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O desempenho dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental em situações
multiplicativas
Jéssica Maria Oliveira de Luna1
GD 1 – Educação Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar o resultado de um teste diagnóstico voltado para o campo
multiplicativo, aplicado em alunos do 4º ano de escolaridade. O presente trabalho faz parte de um projeto de
pesquisa em desenvolvimento no mestrado acadêmico que visa a elaborar uma formação continuada de
professores tendo como base a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, com a finalidade de promover
estratégias docentes que venham tornar o processo de aprendizagem mais acessível e motivador aos
estudantes. A metodologia adotada consistiu na aplicação de um teste diagnóstico em 43 estudantes do 4º ano
do Ensino Fundamental, de uma escola pública da baixada fluminense, e a abordagem foi de caráter
qualitativo. Os dados coletados e analisados tornam-se importantes para responder a seguinte questão
levantada na pesquisa: “Quais as competências que os estudantes dos 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental
dispõem para resolver problemas pertencentes ao campo conceitual multiplicativo?”. A fundamentação
teórica está em torno do estudo da Teoria dos Campos Conceituais, que afirma que para entender a
construção de um determinado conhecimento, é necessário usufruir das suas características específicas,
analisando o conceito de seu domínio. Para Vergnaud (1990), é uma teoria cognitivista que está embasada no
estudo do desenvolvimento e da aprendizagem de competências complexas. Os resultados mostraram que os
discentes desvendaram em suas resoluções, estratégias usadas nos seus cotidianos ao usarem variáveis
pictóricas que foram empregadas simultaneamente com as variáveis numéricas, possibilitando o
desdobramento das situações oferecidas e que facilitarão o aprendizado de situações de proporção simples –
muitos para muitos.
Palavras-chave: teoria dos campos conceituais; campo multiplicativo; variáveis.
1. Introdução
Este trabalho tem como objetivo analisar o resultado de um teste diagnóstico voltado
para o campo multiplicativo aplicado em alunos de 4º ano de escolaridade. Foi
impulsionado pela vivência dentro da escola em especial, percebendo os baixos
rendimentos dos alunos em Matemática e a angústia dos professores em relação ao ensino
da ciência. Além disso, vale destacar o baixo desempenho no último Ideb (2013) que é
calculado por meio das avaliações da Prova Brasil e do fluxo escolar (taxa de aprovação).
O município obteve 4,3 e não alcançou a meta estabelecida, que era de 4,4. Vale salientar
os anos anteriores: 4,2 (2011 – meta 4,1); 3,7 (2009 – meta 3,7); 3,6 (2007 – meta 3,4).
Verificamos que houve um pequeno progresso, porém é de suma importância
problematizar para entender o porquê do rendimento desses alunos não alcançar o objetivo
no último processo.
Essas questões possivelmente envolvem fatores culturais e afetivos que vão ao
encontro dos aspectos cognitivos. Daí, a importância de diagnosticar e investigar o
professor no tocante às suas crenças e concepções sobre o ensino das estruturas
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected], orientadora: Prof .ª Dr.ª Gabriela dos
Santos Barbosa
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multiplicativas e o seu ensino, estabelecendo um diálogo entre esse profissional e a
aprendizagem de seu aluno, que dará origem às estratégias e construções de possibilidades
para mediar o campo conceitual multiplicativo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática – PCNs – para o Ensino
Fundamental (1997), na seção Números e Sistema de Numeração, descrevem o possível
raciocínio do aluno, possíveis situações encontradas pelos professores, como um
determinado conceito pode ser trabalhado de variadas formas e como pode reaproveitá-los,
evidenciando sua relação com a Teoria dos Campos Conceituais.
Nesses pressupostos legais, cita-se que os números naturais tem sua utilidade
percebida pelas crianças antes mesmo de chegarem à escola através do conhecimento de
seus números de telefones, de suas casas, dos ônibus, idade, preço, número de calçado.
Desse modo, as atividades de leitura, escrita, comparação e ordenação de notações
numéricas devem tomar como ponto de partida os números que a criança conhece. O
professor propiciará essa oportunidade ao aluno de expor suas hipóteses sobre números e
escritas numéricas, pois elas constituem subsídios para a organização de novas atividades
(p. 65-66).
No trabalho de Magina et al (2013), apresentando uma análise comparativa entre os
prognósticos das professoras e o desempenho dos estudantes em relação a 13 situações do
Campo Conceitual Estruturas Multiplicativas, verificou que as possíveis dificuldades dos
estudantes na resolução das 13 situações propostas abrange quatro categorias, a saber: (I)
dificuldade com a tabuada e erro na operação; (II) leitura e interpretação; (III) situações
pouco ou nunca exploradas em sala de aula; e (IV) erro na escolha a operação adequada. A
reflexão partiu do fato das Estruturas Multiplicativas serem trabalhadas em sala de aula,
geralmente, no final do 3º ano do Ensino Fundamental, momento em que, normalmente, se
exploram situações contemplando as continuidades entre o raciocínio aditivo e
multiplicativo, nas quais a operação de multiplicação é vista como um procedimento mais
rápido e econômico fazer adições com parcelas repetidas.
Essas categorias foram encontradas durante a análise dos problemas resolvidos
pelos estudantes. Daí, a relevância de aplicar um teste diagnóstico com situações
problemas para identificação desses itens citados por Magina.
Nos PCN de Matemática (1997) consta:
O ponto de partida da atividade matemática não é a definição, mas o problema; o
problema não é um exercício em que o aluno aplica, de forma quase mecânica,
uma fórmula ou um processo operatório; aproximações sucessivas ao conceito
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são construídas para resolver certo tipo de problema; num outro momento, o
aluno utiliza o que aprendeu para resolver outros; o aluno não constrói um
conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que
tomam sentido num campo de problemas; a resolução de problemas não é uma
atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem,
mas uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se
pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas (1997, p. 43).
Verificou-se que os alunos possuem diversas estratégias que levam à solução
das situações dadas, mas que ainda não é o suficiente para reparar suas dificuldades
presentes em problemas de proporção simples – muitos para muitos. A ausência do
raciocínio multiplicativo pode se tornar um obstáculo para a compreensão de outras
questões que envolvam o campo multiplicativo.
2. Um panorama da aprendizagem da Matemática à luz dos campos conceituais
O quadro teórico faz referência à Teoria dos Campos Conceituais (TCC),
desenvolvida pelo psicólogo Gerárd Vergnaud, que a define da seguinte forma:
A teoria dos campos conceituais é uma teoria cognitivista que visa fornecer um
quadro coerente e alguns princípios de base para o estudo do desenvolvimento e
da aprendizagem de competências complexas, notadamente das que se revelam
das ciências e das técnicas. (VERGNAUD, 1990 Apud BARBOSA, 2008)
Para Vergnaud (2009), a Matemática dos estudantes diferencia de seus professores,
bem como as representações entre os professores variam bastante, de acordo com suas
visões da Matemática e da sociedade. Os alunos desenvolvem suas competências e atitudes
ao longo do tempo, através de suas experiências com situações diversas, seja dentro ou fora
da escola. Em geral, quando são submetidos a uma nova situação, eles usam o
conhecimento desenvolvido naquelas situações e tentam adaptá-los às novas. O
conhecimento acontece por meio de situações e problemas familiares aos estudantes, o que
implica dizer que a origem do conhecimento é local.
Vergnaud (VERGNAUD, 2013; em entrevista à Revista Nova Escola Disponível
em: <http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/todos-perdem-quando-nao-
usamos-pesquisa-pratica-427238.shtml>. Acesso em: 14 Ago. 2015) enfatiza que é função
do professor identificar o que o aluno traz dessas experiências: aquelas que conseguem
expor explicitamente e aquelas que são usadas corretamente, porém não desenvolvidas,
ainda implícitas. Essa complexidade baseia-se no fato de que os conceitos matemáticos
traçam seus sentidos a partir de uma variedade de situações, e que cada situação
normalmente não pode ser analisada com a ajuda de um único conceito, mas, ao contrário,
ela requer vários deles.
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A Teoria dos Campos Conceituais é, para Vergnaud (2009), um conjunto informal e
heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas, conteúdos e processos
de aquisição. O domínio de um campo conceitual não ocorre em dois meses, nem mesmo
em alguns anos. Ao contrário, novos problemas e novas propriedades devem ser estudados
ao longo de vários anos para que o aluno domine em sua totalidade. Acrescenta que um
campo conceitual é um conjunto de situações, cujo domínio progressivo exige uma
variedade de conceitos, de procedimentos e de representações simbólicas em estreita
conexão. Nessa perspectiva, a construção de um conceito envolve um trio chamado SIR: O
S é um conjunto de situações, que dá significado ao objeto em questão; o I é um conjunto
de invariantes, que trata as propriedades e procedimentos necessários para definir esse
objeto; e o R um conjunto de representações simbólicas, as quais permitem relacionar o
significado desse objeto com as suas propriedades.
Vergnaud (2009) enfatiza ainda que é a análise das tarefas matemáticas e o estudo
da conduta do aluno, quando confrontado com essas tarefas, que permite ao professor
analisar a competência daquele. Esta por sua vez, pode ser avaliada por três aspectos:
1. Análise do acerto e do erro, sendo considerado competente aquele que acerta;
2. Análise do tipo de estratégia utilizada, podendo ser alguém mais competente que
outro, porque sua resolução foi mais econômica ou mais rápida, ou ainda, mais elegante;
3. Análise da capacidade de escolher o melhor método para resolver um problema
dentro de uma situação popular.
Quanto aos acertos, é interessante que o professor analise os meios que o aluno
utilizou para realizar a tarefa solicitada.
Quanto aos erros, há uma necessidade relevante em analisá-los, pois somente esta
análise permitirá que o professor conheça as dificuldades enfrentadas por seus alunos e os
meios de remediar a situação.
As concepções prévias do aluno têm sido desprezadas em relação às concepções
científicas.
No caso da Matemática, é muito claro que as crianças têm necessidade de
assimilar aquilo que pedimos que elas façam. Por isso, temos de propor situações
nas quais a soma faça sentido, a subtração faça sentido - e isso vale para a
escolha dos dados, não só para as contas. E vale também para o professor. Se ele
vê os alunos errarem sem entender o percurso que estão trilhando, todo o
trabalho se perde, não funciona.
(VERGNAUD, 2013; em entrevista à Revista Nova Escola. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/todos-perdem-
quando-nao-usamos-pesquisa-pratica-427238.shtml>. Acesso em: 14 Ago. 2015)
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Em sua teoria, Vergnaud divide em Campo das estruturas aditivas e Campo das
estruturas multiplicativas. Aqui, neste trabalho, discutiremos o campo das estruturas
multiplicativas que vão além da ideia de repetição de parcelas repetidas, funcionando como
complemento da adição. Também não se reduz ao raciocínio proporcional, frações ou
razões, algoritmos da multiplicação e da divisão. Para Vergnaud (1990), nas estruturas
multiplicativas ocorre a simultaneidade das situações que abarcam uma ou várias
multiplicações e/ou divisões, inclusive os conceitos e teoremas necessários para
desenvolvê-las.
Com isso, entende-se que o ensino das estruturas multiplicativas é um processo longo
justamente por abranger uma série de conceitos, o que coincide com a análise realizada no
estudo de Magina et al (2013), exposto na introdução deste artigo.
A classificação dos problemas do campo multiplicativo é estabelecida por Vergnaud
(1988) em três tipos:
1) Isomorfismo de medidas - Compreende uma proporção simples e direta entre duas
grandezas x e y. Exemplo: “Sérgio comprou 3 barras de chocolate a R$ 3,50
cada. Quanto ele deve pagar?”
Faz parte desse grupo os problemas que envolvem divisão por cota 2, divisão por
partição3 e o cálculo da quarta proporcional 4.
2) Produtos de medidas - Envolve uma composição cartesiana de duas grandezas x
e y dentro de uma terceira z. Exemplo: problemas referentes a área, volume,
produto cartesiano e outros conceitos físicos.
Os problemas de combinatória estão inclusos nesse grupo.
3) Proporções múltiplas. – Abarca uma grandeza x que é proporcional a duas
grandezas y e z. Exemplo: Problemas de regra de três composta.
Magina, Santos e Merlini (2010), com base em Vergnaud (1983, 1988, 1994),
elaboraram um esquema que são apresentados conforme o quadro a seguir:
2 Divisão por quotas é dada a quantidade inicial que deve ser dividida em quotas preestabelecidas, devendo-
se encontrar o número de vezes em que esta quantidade é dividida. 3 Quando é dada uma quantidade inicial e o número de vezes em que esta quantidade deve ser
distribuída,devendo-se encontrar o tamanho de cada parte. 4 Nesse problema, três termos são conhecidos e um termo é desconhecido.
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Figura 1 – Esquema do Campo Conceitual Multiplicativo
Fonte – MAGINA et al, 2010, p. 6
O esquema mostra que os problemas multiplicativos são classificados em duas
categorias: relações quaternárias e relações ternárias, nas quais cada uma delas possuem
dois eixos. Trataremos neste estudo, especificamente, das relações quaternárias compostas
pelo eixo de proporção simples, dividido nas classes um para muitos e muitos para muitos,
e ternárias pelo eixo de produto de medida na classe de configuração retangular.
Ao falarmos de relações ternárias, dois elementos são enunciados e pede-se o
terceiro. Se tratar de relações quaternárias, identificam-se três elementos enunciados e
pede-se o quarto.
Alguns destaques a considerar, conforme Magina et al (2010):
EIXO DA PROPORÇÃO SIMPLES - Uma simples proporção direta com variáveis
diferentes. Exemplos: objeto e pessoa, tempo e distância, etc. Esse eixo divide-se em duas
classes de situações definidas como:
Correspondência um para muitos – A relação de variáveis é explícita. Exemplo:
“Numa caixa existem 5 bombons. Quantos bombons existirão em 3 caixas?”
Correspondência muitos para muitos – Quando não for possível obter a relação um
para muitos. Exemplo: “Se comprar 3 pipas leva 5 balas, quantas balas ganharei se
comprar 6 pipas?’
EIXO PRODUTO DE MEDIDAS – Envolve situações de configuração retangular e
de análise combinatória.
Configuração retangular – São aquelas situações em que uma variável encontra-se
em eixo vertical e a outra no eixo horizontal, de forma retangular. Exemplo: “Qual a
área de um terreno retangular se sua largura é de 20 m e seu comprimento é de 40
m?”
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3. Metodologia
O estudo apoiou-se nos princípios de pesquisa descritiva, nos quais o pesquisador
tem por escopo conhecer e interpretar fenômenos ligados à realidade sem nela interferir
para modificá-la (RUDIO, 1978 apud Magina et al, 2010). Dessarte, o presente artigo não
só investiga o desempenho dos estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental na
resolução de problemas multiplicativos, como também tenciona a descrição e categorias
das estratégias empregadas por eles.
Para esse fim, foi aplicado um teste diagnóstico em 43 estudantes, do 4º ano, do
Ensino Fundamental, de uma escola pública localizada na Baixada Fluminense, no Rio de
Janeiro. O teste foi composto de 5 questões que contemplavam situações do Campo
Conceitual Multiplicativo. A aplicação foi conduzida pela professora de cada turma e cada
aluno resolveu as questões de maneira individual.
Para efeito desse artigo analisaremos a ação e as estratégias adotadas pelos
estudantes nas 5 questões. Quatro questões envolvem o eixo da propriedade simples, sendo
que duas delas pertencem a classe “um para muitos”, outras duas pertencem a classe
“muitos para muitos”, finalizando com uma questão do eixo do produto de medidas cuja
classe é “configuração retangular”.
Na próxima seção, apresentaremos e analisaremos o desempenho no teste
diagnóstico.
3.1. Desempenho Geral no teste diagnóstico
A tabela abaixo mostra a taxa de acerto, em porcentagem, do grupo para cada
questão do teste.
Tabela 1: percentual de acertos em relação ao total de acertos por questão.
Questões Acertos
Q 1 – Proporção simples, um para muitos. 90,7
Q 2- Proporção simples, muitos para
muitos.*
25,6
Q 3 - Proporção simples, um para muitos. 65,2
Q 4 - Proporção simples, muitos para
muitos.
79,0
Q 5 – Produto de medidas, Configuração
retangular
58,2
* envolve mais de uma operação.
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Observando a tabela com os percentuais do desempenho no teste diagnóstico,
podemos inferir que os alunos possuem dificuldades em questões de proporção simples –
muitos para muitos que envolvem mais de uma operação. Entendemos que isso se deve ao
fato de não conseguirem atribuir desdobramentos dentro das questões que exigem mais de
um raciocínio multiplicativo.
Já os conhecimentos considerados em um nível de domínio razoável são as questões
Q3, Q5 cujos percentuais que ficaram entre 58% e 66%. Nas questões Q4 e Q1, o
percentual de acerto foi superior a 70%, assim, compreendemos que os conceitos neles
envolvidos já haviam sido apropriados pelos alunos. Agrupando as questões e formando
bloco de acordo com suas respectivas classificações, obtemos o gráfico:
Gráfico 1: Percentual de acertos por blocos de questões.
Os dados apontam que as questões de proporção simples – muitos para muitos são as
que apresentam o baixo desempenho dos alunos. O índice geral de percentual de acertos
foi de 28% sinalizando a necessidade de intervenção por parte do professor.
3.2. Análise qualitativa
Mediante os dados apresentados, adentremos nos atributos oriundos das estratégias
de resolução dos alunos. As estratégias foram agrupadas de acordo com a complexidade
dos raciocínios desenvolvidos pelos estudantes. Os grupos englobam tanto soluções que
levaram para o erro quanto para o acerto.
Foram indicados três conjuntos de estratégia, alicerçados no estudo de Magina et al
(2010). Neste trabalho, apontamos cada um deles, descrevendo-os. Após a observação,
contemplaremos as variáveis escolhidas e a disposição lógica intrínseca nos estudantes.
41%
28%
31%
Proporção Simples -Um para muitos.(Q1 e Q3)
Proporção Simples -Muitos para muitos.(Q2 e Q4)
Produto de medidas- Configuraçãoretangular (Q5)
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Estratégia do Grupo 1 – Pensamento aditivo
A estratégia desenvolvida nesse grupo é aquela em que o estudante utiliza os dados
do problema dentro de uma adição. A solução do aluno não se encontra no prisma da
estrutura multiplicativa, incidindo no insucesso.
Exemplos de estratégias de pensamento aditivo
Questão 2 – sujeito P, 4º ano Questão 5 – sujeito S, 4º ano
Estratégia do Grupo 2 – Transição
Nas estratégias do grupo 2, os alunos se mostram mais sofisticados em suas
resoluções. Identificaram-se respostas que abordavam agrupamentos de partes até
chegar ao todo. Essa ação pode levar ao erro ou ao acerto, dependendo da forma e da
interpretação desenvolvida pelos estudantes. Introduzimos também nesse conjunto as
estratégias que, apesar de pertencerem ao campo multiplicativo, foram empregadas de
maneira indevida através da operação inversa e acabaram impelindo ao erro.
Dividiremos em dois subgrupos: subgrupo correto e subgrupo incorreto.
Exemplos de estratégias de pensamento transitivo, subgrupo incorreto.
Questão 4 – sujeito M, 4º ano Questão 3 – sujeito P, 4º ano
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Exemplos de estratégias de pensamento transitivo, subgrupo correto.
Questão 3 – sujeito MS, 4º ano Questão 4 – sujeito C, 4º ano
Estratégia do Grupo 3 – Pensamento multiplicativo
Neste grupo, os estudantes apoderam-se de estratégias eficientes e notoriamente
multiplicativas. Aqui encontramos resoluções corretas que atendem aos problemas; a
multiplicação é utilizada como complemento.
Questão 1 – sujeito A, 4º ano Questão 3 – sujeito AC, 4º ano
Questão 5 – sujeito ME, 4º ano Questão 2 – sujeito R, 4º ano
Notamos que as variáveis pictóricas predominam nas resoluções dos alunos do 4º
ano e mais levam ao sucesso do que ao erro. Além disso, é relevante salientar que a
maioria das resoluções se apresentou de forma mista, ou seja, com variáveis pictóricas e
numéricas simultaneamente, o que indica que os estudantes intencionaram reforçar seu
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raciocínio, permitindo supor que passaram por momentos de insegurança durante o
pensamento cognitivo.
A análise das estratégias, desenvolvidas através das variáveis pictóricas e
numéricas, presume que esses alunos estão preparados para trabalhar situações de
divisão, assim como solucionar as questões referentes ao campo multiplicativo, eixo das
proporções simples – muitos para muitos.
4. Considerações finais
O objetivo do presente artigo foi analisar o resultado de um teste diagnóstico
voltado para o campo multiplicativo, aplicado em alunos de 4º ano de escolaridade. Os
dados quantitativos e a análise qualitativa atestam a concepção, oriunda dos estudos de
Vergnaud (2009), que a aprendizagem é local, pois os discentes desvendaram em suas
resoluções, estratégias usadas nos seus cotidianos ao usarem variáveis pictóricas,
empregando-as simultaneamente com as variáveis numéricas, que possibilitaram o
desdobramento das situações oferecidas. Além disso, vale ressaltar que o raciocínio
multiplicativo desses alunos está preparado para grandes avanços nas estruturas
multiplicativas, inclusive a divisão. Da mesma forma, são caminhos que apontam para
solucionar as dificuldades dos estudantes em relação ao eixo da proporção simples –
muitos para muitos.
Ademais, constatamos que o papel do professor como conhecedor de seus alunos,
do currículo e do processo da aprendizagem (WILSON; SHULMAN; RICHERT, 1987,
p. 108), torna-se essencial para incentivar o desenvolvimento das estruturas cognitivas
do estudante, já intrínsecas neles. A prática docente é fundamental para o avanço nos
campos conceituais multiplicativos, justamente por esse campo se apresentar de maneira
mais complexa que o campo aditivo, envolvendo mais conceitos, mais invariantes e
representações variadas.
5. Referências
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do sexto ano do ensino fundamental. 2008. 308f. Tese (Doutorado em Educação
Matemática) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo,
2008.
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http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2015.
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<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=5315174>. Acesso em:
28 jul. 2015.
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divisão não séries iniciais do ensino fundamental? Contribuição para o debate. Portal
EDUMATEC – Revistas eletrônicas. Recife, V.1, n.1, p. 1-23, 2010.
MIZUKAMI, M.G. Aprendizagem da docência algumas contribuições de L.S. Shulman.
Revista do Centro de Educação. Santa Maria, v.29 n. 2, p. 1 -13, set. 2004.
PESSOA, C; FILHO, M. Estruturas multiplicativas: como os alunos compreendem os
diferentes tipos de problemas. In: ANAIS DO SIPEMAT, 2006, Recife. Pesquisa em
educação matemática: um olhar ampliado sobre a sala de aula. Recife. UFPE, 2006,
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VERGNAUD, G. A criança, a matemática e a realidade, Ed. 3. Curitiba: UFPR,
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VERGNAUD, G. "Todos perdem quando a pesquisa não é colocada em
prática”.Revista Nova Escola, jan 2013. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/todos-perdem-quando-nao-
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concedida a Gabriel Pillar Grossi.
WILSON, S; SHULMAN, L.S; RICHERT, A.E. 150 ways of knowing: Representations
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Grã-Bretanha: Cassell Educational Limited, 1987, pp. 104-124.