os irmãos resistiu forte

fazendo com que esse laço tornasse cada vez

mais firme.

Mas o meu maior sofrimento aconteceu

justamente com o início das aulas no primário.

Só de passar ao lado dos alunos ou colegas

de classe, eles sentiam nojo de mim e até

apontavam o dedo dizendo que eu era um “germe

transmissor”.

Fui também vítima de uma emboscada de

um grupo de meninos na saída da escola. E eles

judiavam jogando pedras em mim e dizendo que

eu era uma menina “sem braço”.

Foram muitas vezes o qual voltava

chorando em minha casa.

__ Por que todos me judiam só por não ter

um dos braços? - berrava como se tivesse

descontando a raiva em minha mãe.

Não sabia nada sobre os sofrimentos de

minha mãe, e nem me importava com isso. A

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O Coração da Mão Direita

situação que ela sofria não era algo comparável

ao meu pequeno sofrimento.

Ainda no primário, quando começaram as

excursões escolares, não sentia nenhuma

vontade viajar devido as judiações que sofria.

O meu irmão, Haruo, parece que percebeu

isso e resolveu ir até a escola onde eu estudava e

olhando fixamente nos olhos dos alunos, como se

tivesse intimando todos eles, disse em tom alto e

grosso:

__ Aquele garoto que judiar de minha irmã

sofrerá graves consequências!”

Nunca havia confiado tanto quanto aquele

momento nesse meu irmão Haruo. E todos

ficaram com medo dessa intimação dele, tanto

que depois disto não mais sofri judiações. E

graças a isso, pude fazer uma excursão muito

alegre.

Haruo também me ajudou muito me

levando de bicicleta até a escola e me ensinou

também a dirigir essa bicicleta, tanto que na 6ª

série já comecei a usá-la.

Recebi muito apoio de meus irmãos, e

graças a esse amor e carinho consegui superar

aos poucos essa minha deficiência física.

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O Coração da Mão Direita

■ Líder

Quando entrei no ginasial, pensei:

__ O que fazer para não sofrer judiações?

E logo cheguei numa resposta:

__ Isso mesmo, ao invés de ficar no lado

que sofre as judiações ficarei no lado de judiar.

Lembrei-me que em meu corpo também

tenho o sangue de meu pai, que era uma pessoa

com temperamento muito curto. E foi nessa fase

que ocorreu grandes mudanças em meu caráter.

As notas nas avaliações eram muito boas,

na olímpiada escolar nas competições de longa e

curta escala conquistava sempre o primeiro

lugar. E assim fui sendo muito reconhecida pelos

companheiros de escola.

Isso me fez adquirir muita auto-confiança e

ao mesmo tempo meu caráter se tornava muito

rígido. Comecei a ter muitos amigos ao meu

redor e quando menos esperava, sempre estava

como líder do grupo.

Quando ouvia as pessoas sussurrarem que

eu era uma pessoa sem a mão direita, chamava

essas pessoas e dizia:

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O Coração da Mão Direita

__ Avise a sua família que farei você não

vir mais a escola ! - assustava assim os alunos

que faziam esse tipo de sussurro.

Essa minha atitude rígida aumentava

gradualmente fazendo com que as pessoas

amedrontassem de mim.

Num certo dia, quando fui a um balneário,

uma senhora viu que não tinha a mão direita e

disse:

__ O que aconteceu com sua mão direita?

Coitada ... - disse ela como se tivesse sentindo

pena de mim, mas era apenas por curiosidade.

Com um olhar severo, virei os olhos fixamente

para ela e respondi:

__ O que é minha senhora, estou te

incomodando em algo? Não tenho nada haver

com a senhora.

Assustada, essa senhora então se afastou

às pressas de minha frente.

Receber piedade das pessoas era um

grande complexo que nasceu dentro de mim.

Aliado à puberdade o meu coração foi se

tornando gradualmente numa pessoa de muita

insensibilidade, fazendo com que as pessoas se

afastassem de mim.

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O Coração da Mão Direita

■ A Primeira Mão Postiça

Foi em 1963, quando completei 17 anos de

idade. Recebi um telefonema de uma entidade da

previdência social dizendo:

__ Você não gostaria de experimentar uma

mão postiça?

__ Existe uma coisa dessas? - respondi

surpreendida.

Fui correndo para uma loja que fabricava

mão postiça e fiz o pedido. E quando coloquei

pela primeira vez essa mão, uma alegria

repentina tomou conta de meu corpo. Até aquele

momento odiava me ver no espelho, e graças essa

mão postiça comecei a confiar mais na minha

beleza.

■ O Divórcio

Ainda muito jovem, me apaixonei por um

rapaz, vindo logo a se casar com ele. Na época

tinha 20 anos, a mesma idade do rapaz. Mas

minha família inteira ficou contra esse

relacionamento.

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O Coração da Mão Direita

O motivo: “Por ser eu uma pessoa

portadora de deficiência física, casar-se com uma

pessoa saudável terminaria em colapso”.

Como vivia sempre dependendo do auxílio

de meus irmãos, nada pude fazer.

Mas apenas a minha irmã concordou com

esse casamento e disse:

__ Até pessoas saudáveis quando se casam

acabam se separando, não é? Casar-se com uma

pessoa que você goste é o melhor caminho para a

felicidade. -- e convenceu toda família.

Assim pude realizar meu tão sonhado

casamento. Comecei a morar na cidade de

Nagoya, onde morava os familiares de meu

marido. Ele trabalha numa agência de

telecomunicações muito conhecida no Japão.

Como eu era uma pessoa de deficiência

física, achava que sempre receberia apoio da

nova família, e que sempre receberia um carinho

especial. Mas a realidade foi outra.

Quando recebíamos visitas e oferecia o

café, todos diziam:

__ Você não é preciso ficar na sala. E me

rejeitavam com muita frieza. Parecia até que não

queriam sentir vergonha por ter uma nora com

deficiência física.

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O Coração da Mão Direita

Pensei que já estivesse acostumado com

esse tipo de comportamento, mas o convívio com

a nova família, recebendo por muitas vezes esses

maus tratos, me magoou muito.

Mas nada pude fazer, a não ser ter

paciência.

Aos 24 anos de idade tive o meu tão

sonhado primeiro filho. Nomeei-o de Yuichi.

__ Quando essa criança crescer e perceber

que sua mãe é uma deficiente física, qual será o

seu comportamento? Pensava dentro de mim.

Apesar da alegria de dar à luz uma criança

saudável, sentia também preocupações e receios

do futuro desta criança. Era um sentimento

muito embaraçoso.

■ A morte da mãe

Quando Yuichi completou 8 meses de vida,

a minha mãe que estava muito ansiosa para ver

seu crescimento, acabou morrendo em um

acidente de transito. Ela tinha 61 anos de idade.

Na época, meus irmãos haviam levantado

um empreendimento que acabara de entrar em

linha, e todos fizeram uma economia para

retribuir todo amor que recebemos de nossa mãe.

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O Coração da Mão Direita

A minha família acabara de construir uma

casa nova e fazia 6 meses que se mudaram para

o novo local. Finalmente, era o momento em que

achávamos poder levar uma vida feliz.

Ela sofreu um acidente o qual envolvia um

caminhão. Ela andava pela calçada, quando esse

caminhão perdendo o controle invadiu a calçada

atropelando minha mãe.

Parece que ela nasceu nesse mundo

somente para sofrer. Meus irmãos lamentavam-

se dizendo:

__ Não conseguimos retribui-la nenhum

carinho. Todos choravam com muita tristeza.

Ela sempre cuidava mais de mim do que

qualquer outro irmão. E eu não sabendo desse

sofrimento todo que ela vivia e também não

sabendo de seus sentimentos, comecei a reclamar

dizendo:

__ Por que nasci com essa deficiência?

Porque? Nascia um sentimento de revolta dentro

de mim.

Quando recebi a notícia de que ela havia

falecido, fiquei muito atordoada e sem palavras.

Voltei às pressas a minha casa de origem, onde

seria realizado o velório. E assim chegando, lá

estava ela dentro de um caixão deitada em sono

eterno. Peguei nas mãos dela e comecei a chorar

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O Coração da Mão Direita

e reclamar para mim mesmo por não ter

conseguido retribuir nenhum carinho e amor

para ela.

De tanta revolta, comecei a achar que

neste mundo não existe um Deus bondoso.

__ Por que não consegui ser mais boazinha

com ela? Por que minha mãe teve que sofrer

tanto nessa vida? Por que existem pessoa felizes

e infelizes nesse mundo? Por que nascer nesse

mundo?

■ A Grande Mudança de Rumo

Caso meu marido continuasse trabalhando

na agência de telecomunicações, teríamos um

futuro com condições de vida altamente estável.

Mas ele tinha muito interesse em abrir seu

próprio restaurante e naquela época um dos

irmãos dele estava muito bem sucedido após

abrir um restaurante, ficando muito rico

economicamente.

Todo essa influência e aspectos trouxe uma

repercussão muito grande em meu marido, que

até pediu demissão da empresa.

Voltamos então da cidade de Nagoya para

a cidade de Fukuoka. E juntamente com meu

marido entramos num restaurante administrado

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O Coração da Mão Direita

pelo meu irmão. Entramos primeiramente como

aprendizes, na época tinha 27 anos de idade.

Um ano depois abrimos o nosso primeiro

restaurante. O meu marido não sabia o quanto é

árduo abrir seu próprio negócio, tudo que tinha

em mente era que restaurante rendia dinheiro.

E eu como esposa, fiquei responsável com

os trabalhos domésticos, cuidar da criança e

depois ajudar nos serviços do restaurante.

Acordava sempre às 3 horas da manhã e era

como se tivesse num campo de guerra todos os

dias.

Praticamente não tinha nem tempo para

me sentar quando fazia minhas refeições.

Dormia de pé durante o trabalho. Mas o meu

temperamento forte de querer vencer na vida foi

o principal fator que me impulsionou à diante.

Apesar do trabalho diário ser árduo, me

sentia muito satisfeita convivendo com minha

família. E com o restaurante em pleno êxito

levávamos uma vida muito bem sucedida.

Mas essa tão sonhada felicidade estava

perto de um final triste. Comecei a perceber que

meu marido estava me traindo com outra

mulher.

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O Coração da Mão Direita

■ Divórcio e o Impasse

Foram 13 anos de casamento, mas

infelizmente pus um ponto final nessa relação.

Ainda tinha 33 anos de idade e sentia uma dor

insuportável quando pensava que trabalhei e me

dediquei tanto para que o restaurante viesse a

ter sucesso. E sempre dedicava muito amor ao

meu marido, por que esse final?

O sentimento de ódio contra o meu marido

tomava conta de minha pessoa e também do meu

espírito. E sentia que ele me traiu por causa

dessa minha deficiência física.

Estava completamente perdida, não

suportava nem mais viver. O divórcio foi uma

decepção insuportável em minha vida.

De tanto sofrer andava perdidamente nos

trilhos de uma ferrovia com meu filho, que me

disse:

__ Mamãe, você não vai morrer, não né? --

disse ele olhando em meus olhos com muita

tristeza e preocupação.

Ouvindo essa voz de meu filho, limpei as

lágrimas e respondi a ele:

__ Filho, meu filho desculpe. Desculpe-me

lamentei, mas não aguentava e abraçando-o

firmemente comecei a chorar.

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O Coração da Mão Direita

Meu sentimento de ódio contra meu

marido era tão grande que sentia vontade até de

esquartejá-lo. Mas sempre lembrava do apoio

que recebia de todos os meus irmãos e isso

ajudou muito no alívio de meu coração.

Quando assinamos nossa escritura de

divórcio, meu ex-marido me disse:

__ Dentro de uma família não é necessário

dois chefes. Nessa cidade de Fukuoka, se

escolhermos três pessoas de temperamento

rígido, você com certeza seria uma delas.

Fiquei muito revoltada com essas palavras

e repeli dizendo:

__ Seu safado! Você vai ver! Ser escolhida

entre três é insuportável, serei a primeira de

todas!

E de tanto ódio e revolta realmente pensei

em almejar ser a pessoa de maior temperamento

rígido da cidade. A obsessão por isso ficou tão

profunda que me deu forças para viver e também

para me vingar-se com a mesma moeda ao meu

ex-marido.

Assim como a morte de minha mãe e agora

com a decepção desse casamento me fez ter

convicção de algo:

“Realmente nesta vida Deus não existe!”

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O Coração da Mão Direita

Após o divórcio meu ex-marido retornou a

cidade de Nagoya e eu para continuar vivendo

tive que trabalhar. Fiquei com a parte do

restaurante e continuei com essa administração.

Mas o meu coração estava totalmente quebrada.

Durante a tarde trabalhava normalmente,

mas quando a noite vinha, me sentia no fundo de

um poço e para me livra-se dessa mágoa

profunda comecei a usar a bebida como saída ou

salvação. Eu não era uma pessoa dependente de

bebida alcóolica, mas não tinha outra alternativa

a não ser beber.

Sempre quando terminava meu trabalho,

comprava uma garrafa de sakê e bebia sozinha.

E de tanto ingerir o álcool, comecei a ficar com

uma terrível depressão psicológica, fazendo com

que tenha alucinações e ilusões.

Como estava numa situação destas, não

conseguia cuidar bem de meu filho. E ele sempre

foi um garoto que recebia muito carinho e amor

de sua avó que morava na cidade de Nagoya.

__ Quero ir na casa da avó. - insistia

sempre com a mesma palavra.

E vendo o meu filho insatisfeito comigo e

com muita saudade de sua avó, me fez pensar

muito no futuro dele. E cheguei à conclusão de

que o melhor caminho para ele, seria morar em

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O Coração da Mão Direita

Nagoya. Foi doloroso, mas resolvi largar e

entregá-lo nas mãos de sua avó.

Era o meu único filho. Senti que já era o

fim de meu “destino” nesse mundo.

■ Vivendo por algo

Acabei desistindo do restaurante, mas para

viver era preciso trabalhar. Tentei procurar em

vários lugares algum serviço.

Nas entrevistas, no começo pareciam

gostar de mim. Mas ao fim, sempre diziam a

mesma palavra:

__ Desculpe, mas o sua mão direita... --

nem terminavam direito o que queriam dizer.

Mas já era bem notável e sempre me recusavam.

Por ter administrado um restaurante,

sentia-me confiante, mas a realidade era outra e

muito rigorosa.

__ Sou uma pessoa portadora de deficiência

física, mas consigo fazer qualquer tipo de serviço.

Por favor me admita. Posso trabalhar por apenas

R$ 1,00, não me importa. Quero trabalhar,

somente isso. - dizia implorando às pessoas, mas

nada adiantava.

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O Coração da Mão Direita

Por que nessa vida as pessoas são tão

insensíveis? E aprendi diante de meus próprios

olhos o que é apanhar por ser uma pessoa com

deficiência física.

__ Ninguém quer me empregar. Não há

mais outra alternativa a não ser trabalhar para

mim mesma. - decidi firmemente e criando uma

dívida abri um pequeno botequim.

A obsessão de se vingar na mesma moeda

do meu ex-marido ainda permanecia viva dentro

de mim e comecei a trabalhar arduamente.

Durante 10 anos, na parte da tarde trabalhava

num restaurante e á noite trabalhava no meu

botequim. Para mim não existia tarde ou noite, e

dormia sempre somente 3 horas.

Tornei-me uma pessoa desonrada,

dependente do álcool e dizia para mim mesma

que “o dinheiro nunca me abandonaria”.

Comprava joias e roupas de alto custo, vivia uma

vida ostentada pelo luxo e ganância.

E dessa forma conquistei somente a

ganância e a ambição. E quando me enxerguei

estava totalmente arrasada.

Devido à instabilidade emocional e úlcera

duodenal fui obrigada a ficar internada no

hospital. Não acreditava na existência de Deus e

muito menos não acreditava nas pessoas. Não

havia nada para me apoiar-se. Era como se

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O Coração da Mão Direita

tivesse andando em cima duma fina camada de

gelo todos os dias.

■ O Encontro da Vida

Durante a minha internação no hospital,

um grande acontecimento fez com que minha

vida mudasse da noite para o dia. Vivia um

momento de desespero num túnel escuro sem

saída.

Parece que Deus não me largara e me

enviou uma pessoa. Uma mulher. Ela se

chamava Yukie Kitajima. Ela estava no hospital

porque visitava sua irmã que estava internada.

Ela era dona de um botequim e havia me

ajudado muito antigamente. Era uma pessoa de

bom caráter, mas quando o assunto era negócios,

ela se transformava. Era uma rainha do

trabalho. E foi um reencontro depois de 20 anos.

Foi um reencontro depois de muitos anos e

de muitas saudades. E sem me aperceber já

contava a ela, tudo aquilo que vivi durante esse

período. O divórcio, a separação do filho o

sofrimento diário de estar se sentindo dentro do

fundo de um poço, confessei e desembuchei tudo.

Ela me ouvia atenciosamente até o final e

quando terminei ela me disse:

Page 31: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

__ Kyokozinha, na cidade de Kurume há

um local onde ajudam o coração das pessoas.

Você gostaria de visitar comigo? - disse ela com

um tom de voz muito carinhosa.

E ouvindo a conversa, ela me explicou

sobre uma religião desconhecida, conhecida como

Konkokyo.

Jamais imaginava que ela, Yukie,

praticaria a fé de alguma religião. Foi algo

totalmente inesperada para mim e como me

sentia desapontada por tudo e procurava

desesperadamente por algo para me apoiar-se,

acabei aceitando naturalmente esse convite.

Depois de alguns dias, juntamente com

Yukie, fui pela primeira vez na igreja da

Konkokyo. Foi o meu primeiro encontro com a

Igreja Konkokyo de Airaku. Era o ano de 1987.

Na minha primeira visita à igreja tudo era

diferente e ainda não sentia o meu coração curar-

se. Mas quando olhava o jardim da igreja, não

sei explicar o porquê, mas sentia que uma luz

fina começou a me envolver.

Mas mesmo recebendo, nas outras vezes, o

convite de Yukie para visitarmos a igreja, sentia

um pouco de medo por se tratar de religião. E no

começo só aceitava porque não queria ofendê-la.

Page 32: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Mas com isso, meu pensamento aos poucos

foi mudando. Quando algo ruim acontecia ou

algo não ia bem, logo sentia que era por causa da

falta de frequentação à igreja. Era assim que

entendia a fé.

Depois de perder o meu braço direito,

durante longos 35 anos, meu coração

permaneceu duro e frio, como um pedaço de gelo.

Mas mesmo assim, Deus nunca me abandonou e

continuava sempre me protegendo com muita

ternura.

Certo dia, dentro da conversa que tive com

o mestre da igreja, ele me ensinara a respeito da

“persistência na fé em Deus”.

Resolvi então, frequentar com persistência

duas vezes ao ano a matriz da Konko kyo. E

numa dessas visitas à matriz, o mestre de nossa

igreja, o reverendo Katsuhiko Otsubo, estava

rodeado pelos representantes dos fiéis. E eu num

cantinho da parede observava todo esse

ambiente, quando de repente o mestre percebe a

minha presença e diz:

__ Sra. Kyoko, que surpresa agradável

saber que você também veio hoje. -- falou ele

admirado pela minha visita.

Essas palavras do mestre pareciam como

uma seda de algodão que me envolvia com muito

Page 33: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

amor e carinho. Mal ainda havia conhecido ele. E

pensava dentro de mim:

__ Ele lembrava-se de meu nome! Sentia

uma alegria enorme, até parecia que uma carga

elétrica envolvia todo meu corpo. Foi a primeira

vez que senti uma emoção muito forte dentro de

mim.

A minha alma estava com fome e sede de

compaixão, e essa personalidade agradável do

mestre me encantou muito.

Naquela época o mestre carregava em seus

ombros a responsabilidade de ser a segunda

geração da igreja Konkokyo de Airaku. E devido

a isso escavava com profundidade seu coração o

que representava seu próprio recipiente de fé em

Deus.

Depois deste acontecimento passei a

frequentar sozinha a igreja Konkokyo de Airaku

e aos poucos abria meu coração à Deus. Mas essa

frequentação a igreja era ainda apenas para

visar as graças de Deus.

Page 34: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

■ Segundo Casamento e as Dúvidas Sobre

a Fé

Em 1993 tive a felicidade de ter o meu

segundo casamento. Casei-me com Tomeo

Hatano, meu atual marido. Mas antes de me

casar com ele passei por um pequeno problema.

Naquela época estava em dúvida se

trabalharia como administradora de um

restaurante de comida chinesa ou viveria

novamente um novo casamento. Estava indecisa

quanto à escolha.

A forte falta de confiança e também o

trauma que tinha com homens fizeram com que

recusasse esse casamento. Mas Tomeo veio até

mim e disse:

__ Eu ajudarei você a recuperar-se dessa

dor da mão direita e serei como um braço direito

para você.

Estava realmente precisando de uma

pessoa que me compreendesse e como dessa vez

estava praticando a fé em Deus, achei que não

teria problemas e aceitei casar-se com ele.

No começo era aquele todo carinho. Ele me

chamava de Kyokozinha e eu o chamava de

Tomezinho.

Page 35: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Para mim, não era necessário fazer uma

cerimonia de casamento. Mas Tomeo queria

realizar apenas a cerimonia e nada de festas.

Mas algo terrível mexeu com o meu sentimento

de desconfiança.

Foi quando estávamos fazendo os

preparativos da cerimonia no salão. Uma mulher

que manteve anteriormente relação amorosa com

Tomeo, telefonou para ele. E quando soube desse

telefonema o sangue que percorria meu corpo

parecia que começava a ferver de ódio e

perguntei com voz grosseira:

__ O que você tem com essa mulher ? Uma

indignação tomou conta de mim fazendo com que

uma repugnância ganhasse vida em meu corpo.

Depois de muita conversa e agitação, de

algum modo conseguimos realizar a cerimonia de

casamento. Mas desse dia em diante, a nossa

vida de marido e esposa se tornara num tumulto

generalizada.

Quando ele voltava tarde para a casa ou

quando saia para beber com amigos, sempre

duvida dele, pensando que ele estaria me

traindo. Não conseguia imaginar outra coisa a

não ser isso.

E comecei a duvidar de todos os

comportamentos dele. Meu coração estava

sempre nervosa e não parava de atormentá-lo.

Page 36: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

__ Não sou eu a culpada, e sim, você. Você

está me traindo -- culpava ele sem ouvir suas

razões.

__ Se têm tanta dúvida, verifique o carro!

Tomeo também se revoltava com essa

minha atitude. E acabava chutando e quebrando

o carro e até me espancava com murros.

__ Você frequenta a igreja para quê? Se é

assim, pare de praticar essa fé! - dizia Tomeo

com muita braveza e me violentando.

Naquela época não havia ainda percebido,

mas dentro de toda aquela confusão, a maior

culpada era eu. Era o meu coração insensível que

possuía um forte sentimento de desconfiança.

“Pratico a fé em Deus” não era algo aceito

na vida real. E minha prática de fé até esse

momento era apenas superficial.

Meu marido havia me dito:

“Você frequenta a igreja para quê? Se é

assim, pare de praticar essa fé!” - depois dessas

palavras comecei a ter dúvidas sobre essa minha

própria fé. Sentia-me quase uma neurótica.

__ Pratico devotadamente a fé em Deus,

por que nós sempre brigamos? Por que não

somos felizes? Por que o meu coração sofre tanto?

Page 37: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

■ A Mudança do Coração (Renovação)

Dentro desse todo desentendimento, um

grande acontecimento veio acontecer.

Num certo dia, por um pequeno

desentendimento acabamos tendo uma grande

briga tanto que ele fugiu de casa e foi no

botequim da minha amiga, Yukie.

E aí, ficou bebendo sua cervejinha. Mas

exagerou na bebida e acabou criando uma

confusão enorme com um outro cliente. Para

amenizar a situação toda, foi preciso chamar a

polícia e meu marido foi então detido e

encaminhado para a delegacia.

Eu estava muito desgastada fisicamente e

psicologicamente. Pensava em desistir desse

casamento e fugir para um lugar muito distante.

Mas a minha amiga, Yukie, como sempre

preocupada comigo me apresentou uma senhora

que se chamava Asou. Acabei ficando

temporariamente na residência dessa amiga de

Yukie.

E graças a isso, pude ter uma conversa

muito aberta com essa senhora que com muita

atenção ouvira meus sofrimentos e problemas. E

depois de ouvir tudo, me aconselhou com muito

carinho me ensinando sobre a fé em Deus. Com

Page 38: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

isso, consegui reorganizar todos os meus

sentimentos e recomeçar a minha prática de fé

do zero.

Desta vez, comecei a frequentar a igreja

com maior dedicação. E com isso sentia meu

coração ter pequenas mudanças. E hoje,

relembrando desse fato, acredito que Deus

estava fazendo com que eu passasse

primeiramente por uma restauração corporal.

Era uma sensação o qual sentia que o

espírito de Deus estava entrando em meu corpo.

Uma experiência que tive exemplifica essa

sensação. Naquela época, gostava muito de beber

a vodca japonesa. E bebia 1 litro de vodca sem

ter problema algum. Mas, após ter começado a

dedicar-se a Deus, meu corpo começou ter

mudanças.

Quando bebia essa vodca, não conseguia

tomar mais do que 3 copos. Se tomasse uma

quantidade maior do que 3 copos, sentia-me

muito mal. E quando dormia acabava vomitando

uma quantidade excessiva de água. Foi uma

coincidência muito misteriosa para mim.

E não foi somente isso. Quando estive em

meu banho. A água que jorrava pelo chuveiro

sentia lavar o meu coração. Era uma sensação

maravilhosa que me fazia sentir profundamente

que meu corpo e também meus sentimentos

Page 39: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

estavam passando por um processo de

transformação.

E quando fechei os meus olhos para que

pudesse enxergar meu coração, senti ter uma

visão. Essa visão me mostrava “uma corrente de

água que passava por um local seco, mas que era

rapidamente absorvida pelas terras secas”.

Essa visão exemplifica a transformação

que estava acontecendo com a minha fé em Deus.

E até no meu ambiente de trabalho

mudanças começaram a acontecer. Retornei ao

meu trabalho com o sentimento de estar

aprendendo tudo do zero, como se fosse uma

nova aprendiz.

Certo dia, quando ouvia a palestra do

mestre Katsuhiko, suas palavras fizeram

despertar o meu coração. Ele dizia:

__ Não tente arrancar nada de Deus, muito

menos nas pessoas. Arranque tudo que tens em

ti.

Essas palavras tocaram no fundo de meu

coração e senti pela primeira vez com profunda

convicção de que todos problemas que estava

vivendo com o meu marido, não era culpa dele,

mas sim era tudo por minha culpa.

Esse pensamento começou a fluir

intensamente dentro de mim. Mas ainda tinha

Page 40: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

uma pequena dúvida: Como fazer para que eu

próprio mudasse? Como fazer para renovar o

meu coração? E não sabendo desta resposta e

também não encontrando uma saída para os

problemas, passei um bom período atormentada.

E com uma firme determinação, resolvi

seriamente buscar por essa resposta. E para isso

comecei a praticar com total seriedade e devoção

a fé em Deus. Foi essa decisão que me fez

despertar a praticar verdadeiramente a fé Nele.

Comecei a participar seriamente das

missas e também das orações matinais da igreja.

Ouvia com total atenção as palestras dos

pastores e comecei também a ler os livros da

Konko kyo. E praticando uma fé dentro do meu

cotidiano, fazendo dos acertos e erros cometidos

uma prática para renovar o meu coração.

O centro essencial da prática da fé não era

visar e arrumar os defeitos ou problemas do meu

oponente (marido, familiares ou amigos), mas

sim, visar à renovação exclusivamente do meu

coração.

Fazia uns cinco dias que não via o meu

marido, e quando fui ao encontro dele,

evidentemente ele não quis me ver. Ele ainda

estava em poder da delegacia, dentro de uma

cela.

Page 41: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Recebi um conselho de minha amiga, a

Yukie. Ela me dizia para escrever uma carta e

resolvi então fazer isso mesmo.

E quando estava para começar a escrever,

em cima da mesa havia uma revista semanal. E

a capa desta revista ilustrava uma foto de um

campo com terras secas e rachadas. E vendo essa

foto, senti profundamente que essa terra seca e

rachada representava o estado de meu coração.

Não só senti como também percebi que esta era a

realidade real do meu coração e sem contos de

fadas ou teorias.

Então comecei a escrever esta carta...

“Querido Tomeo, desculpe por tudo que te

causei até hoje. A culpada e se é que tem uma

responsável por toda essa situação, sou eu. Meu

coração estava seco no meio dum eterno deserto.

Sou uma pessoa horrível. E percebi que uma

pessoa como eu não mereço receber todo amor e

carinho que você tem. Mas quero muito que você

retorne para mim. E quero mudar muito para

que possa ser uma pessoa merecedora do seu

amor”.

Depois de um mês, cumprido sua punição,

meu marido foi liberado pela delegacia. E eu que

estava morando provisoriamente na residência

da senhora Asou, também retornei à minha

morada. A data: 29 de novembro de 1995.

Page 42: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Na igreja Konkokyo de Airaku, a igreja

onde frequentava para praticar minha fé em

Deus, comemorava o falecimento de 1 ano do

mestre Souchiro Otsubo. (Fundador da Igreja,

primeira geração da família dos Otsubo)

Quando eu me divorciei do meu primeiro

marido, achei que o motivo da separação era a

traição que sofri por eu ser uma pessoa

portadora de deficiência física. Não havia

percebido o quanto meu coração era insensível e

rígido. E foi pela primeira vez que foquei todas

as essenciais atenções exclusivamente ao meu

coração.

Com essa experiência que vivi, aprendi que

eu, como uma pessoa comum, possuía duas faces.

A face do bem e a face do mau. E a face que

estava mais alimentando era, francamente, a

face do mau. Como fazia isso?

Machucando o coração de meu marido,

culpando-o por razões que não tinham nenhum

fundamento. Sendo que toda aquela confusão era

criada propriamente pelo estado de meu coração.

Graças a fé que pratico em Deus, pude

desmascarar essa minha face, enxergando o lado

real dessa mesma. Esse meu coração mau, que

era sólido como uma rocha foi se quebrando com

o poder da fé em Deus.

Page 43: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

E foi se tornando maleável e aconchegante.

E abrindo espaços para o bem-estar de ambos.

Foi a experiência que fez mudar o meu

coração.

Apesar dessa grande mudança que

aconteceu em minha vida, isso não quer dizer

que a briga entre eu e meu marido terminou por

completo e que vivemos felizes para sempre.

Não, não foi assim. Depois que ele retornou

à sua casa, tivemos ainda muitas brigas. Mas

não era a mesma situação. Quando brigas

aconteciam, usava esse fator adverso como

ingredientes para poder enxergar o defeito de

meu coração. Ou melhor, para fazer uma reflexão

ou análise e saber qual parte do meu coração

deve ser renovada.

Anteriormente, acumulava em meu

coração muitos “por que”. E achava que praticar

a fé em Deus, era um instrumento para ser

usada somente para receber as graças e

milagres.

Logicamente que pensando dessa forma

nunca alcançaria uma felicidade altamente

verdadeira.

As pessoas nunca mudam com palavras,

mas sim com atitudes.

Page 44: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Atitudes essas que sejam voltadas por uma

mudança que ocorra propriamente de seu próprio

coração.

Praticando com total devoção a prática da

fé em Deus, nasceu em mim o desejo e a vontade

de querer aprender o caminho verdadeiro, que

me levasse ao centro do coração de Deus. A

vontade de sentir na alma a fé sincera de Deus

transbordava em meu coração.

E para que pudesse realizar isso, resolvi

adquirir minha carteira de habilitação. E

consegui isso em 1998.

Porém isso trouxe uma preocupação

enorme aos meus familiares e amigos, porque

não tinha o braço direito. Mas o carro foi

improvisado para deficientes físicos e também a

marcha era eletrônica.

Com o carro liberado, facilitou muito

minha frequentação à igreja. E comecei a fazer

estágios na igreja para aprofundar mais nos

estudos sobre a fé.

Dentro desses estudos, aprendi

exclusivamente que “Todos os acontecimentos

que rodeiam a vida das pessoas e também da

natureza são trabalhos de Deus”.

Com os estudos, a parte mental evolui

muito, causando um pouco de desnivelamento

Page 45: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

com relação à parte espiritual, que era a prática

do dia-a-dia. Havia sim um desnivelamento

entre a mental, corporal e espiritual.

Mas praticando aos poucos, valorizando

muito os pequenos detalhes consegui alcançar,

ou melhor, me libertar de um pesado sofrimento

que carregava nas costas por anos.

Aquele meu “destino” o qual me fez sofrer o

grave acidente na ferrovia. Era o ano de 1999.

■ Desistindo da Mão Postiça

Certo dia, numa das frequentações que

fazia a igreja, estranhamente a mão postiça não

se encaixava em meu braço. Desde que consegui

essa mão postiça, jamais deixei de usá-la na

frente das pessoas.

Essa mão postiça era tão importante

quanto minha própria vida. Caso, o meu filho e

essa mão postiça caísse em algum rio, com

certeza salvaria a mão postiça. O apego por ela

era algo fora do normal, era um consolo para

superar e angústia que tinha sobre a deficiência

física.

Caso acontecesse algo trágico que

impedisse o uso dela, com certeza me suicidaria.

Assim era a importância que sentia por ela.

Page 46: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Mas, desta vez, vendo que não se

encaixava, lembrei-me do ensinamento que

recebi durante meus estudos na igreja.

“Todos os acontecimentos que rodeiam a

vida das pessoas e também da natureza são

trabalhos de Deus”.

Lembrando-me disso, percebi que Deus

estava me dizendo que saísse sem a mão postiça.

Comecei então, orar a Deus para que

conseguisse não mais ter vergonha dessa minha

deficiência física e também para que eu pudesse

desistir dessa mão postiça.

Deixei a mão postiça no carro e meio que

escondendo o braço, entrei na igreja. Quando

cheguei no salão de Deus, me ajoelhei e comecei

a fazer minha oração. Mas de repente uma

emoção incontrolável tomou conta de meu corpo

e de minha alma. Comecei a derrubar lágrimas

de emoção e não contendo isso, comecei a chorar

sem se importar com as pessoas que estavam ao

meu redor.

Senti que Deus me dizia:

“Minha filha, você conseguiu, você

conseguiu! É o que mais esperava por você.”

Foi o momento em que consegui abolir

dentro de mim uma falsa ilusão edificada pelo

orgulho, que servia apenas para sentir ser uma

Page 47: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

pessoa saudável como qualquer outra. A mão

postiça já não representava tão profunda

importância.

Depois da oração me convidaram para a

refeição da igreja. Mas ainda sentia a emoção

conter meu corpo e mesmo durante a refeição,

derrubava lágrimas. As lágrimas caiam por cima

da refeição, mas nem me importava. Mas foi a

primeira vez que comi uma refeição com sabor de

lágrimas.

Essa experiência emocional que vivi,

marcou minha vida. E mais uma pequena

mudança ocorreu em minha vida. Reconheci a

fundo de que eu, Kyoko Hatano, era uma pessoa

com deficiência física, mas feliz.

Quando aos 5 anos de idade, sofri o terrível

acidente na ferrovia, achava que tudo aquilo era

algo inaceitável, intolerável.

Comecei a odiar o médico que amputou o

meu braço,

Comecei a odiar o meu pai que não me

visitou no hospital uma única vez. Ele estava

bebendo.

E com aquela emoção vivida, as pessoas

que odiei no passado, os acontecimentos que

formaram a minha historia, conseguiu perdoar

tudo.

Page 48: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

E hoje compreendo que a mão postiça era

como uma cruz que carregava diariamente

dentro de mim.

Estava tendo somente prejuízos na parte

espiritual. Mas consegui me libertar dessa

intensa ilusão.

Jamais esquecerei essa experiência vivida.

E isso fez com que até as pessoas que

mantinham relações de amizade comigo também

mudassem.

■ A Mudança do Marido

Meu marido era como um ateu e até me

falava para que não tentasse envolve-lo nesse

mundo. Antes do casamento, quando terminava o

serviço no botequim, ele sempre me levava até a

igreja.

Mas ele nem se quer entrava no

estacionamento da igreja, e ficava esperando o

término de minha frequentação num local

próximo.

Numa certa ocasião, a minha amiga Yukie

havia pedido ao meu marido para que nos

levasse até a matriz da Konkokyo. (A matriz

situa-se aproximadamente a 500 km, em

Okayama)

Page 49: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

O nosso casamento foi possível graças a

sra. Yukie e ele também sabia disso. E foi por

essa razão o qual ele aceitou o pedido. Durante a

viagem ele agradecia muito a ela por esse

casamento ter acontecido.

Era a primeira vez que ele se comunicava

com uma pessoa da igreja onde frequentava e

também era a primeira vez que ele visitava a

matriz da Konkokyo. E isso foi um fator muito

positivo para ele.

Depois dessa agradável viagem, houve

uma mudança no meu marido.

A igreja Konkokyo de Airaku preparava-se

para comemorar os 30 anos de fundação e para

isso realizava a construção de um novo prédio. E

o meu marido recebendo o convite da Srª Asou

para ajudar nessa obra, começou a trabalhar

como rebocador da obra.

Certo dia, depois que ele terminou o

serviço da igreja, saiu para comprar um cigarro

num barzinho próximo. E quando voltava a

igreja, uma senhora de idade, desconhecida

passou por ele e disse:

__ Hoje você trabalhou muito, não? Bom

trabalho meu filho. Muito obrigado e descanse

bem seu corpo. - disse a senhora.

Page 50: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Meu marido ficou muito surpreso com esse

acontecimento e perguntava para si: ‘o por quê

de uma senhora desconhecida passar de repente

ao meu lado e me cumprimentar dessa forma tão

carinhosa’.

Foi uma experiência que o deixou muito

emocionado. E ele sentira que as palavras

daquela senhora desconhecida, eram as palavras

de Deus que estava agradecendo profundamente

por estar ajudando a igreja.

E foi a primeira vez que ele falava sobre

Deus. Quando ele me contou sobre essa

experiência vivida, senti que uma áurea enorme

envolvia seu corpo.

O mestre da igreja, o reverendo Katsuhiko

Otsubo também participava muito nos serviços

da obra. E estando próximo e no mesmo

ambiente com uma pessoa tão importante,

deixava meu marido muito emocionado.

E quando eu menos esperava, ele já estava

frequentando naturalmente a igreja. Sem que eu

perceba, dentro do coração dele começava a

brotar a semente da fé.

Em abril do ano de 2007, fui com meu

marido até a Loja do senhor Kawamura, que

trabalhava com impressões. O senhor Kawamura

era um antigo amigo nosso, e já fazia 10 anos

que não nos encontrávamos.

Page 51: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Ele convidou-nos para tomar um café em

sua casa, que ficava nos fundos da loja e

permanecemos ai durante algumas horas

conversando sobre aqueles momentos saudosos.

E dentro desta conversa falamos que hoje

estamos praticando a fé na religião da Konkokyo.

E como a conversa estava muito empolgante,

conversamos também sobre os ensinamentos da

religião, da forma como salvamos os nossos

corações e entre outros demais assuntos.

Então, o sr. Kawamura falou ao meu

marido:

__ Jamais imaginaria você praticando fé.

Eu gosto muito de ler livros. E leio muito livros

da religião cristã, e como também, converso

muito com fiéis desta religião. Mas de vez em

quando sinto algumas dúvidas, porque há uma

diferença naquilo que está escrito no livro

comparada com as conversas dessas pessoas.

Mas hoje, ouvindo a conversa de vocês, ouvi pela

primeira essa forma de praticar a fé e por essa

razão a visão que tinha sobre sua religião mudou

muito.

O sr. Kawamura e meu marido já se

conheciam desde a idade quando eram jovens e

ele sabia das tramas e confusões que meu marido

cometera nessa vida. Ele chama-o de “Hatchan”

e disse:

Page 52: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

__ Hatchan, você carrega em suas costas, a

bandeira da Konkokyo. Não se esqueça dessa

responsabilidade. Você já me judiou muito, meu

amigo. E você, Kyouko, também sofreu muito,

não é? - disse com um sorriso no rosto e ao

mesmo tempo olhando com ternura em minha

direção.

E respondi:

__ Sim. Caso não tivesse praticado a fé em

Deus já estaríamos separados.

Como dito anteriormente, fazia 10 anos

que não nos encontrávamos. Nesse reencontro

saudoso, o Sr. Kawamura se surpreendeu muito

com a fisionomia e comportamento de meu

marido e disse:

__ É incrível quando um ser humano

realmente muda! - mas quem se surpreendeu

com tudo isso fora propriamente a minha pessoa.

Graças à prática da fé em Deus, a

transformação e renovação que consegui realizar

em meu coração, fez com que o meu “destino” e

até o meu “temperamento” mudasse.

É lógico que ainda de vez em quando

fazemos umas briguinhas, mas hoje, ajudamos

muito na igreja, frequentamos as missas e até

vamos juntos em outras igrejas. Se compararmos

esse presente momento, com aquele nosso

Page 53: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

passado, o que estamos vivendo hoje é

praticamente um mundo cheio de sonhos.

■ A Mudança da Família de Meu Filho

Meu único filho, Yuichi, que havia largado

para que ele pudesse viver juntamente com sua

avó, já estava casado e tinha um filho. Os três

estavam vivendo muito bem na cidade de

Nagoya.

Num certo dia, a esposa dele com algum

problema nas relações pessoas, telefonara para

mim pedindo por conselhos. Ouvi-a com muita

atenção e disse:

__ Deve ser difícil, não? Eu te compreendo

perfeitamente. Também passei por isso. Mesmo

não indo a igreja, Deus esta sempre próximo ao

seu lado. Se o céu é o nosso PAI, a terra é a nossa

MÃE. ELE estará sempre te protegendo. Tudo

que ELE deseja é que você seja feliz. Estarei

sempre orando por você. -- falava como se estive

acariciando suas costas. Então ela disse:

__ Eu tenho uma mãe que me ouvi com

muito amor e carinho e que esta sempre orando

por mim, eu sou uma pessoa muito feliz. -- com

tom de choro, ela parecia estar mais aliviada.

Page 54: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

Nessa conversa que tive com ela, tive a

oportunidade de transmiti-la a experiência, o

caminho que percorri até chegar o estado

espiritual que me encontro no presente

momento.

__ Minha filha, lembre-se de algo: Nunca

culpe alguém, por mais errada que ela estiver. O

mais importante é você estar sempre buscando a

mudança. O coração nunca cresce sem um

treinamento próprio. Talvez isso que direi agora,

seja algo insignificante ou chato para você, mas

tente compreender a fundo que, essa pessoa que

tanto te incomoda, é um espelho que reflete o

estado de seu coração. E se o seu coração mudar

e crescer com certeza tudo que esta em sua volta

também mudará.

E transmitindo isso, sentia que o coração

dela estava mais confortável e aliviada. Depois

disso, ela passou a focar mais em seu coração,

não mais culpando as pessoas quando enfrentava

problemas com relações pessoais. Ela aprendeu

que qualquer tipo de problema ou sofrimento que

viesse acontecer, seria uma adversidade que

Deus estaria usando para que ela entendesse

qual a parte do coração a ser renovada.

Por graças a Deus, o problema que ela

estava vivendo acabara desaparecendo

naturalmente. E hoje ela até transmite para

Page 55: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

suas amigas o quanto seu coração mudou graças

ao ensinamento da Konkokyo.

Num outro dia, ela me escreveu uma carta.

E nela estava escrita:

“Querida mãe

Entramos na estação da primavera e as

flores com seu aroma e cores enfeitam toda

paisagem.

Até hoje sempre quando conversava com a

senhora, devido aos meus problemas, os assuntos

eram muito tristonhos, mas parece que o sol da

primavera também veio a brilhar em cima de

nossa família.

Hoje, meu marido estava de folga e eu

havia saído mais cedo de meu serviço e levamos o

nosso filho Renji para visitarmos a igreja.

Oramos para os nossos antepassados e pedimos

também para que Renji fosse aprovado no exame

do ginasial.

Estou orando muito para que Renji possa

aprender aos poucos a importância de nossos

ancestrais e também a gratidão que devemos à

Deus.

Juntamente com essa carta envio também

a foto que tiramos na igreja. Renji segura em

suas mãos o ‘os grãos de arroz sagrado’ que a

senhora deu a ele. No dia do exame, eu misturei

Page 56: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

os grãos de arroz sagrado juntamente com sua

refeição.

E graças a oração de todos ele conseguiu

passar no exame. Quando soube da aprovação,

fiquei muito feliz e pensei dentro de mim que o

‘grão de arroz sagrado’ também surtiu grande

efeito.

Não havia contado para ninguém sobre o

‘grão de arroz sagrado’, mas hoje contei tudo

para Renji.

Renji recebeu essa graça porque o pai,

Tome e a mãe estão sempre orando por nós.

Diante de toda essa graça pude perceber o

quanto sou feliz por Deus ter me dado essa

família.

Espero que nós possamos continuar

aprendendo muito com vocês e que possamos

viver essa vida com muita vitalidade.

Pai Tome e Mae Kyoko, muito obrigada e

fiquem com Deus.”

Se hoje, não tivesse a fé em Deus, minha

vida seria um desastre. Divórcio, afastamento do

filho ou fim do relacionamento mãe e filho,

arruinamento familiar, com certeza estaria

vivendo esse tipo de “destino”.

Page 57: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

E dentro de um incompensável amor de

Deus, o meu “destino” se transformou no que

hoje estou vivendo.

Certo dia, quando estive conversando com

meu filho, o Yuichi, e resolvi perguntar-lhe pela

primeira vez, o que ele sentia por ser filho de

uma mãe portadora de deficiência física. E ele

respondeu:

__ Eu sempre sentia um profundo respeito

pela senhora. Sentia muito orgulho de ser filho

de uma mãe que apesar de não ter um dos

braços, vivia sempre com muita vitalidade.

Ouvindo isso, não pude mais conter as

lágrimas e comecei a chorar muito. Naquela

época pensava em até me suicidar de tanto

sofrer. Percebi que enquanto passava por todos

aqueles sofrimentos Deus estava sempre

protegendo, Yuichi, sem que eu saiba.

Acredito hoje que recebemos tantas graças,

que os nossos olhos não conseguem ir até o

alcance dessas graças.

■ A Mudança de Meus amigos

Aproximadamente há 3 anos atrás, uma

amiga me procurou e disse:

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O Coração da Mão Direita

__ Tenho algo que quero conversar

somente com você. - dizia ela no telefone.

Ela era uma pessoa que sofreu muitos

infortúnios na vida e ela praticava a fé em uma

tal religião, mas devido há alguns problemas ela

se afastou dessa religião. E estava sofrendo com

depressão.

Ela começou visitar minha casa e com isso

passamos a conversar sobre fé.

Ouvindo a minha conversa, ela sentiu que

a religião que frequentava era diferente e estava

gostando.

Certo dia, ela me telefonou e aparentava

estar muito preocupada. Ela estava internada

devido a uma doença, que era o câncer, e a

preocupação e a apreensão com isso a deixava

sofrendo muito.

Quando soube desta situação, falei para

ela:

__ Não se preocupe, minha amiga. Deus

apenas esta usando essa doença porque ELE

deseja algo muito grande para você. Não se

preocupa, Deus ajudará você e eu estarei orando

por ti.

Alguns dias depois, fui a hospital visitá-la.

Parece que a cirurgia sucedeu com sucesso e ela

estava muito bem. O médico havia me dito que

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O Coração da Mão Direita

caso ela descobrisse um pouco mais atrasado

essa doença, hoje ela não estaria viva.

Depois que ela recebeu alta do hospital, ela

foi em minha casa me visitar e disse:

__ Já agradeci de coração ao médico, mas

sinto que ainda não é o suficiente. O que possa

fazer para agradecer?

Eu a respondi rapidamente:

__ Deus.

E ela, indo para a sala onde estava

enfeitado um pequeno altar para orações, ela se

ajoelhou e começou a orar e agradecer a Deus

com muita devoção.

E depois conversando sobre vários

assuntos, ela me disse:

__ Quando estou com você sinto-me muito

confortável, como se estivesse no meio de muito

algodão. E quando visito a sua casa, sinto

sempre minha alma em plena tranquilidade.

Eu havia dito a ela a personalidade, o

caráter de minha pessoa antes de conhecer a

Konkokyo. Que eu me parecia como uma diaba,

com um coração muito mal, que era muito

ríspida com as pessoas. Mas a transformação que

ocorrem em mim foi tão grande que ela não

acreditou nessas minhas palavras.

Page 60: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

E continuei dizendo:

__ Sou uma pessoa muito frágil, mas Deus

é forte e seu Poder é algo incalculável e

imaginável.

Graças a essa conversa agradável, ela

começou a sentir a presença de Deus em seu

coração.

■ Yoshimi chan

Há exatos 60 anos atrás, o meu destino foi

demarcada por um terrível acidente na linha

ferroviária.

Naquele dia, a pessoa que me chamou para

passear nos fundos de minha casa, onde passava

a linha ferroviária, foi Yoshimi, uma garota que

tinha 7 anos a mais que minha idade.

Caso ela não me chamasse para passear,

talvez seria uma pessoa saudável, sem problema

nenhum como qualquer outra pessoa. Mas, o

“destino” me fez carregar nas minhas costas o

peso de ser uma pessoa portadora de deficiência

física. E, ela também, sentindo-se culpada por

essa situação, carregou em si esse pesado

remorso.

Ela sempre dizia com muita lamentação:

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O Coração da Mão Direita

__ Kyokozinha, desculpe. Se naquele dia eu

não te chamasse para fora... se eu não te

chamasse.

Depois daquele acidente, Yoshimi sempre

me convidava para refeições com seus familiares,

até almoçávamos em restaurantes. Me levava

para assistir filmes no cinema, sempre estava ao

meu lado me ajudando para que eu não sentisse

tristeza com a perda do meu braço.

Depois, ela se casou e mudou para o Norte

do Japão, em Hokkaido. Mas em 2000 ela

mudou-se novamente, vindo morar na cidade

vizinha onde eu morava.

Quando fiquei sabendo disso, fui logo ao

encontro dela e ela se surpreendeu muito, como

também ficou muito contente. Fazia 40 anos que

não nos encontrávamos.

Havia levado um buque de flores para

presenteá-la e ela se contentou mais ainda.

Eu também estava muito emocionada e

não contendo tanta emoção lhe disse:

__ Caso fosse uma mulher infeliz devido a

essa minha deficiência, com certeza não viria

aqui para te ver. Mas hoje estou muito feliz, e

queria transmitir a você um pouco dessa

felicidade, por isso estou aqui. -- derrubava

lágrimas de tanta emoção.

Page 62: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

__ Que bom! Que maravilha! Vendo sua

alegria até meu coração se salvou! -- disse

Yoshimi que também não contendo as lágrimas

me abraçou com muita firmeza.

A matriz da Konkokyo, publicou um livreto

que relata a história de minha vida e foi

entregue de lembrança aos fiéis durante uma

missa e presenteei-a com uma e disse:

__ Por favor leia este livreto, assim saberá

o quanto sou feliz hoje.

Deus trabalhou em cima de mim, para que

encontrasse com Yoshimi e fizesse com que ela se

libertasse do peso que carregava daquele

remorso trágico.

■ Amado Pelo Destino, Vivificado pelo

Destino

Antes de conhecer a Konkokyo minha vida

era cheia de tormentos que achava não ter fim.

Achava ser um “destino” amaldiçoado e quando

mais estrebuchava contra ele, me afundava num

abismo tenebroso sem fim.

Mas graças à iluminação da fé em Deus,

desse caminho iluminado da Konkokyo, consegui

aceitar de coração esse meu “destino” e hoje

Page 63: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

compreendo que sou uma pessoa amada pelo

meu próprio “destino”.

Com a transformação de meu coração tudo

aquilo que está ao meu redor também se

transformou.

Achava que a existência de Deus, era algo

inalcançável, estando tão distante que Sua

presença era ignorada pelos meus olhos tapados

pela arrogância e egoísmo.

No ensinamento da Konkokyo temos:

“Deus é o Pai de toda existência, praticar a

fé Nele é como ter piedade filial”.

E compreendi a fundo que Deus é o nosso

Pai. E sendo um Pai para nós, podemos até ficar

mimados a Ele, podemos deitar em Seu colo como

se estivéssemos nos entregando tudo a Ele.

Todos nós estamos diariamente e a todo

momento recebendo infinitas bênçãos e graças

Dele, portanto a vida de cada um nós é movida

pelas Suas Forças e não pela nossa.

O coração para mim era como se fosse um

instrumento para odiar, bravejar, detestar as

pessoas. Hoje sei que o coração não é um

instrumento e sim, um sentimento para ser

usado com muita gratidão e também para

agradecer e manifestar a alegria de Deus.

Page 64: O Coração da Mão Direita

O Coração da Mão Direita

O caminho da fé da Konkokyo, fez com que

iluminasse todo o meu passado, vivificando o

presente e transformando o meu futuro. Hoje

vivo somente de agradecimentos a Deus.

Sou uma pessoa “Amada pelo Destino”.

Sou uma pessoa “Vivificada pelo Destino”.

E acredito que esse meu “destino” ainda

me encaminhará para a felicidade verdadeira. A

minha vida está nas mãos desse “destino”, que é

controlada pelo nosso Deus Pai e nessa minha

presente vida, cumprirei minha incumbência a

favor Dele.

Peço a Deus com muito amor para que

continue iluminando a minha vida para que

possa compreender a fundo, o verdadeiro sentido

de minha vida nesse mundo.

Epílogo

Praticando a fé da Konkokyo aprendi pela

primeira vez o sentimento dos pais. Arrependo-

me muito, por ter culpado por muito tempo, a

minha mãe por causa da minha deficiência física.

Sempre que ia ao túmulo onde ela esta

enterrada, me desculpava por esse ato cometido.

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O Coração da Mão Direita

Mas mesmo fazendo isso por longuíssimo

tempo, meu coração não se sentia satisfeita. E

sentia que a alma de minha mãe não se salvaria

somente com isso.

Porém, certo dia, quando orava para sua

alma.

“Kyokozinha, tudo bem, já entendi você. Te

perdou.”

Senti ouvir sua voz, e de repente uma

emoção enorme tomou conta de meu coração e

derrubei lágrimas. Senti que ela me perdoou e

que também sua alma estava muito bem salva

no outro mundo.

Mas havia ainda mais uma alma de uma

pessoa que necessitava de muita ajuda e

salvação. A existência dele estava praticamente

desaparecida de minha mente. Mas na igreja

muito se ensinava:

“Honrar os pais é a base de toda prática de

fé e até mesmo precede-a”

Apesar das inúmeras graças recebidas,

havia um canto de meu coração que estava vazia

e que não conseguia preenchê-lo porque achava

doloroso. E quando comecei a orar para a alma

de meu pai, senti em meu coração que ele foi

usado por Deus, para fazer o papel de vilão em

minha vida.

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O Coração da Mão Direita

Sentindo isso, aquele espaço vazio que, na

verdade, mais parecia um ‘Muro de Berlin’, que

me incomodava muito, começou a se desmoronar.

Sentia que minha oração estava surtindo efeito.

Hoje penso diferente. Caso meu pai fosse

uma pessoa boa, que não criasse problemas, será

que estaria viva até hoje? Será que superaria

todas as barreiras que passei? Se minha família

fosse comum como qualquer outra família, será

que meus irmãos teriam sucesso como

empresários?

Quando penso nisso, percebo o quanto foi

importante à existência de meu pai em minha

vida, apesar das incontáveis tristezas que ele

causara.

Consegui perdoar o meu pai e até

agradecê-lo por tudo. E finalmente o espaço vazio

que me incomodava por muito tempo, foi

preenchido, graças ao amor de Deus.

Quando as pessoas nascem nesse mundo,

não é possível escolher seus pais, e hoje sei o

porquê Deus escolheu para mim a família dos

Matsuo. E dentro de minha vivência compreendi

profundamente o pedido que Deus tem para a

família dos Matsuo.

Graças ao encontro que tive com a religião

da Konko kyo, hoje estou salva, minha família

também esta salva e até as pessoas que estão ao

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O Coração da Mão Direita

meu redor estão se salvando. Não só as pessoas,

como também as almas das pessoas que

deixaram esse mundo.

O caminho da Konkokyo transforma o

passado, presente e o futuro das pessoas. Hoje,

desejo e peço a Deus para que todas as pessoas

possam se salvar através deste caminho

verdadeiro.

E por fim, agradeço aos mestres das igrejas

que colaboraram muito na publicação deste

livreto.

Muito obrigada

31 de julho de 2012

Kyoko Hatano