24
PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA - INCRA / IICA ASSESSORIA AO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL VERSÃO PRELIMINAR CONSULTOR: MANOEL VITAL DE CARVALHO FILHO ABRIL DE 1999 RIO GRANDE DO NORTE

O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA - INCRA / IICA

ASSESSORIA AO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL VERSÃO PRELIMINAR

CONSULTOR: MANOEL VITAL DE CARVALHO FILHO

ABRIL DE 1999

RIO GRANDE DO NORTE

Page 2: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

2

INDICE

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................................................................3

O DESENVOLVIMENTO LOCAL.......................................................................................................................................5

A GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL ..............................................................................................................8

GERAÇÃO DE OCUPAÇÃO E RENDA..............................................................................................................................9

ASSESSORIA AO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL ...........................................................................11

PROPOSTA DE CAPACITAÇÃO : GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL...............................................17

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................................................23

Page 3: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

3

APRESENTAÇÃO

O PCT INCRA/IICA iniciou suas atividades no RN em meados de 1997 com o objetivo de

assessorar o INCRA na elaboração de Planos de Desenvolvimento para os assentamentos e realizar um

trabalho visando a integração destes nos seus respectivos municípios.

A ação do PCT era dedicada a concepção de uma proposta de assessoria ao processo

gradativo de construção do desenvolvimento local. Esta construção deveria se dar de maneira

integradora ( assentamentos, comunidades rurais e urbanas ), de forma participativa, educativa,

capacitadora, geradora de autonomia, transformadora e, flexível o suficiente para propiciar sua

replicação em diversas situações.

Com base nisso , a partir de uma consulta a Superintendência do INCRA, algumas

organizações governamentais , não governamentais, movimento sociais e estudiosos, foram

selecionados dois municípios: Baraúna e Carnaubais, para se dar início ao trabalho.

Os municípios estavam localizados em regiões próximas, com grande concentração de Projetos

de Assentamento mas com características diferenciadas. Isso facilitava a realização da experiência, ao

mesmo tempo em que a enriquecia com a diversidade típica de cada região e com a possibilidade de

influência no seu entorno.

A idéia era que estes municípios servissem de laboratórios para a gestação da proposta, e

futuramente, vitrine e locus de capacitação.

Em um dos municípios, Baraúna , a experiência avançou e proporcionou um leque de

informações que a partir de sua análise está sendo possível apresentar esta primeira aproximação de

uma proposta de intervenção que articula assentamentos e comunidades rurais em torno da construção

do Desenvolvimento Sustentável Local.

Os estudos, reflexões e oficinas desenvolvidos ao longo desse período foram fundamentados

em documentos de alguns autores que através do IICA aprofundaram suas reflexões. Destes podemos

citar: Carlos Jara, Tânia Bacelar, Horácio Martins e Sérgio Buarque.

Page 4: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

4

Não se pretende com este texto fazer uma discussão teórica sobre desenvolvimento,

sustentabilidade ou pedagogia. O que se deseja, é contribuir para que cada vez mais tenhamos

elementos concretos, oriundos de uma realidade vivida e refletida, que nos ajude a construir a utopia de

viver a cidadania.

Iniciamos abordando de forma simples e objetiva a temática do desenvolvimento local para em

seguida tecer alguns comentários sobre a gestão desse “novo” desenvolvimento. Com a crescente onda

de desemprego que assola o planeta e cai com todo o peso da responsabilidade sobre os municípios,

não poderíamos deixar de enfatiza-lo como um dos principais ponto a ser tratado quando trabalhamos o

local. Por fim, aprofundamos a reflexão no processo de assessoria ao desenvolvimento que culmina

com a apresentação da proposta de capacitação para construção do desenvolvimento local sustentável.

Este é um ensaio que precisa ser melhorado.

Page 5: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

5

O DESENVOLVIMENTO LOCAL

Historicamente, o desenvolvimento tem sido reduzido ao seu aspecto econômico, como

progresso ou crescimento da produção de riquezas. Nas últimas décadas, acrescentou-se o aspecto

social e humano a concepção de desenvolvimento, prevalecendo, porém, a aceitação de que sem

crescimento econômico é impossível o bem estar social. Esta concepção foi interpretado nos países

periféricos de modo que justificava o sacrifício das classes trabalhadoras: colaborar para fazer crescer a

economia e posteriormente repartir os benefícios. Como se sabe, o resultado não tem sido esse.

O Brasil foi um dos países que mais cresceu no período posterior a segunda guerra, com uma

taxa média de crescimento de 7,1% ao ano. O crescimento econômico incentivado pelo Estado nas

décadas de 60 a 80 levou a que a região Nordeste apresenta-se as mais elevadas taxas médias de

crescimento do PIB brasileiro, conforme Tânia Bacelar de Araújo (1995:127): “De 1960 a 1988, a

economia nordestina suplantou a taxa de crescimento média do país em cerca de 10%; e entre 1965 e

1985, o PIB gerado no NE cresceu (média de 6,3% ao ano) mais que o do Japão no mesmo período

(5,5% ao ano)”. Mas, Apesar deste dinamismo na economia regional, os dados sociais revelam que o

Nordeste permanece sendo a região brasileira com os mais altos índices de pobreza. O Mapa da Fome

elaborado pelo IPEA em 1993, indica que os 32 milhões de brasileiros indigentes, 17,3 milhões estão

no Nordeste, sendo que, destes, mais de 10 milhões residiam no meio rural, ou seja, 63% dos indigentes

brasileiros que vivem nas áreas rurais. A renda regional tem sido fortemente concentrada nestas últimas

décadas, quando os 40% mais pobres tiveram reduzida sua participação na renda de 8,8 para 7,8%,

enquanto que os 5% mais ricos aumentaram sua participação de 38,8 para 42% na renda produzida

regionalmente.

Recentemente, houve um avanço da consciência ecológica diante de análises de desastres

ambientais e conseqüente articulação de grupos e movimentos de consciência ecológica que passam a

questionar a destruição dos recursos naturais não renováveis. O crescimento econômico passa a

ameaçar a existência do habitat humano e do próprio homem. Dessa forma, tenta-se incorporar a

questão ambiental, o que resultou na idéia de desenvolvimento sustentável que estabelece a relação

entre aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Page 6: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

6

Já o desenvolvimento local é uma estratégia de valorização das potencialidades locais que

possam impulsionar um novo padrão de crescimento econômico dotado de sustentabilidade sócio-

ambiental:

“O desenvolvimento local é um processo endógeno de mobilização das energias sociais

na implementação de mudanças que elevam as oportunidades sociais e as condições de

vida no plano local (comunitário, municipal ou sub-regional), com base nas

potencialidades e no envolvimento da sociedade nos processos decisórios” (Buarque,

1997).

Com base nesta definição, pode-se perceber um conjunto de princípios que orientam as ações e

iniciativas que promovam o aproveitamento das potencialidades e superem os pontos de

estrangulamento que impedem o processo de desenvolvimento:

a) Aproveitamento das potencialidades e vantagens competitivas locais: relaciona-se

tanto a adequação das ações às características, condições e possibilidades efetivas do município

(vantagens comparativas), quanto à criação de novas oportunidades através de investimentos e

restruturação da base sócio-econômica e cultural que promovam novas oportunidades de inserção no

mercado (vantagens competitivas).

b) Melhoria da Qualidade de Vida: Significa reorientar as ações e iniciativas nos

objetivos humanos, em especial no combate à pobreza através da oferta de emprego e geração de renda,

com a dinamização da economia e ampliação da atividade produtiva. Combinada com as políticas

sociais, implica também na melhora de acesso aos serviços sociais básicos de qualidade.

c) Conservação ambiental: Implica na adaptação e incorporação de tecnologias

adequadas com os ecossistemas locais de modo que as atividades produtivas não comprometam o

meio-ambiente, através do manejo sustentável dos recursos naturais, garantindo que o patrimônio

natural possa ser desfrutado pelas gerações presente e futura.

d) Democratização do poder e participação social: O espaço público comunitário

adquire peso fundamental em contraposição ao Estado centralizado, relacionada à evolução da

democracia representativa para a participativa. Refere-se a criação de mecanismos de participação

simplificados e mais diretos dos atores chaves do município; a criação de mecanismos de comunicação

mais ágeis com a população, porque é preciso estar bem informado para poder participar

eficientemente; flexibilização de mecanismos financeiros, com maior controle direto das comissões e

Page 7: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

7

conselhos gestores, entre outros aspectos. Implica na mobilização da sociedade local para que a gestão

do processo de desenvolvimento se faça de forma solidária, compartilhada.

e)Descentralização: As decisões devem ser tomadas no nível mais próximo possível da

população interessada, como forma de garantir eficiência, eficácia e efetividade das ações planejadas.

Implica não só numa desconcentração cosmética das obrigações (municipalização conservadora

baseada no clientelismo e reforçadora da estrutura atrasada de poder local), mas na capacidade real de

tomar decisão, com descentralização administrativa e financeira dos encargos, recursos e flexibilidade

de aplicação.

f) Administração local deve exercer um papel mobilizador das forças sociais e

econômicas locais em torno de objetivos consensualmente construídos para o município.

g) Integração dos vários setores de desenvolvimento, combinando eficiência produtiva

com equidade social: Trata-se de articular a dimensão econômica com a social, a ambiental, a cultural,

quebrando o economicismo desenvolvimentista.

Com a crise que o Brasil vem enfrentando, acelera-se o processo de descentralização, centrando

no município o papel do Estado como unidade básica federal. Assim, torna-se mais fácil a aproximação

entre governo e cidadãos, a parceria entre atores sociais e instituições e, a democratização das relações

entre Estado e Sociedade Civil a partir de novas regras de convivência. Isto aumenta a expressão

criativa do movimento de atores sociais na identificação e solução de problemas, formulação e

implementação de políticas públicas, abertura e vivência da solidariedade com conseqüente

envolvimento das comunidades na tomada de decisão.

É desta forma que os municípios passam a conformar espaços privilegiados, não só como

instâncias de construção da cidadania, mas também valorização deste conceito como força propulsora

do desenvolvimento numa ótica mais humana.

O Desenvolvimento Local é um processo que tem que crescer gradativamente, envolvendo e

sendo apreendido pelos atores locais numa perspectiva educadora, emancipadora, geradora de auto-

estima e auto-confiança. Não pode ser resumida a um plano bonito, grande e ilustrado com dados

estatísticos, tabelas e gráficas. Se ele não for vivido, entendido, assumido e aperfeiçoado pelos atores

sujeitos desse processo, não será sustentável. É importante que inicie simples mas participativo.

Page 8: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

8

A GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

A Gestão do Desenvolvimento Local (GDL) é o espaço concreto, mais próximo de todos, onde

se materializa o novo paradigma da parceria governo / sociedade civil. O exercício da gestão local em

parceria significa: enxugamento da máquina municipal, racionalidade nas ações e transparência na

utilização dos recursos. Significa, ainda, a gestação de uma nova relação entre governo e cidadão. Uma

relação menos dispendiosa, mais produtiva e digna dos termos cidadania e emancipação.

A modernização da instituição municipal diz respeito ao fortalecimento da gestão pública para

condução eficiente (economia de meios), eficaz (realização das metas) e efetiva (obtenção dos

resultados sócio-econômicos) das estratégias, programas e projetos. No entanto a modernização na

máquina municipal, sem mudanças na cultura organizacional, não vai por si só, elevar a qualidade na

gestão dos processos de desenvolvimento. A descentralização tem que ocorrer, mas tem que ser vista

como uma necessidade dos movimentos sociais e grupos organizados da sociedade civil. É desta

forma, resultado da aquisição de uma consciência que leve a auto-estima, auto-confiança, auto-

determinação e autonomia que os atores sociais desempenharão de fato seus papéis.

Um modelo de gestão municipal moderno, sintonizado com os novos paradigmas do

desenvolvimento humano e sustentável, tem pelo menos duas dimensões: a funcional e a pedagógica. A

dimensão funcional da gestão é aquela que dá respostas às necessidades e à melhoria de vida da

população local, a curto, médio e longo prazos (Dimensão dos Produtos). A dimensão pedagógica é

aquela interessada em garantir o aprendizado e o crescimento do ser humano, enquanto sujeito de sua

História, de seu Desenvolvimento (Dimensão dos Processos).

Ambas as dimensões exigem dos gestores locais sensibilidade e capacidade técnica para

conceber, planejar, negociar e gerir adequadas propostas de desenvolvimento. Não há Desenvolvimento

Local sem sujeitos locais (poder público, sociedade civil, movimentos sociais e organizações

populares, empreendedores) devidamente capacitados para conduzirem o grande mutirão na busca da

resolução dos principais entraves para o desenvolvimento do município e na identificação e valorização

dos potenciais e riquezas locais.

“Estudos recentes do Banco Mundial, incluindo 192 países, indicam que somente 16% do

Page 9: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

9

crescimento econômico se explicam pelo capital físico (maquinaria e infra-estrutura física); 20% pelos

recursos naturais e 64% são atribuídos ao capital humano e social.” (rev. Proposta, p. 16, n. 73, jun/ago

de 1997).

GERAÇÃO DE OCUPAÇÃO E RENDA

O Rio Grande do Norte é composto por um elevadíssimo número de municípios cujas sedes

urbanas são de pequeno porte (menos de 10.000 habitantes), se configurando como pequenos

aglomerados urbanos de apoio ao rural (ver quadro nº 2).

QUADRO Nº 2 Distribuição da população rural e urbana no Rio Grande do Norte,

conforme o tamanho das sedes dos municípios

POPULAÇÃO TOTAL POPULAÇÃO RURAL Nº DE

ORDE

M

HABITANTES Nº DE

MU-

NICÍPIOS

OBS. % OBS. %

01 mais de 200.000 01 606.887 25,1 - -

02 de 100.000 a 200.000 01 192.267 7,9 149.,6 2,0

03 de 20.000 a 99.999 08 322.035 13,3 90.532 12,1

04 de 10.000 a 19.999 11 258.476 10,7 92.401 12,4

05 de 5.000 a 9.999 41 561.846 23,2 273.685 36,7

06 menos de 4.999 91 474.056 19,8 274.746 36,8

TOTAL 153 2.415.567 100,0 746.300 100,0

Obs.: Os Municípios com menos de 10.000 habitantes tem 1.035.902 habitantes (42,88% do total), sendo que 548.431 vivem no meio rural (73,5% da população rural do Estado).

Esses municípios começam a sentir uma grande pressão em ter que conceber e executar

políticas para o trabalho, uma vez que a crise de emprego nos centros urbanos de maior porte está

Page 10: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

10

eliminando a tradicional válvula de escape representada pela migração.

Os governos e as sociedades locais se vêm compelidos a ser mais eficientes na concepção e

implementação de mecanismos para ampliar as oportunidades de geração de emprego e renda e para

qualificar a população local para usufruir das mesmas.

De um modo geral, o que se observa hoje nesses municípios é um real despreparo para enfrentar

essa questão, tanto na esfera do Estado quanto da Sociedade Civil. Essa afirmação se baseia nas

seguintes constatações:

a) As lideranças políticas locais, com poucas exceções, não estão devidamente informadas e

sensibilizadas para criar e operar políticas públicas para o setor trabalho que sejam de fato

eficientes.

b) As comunidades locais estão desinformadas e desorganizadas e carecem de lideranças na sociedade

civil que possam conferir melhor qualidade aos fóruns e conselhos que tratam de interesses ligados

ao desenvolvimento local.

c) Há pouco conhecimento sistematizado sobre as potencialidades locais, o que restringe a eficiência

de políticas de geração de renda e de qualificação profissional.

d) Inexistem nesses municípios instituições ou mecanismos devidamente capacitados para orientar a

população no adequado uso das políticas públicas para o setor trabalho, bem como para elaborar

projetos e prestar assessoramento técnico a empreendimentos agropecuários e de outros setores da

economia local.

Diante dessas constatações, verifica-se a necessidade urgente de qualificar esses pequenos

municípios, tanto na esfera do Setor Público quanto na da Sociedade Civil, para assumir o desafio do

emprego e da geração de renda, criando e implementando políticas municipais para o setor trabalho que

sejam eficientes, eficazes e efetivas.

As experiências que vem sendo realizadas nos municípios de Baraúnas (mais adiantada) e São

Miguel do Gostoso (em início) demonstram a importância e oportunidade dessa iniciativa. O

agravamento da questão do emprego, previsto como conseqüência das medidas de ajuste fiscal em

gestação, sugere a intensificação dessas experiências, conferindo-lhes caráter de urgência.

Page 11: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

11

ASSESSORIA AO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

Diferentes programas orientados para o desenvolvimento comunitário e combate à pobreza, no

meio rural do nordeste, estão apresentando problemas decorrentes da insuficiência quantitativa e

qualitativa de assistência técnica e gerencial, o que está afetando negativamente o seu desempenho e a

sua sustentabilidade.

As tentativas de operar a Extensão Rural Oficial não vem apresentando bons resultados devido a

uma série de fatores. Também não está apresentando resultados satisfatórios o uso de Empresas

Privadas, uma vez que não apresentam compromissos efetivos com a boa qualidade e com a

continuidade das ações.

Algumas ONG`s que atuam no meio rural da Região vem realizando experiências bem

sucedidas, porém todas elas de natureza pontual e sem possibilidades de ampliação em curto prazo.

A experiência de implementação do PAPP - Reformulado, do PROCERA, PRONAF E

PROGER, estão evidenciando que a melhor qualidade e a sustentabilidade das ações apoiadas

dependem de uma satisfatória assistência técnica e gerencial.

A experiência concreta de intervenção nas realidades locais vem evidenciando também a fácil

submissão das comunidades rurais à “intermediação indesejável” ditada por interesses comerciais ou

ligadas ao clientelismo eleitoral. Tal fato afeta negativamente a auto-confiança, auto-determinação e

autonomia dos atores sociais, comprometendo também a sustentabilidade dos projetos.

Desta forma ficam as comunidades rurais muito sujeitas a práticas autoritárias, egoístas,

individualistas, clientelistas, assistencialistas e paternalistas que quase sempre as excluíram de

processos participativos, das tomadas de decisão, do exercício da cidadania. Esta cultura as deixaram

desorganizadas, desinformadas e despoderadas. A capacidade de identificar os seus problemas

prioritários é notória mas necessitam serem capacitadas para: identificar e analisar alternativas de

solução para os mesmos bem como planejarem, implementarem e gerirem seus projetos e políticas.

Por fim, há que se ressaltar as exigências de natureza burocrática decorrentes dos convênios e

contratos entre os governos e as associações comunitárias, obrigações estas que exigem assistência e

capacitação nos aspectos ligados à administração financeira e contábil e às prestações de contas.

Page 12: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

12

Esse conjunto de fatos leva à conclusão sobre a necessidade e importância de bons serviços de

assistência técnica/gerencial e de capacitação permanente das populações rurais, os quais têm se

mostrado, com base em fatos concretos, de real significado na busca da sustentabilidade dos vários

tipos de projetos comunitários, bem como na concepção e gestão de políticas públicas.

Nesta linha de raciocínio, o planejamento participativo é essencialmente uma preparação para o

exercício da cidadania dos grupos sociais excluídos ou marginalizados. É preciso formular métodos de

planejamento comunitário que sejam: simples, dialéticos, transformadores, participativos,

descentralizados, possíveis de serem manejados por unidades técnicas mínimas, pedagógico, que

aproveite as potencialidades e tenham flexibilidade para serem adaptados às especificidades das

diversas realidades locais, práticos e ligados a ação direta, envolvendo as comunidades nas decisões e

execuções, que ofereça resultados a curto prazo, traduzindo uma gestão pública mais comprometida e

eficiente e, sobretudo, eminentemente político educativo, no sentido de organizar um processo de

aprendizagem social por intermédio do qual os homens e mulheres aprendem a identificar seu

potenciais e criar formas alternativas de desenvolvimento local sustentado.

Um requisito básico para viabilizar processos de desenvolvimento sustentável, é a realização

das atividades de planejamento a nível comunitário, integrando-as no âmbito do município de forma

descentralizada. Para que isto ocorra, é necessário que sejam criadas condições locais de apoio a estas

atividades.

A experiência desenvolvida em Baraúna, sugere a criação de equipes que possam atuar junto

aos assentamentos, comunidades rurais e conselhos municipais realizando tarefas de planejamento,

capacitação, assistência técnica e acompanhamento. Até agora, tem-se insistido no princípio de que as

comunidades devem selecionar instituições ou pessoas que possam prestar assistência à elaboração e

execução de projetos. Trata-se de um princípio válido, porém de alcance limitado especialmente nos

municípios menos urbanizados (sedes com menos de 10.000 habitantes), onde a oferta desses serviços é

muito restrita. Dessa forma, as comunidades ficam sem opção e se vêm compelidas a escolher

entidades ou pessoas que não têm demonstrado a eficiência, dedicação e o comprometimento

necessários.

Os poucos casos de ONG's ou de alguns técnicos mais comprometidos, que têm prestado

assistência técnica de melhor qualidade, são suficientes para demonstrar que um assessoramento

técnico e gerencial mais eficiente é viável e tem trazido resultados altamente satisfatórios para a

Page 13: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

13

qualidade e sustentabilidade dos projetos. Esses casos, entretanto, se limitam a ações pontuais que não

abrangem mais que 15% do público-meta total. Por isso, não têm como serem generalizadas através de

replicação mais ampla.

Em vista disso, e analisando experiências diversas que vêm sendo conduzidas no nordeste,

chega-se à conclusão que o caminho mais rápido e eficiente para dotar as comunidades de melhores

opções na seleção da assistência é criar capacidade local no plano dos próprios municípios, com base

em recursos humanos que vivem nessas áreas e que são muito mais interessados e comprometidos com

a realidade local. Essa capacidade pode se dar em dois níveis: no municipal, através da criação de

equipes técnicas de assessoria e a nível comunitário através da formação e capacitação de comissões

setoriais nas comunidades que vem sendo denominadas de Grupos de Responsabilidades –GR’s.

Essa capacidade é construída através de “qualificação em ação” de modo que as equipes locais

adquirem os conhecimentos e informações a medida em que vão realizando as atividades junto as

comunidades e GR’s. Com o apoio de uma assessoria experiente. Esse aprendizado se dá através de

cursos, troca de informações, acesso a tecnologias, assessoria na elaboração de planejamentos

participativos, elaboração de projetos e assistência técnico/gerencial.

Essas equipes locais vem sendo denominadas de: Equipes Locais de Apoio Técnico – ELO’s,

e são compostas por técnicos, profissionais de entidades públicas e privadas, membros de ONG’s

atuantes no município e jovens das comunidades com boa formação escolar que se destacam durante as

atividades.

Dentre os diversos objetivos que devem orientar o plano de ação das ELO’s pode-se destacar:

a) Buscar a autonomia local de modo que as comunidades se habilitem a dar continuidade ao

processo iniciado;

b) Buscar fortalecer a participação das mulheres e jovens em todas as fases do processo de

desenvolvimento local;

c) Incluir aspectos relevantes ligados ao adequado manejo e preservação dos recursos naturais e do

meio ambiente;

d) Operar com alternativas tecnológicas adequadas às diferentes realidades, buscando articular as

demandas de mercado com as características sócio-culturais da população e disponibilidade dos

recursos naturais;

e) Apoiar às atividades não-agrícolas e os serviços sociais, desde que sejam importantes ao

Page 14: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

14

desenvolvimento local;

f) Buscar fortalecer os Conselhos Municipais de Políticas Públicas, como: CMDR (Conselho

Municipal de Desenvolvimento Rural), FUMAC e FUMAC–Piloto (PAPP), PROGER e

COMUT (Conselhos Municipais de Trabalho);

g) Assessorar as comunidades para conceberem, influenciarem e para ter em acesso às políticas

públicas que possam apoiar o desenvolvimento local.

Na elaboração e execução de planos, projetos, assistência técnico/gerencial e capacitação, algumas

preocupações devem ser levadas em consideração:

1. Preocupação prioritária com os problemas básicos da comunidade visando melhorar as

condições de vida e produção;

2. Valorização da cultura e tradições locais, estimulando a participação social e procurando a auto-

sustentação das comunidades;

3. Pleno aproveitamento das potencialidades locais, das vantagens competitivas, recursos naturais,

conhecimentos e experiências populares acumuladas, enfatizando a preservação do meio

ambiente;

4. Preparação dos segmentos menos organizados para o exercício da cidadania e, em especial, para

aumento da consciência democrática e incentivo ao movimento associativista;

5. Opção por tecnologias simples, desenhando alternativas que requerem ocupação da mão-de-

obra disponível.

A assistência técnica e gerencial deve ser associada a um processo de capacitação permanente, de

modo que, somados às várias formas de financiamento, consigam os seguintes efeitos:

• Fortalecimento permanente do processo de organização e participação dos beneficiários,

incluindo a mudança de atitudes e valores frente ao desenvolvimento local, com maior noção de

direitos, deveres e compromissos assumidos;

• Concepção e elaboração de propostas de desenvolvimento ou ação local, as quais,

temporariamente, servem de “pano de fundo” para a seleção, elaboração e execução de projetos.

A construção dessas propostas deve ser gradual, de modo a permitir maior compreensão,

internalização, legitimação e cumprimento pela população local;

• Seleção, elaboração e adequada execução dos projetos, incluindo o apoio à negociação dos

financiamentos que se fizerem necessários. Da mesma forma, os projetos de investimentos,

Page 15: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

15

principalmente os produtivos, devem também ser graduais, iniciando com projetos de menor

porte, financiados com recursos menos custosos até chegar a projetos maiores apoiados por

créditos regulares.

A ação de apoio técnico a essas comunidades deverá envolver os seguintes instrumentos:

3 Capacitação permanente e integral, realizada com a própria prática de desenvolvimento

local e englobando os seguintes aspectos:

A. Habilitação Básica: formação ética, fortalecimento da cidadania e capacitação para a

organização e participação popular;

B. Habilitação Específica, que se refere à capacitação em processos e técnicas para a

produção de bens e serviços, utilizando tecnologias adequadas às características

específicas de cada projeto;

C. Habilitação Gerencial, que se refere à aplicação dos tradicionais elementos de gestão:

planejamento, organização, direção e controle dos seguintes casos: (1) –

Desenvolvimento local; (2) – Organizações comunitárias; (3) – Projetos Comunitários;

(4) – Operação e manutenção de equipamentos e serviços comunitários. A maior

diferença está no planejamento (que deve ser participativo) e no controle, que se refere

não somente aos controles gerenciais tradicionais mas principalmente ao controle social

exercido pelos beneficiários.

3 Assistência Técnica e Gerencial, dirigida fundamentalmente ao funcionamento das

organizações comunitárias (associações, cooperativas, conselhos, etc.), dos projetos

comunitários e investimentos na produção das unidades familiares. Essa ação implica

também no apoio à disseminação de tecnologias apropriadas aplicáveis aos processos

produtivos locais e no apoio à adequada inserção de produtos no mercado.

A equipe local (ELO) é responsável pela elaboração de planos de desenvolvimento comunitário,

materializados em projetos a partir das situações problemas e potencialidades. Para isto deve-se fazer

uso de todos os meios disponíveis a nível municipal, criando formas práticas de sensibilizar, motivar e

capacitar os atores locais. Assim sendo, faz-se necessário desenvolver ou recuperar, num curto prazo,

instrumentos e métodos pedagógicos que auxiliem o trabalho das equipes responsáveis pelas atividades

de planejamento, tais como: vídeos, cartilhas, mapas, etc. Temos que imaginar procedimentos simples

de trabalho direto, que permitam conciliar o tempo cultural das comunidades com o tempo institucional

Page 16: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

16

requerido para conduzir o planejamento. Trata-se de impulsionar e conduzir movimento participativo

de mudança e aprendizagem, que se inicia motivando a comunidade a definir seus problemas

produtivos e sociais, e só termina quando a auto-avaliação indica mudanças qualitativas.

O projeto comunitário, como um dos produtos do processo de planejamento, é instrumento

educativo e operativo de mudança social para dar resposta sustentável aos problemas prioritários

identificados pelas comunidades. Representa uma intenção manifesta da comunidade ou associação de

produtores, de desenvolver atividades articuladas, ou seja, de promover um determinado

empreendimento considerado crucial para o melhoramento das suas condições de vida, renda e

produção, valendo-se principalmente das próprias potencialidades locais.

Page 17: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

17

PROPOSTA DE CAPACITAÇÃO : GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

1 – Objetivo

Sensibilizar e capacitar empreendedores familiares, conselheiros municipais de políticas

públicas, integrantes do poder público e Equipes Locais (ELO’s) de apoio técnico para a condução de

processos de desenvolvimento sustentável em municípios de pequeno porte.

1.1. Objetivos Específicos

a) Capacitar Agentes Multiplicadores de entidades afins;

b) Elaborar / Aperfeiçoar planos municipais e comunitários de desenvolvimento e seus

desdobramentos;

c) Elaborar / Aperfeiçoar planos municipais de qualificação profissional;

d) Montar serviços municipais de apoio e assessoramento a pequenos empreendimentos

geradores de ocupação e renda

2 - Produtos esperados

a) Agricultores Familiares mais qualificados, melhorando continuamente:

• a gestão de seus empreendimentos familiares e comunitários;

• os planos e processos de desenvolvimento de suas comunidades e de seu município;

• sua contribuição social e fiscal para a economia e a sustentabilidade do município.

b) Equipes Locais (ELO’s) estruturadas e capacitadas, melhorando continuamente:

• o assessoramento técnico, gerencial e pedagógico aos projetos e processos

comunitários de desenvolvimento;

• o acompanhamento à elaboração e/ou aperfeiçoamento dos planos e processos de

desenvolvimento comunitários e municipal;

c) Plano Municipal de Qualificação profissional, nas bases do PLANFOR / SINE e do

PRONAF, elaborados com requisitos técnicos e participativos devidamente observados;

Page 18: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

18

d) Planos de desenvolvimento dos assentamentos e comunidades devidamente elaborados;

e) Plano de desenvolvimento do município aperfeiçoado a partir dos planos das

comunidades;

f) Conselhos municipais implantados e atuando com a participação dos diversos setores da

sociedade local;

g) Núcleos de Articulação Interinstitucional criados e/ou fortalecidos.

3 – Metodologia

O referencial teórico-metodológico adotado concebe a capacitação como um processo educativo

solidário de construção do saber, no qual a aprendizagem se dá através da expressão reflexiva, crítica e

criativa dos atores participantes. O que se quer é gerar espaços e condições de aprendizagem a partir de

uma ação funcional desafiadora, ética e pedagogicamente orientada e reflexionada, que proporcione

simultaneamente a produtores e técnicos de apoio a interação, o aprofundamento e a sistematização de

conhecimentos para entender melhor a realidade numa perspectiva de transformação.

Nesses termos, nos parece interessante e bem próximo ao nosso entendimento sobre o tema o

conceito do Modelo Referencial do Banco do Nordeste, que define a capacitação como um “processo

educativo e formativo, baseado na troca de saberes, voltado para o trabalho e para prática social

cidadã, promotor da autonomia dos agentes produtivos e institucionais na gestão empresarial,

contribuindo para sua inserção no mercado competitivo e para o desenvolvimento sustentável da

região.”(Seminário: Fundamentos e Processos de Capacitação, Fortaleza, abr/97).

Alguns princípios norteiam o trabalho:

a) Ação Local para Emancipação e a Autosustentação – A capacitação não se dá a partir das

técnicas, teorias e informações que se tem para “despejar”, “transmitir”. Ela tem que se dá a partir

de uma interação efetiva dos atores de uma realidade local concreta, tópica ao refletir esta

realidade na perspectiva de mudança. Isso exige um conjunto de ações e resoluções, algumas

imediatas, por parte dos capacitandos, que estão vivendo essa realidade. Ações locais globalmente

sintonizadas e integradas por uma visão sistêmica e holística. Uma visão que enxerga a realidade

Page 19: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

19

numa ótica multidimensional e leva a reflexões sobre as ações, que por sua vez, levam a novas

ações;

b) Formação de Multiplicadores para a Autonomia – É imprescindível a ampliação do impacto das

experiências locais. Para tanto, é preciso gerar competências locais, que possam desenvolver,

estabelecer e disseminar o processo de capacitação com autonomia, sem dependências quanto a

uma metodologia inflexível. Não se trata de auto-suficiência, mas, pelo contrário, de aprofundar as

relações de interdependência. Para chegar a isso há procedimentos:

• ninguém se capacita ou age sobre sua realidade se não acredita em si mesmo, se não sabe

seu valor (auto-estima);

• quem conhece os limites e potencialidades, sabe o que tem para dar e a receber

(autodescobertas / autodiagnóstico );

• é impossível ajudar quem não quer se ajudar, quem não sabe o que quer, onde quer chegar,

quem não está incomodado com sua situação de vida (autodeterminação).

O trabalho de assessoria, antes de mais nada, precisa saber estimular, animar, provocar, nas

pessoas essas energias que levam à autonomia e à capacidade de serem criadoras e difusoras de novas

idéias e práticas;

c) Subsidiariedade - O que pode ser feito a nível local não deve ser transferido para instâncias de

nível superior. É mais apropriado que a resolução e aproveitamento dos problemas e potenciais

diagnosticados na capacitação, sejam analisados, trabalhados, realizados e geridos pelas pessoas

que vivem diretamente essa realidade em seus grupos de base.. Quando não existirem condições,

recorre-se a instância mais próxima;

d) Visão sistêmica – O local não pode ser dissociado do global. A comunidade e o município

fazem parte de um amplo sistema de relações não sendo possível isolar-se do contexto social,

político, econômico, ecológico e cultural com o qual estabelece interação e intercâmbio.

e) Parceria – O que pode ser realizado em parceria não deve ser feito de forma isolada e muito

menos centralizada. O trabalho conjunto é norteado por três princípios básicos:

• racionalidade - otimização dos recursos humanos, financeiros e materiais;

• sequencialidade – em toda a ação deve-se ter clareza do seu início, meio e fim, podendo cada

etapa ser desenvolvida por um ou mais parceiros, organizada de forma tal a garantir a obtenção

Page 20: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

20

do fim desejado.

• Complementariedade de ações – as ações institucionais devem integrarem-se de forma

coordenada, respeitando-se as especificidades e potencializando-se os papéis e experiências de

cada parceiro.

f) Estabelecimento de Instrumentos de Análise e Ações – É preciso desenvolver instrumentos e

ferramentas de trabalho passíveis de apreensão pelos atores locais para que estes possam analisar

e intervir na realidade concebendo e refletindo práticas de autonomia e subsidiariedade. É o uso de

métodos apropriados de trabalho que facilitem o alcance dos objetivos/resultados (dimensão dos

produtos), mas que principalmente, provoquem e promovam a criatividade e a emancipação

(dimensão dos processos).

4 – Operacionalização

Na prática, o trabalho consiste num processo sistemático que integra eventos de capacitação

com assessoramento contínuo às ações coletivas de cada realidade dos sujeitos locais, que

espontaneamente se disponham ao exercício da Ação-Reflexão-Ação, da melhoria contínua, da Práxis.

Para animar e assessorar o processo é formada uma Equipe de Apoio Técnico (ELO) a partir

do potencial humano local que se capacitará na ação:

Todo o processo é conduzido através das oficinas , onde o desafio de todos, educadores-

educandos e educandos-educadores, é reconstruir o conhecimento coletivo apropriado à realidade local,

levando em consideração a realidade de um mundo globalizado. As oficinas geram uma seqüência de

conteúdos teórico-práticos, que vão sendo assimilados e gradativamente protagonizados pelos

participantes, através dos Grupos de Responsabilidade (GR’s). Os GR’s são orientados e devidamente

acompanhados quanto ao uso de métodos de trabalho e ferramental, para ajudar em suas análises e

intervenções sobre a realidade estudada.

A medida que os produtos vão surgindo com as oficinas e as diversas áreas se articulando com

o apoio da equipe local, tem-se um conjunto de demandas e propostas que alimentam o processo de

aperfeiçoamento e\ou construção dos Planos Municipais. Isto se dá com momentos fortes de expressão

pública onde se juntam os diversos atores sociais em espaços de participação e concertação (a Mesa da

Page 21: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

21

Solidariedade).

Com a sucessiva realização e ampliação de eventos de capacitação, planejamento e negociação,

vai sendo criada uma nova institucionalidade com consequente obtenção dos produtos objetivados.

4.1. Oficinas – São eventos de 40 horas em média com temas que giram em torno do desafio de como

se entender e promover o Desenvolvimento Local Sustentável: Associativismo, Gestão Estratégica

Participativa, Políticas Públicas, Sistemas Produtivos Sustentáveis, Ética e Cidadania, Gerenciamento

de Empreendimentos (produtivos e sociais, comunitários, associativos e individuais), etc.. As oficinas

são divididas em 03 fases: 1º) o diagnóstico, onde os participantes levantam, contextualizam e

problematizam suas necessidades e potencialidades em torno do tema da oficina em questão; 2º) as

práticas associativas, onde são desenvolvidas ações resolutivas, referentes à problemática

diagnosticada, assumidas de forma associativa como desafios de ordem imediata e/ou estratégica; 3º)

apresentação sistematizada das práticas desenvolvidas , análise avaliação e ajustes das fases anteriores.

4.2. As Equipes Locais de Apoio Técnico – (ELO’s) – São capacitadas nas temáticas que irão

trabalhar sendo aprofundada a discussão sobre a pedagogia a ser usada com técnicas e dinâmicas de

grupo. A medida que estão se capacitando em temáticas especificas já vão a campo, aperfeiçoando

seus conhecimentos a medida que trabalham seus produtos. Nas primeiras oficinas com as

comunidades, acompanha um assessor mais experiente. A medida que o Equipe adquire confiança,

passa a trabalhar sozinha.

Sistematicamente são realizadas avaliações e redefinições de conteúdos de modo à garantir o

aperfeiçoamento de metodologia bem como sua adequação a realidade trabalhada.

4.3. Os Grupos de Responsabilidade (GR’s) – São comissões setoriais formadas espontaneamente

pelos participantes das oficinas em torno de propostas concretas vivenciadas no cotidiano. Estes

grupos são formados, imprescindivelmente a partir da autodeterminação dos participantes,

considerando as identidades interpessoais e/ou interinstitucionais, e em função da problemática

diagnosticada.

São os GR`s os responsáveis diretos pela condução do processo de planejamento na comunidade bem

como pela apreensão e disseminação dos métodos e técnicas utilizadas:

Page 22: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

22

Geralmente são compostos por jovens, os quais possuem, maior grau de escolaridade e estão mais

abertos a novos conhecimentos , condutas e relações.

Ao longo da ação existem momentos comuns aos diversos GR`s das várias áreas temáticas e diferentes

comunidades. Eles encontram-se para eventos de capacitação, avaliação e proposições conjuntas. Estes

encontros, são sementes de futuras redes horizontais de interesses formados a partir da ânsia de

construção de um novo paradígma de desenvolvimento pautado em bases solidárias, emancipacipatória,

auto-gestionárias, sustentável.

4.4 O Ciclo de Análise e Resolução de Problemas – Trata-se de um método de trabalho a ser

apropriado e recriado pelos GR’s à medida em que exercitem as práticas oriundas das oficinas. Um

ferramental para reunião, análise, planejamento e ação dos atores locais em busca do

desenvolvimento. Um instrumento de Gestão Participativa adaptado criticamente a partir de algumas

idéias e ferramentas de planejamento, monitoramento e avaliação; É um método composto pelas mais

variadas técnicas de diversas metodologias de planejamento, monitoramento e avaliação. Estas são

usadas em função da situação dada pela realidade vivida. É uma caixa de ferramentas disponível para o

processo de assessoramento ao desenvolvimento local.

Page 23: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

23

BIBLIOGRAFIA

1. AACC. Formação de multiplicadores para apoiar o Desenvolvimento Sustentável Local, no Plano

dos Pequenos Municípios do Rio Grande do Norte. 1998.

2. ARAÚJO, Tânia Bacelar. “Dinâmica Regional Brasileira: Rumo à Desintegração Competitiva?”

in OLIVEIRA, Marcos A Guedes (org.), Política e Contemporaneidade no Brasil, Bagaço,

Recife, 1997. pp 245-298.

3. ARAÚJO, Tânia Bacelar. “Nordeste, Nordestes, que Nordeste? in AFFONSO, R. B.; SILVA,

P. L. B, (Org.) Desigualdades Regionais e Desenvolvimento, FUNDAP/Ed. UNESP: São

Paulo, 1995. pp 125-156.

4. BAVA, Silvio Caccia. Desenvolvimento Local uma Alternativa para a Crise Social? Perspectiva,

revista da fundação SEADE, Vol.10/Nº 3, Jul-Set/1996, pp 53-59.

5. BUARQUE, Sérgio Cristovam. Desenvolvimento Local e Planejamento Municipal (roteiro

de exposição preliminar). INCRA-IICA, mimeo, 1997.

6. BUARQUE, Sérgio Cristovam. Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Sustentável,

IICA, mimeo, Recife, 1995.

7. CARVALHO, Horácio Martins de Carvalho. Metodologia do Planejamento Municipal Participativo

– Um modelo Interativo. IICA. 1997.

8. FRANCO, Augusto de. Ação Local A Nova Política da Contemporaneidade. Brasília,

Agora/Fase/Instituto de política, 1995.

9. FERREIRA FILHO, Raimundo. Descentralização e municipalização do Apoio à Reforma Agrária e

ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar . INCRA-IICA, 1997.

Page 24: O DESENVOLVIMENTO LOCAL - incra.gov.brincra.gov.br/sites/default/files/uploads/servicos/publicacoes/... · BIBLIOGRAFIA ... natural possa ser desfrutado pelas gerações presente

24

10. JARA, Carlos Júlio. Abertura econômica externa via abertura política interna. O planejamento

do desenvolvimento municipal sustentável. Recife, IICA/PRORURAL, mimeo, 1996.

11. PEIXOTO, Hildemar et alii . Capacitação na Ação voltada para a Gestão do Desenvolvimento

Municipal. Versão Preliminar. AACC. 1998.

12. SILVA, Roberto Marinho Alves da Silva. Dilemas da Gestão Participativa do Desenvolvimento em

Serra do Mel/RN. Seminário de dissertação. Universidade Federal de Pernambuco. 1998.

13. SILVA, Roberto Marinho Alves da Silva. Desenvolvimento Rural e Poder Local. UFRN. 1997

14. VEIGA, José Eli da. Rumos do Desenvolvimento Rural Brasileiro. Texto provisório elaborado

para o projeto CUT/CONTAG de pesquisa e formação sindical, mimeo, 1997.