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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DENIS ROBERTO ZAMIGNANI O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorização de comportamentos na interação terapêutica. São Paulo 2007

O Desenvolvimento de Um Sistema Multidimensional

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Denis Zamignani

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA

    DENIS ROBERTO ZAMIGNANI

    O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao

    teraputica.

    So Paulo

    2007

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA

    DENIS ROBERTO ZAMIGNANI

    O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao

    teraputica.

    Tese de apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Psicologia. rea de concentrao: Psicologia Clnica Orientadora: Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer

    Trabalho parcialmente financiado pela FAPESP (processo 04/05840-8) Bolsista CAPES doutorado (maro de 2004 a fevereiro de 2005).

    So Paulo

    2007

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Catalogao na publicao Servio de Biblioteca e Documentao

    Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo

    Zamignani, Denis Roberto.

    O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao teraputica / Denis Roberto Zamignani; orientadora Sonia Beatriz Meyer. -- So Paulo, 2007.

    289 p. Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia.

    rea de Concentrao: Psicologia Clnica) Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo.

    1. Classificao (processos cognitivos) 2. Processos

    psicoterapeuticos 3. Psicoterapia estudo e ensino 4. Analise do comportamento I. Ttulo.

    RC480.8

  • FOLHA DE APROVAO

    Denis Roberto Zamignani

    O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao teraputica

    Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Psicologia.

    rea de concentrao: Psicologia Clnica

    Orientadora: Sonia Beatriz Meyer

    Aprovada em: _____/_____/_____

    Banca Examinadora

    Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer ____________________________________________

    Universidade de So Paulo

    ___________________________________________________________________

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    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

  • i

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus pais Alcebades e Helena, a quem agradeo pela vida, pelo cuidado, pelo carinho e pelo apoio em momentos to importantes nesses ltimos anos.

  • ii

    AGRADECIMENTOS

    minha querida orientadora Sonia Beatriz Meyer, que abraou este projeto com entusiasmo e dedicao. Pelas sacadas brilhantes que me ensinaram tanto. Pela pacincia frente ao meu ritmo sempre acelerado e atabalhoado. Pela orientao cuidadosa, conduzida com enorme carinho.

    Ao Beto, nos mltiplos papis que exerce em minha vida: amigo, scio, parceiro de pesquisas, companheiro, modelo, referncia, conselheiro, amparo. Pelo socorro a meus pedidos de ajuda nas horas mais imprprias, pela tolerncia ao meu mau humor, pela compreenso e apoio.

    Ao Srgio Luna, por sua grande disponibilidade e apoio ao longo de todo este trabalho, pela amizade e carinho.

    Emma Otta, que se mostrou uma pessoa incrvel, com sua simpatia, interesse e prontido a contribuir com seu conhecimento e experincia.

    Maria Amlia, pela convivncia deliciosa em meu mestrado, que se estendeu ao doutorado com suas contribuies e seu cuidado maternal.

    Rejane, pela ajuda inestimvel com sua disponibilidade para ajudar de forma responsvel, minuciosa e dedicada.

    Giovana, que mostrou-se uma excelente parceira de pesquisa. Pelo cuidado e carinho com que me ajudou em cada etapa deste trabalho.

    Marina que, alm da companhia adorvel, me ajudou em muitas tarefas insanas ao longo deste projeto.

    Fernanda, que amavelmente dedicou muitas horas ao trabalho de categorizao.

    Ju Donadone, pela prontido a ajudar, dedicando horas preciosas de sua rotina apressada.

    Aos atores Yara, Carla, Rafaela, Roberto e Joana que, graciosamente, cederam seu tempo, seu talento e sua imagem para o desenvolvimento do treino de observadores.

    Aos amigos dos grupos de pesquisa, de superviso e da disciplina de anlise da interao teraputica da USP - Esther, Fernanda, Cludia, Rejane, rika, Chris, Giovana, Juliana, Alessandra, Priscila, Roosevelt, Dbora, Fabola, Stanly, Ana Lcia, Patrcia, Oliver, Rodrigo, Lucirley - que, com suas sugestes e sua anlise aguada, ajudaram a aperfeioar este projeto.

    Aos participantes Terapeuta e Cliente que permitiram a realizao deste trabalho

  • iii

    Clara Hill, que, de maneira simptica, disponibilizou seu sistema de categorias.

    Ao Andr Jonas, parceiro de docncia na So Judas, pela amizade, pelo apoio e por sua grande contribuio no aperfeioamento deste trabalho, dispondo-se a utiliz-lo com seus alunos de TCC.

    Ao Joo Ilo, por seu interesse e pelas trocas que me ajudaram a pensar muito do que compe este trabalho.

    Aos colegas Andra, Arlete, Mateus, Renata, Gisele, Juliana, Aline, Camila, Fernanda, Monalisa, Sandra e Thais, Moema, Giovana, que aceitaram o desafio de adotar o sistema de categorias em seus trabalhos.

    Aos amigos do PROCOOP, da ABPMC e da ANPEPP, que contriburam com anlises e sugestes no desenvolvimento deste trabalho.

    Miriam Marinotti que, com suas aulas instigantes, despertou meu interesse pelo estudo metodolgico.

    Ao Cndido, pela dica preciosa e disponibilidade em ensinar na elaborao dos grficos de fluxo comportamental.

    CarlaWitter, pela compreenso e apoio nas etapas finais deste trabalho.

    Ao Srgio e ao Z Luis, pelo gentil acolhimento, cedendo sua casa para meu retiro.

    Joana, que tornou mais leve o dia-a-dia estressante dos ltimos anos, por seu apoio

    incondicional, por sua amizade e carinho e pelas deliciosas e enriquecedoras parcerias.

    Roberta, que se revelou uma grande amiga, pela convivncia adorvel, pela amizade e apoio, pelo companheirismo em nossas empreitadas paradigmticas.

    Mrcia que, h anos, tem sido meu porto seguro, onde eu sei que, quando preciso, posso buscar abrigo e acolhimento.

    Picky, por sua disponibilidade e pelas conversas deliciosas e instigantes no grupo de estudos.

    Aos colegas, professores e alunos do Paradigma e da So Judas, por sua tolerncia com minha pouca disponibilidade nos ltimos anos.

    Ao Gilberto, Vanusia e a todos do CPA por sua torcida pelo sucesso desta empreitada.

    Aos amigos Joo, Elza, Carlo, Marcelo, Paulo, Beto, Regina, e muitos outros que tornam a vida mais divertida e afetuosa.

    Famlia Banaco, pelo carinho e torcida em todos esses anos.

    Fapesp e Capes, pelo apoio financeiro para a elaborao deste trabalho.

  • iv

    As coisas tm

    Peso, massa, volume

    Tamanho, tempo

    Forma, cor

    Posio,

    Textura, durao

    Densidade,

    Cheiro, valor

    Consistncia

    Profundidade, contorno

    Temperatura, funo

    Aparncia, preo, destino,

    Idade, sentido

    As coisas no tm paz

    (As Coisas

    Gilberto Gil / Arnaldo Antunes)

  • v

    RESUMO

    Zamignani, D. R. (2007). O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao terapeuta-cliente. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo.

    A interao teraputica tem sido compreendida como um dos principais fatores de mudana na psicoterapia, e sua investigao denominada pesquisa de processo, contando para isso, com o registro de sesses em udio e/ou vdeo para a categorizao de comportamentos e posterior anlise de padres de interao. O trabalho teve como objetivos o desenvolvimento de um sistema multidimensional de categorizao de comportamentos do terapeuta e do cliente para o estudo da interao teraputica, a verificao da concordncia entre observadores ao usar o sistema e a produo de evidncias quanto sua aplicabilidade e validade. A pesquisa foi composta por trs estudos: o Estudo 1 consistiu em uma avaliao sistemtica da literatura referente classificao de comportamentos verbais vocais. Constatou-se que os sistemas de categorias j existentes no so satisfatrios para o estudo da terapia analtico-comportamental, havendo a necessidade da construo de um novo sistema. No Estudo 2 foi desenvolvido o Sistema Multidimensional de Categorizao de Comportamentos na Interao Teraputica, composto por trs eixos de categorizao e quatro qualificadores. O Eixo I foi o de comportamento verbal, contendo 15 categorias para as verbalizaes do terapeuta e 13 para as do cliente e tendo como qualificadores o tom emocional (com seis categorias) e gestos ilustrativos (com duas categorias); O Eixo II analisa os temas abordados tendo 16 categorias e seus qualificadores so o tempo no qual o assunto tratado (com cinco categorias) e conduo do tema na sesso (com cinco categorias); O Eixo III o das respostas motoras contendo cinco categorias. Foi ainda elaborado um treino padronizado para observadores. Sua aplicao a um participante produziu o satisfatrio ndice de concordncia Kappa de 0.73 a 0.84 nas categorias do terapeuta e o insatisfatrio ndice de -0,09 a 0,36 nas categorias do cliente, requerendo ajuste no treino e nas categorias do cliente. O Estudo 3 consistiu na anlise de trs sesses de terapia analtico-comportamental, uma inicial, outra intermediria e uma final, que evidenciou a aplicabilidade do sistema de categorizao ao estudo da terapia analtico-comportamental ao permitir a identificao de regularidades no comportamento dos participantes.

    PALAVRAS-CHAVE: Categorizao de Comportamentos; Interao Teraputica; Terapia Analtico-Comportamental

    Rodrigo MadeiraHighlight

    Rodrigo MadeiraHighlight

    Rodrigo MadeiraHighlight

    Rodrigo MadeiraHighlight

    Rodrigo MadeiraHighlight

  • vi

    ABSTRACT

    Zamignani, D. R. (2007). Development of a multidimensional system for coding behaviors in therapist-client interaction. Doctoral thesis. Psychology Institute, University of So Paulo, So Paulo, 2007.

    Therapeutic interaction has been considered as one of the main factors of change in psychotherapy, and its investigation is called process research. It uses sessions audio and/or video recording to code behaviors which, subsequently, permits the analysis of patterns of interactions. The objectives of the study were the development of a multidimensional coding system of therapist and client behavior to study therapeutic interaction, verification of agreement between observers in the use of the coding system and the production of evidences regarding its applicability and validity. Research was composed by three studies: Study 1 consisted in a systematic evaluation of literature referring to behavior classification in its vocal dimension. The already existing coding systems were not satisfactory for studying behavior-analytic therapy, showing the need for construction of a new one. In Study 2, the Multidimensional System for Coding Behavior in Therapeutic Interaction was developed. It was formed by three coding axes and four qualifiers: Axe I contained 15 therapist and 13 client verbal behavior having as qualifiers the emotional tone (with six categories) and illustrative gestures (with two categories); Axe II analyses the theme of the interaction, having 16 categories and as qualifiers the time in which the subject is treated (with five categories) and the conduction of the theme during the session, with five categories; Axe III is of the motor responses containing five categories. A standardized training for observers was also developed. Its application to one participant produced a satisfactory Kappa index of agreement ranging from 0.73 to 0.84 in therapist categories, and an unsatisfactory one, ranging from -0.09 to 0.36 in client categories, requiring adjustment in clients training and categories. Study 3 consisted in the analysis of three behavior-analytic therapy sessions, an initial, an intermediate and a final session that made evident the applicability of the categorization system to the study of behavior-analytic therapy as it succeeded in the identification of regularities in the three sessions.

    KEY WORDS: Categorization of Behaviors; Therapeutic Interaction; Behavior-Analytic Therapy.

  • vii

    Sumrio Introduo 1 Estudos sobre a relao teraputica desenvolvidos no Brasil por analistas do comportamento

    3

    A psicoterapia como um processo de interao social 7 Critrios para a sistematizao de eventos em torno de categorias comportamentais

    9

    A classificao da interao em torno de categorias temticas 11 Comportamentos verbais no-vocais e respostas motoras 13 Critrios formais e funcionais para a definio da unidade de ocorrncia em uma interao social

    18

    A delimitao da unidade de registro no estudo de interaes sociais 25 A questo da medida e suas implicaes 27 A categorizao de comportamentos referentes a respostas no-vocais 30 Fidedignidade e validade de um sistema de categorizao 34 Preciso na definio das categorias 41 Questes relativas sistematizao e anlise dos dados 44 Elementos necessrios em um sistema de categorizao do comportamento 49 Objetivos

    49

    Estudo 1. Identificao de eventos relevantes da interao teraputica a partir da avaliao sistemtica da literatura sobre categorizao de comportamentos.

    51

    Estudo 1. Mtodo 51 Procedimento 51 1. Busca de literatura referente categorizao do comportamento verbal ou no verbal humano.

    51

    2. Anlise dos sistemas de categorizao selecionados na literatura a partir de critrios de incluso

    52

    3. Sistematizao de categorias de comportamentos do terapeuta encontradas na literatura

    53

    Estudo 1. Resultados 55 1.1. Anlise dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do terapeuta selecionados na literatura

    55

    1.2. Sistematizao de categorias de comportamentos do terapeuta encontradas na literatura

    60

    87

    Rodrigo MadeiraHighlight

  • viii

    1.3. Anlise dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do cliente selecionados na literatura 1.4. Sistematizao de categorias de comportamentos do cliente encontradas na literatura

    91

    Estudo 2. Desenvolvimento e avaliao de concordncia de um Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica.

    106

    Estudo 2 - Mtodo 106 Participantes 106 Aspectos ticos 107 Material e equipamento 107 Procedimento de coleta de dados 108 Procedimento para elaborao do sistema de categorias 109 Estudo 2. Resultados 120 Verso final do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica

    120

    Apresentao da verso final do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica

    124

    Eixo I. Categorias referentes ao comportamento verbal vocal e no vocal do terapeuta e do cliente

    124

    Eixo I-1. Categorizao do comportamento verbal vocal do terapeuta. 125

    Eixo I-2. Categorizao do comportamento verbal no vocal do terapeuta. 151

    Eixo I-3. Categorizao do comportamento verbal vocal do cliente. 155

    Eixo I-4. Categorizao do comportamento verbal no vocal do cliente. 171

    Eixo I-5. Categorizao do Qualificador 1: Tom Emocional 174

    Eixo I-6. Categorizao do Qualificador 2: Gestos Ilustrativos 177

    Eixo II. Categorias referentes ao tema da sesso. 178

    Eixo II-1. Categorizao do tema da sesso. 178

    Eixo II. -2. Categorizao do Qualificador 1: Tempo no qual o assunto tratado.

    184

    Eixo II-3. Categorizao do Qualificador 2: Conduo do tema da sesso. 186

    Eixo III. Categorias de registro de respostas motoras do terapeuta e do cliente 187

    O desenvolvimento de um treino sistemtico para observadores 189

    Estudo aprofundado sobre as categorias de comportamentos do cliente 195

    204

  • ix

    Estudo 3. Aplicao do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos na interao teraputica em um conjunto de sesses de terapia analtico-comportamental. Estudo 3. Mtodo 204 Participantes 204 Material e equipamentos 204 Procedimento de coleta de dados 205 Procedimento de anlise de dados 206 Estudo 3. Resultados Sistematizao dos dados referentes ao Eixo I-1: Comportamento verbal dos participantes, e ao Eixo III: Respostas motoras.

    207

    Sistematizao dos dados referentes sesso 2 209 Sistematizao dos dados referentes sesso 11 215 Sistematizao dos dados referentes sesso 17 220 Sobre o Qualificador Gestos Ilustrativos do Eixo I 224 Comparao entre as sesses 225 Consideraes a respeito do Estudo 3 228 Discusso

    230

    Alguns dos pressupostos assumidos ao longo do presente trabalho 230 Construo e validao de um sistema de categorizao 237 Etapas da terapia e as categorias de comportamento do terapeuta e cliente: Um exerccio de descrio do processo teraputico analtico-comportamental

    245

    Concluso 273 Referncias 275

  • x

    Lista de Figuras

    Figura 1. Esquema representativo do ambiente de coleta de dados, com a identificao do posicionamento das cmeras.

    108

    Figura 2. Exemplo de tela de treino no qual apresentado um segmento de definio da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta.

    190

    Figura 3. Exemplo de tela de treino, na qual apresentada uma atividade de identificao da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta.

    191

    Figura 4. Exemplo de tela de treino no qual apresentada uma atividade de identificao da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta a partir de trechos fictcios de sesso teraputica, gravados em vdeo.

    192

    Figura 5. Exemplo de tela referente aos exerccios finais do treino do terapeuta.

    193

    Figura 6. Exemplo de tela referente aos exerccios finais do treino do terapeuta.

    193

    Figura 7. Distribuio das categorias de respostas verbais da cliente de acordo com cada um dos observadores, em 30 minutos da sesso 17.

    197

    Figura 8. Distribuio das categorias de respostas verbais da cliente pelo Observador 1, em 30 minutos da sesso 17.

    199

    Figura 9. Soma das categorias do Eixo I: Respostas verbais do terapeuta e do cliente (incluindo respostas verbais vocais e gestos comunicativos) em ocorrncias e durao (segundos), em cada uma das trs sesses e no total das trs sesses analisadas.

    208

    Figura 10. Durao mdia das respostas verbais do terapeuta e da cliente (incluindo respostas verbais vocais e gestos comunicativos) em cada uma das trs sesses e no total das trs sesses analisadas.

    209

    Figura 11. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e da cliente na sesso 2, com relao ao total de verbalizaes do prprio participante.

    209

    Figura 12. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 2, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos).

    212

    Figura 13: Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (EMPATIA; INTERPRETAO; SOLICITAO DE REFLEXO; SOLICITAO DE RELATO) para categorias do cliente (RELATA; ESTABELECE RELAES e CONCORDA), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 2.

    213

    Figura 14. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e da cliente na sesso 11, em relao ao total de verbalizaes do prprio participante.

    215

  • xi

    Figura 15. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 11, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos). As barras coloridas abaixo do eixo horizontal representam a distribuio no tempo do Eixo III - Respostas motoras de T e C e do qualificador do Eixo I - Tom emocional da interao.

    217

    Figura 16. Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (APROVAO, EMPATIA; INFORMAO, INTERPRETAO; RECOMENDAO, REPROVAO, SOLICITAO DE REFLEXO e SOLICITAO DE RELATO) para cada uma das respostas verbais do cliente selecionadas (RELATA; ESTABELECE RELAES, CONCORDA e OPOSIO), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 11.

    219

    Figura 17. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e do cliente na sesso 17, com relao ao total de verbalizaes do prprio participante.

    220

    Figura 18. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 17, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos). As barras coloridas abaixo do eixo horizontal representam a distribuio no tempo do Eixo III - Respostas motoras de T e C e do qualificador do Eixo I - Tom emocional da interao.

    222

    Figura 19: Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (APROVAO, EMPATIA; INFORMAO, INTERPRETAO; RECOMENDAO, REPROVAO, SOLICITAO DE REFLEXO e SOLICITAO DE RELATO) para cada uma das respostas verbais do cliente selecionadas (RELATA; ESTABELECE RELAES, CONCORDA e OPOSIO), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 17.

    223

    Figura 20: Ocorrncia e durao do Qualificador Gestos Ilustrativos em cada uma das categorias no conjunto de sesses.

    224

    Figura 21. Durao e freqncia de cada uma das categorias de terapeuta e cliente nas trs sesses analisadas.

    226

    Figura 22. Representao esquemtica das Etapas da Avaliao Comportamental (adaptado de Follette, Naugle & Linnerooth, 1999)

    252

    Figura 23. Esquema representando o paradigma do comportamento operante, no qual OE uma operao estabelecedora, SD um estmulo discriminativo, o smbolo representa uma funo probabilstica na qual, dadas determinadas circunstncias, h uma probabilidade de que uma resposta seja emitida; R a resposta, a seta direita indica uma relao de contingncia entre resposta e conseqncia e SR o estmulo produzido pela resposta que, ao retroagir sobre o organismo, altera a probabilidade de que respostas da mesma classe venham a ser emitidas (Follette et al. 1999).

    261

  • xii

    Lista de Tabelas Tabela 1. Avaliao dos sete sistemas de categorizao selecionados, segundo os critrios de incluso definidos no procedimento deste estudo.

    58

    Tabela 2. Sistematizao das categorias de comportamento do terapeuta a partir dos sistemas de Chamberlain e Ray (1988), Ford (1978), Fiorini (1995), Hill (1978), Margotto (1998), Meyer e Vermes (2001), Schindler et al. (1989), Stiles (1992), Tourinho et al. (2003) e Zamignani (2001).

    62

    Tabela 3. Critrios de seleo dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do cliente.

    89

    Tabela 4. Sistematizao das categorias de comportamento do cliente a partir dos sistemas de Chamberlain e Ray (1988), Hill et al. (1992), Margotto (1998), Schindler et al. (1989) e Zamignani (2001).

    91

    Tabela 5. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1, referentes s categorias verbais e qualificadores, na sesso 11.

    113

    Tabela 6. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1 referente s categorias verbais e qualificadores, na sesso 17

    114

    Tabela 7. Percentagem de coincidncia entre as funes propostas pelascategorias pr-definidas do sistema preliminar de Zamignani (2006, versopreliminar) e as categorias definidas pela terapeuta-pesquisadora a partir daanlise das sesses, no trabalho de Del Prette (2006).

    117

    Tabela 8. Esquema bsico de palavras emocionais (adaptado de Shaver et al., 1987 readaptado por Brando, 2003).

    182

    Tabela 9. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o Observador 2 e o pesquisador referente s categorias de Respostas Verbais e Qualificadores, na categorizao final de 30 minutos da sesso 17.

    195

    Tabela 10. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao de pesquisador (linhas) e o Observador 2 (colunas), referente a cada categoria de respostas verbais da cliente, em 30 minutos da sesso 17.

    196

    Tabela 11. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1, referente s categorias de respostas verbais e qualificadores da cliente, na categorizao de 30 minutos da sesso 17.

    198

    Tabela 12. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao de Pesquisador (linhas) e o Observador 1 (colunas) referente a cada categoria de respostas verbais da cliente, na sesso 17.

    199

    Tabela 13. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao do pesquisador (linhas) e o Observador 2 (colunas) referente a cada categoria do qualificador Tom emocional, em 30 minutos da sesso 17.

    200

    Tabela 14. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao do pesquisador (linhas) e o Observador 2 referente a cada categoria do Qualificador Gestos Ilustrativos, em 30 minutos da sesso 17.

    201

  • xiii

    Lista de Anexos

    1. Termos de consentimento de terapeuta e cliente para pesquisa

    2. Termo de Compromisso e Responsabilidade

    3. Adendo s categorias verbais do terapeuta e do cliente

  • 1

    A qualidade da interao teraputica reconhecidamente importante para a

    obteno de bons resultados na psicoterapia. Em vista disso, os mais diversos aspectos

    dessa interao tm sido investigados (Follette, Naugle & Callaghan, 1996; Meyer &

    Vermes, 2001), em busca de identificar variveis gerais e especficas que possam

    produzir resultados mais ou menos favorveis.

    Parte das pesquisas relativas a esse tema tem como objetivo investigar

    caractersticas do terapeuta e do cliente e a possvel influncia destas nos resultados do

    tratamento (por exemplo, Abramowitz, Abramowitz, Roback & Jackson, 1974; Billings

    & Moos, 1984; Kolb, Beutler, Davis, Crago & Shanfield, 1985; Miller, Benefield &

    Tonigan, 1993; Pope & Tabachnick, 1993; Quintana & Holahan, 1992; Schaffer, 1982;

    Schaffer, 1983; Talley, Strupp & Morey, 1990). Outros estudos buscam relacionar

    variveis da relao terapeuta-cliente, ou as tcnicas utilizadas pelo terapeuta, com a

    predio de resultados e/ou do engajamento do cliente no processo teraputico (por

    exemplo, Delitti, 2002; Ford, 1978; Monteiro, 2000; Morgan, Luborsky & Crits-

    Christoph, 1982; Nichols, 1974; Tryon, 1990).

    Estas podem ser consideradas caractersticas gerais do processo teraputico, e o

    estudo das mesmas tem fornecido informaes sobre o papel de variveis relevantes da

    interao teraputica. Entretanto, muitas vezes os mtodos utilizados no permitem

    identificar aspectos especficos do processo teraputico por meio do qual ocorrem as

    mudanas. Uma caracterstica freqente nas linhas de pesquisa anteriormente citadas a

    obteno de dados por meio da comparao entre grupos, ou mesmo a avaliao dos

    resultados a partir de um conjunto de procedimentos, sem uma anlise momento a

    momento do processo, o que no permite a identificao dos fatores responsveis pelos

    resultados em cada interao teraputica estudada.

  • 2

    Em busca de identificar e avaliar os aspectos especficos da relao teraputica,

    pesquisadores de diferentes abordagens tericas e de diferentes reas do conhecimento

    tm desenvolvido estratgias metodolgicas para a caracterizao da interao em

    sesso teraputica, por meio da observao direta de sesses gravadas em udio e/ou

    vdeo e categorizao dos comportamentos observados. Em tais pesquisas, denominadas

    pesquisas de processo (Greenberg & Pinsof, 1986; Russel & Trull, 1986), o dado

    principal o que ocorre dentro do processo teraputico, mais especificamente na

    interao (verbal e no-verbal) entre terapeuta e cliente e o objetivo identificar os

    processos de mudana ao longo dessa interao.

    Considera-se que um estudo diz respeito a processo se ele oferece (a) uma

    descrio molecular ou uma especificao das aes ou operaes que esto sendo

    estudadas; (b) uma descrio molecular e molar das relaes seqenciais entre essas

    operaes ou unidades e (c) as indicaes de objetivos ou metas em direo aos quais o

    processo se dirige (Russel & Trull, 1986).

    O estudo de mecanismos envolvidos no tratamento, de acordo com Kazdin e

    Nock (2003), provavelmente o melhor investimento, de curto ou longo prazo, para

    melhorar a prtica clnica e o cuidado ao cliente. Estes autores afirmam que, entender

    como e por que o tratamento funciona, pode proporcionar a maximizao de seus efeitos

    e assegurar que seus aspectos crticos sejam generalizados para a prtica clnica (p.

    1117).

    A partir das concluses de Kazdin e Nock (2003) a respeito da importncia de

    se investigar os porqus da efetividade dos tratamentos, a seguir, apresenta-se agora um

    panorama dos estudos brasileiros sobre relao teraputica analtico-comportamental.

  • 3

    Estudos sobre a relao teraputica desenvolvidos no Brasil por analistas do

    comportamento.

    A sesso teraputica e a superviso clnica tm sido estudadas por analistas do

    comportamento no Brasil para a investigao de diferentes queixas clnicas.

    Comumente, estes estudos so realizados a partir do registro em udio e/ou vdeo do

    comportamento verbal vocal1 do terapeuta, cliente ou supervisor.

    J em 1989, Wielenska estudou o processo de superviso clnica por meio da

    anlise de cadeias de verbalizaes de uma terapeuta ao longo do processo de

    superviso. O estudo envolveu entrevistas sucessivas, registradas em udio e ento

    analisadas e reapresentadas terapeuta, de modo que ela fornecesse informaes sobre

    seu prprio atendimento. A anlise realizada pela pesquisadora, que era tambm a

    supervisora, permitiu identificar caractersticas importantes da interao da terapeuta

    com seu cliente.

    Kovac (1995) e Zamignani (1995) utilizaram parcialmente o mtodo de coleta de

    dados proposto por Wielenska (1989) para estudar variveis encobertas que

    possivelmente controlariam o comportamento do terapeuta na sesso. Para tanto,

    partiram de sesses gravadas em udio e vdeo e transcritas. Entrevistaram, ento, o

    terapeuta a respeito de seus sentimentos e pensamentos, enquanto este assistia s

    sesses em vdeo. Suas verbalizaes foram categorizadas de acordo com o tipo de

    evento relatado como determinante de seu comportamento na sesso.

    Outro estudo, envolvendo a gravao das sesses em vdeo e sua posterior

    transcrio, foi realizado por Margotto (1998) com objetivo de detectar mudanas no

    curso da sesso teraputica. A partir das gravaes, a autora desenvolveu um sistema de

    1 O termo comportamento verbal vocal utilizado por Skinner (1957/1992) para diferenciar este tipo de comportamento verbal de outras classes de comportamento que tambm podem ser caracterizados como comportamento verbal. No presente trabalho, em algumas passagens, o termo genrico comportamento verbal ser utilizado como equivalente a comportamento verbal vocal, o mesmo valendo para o termo verbalizaes.

  • 4

    categorias para a caracterizao do comportamento do terapeuta e do cliente e analisou,

    a partir dos dados categorizados, padres seqenciais de interao na sesso teraputica.

    Adaptaes do sistema de categorizao proposto por Margotto (1998) ou o

    desenvolvimento de novas categorias, a partir da gravao e transcrio de sesses em

    vdeo, foram realizadas em diversas outras pesquisas brasileiras com vistas a identificar

    diferentes aspectos da sesso teraputica ou de superviso (por exemplo, Almsy, 2004;

    Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Brando, 2003; Donadone, 2004; Garcia, 2001;

    Maciel, 2004; Martins, 1999; Meyer & Donadone, 2002; Moreira, 2001; Nardi, 2004;

    Novaki, 2003; Oliveira, 2002; Silva, 2001; Tourinho, Garcia & Souza, 2003; Vermes,

    2000; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005).

    Os resultados obtidos com os trabalhos j finalizados lanam luz sobre questes

    tericas e tcnicas importantes para o entendimento do processo teraputico. Dentre as

    variveis da sesso teraputica estudadas, destacam-se a teoria, as regras de atendimento

    e a experincia clnica como fatores determinantes da tomada de deciso do terapeuta

    (Donadone, 2004; Kovac, 1995; Margotto, 1998; Moreira, 2001; Oliveira, 2002;

    Vermes, 2000; Wielenska, 1989; Zamignani, 1995; Zamignani & Andery, 2005); o

    processo de estabelecimento de relaes causais por parte do terapeuta sobre o

    comportamento do cliente como um dos focos da terapia (Margotto, 1998; Oliveira,

    2002; Vermes, 2000; Zamignani, 1995; Zamignani & Andery, 2005); funes dos

    eventos privados no desenvolvimento da terapia comportamental e os efeitos de

    diferentes tipos de interveno sobre falas referentes a estes eventos (Almsy, 2004;

    Azevedo, 2001; Barbosa, 2006; Brando, 2003; Kovac, 1995; Maciel, 2004; Martins,

    1999; Silva, 2001; Zamignani, 1995); a identificao de efeitos de procedimentos

    reforadores ou aversivos sobre o comportamento do cliente na sesso (Almsy, 2004;

    Baptistussi, 2001; Garcia, 2001; Silva, 2001); a caracterizao de estilos de atendimento

  • 5

    utilizados por terapeutas analtico-comportamentais (Zamignani, 2001); a identificao

    de variveis envolvidas na superviso clnica de base analtico-comportamental e o

    desenvolvimento de instrumentos para a superviso (Ireno, 2007; Moreira, 2001; Pinto,

    2007; Ulian, 2007; Wielenska, 1989); a identificao de variveis responsveis pelo uso

    de orientaes e interpretaes por terapeutas comportamentais e a relao destas com a

    experincia clnica do terapeuta (Donadone, 2004; Oliveira, 2002; Zamignani, 2001); o

    uso da Psicoterapia Analtico-Comportamental para lidar com problemas de

    relacionamento interpessoal (Taccola, 2004).

    Alguns dos trabalhos realizados no Brasil permitiram tambm a identificao de

    variveis relacionadas a problemas especficos do cliente e o manejo destas na sesso

    teraputica. Destacam-se o estudo de possveis variveis de controle ambientais e

    verbais sobre respostas de ansiedade (Maciel, 2004); a comparao entre estratgias

    padronizadas e individualizadas para o tratamento do transtorno do pnico (Yano,

    2003); a caracterizao do atendimento de clientes com o diagnstico de transtorno

    obsessivo-compulsivo por analistas do comportamento (Zamignani & Andery, 2005); o

    desenvolvimento de assertividade e habilidades sociais (Souza Filho, 2001) e o estudo

    de suas possveis funes no controle de peso em adolescentes (Barbosa, 2001). Outros

    trabalhos estudaram, ainda, aspectos metodolgicos relacionados ao uso de categorias

    para o registro de eventos na sesso teraputica (Azevedo, 2001; Chequer, 2002; Del

    Prette, 2006; Kovac, 2001; Nardi, 2004; Souza Filho, 2001).

    Com relao aos mtodos utilizados nas diferentes pesquisas realizadas no

    Brasil, alguns aspectos podem ser destacados. Sero apresentadas e discutidas, aqui,

    algumas pesquisas com diferentes delineamentos de estudo e tratamentos de dados.

    Quanto aos delineamentos das pesquisas, a grande maioria dos trabalhos at

    ento desenvolvidos tem um carter exploratrio (por exemplo, Barbosa, 2001; Garcia,

  • 6

    2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Oliveira, 2002; Wielenska, 1989; Baptistussi,

    2001; Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani, 1995). Pesquisas de carter

    metodolgico, visando aprimorar os mtodos para a categorizao de eventos, foram

    desenvolvidas por Chequer (2002), Del Prette (2006), Kovac (1995) e Nardi (2004). Em

    outros trabalhos, foi analisada a correlao entre dados obtidos por meio de escalas,

    entrevistas e/ou inventrios e aqueles obtidos por meio de observao direta

    (Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Kovac, 1995; Vermes, 2000; Yano, 2003;

    Zamignani, 1995). H ainda trabalhos nos quais algumas variveis da interao

    teraputica foram manipuladas em estudos experimentais ou quase-experimentais

    (Almsy, 2004; Pinto, 2007, Silva, 2001, Tacolla, 2004).

    Com relao s estratgias para a organizao das informaes coletadas, alguns

    trabalhos utilizam os operantes verbais de Skinner para inferir provveis relaes

    funcionais envolvidas em verbalizaes do cliente (Kovac, 2001; Nardi, 2004), ao passo

    que outros utilizam diferentes sistemas de categorizao, ora partindo de uma

    categorizao inicial de seqncias de interao para posterior anlise (Barbosa, 2006;

    Brando, 2003; Tacolla, 2004), ora inicialmente categorizando verbalizaes

    individuais, para posterior anlise de seqncias, buscando-se identificar relaes

    funcionais sobre comportamentos do terapeuta, do cliente ou do supervisor (Almsy,

    2004; Garcia, 2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Silva, 2001; Wielenska, 1989;

    Zamignani & Andery, 2005).

    Os dados obtidos a partir da categorizao ou da identificao de classes

    funcionais foram tratados de diferentes maneiras. Alguns trabalhos correlacionaram a

    categorizao dos comportamentos do terapeuta com outras variveis, tais como o tema

    abordado na sesso ou as justificativas dadas pelo terapeuta para suas intervenes

    (Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Garcia, 2001; Kovac, 1995; Margotto, 1998;

  • 7

    Martins, 1999; Oliveira, 2002; Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani, 1995). Em

    outros, a identificao de relaes comportamentais foi feita por meio de um sistema de

    notao, no qual as categorias de comportamento eram distribudas em seqncia,

    conforme ocorreram na sesso teraputica, juntamente com informaes sobre

    mudanas de tema ou outras observaes do pesquisador (Garcia, 2001). A estratgia de

    construo de grficos de freqncia acumulada de verbalizaes (do terapeuta e

    cliente) foi utilizada por Baptistussi (2001) e Zamignani (2001). Alguns trabalhos ainda

    combinaram diferentes mtodos quantitativos e qualitativos de anlise de verbalizaes

    para a caracterizao da sesso teraputica (Barbosa, 2001; Maciel, 2004; Zamignani &

    Andery, 2005), ou analisaram estatisticamente a correlao entre variveis observadas

    da sesso teraputica e resultados alcanados com os procedimentos clnicos (Barbosa,

    2001, Donadone, 2004, Ulian, 2007).

    Cada uma dessas estratgias metodolgicas proporcionou diferentes tipos de

    informao sobre o processo estudado e a anlise do conjunto de estudos sugere que a

    combinao de diferentes mtodos de sistematizao dos dados pode propiciar um

    entendimento mais completo do processo teraputico.

    A psicoterapia como um processo de interao social

    Uma particularidade com a qual os pesquisadores lidam ao estudar o que ocorre

    dentro da psicoterapia a anlise do comportamento de, no mnimo, dois indivduos

    terapeuta e cliente interagindo. Trata-se, portanto, de um processo de influncia mtua

    (Meyer & Vermes, 2001), no qual os comportamentos do cliente e do terapeuta so

    analisados como comportamentos sociais (Skinner, 19532).

    2 De acordo com Skinner (1953/1993), o comportamento de duas ou mais pessoas em relao uma com a outra ou em relao conjunta com o ambiente caracteriza o comportamento social. Em um episdio social, as conseqncias das respostas emitidas por um indivduo dependem da mediao de outra(s) pessoa(s).

  • 8

    Para se estudar uma interao social deve-se levar em conta as variveis que

    controlam o comportamento de cada um dos membros da interao (Skinner, 1953).

    Estas variveis so constitudas principalmente por estmulos sociais no caso, a ao

    do outro indivduo da dade terapeuta-cliente que, por sua vez, sujeito influncia de

    um grande conjunto de variveis. Tal interao implica numa complexidade maior do

    que no caso de comportamentos controlados por eventos de natureza no-social -

    relativamente mais estveis - permitindo certa previsibilidade sobre sua ocorrncia e

    facilitando a anlise. Apesar das caractersticas dos eventos sociais, possvel se

    identificar regularidades neste tipo de interao, o que permite sua sistematizao para

    estudo3.

    No estudo de interaes sociais, uma das possibilidades de identificao de

    regularidades a sistematizao dos dados observados em torno de classes de

    comportamento do terapeuta e do cliente, cujos critrios de sistematizao seriam

    descritos em termos de categorias de comportamento4. A partir de ento, so conduzidas

    anlises das relaes entre essas categorias, de forma a identificar possveis efeitos que

    de diferentes classes de comportamento de um membro da dade sobre o outro (Russel

    & Trull, 1986; Wampold, 1986).

    A observao e a sistematizao dos dados referentes ao comportamento

    humano so foco de interesse em diversas reas da cincia. Em um levantamento da

    literatura pertinente ao tema, foram localizados diversos trabalhos nos quais houve

    tentativa de categorizao do comportamento humano verbal vocal e motor em 3 A obra de Skinner, Comportamento Verbal (1957), um exemplo de sistematizao de regularidades encontradas em um tipo especfico de comportamento social - o comportamento verbal. Vale lembrar que a obra de Skinner (1957) descrita pelo prprio autor como um exerccio de interpretao, no tendo sido constituda a partir de um estudo sistemtico. 4 No presente trabalho, adota-se a definio de Classes de Comportamentos de Danna e Matos (1999), que consiste no agrupamento de eventos comportamentais em torno de caractersticas comuns, tais como sua morfologia, funo ou ambos. O termo Categoria de Comportamentos, por sua vez, ser utilizado no presente trabalho referindo-se ao conjunto de definies construdo de modo a sistematizar os elementos que compem uma Classe de Comportamentos.

  • 9

    diferentes situaes de observao (por exemplo, Abramowitz, Abramowitz, Roback &

    Jackson, 1974; Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Batista, 1980; Campbell, 2004;

    DeVito, 1989; Fagundes, 1978; Hickson & Stacks, 1989; Knapp & Hall, 1999;

    Marturano, 1978; Marturano, Bertoldo & Camelo, 1982; Street & Buller, 1987; Vieira,

    1975).

    Diferentes sistemas de categorizao desenvolvidos especificamente para a

    anlise da interao terapeuta-cliente so encontrados na literatura nacional (por

    exemplo, Baptistussi, 2001; Brando, 2003; Britto, Oliveira & Sousa, 2003; Donadone,

    2004; Garcia, 2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Moreira, 2001; Novaki, 2003;

    Oliveira, 2002; Tourinho, Garcia, & Souza, 2003; Vermes, 2000; Yano, 2003;

    Zamignani & Andery, 2005) e internacional (por exemplo, Bischoff & Tracey, 1995;

    Chamberlain & Ray, 1988; Chamberlain, Patterson, Reid, Kanavagh & Forgatch, 1984;

    Hill, 1978; Hill, Corbett, Kanitz, Rios, Lightsey & Gomez, 1992). Muitos destes

    sistemas apresentam categorias que descrevem classes de comportamentos bastante

    semelhantes, mas utilizam para isto diferentes denominaes e definies. As diferenas

    encontradas entre eles devem-se principalmente natureza da questo investigada e aos

    diferentes pressupostos tericos que norteiam cada estudo.

    Nos trabalhos existentes sobre o tema, problemas envolvidos na elaborao,

    definio e aplicao de categorias para a classificao do comportamento merecem ser

    considerados. Alguns desses problemas sero discutidos a seguir.

    Critrios para a sistematizao de eventos em torno de categorias comportamentais

    A categorizao de eventos parte da observao e do agrupamento do universo

    estudado em torno de classes, agrupamento este que depende do objetivo ou funo a

    ser exercida pelo sistema de categorias (Marinotti, 2000). Alguns sistemas de

  • 10

    categorizao so propostos para o treinamento ou julgamento do desempenho de

    terapeutas em uma determinada abordagem de terapia (exemplos de sistemas utilizados

    para esse fim so apresentados por Callaghan, 2006; Hill & O'Brien, 1999; Ireno, 2007;

    Sturmey, 1996). Nesse caso, a funo do sistema prescritiva, ou seja, a apresentao

    das categorias visa sugerir um conjunto de padres que deveriam ser seguidos pelo

    terapeuta para o desenvolvimento de seu trabalho clnico. Tal proposta de categorizao

    orientada principalmente pelo modelo terico-metodolgico de interveno adotado

    pelo autor, mais que por um determinado conjunto de dados observados.

    Sistemas que tm como objetivo a caracterizao da interao teraputica para a

    pesquisa, por outro lado, apresentam um carter essencialmente descritivo. Em funo

    disso, os critrios para essa categorizao, diferentemente do que ocorre em um sistema

    prescritivo, so guiados mais pelos dados observados. Tal carter descritivo, entretanto,

    deve ser considerado com cautela. Por mais que o pesquisador esteja isento do propsito

    de orientar ou prescrever um determinado conjunto de prticas, a organizao do

    fenmeno observado no se furta de revelar algum tipo de interpretao a priori, ao

    selecionar quais seriam os eventos relevantes para sua compreenso. Destacar algumas

    classes de comportamento, em detrimento de outras, revela uma forma de compreender

    o processo que, necessariamente, perpassada pela postura terico-metodolgica

    adotada pelo pesquisador.

    Conforme apresentado anteriormente, grande parte dos estudos clnicos at ento

    desenvolvidos sobre a interao teraputica tm categorizado o comportamento verbal

    vocal dos participantes a partir da anlise dos textos das transcries de sesses

    gravadas em udio ou vdeo. Estes estudos consideram, para essa categorizao, as

    aes apontadas pela literatura clnica como tpicas de uma interao verbal teraputica

    (chamadas, em alguns dos estudos, de variveis interpessoais), tais como descrio de

  • 11

    eventos, orientao, inferncia, aprovao etc. (por exemplo, Almsy, 2004;

    Barbosa, 2001; Chamberlain & Ray, 1988; Chamberlain et al., 1984; Donadone, 2004;

    Garcia, 2001; Hill, 1978; Hill et al., 1992, Kovac, 2001; Maciel, 2004; Margotto, 1998,

    Martins, 1999; Meyer & Donadone, 2002; Moreira, 2001; Oliveira, 2002; Silva, 2001;

    Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005).

    A partir da categorizao em torno desses eventos, os autores tm analisado

    processos importantes da interao clnica, tais como a tomada de deciso do terapeuta

    (Margotto, 1998), as conseqncias providas pelo terapeuta s aes do cliente

    (Almsy, 2004; Silva, 2001), a orientao e o aconselhamento fornecidos pelo terapeuta

    (Donadone, 2004; Meyer & Donadone, 2002; Zamignani & Andery, 2005), o manejo de

    sentimentos e emoes (Almsy, 2004; Brando, 2003; Vermes, 2000) e de diferentes

    queixas clnicas na sesso (Barbosa, 2001; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005),

    entre muitos outros.

    A classificao da interao em torno de categorias temticas

    Em algumas pesquisas sobre a interao teraputica, a conduo do estudo pode

    exigir a classificao da interao em torno de assuntos ou temas (por exemplo,

    Baptistussi, 2001; Barbosa, 2006; Eells, Kendjelic & Lucas, 1998; Garcia, 2001;

    Goldberg, Hobson, Maguire, Margison, Osborn & Moss, 1984; Yano, 2003; Zamignani

    e Andery, 2005).

    Baptistussi (2001) e Garcia (2001) estudavam comportamentos do terapeuta

    relacionados audincia no punitiva e ao bloqueio de esquiva, e seus possveis efeitos

    sobre o responder do cliente. Estes pesquisadores utilizaram o aumento ou diminuio

    na variedade de temas trazidos pelo cliente para a conversao como indicador de

    respostas de adeso ou esquiva. Garcia (2001) utilizou categorias por meio das quais se

  • 12

    identificava qual dos membros da dade introduzia assuntos novos e em que momento

    isso ocorria ou, ainda, se o terapeuta ou o cliente mudavam de assunto ou derivavam a

    partir do assunto corrente. Esse tipo de categorizao (chamada no presente trabalho de

    conduo da sesso) foi importante para verificar o quanto o tipo de interveno

    utilizada pelo terapeuta criava condies para que o cliente introduzisse assuntos que,

    supostamente, teriam sido punidos em sua histria de vida. Alm da utilidade desse tipo

    de categorizao demonstrada no estudo de Garcia (2001), a identificao da conduo

    da sesso pode tambm ser importante para estudos que investigam o domnio da sesso

    por parte de um ou outro membro da dade, tal como conduzidos por Lichtenberg e

    Heider-Barke (1981) e Tracey (1985).

    No trabalho de Zamignani e Andery (2005), por sua vez, pretendia-se

    caracterizar o processo teraputico analtico-comportamental no atendimento a clientes

    com o diagnstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Neste estudo, a subdiviso

    das categorias interpessoais do terapeuta e do cliente, com relao a seu tema ser ou no

    relacionado queixa do cliente, permitiu a visualizao de processos tais como o

    reforamento diferencial de verbalizaes e a interveno por meio de anlise de

    contingncias e aconselhamento, conduzidos pelos terapeutas participantes. No estudo

    de Yano (2003), a categorizao em torno de eventos considerados relevantes pelo

    terapeuta-pesquisador (alguns destes eventos referentes a temas), em casos de transtorno

    de pnico, permitiu a avaliao de resultados do processo teraputico por parte da

    pesquisadora.

    Para a categorizao de temas da sesso, na maioria dos trabalhos citados

    anteriormente, as categorias referentes aos temas da sesso foram definidas a posteriori,

    a partir dos dados previamente observados. Essa escolha, provavelmente, advm da

    grande variedade de temas possveis que podem ser tratados em uma terapia. Assim,

  • 13

    embora seja possvel uma categorizao a priori dos temas da sesso, ela precisaria

    contemplar uma ampla gama de possibilidades de interao do cliente, com critrios de

    incluso e excluso bastante especficos a fim de evitar sobreposies, o que dificultaria

    bastante sua execuo. Alm disso, possvel que, para um determinado cliente, um

    nico tema possa ser explorado com profundidade e relacionado a outros assuntos e

    aspectos de sua vida, o que exigiria do pesquisador, provavelmente, uma subdiviso em

    aspectos relacionados a esse tema. Um sistema de categorias temticas a priori, que

    pudesse abarcar a diversidade de temas possveis, seria muito amplo, produzindo

    disperso excessiva dos dados. Parece importante, ento, considerar a flexibilidade no

    uso de um instrumento desse tipo, adequando categorias pr-definidas aos temas

    relevantes das amostras de sesses estudadas.

    Comportamentos verbais no-vocais e respostas motoras5

    Na maioria dos trabalhos at ento desenvolvidos, foram realizadas anlises de

    comportamento verbal vocal. Embora, em diversas pesquisas, essa estratgia tenha

    oferecido importantes informaes, por vezes, questes de natureza terica ou prtica

    que conduzem o trabalho dos pesquisadores exigem outros tipos de informao. Alguns

    pesquisadores apontaram limitaes com relao a esse tipo de dado. Baptistussi (2001),

    Garcia (2001), Vermes (2000) e Zamignani (2001) relataram dificuldades para a

    5 Na literatura sobre o tema, tais propriedades do comportamento so estudadas sob o rtulo

    comportamento no-verbal (Beier & Young, 1998; Burgoon, Buller & Woodall, 1996; Caballo, 1993; Keeley, 2005). Tal rtulo, entretanto, no est de acordo com a noo de Comportamento Verbal proposta por Skinner (1957/1992), que assume uma definio funcional do comportamento. Esta definio inclui respostas motoras, quando tm funo de alterar o comportamento de um ouvinte, mediador de reforadores para o falante. Desse ponto de vista, as variveis que compem o que chamado comportamento no-verbal seriam mais bem representadas pelos termos propriedades dinmicas da resposta vocal (variveis paralingusticas), respostas verbais no-vocais, ou respostas motoras. Entretanto, de forma a facilitar a fluncia do texto, o termo comportamento no-verbal ser utilizado, considerando-se que ele compreende o conjunto de variveis descritas acima.

  • 14

    caracterizao e identificao dos fenmenos estudados, quando o dado obtido era

    exclusivamente verbal-vocal, o que limitaria o alcance de seus estudos.

    Respostas verbais no-vocais e respostas motoras correlatas a respostas

    emocionais tm sido apresentadas pela literatura como representantes mensurveis de

    aspectos emocionais (Beier & Young, 1998, Fiorini, 1995). Desse modo, a incluso de

    outras dimenses do comportamento dos participantes, alm da verbal-vocal, pode

    favorecer a anlise e interpretao dos dados, em especial no estudo de episdios

    emocionais.

    A considerao de comportamentos no-vocais da interao tem contribudo

    ainda para o estudo da manifestao de sintomas de quadros psiquitricos durante a

    sesso, tais como ansiedade e depresso (Geerts, 1997; Waxer, 1978) ou para o estudo

    de indicadores relacionados constituio da aliana teraputica (Tickle-Degnen &

    Rosenthal, 1990). Para permitir um estudo mais completo do processo teraputico, de

    acordo com Fiorini (1995), um sistema de categorizao deveria apresentar um carter

    multidimensional, ou seja, suas categorias no deveriam envolver apenas elementos da

    interao verbal vocal, mas tambm outras dimenses da interao social que ocorre no

    processo teraputico.

    A partir da literatura a respeito de comportamento no-verbal na prtica clnica,

    alguns atributos do comportamento verbal no-vocal tm sido sugeridos como

    importantes para a compreenso da interao teraputica. Aspectos topogrficos do

    comportamento verbal vocal, tais como propriedades ou atributos do som produzido

    durante a fala ou conversao, so estudados sob o rtulo de variveis paralingsticas

    e tm sido de interesse para a pesquisa clnica (Hickson & Stacks, 1989). Estas

    variveis esto geralmente relacionadas ao grau de intimidade, atrao, influncia e

    credibilidade entre os interlocutores, alm de funcionarem como indicadores de estados

  • 15

    emocionais e afetivos do falante (Beier & Young 1998; Caballo, 1993; Campbell, 2004;

    Gobl & Chasaide, 2000; Hickson & Stacks, 1989; Pereira, 2000). Caballo (1993) afirma

    que os sinais paralingsticos podem afetar de forma importante o significado do que

    dito e, conseqentemente, a maneira com que a mensagem recebida.

    Outro fenmeno de interesse no estudo da psicoterapia o padro de sincronia

    paralingstica na interao verbal que cliente e terapeuta desenvolvem em alguns casos

    (Beier & Young, 1998). Tais padres tm sido estudados como preditores de sucesso do

    processo teraputico (Geerts, 1997).

    Alguns autores tm estudado a funo de variveis paralingsticas da fala na

    inferncia de estados emocionais do falante (por exemplo, Cowie, 2000). Um dos

    mtodos pelo qual essa inferncia pode ser realizada utiliza uma lista de rtulos

    relacionados a estados emocionais, que so selecionados por um juiz na avaliao de

    uma determinada vocalizao. Um exemplo de estudo que utilizou esse mtodo o de

    Campbell (2004). Nesse estudo, 129 diferentes entonaes da palavra eh, do

    vocabulrio japons foram apresentadas a juzes, que classificavam a emoo expressa

    na verbalizao em uma das seguintes expresses: aborrecido, aliviado, com medo,

    excitado, farto, feliz, indiferente, indiferente, inseguro, magoado, perplexo, surpreso,

    triste, triste-chorando, zangado (p. 1). Essa categorizao adotada por Campbell (2004)

    permitiu a comparao dos estados emocionais identificados entre indivduos de

    diferentes culturas.

    Skinner (1957/1992) lida com as chamadas variveis paralingsticas tanto por

    meio do conceito do operante verbal autocltico quanto do conceito de propriedades

    dinmicas das respostas verbais. O autocltico definido por ele como uma unidade de

    comportamento verbal que, para sua ocorrncia, depende de outra resposta verbal e que

    modifica o efeito dessa resposta sobre o ouvinte e indica algo a respeito das

  • 16

    circunstncias nas quais a resposta produzida. As propriedades dinmicas, por sua vez,

    so caractersticas topogrficas da fala que, sozinhas, no informam muito sobre o

    comportamento verbal, mas compem, juntamente com o contedo, a fora da resposta

    verbal vocal. Esse autor sugere as seguintes dimenses formais como medidas que se

    combinam na determinao da fora do comportamento verbal: (1) energia, dizendo

    respeito intensidade com a qual uma resposta verbal emitida, e que varia em uma

    escala contnua; (2) velocidade com a qual respostas verbais sucessivas so emitidas; (3)

    repetio imediata de uma resposta e (4) freqncia com que uma dada unidade verbal

    aparece numa amostra de comportamento verbal. Skinner (1957/1992) afirma que, alm

    da fora da resposta, essas medidas podem indicar diferentes condies ambientais

    envolvidas na emisso da fala, tais como condies especiais de reforo e condies

    fsicas ambientais, como presena de rudo e a distncia entre interlocutores.

    Outra classe importante de respostas no-vocais a expresso facial, que

    proporciona discriminaes finas sobre estados emocionais de um indivduo (Ekman,

    Friesen & OSulivan, 1988; Wagner, 1990). Diversas pesquisas indicam que a

    expresso facial do terapeuta, ou o desacordo entre essa expresso e a emoo sentida

    pelo terapeuta, podem ter influncia sobre a avaliao que o cliente faz sobre este, alm

    de influenciar o andamento e o resultado da terapia (Bnninger-Huber & Widmer, 1997;

    Beier & Young, 1998; Beneke, Merten & Krause, 1998; Dreher, Mengele, Krause,

    Kmmerer, 2001; Merten, Ullrich, Anstadt, Krause & Buchheim, 1996).

    Alm disso, estudos tm demonstrado diferenas na expresso facial de

    pacientes com diferentes transtornos psiquitricos, quando comparados a pessoas que

    no apresentam tais transtornos. Essas diferenas incluem no apenas a habilidade de

    mudar a expresso de acordo com o contexto, como tambm a reao desses pacientes a

  • 17

    expresses faciais de terceiros (Ekman, 1989; Merten & Brunnhuber, 2004; Steimer-

    Krause, Krause & Wagner, 1989).

    Movimentos do corpo e posturas, de forma semelhante, funcionam como

    modificadores, amplificadores e reguladores do comportamento verbal vocal. De acordo

    com Beier e Young (1998), mudanas sutis em comportamentos motores, tais como

    movimentos com a cabea ou inclinao do tronco, podem ter influncia sobre o poder

    de persuaso de um falante.

    Na psicoterapia, a observao de mudanas em padres posturais dos clientes

    so indcios de seus estados emocionais (Scheflen, 1996) ou mesmo facilitam o

    diagnstico de determinados quadros psiquitricos, tais como ansiedade e depresso

    (Waxer, 1978). Por sua vez, movimentos sutis do terapeuta, tais como balano de

    cabea, inclinao do corpo, braos cruzados ou abertos, tm sido relacionados a uma

    maior ou menor sensao de acolhimento, ateno e concordncia por parte do cliente

    (Beier & Young, 1998). De acordo com Caballo (1993), um fenmeno comum (e

    desejvel) em uma interao social so as chamadas posturas congruentes tendncia

    de que a pessoa imite a postura corporal do seu interlocutor, especialmente quando

    ambos apresentam pontos de vista concordantes. Todos estes comportamentos por parte

    do terapeuta teriam impacto no estabelecimento do vnculo e no andamento do processo

    teraputico.

    Os gestos exercem diferentes funes na comunicao, tais como ilustrar objetos

    ou aes que seriam difceis de verbalizar, amplificar uma informao verbal, substituir

    uma fala, alm de proporcionar a inferncia de estados emocionais do falante (Caballo,

    1993). Os gestos de auto-estimulao e os movimentos das pernas e dos ps, geralmente

    no tm a funo de comunicar, mas sugerem alguma condio de desconforto por parte

  • 18

    de quem o apresenta, que aliviada pela estimulao sensorial produzida (Caballo,

    1993).

    Movimentos da cabea, por sua vez, apresentam possibilidades limitadas na

    comunicao (Caballo, 1993). De especial interesse so os movimentos de assentimento

    (a indicao de sim com a cabea, que ocorre em todas as culturas), que sugerem

    acordo ou solicitao para que o ouvinte continue falando, e podem agir como

    reforadores para a ao ou verbalizao prvia do interlocutor, embora tambm possam

    sinalizar um interesse em interromper a conversao. O sacudir a cabea (como que

    indicando no) tambm um movimento encontrado em todas as culturas e tem

    funes opostas s dos movimentos de assentimento (Caballo, 1993).

    Vale ressaltar que, no estudo de comportamentos no-vocais, em nenhum

    momento se assume que essas respostas, por si s, tenham um significado especfico na

    comunicao humana. Entretanto, conhecer o potencial de comunicao de cada uma

    dessas classes de comportamento pode dirigir o olhar do terapeuta ou do pesquisador

    para aspectos que, na relao teraputica, certamente exercem funo. Por essa razo,

    essas classes de comportamento devem ser analisadas de forma mais aprofundada, no

    como significados de estruturas especficas, mas como informaes importantes sobre

    variveis de controle que operam na sesso teraputica.

    Critrios formais e funcionais para a definio da unidade de ocorrncia em uma

    interao social

    Ao discorrer sobre a elaborao de categorias comportamentais, Marinotti

    (2000) destaca a necessidade de que, na definio de uma categoria, seja estabelecida a

    sua unidade de ocorrncia, ou seja, quando ela comea e quando termina de forma a

    permitir a quantificao da categoria em questo. Essa unidade denominada unidade

  • 19

    de registro, e deve relacionar-se s caractersticas do objeto de estudo e aos objetivos da

    anlise de maneira pertinente (Bardin, 1977).

    As unidades de registro tm natureza e dimenses muito variveis, podendo

    partir de critrios topogrficos, funcionais, semnticos, entre outros, a depender dos

    objetivos do pesquisador (Bardin, 1977, Danna & Matos, 1999/1976; Fagundes,

    1992/1976; Hutt & Hutt, 1974; Johnston & Pennypacker, 1993). Para o estudo de

    sesses de psicoterapia, cada um desses critrios implica em limitaes e vantagens.

    Um dos importantes objetivos de estudos cujo referencial a anlise do

    comportamento a identificao de variveis de controle relacionadas ao

    comportamento de interesse, o que, na maioria das vezes, remete a relaes funcionais

    entre as respostas e outros eventos ambientais. Visa-se, portanto, a identificao de

    classes funcionais de resposta. Segundo Johnston e Pennypacker (1993), uma classe de

    respostas chamada funcional quando ela definida de forma a incluir apenas aquelas

    respostas cuja ocorrncia depende de ( funo de) uma particular classe de estmulos,

    ou seja, respostas que estabelecem uma relao de contingncia com determinada classe

    de eventos ambientais. A questo que se coloca em que momento do processo de

    pesquisa no momento de categorizao ou em uma etapa posterior - essas relaes

    funcionais devem ser identificadas (ou inferidas).

    Questo semelhante a esta foi discutida por Russel e Stiles (1979), com relao

    pesquisa de processo em psicoterapia. Esses autores referiram-se a dois tipos de

    estratgia a pragmtica e a clssica - por meio das quais dados de interaes sociais

    podem ser categorizados.

    A estratgia denominada pragmtica consiste na inferncia direta do observador

    sobre estados ou caractersticas do falante (ou no caso da anlise do comportamento,

    inferncia direta de relaes funcionais). Essa estratgia, segundo os autores, permite o

  • 20

    estudo de eventos bastante sutis da interao, entretanto, implica em grande grau de

    inferncia. A falta de uma definio operacional do processo de tomada de deciso, ao

    categorizar cada evento, limita a possibilidade de replicao da pesquisa realizada, bem

    como impede a reviso dos dados analisados, perdendo em generalidade. Esse parece

    ser o principal problema envolvido na categorizao com unidades funcionais de

    registro (Danna & Matos, 1999/1976; Fagundes, 1992/1976; Johnston & Pennypacker,

    1993). Em uma interao social, as variveis relevantes para a identificao de classes

    funcionais de resposta no so necessariamente contguas resposta estudada e,

    portanto, mesmo que se considerassem os eventos imediatamente precedentes e/ou

    subseqentes resposta para a categorizao, tal informao seria insuficiente. Esse o

    caso do resultado de qualquer procedimento aplicado pelo terapeuta que, geralmente,

    no pode ser observados imediatamente e nem mesmo no interior de uma nica sesso.

    A outra estratgia referida por Russel e Stiles (1979), denominada clssica,

    requer dois passos operacionais para a categorizao do comportamento.

    Primeiramente, o pesquisador identifica instncias de categorias, a partir de aspectos

    formais do evento estudado e, mais tarde, faz inferncias baseadas na freqncia (ou

    outro tipo de medida) das categorias identificadas. Tal estratgia tornaria mais explcito

    o processo envolvido na inferncia realizada pelo pesquisador para a categorizao,

    favorecendo a replicao e a generalidade dos resultados obtidos. A interpretao sobre

    relaes funcionais, nesse caso, no feita no momento do registro, mas sim

    posteriormente, a partir da sistematizao dos dados categorizados, o que permitiria a

    identificao de padres na interao estudada. Tal estratgia parece seguir uma

    seqncia de passos necessria para a identificao de relaes funcionais. Nas palavras

    de Staddon (1967):

  • 21

    Operantes (...) no so definidos, mas inferidos. As regularidades so

    observadas entre eventos-estmulo e eventos-resposta; aps a

    observao cuidadosa, o experimentador decide que essas

    regularidades relacionam uma classe de eventos a outra e identifica

    essas classes por suas propriedades. (p. 382)

    Considerando as estratgias propostas por Russel e Stiles (1979), caso se tenha

    como objetivo a construo de um sistema de categorias que possa ser utilizado em

    diferentes pesquisas, com maior probabilidade de produzir dados comparveis, parece

    razovel a adoo de estratgias de categorizao mais prximas denominada clssica.

    Para tanto, uma das possibilidades para a elaborao de categorias de registro de

    comportamento a categorizao de eventos em torno de critrios formais (ou

    topogrficos). A categorizao a partir de critrios topogrficos tem como foco

    semelhanas no movimento, postura e/ou aparncia do comportamento (dimenses

    espaciais do comportamento). Em outras palavras, implica na deciso sobre os limites

    de forma com relao s trs dimenses espaciais ao qual cada resposta deve

    corresponder para ser includa em uma classe (Johnston & Pennypacker, 1993, p. 71).

    Os critrios formais favorecem que sejam claramente especificados e

    identificados os elementos relevantes para a categorizao. Quando nos referimos a

    comportamento social, entretanto, h mais dificuldade para a delimitao de dimenses

    topogrficas. Mesmo que se considerem palavras, frases ou sentenas como dimenses

    relevantes, trata-se de unidades que, isoladamente, proporcionam informao restrita

    sobre a interao em curso (Bischoff & Tracey, 1995). Tal limitao pode ser discutida

    a partir das consideraes de Skinner (1957/1992):

  • 22

    Abaixo do nvel da palavra jazem razes ou, mais rigorosamente, as

    pequenas unidades significativas chamadas morfemas. Acima da

    palavra esto as frases, idiomas, sentenas, clusulas, etc. Cada uma

    delas pode ter unidade funcional como um operante verbal. Uma

    partcula de comportamento to pequena quanto um nico som pode

    estar sob controle independente de uma varivel manipulvel. (...) Por

    outro lado, um amplo segmento do comportamento (...) pode variar

    sob controle unitrio funcional semelhante. (p. 21)

    Dessa forma, verbalizaes ou respostas motoras de topografias muito

    semelhantes podem ser evocadas por eventos bastante diversos ou afetar o

    comportamento do interlocutor de forma tambm diversa, dependendo do contexto no

    qual a resposta ocorre. Parece importante que a topografia da resposta seja, sim, levada

    em conta, mas inserida em um contexto que lhe d sentido. Eventos contguos ao

    responder eventos imediatamente precedentes e subseqentes - no so suficientes

    para a identificao de uma classe funcional de respostas, mas constituem elementos

    que contextualizam a verbalizao ou ao do indivduo. Neste caso, estaramos

    abdicando de uma categorizao topogrfica, em direo a uma estratgia que envolve

    certo grau de inferncia sobre a funo da resposta no contexto imediato da interao.

    Tal estratgia de categorizao, considerando-se a classificao de Russel e Stiles

    (1979), situa-se entre a clssica e a pragmtica (conforme apontado por Hill, 1986) e

    envolve a estimativa da funo imediata da verbalizao a partir da observao da

    topografia e do contexto imediato no qual a verbalizao se insere. A identificao de

    relaes funcionais sobre o contexto mais amplo da sesso ou da relao terapeuta-

    cliente feita em um momento posterior da anlise.

    Este mtodo de categorizao pode ser relacionado ao que Bardin (1977)

    denomina categorizao semntica. Esse tipo de categorizao, segundo esta autora,

    refere-se a recortes em nvel semntico de unidades de significao, segundo certos

  • 23

    critrios relativos teoria que serve de guia anlise que, em algumas vezes, coincidem

    com unidades formais do texto (palavras, frases etc.). Seu comprimento varivel e a

    sua validade no de ordem estritamente lingstica:

    ...consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem a

    comunicao e cuja presena ou freqncia de apario pode

    significar alguma coisa para o objetivo analtico escolhido. (...) [a]

    unidade de registro corresponde a uma regra de recorte (do sentido e

    no da forma) (...) o recorte depende do nvel de anlise e no de

    manifestaes formais reguladas. (...) a unidade de registro existe no

    ponto de interseco de unidades perceptveis (palavras, frase,

    documento, material, personagem fsico) e de unidades semnticas

    (temas, acontecimentos, indivduos), embora parea difcil (...) fazer-

    se um recorte de natureza puramente formal... (pp. 105-107)

    O sentido de uma unidade semntica, segundo Bardin (1977) seria dado por

    elementos de contexto - segmentos da interao que do significado unidade de

    registro. Vale lembrar que o termo significado, para a anlise do comportamento,

    remete necessariamente a relaes do evento em estudo com outros eventos que

    alterariam a sua probabilidade de ocorrncia (Tunes, 1984). Nas palavras de Skinner

    (1974):

    Uma resposta, por exemplo, pode ser descrita como uma forma de

    comportamento. Um operante especifica pelo menos uma relao com

    uma varivel o efeito que o comportamento, caracteristicamente, se

    bem que no inevitavelmente, tem sobre o meio e que no , por

    isso, uma unidade formal. Uma especificao formal no pode ser

    evitada, desde que uma resposta s pode ser considerada um exemplo

    de operante por meio de uma identificao objetiva. Mas no basta a

    identificao objetiva. (p. 115)

    Um exemplo de classe de verbalizao que ilustra essa discusso o relato de

    melhora por parte do cliente. Tal relato, visto puramente em seu aspecto topogrfico, no

  • 24

    mximo pode ser categorizado como descrio de eventos ou, dependendo do critrio,

    como afirmao. Outras informaes so necessrias para consider-lo como um relato

    de melhora o contexto no qual o relato ocorreu, o tema, eventos contguos. Ainda

    assim, no possvel identificar imediatamente as relaes funcionais envolvidas.

    Enquanto uma classe funcional de respostas, tal verbalizao pode ser uma descrio

    (um tato), indicativa do sucesso do procedimento adotado pelo terapeuta, mas tambm

    pode ter como funo a esquiva de outros temas que, naquele momento, seriam difceis

    para o cliente ou ainda a manipulao da disposio emocional do terapeuta, em busca

    de evocar neste alguma ao favorvel. Por outro lado, outro relato ou comportamento

    no-verbal que, de acordo com seu contexto imediato, no contenha explicitamente uma

    descrio de melhora, pode ser um comportamento clinicamente relevante que indique

    um avano do cliente. assim que uma descrio sentimento do cliente, por exemplo,

    quando sua queixa envolve a dificuldade de expresso emocional, pode ser indicativa de

    melhora. No andamento da sesso teraputica, o terapeuta atento supe as possveis

    funes de tais verbalizaes e, ao observar outras ocorrncias da mesma classe de

    relato, e seu contexto de ocorrncia, levanta dados para a identificao da funo.

    O mesmo deve ocorrer com o pesquisador. A ao do pesquisador, se restrita ao

    passo da categorizao do evento como relato de melhora no suficiente para a

    identificao de relaes funcionais, embora tal passo seja essencial para a busca dessa

    relao. A inferncia a priori da funo do comportamento, por sua vez, tambm

    insuficiente, pois necessria a observao de outras ocorrncias para que se possa

    fazer tal inferncia com mais propriedade. O pesquisador teria mais sucesso em sua

    investigao se, tal qual esperado do terapeuta, considerasse aquele episdio do

    comportamento (portanto, um primeiro nvel de categorizao) e, em outro momento,

    verificasse as suas ocorrncias ao longo das sesses observadas, e identificasse que tipo

  • 25

    de padro de interao tipicamente est ocorrendo quando se observa aquela categoria

    de resposta verbal.

    A delimitao da unidade de registro no estudo de interaes sociais

    A questo da delimitao da unidade de registro, na interao social da

    psicoterapia, foi conduzida de maneiras diversas por diferentes pesquisadores. Alguns

    estudos tiveram como unidade de ocorrncia a verbalizao de um participante - toda a

    fala do participante compreendida entre a verbalizao anterior e a posterior do outro

    (por exemplo, Baptistussi, 2001; Kovac, 2001; Margotto, 1998). O problema com esse

    tipo de unidade que, com muita freqncia, so encontrados dados de interao

    teraputica com longas falas de um ou outro membro da dade, que contm em seu

    interior diferentes classes de verbalizaes, as quais no poderiam ser identificadas por

    meio de uma nica categoria de comportamento6.

    Outros trabalhos assumiram como unidade de ocorrncia segmentos de

    verbalizaes - trechos da verbalizao de um participante identificados em uma classe

    especfica (por exemplo, Donadone, 2004; Garcia, 2001; Maciel, 2004; Martins, 1999;

    Moreira, 2001; Oliveira, 2002; Zamignani & Andery, 2005). Segundo este critrio, a

    fala no delimitada exclusivamente pela resposta do outro participante, mas sim por

    qualquer mudana em sua natureza (classe, pausa, tema etc.), ainda que dentro da

    mesma verbalizao deste participante. Uma vez que o presente trabalho visa tambm 6 Vale ainda destacar outro tipo de unidade de registro que tem sido utilizado em estudos sobre eventos emocionais ocorridos na sesso teraputica (por exemplo, Barbosa, 2006; Brando, 2003; Greenberg e Korman, 1993; Taccola, 2007). Nesses estudos, a unidade o episodio emocional definido como o episdio da interao que compreende todo um trecho da sesso no qual o cliente fala sobre experienciar ou ter experienciado uma resposta emocional (ou tendncia ao, ou ambos) em um contexto especifico no qual ela ocorreu, que delimitado pelas falas anterior e posterior do terapeuta. Este tipo de unidade apresenta a vantagem de situar mais amplamente o contexto de ocorrncia da resposta emocional de interesse, mas implica nas mesmas questes encontradas quando a unidade de registro o segmento de verbalizao.

  • 26

    categorizao de respostas no-vocais, assume-se como unidade de ocorrncia o

    segmento de interao, que pode ser caracterizado por um segmento de verbalizao ou

    de qualquer comportamento no-vocal identificados em uma classe especfica. Esta

    soluo favorece a categorizao das diferentes classes de fala de um mesmo

    participante em uma verbalizao, mas acarreta uma dificuldade metodolgica para a

    obteno de concordncia entre observadores, pois ambos os juzes devem concordar

    no apenas com relao categoria escolhida, mas tambm com relao delimitao

    dos trechos para categorizao.

    Uma soluo para este problema foi apresentada por Chequer (2002), que sugere

    que, ao se realizar o teste de concordncia entre observadores, o pesquisador selecione

    previamente os segmentos a serem categorizados antes de encaminhar os dados para a

    avaliao dos juzes. Com isso, o nico critrio a ser avaliado com relao

    concordncia o rtulo ou categoria atribudo ao segmento em questo. Tal sugesto,

    entretanto, implica em um problema para a replicao do trabalho por pesquisadores

    no envolvidos no mesmo grupo de pesquisa, por no ter sido avaliada a concordncia

    entre observadores com relao prpria seleo dos segmentos.

    Outra possibilidade avaliar separadamente a concordncia entre observadores

    com relao seleo dos segmentos e com relao categorizao, cada uma destas

    medidas fornecendo informaes sobre processos distintos. A primeira verifica a

    preciso na definio da unidade de registro, enquanto a outra verifica a preciso e a

    clareza na definio das categorias.

    Vale lembrar ainda que alguns softwares proporcionam a obteno de medidas e,

    pelo menos parcialmente, solucionam o problema da seleo de segmentos da interao.

    O software The Observer, da Noldus Technology e o Software Etnograph, da Qualis

    Research Associates, por exemplo, permitem uma medida do percentual de

  • 27

    concordncia, por meio do clculo do perodo da interao (respectivamente o tempo ou

    o nmero de linhas) em que houve concordncia entre observadores,

    independentemente do momento exato do incio do evento categorizado. Com isso,

    mesmo que haja divergncias com relao ao incio do episdio categorizado, possvel

    detectar o perodo da interao no qual houve concordncia.

    A questo da medida e suas implicaes

    Falar em medida implica em considerar, dentre as propriedades constitutivas do

    fenmeno, aquelas que melhor o representam nas diferentes condies em que ele

    ocorre e, ento, definir uma dimenso quantificvel desta propriedade (Johnston &

    Pennypacker, 1993). Neste tpico, portanto, a fim de melhor situar a discusso a

    respeito de medida de comportamento, considera-se como unidade de ocorrncia o

    segmento de interao, conforme definido no tpico anterior.

    Na anlise do comportamento, a freqncia de respostas tem sido a medida por

    excelncia para a grande maioria dos estudos em qualquer rea de conhecimento

    (Johnston & Pennypacker, 1993, Sturmey, 1996). Tal predileo tem origem nos

    estudos experimentais, nos quais a freqncia mostrou-se uma medida bastante

    apropriada para representar o processo de aquisio de comportamentos. Nestes estudos,

    tem-se na freqncia um indicador a partir do qual inferida a probabilidade de

    ocorrncia de determinada classe de respostas e, conseqentemente, o processo de

    fortalecimento ou enfraquecimento dessa classe (Sidman, 1976, Skinner, 1953,

    Sturmey, 1996).

    Com relao ao estudo de categorias comportamentais, entretanto, h certo

    debate sobre a relevncia dessa medida. A utilizao da freqncia como dimenso

    representativa da ocorrncia de determinadas categorias de comportamento coloca em

  • 28

    um mesmo nvel de anlise (e, portanto, as considera comparveis) desde verbalizaes

    mnimas tais como o hum hum at longos segmentos de verbalizao nos quais um

    evento relatado ou analisado. Dessa forma, a adoo exclusiva dessa medida pode

    superdimensionar categorias tais como as primeiras, que ocorrem em alta freqncia,

    mas que representam um perodo mnimo da interao teraputica. Sturmey (1996)

    afirma que a medida de freqncia mais apropriada para comportamentos que ocorrem

    em episdios discretos e que, para muitos comportamentos clinicamente relevantes, a

    durao e a proporo do tempo so medidas muito mais importantes. A medida de

    durao, por sua vez, embora proporcione informaes sobre o tempo ocupado por cada

    classe de comportamento e a distribuio dos comportamentos ao longo da interao

    (Sturmey, 1996), pode subdimensionar este mesmo tipo de evento que, na medida de

    freqncia, superdimensionado.

    Sendo assim, a alternativa mais vivel seria considerar ambas as medidas, cada

    uma delas analisada em diferentes momentos do processo de sistematizao dos dados,

    tal como sugerido por Sturmey (1996) e conduzido por Zamignani e Andery (2005) e

    Taccola (2007). Sturmey (1996) sugere uma distino entre comportamentos de

    freqncia significativa e comportamentos de durao significativa. Os primeiros tm

    curta durao e ocorrem com relativa freqncia, enquanto os segundos tipicamente

    ocupam perodos de tempo mais extensos.

    A obteno da medida de durao exige do pesquisador a observao da sesso

    registrada em udio ou vdeo e o registro da ocorrncia e durao de cada episdio

    categorizado, o que torna o trabalho de pesquisa bastante rduo. Atualmente, existem

    aparatos tecnolgicos mais sofisticados que permitem o registro das categorias a partir

    da observao direta da interao, indexando-o ao tempo decorrido da sesso

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    registrada7. Tais equipamentos, entretanto, tm um custo bastante elevado, o que pode

    inviabilizar o desenvolvimento da pesquisa e/ou a replicao por parte de outros grupos

    que no possuem os mesmos aparatos.

    Alguns autores, levando em considerao estas limitaes, recorreram a medidas

    indiretas do tempo da interao. Zamignani (2001) utilizou como medida anloga ao

    tempo o nmero de linhas da transcrio da sesso ocupadas por uma determinada

    categoria. Donadone (2004), ao estudar a ocorrncia de orientaes na sesso, utilizou o

    nmero de palavras contidas em cada verbalizao do terapeuta categorizada como

    orientao e do cliente categorizada como auto-orientao, comparando-as com o

    nmero total de palavras proferidas por cada participante na sesso. Baptistussi (2001),

    por sua vez, utilizou a freqncia de palavras em um determinado intervalo de tempo

    como indicador do nvel de participao do cliente na interao teraputica. As solues

    oferecidas pelos pesquisadores proporcionaram informaes relevantes sobre as

    interaes estudadas e o uso destas estratgias uma alternativa quando no h recursos

    para outro tipo de registro ou quando no h a necessidade de acesso a variveis no-

    vocais da interao. Outras possveis medidas levariam em considerao propriedades

    diversas do fenmeno de interesse, tais como intensidade, eventos seqenciais, taxa,

    produtos permanentes do comportamento etc., dependendo do problema de pesquisa e

    das propriedades do fenmeno a ele relacionado.

    7 Nos trabalhos desenvolvidos por este grupo de pesquisa, o software The Observer, desenvolvido pela empresa Noldus Technology, tem sido utilizado para este fim.

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    A categorizao de comportamentos referentes a respostas no-vocais

    A pesquisa sobre sistemas de categorizao de comportamentos no-vocais

    revela uma diversidade de estratgias e recortes na categorizao. As categorias

    desenvolvidas para a categorizao de respostas motores (por exemplo, Batista, 1980;

    Caballo, 1993; Chamberlain & Ray, 1988; Hill, Siegelman, Gronsky, Sturniolo & Fretz,

    1981; Hill & Stephany, 1990; Keeley, 2005; Kim, Liang & Li, 2003; Krauss, Chen &

    Chawla, 1997; Mahl, 1968; Marturano, 1978; Monti, Kolko, Fingeret & Zwick, 1984;

    Rodrigues, 1997; Tepper & Haase; 1978; Vieira, 1975) variam desde categorias

    estritamente topogrficas (por exemplo, inclinao de cabea para frente, inclinao de

    cabea para direita, de Rodrigues, 1993) at aquelas que envolvem um amplo grau de

    inferncia (por exemplo, a avaliao de entonao vocal e expresso facial de Tepper e

    Haase, 1978).

    Alguns deles, tais como Marturano (1978) e Batista (1980) apresentam sistemas

    com grande nmero de categorias, mas cuja definio pouco detalhada. Neste caso, h

    risco de que os observadores, ao utilizarem o sistema, estabeleam critrios

    idiossincrticos para os elementos que no foram contemplados na descrio das

    categorias de interesse. Outros sistemas de categorizao oferecem definies bastante

    detalhadas e precisas o caso, por exemplo, do catlogo de categorias de

    comportamento de Vieira (1975). Esta opo de definio, embora implique em maior

    dificuldade e demora em sua apreenso pelos observadores, especifica detalhadamente

    os critrios e exemplos para os diferentes aspectos envolvidos na categorizao de cada

    unidade proposta.

    Com relao categorizao de expresses faciais, grande parte da literatura

    utiliza mtodos automticos de anlise (por exemplo, Ekman, & Friesen, 1978),

    estratgia que inviabilizaria a categorizao por meio da observao direta da sesso em

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    vdeo. Por outro lado, trabalhos descritivos localizados na literatura que permitem uma

    categorizao de expresses faciais apresentam um carter excessivamente topogrfico,

    contribuindo pouco para fins de contextualizao da informao.

    Categorias para a classificao de variveis paralingsticas (propriedades

    dinmicas das respostas verbais vocais) foram encontradas em diversos sistemas, alguns

    deles compostos exclusivamente por esse tipo de categorias (Cowie, 2000; Eklund,

    2004; Rice, 1986) e outros nos quais elas esto junto a outros comportamentos no-

    vocais (Chamberlain & Ray, 1988; Hill et al., 1981; Hill & Stephany, 1990; Keeley,

    2005; Monti et al., 1984; Rodrigues, 1997; Tepper & Haase; 1978).

    Outra forma de estudo envolve anlise de mudanas em propriedades

    topogrficas especficas no padro de fala do participante (por exemplo, Eklund, 2004;

    Rice, 1986). Esse tipo de abordagem, entretanto, tem sido questionado no estudo de

    interaes sociais por no levar em conta outros aspectos, tais como o contexto no qual

    a fala emitida (Hickson & Stacks, 1989). A avaliao da topografia do comportamento

    verbal vocal, sem levar em conta a topografia habitual de cada falante, ou mesmo as

    informaes de contexto, afirmam Hickson & Stacks (1989), seria insuficiente para a

    compreenso da interao.

    Uma estratgia para o estu