o Emprego Do Armamento, Munição e Explosivos Na Segurança Pública

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    O EMPREGO DO ARMAMENTO, MUNIO E

    EXPLOSIVOS NA SEGURANA

    O BPCHOQUE NO CONTROLE DEDISTRBIOS CIVIS

    No podeis ensinar coisa alguma a um homem;Podeis apenas ajuda-lo a encontra-la dentro de

    si mesmo.

    Galileu Galilei

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    N D I C E

    PGINA

    Resumo ......................................................................................................................................... 3

    LISTA DE ANEXOS ................................................................................................................... 5

    CAPTULOS

    I. O PROBLEMA ............................................................................................................ 6

    Introduo

    Formulao da Situao Problema

    Objeto do Estudo

    Justificativa

    Questes a Investigar

    II. EM BUSCA DE UMA FUNDAMENTAO......................................................... 15

    A Misso das Polcias Militares na Evoluo da Legislao

    O Papel da Polcia na Sociedade

    Ordem e Segurana

    Ordem Poltica e Segurana Poltica

    Nveis de Segurana

    Preservao e Restabelecimento Poltico da Ordem Pblica

    Preservao e Restabelecimento Policial da Ordem Pblica

    Preservao e Restabelecimento Poltico Militar da Ordem Pblica

    A Polcia Militar e os Distrbios Civis

    O Batalho de Polcia de Choque e o Controle de Distrbios Civis

    O Material Blico Empregado Pelo BPChq no Controle de Distrbios Civis

    III. METODOLOGIA .................................................................................................... 50Participantes do Estudo

    Instrumentao

    Coleta e Tratamento de Dados

    IV. APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS ....................................... 52

    V. CONCLUSES E SUGESTES ............................................................................... 63

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................... 65

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    Resumo

    O objetivo principal da presente pesquisa foi, basicamente, buscar a resposta para a seguinte

    questo: Quais as reais condies operacionais do BPChq no CDC (Controle de Distrbios Civis),

    com o armamento, munio e explosivos que dispes atualmente?

    Nessa linha foi investigada a adequabilidade do material blico armamento, munio e

    explosivos utilizados pelo BPChq em misses de CDC, a disponibilidade desse material para

    pronto emprego e o grau de adestramento da tropa no seu manuseio operacional.

    O estudo tambm levou em considerao outros fatores que influenciam o desempenho do

    BPChq nas misses CDC, tais como o efetivo existente, os equipamentos de proteo individual, as

    viaturas e os diferentes tipos de policiamento executados atualmente por essa UOpE.

    Foram ouvidas autoridades policiais militares envolvidas, direta e indiretamente, na questo,

    alm da realizao de pesquisa de campo junto tropa do BPChq Oficiais e Praas objetivando

    saber se em seus julgamentos o atual material blico empregado no CDC atende aos fins a que se

    destina.

    Concluiu-se que o material blico e os equipamentos de proteo individual disponveis para

    emprego nas aes de CDC, atendem principalmente as necessidades da UOpE, nesse mister.

    precria, tambm, a situao da frota de viaturas destinadas a essas aes, levando-se em conta os

    fatores: desgaste pelo tempo de uso e inedaquabilidade ao emprego.

    Conclui-se, ainda, que o atual grau de adestramento da tropa, para o CDC insatisfatrio,

    tendo como principal bice o seu emprego rotineiro em diferentes tipos de policiamento, de natureza

    e caractersticas prprias, que conflitam com a misso peculiar do BPChq.

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    Desta forma, h que se repensar, com brevidade, a destinao operacional do BPChq como

    Unidade Especial, para emprego no CDC, aparelhando-a e modernizando-a, a fim de que possa ter

    reais condies de cumprir a contento sua misso.

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    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO PGINA

    I. Pauta da Entrevista realizada com o comandante do Comando de Unidades

    Operacionais Especiais da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro .............................. 69

    II. Pauta da Entrevista realizada com o Comandante de Policiamento da Capital da

    Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro ............................................................................ 70

    III. Pauta da Entrevista realizada com o Diretor Geral de Apoio Logstico da Polcia

    Militar do Estado do Rio de Janeiro ........................................................................................ 71

    IV. Pauta da Entrevista realizada com o Comandante do Batalho de Polcia De Choque

    da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro ....................................................................... 72

    V. Questionrio Aplicado aos Oficiais do BPChq ................................................................... 74

    VI. Questionrio aplicado aos Praas do BPChq .................................................................... 77

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    CAPTULO I

    O PROBLEMA

    Introduo

    V-se, com freqncia, a Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro ocupando grandes

    espaos na mdia, objeto de manchetes dramticas de primeira pgina tais como: PM violenta! PM

    arbitrria! PM corrupta! Polcia Despreparada! Tambm comum, nessas oportunidades,

    determinados segmentos da imprensa envidarem esforos no sentido de consolidar uma opinio ainda

    mais desfavorvel a respeito da instituio, resgatando antigos esteretipos sensacionalistas no

    sentido de estabelecer uma relao direta de causa e efeito, entre a atuao da PM no contexto

    revolucionrio de 1964 e o seu papel no atual cenrio democrtico, como rgo integrante do

    Sistema de Segurana Pblica.

    O processo de abertura democrtica e o conseqente restabelecimento do Estado de Direito

    permitiu, progressivamente, o extravasamento de ressentimentos at ento reprimidos pelos rigorosos

    mecanismos de censura a servio do regime autoritrio. Comeam a ecoar expresses do tipo PM

    autoritria! PM da Interveno! Braos da Represso! Polcia do Sistema!Rompia-se o silncio

    imposto pela ditadura militar libertando veementes crticas atuao dos rgos de represso, vozes

    que ainda ressoam nos dias atuais. Dissociar a imagem da Corporao desse passado tem-se

    mostrado uma tarefa rdua, pois muitos ainda acreditam que a sua natureza militar, bom como, a sua

    condio de Fora Auxiliar, reserva do Exrcito, propicia a incompatibilidade civil X militar

    observada especialmente nos ltimos tempos em conseqncia dos reflexos do perodo

    revolucionrios de 1964.

    Sabe-se, no entanto, conforme noticia a histria, a milcia do Rio de Janeiro tem estrutura

    militar desde a sua criao como Diviso Militar da Guarda Real de Polcia, em 1809, informando

    ainda, haver nascido com a funo policial e para atender s demandas sociais daquela poca.

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    H que ressaltar ainda que, em 1964, a misso atribuda s PM j era a segurana interna e a

    manuteno da ordem no Estados, Territrios e Distrito Federal, na condio deforas auxiliares,

    reserva do exrcito, conforme consagrava a Carta Magna vigente, a 1946. Note-se que nesse mesmo

    diploma legal, a misso das PM estava insculpida no Ttulo VII Das Foras Armadas, que, na

    prtica, tinha o sentido de executar tarefas atribudas Fora Terrestre. Somente mais tarde, com a

    Emenda Constitucional N 1, de 17 de outubro de 1969, que alterou a Constituio de 1967, a

    expresso segurana interna foi retirada, permanecendo a manuteno da ordem, agora adjetivada

    como pblica, atingindo de forma mais precisa a sua finalidade bsica de Segurana Individual e

    Comunitria.

    A legislao especfica advinda da Revoluo de 1964 Dec Lei 667 de 02 de julho de 1969

    e suas alteraes estabeleceu na prtica, atravs do controle exercido pela IGPM, inegvel

    subordinao das PM expresso militar, impedindo os governadores de praticar quaisquer atos

    relativos quelas Corporaes sem o aval do Estado Maior do Exrcito, que, ento, concentrava suas

    preocupaes to somente nas questes de segurana interna. Assim, estando as PM inseridas no

    quadro de Segurana e Defesa Pblica aptas para atuar preventiva, repressiva e operativamente

    logo, seriam utilizadas para desenvolver atividades de interesse da Segurana Interna e Defesa

    Internas.

    Dentro da atitude preventiva, as chamada medidas repressivas locais, de carter policial, as

    PM atuaram na dissoluo de reunies proibidas por ato legal, controle das atividades de elementos

    suspeitos de agitao e subverso, destruio de pequenos focos de agitao e controle e eliminaode agitaes populares ou no controle e destruio de focos de guerrilhas, para alcanar, at mesmo,

    as aes de ordem operativa, em circunstncias tpicas de guerra no convencional.

    Verifica-se, ento, a existncia de uma srie de aes que, por pertencerem ao campo do

    interesse da Segurana e da Defesa Pblica, nem por isso, deixam de pertencer, concorrentemente, ao

    campo de interesse da Segurana e da Defesa Internas.

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    Finalmente, a Carta de 1988, pela primeira vez na histria das Constituies brasileiras,

    definiu com nitidez o sistema de segurana pblica nacional, dedicando-lhe, inusitadamente, um

    Captulo exclusivo. s PM atribuiu a polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica, bem como,

    outorgou-lhe a subordinao aos Governadores de Estado. Na definio da sua competncia legal,

    inobstante tenha afastado de vez a expresso segurana interna, manteve a condio de fora auxiliar

    reserva do Exrcito, o que j suficiente para serem empregadas, se e quando necessrio, nas aes

    de Defesa Interna ou Territorial.

    bem verdade, tambm, a ativa participao de algumas Polcias Militares na represso

    poltica, implantada pelo regime autoritrio. Entre essas, destacou-se a do Rio de Janeiro, cuja

    atuao policial naquele momento conturbado, esteve voltada exclusivamente para o controle da

    criminalidade sob a tica da chamada doutrina de segurana nacional, direcionando seus servios

    policiais para combater os bices, os antagonismos e o inimigo interno, todos de conotao

    ideolgica. Nessa direo, as PM foram amoldadas dentro de um padro nacional de segurana

    pblica voltada para o enfrentamento do inimigo internoe dosubversivo comunista, privilegiando o

    uso da fora e do choque na soluo de assuntos policiais.

    No auge da represso militar, o ento Batalho de Choque (BC), Unidade Especial da Extinta

    PMEG, constitudo para atuar como fora de dissuaso e represso, teve um destacado papel na

    questo da manuteno da ordem pblica, entendida naquela poca, segundo a doutrina de Segurana

    Nacional, como relacionada s aes de controle de manifestaes pblicas e s aes de choque. A

    efetiva participao do BC atual Batalho de Polcia de Choque (BPChq) nas aes de Controlede Distrbios Civis (CDC) durante a represso militar, contribuiu para estigmatiza-lo perante parte

    da populao como smbolo da violncia e do arbtrio do Estado autoritrio, imagem que ainda hoje

    sobrevm sempre que a PM compelida ao emprego de fora legal para o restabelecimento da ordem

    pblica.

    Veio o processo de redemocratizao do Estado, e com ele foram introduzidas inmeras

    transformaes nos campos social, poltico, econmico e cultural, impondo o indispensvel

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    ajustamento da sociedade brasileira aos novos tempos de direitos e liberdades. Essas transformaes

    tambm atingiram as instituies obrigando-as a repensarem seus papis junto sociedade em face

    da nova ordem jurdica. Nas PM esse processo vem acontecendo de forma lenta, porm contnua, no

    sentido de reorienta-las para o exerccio da funo policial, enquanto que o adjetivo militar vai

    ficando cada vez mais restrito a estrutura de hierarquia e disciplina interna, para efeito de controle do

    pessoal.

    Concomitante, comeou a configurar-se o quadro de criminalidade violenta que, atualmente,

    face o seu agravamento, atemoriza todo o conjunto social, mormente nos grandes centros urbanos,

    aguando sobremaneira o clamor pblico por mais e mais segurana. Em conseqncia, no Rio de

    Janeiro onde, segundo a mdia, a questo vem tem-se revelado com maior gravidade, diante da

    necessidade de se oferecer uma pronta resposta ao avano incontrolvel da criminalidade, os quartis

    da PM foram sendo progressivamente esvaziados, a fim de atender a crescente demanda social por

    segurana. Assim, com o emprego macio do efetivo da atividade-fim, e, tambm, da atividade-meio

    atravs das escaladas extraordinrias, decidiu-se privilegiar a soluo quantidade em detrimento da

    soluo qualidade.

    A PM dos dias atuais, no exerccio de suas atribuies especficas no campo da Segurana

    Pblica, no mais atua como aquela fora auxiliar e reserva do Exrcito do perodo revolucionrio.

    As transformaes ocorridas na sociedade exigiram da instituio igual flexibilidade para se

    remodelar e adequar nova realidade do pas. O volume de demandas sociais cresceu

    substancialmente, em especial no que respeita segurana pblica, e para enfrentar o desafio a PMno poupou sequer as Unidades Especializadas, como o caso do Bpchq, cujo efetivo, por Diretriz

    do Comando da Corporao, tem sido empregada cada vez mais, de forma rotineira, na execuo do

    policiamento ostensivo normal, em apoio s diversas UOP.

    A insegurana gerada pela questo da criminalidade e da violncia trouxe baila

    questionamentos, tal como a necessidade de se manter grandes efetivos aquartelados, estratgia

    considerada antieconmica para o Estado-Membro alm de tender ociosidade. A PM no pode se

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    furtar de discutir essas questes, pois os tempos so outros e o seu sistema tem-se tornado cada vez

    mais aberto, porm, h que prevalecer em determinadas situaes, o conhecimento profissional e a

    responsabilidade para com a preservao da ordem pblica, expressa no texto constitucional. Assim,

    a descaracterizao do BPChq como tropa reserva, aquartelada e adestrada trata, com certeza, graves

    prejuzos para o condicionamento do homem, bem como, para o seu aprimoramento tcnico e ttico

    indispensveis ao cumprimento da misso especial que lhe est afeta.

    Essas mudanas podem, at mesmo, contribuir para atenuar o estigma da truculncia e do

    arbtrio, nivelando-o com as demais Unidades Operacionais, entretanto, podem igualmente, concorrer

    para vulnerabilizar a sua capacidade de resposta quando do emprego nas misses que lhe so

    prprias, como o CDC. Pois, alm da pulverizao do seu j reduzido efetivo em misses diversas

    lhe foram originalmente destinadas, a crescente evaso verificada na Corporao e as dificuldades de

    recompletamento do efetivo, agravam o quadro que, atualmente, se mostra deveras preocupante.

    Importa ressaltar, tambm, que apesar de incontestvel a relevncia do esforo implementado

    no sentido de se formar uma verdadeira polcia democrtica, existe uma zona com limites imprecisos,

    situada entre a segurana pblica e a segurana interna, onde as aes da PM podem suscitar alguma

    confuso, muito embora o objetivo aponte sempre para a preservao da ordem pblica e da paz

    social. exatamente nessa faixa movedia onde se situam as manifestaes pblicas, com atos de

    violncia, desordens, depredaes, saques, invases de terras, rebelies em estabelecimentos

    prisionais, ocupaes de prdios pblicos e fbricas, promovidas por aes de grupos organizados ou

    no, exigindo uma pronta reao do poder pblico, com aes de fora e de choque, desenvolvidassobretudo pelas PM, seja qual for sua conotao.

    Considerando uma situao de fato, h que se levar em conta o como reagir com efetivos

    considerados insuficientes para o prprio servio policial e quando todo o seu contingente humano

    encontra-se empregado no enfrentamento da criminalidade, e ainda, sem o aparelhamento e

    equipamento prprios, sem o domnio das tcnicas e tticas, enfim, sem o necessrio adestramento,

    fator preponderante para o cumprimento das misses inerentes as Unidades Especiais.

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    Formulao da Situao Problema

    Do perodo autoritrio at o presente, o pas vivenciou inmeras transformaes de ordem

    poltica, econmica e social, impondo que as PM tambm buscassem um a nova identidade e se

    adaptassem para melhor atender as demandas de uma nova ordem legal, ou seja, o Estado

    Democrtico.

    Atualmente, com a estabilizao monetria proporcionada pelo Plano Real, reduziram-se,

    substancialmente, as hipteses de ocorrncias de manifestaes coletivas radicais com ameaa

    ordem pblica e o conseqente confronto com a polcia. Alm disso, a questo da criminalidade

    violenta nos grandes centros, tem exigido da PM a convergncia de seus esforos para o campo da

    segurana pblica.

    Diante desse quadro, observa-se a progressiva descaracterizao do BPChq como fora de

    reao e represso, pelo afastamento de sua misso primeira, uma vez que seu efetivo tem sido

    lanado rotineiramente na execuo do policiamento comum em apoio s diversas UOp. Dentre as

    foras legais atuantes no Estado, a PM a mais apta para operar em centros urbanos quando da

    ocorrncia de distrbios civis, tendo em vista a natureza de sua formao, instruo e treinamento,

    acrescido do sistema de informaes de que dispe, onde cada policial um integrante nato.

    Distrbios Civis so inquietaes ou tenses coletivas que tomam a forma de manifestaes

    podendo resultar em atos de violncia ou de desordem. O enfrentamento dessas situaes exige

    emprego ttico de unidades de choque bem equipadas, adestradas e disciplinadas, sendo o apuro

    desses fatores diretamente proporcional s possibilidades de xito da misso de controle e

    restabelecimento da ordem com eficincia e eficcia. Assim, importante priorizar-se o emprego de

    tcnicas de CDC adequadas e, somente quando necessrio, o emprego de fora, que dever ser

    moderada de acordo com cada caso, de modo a evitar-se que a sua atuao da tropa no venha se

    sobrepor ao fato gerador, em termos de repercusso.

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    Nesse sentido, o adestramento da tropa, os equipamentos e o material blico armamento,

    munio e explosivos constituem elementos de fundamental importncia e efeito dissuasrio.

    Como ao preliminar numa situao de CDC, a demonstrao de fora e a presteza da tropa

    empenhada exercem ao psicolgica sobre os manifestantes, logrando, em muitos casos, dissuadi-

    los de possvel perturbao da ordem, caso haja tal predisposio. Contudo, nem sempre essa ttica

    preventiva surte os efeitos neutralizadores desejados, fazendo-se necessrio o emprego de fato desse

    material blico, da a imperiosa necessidade de se manter o mais alto grau de adestramento possvel,

    para que nesse caso, a resposta seja eficiente e eficaz, sem extrapolar dos limites reais.

    H que considerar, ainda, que para atingir seus objetivos e dificultar a ao da polcia, as

    lideranas desses movimentos coletivos, estrategicamente, escolhem para a realizao das

    manifestaes os locais de grande concentrao de pessoas e trfego intenso, sendo este mais um

    complicador que exige um elevado grau de adestramento da tropa encarregada do controle e da

    represso, em especial com emprego de armamento, munio e explosivos, caso se faa necessrio.

    Profissionais no se improvisam.

    Sendo o BPChq a Unidade Operacional Especial de que dispe a PMERJ para pronto

    emprego no CDC, emerge a seguinte questo:

    Considerando o armamento, a munio e os explosivos prprios para emprego em CDC,

    quais as atuais possibilidades e limitaes do BPChq nesse mister?

    Objeto do Estudo

    Este estudo tem por objetivos investigar as possibilidades e limitaes do BPChq quanto ao

    armamento, munio e explosivos disponveis nessa UOpE, bem como, avaliar o grau de

    adestramento da tropa em relao a esse equipamento blico, considerando o seu emprego no CDC.

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    Justificativa

    A dinmica da Corporao derivada dos anseios cada vez maiores da populao fluminense

    por segurana, traz um acmulo de preocupaes voltadas para a operacionalidade.

    Necessrio torna-se, ento, a manuteno das condies ideais de pronta resposta em face de

    situaes emergenciais que venham a se configurar, a fim de minimizar a possibilidade de erros e

    desgastes fruto da improvisao, mormente quando se referem s questes que nos compete no

    mbito da preservao da ordem pblica.

    Atualmente, vive-se no Brasil, um clima de tranqilidade no plano econmico, ensejado pela

    estabilizao da moeda. Contudo, h grande apreenso na sociedade, envolvida por expectativas

    geradas pelas discusses sobre a efetivao de profundas reformas no campo dos direitos sociais, que

    por sua vez, pode suscitar a ecloso de movimentos coletivos de oposio.

    Outras questes, como, por exemplo, o Movimento dos Sem Terras e o Programa de

    Privatizaes, tambm requerem o devido acompanhamento da sua evoluo, tendo em vista os

    fatores polticos e sociais que os influenciam, podendo dar conseqncia a manifestaes pblicas

    adversas, com riscos para a ordem pblica.

    Isto posto, a justificativa do presente estudo prende-se necessidade de se avaliar,

    realisticamente, as condies de pronto emprego do Bpchq, considerando o seu aparelhamento blico

    face a uma eventual situao de ruptura da ordem pblica provocada por i8nquietaes ou tenses

    coletivas, sob forma de manifestaes de atos de violncia ou de desordem (distrbios civis).

    Cumpre ressaltar, tambm, no haver registros de trabalhos, com idntico objetivo ao do

    presente estudo, tenham sido elaborados no decorrer dos diversos cursos realizados em poca

    pretrita, sejam de Aperfeioamento ou Superior de Polcia Militar.

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    Pode-se concluir, portanto, que o presente trabalho contempla os necessrios princpios da

    oportunidade e relevncia para a corporao.

    Questes a Investigar

    Procura-se respostas para os seguintes questionamentos:

    1. O BPChq est dotado adequadamente de armamento, munio e explosivos para

    emprego em CDC?

    2. O BPChq est devidamente suprido de material blico de emprego em CDC?

    3. O efetivo do BPChq est adestrado tcnica e taticamente para o emprego do armamento,

    munio e explosivos prprios s misses de CDC?

    4. Em que medida o emprego do BPChq, em misses diversas de sua especialidade

    influenciam seu desempenho em aes de CDC?

    5. O BPChq dispe de equipamentos de proteo individual adequados para emprego em

    CDC?

    6. O BPChq dispe de viaturas adequadas para emprego em CDC?

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    CAPTULO II

    EM BUSCA DE UMA FUNDAMENTAO

    Este captulo apresenta os aspectos bibliogrficos necessrios sustentao do presente tema

    de pesquisa.

    A Misso das Polcias Militares na Evoluo da Legislao

    A constituio do Imprio, outorgada em 25 de maro de 1824, no trata claramente dasCorporaes que antecederam as Polcias Militares. Porm, o projeto de Constituio para o Imprio,

    elaborado pela Assemblia Geral Constituinte previa no Ttulo XII que cuidava das foras armadas

    dispositivos sobre segurana pblica nos artigos 228 e 233, ao dizer:

    H ainda que mencionar o Ato Adicional Carta de 1824, baixado atravs da Lei n 16, de

    12 de agosto de 1834, estabelecendo no inciso 2 do Art. 11 competncia s Assemblias Legislativas

    Provinciais para fixar sobre informao do presidente da provncia a fora policial respectiva.

    A Carta de lei de 10 de outubro de 1831 dizia em seu artigo 1:

    O artigo 2 dessa Lei estendia prerrogativas s Provncias dando faculdade aos Presidentes

    rt. 228 A Fora Armada Terrestre dividida em trsclasses, exrcito de linha, milcia e guardas policiais.[...]

    rt. 233 As milcias so destinadas a manter a seguranablica no interior das Comarcas

    rt. 1 O Governo fica autorizado a criar nesta cidade umCorpo de Guardas Municipais voluntrios a p e a cavalo paramanter a tranqilidade pblica e auxiliar a justia,...

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    dos Conselhos de criarem os Corpos nas diversas Comarcas.

    Importncia teve tambm a Lei n 243, de 30 de novembro de 1841. Era a Lei de Meios do

    Imprio, contendo dispositivos sobre receita e despesa. Porm, em seu Art. 3 facultou ao Imperador

    reorganizar o Corpo de Guardas Municipais da Corte do Rio de Janeiro. O Imperador usou essa

    faculdade baixando o Regulamento 191, de 1 de julho de 1842, em que estruturava o Corpo de

    Guardas Municipais, j ali dominado pelo Corpo Policial.

    Esse Regulamento foi extensivo s Provncias, sendo aplicado aos Corpos de todo o Imprio.

    No restante do Imprio, todas as Provncias organizaram e regulamentaram os Corpos Policiais,

    tendo sempre eles a misso de manter a tranqilidade pblica e auxiliar a justia. Em tempos de

    Guerra constituam a linha auxiliar do Exrcito.

    A Repblica foi judicialmente institucionalizada atravs do Decreto n1, de 15 de novembro

    de 1889. O Governo Provisrio ali colocou os mandamentos gerais com que iria governar at que o

    novo regime fosse normalmente consagrado em texto de lei apropriado. Nos Artigos 6 e 8, o

    Governo mobilizou a fora pblica de ento, colocando-a sob sua jurisdio para a manuteno da

    ordem pblica. Para o policiamento nas Provncias foi autorizada a criao deuma Guarda Cvica.

    O projeto de Constituio que o Governo Provisrio submeteu ao Congresso Constituinte,

    por meio do Decreto n 914, de 23 de outubro de 1890, previa no Art. 33, inciso 22, os casos de

    mobilizao e utilizao da fora policial dos Estados, sendo essa competncia do Congresso

    Nacional.

    Na primeira repblica, a legislao federal tratou com abundncia das milcias estaduais e

    estabelecia as condies para serem foras auxiliares do Exrcito, seno vejamos o que consta nos

    Anais do III Congresso Brasileiro de Polcia Militares, Campo Jurdico, volume 1 (1987, p. 65):

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    Em 1908, prev-se a hiptese de os corpos estaduais organizadosmilitarmente serem postos disposio do Governo Federal para auxiliarema Guarda Nacional, ficando submetidos s leis e regulamentos militares daUnio.

    Em 1915, dispe-se que, quando colocadas disposio do Governo Federal,

    as foras estaduais seriam ligadas ao Exrcito ativo e no mais GuardaNacional;Em 1917, a Unio estabelece condies para que, mediante acordos com osgovernos estaduais, pudessem as foras militares estaduais ser consideradasforas permanentemente organizadas, para efeito de incorporao ao

    Exrcito em caso de sua mobilizao e por ocasio das grandes manobrasanuais. O servio prestado s foras estaduais, passa a ser consideradoservio militar pela Unio;

    Em 1918, dispe-se que, tambm mediante acordo com a Unio e os Estados,as foras policiais poderiam ser consideradas foras auxiliares do

    Exrcito. Referindo-se s polcias militarizadas, pela primeira vez numtexto legal aparecia a expresso em que se originou a designao Polcia

    Militar; eEm 1931, a Unio veda aos Estados a aplicao de mais de 10 por cento dadespesa ordinria com os servios de polcia militar, probe s polciasestaduais a disponibilidade de artilharia e aviao, limita a dotao dearmamento de infantaria e cavalaria e recomenda o recolhimento ao

    Ministrio da Guerra do armamento excedente s dotaes permitidas.

    A Constituio de 1934, apesar de inseri-las no Ttulo da Segurana Nacional juntamente

    com as Foras Armadas, pela primeira vez, com maior clareza, fez referncia s Polcias Militares, ao

    dizer no artigo 167:

    Art. 167 As polcias militares so consideradas reservas do Exrcito egozaro das mesmas vantagens a este atribudas, quando mobilizadas ou aservio da Unio.

    Essa mesma Constituio faz outra referncia s milcias estaduais, dispondo no Art. 5,

    inciso XIX, alnea 1, a competncia privativa da Unio para legislar sobre organizao, instruo,

    justia e garantias das foras pblicas dos Estados, e condies gerais de sua utilizao em caso de

    mobilizao ou de guerra.

    A presena das Polcias Militares na Constituio de 1934 deveu-se importncia que

    tiveram os movimentos de 1930 e 1932.

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    O Governo Federal regulamentou o texto constitucional e discorreu mais sobre as Polcias

    Militares com a edio da Lei n 192, de 17 de Janeiro de 1936, que procurou estabelecer formas de

    controle pelo Exrcito sobre as Polcias Militares, dizendo em seu Art. 12 que essas Corporaes no

    poderiam possuir artilharia, aviao e carros de combate, no se incluindo nesta ltima categoria os

    carros blindados.

    A competncia das milcias estaduais estava enunciada no Art. 2:

    Art. 2 - Compete s Polcias Militares:a) exercer as funes de vigilncia e garantia da ordem pblica, de acordo

    com as leis vigentes;b) garantir o cumprimento da lei, a segurana das instituies e o exercciodos poderes constitudos;c) atender a convocao do Governo Federal em grave comoo interna,

    segundo a lei de mobilizao.

    A Constituio de 1937 sintetizou os textos relativos s Polcias Militares da Carta de 1934

    num nico dispositivo, Artigo 16, inciso XXVI:

    Art. 16 Compete privativamente a Unio poder de legislar sobre asseguintes matrias:[...]

    XXVI organizao, instruo, justia e garantia das foras policiais dosEstados e sua utilizao como reserva do Exrcito.

    A Assemblia Constituinte que promulgou a Carta Magna de 18 de setembro de 1946,

    desdobrou os aspectos relativos s Polcias Militares em dois momentos: estabelecendo a

    competncia da Unio para legislar sobre as Polcias Militares e fixando a competncia dessa

    Organizao:

    Art. 5 - Compete a Unio

    []XV legislar sobre:[...]

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    f) organizao, instruo, justia e garantias das polcias militares econdies gerais de sua utilizao pelo Governo Federal, nos casos demobilizao ou de guerra;[...]

    Art. 183 As Polcias Militares, institudas para a segurana interna e a

    manuteno da ordem nos Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, soconsideradas como foras auxiliares, reservas do Exrcito.

    Como se v, foi a presena constitucional mais generosa, fixando os campos de atuao dos

    organismos policiais militares. Foi acometido s Polcias Militares a competncia da manuteno da

    ordem pblica e atuar na segurana interna, bem como ampliou a sua relao com o Exrcito ao

    introduzir a expresso foras auxiliares, isto , coexistentes, operantes e mobilizveis. Eram

    competncias que j exerciam na prtica, vindo o texto maior somente consolida-las de maneira

    institucional.

    Novamente, as Polcias Militares se fizeram sentir de maneira marcante no movimento

    revolucionrio de 1964. Sua atuao destacada fez com que o Governo emergente se preocupasse

    com os limites de atuao, armamento, organizao geral e condies de emprego dessas

    organizaes policiais.

    A Carta promulgada em 1967, com relao s Polcias Militares, inovou ao retirar suas

    atribuies do Captulo destinado s Foras Armadas, inserindo-se na parte referente Organizao

    dos Estados. Aparecem os Corpos de Bombeiros, at ento ausentes da Lei Maior, e inverte-se a

    misso primordial que antes era a segurana interna, e agora a manuteno da ordem, colocando

    aquela em segundo plano. O 4, do Art. 13, foi assim enunciado:

    4 - As polcias militares institudas para a manuteno da ordem e

    segurana interna nos Estados, Territrios e no Distrito Federal, e os

    Corpos de Bombeiros militares so considerados foras auxiliares,

    reservas do Exrcito.

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    Em 13 de maro de 1967, o Governo Revolucionrio baixou o decreto-lei n 317

    regulamentando as atividades das Polcias Militares e operacionalizando a forma de controle dessas

    Corporaes. O texto criou a Inspetoria Geral das Polcias Militares (IGPM), junto ao Ministrio do

    Exrcito, rgo incumbido de exercer o controle de tudo que se referia s Polcias Militares, privativo

    do Governo Federal.

    As atribuies das Polcias Militares foram dissecadas no Art. 2 do Decreto-Lei 317/67, que

    dizia:

    Art. 2 - Institudas para a manuteno da ordem pblica e segurana

    interna nos Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, compete s

    Polcias Militares, no mbito de suas respectivas jurisdies:

    a) exercitar o policiamento ostensivo, fardado, planejado pelas

    autoridades policiais competentes, a fim de assegurar o cumprimento da

    lei, a manuteno da ordem pblica e o exerccio dos poderes

    constitudos.

    b) atuar de maneira preventiva como fora de dissuaso. Em locais ou

    reas especficas, onde se presuma ser possvel a perturbao da ordem;

    c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbao da ordem,

    precedendo o eventual emprego das Foras Armadas;

    d) atender a convocao do Governo Federal, em caso de guerra externa

    ou para prevenir ou reprimir grave subverso da ordem ou ameaa a suairrupo, para emprego em suas atribuies especficas de polcia e de

    guarda territorial.

    Em 02 de julho de 1969, O Governo Federal baixou o Decreto-Lei n667, com o qual

    reestruturou as Polcias Militares. Embora tenha revogado o Decreto-Lei n317/67, no inseriu

    mudanas na essncia das atribuies das Polcias Militares. Sua competncia constava no Artigo 3,

    que tinha redao equivalente do Artigo 2 do texto revogado, e dizia na letra a:

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    a) executar, com exclusividade, ressalvadas as misses peculiares das

    Foras Armadas e os casos estabelecidos em legislao especfica, o

    policiamento ostensivo, fardado, planejado, a fim de assegurar o

    cumprimento da lei, a manuteno da ordem pblica e o exerccio dos

    poderes constitudos.

    A Emenda Constitucional, n 1, outorgada em 17 de outubro de 1969, alterou o 4, do

    Artigo 13 da Carta de 67, passando a ter a seguinte redao:

    4 - As polcias militares, institudas para a manuteno da ordem

    pblica nos Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, e os Corpos de

    Bombeiros militares so considerados foras auxiliares, reserva do

    Exrcito, no podendo seus postos e graduaes ter remunerao

    superior fixada para os postos e graduaes correspondentes no

    Exrcito.

    A competncia de segurana interna prevista na Constituio de 1946, e mantida com a Carta

    de 1967, foi a retirada. Houve, ainda, outra restrio com o estabelecimento de limites para os

    vencimentos dos componentes das Polcias Militares, preocupao essa ainda no vista na legislao

    at ento emanada pelo Governo Federal.

    De grande significado foi o Decreto-Lei n 1.702, de 30 de dezembro de 1969, que alterou a

    letra a, do Artigo 3, do Decreto-Lei n 667/69, que passou ao seguinte texto:

    a) executar com exclusividade, ressalvadas as misses peculiares dasForas Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pelas

    autoridades policiais competentes, a fim de assegurar o cumprimento da

    lei, a manuteno da ordem pblica e o exerccio dos poderes

    constitudos.

    Ao eliminar a expresso e os casos estabelecidos em legislao especfica, contida no

    Decreto-Lei n 667/69, passou ilegalidade todas as organizaes policiais fardadas. Com isso,

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    foram extintas as Guardas Civis, as Inspetorias de Trnsito e as Polcias Rodovirias Estaduais. A

    Polcia Rodoviria Federal, apesar de no ressalvada na lei, foi mantida.

    Alguma confuso ensejou a expresso contida nos Decretos-Leis n 317, 667 e 1.072, ao

    dizerem que o policiamento executado pelas Polcias Militares era planejado pelas autoridades

    policiais competentes. Havia a impresso que as Polcias Militares, organizadas militarmente, tinham

    suas atividades planejadas por autoridade civil. Contudo, os regulamentos baixados pelo Governo

    Federal, atravs dos Decretos-Leis n 66.862, de 08 de julho de 1970, n 82.020, de 30 de setembro

    de 1983 (R-200), ficou esclarecido que a autoridade policial competente para o planejamento das

    atividades das Polcias Militares o seu Comandante Geral.

    O Decreto n 88.777 (R-200), Regulamento para as Polcias Militares e Corpos de Bombeiros

    Militares, previa:

    Art. 7 - A criao e a localizao de organizaes policiais-militares

    devero atender ao cumprimento de suas misses normais, em

    consonncia com os planejamentos de Defesa Interna e de Defesa

    Territorial, dependendo da aprovao pelo Estado-Maior do Exrcito.

    [...]

    Art. 35 Nos casos de perturbao da ordem, o planejamento das aes

    de manuteno da ordem pblica dever ser considerado como de

    interesse da Segurana Interna.

    Novas alteraes ocorreram no Decreto-Lei n 667/69, com a outorga do Decreto-Lei n

    2.010, de 12 de janeiro de 1983, que modificou a redao de vrios dispositivos, ressaltando-se a do

    Artigo 3, que passou a ser a seguinte:

    Art. 3 - Institudas para a manuteno da ordem pblica e segurana

    interna nos Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, compete s

    Polcias Militares, no mbito de suas respectivas jurisdies:

    a) executar com exclusividade, ressalvadas as misses peculiares das

    Foras Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela

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    autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a

    manuteno da ordem pblica e o exerccio dos poderes constitudos;

    b) atuar de maneira preventiva como fora de dissuaso, em locais ou

    reas especficas, onde se presuma ser possvel e perturbao da ordem;

    c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbao da ordem,

    precedendo o eventual emprego das Foras Armadas;

    d) atender convocao, inclusive mobilizao, dom Governo Federal,

    em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave

    perturbao da ordem ou ameaa a sua irrupo, subordinando-se

    Fora Terrestre para emprego em suas atribuies especficas de Polcia

    Militar e como participante da defesa interna e da defesa territorial;

    e) alm dos casos previstos na letra anterior, a Polcia Militar poder serconvocado, em seu conjunto, a fim de assegurar Corporao o nvel

    necessrio de adestramento e disciplina ou ainda para garantir o

    cumprimento das disposies deste Decreto-Lei, na forma que dispuser o

    regulamento especfico.

    1 - A Convocao, de conformidade com a letra e deste artigo, ser

    efetuada sem prejuzo da competncia normal da Polcia Militar de

    manuteno da ordem pblica e de apoio s autoridades federais nas

    misses de defesa interna, na forma que dispuser o regulamentoespecfico.

    2 - No caso de convocao de acordo com o disposto na letra e deste

    artigo, a Polcia Militar ficar sob a superviso direta do Estado-Maior

    do Exrcito, por intermdio da Inspetoria-Geral das Polcias Militares, e

    seu Comandante ser nomeado pelo Governo Federal.

    Do exposto at aqui, pode-se verificar que o entendimento de que as Polcias Militares foram

    desvirtuadas aps o movimento revolucionrio de 1964, constitui mera falcia, visto que as misses

    fundamentais da Polcia Militar no se alteram desde a Lei de 10 de outubro de 1831, e que, pelo

    exame dos textos constitucionais, a grande preocupao tem sido com a segurana do Estado no do

    cidado. Tal disposio encontra sua justificativa nos cenrios poca de cada Carta, quando a

    defesa territorial constitua prioridade no campo da segurana. H de se notar a preocupao com a

    semntica, atribuindo-se os termos segurana, ordem, ordem pblica, garantia, manuteno,

    casuisticamente, ora s foras policiais, ora s foras armadas, conforme as tendncias da poca.

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    A centralizao das funes de defesa do Estado cabendo ao Governo central manter fora

    pblica capaz de garantir a soberania brasileira no plano internacional e opor-se eficazmente a

    possveis agresses estrangeiras e a descentralizao das funes de manuteno da ordem interna

    cabendo a cada Governo regional manter a fora pblica capaz de assegurar o cumprimento das leis

    nacionais, regionais ou locais dentro do respectivo territrio foram, seguramente, as linhas mestras

    do processo evolutivo das foras de segurana no Brasil.

    Alm dessas tendncias, as peculiaridades do processo poltico brasileiro durante quase todo

    o perodo Imperial, bem como a busca de equilbrio federativo aps a proclamao da repblica,

    levaram a duas outras: a manuteno das foras policiais com caractersticas de foras combatentes,

    desempenhando, ou estando aptas a desempenhar, misses quase militares ou a manuteno das

    foras armadas, com preocupaes com a ordem interna, desempenhando, ou estando aptas a

    desempenhar, misses quase-policiais.

    Ainda assim, pode-se dizer que houve um ntido declnio em suas atribuies militares. At o

    sculo XVII, as organizaes ento existentes tinham misses policiais e militares. Com a vinda de

    D. Joo VI para o Brasil foram criadas as Foras Armadas Exrcito e Marinha dando incio ao

    processo de especializao das tarefas de manuteno da ordem pblica e a organizao das foras

    policiais.

    Ao longo dos anos, ocorreram pequenas alteraes em suas misses, mas permanecendo

    basicamente a incumbncia de manter a tranqilidade pblica, conforme se v nos diversos textos

    legais desde a Independncia do Brasil. O processo evolutivo natural foi sempre retomado, e diversas

    normas permitiram Unio adquirir o controle sobre as foras estaduais e, oportunamente,

    redirecionar a sua evoluo no sentido da sua vocao natural, atendendo aos clamores da prpria

    sociedade.

    Aps esse longo perodo de elaborao marcado pela ausncia de um tratamento coerente em

    relao segurana pblica, o processo desaguou na Carta de 1988, promulgada com o propsito de,

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    segundo o seu prembulo, instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos

    direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar; o desenvolvimento, a igualdade e

    a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna e pluralista e sem preconceitos, fundada

    na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional com a soluo pacifica das

    controvrsias.

    A nova Carta inovou ao dedicar um Captulo exclusivo a Segurana Pblica. Contudo, esse

    mesmo Captulo, Da Segurana Pblica, encontra-se inserido no Ttulo VDa Defesa do Estado e das

    Instituies Democrticas onde tambm foram elencados os Captulos Do Estado de Defesa e do

    Estado de Stio eDas Foras Armadas.

    A misso da Polcia Militar foi fixada no 5, do Artigo 144 - polcia ostensiva e

    preservao da ordem pblica -, passando a subordinar-se diretamente aos Governadores dos Estados

    Membros, do Distrito federal e dos Territrios, mas, permaneceram como foras auxiliares e reserva

    do Exrcito. Importa ressaltar que a participao das Policias Militares na Defesa Interna e na Defesa

    Territorial foi retirada do texto constitucional j na Carta de 1967, deixando de serem institudas para

    a Segurana Interna. Entretanto, a sua permanncia como foras auxiliares e reserva do Exrcito, j

    bastante para serem convocadas ou mobilizadas, se e quando necessrio, nas aes de Defesa Interna

    ou Defesa Territorial, ou ainda, conforme o texto atual, Estado de Defesa ou Estado de Stio, uma vez

    que aquelas condies constitucionais as remetem para a possibilidade do seu emprego nesses

    campos.

    Enfim, pode-se dizer que a mesma milcia dos tempos histricos. Aperfeioada nos seus

    padres de conduta funcional e na formao profissional de seus integrantes. Instituda, hoje, no

    como organismo decorrente de uma poca ou de um certo momento histrico, mas como inerente

    prpria histria do Brasil com todas as suas variaes. No pertenceu Monarquia, Repblica nem

    ao Estado-Novo. Seus feitos nos movimentos militares e nas operaes de guerra demonstraram sua

    bravura e o valor de seus membros. Alinhou-se ao movimento que gerou a Revoluo de 1964,

    garantindo a ordem, a tranqilidade e a justia do despeitar da Nova Repblica,

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    No uma Corporao que pertena a um Governo, seno sociedade com o fim de servi-la.

    O Papel da Polcia na Sociedade

    Montesquieu (1973, p.35) considera a tendncia de os homens viverem em sociedade como

    uma lei natural. Diz, ainda, que todas as naes tm um Direito a controlar seus atos.

    Essa noo de Estado limitando os direitos dos cidados em benefcio da coletividade - e

    limitando os prprios poderes do Estado - o que se chama Estado de Direito. Com o Estado de

    Direito, fez-se necessrio a regulamentao do arbtrio e, em conseqncia implantou-se o Imprio

    das Leis.

    Porm, ao se auto-limitar, o Estado evocou para si o Princpio da Autoridade, a fim de fazer

    cumprir as leis. O manto da Autoridade cobre todos os atos provenientes do Estado com a finalidade

    de preservar o Direito Pblico em meio disputa dos interesses e litgios individuais.

    Todavia, esse manto no teria qualquer efeito sem uma fora coercitiva que lhe estivesse

    vinculada. A fora coercitiva do Estado exercida pela Polcia latu sensu, e o que garante a

    legitimidade dessa ao o Poder de Policia do Estado. O enfoque do presente trabalho se

    restringir ao conceito de Polcia como Organizao, empreendimento que constitui a concretizao

    do poder coercitivo do Estado.

    Todas as sociedades necessitam de meios pelos quais a ordem mantida. Nas pequenas

    sociedades que no necessitam de leis escritas, sanes informais inibem desvios nos costumes. Mas, a

    partir de um certo grau de complexidade desse agrupamento social, os rgos dirigentes necessitam de

    agentes que garantam o acatamento de suas decises. Quanto maior se torna a sociedade, maior se faz a

    necessidade de controle dos atos dos indivduos, ou seja, do exerccio da autoridade.

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    Nas grandes sociedades, face o descontrolado aumento da populao e a sua desordenada

    concentrao urbana, as dificuldades de interao entre os indivduos so cada vez maiores, Sendo as

    interaes cada vez mais impessoais, aqueles fatores que mantm as pequenas sociedades coesas, tais

    como amizade, respeito e considerao, desaparecem, dando lugar a sentimentos de desconfiana,

    competio e agressividade. H que acrescentar, tambm, os efeitos do progresso tecnolgico -

    velocidade e complexidade - sobre as relaes sociais modernas, gerando novos procedimentos legais -

    divorciados de significado moral para as pessoas - que somente mtodos formais de controle podem

    garantir o seu cumprimento.

    Sendo assim, fcilentendermos porque JOS CRETELLA JNIOR (1985, p.53), invocando

    RAFAEL BIELSA, afirma que A idia de Estado inseparvel da idia de polcia. E o poder de

    polcia o fundamento da ao da policia.

    Nesse sentido, BISMAEL BATISTA MORAES, citado por LVARO LAZZARINNI

    (1985, p.56), advertindo para a importncia da organizao social a partir da premissa de que no h

    sociedade sem polcia, alerta que no h forma de Estado no mundo, por mais atrasada ou

    desenvolvida que seja, onde no exista a instituio policial, no sentido comum que todos

    conhecem.

    Ordem e Segurana

    Expondo sobre o tema A Segurana Pblica na Constituio, DIOGO DE FIGUEIREDO

    MOREIRA NETO (1992, p.6) lixou os seguintes conceitos:

    A ordem uma idia esttica. uma situao. A segurana uma

    idia dinmica. uma atividade. A segurana existe para evitar o

    comprometimento da ordem.

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    Mais adiante, ainda versando sobre ordem e segurana, em sintonia com o texto constitucional,

    o mestre refere-se s qualificaes poltica e pblica:

    Quando a ordem se refere a toda organizao poltica de uma

    sociedade, temos a ordem poltica. Em conseqncia, quando a

    segurana se refere garantia de ioda ordem poltica de uma

    sociedade, temos a segurana poltica. Quando a ordem se refere a

    toda a organizao da convivncia pblica de uma sociedade, temos

    a ordem pblica. Em conseqncia, quando a segurana se refere

    garantia da ordem pblica de uma sociedade, temos a segurana

    pblica. Sinteticamente e em concluso: a segurana poltica a

    garantia da ordem poltica, enquanto a segurana pblica c agarantia da ordem pblica. Entre ambas h, respectivamente, uma

    relao do geral para o particular. A ordem poltica um plus com

    relao ordem pblica. (p. 06).

    luz dessa inteligncia, o notvel administrativista entende que, tomando por base a relao de

    continncia e dependncia entre a especial e a geral a ordem poltica exige a ordem pblica, assim como, a

    segurana poltica no prescinde de segurana pblica. Em ambos os casos no h reciprocidade.

    Existe, afinal, um sentido sistmico expresso na Carta de 1988. Essa categorizao,

    distinguindo a ordem e a segurana, bem assim, o poltico e o pblico, pode ser clarificada da seguinte

    maneira, conforme ensina o mestre DIOGO DE FIGUEIREDO (1992. p. 6):

    Um grave comprometimento da ordem pblica pode tornar-se um

    comprometimento da ordem poltica, determinando que atividade

    de segurana pblica que ordinria, se suceda a atividade de

    segurana poltica que extraordinria.

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    Ordem Poltica e Segurana Poltica

    Toda sociedade politicamente organizada tem uma ordem poltica. Contudo, somente no Estado

    de Direito esse preceito encontra-se predefinido em lei.

    No Brasil, a ordem poltica escolhida pela sociedade - o Estado de Direito - est fundamentada

    no Art. 1 da Constituio da Repblica. E como a opo pela ordem poltica vigente traduziu a

    vontade consensual da sociedade, referendado por um processo democrtico, h que consider-la no

    apenas sob a tica da legalidade mas, tambm, da legitimidade. Por isso, a expresso Estado

    Democrtico de Direito.

    Considerando que a segurana poltica est contida na ordem poltica, sendo, ainda, a sua

    garantia, deve igualmente submeter-se s mesmas condicionantes:ser legal e legtima.

    A Constituio de 1988 trata da segurana pblica em dois nveis: o individual e o coletivo. O

    individual diz respeito pessoa que infringe a ordem poltica, estando assim assentado no Art. 144, 1,

    inciso I, da nova Carta. Quanto ao coletivo, esse se refere s situaes que caracterizam a ruptura da

    ordem poltica, estando estampado nos Art. 136, 137, 138 e 139 daquele Diploma Maior.

    No primeiro caso, para o problema individual - segurana pblica sem alterao da ordem

    jurdica - a Constituio prescreve um tratamento pessoal ordinrio.No segundo caso, para o problema

    coletivo - quando a ordem jurdica objeto de alterao - prescreve tratamentos coletivos

    extraordinrios como o estado de defesa e o estado de stio.

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    Ordem Pblica e Segurana Publica

    A atual Constituio Federal trata da ordem pblica nos seguintes momentos

    No Art 34, III, quando estabelece as hipteses de interveno daUnio, nos Estados e no Distrito Federal; no Art. 136, quando

    se refere ao estado de defesa; no Art. 137, I, quando se refere aoestado de stio, aps a ineficcia do estado de defesa; no Art. 144,caput, ao defini-la como objeto da segurana pblica; e, no Art.144, 5, ao atribuir sua preservao genrica s Policias

    Militares.

    Para adequar a ordem pblica s hipteses supra elencadas, DIOGO DE FIGUEIREDO

    (1992, p.7) traou o seguinte conceito:

    Ordem Publica uma situao de convivncia pacfica eharmoniosa da populao, fundada nos princpios ticosvigentes na sociedade.

    Surge, ento, um novo referencial alm dos j identificados: legal e legtimo. Ao dizer fundada

    nos princpios ticos vigentes na sociedade, observa-se a exigncia da ordem pblica quanto ao

    aspecto moral, devendo portanto, alm de legal e legtima ser moral Da mesma forma, segurana

    pblica - garantia da ordem pblica - impe-se idnticas condicionantes: deve ser legal legtima e

    moral.

    Para prover essa garantia a Constituio de 1988 inovou, definindo um sistema de segurana

    pblica com seus os rgos integrantes (Art. 144, I V) c as respectivas funes (Art 144, 1o ao 5).

    Tal incremento, pela primeira vez, estabeleceu sem margem de dvidas, a responsabilidade do Estado

    como detentor do poder-dever da prestao da atividade de segurana pblica, atravs desses rgos.

    Importa ainda ressaltar, que a referida disposio constitucional foi taxativa em relao definio

    dos rgos integrantes do sistema de segurana pblica, dedicando um pargrafo a cada um deles,

    afastando as possibilidades de erros de interpretaes, alis como muitas unidades federadas insistem,

    defendendo a expanso daquelas atribuies outras Instituies, como o caso das guardas municipais.

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    H de se entender que fosse essa a vontade do legislador constituinte, esses organismos estariam

    cunhados num sexto inciso do Art. 144.

    Nveis de Segurana

    Considerando a natureza jurdica e os rgos de atuao, o Sistema de Segurana Pblica

    pode ser analisado em diferentes nveis. H que se fazer, entretanto, a necessria distino entre o nvel

    policial e o nvel judicial, bem como, entre o nvel policial e o nvel poltico, no contexto da segurana

    pblica.

    Segundo o dizer de DIOGO DE FIGUEIREDO (1992, p. 8):

    O nvel policial vale-se do poder de polcia do Estado e se perfaz

    por rgos da Administrao Pblica: (1) a policia

    administrativa da ordem pblica a que realiza a preveno e a

    represso imediata, aluando a nvel individual ou coletivo; (2) a

    polcia judiciria a que apura as infraes pessoais e auxilia oPoder Judicirio, realizando a represso mediata, atuando a nvel

    individual.

    O nvel judicial detm o monoplio do poder punitivo do Estado e se realiza pelos rgos do

    Poder Judicirio, aplicando sanes penais contra os infratores, na defesa mediata c individual da

    ordem pblica,

    No nvel policial - atuao administrativa da segurana pblica - a preservao e o

    restabelecimento da ordem pblica o objetivo a ser atingido imediatamente (a cargo das Policias

    Militares).

    No nvel policial - atuao da polcia judiciria - e nonvel judicial, a represso do infrator da

    ordem pblica o objetivo imediato a ser alcanado, porm, mediatamente sua preservao e/ou

    restabelecimento (a cargo das Polcias Civis e do Poder Judicirio).

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    Relativamente distino entre o nvel policial e o nvel poltico da segurana pblica, o

    primeiro tem por objetivo a preservao da ordem pblica acrescido da incolumidade das

    pessoas e do patrimnio, conforme prescreve o Art. 144 da Constituio Federal, o que est

    perfeitamente adequado ao conceito de ordem pblica quando prev a convivncia pacfica e

    harmoniosa da populao.

    Quanto ao nvel poltico, a segurana pblica vai alm da ordem pblica, seu objetivo e a

    ordem poltica, como se infere do Art. 136, caput, onde a ordem pblica esta condicionada defesa

    do estado e das instituies democrticas. Nesse caso, o objetivo deixa de ser a ordem pblica, cuja

    preservao diz respeito s funes policiais ordinrias (Art. 144), mas sim ordem poltica, cujo

    tratamento a Constituio da Repblica prev funes de carter extraordinrio (Art 136, 4 ao 7,

    Art. 137, caput, e Art 138).

    de notar que os nveis policial e poltico esto contemplados no texto constitucional da

    seguinte forma: o Captulo III est dedicado especificamente ordem publica c os Captulos I e II

    ordem poltica.

    Na anlise de DIOGO DE FIGUEIREDO (1992, p.9) essa organizao tem a seguinte

    importncia:

    Esse tratamento da ordem pblica em dois nveis constitucionaistem um sentido prtico-operativo e permite adequar o emprego

    do poder coercitivo do Estado conforme a intensidade da ameaade violao ou da violao a que a ordem pblica esteja sujeita,

    com ou sem repercusso na competncia federativa ou com ousem alterao na ordem jurdica ordinria.

    Preservao e Restabelecimento Poltico da Ordem Pblica

    No texto constitucional h duas hipteses de preservao e restabelecimento poltico da

    ordem pblica: a do estado de defesa c a do estado de stio.

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    Em ambas as situaes, a atuao do Estado se processa atravs da Unio, e tem por

    objetivo a preservao e o pronto restabelecimento da ordem pblica e da paz social. As medidas a

    serem adotadas dizem respeito aos altos rgos federais e se submetem a aprovao do Congresso

    Nacional, uma vez que tais medidas possuem carter excepcional c interferem na ordem jurdica

    ordinria, pois restringem direitos e garantias individuais.

    Preservao e Restabelecimento Policial da Ordem Pblica

    A atuao policial constitui a conduta normal e ordinria de preservao c restabelecimento

    da ordem pblica, isto , circunscreve-se atuao dos rgos policiais dos Estados Membros e do

    Distrito Federal, desde que, c claro, o quadro situacional no se contenha dentro do conceito de ordem

    poltica.

    Contudo, cumpre salientar que a atuao policial conforme a ordem jurdica ordinria no se

    esgota to somente na competncia das Unidades Federativas c do Distrito Federal, pois, na

    ocorrncia da hiptese prevista no Art. 34, III, da Constituio Federal (interveno), a Unio poder

    atuar com as suas prprias Foras (Titulo V, Captulo II, Art. I 42, Das Foras Armadas).

    Muito embora o aludido dispositivo legal trate de uma hiptese excepcional e especfica de

    interveno, as aes a serem desenvolvidas sero de segurana pblica e no poltica, em

    continuidade e reforo s que j vinham sendo realizadas pelos Estados ou Distrito Federal, observada

    sempre a ordem jurdica ordinria: o que varia o grau fsico de atuao, mas no a sua natureza

    jurdica.

    Se, ainda assim, perdurar a ameaa, ou seja, as aes policiais no surtirem os efeitos

    dissuasrios necessrios, estar configurado, ento, a hiptese de preservao e restabelecimento

    poltico da ordem pblica. Neste caso, h de variar a ordem jurdica da atuao estatal.

    Preservao e Restabelecimento Policial-Militar da Ordem Pblica

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    Trata-se de uma competncia especial prevista no texto constitucional (Art. 144, 5) e

    pode ser entendida como remanescente da competncia especfica dos demais rgos policiais do

    Estado ou do Distrito Federal.

    Para clarificar, em se tratando de atuao policial de preservao c restabelecimento da

    ordem pblica frente situao que no se enquadra na competncia constitucional da polcia federal

    (Art. 144, I), da polcia rodoviria federal (Art. 144, II), da polcia ferroviria federal (Art. 144, III), da

    polcia civil (Art. 144, IV) e do corpo de bombeiros (Art. 144, 5o), a competncia e da Polcia Militar.

    Vale ainda esclarecer que em relao a policia civil, a sua atuao no direta e imediata, na

    preservao e restabelecimento da ordem pblica, o mesmo acontecendo em relao ao corpo de

    bombeiros, salvo se a legislao especfica venha definir uma atuao conexa defesa civil. Portanto,

    essas atuaes no se confundem com a competncia constitucional de atuao da polcia militar (Art.

    144, 5).

    relevante comentar que a expressopolcia ostensiva no est divorciada da idia de

    preservao da ordem pblica, como se fossem atividades distintas; muito ao contrrio, a ela se

    destina pela ao dissuasria da presena do policial fardado. Tem por objeto estabelecer a

    exclusividade constitucional das polcias militares nesse mister, pois a expresso preservao da

    ordem pblica est mencionada no prprio caput do Art. 144, e, portanto, a competncia extensiva a

    todos os rgos ali elencados, enquanto que apreservao da ordem publica pela polcia ostensiva,

    esta cabe to somente polcia militar.

    Por derradeiro, a fim de no ensejar dvidas, fundamental explicar que

    inobstante osentido preventivo da palavra preservao, a responsabilidade pela represso, enquanto

    o problema estiver contido no nvel policial cabe aos rgos encarregados da preservao. Note-se a,

    que o legislador constituinte deu preservao entendimento suficientemente elstico para abranger a

    ao repressiva, desde que imediata. Da, a ausncia da palavra restabelecimento no dispositivo

    constitucional. Com essa tica, muitos autores tm preferido utilizar a palavra manuteno,buscando

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    a sntese das duas idias - preservao e represso -o que explica a expresso policia de

    manuteno da ordem pblica.

    A Polcia Militar e os Distrbios Civis

    De acordo com o Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa (1986, p.484) o vocbulo

    distrbio significa: ato de disturbar, perturbao. A mesma obra, d ao vocbulo civil, entre outros,

    os seguintes significados: que no tem carter militar nem eclesistico, indivduo no militar, paisano (p.

    333).

    Tomando-se apenas essa breve anlise semntica, h de se entender, sem a mnima margem

    de erro, a indiscutvel origem militar da expresso distrbio civil, em que o termo civil se contrape

    diretamente ao militar.

    Essa expresso, adotada pelo Exrcito Brasileiro, foi imposta s polcias militares face a

    sua histrica vinculao quela fora terrestre, que ainda perdura nos dias atuais.

    A expresso encontrada no Manual de Campanha do Exrcito Brasileiro (EB), C

    19-15, Distrbios civis e Calamidades Pblicas, aprovado pela Portaria n 148 - EME, de 29 de

    agosto de 1973, que tambm revogou publicao anterior, de mesma designao, aprovada

    pela Portaria n 60, de 08 de janeiro de 1964. Datas que remetem ao perodo agudo do

    Movimento Revolucionrio ps 64. Contudo, no consta do Manual EB C 20-320. Glossrio

    de Termos e Expresses para uso no Exrcito, publicao posterior, aprovada pela Portaria n

    087 - EME, de 06 de dezembro de 1977.

    O C 19-15 d o seguinte conceito de distrbio civil:

    Manifestao de atos de violncia dentro do pas, resultantes

    de uma situao de inquietao ou tenso civil, prejudicial

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    manuteno da lei e da ordem. Poder provir da ao de

    uma turba ou iniciar-se de um tumulto.

    O manual C 19-15 contm em seu bojo conceitos bsicos, princpios gerais,

    processos e normas de comportamento que sistematizam as atividades do Exrcito como

    Fora Armada da Nao, tratando-se, portanto, de um instrumento de difuso de doutrina

    militar, mais precisamente, de doutrina militar terrestre.

    Por razes histricas e, tambm, por fora da legislao - como j visto anteriormente -

    a Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) foi plasmada sob essa mesma orientaodoutrinria - prpria do Exrcito Brasileiro - visando prevalentemente seu emprego como

    fora auxiliar, reserva daquela fora militar terrestre. Essa formao foi solidamente

    sedimentada ao longo do tempo, da a dificuldade que atualmente ainda se observa nas Polcias Militares,

    em relao s condutas preventivas, sendo-lhes muito mais fcil assimilar as condutas repressivas.

    Sem dvida, trata-se de um fator cultural de grande influncia no desenvolvimento dessas

    Corporaes, herana dessa longa experincia sob a gide do Exrcito e que, ainda nos tempos aluais, se

    faz presente obstando a elaborao e implantao de uma doutrina prpria, adequada sua verdadeira

    vocao de servir e proteger a sociedade.

    importante destacar que o referido manual tem como finalidade servir como guia para a

    instruo e o emprego das Foras do Exrcito no controle e na represso de distrbios, isto ,

    orientaes para o emprego de Organizaes Militares no que o Exercito chama de Operao tipo

    Polcia.

    Atualmente, tal documento tornou-se inadequado e no tem aplicao direta nas atividades

    da polcia democrtica, uma vez que suas orientaes so essencialmente de natureza repressiva.

    No que a Polcia Militar esteja impedida da represso. Como j foi exposto, compete Polcia militar

    a polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica, estatuiu a embutida a atividade de represso ou

    restabelecimento, apesar da conotao preventiva a que o texto constitucional induz.

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    Depois, o referido manual voltado quase que especificamente para as aes de tumultos

    inseridas no contexto da Defesa interna. Embora as tcnicas repressivas ali defendidas se apliquem a

    qualquer tipo de tumulto, aquele documento se destina ao emprego essencialmente militar, e como no

    podia ser diferente, omisso em relao possibilidade de emprego de tropa face tumulto envolvendo

    a multido de umshow artstico ou de umgrande evento esportivo,por exemplo.

    O profissional de segurana pblica sabe que os tumultos podem ocorrer em vrias outras

    circunstncias, descritas pela psicologia-social como comportamento coletivo: pnico, motins,

    rebelies, histerias coletivas etc. possvel que se verifique, em qualquer hora e local, uma ao de

    tumulto, basta que exista um conjunto de pessoas e certas condies sejam proporcionadas.

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    O Regulamento para as Policias Militares e Corpos de Bombeiros - R-200, em seu Art. 2o, n

    27, conceitua Policiamento Ostensivo:

    Ao policial, exclusiva das Policias Militares, em cujo em-

    prego o homem ou a frao de tropa engajados sejam

    identificados de relance, quer pela farda, quer pelo

    equipamento, ou viatura, objetivando a manuteno da ordem

    pblica.

    Continuando, o mesmo n 27 acrescenta:

    So tipos de policiamento, a cargo das Polcias Militares,reservadas as misses peculiares das Foras Armadas, os

    seguintes:Ostensivo Geral, urbano ou rural;

    De Trnsito;Florestal e de mananciais;Rodovirio e ferrovirio, nas estradas estaduais;

    Porturio;Pluvial e lacustreDe Radiopatrulha, terrestre e areo;De segurana externa dos estabelecimentos penais do

    Estado; eOutros, fixados em legislao da Unidade Federativa,

    ouvindo o Estado-Maior do Exrcito atravs da InspetoriaGeral das Polcias Militares - (IGPM).

    O Manual Bsico do Policiamento Ostensivo, distribudo pela IGPM, trazem seu bojo os

    conceitos do R-200 dando uma conotao mais tcnica aos termos e enuncia o seguinte sobre

    Policiamento Ostensivo:

    a atividade de manuteno da ordem pblica executada

    com exclusividade pela Policia Militar; observando

    caractersticas, princpios e variveis prprias, visando a

    tranqilidade pblica.

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    Ambos os conceitos, ou se complementando ou se superpondo, no deixam dvidas sobre

    o que compete Policia Militar fazer face manuteno da ordem pblica, ou sua preservao,

    pela atuao ostensiva.

    O aludido Manual Bsico, no seu Art. VI, define o Policiamento Ostensivo Geral com o

    seguinte enunciado:

    Tipo de policiamento Ostensivo que visa a satisfazer as

    necessidades basilares de segurana, inerentes a qualquer

    comunidade ou a qualquer pessoa(p. 9).

    Isso quer dizer proporcionar ao cidado e comunidade de forma objetiva e concreta,

    preventiva ou repressivamente, a sensao de que sua vida, seu patrimnio e seus hbitos esto

    protegidos e garantidos.

    Entretanto, analisando os conceitos atribudos a cada um dos tipos de policiamento

    ostensivo elencados pelo R-200, nenhum deles se coaduna com essa proteo e garantia era se

    tratando dos efeitos decorrentes de aes de tumultos. Acrescente-se a isso, a dificuldade que as

    Polcias Militares tm, atualmente, de manterem pelo menos um elemento de valor peloto

    aquartelado e adestrado, para pronto emprego em aes de controle e represso de aes de

    tumultos.

    A Inspetoria Geral das Polcias Militares atravs da Portaria IGPM n 027/77 deu a

    seguinte orientao a respeito da organizao de Unidades de Choque:

    As Unidades de Choque, especialmente instrudas e treinadas

    para misses de contraguerrilha urbana e rural e outras misses

    repressivas, so unidades aquarteladas. Em face da natural

    eventualidade de seu emprego, tornam-se anti-econmicas e

    tendem ociosidade. Somente se justifica sua organizao,portanto, em reas sujeitas a agitaes, como de regra, nas

    grandes cidades ou reas crticas do interior.

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    Ainda citando o Manual Bsico da IGPM, encontramos a seguinte conceituao para

    Segurana Pblica:

    a garantia que o Estado proporciona nao, afim deassegurar a Ordem Pblica, contra violaes de toda a

    espcie, que no contenham conotao ideolgica.

    Isso leva ao entendimento que atuar face distrbios com origem, conduta ou conseqncias

    no inseridas no campo da Defesa Interna, estaria perfeitamente adequado quele enunciado.

    Por outro lado, e ainda apoiado na legislao bsica das polcias militares, o Decreto-Lei

    n 2010, de 12 de janeiro de 1983, que alterou o Decreto-Lei n 667/69, nas alneas "b" e "c", do

    Art. 3, diz textualmente:

    b) atuar de maneira preventiva, como fora de dissuaso,em locais ou reas especficas, onde se presuma ser possvela perturbao da ordem;c) atuar de maneira repressiva, em casos de perturbao da

    ordem, precedendo o eventual emprego das Foras Arma-das:

    H de se entender, tambm, que no primeiro caso o dispositivo no exclui Polcia

    Militar atuar face distrbios inseridos no contexto da Defesa Interna. Muito ao contrrio, atribu-

    lhe essa obrigao, como explicitado no caso seguinte. Convm acrescentar, para afastar dvida,

    que tais aes apesar de se situarem no campo da segurana pblica, so desenvolvidas com vistas

    segurana interna.

    Ao empregar o termo dissuaso, o legislador evidencia a atuao da polcia militar como

    elemento de preveno, capaz de evitar a ocorrncia de tumulto ou turba, inclusive as decorrentes de

    calamidade pblica, qualquer que seja a sua natureza, origem, amplitude, potencial e vulto (R-

    200, p.2), quando presuma-se o comprometimento da Ordem Pblica.

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    Partindo dessa premissa, de que compete Polcia Militar prevalentemente prevenir,

    indispensvel saber reconhecer o que prevenir, ter a conscincia de quando prevenir e, com preciso,

    como prevenir; sem perder, claro, o condicionamento necessrio capacidade de reprimir.

    Para tal, h que se firmar doutrina nesse sentido, buscando-se atravs do conhecimento

    novas formas de atuao nesse mister - preventiva ou repressiva - mas, sempre com observncia s

    condicionantes; legal, legtima e moral.

    Aos profissionais de segurana pblica cabe a reviso e a adequao das normas

    operacionais sempre considerando o cenrio e o contexto em que se vai atuar. s noes bsicas

    sobre controle de tumultos esto inegavelmente defasadas para fazer frente nova realidade

    scio-poltica que ora vivenciamos. As notcias do mundo, e do prprio Brasil mostram com grande

    freqncia os confrontos de rua entre policiais e manifestantes.

    Na verdade, a multido coloca-se, agora, no primeiro plano da vida social, mormente nos

    grandes centros urbanos, instalando-se nas praas, nas avenidas, nas reas de lazer, a favor ou

    contra as autoridades, ora dcil, ora arrogante, ora violenta e brutal, expressando suas frustraes

    mediante a ao de massa, que vai desde uma manifestao pacfica at os distrbios. No raro, l-se

    ou escuta-se notcias sobre pequenas desordens que pela ao de uma centelha transformam-se em

    tumultos e, at mesmo, distrbios. Muitas das vezes, uma infeliz interveno da polcia, pode gerar

    essa centelha.

    As multides explodem por efeito de uma palavra, de um gesto, de uma emoo,

    de um disparo de arma, de um grito, que se propaga e aumenta de intensidade na razo direta do

    nmero de pessoas que ocasionalmente as compem. Os partcipes so influenciados mais pelo

    contgio, pela sugesto pela imitao ou pelo medo. Impelidos pela ao, na maioria das vezes

    nefasta, e ocultos no anonimato, indivduos at ento honestos e ordeiros, praticam vandalismos, e

    at mesmo, crimes, unidos por uma solidariedade de ocasio.

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    Esse o campo de conhecimento da Psicologia-Social, que no se pretende adentrar e

    sim tangenciar, face o propsito do presente estudo. Ramo de uma cincia de grande complexidade,

    investiga a questo de acordo com as leis da imitao, a origem da multanimidade das grandes massas

    humanas, quando excitadas.

    Violncia gera violncia e violncia se combate com energia, so frases de uso popular

    que, entretanto, no caso vertente, podem ser tomadas como premissas bsicas para a escolha

    do rumo a seguir. Optando-se pela primeira, no h muito o que mudar, ou inventar, j existe o

    C 19-15 e todo um caldo de cultura repressiva. A segunda, esta a exigir uma diretriz de emprego,

    com novas tcnicas e tticas, equipamentos em geral, treinamento e adestramento, e o mais

    importante, uma nova mentalidade.

    A Polcia Militar vive uma nova realidade. Houve um tempo em que a Corporao era

    um Exrcito Estadual, aquartelada, voltada para o seu adestramento, porm, como fora de

    combate e tendo como referencial o seu passado histrico de glrias em diversas campanhas.

    A realidade social, entretanto dinmica. O fenmeno da urbanizao acelerada alterou

    significativamente os padres da sociedade brasileira, em especial nas grandes cidades. Os

    problemas urbanos, em particular, o crescimento dos ndices de criminalidade e de violncia,

    convocaram a Polcia Militar para o reencontro com a sua vocao primeira de mantenedora da

    Ordem Pblica.

    Todavia, o quadro social encontrado difere muito daquele de uma sociedade pacata. Alm

    dos fenmenos da criminalidade e da violncia exacerbada, a PM foi chamada defesa social contra

    novos tipos de ameaas, prprios do momento contemporneo. Dessa forma suas atribuies e

    responsabilidades foram ampliadas e, atualmente, constatamos sua estrutura esgarada para fazer

    face aos crescentes anseios de segurana da sociedade.

    A Policia Militar, alm da preveno e represso da criminalidade comum, envolveu-se com

    questes sociais at ento estranhas sua rotina, e assim, cada vez mais, viu sua atuao crescer no

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    campo da assistncia pblica complementando ou mesmo substituindo a outros rgos da

    administrao pblica.

    O crescimento urbano desordenado e muitos outros fatores sociais de influncia, fez

    recrudescer a criminalidade e a violncia, e na mesma proporo as demandas por segurana. As

    presses polticas, no h negar, exercem sua fora sobre as diretrizes de emprego da polcia e

    geralmente, a velocidade das respostas privilegiam a soluo quantidade, a curto prazo, em detrimento

    da soluo qualidade, a mdio e longo prazo. Haja efetivos!

    H que recordar o tempo em que as UOp/PM mantinham reservas tticas aquarteladas para

    pronto emprego: Fora de Prontido ou Fora de Choque.

    Retroagindo no tempo, em 03 de junho de 1987 o Estado-Maior da PMERJ, atravs da

    sua 3a Seo, editou a Nota de Instruo (NI) n 008/87 que orientava quanto ao Emprego de

    Foras de Choque das Unidades. Tinha por finalidade estabelecer condies de emprego das

    Foras de Choque, objetivando dinamizar o Policiamento Ostensivo Complementar (POC) e o

    Policiamento Ostensivo Extraordinrio (POE) e, em conseqncia aliviar a sobrecarga do

    Policiamento Ostensivo Ordinrio (POO).

    V-se nitidamente um processo de descaracterizao das Foras de Choque - anti-

    econmicas e ociosas - que seriam empregadas em outros tipos de policiamento, com

    outras tcnicas, outras tticas, outras condutas e outras instrues, alm, claro, das misses

    de controle de distrbios que lhes eram peculiares. As UOp, a partir de ento, contariam

    com efetivos enquadrados cm Foras de Choque, especializados em generalidades.

    Em 05 de novembro de 1990, O Estado-Maior editou uma outra Nota de Instruo, a

    de n 006/90, que revogou a supracitada de n 008/87. nova NI praticamente cm nada

    alterava a anterior revogada, a exceo da denominao Fora de Choque que passava a

    chamar-se Fora de Apoio Ttico (FAT). s FAT, igualmente foi atribuda a execuo de

    diversos tipos de policiamento, tambm seria uma frao bastante ecltica.

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    A NI n 006/90 teve vida curta sendo revogada poucos meses depois pelo Boletim

    da PM n 24, de 19 de abril de 1991, que tambm determinou a utilizao dos efetivos das

    FAT na atividade-fim e, curiosamente, nada criou para ocupar o espao daquela foras. Na

    PM, ento, nem Fora de Choque, nem Fora de Apoio Ttico.

    Essa situao perdurou at 01 de fevereiro de 1995, quando o Estado-Maior

    ressuscitou a FAT atravs da NI n 002/95, que as organizava por Regio de Policiamento, mas

    direcionadas para o emprego em diversos tipos de policiamento e operaes PM e, muito

    timidamente, para emprego em CDC,

    Logo a seguir, em 30 de maio de 1995, o Estado-Maior tambm editou a Diretriz

    de Planejamento Reservada n 002/95 criando os Grupamentos de Polcia de Choque (GPC),

    com mltiplas misses de policiamento, inclusive o CDC, sem, contudo, revogar ou alterar

    a NI n 002/95 que trata das FAT.

    Essa abordagem, aparentemente, pode no ter relao direta com o estudo ora

    realizado e delimitado ao BPChq. Entretanto, h o que deduzir no que se refere ao tratamento

    dado pelo Estado-Maior da Corporao a questo das reservas tticas das UOp,

    descaracterizando-as pelo seu emprego diversificado na atividade-fim. Essa diretriz de

    emprego tambm atingiu o BPChq que passou a executar, de forma rotineira, diversas

    misses de policiamento estranhas sua destinao precpua.

    O GPC eo PATAMO, por exemplo, constituem tipos de policiamento de choque,

    mas suas misses no se confundem com a misso do BPChq no CDC. Seus integrantes

    atuam em apoio ao policiamento ostensivo geral segundo uma diretriz operacional, instruo,

    armamento e equipamento prprios, mas diverso daquele que seria necessrio tropa do

    BPChq quando empregada em misses de CDC. Os integrantes do PATAMO possuem

    procedimentos de atuao isolada, incompatveis com a ao comandada e conjunta que se

    espera da tropa do BPChq, que atua com procedimentos e conduta diversa. No h que se

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    enganar: essas fraes tticas no se prestam s aes de CDC e a recproca tambm

    verdadeira.

    Os rgos responsveis, no mundo inteiro, pela funo de polcia administrativa da

    ordem pblica, que realiza a preveno e a represso imediata, tm se preocupado com a

    forte incidncia das aes tumulturias, tendo alguns, como os principais pases da Europa e do

    Oriente, alm de manter Unidades Especializadas de Polcia de Choque altamente adestradas,

    desenvolvendo equipamentos e tcnicas sofisticados para tais fins.

    O Batalho de Policia de Choque

    e o

    Controle de Distrbios Civis

    O Batalho de Polcia de Choque teve como origem o Peloto Motorizado, criado

    em 13 de fevereiro de 1941. Pelo Decreto-Lei n 5.908, de 13 de setembro de 1941, foi criada

    a Companhia de Metralhadoras Motorizada (CMM), sendo instalada em 02 de outubro de1943, com o aproveitamento do Peloto de Metralhadoras. Baseado na Lei n 263 de

    dezembro de 1962, o Governador do antigo Estado da Guanabara, atravs do Decreto n

    30, de 16 de julho de 1963, transformou a CMM em Batalho Motorizado e em 24 de

    julho de 1968, passou a denominar-se Batalho de Choque (BC). Pelo Decreto "E" n 5.078,

    de 30 de setembro de 1971, foi criado o Regimento de Choque, resultante da fuso do 1

    Regimento de Cavalaria com o Batalho de Choque. Face necessidade de execuo do

    Decreto-Lei n 92, de 06 de maio de 1975, que disps sobre a competncia e a Organizao

    Bsica da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, aps a fuso das Polcias Militares dos

    antigos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, o Regimento de Choque foi transformado

    no atual Batalho de Polcia de Choque.

    O 2, do Art. 36 do Decreto-Lei n 092, Lei da Organizao Bsica da

    PMERJ (LOB), tem o seguinte enunciado:

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    O Comandante-Geral da Polcia Militar ter como

    fora de reao, no mnimo, um Batalho de Polcia de

    Choque (BPChq) especialmente instrudo e treinado

    para as misses de contraguerrilha urbana e rural o qual

    ser usado, tambm, em outras misses de

    policiamento.

    Com a criao do Batalho de Operaes Especiais (BOPE), atravs do

    Decreto n 16.374, de 1o de maro de 1991, as misses de contraguerrilha urbana e rural

    foram atribudas quela UOpE.

    Alm do que consta na LOB e no seu Plano de Atuao, nada mais existe

    regulando o emprego operacional do BPChq. De acordo com o seu Plano de Atuao, a

    misso esta assim definida:

    O BPChq, unidade Especial e reserva ttica do

    Comandante Geral, uma Unidade Operacional

    Especial (UOpE) subordinada ao Comando UOpE, comatuao em toda rea do Estado do Rio de Janeiro, de

    acordo com as situaes previstas na legislao em vigor

    visando a Segurana Pblica e a Defesa Interna e

    Territorial, tendo em vista a misso constitucional da

    Corporao. Sua tropa equipada e adestrada

    permanentemente para ser empregada como fora de

    reao em substituio s foras de Choques das UOp,

    no controle de Distrbios Civis, em complementao a

    operaes policiais militares das UOp e UOpE, bem como

    no Policiamento Ostensivo Extraordinrio (POE), em

    grandes eventos, aps se tornarem incapazes ou forem

    insuficientes para o controle da situao tem como

    atividade principal a constante realizao de instrues

    especficas visando o aperfeioamento tcnico da tropa

    para o seu emprego imediato. O BPChq ser empregado

    prioritariamente no controle de tumulto de toda ordem,

    devendo as misses rotineiras, se preciso for, serem

    suspensas, visando assim, a recuperao dos es foros

    para uso na ao de restabelecimento da ordem.

  • 5/24/2018 o Emprego Do Armamento, Munio e Explosivos Na Segurana Pblica

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    Para cumprir todas as misses que lhe esto afetas o BPChq conta, atualmente, com

    um efetivo de 476 policiais militares, de um total previsto de 1.034.

    Alm dos diversos tipos de apoio s Unidades Operacionais, o BPChq

    executa escolta de valores do Banco Central, escolta de dignitrios com batedores, escolta

    de elementos combustveis, policiamento da Flumitrens, segurana do Gabinete do Comando

    Geral, guardas do Museu da PM e do Hospital Central da PM, Custdias de presos no

    HCPM, policiamento no DETRAN, escolta de presos militares da PM, audincias e

    julgamentos de grande repercusso e segurana da carceragem do aquartelamento.

    Atualmente, para pronto emprego em CDC, dispe de uma Fora de Choque

    com um efetivo mdio de 30 PM/dia, com servio de 24 horas. A sua reserva constituda do

    pessoal da atividade-meio que cumpre regime de expediente. Esta mesma Fora de Choque

    de prontido, e empregada, durante o servio, em diversas misses de policiamento em apoio

    s UOp, cerco e ocupao de favelas e morros, operao praia, e grandes eventos artsticos c

    esportivos

  • 5/24/2018 o Emprego Do Armamento, Munio e Explosivos Na Segurana Pblica

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    O Material Blico Empregado Pelo BPChq

    no Controle de Distrbios de Civis

    Atualmente o BPChq conta com os seguintes armamentos, munies e explosivo para

    emprego especfico em misses de CDC:

    Armamento Convencional

    Basto Policial tipo TC

    Cassetete Eltrico

    Revlver cal 38

    Pistola cal 9 mm

    Espingarda cal 12

    Fuzil cal 7.62 mm

    Submetralhadora cal 9 mm

    Armamento para Lanamento de Agentes Qumicos

    Espingarda True Flyt cal 38.1 mm

    Espingarda Riot Gun cal 12

    Cassetete lana-gs cal 12

    Gerador de fumaa Pepper-Fog

    Munies, Agentes qumicos e Explosivos

    Granada de Mo LAC CS GL 302

    Granada de Mo LAC CN M3Granada de Mo LAC CN M5

    Granada de Mo Fumgena 601

    Cartucho de Longo Alcance cal 38.1 mm

    Cartucho de Plstico cal 12

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    Explosivo

    Granada de Mo EF Moral 304

    O armamento supradescrito, pelas suas peculiaridades em misses de CDC, pode

    ser dividido conforme as seguintes destinaes: As armas individuais so as que visam dar

    proteo a cada componente da tropa (basto policial TC e eltrico, revlver cal 38 e

    pistola cal 9 mm); as de emprego coletivo visam dar proteo adequada a toda tropa, em seus

    deslocamentos ou nas operaes propriamente ditas (submetralhadora 9 mm, fuzil 7.62 mm, e

    espingarda cal 12); as armas de apoio contra