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1 O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Antonia Jayane da Silva Antunes 1 Valdemar Cordeiro Valle Neto 2 2016 Resumo Este artigo, tem o propósito de indicar a possível aplicabilidade do ensino da Língua Inglesa na Educação Infantil, ao elucidar como o processo de aquisição da Segunda Língua na Infância, pode ou não, favorecer o desenvolvimento linguístico e intelectual infantil. Apontando as necessidades e possibilidades que essa abordagem de ensino pode propiciar as crianças, ao demonstrar o processo de aquisição da linguagem ainda na infância, como um dos meios sociais do pensamento. Entendida como uma resposta a interação com o meio externo, e com as pessoas que a cerca, o desenvolvimento da linguagem na criança ocorre por meio do estimulo e a sua exposição a uma determinada língua, seja ela materna ou estrangeira. PALAVRAS-CHAVE: Aquisição da linguagem. Língua Inglesa. Educação Infantil. Abstract This article it intended to indicate the possible applicability of the teaching of English in kindergarten, to elucidate how the process of acquisition of a second language in childhood may or may not encourage language development and intellectual child. Pointing the needs and possibilities that this teaching approach can provide children, to demonstrate the process of language acquisition in childhood as a social means of thought. Understood as a response to interaction with the environment and with the people about the development of language in children occurs through the stimulation and exposure to a particular language, whether native or foreign. KEYWORDS: Language acquisition. English language. Child Education. ______________________________________________________________ 1 Aluna do Curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN). [email protected] 2 Professor Orientador. [email protected]

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O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Antonia Jayane da Silva Antunes1 Valdemar Cordeiro Valle Neto2

2016

Resumo

Este artigo, tem o propósito de indicar a possível aplicabilidade do ensino da Língua Inglesa na

Educação Infantil, ao elucidar como o processo de aquisição da Segunda Língua na Infância,

pode ou não, favorecer o desenvolvimento linguístico e intelectual infantil. Apontando as

necessidades e possibilidades que essa abordagem de ensino pode propiciar as crianças, ao

demonstrar o processo de aquisição da linguagem ainda na infância, como um dos meios sociais

do pensamento. Entendida como uma resposta a interação com o meio externo, e com as

pessoas que a cerca, o desenvolvimento da linguagem na criança ocorre por meio do estimulo e

a sua exposição a uma determinada língua, seja ela materna ou estrangeira.

PALAVRAS-CHAVE: Aquisição da linguagem. Língua Inglesa. Educação Infantil.

Abstract

This article it intended to indicate the possible applicability of the teaching of English in

kindergarten, to elucidate how the process of acquisition of a second language in childhood may

or may not encourage language development and intellectual child. Pointing the needs and

possibilities that this teaching approach can provide children, to demonstrate the process of

language acquisition in childhood as a social means of thought. Understood as a response to

interaction with the environment and with the people about the development of language in

children occurs through the stimulation and exposure to a particular language, whether native or

foreign.

KEYWORDS: Language acquisition. English language. Child Education.

______________________________________________________________

1 Aluna do Curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(UFRN). [email protected]

2 Professor Orientador. [email protected]

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INTRODUÇÃO

A produção do artigo “O ensino da língua inglesa na educação infantil”,

possui o objetivo de descrever como a linguagem se estrutura de acordo com as

habilidades e aptidões do sujeito, sustentado na teoria sócio-interacionista do

teórico Lev S. Vygotsky, que define como a aquisição da linguagem está

relacionada ao pensamento, englobando fatores como: desenvolvimento,

cognição e sua realidade social nos contextos de interação.

Em concordância com ideia Vygotskyana,

Ao longo do desenvolvimento das funções superiores – ou seja, ao longo da internalização do processo de conhecimento – os aspectos particulares da existência social humana refletem-se na cognição humana: um indivíduo tem a capacidade de expressar e compartilhar com os outros membros de seu grupo social o entendimento que ele tem da experiência comum ao grupo. (JOHN-STEINER; SOUBERMAN, 1998, apud NASCIMENTO; SANTOS, 2013, p. 26-27).

Acerca do processo de desenvolvimento psíquico e motor possibilita a

criança vivenciar diversas experiências, de experimentar algo novo e obter novos

conhecimentos.

Já conforme os PCNs, a inserção de línguas estrangeiras nas escolas

brasileiras da rede pública, é obrigatória a partir da segunda modalidade do

ensino fundamental (6º ao 9º ano) até o ensino médio. Partindo da iniciativa do

município integrar aulas de Inglês na educação infantil e nos anos iniciais, ou

não. O referido idioma, considerado uma língua global, tornou-se um dos

principais requisitos na inserção ao mercado de trabalho, bem como ao mundo

moderno.

O caso típico é o papel representado pelo inglês, em função do poder e da influência da economia norte-americana. Essa influência cresceu ao longo deste século, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, e atingiu seu apogeu na chamada sociedade globalizada e de alto nível tecnológico, em que alguns indivíduos vivem neste final do século. O inglês, hoje, é a língua mais usada no mundo dos negócios, e em alguns países, como Holanda, Suécia e Finlândia, seu domínio é praticamente universal nas universidades [...]. (PCNs, 1998, p. 23).

Contudo, incentivar e proporcionar um primeiro contato com a Segunda

Língua desde a infância, possibilitaria um grau maior de sucesso na aquisição

verídica e funcional do idioma em questão.

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[...] devemos lutar para se fazer cumprir o propósito da educação: formar cidadãos críticos, responsáveis, conscientes de suas ações e do mundo que os cerca, capazes de atuar na sociedade em que vivem, em busca de seus interesses e de seu crescimento pessoal e profissional. Dentro dessa perspectiva, arguimos que, quanto mais cedo o fizermos, de maneira consciente, responsável e comprometida, melhor. (ROCHA, 2006, p. 8).

1. A AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA

CRIANÇA: CONCEPÇÃO VYGOTSKYANA.

No ponto de vista da psicologia, o significado de cada palavra é uma

generalização ou um conceito, e como estes são atos de pensamento, pode-se

considerar o significado como fenômeno do pensamento.

Os estudos desenvolvidos acerca do processo da aquisição da

linguagem, possuem diferentes modelos teóricos, que tratam esta discussão

com algumas concordâncias e controvérsias. Dentre esses variados conceitos

teóricos, temos a concepção Sócio-interacionista de Lev. Semenovich Vygotsky,

que destaca como o papel da linguagem pode contribuir para a formação e o

desenvolvimento do sujeito.

Para Palangana,

A linguagem se encerra em si o saber, os valores, as normas de conduta, as experiências organizadas pelos antepassados, por isso participa diretamente no processo de formação do psiquismo desde o nascimento. Ao nomear os objetos, explicar suas funções, estabelecer relações e associações, o adulto cria, na criança, formas de reflexão sobre a realidade. Está-se destacando a intercomunicação como fundamental não apenas na apreensão do conteúdo, mas igualmente na constituição do afetivo, do emocional, da cognição. Sim, pois, a palavra, mais especificamente o significado, contém determinadas possibilidades de conduta, em especial de operações mentais cristalizadas. Ela é, nesse sentido, generalização e síntese de representações que os homens fazem do real. Quando uma criança, pela intervenção de pessoas, toma para si significados socialmente construídos, juntos com eles incorpora e desenvolve uma qualidade de percepção, de memória e atenção, de raciocínio e abstração, dentre outras capacidades presentes no mundo moderno. Daí a razão para se afirmar que a prática conjunta e nela a mediação dos signos e significados (re) criam a atividade psíquica – uma conquista do coletivo- em cada novo membro da espécie. (PALANGANA, 2000 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 58).

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1.1. A teoria Sócio-histórica de Lev S. Vygotsky:

A perspectiva Vygotskyana, reconhecida como abordagem histórico-cultural,

estuda as raízes sócio-históricas do psiquismo para compreender como se

desenvolvem nos indivíduos as características propriamente humanas, que nos

divergem dos animais.

Vygotsky comtempla que o indivíduo se desenvolve em um ambiente

social, construído historicamente, por tanto, o homem é concebido como um ser

histórico, que se constrói ao longo da história. Assim, observa-se nas ideias do

autor, a influência dos conceitos do Materialismo-Histórico-Dialético de Karl Max,

pois, ambos percebem o sujeito ligado ao seu contexto histórico, fundado na

interação com o meio social. A respeito das contribuições realizadas por

Vygotsky, Oliveira diz que:

Sua produção escrita foi vastíssima [...] seu interesse diversificado e sua formação interdisciplinar definiram a natureza dessa produção. Escreveu aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde a neuropsicologia, até a crítica literária, passando por deficiências, linguagem, psicologia, educação e questões teóricas e metodológicas relativas as ciências humanas. (OLIVEIRA, 1997 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 46).

A corrente interacionista vygotskyana, relaciona o processo de

desenvolvimento humano e a aprendizagem humana, não somente, a partir da

maturação biológica, mas também, através da interação social. Segundo Oliveira

(1993 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 47), para entender a

fundamentação do estudo de Vygotsky, é preciso reconhecer três pilares

centrais de sua ideia:

As funções psicológicas possuem um suporte biológico, pois se faz

necessária a presença de produção de atividades cerebrais para

elaboração do raciocínio;

O funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações

sociais, entre o sujeito e meio externo, as quais ocorrem num

progresso histórico;

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A relação entre homem/mundo mediada por um sistema simbólico,

como a linguagem, fundamental para vislumbrar o mundo.

Por tanto, quando a criança adquire as habilidades da linguagem, ela terá

uma capacidade maior e melhor de absorção do seu meio. Em sua visão, o autor

afirma que a criança desenvolverá suas funções psicológicas elementares, para

após desenvolver suas funções psicológicas superiores:

Pensamento elementar: Seguindo uma linha de desenvolvimento

natural, a criança, praticamente, é conduzida a realizar ações pelo

extinto – reflexos, reações automáticas, estimulo-resposta – onde

tudo que lhe ocorre é guiado pelo outro, causando uma situação de

dependência.

Pensamento superior: Seguindo uma linha de desenvolvimento

cultural, a criança é capaz de adquirir um comportamento

deliberado, que se origina da internalização de práticas históricas

e sociais, baseando-se nos trabalhos com os signos – ações

conscientes, tomada de decisões, pensamento abstrato, atenção

voluntaria e memória ativa - se direcionando para uma determinada

atividade.

A presença dos processos elementares é uma conjuntura essencial,

porém não bastam, para o desenvolvimento dos processos superiores. Segundo

Baquero (1998), é possível dizer que as funções naturais e culturais, aplicam-se

como co-formantes dos processos psicológicos, trabalhando em conjunto e

transpondo uma a outra.

Vygotsky especula sobre os processos comunicativos e ambientais,

interligados a cada estágio de desenvolvimento. Ao elaborar uma nova

abordagem, a respeito do desenvolvimento cognitivo do homem, na qual explana

memória e pensamento:

[...] do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, a memória, mais do que o pensamento abstrato, é característica definitiva dos primeiros estágios do desenvolvimento, ao longo do desenvolvimento ocorre uma transformação, especialmente na adolescência. [...]. (VYGOTSKY, 1988 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 48).

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A internalização das funções psicológicas, presume que o processo de

desenvolvimento do ser humano é marcado por sua imersão cultural. Por tanto

a aprendizagem ocorre “de fora para dentro”, mediante as ações externas que o

rodeia, conferindo significado. Por tanto, a interação com o outro, é tida como

imprescindível, na abordagem de Vygotsky, onde as relações interpessoais

internalizam planos culturais de conduta e desempenho psicológico. Nesse caso,

a internalização não deve ser entendida como uma mera reprodução do mundo

exterior, mas sim, como um processo complexo. A respeito disto, Werstch (1998

apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 50) afirma que “ a internalização

não é um processo de cópia da realidade externa em um plano interior já

existente; é mais, é um processo em cujo seio se desenvolve um plano interno

de consciência”.

1.2. Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP):

Em uma reflexão construtivista sobre a relação entre desenvolvimento e

aprendizagem, a abordagem piagetiana defende que, a construção dos

conhecimentos ocorre através da “maturação do sistema nervoso”, relacionado

a dimensão orgânica e neurológica, que instaura novas oportunidades para o

desenvolvimento humano.

Para Piaget,

[...] a maturação no que diz respeito as estruturas cognitivas – conhecimento- determina a extensão das possibilidades em um estágio especifico. Não causa a atualização das estruturas. A maturação simplesmente indica se o desenvolvimento é ou não é possível. [...] abre possibilidades, mas a nova realidade ainda tem que ser construída. (PIAGET, 1971a, p. 193 apud WADSWORTH, 1989 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 19).

Já na abordagem de L. Vygotsky, a relação entre desenvolvimento e

aprendizagem não acontece, tão-somente, a partir de uma estrutura biológica.

Em sua visão, a maturação genética, não é suficiente para que o indivíduo

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consiga desenvolver sua aprendizagem, carecendo de interagir com o meio

social, no qual torna-se recurso para esses dois processos. Isso significa, que

esses procedimentos progridem juntos, mesmo que desigual. Essa relação será

melhor esclarecida na ideia de zona de desenvolvimento proximal.

Quanto à Zona de Desenvolvimento Proximal, Vygotsky firma que,

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1989 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 51).

Ao contrário de Piaget, em Vygotsky verifica-se que o desenvolvimento

(psicológico/mental), em sua teoria, está diretamente relacionado a interação

entre sujeito e objeto de conhecimento, mediada por outras pessoas. O resultado

da aprendizagem dependerá dos conceitos provenientes ao processo de

internalização, que são determinados pelo aprendizado social, particularmente,

os conhecimentos provenientes do âmbito escolar.

A zona de desenvolvimento real, refere-se as funções mentais já

amadurecidas, a sua estrutura cognitiva, ou seja, é referente a tudo aquilo que o

indivíduo já sabe, aquilo que já conquistou e consegui resolver autonomamente.

Já a zona de desenvolvimento proximal, define as funções mentais ainda não

amadurecidas, mas que já estão em progresso. A zona proximal dispõe de uma

competência psicológica dinâmica e transformadora, através da mediação de

pessoas mais experientes.

Conforme Fontana e Cruz (1997, apud BERGER; MORO; LAROCCA,

2010, p. 53), a zona de desenvolvimento proximal como desenvolvimento em

elaboração, possibilita a participação do adulto no processo de aprendizagem da

criança. Para consolidar e dominar autonomamente as atividades e operações

culturais, a acriança necessita de mediação do outro. Com relação ao professor,

na condição de mediador da educação, se faz indispensável sua intervenção, de

maneira questionadora, intencional, desafiadora e planejada, para que possa

estabelecer a zona de desenvolvimento proximal com seu aluno, onde a

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ressignificação de tudo que está sendo aprendido e desenvolvido possa ser

organizado pela criança, e então, o professor tomará uma conduta participativa,

ao instruir seu aluno de forma progressiva.

A partir do conceito interacionista, entende-se que Vygotsky interpreta a

ideia de que o homem evolui de um ser biológico, para um ser histórico. Não nos

concebendo somente como ser biológico, devido ao fato de que, nossa carga

genética não seria fruto apenas das funções genéticas, mas de toda cultura

produzida ao longo de nossa existência. Os símbolos e instrumentos com os

quais nos relacionamos, convivemos e manuseamos, são o reflexo da evolução

humana.

1.3. Pensamento e linguagem:

Todos os grupos humanos possuem uma língua, o principal instrumento

de representação simbólica, onde na relação entre a criança e o sistema

linguístico, supõem-se uma relação definida com o outro. Segundo Ribeiro (2005

apud RIBELLO; PASSOS, 2014, p. 08), para Vygotsky, a linguagem está

intimamente vinculada ao pensamento, funcionando como ferramenta de

interação necessária para a formação do homem, quanto sujeito social, cultural

e histórico. Além de ser através da comunicação que se organiza o pensamento.

O contato da criança com o mundo não é estabelecido por uma relação

direta, mas sim, através de uma relação mediada pela linguagem (VYGOTSKY,

2001). Entendida como uma expressão do nosso ser, a linguagem pode se

manifestar de diferentes formas: sinais, corpo, signos, imagens, gestos, olhar e

voz. A partir dessas diferentes formas de manifestação, Vygotsky busca

compreender como a linguagem se constitui por meio das raízes do pensamento,

isto é: Como a linguagem intervêm na construção do pensamento? Para

entender como esse processo ocorre, o autor recorreu aos estudos de Koehler

sobre os chimpanzés, com relação ao desenvolvimento da linguagem, e aos

estudos de Yerkes sobre os antropoides, referente as diferentes raízes da fala e

da cognição. Os estudos verificam que os animais se comunicam entre eles,

produzindo uma incidência sonora, acompanhada de gestos, afim de integrar os

outros animais próximos.

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Em suas conclusões, Vygotsky (2001), percebe que essa interação é

muito similar com a linguagem infantil e com os primeiros movimentos realizados

pela criança. Com base em suas observações, o autor determina que:

Fala e pensamento possuem raízes genéticas distintas;

Essas duas funções se desenvolvem ao longo de trajetórias

independentes;

Os antropoides possuem semelhanças com o homem, sob os aspectos

da formação intelectual (uso de instrumentos), e sob os aspectos da fala

(alivio ou descarga emocional e social);

Há uma correspondência estreita entre o pensamento e a linguagem que

distingue o homem.

Ainda que pensamento e linguagem contenham raízes genéticas

diferentes, existe uma interligação entre esses dois processos internos, que

Vygotsky procura comprovar ao longo de seu estudo na filogenia.

Em relação ao desenvolvimento da linguagem na infância, Vygotsky (1996

apud PEREIRA; PERES, 2011, p. 41), aponta que a manifestação mais marcante

da criança ocorre, aproximadamente, aos dois anos de idade, quando as curvas

do pensamento e da fala se encontram e unem-se para desenvolver o

pensamento verbal.

O teórico descreve o desenvolvimento da linguagem a partir de etapas, a

saber:

Fase pré-linguística do pensamento: relacionada a inteligência pratica,

a criança não emiti as palavras de uma maneira convencional;

Fase pré-intelectual da fala: relacionada ao choro e ao balbucio, as

ações não formulam uma vinculação direta com o pensamento.

Segundo o teórico, em um determinado momento essas duas fases

conectam-se realizando uma fusão. Essa aproximação propiciará uma mudança

no processo de fundação da própria linguagem e do pensamento, para Vygotsky,

essa dada mudança é caracterizada como um momento marcante em nossa

linguagem. Até então separadas, as curvas do pensamento e da fala se

encontram e unem-se para incorporar uma nova forma de comportamento,

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pensamento torna-se verbal e a fala torna-se intelectual. Efetuado de maneira

unificada pelo processo intelectual, os sinais que indicam essa ocorrência são a

curiosidade ativa pelas palavras, que demonstram grande interesse por parte da

criança para aprender o nome das coisas e ampliar seu vocabulário.

Baseado nesta transformação, o autor designará alguns estágios do

pensamento e da fala. Conforme Vygotsky (2003, apud MARÇAL; BARROS;

FRANCO, 2015, p. 08), o momento mais decisivo na trajetória do

desenvolvimento intelectual, acontece quando a fala e a atividade prática, até

agora admitidas como duas linhas que acompanham caminhos distintos e

independentes, transcorrem-se, e geram formas exclusivamente humanas de

inteligência prática e abstrata.

Portanto, o teórico conclui que o progresso do pensamento é determinado

pela linguagem, isto é, definido pelos instrumentos linguísticos do pensamento e

pela bagagem sócio-histórica da criança.

Nas palavras do autor:

A função do instrumento é servir como um condutor da influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos objetos; constituir um meio pelo qual a atividade humana externa é dirigida para o controle e domínio da natureza [...]. (VYGOTSKY,1989 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 56).

Conforme Martins (2011 apud MARÇAL; BARROS; FRANCO, 2015, p.

02), o desenvolvimento da fala depende de fatores externos, na qual a

propagação cerebral resulta na presença dos meios sociais do pensamento, que

é a linguagem.

O estudo da linguagem egocêntrica, realizado de forma detalhada por

Piaget, não é percebida da mesma maneira por Vygotsky. Apesar de ambos

descreverem que na fala egocêntrica a criança não tem por finalidade se

comunicar de fato, ela apenas produz comentários soltos, em voz alta, do que

está fazendo. O teórico Lev Vygotsky não acredita que essa habilidade de

percepção de pessoa e de mundo possa desaparecer na criança. A partir de

então, o autor impulsiona seus estudos sobre a fala egocêntrica e observa que

ela não desaparece, mas se transforma em uma linguagem interiorizada,

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partindo do biológico para o sócio-histórico. Advindo da concepção filogenética

que marca a origem humana, para a interação com o outro, faz-se uso de

diversos instrumentos e da linguagem, afim de construir uma nova

aprendizagem.

A aprendizagem pressupõe uma natureza social especifica e um processo

através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cerca.

(VYGOTSKY, 1998 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 49). Através

desta relação, a criança desenvolve as etapas da linguagem e estimulam as

interligações entre pensamento e linguagem, saindo das funções elementares

(biológicas) do pensamento, para as funções superiores (sociais) do

pensamento. A capacidade de raciocinar, pensar, memorizar e estabelecer

relações, só é possível por meio do convívio com aquilo que a rodeia.

Em relação a fala/linguagem, Oliveira (1997 apud EMILIANO; TOMÁS,

2015, p. 63) destaca que Vygotsky distingue significado e sentido, ao explicar o

significado da palavra como algo que propicia a manifestação do pensamento e

as relações sociais entre as pessoas. Enquanto o sentido atribui valor afetivo das

palavras para cada pessoa, levando em conta as experiências e vivencias

afetivas, destacando a concepção entre cognição e afeto, como aspectos

indispensáveis para a formação humana. O autor faz uma menção a isso,

dizendo:

Referimo-nos à relação entre intelecto e afeto. A sua separação enquanto abjetos de estudo é uma das principais deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta apresenta o processo de pensamento como um fluxo autônomo de ‘pensamentos que pensam a si próprios’, dissociados da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. Esse pensamento dissociado deve ser considerado tanto um epifenômeno sem significado, incapaz de modificar qualquer coisa na vida ou na conduta de uma pessoa, como alguma espécie de força primeva a exercer influência sobre a vida pessoal, de um modo misterioso e inexplicável. (VYGOTSKY, 1987 apud BERGER; MORO; LAROCCA, 2010, p. 54).

Percebe-se que o autor expõe, assim, a razão de não existirem estudos

ricos sobre as relações presentes entre o pensamento e a afetividade, ao afirmar

que sua análise evidencia uma forte inter-relação entre esses processos.

Buscando evidencias para demonstrar que para cada ideia que uma pessoa

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tenha existem fundamentos e estímulos que a direcionam, e o mesmo ocorre ao

inverso. Vale explanar que, contudo, apesar do autor não ter se empenhado

completamente ao estudo da afetividade, ele efetuou uma análise ponderada do

assunto, atingindo a essência da questão.

Conhecer o desenvolvimento da linguagem da criança, possibilita saber

como agir com ela. O ato de aprender, em especial a ler e escrever, esta é uma

atividade que ocorre a partir da interlocução e interação verbal, no qual o

pedagogo deve tomar um posicionamento diferenciado. Nesse processo o

professor não se mostra apenas como regulador da aprendizagem e o aluno

como constituidor de um saber linguístico. A aplicabilidade do professor é

indispensável, pois ele será aquele que estará entre essa construção social, na

qual a criança já chega na escola com essa concepção cultural bem fixada.

Apoiando-se nisto, o educador deve investir nos demais desenvolvimentos e

aprendizagens subsequentes.

2. O SEGUNDO IDIOMA E EDUCAÇÃO BILÍNGUE NA PREIMEIRA

INFÂNCIA.

O bilinguismo na Educação Infantil, tornou-se uma discussão complexa,

envolvendo diversas dimensões do campo educacional, a respeito de seu ensino

voltado para crianças menores de 4 anos de idade. Este debate provoca

inúmeros questionamentos por parte de pesquisadores, psicólogos, educadores

e pais, que apontam possíveis vantagens e/ou desvantagens que esse ensino

possa gerar no desenvolvimento cognitivo das crianças.

A Educação Bilíngue vai muito além do simples fato da língua. O ensino

bilíngue na primeira infância, pode ser entendido como uma riqueza a mais que

compõe a bagagem dos conhecimentos, colaborando para a formação humana

da criança. Fator que nos leva a refletir: Qual a melhor idade para começar a

ensinar inglês as crianças? Para buscar uma possível resposta a referente

questão, se faz necessário destacar as condições e influências, possivelmente,

presentes no processo de aquisição da Segunda Língua, ainda no estágio de

desenvolvimento infantil.

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2.1. A aquisição da segunda língua na infância sob uma

perspectiva intercultural:

Ao observar as diferentes visões de mundo e as reflexões acerca das

diferenças e semelhanças entre as pessoas, tradições e costumes, permite que

se possa conhecer e respeitar diferentes contextos sócio históricos e culturais,

contribuindo não apenas na formação escolar, mas sim na formação humana e

cívica ao longo da vida, através do multiculturalismo.

Para Banks (apud CANDAU, 1998):

A educação multicultural é um movimento reformador destinado a realizar grandes mudanças no sistema educacional. Concebe como a principal finalidade da educação multicultural favorecer que todos os estudantes desenvolvam habilidades, atitudes e conhecimentos necessários para atuar no contexto da sua própria cultura étnica, no da cultura dominante, assim como para interagir com outras culturas e situar-se em contextos diferentes do seu de origem (CANDAU, 1998 apud TEIXEIRA; RIBEIRO, 2012, p. 285).

Na visão do teórico, o que muda é a cultura da instituição de ensino, e não

a cultura do aluno, pois, a partir dessa mudança cultural na escola, isso decorrerá

uma aprendizagem multicultural para o aprendiz.

O interesse pelo domínio do segundo idioma, referente a Língua Inglesa,

em especial, parte da ideia de esta ser vista como o meio de comunicação para

a inclusão ao mundo globalizado. De acordo com Busnardi e Cassimiro (2010,

p. 03), a globalização é entendida como um acontecimento social multifacetado

“o qual não engloba apenas mercado internacional, quebra de fronteiras,

compressão temporal e espacial, mas que, em proporções distintas, também

afeta a vida sociocultural de todas as pessoas do mundo, de maneira geral”.

Percebe-se que o ensino de Língua Inglesa, além de propiciar um contato

com um outro idioma, possibilita, também, conhecer novas culturas, países e

povos, tornando-se uma aprendizagem interdisciplinar e intercultural.

Barbosa (2007 apud TEIXEIRA; RIBEIRO, 2012), discute o conceito de

interculturalidade, a respeito ao ensino de línguas:

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O conceito intercultural vem sendo desenvolvido a partir da perspectiva das aproximações entre língua e cultura, no processo do ensino e da aprendizagem de língua estrangeira. Trata-se de uma espécie de mediação cultural da qual o aprendente participa, ao mesmo tempo em que reflete sobre sua cultura de origem e sobre a cultura alvo. (BARBOSA, 2007 apud TEIXEIRA; RIBEIRO, 2012, p. 286).

Entende-se que, a interculturalidade pode e deve ser trabalhada no ensino

de língua estrangeira, pois, ao proporcionar uma relação entre as línguas,

possibilita adotar aspectos ou informações da cultura da língua alvo que está

sendo ensinada. Porém, sem desvalorizar a sua própria cultura, para que assim,

se promova uma troca de conhecimentos entres as culturas. Referente a

abordagem da educação intercultural, Candau (2008 apud TEIXEIRA; RIBEIRO,

2012, p. 286), entende o sujeito como ponto central no processo de relações

culturais. O papel do sujeito, enquanto ser cultural, é valorizado ao estabelecer

contato com culturas diferentes, despertando interesse do outro para conhecer

sua língua, onde a mesma, necessita, essencialmente, da existência do sujeito

para desempenha-la.

Na educação intercultural, Fleuri (2001 apud NASCIMENTO; SANTOS,

2013,), salienta a função do sujeito:

Uma terceira característica da educação intercultural refere-se à ênfase nos sujeitos da relação. Neste sentido, a educação intercultural desenvolve-se como relação entre pessoas de culturas diferentes. Não simplesmente entre “culturas” entendidas de modo abstrato. Valoriza-se prioritariamente os sujeitos que são os criadores e sustentadores das culturas. As culturas não existem abstratamente. São saberes de grupos e de pessoas históricas, das quais jamais podem ser completamente separáveis. As pessoas são formadas em contextos culturais determinados. Mas são as pessoas que fazem cultura. Neste sentido, a estratégia intercultural consiste antes de tudo em promover a relação entre as pessoas, enquanto membros de sociedades históricas, caracterizadas culturalmente de modo muito variado, nas quais são sujeitos ativos. (FLEURI, 2001 apud TEIXEIRA; RIBEIRO, 2012, p. 287).

Ao pensar sobre a interculturalidade, Fleuri (2001 apud TEIXEIRA;

RIBEIRO, 2012, p. 287), aponta que o foco da educação intercultural seria a

postura do professor frente a diversidade cultural, deixando de transmitir uma

cultura homogenia e conforme, para refletir acerca de modelos culturais variáveis

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que interagem na formação do educando. Portanto, o professor de língua

estrangeira, como agente transformador, deve adotar uma pratica pedagógica

dinâmica e diversificada, atribuindo mudanças necessárias na postura

pedagógica.

[...] educação deixa de ser entendida apenas como transmissão de informações de um indivíduo para outro. A educação passa a ser concebida como construção de processos em que diferentes sujeitos desenvolvem relações de reciprocidade (cooperativa e conflitual) entre si. As ações e reações entre sujeitos criam, sustentam e modificam contextos relacionais (FLEURI, 2001 apud TEIXEIRA; RIBEIRO, 2012, p. 289).

Ao permitir que o aprendiz veja a cultura do outro como heterogenia,

porém, ao mesmo tempo integrada a sua, por meio do conceito intercultural

inserido ao ensino de línguas, o aluno consegui refletir acerca de sua própria

cultura, incentivando-o a conscientizar-se das diferenças e das relações

culturais.

2.2. Por que aprender Inglês na infância?

As crianças estão sendo inseridas no âmbito escolar cada vez mais

cedo. Onde, as escolas da atualidade oferecem oportunidades de aprendizagens

diversas das diferentes áreas do conhecimento acadêmico, priorizando a

formação deste sujeito com relação a sociedade em que vivi hoje. Frente a nova

configuração da Língua Inglesa, pesquisadores como Salles & Gimenez (2010

apud KALVA; FERREIRA, 2011, p. 719), entendem esse idioma não mais como

uma língua estrangeira, mas sim como uma língua franca, sendo usada

internacionalmente como meio de comunicação entre falantes não-nativos.

De acordo com Ligtbown & Spada (2003, apud MOTTER, 2007, p. 81), a

capacidade de uma criança em aprender mais de uma língua ainda em seus

primeiros anos de vida possibilita avanços para o desenvolvimento em ambas

línguas, Materna e Estrangeira. Portanto, inserir essa prática de ensino ainda na

primeira infância (crianças menores de 6 anos de idade), propicia a manter um

primeiro contato com a Segunda Língua desde cedo, afim de que haja uma

familiarização com o idioma.

Para Figueiredo,

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A idade do indivíduo é um dos fatores que determinam o modo pelo qual se aprende uma língua. Mas as oportunidades para a aprendizagem, a motivação para aprender, e as diferenças individuais são também fatores determinantes para o sucesso na aprendizagem. (FIGUEIREDO, 1997 apud GOLÇALVES, 2009 p. 02).

Conforme Roth (1998 apud PIRES; PAIVA, 2001), os alunos na faixa-

etária pré-escolar assimilam sua Língua Materna e uma outra língua de um modo

absolutamente similar, por isso é importante que o professor cumpra uma rotina

diária nas aulas de inglês.

Sempre comece a aula com a mesma rotina. Use uma atividade que junte os alunos e permita-lhes perceber que a aula de inglês começou, por exemplo, uma canção ou rima que eles conhecem bem. Nunca comece com algo novo [...] Sempre termine a aula com a mesma rotina para que as crianças percebam que a aula acabou. (ROTH, 1998 apud PIRES; PAIVA, 2001, p. 50-51).

Roth (1998 apud PIRES; PAIVA, 2001, p. 51) indica sete pontos presentes

nas características infantis que precisam ser permanecidos na pratica docente

do professor, para que as aulas resultem o propósito esperado:

1. ENERGIA: As crianças precisam se movimentar;

2. BARULHO: O professor pode controlar o barulho, mas não deve

esperar que as aulas sejam silenciosas, é permitido que as

crianças produzam barulhos positivos durante a execução de jogos

e atividades movimentadas;

3. RAPIDEZ: Assim como as crianças aprendem rápido, também

esquecem muito rápido, por isso os conteúdos ensinados devem

ser revisados constantemente;

4. SENTIDOS: É necessário admitir oportunidades nas quais as

crianças possam usar seus sentidos; além da fala, é preciso

estimular o ver, ouvir, tocar cheirar e provar;

5. IMAGINAÇÃO: O educador deve aproveitar nas brincadeiras de

‘faz de conta’, a incrível habilidade das crianças de mesclar fantasia

com a realidade;

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6. ENTUSIASMO: O processo de aprendizagem deve ser

acompanhado com os benefícios da alegria e do entusiasmo das

crianças;

7. TEMPO: As crianças perdem o interesse facilmente, portanto, não

se deve sobrecarrega-las, para que a progressão aconteça com o

tempo.

A inserção de um Segundo Idioma na idade inicial da introdução escolar

(menores de 3 anos de idade), tem o intuito de fazer com que os pequenos

aprendizes desenvolvam um reconhecimento das produções orais em Inglês, e

que esse contato primário, já na infância, possa familiariza-los com outra língua,

verbalizando e identificando algumas expressões e palavras em Inglês, por meio

de aulas dinâmicas e interativas, através de brincadeiras, imagens, historias,

músicas e vídeos.

Nessa fase, as crianças precisam aprender a gostar da língua mais do que qualquer outra coisa, e este deve ser seu principal objetivo. Isso não significa que elas não aprenderão muito – aprenderão sim, e você ficará surpreso com o tanto que aprendem – mas elas têm vários anos a sua frente para aperfeiçoar a língua. Se você proporcionar-lhes as primeiras experiências com o inglês de uma atmosfera afetiva e através de atividades que elas gostam, há uma boa chance de seus alunos se saírem bem em inglês no futuro. (ROTH, 1998 apud PIRES; PAIVA, 2001, p. 53).

Todavia, alguns educadores e pais, veem a sensibilização do ensino da

Segunda Língua para Crianças como desvantajosa, podendo vir a comprometer

o processo de alfabetização da Língua Materna, acreditando que isso possa

promover uma confusão, vindo a atrapalhar o desenvolvimento linguístico e

cognitivo da criança. De acordo com Castro (1996 apud LIMA, 2008, p. 296),

considerava-se prejudicial ao desenvolvimento da língua materna aprender uma

segunda língua ainda na fase de alfabetização. Entretanto, conforme o primeiro

princípio da psicologia Vygotskyana, ao descrever a relação entre pensamento

e linguagem, admite-se que, diferentemente do que creditavam e ainda

acreditam, o aprendizado de uma segunda língua na fase de alfabetização pode

cooperar no aprendizado da língua materna.

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Segundo Fronkin & Rodman (1998 apud MOTTER, 2007, p. 81), as

crianças não são inseridas na ação comunicativa através do ensino das regras

fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas. Ela usa, naturalmente, a

competência linguística para formar a gramática da língua em que esta inclusa.

Assim sendo, os pequenos são, perfeitamente, capazes de aprenderem duas

línguas distintas, sem haver qualquer confusão dos conhecimentos obtidos.

Por serem naturalmente espontâneas, os pequenos apresentam aspectos

pertinentes a sua faixa etária, nos quais devem ser ponderados no ensino de

inglês para crianças. Para Spratt, Pulverness e Williams (2005 apud LIMA, 2008,

p. 298), as crianças possuem características de aprendizagem distintas, em

relação aos adolescentes e adultos, ou seja, possuem maneiras diferentes de

aprender. De acordo com os autores, os alunos com características diferentes

precisam ser ensinados de maneira diferente.

Cameron (2001 apud LIMA, 2008, p. 298) menciona algumas dessas

características referentes a criança:

Na condição de aprendizes, as crianças comumente são mais

estimuladas, entusiasmadas e animadas;

Constroem relações de afeto, não somente com os colegas, mas

também com o professor, ao mostrarem-se próximas e cativas;

Os pequenos procuram efetuar as tarefas propostas pelo

educador, mesmo que elas não saibam como ou por que. Porém,

elas tendem a perder o interesse rapidamente, caso não

consigam permanecerem motivadas nas atividades que

considerem muito difíceis de realizar.

Capazes de absorver um vasto número de informações distintas, as

“crianças assimilam línguas com mais facilidade, porém têm grande resistência

ao aprendizado formal, artificial e dirigido”, além de não terem vergonha ou medo

de errar, “as crianças, mais do que os adultos, precisam e se beneficiam de

contato humano para desenvolver suas habilidades linguísticas”. (SCHÜTZ,

2004 apud CARVALHO, 2006, p. 02).

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Os pequenos aprendizes são questionadores e gostam de demonstrar o

que sabem, fatores que os tornam totalmente participativos nas aulas. Com a

ausência desses bloqueios, o processo de aprendizagem se dá de forma leve e

natural, visto que “ ouvir mais de uma língua na infância torna mais fácil para a

criança ouvir distinções entre os fonemas dessas línguas mais tarde. ”

(NEWPORT, 1996 apud PIRES; PAIVA, 2001, p. 46).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que, apesar das crianças e dos adultos desfrutarem da

capacidade de aprender, os pequenos possuem atributos natos de suas

características biológicas, da rapidez na resolução de situações-problema, assim

como na absorção de informações. Com base nas concepções da teoria

histórico-cultural de Vygotsky, compreende-se que o processo de ensino

aprendizagem da Língua Inglesa para Crianças, pode oferecer oportunidades

únicas para a formação social do aluno, uma vez que, se faz necessária a

participação dos indivíduos próximos a essa criança na construção de sua

expressão pessoal, identidade social, além das suas habilidades comunicativa.

Para que esse processo ocorra, a colaboração do educador torna-se

indispensável. O docente tem o dever de intervir no desenvolvimento dos seus

pequenos aprendizes por meio das atividades propostas, que devem ser

adequadas ao estágio de desenvolvimento cognitivo em que a criança se

encontra. Os professores tornam-se multiplicadores em um processo continuo

para se obter uma escala de eficácia do ensino, afim de propiciar uma

aprendizagem significativa em uma progressão adjunta entre ele e o aluno. Para

que este se torne capaz de construir uma identidade, na qual, o instrua a

determinar sua condição de locutor, convertendo-se como sujeito participativo

do discurso.

Ainda que a conservação da Língua Materna seja de inestimável

importância para se manter a identidade particular do indivíduo, o ensino da

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Segunda Língua constata o efeito da globalização e do mundo moderno sobre o

acesso aos aspectos culturais diversificados de outros grupos sociais. Perante

aos ocorrentes avanços e transfigurações na constituição e no desempenho da

Educação, o âmbito escolar deve servir como um espaço que permita diferentes

conquistas e oportunidades de aprendizagem, que impulsionem o

desenvolvimento infantil, sem deixar de valorizar a cultura e os conhecimentos

prévios da criança.

A aquisição de uma Segunda Língua na infância pode se tornar um

acontecimento ponderoso para o desenvolvimento infantil, vindo a resultar

influentemente na atribuição linguística, além de amplificar a capacidade

cognitiva, e contribuir para o estimulo do raciocínio logico. Todavia, vale destacar

que, ao justificarmos o primeiro contato com uma outra língua desde a infância,

sendo como o mais oportuno, não eliminamos a probabilidade de que jovens e

adultos também venham a aprender. Porém, quanto antes o sujeito for exposto

ao idioma, o processo de aprendizagem da língua se realizará de uma forma

mais natural e significativa.

Contudo, constata-se que o ensino precoce da Língua Inglesa é uma

temática complexa, que necessita de vastas pesquisas em torno de suas

possíveis influências e contribuições, não somente no desenvolvimento

linguístico e intelectual, mas também, na fundamental construção das relações

sociais e culturais das crianças.

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1 Aluna do Curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(UFRN). [email protected]

2 Professor Orientador. [email protected]