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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I CICLO, BARRA DO GARÇAS, MATO GROSSO. CUIABÁ MT. 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA

EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I CICLO, BARRA DO GARÇAS,

MATO GROSSO.

CUIABÁ – MT.

2008

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MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA

EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I CICLO, BARRA DO GARÇAS,

MATO GROSSO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação no Instituto de Educação

da Universidade Federal de Mato Grosso, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Educação na Área Educação, Cultura e Sociedade,

Linha de Pesquisa: Educação e Meio Ambiente.

Orientadora: Profa. Dra. Suise Monteiro Leon Bordest

Co-Orientadora: Profa. Dra. Miramy Macedo

CUIABÁ – MT.

2008

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© Maria Eugênia Batista da Silva Neta, 2008.

É autorizada pela autora a reprodução total ou parcial desta obra para fins científicos e acadêmicos.

S581d

SILVA NETA, Maria Eugênia Batista da

O desvelar da percepção ambiental na prática educativa de

educadoras de I Ciclo, Barra do Graças, Mato Grosso. / Maria Eugênia

Batista da Silva Neta – Cuiabá (MT): A Autora, 2009.

120 p.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de

Mato Grosso. Instituto de Educação. Programa de Pós-Graduação em

Educação.

Orientador: Profª. Dra Suise Monteiro Leon Bordest. Inclui bibliografia.

1. Educação - Escola Organizada em Ciclo. 2. Meio Ambiente.

3. .Percepção Ambiental . I. Título.

CDU: 37:504

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Eunice e Deusdete,

flores na minha vida, que

souberam me amar e me ensinaram

a valorizar o ser humano e os estudos;

ao meu amado filho Vitor,

pela compreensão nas minhas ausências

e pelo carinho e amor nas presenças;

Valeu filhote!

Aos meus irmãos: Eudenísio,

Luis César e Weldhson José,

e minhas irmãs Heber e Sarah,

pelo apoio que me ofertaram

nos bons e não tão bons momentos;

a minha vovó Anísia Nery,

pelos inúmeros momentos que me fez

sorrir, até de mim mesma;

dedico-lhes esta conquista

com todo o meu amor!

Figura 1: as flores, mandacaru Cereus jamacaru. Foto de Mª Eugênia Batista S. Neta (out. 2007).

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AGRADEÇO,

A Deus pai, que me abençoou e protegeu neste percurso.

À professora Drª Suise Monteiro Leon Bordest, orientadora, pela acolhida, empenho,

compreensão, amizade e competência evidenciados na jornada, contribuindo em muito para

meu aperfeiçoamento.

À professora Drª Miramy Macedo, co-orientadora, pela dedicação, paciência, incentivo,

compreensão, amizade e competência demonstrados na caminhada, colaborando para a minha

formação.

Ao professor Dr. Luiz Marcelo de Carvalho, por aceitar ser membro de minha banca de

qualificação e defesa, cooperando significativamente para a concretização desta dissertação.

Ao professor Dr. Luiz Augusto Passos, por aceitar ser membro de minha banca de

qualificação e defesa e pelo precioso auxílio em todos os momentos em que este se fez

necessário.

Ao professor Dr. Germano Guarim e à professora Michèle Sato, da linha de pesquisa

Educação e Meio Ambiente, pelo apoio, incentivo, amizade, competência e profissionalismo

ratificados durante o curso.

Ao professor Dr. Hidelberto Ribeiro e a professora Mestre Marilene Marzari, pelas conversas

sempre produtivas e pelo inestimável incentivo à realização deste mestrado.

À Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso, à Assessoria Pedagógica, ao CEFAPRO,

à Escola Estadual Heronides Araújo e à Escola Estadual Antonio Cristino Côrtes, pela

oportunidade de realizar este trabalho e pelo profissionalismo a mim dispensado, quando este

se fez necessário.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Educação da Universidade

Federal de Mato Grosso, pelo ensejo de realizar este trabalho.

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Ao corpo docente e aos mestrandos do Curso de Mestrado em Educação, Cultura e Sociedade,

pela valiosa contribuição no meu “acabamento” como sujeito.

Aos colegas Ivan Belém, Roberta, Mariléia, Samuel, Dorcas, Ângelo, Ellen e Romildo, da

linha de pesquisa em Educação e Meio Ambiente, pelos livros emprestados, os bate-papos, os

cafezinhos, as choradeiras, as risadas... Saudades!

À Simone Manduca (SemiEdu), Mariana Serra e Luisa Mª Teixeira (secretaria PPGE/IE), do

Instituto de Educação, pela incansável presteza, apoio, paciência, compreensão e carinho com

que me trataram. Valeu, pessoas lindas!

À amiga Lucirene Porto (e seu esposo Dely Porto), pelo apoio incondicional, carinho,

amizade, abrigo, colo e ombro, e pela oportunidade de conviver e de compartilhar os bons e

não tão bons momentos desta caminhada, ao seu lado. Companheira é companheira...!

À amiga Silvia Stering (e seu esposo Marcos), pelas conversas, muitos risos, carinho, amizade

e oportunidade que tive de aprender com seu espírito “movimentista”. Valeu, companheira!

À amiga Auzeni Alves, por muita vezes adivinhar minhas necessidades e me socorrer, uma

companheira de todas as horas.

À amiga Susi, pelo incentivo, apoio e risos, pelas caronas para Cuiabá, pela mão amiga que

sempre esteve lá quando eu precisei. E à amiga Andréa, pelo permanente incentivo.

Aos meus queridos pais, Deusdete e Eunice, irmãs, irmãos e familiares, em especial a meu

filho Vitor, pelo carinho, incentivo, tolerância e compreensão, evidenciados, mesmo a

distância, na consolidação desta dissertação.

À minha cunhada Terezinha Leila, um especial agradecimento, por sempre estar ao meu lado,

me ajudando e torcendo por mim, mesmo que de longe. Valeu! E às minhas cunhadas, Lilia e

Keila, pelo apoio sempre que necessário. Obrigada.

Aos meus lindos sobrinhos, João Pedro, Danielly, Karine, Ana Vitória, Ana Clara, Arthur e

Júlia, pelos momentos de alegria e descontração, que me forteleceram nos estudos.

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Às educadoras: Tia Nina, Ordalina e Cândida, um especial agradecimento, pois ao aceitarem

prontamente meu convite para serem colaboradoras como sujeitos desta pesquisa, me

possibilitaram a concretização de um sonho, o de ser mestre em educação.

À Comunidade católica da Igreja São Judas Tadeu, em Aragarças, Goiás, pelas orações, pelo

apoio e incentivo em todo o percurso do mestrado.

À todos que contribuíram, das mais diferentes formas, tamanhos, cores, cheiros e sabores,

para a consolidação de mais esta etapa da minha existência,

MUITO OBRIGADA!

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EPÍGRAFE

De tudo ficaram três coisa:

a certeza de que estava

sempre começando,

a certeza de que era

preciso continuar e

a certeza de que seria

interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção um

caminho novo,

fazer da queda, um passo de dança,

do medo, uma escada,

do sonho, uma ponte,

da procura, um encontro.

Fernando Pessoa.

Figura 2: o fruto, mandacaru Cereus jamacaru. Foto de Mª Eugênia Batista S. Neta (dez. 2007).

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RESUMO

A educação escolar é base constitutiva na formação das pessoas. Sendo assim,

conceber a educação como direito humano diz respeito a considerar que as pessoas se

diferenciam dos outros seres vivos por uma característica inerente à sua espécie: a capacidade

de produzir conhecimento e, por meio dele, transformar a natureza, organizar-se socialmente e

elaborar cultura. Nessa direção a educação ambiental escolarizada pode revelar-se como

prática de diálogo entre as culturas e a troca de experiências e vivências entre os autores e

atores dos processos educativos, quando estes são pensados e construídos no currículo de

forma coletiva e na perspectiva da aprendizagem dos educandos. Aventurei-me na discussão

sobre a percepção ambiental no currículo, vista Merleau-Pontyanamente, como uma

construção inacabada, como um processo, como uma possibilidade, requerendo para e na

organização escolar maior flexibilidade e autonomia dos envolvidos. Dessa forma, as ações de

educação ambiental escolarizada podem contribuir significativamente para a formação dos

estudantes em relação a sua realidade sócio-ambiental, motivando para o compromisso com a

sadia qualidade de vida, tanto em nível local como global. Nessa linha de pensamento o

trabalho de investigação, objetivou desvelar a percepção ambiental na prática educativa de

três educadoras de I Ciclo, de 1ª, 2ª e 3ª fases da E.E. Heronides Araújo, no município Barra

do Garças, Mato Grosso. A opção pela abordagem qualitativa com olhar fenomenológico a

partir de Merleau-Ponty permitiu apreender a diversidade semântica dos sentidos, por meio da

intersubjetividade, da intimidade e da experiência dos sujeitos envolvidos. Como

procedimento metodológico, foi utilizado o levantamento bibliográfico, o questionário, as

entrevistas e as observações do cotidiano escolar. Como resultado foi desvelado três fios de

percepção ambiental que sustentam a prática educativa dita de educação ambiental, quais

sejam: como lugar pra viver; como liberdade e espaço e como natureza primitiva (rochas,

rios, árvores, entre outras). O difícil entrelaçamento desses fios no chão da escola e na prática

educativa perpassou necessariamente pela cultura, a afetividade, a relação intra-escola, a

formação inicial e continuada das educadoras, a resiliência das professoras e o entendimento

do projeto escolar voltado para uma organizada em ciclos.

Palavras-chave: Educação – Escola Organizada em Ciclo. Meio Ambiente. Percepção

Ambiental.

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ABSTRACT

The school education is constituent base in the people's formation. Therefore, to

conceive the education as human right concerns to consider that the people differ of the other

alive beings for an inherent characteristic to their species: the capacity to produce knowledge

and, through him, to transform the nature, to organize socially and to elaborate culture. In that

direction the environmental education schooling can be revealed as dialogue practice between

the cultures and the exchange of experiences and existences between the authors and actors of

the educational processes, when these are thought and built in the curriculum in a collective

way and in the perspective of the students' learning. I ventured in the discussion about the

environmental perception in the curriculum, see Merleau-Pontyanamente, as an unfinished

construction, as a process, as a possibility, requesting for and in the school organization more

flexibility and autonomy of those involved. Thus, the actions of environmental education

schooling can contribute significantly to the students' formation in relation to their partner-

environmental reality, motivating for the commitment with the healthy life quality, so much

in local level as global. In that thought line the investigation work, aimed at to reveal the

environmental perception in practice educational of three educators of 1st Cycle, of 1st, 2nd

and 3rd phases of E.E. Heronides Araújo, in the district county of Barra of Garças, Mato

Grosso. The option for the qualitative approach with phenomenological look starting from

Merleau-Ponty allowed to apprehend the semantic diversity of the senses, through the

intersubjectivity, of the intimacy and of the experience of the involved subjects. As

methodological procedure, it was used the bibliographical rising, the questionnaire, the

interviews and the observations of the daily school. As result was revealed three threads of

environmental perception which support the educational practice dictates of environmental

education, which were: as a place to live; as freedom and space and as primitive nature (rocks,

rivers, trees, among other). The hard interlacement of those threads in the ground of the

school and on educational practice necessarily pervaded by culture, the affectivity, the

relationship intra-school, the educators‟ initial and continuous education, the teachers'

resilience and the understanding of the school project focused to an organized in cycles.

Keywords: Education – School Organized in Cycle. Environment. Environmental

Perception.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CBA Ciclo Básico de Aprendizagem

CEFAPRO Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica

EA Educação Ambiental

EAE Educação Ambiental Escolarizada

E.E. Escola Estadual

MA Meio Ambiente

PA Percepção Ambiental

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PDE Plano de Desenvolvimento da Escola

PEC Projeto Escola Ciclada

PESA Parque Estadual da Serra Azul

P.P.P. Projeto Político Pedagógico

PrEA Programa de Educação Ambiental

SEDUC Secretaria de Educação de Educação de Mato Grosso

SEE Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 As flores, mandacaru Cereus cajamaru. Foto de Mª Eugênia Batista S.

Neta (out. 2007) ......................................................................................

iii

Figura 2 O fruto, mandacaru Cereus cajamaru. Foto de Mª Eugênia Batista S.

Neta (dez. 2007) .....................................................................................

iv

Figura 3 Vista parcial de uma das cachoeiras do Parque Estadual da Serra Azul,

município de Barra do Garças, Mato Grosso. Foto do acervo de Maria

Eugênia Batista da Silva Neta .................................................................

20

Figura 4 Vista da frente da E.E. Heronides Araújo, no centro de Barra do Garças,

Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta ....

24

Figura 5 Vista parcial do Vale do Médio Araguaia. Disponível em

<http/:www.portaldo cerrado.com.br> Acesso em: novembro 2008. ......

25

Figura 6 Vista parcial de um córrego do Parque Estadual da Serra Azul, município

de Barra do Garças, Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia

Batista da Silva Neta ...............................................................................

32

Figura 7 Belezas e riquezas do potencial turístico de Barra do Garças, Mato

Grosso. Disponível em <http:/www.google.com.br> Acesso em: outubro

de 2007 ..................................................................................................

43

Figura 8 Vista parcial de uma das cachoeiras do Parque Estadual da Serra Azul,

município de Barra do Garças, Mato Grosso. Foto do acervo de Maria

Eugênia Batista da Silva Neta ..................................................................

50

Figura 9 Vista parcial da área do pátio coberto da E.E. Heronides Araújo em Barra

do Garças, Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da

Silva Neta.................................................................................................

53

Figura 10 Vista parcial da área do pátio coberto da E.E. Heronides Araújo em Barra

do Garças, Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da

Silva Neta ................................................................................................

53

Figura 11 Vista parcial do encontro dos Rios Araguaia, Goiás e Garças, Mato

Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta .............

66

Quadro 1 Enturmação dos (as) alunos (as) nos ciclos e nas fases do ensino

fundamental .............................................................................................

54

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14

CAPÍTULO I

O CAMINHO PERCORRIDO NA EDIFICAÇÃO DA PESQUISA ..............

20

1.1 – Aprendendo a caminhar na fenomenologia Merleau-Pontyana .................... 21

1.2 – O lócus de estudo e as educadoras colaboradoras .......................................... 24

1.3 – Os procedimentos metodológicos ...................................................................... 28

CAPÍTULO II

O DIÁLOGO TEÓRICO NA TESSITURA DA PESQUISA ........................

32

2.1 – A escola e a educação ......................................................................................... 33

2.2 – O meio ambiente ................................................................................................. 37

2.3 - A Percepção Ambiental ...................................................................................... 44

CAPITULO III

PERCEPTUALIZANDO O MUNDO VIVIDO DAS EDUCADORAS ...........

50

3.1 – O projeto Escola Ciclada de Mato Grosso – PEC ........................................... 54

3.2 – Do projeto PEC à sala de aula: a coexistência conflituosa do velho e do

novo ..............................................................................................................................

58

3.3 – O currículo da E.E. Heronides Araújo ........................................................... 62

CAPITULO IV

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA CONCRETUDE DA

PRÁTICA EDUCATIVA .........................................................................................

66

4.1 – Os caminhos pelos quais a percepção ambiental poderia chegar à sala de

aula ...............................................................................................................................

68

4.2 – Os diferentes fios de percepção ambiental ...................................................... 70

4.3 – O entrelaçamento dos fios da percepção ambiental na prática educativa.... 74

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CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................

79

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................

82

DOCUMENTOS ..........................................................................................................

86

APÊNDICES ................................................................................................................

A - Questões para entrevista com a Assessora Pedagógica de Barra do Garças e

a Coordenadora do CEFAPRO ................................................................................

B - Questionário às educadoras ...............................................................................

C - Questões para entrevista com as educadoras de I Ciclo ..................................

87

88

89

90

ANEXOS .....................................................................................................................

A – O Projeto Escolar: Meio Ambiente - Sobre o Lixo ..........................................

B - Estrutura física e os aspectos da estrutura curricular da E.E. Heronides

Araújo .........................................................................................................................

C – Plano Anual de Ensino para a 1ª fase do I Ciclo ..............................................

91

92

93

100

SOBRE A AUTORA ...................................................................................................

120

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INTRODUÇÃO

Todas as explicações (...) são verdadeiras, já que o pensador pensa sempre a

partir daquilo que ele é (MERLEAU-PONTY, 2006, p.17).

Concordando com a afirmação Merleau-pontyana de que o pensador pensa sempre a

partir daquilo que ele é, resolvi contar de onde surgiu à idéia de realizar este trabalho,

justificando, dessa forma, a razão primeira das escolhas feitas e do motivo pelo qual decidi

investigar a “percepção de meio ambiente com educadoras de I Ciclo” e não outra.

Como tudo começou...

No decorrer do ano de 2004-2005, o Centro de Formação e Atualização dos

Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO1) desencadeou a implementação do Projeto

Escola Ciclada (PEC) nos municípios do Estado de Mato Grosso, por meio de cursos anuais

de formação continuada, por área de conhecimento. Como professora formadora nesta

unidade atuava na área das ciências da natureza e matemática. Realizei várias atividades

práticas com as educadoras de I ciclo no intuito de compreender alguns conceitos pertinentes

ao meio ambiente natural, como queimadas, desmatamento, lixo, recursos hídricos entre

outros, na perspectiva das relações tanto naturais como sociais.

Ainda me lembro do encontro de formação continuada que motivou esta pesquisa. O

curso funcionava desde depois do almoço e se por toda a tarde. Naquele dia, havia chovido e

a tarde estava quente e úmida. Algumas educadoras já me aguardavam no corredor da escola

e um recíproco som de boa tarde “ecoou” um pouco sufocado dos corpos igualmente

necessitados de uma siesta2.

E naquele dia, fizemos uma atividade de educação ambiental, no pátio da escola

durante a qual elas tinham que observar, desenhar, pintar e abraçar uma árvore. Depois

1 O CEFAPRO representa uma iniciativa pioneira de Mato Grosso no país, pois é o único Estado brasileiro que

mantém esse tipo de estrutura destinada à formação continuada de profissionais da educação pública. (disponível

em: <http://www.seduc.mt.gov.br> acesso em: maio 2008.). 2 A palavra siesta tem origem na terra de Cortés, na Península Ibérica, que pela dominação dos mouros por

alguns séculos, incorporou vários aspectos da cultura árabe aos seus costumes. Os celtiberos costumavam pular

da cama às 6 horas da madruga e, portanto, quando chegava o meio-dia, hora mais quente do dia, seis horas

tinham se passado; o que explica o motivo da palavra siesta. Assim, o cochilo após o almoço, com o passar do

tempo, passou de simples hábito para uma verdadeira tradição espanhola. Atualmente incorporada também nos

costumes brasileiros. (disponível em: http://wikipédia.com.br acesso em: maio 2008).

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tinham que escrever o que sentiram. Dessa atividade emergiram muitas falas das educadoras

em relação ao meio ambiente; algumas me chamaram a atenção, a saber,

[...] em casa não existe um único espaço de terra para infiltrar a água... é tudo

calçado... fica tudo limpo (educadora A).

o meio ambiente [...] está precisando de uma ajuda humano (educadora B).

Essas falas apontavam para uma percepção do meio ambiente, associada

principalmente aos aspectos naturais e dissociada da compreensão deste como um sistema

complexo que elas integram e nele interagem. A esse respeito, Dias (2000) afirma que,

reduzir o(s) conceito(s) de meio ambiente exclusivamente aos seus aspectos naturais, pode

impossibilitar a interlocução entre as ciências sociais e outras ciências.

Em outras afirmações que se seguem, percebemos a relação do meio ambiente com

as questões sócio-ambientais que atingem diretamente as pessoas, aqui a interlocução entre

as ciências sociais e as ciências duras se aproxima, o que contribui para a melhoria da

qualidade de vida:

há muitas modificações no clima: antes as chuvas eram mais freqüentes, o calor

aumentou, „falta‟ umidade no ar... as crianças sofrem (educadora C).

antes os vizinhos ficavam debaixo das árvores para conversar [...] agora, nem se

cumprimentam [...] também não há árvores (educadora D).

na minha casa não há plantas, é tudo calçada, bem fechada, ventilação pouca, sem

árvores, é asfaltado; depois num outro momento a mesma educadora diz [...] as

transformações sofridas pelo meio ambiente, me causa noites mal dormidas e corpo

sempre cansado (educadora E).

E foi dessa maneira que o resultado da atividade de educação ambiental, realizada

com as educadoras de I Ciclo, me interrogou e germinou nessa investigação. Comecei a me

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questionar: de que maneira a percepção das professoras de um meio ambiente dissociado da

inter-relação ser humano-natureza poderia influenciar na sua prática pedagógica? E, no final

de 2005, entrei no mestrado em educação. Assim,

(...). Em um acontecimento considerado de perto, no momento em que é vivido, tudo

parece caminhar ao acaso (...). Mas os acasos se compensam e eis que essa poeira de

fatos se aglomera, desenha certa maneira de tomar posição a respeito da situação

humana, desenha um acontecimento cujos contornos são definidos e do qual se pode

falar (MERLEAU-PONTY, 2006, p.17).

Destarte, o interesse em investigar a temática do meio ambiente, para além de estar

em consonância com as demandas atuais da sociedade, emana da minha vivência como

educadora inserida nos processos de educação ambiental na e da escola.

A pesquisa tem como objetivo principal compreender a percepção ambiental

presente na prática educativa das educadoras de I Ciclo, na dimensão da relação entre a

educação e meio ambiente, perspectivando o enfrentamento das questões sócio-ambientais

que interferem na vida das pessoas e com as quais todos se vêem confrontados no dia-a-dia.

Nessa dimensão, idealizo a educação escolar como base constitutiva na formação

das pessoas, assim como na defesa e na promoção de outros direitos. Conceber a educação

como direito humano diz respeito a considerar que as pessoas se diferenciam dos outros seres

vivos por uma característica inerente à sua espécie: a vocação de produzir conhecimento e,

por meio dele, transformar a natureza, organizar-se socialmente e elaborar cultura.

Concordo com o enunciado por Freire (2001), “não dá para dizer que a educação

sozinha crie a cidadania de quem quer que seja. Mas, sem a educação é difícil construir a

cidadania”. De fato a educação não é a única responsável pela construção da cidadania. E

entendê-la nessa amplitude talvez seja um grande desafio para os educadores, pois a

educação “faz parte do cotidiano das pessoas, e por isso está presente em todos os contextos

sociais, isto é, ela ocorre na família, no trabalho, na rua, nos meios de comunicação entre

outros” (RIBEIRO, 2005, p. 41).

No sentido da interlocução entre as ciências, concordo com o que dispõe a Lei

Federal nº 9.394/963 sobre os conteúdos curriculares, que devem observar a difusão de

3 Lei Federal de 20 de Dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes de Bases da Educação Nacional (DOU

23.12.1996).

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valores fundamentais ao interesse social, de respeito ao bem comum, à ordem democrática e

aos direitos e deveres dos cidadãos.

Ao falar da construção do conhecimento, parto da acepção de que ela ocorre num

corpo e que este corpo se encontra de pé no mundo4, assim, “toda atividade humana é fruto

dos diferentes sentidos [biológicos, culturais, entre outros] que caracterizam o mundo

histórico e social da pessoa” (SPAZZIANI, 2006, p. 108).

Sendo assim, procurei discutir a relação entre a educação e o meio ambiente, na

perspectiva de que a Educação Básica deve trabalhar os valores fundamentais ao exercício da

cidadania, percebida aqui como o “diálogo entre as culturas e o conhecimento entre os povos,

gerações e gêneros” (REIGOTA, 2002, p. 62 ).

As discussões das temáticas sociais possibilita a compreensão da complexidade

sócio-ambiental que freqüentemente são incorporadas aos currículos das áreas de

conhecimentos. Os PCNs sugerem o tratamento transversal de temáticas sociais na escola,

como o meio ambiente, por exemplo, uma questão local e global, como forma de contemplá-

las na sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área.

Uma questão que se coloca como global é a utilização dos recursos naturais, que

segundo Branco (2004) se constitui no grande problema da civilização moderna, industrial e

tecnológica, configurada na ausência da percepção da interdependência natureza-humanidade,

o ser humano não se vê como parte da natureza, mais como seu dono.

Não é possível produzir artificialmente todo o oxigênio necessário à manutenção da

biosfera, ou os ciclos naturais da água, de modo a garantir a estabilidade climática.

Conseqüentemente dependemos da existência de florestas e outras formações vegetais, e da

presença de animais e microrganismos que participam de seus processos de reprodução,

embora exista uma independência relativa desse jugo (BRANCO, 2004).

A partir de tais pensamentos, o trabalho foi assim estruturado: no capítulo I

apresento o caminho percorrido na edificação da pesquisa. A intenção com este capítulo é

descrever minha opção pela investigação qualitativa, como metodologia, que encontra

respaldo na teia de significados da fenomenologia merleau-pontyana, valorada na

intersubjetividade – eu-outro-mundo - e a experiência dos envolvidos, imprimindo na

comunhão entre o sujeito e o objeto a condição para a seu exercício. Exponho, ainda, que foi

4 O termo “de pé no mundo” encontra sentido nas idéias do filósofo Maurice Merleau-Ponty, significa dizer que

o ser humano é a única espécie que consegue ficar pé, com o corpo ereto, que ergueu-se evolutivamente porque

nas relações culturais e naturais com os outros seres vivos.

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no decorrer dos estudos que percebi nesta forma singular de tratar os dados, uma abertura à

compreensão da percepção ambiental.

No capítulo II, busquei o diálogo teórico necessário à construção da pesquisa,

vislumbrando uma intrínseca relação entre a escola/educação, o meio ambiente e a percepção

ambiental/educação ambiental, partindo do princípio de que os sistemas escolares são partes

do processo educativo, em que aprendizagens básicas são desenvolvidas. Por meio deles,

conhecimentos essenciais são partilhados, comportamentos, normas e habilidades são

construídos. Nas sociedades modernas, o conhecimento escolar é quase uma condição para a

sobrevivência, o desenvolvimento e o bem-estar social (GRACIANO, 2005).

Falo aqui de uma noção de desenvolvimento voltada para uma sociedade

sustentável5, que pode possibilitar às pessoas nas suas especificidades, criar e recriar saberes

outros, não apenas saberes que “consideramos” científicos. E que essa dinâmica pode sim

ocorrer no recinto da educação formal. Para Capra (1996) a partir do ponto de vista sistêmico,

as únicas soluções viáveis para os problemas ambientais são as soluções "sustentáveis".

Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as

perspectivas das gerações futuras. Este, em resumo, é o grande desafio do nosso tempo: criar

comunidades sustentáveis - isto é, ambientes sociais e culturais nos quais podemos satisfazer

as nossas necessidades e aspirações, sem diminuir as chances das gerações futuras.

No capítulo III, tentei imprimir a minha percepção do mundo vivido pelas

educadoras colaboradoras. Inicio o capítulo ressaltando algumas características que

considero pertinentes, no que tange à identidade das educadoras e em relação ao mundo

educacional vivido por elas. A Tia Nina, a Ordalina e a Cândida, nomes fictícios, são

mulheres, mães, esposas, trabalhadoras e educadoras apaixonadas. Desempenham suas

funções no I Ciclo da EE. Heronides Araújo, com dedicação e amor, elementos tão essenciais

nessa profissão e mais ainda nesse ciclo.

O intuito aqui é contextualizar o projeto educativo da Escola Ciclada de Mato

Grosso (PEC) no qual as educadoras colaboradoras se inserem. Cabe recordar que a iniciativa

de inovações no campo da desseriação está relacionada ao ciclo básico de alfabetização,

tomado, por São Paulo em 1984 e Minas Gerais em 1985, no bojo de um movimento

renovador decorrente da vitória eleitoral da oposição nesses estados (GOMES, 2004).

5 O termo “sociedade sustentável” se mostra mais adequado do que o termo “desenvolvimento sustentável”

quando falamos de comunidades ribeirinhas e/ou étnicas nas discussões pertinentes à educação ambiental.

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No último capítulo, tentei desvelar a percepção ambiental das educadoras

colaboradoras na concretude da sua prática educativa. As três educadoras percebem o meio

ambiente de forma diferente: como lugar para viver, como liberdade e espaço e como

natureza. Isso me parece enriquecedor no processo de construção do currículo voltado para o

I Ciclo do ensino Fundamental, pois amplia as possibilidades de percepção do meio

ambiente. O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de

pensamento para garantir a nossa sobrevivência ainda não atingiu a maioria das pessoas, tem-

se uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da realidade inadequada para lidar com um

mundo superpovoado e globalmente interligados (CAPRA, 1996).

Para que essa interligação aconteça é preciso perceber que no âmbito escolar “as

aprendizagens devem ser significativas, no sentido de relacionar os aspectos subjetivos e

objetos da realidade, considerando o contexto e as práticas sócio-ambientais, junto com a

percepção que os sujeitos têm sobre si mesmo e seu ambiente” (LEFF, 2003, p.261).

Um caminho possível parte da concepção de que a noção de meio ambiente que

começa em casa pode se consolidar na escola. A criança não chega à sala de aula como uma

folha em branco na qual a educadora irá, a partir daquele momento, imprimir o mundo vivido

e construído historicamente pela humanidade, embora, muitas vezes, seja exatamente isso

que ocorre.

É preciso pensar como esse sujeito se relaciona com o mundo que o cerca, com o

meio ambiente, com os colegas de sala, com a educadora e com a sua própria aprendizagem.

Refletir sobre as impressões “pedagógicas” que esse sujeito carrega e como podemos

percebê-las no cotidiano da sala de aula, na perspectiva de que essas interpretações

contribuam para o processo de percepção do meio ambiente como espaço de entrelaçamento

entre natureza e cultura.

Assim, tracei alguns caminhos possíveis para essa interpretação, estes caminhos

contribuíram para que esta pesquisa se edificasse, desvelando aspectos de como as

educadoras de I Ciclo da escola Estadual Heronides Araújo percebem e trabalham as

questões sócio-ambientais no cotidiano da sala de aula e na escola.

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CAPITULO I

O CAMINHO PERCORRIDO NA EDIFICAÇÃO DA PESQUISA

(...) aprende-se o que é fenomenologia passo a passo, através da leitura,

discussão e reflexão (...). O que é necessário é mais simples: aprender o que

se deve através de atitudes naturais, tentar descrever as apresentações sem

pré-julgar os resultados tomando por garantia a história, a causalidade, a

intersubjetividade e o valor que ordinariamente associamos com nossa

experiência (...) (NATANSON, 1998).

Figura 3: vista parcial de uma das cachoeiras do Parque Estadual da Serra Azul, município de Barra do Garças,

Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta.

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1.1 – Aprendendo a caminhar na fenomenologia Merleau-Pontyana

A intenção com este capítulo é descrever o caminho percorrido e os procedimentos

escolhidos na edificação do trabalho. Minha opção pela investigação qualitativa, como

metodologia, encontra respaldo na teia de significados da fenomenologia merleau-pontyana,

que, valoriza a intersubjetividade e a experiência dos envolvidos, estampando na comunhão

entre o sujeito e o objeto a condição para a sua prática. Exponho, ainda, que foi no decorrer

dos estudos que percebi, nessa forma singular de tratar os dados, uma abertura à

compreensão da percepção ambiental.

A fenomenologia6 Merleau-pontyana origina-se no pensamento fenomenológico de

Edmund Husserl, que surgiu e cresceu no fim do século XIX, enredado no auge da crise do

pensamento científico e filosófico. Se o pensamento naquele momento era resultado de

situações exteriores, as razões pelas quais se fazia qualquer afirmação deixavam de

constituir-se como verdadeiras; e, assim, as ciências humanas acabavam erradicando seus

próprios fundamentos (MASINI, 1993).

A tentativa aqui é mostrar alguns pontos que caracterizam o olhar fenomenológico,

na dimensão metodológica, e, como diz Masini “apenas como introdução a um caminho

possível para compreender o ser humano” e suas percepções (1993, p. 71). Nesse sentido, o

que a fenomenologia traz para quem faz pesquisa no campo educacional não é uma resposta,

mas, sim, um ponto de partida;

O de voltar-se para a ação humana e buscar seus significados no “mundo da vida”

como Husserl denomina, que para Heidegger é o “ser-no-mundo”, e para

Merleau-Ponty o “mundo vivido”. O pesquisador renuncia assim à atitude de

apenas constatar ou comprovar dados, e busca compreendê-los na totalidade da

vida da pessoa com quem lida (MASINI, 1993, p.75). [grifo meu].

A pesquisa em educação, numa perspectiva fenomenológica, de acordo com

Rezende (1990) segue algumas etapas, quais sejam: a constatação da realidade a ser

6O termo fenomenologia data do século XVIII, quando o físico alemão John Heinrich Lambert (1728-1777), o

aplicou à teoria do conhecimento, visando diferenciar verdade de ilusão e erro. Depois, no século XIX, este

termo retorna com a obra Fenomenologia do Espírito de Hegel. Entretanto foi no século XX com Edmund

Husserl que ele ganha o sentido com o qual trabalhei, como o estudo das essências do fenômeno (MARTINS,

1992).

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pesquisada que se relaciona com o primeiro sentido7, da conotação aos sentidos biológicos da

visão, da audição, do tato, do olfato e do paladar; a compreensão da realidade constatada que

se refere ao segundo sentido, da aprendizagem humano-significativa; e a projeção

prospectiva da realidade compreendida que arrola o terceiro sentido, da orientação do sujeito

no mundo e sua significação.

Um primeiro ponto no olhar fenomenológico é a descrição que, se opondo à

explanação, utiliza palavras do cotidiano, revelando uma consciência aparentemente ingênua,

como condição para capturar o fenômeno. A descrição dinamiza a compreensão dos

discursos dos sujeitos na medida em que está em função dela.

Os discursos, numa dimensão fenomenológica, se apresentam como descritivos;

interpretativos e compreensivos, esses últimos buscam a compreensão do sentido pleno na

correspondência entre o ser humano (significante) e os sentidos (significados). Entretanto a

questão é: como saber se a descrição feita do fenômeno se refere ao que se mostra e não

somente as minhas impressões, valores, ideologias, teorias, entre outros?

O segundo ponto é o da interpretação, deixando sempre aberta a possibilidade de

que outras interpretações sejam feitas, ampliando assim a compreensão sobre o fenômeno. O

que assegura, porém, essa melhor compreensão daquilo que o fenômeno é, é uma descrição

bem feita que amplie a oferta de material para a interpretação. Segundo Rezende (1990),

“interpretar é desvelar, no sentido em que o desvelamento é possível” (p. 29).

Vista assim, a partir de Merleau-Ponty, compreendo que toda percepção – e aqui se

insere a percepção ambiental, objeto deste estudo - ocorre numa atmosfera difusa e escapa

ao controle do sujeito, pois não é um ato de vontade, de decisão de uma situação dada. Nesse

sentido, concordo com Carmo (2004), ao afirmar que a percepção não é um objeto tardio

para a consciência e, sim, uma forma originária e primeira do conhecimento. O percebido se

transporta para uma consciência que, quando em estado de alerta, dá conta de sua

manifestação.

Em uma conversa com o educador Luiz Augusto Passos (informação verbal8),

compreendi que a percepção em Merleau-Ponty “é o primeiro ato de consciência do pensado

e do vivido”. Assim, compreendo essa consciência a que se refere a fenomenologia Merleau-

7 Segundo Rezende (1990) a primeira das relações semânticas a serem estabelecidas por uma fenomenologia da

educação é entre os diversos sentidos da própria palavra sentido. Dessa forma o autor descreve que há três

sentidos para o sentido. 8Fala proferida em reunião de orientação para correção de texto de dissertação, no Instituto de Educação da

UFMT.

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pontyana como“a consciência implícita no existir” (MASINI, 1993, p.74). Portanto, nessa

dimensão, a metodologia desta pesquisa é dialética e o olhar é fenomenológico.

Mas, que dialética é essa? É uma dialética fenomenológica. Rezende (1990) ao falar

da fenomenologia da educação anuncia tal dialética, que, diferentemente de uma Dialética

de Marx, de concepções materialistas, ou de uma Dialética de Hegel, de concepções

idealistas, pensa a própria concepção da dialética e da história numa perspectiva existencial.

Para o autor, ela “é a conseqüência da presença dos sujeitos humanos no seio mesmo da

dialética histórica” (p. 55).

Sendo assim, a fenomenologia enquanto olhar metodológico, possibilitou o

movimento dinâmico entre a pesquisadora e o mundo vivido das educadoras de I Ciclo, pois,

mergulhada na descrição, nega as dicotomias, buscando a comunhão entre o sujeito e o

objeto. Numa atitude fenomenológica, não há diferença entre o papel atuante do sujeito que

conhece e a influência do objeto conhecido. Afirmações essas que comungam com as de

Passos e Sato in Sato e Carvalho,

A expressão conceitual fenomenológica, [...] deixa transparecer uma forma

singular de tratar os dados, uma “metodologia”, um estilo no que se refere à sua

coleta, modo de organização, de hierarquização, de exame, que expõe uma postura

atitudinal qualificativa que emana do pesquisador em comunhão com os sujeitos

pesquisados (PASSOS; SATO, 2005, p. 220). [grifo nosso].

Nesta pesquisa, o meio para trilhar a investigação qualitativa com um olhar

fenomenológico se constituiu do levantamento bibliográfico documental, do questionário, da

observação e das entrevistas, por possibilitarem, conforme afirmam Bogdan e Biklen (1994),

a descrição, a indução e o estudo das percepções pessoais.

No momento de descrever a percepção ambiental das educadoras, o mundo vivido

onde estamos imersos aparece como uma inesgotável fonte de significados para a

consciência, e é possível perceber que “sempre haverá um saber latente, secreto, além da

nossa percepção” (CARMO, 2004, p. 41). O que para Rezende (1990) representa o sentido

pleno, aquele que nunca encontramos e ao qual, no entanto, nunca podemos renunciar. O

senso do sentido ao qual ainda falta mais sentido.

Dessa forma, ao olhar o fenômeno da pesquisa, neste caso, a percepção ambiental

das educadoras de I Ciclo, compreendo que não o vejo por inteiro, vejo apenas a

manifestação de uma parte que se revela, enquanto outra se esconde, numa relação figura-

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fundo. Sobre isso, ainda podemos dizer, seguindo a direção das afirmações de Antonio

Muniz de Rezende que

[...] as qualidades do pesquisador se tornam ainda mais necessárias [...] no

tratamento interpretativo dos dados constatados. A insignificância de algumas

pesquisas na área da educação manifesta-se principalmente no fato de se

contentarem com a coleta de dados, às vezes com a mais requintada manipulação

estatística, [...] um dado não interpretado não revela suas múltiplas significações

(1990, p. 71).

1.2 – O lócus de estudo e as educadoras colaboradoras

Figura 4: vista da frente da Escola Estadual Heronides Araújo, no centro de Barra do Garças, Mato Grosso.

Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta.

O lócus de estudo escolhido para esta pesquisa foi a escola Estadual Heronides

Araújo (Figura 4), localizada no município de Barra do Garças (Figura 5), no Estado de Mato

Grosso, região conhecida como Vale do Médio Araguaia (Anexo A). Essa região é detentora

de um rico patrimônio natural (hídrico – Rios Araguaia/GO e Garças/MT, praias, cachoeiras,

córregos, lagoas; faunístico – peixes, aves; florístico – pequi, caju, jatobá entre outros);

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artificial (uma escultura do Cristo Redentor no PESA, as pontes sobre os rios Garças e

Araguaia, o Porto do Baé, o Parque das Águas Quentes, entre outros) e cultural (etnias

indígenas – xavante principalmente, migrantes, danças, entre outros). Situa-se a 500 km da

capital do Estado, Cuiabá, e 400 km da capital de Goiás, Goiânia.

Na figura 5 podemos ver parcialmente, o município de Barra do Garças, na Região

do Vale do Araguaia, que teve sua origem e seu processo de desenvolvimento, conforme

Ribeiro (2001), consubstanciado, primeiro na fase garimpeira, e depois, com a chegada da

Fundação Brasil Central9, na cidade de Aragarças, GO, em 1943, momento em que o

Governo de Getúlio Vargas manifestava a preocupação em ocupar os chamados "espaços

vazios" existentes no país. Para Ribeiro (2005) os migrantes, principalmente os nordestinos e

nortistas, vinham sem possuírem qualquer recurso econômico, às vezes deixando para trás

suas famílias em busca do sonho de com o garimpo construir uma vida melhor.

Figura 5: vista parcial do Vale do Médio Araguaia - (Disponível em <http/:www.portaldo cerrado.com.br>

Acesso em: novembro 2008).

9 Ver VILLAS BOAS, Orlando; VILLAS BOAS, Claudio. A Marcha para o Oeste. São Paulo: Globo, 1994.

PONTAL DO ARAGUAIA - MT

ARAGARÇAS - GO

Aragarças - GO.

Barra do Garças – MT.

Pontal do Araguaia - MT.

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Nesse contexto, se inserem as três educadoras, colaboradoras desta pesquisa, que

atuavam no momento da investigação na E.E. Heronides Araújo10

, inaugurada no ano de

1970 e inicialmente designada de Centro Educacional. Funcionou anexo à E.E. Antônio

Cristino Cortes por dois anos. A partir de 2001, a escola passa a oferecer as seguintes

modalidades: Educação Infantil, Ensino Fundamental (com regime de seriado e ciclo de

formação) e Ensino Médio, com duração de três anos.

A escolha dessa unidade escolar deve-se a três fatores: primeiro, por ela estar

inserida desde 200011

no “projeto escola ciclada”, passando por todos os entraves, discussões

e formações continuadas desse período. Segundo, ter sido palco, em vários momentos, das

lutas sindicais, como local para as assembléias deliberativas da categoria dos profissionais da

educação. E, por último, ser a única escola localizada no centro de Barra do Garças, a

oferecer no ano letivo de 2007 o I Ciclo completo organizado com as três fases, vindo ao

encontro do meu objetivo e facilitando o acesso e as visitas, entrevistas, observações, dentre

outros.

A organização do ensino em ciclos de formação, componente da nossa pesquisa, foi

implantado nessa escola gradativamente, a partir de 2001, a evolução gradual está descrito no

Regimento Escolar da seguinte forma: no primeiro ano implantou-se o 1º Ciclo de formação

humana, que corresponde ao período da infância, em 2002 implantou-se o 2º Ciclo, que

corresponde ao período da pré-adolescência e em 2003 implantou-se o 3º Ciclo, período que

corresponde a adolescência.

As três educadoras colaboradoras desta pesquisa, eram professoras que

atribuíram12

classes e/ou aulas para o ano letivo de 2007 no I Ciclo na escola Estadual

Heronides Araújo. Neste trabalho, as educadoras colaboradoras optaram por serem

identificadas com um nome fictício no lugar do nome verdadeiro. Dessa forma, os nomes:

Tia Nina, Ordalina e Cândida foram escolhidos por elas e utilizados no sempre que se

fizeram necessários, para situar as falas dos sujeitos.

10

Em 1974 passa a chamar-se E.E. de I Grau Heronides Araújo, de acordo com o decreto nº 1720 de 31/10/73,

publicado no Diário Oficial em 1º de novembro de 1973, prestando uma homenagem, àquele cujo projeto de Lei,

havia transformado Barra do Garças em município. No ano de 1975, foi implantado o ensino de 5ª a 8ª série.

Conforme Resolução 849/76, no dia 30 de dezembro de 1976 obteve autorização para funcionar legalmente. Em

1992, a Portaria 3.277/92 da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEE), concede o

reconhecimento à esse estabelecimento de ensino 11

O ano de implantação do PEC foi no final 1999 em Barra do Garças pela Secretaria Estadual de Educação. As

escolas que aderiram começaram a trabalhar nessa modalidade em 2000. 12

O Estado de Mato Grosso possui legislação própria para o processo de atribuição de classes e/ou aulas do

Professor, que considera a LDB 9394/96, a LC Estadual 49/98 e 50/98, e Lei Estadual 7.040/98.

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A delimitação da quantidade de educadoras se deve à opção em trabalhar com

apenas uma educadora regente13

por fase, e apenas o I Ciclo dentro da organização do ensino

em ciclos da E.E. Heronides Araújo. Em algum momento da pesquisa, questionei: é

representativa à compreensão da percepção ambiental na prática educativa a quantidade de

três sujeitos? Encontrei resposta na afirmação de Rosa (2006) quando diz que “na pesquisa

qualitativa, não é a quantidade de pessoas que tem importância, mas, sim, o significado que

elas têm, em razão do que se procura para a pesquisa” (p.53).

Considerei o sujeito participante da pesquisa um ser em situação, que é o sujeito

encarnado em Merleau-Ponty e o sujeito engajado em Paulo Freire. E é justamente no

sentido do sujeito encarnado e engajado que percebo o encontro entre a fenomenologia da

educação numa perspectiva Merleau-pontyana e a pedagogia do oprimido, numa dimensão

Freiriana. Em ambos, o ser humano é visto como um ser inacabado e, por isso, complexo em

suas dimensões: ontológicas, antropológicas, éticas, políticas e ambientais.

Nesse sentido, considerei importante falar um pouco sobre as três educadoras

colaboradoras, partindo da compreensão de que, na fenomenologia Merleau-pontyana, o

fenômeno deve ser encarado como uma “estrutura reunindo dialeticamente na

intencionalidade o homem e o mundo, o sujeito e o objeto, a existência e a significação”

(REZENDE, 1990, p. 34).

E, nessa perspectiva, as educadoras colaboradoras compõem a totalidade do

fenômeno educativo e, por isso, ouvimos o que elas puderam e quiseram contar sobre sua

formação inicial e continuada, seu trabalho, um pouco de sua experiência no ciclo de

formação humana e na escola Heronides Araújo, a seguir compartilharemo um pouco dessas

história.

A educadora Tia Nina é regente não efetiva no quadro de professores da Seduc –

MT, dedica-se a uma sala “multifases”14

(com 1ª e 2ª fases do I Ciclo), natural do município

de Iporá, no oeste de Goiás, reside no setor central da cidade de Aragarças, é pedagoga, com

especialização em Psicopedagogia, trabalha há sete anos com o I Ciclo e há cinco anos na EE

Heronides Araújo, participa da formação continuada na escola e no CEFAPRO.

13

O documento da SEDUC “Projeto Escola Ciclada de Mato Grosso” chamado pelos professores de “livro

branco”, nomeia como professor (a) regente o (a) educador (a) que assume uma sala de aula correspondente uma

fase em cada ciclo. 14

Utilizo a terminologia de sala “multifases” no lugar de multiseriada por julgar mais adequada a modalidade de

ciclo e para mostrar a junção de salas de aulas de fases diferentes. No inicio do ano letivo de 2008 a Seduc – MT

alterou a terminologia de fase (1ª, 2ª e 3ª) para ano (1º, 2º e 3º).

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A Ordalina é educadora regente, efetiva na Seduc – MT, que se dedica a 2ª fase do

I Ciclo, natural de General Carneiro, no sudeste de Mato Grosso, mora no centro da cidade

de Barra do Garças; é pedagoga, com especialização em Língua Portuguesa, trabalha há

cinco anos com o I Ciclo e há três anos na EE Heronides Araújo, participa da formação

continuada na escola e no CEFAPRO.

A Cândida é educadora regente, efetiva na Seduc – MT, dedica-se a 3ª fase do I

Ciclo, natural de Mato Grosso, mora no centro da cidade de Barra do Garças, no sudeste de

Mato Grosso, é pedagoga, trabalha há quatro anos com o I Ciclo e há seis anos na EE

Heronides Araújo, participa da formação continuada na escola e no CEFAPRO.

1.3 – Os procedimentos metodológicos

Num primeiro momento, utilizei a técnica do levantamento bibliográfico

documental como aporte para a delimitação da temática e do objeto pesquisado.

Posteriormente, usei o questionário como um recurso para conhecer o contexto vivido pelas

educadoras. O questionário constituiu-se de questões estruturadas e abertas, e foi respondido

pelas três educadoras, no primeiro semestre de 2007 (ver apêndice A).

Os questionários foram transcritos num primeiro momento, ipsis litteris15

, as

entrevistas foram transcritas, num primeiro momento, ipsis verbis, para a compreensão e

interpretação do discurso dos sujeitos. Posteriormente, foram realizadas as correções

ortográficas nas falas preservando o sentido impresso pelas educadoras.

Em todas as entrevistas fiz uso de gravador de voz. Num segundo momento, utilizei

os procedimentos de observação e entrevista, sendo esta última a maior responsável pela

descrição da percepção ambiental das educadoras.

A opção pela técnica de observação segue o que afirma Suassuna (2006), a tentativa

de uma participação real do pesquisador na vida da comunidade, do grupo, ou de uma

situação determinada, nesse caso, na escola Heronides Araújo, no interior mato-grossense.

Essa técnica facilitou o rápido acesso aos dados sobre as situações habituais em que a

percepção ambiental das educadoras podia ser vista e em que condições se encontram

15

Utilizo essa expressão de origem latina que significa “pelas mesmas letras”, “literalmente”, para indicar que o

texto foi transcrito fielmente do original. E a expressão ipsis verbis, que significa “pelas mesmas palavras”,

“textualmente”, também para indicar que o texto foi transcrito fielmente da gravação original.

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envolvidas. Possibilitou, ainda, o acesso a informações do cotidiano escolar e a compreensão

de palavras de esclarecimento que acompanhavam o comportamento delas.

De acordo com Mesquita Filho (2006), a observação desempenha um papel

relevante na prática científica, entretanto, o simples “observar” não pode ser responsabilizado

pela produção de novos conhecimentos, devendo estar associada a outros fatores. Neste

trabalho associamos a observação à técnica de entrevista, ao questionário e ao levantamento

bibliográfico documental.

Podemos ver em Garganta (2001), que os propósitos da obervação, quando

relacionados com a teoria, convicções e/ou experiências do obervador, influenciam no que é,

como é e quem é observado, também quantas vezes, quando e o que se observa. Morin

(1989) afirma que é o “saber ver” que suscita um problema profundo, porque não só qualquer

teoria depende de uma observação, mas também porque qualquer observação depende de

uma teoria.

Para Bogdan e Biklen (1994) a tentativa de equilíbrio entre a participação e a

observação representa uma dificuldade da técnica; aqueles que, de fato, participam nas

atividades, debatem-se com o dilema de “como participar” (p. 126). Os mesmos autores, no

mesmo recorte, alertam para tomar cuidado com o tempo que dispõe e sugerem que, “uma

participação moderada poderá ser eficaz”.

Observei o movimento dinâmico no interior da escola durante dois meses de cada

início de semestre em 2007, período em que as energias estão revigoradas pelas férias e a

receptividade flui melhor. As visitas foram realizadas uma vez por semana e pude observar

os momentos de acolhida no início das aulas; o recreio, onde fiquei algumas vezes no pátio e

na maioria das vezes na sala de professores; e observei o final das aulas, a saída dos alunos e

das educadoras.

As entrevistas com as pessoas responsáveis pela implantação e implementação do

ciclo em Barra do Garças foram realizadas no segundo semestre de 2006; e com as três

educadoras sujeitos desta investigação no período de junho à novembro de 2007. Essa técnica

se justifica no trabalho pelo fato de se constituir em uma forma de interação social e de

diálogo assimétrico entre a pesquisadora e as educadoras.

Desse modo, me permitiu maior compreensão sobre: o que elas sabiam, esperavam,

sentia, desejavam, pretendiam fazer, faziam ou fizeram, bem como acerca das suas

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explicações ou razões a respeito das coisas precedentes. Outro fator pertinente à escolha

dessa técnica refere-se à flexibilidade de sua utilização.

As questões tinham relação com o passado e o presente vividos pelas educadoras em

suas percepções e compreensões. As questões semi-estruturadas foram redigidas e

ordenadas de forma flexível, pretendendo como resultado respostas livres e abertas (ver

apêndice B e C).

Dessa forma, os relatos abrangeram muitas adjacências do fenômeno investigado,

contribuindo para a descrição da percepção ambiental na prática educativa. Também foram

considerados o tempo cronológico e o espaço determinado por elas para efetivar as

entrevistas, que se configuraram respectivamente: logo depois das aulas e no âmbito da

unidade escolar, com duração aproximada de uma hora e meia para cada uma.

Para este estudo, foram elaboradas questões abertas, considerando que

O questionamento é mais profundo e também mais subjetivo, levando ambos

[sujeito/entrevistadora] a um relacionamento recíproco, muitas vezes, de

confiabilidade. Frequentemente elas [as entrevistas] dizem específicamente a uma

avaliação de crenças, sentimnetos, valores, atividades, razões e motivos

acompanhados de fatos e comprotamentos. [...] As questões seguem uma

formulação flexível e a sequência e as minúcias ficam por conta do discurso dos

sujeitos e da dinâmica que acontece naturalmente (ROSA, 2006, p. 31). [grifos

nossos].

Assim, o outro aspecto relevante na aplicação da técnica de entrevista se constituiu

na confiabilidade entre as educadoras e a pesquisadora, que centrada na cordialidade

conduziu a uma inter-relação de confiança e que foi “[...] responsável em grande parte, pela

validação dos dados coletados” (ROSA, 2006, p. 22). Seguindo esta fonte, utilizei o

consentimento esclarecido16

com as educadoras colaboradoras.

A partir, principalmente, dos dados das entrevistas e da observação, identifiquei e

agrupei os aspectos nucleares da percepção ambiental das educadoras e de suas práticas, e

esses agrupamentos foram descritos e interpretados tanto a partir dos dados empíricos

como a partir das reflexões teóricas.

Em coerência com a abordagem de pesquisa escolhida, decidi desvelar as

percepções ambientais, por meio da descrição dos discursos das educadoras, ficando o mais

16

Descrito em Rosa (2006) é um “consentimento pós-informado” dos fatos, dos questionamentos, dos motivos,

dos riscos, dos favorecimentos e da liberdade (no caso acordado entre pesquisadora e educadoras) de deixar de

ser sujeito participante a qualquer momento por qualquer motivo.

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próximo possível do significado dado por elas, mas, ao mesmo tempo, descrevendo minhas

experiências e percepções, na possibilidade da comunhão entre pesquisadora, educadoras e

objeto.

Nesse sentido, perceber os próprios sentidos, as experiências e as percepções é uma

tentativa de evidenciar a dimensão científica de uma intersubjetividade além do sujeito: uma

evidência existencial, mediada pelo mundo, pelas educadoras e pela pesquisadora.

Assim, acredito que nenhuma investigação se constitui por um único autor, é sempre

um entrelaçamento de idéias de diferentes autores que interpolam quem pesquisa e quem é

pesquisado, visando sustentar o diálogo teórico, ou seja, as leituras realizadas para

aprofundamento, clareamento e interpretação dos dados coletados durante a tessitura da

pesquisa.

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CAPÍTULO II

O DIÁLOGO TEÓRICO NA TESSITURA DA PESQUISA

Educar, numa perspectiva fenomenológica consiste, antes de tudo, em

apreender a diversidade semântica do(s) sentido(s), para que a existência

possa ser vivida humanamente (...). A educação como ação cultural visa, a

passagem da consciência ingênua a uma consciência crítica, e desta à

consciência prática (REZENDE, 1990).

Figura 6: vista parcial de um córrego do Parque Estadual da Serra Azul, município de Barra do Garças, Mato

Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta.

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2.1 - A escola e a educação

A escola, como espaço de educação formal, desempenha um papel fundamental na

promoção do conhecimento social, no desenvolvimento das capacidades cognitivas e vai

incidir, claramente, na compreensão que os educandos têm do mundo social e de suas

particularidades.

As educadoras colaboradoras desta pesquisa, ao falarem o que pensam da escola,

apresentam uma percepção desse lugar como um espaço do fazer e do viver. Reforçam a

idéia da escola como um lócus privilegiado de interação do mundo vivido de seus atores.

A escola é um lugar muito especial onde a criança se torna um cidadão e uma

cidadã capaz de viver numa sociedade cheia de contradições (Ordalina).

É um lugar onde trocamos experiências, mediamos conhecimento e aprendemos

mais (Tia Nina).

[...] é onde a gente ensina e também aprende. As crianças trazem muita coisa de

casa, então a gente a auxilia a desenvolver o que trouxe e também ensina coisas

novas (Cândida).

A escola é um dos lugares socialmente instituídos para a criança se inserir na cultura

urbana e por que não rural, para que se relacione com o outro e com o conhecimento. É parte

de uma dinâmica, pela qual o sujeito organiza e interpreta suas relações com o mundo interno

e externo. A ação essencial da escola é despertar nos educandos o anseio de aprender. Nessa

dimensão, as crianças e as educadoras constroem juntas um habitat de significados,

necessários à construção do conhecimento.

Por compreender assim, percebo ainda que a relação entre a escola e a cultura

caminha na direção de um significandum17

estampado por Rezende (1990) de uma educação

como ação cultural, e, portanto, elas não podem ser concebidas como dois pólos

independentes, mas, sim, como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e

com fios e nós profundamente articulados entre os elementos intra e extraescola e da cultura.

17

Pensando na cultura como o significado expresso pelo significante-linguagem, o significandum é a própria

existência.

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Mesmo com a percepção das educadoras de que a escola é um lugar também de troca

de experiências, estas nem sempre acontece na dimensão do processo ensino-aprendizagem,

pois a escola vive as contradições inerentes ao universo escolar e está inserida “numa

sociedade cheia de contradições”, como diz a educadora Ordalina. E, ainda, quando a

educadora Tia Nina fala da troca de experiências e da mediação do conhecimento, é

fundamental questionar: como elas se configuram na prática educativa? De que forma essa

prática contribui para a construção de uma percepção ambiental que possibilite uma relação

entre harmoniosa entre os seres humanos e natureza? Como considerar neste contexto os

saberes populares?

Durante muito tempo, a escola foi vista como única fonte de saber, capaz de

assegurar prestígio e posição social. Hoje, embora continue a ter um papel importante, ela já

não tem o "monopólio" do saber exclusivo, ou seja, atualmente existem outras fontes de

informação igualmente confiáveis. O que caracteriza o universo escolar é a relação entre as

culturas, relação essa atravessada por tensões e conflitos. Isso se acentua quando as culturas

crítica, acadêmica, social e institucional, profundamente articuladas, tornam-se hegemônicas e

tendem a ser absolutizadas em detrimento da cultura da experiência, que, por sua vez, possui

profundas raízes socioculturais.

A escola está sendo chamada há algum tempo a lidar com a pluralidade de culturas, a

reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, a abrir espaços

para a manifestação e a valorização das diferenças. Entretanto demonstra um estado de

conforto com a homogeneização e a padronização do que com a possibilidade de abrir espaço

para a diversidade, a diferença, e para o cruzamento de culturas o que, certamente, constitui-

se um grande desafio. Percebo que a E.E. Heronides Araújo responde positivamente a esse

chamado.

Ao partir dessas afirmações, ao aceitar a íntima associação entre escola e cultura, ao

ver suas relações como intrinsecamente constitutivas do universo educacional, cabe então

indagar: por que hoje essa constatação parece se revestir de novidade, sendo mesmo vista

como especialmente desafiadora para as práticas educativas? (MOREIRA; CANDAU, 2003).

Talvez o sofrimento diminuísse com o exercício da mediação e da educação como

arte, pois a educação no ambiente escolar deveria ser, numa acepção fenomenológica,

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uma arte onde o professor auxiliaria o aluno a encontrar e a produzir conhecimento

por si mesmo. O realmente importante na educação não é o fato de a criança

aprender isto ou aquilo, mas, sim, que a sua mente possa desabrochar no sentido de

que a energia seja estimulada, visando a um crescimento, (...). Coloca-se, assim, o

sujeito como um viajante constantemente desafiado, com interesse voltado para a

descoberta de novos caminhos (MARTINS, 1992, p. 86).

A educação é tão antiga como a própria Humanidade, parecendo constituir um dos

primeiros sustentáculos da própria sobrevivência do ser humano. Pela educação, pretende-se

que o ser humano se adapte ao meio ambiente, criando condições para a aquisição e

desenvolvimento de conhecimentos, valores e atitudes favoráveis a essa adaptação.

Nesse sentido, concordo com a concepção de educação, ou educações, que é expressa

por Carlos Rodrigues Brandão, que envolve o pensar a escola e a educação como um processo

dinâmico, entrelaçado nas diferenças e nas especificidades da escola, dos educandos e das

educadoras e do mundo vivido de cada um, onde não é possível escapar da educação, pois ela

pode ocorrer

Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós

envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-

ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos

a vida com a educação (BRANDÃO, 2006, p. 7).

Destarte, concordo com Paulo Freire (2001, p. 51) que “toda prática educativa

implica uma concepção dos seres humanos e do mundo que envolve as imagens sensoriais, o

pensamento-linguagem, o desejo e o trabalho-ação”. E a escola no seu coletivo de

profissionais e na sua especificidade, deve buscar caminhos para tal prática, pois, não existe

receita para a concretização desse desafio, entretanto, “se existir uma receita, a única que deve

ser seguida ancora-se nas palavras de Platão: „para educar, necessita-se de Eros‟. Isso

siginifica que necessitamos de paixão, prazer e amor pelo conhecimento e pelas pessoas”

(PASSOS; SATO, 2005, p. 12).

Sobre esse amor na ação de educar, ainda mais significativo quando se trabalha com

o I Ciclo na educação das crianças, concordamos com Paulo Freire para anunciar que:

O amor é uma tarefa do sujeito. [...] Não há educação sem amor. O amor implica

luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode

educar. Não há educação imposta como não há amor imposto. Quem não ama não

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compreende o próximo, não o respeita. [...] Nada se pode temer da educação

quando se ama (FREIRE, 1979, p. 29).

Essa educação com amor, como possibilidade de acabamento do ser humano,

encontra em Paulo Freire (1979) um caráter permanente e sua busca não é solitária, pois, do

contrário, traduzir-se-ia em ter mais, que é uma forma de ser menos. Ela deve acontecer no

encontro do sujeito com outras consciências, como diz Jaspers apud Freire “eu sou na medida

em que os outros também são” (FREIRE, 1979, p. 28). Isso o torna um ser capaz de

relacionar-se, condição importante nesse acabamento do sujeito. Assim, também aceitamos a

argumentação desses autores que “a educação é possível para o ser humano, porque este é

inacabado e sabe-se inacabado” (idem., p. 28).

Esse acabamento é de um sujeito encarnado, um ser em situação. E percebo na

filosofia merleau-pontyana, um corpo que é natureza, na medida em que é do mesmo tecido

das coisas do mundo, é submetido a elas, vive em relação a essas coisas e é dependente,

também, do domínio biológico. Entretanto, transcendendo essas imposições, um corpo que

também é cultura, pois o ser humano ultrapassa a fronteira do animal, institui níveis da ordem

simbólica, transforma o mundo, cria e recria culturas (CARMO, 2004).

Pensando na intencionalidade do acabamento humano na sala de aula, vejo na

expressão de Sato e Passos in Guimarães uma dimensão interativa entre os sujeitos, os autores

afirmam que “os seres humanos não têm sua origem suficiente e causal em si mesmos”

(SATO; PASSOS, 2006, p. 26). Portanto são os outros que ajudam a constituir o sujeito, que

o julga, que o interdita sobre a possibilidade de sua constituição começar num solitário ato

autoprodutivo de suficiência. Temos uma compreensão da realidade que não é só nossa. Será

que consideramos isso na sala de aula? É possível que não. O que se constitui nas nossas

relações é uma intersubjetividade – eu-outr@18

-mundo – nem sempre perceptível por nós.

À medida que os autores e atores da educação arquitetam na coletividade o Projeto

Político Pedagógico (P.P.P.) da escola, ajuízam o tipo de ser humano que querem formar

perspectivando o tipo de sociedade que pretendem, “lançam mão do processo de produção de

crenças e idéias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e

poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades” (BRANDÃO, 2006, p. 11).

18

Em consonância com a recomendação da Rede de Gênero, utilizei a simbologia “@” para conferir a

diversidade de sexos neste momento textual.

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Será que isso acontece nas unidades escolares? É possivel. No processo educativo

escolar, essa construção só tem sentido se desencadear no desenvolvimento de um currículo

com o mesmo ideário de formação humana e social, previsto na coletividade e registrado no

Projeto Político Pedagógico.

Percebi, ao interpretar as falas das educadoras colaboradoras sobre como o currículo

esta sendo desenvolvido, que há uma tentativa de aproximação de uma educação voltada para

o processo de ensino-aprendizagem centrado nos educandos, pois apontam momentos de

discussão coletiva e uso de projetos educativos:

O currículo é uma área muito discutida por todos nós, procuramos ensinar com

responsabilidade e adequação dos conteúdos a idade e a série (Ordalina e Tia

Nina).

Desenvolvemos o currículo através da seleção de conteúdos e também de projetos

(Cândida).

Brandão (2006, p. 98), ao falar da esperança na educação, ilustra o nosso

pensamento, que a “educação é inevitável”, e que, se em algum momento ela serve à

reprodução da desigualdade e à difusão de idéias que legitimam a opressão, em outro cria

condições de igualdade e liberdade entre as pessoas.

2.2 - O Meio Ambiente

O meio ambiente ocupa cada vez mais um lugar de destaque sobre os destinos da

sociedade. A ampla discussão dessa temática, seja nas ações educativas, nas lutas de classes,

seja nas ações governamentais, não-governamentais e internacionais, deixa visível essa

problemática na esfera pública, portanto, também na dimensão da escola pública.

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Do ponto de vista das ciências ambientais19

, o meio ambiente inclui dimensões

muito amplas, com conotações econômicas, sociais, políticas e culturais, inerentes ao

ambiente humano. Compreendê-lo nessas dimensões não é tarefa fácil, pois pressupõe um

arcabouço teórico que passa inevitavelmente pela consciência do pensado e do vivido em cada

espaço.

Na tentativa de apresentar um olhar sobre o conceito de meio ambiente chegamos no

conjunto de condições naturais e de influências (artificial e cultural), quais sejam: Natural:

constituída pelo solo, fauna, flora, água, ar, entre outros. Artificial: composta pelas alterações

do meio natural, se compõe dos espaços funcionais construídos pelo ser humano; Cultural:

constituída pelos patrimônios histórico, arqueológico, artístico e turístico. Uma interação

racional desse conjunto poderia propiciar o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as

suas formas (BRANCO, 2004).

A análise objetiva dos processos de transformação (ou de degradação) ambiental

esbarra, atualmente, em uma série de divergências conceituais, com freqüência tendenciosa, a

respeito, essencialmente, do que vem a ser natureza, o meio ambiente e do comportamento

“ideal” do ser humano com relação a essa mesma entidade (BRANCO, S.d.). Muitos querem

falar e poucos querem ouvir.

Falo aqui de uma noção de desenvolvimento voltada para uma sociedade sustentável,

que deve possibilitar às pessoas, nas suas especificidades, criar e recriar saberes outros, não

apenas saberes que “consideramos” científicos. E que essa dinâmica pode sim ocorrer no

recinto da educação formal. Para Capra (1996), a partir do ponto de vista sistêmico, as únicas

soluções viáveis para os problemas ambientais são as soluções "sustentáveis". Uma sociedade

sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações

futuras. Este, em resumo, é o grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis -

isto é, ambientes sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades e

aspirações, sem diminuir as chances das gerações futuras.

Nesse sentido, mesmo que na dimensão pedagógica as discussões acerca do meio

ambiente para o bem estar da sociedade sejam produtivas e louváveis, ainda necessitarão de

uma ação política para a sua efetivação, como afirma Carvalho (2000):

19

DICIONÁRIO DE ECOLOGIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS. Henry W. A. (editor). Tradução Mary

Amazonas. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

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A compreensão da problemática do meio ambiente como um fenômeno

socioambiental lança a questão ambiental na esfera política, entendida como uma

esfera pública das decisões comuns. A partir da sua inserção concreta na defesa e/ou

disputa pelos bens ambientais, muitas lutas adquirem uma dimensão pedagógica, na

medida em que instituem espaços efetivos de questionamentos, encontro, confronto,

e negociação entre projetos políticos, universos culturais e interesses sociais

diferentes (p. 61). [grifo meu].

A temática meio ambiente tem gerado discussões em vários segmentos da sociedade,

a partir de diferentes paradigma e motivados dentre outros, pela década de 2005-2014, eleita

pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura” (UNESCO)

para discussão do tema “Educação para o desenvolvimento sustentável”.

Um consenso apresentado tem sido o de que um meio ambiente ecologica e

socialmente equilibrado garantirá às gerações presentes e futuras uma sadia qualidade de vida,

ampliando as expectativas de sobrevivência na Terra. O que não tem sido consenso é o

conceito de qualidade de vida e maneira utilizada para alcançar essa “sadia qualidade de

vida”.

Para Leff (2003, p. 242), a dimensão ambiental na educação básica, em muitos casos,

se reduz à incorporação de temas e princípios ecológicos às diferentes matérias de estudo no

nível primário - na língua materna, nas matemáticas, na física, na biologia, na literatura e no

civismo -, e a um tratamento geral dos valores ecologistas, em vez de tentar traduzir o

conceito de ambiente e o pensamento da complexidade na formação de novas mentalidades,

conhecimentos e comportamentos.

Ainda segundo o autor (p. 243), a educação, interdisciplinar, entendida como a

formação de mentalidades e habilidades para aprender a realidade complexa, reduziu-se à

incorporação de uma “consciência ecológica” no currículo tradicional. É neste sentido que a

educação ambiental formal do nível básico transmite às capacidades perceptivas e

valorativas dos alunos uma visão geral do ambiente.

O tratamento dado às questões referentes ao meio ambiente, na esfera da educação

formal, tem se resumido a aplicação de projetos voltados em sua maioria ao estudo do lixo e

da água. De fato importantes, porém, o que ocorre muitas vezes é que após a realização do

projeto os estudantes continuam jogando lixo no chão e o consumo da água na escola não se

reduz. Discutir meio ambiente na escola passa pela compreensão da dimensão, natural, social

e cultural das pessoas. Entendida assim, não se pode conceber o meio ambiente como

disciplina, aprisionada numa grade curricular, isso seria um retrocesso.

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Na dimensão do entendimento do corpo como natureza-cultura, descrito por

Merleau-Ponty percebo a base empírica necessária para contestar “o dualismo cartesiano

corpo-alma” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 111). Essa forma de pensar o mundo tem levado

a um comportamento irracional no que tange ao uso dos recursos naturais, e esse

comportamento muitas vezes se reproduz no âmbito da educação formal, haja vista os estudos

que tratam do currículo desenvolvido nas escolas em suas amplas dimensões.

Uma acepção de meio ambiente emancipador compreende, por exemplo, que a

noção de meio ambiente ensinada no currículo do I Ciclo deve corresponder a uma percepção

de mundo onde as pessoas e o ambiente natural são co-dependentes, no sentido de que nem o

ser humano está em detrimento da natureza, nem tampouco está em detrimento do ser

humano, vislumbrando uma convivência racional da humanidade com o meio ambiente

emancipador.

Dessa forma, a inter-relação entre o meio ambiente e o ser humano caminha na

direção do que afirma Soares (2004), ao falar da intencionalidade das relações:

As relações entre o indivíduo e o meio não são relações mecânicas, mas dialéticas,

na qual os estímulos não agem no organismo gerando respostas localizadas, mas

respostas globais, conforme o sentido que o próprio organismo dá à excitação (p.

24).

A escola foi um dos primeiros espaços a absorver o processo de ambientalização da

sociedade, recebendo sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da

população, por meio de informação e sensibilização ambiental. Dentre as atuais configurações

que constituem o meio ambiente, está o despertar para novas sensibilidades ambientais. Nesse

sentido, Carvalho (2000) afirma que

As raízes modernas do interesse pela natureza estão muito bem discutidas no

fenômeno das novas sensibilidades, estudado por Thomas (1989), na Inglaterra.

Trata-se de um traço cultural que nasce ligado ao ambiente social do século XVIII.

Esta cultura de valorização da natureza vai se reafirmar com o movimento romântico

do século XIX e, na perspectiva de um acontecimento de longa duração, permanece

presente até hoje. Essas sensibilidades nasceram à medida que se evidenciavam os

efeitos e a percepção da deterioração do meio ambiente e a vida nas cidades,

causadas pela Revolução Industrial (p. 54).

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41

A temática do meio ambiente tem sido discutida por meio também da Educação

Ambiental, cogitada e adotada como fomentadora de ações capazes de colaborar com a

transformação do padrão de degradação sócio-ambiental vigente.

A Educação Ambiental (EA) vem abrangendo campos de atuação e abrindo espaço

para o entrosamento das diversas áreas do conhecimento, objetivando o respeito à vida, ao

meio, à justiça social e ambiental. Utiliza-se não somente da educação escolarizada, mas

também da convivência, da observação, da experiência alheia, dos sentimentos, do tempo,

tudo do qual a paisagem também faz parte e, na qual a sociedade, se expressa e se sustenta.

Para Sato (2004), “a EA deve gerar mudanças na qualidade de vida e maior

consciência de conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com

outras formas de vida”( p.17). Seguindo esse viés, concordo com a afirmação de Marcos

Reigota (2002) quando diz que

[...] aumenta o desafio para a educação ambiental de formar cidadãos que possam

participar da tomada de decisões sobre assuntos que dizem respeito a grupos sociais

e étnicos muito diferentes, geralmente controlados por grupos que dominam a

economia e a política, com interesses muito mais homogêneos (p. 64).

Adams (2006) apresenta alguns conceitos de Educação Ambiental como um processo

na direção de uma sociedade sustentável, ética e solidária, o que vem ao encontro do que

estamos refletindo; dentre eles destacamos,

Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a

comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,

valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir –

individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros

(Ministério do Meio Ambiente).

Educação Ambiental como o processo por meio do qual o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do

povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Art.1º da Lei Federal

nº 9.795, de 27/4/99).

Educação Ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de

educação. Trata-se de um processo longo e continuo de aprendizagem de uma

filosofia de trabalho participativo em que todos: família, escola e comunidade; devem

estar envolvidos. O processo de aprendizagem de que trata a educação ambiental, não

pode ficar restrito exclusivamente à transmissão de conhecimentos, à herança cultural

do povo às geração mais novas ou a simples preocupação com a formulação integral

do educando inserindo em seu contexto social (apud Gonçalves, 1990).

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Buscamos o suporte legal na Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a

educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), segundo a

qual a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,

devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL..., 2005).

Nessa direção, a inclusão do tema meio ambiente no currículo escolar e na prática

educativa, na perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar, deve contribuir para uma melhor

formação de cidadãos conscientes (BRASIL..., 2001) aptos a atuarem na realidade sócio-

ambiental, de modo comprometido com os problemas da vida em sociedade, tanto em nível

local como em nível global. Como afirma Edgar Morin, os problemas essenciais nunca são

parciais e os problemas globais são cada vez mais essenciais (MORIN, 1981).

Para Branco (2004) o grande problema da civilização moderna, industrial e

tecnológica se configura na ausência da percepção da interdependência natureza-humanidade,

ao menos no que tange aos termos globais do problema. Não é possível produzir

artificialmente todo o oxigênio necessário à manutenção da biosfera, ou os ciclos naturais da

água, de modo a garantir a estabilidade climática. Conseqüentemente, dependemos da

existência de florestas e outras formações vegetais e da presença de animais e microrganismos

que participam de seus processos de reprodução, embora, o mesmo autor afirme que exista

uma independência relativa desse jugo.

E a Educação Ambiental deve ser amplamente empregada na sensibilização da

comunidade, de forma direcionada e específica para cada público-alvo (escolares de

diferentes níveis e comunidade em geral), ampliando a capacidade da população para

participar da gestão pública dos bens naturais a que tem direito. Para isso deve conhecer o

ambiente natural, artificial e cultural de sua cidade, como se vê, nas paisagens de Barra do

Garças identificadas na figura 7.

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Vista da Cachoeira na Serra do Roncador –

PESA.

Aspecto da pedra marco da ocupação de

Barra do Garças, nomeada “S.S. Arraya –

1871”.

Vista parcial Etnia Xavante

Aspecto parcial do discoporto – localizado

no PESA

Vista parcial Praia Quarto Crescente

Vista parcial do Clube das Águas Quentes

Figura 7: belezas e riquezas do potencial turístico de Barra do Garças, Mato Grosso. (Disponível em

<http:/www.google.com.br> Acesso em: outubro de 2007).

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Nesse sentido, a E.E. Heronides Araújo, lócus desta pesquisa, se inseri num

município com um meio ambiente privilegiado nos aspectos: natural, artificial e cultural, o

que favorece as educadoras no que tange à sensibilização para as questões sócio ambientais.

Nele há diversas possibilidades de interlocução entre as culturas, as gerações e gêneros,

permeando os estudos e aulas de campo.

Não é necessário realizar estudos muito profundos para se concluir que a qualidade

da água se encontra fortemente ameaçada; que o clima tende a se transformar no próximo

século por conta do efeito estufa e da redução da camada de ozônio e que a biodiversidade

tende a se reduzir, empobrecendo o patrimônio genético, justamente quando a ciência

demonstra, a cada dia, o monumental manancial de recursos para o desenvolvimento

científico que a natureza alberga (ZULAUF, 2000). O meio ambiente é o endereço do futuro

para o qual haverá a maior convergência de demandas de políticas públicas nas próximas

décadas.

2.3 - A Percepção Ambiental

Percebo a pertinência de situar o termo percepção antes de falar sobre a percepção

ambiental propriamente dita. É uma tentativa de esboçar alguns pontos de vista sobre essa

palavra, uma vez que de fato, não há consenso quando se trata de sua utilização.

Do ponto de vista das teorias do conhecimento, a percepção pode ser descrita, a

partir do pensamento empirista, como uma fonte de conhecimento, estando na origem das

idéias abstratas formuladas pelo pensamento. Hume, por exemplo, afirma que todo

conhecimento é percepção e que existem dois tipos de percepção: as impressões (sensações,

emoções e paixões) e as idéias (imagens das impressões).

Já nas teorias racionalistas intelectualistas, a percepção é considerada não muito

confiável para o conhecimento porque depende das condições particulares de quem percebe e

está propensa a ilusões, pois, freqüentemente, a imagem percebida não corresponde à

realidade do objeto. O Sol parece menor do que a Terra para nós, mas ele realmente é maior

do que ela. Descartes menciona o modo como percebemos um bastão mergulhado na água: o

bastão é percebido como distorcido, embora, na realidade, não esteja deformado. Para a

concepção racionalista intelectualista, o pensamento filosófico e científico deve abandonar os

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dados da percepção e formular as idéias em relação com o percebido; trata-se de explicar e

corrigir a percepção.

Já na teoria fenomenológica do conhecimento, a percepção é considerada originária

e parte principal do conhecimento humano, mas com uma estrutura diferente do pensamento

abstrato, que opera com idéias. Qual a diferença? A percepção sempre se realiza por perfis ou

perspectivas, isto é, nunca podemos perceber de uma só vez um objeto, pois somente

percebemos algumas de suas faces de cada vez; no pensamento, nosso intelecto compreende

uma idéia de uma só vez e por inteiro, isto é, captamos a totalidade do sentido de uma idéia de

uma só vez, sem precisar examinar cada uma de suas “faces”.

Do ponto de vista da psicologia, da neurociência e das ciências cognitivas, a

percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de

histórico de vivências passadas. Por meio da percepção, um indivíduo organiza e interpreta as

suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na aquisição,

interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos.

A percepção pode ser estudada do ponto de vista estritamente biológico, ou

fisiológico, envolvendo estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos órgãos dos sentidos:

visão, audição, olfato, paladar e tato. Pode envolver também os processos mentais, a memória

e outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos dados percebidos.

De acordo com Fernandes et al. (2005) apesar de a sociedade moderna aparentar ter

uma percepção dos problemas ambientais, as pessoas carecem de conhecimento quanto às

suas verdadeiras causas e possíveis soluções mitigadoras. Ao mesmo tempo, por não terem

esse conhecimento, acabam, na grande maioria, não reconhecendo os impactos ambientais e

sociais a que estão sujeitos, ou tendo idéias distorcidas sobre eles (imagens criadas e mantidas

pela constância de sua repetição).

Busquei realizar um esboço das pesquisas sobre percepção ambiental desenvolvidas

na Universidade Federal de Mato Grosso, no Programa de Pós-Graduação em Educação, do

Instituto de Educação. Aconteceram no período de 2006, e correspondentem a parte desta

pesquisa, ao seminário de educação, aos encontros – do Remtea e da Anped Centro Oeste e às

cinqüenta e sete (57) defesas públicas de mestrado.

Das 57 (cinqüenta e sete) defesas de mestrado realizadas no ano de 2006, nenhuma

dissertação tratou da temática percepção ambiental, e apenas uma delas abordou o termo

percepção, com o título: “Tia, qual é o meu desempenho: percepções de professores sobre o

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desempenho escolar de alunos negros”, na área Educação, Cultura e Sociedade, e na linha de

pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação Popular. Em relação à educação ambiental,

encontrei 6 (seis) dissertações dentre as 57 (cinqüenta e sete) que abordavam essa temática.

O Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA, ligado a Faculdade

Brasileira – UNIVIX, Vitória – ES, criado em 2003, vem se dedicando a análise da

percepção ambiental em segmentos formadores de opinião como instrumento de gestão.

As primeiras pesquisas do grupo estiveram voltadas ao estudo da percepção ambiental de

alunos e professores da UNIVIX, sendo que os dados obtidos foram utilizados para

reformular a oferta do conhecimento ambiental nos diversos cursos da instituição de ensino,

bem como a atualização de seu corpo docente em assuntos ligados à temática ambiental.

O NEPA pesquisa segmentos formadores de opinião com foco principal nas áreas

educacional, social e ambiental. A linha de pesquisa mais recente do NEPA está ligada à

avaliação da percepção ambiental e social de partes interessadas de grandes empresas, de

modo a analisar como elas percebem o comportamento ambiental e social da empresa a que

estão ligadas (prestando serviço ou fornecendo produtos).

De maneira geral, as pesquisas que abordam a temática de percepção do meio

ambiente ou percepção ambiental tem sido colocada como elemento vital para a

sobrevivência da humanidade. Em 2006, o campus de Bauru da UNESP foi sede do "I

Encontro de Percepção e Paisagem da Cidade". O evento reuniu pesquisadores envolvidos

com os estudos de percepção ambiental, como pressuposto para uma melhor compreensão das

relações do ser humano com o seu espaço, com a finalidade de promover o desenvolvimento

de projetos de pesquisa multidisciplinares. A linha de pesquisa predominantemente seguida é

a da "adequação ambiental" com ênfase na percepção e cognição.

Em se tratando de ambiente urbano, muitos são os aspectos que, direta ou

indiretamente, afetam a grande maioria dos habitantes - pobreza, criminalidade, poluição, etc.

Esses fatores são relacionados como fontes de insatisfação com a vida urbana. Entretanto há

também uma série de fontes de satisfação a ela associada. As cidades exercem um forte poder

de atração devido à sua heterogeneidade, movimentação e possibilidades de escolha.

O que tem a ver percepção ambiental e educação ambiental? Saber como os

indivíduos percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfação e insatisfação são de

fundamental importância. O ser humano está constantemente agindo sobre o meio, a fim de

sanar suas necessidades e desejos. É possível pensar em quantas das nossas ações sobre o

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ambiente, natural ou construído, afetam a qualidade de vida de várias gerações? E nos

diversos projetos arquitetônicos ou urbanísticos que afetam as respostas dos seus usuários e

moradores? E não estamos falando de respostas emocionais, que dependem do nosso humor,

ou predisposição do momento, mas da nossa própria satisfação corporal e psicológica com o

ambiente.

É possível constatar como uma ação humana no meio ambiente pode gerar

insatisfação, revendo duas falas (dentre 30) de educadoras de I Ciclo, durante um encontro de

formação continuada, em 2005, no CEFAPRO, onde eu era formadora; elas diziam,

[...] em casa não existe um único espaço de terra para infiltrar a água... é tudo

calçado... fica tudo limpo (educadora A).

na minha casa não há plantas, é tudo calçada, bem fechada, ventilação pouca, sem

árvores, é asfaltado;

Depois num outro momento a mesma educadora diz:

[...] as transformações sofridas pelo meio ambiente, me causa noites mal dormidas

e corpo sempre cansado (educadora E).

Esses recortes também revelam que cada indivíduo percebe, reage e responde

diferentemente frente às ações sobre o meio ambiente. Para Ferrara (1996) cada indivíduo

percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou

manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos

e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações sejam evidentes, são

constantes e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente.

Uma outra manifestação de insatisfação da população mais comum na zona urbana é

o vandalismo. Uma forma de expressão agressiva em relação a elementos físicos e

arquitetônicos, geralmente públicos, ou situados próximos a lugares públicos, como nas

escolas.

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Embora não seja uma relação linear de causa-efeito, o vandalismo se dá na grande

maioria, entre as classes sociais menos favorecidas, que, no dia-a-dia, estão submetidas à má

qualidade de vida, desde a problemática dos transportes urbanos, até a qualidade dos bairros e

conjuntos habitacionais em que residem, hospitais e escolas de que dependem, entre outros.

A maioria da população que vive nas grandes cidades do planeta tem pouco contato

com o chamado meio ambiente natural, no qual pode-se interagir com a natureza. Acredita-se

que a educação ambiental poderá ajudar as pessoas a perceberem mais o seu meio,

conscientizando-se da necessidade de preservação. Essa nova visão só poderá se realizar por

meio do conhecimento, entendimento, integração e, sobretudo, do respeito pela natureza de

quem somos co-dependentes.

Acredito que os caminhos possíveis para uma valoração do meio ambiente sejam: o

respeito a todo e qualquer ser vivo existente no planeta, a diminuição e o melhor uso dos

recursos naturais, a humanização do seres humanos, a ética, e a tecnologia não mais voltada

para o poder, e, sim, com a finalidade do uso racional e sustentável dos recursos naturais. Os

projetos de educação ambiental devem trabalhar com base em dados referentes à satisfação,

insatisfação, julgamento e conduta de seus atores, partindo da realidade dessa população.

A importância da pesquisa em Percepção Ambiental para o planejamento do

ambiente foi ressaltada na proposição da UNESCO (1973): "uma das dificuldades para a

proteção dos ambientes naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores e

da importância dos mesmos entre os indivíduos de culturas diferentes ou de grupos sócio-

econômicos que desempenham funções distintas, no plano social, nesses ambientes".

Para Tuan (1980) a percepção ambiental é ”tanto a resposta dos sentidos aos

estímulos externos como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente

registrados e outros bloqueados”. Segundo o autor, percebemos o que tem valor para nós,

tanto para a sobrevivência biológica quanto para garantir a manutenção da cultura. A

percepção advém da experiência, sendo que esta abrange as diversificadas formas pelas quais

uma pessoa conhece e constrói uma dada realidade.

Del Rio e Oliveira (1996) entendem como percepção ambiental o processo mental de

interação do indivíduo com o ambiente, o qual ocorre através de mecanismos perceptivos e

mecanismos cognitivos. Os primeiros, guiados pelos estímulos externos captados através dos

órgãos sensoriais, e os segundos, relacionados com a inteligência do sujeito, pois atuam aí

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elementos de motivação, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos

e expectativas.

O ser humano está constantemente agindo sobre o meio, no intuito de sanar suas

necessidades e desejos. Muitas das nossas ações sobre o ambiente, natural ou construído,

afetam a qualidade de vida de várias gerações.

Assim, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para se

compreender melhor as inter-relações entre o ser humano e o ambiente, suas expectativas,

satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. Por meio da percepção ambiental,

também são estabelecidas as relações de afetividade do indivíduo para com o ambiente. A

partir da formação de laços afetivos positivos pode acontecer a modificação dos valores

atribuídos pelas pessoas para cada lugar em seu entorno.

Nesse sentido, busquei perceber o mundo vivido das três educadoras colaboradoras

desta pesquisa, visando a interpretação das suas falas e das suas práticas educativas em

relação ao meio ambiente.

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CAPÍTULO III

PERCEPTUALIZANDO O MUNDO VIVIDO DAS EDUCADORAS

Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma

visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da

ciência não poderiam dizer nada. Todo universo da ciência é construído

sobre o mundo vivido (...). (MERLEAU-PONTY, 2006, p.3)

Figura 8: vista parcial de uma das cachoeiras do Parque Estadual da Serra Azul, município de Barra do Garças,

Mato Grosso. Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta.

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Inicio este capítulo ressaltando algumas características que considero pertinentes, no

que tange à identidade das educadoras colaboradoras desta investigação e em relação ao

mundo educacional vivido por elas. A Tia Nina, a Ordalina e a Cândida são mulheres, mães,

esposas, trabalhadoras e educadoras apaixonadas. Desempenham suas funções no I Ciclo da

EE. Heronides Araújo, com dedicação e amor, elementos tão essenciais nessa profissão

repleta de obstáculos e mais ainda no ciclo de formação humana.

As três educadoras colaboradoras são pedagogas, estão há mais de três anos na

escola Heronides Araújo e há mais de quatro anos atuando no PEC. Ordalina e Cândida são

educadoras efetivas e Tia Nina é contratada; ela está atuando no ciclo desde a sua

implantação em 1999. Essa educadora, embora não receba hora atividade e só entre para o

quadro de professores da escola, depois da semana pedagógica, depois que ocorreram as

principais discussões e os encaminhamentos para o ano letivo, participa de todos os

momentos de formação destinados ao ciclo.

Durante as observações do cotidiano escolar e da aplicação dos questionários,

evidenciei o engajamento das três educadoras nas atividades educativas e administrativas da

escola Heronides Araújo. Todas participam da formação continuada em serviço e em suas

falas é possível perceber que a consideram importante.

Para as três educadoras, essa participação contribui para a formação pessoal e

pedagógica, é uma maneira de se atualizarem com as informações e a troca de experiências

que podem inovar, motivar ou enriquecer suas atividades educativas, como se apresentam

nos recortes de suas falas

Fico informada e aprendo mais (Tia Nina)

Porque é de suma importância para o educador estar em busca de inovações e

motivação para a sua prática pedagógica (Ordalina)

Sim, acho importante (Cândida)

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Percebi um “sentimento de pertencimento” a essa unidade escolar, de se sentirem

parte da comunidade, o que permitiu revelar as conquistas (organização escolar, trabalho

coletivo e bom relacionamento dos professores), os desejos (quadra de esportes coberta e

janelas arejadas nas salas de aula) em relação ao espaço físico da escola e as frustrações (falta

de espaço coberto adequado para os alunos e corredores da escola muito barulhentos), como

é possível ver nos recortes das falas a seguir,

(...) Gosto do bom relacionamento que cultivamos entre os colegas, do carinho que

sentimos de uma para com as outras. O que menos gosto é do horário do recreio

porque o espaço coberto é pequeno para as crianças ficarem (Tia Nina). (na figura

9 e 10 podemos ver o espaço do recreio na escola).

(...) a escola deve ser acolhedora e responsável para a formação do indivíduo.

Adoro a escola Heronides Araújo como um todo, é como uma família para mim. O

que menos gosto é do clima da sala de aula, não é muito arejado, as janelas não

abrem toda e a sonorização do corredor é ruim, muito barulho (Ordalina)

(...) Gosto da organização da escola. Não gosto da estrutura das salas de aula, é

muito abafada, fechada e escura. (Cândida). (na figura 10 podemos ver algumas

janelas da escolas).

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Figura 9: vista parcial da área de pátio coberto da E.E. Heronides Araújo.

Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta

Figura 10: vista parcial das janelas E.E. Heronides Araújo.

Foto do acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta

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3.1 - O Projeto Escola Ciclada de Mato Grosso – PEC

O intuito aqui é contextualizar o projeto educativo da Escola Ciclada de Mato

Grosso (PEC) no qual as educadoras colaboradoras se inserem. Cabe recordar que a iniciativa

de inovações no campo da desseriação está relacionada ao ciclo básico de alfabetização,

tomado por São Paulo em 1984 e por Minas Gerais, em 1985, no bojo de um movimento

renovador decorrente da vitória eleitoral da oposição nesses estados (GOMES, 2004).

O PEC nasceu no caminhar de experiências da Secretaria Estadual de Educação

(SEDUC), primeiro com o Projeto Terra (1996) e continuado com o Ciclo Básico de

Aprendizagem (CBA), em 1998. Adotando a inovação no campo da desseriação, no final de

1999, a SEDUC desencadeia a implantação gradativa dos Ciclos de Formação no Estado,

objetivando garantir aos educandos que iniciaram os projetos Terra e CBA a continuidade e

terminalidade dos estudos escolares nessa modalidade. Nesse sentido, propõe uma

organização curricular no ensino fundamental em I, II e III Ciclos, cada um com 1ª, 2ª e 3ª

fases (MATO GROSSO..., 2001).

A escola organizada em ciclos, com seus princípios de democratização do espaço

escolar, respeito aos tempos de aprendizagem e promoção de um processo dinâmico e

contínuo no ensinar e aprender – a sentir, a ser e a fazer – representa, na visão da Secretaria

do Estado de Educação, o atendimento às diferentes idades cronológicas e às fases do

desenvolvimento humano no campo psicológico e sociocultural.

É possível ver no quadro 1 essa relação entre idade e fase de desenvolvimento.

Parece simples, porém, esse processo de enturmação nem sempre se efetiva no cotidiano

escolar, de forma tranqüila, tanto para os pais e alunos quanto para a escola.

Quadro 1: enturmação dos (as) alunos (as) nos ciclos e nas fases do ensino fundamental.

CICLOS

FASES

AGRUPAMENTOS

FASE DE

DESENVOLVIMENTO

TURMA DE

SUPERAÇÃO

I Ciclo

1ª fase

2ª fase

3ª fase

6 a 7 anos

7 a 8 anos

8 a 9 anos

Infância

Maiores de 9 anos

II Ciclo

1ª fase

2ª fase

3ª fase

9 a 10 anos

10 a 11 anos

11 a 12 anos

Pré-adolescência

Maiores de 12 anos

III Ciclo

1ª fase

2ª fase

3ª fase

12 a 13 anos

13 a 14 anos

14 a 15 anos

Adolescência

Maiores de 15 anos

Fonte: SEDUC, MT.

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Por exemplo, quando um pré-adoslescente de 11 (onze) anos chega na escola e ainda

não se apropriou da lingua e da escrita formal, como lidar com essa situação? No processo de

seriação ele seria enturmado na primeira série, pois ainda não foi alfabetizado. Considerando

a proposta do ciclo de formação humana ele seria enturmado na 2ª fase do II Ciclo, junto com

seus pares, e acompanhado pelo articulador da escola por meio de um Plano de Apoio

Pedagógico (PAP).

3.1.1 - Diretrizes Curriculares para o I Ciclo

O PEC, em consonância com a LDB (Lei 9394/96) e o Parecer do CNE nº 4/98,

item IV, estabelece que a organização curricular para o I Ciclo deve relacionar a Educação

Fundamental e os seguintes elementos:

a) Vida cidadã: por meio da articulação entre vários dos seus aspectos como: saúde,

sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente [grifo nosso], trabalho, ciência e

tecnologia, cultura e linguagens;

b) Áreas de conhecimento: Língua Portuguesa, Língua Materna Para As Populações

Indígena E Migrante, Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira,

Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa.

A organização curricular para o I Ciclo de formação deverá seguir os critérios

estabelecidos no PEC, quais sejam:

O I Ciclo é composto de 03 (três) fases de 200 (duzentos) dias letivos cada

uma, perfazendo um total de 600 (seiscentos) dias letivos. Cada fase deve garantir ao

educando uma carga horária mínima equivalente a 800 (oitocentas) horas, perfazendo, ao

final do I Ciclo, 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, sendo a carga horária semanal de 20

(vinte) horas (sessenta minutos), distribuídas de acordo com o Projeto Político Pedagógico

(PPP) da escola.

O complemento curricular – apoio à aprendizagem, deverá ser oferecido aos

educandos que apresentarem dificuldades na aprendizagem.

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Os temas Transversais ou Contemporâneos (drogas, sexualidade, trânsito,

consumo, ética, etc), não serão componentes isolados no currículo, estarão sempre

desenvolvidos com os componentes da Matriz Curricular.

A Educação Ambiental e a Orientação para o Trabalho serão contempladas em

todos as áreas de conhecimento.

Outros Projetos de complemento curricular serão elaborados pela unidade

escolar, de acordo com a sua realidade e necessidade, com carga horária definida por ela,

conforme as possibilidades financeiras da SEDUC e cargos disponíveis.

Os recursos tecnológicos (computadores, softwares educacionais, cartões

magnéticos, filmadoras, máquinas fotográficas, etc), representam novas formas de

comunicação e conhecimento e também são ferramentas para o desenvolvimento de

habilidades que serão trabalhadas e utilizadas por todos os componentes da Base Curricular.

A Introdução à Investigação Filosófica poderá permear todas as áreas de

conhecimento,

As turmas de I Ciclo serão atendidas por um professor regente ou um docente

(articulador ou regente de sala de superação), conforme organização da escola em seu Projeto

Político Pedagógico.

Nesse sentido, as áreas de conhecimento são tratadas de forma globalizada, como

um todo, partindo de situações reais e concretas, estas, por si constituem totalidades

interdisciplinares. Percebi a falta de orientação concreta (na mão dupla Seduc-CEFAPRO-

escola) para que o corpo docente consiga caminhar nessa direção.

Na prática, o que se constata é a solidão pedagógica das educadoras. Há pouco

envolvimento dos profissionais da escola no sentido de consolidar a proposta do Ciclo de

Formação, tanto no que se refere ao acompanhamento dos gestores e da equipe do Cefapro,

quanto dos próprios professores, como afirma a educadora Cândida falta o professor de

apoio, o articulador, o coordenador, a gente sente muita falta, a gente fica assim como se

fosse uma escola tradicional. O contrário da escola tradicional seria a escola organizada em

ciclos? A mudança da organização escolar de seriação para os ciclos por si só não muda a

postura dos profissionais.

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3.1.2 – A avaliação no Ciclo: um entrave na proposta do PEC?

No ideário do Projeto Escola Ciclada, a avaliação poderá ocorrer por meio do

relatório ou do parecer descritivo do desempenho dos educandos. Desse modo, a avaliação

acontece seguindo a classificação:

PS – Progressão Simples

PPAP – Progressão com plano de apoio pedagógico

PASE – Progressão com apoio de serviço especializado

(psicólogo, faunodiólogo, entre outros).

Na E.E. Heronides Araújo a avaliação escolhida foi por meio de relatórios

elaborados durante o ano, nos quais são observadas as conquistas e dificuldades dos

educandos. Quanto ao PASE, não há um profissional para realizar o serviço especializado e a

escola não dispôs, no ano letivo de 2007, de um coordenador de ciclo, em virtude do número

de educandos ser insuficiente, de acordo com a Portaria da Seduc para este ano.

Uma discussão ainda polêmica na organização por ciclos é o da retenção, que só

acontecerá, depois de analisado todo o processo de desenvolvimento do educando, no início

da primeira fase, da segunda fase, até o final de cada ciclo, pelo coletivo dos professores e

estes concluírem que existem dificuldades na maioria dos componentes curriculares que

dificultarão o ritmo de aprendizagem no ciclo seguinte.

Os educandos que não tiveram o desenvolvimento necessário em relação aos

referenciais curriculares do ciclo para prosseguir os estudos, ficarão retidos, por um período

que não ultrapassará um ano letivo. Há de se refletir: seriam três anos um período adequado

para avaliar se o educando teve um desenvolvimento necessário para prosseguir nos estudos,

necessitando ficar retido por mais um ano?

Assim, vê-se em Gomes (2004, p. 44), os aspectos favoráveis e desfavoráveis à

implantação dos ciclos relativos ao currículo e à avaliação, que não diferem daqueles visto

nas escolas organizadas em Ciclos de Barra do Garças, a saber:

Favoráveis: modificação dos registros escolares para inclusão dos aspectos

qualitativos do rendimento e da aprovação global, contexto favorável de reforma mais

ampla, clara compreensão da avaliação da aprendizagem, oportunidades de

aperfeiçoamento e atualização contínuos, entre outros.

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Desfavoráveis: o ajustamento formal às novas normas; trabalho docente comum para

toda a classe, sem atividades diferenciadas; atuação pedagógica colada aos livros

didáticos; planejamento sem apoio nos resultados da avaliação; acúmulo de conteúdos

curriculares; reforço e recuperação precários; explicação do fracasso escolar baseada

em fatores extra-escolares e na vontade e capacidade do aluno e, não, intra-escolares,

entre outros.

Quanto aos aspectos desfavoráveis estudados por Gomes (2004), relativos à gestão

escolar, me chamaram a atenção: formação de opiniões desfavoráveis dos pais pelos

professores, não envolvimento dos pais, comunicação de noções equivocadas e temor de que

os filhos não dominem conhecimentos mínimos. Pude perceber esses aspectos no seguinte

relato da educadora Ordalina (...) um menino chegou na escola sem lê nada e a mãe me

falou: „a senhora reprova ele logo‟. Eu disse: ele não reprova. Aí a mãe que não conhece o

ciclo disse: „vixi... [sapateou na minha frente], não... que escola é essa que não reprova?‟.

Daí eu expliquei como funciona o ciclo e que depende da ajuda dela também.

O processo avaliativo tem sido, ao meu ver, o grande entrave na aceitação e

efetivação do PEC. De fato, não aprendemos a avaliar ainda. Associamos perversamente

reprovação com aprendizagem. Talvez pelo que Gomes (2004) chama de “pedagogia da

repetência”, que na visão do autor, “é uma perversão da avaliação” (p. 39). Gastamos mais

tempo pensando nas condições que determinam a retenção dos alunos do que naquelas que os

promovem. Por quê? A resposta a esse “porquê”, sem dúvida, originaria outro trabalho.

Entretanto, uma reflexão possível é na formação inicial e continuada dos professores, nos

cursos de licenciatura raramente aprendemos a avaliar, e ninguém faz o que não sabe. É

preciso olhar para a necessidade dos professores em compreender a avaliação como um

processo de construção do saber e buscar caminhos para isso.

3.2 – Do projeto PEC à sala de aula: a coexistência conflituosa do velho e do novo.

A chegada de uma nova proposta de organização curricular do ensino gera muitos

desconfortos e desconfianças por parte daqueles que são ou deveriam ser os protagonistas

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dessa inovação. Nesse sentido, a implantação de um projeto deve ser seguida de uma

implementação efetiva, sob pena de fracassar. No caso do PEC, essa implementação

compreenderia a formação continuada, em serviço, os ciclos de formação sobre a proposta e

a capacitação dos profissionais (professores regentes, coordenador de ciclo, diretores, entre

outros).

No intuito de conhecer o processo de implantação e implementação do PEC, em

Barra do Garças, entrevistei em outubro de 2006 a Assessora Pedagógica (AP) e a

Coordenadora do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica

do pólo do município, que aqui serão designadas respectivamente de AP e CC; primeiro, para

designar um nome fictício no lugar do nome verdadeiro e, segundo, para facilitar a descrição

delas.

Constatou-se, por meio das falas da assessora pedagógica e da coordenadora do

CEFAPRO que, no momento da implantação do ciclo, no ano de 1999, houve muito

desconforto e desconfiança por parte dos profissionais da educação:

na época da implantação do ciclo, houve muita resistência, que perdura até hoje.

(...) então eu acho que a escola é ciclada, mas a gente trabalha na proposta ainda

do seriado, dentro da fragmentação toda, daquela exclusão toda (AP).

[...] o ciclo começou a ser discutido em 1999, [...] a escola precisaria pelo menos

um ano para conhecer a proposta, estudar e implantar o ciclo a partir do ano de

2000. Então nós apresentamos a proposta nos 16 municípios que compõe o pólo de

Barra do Garças, essa apresentação de certa forma foi tranqüila (CC).

Percebe-se que a organização do ensino em ciclos foi implantada em Barra do

Garças. O que tardou a acontecer foi sua implementação, tanto no que tange às unidades

escolares que, na visão da Seduc, não se mobilizaram para os estudos e da proposta20

, quanto

da Secretaria de Educação que, na visão das educadoras, adiou para o ano de 2005 a

aplicação dos recursos previstos para o acompanhamento do projeto nas escolas.

20

A proposta do ciclo se constitui em material pedagógico e segundo a SEDUC foi distribuída para todas as

escolas cicladas de Mato Grosso.

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Não se trata aqui de encontrar culpado(s), mas sim de compreender o processo

ocorrido, pois, a falta de uma efetiva implementação intensificou a resistência à proposta, o

que gerou em várias escolas de Barra do Garças, inclusive na escola lócus desta pesquisa, um

movimento para retroagir à seriação. Entretanto, como justificar um retorno à seriação, se na

prática ela continuou presente? Isso podemos constatar nas palavras da coordenadora do

CEFAPRO:

O ciclo foi implantado, devia ter dado continuidade, [...] o professor na verdade

continuou fazendo o que vinha fazendo na série, então, hoje eu percebo que o ciclo

de fato não acontece no Estado de Mato Grosso[...] (CC).

Ao falarmos da lógica de uma organização do processo de ensino-aprendizagem em

ciclos de formação humana, pensamos na radicalidade das transformações que ela supõe na

organização e funcionamento da escola e na postura dos educadores frente ao processo de

ensino-aprendizagem, que, na visão da Secretaria Estadual de Educação, constitui uma

resposta adequada aos novos desafios que a escola tem que enfrentar.

Concordamos, em parte, com o que expõe a assessora pedagógica quando diz que

[...] é preciso que a escola funcione da forma como é proposto [falando do PEC],

fazer um trabalho mais significativo com os educandos, é preciso que a escola

realmente queira trabalhar, que os professores tenham disponibilidade pra estudar,

se reunir, para fazer os projetos, para se movimentar (AP).

Porém, a formatação de qualquer proposta educativa deverá considerar as

especificidades dos seus atores no espaço tempo de sua execução. Não dá para culpar a

escola pelo fracasso da implantação. O “enfrentamento” ocorreu, mesmo que timidamente,

dos desafios impressos na proposta do ciclo, as educadoras de I Ciclo da escola em questão

construriam e constroem resiliência21

frente às adversidades e contradições impostas pela

21

A resiliência é um conceito oriundo da Física, apresentado por Thomas Young, que, em 1807, considerando

experimentos sobre tensão e compressão de barras, introduz pela primeira vez a noção de módulo de elasticidade

buscando a relação entre a força que era aplicada num corpo e a deformação que esta força produzia. Dita de

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suposta ruptura da seriação, com a obrigatoriedade (num primeiro momento) de sua

implantação e a tardia implementação do programa.

Para Gomes (2004), uma lição que parece óbvia, mas nem sempre é levada em conta

na prática, trata da participação dos educadores. As melhores concepções pedagógicas e as

melhores medidas de gestão frustram-se se os professores não são “persuadidos” e

preparados para levar a efeito determinadas inovações.

No discurso da Secretaria de Educação de Mato Grosso, a organização em ciclos

veio para ficar e está implantada em Mato Grosso. Contraditoriamente, observa-se que as

poucas escolas inseridas no projeto, realizaram o estudo da proposta, o que possibilitaria o

conhecimento das dificuldades e revelaria as lacunas teórico-metodológicas existentes nela

no que tange à funcionalidade do currículo e à articulação do processo de ensino-

aprendizagem.

Nesse sentido, concordo com a afirmação da coordenadora do CEFAPRO, quando

diz que

[...] a própria proposta do ciclo tem que ser repensada, se percebe uma confusão

tanto na cabeça de quem trabalha na secretaria (SEDUC) como para o professor e

para os educandos porque eles tem dificuldades de saber em que fase e em que

ciclo estão. A proposta não deixa claro [...] o que nós vamos fazer, se é um ciclo de

aprendizagem ou ciclo de formação humana, então essa confusão precisa ser

resolvida (CC).

É preciso que a implementação da escola organizada em ciclos de formação humana

realmente se efetive, realizando formação continuada sobre os aspectos pedagógicos,

metodológicos, avaliativos e de suporte teórico-prático com os professores regentes (aqueles

a quem são atribuídas horas aulas nas fases do ciclo), objetivando entre outros aspectos a

instituição de um espaço de reflexões, construção de concepções e afloramento de

percepções.

Pode –se dizer da implantação da escola ciclada em Barra do Garças, que, de fato,

ela ocorreu. Porém esse novo projeto de organização do ensino coexiste com o velho. Na

uma outra maneira, a resiliência refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação

plástica ou permanente.

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teoria, os tempos e espaços escolares estão organizados em ciclos de formação humana. Na

prática, a confusão, a contradição, a incompreensão da proposta permeiam o currículo, a

metodologia, a avaliação e cotidiano da sala de aula.

Tal atitude de formação se explica, se refletirmos que a implantação e a

implementação dos ciclos requerem medidas complexas, com ações coerentes com a

proposta, com maiores investimentos financeiros, vislumbrando a melhoria da educação e

não o seu barateamento.

Na percepção das três educadoras colaboradoras, a escola organizada em ciclos

apresenta, quanto à questão da sua implantação e implementação, aspectos positivos e

negativos, quais sejam:

Positivos: fornecimento do livro explicativo da proposta para todos os professores; a

possibilidade de trabalhar com a criança na fase correta; a concepção da proposta

como boa, a disponibilidade para participar da formação continuada sobre o ciclo e a

visão de que a proposta possibilita uma autonomia (relativa) do fazer pedagógico.

Negativos: dificuldade com a avaliação por meio do relatório e a sua administração, a

falta do professor articulador, professor de apoio e coordenador de ciclo, funcionando

juntos; a falta do diálogo permanente (entendo como formação continuada para o

ciclo) focado no ciclo; a falta de compromisso de muitos professores; a falta de

responsabilidade e conscientização dos pais de que os seus filhos precisam aprender,

e o acúmulo de projetos a serem desenvolvidos pelos professores, oriundos de

diferentes instituições.

3.3 - O currículo da EE. Heronides Araújo

Proporcionar uma educação para as exigências de um mundo em constante transformação,

sem perder o foco do exercício para a cidadania.

Filosofia da E.E. Heronides Araújo (P.P.P.; 2007, p. 8)

Preparar educandos e educandas autônomos, criativos, críticos, solidários, resgatando assim

a dignidade, a auto-estima e a cidadania. Dando importância também ao saber

sistematizado, valorizando as potencialidades de cada um.

Objetivo da E.E. Heronides Araújo (P.P.P., 2007, p. 8)

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As discussões e a construção do currículo do I Ciclo, para o ano letivo de 2007, nas

três fases, ocorram de acordo com as educadoras colaboradoras, considerando: a

coletividade, os projetos propostos pela SEDUC e o P.P.P. da escola. É possível perceber nos

relatos que se seguem e na observação realizada, que há uma articulação entre as educadoras

de I Ciclo, embora ela incida mais intensamente no período correspondente à Semana

Pedagógica, no início de cada ano letivo.

Foi construído junto com a outra sala da 2ª fase e a coordenadora pedagógica,

tendo como base a formação continuada do CEFAPRO e a escola. Em maio foi

dado início nesta escola ao projeto circuito campeão, além de outros. (Tia Nina)

O currículo foi construído no coletivo com a Tia Nina e a coordenadora

pedagógica, embasados na formação continuada do CEFAPRO e da escola.

Estamos fazendo parte do projeto Airton Senna – Circuito Campeão, onde nos foi

repassado o fluxo das aulas de português e matemática e nós professores fizemos a

adaptação dos conteúdos seqüenciais (Ordalina).

Construímos o currículo através dos livros didáticos e também fizemos dois

projetos que estão incluídos no currículo: A semana da pátria e o Folclore.

Trouxemos os soldados do corpo de bombeiro para fazer uma palestra e fizemos

apresentação de danças, músicas de roda, que as crianças quase não conhecem,

envolveram a 3ª fase do I Ciclo e a 1ª fase do II Ciclo. (Cândida).

Embora o atual projeto da escola ciclada de Mato Grosso não mencione salas

multiseriadas ou o que chamo de multifases, isto é, duas ou mais fases juntas numa mesma

sala com um único professor regente, a escola Heronides Araújo entendeu e adotou para a 1ª

fase e a 2ª fase, um sistema de multifases, funcionando juntas, com uma única professora

regente, a Tia Nina.

Tal adoção não aparece no PPP da escola, mas se observa na prática cotidiana

escolar. O motivo apresentado pela direção da escola para a existência da sala multifases foi

a quantidade pequena de educandos para formar uma nova sala de 1ª ou de 2ª fase.

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Sobre as disciplinas e o ciclo, como um todo, além das exigências legais, há de se

ressaltar a sensível dificuldade de se implantar em um sistema escolar uma proposta que, de

fato, configure um rompimento com a estruturação disciplinar da seriação. A familiaridade

dos professores com as disciplinas, adquirida na prática que desenvolvem, nos livros

didáticos com que trabalham – também eles organizados segundo as disciplinas –, bem como

na formação recebida nos cursos freqüentados, acaba por promover a internalização dos

princípios da disciplinaridade e por criar hábitos difíceis de serem superados.

Nesse contexto, experiências de ensino por eixos, temas ou projetos

interdisciplinares raramente promovem algo além de rupturas eventuais e passageiras.

Experiências nas quais se transcendam os saberes disciplinares são, então, ainda menos

passíveis de aceitação e de sucesso (MOREIRA, 2000).

Nesse sentido, a SEDUC, possui o Projeto de Educação Ambiental - PrEA que

possibilita a interdisciplinaridade na escola, por meio de ações como:

· Elaboração coletiva de material didático e de pesquisa à diversidade ambiental de

Mato Grosso;

· formação de “Mediadores Pedagógicos” para a construção de uma comunidade de

aprendizagem;

· formação continuada dos profissionais da educação em políticas ambientais;

· realização de pré-fóruns ambientais em cidades pólos e fórum estadual;

· incentivo à criação de projetos ambientais escolares comunitários PAEC‟s;

· implementação da Redescola (lista de discussão de educadores ambientais da rede

estadual de ensino) com 80 professores cadastrados;

· realização de formação continuada em educação ambiental por meio do projeto

Tom do Pantanal para 190 escolas estaduais de 17 municípios (em pareceria com a Setec,

Fundação Tom Jobim e Furnas).

O projeto visa promover a sustentabilidade mato-grossense, alicerçada em processos

educativos que contemplem a inclusão social, a justiça ambiental, o respeito ao ensino

público e o bem comum. Tem como subsídio o diálogo entre escola e comunidade, com a

ajuda dos Projetos de Educação Ambiental Escolares Comunitários – PAEC‟s, que

constituem estratégias para promover a inclusão social com justiça ambiental.

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A meta do PrEA, em 2007, consistiu em realizar formação continuada em Educação

Ambiental para16.233 profissionais da rede estadual que atuam na educação básica nos

municípios mato-grossenses, até dezembro de 2007.

Embora o PrEA, no discurso da Seduc, tenha sido implantado em todos os pólos

educativos de Mato Grosso, ele não atingiu o I Ciclo da E.E. Heronides Araújo. As

educadoras dessa unidade escolar desconhecem o programa de educação ambiental da

secretaria de educação. Quando foi perguntado às três educadoras colaboradoras desta

pesquisa: você conhece o Projeto PrEA, de educação ambiental, da Seduc? As respostas

foram sempre negativas, como podemos ver nas falas a seguir:

[silêncio] Ele pode até ter chegado... mais não chegou até a gente” (Tia Nina).

Esse eu não conheço. Nem na formação continuada (...) não tenho lembrança

(Ordalina)

Não (Cândida).

A melhoria na prática educativa está vinculada a formação continuada dos

profissionais da educação. É preciso promover no chão da escola as discussões pertinentes a

educação, e neste contexto a educação ambiental, com o intuito de desvelar as percepções,

concepções e práticas educativas presentes no cotidiano da sala de aula.

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CAPITULO IV

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA CONCRETUDE DA

PRÁTICA EDUCATIVA

Os acontecimentos estão em constante mudança; novo e velho estão em

contínua interação (...). Toda pesquisa deve revelar não apenas o

movimento presente dos fenômenos, mas como estes se reproduzem e se

transformam (GOHN, 2005, p. 257).

A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas

mudam o mundo. (BRANDÃO, 1995).

Figura 11: vista parcial do encontro entre os Rios: Araguaia, Goiás (parte inferior do Rio na foto) e Garças,

Mato Grosso (parte superior do Rio na foto), com o Parque da Serra Azul na parte superiorda foto. Foto do

acervo de Maria Eugênia Batista da Silva Neta.

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Inicio este capítulo trazendo a fala do professor Luiz Marcelo de Carvalho22

sobre a

educação ambiental trabalhada na escola. Concordo com ele ao dizer que a “educação

ambiental, no ambiente escolar, embora não possa ser vista, a partir da perspectiva da ilusão

ou otimismo pedagógico, armadilha esta presente em muitas das reflexões e propostas nessa

área, constitui hoje uma prática social reconhecida por ambientalistas, educadores e outros

grupos sociais como requisito para que a escola cumpra a sua função social”.

No entanto, sabe-se, por pesquisas já realizadas e pelos resultados das práticas já

implementadas no ambiente escolar, que a incorporação de temáticas que se caracterizam,

pela sua natureza, como complexas, por instituições escolares – na maioria das vezes pouco

flexíveis – não é um processo que se realiza sem resistências.

Entre outros muitos fatores que definem sua concretização, o trabalho docente é de

grande significado. As experiências dos professores com sua formação inicial, seus saberes

construídos a partir de experiências de formação continuada e, principalmente, a partir de

suas experiências concretas de trabalho são processos importantes nas escolhas.

Nesse sentido, ao aceitar que a percepção de escola, de educação e de meio

ambiente são construções coletivas de uma sociedade que se encontra sempre em evolução,

então as percepções que serão aqui apresentadas possuem significados e significantes que

não são dissociados entre si, pois nessa dimensão o meio ambiente é pensado a partir de

relações sociais, que se modificam com o tempo.

Durante a investigação, cada uma das três educadoras entrevistadas se colocaram

numa posição de aprendente (haja visto sua formação inicial limitada em relação as questões

sócio-ambientais), elas muitas vezes também me perguntavam sobre o que eu pensava a

respeito do assunto da qual eu estava questionando.

Tal posição, tornou possível um diálogo mais aperto e muito tranquilo entre nós.

Essa postura também faz parte do perfil do professor comprometido com o processo de

ensino e aprendizagem. Um profissional que se entende como inacabado e permite-se

aprender sempre.

22

Recorte do parecer do profº Dr. Luiz Marcelo de Carvalho – UNESP de Rio Claro, banca externa no meu

exame de qualificação de mestrado.

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4.1 – Os caminhos pelos quais a percepção ambiental poderia chegar à sala de aula.

Retomando o capítulo II deste trabalho é possível perceber a intrínseca relação entre

os termos: educação, meio ambiente, percepção ambiental e educação ambiental. O caminho

pelo qual a percepção ambiental poderia chegar à sala de aula, passa pela discutir da questão

do meio ambiente e da educação. Assim, como afirma Fernandes “A educação ambiental

inicia-se no ambiente”(FERNANDES , 2005, p.11).

Nesse sentido, a E.E. Heronides Araújo se localiza numa área privilegiada para esse

exercício, como já foi explicitado no capítulo III. Um campo vasto para as práticas de

educação ambiental. Mesmo assim, constatamos que a prática educativa na escola volta-se

para o modelo tradicional de ensino, ou seja, o de ensinar regras de como fazer e, até mesmo,

de como pensar, em detrimento de uma educação de liberdade e de um meio ambiente

emancipador.

Um caminho possível parte da concepção de que a noção de meio ambiente começa

em casa. Quando os educandos chegam na escola, já sebem o que é uma formiga, um peixe,

uma planta, um cachorro, algumas letras, alguns números, dentre outros. A criança não chega

na escola como uma folha em branco na qual a educadora irá, a partir daquele momento,

imprimir o mundo vivido e construído historicamente pela humanidade, embora, muitas

vezes, seja exatamente isso que elas acreditam que ocontece. Esquecemos que a criança é um

ser com uma existência anterior, interior e exterior a escola, e que esta representa uma

significativa e pequena parcela de sua vida.

Outro caminho parte da aceitação de que apenas o conhecimento não é suficiente

para a mudança efetiva. É necessário trabalhar na pessoa a percepção do ambiente e a relação

emocional que com ela se estabelece. Perceber o meio ambiente é uma maneira de instigar

nos educandos a criação de um vínculo afetivo com a natureza, e, ao mesmo tempo,

contribuir para a formação de uma consciência crítica a respeito dos recursos hídricos e de

suas relações com os ecossistemas naturais e a atividade humana.

Mesmo que, com um conhecimento ainda se consolidando, é possível destacar

potencialidades oferecidas, de maneira bastante rica, pela percepção ambiental para o campo

da educação ambiental e vice-versa. Entretanto, na visão das educadoras, a educação

ambiental ainda se configura lentamente no âmbito da escola; como uma prática que resulte

numa atuação social, em um recorte das entrevistas vê-se que para elas:

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a educação ambiental não esta impregnada, mais eu acho que é uma das

disciplinas ou um conteúdo não sei, que devemos bater bem, a mudança vai ser no

pensamento das crianças, porque os idosos, quem já têm a cabeça feita nem

acreditam no que esses pesquisadores falam (Ordalina).

Educação ambiental é a conscientização das crianças, pra não estar

destruindo, poluindo, então a gente tem que estar trabalhando isso com eles, eu

trabalho essa conscientização através de relatos (textos sobre o ambiente)

(Cândida)

Também se configura na realização de projetos escolares, como vemos na fala de

outra educadora,

(...) em relação ao lixo, foi feito um projeto e nós entramos nesse projeto

(ver Anexo A) com eles, mudando os cestos de lixo, nós fizemos limpeza, (eles?) as

crianças junto com a gente. (quem construiu o projeto?) não me lembro, foi

passado pra gente na nossa reunião, encontro de formação e aí a gente já entrou

no projeto, ajudando a turma da parte da tarde, conscientizando eles da

importância limpar... não sujar os corredores, o quintal (...) (Tia Nina)

Nesse sentido, a educação escolar serve como ferramenta de sensibilização para a

percepção ambiental, bem como no processo de sensibilização sócio-ambiental para os

problemas de queimadas, desmatamento, lixo, consumo, escassez de água, entre outros. E a

prática da percepção ambiental serve de instrumento para subsidiar a educação ambiental,

por exemplo, por meio dos nossos sentidos (visão, olfato, tato, paladar e audição).

Em Barra do Garças, onde se localiza a escola lócus desta pesquisa, o problema das

queimadas é sentido pelos alunos e professores e apareceu em uma das falas das educadoras,

que dizia:

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(...) o calor ta na sala, eu falo: olha isso é por falta de que? Das árvores

que não tem, por causa da queimada (Ordalina)

A educadora tenta sensibilizar os educandos sobre as conseqüências das queimadas.

Esse momento poderia ser vivenciado com expressões orais, corporais e escritas,

motricidade, capacidade de concentração e observação, criatividade, cooperação e relações

interpessoais nas quais a percepção das crianças poderia ser captada, por exemplo, pelo uso

dos sentidos: relatar, desenhar, pintar, cantar, tocar, entre outros.

Há na escola uma crise de percepção de valores. Existe o reconhecimento de que é

necessária uma profunda mudança na forma de perceber o meio ambiente e se relacionar com

ele, para garantir a nossa sobrevivência, mas ainda não atingiu a maioria das pessoas; tem-se

uma visão de mundo obsoleta, “uma percepção da realidade inadequada para lidar com um

mundo superpovoado e globalmente interligado” (CAPRA, 1996).

De fato, a escola é um espaço de socialização e de desenvolvimento cognitivo, como

também é um espaço de utopias. Quando se relaciona a prática educativa com a proposta de

currículo construído pelo coletivo da comunidade escolar, percebe-se um estreitamento

naquilo que a filosofia e o objetivo da escola preconizam, ou seja, o exercício da cidadania.

4.2 – Os diferentes fios23

de percepção ambiental

Durante a trajetória da pesquisa, percebi os diferentes olhares em torno da questão

ambiental presente no contexto do cotidiano da Escola Estadual Heronides Araújo. Diferenças

que poderiam convergir para uma ação educacional enriquecedora, na medida, por exemplo,

em que as educadoras do I Ciclo consiguissem re-elaborar seus planos de aulas (ver Anexo C)

numa perspectiva de ensino-aprendizagem voltada, de fato, para aquilo que se vislumbra na

filosofia da escola.

Como resultado da tentativa de desvelar a percepção ambiental das educadoras foram

obtidos três diferentes fios, que serão aqui apresentados, sempre acompanhados dos recortes

das suas falas.

23

Nesse trabalho chamo de fio uma maneira de pensar e de agir das educadoras em relação ao meio ambiente.

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Um primeiro fio da percepção de meio ambiente é como o lugar onde se vive,

como se vê nos seguintes:

meio ambiente pra mim é como o que hoje vi na televisão e achei

interessante, até eu própria faço parte do meio ambiente, então meio ambiente pra

mim... é tudo que esta em minha volta, minha casa, minha sala de aula, é o meio

onde eu vivo. Onde eu estou (Ordalina)

O fato de se perceber o meio ambiente como um lugar onde se vive, encontra suporte

na topofilia estudada por Tuan (1980) na qual a percepção ambiental é “tanto a resposta dos

sentidos aos estímulos externos como a atividade proposital, na quais certos fenômenos são

claramente registrados e outros bloqueados”.

Nesse sentido, existe uma relação de afetividade entre a pessoa e o lugar ou ambiente

físico onde ela se encontra. Uma das educadoras quanto questionada sobre o que é meio

ambiente, se reporta à escola, quando responde:

meio ambiente onde? Aqui na escola? (Cândida)

Assim, percebemos aquilo que tem valor para nós, tanto para a sobrevivência

biológica como também para garantir a manutenção da cultura. Como estávamos na escola no

momento da entrevista, a educadora associou a pergunta ao lugar. No geral, entendo que

valoramos o lugar onde vivemos, trabalhamos, existimos, pois o melhor lugar para se viver é

onde se vive. E se nascemos, trabalhamos, ou temos atividades nesse lugar, a percepção do

meio ambiente como lugar onde se vive pode se filiar ao sentimento de pertencimento ao

lugar.

Um segundo fio da percepção de meio ambiente é como natureza exterior ao ser

humano, como se vê no seguinte recorte da fala de uma das educadoras:

O meio ambiente é o que nos cerca, são as árvores, as flores, os animais (Cândida)

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Essa fala revela uma percepção do meio ambiente, associada principalmente aos

aspectos naturais e dissociada da compreensão deste como um sistema complexo que elas

integram e nele interagem.

A esse respeito, Dias (2000) afirma que, reduzir o (s) conceito (s) de meio ambiente

exclusivamente aos seus aspectos naturais, pode impossibilitar a interlocução entre as

ciências sociais e outras ciências, a compreensão e melhoria da qualidade de vida na terra.

Por esse viés, se aproximaria da visão epistemológico-biológica pela qual a natureza

pode ser caracterizada no stricto sensu – como o conjunto dos ambientes naturais e de todos

os seres que habitam a Terra; e no lato sensu – como tudo que constitui o Universo, desde o

macrocosmo (infinitamente grande) até o microcosmo (infinitamente pequeno).

De maneira geral, as ações impactantes no meio ambiente decorrem de atividades

que dependem, em grande parte, do entendimento e da concepção de natureza. A sociedade

de modo geral se relaciona com a natureza como obra de Deus ou como um “ente” exterior a

si, do qual pode usufruir como queira, como é possível perceber na fala de uma das

educadoras:

a nossa terra está esquentando cada dia mais e nós estamos perdendo a

natureza, coisa boa que Deus nos deu ofereceu (Ordalina)

Um terceiro fio da percepção de meio ambiente é como sentimento de liberdade

e espaço, como se vê no seguinte recorte:

o meio ambiente é o ar livre, espaço amplo, liberdade. Você quer espaço,

verde, tudo limpo, tudo claro. Quando você falou em meio ambiente veio logo na

minha cabeça: liberdade e espaço (Tia Nina).

Entendido por esse viés emancipador, o fio da percepção consistiria em desenvolver

práticas dialógicas específicas que tendem a modificar e reinventar maneiras valorativas nas

famílias, no trabalho, no meio urbano, na escola. Nesse sentido, uma idéia de educação

ambiental com enfoque em um meio ambiente emancipador supõe risco.

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E na direção do que afirma Paulo Freire (1979), não há como fugir desse risco, pois

a nossa presença no mundo, por si só, já é um risco, que, portanto, está ligado à condição de

existente de todos, risco que implica decisões e compromissos políticos e que sugere o

envolvimento de práticas coerentes com o sonho e o desejo de mudar o mundo, torná-lo

melhor. Mas isso não é uma dádiva, é uma conquista e arriscada.

Quando a educadora Tia Nina diz assim:“ontem na formação continuada deram

liberdade para todo mundo ir pensando o que pode ser feito na semana pedagógica do ano

que vem”, percebo o hospedeiro24

Paulofreireano (1987) se mostrando, dificultando e, muitas

vezes, até impedindo que, por exemplo, o fio de uma percepção de meio ambiente como

liberdade, se concretize na prática educativa da educadora. A condição de professores

refletivos não é dada, precisa ser conquistada, construída e consolidade no coletivo da

escola.

Na concepção freireana, o (a) educador (a) possui uma opção política que envolve

sua metodologia, os materiais escolhidos, os métodos utilizados e os valores acerca do

mundo que perpassam a sua ação pedagógica e educativa. Mas ele não é dono da ação, é um

mediador dela, do contrário abriria a porta para o hospedeiro entrar. É preciso ver a escola

como lugar de amor, mais também de conflitos.

Assim, nesse recorte no qual a educadora Ordalina diz “eu, plantando essa

sementinha dessa educação, do meio ambiente, ensinando como nós devemos trata o lixo,

como nós devemos participar, conviver nessa natureza de agora para frente”, é possível

perceber um movimento no sentido de sensibilizar os educandos a respeito do uso racioanl

dos recursos naturais e na convivência harmoniosa entre o ser humano e a natureza.

Um pensar dialógico, comunicativo é fundamental para a construção coletiva da

liberdade, mesmo que relativa. Entretanto, é no processo de construção e execução dessa

prática, que se dará o diálogo geralmente conflituoso, porém, tão necessário à ação

pedagógica, o que foi percebido durante as entrevistas como sendo essencial.

O que mais deveria interessar são as conexões entre os diversos saberes, que gera

resistência à concepção unificadora sobre os mais diversos temas discutidos na educação. No

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Hospedeiro: categoria utilizada por Paulo Freire para designar a condição vivida pelo oprimido ao reproduzir o

opressor. Ou seja, ao "hospedar" o opressor em si, os oprimidos agem como seres duplos, portanto, inautênticos

(FREIRE, 1987).

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contexto de um meio ambiente emancipador, não cabe a concepção unificadora. Crescemos

na dialética e com os conflitos.

4.3 – O entrelaçamento dos fios da percepção ambiental na prática educativa

Nos relatos de uma ação pedagógica realizada pelas educadoras, como sendo de

educação ambiental, é possível perceber o entrelaçamento dos fios emancipadores,

naturalistas e topofílicos de meio ambiente na sua prática educativa.

Educação ambiental é a conscientização das crianças [silêncio] Conscientização de

que você tendo liberdade, você aprende, você ensina, você torna tudo mais...

espaçoso, com liberdade de fazer alguma coisa (Tia Nina).

Para o I Ciclo, período correspondente a infância, o currículo deveria ser voltado

para a construção das noções de determinados conceitos e sensibilização para a prática social.

A conscientização não seria um mecanismo adequado, principalmente em se tratanto da

educação ambiental, que precisa ser sentida.

Aqui se encontra sistematizado o relato de ações pedagógicas que as educadoras

realizaram e que consideram como sendo uma prática de educação ambiental:

- A limpeza da sala de aula, e da escola.

- Palestras sobre os cuidado com o lixo, em julho, na temporada de praia.

- Aproveitamento do próprio ambiente da sala de aula e da escola para tratar

dos problemas: calor, desmatamento, queimada, entre outros.

- Projeto escolar sobre o lixo, desenvolvido com os alunos.

Os projetos citados anteriormente permeiam a questão do lixo na escola, foram

desenvolvidos com pouca articulação entre as educadoras e o coletivo da escola. Essa

desarticulação curricular é percebida no plano anual de ensino, conforme podemos ver no

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Anexo C. São projetos pontuais que conseguem resolver pontualmente o problema levantado,

mas que apresentam pouco resultado no processo de ensino e aprendizagem.

As educadoras vislumbram outras possibilidades de projeto na escola para o próximo

ano, parece um tentativa de envolvimento do coletivo da escola nas ações de educação

ambinetal, principalmente no que se refere aos profissionais de apoio e os técnicos

administrativos, quais sejam:

- Um projeto de trabalho ambiental com as pessoas que limpam a escola (neste

caso a necessidade deste projeto surgiu devido ao fato dos profissionais que

limpam a escola colocarem fogo nas folhas secas das árvores) .

- Envolve todo o corpo escolar, mais integração.

- Mostrar as belezas naturais do Vale do Araguaia (neste caso as professoras

relataram que os alunos e até alguns professores não conhecessem as belezas

naturais e culturais da Região).

Eu gostaria de ter passado um vídeo sobre as cachoeiras que tem aqui na Barra, só

que nós não temos aqui na escola e eu não tive também como ir atrás (Cândida).

Este recorte da fala da educadora Cândida nos revela que há a vontade de fazer algo

a mais na sala de aula para sensibilizar os educandos quando a conservação do meio

ambiente natural, por meio do conhecimento das belezas naturais, por exemplo. Entretanto

no caso do I Ciclo, alunos de 6 a 9 anos, ficaria complicado, não impossível, levá-los para o

Parque Estadual da Serra Azul, onde se localizam as cachoeiras.

Nesse sentido, como transformar a vontade de fazer em ação? O trabalho coletivo

por projetos, desde o planejamento na semana pedagógica seria um caminho e que foi

apontado por uma das educadoras,

(...) quer dizer se nós fizermos juntos um planejamento anual, de que onde

eu parei com o prezinho (1ª fase), a professora da primeira continua... só falta isso

pra dar certo,(...) (Tia Nina).

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(...) mais o que poderia ter sido feito por exemplo dentro desse projeto

[falando do projeto sobre o lixo] é a gente ter pensado em nível assim...

Conscientização das crianças em relação ao geral, assim deles terem amor à

escola, de não estragar, de não puxar a carteira de qualquer jeito,(...) mais esse

trabalho eu penso que ele não é um trabalho só dos alunos, ele é um trabalho

mesmo até da gente do professor, como as pessoas que limpam a escola, ele

envolve um todo, então eu senti que faltou uma comunhão de todo corpo escolar

abraçar a causa (Tia Nina)

Quando perguntadas sobre a atuação delas numa ação dita por elas de educação

ambiental e como os outros professores viram isso, ou outros membros da comunidade

escola, uma delas respondeu:

Ah, isso aí nós não temos contato não, ainda é muito distante.

As educadoras relatam que há pouco envolvimento da escola e dos pais no

acompanhamento das tarefas escolas dos educandos, mesmo assim, ocorre uma pequena

interação entre os pais ou responsáveis, a educadora e os educandos.

Percebi pelas falas e observações na escola que, mesmo com o pouco envolvimento

dos pais nas questões da aprendizagem dos educandos, é possível ver que aqueles que se

envolveram, de uma determinada maneira, contribuíram para a melhoria da aprendizagem

das crianças; e vão até a escola socializar isso com as professoras, o recorte a seguir se

apresenta como um exemplo disso:

“ a mãe veio falar sobre a cachoeira, que ele falou que estava deslizando a pedra da

cachoeira e contou até a história de uma moça que foi acidentada, ela gosta sempre de levar

eles na cachoeira, aí disse que ele chegou e contou pra ela „olha mãe, na cachoeira a gente

não pode ficar baixo da água da cachoeira, porque as pedras estão rolando‟, aprendeu na

escola (...) (Cândida).

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Muitas questões são colocadas quanto à prática do (a) educador (a) que atua na

escola, especialmente o alfabetizador (a). Além de “não se culpar” disso ou daquilo, o

educador (a) precisa respeitar as “concepções de mundo” dos alunos, principalmente no I

Ciclo, no qual se fundando as primeiras noções, tudo isso numa perspectiva dialógica, o que

não significa que não poderá haver problematização dessas concepções, apenas que deverão

compreender o nível de consciência dos alunos.

Os alunos de I Ciclo se encontram na fase do concreto e, para além da teoria, é

preciso a prática, os exemplos. Essa é uma visão que permeia a prática da educação

ambiental, tanto dentro como fora da escola. Os educandos escutam muitas vezes dos seus

professores nas aulas que não podem jogar lixo na sala de aula, no pátio da escola, na rua; os

projetos sobre a temática do lixo são os mais realizados nas unidades escolares, mas eles

continuam jogando.

É preciso ações interdisciplinares e contínuas que valorizem o fazer pedagógico

materializando-o na prática social, tanto para os professores quanto para os alunos. Sobre isso

considerei ilustrativo o relato da Tia Nina:

Eu senti, por exemplo, que eles tinham uma falta de interesse muito grande, assim...

se eles passavam no corredor, (...) vê a sujeira no corredor, às vezes eles

descuidam, jogam papel no chão, a gente abaixa e pega o papel (...) eles estão

sentindo. Não surtiu efeito, a gente falar para eles “pega esse papel que você jogou

no chão‟, não adiantava, eles faziam aquilo automático, e diziam „não foi eu que

joguei professora‟, (...). Agora não, se eles fazem isso, a gente mesmo pega aquilo

perto deles e fala não pode fazer isso e põe lá no lixo, e nós já tivemos iniciativa

dos próprios alunos, sem eu falar nada ela disse, “eu limpei a sala tudo para

você”.

As educadoras se revelam como indivíduos nunca completos e regulares, um

“projeto de ser humano” anunciado por Merleau-Ponty e Paulo Freire e podem, juntas,

constituir identidades autênticas, ao mesmo tempo, singulares e múltiplas. Suas experiências e

histórias de vidas e as representações criadas a partir delas podem ser as mais diversas, sendo

necessário, portanto, dentro do processo pedagógico escolar, o diálogo entre elas.

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Dessa forma, tecer uma prática educativa numa perspectiva coletiva com diferentes

fios de percepção ambiental de fato não se constitui tarefa fácil. Pensar um meio ambiente

numa perspectiva emancipadora sucinta uma interação do indivíduo com o ambiente, que, de

acordo com Del Rio e Oliveira (1996), ocorre por meio de mecanismos perceptivos e

mecanismos cognitivos, juntos, estímulos sensoriais e elementos de motivação, humores,

necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas dos sujeitos

envolvidos no processo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gostaria de tecer essas considerações finais trazendo novamente a afirmação de

Carlos Rodrigues Brandão de que a educação não muda o mundo, a educação muda as

pessoas, e são as pessoas que mudam o mundo. De fato há muito que fazer na educação para

que ela seja transformadora das realidades sociais. Um caminho possível para isso passa

pelos ambientes estimulantes, que os educandos tenham prazer de freqüentar, onde o próprio

profissional da educação possa acreditar na relevância do papel que desempenha na

sociedade, e de sentir inacabado, como ser humano, sempre aberto para que os outros possam

interrogá-lo.

Meu encontro com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty foi importante como

forma de compreensão das minhas próprias limitações, e de me reconhecer nessa trajetória

também como projeto de ser humano. Sempre na possibilidade de vir-a-ser, estando sendo.

Foi uma trajetória ardua a da fenomenologia, repleta de sorrisos floridos e espinhos

filosóficos.

Ao me envolver na investigação qualitativa sobre a percepção ambiental e a prática

educativa das educadoras de I Ciclo, desenvolvida em uma escola no interior mato-grossense,

tive como tarefa principal desvelar os processos educativos, para além dos muros da escola.

Vislumbrando uma demanda de formação continuada no campo da educação ambiental para

todo o Pólo do Centro de Formação e Atualização do Professor (CEFAPRO) de Barra do

Garças.

O currículo da escola na concretude das realidades impressas na prática educativa

pode até não significar uma construção coletiva e contínua, mas expressa uma vontade de

fazê-lo. As discussões entre os sujeitos dessa escola e técnicos comprometidos e abertos ao

diálogo são necessárias para garantir a qualidade do trabalho, que é sempre uma intenção, um

projeto, que adquire forma própria em cada escola e em cada sala de aula.

A Secretaria Estadual de Educação anunciou neste ano que irá realizar um curso de

formação continuada via CEFAPRO, para as educadoras dos ciclos, que, em 2008, que

fortalecerá a proposta de organização curricular centrada na formação humana, em todas as

escolas de Mato Grosso, em todos os níveis de ensino fundamental. Para tanto, almeja

garantir a unidocência aos profissionais que atribuírem hora/aulas no Ciclo de Formação

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Humana, e fortalecer as reflexões sobre: currículo, metodologia e avaliação nas unidades

escolas.

É essencial, portanto, que a secretaria procure acompanhar, entender e, mesmo,

orientar como se deve materializar a proposta curricular do Ciclo de Formação Humana nas

escolas. A partir da discussão e da crítica das práticas e das atividades que se desenvolvem, é

que se pode tomar as decisões referentes a como melhor implementar, questionar e/ou

transformar a proposta. Ou seja, a proposta é um caminho, em cuja construção devem se

envolver todos os sujeitos interessados no processo.

Torna-se importante que a implementação da escola organizada em ciclos realmente

se efetive, no que tange aos aspectos pedagógicos e de suporte teórico e prático, bem como

um processo de formação em serviço, como um espaço de reflexões, aparecimento das

concepções, percepções, aprofundamento e (re) significação dos conceitos.

Esse espaço de reflexão sobre as relações da sociedade com a natureza pode

possibilitar, pelo caracter interdisciplinar das práticas docentes, uma condição para as relações

sócio-ambientais no campo das interações entre cultura e sociedade. Isso significa dizer que

as modificações resultantes da interação entre os seres humanos e a natureza nem sempre são

predatórias.

Nesse sentido, o currículo deverá ser visto como uma construção coletiva inacabada,

como um processo, como uma possibilidade, requerendo uma estrutura escolar mais flexível,

democrática e autônoma. É um desafio para aqueles que foram formados numa perspectiva

cartesiana. O currículo, mesmo que considerado como um pedaço de papel frio, revela a

maneira no qual os professores concebem a educação e os processors de ensino e

aprendizagem.

Percebi neste estudo uma possibilidade de intervenção na uma melhoria da prática

educativa, por meio da formação continuada e como contribuição a ela, vislumbrando a

transformação do atual cenário de degradação sócio-ambiental, na medida em que se abre

uma parceria entre investigadora e sujeitos colaboradores.

Ainda, como ampliação dos estudos sobre meio ambiente, educação, percepção

ambiental, escola organizada em ciclos, entre outros, indagados neste trabalho. Estudos esses

que sucintaram novas leituras e novas interpretações a fenômenos educacioanis antigos, como

é o caso da educação ambiental.

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Contraditoriamente finalizamos com a compreensão de que não se termina uma

pesquisa; somos convidados pelo tempo a abandoná-la, pois a realidade é inexaurível diante

do nosso olhar limitado que, na tentativa de descobrir os significados atribuídos ao real, se vê,

quase sempre, no início de novas descobertas.

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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-

40142000000200009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 20 de março 2008.

DOCUMENTOS

MATO GROSSO. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. ESCOLA ESTADUAL

“HERONIDES ARAÚJO”. Planejamento anual de ensino – 1ª fase do I Ciclo. Barra do

Garças: 2007, 20 pp.

MATO GROSSO. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. ESCOLA ESTADUAL

“HERONIDES ARAÚJO”. Planejamento anual de ensino – 2ª fase do I Ciclo. Barra do

Garças: 2007, 8 pp.

MATO GROSSO. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. ESCOLA ESTADUAL

“HERONIDES ARAÚJO”. Projeto Político Pedagógico. Barra do Garças: 2007, 77 pp.

MATO GROSSO. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. ESCOLA ESTADUAL

“HERONIDES ARAÚJO”. Regimento Escolar. Barra do Garças: 2006, 47 pp.

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APÊNDICES

A - QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM A ASSESSORA PEDAGÓGICA DE

BARRA DO GARÇAS E A COORDENADORA DO CEFAPRO

B - QUESTIONÁRIO ÀS EDUCADORAS

C - QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM AS EDUCADORAS DE I CICLO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE.

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I

CICLO, BARRA DO GARÇAS, MATO GROSSO.

MESTRANDA: MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. SUISE MONTEIRO LEON BORDEST

Co-ORIENTADORA: Prof.ª Dra. MIRAMY MACEDO

APÊNDICE A – QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM A ASSESSORA

PEDAGÓGICA DE BARRA DO GARÇAS E A COORDENADORA DO CEFAPRO

Data: Junho de 2006.

1. Como ocorreu a implantação do projeto da escola organizada em ciclos no pólo de

Barra do Garças?

2. Como ocorreu a implementação desse projeto?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE.

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I

CICLO, BARRA DO GARÇAS, MATO GROSSO.

MESTRANDA: MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA25

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. SUISE MONTEIRO LEON BORDEST

Co-ORIENTADORA: Prof.ª Dra. MIRAMY MACEDO

APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO ÀS EDUCADORAS

Data: Agosto de 2007.

1. Cidade onde mora: _____________________Bairro: _____________________

2. Naturalidade:____________________

3. O que você mais gosta e menos gosta no seu bairro? Por quê?

4. O que você sente ou percebe durante o trajeto da sua casa para a escola? Por quê?

5. Formação Inicial:__________________________ Pós-Graduação:______________

6. Servidor efetivo? ( ) sim ( ) não

7. Participa da formação continuada? ( ) sim não ( ) Porque?

8. Área de conhecimento que leciona?

( ) Ciências da natureza ( ) Códigos e Linguagens ( ) Ciências Humanas

9. Leciona: ( ) 1ª fase ( ) 2ª fase ( ) 3ª fase do I ciclo?

10. Quanto tempo trabalha com o I ciclo? __________ E nessa escola?____________

11. O que é uma escola para você educadora?

12. Como foi construído o currículo do I ciclo na escola? (participação, seleção de

conteúdo, projetos...)

13. Como esta sendo desenvolvido o currículo na escola?

14. O que você mais gosta e menos gosta na EE Heronides Araújo? Por quê?

15. Como você considera o “meio ambiente” da escola? Por quê?

16. Para você, quais as mudanças ambientais mais recentes na escola?

17. Como você percebe a relação do aluno com meio ambiente na escola? Por quê?

18. Onde você percebe que os alunos mais gostam de ficar na hora do recreio? Por quê?

19. Fique a vontade para expressar algo mais em relação à escola, ao I ciclo, ao meio

ambiente e/ou a sua prática educativa.

20. Por favor escolha um nome fictício com o qual irei identificar sua fala na pesquisa.

Muito obrigada por sua colaboração!

25

Contato: email - [email protected]

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE.

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE

O DESVELAR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA EDUCATIVA DE EDUCADORAS DE I

CICLO, BARRA DO GARÇAS, MATO GROSSO.

MESTRANDA: MARIA EUGÊNIA BATISTA DA SILVA NETA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. SUISE MONTEIRO LEON BORDEST

Co-ORIENTADORA: Prof.ª Dra. MIRAMY MACEDO

APÊNDICE C – QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM

AS EDUCADORAS DE I CICLO

Data: Novembro de 2007.

1. O que é o meio ambiente?

2. O que é a educação ambiental?

3. Relate uma prática pedagógica que você realizou e que considera como sendo uma

prática de educação ambiental.

4. Houve comentário da comunidade escolar (pais, alunos, colegas, entre outros) em

relação à prática pedagógica que você relatou? Qual foi?

5. O que e como você gostaria de ter feito e não pode fazer?

6. Como você percebe as políticas públicas de educação no Estado de Mato Grosso

principalmente as voltadas à educação ambiental?

7. Conhece o projeto Preá – educação ambiental escolarizada – Seduc MT.?

8. Com você percebe a escola organizada em ciclos?

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ANEXOS

A – O PROJETO ESCOLAR: MEIO AMBIENTE - SOBRE O LIXO.

B - ESTRUTURA FÍSICA E ASPECTOS DA ESTRUTURA CURRICULAR DA E.E.

HERONIDES ARAÚJO.

C – PLANO ANUAL DE ENSINO PARA A 1ª FASE DO I CICLO.

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ANEXO A – O PROJETO ESCOLAR: MEIO AMBIENTE - SOBRE O LIXO

Justificativa

Considerando a falta de conservação do espaço físico da Escola Estadual Heronides

Araújo, sentimos a necessidade de sensibilizar a comunidade escolar deste estabelecimento,

para juntos buscarmos mudanças, onde possamos contribuir para um ambiente limpo,

conservando: paredes, carteiras, mesas e armários prezando pela melhoria da qualidade de

vida de nossa sociedade. Pretende-se que essa iniciativa atinja a nossa comunidade e que a

mesma entenda que a seleção de materiais diversos passando por reciclagem, pode deixar de

ser lixo, contribuindo assim para a conservação do meio ambiente.

Objetivo Específico

Oferecer oportunidade ao ser humano de compartilhar, organizar e contribuir em sua

prática cotidiana para a conservação do nosso ambiente;

Reconhecer o ser humano como principal protagonista para determinar e garantir a

manutenção do planeta;

Fortalecer os conceitos éticos para com a sociedade.

Ações

Oferecer aos educandos maiores informações em relação ao tema,

Proporcionar aos alunos o desenvolvimento do senso crítico em relação à ética

ambiental;

Propor discussões a partir de: leituras, aulas audiovisuais, palestras, noticiários,

pesquisas bibliográficas, entrevistas e questionários;

Organizar grupos para: pesquisa de campo, entrevistas com profissionais voltadas para

as questões ambientais;

Organizar grupos para coleta e separação de lixo;

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ANEXO B: ESTRUTURA FÍSICA E ASPECTOS DA ESTRUTURA CURRICULAR

DA E.E. HERONIDES ARAÚJO

1 - A ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA

- Localização: Área urbana de Barra do Garças, MT.

- Turnos de Funcionamento: Matutino – Vespertino - Noturno

- Situação do Imóvel: Próprio

- Número de salas de aulas: 10

- Laboratório de Informática: 01 (10 computadores + 1 impressora)

- Sala de Vídeo: 01

- Sala de professor: 01

- Sala da Coordenação: 01

- Sala da Direção: 01

- Secretaria: 01

- Cozinha: 01

- Pátio de Lazer: 01

- Banheiros dos alunos: 02 e Banheiros dos professores: 02

- Quadra de esportes: 01 (não coberta)

2 - AS AÇÕES PEDAGÓGICAS

A escola tinha como objetivo executar e acompanhar o desenvolvimento das ações

pedagógicas propostas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que eram:

1. Projeto de Desenvolvimento das Horas Atividades;

2. Formação Continuada para os Professores;

3. Estruturação do currículo das modalidades de ensino;

4. Videoteca “Novo Saber”;

5. Projeto Interdisciplinar: Aprendendo com e na Natureza;

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6. Projeto de Educação Ambiental Escolar;

7. Projeto Laboratório de Informática;

8. Projeto Inclusão Digital;

9. Projeto Inclusão Social pela Inclusão Digital, em parceria com a UFMT;

10. Projeto Blogquestiando;

11. Projeto Reciclotec;

12. Projeto Leila Leão;

13. Despertar nos alunos o interesse e gosto pela leitura por meio do Projeto “Mundo

Mágico da Leitura”, em parceria com a UFMT;

3 - ESTRUTURA CURRICULAR26

DO I CICLO DA EE HERONIDES ARAÚJO

3.1 - I Ciclo – 1 ª Fase

ÁREA DE LINGUAGENS

Língua Portuguesa

Comunicação oral e não oral; conversa sobre: sua residência; seus brinquedos;

animais de estimação. Expressão de cortesia: por favor; desculpa, obrigado; discriminação

auditiva: som longe e perto, sons graves e agudos. Discriminação visual: pessoas, objetos,

desenhos, cores primárias, exercícios gráficos; coordenação motora, coordenação viso-

motor; vogais encontro vocálico, sílabas simples; pequenas frases, pequenos textos.

Educação Física

Brincadeiras com: bolas, de roda, cordas e amarelinha.

ÁREA DE CIENCIAS NATURAIS E MATEMATICA

Matemática

Examinando coisas: objetos, diferenças, percepção; intervalo de tempo: cedo, tarde,

amanhã, ontem; noção de discriminação: lateralidade, posição, distância, direção; noção de

quantidade: muito, bastante, pouco nenhum, grande, pequeno; cores, números de 0 à 50,

26

Conforme PCNs.

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adição simples , subtração simples, dias da semana; nosso dinheiro , noção de formas

geométricas.

Ciências

Higiene pessoal; os órgãos do sentido; partes do corpo humano; os animais; o lixo;

nossa alimentação; a água nossa de cada dia; recorte e colagem.

ÁREA DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

Geografia e História

Você, nossa família, onde moramos, a escola, as ruas, os meios de transportes;

trânsito, os meios de comunicações; datas comemorativas.

Religião

A criação do mundo; histórias bíblicas; relacionamento básico; eu e as outras

pessoas.

3.2 - I CICLO - 2ª FASE

ÁREA DE LINGUAGENS

Língua Portuguesa

Exercícios para desenvolver: lateralidade, organização espacial, coordenação viso

motora

Palavras-chaves e vogais em letras maiúsculas, minúsculas, de imprensa e cursivas;

Encontros vocálicos; Vogais nasaladas; Palavras chaves e família silábica; Pequenos textos

utilizando as palavras chave e outras com os padrões silábicos já vistos; Gênero do

substantivo e adjetivo; Plural de palavras e frases; Grau dos substantivos e adjetivos;

Formação de palavras e frases; Criação de pequenos textos, bilhetes, cartas e diálogos;

Leitura e interpretação em livros, revistas, ornais, panfletos, cartilhas, embalagens, gibis,

poesia e textos variados; Ditado de palavras, frases, colorido,recortado,formas geométricas;

Nomes próprios e comuns; Pontuação; Sinônimo e antônimo.

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Educação Artística

Completar e criar desenhos; Recorte e colagem; Dobraduras; Confecção de álbum;

Pintura e combinação de cores; Historinhas infantis; Musicas; Dramatização; Confecção de

brinquedos com sucata.

Educação Física

Reconhecimento dos sons; Jogo de adivinhações – jogo de esconder; brincadeira de

roda – pular corda; musicas populares infantis; jogos calmantes, jogo de imitação, jogo de

corre; lateralidade e direcionalidade; marcha; Jogar bola; brincar com os brinquedos de

sucata; amarelinha; queimada; jogo de memória, quebra-cabeça, boliche, argola botão;

jogos de fugir, perseguir, pular com uma perna só.

ÁREA DE CIENCIAS NATURAIS E MATEMATICA

Matemática

Historia dos números; idéia de quantidade; algarismos; número na vida pratica;

cores, formas, tamanho, espessura, posição e localização; formando grupos; noções de

geometria; conjuntos; noção de conjunto; tipos de conjunto; pertence ou não pertence; união

de conjuntos; igual ou diferente; correspondência; números naturais; ordenação;

comparação; sistema de numeração; sistema de numeração decimal; números pares e

números ímpares; números ordinais; sistema de numeração romano; figuras geométricas;

sistema monetário brasileiro; operações com números naturais, concretos, abstratos; adição;

subtração.

Ciências

Natureza; seres vivos; plantas; animais; corpo humano; alimentação; saúde; higiene.

ÁREA DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

Historia e Geografia

Quem sou eu?; história da vida; vida em família; as pessoas e sua historia; você e

sua casa; nossa moradia; as casas do passado e as casas do presente; você e sua escola; sua

escola, sua história; a escola de ontem e de hoje; como ir de um lugar para outro; o seu tempo

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e outros tempos; o trabalho na vida de todos nós; Brasil é o meu país; calendário de

comemorações sociais, religiosas; solidariedade; justiça.

Religião

Eu e a escola; o mundo que eu queria e o mundo que eu vejo; Deus no meio de nós

para o mundo ficar melhor; Jesus nos convida a transformar o mundo; vivendo a amizade

verdadeira, alegria com Deus e com os irmãos.

3.3 - I CICLO - 3ª FASE

ÁREA DE LINGUAGENS

Língua Portuguesa

1. Textos e interpretação de textos; estudo do vocabulário

2. Ortografia; p b; m ntes de b e m antes de p; as,es,is,os,us; lha,lhe, lhi, lho, lhu;

h; ca, ce, ci,co, cu; ga, gue, gui, go, gu; Az,ez,iz,oz,uz; Na,em, in,on, um; X com som de s,

ss, cs; Bl, cl, fl, gl, pl, tl; alfabeto maiúsculo e alfabeto minúsculo; vogais e consoantes;

encontro vocálico; encontro consonantal; dígrafos; silabas; sinais de pontuação; tipos de

frases; substantivo próprio e comum; sinônimos e antônimos; emprego da virgula; silaba

tônica; artigo definido e indefinido; substantivo coletivo; substantivo, gênero, número e

grau; emprego do ti; adjetivo; pronome; verbo.

3. produção de texto: produzir e reproduzir textos através de: desenhos, poesia,

dramatização, invenção de historia, poemas, elaboração de bilhetes, cartas, cartões história

contada e visualizada, seqüência de história.

Educação Artística

Ponto geométrico, ponto gráfico e pontilhismo; trabalhando a linha reta na

geometria e na arte; desenho livre; desenho cego; pintura; desenho manchado; mosaico;

recorte e colagem; cores quentes e frias – pintura; modelagem; dobraduras: gato, cachorro,

pomba, casa, chapéu samurai; tangram.

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Educação Física

Brincadeira de bola (jogos); brincadeira de corda; jogos ativos; jogos moderados;

gincanas.

ÁREA DE CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA

Matemática

1. Números naturais; história dos números; números naturais; comparação de

números naturais; ordenação dos números naturais.

2. Sistema de numeração: sistema de numeração decimal; noção de ordens; noção de

classes; valor absoluto e valor relativo; números pares e impares; numeração ordinal; sistema

de numeração romano.

3. Noção de geometria: sólidos geométricos; linhas abertas e linhas fechadas; retas;

segmento de reta.

4. Sistema monetário brasileiro: unidade monetária, real, cédulas; moedas.

5. Operações com números naturais: adição; subtração; multiplicação; divisão;

dúzia; valor do termo desconhecido.

6. Figuras geométricas: noção de polígono; circunferência e circulo; simetria;

7. Frações: metade ou meio; terça parte; quarta parte; outras partes do inteiro.

8. Medidas de tempo: noção de hora e minuto; as horas a partir do meio dia;

9. Medidas de comprimento: Unidade fundamental: metro.

10. Medidas de massa: unidade fundamental: grama, quilograma; balança.

11. Medidas de capacidade: unidade fundamental: litro.

Ciências Físicas e Biológicas

Astros – estrela, planetas e satélites; o Sol, a Terra e a Lua; movimentos de rotação;

movimento de translação; as estações do ano; o ar; prova de existência do ar; a água; a água e

a natureza; estados físicos da água; rochas, solo e subsolo; necessidades das plantas; partes

das plantas; reprodução das plantas; hortaliças; germinação; plantas medicinais; os animais e

seu habitat; animais invertebrados e vertebrados; características dos vertebrados;

peixes,anfíbios,répteis, aves e mamíferos; características de alguns invertebrados; animais

ameaçados em extinção; o ser humano e os outros animais; seres vivos e não vivos; como

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nascem o ser humano e os animais; os órgãos do sentido; o nosso corpo; origem dos

alimentos; alimentos naturais e alimentos industrializados; hábitos de higiene; transmissão de

doenças; vacinação; saneamento básico.

ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

História e Geografia

Minha família; outros familiares; minha família; o caminho para a escola e o

transito; zona rural e zona urbana; a cidade; o bairro; o município; os serviços públicos; o

trabalho na industria, comercio e no campo; o trabalho; as diversões; os meios de transportes;

os meios de comunicação; a orientação pelo Sol; relevo, vegetação e clima; o homem

modifica o meio ambiente. Datas comemorativas: carnaval, páscoa, dia do livro, dia do

índio, Tiradentes, chegada dos portugueses, dia do trabalho, libertação dos escravos, dia das

mães, dia mundial do meio ambiente, festa junina, dia dos pais, dia do folclore, dia do

soldado, independência do Brasil, dia da arvore, dia da criança, dia do professor,

proclamação da Republica, dia da Bandeira, natal.

Religião

Eu estou crescendo; trabalhos para crescer; descobrindo as belezas do mundo; a

natureza é nossa amiga; conversa com Deus; Deus é amor.

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ANEXO C: PLANO ANUAL DE ENSINO PARA A 1ª FASE DO I CICLO

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CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

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SOBRE A AUTORA

Maria Eugênia Batista da Silva Neta nasceu no dia 03 de fevereiro de 1970, no município de

Aragarças, Estado de Goiás, na Região do Vale do Médio Araguaia. É graduada em

Licenciatura Plena em Biologia (1994) pela Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto

de Ciências e Letras do Médio Araguaia, campus de Pontal do Araguaia, com curso de

aperfeiçoamento em Biologia e docência em Química (projeto PIQUI) ambos pela

Universidade Federal de Goiás, no período em que ocupou cadeira efetiva na Rede Pública de

Educação do Estado de Goiás (1997-1999). Possui experiência como professora substituta de

Instrumentação do Ensino da Ciências na Universidade Estadual de Mato Grosso

(UNEMAT), campus de Nova Xavantina (1999-2000), como coordenadora de área de

conhecimento (Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias) na Escola Estadual

Antônio Cristino Cortes (2004), como professora tutora no curso à distância de especialização

em Gestão Escolar pela Escola de Gestores do MEC/UFMT/IE/NEAD (2007), e como

professora instrutora de Introdução à Pesquisa Científica e Educação Ambiental no SENAC,

ambos no pólo de Barra do Garças. É educadora efetiva na Rede Pública Estadual de

Educação de Mato Grosso, na qual tem atuado em diferentes modalidades de ensino, a saber,

EJA, Seriação (fundamental e médio) e Ciclos, nesta como formadora do CEFAPRO (2004-

2006), onde foi co-responsável pelas ações de educação ambiental e formação continuada de

educadores de Ciências do I e II Ciclo do Ensino Fundamental.

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