20
131 Ernâni Lampert * RESUMO O ensino com pesquisa, abordado neste artigo, é uma proposta metodológica inovadora e que tem repercussão na qualidade do ensino. Numa primeira instância, o autor localizará e contextualizará a problemática. Durante o discurso, deixará claro que a pesquisa é a principal função da universidade e analisará a sua importância. Fará uma série de inda- gações sobre esta problemática, pois uma das características dos investigadores contemporâneos é o questionamento. Na segunda parte, analisará a pesquisa com ensino como uma das possibilidades metodológicas que o professor da educação superior poderá utilizar. Destacará o significado, a importância, o respaldo teórico, as mudanças que esta metodologia provoca no papel do professor e do aluno. Como culminância, tecerá algumas ponderações para reflexão sobre a realidade, os desafios e perspectivas do ensino com pesquisa na universidade brasileira. Palavras-chave: Ensino com pesquisa. Educação superior. Metodologia do ensino. Pesquisa. O ENSINO COM PESQUISA: REALIDADE, DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA TEACHING WITH RESEARCH: REALITY, CHALLENGES AND PERSPECTIVES IN THE BRAZILIAN UNIVERSITY L’ENSEIGNEMENT AVEC LA RECHERCHE : RÉALITÉ, DÉFIS ET PERSPECTIVES DANS L’UNIVERSITÉ BRÉSILIENNE LA ENSEÑANZA CON INVESTIGACIÓN: REALIDAD, DESAFÍOS Y PERSPECTIVAS EN LA UNIVERSIDAD BRASILEÑA * Doutor (1995) e Pós-Doutor (2001) em Educação pela Universidad Pontifícia de Salamanca, Espanha. Professor Associado da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – RS ([email protected]). Linhas Críticas, Brasília, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

o Ensino Com Pesquisa: Realidade, Desafios e Perspectivas na Universidade Brasileira

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Pesquisa na universidade

Citation preview

  • 131

    Ernni Lampert *

    RESUMO

    O ensino com pesquisa, abordado neste artigo, uma proposta metodolgica inovadora eque tem repercusso na qualidade do ensino. Numa primeira instncia, o autor localizare contextualizar a problemtica. Durante o discurso, deixar claro que a pesquisa aprincipal funo da universidade e analisar a sua importncia. Far uma srie de inda-gaes sobre esta problemtica, pois uma das caractersticas dos investigadores contemporneos o questionamento. Na segunda parte, analisar a pesquisa com ensino como uma daspossibilidades metodolgicas que o professor da educao superior poder utilizar. Destacaro significado, a importncia, o respaldo terico, as mudanas que esta metodologia provoca nopapel do professor e do aluno. Como culminncia, tecer algumas ponderaes para reflexosobre a realidade, os desafios e perspectivas do ensino com pesquisa na universidade brasileira.

    Palavras-chave: Ensino com pesquisa. Educao superior. Metodologia do ensino. Pesquisa.

    O ENSINO COM PESQUISA: REALIDADE,DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA

    UNIVERSIDADE BRASILEIRA

    TEACHING WITH RESEARCH: REALITY, CHALLENGESAND PERSPECTIVES IN THE BRAZILIAN UNIVERSITY

    LENSEIGNEMENT AVEC LA RECHERCHE : RALIT, DFISET PERSPECTIVES DANS LUNIVERSIT BRSILIENNE

    LA ENSEANZA CON INVESTIGACIN: REALIDAD, DESAFOSY PERSPECTIVAS EN LA UNIVERSIDAD BRASILEA

    * Doutor (1995) e Ps-Doutor (2001) em Educao pela Universidad Pontifcia de Salamanca, Espanha.Professor Associado da Fundao Universidade Federal do Rio Grande RS ([email protected]).

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 131

  • 132

    E. Lampert

    CONTEXTUALIZAO DA PROBLEMTICA

    Na universidade brasileira, quer nos cursos de graduao, quer nos programas de ps-graduao, a pesquisa praticamente relegada. H uma preocupao muito acentuadacom o formalismo do ensino (normalmente a reproduo de conhecimentos) em detri-mento da produo do saber. Os currculos dos cursos, na maioria das vezes, so consti-tudos de listagem de disciplinas, com contedos descontextualizados da realidade eentre si, e que no necessariamente propiciam a realizao da investigao. Os profes-sores, com algumas excees, no esto preparados, no possuem as condies apropriadase nem esto predispostos a trabalhar o ensino com e para a pesquisa, pois nem sempre ocurrculo permite e geralmente h uma sobrecarga de trabalho. Dados do InstitutoNacional de Estudos e Estatsticas Educacionais Ansio Teixeira (Inep) (2006) mostramque, em 2005, 74,6% dos docentes com tempo integral estavam nas instituies pblicase somente 16,3% nas instituies particulares. Alm deste fato, no se pode esquecer queh a categoria de professor horista, aquele que somente ministra aulas. Em relao titulao, 40,1% dos doutores exerciam suas atividades em instituies pblicas e 12,3%nos estabelecimentos privados.

    Os discentes, por sua vez, acostumados com o ensino conservador e fragmentado, namaioria das vezes, demonstram certa resistncia a algum cmbio na metodologia deensino. As disciplinas direcionadas pesquisa (Metodologia Cientfica e/ou Mtodose Tcnicas de Pesquisa), questionveis por muitos, pois os contedos deveriam sertrabalhados pelo conjunto dos docentes, geralmente tratam aspectos da lgica e normasda ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas), em vez de mostrar ao discente anecessidade e a importncia da investigao para a vida do cidado, da universidade eda sociedade. Observa-se, pela organizao curricular, pelo despreparo proposital dedocentes, pela sobrecarga do professor, pelo desprovimento de recursos, que h poucointeresse em se difundir a pesquisa, a no ser quando convm a determinados grupose/ou para a manuteno do status quo.

    de conhecimento pblico que a pesquisa pode ser perigosa desvendando, eluci-dando fatos/fenmenos e desmistificando verdades at ento aceitas como universais. Ela de mostrar a realidade sob diferentes olhares: como as pessoas vivem, sobrevivem; soexcludas e colocadas margem de uma sociedade cada vez mais competitiva, cujo nicovalor aceito o lucro. Atravs da pesquisa, a pessoa capaz de perceber claramente asgritantes injustias e diferenas sociais existentes na sociedade brasileira e no mundocapitalista. A pesquisa uma porta que se abre para desvendar o mundo. Ser oportunopara o capital mostrar populao o mundo como ele realmente ou melhor apre-sentar somente alguns recortes?

    Denota-se que, mesmo sem muitas condies de infra-estrutura, entre os pesquisa-dores que aqui se destacam muitos emigram para outros pases (Estados Unidos, Canad,Tigres Asiticos e Europa) onde a investigao cientfica em praticamente todas as

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 132

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    reas do conhecimento humano e o trabalho do pesquisador tm o seu reconhecimento.Infelizmente, no Brasil, salvo particularizaes, nem ensino nem pesquisa so contem-plados. Sabe-se que tudo isso no acontece por acaso. necessrio atribuir essa causa-lidade ao contexto poltico e econmico, atrelado ao interesse do capital, e, na medidado possvel, reverter o quadro. Ao contrrio, em pouco tempo a funo bsica de pesquisadesaparecer da universidade. Certamente alguns pesquisadores sero absorvidos peloprprio sistema e outros tantos ficaro margem, como vem ocorrendo atualmente coma demisso de doutores no ensino superior privado.

    A idia de pesquisa na universidade no recente, e diferentes autores nacionais einternacionais, ao longo do tempo, enfatizam o ensino e a pesquisa como funesessenciais da universidade. Para Herrera Gonzles (1986), a universidade no somenteprepara para a vida profissional, mas tambm tem como misso a investigao, a buscade novas tcnicas, novos produtos e novas aplicaes. Conforme Botey (1988), desdesuas origens, a funo da universidade dupla: investigao e docncia. De acordo comHoffmann (1985), a universidade deve ser organizada e estruturada para a vida modernaa fim de atender s principais funes: a pesquisa (buscando e organizando os conhe-cimentos) e o ensino (distribuindo conhecimentos). No parecer de Tjar Hurtado (1997),a universidade, para desenvolver suas funes, precisa de pesquisa e de ensino. Narealidade, ambas as atribuies se encontram relacionadas e devem enriquecer e oferecerseu fruto sociedade em que est inserida.

    A pesquisa est ou deveria estar em todas as universidades que aspiram a oferecermelhores condies de vida sociedade, pois ela abre novas possibilidades, novos hori-zontes, novas descobertas e novos caminhos, alm de propiciar um ensino comqualidade. Atravs da pesquisa, a universidade se torna universidade, e seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. Para Demo (1990), a atividade principal dauniversidade a pesquisa, e o professor tem a incumbncia de incentivar o aluno paraque ele seja um novo pesquisador, pois, sem investigao, o ensino se reduz reproduo.No parecer de Mosquera, na universidade, a produo do conhecimento pode serentendida como a mais importantes tarefa e objetivo (2006, p. 85).

    O Brasil, fruto de uma confluncia cultural, do descobrimento dcada de 60,sempre esteve atrelado aos interesses polticos e econmicos dos dominadores (portu-gueses, ingleses, norte-americanos, etc) e pouco realizou no campo da investigaocientfica nesse longo perodo. Na rea cientfica, era considerado um pas sem expressono cenrio mundial.

    A partir da Reforma Universitria, fruto dos acordos Usaid/MEC, foi dada nfase pesquisa no Brasil para servir ao mercado internacional. O apoio da Capes, CNPq,Finep, rgos governamentais e das Fundaes de Apoio Pesquisa, possibilitou,principalmente aos professores das universidades federais, financiamento aos projetos depesquisa. Essas investigaes, pelas caractersticas da poca, eram, na grande maioria,

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008 133

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 133

  • 134

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    quantitativas, seguindo o enfoque tradicional. provvel que o Brasil tenha sido o pasque mais cresceu nesse perodo. Castro (1985), referindo-se ao assunto, diz que o quepas tinha de cincia, mesmo aps a Segunda Guerra Mundial, era inexpressivo. Nessesentido, havia as sementes e algumas amostras, mas o crescimento na dcada de 70 foiespetacular. bem provvel que no haja outro pas que tenha alcanado um avano tosignificativo. De 1973 a 1980, a participao do Brasil no ISI praticamente triplicou.

    Cabe indagar: por que o Brasil, em pleno Regime Militar, introduziu a pesquisacomo funo bsica da universidade quando esta foi praticamente banida em todas asuniversidades da Amrica Latina durante as ditaduras? Quais os verdadeiros interessesque estavam subjacentes?

    Na dcada de 80, com a reabertura poltica, o resgate da cultura popular, o interessepelos problemas sociais, econmicos e culturais da sociedade brasileira, os enfoquesalternativos (Dialtica de Marx, Hegel, a Fenomenologia, Pesquisa-ao, a PesquisaParticipativa) surgem como reao ao enfoque tradicional, numa tentativa de contex-tualizar a educao. Conforme Warde (1992), o exame de um nmero significativode trabalhos produzidos nas dcadas de 70 e 80 mostra a permanncia de algumascaractersticas marcantes na literatura educacional que foram constatadas em outraspocas na produo cientfica, e o aparecimento de alguns traos novos. De meados dadcada de 80 at os dias atuais, emergiram a produo terica e as pesquisas relativas aosmovimentos sociais, as investigaes histricas e historiogrficas e os trabalhos sobre ocotidiano escolar e questes da produo de conhecimentos no mbito da escola comotendncias, possivelmente atualizadas, sob um novo linguajar. Essas tendncias no sedirigem ao Estado como destinatrio e objeto preferencial.

    Para Luna (1992), com a mudana dos paradigmas de pesquisa e principalmentecom a introduo das denominadas metodologias alternativas, os problemas de pesquisaforam sendo alterados, e isso significou, na maioria dos casos, uma mudana substantivana natureza daquilo que, at ento, se denominava de variveis. O aumento na comple-xidade dos fenmenos em estudo, a nfase nos processos, a insistncia na recuperaodo desenvolvimento histrico configuram desenhos de pesquisa para os quais testesestatsticos tradicionais para determinao de fidedignidade e generalidades tm poucautilidade (o que no significa que no sirvam a outros propsitos).

    Apesar do avano expressivo da pesquisa, em nossas universidades continua acarncia desse tipo atividade em cincias naturais, humanas, nas letras e artes e, prin-cipalmente, projetos de ensino com pesquisa. De um lado, percebe-se o espetacularcrescimento que a pesquisa teve nas trs ltimas dcadas no Brasil. Esse crescimento,apesar de exclusivamente quantitativo, pode ser comparado com o dos pases doprimeiro mundo e coloca o Brasil em destaque no cenrio mundial. De outro lado, umareflexo sobre a contribuio desse vertiginoso nmero de pesquisas melhoria de vidada populao brasileira procedente. necessrio analisar essa questo qualitativamentee levar alguns questionamentos, tais como:

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 134

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    qual a contribuio das pesquisas realizadas para a melhoria da qualidade de vida dapopulao brasileira, principalmente a marginalizada?

    qual a contribuio das pesquisas realizadas para amenizar a misria e a fome?

    qual a contribuio dessas pesquisas realizadas para a melhoria da qualidade da educao?

    essas pesquisas contriburam para uma distribuio equitativa da renda nacional,assegurando igualdade de oportunidades a todos?

    qual a percentagem dessas pesquisas que contriburam significativamente para asociedade?

    Sabe-se que boa parcela de investigaes cientficas so realizadas unicamente paraatender s exigncias acadmicas dos programas de ps-graduao espalhados nas uni-versidades brasileiras. Nesse caso, a pesquisa efetuada como requisito parcial obtenode um ttulo, e seus resultados, na grande maioria, so depositados em bibliotecas eultimamente on line. Geralmente, estudantes que necessitam realizar uma pesquisa soseus nicos leitores. Outra parcela significativa desses trabalhos so efetuadas pordocentes pesquisadores para justificar a dedicao exclusiva e/ou aplicao de verbaspblicas. mister reconhecer que, em parcela proporcionalmente menor, h pesquisasde alto nvel realizadas nas universidades brasileiras. Estas, alm de favorecer o desen-volvimento do pas, abrem novas perspectivas em reas como medicina, engenharia,tecnologia, informtica e humanidades. Lamentavelmente esses avanos atingem pequenaparcela da populao e so inexpressivos perante a quantidade de estudos inteis reali-zados ao longo de dcadas.

    Conforme j foi exposto, a pesquisa a funo principal da universidade, e ela tem,entre outras, a premissa de ajudar a melhorar o ensino, principalmente atravs do ensinocom pesquisa. Cabe universidade produzir o saber e no, conforme vem fazendo aolongo dos sculos, simplesmente repassar e/ou reproduzir os conhecimentos advindos deoutras reas. Belloni diz:

    A funo da universidade apenas uma: gerar saber. Um saber comprometido com a verdadeporque ela a base da construo do conhecimento. Um saber comprometido com a justiaporque ela a base das relaes humanas. Um saber comprometido com a beleza porque elapossibilita a expresso da emoo e do prazer, sem o que a racionalidade reduz o humano aapenas uma das possibilidades. Um saber comprometido com a igualdade porque ela a baseda estrutura social inerente condio humana. Um saber comprometido com o verdadeiro,o justo, o igualitrio e o belo; , em verdade, um compromisso com a transformao dasociedade, pois estes no so valores predominantemente estabelecidos e praticados naorganizao da vida humana, apesar de lhe serem prprios e inerentes (1992, p. 73).

    Para a referida autora, esse compromisso com a verdade, com a beleza, com aigualdade e a justia se realiza em um contexto de dicotomias, de presses e de contra-dies. funo da universidade gerar um saber que atenda aos problemas como um

    135

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 135

  • 136

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    todo, sem restrio temporal ou espacial. Por outro lado, ela tem o compromisso desolucionar as questes imediatas e locais. Ao mesmo tempo que a universidade tem afuno de gerar saber comprometido com a ruptura e a inovao, com a busca dodesconhecido, do indito, da transformao da sociedade, competncia dela apreservao do patrimnio de cada povo. Portanto, ...a universidade vive a dicotomiado novo com o antigo, da inovao com a preservao, da construo com a superao(BELLONI, 1992, p. 74).

    O ENSINO COM PESQUISA: UMA ALTERNATIVA METODOLGICA

    A proposta de ensino com e para a pesquisa uma reao ao ensino conservador, quedurante muitos anos foi utilizado como praticamente a nica possibilidade de ensinar,pelos professores seguidores do modelo napolenico. Este modelo, largamente utilizadonas universidades europias e pases latino-americanos, intencionava a formao deprofissionais dos quais necessitava o estado, sem necessariamente considerar o contextoeconmico, social e cultural. Objetiva a manuteno do status quo e teve xito naconsolidao das estruturas do estado liberal. Por sua vez o modelo alemohumboldtiano, herdado do idealismo alemo do sculo XVIII, que teve como metacentral o conhecimento cientfico, no necessariamente relacionado ao mercado detrabalho e ou s demandas da sociedade, objetivava formar pessoas com amplos conhe-cimentos, pois acreditava que uma sociedade com cidados formadas cientificamenteseria capaz de avanar econmica, social e culturalmente. Ballester Brage (2001) assinalaque a cincia surge na universidade para dar respostas ao homem s mltiplas perguntase provas que a natureza prope. A cincia conhecimento e possui quatro vertentesessenciais: analisar a realidade; explicar os acontecimentos; prevenir acontecimentos econtrolar os fatores intervenientes que atuam sobre ela.

    No Brasil, a Lei 5.540/68, resultado dos acordos Usaid com o governo, seguindo omodelo de Humbold, estabeleceu o ensino, a pesquisa e a extenso como funes bsicasda universidade. Cabe frisar que, apesar de ter sido introduzida a funo da pesquisa coma Reforma Universitria, em pouco mudou a metodologia de ensino adotada pelamaioria dos professores das instituies de ensino superior e, hoje, mesmo em plenosculo XXI, com raras excees, a educao bancria (Freire) ainda priorizada. Mesmoque a pesquisa j esteja consolidada em muitas universidades, atravs de programas sctritosensu, projetos de pesquisa e da prpria iniciao cientfica, o ensino com pesquisa,como metodologia de trabalho, est longe de ser uma realidade para a grande maioriados docentes do ensino superior. Certamente poucos so conhecedores desta propostainovadora, de seus benefcios para a melhoria da qualidade do ensino e das instituiesde ensino superior, e poucos docentes buscam inovar ou introduzir novas metodologiase tecnologias.

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 136

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    O termo inovao no ensino goza de um clima favorvel, tanto no que se refere aoprofessorado como sociedade em geral. Para Perez Serrano (1990), a inovao pode serfruto da investigao e manifestar-se atravs da modificao de mtodos, tcnicas,procedimentos, estruturas e mudanas de comportamento em determinados grupos,porm tambm pode ser levada a cabo por outras vias. Para realizar qualquer experinciaque tenha impacto inovador, preciso despertar a capacidade de inveno, de estmulos,de iniciativas, assim como a criao de uma atmosfera favorvel em que tanto os profes-sores como os alunos se sentem estimulados para indagar, descobrir, refletir e fomentarmudanas, pois o ensino deve ser questionador, aberto, despertar a curiosidade e amotivao para a inovao, para a criatividade, para o descobrimento audaz de novosmbitos de conhecimento ou de habilidades. Portanto, a autora prope um ensinocriativo, que motive a curiosidade e a interrogao, que evite o dogmatismo, as certezasabsolutas e a excessiva estabilidade e se caracterize por despertar a inquietude e aconstante busca.

    A inovao escolar busca, em essncia, aportar algo novo, que objetiva melhorar aprtica educativa. Inovar reelaborar, reconstituir, reescrever. acrescentar. deixar delado o modismo, a acomodao, para construir e gerar mudanas significativas noensino, para que a aprendizagem se torne mais significativa, dinmica, prazerosa e menoscansativa, estafante e obrigatria.A inovao, antes de manter o sistema, deve ir aoencontro das necessidades, desejos e expectativas dos educandos, pois so estes os sujeitosque constroem e reconstroem a histria (LAMPERT, 2000, p. 34).

    Portanto, a inovao se aprende, e o docente, para aprender a inovar deve terautonomia, criatividade, independncia, esprito jovem, abertura para novas idias eprincipalmente predisposio para inovar. Alm destas caractersticas, indispensvelque o professor disponha de conhecimentos, habilidades, atitudes de melhora profis-sional e de espao apropriado para introduzir, paulatinamente, inovaes em sua prxisde ensino.

    Parte-se da tese de que a universidade inovadora e empreendedora dever ofereceruma pedagogia diferenciada que atenda s novas exigncias de uma sociedade cambiante.A universidade precisa repensar suas convices. Atravs de uma viso de criticidade,dever estudar novos modos de pensar, ler o mundo, gerar conhecimentos e conduzir oprocesso ensino-aprendizagem. Nesta direo, Dupont e Ossandon (1998) assinalamque a universidade parece ocultar a complexidade do sujeito que aprende, a comple-xidade da sociedade que evolui ao ritmo de paradigmas mltiplos e complementares.Por falta de uma verdadeira modificao das prticas pedaggicas e de uma tentativa deaproximao sistmica dos problemas, a universidade corre o risco de se cristalizar e... decristalizar (p. 22). A prxis de produo do conhecimento dever estar aberta a novasalternativas, at ento refutadas, para justificar e explicar fenmenos, mesmo de formatemporria. Os desafios culturais, tericos, metodolgicos e ticos colocados pela ps-

    137

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 137

  • 138

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    modernidade esperam da universidade uma resposta corajosa e urgente (SANTOSFILHO, 1998, p. 66).

    A pesquisa um dos requisitos metodolgicos indispensveis para qualquer profis-sional em uma sociedade global, competitiva, complexa, pragmtica, utilitarista, ime-diatista, pluralista, subjetiva, onde h uma saturao de informaes fragmentadas, umadecadncia do Estado e um descrdito em relao educao. Bagno diz que ...apesquisa uma atividade que, embora no parea, est presente em diversos momentosdo cotidiano, alm de ser requisito fundamental num sem nmero de profisses (2004,p. 16). A pesquisa o fundamento de toda e qualquer cincia digna, sria e compro-metida com a verdade e a realidade. Da a importncia, conforme Elliott (1990), doprofessor e aluno estarem efetivamente envolvidos como participantes ativos no processoinvestigativo.

    O ensino com pesquisa e para a pesquisa uma das opes metodolgicas que oprofessor poder utilizar para redimensionar o processo de ensino sob uma tica dife-rente, capaz de envolver professor e aluno como sujeitos do processo e no meramenteobjetos, pois o sistema educacional brasileiro foi e , ao longo da histria, competentepara formar uma massa de profissionais apolticos, consumidores, indivduos despro-vidos de uma preocupao social e coletiva e interessados em satisfazer os seus prpriosinteresses de consumo suprfluo. No parecer de Behrens (2005), a mudana paradig-mtica no advento da sociedade do conhecimento desafia as instituies de ensino arepensarem a sua prtica pedaggica. A superao da reproduo do conhecimento, daviso newtoniano-cartesiana, leva os educadores a investigar como propiciar metodo-logias que atendam s exigncias do paradigma emergente proposto pelos cientistas,enfaticamente, no final do sculo XX (p. 80).

    O ensino com pesquisa, etapa inicial e caracterstica dos cursos de graduao e deps-graduao, uma poderosa ferramenta de que se pode lanar mo para introduzir oaluno na iniciao cientfica, despertando-lhe o gosto pela investigao. Para Poali(1988), o ensino com pesquisa trata das habilidades intelectuais bsicas, da reflexo e, nocaso de continuidade em termos de formao para a pesquisa, implica acrescentar outrasqualidades, como originalidade e domnio de um campo de conhecimento. O ensinopara a pesquisa, etapa posterior, atribui nfase aos programas de ps-graduao, especial-mente stricto sensu e tem o seu encargo a formao do pesquisador.

    Cabe mencionar, a ttulo de esclarecimento ao leitor, que a Iniciao Cientfica,mesmo que no tenha, na maioria das vezes, uma relao direta, com o ensino compesquisa, problemtica deste estudo, fomenta a pesquisa entre os graduados e semdvida uma proposta brilhante do CNPq, pois ela se constitui em uma das melhoresformas de aprendizagem, onde o aluno capaz de construir e reconstruir, atravs dateoria/prtica, o conhecimento.

    A iniciao cientfica uma atividade do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) eest voltada formao do futuro cientista. Esta modalidade de bolsa foi introduzida na

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 138

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    dcada de 50 e continua at hoje como uma das poucas possibilidades de incentivo pesquisa na graduao. A iniciao cientfica deveria estar presente na poltica depesquisa das instituies superiores, principalmente, das universidades. Atravs doCNPq, estas bolsas podem ser concedidas no mbito de projeto de pesquisa (repassadasdiretamente ao coordenador do projeto, aps avaliao por Comit do CNPq) e nombito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica Pibic (as quotas debolsas so repassadas s instituies). O Pibic tem como objetivos principais: despertarvocao cientfica e incentivar talentos potenciais entre os discentes de graduao, atravsda participao em projetos de pesquisa, preparando-os para o futuro ingresso na ps-graduao; contribuir para diminuir o tempo mdio de titulao do mestre e doutor; econtribuir para diminuir as disparidades regionais na distribuio da competnciacientfica no Pas. A avaliao dos trabalhos realizada, anualmente, por intermdio deseminrios, nos quais so apresentados os resultados dos planos de trabalho de cadadiscente. Os trabalhos so publicados em livros de resumos ou anais.

    Portanto, o Pibic uma das atividades estratgicas do CNPq, com impactos ime-diatos no fortalecimento da poltica de iniciao cientfica e melhoria da qualidade deensino da educao superior; a longo mdio prazo poder ajudar na formao de umamassa crtica, participativa, consciente, responsvel. A longo prazo, auxiliar na formaode quadro de recursos humanos de alto nvel para as universidades e para os setoresestratgicos da sociedade brasileira.

    Em relao a essa problemtica, Demo (2002) diz que a Iniciao Cientfica foi umainveno providencial. Pensada para o aluno da graduao, acaba sendo igualmente umfator de grande renovao no professorado. Por sua vez, as instituies, aprendem aaproximar-se cada vez mais do ambiente acadmico autntico em que deveriam estarimersas. O aluno aprende a pesquisar, aprende a habilidade mais bsica para a suapermanente renovao profissional. Aprende a estudar melhorar; aprende de maneirareconstrutiva; reconstri o conhecimento sistematicamente e este tipo de aluno ter umpeso no futuro do pas, pois a principal fonte para a instituio de novas vocaesdocentes.O professor, por sua vez, precisa ser capaz de orientar um processo de pesquisa,que supe que ele saiba pesquisar. O ambiente acadmico ser impulsionado pelareconstruo sistemtica e permanente do conhecimento.

    Afinal, o que significa ensino com pesquisa e quais as principais etapas de processo?Qual a importncia da escolha deste procedimento de ensino? Que respaldo tericotem essa proposta de trabalho? Que mudanas substanciais trar no papel do professor edo aluno? Quais so os desafios e perspectivas desta proposta metodolgica no ensinosuperior brasileiro?

    O ensino com pesquisa, neste estudo, ser entendido como uma seqncia orga-nizada de situaes estimuladoras e desafiadoras de aprendizagem, na qual professor ealunos esto envolvidos como sujeitos do processo, na perspectiva de formao de

    139

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 139

  • 140

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    cidados crticos, capazes de entender e transformar a realidade circundante. Aprendercom pesquisa um processo dialgico que envolve a problematizao do conhecimento,a construo de argumentos e sua respectiva validao. Em relao a este fenmeno,Moraes e outros assinalam que

    A pesquisa em sala de aula pode ser compreendida como um movimento dialtico, em espiral,que se inicia com o questionar dos estados do ser, fazer e conhecer dos participantes,construindo-se a partir disso novos argumentos que possibilitam atingir novos patamares desseser, fazer e conhecer, estgios esses esto comunicados a todos os participantes do processo(2002, p. 11).

    Latorre e Gonzles (1992), em sua obra O professor investigador: a investigao emsala de aula, apresentam um conjunto de reflexes sobre as distintas etapas queconfiguram um projeto de pesquisa em sala de aula: como iniciar, como encontrar asinformaes, como planejar as hipteses, como registrar a informao, como interpret-la, como e a quem comunicar e refletir sobre o prprio projeto. Para os autores, in-vestigar en el aula es un proceso mediante el cual los maestros pueden deliberar sobre sutoma de decisiones y mejorar su prctica docente (p. 8).

    A partir do exposto, observe-se que o ensino com pesquisa abrange, no mnimo, trsetapas, que esto inter-relacionados entre si e se complementam: questionamento, argu-mentao e comunicao.

    O questionamento permanente dos alunos em relao aos conhecimentos, aosvalores, tica, cultura, essencial e o primeiro e um dos passos bsicos no processode ensino com pesquisa. Ele ajudar o discente na formao/ reformao de conceitos,de princpios, de atitudes, de habilidades, de valores, de concepes de vida, etc. A exis-tncia da dvida a primeira premissa construo da argumentao. Um questio-namento bem encaminhado ser condio para o xito das etapas posteriores. Arnal,Rincn e Latorre (1994) afirmam:

    Hacer preguntas es una actividad especficamente humana. A lo largo de la historia el hombreha sido siempre un ser preocupado por entender y desentraar el mundo que le rodea, porpenetrar en sus relaciones y leyes, por orientarse hacia el futuro y descubrir el posible sentidode las cosas que existen a su alrededor, buscando a sus interrogantes. En la actualidad, sinembargo, el hombre utiliza diversas fuentes de conocimiento como la experiencia, los expertoso el razonamiento, ya sea deductivo, que permite pasar de lo general a lo particular, quepartiendo de los datos particulares llega a generalizaciones (1994, p. 2).

    Questionar no significa simplesmente perguntar sobre tudo, e a todo momento,de forma desordenada, mas desvendar um fenmeno de forma sistemtica. Cabe aoprofessor organizar situaes de ensino em que o aluno possa entender o processo dequestionar e faz-lo, pois para Faundez (1985), todo o conhecimento comea pelapergunta, e o professor dever ensinar aos alunos a perguntar. profundamente demo-crtico comear a aprender a perguntar (p. 45). Freire, por sua vez, assinala:

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 140

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    O autoritarismo que cortou as nossas experincias educativas inibe, quando no reprime, acapacidade de perguntar. A natureza desafiadora de pergunta tende a ser considerada atmosferaautoritria, com a provocao autoridade. E, mesmo quando isto no ocorre explicitamente,a experincia termina por sugerir que perguntar nem sempre cmodo (1985, p. 46).

    Na ps-modernidade muito mais importante questionar do que dar respostasprontas, acabadas e absolutamente verdadeiras. Da a importncia da dvida e daindagao. Para que o discente universitrio saiba questionar, indispensvel que eletenha conhecimento da realidade poltica, econmica, social e cultural do pas, de suarealidade particular e certo domnio dos contedos bsicos. Todo este processo deentendimento demanda tempo e envolvimento do professor e aluno como sujeitos doprocesso, pois segundo Elliott (1990), o ensino um autntico processo de investigaopara a compreenso, a reconstruo individual e coletiva do conhecimento.

    Portanto, o questionar exige um clima democrtico, onde h liberdade de expressoe respeito s diferenas individuais. O questionar uma habilidade latente do ser humano,mas deve ser aperfeioada no meio acadmico. Um questionamento bem encaminhado,certamente, produzir e organizar argumentos fundamentados e, certamente, garantirxito no desencadeamento do processo investigativo.

    A argumentao a operao discursiva do pensamento. Ela faz parte da vida daspessoas, pois a sociedade comunicativa e argumentativa. Ramos afirma:

    A argumentao , pois, uma variedade discursiva com a qual se pretende defender uma opinioe a partir dela persuadir ou convencer um interlocutor mediante provas ou motivos que estorelacionados ao objeto da argumentao. Isso se d atravs da lgica ou leis da razo humana,da dialtica ou procedimentos que se poem em jogo para provar ou enfrentar algo e a retricaou uso de recursos lingsticos com o fim de persuadir, mobilizando mbito no-racionais,como so os afetos, as emoes e as sugestes. A argumentao essencialmente comunicao,dilogo, discusso, controvrsia (2002, p. 38).

    Nesta etapa, o aluno, usando diferentes fontes de consulta, dever buscar nos jornais,nas revistas, em livros, em relatrios, na Internet, atravs do dilogo, de entrevistas compessoas especializadas ou, ainda, atravs de experimentos, informaes para equacionara problemtica em questo. luz destas informaes, dever o discente organizar suasidias; interpretar, analisar e avaliar as informaes para emitir juzos e dar respostasconfiveis ao seu questionamento. importante frisar que as inferncias e concluses sotemporrias, pois, hoje em dia, com o avano da cincia e da tecnologia, o conhecimento dinmico, inacabado e mutvel. Esta etapa extremamente importante porque odiscente ter que buscar na teoria e ou na prtica relaes e argumentos que justificamou que possibilitam encaminhamentos plausveis ao questionamento. imprescindvelque o professor esteja presente nesse momento para ajudar a selecionar bibliografias e naindicao de caminhos viveis. Certamente ser decisivo para que o discente no desista,consiga avanar e alcanar sucesso. Na etapa da argumentao, o discente tem a possibi-

    141

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 141

  • 142

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    lidade de relacionar teoria/prtica ou prtica/teoria, elaborar argumentos fundamentadoscapazes de dar respostas a seu questionamento.

    Portanto, a argumentao, dilogo de idias entre sujeitos, usada para convencer epersuadir sujeitos. Ela no se constitui na afirmao da verdade, pois um verdadeirodilogo jamais esgota a possibilidade de investigar a verdade. O aluno, para saberargumentar, necessita compreender as opinies alheias, entender os argumentos (acei-tando-os ou recusando-os) e at contra-argumentar.

    A comunicao constitui-se na culminncia do processo de ensino com pesquisa.Nesta etapa, o discente, atravs de diferentes procedimentos (seminrio, painel, expo-sio dialogada, produo de artigo, elaborao de relatrio, comunicao em congresso,a prpria sala de aula, etc) ter a possibilidade de comunicar os resultados de seutrabalho. indispensvel cautela e criticidade neste momento. O aluno aprender, queratravs da escrita quer de maneira oral, a se comunicar de forma clara, seqencial, objetivae fundamentada, o que auxiliar na formao de sua personalidade. fundamental queo discente, mesmo que faa a comunicao dos resultados de forma verbal, apresente orelatrio por escrito, pois na atualidade, com excees, os universitrios apresentamenormes dificuldades em redigir textos. Dessa forma, estar exercitando e aprofundandoa habilidade de escrever, imprescindvel na sociedade hodierna.

    O ensino com pesquisa um procedimento metodolgico que poder ser adotadopelos professores da educao superior e ajudar de forma significativa na melhoria daqualidade de ensino. Mesmo que esta modalidade de ensino tenha surgido na dcada de60 no Reino Unido, para muitos dos docentes brasileiros constitui-se em uma inovaono processo educacional. Para Bernal Guerrero, la investigacin en el aula es, sin duda,una clave del desarrollo cientfico de la enseanza (1989, p. 38). Segundo Nisbet(1982), ela desperta a agudeza e a reflexo, resolve problemas, estimula o debate, ointercmbio de opinies, aprofunda o entendimento e promove a flexibilidade e aadaptao. Behrens assinala que a metodologia do ensino com pesquisa assenta-se nabusca do conhecimento pelos alunos e pelos professores, com autonomia, com critici-dade e com criatividade. A indissociabilidade do ensino e da pesquisa gera um redimen-sionamento na prtica pedaggica (2005, p. 84). Nesta direo, Freire argumenta que

    ...toda a docncia implica pesquisa e toda pesquisa verdadeira implica docncia. No hdocncia verdadeira em cujo processo no se encontre a pesquisa como pergunta, comoindagao, curiosidade, criatividade, assim como no h pesquisa cujo andamentonecessariamente no se aprenda porque se conhece e no se ensine porque se conhece e no seensine porque se aprende (1992, p. 192).

    Na proposta de ensino com pesquisa indispensvel que a teoria esteja aliada prtica durante todo o processo, a pesquisa a conexo entre teoria/prtica e ou viceversa; uma renova e reconstri a outra, e no se pode pensar em teoria acabada, final,imutvel da mesma forma no h prtica definitiva.

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:37 AM Page 142

  • O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    Diferentes autores: Latorre e Gonzles, (1992), Demo, (1994), Zan (1992), (Moraes,2002), Lima (2004) e Behrens (2005) salientam a importncia da escolha da pesquisacomo metodologia de trabalho. Para Freire, no h ensino sem pesquisa e pesquisa semensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contnuobuscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e meindago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.Pesquiso para conhecer o que ainda no conheo e comunicar ou anunciar a novidade(1996, p. 32).

    Lima pondera que tornar a sala de aula um ambiente de pesquisa uma decisoassociada com a perspectiva construtivista, pois o professor acredita ser o conhecimentouma construo do ser humano e no uma cpia da realidade. A autora salienta que estaescolha no supe transplantar para a sala de aula a pesquisa em sua acepo clssica,mas prev criar situaes em que o educando lide, de forma sistemtica, com algunspressupostos inerentes ao ato de pesquisar, como: questionamento, argumentao,produo escrita, permanente dilogo entre situao do cotidiano e contedos escolares.O questionamento vital construo do conhecimento e pode significar um potenteinstrumento de qualificao formal e poltica do processo educativo. A argumentaovisa qualificar o aluno para reunir elementos a fim de fundamentar uma determinadaidia ou demonstrar a compreenso de determinado contedo. A escrita representa apossibilidade de o educando aprender a posicionar-se como autor, produzindo o seuprprio material e aprender a reconstruir textos j existentes. A discusso de textosproduzidos constitui-se em frum de discusso. Abordar os contedos relacionando-os adiferentes vivncias do cotidiano um dos princpios da educao pela pesquisa e essencial compreenso da realidade. Concluindo, a autora diz que

    a pesquisa em sala de aula uma das opes capaz de dar conta de orientar os educandos emseus planos de vida e, ao mesmo tempo, consolidar valores de cidadania, qualificando, destemodo, o sujeito para viver na sociedade contempornea. Eleger a pesquisa como princpiodidtico , antes de tudo, comprometer-se com as premissas acima, sendo esta deciso, aomesmo tempo, decorrncia de uma srie de escolhas que o professor realiza ao organizar aprtica docente, calcando em suas crenas sobre o modo como os alunos aprendem. Aoescolher a educao pela pesquisa, o professor cria espaos efetivos para que o aluno ques-tionar, argumentar e escrever, entrelaando contedos escolares e realidade, num processo quevisa realizao de aprendizagem com qualidade formal e poltica (p. 168).

    O ensino com pesquisa no visa a formar um profissional pesquisador, mas incen-tivar o discente a entender o processo investigativo, ser capaz de us-lo e conhecer arealidade de forma contextualizada. Por sua vez, para o professor a pesquisa vista comofonte inesgotvel de produo de novos conhecimentos e transformaes. Alm disso,esta possibilidade metodolgica pode tornar o professor um pesquisador, isto , capaz dequestionar e refletir sobre a sua prtica, que sem dvida trar grandes benefcios ao

    143

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 143

  • E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    profissional, ao processo de ensino e universidade. Todo este processo demanda mudan-as paradigmticas e metodolgicas na conduo do processo de ensino-aprendizagem.Para articular ensino pesquisa, necessitamos nos reeducar; entender que os fenmenosdo processo de ensinar-aprender so complexos e possuem maior dificuldade episte-molgica; que o ensino tem carter pluraparadigmtico e plurimetodolgico e aceitarque o ato de pesquisa inicia-se na sala de aula de qualquer nvel de ensino. Seguindoesta linha de pensamento, Cunha afirma que .... preciso recomear, experimentar,ousar, sistematizar, discutir, registrar. S assim, aos poucos, construiremos um novoconhecimento sobre o ensinar e o aprender de uma forma mais criativa, livre e produ-tiva (1992, p. 18-19).

    Assuno (1998), face s mudanas legais na formao de professores, conformedetermina a Lei 9.394/96, percebe a necessidade de se romper com a lgica tradicionalde currculo preconizando a formao de professor sustentada no processo de inves-tigao, que deve estar presente na formao de docentes formadores e de aluno, futuroprofissional. Neste sentido, o ensino articulado pesquisa torna-se ponto fulcral. Com apesquisa no ensino, romper-se- com a falta de articulao na formao do professor coma realidade, deixando-o mais seguro e capaz alterar as situaes do cotidiano.Com oensino vinculado pesquisa ser possvel se vislumbrar a possibilidade de se compreendera sala de aula e o espao escolar em geral, como um local permeado pelas mais diversasdimenses culturais, bem como pelas representaes e imaginrios sociais. Portanto, ser.... um espao em que as construes simblicas, valores e crenas se fazem presentes eorientam as relaes entre os sujeitos e, por isso, a necessidade de serem investigadas ecompreendidas pelos professores (p. 21). A autora prope, inicialmente, as atividadesde estgio, presentes na formao de professores, como uma possibilidade de experinciade ensino e pesquisa, na busca de uma articulao com os diferentes saberes presentes naformao do futuro professor.

    Na proposta de ensino com pesquisa, o professor passar de um repassador deinformaes para um mediador, desafiador, orientador e construtor e/reconstrutor deconhecimentos, numa atitude de permanente pesquisador. Esta possibilidade envolve oprofessor e o aluno como sujeitos ativos, autnomos, em um processo de contnuo econstante de questionar discursos, conceitos, princpios, realidades, atravs da cons-truo de argumentos que possam reconstruir as verdades at ento aceitas comouniversais. Como resultados imediatos, o aluno adquirir a atitude de questionar, construirargumentos e comunicar resultados. Aprender a vivenciar os principais passos depesquisa; coletar, interpretar e inferir sobre dados; produzir textos. Alm disso, a referidaproposta metodolgica, favorecer o desenvolvimento da autonomia do aluno; a trabalhar,de forma individual e grupal; a trabalhar de forma cooperativa e com outros; a conhecer-se melhor; a superar limitaes; a dialogar com seus colegas e professores; a discutir eargumentar, defender idias; aprender a aprender; a refletir sobre sua aprendizagem; anavegar no desconhecido; a aprofundar conhecimentos; a ter a capacidade de enfrentardesafios; e a construir, de forma contextualizada, um saber.

    144

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 144

  • 145

    O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    Para alcanar esses altos imperativos, indispensvel que seja atribuda investigaoa devida importncia. A pesquisa, desde o curso de graduao, deve ser abordadasistematicamente e com carter terico-prtico. essencial que o aluno se engaje napesquisa, quer por meio de estgios com docentes e/ou institutos, quer praticando-a emsala de aula. necessrio reconhecer que a pesquisa se constitui num processo deaprendizagem. Aprende-se pesquisa, fazendo-a: quanto antes a formao for iniciada,maior a probabilidade de seu sucesso (AZZI, 1994, p. 77). Quanto investigao naps-graduao, Saviani (1991) diz que nos programas lato sensu, a pesquisa assume opapel de mediao para que o ensino, elemento definidor, seja alcanado. Em contra-partida, nos programas stricto sensu, o ensino garante os requisitos para que a pesquisa,elemento definidor, seja atingido.

    DESAFIOS E PERSPECTIVAS: ALGUMAS QUESTES PARA REFLEXO

    O Sistema Brasileiro de Educao enfrenta problemas de toda ordem. Alguns socrnicos e vm se arrastando ao longo dos ltimos anos. A educao superior, inseridaneste contexto, a partir da Reforma Universitria de 68, e da promulgao da Lei9.394/96, est se expandindo quantitativamente em termos de instituies de ensinosuperior e modalidades de ensino, sem, contudo, priorizar a qualidade do ensino. Apartir desta legislao, percebe-se, grosso modo:

    Uma expanso das instituies privadas isoladas. Estes estabelecimentos de ensino,geralmente, contam com um pequeno nmero de alunos, poucas ofertas de cursos epriorizam o ensino. A pesquisa no se constitui em funo bsica. Os docentes, namaioria das vezes, so contratados em regime de tempo parcial e horistas, o quedificulta a realizao de um trabalho de qualidade e voltado ao ensino com pesquisa.

    As universidades particulares com ou sem fins lucrativos, na sua grande maioria,enfrentam srios problemas financeiros. Para competir e manter-se em funciona-mento, por um lado, investem muito em infra-estrutura, tecnologia, informtica ecursos novos de graduao e de ps-graduao. Por outro ngulo, esquecem eminvestir no professor, que o principal recurso que a universidade possui. Alm dafalta de investimento em recursos humanos, as condies de trabalho, a falta deestabilidade no emprego, a reduzida carga horria, a sobrecarga de trabalho, a poucaautonomia que o docente possui para organizar o ensino (o importante que oprofessor e o aluno estejam pontualmente na sala de aula e cumpram o horrio econtedo determinado), pouco favorecem o desencadeamento de um ensino dife-renciado e com pesquisa.

    Nas universidades federais, por um prisma, os professores, de maneira geral, so maistitulados, possuem carga horria de aula reduzida e, praticamente, o docente temtotal autonomia de organizar as situaes de ensino. As condies so favorveis para

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 145

  • 146

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    que o docente inove, aborde o ensino com pesquisa e realize um ensino de qualidade.Por outro lado, geralmente, os docentes mais titulados priorizam a ps-graduaostricto sensu; as condies fsicas de trabalho no so favorveis, e os salrios aqumdo mercado. Alm destes inconvenientes, nos ltimos anos, h um contingenteenorme de professores contratados temporariamente. Estes profissionais, alguns maispreparados que outros, atendem, na maioria dos casos, uma infinidade de disciplinas.Geralmente com sobrecarga de trabalho, dedicam-se exclusivamente a atenderao ensino.

    Face ao exposto, parece que a realidade, de maneira geral, pouco favorvel ainovaes e melhoria da qualidade do ensino na educao superior. O que se percebeso iniciativas particulares e/ ou de grupo de professores lutando por espaos, melhorescondies de trabalho e por maior autonomia. Estes, em muitos casos, conseguem levara cabo algumas inovaes e melhorar a qualidade do ensino. Constituem-se em situaespontuais e particularizadas, porm louvveis e que merecem todo o apoio, porm, grossomodo, tm pouca representatividade em nvel nacional. Por outro lado, indispensvelconsiderar que no contexto atual, h aparentemente disponibilidade de profissionaisaltamente qualificados (doutores). Estes profissionais, com o imperativo de permanecerno setor produtivo, necessitaro abrir seu prprio espao e isso, necessariamente, passarpelo crivo do diferencial. Certamente, com o passar dos anos, com a expanso doensino virtual, somente o docente que for diferencial, ter seu espao assegurado naeducao superior. Da a importncia de se trabalhar com a modalidade de ensino compesquisa para ser um diferencial na melhoria da qualidade do ensino superior.

    Quanto ao Sistema Brasileiro de Educao Superior, parece que os dados estatsticos(nmero de instituies autorizadas, credenciadas e recredenciadas, nmero de alunosmatriculados e concluintes na graduao e ps-graduao, nmero de professores tituladosetc.) so priorizadas em relao qualidade da institucional e do ensino. O importante,nesta perspectiva, so os dados estatsticos altamente favorveis, que mostram umsuposto desenvolvimento e a formao do maior nmero de pessoas, pois o mercado detrabalho se incumbir de selecionar os mais competentes. Os no-selecionados buscarorealizar cursos para se atualizarem ou se contentaro em assumir outras funes, muitasvezes, no to qualificadas ou mesmo sem qualificao. O que vale a lei da oferta e daprocura num mundo globalizado e capitalista.

    Em relao ao ensino com pesquisa, cabe frisar que o professor que escolhe estecaminho tem a concepo de que a cincia no pronta e acabada. conhecedor de queo conhecimento dinmico e produto da construo social. Aceita que o conhe-cimento ...uma realidade-revelao-dialtica, atravs da qual podemos desenvolver ocurso do pensamento, ativar a inteligncia, despertar a criatividade, pondo em funcio-namento as atividades psquicas superiores e tentando o difcil (mas fascinante) processode soluo de problemas e antecipao de inovaes (MOSQUERA, 2006, p. 85).

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 146

  • 147

    O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    A metodologia do ensino com pesquisa pode criar um ambiente inovador eparticipativo construo de conhecimentos, atravs da utilizao de diferentes fontes.Ser uma possibilidade de propiciar um ensino de qualidade, procurando formarcidados do mundo, capazes de atuar com segurana, em parceria e em regime decooperao, numa sociedade na qual as contradies e inseguranas so acentuadas epresentes no cotidiano. Por outro lado, necessrio que o docente e os discentes estejampreparados e tenham maturidade para encarar esta modalidade de trabalho, que temincio, bem definido, mas um desenvolvimento e fim no necessariamente previsveis.Moraes enfatiza muito bem este aspecto, ao afirmar:

    A pesquisa em sala de aula constitui-se numa viagem sem mapa; um navegar por maresnunca antes navegados; neste contexto o professor precisa saber assumir novos papis; dealgum modo apenas um dos participantes da viagem que no tem inteiramente definidosnem o percurso nem o ponto de chegada; o caminho e o mapa precisam ser construdosdurante a caminhada (2002, p. 141).

    Portanto, luz da citao de Moraes, pode-se inferir que a pesquisa em sala de aulaconstitui-se em uma proposta metodolgica de ensino na qual a flexibilidade e at aimprovisao fazem parte. Todo o processo construdo passo a passo. O docente e osdiscentes, numa perspectiva scio-histrica, so sujeitos engajados na construo oureconstruo do conhecimento. Descobrem os caminhos, as ferramentas e as fontesviveis ao longo do trajeto, conforme surgem os desafios e as perspectivas. uma pers-pectiva dinmica de aprendizagem, onde todo o desencadeamento precisa ser construdoe em que o processo e o produto assumem o mesmo valor, diferente da concepotradicional de ensino/aprendizagem, onde o processo est em detrimento do produto.

    RefernciasARNAL, Justo; RINCN, Dlio; LATORRE, Antonio. Investigacin educativa: fundamentos ymetodologas. Barcelona: Labor, 1994.

    ASSUNO, Maria Madalena Silva de. A pesquisa na formao de professores (as) e no cotidianoescolar. Dois Pontos, Belo Horizonte, v. 4, n. 39, p. 20-24, nov./dez. 1998.

    AZZI, Roberta Gurgel. Pesquisa (em psicologia e educao) e a universidade: alguns pontos parareflexo. Pro-posies, Campinas, v. 5, n. 13, p. 77-85, mar. 1994.

    BAGNO, Marcos Pesquisa na escola: o que e como se faz.? 18. ed. So Paulo: Loyola, 2004.

    BALLESTER BRAGE, Lus. Bases metodolgicas de la investigacin educativa. Palma: Universitatde les Illes Balears, 2001.BEHRENS, Maria Aparecida. O paradigma emergente e a prtica pedaggica. Petrpolis: Vozes, 2005.

    BELLONI, Isaura. Funo da universidade: notas para reflexo. In: BRANDO, Zaia et al.Universidade e educao. Campinas: Papirus: Cedes; So Paulo: Ande; Anped, 1992. p.71-78.

    BERNAL GUERRERO, Antonio; VELZQUEZ CLAVIJO, Miguel. Tcnicas de investigacineducativa. Sevilla: Alfar, 1989.

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 147

  • E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    BOTEY, Juan. Universitat escoles dadulta. Educar, Barcelona, n. 13, p. 81-94, 1988.

    BRANDO, Zaia et al. Universidade e educao. Campinas: Papirus: Cedes; So Paulo: Ande:Anped, 1992.

    BRASIL. MEC. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E ESTATSTICAS ANSIO TEIXEIRA.Dados sobre o ensino superior. Braslia: Inep, 2006.

    CASTRO, Cludio de Moura. H produo cientfica no Brasil? Cincia e Cultura, So Paulo, v. 37,n.7, p. 167-187, jul. 1985.

    CUNHA, Maria Isabel. O ensino com pesquisa. Cadernos de Educao, Pelotas, n. 1, p. 17-19, dez. 1992.

    DEMO, Pedro. Pesquisa: princpio cientfico e educativo. So Paulo: Cortez: Autores Associados,1990.

    DEMO, Pedro. Iniciao cientfica razes formativas. In: MORAES, Roque; LIMA, ValderezMarina do Rosrio (Orgs.). Pesquisa em sala de aula: tendncias para a educao em novos tempos.Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, p.103-126.

    DEMO, Pedro. Pesquisa como metodologia de trabalho. Revista de Educao AEC, Braslia, v. 23,n. 90, p. 13-19, jan./mar. 1994.

    DUPONT, Pol; OSSANDON, Marcelo. A pedagogia universitria. Coimbra: Coimbra Editora, 1998.

    ELLIOTT, John. La investigacin-accin en educacin. Madrid: Morata, 1990.

    FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. 2. ed. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1985.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperana: um encontro com a pedagogia do oprimido. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1992.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 9. ed. So Paulo:Paz e Terra, 1996.

    HOFFMANN, Ricardo. Alienao na Universidade: crise dos anos 80. Florianpolis: UFSC, 1985.

    LAMPERT, Ernani. Experincias inovadoras e a tecnologia educacional. Porto Alegre: Sulina, 2000.

    LATORRE, Antonio; GONZLEZ, Romona. El maestro investigador: la investigacin en el aula.2. ed. Barcelona: Grao, 1992.

    LIMA, Valderez Marina do Rosrio A escolha da pesquisa como princpio educativo, Cincias &Letras, Porto Alegre, n. 36, p. 151-169, jul./dez. 2004.

    LUNA, Srgio de Vasconcelos. Prestar servios e pesquisar: algumas distines necessrias. In:BRANDO, Zaia et al. Universidade e educao. Campinas: Papirus: Cedes; So Paulo: Ande:Anped, 1992, p. 27-32.MORAES, Roque et al. Pesquisa em sala de aula. In: MORAES, Roque; LIMA, Valderez Marinado Rosrio (Orgs.). Pesquisa em sala de aula: tendncias para a educao em novos tempos. PortoAlegre: EDIPUCRS, 2002, p. 9-23.

    MORAES, Roque. Educar pela pesquisa: exerccio de aprender a aprender. In: MORAES, Roque;LIMA, Valderez Marina do Rosrio (Orgs.). Pesquisa em sala de aula: tendncias para a educaoem novos tempos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 127-142.

    148

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 148

  • MORAES, Roque. Produo em sala de aula com pesquisa: superando limites e construindopossibilidades. In: MORAES, Roque; LIMA, Valderez Marina do Rosrio. (Orgs.). Pesquisa emsala de aula: tendncias para a educao em novos tempos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.p. 203-235.

    MOSQUERA, Juan Jose Morio. Princpios da universidade no sculo XXI: universidade eproduo do conhecimento. In: AUDY, Jorge Luis Nicolas; MOROSINI, Marlia Costa (Orgs.).Inovao e empreendedorismo na universidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. p. 70-88.

    NISBET, Juan. Investigacin educativa: el momento actual. In: DOCKRELL, Walter; HAMILTON,David. Nuevas reflexiones sobre investigacin educativa. Madrid: Narcea, 1982. p. 8-19.

    PEREZ SERRANO, Mara Glora. Investigacin-accin: aplicaciones al campo social y educativo.Madrid: Dykinson, 1990.

    POALI, Niuvenius. O princpio da indissociabilidade do ensino e da pesquisa: elementos parauma discusso. Cadernos Cedes, Campinas, n. 22. p. 27-52, 1988.

    RAMOS, M. G. Educar pela pesquisa educar para a argumentao. In: MORAES, Roque;LIMA, Valderez Marina do Rosrio (Orgs.). Pesquisa em sala de aula: tendncias para a educaoem novos tempos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 25-49.

    SANTOS FILHO, Jos Camilo Universidade, modernidade e ps-modernidade. Educao Brasileira,Braslia, v. 20, n. 40, p. 41-72, jan./jul. 1998.

    SAVIANI, Dermeval. Concepes da dissertao de mestrado centrada na idia de monografia debase. Educao Brasileira, Braslia, v. 13, n. 27, p. 159-168, 1991.

    SILVA, Rita de Cssia da; CASTRO CABRERO, Rodrigo. Iniciao cientfica: rumo ps-gra-duao. Educao Brasileira, Braslia, v. 20, n. 40, p. 189-199, 1998.

    TJAR HURTADO, Juan. Carlos. Innovacin educativa y desarrollo profesional docente en launiversidad. In: TJAR HURTADO, Juan Carlos; GUTIRREZ DE TENA, Roque. Manchado(Orgs.). Innovacin educativa y formacin del profesorado: proyectos sobre la mejora de la prcticadocente en la universidad. Mlaga: Universidad de Mlaga, 1997.

    WARDE, Mirian. Jorge. Pesquisa em educao: entre o Estado e a cincia. In: BRANDO, Zaiaet al. Universidade e educao. Campinas: Papirus: Cedes; So Paulo: Ande: Anped, 1992.

    ZAN, Andria Cristina. Anlise da prtica pedaggica: a pesquisa em sala de aula, sua importnciae seus tropeos crnica extrada das vivncias de um projeto. Educao & Sociedade, So Paulo,n. 43, p. 489-494, dez. 1992.

    149

    O ensino com pesquisa na universidade brasileira

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 149

  • Teaching with research: reality, challenges and perspectives in the Brazilian universityAbstract

    The subject dealt with in this article teaching with research is an innovative methodological propositionwhich has repercussions in the quality of teaching. First, the author will situate and set the context ofthe problem. During the discourse he will make it clear that research is the main function of theuniversity and will analyze its importance. He will make a series of inquiries into this set of problemssince questioning is one of the characteristics of contemporary researchers. Secondly, he will analyzeresearch with teaching as one of the methodological possibilities that the higher education professor willbe able to use. He will emphasize the meaning, the importance, the theoretical background, the changesthat this methodology provokes in the role of professor and student. To culminate, he will make someconsiderations for reflection about the reality, the challenges and the perspectives of teaching with researchin the Brazilian university.

    Keywords: Teaching with research. Higher education. Teaching methodology. Research.

    Lenseignement avec la recherche : ralit, dfis et perspectives dans luniversit brsilienneRsum

    Lenseignement avec la recherche, abord dans cet article, est une proposition mthodologique innovatriceet qui a des rpercussions sur la qualit de lenseignement. Dans un premier moment, lauteur situeraet dfinira le contexte de la problmatique. Pendant ce discours, il claircira que la recherche est laprincipale fonction de luniversit et analysera son importance. Il posera une srie de questions sur cetteproblmatique, puisquune des caractristiques des chercheurs modernes est justement le questionnement.Dans un deuxime temps, il analysera la recherche avec lenseignement comme une des principalesmthodologies que le professeur de lenseignement suprieur peut utiliser. Il mettra en vidence le sens,limportance, la base thorique, les changements que cette mthodologie provoque dans le rle duprofesseur e de ltudiant. Comme point culminant, il fera quelques pondrations pour la rflexion surla ralit, les dfis et les perspectives de lenseignement avec recherche dans luniversit brsilienne.

    Mots clefs: Enseignement avec recherche. Enseignement suprieur. Mthodologie denseignement. Recherche.

    La enseanza con investigacin: realidad, desafos y perspectivas en la universidad brasilea Resumen

    La enseanza con investigacin, abordada en este artculo, es una propuesta metodolgica innovadoray que tiene repercusin en la calidad de la enseanza. En una primera instancia, el autor ubicar ycontextualizar la problemtica. Durante el discurso, dejar claro que la investigacin es la principalfuncin de la universidad y analisar su importancia. Har una serie de indagaciones acerca de estaproblemtica, pues una de las caractersticas de los investigadores contemporneos es el cuestionamiento.En la segunda parte, analisar la investigacin con enseanza como una de las posibilidades metodolgicasque el profesor de la educacin superior podr utilizar. Destacar el significado, la importancia, elrespaldo terico, los cambios que esta metodologa provoca en el papel del profesor y del alumno. Por fin,tejer algunas ponderaciones para reflexin acerca de la realidad, de los desafos y de las perspectivas dela enseanza con investigacin en la universidad brasilea.

    Palabras-clave: Enseanza con investigacin. Educacin superior. Metodologa de la enseanza.Investigacin.

    Recebida 1 verso em: 28.05.2007 Aceita 2 verso em: 04.08.2008

    150

    E. Lampert

    Linhas Crticas, Braslia, v. 14, n. 26, p. 131-150, jan./jun. 2008

    linhas_criticas_26:LINHAS CRITICAS 23 March/4/11 10:38 AM Page 150