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O empirismo britânico Bacon, Locke e Hume

O empirismo britânico Bacon, Locke e Hume. Empirismo Em termos gerais, o Empirismo é a doutrina filosófica segundo a qual o conhecimento se determina

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O empirismo britânico

Bacon, Locke e Hume

Empirismo

• Em termos gerais, o Empirismo é a doutrina filosófica segundo a qual o conhecimento se determina pela "experiência" (empeiría). Neste sentido, o Empirismo é usualmente contraposto ao Racionalismo que prescreve um conhecimento fundado na "razão" (ratio).

Empirismo

• Ainda que o termo "empirismo" tenha sido atribuído a um grande número de posições filosóficas, a tradição prefere aceitar como "empiristas" aqueles pensadores que afirmam ser o conhecimento derivado exclusivamente da "experiência" dos sentidos, da "sensação" ou da "emperia".

Empirismo• ...De acordo com a teoria de que o espírito, a

mente, seja uma tabula rasa, uma superfície maleável às impressões da experiência externa, o Empirismo pode ser estimado sob um prisma psicológico e outro gnoseológico. À medida que a fonte do conhecimento não é a "razão" ou o pensamento, mas a "experiência", a origem temporal de conhecer é concebida como resultado da experiência externa e interna - aspecto psicológico -, e, por conseguinte, só o conhecimento "empírico" é válido - o aspecto gnoseológico.

Empirismo• Do ponto de vista gnoseológico, o

Empirismo rechaça o inatismo (doutrina que se entrelaça com o Racionalismo), que admite a existência de um sujeito cognoscente (a mente, o espírito) dotado de "idéias inatas", isentas de qualquer dado da "experiência". Ora, o Empirismo, ao contrário, afirma que o sujeito cognoscente é uma espécie de tabula rasa, onde são gravadas as impressões decorrentes da "experiência" com o mundo exterior.

Empirismo• Do ponto de vista político e ideológico tais pensadores

ingleses lançam as raízes das idéias que, talvez, mais profundamente vão influir na transformação da sociedade européia e vão determinar, assim, a estrutura da Europa dos séculos XVIII e XIX. A psicologia e gnoseologia sensistas, a crítica ao dogmatismo racionalista, os princípios liberais, o deísmo ou "religião natural", a moral utilitária e o pragmatismo da filosofia do "senso comum" ou common sense (reação prática ao ceticismo metafísico), e os ideais do Iluminismo são elementos que possuem sua origem e fundamento nas doutrinas e nos sistemas daqueles pensadores ingleses dos séculos XVII e XVIII, repercutindo no processo histórico-cultural da Europa vindoura (principalmente na França e na Alemanha).

Os principais empiristas

• Francis Bacon• John Locke (1632–1704)• George Berkeley (1685–1753)• David Hume (1711–1776)

Francis Bacon• Francis Bacon, também referido como Bacon de

Verulâmio (Londres, 22 de janeiro de 1561 — Londres, 9 de abril de 1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio), visconde de Saint Alban.

• Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo, sendo muitas vezes chamado de "fundador da ciência moderna". Sua principal obra filosófica é o Novum Organum.

Francis Bacon• O pensamento filosófico de Bacon representa a tentativa de

realizar aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande restauração). A realização desse plano compreendia uma série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da época, acabaria por apresentar um novo método que deveria superar e substituir o de Aristóteles. Esses tratados deveriam apresentar um modo específico de investigação dos fatos, passando, a seguir, para a investigação das leis e retornavam para o mundo dos fatos para nele promover as ações que se revelassem possíveis. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente, gigantesca e o filósofo produziu apenas certo número de tratados. Não obstante, a primeira parte da Instauratio foi concluída.

Francis Bacon• A reforma do conhecimento é justificada em

uma crítica à filosofia anterior (especialmente a Escolástica), considerada estéril por não apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. O conhecimento científico, para Bacon, tem por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, também é criticada. Demócrito, contudo, era tido em alta conta por Bacon, que o considerava mais importante que Platão e Aristóteles.

Francis Bacon• A ciência deve restabelecer o imperium

hominis (império do homem) sobre as coisas. A filosofia verdadeira não é apenas a ciência das coisas divinas e humanas. É também algo prático. Saber é poder. A mentalidade científica somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos por Bacon chamados ídolos. O conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e seguro de conquistar poder sobre a natureza.

Francis BaconClassificação das ciências

• Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos:

• Poesia ou ciência da imaginação;• História ou ciência da memória;• Filosofia ou ciência da razão.• A história é subdividida em natural e civil e

a filosofia é subdividida em filosofia da natureza e em antropologia.

Francis BaconÍdolos

• No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em quatro grupos:

Francis Bacon1) Idola Tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das

deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. O homem é o padrão das coisas, faz com que todas as percepções dos sentidos e da mente sejam tomadas como verdade, sendo que pertencem apenas ao homem e não ao universo. Dizia que a mente se desfigura da realidade. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana.

2) Idola Specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma alusão à alegoria da caverna platônica;

Francis Bacon

3) Idola Fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;

4) Idola Theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.

Francis Bacon• O objetivo do método baconiano é constituir

uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico, mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a causa real dos fenômenos.

Francis Bacon• Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo

pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua da presença (responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam), a tábua de ausência (responsável pelo controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes) e a tábua da comparação (responsável pelo registro das variações que as referidas formas manifestam). Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com o efeito ou com o fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um fenômeno.

Francis Bacon• Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo

mas fazem uma distinção entre a experiência vaga (noções recolhidas ao acaso) e a experiência escriturada (observação metódica e passível de verificações empíricas). Mesmo que a indução fosse conhecida dos antigos, é com Bacon que ela ganha amplitude e eficácia.

• O método, no entanto, possui pelo menos duas falhas importantes. Em primeiro lugar, Bacon não dá muito valor à hipótese. De acordo com seu método, a simples disposição ordenada dos dados nas três tábuas acabaria por levar à hipótese correta. Isso, contudo, raramente ocorre. Em segundo lugar, Bacon não imaginou a importância da dedução matemática para o avanço das ciências. A origem para isso, talvez, foi o fato de ter estudado em Cambridge, reduto platônico que costumava ligar a matemática ao uso que dela fizera Platão.

John Locke• Locke viajou fora da Inglaterra, especialmente em

França, onde ampliou o seu horizonte cultural, entrou em contato com movimentos filosóficos diversos, em especial com o racionalismo. Tornou-se mais consciente do seu empirismo, que procurou completar com elementos racionalistas (o que, entretanto, representa um desvio na linha do desenvolvimento do empirismo, procedente de Bacon até Hume).

• As suas obras filosóficas mais notáveis são: o Tratado do Governo Civil (1689); o Ensaio sobre o Intelecto Humano (1690); os Pensamentos sobre a Educação (1693). As dontes principais do pensamento de Locke são: o nominalismo escolástico, cujo centro famoso era Oxford; o empirismo inglês da época; o racionalismo cartesiano e a filosofia de Malebranche.

John Locke• Sobre a linha do desenvolvimento do empirismo, Locke

representa um progresso em confronto com os precedentes: no sentido de que a sua gnosiologia fenomenista-empirista não é dogmaticamente acompanhada de uma metafísica mais ou menos materialista. Limita-se a nos oferecer, filosoficamente, uma teoria do conhecimento, mesmo aceitando a metafísica tradicional, e do senso comum pelo que concerne a Deus, à alma, à moral e à religião. Com relação à religião natural, não muito diferente do deísmo abstrato da época; o poder político tem o direito de impor essa religião, porquanto é baseada na razão. Locke professa a tolerância e o respeito às religiões particulares, históricas, positivas.

John Locke• Locke julga, como Bacon, que o fim da filosofia é

prático. Entretanto - diversamente de Bacon, que julgava fim da filosofia o conhecimento da natureza para dominá-la (fim econômico) - Locke pensa que o fim da filosofia é essencialmente moral; quer dizer: a filosofia deve proporcionar uma norma racional para a vida do homem. E, como os seus predecessores empiristas, ele sente, antes de mais nada, a necessidade de instituir uma investigação sobre o conhecimento humano, elaborar uma gnosiologia, para achar um critério de verdade. Podemos dizer que a sua filosofia se limita a este problema gnosiológico, para logo passar a uma filosofia moral (e política, pedagógica, religiosa), sem uma adequada e intermédia metafísica.

John Locke• Locke não parte, realisticamente, do ser, e

sim, fenomenisticamente, do pensamento. No nosso pensamento acham-se apenas idéias (no sentido genérico das representações): qual é a sua origem e o seu valor? Locke exclui absolutamente as idéias e os princípios que deles se formam, derivam da experiência; antes da experiência o espírito é como uma folha em branco, uma tabula rasa.

John Locke• No entanto, a experiência é dúplice: externa e

interna. A primeira realiza-se através da sensação, e nos proporciona a representação dos objetos (chamados) externos: cores, sons, odores, sabores, extensão, forma, movimento, etc. A segunda realiza-se através da reflexão, que nos proporciona a representação das próprias operações exercidas pelo espírito sobre os objetos da sensação, como: conhecer, crer, lembrar, duvidar, querer, etc. Nas idéias proporcionadas pela sensibilidade externa, Locke distingue as qualidades primárias, absolutamente objetivas, e as qualidades secundárias, subjetivas (objetivas apenas em sua causa).

John Locke• As idéias ou representações dividem-se em idéias

simples e idéias complexas, que são uma combinação das primeiras. Perante as idéias simples - que constituem o material primitivo e fundamental do conhecimento - o espírito é puramente passivo; pelo contrário, é ele ativo na formação das idéias complexas. Entre estas últimas, a mais importante é a substância: que nada mais seria que uma coleção constante de idéias simples, referida pelo espírito a um misterioso substrato unificador. O espírito é também ativo nas sínteses que são as idéias de relação, e nas análises que são as idéias gerais.

John Locke• Às idéias de ralação pertencem as relações

temporais e espaciais e de idéias simples dos complexos a que pertencem e da universalização da idéia assim isolada, obtendo-se, desse modo, a idéia abstrata (por exemplo, a brancura). Locke é, mais ou menos, nominalista: existem, propriamente, só indivíduos com uma essência individual, e as idéias gerais não passam de nomes, que designam caracteres comuns a muitos indivíduos. Entretanto, os nomes que designam uma idéia abstrata, isto é, uma propriedade semelhante em muitas coisas, têm um valor e um escopo práticos: auxiliar os homens a se conduzirem na vida.

John Locke• Dado o nominalismo de Locke, compreende-se

como, para ele, é impossível a ciência verdadeira da natureza, considerada como conhecimento das leis universais e necessárias. Locke julga também inaplicável à natureza a matemática - reconhecendo-lhe embora o caráter de verdadeira ciência - isto é, não acredita na físico-matemática, à maneira de Galileu. Entretanto, mesmo que a ciência da natureza não nos desse senão a probabilidade, a opinião, seria útil enquanto prática.

David Hume (1711–1776)

Principais obras

• 1739-40: Tratado da natureza humana

• 1748: Investigação sobre o entendimento humano

David Hume• Os Fundamentos do conhecimento em David

Hume:• A exemplo de seus contemporâneos, Hume

procura responder as diversas indagações relacionadas à natureza e ao conteúdo dos processos cognitivos.

• O conhecimento metafísico e o conhecimento humano;

• Fundamentação e verificação;• Resumindo: a proposta do conhecimento de

Hume, é resolver os problemas do entendimento humano sem recorrer a soluções metafísicas.

David Hume• Como o homem é um ser racional e está

continuamente à procura da felicidade, que espera alcançar para a satisfação de alguma paixão ou afeição, raramente age, pensa ou fala sem propósito ou intenção. Sempre tem algum objeto em vista; embora às vezes sejam inadequados os meios que escolhe para alcançar seu fim, jamais o perde de vista e nem desperdiça seus pensamentos ou reflexões quando não espera obter nenhuma satisfação deles.

David Hume

O projeto filosófico de Hume• A partir da Seção I: Das diferentes classes

de filosofia, IN: Investigação Acerca do Entendimento Humano,

- Comentar sobre o aspecto construtivo e experimental do projeto humeano.

• PRÓXIMAS AULAS: Seminário (Ensaios dobre o entendimento humano)

Causalidade e hábito

Causalidade e hábito• Na Investigação sobre o entendimento

humano (1748), Hume defende que nossas percepções são de dois tipos:– impressões;– idéias.

• As idéias são cópias tênues das impressões.

Causalidade e hábito• As impressões são nossas

percepções mais vivazes e fortes.

• Elas ocorrem quando vemos, ouvimos, sentimos algo, quando amamos, odiamos, desejamos, ou queremos.

Causalidade e hábito• As idéias são cópias das impressões; e

se dão quando, pela memória, recordamos uma impressão, ou quando, pela imaginação, a antecipamos.

• A partir das impressões, formamos as idéias simples, que podem ser combinadas pelo entendimento.

Causalidade e hábito• Portanto, todas as idéias têm, em

última instância, origem nas impressões.

• Para Hume, dada uma idéia qualquer, podemos e devemos nos perguntar de que impressão ela deriva.

Causalidade e hábito• Hume descreve então as formas

pelas quais o entendimento combina ou associa as idéias:– semelhança;– contiguidade (tempo ou lugar);– causa ou efeito (causação).

Causalidade e hábito• Semelhança: retrato de uma pessoa

a própria pessoa.

• Contigüidade: cômodo de uma casa outro cômodo; dia da semana dia seguinte, anterior.

• Causação: ferimento dor.

Causalidade e hábito• Além disso, todos os objetos do

conhecimento se dividem em dois tipos: relações de idéias e questões de fato.

• As relações de idéias correspondem ao tipo de conhecimento encontrado nas disciplinas da matemática.

Causalidade e hábito• Relações de idéia matemática.

• Quer dizer, as afirmações feitas por essas disciplinas são ou intuitivas, ou demonstrativamente certas.

Causalidade e hábito• As verdades assim descobertas não

dependem que nada exista no mundo, e são alcançadas apenas pelas operações do pensamento.

• Nelas, temos apenas de evitar contradições.

Causalidade e hábito• As questões de fato, por sua vez,

sempre admitem seu oposto.

• O contrário de uma questão de fato é sempre possível.

• Para Hume, todos nossos raciocínios sobre questões de fato estão baseados na relação de causa e efeito.

Causalidade e hábito• Questões de fato causa e efeito.

• Tal relação, argumenta Hume, é a única forma pela qual podemos ir além de nossos sentidos e do que temos na memória.

Causalidade e hábito• Todo o conhecimento do mundo, das

leis da natureza, e dos eventos envolvendo os corpos depende dessa relação (de causa e efeito).

• Portanto, é necessário investigar sua fundamentação.

Causalidade e hábito• Ora, tal investigação sobre o

fundamento de nosso conhecimento em questões de fato deve se iniciar pela observação dos fatos.

• Todas as nossas expectativas e predições se baseiam na idéia de que o que ocorreu no passado continuará a ocorrer no futuro.

Causalidade e hábito• Isto é, o fogo continuará queimando,

a água matará a sede, o pão matará a fome, etc., em virtude de suas propriedades.

• Exemplo da pedra ao sol. (“O sol tem o poder de esquentar a pedra.”)

Causalidade e hábito• Esse poder e essa relação entre os

corpos não nos são dados na experiência.

• O que temos pela experiência é a observação de uma conjunção constante entre tais eventos.

• A & B, A & B, A & B, ...

Causalidade e hábito• Hume quer investigar de que maneira

fazemos a associação entre tais coisas.

• Hume diz que não há nenhum fundamento racional em nossas inferências desse tipo.

• Entretanto, a experiência nos faz aquirir crenças causais.

Causalidade e hábito• Esse é o famoso problema de Hume,

muitas vezes apresentado como o problema da indução.

• Da observação de diversos casos particulares nos quais duas coisas estão correlacionadas, não podemos concluir seguramente que sempre estarão correlacionadas dessa maneira.

Raciocínios indutivos

Raciocínios indutivos• Todos os corvos observados são

pretos.• Portanto, todos os corvos são pretos.

• Todas as esmeraldas observadas são verdes.

• Portanto, todas as esmeraldas são verdes.

Raciocínios indutivos

Todos os cisnes são brancos, certo?

Raciocínios indutivos

Raciocínios indutivos• Argumento generalizante (GEN):

Observei inúmeras esmeraldas, e cada uma delas era verde.

Logo, todas as esmeraldas são verdes.

Raciocínios indutivos• Argumento de previsão (PREV):

Observei inúmeras esmeraldas, e cada uma delas era verde.

Logo, a próxima esmeralda que vou observar também é verde.

Raciocínios indutivos• GEN e PREV não são dedutivamente

válidos.

• Mas Hume vai mais além: o ponto de vista dele é o de que não há absolutamente qualquer justificação racional para as nossas crenças que são generalizações ou previsões.

Causalidade e hábito• Quer dizer, a experiência nos dá

conjunções constantes entre os objetos, não relações necessárias entre eles.

• Para que os raciocínios indutivos permitam conclusões indubitáveis, seria necessário que o princípio de uniformidade da natureza fosse verdadeiro.

Causalidade e hábito• PUN: “O futuro se assemelhará ao

passado”.

• GEN e PREV requerem o PUN como premissa adicional.

Causalidade e hábito• Podemos dar um argumento indutivo em

favor do PUN?

A natureza tem sido uniforme nas observações que fiz no passado.

Logo, em geral a natureza é uniforme.

• Esse argumento também requer o PUN, portanto, é circular!

Causalidade e hábito• Podemos dar uma justificação dedutiva

para o PUN?

• Dedução a partir de observações não.

• Dedução a priori, a partir de definições (relações de idéias) também não.

Causalidade e hábito• Isto é, se mantivermos a perspectiva

empirista, esse princípio também deriva da experiência e não pode, portanto, fundamentar o restante do conhecimento que temos dos fenômenos naturais.

Causalidade e hábito• A explicação dada por Hume é que a

natureza humana é de tal forma constituída que, na presença de repetições na experiência, somos levados a adquirir crenças causais.

• Esse elemento da natureza humana é denominado, por Hume, de Princípio do Hábito.

Causalidade e hábito• Ao contrário dos princípios de

associação de idéias, o Hábito nos leva invariavelmente a adquirir crenças causais na presença de repetições na experiência.

Causalidade e hábito• Argumentos em favor da existência do

Hábito:

1. Há uma espécie de harmonia preestabelecida entre o curso da natureza e nossas idéias.

2. Se nossas crenças causais não fossem colocadas em nós dessa maneira involuntária, nossa conservação e sobrevivência estariam em risco.

Ceticismo mitigado

Ceticismo mitigado• A teoria de Hume para explicar nossa

aquisição de crenças causais possui caráter naturalista e falibilista.

• Falibilismo: não é possível fundamentar de forma inabalável o conhecimento humano; na melhor das hipóteses, podemos dar explicações razoáveis, que podem ser falsas.

Ceticismo mitigado• Hume caracteriza sua posição como

um ceticismo mitigado.

• Ceticismo mitigado: podemos aceitar as aparências, mas não de uma forma dogmática; apenas como boas explicações.

Ceticismo mitigado• A teoria de Hume põe em xeque a

metafísica e qualquer tentativa de fundamentar a ciência empírica por meio da metafísica, como era o objetivo de Descartes.

Ceticismo mitigado“Tomemos em nossas mãos qualquer volume, de teologia ou metafísica escolástica, por exemplo, e perguntemo-nos: contém ele algum raciocínio abstrato a respeito da quantidade ou do número? Não. Contém algum raciocínio experimental a respeito da matéria e da existência? Não. Lancemo-lo, portanto, às chamas; pois não pode conter nada além de sofismas e ilusões.” (Investigação, Sec. VII, Pt. III)

Resumo da ópera

Resumo da ópera1. Qualquer argumento indutivo requer o PUN como premissa. 2. Se a conclusão de um argumento indutivo está justificada

racionalmente pelas premissas, então essas mesmas premissas devem ser racionalmente justificáveis.

3. Logo, se a conclusão de um argumento indutivo está justificada, tem de haver uma justificação racional para o PUN.

4. Se o PUN é racionalmente justificável, então tem de haver um bom argumento indutivo ou um bom argumento dedutivo a favor do PUN.

5. Não há qualquer bom argumento indutivo a favor do PUN, pois tal argumento seria sempre circular.

6. Não pode haver um bom argumento dedutivo a favor do PUN, pois o PUN não é verdadeiro a priori nem podemos deduzir o PUN a partir de observações que tenhamos feito até ao momento.

7. Logo, o PUN não é racionalmente justificável. Logo, não há qualquer justificação racional para as nossas crenças que têm a forma de previsões ou generalizações.

(Elliott Sober)