21
IX ENCONTRO NACIONAL DA ECOECO Outubro de 2011 Brasília - DF - Brasil O ECODESIGN COMO FERRAMENTA DE GESTÃO AMBIENTAL APLICADA AO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL: O CASO DO CONDOMÍNIO HORIZONTAL CAMPINA HOME RESORT EM CAMPINA GRANDE–PB Rosângela Gomes da Silva (UFCG) - [email protected] Graduada em Administração Rodolfo Gabriel Souza Ferreira (UFCG) - [email protected] Graduando em Engenharia Civil Maria de Fátima Martins (UFCG) - [email protected] Professora do Curso de Administração UFCG. Doutoranda em Recursos Naturais - UFCG. Mestre em Engenharia de Produção. Pesquisadora do GEGIT. Verônica Macário de Oliveira (UFCG) - [email protected] Professora do Curso de Administração UFCG. Doutoranda em administração-UFPE. Mestre em Engenharia de Produção. Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG) - [email protected] Professor Titular do curso de administração. Professor permanente dos cursos de Pós graduação em Recursos Naturais-UFCG e Engenharia de Produção - UFPB.

o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

IX ENCONTRO NACIONAL DA ECOECOOutubro de 2011Brasília - DF - Brasil

O ECODESIGN COMO FERRAMENTA DE GESTÃO AMBIENTAL APLICADA AO SETOR DACONSTRUÇÃO CIVIL: O CASO DO CONDOMÍNIO HORIZONTAL CAMPINA HOME RESORT EMCAMPINA GRANDE–PB

Rosângela Gomes da Silva (UFCG) - [email protected] em Administração

Rodolfo Gabriel Souza Ferreira (UFCG) - [email protected] em Engenharia Civil

Maria de Fátima Martins (UFCG) - [email protected] do Curso de Administração UFCG. Doutoranda em Recursos Naturais - UFCG. Mestre em Engenharia deProdução. Pesquisadora do GEGIT.

Verônica Macário de Oliveira (UFCG) - [email protected] do Curso de Administração UFCG. Doutoranda em administração-UFPE. Mestre em Engenharia deProdução.

Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG) - [email protected] Titular do curso de administração. Professor permanente dos cursos de Pós graduação em RecursosNaturais-UFCG e Engenharia de Produção - UFPB.

Page 2: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

O ECODESIGN COMO FERRAMENTA DE GESTÃO

AMBIENTAL APLICADA AO SETOR DA CONSTRUÇÃO

CIVIL: um estudo de caso em condomínio horizontal

RESUMO

A crescente preocupação com a preservação ambiental e a procura dos

consumidores por produtos ecologicamente corretos, levam as empresas a

necessidade de adotarem modelos de gestão ambiental, visando diminuir os

impactos dos produtos ao meio ambiente e a sociedade. Assim, foram criados

alguns modelos e ferramentas de gestão ambiental, dentre eles encontra-se o

ecodesign, que através de sua teia de estratégias, possibilita incorporar as questões

ambientais em todas as fases do ciclo de vida dos produtos, desde a sua

concepção, escolha de materiais, processo produtivo, utilização, otimização da

vida útil e descarte, visando reduzir os impactos ambientais dos produtos. Nesse

sentido, o presente artigo tem como objetivo identificar os aspectos do ecodesign

no Condomínio Campina Home Resort em Campina Grande – PB, a partir da

percepção da equipe de elaboração do projeto. Quanto à metodologia, esta

pesquisa consiste em um estudo de caso, de natureza exploratória e descritiva, a

partir da adaptação da Teia das Estratégias do Ecodesign proposta pelo PNUMA e

apresentada por Hamel e Cramer (2002) na elaboração do instrumento de coleta

de dados, o qual foi aplicado junto à equipe responsável pela elaboração e

execução do projeto do condomínio. A relevância consiste em evidenciar a

importância do Ecodesigncomo uma ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

setor de construção civil, como forma de reduzir os impactos do setor. Os

resultadosevidenciaram que as estratégias de ecodesign são totalmente relevantes

para o empreendimento, com exceção a variável desmaterialização que foi

classificada pela equipe responsável pelo projeto com pouca relevância. Porém, a

aplicação ocorre em nível menor, mas com significativa incorporação de tais

práticas em quase todas as estratégias, exceto a estratégia que trata da distribuição

eficiente do produto.

Palavras-Chave: Ecodesign. Gestão Ambiental. Construção Civil. Condomínios.

Page 3: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

THE ECODESIGN AS MECHANISM OF MANAGEMENT

ENVINRONMENTAL APPLIED IN SECTOR CIVIL CONSTRUCTION: A

STUDY CASE IN CONDOMINIUM HORIZONTAL

ABSTRACT

The increasing concern with the environmental preservation and consumer

demand for products more ecological, leading companies to adopt environmental

management models in order to reduce the impacts of the products to the

environment and society. Although, some models have been created and

environmental management tools, among them is the ecodesign, which through its

web of strategies, allows incorporate environmental questions into all phases of

product lifecycle, from its conception, choice of materials, production process,

use, optimum usable life and disposal, to reduce the environmental impacts of

products. In this sense, this article aims to identify aspects of ecodesign on

Condominium Campina Home Resort in Campina Grande -PB, from the

perception of the project design team. On the methodology, this research is a case

study, exploratory and descriptive, from the adaptation of the Ecodesign Web

Strategies proposed by PNUMA and by Hamel and Cramer (2002) in developing

the data collection instrument, which was applied with the team responsible for

establishing and implementing the condominium project. The relevance is to

emphasize the importance of ecodesign as an environmental management tool

applied to the construction industry as a way to reduce the impacts of this sector.

Keywords: Ecodesign, Environmental Management, Civil Construction,

Condominiums.

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com as questões ambientais sempre se fez presente na

história da humanidade, porém pode-se perceber um acentuado aumento de tal

preocupação nas últimas quatro décadas, onde se observou que o aumento nas

escalas de produção, apesar de ter trazido benefícios para a humanidade, como a

geração de riquezas e o crescimento econômico, trouxe consigo impactos

negativos para o meio ambiente.

Page 4: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

A partir do momento que a sociedade vai se conscientizando da

necessidade de se preservar o meio ambiente, a população começa a pressionar o

meio empresarial a buscar formas de incorporar modelos e ferramentas de gestão

ambiental em seus processos produtivos. Em meio às ferramentas e modelos que

são utilizados, destaca-se a aplicação dos conceitos de ecodesign, que consiste no

método de projetar novos produtos, visando evitar ou diminuir os impactos

ambientais, juntamente com a redução de custos e uso consciente dos produtos.

De acordo com Guelere Filho et al. (2008, p. 5) o ecodesign busca principalmente

a “minimização dos impactos ambientais durante todo o ciclo de vida de um

produto sem comprometer, no entanto, outros critérios essenciais como

desempenho, funcionalidade, estética, qualidade e custo”.

É nesse sentido que a ferramenta apresenta-se, com significativa relevância

para os processos da Construção Civil. Uma vez que entre as atividades

econômicas que mais causam impacto ao meio ambiente está a Indústria da

Construção Civil (ICC), pois consome grandes quantidades de matéria-prima e

energia, produz grandes volumes de resíduos e poluição, contribuindo com a

degradação ambiental e tornando-se responsável por grandes impactos ambientais.

Por outro lado, a ICC é reconhecida como uma das mais importantes atividades

para o desenvolvimento econômico e social, no que se refere à grande absorção de

mão de obra e pelo poder de geração de empregos diretos e indiretos.

Nesse sentido, o setor da ICC necessita de mudanças no sentido de buscar

incorporar uma postura estratégica frente às pressões do mercado, sociedade,

governo, entre outros, visando adoção de práticas que minimizem os impactos

ambientais da indústria civil. A partir da incorporação de variáveis ambientais nos

objetivos estratégicos, cujos resultados são a melhoria do desempenho ambiental e

produtos mais sustentáveis, o que requer medidas urgentes para minimização

desses impactos em todas as fases do ciclo de vida dos produtos gerados. Com

base no exposto, o presente artigo tem como objetivo identificar os aspectos do

ecodesign no Condomínio Campina Home Resort em Campina Grande – PB, a

partir da percepção da equipe de elaboração do projeto.

Além desta parte introdutória, o artigo apresenta o referencial teórico que

trata das questões referentes à gestão ambiental, a ferramenta de Ecodesign e os

Page 5: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

aspectos relacionados ao setor de construção civil. Em seguida são apresentados

os procedimentos metodológicos utilizados, os resultados alcançados e, por fim,

têm-se as considerações finais do estudo.

2 GESTÃO AMBIENTAL

Até o final da década de oitenta e início da década de noventa, as empresas

tinham pouco interesse nas questões ambientais e, na sua maioria, apenas

limitava-se a atender a legislação. Nos últimos anos, com o aumento do

conhecimento sobre a ameaça ao meio ambiente e a sobrevivência das gerações

futuras, as organizações começaram a compreender que a responsabilidade

ambiental se tornou um pré-requisito para continuarem suas atividades no

mercado. Essa evolução se deu ao longo da historia depois de perseber o almento

da degradação logo apos sofrer com as consequencias, principalmente nos ultimos

anos. Com isso as questões ambientais ganharam atenção e teve um crencimento

na visão da sociedade, fato mais aparente apartir dos anos 60.

Com a persepção do problema, teve-se inicio mobilizações com

conferencias e criação de tratados como a Conferencia de Estocolmo (1972),

criando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA);

Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente em 1986 com o

Relatório de Bruntland ou o relatório “Nosso Futuro Comum”; Conferencia Rio

92 (Rio de Janeiro - 1992) resultando na Agenda 21; a Rio+10 (Johanesburgo -

2002) com o aprimoramento da Agenda 21; a COP15, 15ª Conferência das Nações

Unidas sobre as Mudanças Climáticas realizada em Copenhage 2009. Outras

conferencias e tratados também foram importantes, assim como as citadas acima,

tratando sempre temas relacionados às questões ambientais ou de forma mais

ampla os aspectos da sustentabilidade, como forma de buscar soluções para os

problemas que emergem com a evolução da sociedade, bem como, propostas a

serem adotadas para mudanças de comportamentos individuais e coletivos,

visando a incorporação de práticas mais sustentáveis.

Diante dos movimentos ambientalistas, das ações governamentais e do

aumento da conscientização da sociedade em relação ao meio ambiente, as

organizações buscam se adaptar a este novo cenário criando novos setores

Page 6: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

voltados à gestão dos resíduos por elas produzidos, surgindo assim, a gestão

ambiental, que é conceituada por Mouco et al (2006, p. 4) como sendo o sistema

que inclui na estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,

práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir,

analisar criticamente e manter a política ambiental; é o que a empresa faz para minimizar

ou eliminar os efeitos negativos provocados no ambiente pelas suas atividades.

Nesse contexto, as empresas passam a desempenhar um papel primordial

diante das questões relacionadas ao meio ambiente, onde seu papel antes de

coadjuvantes na preservação e minimização dos impactos ambientais por elas

provocados passa a ser o de gerenciadoras de tais impactos, buscando resolver e

minimizar os problemas ambientais durante o processo de produção e não só após

tal processo. A gestão ambiental tem o objetivo de promover à proteção e a

preservação ambiental, buscando o desenvolvimento sustentável.

A gestão ambiental dispõe de algumas propostas de modelo que

proporciona à empresa redução dos impactos maléficos sobre o meio ambiente.

De acordo com Barbieri (2007), os modelos de gestão ambiental proporcionam às

empresas uma orientação das decisões referentes às questões ambientais e a

relação com as outras questões empresariais, onde as empresas tanto podem

desenvolver seus próprios modelos ou aderir aos vários modelos de gestão

ambiental existentes. Dentre esses modelos, encontram a ferramenta ecodesign

que busca criar mecanismos para desenvolver atividades ecologicamente corretas,

cujo foco está tanto no planejamento do produto como também nos aspectos

ligados ao processo de produção e ao consumo.

2.1 Ecodesign e a Teia das Estratégias

A crescente preocupação com a preservação do meio ambiente tem levado

as empresas a desenvolverem produtos ecologicamente corretos que atendam as

exigências dos consumidores e da legislação; para isto, estas empresas estão

adotando ferramentas de gestão ambiental que são utilizadas durante todo o

processo produtivo, como é o caso do Ecodesign.

O conceito de ecodesign surgiu a partir de projetos para o meio ambiente

(DfE - Design for Environment), que foi quando as indústrias eletrônicas dos

EUA criaram uma associação, conhecida como Associação Americana de

Page 7: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

Eletrônica (American Electronics Association), com a preocupação de

desenvolver projetos que fossem menos agressivos ao meio ambiente.

Inicialmente, os benefícios eram dados aos membros da associação, mas foi

crescendo rapidamente o interesse pelo assunto e, assim, o ecodesign passou a ser

utilizado em outros setores como programa de gestão ambiental e de prevenção da

poluição, incluindo as questões ambientais na concepção de novos produtos,

processos ou serviços (NASCIMENTO; VENSKE, 2006).

O Ecodesign viabiliza a fabricação de produtos ecologicamente corretos,

propiciando a avaliação de todas as etapas do processo de fabricação, desde a

aquisição de matérias-primas até a disposição final, considerando todos os

critérios relevantes de qualidade, desempenho, funcionalidade, estética e custo.

Para isso, é preciso segundo Bandeira (2003), que os projetistas, durante o

processo de criação e desenvolvimento de produtos, procurem utilizar os recursos

tecnológicos, financeiros e ambientais disponíveis, da melhor forma possível,

sempre buscando a preservação do meio ambiente e a integridade do ser humano.

A prática de ecodesign pode trazer as empresas novas oportunidades de

negócio e benefícios como a redução dos custos de produção e dos impactos

ambientais causados pelo processo produtivo, bem como o gerenciamento eficaz

dos resíduos e a otimização na utilização dos recursos naturais e da matéria prima.

Para subsidiar a implantação desse modelo de forma eficiente nas empresas, é

preciso identificar os fatores internos e externos que norteiem e alicercem tal

implantação. Os principais fatores internos que incentivam às empresas na

implantação do Ecodesign, consistem na redução do impacto ambiental, redução

de custos, melhoramento da imagem, novas oportunidades de mercado, entre

outros. Já os estimulantes externos consistem na legislação do governo, pressão

ambiental de organizações industriais, demandas dos consumidores, competidores

que já aplicaram opções especificas de ecodesign em seus produtos (ACOSTA et

al, 2009).

Para Acosta et al (op. cit.), as fases do processo de ecodesign, tem como

foco a otimização do uso dos recursos naturais, diminuindo os custos e

aumentando a produtividade. Para isto, são necessárias ferramentas que

identifiquem desde o início, problemas funcionais, econômicos ou outros

Page 8: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

associados ao desenvolvimento de produtos. De acordo com Nascimento e

Venske (2002), o ecodesign pode ser dividido em cinco fases, com estratégias

diferenciadas em cada fase, visando à diminuição do impacto ambiental, conforme

Quadro 1:

FASES DESCRIÇÃO

1° Fase de pré-

produção

Onde são projetados novos produtos, planejando os materiais que serão utilizados em sua produção e avaliando todo o ciclo de vida deste produto bem como os impactos ambientais que serão gerados procurando minimizá-los.

2° Fase de produção

Esta fase envolve todas as atividades de transformação de materiais em produtos acabados, incluindo seu armazenamento, transporte interno da matéria-prima, montagem e acabamento. Durante esta fase, é de fundamental importância a utilização da ecoeficiência quando no projeto de novas plantas produtivas, onde serão selecionadas as técnicas que utilizaram o mínimo de recursos naturais e geração de resíduos.

3° Distribuição

Nesta fase existem processos distintos e complementares que consomem materiais e energia, como a embalagem, o transporte e a armazenagem. Buscando a utilização de embalagens reaproveitáveis, como é o caso da reciclagem; otimização dos espaços para estocagem e transporte de produtos.

4° Uso do produto

ou serviço

Nesta fase, será elaborado o levantamento do consumo de energia, insumos e matérias-primas que serão consumidos pelo produto durante sua vida útil.

5° Descarte ou reutilização

Cuida para que finda a vida útil do produto, este possa ser reutilizado ou reaproveitado em sua maior parte, e recolhido de forma correta aqueles que não possam ser reciclados. Evitando assim, agressões ao meio ambiente. As fases do processo de ecodesign demonstradas, podem ser utilizadas por diferentes organizações. Para que a empresa possa se auto-avaliar e desenvolver estratégias de melhoria, esta pode adotar a teia das estratégias de ecodesign, como veremos a seguir.

Quadro 1 – Fases do Ecodesign. Fonte: Elaborado com base em Nascimento e Venske (2002).

Com o intuito de reduzir os impactos ambientais, a otimização do uso dos

recursos naturais e a redução dos custos, as fases do processo de ecodesign

demonstram como a ferramenta de ecodesign pode ser utilizada por diferentes

organizações. Para que o desempenho da produção ocorra de forma equilibrada

com o meio ambiente, são necessárias práticas que permitam à empresa identificar

desde o inicio do desenvolvimento do produto os impactos gerados destas

atividades no ambiente.

Os princípios para a implantação do ecodesign foram definidos pelo

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e compreendem

oito fases que servem como orientação para as propostas de implantação pelas

empresas, a saber: no nível base, o desenvolvimento de novos conceitos; no nível

Page 9: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

1, a seleção de materiais de baixo impacto; no nível 2, a redução de materiais; no

nível 3, a otimização das técnicas de produção; no nível 4, a otimização dos

sistemas de transporte; no nível 5, a redução do impacto de uso; no nível 6, a

otimização do tempo de vida útil; e no nível 7, a otimização do fim da vida útil

(HEMEL e CRAMER, 2002).

A partir desses princípios, verifica-se a necessidade de definir algumas

estratégias que contribuam para uma avaliação das práticas empresariais frente às

questões ambientais, como também para possibilitar uma melhoraria no

desempenho ambiental dos produtos. O PNUMA enveredou esforços nesse

sentido e desenvolveu a denominada Teia das Estratégias de Ecodesign (Figura 1).

Figura 1 – Teia das Estratégias do Ecodesign.

Fonte: UNEP, 1996 apud Nascimento e Venske, 2006.

A teia das estratégias de ecodesign consiste em um conjunto de diretrizes

básicas, que devem ser tomadas visando à redução do impacto ambiental global

de um produto. Essas estratégias facilitam a integração das questões ambientais no

processo de desenvolvimento do produto, já que ela cobre todo o seu ciclo de

vida, desde as questões de design (projeto), seleção de materiais, produção,

distribuição, uso e fim de vida útil. Para que a empresa possa se auto-avaliar e

desenvolver estratégias de melhoria, ela pode adotar a teia das estratégias de

ecodesign, conforme explicado na sequência.

Page 10: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

No nível 0, Desenvolvimento de um Novo conceito, é avaliado as

possibilidades de desmaterialização do produto, se ele pode ter um uso

compartilhado sobre existência de funções integradas e buscando otimizar o

produto e seus componentes. Com relação aos componentes do produto tem-se os

níveis 1 e 2, que correspondem a seleção de materiais de baixo impacto e a

redução do uso de materiais, permitindo a melhor utilização dos materiais e seu

uso em novos tipos de materiais, como os reciclados. Como estruturação do

produto temos os níveis 3, 4 e 5, representando as técnicas de produção, sistema

de distribuição e redução dos impactos ambientais no nível do usuário,

respectivamente, cada uma destes níveis fazem parte de um ponto crucial, que é a

produção, distribuição e o uso do produto, com a previsão destes aspectos pode-se

controlar o próximo nível, ou ao menos prevenir-se com relação ao produto. No

ultimo nível tem-se a sistematização do produto, estratégias 6 e 7, ainda no nível

de usuário e ao mesmo tempo na parte de descarte do produto, este planejamento

permitira o aproveitamento do produto, com todos os materiais e componentes

que ele possa fornecer, consequência de todas as outras estratégias.

As táticas de ecodesign apresentadas são as bases para a implantação das

técnicas relacionadas ao tema. A teia como ferramenta de ecodesign contribuirá

para uma análise dos quais as estratégias que a indústria da construção civil pode

utilizar para minimizar o impacto ao meio ambiente.

2.2 Construção Civil e as Questões Ambientais

A indústria da construção civil, apesar de contribuir significativamente

para a economia mundial, corresponde ao setor que mais provoca a degradação

ambiental; isto se deve ao fato desta atividade em todas as fases do ciclo de vida

de seu produto, quais são: projeto, extração de materiais, fabricação de elementos,

construção, uso e demolição, consumir grandes quantidades de matéria-prima e

energia, produzir grandes volumes de resíduos, causar a poluição da água, ar,

solo, além de desmatamento, aquecimento global entre outros.

Ceotto (2008) cita alguns dos impactos desse setor ao meio ambiente, que

são: consumo de 20% do total de energia produzida na Brasil; geração de 35% a

40% de todo o resíduo produzido na atividade humana; na construção e reforma

Page 11: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

dos edifícios se produz anualmente perto de 400 Kg de entulho por habitante,

volume quase igual ao do lixo urbano; a produção de cimento gera 8% a 9% de

todo o CO2 emitido no Brasil, sendo 6% somente na descarbonatação do calcário;

assim como o cimento, a maioria dos insumos usados pela construção é produzida

com alto consumo de energia e grande liberação de CO2. Além disso, de acordo

com Handen (2008), a construção civil é responsável por utilizar 66% de toda

madeira extraída, e gera grandes quantidades de poeira seja na extração de

matéria-prima, ou na realização da obra.

Diante deste cenário, torna-se nítida a importância de se estabelecer uma

relação entre as atividades da construção civil com as questões ambientais,

conscientizando os gestores e a sociedade, quanto à necessidade de utilização de

métodos de gestão ambiental desde a concepção do projeto, a fim de possibilitar a

redução do consumo de matéria-prima e da geração de poluentes. Nesse sentido,

avaliar as questões ambientais já na etapa de concepção do projeto é fundamental,

pois é nesta etapa onde são definidos todos os pontos relevantes a serem

considerados, desde a escolha dos materiais a serem utilizados, as tecnologias e

processos de construção, até as decisões sobre o destino final do produto ao

término de sua vida útil.

Com a crescente procura por imóveis ecologicamente corretos, os

empresários do ramo da construção civil vêm investindo cada dia mais na

construção sustentável, que visa minimizar os efeitos nocivos causados por esta

atividade ao meio ambiente. Com isto, cresce o número de condomínios com

propostas sustentáveis, que atualmente já apresentam grande sucesso e aceitação

no mercado, tornando-se um diferencial para as construtoras que incorporam as

questões da sustentabilidade em suas práticas.

Nesse sentido, pode-se afirma que o conceito de construção sustentável

surge como proposta de viabilização do desenvolvimento sustentável, de acordo

com o conceito de sustentabilidade contido no relatório “Nosso Futuro Comum”

de 1987, Construção sustentável consiste em um sistema construtivo que busca

conciliar as necessidades de edificação, habitação e uso do homem moderno, e a

preservação ambiental, de forma a garantir qualidade de vida não apenas para as

gerações atuais, mais também para as gerações futuras. Nos anos de 2007 e 2008

Page 12: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

respectivamente, a construção civil ganhou normas específicas à sustentabilidade

na construção civil, sendo a ISO 21930, que trata da declaração ambiental de

produtos para a construção civil, e a ISO 15392, que aborda os seus princípios

gerais.

Observa-se que para alcançar o objetivo da construção sustentável, é de

suma importância a observância e aplicação das estratégias de ecodesign desde a

fase inicial do processo produtivo.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi concebida com a intenção de se obter um melhor

entendimento sobre o nível de aplicação e relevância das estratégias de ecodesign,

aplicando-as ao setor da construção civil. Sendo assim, buscou-se identificar os

aspectos do ecodesign no Condomínio horizontal Campina Home Resort (nome

fictício) localizado na Cidade de Campina Grande –PB, cujas informações foram

obtidas segundo a percepção da equipe de elaboração e execução do

empreendimento imobiliário. Desta forma, definiu-se que a forma mais adequada

para a condução desta pesquisa é o Estudo de Caso.

Em termos de métodos de procedimentos, caracteriza-se como exploratória

e descritiva. Exploratória por ter como finalidade proporcionar maiores

informações sobre o ecodesign aplicado à construção civil, facilitando a

delimitação temática do estudo, uma vez que o tema ainda é pouco explorado.

Descritiva, por exprimir características do condomínio investigado, delimitando

interligações entre as variáveis pesquisadas e as estratégias de ecodesign,

definindo suas naturezas e implicações. A unidade de análise deste estudo foi o

Condomínio Campina Home Resort em Campina Grande–PB, uma vez que este é

um empreendimento da construção civil que está sendo construído e que,

dependendo do nível de incorporação dos aspectos ambientais em seu projeto,

pode minimizar os impactos ao meio ambiente.

O instrumento de coleta de dados foi elaborado e utilizado para obter as

informações primárias, a partir de uma adaptação da Teia das Estratégias do

Ecodesign para o setor de construção civil, a partir de um conjunto de afirmativas

elaboradas para atender aos propósitos de cada variável em relação à relevância e

Page 13: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

aplicação de tais aspectos no condomínio, onde se utilizou um conjunto de

variáveis linguísticas para classificar nenhuma, pouca ou muita aplicação e

nenhuma, pouca e muita relevância. O instrumento é composto por 08 (oito)

estratégias principais, agrupadas em 34 (trinta e quatro) variáveis, conforme

Quadro 2, com o objetivo de investigar o nível de aplicação e relevância de cada

estratégia no Condomínio em questão, a partir de um conjunto de afirmativas

elaboradas para atender aos propósitos de cada estratégia para a realidade dos

condomínios horizontais.

ESTRATÉGIAS VARIÁVEIS 0 - Desenvolvimento de novo conceito

Desmaterialização; uso compartilhado; integração de funções e Otimização funcional

1 - Seleção de materiais de baixo impacto

Materiais não agressivos; materiais renováveis; materiais reciclados; Materiais de baixo conteúdo energético; materiais recicláveis

2 - Redução de uso de materiais

Redução de peso; redução de volume; racionalização de transportes

3 - Otimização das técnicas de produção

Técnicas de produção alternativas; redução de etapas de processos de produção; redução do consumo e uso racional de energia; uso de energias mais limpa; redução da geração de refugos/resíduos; redução e uso racional de insumos de produção

4 - Sistema de distribuição eficiente

Redução e uso racional de material de divulgação do empreendimento

5 - Redução do impacto ambiental no nível de usuário

Assegurar o baixo consumo energético; Uso de fontes de energias mais limpas; Uso racional e redução de insumos durante a aplicação; Coleta e seleção de refugos/resíduos; Prevenir desperdícios através do design

6 - Otimização do tempo de vida do produto

Confiabilidade e durabilidade; Fácil manutenção e reparo; estrutura modular do produto; utilizar design clássico; zelo do usuário com o produto

7 - Otimização do sistema de vida útil

Reutilização do produto; recondicionamento e remanufatura reciclagem de materiais; incineração limpa; reaproveitamento energético

Quadro 2 - Estratégias e variáveis do ecodesign para a construção civil. Fonte: Elaborado com base na Teia das Estratégias.

Foi possível analisar as variáveis e estratégias incorporadas no

empreendimento em estudo, em função da classificação dada pela equipe

entrevistada no tocante a aplicação e relevância das variáveis para a estratégia de

ecodesign no Condomínio Campina Home Resort. Para uma melhor

caracterização das respostas foi utilizado um conjunto de cores, conforme Fig 2.

Aplicação Relevância Classificação Representação Classificação Representação

Nenhuma Nenhuma Pouca Pouca Muita Muita

Figura 2 – Representação de cada cor de acordo com o nível de aplicação e relevância. Fonte: Elaboração própria, 2011.

Page 14: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

A partir de tal classificação foi possível analisar a contribuição de cada

variável para as estratégias correspondentes, mediante um percentual obtido em

função da frequência das respostas (nenhuma, pouca e muita) dada pelo

entrevistado para cada variável, em relação à aplicação e relevância para a

estratégia de ecodesign do projeto do empreendimento estudado. Por fim, foi

obtida a média geral das 8 estratégias evidenciando a aplicabilidade e relevância

do ecodesign para o condomínio. Para representação foi utilizado à cor verde claro

que indica “nenhuma aplicação”, verde médio “pouca aplicação”, a cor verde

escuro representa “muita aplicação”; a cor azul claro que evidencia “nenhuma

relevância”, azul médio “pouca relevância” e azul escuro “muita relevância”.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Caracterização do Condomínio Campina Home Resort

O Condomínio Campina Home Resort tem uma área total de 178.161,60

m² com o ponto mais baixo, em relação à rua de acesso, de 12m de altura. Este

centro residencial está dividido em 197 lotes, cada um com uma média de 535 m²

e uma área arborizada de quase 18.000 m²; dispondo de uma área comum de 6.000

m² com cerca de 40 itens de espaços como guarita, quadras para práticas

desportivas, sauna, playground, piscina, salão de festas, academia, dentre outros.

Este condomínio situado na cidade de Campina Grande - PB na proximidade da

BR, localiza-se a cerda de 2 km de distancia do centro da cidade.

4.2 Estratégias do Ecodesign no Condomínio Campina Home Resort

Os dados apresentados dizem respeito ao resultado obtido a partir dos

questionamentos realizados com a equipe responsável pelo condomínio horizontal

Campina Home Resort na cidade de Campina Grande - PB, relativo à aplicação e

relevância do ecodesign, interpretado de acordo com a Teia das Estratégias do

Ecodesign. Os resultados são apresentados na Tabela 1.

ESTRATÉGIAS VARIÁVEIS

APLICABILIDADE RELEVÂNCIA Nenhuma Pouca Muita Nenhuma Pouca Muita

0 – Desenvolvimento de um novo

Desmaterialização x

x

Uso compartilhado

x

x Otimização funcional

X

x

Integração de

X

x

Page 15: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

conceito de produto

funções Percentual da estratégia 0

25% 0 75% 0 25% 75%

1 – Seleção de Materiais

Materiais não agressivos

x

x

Materiais renováveis

X

x Materiais reciclados

X

x

Materiais de baixo conteúdo energético

x

x

Materiais recicláveis

X

x Percentual da estratégia 1

20% 20% 60% 0 0 100%

2 – Redução de uso de materiais

Redução de peso

X

x Redução de volume

x

x

Racionalização de transportes

X

x

Percentual da estratégia 2

33% 0 67% 0 0 100%

3 – Otimização das técnicas de produção

Técnicas de produção alternativas

X

x

Redução de etapas de processos de produção

X

x

Redução do consumo e uso racional de energia

X

x

Uso de energias mais limpa

x

x

Redução da geração de refugos/resíduos

x

x

Redução e uso racional de insumos de produção

x

x

Percentual da estratégia 3

0 0 100% 0 0 100%

4 – Sistema de distribuição eficiente

Redução e uso racional de material de divulgação do empreendimento

x

x

Percentual da estratégia 4

100% 0 0 0 0 100%

5 – Redução do impacto ambiental ao nível usuário

Assegurar o baixo consumo energético

x

x

Uso de fontes de energias mais limpas

x

x

Uso racional e redução de insumos durante a aplicação

x

x

Coleta e seleção de refugos/resíduos

x

x

Prevenir desperdícios através do design

x

x

Percentual da estratégia 5

0 20% 80% 0 0 100%

6 – otimização do tempo de vida do produto

Confiabilidade e durabilidade

x

x

Fácil manutenção e reparo

x

x

Estrutura modular do produto

x

x

Utilizar design clássico

x

x

Zelo do usuário com

x

x

Page 16: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

o produto Percentual da estratégia 6

0 0 100% 0 0 100%

7 – otimização do sistema de vida útil

Reutilização do produto

x

x

Recondicionamento e remanufatura

x

x

Reciclagem de materiais

x

x

Incineração limpa

x

x Reaproveitamento energético

x

x

Percentual da estratégia 7

0 40% 60% 0 0 100%

Média Geral 22% 68% 0% 3% 97%

10% 68% 0% 3% 97%

Tabela 1: Relevância e aplicação das estratégias de ecodesign no Campina Home Resort Fonte: pesquisa própria (2011).

A estratégia 0 corresponde ao desenvolvimento de um novo conceito de

produto, considerando as variáveis desmaterialização, uso compartilhado,

integração de funções e otimização funcional. De acordo com os dados obtidos,

observou-se que segundo a percepção da equipe, apenas a variável

desmaterialização do produto, que implica no planejamento do fim de vida do

empreendimento, não é observada durante o processo de concepção do projeto, ao

mesmo tempo em que ele alega que esta variável tem pouca relevância. As demais

estratégias como: uso compartilhado, integração de funções e otimização

funcional apresentaram alto grau de aplicação e relevância.

Na estratégia 1 refere-se a seleção de substâncias e materiais para a

concepção de um produto, que tenham baixo impacto ambiental. Quanto ao

critério de seleção de materiais, de acordo com os resultados, foi possível perceber

que apesar de considerar esta variável de muita importância, o condomínio não

prioriza a utilização de materiais de baixo impacto ambiental e de baixo conteúdo

energético durante a seleção de materiais para a sua produção. No entanto,

utilizam materiais reciclados como: blocos, pavimentos e materiais renováveis e

recicláveis.

A estratégia 2 busca reduzir o uso de substâncias e materiais,

racionalizando a construção do produto, evitando dimensões e estruturas acima do

necessário através de redução de peso, volume e a racionalização de transporte.

Foi possível perceber de acordo com o resultado da pesquisa, que apenas o quesito

redução de volume, que no caso da ICC seria a busca por diminuir as dimensões

do imóvel e continuar atendendo as necessidades de seus usuários, apesar de

Page 17: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

considerar esta variável muito relevante, sua aplicabilidade é pouca. Para atender

a variável redução de peso, o condomínio utiliza materiais leves como o

madeiramento e para a racionalização de transportes, utiliza fornecedores locais e

faz à adaptação dos pontos de estoque próximos a construção.

A estratégia 3 referente a otimização de técnicas de produção que

contribuam para uma menor degradação do meio ambiente, buscando reduzir o

consumo de energia, a emissão de poluentes e geração de rejeitos, observou-se

segundo os resultados, que o nível de aplicação e relevância é máximo em todas

as variáveis analisadas. A equipe responsável pelo projeto do Condomínio

respondeu que não só considera essas variáveis muito importantes com também as

aplica em seu projeto. Como técnica de produção alternativa o condomínio utiliza

a Alvenaria Racionalizada, no intuito de reduzir as quebras. Em resposta as outras

variáveis, os respondentes afirmam a utilização de blocos de concreto pré-

moldado, uso de energia solar, e a preocupação com a utilização de materiais

fabricados por tecnologias que permitem reduzir resíduos, a partir da utilização de

técnicas de produção modernas.

Esta estratégia 4 referente a sistema de distribuição eficiente, visa o

transporte eficiente do produto, assegurando que sejam causados o mínimo

possível de impactos ambientais. Como este trabalho é baseado em um

condomínio, foram considerados apenas o aspecto referente a redução do uso de

materiais de divulgação do empreendimento tais como: Market e folders. Percebe-

se que essa estratégia, que cuida para que materiais de divulgação do

empreendimento sejam feitos de materiais recicláveis, apesar de considerada

muito importante, não é aplicada pelo condomínio em estudo, evidenciando a não

preocupação com a produção de material de divulgação de menor impacto

ambiental.

A estratégia 5 corresponde a redução do impacto ambiental ao nível

usuário durante o uso do produto. Esta estratégia assegura o baixo consumo

energético, uso de fontes de energias mais limpas, uso racional e redução de

insumos durante a aplicação, coleta e seleção de refugos/resíduos e prevenir

desperdícios através do design. Ao investigar a aplicação da estratégia no

condomínio horizontal Campina Home Resort, que busca a redução do impacto

Page 18: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

ambiental ao nível de usuário, observou-se que apenas a variável prevenir

desperdícios teve pouca aplicação. A equipe responsável pelo condomínio

afirmou utilizar fontes de energias mais limpas como a energia solar para o

aquecimento das piscinas e áreas comuns; e possuir também um sistema de

seleção de resíduos para a reciclagem.

A estratégia 6 visa a otimização do vida útil de um produto, levando em

consideração os aspectos de confiabilidade e durabilidade, fácil manutenção e

reparo, estrutura modular do produto, utilizar design clássico, no sentido de estilo

e zelo do usuário com o produto. Com relação ao prolongamento do tempo de

vida do produto, enfocado nessa estratégia, o desempenho do condomínio foi

excelente. Um aspecto que merece destaque é que a equipe busca “utilizar design

clássico, no sentido de estilo”, visando preservar a identidade local da região.

Na estratégia 7 referente a otimização do sistema de vida útil, onde

enfoca a utilização do produto após a sua vida útil, para que o mesmo não

provoque impactos ambientais ao chegar nesta fase. Nesta estratégia são

consideradas a reutilização do produto, recondicionamento e remanufatura,

reciclagem de materiais, incineração limpa e o reaproveitamento energético. Esta

estratégia, que cuida do fechamento do ciclo de vida do produto, para que este

tenha um destino menos agressivo ao meio ambiente, priorizando a reciclagem de

materiais ou o reaproveitamento, observou-se que há a preocupação por parte do

condomínio com esta etapa, entretanto, as variáveis incineração limpa e

reaproveitamento energético não são aplicadas neste condomínio.

Por fim, fazendo uma síntese dos resultados, a equipe entrevistada

considerou que quase todas as variáveis investigadas, dentro de cada estratégia,

possuem muita relevância, com exceção da variável desmateriazação referente à

estratégia 0 (Desenvolvimento de um novo conceito de produto). Quanto à

aplicação, os resultados mostram que apenas a estratégia 3 referente a otimização

das técnicas de produção e a estratégia 6 referente a otimização do tempo de vida

do produto obtiveram 100% de muita aplicação. Em relação às demais estratégias,

os resultados também foram positivos em relação à aplicação dos aspectos do

ecodesign no Condomínio, uma vez que com exceção da estratégia 4 referente ao

sistema de distribuição eficiente que não é aplicada no condomínio, todas as

Page 19: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

demais estratégias apresentaram resultados que evidenciam acima de 60% de

muita aplicação.

Com base nos resultados apresentados, a Figura 3 mostra a teia das

estratégias organizadas em um biograma que evidencia a relevância e a aplicação

das estratégias no condomínio, a partir dos percentuais em relação a todas as

estratégias.

Figura 3 – Teia das Estratégias do Ecodesign no condomínio horizontal Campina Home Resort Fonte: Elaborada própria, 2011.

Diante dos resultados e análise de todas as estratégias, pode-se verificar

uma média geral de relevância das estratégias de 97% com muita relevância, 3%

com pouca relevância e 0% nenhuma relevância. A média geral de aplicação das

estratégica evidencia 68% com muita aplicação, 10% pouca aplicação e 22%

nenhuma aplicação. Esse resultado evidencia que as estratégias de ecodesign são

de muita relevância para o empreendimento em estudo e que foram muito

aplicadas, com exceção da estratégia 4, aspectos que caracterizam o condomínio

Campina Home Resort com aderência a proposta de ser um espaço que respeita as

questões ambientais na concepção e construção do empreendimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da emergente necessidade de se alcançar melhores níveis de

sustentabilidade, a gestão ambiental tem merecido destaque especial no atual

Page 20: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

ambiente de negócios, como forma de incorporar um conjunto de variáveis

ambientais nos objetivos estratégicos e consequentemente, nas práticas

organizacionais. No contexto da indústria da construção civil, a aplicação de

ferramentas de gestão ambiental torna-se primordial, considerando os impactos

que esta atividade causa ao meio ambiente. Sendo assim, o presente artigo que

objetivou investigar os aspectos de ecodesign considerados no condomínio

horizontal Campina Home Resort na cidade de Campina Grande – PB, a partir da

percepção da equipe de elaboração do projeto, ressalta um conjunto de resultados

que evidenciam a relevância e aplicação das estratégias de ecodesign no

empreendimento em estudo.

Os resultados evidenciaram que as estratégias de ecodesign são totalmente

relevantes para o projeto do empreendimento, com exceção a variável

desmaterialização que foi classificada pela equipe responsável pelo projeto com

pouca relevância, que segundo a percepção da equipe, isso se justifica por ser um

projeto que tem uma vida longa. Porém, a aplicação ocorre em nível menor, mas

com significativa incorporação de tais práticas em quase todas as estratégias,

exceto a estratégia que trata da distribuição eficiente do produto, que por tratar-se

de um empreendimento da construção civil, considerou-se apenas o material de

divulgação do empreendimento como variável dessa estratégia, aspecto que levou

provavelmente ao resultado alcançado de nenhuma aplicação.

A equipe responsável pelo condomínio, afirmou ter conhecimento acerca

das modificações necessárias em algumas das variáveis estudadas, porém afirmam

que tais modificações implicam em aumento dos custos do empreendimento o que

inviabiliza sua implantação. Sendo assim, constata-se com essa pesquisa que a

equipe do projeto avalia o empreendimento com aderência a proposta das

estratégias de ecodesign, no sentido de incorporar práticas que minimizam os

impactos ambientais desde a concepção do produto até o descarte, entretanto, a

empresa não utiliza esse apelo ambiental para atrair seus clientes para aquisição

dos lotes comercializados.

Page 21: o ecodesign como ferramenta de gestão ambiental aplicada ao

6 REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

ACOSTA, B.; PADULA, A. D.; ZUCATTO, L. Repercussões estratégicas dos produtos eco-eficientes e seu impacto no desempenho das empresas: construção de um modelo de avaliação. Anais… São Paulo: SIMPOI, 2009.

BANDEIRA, Ana Paula Venturini. Aplicação do ecodesign em empresa mineira e a percepção dos funcionários: um estudo de caso. 2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Produção.

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos 2. ed. atual e ampliada. – São Paulo: Saraiva, 2007.

CEOTTO, Luiz Henrique. A Construção Civil e o Meio ambiente: 1ª parte. Notícias da Construção, Ed. 51 e 52, São Paulo, SP. Disponível em: <www.portalga.ea.ufrgs.br/acervo/ecod_dis_01.PDF> Acesso em: 18/11/2010.

GUELERE FILHO, A. et al. Ecodesign: Métodos e Ferramentas. In: XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2008, Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STO_077_542_12125.pdf>. Acesso em: 16 de agost. 2010.

HANDEN, Sandro. Gestão Socioambiental: Meio Ambiente na Construção Civil. Florianópolis, SC. SENAI/SC, 2008.

HEMEL, C.V.; CRAMER, J. Barriers and stimuli for ecodesign in SMEs. Journal of

cleaner Production. V. 10, p 439-453. Elsevier, 2002.

MOUCO, Johana do Carmo; MACHADO, Fátima Maria; SOARES, Carlos Alberto Pareira. 2006. Sistema de gestão ambiental na construção civil: considerações preliminares. A aplicação da metodologia de produção mais limpa: estudo em uma empresa do setor de construção civil. Alexandre Feller de Araujo. 2002. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis.

NASCIMENTO, L. N.; VENZKE, C. S. Ecodesign. In: JÚNIOR, A. V.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e ferramentas de Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Senac., 2002.Gestão ambiental / Pearson Education do Brasil. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.