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VI COLQUIO INTERNACIONAL DE POLTICAS E PRTICAS CURRICULARES Currculo: (re)construindo os sentidos de educao e ensino
ISSN 18089097 GT 09: CURRCULO E ENSINO SUPERIOR & GT 10: CURRCULO E ENSINO SUPERIOR A DISTNCIA
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ACESSO AO CURRCULO, CONSTRUO DE SENTIDOS E COMPROMISSO POLTICO DO EDUCADOR NO ENSINO
SUPERIOR: CARTOGRAFANDO O CASO DE GRADUANDOS SURDOS
Aline Lima da Silveira Lage
Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES) [email protected]
RESUMO No obstante os avanos das pesquisas em educao de surdos no Brasil carecem ainda h carncia de maiores esforos na pesquisa sobre o cotidiano escolar. Por meio desta cartografia que delineia a experincia docente no Curso Bilngue de Pedagogia do Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES), pretendemos enumerar os problemas que enfrentamos ao buscarmos garantir acesso ao currculo aos graduandos surdos. Para tanto, explicitaremos a noo de acesso ao currculo, descreveremos os problemas enfrentados para reconstruir os sentidos na formao dos alunos e relataremos algumas estratgias desenvolvidas. A cartografia um mtodo de pesquisa-interveno (Passos & Barros, 2010) que aponta para inseparabilidade entre conhecer e fazer. Articularemos conceitos da psicologia histrico-cultural (Vygotsky) e dos estudos do currculo (Varela, 1994; Popkewitz, 1994). Desenharam-se cenrios que compem o todo complexo da formao de pedagogos surdos: condies institucionais; relacionamentos interpessoais; construo de ferramentas de trabalho. Garantir acesso ao currculo aos graduandos surdos requer engajamento terico e poltico. Palavras-chave: ensino superior, currculo, cartografia, educao de surdos. ACCESS TO THE CURRICULUM, CONSTRUCTION OF SENSES AND POLITICAL COMMITMENT OF THE
EDUCATOR IN HIGHER EDUCATION: MAPPING THE CASE OF DEAF UNDERGRADUATES
ABSTRACT Despite the advances of research on deaf education in Brazil, greater efforts into research on school routine are required. Through this mapping that delineates the teaching experience in the Bilingual Pedagogy Course in the National Institute of Education for the Deaf (INES), we intend to enumerate the problems we face seeking to ensure access to the curriculum for deaf undergraduates. With this aim, we will make explicit the notion of access to the curriculum, describe the problems faced rebuilding the senses in the training of students and report some strategies developed. Mapping is a method of intervention-research (Passos & Barros, 2010) that points to the inseparability between knowing and doing. We will articulate concepts of cultural-historical psychology (Vygotsky) and curriculum studies (Varela, 1994; Popkewitz, 1994). Scenarios that make up the complexity of the training of deaf pedagogues have been drawn up: institutional conditions, interpersonal relationships, creation of work tools. Ensuring access to the curriculum for deaf undergraduates requires theoretical and political engagement. Keywords: higher education, curriculum, mapping, deaf education.
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Introduo O tema deste colquio suscita a necessidade de tratar de uma problemtica pouco
abordada apesar da produo acerca da educao de surdos. Por meio da cartografia que
delineia a experincia docente no Curso Bilngue de Pedagogia do Instituto Nacional de
Educao de Surdos (INES), pretendo enumerar os problemas que enfrentamos para tentar
garantir acesso ao currculo aos graduandos surdos. Para tanto fundamento o que entendo por
acesso ao currculo, descrevo quais so os problemas enfrentados para reconstruir os sentidos
na formao dos graduandos surdos e, relato algumas estratgias desenvolvidas visando
enfrentar tais problemas.
As pesquisas em educao de surdos tem avanado no Brasil. As principais e
relevantes contribuies esto circunscritas especialmente nos estudos culturais, na lingustica
tanto no estudo da lngua de sinais quanto no ensino de portugus como segunda lngua, na
atuao dos tradutores intrpretes da Lngua Brasileira de Sinais (Libras) e, nos modelos de
formao oferecidos ou desejados (educao inclusiva, educao regular bilngue, educao
exclusiva bilngue). Todavia, carecem maiores esforos no sentido de pesquisar o cotidiano
escolar, sobre o que tem sido desenvolvido nas salas de aula. Os estudos apontam que as
escolas, incluindo as do ensino superior, no esto adaptadas s pessoas surdas e s outras
diferenas.
Acreditamos que elaborando esta cartografia contribumos para os dois campos em
debate, currculo e ensino superior, buscando dar relevo ao contexto da educao de surdos.
Por se tratar de um mtodo de pesquisa-interveno, constitui uma forma de caminhar, de
realizar a experincia docente, no caso aqui proposto, na qual se recupera todo o tempo o
percurso desenvolvido, as metas presentes nesse plano. Passos e Barros (2010) sublinham que
esta caracterizao da cartografia aponta para inseparabilidade entre conhecer e fazer. O
mergulho na experincia agencia sujeito e objeto, teoria e prtica, num mesmo plano de
produo ou de coemergncia o que podemos designar como planos de experincia (idem,
ibdem, p. 17). A experincia entendida como um saber-fazer ou fazer-saber a qual direciona
o trabalho da pesquisa, aponta para um caminho metodolgico.
Como um desenho que acompanha a transformao da paisagem, a cartografia
provisria e singular, mas se empenha na compreenso dos materiais questionando o
funcionamento e relaes que esses dados fazem emergir (Rolnik, 1989). Neste recurso
metodolgico, conforme em Kastrup (2010) delineamos pistas, descrevemos, discutimos e,
sobretudo, coletivizamos a experincia docente esperando contribuir com outras prticas que
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esto acontecendo no Brasil e que devem estar alinhadas com o desejo de real apropriao de
conhecimentos pelos graduandos surdos.
Acesso ao currculo e construo de sentidos na formao de pessoas surdas
Neste percurso como educadora da rea da psicologia, algumas convices esto
sendo construdas iremos aqui brevemente articular alguns conceitos urdidos na psicologia
histrico-cultural e nos estudos acerca do currculo.
Na psicologia histrico-cultural, Lev Vygotsky1 rompeu com a concepo dualista
cartesiana e utilizou os princpios do materialismo dialtico para estabelecer um novo
paradigma.
Emergiu uma nova proposta que no divide a psicologia ora vista como estudo dos
processos elementares sensoriais e reflexos (Homem como corpo), ora como descrio das
propriedades dos processos psicolgicos superiores (Homem como mente). Vygotsky
compreende o Homem enquanto corpo e mente, ser biolgico e social, membro de uma
espcie humana e participante de um processo histrico (Oliveira, 1997). Nesta perspectiva os
fenmenos so estudados como processos em movimento e mudana, tem uma histria
caracterizada por mudanas qualitativas (forma, estrutura e caractersticas bsicas) e
quantitativas. Cabe ao cientista reconstruir a origem e o curso do desenvolvimento do
comportamento e da conscincia. Tuleski (2002) afirma que os textos oriundos de tradues
dos Estados Unidos retiraram os elementos conceituais que possibilitam perceber os
fundamentos no materialismo dialtico e no marxismo, retomadas apenas a partir de 2000.
Na concepo de Vygotsky, o desenvolvimento s acontece por meio da apropriao
do conhecimento scio-histrico. Em outras palavras, o desenvolvimento provocado pela
aprendizagem, a qual, por sua vez s ocorre por meio da relao interpessoal (Isaia, 1998).
Na psicologia histrico-cultural, no cabe apenas ao ncleo familiar a
responsabilizao pela aprendizagem. As funes mentais elementares so biolgicas, mas
podem transformar-se em funo das relaes sociais em funes mentais superiores.
Freitas (1998) fundamentando-se em Vygotsky afirma que a surdez uma deficincia
na experincia social. A criana que apresenta uma deficincia tem uma relao com o mundo
diferente e isto que pode impactar seu desenvolvimento (Monteiro, 1998). No se trata de
um fenmeno particular e pontual: uma pessoa surda-reao do pequeno grupo do seu
entorno. A forma como a sociedade significa os diferentes, os modelos societrios humanos
1 Manteremos aqui a grafia presente nas referncias mais antigas.
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constroem uma psique humana determinada (Tuleski, 2002). Mais do que o fato de no captar
os sons do ambiente fsico e social ao redor, o olhar do outro, o lugar social que ocupam que
pode limitar a vida de uma pessoa surda.
No entanto, a internalizao dos conceitos ser possvel se forem aproveitados e
desenvolvidos o sistema sensrio-motor, viso, tato, enfim, os canais de contato desta criana
com seu meio. O sistema sgnico que faa real sentido para a criana deve ser oferecido e o
ambiente social precisa se adaptar a ele. A lngua de sinais oferece meios mais lgicos e
naturais Freitas (1998) para construo de conceitos, para a cognio da criana surda de uma
maneira geral.
A escola, instituio social responsvel pelo ensino, deve mediar o processo de
desenvolvimento humano, deve se ocupar das interaes sociais (Isaia, 1998), estabelecer
rupturas nos modelos de significao da surdez. Ou seja, a escola deve comprometer-se com o
desenvolvimento dos seus alunos; superar a focalizao nas faltas, o ncleo primrio e
biolgico da deficincia e incidir sobre ncleo secundrio, simblico. Os educadores devem
reconhecer os efeitos da deficincia e mais ainda reconhecer suas particularidades positivas.
Todavia, no tem sido esta a experincia das pessoas surdas na sua formao. Quando
chegam ao ensino superior elas podem olhar ao seu redor e se perceber como sobreviventes,
por vezes solitrios de numa jornada extremamente difcil. Alm das experincias vivenciadas
no INES citaremos dois casos em que surdos alcanaram o ensino superior e temas ligados ao
currculo e ao ensino aparecem.
Em 1997, na Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE) foi institudo um
programa que previa o apoio institucional para incluso de pessoas com deficincia. Visando
ao atendimento acadmico destes alunos foram delineadas aes para acesso, produo de
material didtico adaptado, intrpretes de Libras nas salas de aula e aproximao com
entidades representativas dos mesmos (Silva et al, 2006). Deixam claro que j nos primeiros
debates havia o reconhecimento de obstculos para apropriao efetiva dos conhecimentos
por parte dos alunos ditos deficientes e projees para problemas futuros: depois de formados
como atuaro nos espaos formativos que no reconhecem as diferenas? No vestibular de
2004, houve solicitao de banca especial por 49 candidatos. Citam o caso de permanncia de
uma graduanda surda de pedagogia para a qual foi contratada uma professora intrprete e
realizada formao para a comunidade acadmica para abordar o relacionamento com surdos.
Reconheceram que h uma defasagem na formao dos alunos portadores de deficincias
pela falta de condies didtico-pedaggicas necessrias para a apropriao dos
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conhecimentos (p. 69). Destacando o caso dos surdos remetem-se aos problemas de
apropriao do portugus escrito e do acesso aos conhecimentos cientficos que no
garantido s com a atuao dos intrpretes.
A abertura ao outro e o reconhecimento das limitaes para se adaptar so atitudes
importantes, so pontos de partida. Colocando-nos no lugar daquela graduanda: como deve
ter sido enfrentar o curso, as leituras? Para a professora intrprete, era apenas uma? Como foi
sua relao com os demais colegas? Havia outros surdos? Que apropriaes forma possveis?
Numa pesquisa realizada na ULBRA Karnopp (2012) coletou o relato de oito
universitrios surdos e professores de surdos de escolas da regio metropolitana de Porto
Alegre acerca da questo da leitura na escola. Aqueles declararam estar lendo os primeiros
livros das suas vidas. Durante toda a vida escolar anterior as leituras se limitavam a fceis e
pequenos textos de jornais e revistas. A autora denominou evitao a prtica das escolas
que pressupe uma extrema dificuldade de ler e escrever por parte dos alunos surdos. Os
sujeitos entrevistados relataram tal atitude derivada de professores e de outros educadores,
citando um bibliotecrio. Aqui vemos claramente o impacto do lugar social como algo que
impede o desenvolvimento pleno dos surdos. Focado no ensino da Lngua Portuguesa, o
estudo demonstra que existe uma desvinculao entre o conhecimento de mundo e o
conhecimento lingustico que est relacionado com a lngua de sinais.
A falta de comunicao mais grave nos casos em que j se nasce surdo ou se adquire
a surdez antes do desenvolvimento da linguagem ter atingido o nvel da aquisio de lngua.
Na maior parte dos casos isso acontece numa famlia de pessoas ouvintes.
Em aula, j propus aos graduandos ouvintes e surdos que imaginem uma cena comum:
me e filho ouvintes caminham na rua; ele(a) tem quatro anos; fala tudo e pergunta acerca de
tudo. Talvez j conhea carro. J tenha associado a palavra ao objeto e j saiba o que significa
esse objeto para seu grupo social. Ao apontar para um caminho talvez diga: carro. Sua me
ter oportunidade para corrigi-lo e responder: - No, caminho. No mesmo passeio
imaginemos que veja uma betoneira e j use a nova palavra: - Caminho. A boa me, no que
diz respeito troca e formao, poder introduzir esta nova informao. Cada passeio, cada
sada rua pode representar uma nova oportunidade para aprender. Se no tiver comunicao
com os seus pais e demais pessoas ao seu redor, a pessoa surda no ter esta oportunidade.
Alis, alguns alunos afirmaram que eles, adultos surdos no conheciam algumas das palavras
que usei. O repertrio cultural desta criana surda ser diferente.
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Estes aspectos precisam ser analisados quando as escolas, incluindo as escolas de
estudos avanados como as universidades, recebem alunos surdos. Mesmo considerando
ouvintes ainda h uma concepo (ou desejo?) segundo a qual o aluno veio pronto.
Alm da comunicao com as famlias e outros grupos sociais precisamos avaliar as
modalidades de comunicao as quais os surdos tem acesso. Vilhalva (2013) destaca que as
informaes que chegam atravs dos canais de mdias de comunicao e de informaes
audiovisual se limitam Lngua Portuguesa oral em relao lngua de sinais ou at mesmo a
lngua escrita em molde de legendamento. Podemos estender esse fato h vrias produes
culturais, cinema (especialmente a produo nacional, que nem legenda oferece), teatro,
museus, entre outros. A falta de uma lngua que d sentido ao vivido prejudica a aquisio de
conceitos.
O currculo das escolas repete esta realidade, pois o sistema educacional, mesmo nas
escolas de surdos, est baseado numa perspectiva auditiva do mundo (Kyle, 1999 apud Rangel
& Stumpf, 2012). Esse ouvintismo vem sendo apontado nas pesquisas dos campos da
neurolingustica, da educao e da psicologia.
Debatendo tambm a necessidade de adaptao das escolas aos alunos surdos e seus
diferentes perfis culturais, Kelman (2012) reflete acerca da possibilidade de oferecermos
sistemas pblicos educacionais mais eficazes oferecendo a lngua de sinais desde a educao
infantil, introduzindo aos poucos o ensino da Lngua Portuguesa. Numa abordagem
multicultural a equipe pedaggica precisa eliminar o vis patologizador e incapacitante.
Os sistemas de ensino orientam as escolas construo de um projeto poltico e
pedaggico que reflita as realidades do entorno, o que possibilitaria atender ao perfil cultural
dos alunos. Caso assim fosse, o currculo poderia ser desenhado para refletir essas
diversidades culturais (idem, ibdem). Mas, no Brasil, as orientaes provenientes das polticas
pblicas apresentam um paradoxo constitutivo. Pois ao estabelecer parmetros de avaliao
nacionais, que se desdobram em distribuio de recursos e sistemas de premiao, demandas
decorrentes de acordos com Banco Mundial, por exemplo, reforam-se mecanismos de
homogeneizao.
Ao pensarmos em sociedades humanas podemos ligar o modelo de organizao
adotado s formas de educao, os saberes que sero disseminados. Na perspectiva da
educao escolarizada, o currculo compreende formas de conhecimento que tem como
funo regular e disciplinar o indivduo (Popkewitz, 1994).
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Com o objetivo de compreender o estatuto dos saberes pedaggicos Varela (1994)
mostra brevemente o papel imposto s instituies educacionais, durante as transformaes
sociais da Modernidade Ilustrao. A partir do Renascimento novas instituies educacionais
surgiram e a autora destaca os Colgios Jesutas. Estes serviram como modelo para as demais
instituies escolares educando as crianas em espaos fechados adequados s capacidades
infantis. Uma srie de procedimentos e tcnicas foram aperfeioadas para conferir uma
natureza moralizada e moralizante aos colegiais e aos saberes. Essas se converteram em
instrumentos privilegiados de extrao de saberes dos prprios escolares, e em fonte de
exerccio de poderes que tornaram possvel o surgimento da cincia pedaggica, do saber
pedaggico.
Para Popkewitz (1994) o currculo um conhecimento particular e historicamente
formado. Mantendo a tendncia terica anterior, o autor afirma que ao organizar o
conhecimento escolar como currculo, constituem-se formas de regulao social. Incutem-se
certas formas de agir, sentir e ver o mundo e a si prprio. Currculo como uma coleo de
sistemas de pensamento razo e individualidades so construdas.
Convocamos esses autores para afirmar que quando defendemos a necessidade dos
sujeitos surdos terem acesso ao currculo no pretendemos submete-los aos processos de
subjetivao vigentes. Defendemos formas de educao que construam sentido para alm dos
desgnios do capital para efetivao de uma sociedade justa e fraterna. Concordo com Duarte
& Saviani (2012) ao defenderem o acesso aos clssicos como condio necessria formao
humana. Clssico material de referncia para os demais, no coincide com o tradicional e
tambm no se opem ao moderno. So ideias que resistiram ao tempo com validade que
extrapola o momento em que foi formulado. Um dos movimentos para alcanar o pleno
desenvolvimento da individualidade livre e universal seria manter o movimento de
apropriao das objetivaes humanas produzidas ao longo da histria, recuperar o que tem
carter permanente.
Muitos de ns fomos subjetivados em torno de uma cultura a qual nos apropriamos.
Tornar uma cultura prpria sua requer antes acessa-la. Nesse sentido podemos gerar cultura
tambm, reproduzindo, dialogando ou ousando construir outros olhares sobre o mundo,
confrontarmos as vises vigentes sejam hegemnicas, resistentes ou contra-hegemnicas.
No contexto desta cartografia acredito que para que os surdos cheguem a questionar
os modelos educacionais, os olhares voltados para eles, precisaram antes conhec-los,
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identificar seus mecanismos, suas formas de operao. Para modificar ou lutar contra o que
est estabelecido precisaram produzir saberes e modos de ver, gerar outra cultura.
Entretanto o que vemos observando que, se no mudarmos a correlao de foras
vigente, a grande maioria das pessoas surdas no chegar sequer a compreender que vises
de mundo esto em disputa. Os sentidos na formao podem continuar a significar apenas
sentimentos, estados emocionais em geral de frustrao e desvalia. Precisamos nos engajar de
fato com os surdos na construo de sentidos que movimentem os estados emocionais para a
ao transformadora e para o conhecimento.
Estratgias que visam construo de sentidos na formao de educadores surdos
Por todo o exposto acima, pela indicao dos pontos-portos que orientam a
experincia na graduao do INES, seguiremos nesta cartografia relatando as estratgias que
objetivam responder aos desafios que se apresentaram no fazer docente com os surdos.
Antes, porm vamos descrever o cenrio no qual se descreve o percurso.
O INES uma instituio criada no tempo do Brasil Imprio, mas o Curso Bilngue de
Pedagogia foi iniciado apenas em 2006. Oferece licenciatura plena na Educao Infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental e deve ainda oferecer as outras funes da rea pedaggica
como orientao educacional, administrao e superviso escolar. No projeto de curso a Libras
considerada a lngua de instruo e a Lngua Portuguesa disciplina obrigatria na
modalidade escrita. So admitidos candidatos surdos e ouvintes que apresentem suficiente
proficincia em Libras. O curso possui intrpretes para o desenvolvimento das atividades
didtico-pedaggicas; antes eram terceirizados, neste ano houve concurso para efetivos e o
setor conta agora com 16 profissionais; o nmero ainda insuficiente diante da demanda de
trabalho do qual a interpretao em sala s uma parte. Os professores fizeram, desde 2007
um curso de at dois anos de Libras bsico; neste ano comeou um curso exclusivo para os
professores da graduao. O setor de informtica terceirizado e h muitos problemas com os
equipamentos e com os programas. Espera-se novo concurso para professores efetivos ainda
neste ano, mas at o momento apenas sete professores so do quadro efetivo, os demais
eram mantidos no mximo por dois anos. O ingresso de novos professores deve possibilitar
mudanas no currculo do curso que apesar de alguns aspectos interessantes como o desenho
interdisciplinar e a nfase nos estudos lingusticos, entretanto, apresenta outros problemas
entre os mais graves a ausncia de formao em Libras. Convm lembrar que na poca da
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instalao do curso no havia formao de professores de Libras e que por muito tempo foi
solicitado e no atendida pelo governo federal a demanda de novos professores efetivos.
O cenrio duplamente desafiador pela natureza da educao de surdos e sua histria
e pelas condies de trabalho extremamente desfavorveis. Apesar disso - e quem sabe por
causa disso - abaixo recuperamos parte do saber-fazer realizado. As estratgias no so aes
isoladas, no carregam uma hierarquia nem cronologia (exceto a primeira). Elas tentam
garantir o acesso ao currculo - aqui entendido como conceitos relativos psicologia -, ou seja,
o compromisso com a possibilidade de apropriao de conhecimentos por parte dos
graduando com foco especial para os surdos.
Primeiro foi preciso constatar que nada sabia acerca da surdez. Estudos sobre surdez
um ponto de partida absolutamente relevante e revelou o quadro tal como descrito
rapidamente acima. Primeiro preciso abrir-se ao outro: o surdo este at ento estranho. Se a
expectativa do Curso Bilngue de Pedagogia formar os futuros professores de surdos para
uma melhora significativa da educao ora oferecida, h de se centrar esforos na formao
dos formadores dos futuros formadores.
preciso identificar e investir nos conceitos principais. Nas primeiras aulas comecei a
perceber que o que eu havia planejado desenvolver em 1 dia era realizado em 03 dias. No
incio avaliei que deveria ser alguma dificuldade minha. Conversando com os colegas percebi
que o mesmo acontecia. Era de fato uma dificuldade nossa por no sabermos a formao que
foi oferecida aos alunos surdos, por no sabermos tambm dar aula para surdos. Adaptar o
currculo no simplificar, reduzir os contedos. Por isso, necessito estabelecer escolhas
diante do quadro diverso dos alunos, o que seria o ncleo principal? Como indicar
continuidade aps o encerramento das aulas?
A resposta a estas perguntas depende da ementa da disciplina. Algumas exigem leitura
de texto do autor, se a abordagem terica. Outras ementas tem abordagem temtica, ento
uma fonte com referncias diversas ajudar mais. Tudo devidamente identificado com fotos
dos autores e referncias visuais. As fotos dos autores possibilitam apoiar a construo ou
reconhecimento do sinal que nomeia/nomeiar os mesmos. Ento, se Vygotsky fala, por
exemplo, de estudo filogentico, preciso antes identificar o autor e usar imagens, grficos
que expliquem a classificao filogentica da espcie humana. Para alguns alunos ser,
infelizmente, a primeira oportunidade para perceber que macaco e gorila, chipanz, gibo, so
animais diferentes e tem sinais diferentes em Libras. Outras visualizaes como grficos e
diagramas tambm ajudam. Na realidade auxiliam mesmo os alunos ouvintes, embora estes
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no tenham prioridade no meu planejamento. Iniciar pelo ncleo principal tem sido o
caminho. Resumir a aula anterior, de preferncia com os alunos. Explicar o objetivo das aulas,
onde quero chegar com a abordagem da aula. Explicito para os alunos ouvintes que preciso
planejar pensando primeiro nos alunos surdos: porque eles tem mais desvantagens que devem
ser superadas, como por exemplo o repertrio cultural com menos referncias que os demais;
e, para que eles mesmos observem as necessidades de adaptao da escola para que no futuro
possam fazer o mesmo nas suas salas de aula.
Avaliando o caminho at aqui afirmo que urgente observar a aquisio de lnguas.
Ns professores temos de perceber o quanto aluno surdo sabe Libras e Portugus. Contudo,
no tudo. Precisamos aprender Libras e reconhecer que no mundo acadmico e no civil h
diferentes lnguas portuguesas. Da vem uma estratgia diretamente relacionada: ateno na
seleo das fontes bibliogrficas. A fonte precisa ser de fato acessvel. Para maior
aprofundamento precisamos incentivar a leitura do prprio autor, mesmo que traduzido entre
lnguas orais, o que Duarte & Saviani denominaram acesso ao conhecimento clssico. Examinar
e evitar alguns estilos e teores dos textos: frases invertidas, termos rebuscados; presena de
referncias excessivamente ouvintes (como letras e estilos de msica, por exemplo), entre
outros. Da que mesmo um texto do autor em estudo deve ser bem escolhido. A presena de
uma terceira lngua, em geral outra lngua oral deve ser limitada apenas numa formao
especfica; para a ps-graduao - outro grande desafio para os surdos, dominar outra lngua
oral que no o portugus escrito. Neste ponto ainda h a obrigao de compreender as
condies que os surdos dispem para a produo acadmica escrita. Como dito antes, ns
professores esperamos receber o aluno pronto, no ensino superior ainda mais, entretanto no
a realidade. Os surdos no escrevem como os ouvintes e preciso ateno nos processos
avaliativos.
O aprendizado da Libras tambm ajuda na parceria com os tradutores intrpretes de
lngua de sinais (TILS). Tambm educadores, so uma ponte entre ns e os alunos e entre os
alunos. Quanto mais soubermos Libras mais nos beneficiaremos da sua atuao. Eles precisam
de uma fala com ritmo, coordenao lgica, com sentido quase sempre bem alcanado
quando tem acesso aos contedos a serem desenvolvidos em sala com antecedncia. Os TILS
nos ajudam a possibilitar que os surdos possam visualizar os conceitos. No so mquinas de
traduo, so mediadores educacionais.
Tem sido importante tambm observar e avaliar as diferentes relaes que se
estabelecem em sala de aula para que eu possa organizar minha relao com os alunos
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surdos. Uma relao que no reproduza as outras experincias de estigmatizao. Estigmas de
incapacidade e de impotncia. No raro na comunidade surda tambm observamos relaes
que ora reforam uma falsa idia de separao mundo ouvinte-mundo surdo (possibilidade de
viver isolado), ora reforam a idia que os surdos devem permanecer submetidos a uma
hegemonia ouvinte, especialmente pelo assistencialismo. Cada pessoa surda o diferente da
outra, inclusive na aquisio de lnguas, e preciso avaliar que ateno ela necessita para se
formar plenamente.
No menos relevante tem sido avaliar as condies institucionais: a necessidade de
formao para melhor ensinar os alunos surdos, sobretudo na lngua de sinais; equipamentos
que possibilitem o uso e trabalho com imagens e equipe de suporte que possa ajudar na
elaborao e confeco de material didtico bilngue e em Libras. Os alunos solicitam traduo
de textos acadmicos, produo de textos em Libras (vdeo), mas nem sempre consigo fazer. A
traduo depende da disponibilidade dos TILS. Temos continuamente apontado estas
necessidades nos devidos setores e inclumos as condies de trabalho nos debates em sala de
aula e nas reivindicaes internas. A educao de surdos correta exige investimento
econmico em recursos fsicos e humanos. Ou seja, no momento temos de lutar contra o vis
economicista que atravessa a educao e outros servios pblicos que tem sucateado as
instituies pblicas e desvalorizado o trabalho dos servidores, retirando os direitos da
populao.
Concluses ou finalizao deste mapa provisrio
Esta cartografia desenhou cenrios que compem o todo complexo da formao de
pedagogos surdos: condies institucionais; relacionamentos interpessoais; construo de
ferramentas/estratgias de trabalho. A principal concluso deste momento que ser preciso
construir de tempos em tempos novos mapas porque mudanas vem acontecendo ao longo do
percurso.
Como professora, pretendo garantir acesso ao currculo aos graduandos surdos e isso
requer engajamento terico e poltico. Terico para entender e avaliar o percurso, saber-fazer,
construir novas formas de ensinar e melhorar minha atuao, reconhecendo, por exemplo,
que falo e ajo a partir da minha cognio que ouvinte. necessrio tambm fazer-saber no
sentido de compartilhar esses saberes com outros professores do INES, com os alunos, com os
demais colegas e, em especial com outros professores que podero encontrar alunos surdos
nas suas salas de aula. Embora exista um chamado pessoal, a responsabilidade pela melhor
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formao no est restrita s minhas escolhas pessoais, preciso exigir melhores condies para
realizar meu trabalho.
Entendo que mapeio uma experincia muito diferente dos outros contextos. No INES
vivemos uma incluso inversa: ns ouvintes inclusos numa escola de surdos. Na maioria dos
casos, os colegas do ensino superior tero poucos, quem sabe nenhum, aluno surdo. Torcendo
para que ingressem cada vez mais surdos neste nvel de formao tento compartilhar esses
saberes em construo com o desejo de real que possamos de fato contribuir para a
apropriao e produo de conhecimentos dos graduandos surdos.
No Curso Bilngue de Pedagogia compreendo que imprescindvel lidar com pelo
menos dois currculos: do ensino superior e da educao bsica. Recuperar suas regulaes,
vinculaes e perspectivas. Como fazer isso sem inculcar de minha parte minhas prprias
vinculaes e perspectivas um grande provocao tica. A construo de sentidos um
convite ao dilogo, mas no caso das pessoas surdas temos de observar e vencer as barreiras
para uma relao direta e efetiva. Entendo que esses pedagogos no devem ser reprodutores
das culturas vigentes, mas produtores de novas vises de mundo.
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EXTENSO UNIVERSITRIA COMO PRTICA CURRICULAR E FORMAO ACADMICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA: AO CURRICULAR EM COMUNIDADE E EM
SOCIEDADE - ACCS
Ana Lcia Silva Nunes2 Resumo O artigo3 objetiva apresentar a nova concepo de Extenso Universitria denominada Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS) desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (UFBA) a partir da flexibilizao curricular, a qual definida pela Resoluo n 01/2013 do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extenso (CONSEPE) que regulamenta o aproveitamento da atividade para integralizao curricular dos cursos de Graduao e Ps-Graduao da Instituio. Para alcanar esse propsito traou-se um panorama histrico da Extenso Universitria, no Brasil, de sua origem concepo atual, realizada nas Instituies Pblicas de Ensino Superior, particularmente a praticada na UFBA. A metodologia compreende reviso bibliogrfica sobre o tema bem como o levantamento de documentos institucionais da UFBA, do Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX) e do Frum Nacional de Pr-Reitores de Graduao das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROGRAD) os quais possibilitam entender como as instituies de ensino superior assimilaram as concepes de extenso; e promovem as suas prticas. Palavras-chave: Extenso, Flexibilizao Curricular, Sociedade. Abstract The paper presents a new concept of University Extension called Curriculum in Action Community and Society (ACCS) developed at the Federal University of Bahia (UFBA) from the curricular flexibility, which is defined by Resolution N 01 /2013 of Council higher Education and Research (CONSEPE). For achieve this goal was traced about the University Extension developed in the Brazilian Public Institutions of Higher Education since its genesis, which was implemented in UFBA. The methodology includes a literature review and survey of institutional documents of UFBA, of Extension Deans of Brazilian Public Universities (FORPROEX and the National Forum of Deans Undergraduate Brazilian Public Universities (FORPROGRAD), which allow to understand how higher education institutions assimilated the concepts of extension , and promote their practices Key-words: Extension. Curriculum Flexibilization. Society
2 Mestranda do Curso de Ps-Graduao em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (EISU) do Instituto de Humanidades Artes e Cincias IHAC da UFBA. Membro do Grupo de Pesquisa Promoo da Sade e Qualidade de Vida Linha de Pesquisa Extenso Universitria 3 Trabalho orientado por Djalma Thrler, Professor Adjunto do Instituto de Humanidades Artes e Cincias IHAC da UFBA. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade CUS e do Grupo de Pesquisa Gnero, Narrativas e Polticas Masculinas GENI.
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Introduo A discusso sobre prticas de Extenso Universitria nas Instituies Pblicas de Ensino
Superior, no Brasil, intensificou-se notadamente na segunda metade dos anos 80 com a
abertura poltica, momento histrico em que a sociedade se mobiliza para reivindicar o
compromisso social da Universidade. Esse debate norteou-se pela Lei n 5.540/68 da Reforma
Universitria que torna obrigatrio a Extenso nas Universidades Pblicas Brasileiras. A
Extenso Universitria comprometida com os processos de transformao social, que articula
o ensino e a pesquisa para atuarem conjuntamente na busca de solues, assegurada na
Constituio Federal de 1988, artigo 207, onde se l: As universidades gozam de autonomia
didtico-cientfica, administrativa e de gesto e obedecero ao princpio da indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extenso. Todavia a regulamentao no representou alteraes
significativas nas prticas extensionistas que vinham sendo realizadas nas universidades
brasileiras. As mudanas iro ocorrer quando o Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso
das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX) repensa e define o novo conceito de
extenso4 no I Encontro Nacional do Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso das
Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX) em 1999 (BRASIL, 2001). O conceito vigente de
Extenso estabelecido por esse Frum tornou-se fundamental na elaborao do Plano
Nacional de Extenso que explicita sua praxis nos princpios da indissociabilidade e ao
transformadora, com interao social e interdisciplinaridade. Neste contexto, amplia-se o
escopo de atuao da Extenso nas universidades, no Brasil.
Este artigo tem como objetivo apresentar a nova concepo de Extenso Universitria
denominada Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS), desenvolvida na
Universidade Federal da Bahia (UFBA) a partir da flexibilizao curricular, que se torna
obrigatria para os cursos de graduao e ps-graduao da Instituio, em 2013. Em linhas
gerais, trata-se de uma reflexo embasada em documentos e instrumentos normativos:
Indissociabilidade EnsinoPesquisaExtenso e Flexibilizao Curricular Uma Viso da
Extenso, documento conceitual elaborado a partir dos debates do FORPROEX; Plano Nacional
de Extenso; Marcos Regulatrios; instrumentos legais da UFBA que regulamentam a atividade
para integralizao curricular em todos os cursos da Instituio.
4 A Extenso Universitria o processo educativo, cultural e cientfico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissocivel e viabiliza a relao transformadora entre a Universidade e a Sociedade
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O trabalho foi dividido em trs partes: a primeira traa um panorama histrico da Extenso
universitria de modo a compreender as concepes de extenso que prevalecem nas
universidades brasileiras e sua institucionalizao; a segunda aborda a Extenso universitria e
a flexibilizao curricular a partir das reflexes do FORPROEX; a terceira apresenta aes
inovadoras da extenso desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (UFBA) denominada
Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACC), uma prtica acadmica no processo de
formao dos discentes que passou a integralizao curricular dos cursos de Graduao e Ps-
Graduao na UFBA; por ltimo, consideraes finais acerca do trabalho.
1. Extenso Universitria: histrico e concepes nas universidades brasileiras O resgate histrico da Extenso Universitria no ensino superior imprescindvel para
compreender as concepes da atividade que prevalecem nas universidades pblicas
brasileiras e a institucionalizao ao longo de sua trajetria. Autores como Nogueira (2005) e
Gurgel (1986) identificam o surgimento da Extenso Universitria na Inglaterra no sculo XIX,
vinculada ideia de educao continuada, voltada para a populao adulta que se encontrava
fora da universidade e ofertada na modalidade de cursos breves e outras atividades. Alguns
anos mais tarde, registram-se atividades de extenso nas universidades norte-americanas
caracterizadas pela prestao de servio, consubstanciando-se em duas linhas de atuao: a
extenso cooperativa ou rural, e a extenso universitria (GURGEL, 1986; NOGUEIRA, 2005).
No Brasil, as primeiras experincias extensionistas, influenciadas pelo modelo europeu,
surgem em 1912 na Universidade Livre de So Paulo que ministrava cursos e conferncias
consideradas lies pblicas, forma de difundir o conhecimento produzido no seu interior.
S mais tarde comea a ser difundido no pas o modelo de extenso americano: Escola
Agrcola de Lavras/MG, em 1922, e Escola Superior de Agricultura e Veterinria de Viosa/MG,
em 1926, quando iniciam atividades de extenso voltadas para a prestao de servios na rea
rural, levando assistncia tcnica aos agricultores da regio. As duas vertentes, a de influncia
inglesa cursos e a de influncia americana prestao de servios - estaro presentes nas
prticas extensionistas das universidades brasileiras e na institucionalizao dessa atividade
(GURGEL, 1986). O modelo de influencia Inglesa, na opinio de Souza (2005), representou a
primeira tentativa de integrar a instituio de ensino realidade na qual est inserida.
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O primeiro registro oficial da Extenso Universitria encontra-se no Decreto n 19.851/315 que
a qualifica como atividade tcnica e cientfica, de benefcio coletivo, efetuada por meio de
cursos e conferncias, organizados pelas universidades, destinados difuso de
conhecimentos filosficos, artsticos, literrios e cientficos em beneficio de aperfeioamento
individual e coletivo. Decorridas trs dcadas, promulga-se a Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional, Lei n 4.024/61, que faz referncia Extenso em seu artigo 69, como
modalidade de cursos dirigidos aos que possuem vnculo com a universidade. Percebe-se por
esses instrumentos que a institucionalizao da Extenso incorpora a concepo inglesa, razo
pela qual as prticas extensionistas passam a ser consolidadas nas universidades como
transmisso de conhecimento atravs de cursos. Nogueira (2005) considera que a extenso
no era apenas instrumento de transmisso de conhecimentos da universidade para a
sociedade, mas tambm de propagao de valores de uma classe hegemnica que definia a
ordem poltica e econmica que se instaurava no pas. Algumas experincias de extenso que
envolvia esse tipo de orientao encontram-se descritas a seguir.
As experincias de Extenso que surgem no incio da dcada de 60 entre a universidade e a
sociedade restringiam-se, na maioria das vezes, ao nvel local e de curta durao. Das
formulaes existentes que podem ser caracterizadas como atividades de Extenso
Universitria, trs so destacadas por Gurgel (1986): Centro Popular de Cultura (CPC), Servio
de Extenso Cultural (SEC) e Universidade Volante. Vale destacar que tais aes eram pontuais,
desvinculadas do projeto acadmico institucional; e no poderia ser de outro modo, haja vista
que tinham motivaes ideolgicas que conflitavam com os ditames do regime autoritrio de
1964.
Em 1966 criado o Projeto Rondon com o objetivo de colocar os estudantes a servio do
Estado. Nesse mesmo perodo a Extenso se consolida no interior das universidades atravs
dos Centros Rurais Universitrios de Treinamento e Ao Comunitria CRUTACs, cujo
objetivo era proporcionar aos estudantes universitrios atuao junto s comunidades rurais,
engajados nos propsitos da poltica desenvolvimentista. Mais tarde esses locais se convertem
em campos de treinamentos e de estgio para os estudantes universitrios (GURGEL, 1986).
5 Decreto N 19851, de 11 de abril de 1931 A extenso universitria se destina a dilatar os benefcios da atmosfera universitria queles que no se encontram diretamente associados vida da Universidade, dando assim maior amplitude e mais larga ressonncia s atividades universitrias que concorrero de modo eficaz, para elevar o nvel da cultura geral do povo.... 5 Art. 42: - A extenso universitria ser efetivada por meio de cursos e conferncias de carter educacional ou utilitrio, uns e outras organizadas pelos diversos institutos da Universidade com prvia autorizao do Conselho Universitrio..
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Apesar de serem experincias extensionistas capitalizadas pelo governo militar como forma de
legitimao, no se pode ignorar os benefcios que essas aes ofereceram, sobretudo, s
comunidades rurais no Brasil.
No perodo compreendido entre o Estado Novo e o Golpe Militar de 1964, as universidades
no esboaram preocupao quanto formulao de um caminho prprio para a extenso,
ficando tal incumbncia para o movimento estudantil que encampa a luta pela concretizao
de uma universidade a servio do povo brasileiro e assim amplia sua atuao do mbito
regional para unificao nacional inspirado no Manifesto de Crdoba (TAVARES, 1997). De
fato, deve-se ao movimento estudantil a mais importante contribuio em relao s
experincias de extenso naquele perodo que, inclua em suas bandeiras de luta a reforma
universitria, a qual foi incorporada Declarao da Bahia6.
A Lei 5.540, da Reforma Universitria de 1968, estabelece em seu artigo 20 a obrigatoriedade
da Extenso nas universidades e em todos os estabelecimentos de ensino superior, mediante
aes desenvolvidas sob a forma de cursos e servios especiais bem como as atividades de
ensino e os resultados da pesquisa que lhes so inerentes, estendidos comunidade. Trata,
tambm, da Extenso em seus artigos 17 e 24, sendo que o primeiro refere-se modalidade
de cursos ofertados pela universidade e o segundo estabelece que a realizao dos cursos
esteja vinculada aprovao nas instncias universitrias. Vale ressaltar que pelo artigo 2 da
Lei 5.540 a exigncia da indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, dando margem ao
equvoco de interpretar a Extenso como funo optativa, secundria e desligada das outras
duas funes universitrias. Pelo texto dos artigos supracitados, observa-se que a
institucionalizao assegura uma concepo de extenso moldada nas vertentes originrias.
A dcada de 80 marcou nova fase da Universidade quanto a posicionamentos e prticas mais
democrticas de atuao, momento em que a Extenso passa a ser entendida alm de sua
compreenso tradicional de transmisso de conhecimentos, prestao de servios e difuso de
cultura. A Extenso nessa nova perspectiva, segundo Botom (1996), surge para atender o
compromisso social da Universidade que no estava sendo alcanado pelas outras duas
6 Documento do I Seminrio de Reforma Universitria, realizado em Salvador, em maio de 1961 no item que as diretrizes para a Reforma no Compromisso com as Classes Trabalhadoras e com o Povo, recomenda dentre outros aspectos: abrir a universidade para o povo.
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funes, ensino e pesquisa. Na segunda metade dessa mesma dcada o compromisso com a
populao passou a ser o eixo das atividades universitrias e a Extenso comeou a ser
entendida como articuladora do ensino e da pesquisa, vinculando-as ao exerccio de
transformao da Sociedade (SOUSA, 2010).
A Constituio Federal de 19887 alm de estabelecer a autonomia universitria, traz nova
concepo da Extenso como prtica indissocivel ao ensino e pesquisa. No entanto, os
avanos mais significativos para a Extenso Universitria iro aparecer na Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) - Lei 9.394/96, em seu artigo 43, captulo VII, que a torna aberta participao da
populao com vistas difuso das conquistas e benefcios resultantes da criao cultural, da
pesquisa cientfica e tecnolgica geradas na Instituio.
Nos anos 1990 a 2000 torna-se cada vez mais acentuada as mudanas de paradigma da
Extenso Universitria, a concepo de transmisso de conhecimentos, prestao de servios e
promotora de eventos no cabe mais e d lugar aos novos modelos de concepes
caracterizados pela interdisciplinaridade, indissociabilidade ensino-pesquisa-extenso e
interao dialgica entre universidade e sociedade. Uma Extenso que contribui no processo
de formao acadmica ao colocar o discente como protagonista de competncias necessrias
atuao profissional e de formao como cidad.
Apesar do marco legal construdo e aperfeioado ao longo desse perodo, bem como do
esforo do FORPROEX na construo de um Plano Nacional que define conceitos, diretrizes
que norteiam as aes da Extenso Universitria, as mudanas nas concepes extensionistas
na maioria das universidades brasileiras ainda so tmidas no sentido de transformar a
Extenso Universitria e/ou inseri-la no projeto pedaggico permanente.
2. Flexibilizao Curricular e Prticas Extensionistas Inovadoras Neste tpico aborda-se a importncia da extenso como mecanismo de flexibilizao curricular
nas universidades brasileiras e seu amparo no marco legal pertinente. O enfoque sobre as
aes de Extenso Universitria que podem ser integralizadas ao currculo dos cursos de
7 Art. 207 As universidades gozam de autonomia didtico-cientfica, administrativa e de gesto financeira e patrimonial, e obedecero ao princpio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso.
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graduao com caractersticas de disciplina, est embasado em documento publicado em 2006
na Coleo Extenso Universitria do FORPROEX intitulado Indissociabilidade Ensino
PesquisaExtenso e Flexibilizao Curricular Uma Viso da Extenso. Este documento
aponta estratgias possveis implementao de aes visando flexibilizao curricular nas
Universidades Pblicas.
A institucionalizao do novo paradigma curricular surge primeiramente na Constituio
Federal de 1988 que estabelece o princpio da indissociabilidade ensino-pesquisa-extenso.
Posteriormente, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9.394/96) e as
Diretrizes Curriculares apresentam a possibilidade de flexibilizao com a incluso das
Atividades Curriculares nos projetos pedaggicos. Essa Lei contrape o disposto na Lei 5.540
que em seu artigo 26 outorga ao Conselho Federal de Educao a competncia de fixar o
currculo mnimo e a durao mnima dos cursos superiores das profisses reguladas em lei.
Avanos expressivos vo ocorrer com a elaborao do Plano Nacional de Educao (2001-
2011) ao assegurar para a graduao no ensino superior o mnimo de 10% do total de crditos
em aes extensionistas. Nesta perspectiva, observa-se uma convergncia de instrumentos
normativos que favorecem a flexibilizao para uma nova estruturao curricular, a partir dos
documentos do Frum Nacional de Pr-Reitores de Graduao das Universidades Pblicas
Brasileiras (FORPROGRAD) e do Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso das
Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX), dos Planos Nacionais de Educao, Extenso e
Graduao e da Lei de Diretrizes e Bases. Com o propsito de nortear as universidades na
flexibilizao curricular, o FORPROEX em 2012, apresenta as universidades signatrias a
Poltica Nacional de Extenso, que orienta a construo de um projeto de Universidade Cidad,
comprometida com a produo de conhecimento cientfico voltada para a transformao
social. Na qualidade de documento referencial, o Plano Nacional de Extenso que estabelece
dentre as Diretrizes para Extenso Universitria, a Indissociabilidade ensino-pesquisa-
extenso, e reafirma a extenso como processo acadmico e de gerao de conhecimentos
em que o discente adquire conhecimento tcnico para obteno de competncias necessrias
sua atuao profissional e de formao cidad, de modo a adquirir uma viso
transformadora e um compromisso social.
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O FORPROEX recomenda que as primeiras medidas possam ser implementadas no mbito das
Pr-Reitorias de Extenso para institucionalizao das aes de extenso. Considera que a
complexidade das estratgias tornam-se mais evidentes ao envolver na sua formulao e
implementao, os rgos institucionais: Colegiados de Curso, Pr-Reitorias de Graduao e
Ps-Graduao etc. Compreende-se que a proposta de flexibilizao curricular embasada na
indissociabilidade das funes universitrias precisa estar em sintonia com as instncias e o
contexto social, de maneira que possa caracterizar-se como projeto poltico pedaggico
institucional que contempla os aspectos socioeconmicos, geopolticos, culturais e
tecnolgicos. Deste ponto de vista pode-se afirmar que a flexibilizao curricular busca
substituir a lgica tradicional de organizao dos currculos, para viabilizar um novo desenho
curricular balizado por um projeto poltico-pedaggico cujo compromisso deve ser debatido e
construdo coletivamente e para garanti-la necessria a reviso da legislao acadmica que
norteia e define o perfil da instituio. Portanto, ao flexibilizar o currculo por meio da
Extenso, as Universidades podem desenvolver e mostrar experincias que contribuem para o
exerccio de prticas produtoras de saberes, proporcionando relaes mais democrticas,
fortalecendo as relaes com a sociedade, como de fato o seu papel. Apesar dos marcos
regulatrios da flexibilizao curricular favorecer uma nova concepo de extenso, so
poucas as universidades que buscam repensar a atividade e propor mudanas nos projetos
pedaggicos (FORPROEX 2002).
Dentre as universidades brasileiras destacam-se as seguintes experincias de mudanas
curriculares que implicaram envolvimento com comunidade: Atividades Multidisciplinares,
para que estudantes possam atuar extramuros da universidade, iniciativa da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), em 1996, o Programa UFBA em Campo; da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), em 2001; Atividade Curricular de Integrao Ensino-Pesquisa-Extenso
(ACIEPE), da Universidade de So Carlos (UFSCar); Bloco de Componentes Curriculares Flexveis
(BCCF), da Universidade Federal da Paraba, includo nos cursos de graduao dessa
universidade em 2003; Programa Sade e Cidadania (SACI), da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como atividade complementar dos cursos da rea de sade, a partir do
segundo semestre do ano 2000 (FORPROEX 2006).
A UFBA antecede essas iniciativas em 1996 desenvolvendo o Programa UFBA em Campo que
se consolida como Atividade Curricular em Comunidade (ACC) que atualmente passou a
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Componente Curricular Obrigatrio como Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade
(ACCS). Por esta tica a flexibilizao curricular materializa o princpio da indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extenso ao construir propostas curriculares entendidas como aes
integradoras entre a formao acadmica e a experincia numa realidade concreta.
Depreende-se que a Extenso possibilita a democratizao do conhecimento produzido e
ensinado na universidade e atende as demandas dos setores menos favorecidos da sociedade.
Neste contexto, est inserida a Universidade Federal da Bahia (UFBA) que ao promover a
avaliao crtica sobre os modelos acadmicos, a qualidade de seu trabalho expresso nas
atividades de ensino, pesquisa e extenso e sua relao com a sociedade, implementa a
prtica extensionista diferenciada denominada Ao Curricular em Comunidade e em
Sociedade (ACCS) descrita a seguir.
3. Prtica Curricular na UFBA: Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS)
Como mencionado na introduo, o propsito deste trabalho, descrever as aes
extensionistas como uma experincia curricular consolidada na Universidade Federal da Bahia
(UFBA) denominada Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS). Para dar incio a
essa descrio faz-se necessrio uma breve apresentao sobre a UFBA que prope a
flexibilizao curricular pela via da Extenso.
A Universidade Federal da Bahia (UFBA) uma das primeiras instituies de ensino superior no
Brasil, foi fundada no ano de 1946 pela unio da Faculdade de Direito, da Escola Politcnica e
da Faculdade de Medicina. Sua gnese est em 1808 com a criao do primeiro curso
universitrio do Brasil, o Colgio Mdico-Cirrgico da Bahia, que deu origem atual Faculdade
de Medicina. . Como a maioria das universidades brasileiras, a UFBA at o final dos anos 90
praticava uma Extenso Universitria moldada unicamente em cursos, eventos, servios,
programas e projetos. Os debates e reflexes do Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso
das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX), concretizados em publicaes na Coleo
Extenso Universitria, como o documento Diagnstico da Extenso Universitria no Brasil
(1995 e 2005), apontaram para um repensar sobre a extenso como prtica acadmica na
perspectiva da interao universidade/sociedade. A Universidade Federal da Bahia em
consonncia com a orientao do FORPROEX e com base nas concepes contemporneas de
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flexibilizao expressas nos instrumentos normativos do Conselho Nacional de Educao,
prope que os currculos dos seus cursos atendam princpios gerais, j definidos na Resoluo
n 02 de 2000, do Conselho de Coordenao, hoje Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e
Extenso. Nesta perspectiva, cria na segunda metade dos anos 90 o Programa UFBA em
Campo, que se consolida em 2001 como Atividade Curricular em Comunidade (ACC) e confere
Extenso Universitria uma nova concepo articulada com o princpio da indissociabilidade
entre ensino e pesquisa na interao com a sociedade.
O programa UFBA em Campo surgiu em carter experimental em 1996 e teve seu primeiro
registro em parceria com o programa UNI8 que tinha como objetivo a formao de
profissionais de sade adequada s necessidades e voltada para a soluo de problemas de
sade da populao. Em 2000 o Programa torna-se um projeto pedaggico com finalidade de
promover a integrao entre a Universidade e a sociedade na troca de experincias tcnicas e
metodolgicas. Apresenta-se no formato diferenciado de aprendizagem para alm da sala de
aula porquanto permite ao estudante descobrir novos objetos de investigao em contextos
externos ao meio acadmico e experimentar alternativas metodolgicas (TOSCANO 2006).
Consagrado pelos resultados obtidos, tal programa passou de carter experimental a
permanente, institucionalizado como Atividade Curricular em Comunidade (ACC) que se inicia
em 2001 na modalidade de componente curricular optativo, para os cursos de graduao com
o objetivo de integrar o ensino e a pesquisa via trabalho compartilhado com as comunidades.
Essa atividade foi definida como uma experincia educativa, cultural e cientfica, desenvolvida
por professores e estudantes da UFBA, em parceria com grupos comunitrios, que articula
ensino/pesquisa e sociedade (UFBA, 2004). Portanto, modelo interdisciplinar com
envolvimento das instncias institucionais, no integralizado ao sistema acadmico por no
apresentar o formato para flexibilidade e as especificidades inerentes a um componente
curricular. O processo de ensino/aprendizagem da ACC pautava-se na metodologia de
problematizao de situaes reais do mundo do trabalho que implicava atuao
multiprofissional e interdisciplinar.
8 UNI, um programa da Fundao W.K.Kellogg, que se inicia na dcada de 90 com um conjunto de 20 projetos distribudos por pases da Amrica Latina e Caribe, dos quais seis foram desenvolvidos no Brasil. A maioria deles estava vinculada ao ensino das profisses mdicas e rea de sade.
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A concepo da ACC amparava-se legalmente na Constituio da Repblica Federativa do
Brasil, art. 207; na Lei 9394/96 no Art. 43; e tambm em algumas contribuies do Planos
Nacional de Educao, do Plano Nacional de Extenso Universitria, do Frum de Pr-Reitores
de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras e da SESU/MEC; na Resoluo 02/96 da
Cmara de Extenso do Conselho de Coordenao da UFBA, Art. 1; na poltica de
reestruturao dos Currculos dos Cursos de Graduao da UFBA, proposta pela Pr-Reitoria
de Graduao e aprovada pela Cmara de Graduao em outubro de 1999; na Resoluo
n02/00 do Conselho de Coordenao da UFBA, 7 do Art. 8. Aps onze anos nesse formato
a atividade passa a integralizar os currculos dos cursos da UFBA sob a denominao de Ao
Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS) a partir da resoluo 01/2013 do Conselho
Superior de Ensino, Pesquisa e Extenso (CONSEPE) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O modelo pedaggico das ACCS est baseado nos princpios de Flexibilizao e Gesto do
Projeto Pedaggico definido pelo do Frum Nacional de Pr-Reitores de Graduao
(FORGRAD) entre eles destacam-se:
As IES tm autonomia para definir a distribuio das disciplinas e as atividades
complementares, bem como a carga horria e a forma de operacionalizar o registro acadmico
das mesmas;
Desenvolver aes pedaggicas ao longo do curso que permitam interface real entre ensino,
pesquisa e extenso, a fim de que se possam produzir novos conhecimentos, a partir de
processos investigativos demandados pelas necessidades sociais;
Ampliar as interfaces entre as diversas reas do conhecimento nos nveis de ensino, pesquisa e
extenso que compem um determinado processo de formao curso.
ACCS configura uma pedagogia emancipatria que permite formar sujeitos com autonomia e
criatividade, capazes de cumprir a misso transformadora da instituio universitria. Nesse
sentido vem superar o paradigma disciplinar convencional que em muitos campos de
conhecimento e formao, representa a conservao de modelos acostumados e apenas
reativos da universidade. Tem como marco legal a Resoluo 01/2013 do Conselho Superior
de Ensino, Pesquisa e Extenso (CONSEPE) da Universidade Federal da Bahia que regulamenta
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o aproveitamento da ACCS como componente curricular obrigatrio dos Cursos de Graduao
e Ps-Graduao no artigo primeiro dessa Resoluo, l-se:
Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS) um componente curricular, modalidade disciplina, de cursos de Graduao e de Ps-Graduao, com carga horria mnima de 17 (dezessete) horas semestrais, em que estudantes e professores da UFBA, em uma relao multidirecional com grupos da sociedade, desenvolvem aes de extenso no mbito da criao, tecnologia e inovao, promovendo o intercmbio, a reelaborao e a produo de conhecimento sobre a realidade com perspectiva de transformao (UFBA, 2013).
A ACCS tem caractersticas comuns demais disciplinas: carga horria, creditao e propsito
acadmico; e diferencia-se dessas pela liberdade na escolha das temticas, na definio de
programas e projetos; na experimentao de procedimentos metodolgicos e pela
possibilidade de assumir um carter renovvel a cada semestre ou de comportar a
continuidade da experincia por mais de um semestre (UFBA, 2013)
Vale ressaltar que ACCS atividade de extenso cujo instrumento institucional lhe outorga
carter de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na relao
dialtica e dialgica entre diferentes campos dos saberes e fazeres necessrios para atuao
em comunidade e sociedade (UFBA, 2013).
4. Metodologia
Fez-se reviso bibliogrfica sobre Extenso Universitria, no Brasil, levantaram-se documentos
institucionais da UFBA, acessaram-se sites oficiais do Ministrio da Educao (MEC), da
Universidade Federal da Bahia (www.ufba.br), portal da Rede Nacional de Extenso e do
Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras
(FORPROEX) e do Frum Nacional de Pr-Reitores de Graduao das Universidades Pblicas
Brasileiras (FORPROGRAD), alm de publicaes avulsas como o Manual da ACC, os quais
possibilitam entender como as instituies de ensino superior assimilaram as concepes de
extenso; e promovem as suas prticas.
5. Consideraes Finais
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Em mbito nacional, a regulamentao da Extenso Universitria foi decisiva para os avanos
rumo a uma nova concepo e proposio de uma poltica de extenso comprometida com a
melhoria da qualidade do ensino, fortalecimento da indissociabilidade entre as funes da
universidade e produo de conhecimentos com perspectiva de transformao social. O Frum
de Ps-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX) teve papel
decisivo nos debates nacionais sobre as polticas de extenso, com enfoque na flexibilizao
curricular como alternativa de transformar as atividades vigentes em aes de extenso,
reelaborao e produo de conhecimento sobre a realidade.
A Universidade Federal da Bahia (UFBA), como a maioria das universidades brasileiras, at o
final dos anos 90 praticava uma Extenso Universitria moldada unicamente em programas,
cursos, eventos etc. A partir de reflexes produzidas no Frum de Pr-Reitores de Extenso
das Universidades Pblicas Brasileiras (FORPROEX) a UFBA repensou a Extenso no mbito
institucional e props uma nova prtica acadmica que articulava a trade ensino-pesquisa-
extenso com o intuito de promover efetivamente a interao entre universidade e sociedade
de modo a produzir um conhecimento compartilhado na resoluo dos problemas sociais. Essa
prtica, denominada Ao Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS), passou por
diversas etapas experimentais e tornou-se uma ao permanente de integrao efetiva entre
ensino/pesquisa e sociedade. A ACCS precedida pelo programa experimental UFBA em
Campo que se consolida em outra etapa denominada Atividade Curricular em Comunidade
(ACC) a qual ir assegurar Universidade Federal da Bahia, lugar de pioneira nas atividades de
extenso integralizada aos currculos dos cursos de Graduao e Ps-Graduao da
Universidade.
Nossa constatao que apesar dos marcos legais favorecendo a flexibilizao curricular, so
tmidas as iniciativas nas universidades no sentido de repensar a Extenso Universitria e
desenvolv-la em outros moldes, bem como propor mudanas nos projetos pedaggicos.
Prevalece, portanto, na maioria das universidades brasileiras, a concepo da Extenso
influenciada pelas vertentes originrias dos Estados Unidos da Amrica e Inglaterra.
6. Referncias
BOTOM, Silvio Paulo. Pesquisa alienada e ensino alienante o equvoco da extenso universitria. Petrpolis, R. J. Editora Vozes; So Carlos SP: Editora da Universidade Federal de So Carlos. Caxias do Sul, R.S.1996.
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BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Superior. Frum de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras. I Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso de Universidades Pblicas. Braslia, 1987. http://www.renex.org/documentos. Acesso 29/07/13 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Ensino Superior. Frum de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Brasileiras (FORPROEX). Plano Nacional de Extenso Universitria. 2000/2001. Disponvel em http://www.renex.org/documentos. Acesso 28/09/2013 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Ensino Superior. Memria do Frum Nacional de Pr-Reitoria de Graduao (FORGRAD). 1997. Universidade Estadual de Campinas. http:// www.forgrad.com.br. Acesso 29/07/2013. BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Ensino Superior. Frum de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Brasileiras (FORPROEX). GT- Indissociabilidade Ensino/Pesquisa/Extenso e a Flexibilizao Curricular: uma viso da extenso. http://renex.org.br/documentos Acesso 01/08/2013 GURGEL, Roberto Mauro. Extenso Universitria: comunicao ou domesticao? Cortez: Autores Associados: Universidade Federal do Cear. Fortaleza. 1986. NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel Nogueira. Polticas de Extenso Universitria. Editora UFMG. Belo Horizonte. MG. 2005. SOUSA, Ana Luiza Lima. A histria da extenso universitria. Editora Alnea. Campinas. SP. 2010. TAVARES, M.G.M. Extenso Universitria: um novo paradigma de universidade? Macei. AL. EDUFAL. 1997.Cortez: Autores Associados: Universidade Federal do Cear. TOSCANO, Geovnia da Silva (2006). Extenso Universitria e Formao Cidad: a UFRN e a UFBA em ao. Natal - (Tese de Doutorado em Cincias Sociais). UFBA. Pr-Reitoria de Extenso. Proposta de Criao de Atividade Curricular (ACC). Salvador. 2000. http://www.proext.ufba.br/accs.https://www.ufba.br. Acesso em 20 jul.2013. ____________________________ ACC. UFBA em Campo. Salvador. Oferta da ACC 2004.1.Acesso 29 jul.2013. ____________________________RESOLUO N 01/2013. Disponvel em: http://www.proext.ufba.br/accs.https://www.ufba.br. 2013. Acesso em 20 jul.2013.
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PROJETO PEDAGGICO DO CURSO DE BACHARELADO EM SECRETARIADO EXECUTIVO DA UFC: ANLISE E CONTRIBUIES PARA A IDENTIDADE SECRETARIAL
Conceio de Maria Pinheiro Barros9
RESUMO O artigo tem como objetivo analisar o atual Projeto Pedaggico do Curso (PPC) de Bacharelado em Secretariado Executivo da Universidade Federal do Cear (UFC), focalizando aspectos necessrios consolidao da identidade secretarial. A pesquisa se insere no modelo qualitativo, composta de levantamento terico e anlise documental, tendo como estratgia de pesquisa a anlise de contedo. Para tanto, foi feita anlise desse PPC luz das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Secretariado Executivo no Brasil, Resoluo n 03/2005, a Lei de Regulamentao da profisso, Lei no. Lei n. 9261, de 10/01/96, o Cdigo de tica do profissional de Secretariado, publicado no Dirio Oficial da Unio de 7 de julho de 1989 e a Lei n 9.394/96, que institui as Diretrizes e Bases da Educao (LDB). A fundamentao terica considerou proposies de Luckesi (1994), Gatti (2002), Veiga (2003), Gil (2010), dentre outros. Aps anlise dos resultados, inferiu-se que o currculo do curso investigado necessita contribuir para a consolidao da identidade secretarial, com atualizao no que se refere aos contedos especficos, de modo que mantenha dilogo com diversas reas de conhecimento, em virtude da interdisciplinaridade em Secretariado e, ao mesmo tempo, destaque conhecimentos especficos da rea. Palavras-Chave: Currculo. Projeto Pedaggico de Curso. Curso de Secretariado Executivo. ABSTRACT The article aims to analyze the current pedagogical project Course Executive Secretary of the Federal University of Cear , focusing on aspects needed to consolidate the identity secretarial. The research is part of the qualitative model , composed of theoretical research and document analysis , and as a research strategy content analysis . Therefore , analysis was made of the course curriculum in light of the National Curriculum Guidelines for Executive Secretarial courses in Brazil , the Law Regulating the profession 's Code of Ethics and Professional Secretarial Guidelines and Bases of Education . The theoretical propositions considered Luckesi (1994 ) , Gatti (2002 ) , Veiga (2003 ) , among others . After analyzing the results , it was inferred that the course curriculum requires investigated contribute to the consolidation of identity secretarial , updated in relation to specific contents , so keep dialogue with various areas of expertise Keywords: Curriculum; Pedagogic Project; Course of the Executive Secretary.
9 Doutoranda em Educao, pela Universidade Estadual do Cear, Mestra em Polticas Pblicas e Gesto da Educao Superior (UFC). Professora Assistente da Universidade Federal do Cear (UFC). Trabalho elaborado em coautoria com Joelma Soares Silva, Mestra em Administrao (UECE), Professora Assistente da Universidade Federal do Cear (UFC) e; Ana Maria Iorio Dias, Doutora em Educao Brasileira, Professora Associada da Faculdade de Educao da UFC.
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1 INTRODUO
A profisso de Secretariado Executivo tem evoludo ao longo dos tempos,
conquistando cada vez maiores espaos. Sua regulamentao em nvel superior se deu por
meio da Lei N. 7.377, de 30 de setembro de 1985, complementada pela Lei N. 9.261, de 11
de janeiro de 1996. Destacam-se, ainda, a publicao no Dirio Oficial da Unio de 7 de julho
de 1989, do Cdigo de tica do Secretariado, bem como a Resoluo N. 3, de 23 de junho de
2005, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em
Secretariado Executivo. Diante desse cenrio, percebe-se a necessidade de se oferecer
formao diferenciada a fim de atender s exigncias do mundo organizacional e da sociedade,
especialmente, na educao superior que possui, dentre outras, a responsabilidade de formar
profissionais com competncia tcnica, humana e cidad.
O Curso de Secretariado Executivo da Universidade Federal do Cear (UFC) vem,
ao longo dos seus 15 anos de existncia, empreendendo aes de aperfeioamento da
qualidade da formao ofertada. Nessa direo, foi realizada uma reformulao curricular em
2006. J no ano de 2010, foi nomeada uma nova comisso, envolvendo docentes e discentes,
para uma nova reviso e reformulao curricular, tendo em vista acompanhar a evoluo do
conhecimento tcnico-cientfico e humano da rea de Secretariado Executivo e do perfil desse
profissional. Portanto, esta pesquisa visa discutir o seguinte questionamento: Quais aspectos
do Projeto Poltico-Pedaggico do Curso de Secretariado Executivo da UFC necessitam de
atualizao, de forma a destacar a identidade do profissional de seus egressos? O presente
artigo tem como objetivo analisar o atual Projeto Pedaggico do Curso de Bacharelado em
Secretariado Executivo da Universidade Federal do Cear, focalizando os aspectos necessrios
consolidao da identidade secretarial.
De acordo com a Lei N. 7.377, de 30 de setembro de 1985, complementada pela
Lei n 9.261, de 11 de janeiro de 1996, considera-se secretrio executivo o profissional com
curso superior de Secretariado, diplomado no Brasil, ou no exterior cujo diploma seja
revalidado no Brasil na forma da Lei (BRASIL, 1996). A exigncia de curso superior para o
secretrio executivo aponta para a necessidade de elaborao de um planejamento
pedaggico capaz de oferecer respostas s novas demandas sociais e no apenas do mercado
de trabalho. Ressalte-se, ainda, que a Lei n 9.394/96, que institui as Diretrizes e Bases da
Educao (LDB) estabelece a obrigatoriedade do PPC para os cursos universitrios visando
melhoria da qualidade da ao e prtica educativa (BRASIL, 1996). Tal projeto deve evidenciar
a identidade dos cursos de bacharelado, diferenciando-o dos cursos de nvel mdio e dos
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tecnlogos. Dessa forma, ressalta-se, aqui, a importncia da realizao desta pesquisa para se
encontrar novos caminhos para o aperfeioamento do PPC do curso em questo.
2 PROJETO PEDAGGICO DE CURSO: ASPECTOS CONCEITUAIS BSICOS
Nos ltimos tempos, a educao brasileira tem sido marcada por grandes desafios e
conquistas. Destacam-se, neste cenrio, o estabelecimento de preceitos legais que tem como
objetivo delinear um projeto poltico educativo visando a reestruturao do sistema
educacional.
Evidencia-se, assim, a elaborao do PPC, como exigncia da Lei n 9.394/96, que
institui as Diretrizes e Bases da Educao (LDB), com o intuito de definir os propsitos e os
compromissos da instituio. Segundo o Decreto n 5.773/2006, Art. 30, para o
reconhecimento e renovao do reconhecimento de um curso junto ao MEC, dentre outros
documentos, exige-se o projeto pedaggico do curso, incluindo nmero de alunos, turnos e
demais elementos acadmicos pertinentes (BRASIL, 2006, p. 14). De acordo com Veiga e
Resende (1998, p. 106) o projeto pedaggico [...] reflete a realidade da escola, situado em um
contexto mais amplo que a influencia e que pode ser por ela influenciado. um instrumento
clarificador de ao educativa da escola em sua totalidade.
O termo Projeto Pedaggico tem o sentido de projetar, lanar, orientar, de dar direo
a uma idia, a um processo pedaggico intencional alicerado nas reflexes e aes do
presente; tem, assim a dupla funo de orientar e conduzir o presente e o futuro. A
elaborao de um Projeto Pedaggico pressupe uma ao planejada com um sentido
definido, portanto, dever atender s seguintes etapas essenciais: concepo do projeto,
implantao e avaliao (PADILHA, 2002). Almeja-se a constituio de um projeto pedaggico
capaz de estabelecer os objetivos e as estratgias da instituio ou do curso, por meio de uma
reflexo que vai alm de um mero planejamento, envolvendo a sua razo de ser e a sua
filosofia. Vale salientar que, alm dos aspectos estruturais, deve-se considerar que pensar um
projeto pedaggico significa levar em conta a sua construo com a participao da
comunidade acadmica, conforme as diretrizes da UFC:
A construo de um projeto poltico pedaggico institucional exige um dilogo constante entre os atores envolvidos professores, alunos, gestores, funcionrios e a sociedade objetivando imprimir uma nova e rica dinmica ao cotidiano acadmico, e conseqentemente, assumir compromissos, assegurando um novo pacto pedaggico que tenha como horizonte o perfil profissional que se pretende formar. Portanto, no se trata de retrica social ou tcnica, mas de conduta cada vez mais presente e
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necessria. Estes devem ser elaborados em atendimento as Diretrizes Curriculares Nacionais e Resolues especficas da UFC bem como as recomendaes da Coordenao de Curso, setor acadmico responsvel pela sua sistematizao tendo como eixo condutor para a sua elaborao formas de conduta condizentes com o planejamento participativo (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR, 2009, p.9)
Devem-se buscar caminhos para a oferta de uma educao de qualidade, por
meio do compartilhamento de responsabilidades, pois, de acordo com Sander (2005), essa
constitui a principal caracterstica da participao democrtica na educao.
3 PROJETOS PEDAGGICOS DE CURSOS DE GRADUAO EM SECRETARIADO EXECUTIVO
No mbito da educao superior tem-se presenciado um repensar dos cursos de
graduao, redirecionando as polticas educacionais para a busca de maior qualidade no
ensino, destacando-se a reestruturao do ensino com foco nas novas demandas da
sociedade. Essas iniciativas, por sua vez, resgatam elementos fundamentais para repensar a
formao dos Secretrios Executivos. No contexto da educao em Secretariado Executivo,
observa-se um despertar dos docentes e profissionais da rea para a pesquisa cientfica e a
adequao da formao do secretrio realidade contempornea, bem como a redefinio
das competncias e habilidades necessrias prtica dessa profisso.
Dessa maneira, preconiza-se uma integrao mais intensa entre o ensino, a
pesquisa, a extenso e a atuao profissional. No entanto, a traduo dessas demandas no
currculo acadmico necessita de avanos, a fim de promover uma formao humana e tcnica
direcionada gesto secretarial, buscando-se uma identidade adequada ao contexto
contemporneo