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O ENSINO DA MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Luanne Lima Ferreira 1, Leonardo Brito da Silva 2 , Célia Barros Nunes³ 1 UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected] 2 UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected] 3 UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected] Resumo A partir de leituras, acreditamos que o ensino de Cálculo tem sido foco de discussões e investigações, tanto sobre questões curriculares quanto sobre questões metodológicas. Aumenta-se cada vez mais o índice de reprovação e evasão na disciplina de Cálculo, o que, consequentemente, prejudica os discentes e atrasa o curso universitário. Nesse sentido, a presente comunicação relata parte de uma pesquisa de conclusão de curso em Licenciatura em Matemática, realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB)- Campus X, que teve como objetivo principal investigar se, num curso de Engenharia Civil, a Metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas, pode auxiliar futuros engenheiros à compreensão da Matemática, especificamente da disciplina de Calculo Diferencial e Integral. A abordagem metodológica foi qualitativa, com orientações metodológicas de Thomas A. Romberg. A coleta de dados se deu por meio de quatro encontros através de aulas por nós ministradas, observações e registros dos alunos. A pesquisa ainda está em processo de análise, no entanto, para essa comunicação vamos tecer breves considerações sobre o ensino da disciplina Cálculo no Ensino Superior e sobre a Resolução de problemas, seguida de resultados preliminares desse trabalho. Com base nos resultados apresentados podemos concluir que, de fato, a Resolução de Problemas quando trabalhada em um ambiente de motivação, do prazer pela descoberta, do favorecimento aos alunos da autonomia e da criatividade ao coloca-la no centro das atividades de sala de aula, representa uma forma de se fazer e aprender matemática. Palavras-chave: Resolução de Problemas, Otimização, Calculo Diferencial, Engenharia Civil, Ensino-aprendizagem do Calculo. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Educação Matemática no Brasil e no mundo tem defendido constantemente a necessidade de mudança na forma de se conceber o ensino da Matemática nos mais diversos níveis, seja ele o fundamental, médio ou superior, já que num mundo cada vez mais globalizado não faz sentido o ensino “enciclopédico” em que o aluno apenas recebe o conhecimento e não se posiciona criticamente frente a ele. Ciente das dificuldades com as quais deparam os estudantes de Cálculo e do baixo índice de aprovação desta disciplina, educadores e matemáticos buscam encontrar métodos que visem facilitar o entendimento do Cálculo por parte dos estudantes. Muito tem se conseguido, mas é importante dizer que nenhuma fórmula mágica foi encontrada até hoje. Em nossa convivência no meio acadêmico, percebemos que estamos situados em altos índices de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, ou simplesmente Cálculo, o que prejudica o rendimento dos alunos, atrasando seus respectivos cursos universitários.

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O ENSINO DA MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Luanne Lima Ferreira1,

Leonardo Brito da Silva2,

Célia Barros Nunes³

1UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected] 2UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected] 3UNEB/Departamento de Educação/Campus X, [email protected]

Resumo

A partir de leituras, acreditamos que o ensino de Cálculo tem sido foco de discussões e

investigações, tanto sobre questões curriculares quanto sobre questões metodológicas.

Aumenta-se cada vez mais o índice de reprovação e evasão na disciplina de Cálculo, o que,

consequentemente, prejudica os discentes e atrasa o curso universitário. Nesse sentido, a

presente comunicação relata parte de uma pesquisa de conclusão de curso em Licenciatura em

Matemática, realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB)- Campus X, que teve

como objetivo principal investigar se, num curso de Engenharia Civil, a Metodologia de

ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas, pode

auxiliar futuros engenheiros à compreensão da Matemática, especificamente da disciplina de

Calculo Diferencial e Integral. A abordagem metodológica foi qualitativa, com orientações

metodológicas de Thomas A. Romberg. A coleta de dados se deu por meio de quatro

encontros através de aulas por nós ministradas, observações e registros dos alunos. A pesquisa

ainda está em processo de análise, no entanto, para essa comunicação vamos tecer breves

considerações sobre o ensino da disciplina Cálculo no Ensino Superior e sobre a Resolução de

problemas, seguida de resultados preliminares desse trabalho. Com base nos resultados

apresentados podemos concluir que, de fato, a Resolução de Problemas quando trabalhada em

um ambiente de motivação, do prazer pela descoberta, do favorecimento aos alunos da

autonomia e da criatividade ao coloca-la no centro das atividades de sala de aula, representa

uma forma de se fazer e aprender matemática.

Palavras-chave: Resolução de Problemas, Otimização, Calculo Diferencial, Engenharia

Civil, Ensino-aprendizagem do Calculo.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Educação Matemática no Brasil e no mundo tem defendido constantemente a

necessidade de mudança na forma de se conceber o ensino da Matemática nos mais diversos

níveis, seja ele o fundamental, médio ou superior, já que num mundo cada vez mais

globalizado não faz sentido o ensino “enciclopédico” em que o aluno apenas recebe o

conhecimento e não se posiciona criticamente frente a ele.

Ciente das dificuldades com as quais deparam os estudantes de Cálculo e do baixo

índice de aprovação desta disciplina, educadores e matemáticos buscam encontrar métodos

que visem facilitar o entendimento do Cálculo por parte dos estudantes. Muito tem se

conseguido, mas é importante dizer que nenhuma fórmula mágica foi encontrada até hoje.

Em nossa convivência no meio acadêmico, percebemos que estamos situados em altos

índices de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, ou simplesmente

Cálculo, o que prejudica o rendimento dos alunos, atrasando seus respectivos cursos

universitários.

As dificuldades apresentadas dificilmente são espontâneas e imediatas ao início dos

estudos do Cálculo. Estes impasses, em geral, têm seu início no ensino mal concretizado das

aprendizagens anteriores. Ao se depararem com o Cálculo, por terem um fraco conhecimento

matemático naquilo que parte desde as séries iniciais até o ensino médio, os alunos tem por

dificuldade a compreensão de conceitos e formalizações mais elaboradas desta nova vertente

matemática.

Nos últimos anos, o ensino no curso de Engenharia está fortemente embasado em

fatores intuitivos, verbais, dedutivos e sequenciais (Felder, 1966, apud NASSER, 2009, p. e

45). Porém, a minoria dos estudantes deste curso se encaixa em todas essas especificações.

Desta forma, a dificuldade enfrentada por muitos se torna potencializada. Felder, (1966, apud

NASSER, 2009, p. 44 e 45) afirma que o ensino deve ser de forma que todos sejam

favorecidos em seus pessoais estilos. Para que a aprendizagem se torne mais compreensível, o

autor ainda sugere que o professor

Faça uso extensivo de esboços, gráficos, esquemas, diagramas vetoriais,

ilustrações computacionais e demonstrações físicas (visual), além das

explanações e derivações orais e escritas (verbal), nas aulas e apostilas.

(Ibid., p;11)

Em um curso de Cálculo, a dificuldade de compreensão, devida a grande abstração

necessária para tal, somado com a forma mecanizada que o mesmo é aplicado, podem levar

alguns alunos a desistirem do curso. No que se refere ao estudo da derivada, por exemplo,

diversos fatores influenciam de forma negativa para as possíveis evasões nos cursos

superiores, dentre os quais: aplicação de conteúdos complexos; a forma mecanizada que não

garante o real aprendizado do conteúdo; a dificuldade da aplicação dos conteúdos aprendidos

em sala nos problemas reais; a falta de metodologia que envolva o aluno, o conteúdo e as

possíveis aplicações no mundo real. Acarretando com isso, para o aluno, um salto na fase do

conhecimento teórico partindo para a aplicação, o que não garante um conhecimento gerador

de aplicações dos mesmos.

Desse modo, acreditamos que um trabalho por parte do professor com a Resolução de

Problemas, neste caso, especificamente no ensino de Cálculo no que tange a Otimização,

poderá despertar e desencadear nos alunos a capacidade e o interesse de aprender a aprender,

valorizando sempre o conhecimento vigente, possibilitando a correlação dos conteúdos

estudados com as necessidades do dia-a-dia, pois

[...] Resolução de Problemas é um método eficaz para desenvolver o

raciocínio e para motivar os alunos para o estudo da Matemática. O

processo ensino e aprendizagem podem ser desenvolvidos através de

desafios, problemas interessantes que possam ser explorados e não apenas

resolvidos (Lupinacci e Botin, 2004, p. 1).

ENSINAR MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Atualmente faz-se necessário que o professor busque, cada vez, elementos

motivadores que proporcionem maior entusiasmo nos alunos, para as aprendizagens seja em

qual área ou disciplina, mas no caso especifico da Matemática essa necessidade parece ainda

maior, visto que há certa dificuldade, para o aluno, de assimilar determinados conceitos nessa

área do conhecimento. Nesse aspecto podermos apontar os trabalhos em equipe, as atividades

em grupo e o uso dos meios tecnológicos, como recursos usados pelo professor, que podem

funcionar como elementos motivadores para que o aluno sinta-se mais entusiasmo para novas

aprendizagens. Tudo isso é possível ao se trabalhar em um ambiente de resolução de

problemas.

A Resolução de Problemas, enquanto metodologia de trabalho em sala de aula,

favorece um ambiente de motivação e de desafio necessário para envolver o aluno em

processos elaborados de pensamento. Nessa perspectiva, estamos considerando aqui a

Resolução de Problemas que objetiva ensinar, aprender e avaliar o conhecimento matemático

desenvolvido pelos alunos, sob a orientação e coordenação do professor através da Resolução

de Problemas.

Ensinar Matemática “através de” é uma forma de se ensinar e aprender de modo

contínuo, ou seja, está presente durante todo o processo, pois, em meio ao problema, o aluno

deve apresentar-se como responsável pela construção do seu próprio conhecimento. Sua base

tem por objetivo apresentar ao aluno problemas que irão introduzir e construir novos

conteúdos e conceitos.

Utilizar com competência esta metodologia não é uma tarefa simples. Requer do

professor planejamento, dedicação, organização, dentre outros aspectos fundamentais para o

sucesso do processo de ensino-aprendizagem. Ele deve se por como um condutor de

conhecimento e não um transmissor, impedindo o desenvolvimento do aluno. Assim sendo,

criar um ambiente propício para que o conhecimento aflore é fundamental. No nosso trabalho,

estaremos utilizando esta metodologia.

Onuchic, junto ao Departamento de metodologia de Ensino da UFSCAR

(Universidade Federal de São Carlos- São Carlos, SP) propõe em 1998, um roteiro de aula

que tem por objetivo o ensino-aprendizagem acompanhado de compreensão e significado,

através da Resolução de Problemas. É válido ressaltar que existe um modelo mais recente,

entretanto, para essa pesquisa utilizamos o de 2009. Segue o roteiro de atividades.

Onuchic (2009) explicita cada uma dessas atividades, que o compõe

Ao formar grupos- entregar a atividades, os estudantes tem a oportunidade de

experimentar o processo cooperativo. O professor ao observar e incentivar, deixa de ser o

detentor do conhecimento e passa a ser o observador, organizador, consultor, mediador,

interventor, controlador e incentivador do processo da aprendizagem. Quando o professor

auxilia nos problemas secundários, ele incentiva os seus alunos a utilizarem conhecimentos

prévios ou técnicas já conhecidas para resolver o problema. Após registrar na lousa todos os

resultados obtidos pelos diferentes grupo, o professor realiza a plenária, afim de discutir

todos os resultados encontrados, e a partir das analises feita e após todas as duvidas sanadas,

o professor orienta a sala para a busca de um consenso sobre o resultado pretendido. E por

fim, após todo este trabalho realizado em conjunto, o professor formalizar o conteúdo,

fazendo uma síntese do que se objetivava aprender a partir do problema trabalhado e

apresentando o conteúdo formalmente: definição, propriedades e demonstrações.

Após leituras realizadas, Onuchic (1999), Onuchic e Allevato (2005), Pollya (1994),

entendemos que a Resolução de Problemas, objetiva potencializar a compreensão e a dedução

de forma coerente e não mecanizada das atividades matemáticas, tornando o aluno o sujeito

responsável pelo seu próprio aprendizado, visando respeitar, valorizar e utilizar os seus

conhecimentos já adquiridos.

METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa monográfica segue a abordagem das pesquisas qualitativas, orientada pela

metodologia de Thomas A. Romberg (1992), trata-se de orientações metodológicas por meio

de um fluxograma com 10 atividades para execução de uma pesquisa. O fluxograma é

dividido em 3 blocos de modo que o 1ª bloco, constituído de 4 atividades, é considerado por

Romberg, como o bloco da identificação do problema de pesquisa. Como orienta a quarta

atividade do 1º bloco de Romberg, nossa pergunta foi definida assim:

Quais contribuições que um curso sobre Derivada, com foco na Otimização,

utilizando-se da Metodologia de Ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da

Resolução de Problemas pode trazer aos alunos da Engenharia Civil?

Dessa forma, de modo amplo, objetivamos investigar se num curso de Engenharia

Civil, a Metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da Resolução

de Problemas, pode auxiliar futuros engenheiros à compreensão da Matemática,

especificamente da disciplina de Calculo Diferencial e Integral.

A fim de explicitar cada detalhe do objetivo geral, delimitamos as seguintes metas

especificas:

• Detectar através de um teste diagnóstico problemas vigentes no ensino do Calculo

Diferencial e Integral;

• Através dos Encontros, buscar sanar as dificuldades detectadas no teste diagnóstico;

• Mostrar aos alunos do curso de Engenharia as aplicações contextualizadas do

estudo da Derivada, especificamente a Otimização;

• Apresentar uma nova abordagem metodológica de resolução de problemas;

• Verificar a eficácia da metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de

Matemática através da Resolução de Problemas no Ensino Superior.

Em busca de resposta à questão de pesquisa, partimos para o segundo bloco de

Romberg. Tal bloco nos remete a uma estratégia e procedimentos da pesquisa a fim de

verificar se, de fato, a Resolução de Problemas, potencializa uma aprendizagem com

compreensão e significado.

Neste caso, a nossa estratégia geral foi à criação de um projeto utilizando a

Metodologia de Resolução de Problemas, defendida por Onuchic, para trabalhar a Otimização

numa turma de Engenharia Civil. O projeto intitulado: “Um sonho diferenciado e otimizado”

surgiu através de um trabalho realizado no componente curricular Cálculo III. Este material

didático apresenta situações-problemas que abordam o estudo da derivada através de

problemas de otimização matemática, de modo a estabelecer a função que deve ser

maximizada ou minimizada. Vale ressaltar que o material didático, o qual estamos chamando

de livro, de nossa autoria, foi elaborado com inspiração nas ideias apresentadas pelo livro de

James Stwart (2013), volume 1. Em seu conteúdo, apresentamos problemas de otimização

abordando conceitos importantes como perímetro, área e volume, utilizando uma metodologia

de Resolução de Problemas proposta por Onuchic (2009). Vale ressaltar que os problemas

apresentados visavam a (re)construção de um dos conceito mais importante na Matemática- as

funções, como por exemplo, a função quadrática

No livro, elaborado para o projeto, é valido ressaltar que o nível das questões aumenta

de acordo com o avançar dos capítulos, podendo revelar, na integra, o progresso do aluno.

A aplicação do projeto ocorreu em quatro encontros, nos sábados à tarde, tendo a

duração de 4horas/aula.

Diz Dante (1996) que trabalhar a matemática por meio de situações problemas própria

da vivencia do aluno que façam o aluno pensar, refletir, analisar, julgar e decidir pela melhor

solução irá propiciar um trabalho do conteúdo com significado.

Diante dessa constatação por Dante, apresentaremos aqui, alguns resultados do

primeiro encontro. O primeiro encontro fora aplicado um teste diagnóstico individual, que

tinha por objetivo detectar o conhecimento sobre a ideia de limite e derivada. Em seguida,

explicitamos o conteúdo de Limite e Derivada, visto que são conceitos indispensáveis para o

estudo de Otimização.

DESCRIÇÃO E ANALISE DE DADOS

Trataremos aqui da descrição e análise dos dados obtidos na aplicação do projeto

proposto.

Como dito anteriormente, a cada encontro propusemos um problema o qual, para

orientação, baseamo-nos na Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática

através da Resolução de Problemas. É valido ressaltar que a cada encontro, os alunos foram

avaliados individualmente, através de um minucioso acompanhamento nosso, mediadores dos

encontros. Entretanto, o desenvolvimento das atividades propostas e a busca pela

aprendizagem ocorreram em grupo, pois como afirma Onuchic (1999, p. 217):

Lembrar que, no mundo real, aprender é muitas vezes um processo

compartilhado e que o progresso em direção a um objetivo vem através de

esforços combinados de muita gente. É preciso que os estudantes

experimentem este processo cooperativo e que se lhes dê a oportunidade de

aprender uns com os outros.(..) (ONCHIC, 1999, p. 217)

Á medida em que os alunos se concentravam para a resolução dos problemas

observávamos o modo que eles interagiam entre si, analisavam e compreendiam cada

problema. E também, a forma com que eles lidavam com a ideia dos demais colegas na

interação de grupo.

A todo momento, incentivávamos e auxiliávamos os participantes da pesquisa nos

problemas secundários, que, segundo a metodologia, era necessário para dar continuidade no

processo de resolução, conforme ressalta Onuchic (1999) : “o professor faz a intermediação,

leva os alunos a pensar, espera que eles pensem, dá tempo para isso, acompanha suas

explorações e resolve, quando necessário, problemas secundários”

A princípio, os alunos apresentaram insegurança naquilo que estavam fazendo. Por

isso, vimos à necessidade que os participantes tinham de receber uma aprovação de nossa

parte para continuar o processo. Essa insegurança mostrou-se proveniente da falta de

intimidade dos alunos em serem, naquele momento, protagonistas e autônomos do processo

de ensino-aprendizagem. No entanto, no decorrer de todo o processo, observamos que eles se

adaptaram bem a essa nova forma de aprendizagem, pois, ao termino do ultimo encontro foi

visível a evolução dos alunos que participaram com afinco do minicurso, por se mostrarem

mais seguros. Além disso, a boa relação entre os mediadores e os alunos combinada com a

paciência e com esta metodologia foram cruciais para o bom desenvolvimento deste trabalho.

Cabe, aqui, agora descrever e analisar como se desenvolveu o primeiro encontro.

PRIMEIRO ENCONTRO

No primeiro momento, após as devidas apresentações entre os pares, foi enunciado o

que objetivávamos em cada encontro, seguida de uma breve explanação do que seria a

metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da Resolução de

Problemas. Após isso, com a chegada de alguns alunos atrasados, demos inicio ao teste de

diagnóstico, que foi aplicado a 15 alunos do curso de Engenharia Civil. Segue o teste

diagnóstico que foi aplicado:

Figura 1: Teste Diagnóstico

Fonte- Dados da Pesquisa

Ao aplicar este teste, orientamos os alunos para não se identificarem, pois nosso

objetivo era diagnosticar de forma coletiva os conhecimentos e as dificuldades da turma sobre

Limite e Derivada.

Durante a aplicação notamos dificuldades por parte deles. Utilizaram algumas

propriedades de Derivada dentro de Integral e vice-versa. Ou seja, eles possuíam as

ferramentas corretas, mas faltava-lhes orientação para utiliza-las.

Em seguida apresentaremos os gráficos que mostram a quantidade de alunos que

responderam ou não às questões 1 e 2, além das questões que mais se aproximaram dos

resultados esperados.

Na primeira questão uma pequena parte tentou resolvê-la, e, por agravante, nenhum

destes a acertaram por completo.

Figura 2: Gráfico da quantidade de alunos que responderam ou não a primeira questão do teste

diagnóstico

Fonte- Dados da Pesquisa

Segue uma das resoluções dos alunos:

Figura 3: Resolução da primeira questão do teste diagnóstico realizado por um aluno do curso de

engenharia civil

Fonte- Dados da Pesquisa

Nota-se pela quantidade de erros e pela quantidade de testes não resolvidos, a falta de

habilidade dos alunos sobre Limite.

Na segunda questão observa-se que a maioria dos alunos tentou resolvê-la. Das

questões resolvidas, analisa-se a falta de conhecimento sobre função, em especial do segundo

grau. Os alunos apenas atribuíram valores para x, jogaram os pontos obtidos no plano

cartesiano e os ligaram, formando um esboço de uma parábola, e em um caso, o esboço de

uma reta. Nenhum dos alunos tentou encontrar os vértices da função e nem as raízes da

função, mesmo esta função não apresentando raízes reais. Apenas um aluno respondeu de

forma coerente toda a questão, os demais alunos esboçaram o gráfico de modo correto (exceto

um que esboçou uma reta), e consequentemente, erraram ao estudar o limite da função.

Figura 4: Gráfico da quantidade de alunos que responderam ou não a segunda questão do teste

diagnóstico

73%

27%

2ª Questão

Resolveram

Não Resolveram

Fonte- Dados da Pesquisa

Segue duas das resoluções dos alunos

Figura 5: Resolução correta da segunda questão do teste diagnóstico realizado por um aluno do

curso de engenharia civil

Fonte- Dados da Pesquisa

Figura 6: Resolução incompleta da segunda questão do teste diagnóstico realizado por um aluno

do curso de engenharia civil

Fonte- Dados da Pesquisa

Como mostrado acima, a primeira imagem refere-se à resolução correta e a segunda

imagem é um exemplo de uma resolução incompleta, incoerente e incorreta, que evidencia o

despreparo e o baixo nível de conhecimento do aluno sobre este conteúdo especifico.

Na terceira questão todos responderam. Entretanto, nenhum aluno conseguiu resolver

com êxito a questão por completo. Segue duas das resoluções dos alunos

Figura 7: Resolução da terceira questão do teste diagnóstico realizado por um aluno do curso de

engenharia civil

Fonte- Dados da Pesquisa

Figura 8: Outro exemplo da resolução da terceira questão do teste diagnóstico realizado por um

aluno do curso de engenharia civil

Fonte- Dados da Pesquisa

Nota-se que os alunos entendem a Regra da Potencia comumente utilizada no estudo

de derivada, porém, possuem dificuldade nos conteúdos básicos como radiciação e as

propriedades da multiplicação.

A quarta questão não foi resolvida por nenhum aluno, o qual revela que os alunos não

possuem conhecimentos necessários para a resolução do problema que tratava de uma

aplicação da derivada, neste caso o problema referia-se a Otimização. Nos mostra a falta de

sensibilidade para lidar com questões aplicadas que envolvam Derivada.

O teste diagnóstico revelou grande dificuldade dos alunos em trabalhar assuntos

básicos da matemática escolar e do Ensino Superior. A simples mecanização de certos

processos matemáticos não garantiu o êxito na resolução das questões, o que revela a

necessidade de uma metodologia emancipadora no Ensino Superior. Corroborando com isto,

Reis, (2009, p. 81) diz que

[...]a pratica pedagógica do professor de Cálculo deve se pautar,

primeiramente na reflexão e compreensão sobre que papel o Cálculo

Diferencial e Integral representa na formação matemática dos estudantes.

Somente estabelecendo elementos que esclareçam a real função do Cálculo

na formação matemática do estudante é que o professor terá condições de

refletir sobre que objetivos traçar, que conteúdos estabelecer, que

metodologias desenhar; enfim, que praticas pedagógicas desenvolver no

ensino de tal conteúdo(Reis, 2009,p.81)

Após o termino do teste e como havia tempo disponível, buscamos dinamizar este

encontro, dividindo a turma em grupo de três pessoas e pedimos que fizessem o gráfico da

função , definida por , e analisassem o seu comportamento

quando x se aproximasse de 3 tanto pela direita, quanto pela esquerda. Assim como no teste,

os alunos apresentaram dificuldade na resolução, mesmo sendo resolvido em grupo.

Fizemos isso, porque percebemos, ao observar a realização do teste feita por eles

individualmente, que a maioria não tinha um conhecimento bem estruturado sobre função do

segundo grau. Nenhum deles resolveu o gráfico usando conhecimento de vértice da parábola,

eixo de simetria, raízes da função, etc. O que fizeram foi atribuir valores a x para encontrar o

y da função e o mais interessante é que boa parte dos alunos sempre toma valores para x de

números naturais. O que, de fato, comumente se vê.

Após alguns minutos, fomos resolver a questão de forma socializada e participativa.

Fizemos o gráfico no quadro, pois os alunos não tinham familiaridade em fazer gráficos de

funções. Neste momento aproveitamos para retomada de propriedades utilizadas para a

construção de gráficos. Notamos que o pouco que eles haviam escrito estava bastante distante

da nossa resolução, não porque o conteúdo era complexo, mas porque eles não utilizaram de

modo eficaz o conhecimento que tinham.

Em seguida, de acordo com a Metodologia de Resolução de Problemas, proposta por

Onuchic, foi formalizado o conceito de Limite, com suas propriedades básicas. Analisamos

novamente a questão anteriormente passada em grupo e obtivemos maior êxito após a clareza

dos fatos.

Faltando uma hora para o término do encontro passamos novamente a primeira e

segunda questão utilizada no teste de diagnostico, mas agora com outro caráter. Não tinha

apenas por objetivo avaliar o conhecimento deles, mas também “fixar” o que fora visto

durante o encontro que, segundo ONUCHIC et al (2014) o novo problema proposto ao aluno

possibilita analisar se foi compreendido os elementos essenciais do conteúdo matemático

introduzido naquela aula.

Com a explanação feita por nós sobre limite (definição, propriedades, etc), de modo a

orienta-los para a resolução das questões do teste diagnostico, percebemos que os alunos

conseguiram ver e dar sentido ao que faziam na resolução das questões, o que nos deixou

satisfeitos e mais motivados a dar continuidade ao nosso trabalho. Nos encontros que se

sucederam foram visíveis os bons frutos deste primeiro encontro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deste modo desafiador e problematizador, construir o conhecimento torna-se natural e

praticamente instantâneo, pois a solidificação do conhecimento será nada mais do que uma

conseqüência deste delicado processo, caso este seja trabalhado de forma eficaz. É valido

ressaltar que esta comunicação faz parte de um trabalho de conclusão de curso que esta em

processo de finalização, no entanto, como pode ser visto, obtivemos resultados positivos em

nossas aplicações. Naquilo que buscávamos, que era a utilização da Resolução de Problemas

como possível metodologia no Ensino Superior, logramos êxito. A Metodologia foi aplicada

de forma eficaz; os alunos conseguiram resolver as atividades em tempo hábil; confirmamos

nossa ideia de que a criação de um ambiente que desperte o interesse do aluno e que o respeite

pode potencializar o seu aprendizado. Mas, é importante aqui levantarmos algumas reflexões:

A Resolução de problemas coloca o foco da atenção dos alunos sobre “ideias” e sobre o “dar

sentido”. Ao resolver problemas, os alunos necessitam refletir sobre ideias que são inerentes

ou estão ligadas ao problema; A formalização de toda teoria matemática pertinente a cada

tópico trabalhado, dentro do programa assumido, feita pelo professor no final da atividade,

passa a fazer mais sentido para os alunos. Assim sendo, fica evidente o quanto que um

ambiente propício para o aprendizado pode estimular e modificar a história do aluno,

despertando até, quem sabe, gostos então ocultos por não terem sido estimulados de modo

envolvente.

Com base nos resultados apresentados podemos concluir que, de fato, a Resolução de

Problemas quando trabalhada em um ambiente de motivação, do prazer pela descoberta, do

favorecimento aos alunos da autonomia e da criatividade ao coloca-la no centro das atividades

de sala de aula, representa uma forma de se fazer e aprender matemática (NUNES, 2015).

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