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C.D.U. 37 (8Í2.1)(091) o ENSINO DE HISTÓRIA DO MARANHÃO NO 19 GRAU (3a. e 4a. StRIES) Maria do Socorro Coelho Cabra1(1) RESUMO A Pesquisa consta de um estudo realizado em 40 Escolas de 19 grau da rede oficial e particular do Maranh~o sobre o Ensino de História do Maranhão. A respeito desse ensino foi feita uma ref1e x~o sobre os Programas adotados nessas Escol s, livros didaticosutT 1izados pelos professores, bem como sobre a participaç~o dos alunos e a vis~o de História demonstrada pelos professores entrevistados.O exame crítico sobre essas questões visa a contribuir para a discus são em torno do Ensino de História do Maranh~o nas Escolas de 19 Grau (3a. e 4a. séries). 1 INTRODUÇÃO Nossa proposta inicial era escrever um livro didático sobre História do Maranhão que viesse servir de fonte de consul ta para os professores de 19 grau (3a. e 4a. séries) que tra balham com História do Maranhão, na disciplina Estudos Sociais, sob a designação de Integração Social. Passamos, então,a de senvolver a primeira etapa do projeto,que constou de uma pe~ quisa de campo realizada em aI gumas escolas de 19 grau e junto às Coordenações de Ensino de 19 Grau das Secretarias de Educa ção do Estado e do Município,v~ sando a um conhecimento maior da realidade escolar em estudo, bem como colher sugestões ares peito dos temas históricos so bre o Maranhão que deveriam ser por nós desenvolvidos. Paralelamente a esse trabalho de campo, fazíamos le~ turas teórico - metodológicas , dentro da área de história, a fim de podermos, por um lado, acompanhar os avanços alcanç~ n~estre em Educaç~o. Professora Assistente - Departamento de Histó ria e Geociências-UFMA. Cursando Doutorado em História Social na USP. Cad. Pesq. são Luís, 3 (2): 5 - 33, jul./dez. 1987 05

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C.D.U. 37 (8Í2.1)(091)

o ENSINO DE HISTÓRIA DO MARANHÃO NO 19 GRAU (3a. e 4a. StRIES)

Maria do Socorro Coelho Cabra1(1)

RESUMO

A Pesquisa consta de um estudo realizado em 40 Escolas de19 grau da rede oficial e particular do Maranh~o sobre o Ensino deHistória do Maranhão. A respeito desse ensino foi feita uma ref1ex~o sobre os Programas adotados nessas Escol s, livros didaticosutT1izados pelos professores, bem como sobre a participaç~o dos alunose a vis~o de História demonstrada pelos professores entrevistados.Oexame crítico sobre essas questões visa a contribuir para a discussão em torno do Ensino de História do Maranh~o nas Escolas de 19Grau (3a. e 4a. séries).

1 INTRODUÇÃONossa proposta inicial

era escrever um livro didáticosobre História do Maranhão queviesse servir de fonte de consulta para os professores de 19grau (3a. e 4a. séries) que trabalham com História do Maranhão,na disciplina Estudos Sociais,sob a designação de IntegraçãoSocial.

Passamos, então,a desenvolver a primeira etapa doprojeto, que constou de uma pe~quisa de campo realizada em aIgumas escolas de 19 grau e junto

às Coordenações de Ensino de 19Grau das Secretarias de Educação do Estado e do Município,v~sando a um conhecimento maiorda realidade escolar em estudo,bem como colher sugestões arespeito dos temas históricos sobre o Maranhão que deveriam serpor nós desenvolvidos.

Paralelamente a essetrabalho de campo, fazíamos le~turas teórico - metodológicas ,dentro da área de história, afim de podermos, por um lado,acompanhar os avanços alcanç~

n~estre em Educaç~o. Professora Assistente - Departamento de História e Geociências-UFMA.Cursando Doutorado em História Social na USP.

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dos no processo de produção doconhecimento histórico e, por outro lado, conhecer as novas pr~postas e experiências que vêm serealizando no ensino de História, a nível de 19 grau.

A partir, entretanto,da pesquisa de campo realizada ,sentimos a necessidade de revero nosso projeto inicial. O ricomaterial coletado e o conhecimento maior que passamos a ter darealidade pesquisada nos levou aver que,o mais pertinente, num pri:meiro momento, seria realizarmosum trabalho de análise desse material coletado.

O material levantadose constitui, especialmente, dequestionários, aplicados a 125professores de 40 escolas, pe~tencentes ãs redes federal, estadual, municipal e particular.Fazparte ainda desse levantamento ,os principais livros didáticosutilizados pelos professores,bemcomo os programas de Estudos Sociais adotados em algumas escolas visitadas e os Guias Curriculares elaborados pelas Secretarias de Educação do Estado e doMunicípio.

Através do exame dessa"documentação, sobretudo do estu

do dos questionários que levantam questões que vão desde o pr~

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grama de Estudos 30ciais adotados nas escolas, livros didáticos utilizados pelos profess~res, participação dos alunosnas aulas, até perguntas sobreos temas que os professores sugeririam para serem por nos desenvolvidos e como esses temasdeveriam ser trabalhados, f~c~mos conhecendo, de alguma forma, o que pensa uma parte dosprofessores de 19 grau sobrequestões relevantes, ligadas aoensino de História do Maranhão,nas 3a. e 4a. séries.

As idéias manifestadas por esses professores,entr~tanto, pareceram-nos bastantediscutíveis, daí o nosso interesse em realizar uma reflexãomaior sobre elas. Achamos, dia~te de todo esse material que ,deimediato, qualquer estudo quefizéssemos sobre o ensino deHistória do Maranhão no 199rau,que não fosse essa reflexão, e~taria fora do lugar, ou seja,não estaria contribuindo, conforme gostaríamos, para a melhoria desse ensino.

Com o estudo que orarealizamos, que consta de,noitem2 - uma reflexão sobre os pr~gramas adotados nas escolas pe~quisadas e sobre os livros di

dáticos utilizados pelos pr~

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fessores consultados e, no item,3 .;..uma análise dos question-ª.rios aplicados, objetivamos contribuir para a discussão em torno do ensino de História do Maran~ãonas 3a. e 4a. séries do 19qr au,

2 - OS PROGRAMAS ADOTADOS E OSLIVROS DIDÁTICOS

A matéria Estudos Sociais,que, conforme o ConselhoFederal de Educação, tem por objetivo o "ajustamento crescentedo educando ao meio, cada vezmais amplo e complexo, em que d~ve não apenas viver, mas conviver", é dada nas quatro prime~ras séries do 19 grau, sob a designação de Integração Social.

No Maranhão,segundo asDiretrizes Gerais do Currículodo Ensino de 19 grau,1 a disciplina Integração Social deve le

Município

yar O aluno a alcançar um con j un

to de "compreensões básicas"s~ore assuntos ligados aos temasFamília, Comunidade, Escola, M~nicipío e Estado. Nas 3a. e 4a.séries, o aluno, após o estudodos temas Município e Estado,d~verá conhecer alguns aspectosdessas duas realidades tais como: localização, população, costumes, organização política eeconômic~, fatos passados, etc.As Diretrizes Gerais do Currícu10roltar

ainda ump:rlerãocons

elaborados

de Ensino sugeremde contéudos quenos currículos

pelas escolas e que deverão conduzir a essas "compreensões básicas". Convém transcrevermos aqui o rol decorrespondentes asséries e que setemas Municípiodo.

assuntos3a. e 4a.

refere aose Esta

1 - O Município como uma reuniãode comunidadestipos de comunidades do Município

2 - Grupos existentes no Municípiogrupos de pessoas residentes na sedegrupos de pessoas residentes na zona rural

. grupos de escolas, igrejas, casas comerciais, agéncias bancárias, fábricas, hospitais, repartições públicas, outros.

3 - Noção de Município

1 Documento elaborado e publicado pela Secretaria de Educaç~o ~o E~tado do Maranh~o para servir de base para as escolas elaboraremseus currículos.

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· o que é distrito sedefinalidade dos outros distritos

4 - O Município onde o aluno vivelocalização em relação a zona rural, urbana, Estado, Pais.asp~ctos físico-naturais (igarapés, relevo, rios, clima)aspectos físico-culturais (ruas, avenidas, praças, bairros,e~tradas, construções, outros).

5 - Grupos que integram o Municípioa população - sua interdependência com fatores políticos, econômicos, culturais, religiosos, sociais, outros, sua distribuição no Município, movimento migratório.órgãos e associações que servem a populaçãoatividades econômicas dos gruposprofissões predominantes no Municípiocostumes, festas tradicionais e comemoraçoes dos grupos

6 - História do Municípioorigem do nomefundaçãofatos e vultos importantes

7 - Administração do 11unicípioautoridades e suas atribuiçõesprincipais órgãos que auxiliam a administraçãoserviços públicosdireitos e deveres dos cidadãos do Município

8 - Interdependência do ~bnicípio com outros Municípiosos meios de transporteas comunicaçõesas vias comerciaisos meios de divulgação cultural

Estado

1 - O Estado como unidade formada por vários Municípioscentros comerciaiscentros agrícolascentros pastoris

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· centros. culturais· outros

2 - O Estado

localização em relação a outros Estados, à reglao e ao País.organização política (a capital, os Municípios, as microrregiões) .aspectos físico-naturais (relevo, hidrografia, clima, veget~çáo ) .

Aspectos fíSico-culturais (cidades, estradas, construções eoutros) •

3 - Administração no Estado· autoridades constituídas e suas atribuições

os três poderesa lei e os direitos e deveres do cidadão para com o Estado eo País.

· o governo e sua política de integração do Estado comEstados e com o País.

outros

4 - Grupos que Integram o Estadoa população - sua interdependência com fatores políticos, ecgnômicos, culturais, sociais, religiosos e outros, sua distribuição no Estado, movimento migratório.as principais profissões no Estado

· as atividades humanas e suas mudanças em relação ao local eepoca.as tradições e os costumes de diferentes areas do Estado.

5 - O Estado e sua interdependência com outros Estadoso intercâmbio de produtosa exploração e aproveitamento dos recursos naturaiscomércio interno e externoos meios de transporte

· as comunidadesos meios de divulgação cultural

6 - História do Estado· o Estado do Maranhão e as navegaçoes

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• o povoamento inicial do Estado· as invasões estrangeiras

os fundadores e sua influência nos- costumes, tradições, religião, o1,Jtros.o sentimento nativistaos fatos e os vultos históricos

7 - O Estado como unidade de integração do Paíso Estado como parte de uma região

· o Estado como parte do Brasilo Estado comparado a outros Estados

o roteiro acima, comojá destacamos,são sugestões queo documento oficial, "DiretrizesGerais do Currículo do Ensino de19 Grau" apresenta para que asescolas, de acordo com suas necessidades, elaborem seus currículos e programas. O que se ver~fica, entretanto, na realidade,e que a maior parte das Escolasnão elabora seus programas paraa disciplina Integração Social,limitando-se o professor, em g~ral, a seguir o roteiro presenteno livro didático adotado e quesegue mais ou menos o rol do conteúdo sugerido pelo documentooficial a que já nos referimos.

Uma simples consulta

a esse rol de conteúdo sugeridopor esse documento oficial,comose pode ver,e aos índices doslivros didáticos, é suficientepara verificarmos que os temasconsiderados ligados a Históriaseguem uma seqüência cronológica que raramente chega aos nossos dias. Está implícito, pois,nesse roteiro, uma concepção dehistória que considera História - igual a Passado, como seHistória fosse a narrativa doPassado humano. A fim de ilustrarmos o que estamos afirmando, abaixo transcrevemos os temas sobo título "Revivendo um Passado". contidos no índice do livro mais adotado nas Escolas pesquisadas.

Um descobrimento, depois outroPrimeiros donos da terraA invasão FrancesaColonização do BrasilMaranhão: Estado ColonialFoi assim que o Brasil cresceuInvasão Holandesa

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A Revolta de BeckmanD. João VI no BrasilIndependência do Brasil e a Adesão do MaranhãoA Balaiada2

No segundolivromaisad~tado nessasEscolasconsultadas,lê-se

sob o título-"AsnossasRaizes Históricas" :~os t.ema sua seguir:

Como surgiu o BrasilAs duas Capitanias do MaranhãoOs Franceses no MaranhãoO Maranhão separa-se do BrasilOs Holandeses no MaranhãoA Revolta de Manoel BeckmanO Povoamento do InteriorD. João VI veio para o BrasilO Agitado período da RegênciaO segundo Império e o MaranhãoA Libertação dos EscravosMaranhão e a RepúblicaA Revolução de 19303

Seguindo, como vimos,a periodização tradicional e orol de conteúdo sugerido no doeumento oficial, os livros didáticos começam registrando os fatoshistóricos referentes ao Maranhão Colônia. Esses acontecimentos, entretanto, são narrados segundo uma ótica que não mostra acomplexidade da trama histórica,ou seja, não contempla a part~cipação dos vários segmentos quecompoem a sociedade maranhense,

o relacionamento existente entre eles, suas propostas, etc.Todo o processo histórico ficasimplificado, pois, a um conjugto de fatos políticos, singul~res e precisos , onde se destaca a ação do grupo vencedor.Re~saltam-se, pois, nessa narrativa, os feitos dos colonizadores, primeiramente os franceses, depois os portugueses, de~crevendo como estes conquistad~res, desbravando matas, catequ~

2 NASCIMENTO, l'1.N.&CARNEIRO, D.M. Terras das Palmeiras:19grau - 4a.série - 2.ed. são Paulo, Ed. FTD, 1984.

3 SAl'1PAIO,Francisco Coelho. Estudos Sociais: Maranhão,19grau. sãoPaulo, Ed. do Brasil, 1980.

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zando índios, plantaram, enfim,em nossa terra, as sementes dacivilização européia. Nessa narrativa histórica são salientadasinúmeras figuras como as de Jerônimo de Albuguergue, pedro Dessaes, Daniel de La Touche, Begu~mao e muitos outros, algumas deIas consideradas verdadeiros heróis. A participação do índio edo negro é ocultada.Paz-se, gua~do muito, referências a estesgrupos, segundo os critérios dacivilização européia, onde naose respeita suas culturas e pr~jetos de vida. Aparecem, pois,nesse discurso histórico, comoobjetos e não como sujeitos dahistória. Em função disso, encontra-se, em alguns desses livros, adjetivos "selvacomogens", "atrasados", para qual~ficarem o índio, visto como serinferior e do passado. Dentrodessa ótica, a "catequese" do í~dio feita pelo branco colonizador, considerado como aquele quedetém o saber e a verdade, não équestionada, mas legitimada.A titulo de exemplo, abaixo transcrevemos trechos sobre o índio retirados de um dos livros didáticos, utilizado porentrevistados.

professores

11 as nossa terras,as.s í.m como todo o continenteamericano, nao eram habitadas por povos civilizados,maspor selvagens.

Esses selvagens eramos índios ...

Apesar de primitivose selvagens, os índios,de modo geral, aceitaram pacific~mente a chegada dos europeusao Brasil."4

Alguns poucos livrosadotados já fazem referência aoíndio com respeito e sem menosprezo, embora continue sendotratado de forma generalizada,ocultando-se, por conseguinte,suas particularidades e a dominaçao que sofreu, ao longo dahistória, e sofrem, ainda hoje,as poucas tribos existentes noMaranhão.

A história do Maranhão Colonial, segundo esses livros, restringe-se, pois, ao registro de feitos singulares,pl~nos de nomes, datas e locais determinados. Os trechos transcritos abaixo exemplificam o quevimos afirmando. A respeito dainvasão francesa no Maranhão, olivro adotado na maioria das escolas visitantes comenta:

4 MURAD, Maria Ceres Rodrigues. Pedra da Memória: Estudos Sociaisdo Maranh~o. S~o Lurs, SIOGE, 1979. p. 81 (grifo nosso).

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"Em maio de 1954, fra!!ceses comandados por JacquesRiffault, confraternizaram emnossas terras com "Japiaçú" ,chefe dos indios e aqui se estabeleceram.

Foi o primeiropasso paraa fundação de uma colônia,Fr~ça Equinocial, em 1612.

Jacques Riffault construiu uma feitoria e regressouao seu pais, deixando comosub~tituto Charles Des Vaux. Apósdois anos, este retorna à França para conseguir apoio do reiHenrique IV. Regressou em1610,na Companhia de Daniel de LaTouche, Senhor de Ia Ravardiére.Em 12 de agosto de 1612 foirealizada a Ia. missa do Maranhão.

No dia 08 de setembro1612, foi fundada solenementepor Daniel de La Touche,Senhorde La Ravardiére, a cidade deSaint Louis(São Luís), em homenagem a LUIS XIII, Rei Menino,de França".

A respeito da invasãoholandesa no Maranhão,esse mesmolivro destaca:

"Em 1614,governa o Estado Colonial do Maranhão Bento Maciel Parente, quando apo~

taram, na praitide Araçagi,18 naus com doi~ mil holandeses comandados p~lo almiranteLichtard. Desembarcaram defronte da Igreja de Nossa Senhora do Desterro, saquea!!do-a e provocando pânico napopulação ..."

Outro episódio narrado sobre esse mesmo fato histórico é o que o livro intitulade "heroismo de um bravo", ondesalienta "a figura heróica dePedro Dessaes", que não prestoujuramento à bandeira holandesa.

No que se refere a expulsão dos holandeses, em umtrecho desse mesmo livro lê-se:

"Chefiou o movimentoAntonio Muniz Barreiros Filho, seguido do sargento -marAntonio Teixeira de MeIo e docapitão Paulo Soares de Avelar.

Planejaram e assaltaram cinco engenhos do Itapec~ru na noite de 30 de setembrode 1642. Vitoriosos, rumarampara a cid.ade e acamparam noOuteiro da Cruz"s

Um outro livro didático também adotado em muitas escolas narra sobre o Maranhão Co

5 NASCIMENTO, M. Nadir & outros.op.cit.p.36,42 e 43(grifo nosso)

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lônia:

"0 primeiro governadordo Estado do Maranhão foi Francisco Coelho de Carvalho, quetomou posse em l626,ficando emPernambuco, enquanto os soldados que com ele se destinavamao Maranhão foram para Salvador em socorro aos baianos, invadidos pelos holandeses, em1624.

o segundo governadorfoi Jácome Raimundo de Noronha, que muito contribuiu paraa expansão territorial brasileira, mandando o Capitão Pedro Teixeira conquistar o rioAmazonas.

Em 1638, Bento MacielParente torna-se o terceiro g~vernador, tendo a desventurade, no seu governo, os holandeses invadirem o Maranhão, em1641 e prendê-lo e enviã-lo p~ra Pernambuco,~m cuja viagemele morreu.

Em 1644, os holandesesforam expulsos e Francisco Coelho de Carvalho, sobrinho doprimeiro governador, assume ogoverno, sendo substituído, em1645, por André Vitor de Negreiros e por muitos que esti

veram ã fr~te da terra maranhense até 1774, quando o.Marquês de Pombal, que eraprimeiro-ministro do Rei D.João I, de Portugal, integrounovamente o Maranhão ao Brasil."6

Como se pode observar, a partir mesmo destes pequ~nos trechos transcritos, a história presente nesses livros emais do que a narrativa dos feitos políticos do grupo vencedor,na medida em que ela é i.ndiVrluali_zada nas figuras dos ~hefes ougovernantes.

Tem-se, pois, a história dos governantes, segundo umavisão que, conforme já frisamos,simplifica o processo históricoa uma sucessao linear de causase efeitos.

A respeito do Maranhão Imperial, os livros didáticos fazem poucas referências. A!guns descrevem apenas o fato histórico - A Balaiada, onde se destacam muito mais episódios, comolutas, combates, do que o sign~ficado mesmo desse movimento p~pular de reação a uma ordem escravocrata que favorecia apenas

6 SAMPAIO, Francisco Coelho, op. cito p. 21 (grifo nosso)

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a minoria de brancos privilegi~dos. Alguns outros livros regi~tram ainda a riqueza econômica eo desenvolvimento cultural Conquistado pela Província do Maranhão no começo do Império, enumerando os vultos mais ilustres daliteratura maranhense dessa ep~ca e ressaltando os belos casaroes que ornamentam cidades comosão Luis e Alcântara, testemunhos, até hoje, dessa prosperid~de econômica. Esses livros,entr~tanto, não explicam a origem dessa riqueza, quem a produzia, aquem beneficiou, etc. Não mostram o grande papel desempenhadopelos negros, produtores diretosdessa riquez~ que se concentr04em grande parte, nas mãos de umpequeno número de senhores maranhenses, que por isso mesmo .p~deram construir ricas residências e enviar seus filhos paraestudar na Europa, vindo a tornarem-se parte dessa elite requi~tada e ilustrada que conquistoupara são Luis titulos como o de"Atenas Brasileira". Os grupossociais restantes, entre eles os

desses livros, mçstraro como esses dados são sil~n~iados:

"Durante os séculosXVIII e XIX, as cidades desão Luis e Alcântara tiveramum comércio movimentado e as melhoresconstruçõesdo Brasil.As r~sidências eram decoradas comazulejos importados daEuropa,tinham grande varanda e esti10 e10gante. são Luis ficouconhecida como "Atenas Brasileira" e "Cidade dosjos". As residências

Azuleperte~

ciam aos plantadores de algQdão e cana-de-açúcar e tambémaos grandes criadores de g~do,!7

"Durante a segunda m~tade do século passado a baseeconômica do Maranhão era ocultivo do algodão, seguidodas plantações de cana-de-aç~car, que muito prosperaram naquela epoca.

Foram anos de grandeprosperidade econômica e cultural de nosso Estado, quandosão Luis era chamada de "Ate

negros, nao melhoraram em nada nas Brasileira", devido aosuas condições de vida. Os tre grande interesse pela cultuchos abaixo, retirados de dois ra, lembrado por seus:filhos." 8

7 MDRAES, Lídia Maia de; ARDEIM, Maria Luisa C. & CALDEIRA, Maria Jose.Gente, Terra Verde, Ceu Azul: Estudos Sociais, Maranhão,l9 grau.São Paulo, Ed~Ãtica, p , 76.

8 SAMPAIO, Francisco Coelho, op. cito p. 30.

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Os dados sobre aMaranhão atual contidos nesses livros também não levantam nenhumquestionamenfo, destacando sempre a ação dos governantes e ocultando os conflitos e as contradiçoes. Segundo esses livros, est~mos todos, em comum cooperaçao,construindo o progresso do Maranhão. Vejamos o trecho a seguir:

"Somos todos tijolosna construção do progresso~

O homem é um ser felizardo.

Felizardo porque recebe como presente da terra imensas riquezas, solos férteis,m~nerais, rios e mares, florestas ... e porque dispõe de inteligência para transformar essas riquezas em recursos quemelhoram seu modo de viver.

Como explorar ou transformar tudo isso?

Num esforço conjunto,uns dedicam-se a agricultura,à pecuária, ou à exploração derecursos naturais.

Outros trabalham nasfábricas: são os operários

Há ainda aqueles quese dedicam à prestação de serviços, como os comerciantes

os professores, os motoristas, os funcionários públicose outros.

Na execuçao de qualquer uma dessas atividades,uns colaboram com os outros,promovem o progresso da Nação, do Estado e do Município."~

Esses livros mostramainda como as indústrias queestão surgindo, a agricult~ra que está se desenvolvendoe as inúmeras realizações dosgovernantes estão promovendoo progresso do Maranhão. Emnenhum momento estes dadossão questionados, passando aidéia de uma história pronta,correta, inquestionável.

Na narrativa desseslivros didáticos, as classessociais, seus conflitos, naoaparecem. A sociedade maranhense parece ser uma totalidade harmônica, onde não hádominação, expropriação, po~que "todos t~m igualmenteacesso às riquezas da terra",devendo se sentir por issomesmo "seres felizardos".

A história do Maratal como é contada nesnhão

~ NASCIMENTO, Maria Nadir & CARNEIRO, Deuris Moreno. op. cito p. 72(grifo nosso)

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ses livros constitui-se, pois,numa representação mística darealidade maranhense. Nessa história, a ação, o movimento, oquotidiano do homem maranhensenao tem lugar, está à margem. ~uma versão segundo a ótica de umdeterminado grupo, que passa ase constituir, depois de veiculada nas escolas, na visão de história do senso comum.Transmitidaassim dessa forma,sem nenhumacrítica, elacriança a se

não oportunizaaperceber corno

reflete e fazum

ser que pensa,história. Essa história aparece

monótoao aluno como uma coisana, com a qual ele não se identifica, distante dele. Ele não aentende, por isso é levado a decorá-Ia e, muitas vezes, lhe ecobrado isso, o que e lamentável, pois, corno sabemos, história nao é matéria decorativa.Hi~tória e vida. História é movimegto. A história tem que ser entegdida corno "história da vida doshomens, das relações sociais, c~mo algo vivo e dinámico,que temuma dimensão temporal e espacialfinica".10 História é compreegsão, reflexão, entendimento, pa~ticipação. História é atuação. Oensino de história deve, portag

a

a

to, levar o alut'toa refletir,r~ciocinar, problematizar e naoa decorar.

A história do Maranhão, ensinada nas escolas, nãodeve se constituir, pois,num relato sem vida, que deve ser memorizado pelo aluno, provocandopor isso, muitas vezes, por pa~te deste, descaso e desintere~se. Para isso o professor temque questionar o livro didáticoe os guias curriculares, a fimde se tornarem instrumentosfiteisna aprendizagem. O contefidodos livros didáticos nãodeve ser visto cornoa única fonte de saber, aquela que contéma história verdadeira. O livrodidático é apenas uma,entre ta~tas outras fontes de consulta,como: informações da família,tradição oral, jornais, filmes,literatura, cantos, documentoshistóricos, etc, que devem serutilizados pelo professor e p~105 alunos, também de forma crítica e criativa. Essas fontesnão são um fim a ser ating!dD , mas um meio para se apre~der a estudar e a refletir sobre a história.

Estudar história para

10 ZAMBONI, Ernesta. Sociedade e trabalho e os primeiros an~scolaridade'introdução das noções básicas para a formaçao

, h R B H'st são Paulo, n9 11, p.conceito; Trabal o .. raso L .,

set. fev. 1986.

de esde um117 ,

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a cria?ça nao deve ser, por co~seguinte, aprender o que está nolivro - mas aprender a pensar ea refletir sobre a vida,aprenderliase situar no mundo, a perc~ber as relações existentes entre ela e as pessoas e entre osdiferentes objetos que a cercam"11

Aprender história e,pois, se aperceber como um serque participa e faz a história.

3 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS3.1 .. Universo da Pesquisa

O trabalho de campoconstou da aplicação de 125 que~tionários a professores de 3a. e4a. séries, em 40 escolas perte~centes às redes Federal (1), Estadual (18), Municipal (6) e Particular (15). Dessas escolas, 34situam-se na capital do Estado,são Luís, enquanto 6 estão localizadas numa cidade do interior,Balsas. Os professores entrevistados da 3a. série (71) e da 4a.série (54) trabalham com História do Maranhão na disciplina E~tudos Sociais, sob a designaçãode Integração Social.

Dessa forma, o questi~nário aplicado levanta questõessobre essa disoiplina que vao

11 ZAMBONI, Ernesta, o p , cito p . 117.

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desde o programa e os livros didáticos adotados nas escolas, aparticipação dos alunos nas auIas, até os temas sobre História do Maranhão que os profess~res gostariam que fossem desenvolvidos em textos e a maneirade abordá-los. As respostas dadas pelos professores a essasperguntas sao objeto de estudodeste tópico, começando-se, p~rém, por tecer um rápido comentário sobre a caligrafia e cap~cidade de expressão dos profe~sores, tendo em vista que saoos professores do 19 grau menorque devem exercitar os alunosna prática da leitura e da escrita, devendo, portanto, tercaligraf.ia legível e redação coE.reta.3.2. Redação e Caligrafia

Apesar de a maioria dosquestionários ter sido entregueaos professores pela própria a~tara do projeto, que aproveit~va a ocasião para explicar osobjetivos da pesquisa e o conteúdo das questões levantadasno questionário, alguns profe~sores, como podemos observar aa seguir,responderam as pergu~tas, de maneira resumida, o quedificultou, 'de certo modo,a ana

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lis~ dos questionários, uma vezque nao se pode com isso colhermais dados sobre a realidade escolar em questão.

Abaixo transcreveremosalgumas respostas dadas porguns professores à pergunta-sua opinião a respeito dosvros didáticos?

aIÇUal

li

"~um livro muitobc:m".~ boa a sua utilização "."Bons"."O livro está ao nível

da 4a. s~rie do 19 grau"."Eu gosto"."6timo"."Tem muito a desejar".

Respostas à pergungunta - Qual a participação dosalunos nessas aulas?

"Boa, poderia ser 5tima se houvesse mais particip~ção".

"Mais ou menos ativa"."Ativa"."Regular" ."Desmotivados"."Pouca"."Boa"-.

Boa parte ainda dosprofessores consultados respondeu de maneira confusa às pergu~ta s, cometendo alguns erros ,oquevem demonstrar que estes profe~sares sentem dificuldades em ex

pressar suas idéias. Isso tamb~m obstaculizou a análise dosquestionários.

Abaixo transcrevemos,atítulo de exemplo, algumas dessas respostas que consideramosmal elaboradas e, portanto, dedifícil compreensao:

Respostas a pergunta - Que acha do Programa de Estudos Soe iais?

"Eu acho 5timo: porqUeela dar visão integrada dostemas abordados de uma maneira realmente globalizada".(grifo nosso)

"O programa de EstudosSociais n5s nos orie~tamosatrav~s do livro didático,po~que não está adequado na nossa realidade".

 pergunta - Qual suaopinião a respeito dos livrosdidáticos de Estudos Sociais? ,foram dadas algumas respostascomo:

"Eles tem muitas caisas importantes acredito queeles estão realmente dentrode todos assuntos para a pr~pria s~rie que o seguimos".

"O que n5s orientamosnao são eficiente com o conteúdo que os mesmo apresentamnão está condizente com a nos

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sa realidade principalmente olivro "O Mundo Mágico". ( grifonosso)

"Esses livros sao bemelaborados, as vezes faltamaisconteúdo, inclusive o assuntorelacionado com ciência, esseslivros devem vir mais assuntosde acordo com o programa". (gr.:!:.fo nosso)

"S~o orientaç6es contidas que sirvam de fundarnent~çaopara que o prof9 possa assumi de fato sua função de pr~fissional aos Estudos Sociais" .(grifo nosso)

"Em partes sao bonsmais precisam melhorar porqueos conteúdo que deveriam sermais explorados e os exercícios mais detalhados". grifonosso)

Respostas à pergu~ta - Qual a participaç~o dosalunos nas aulas de Estudos Sociais?

"A medida que a apr~sentaç~o do assunto for ministrado e dependendo da aceitaç~o pode-se observar uma part~cipação não muito ativa porparte destes".

"Há boa participaç~ona parte dos alunos na maneiraativa mostrando interesse".

"Eles estudam só paraconseguir a nota da prova, não

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fazem várias perguntas, o l~vro está muito batidos já temdois anos que e trabalhado".(grifo nosso)

"Os alunos recebembem os assuntos de acordo comos mesmo. Em se tratando deGeografia apesar de contermais assunto. Tem assuntosque se tornam difícil da criança assimilar, pois é um tantocomplexo" .(grifo nosso)

Sobre a pergunta- Quesobre ~istória do Mara

você sugeriria para sedesenvolvidos em textos?,

ternasnh~oremvimos respostas tais como:

".Eusugeria ser feitotodos os temas histórico pOE

que eu na minha opinião acredito que é importante por muita criança até agora não saber o que existe em nosso Maranhão". (grifo nosso)

A última pergunta doquestionário (veja anexo I) erasolicitando ao professor quedesse alguma informação,ou contasse qualquer experiência, arespeito do assunto pesquisado.Respondendo a essa questão, aiguns proflessores escreveram:

"A história do Maranhão e muito conhecida para omunicípio deveria ser comenta.

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da e mais popularizada para omunicípio a fundo". (grifo nossol

"As perguntas foram sugeridas e elaboradas atravésdos assun.tos de Estudo Sociais 1

assim como História do Maranhão é muito prático, pois co~tém ~uitos assuntos importa~tes e abordados para o progr~ma de 4a. série, a serem vaIorizadas pelo professor enos". (grifo nosso)

alu

A partir das respostasdadas, podemos observarque ape~as un certo número deprofessores desenvolveu suasidéias de forma clara e correta.A título de exemplo,abaixo tran~creveremos algumas dessas respo~tas que consideramos bem elaboradas:

"Os livros didáticosdeixam muito a desejar. A maioria desses ~ivros fala poucoou quase nada sobre os fatoshistóricos maranhenses.Na nosS8 série (3a.1, por exemplo,não teno3 nenhum livro, atualmente, que aoo rde o conteÚdo+municipio de são Luís;entretantojá tivemos oportunidade de trabeLha r com o livro Y Juca P~_r-3.

rie, que 'cr<,z subsídios sobz-s

2. nc ssa h.í.acô rí.a , como enriqu·::.cimento cu~tural«. (Resposta!

pergunta - Que acha dos livros didáticos ~e Estudos Sociais,?).

Resposta a pergu~ta - Como os alunos recebem asaulas de Estudos Sociais?

"Sem muito interesse,pois reclamam muito da faltade consulta para suas pesqu!sas, e as aulas dadas nao saoatraentes por falta de materiais a.ra odas mesmas".

enr.!L.que<i:imento

"Os alunos da rede municipal geralmente são filhosde pessoas de baixa renda quevivem em total promiscuidade.Estudam num horário desanimador que começa às 11:30 hs evai até às 15:00 hs (no casodesta escola) I alguns vêm comfome. Por isso tanto faz aprofessora dar a aula de Estudos Sociais como não dar, p~ra eles nao faz a menor diferença" ,

Resposta à pergunta - Oaluno deveria estudar maishistória do Maranhão, nas series posteriores?

"Sim, pois na 4a. serie o aluno não tem suficiente maturidade para analisar ,compara r , concluir fatos histórieos; então, em séries po.::!.teriores, poderia retomar os

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conhecimentos e ter condiç6esde compreender a história doseu Estado. Só se ama e valoriza o que se conhece".

Esses professores quese expressaram bem têm,certame~te, grande facilidade, uma vezrepensada sua concepção de história e sua prática de ensino, detrabalhar a disciplina EstudosSociais de forma bastante rica ,estimulando nos alunos a curiosidade, o questionamento, o co~vívio social, a prática da refl~xão, enfim, auxiliando-os a sesituarem historicamente.

Quanto à caligrafia, oque se pode notar é que a maioria dos professores consultadostem boa letra, escrevendo, pois,de maneira bem legível.

3.3 - Programas e Livros Didáticos

Como já frisamos noitem 2, as éscolas pesquisadas ,com exceçao de duas ou três delas, não elaboram seus programaspara a disciplina Estudos Sociais (3a. e 4a. Séries), orientando-se o professor pelo roteiro sugerido pelo Guia Curricular(Documento Oficial), ou pelo co~teúdo do livro didático adotado,que, na maior parte dos casos,s~gue o esquema fornecido peloGuia Curricular. Dessa forma,mu!

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tos professores acharam que a La ,

pergunta do questionário - Queacha do programa de Estudos 50

ciais? tinha o mesmo signific~do da pergunta seguinte - Qualsua opinião a respeito dos livros didáticos?,deixando, pois,de responderem à la. pergunta,(cerca de 1/3 dos professoresdeixou em branco essa questão),respondendo apenas a perguntaseguinte. Dos restantes dos pr~fessores (aproximadamente 84),a metade demonstrou que aprovao programa utilizado nas escolas, manifestando suas idéiasatravés de palavras como: "bom" ,"mui to bom", "válido" ,'b::mpleto","de grande importância",etc. A

outra metade faz restrições aoprograma, achando alguns que este é resumido,outros, que e incompleto, alguns outros,que efraco e outros ainda consideraram-no desatualizado.

Esses professores, entretanto, não foram muito alémde palavras como: "bom", "muitobom" I "válido", "completo" ,"res~mido", "incompleto", "fraco"etc, para expressarem suas op!ni6es a respeito dos progr~mas, deixando, assim, por cons~guinte, um tanto vagas,suas respostas.

Desse modo, podemosapenas concluir, com base nas

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respostas a essa Ia.pergunta enas que dizem respeito ao livrodidãticoC2a. pergunta), que cerca de um terço dos professoresestã satisfeito com o programaadotado nas escolas, enquanto osrestantes desaprovam-no, achandoque ele deve ser modificado,emb~ra nao adiantem mais esclarecimentos sobre a questão.

Quanto à pergunta- Qualsua opinião a respeito dos livros didãticos?, podemos afirmarque, embora muitos professoresnão tenham se expressado de maneira clara e correta, foi-nospossível verificar que a maiorparte destes faz críticas ao livro didático,embora,muitas vezes, essas criticas sejam feitasdepois de elogios ao livro, comopodemos verificar nas respostasabaixos transcritas:

"Em parte sao bons,masexistem conteúdos que deveriamser mais explorados". ( grifonosso)

"são bons, mas deveriam ser mais enriquecidos naparte de atividades". ( grifonosso)

"Bons,mas falta um po~co mais de atualidade, porexemplo, relatar mais sobre asregiões, principalmente a região de Balsas". (Resposta dada por uma professora, de 3a.

s~rie, de Bals.s, que trabalha, pois, com ~ ~ssunto-mun~cípio de Balsas). (grifo nossol

As objeções que amaioria dos professores faz aoslivros didáticos ~aria muito/i~do desde respostas como '·'f::l.ltamrecursos didãticos~'"at~ "existem conteúdos distorcidos " noslivros d~1áticos. Pode-se observar, ent ~tanto, que,desses pr~fessores, uma boa parte faz critica ao conteúdo dos livros didãticos, embora essa critica seja feita, na maioria dos casos,de forma vaga e superficial. O!zem, por exemplo, alguns profe~sores,que o conteúdo do livro~ "resumido", outros afirmamque o conteúdo ~ "desinteressa~te","desatualizado", outros ainda acrescentam que o conteúdo"não atende às necessidades doaluno". Alguns poucos afirmamque o conteúdo ~ "distorcido ".Muitos professores tamb~m responderam que o conteúdo do livro "não ~ claro e não traz muitas ativid::l.des".

o qC(- se pode constatar com clarez. e as respostasdas outras perguntas do questi~nãrio vêm reforçar mais aindaessas nossas conclusões) e quea maior parte dos professoressente, no dia-a-dia, que o con

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teúdo do livro didático adotadonão motiva o aluno, emhora es.sesprofessores não consigam ver comtransparência as razões desse desinteresse.

As razoes do desinteresse dos alunos pelos livros didáticos, segundo nossa opinião,e que somente alguns professorescomeçam a descobrir, foi um dosassuntos tratados no tópico anterior, referente aos programas elivros didáticos.3.4 - Aulas de Estudos Sociais

e Participação dos AlunosAs perguntas - Como os

alunos recebem as aulas de Estudos Sociais? e - Qual a participaçao dos alunos nessas aulas?foram aquelas que os professoresresponderam de forma mais clara,possibilitando assim uma compr~ensão maior desse aspecto da realidade estudada. Vislumbrou-se,entretanto, por parte de muitosprofessores, um certo receio emafirmar o que de fato acontecena sala de aula, preferindo esses professores só afirmarem quea aula transcorre normalmente,de forma agradável e particip~tiva. Talvez temam alguma repre~sao, da parte de seus superi~res, caso estes venham a saberque os alunos não gostam desuas aulas.

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Feito esse comentário, pode-se adiantar que asrespostas dadas se dividem,igualmente, em dois grupos. Umgrupo, composto, pois, de 50%das respostas, demonstra queos alunos, de um modo geral,go~tam das aulas. O outro grupo p~de ser dividido, ainda, de forma igualitária, em dois subgr~poso Um subgrupo mostra que osalunos em geral não gostam dasaulas, demonstrando descaso edesinteresse pelas mesmas. O outro subgrupo esclarece que aIguns alunos apreciam, outrosnao.

Os professores do 19grupo, ou seja, aqueles que responderam que os alunos se interessam pelas aulasJ dão poucasexplicações para esse fato, enquanto que os outros profess~res que salientam que os alunos, ou muitos alunos, não go~tam das aulas, procuram expl~car com mais detalhes as razões dessa ocorrência. Entre essas razões, as que mais se sobressaem, na opinião desses pr~fessores, são: "porque os assuntos, ou muitos assuntos naoprovocam interesse no aluno" ,"porque história ê matêria queexige muita memorização, havendo, pois, necessidade de decorar"; "devido às aulas serem de

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sinteressantes por falta,ou delivros, ou de outros recursosdidãticos".,etc.

o que se verifica, entretanto, a partir das respostasdadas, é que alguns professoresainda vêem a história como matéria decorativa, como matéria voltada apenas para o passado. 1nfelizmente esses professores ainda não descobriram os horizontesque podem ser descortinados aoaluno, através de aulas de histQria, dinâmicase criativas. Não v~ram esses professores, lamentavelmente, que a motivação, o raciocínio, o senso de responsab~lidade são estimulados a partirde aulas, onde são ministrados,de forma reflexiva e criativacontéudos ligados à realidade doaluno.

3.5 - Temas de História e Métodos de Abordagem

A partir das respostasdadas as perguntas - Que temassobre História do Naranhão vocesugere para serem escritos, quesirvam de subsídio para o profe~sor de 19 grau? e - Como essestemas devem ser abordados?,foi-nospossível verificar, com mais evidência, que os professores consultados, de uma maneira quasegeral, ainda estão presos a umaidéia de História que não os le

va a se aperceberem como age!!tes da história, como pessoasque, a partir da realidade queos cercam, são capazes de prod~zir história. Esses professoresnao conseguiram ainda se libertar dos esquemas e dos conteúdos dos livros didãticos, transmitindo esse conteúdo aos alunos, sem nenhuma critica,tolhe!!do, assim, sua capacidade e ade seus alunos de descobrirem ede aprenderem conhecimentos novos.

Ao responderem a que~tão sobre que temas sugeriam p~ra serem escritos, a maior paEte dos professores opina porrespostas que, ou são evasivasdemais (estamos nos referindoàquelas respostas que nao indicam tema nenhum, mas solicitamtudo sobre história do Estadoe dos municípios), ou sugeremtemas, ligados, em geral, a umaseqüência cronológica, vinculados a fatos políticos ou militares, quase sempre do passado.Nota-se, pois, que a maioria dosprofessores ainda estã presa auma idéia de história ligada àconcepçao de história dos goveEnantes ou História política.

Alguns desses temasestão transcritos abaixo, ap~nas para ilustrar o que estamos

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afirmando. são eles:"Fundação da cidade""Vultos hist6ricos""Revoltas do Passado""Governadores,passadose atuais""Monumentos Hist6ricos""Datas cívicas", etc.Pode-se verificar que

apenas um pequeno grupo de pr~fessores demonstrou interessepor temas, como os abaixo transcritos, que fogem à cronologiatradicional e que exploram assuntos ligados às atividades económicas ou culturais praticadas p~10 povo maranhense,sobretudo nosdias atuais. Esses temas deixamà mostra uma visão de históriamais aberta, onde o povo, o col~tivo humano, tem o seu lugar,pa~ticipa do processo histórico. Vejamos alguns desses temas:

"Folclore, MGsica, Teatro, Artesanato do Estado edos Municípios".

"Discriminação raciale história do índio".

"Limites, localizaçãoe atividades desenvolvidas p~10 povo do Município".

nAs indGstrias multinacionais do Maranhão".

As respostas dadas p~Ia maior parte dos professores àpergunta - Como esses temas deve

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rao ser abordados?, que compl~roenta a pergunta anteri.or arespeito dos temas,contribuírampara nos dar maior esclarecimento sobre a visão de hist6riados professores consultados esobre suas perspectivas, arespeito de um livro sobre Hist6ria do Maranhão que possa vira ser escrito, para lhes servirde subsídio.

Podemos afirmar deinício que um bom nGmero de pr~fessores deixou em branco essaquestão. Dos restantes, apenasuma minoria insignificante opJ:.nou para que os temas sugeridosfossem escritos a partir de umaabordagem mais critica e renovadora da história. Os demais pr~fessores demonstraram maior interesse por ~spectos formais como, por exemplo, clareza e simplicidade de linguagem, ilustr~ç6es, atividades, curiosidades,exercícios variados, etc. Segu~do eles, os temas devem ser escritos de forma c~ara, sendoacompanhados de inGmeras ilustraç6es e atividades como: questionários, palavras cruzadasexercícios de pesquisa, etc,ev!denciando uma preocupaçao maiorcom a forma do que com o conteGdo. Os temas que sugerem,pois, para serem desenvolvidosdevem ser escritos de forma a

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apresentarem uma renovaçao, maisligada a seus aspectos formaisdo que propriamente ao conteúdo,podendo este permanecer segundoa versão tradicional de História, contida nos livros didáticoso Os livros didáticos, paraesses professores, parecem trazer verdades acabadas ,absolutas,que não podem ser questionadas .Dai o interesse que demonstram ,para que o conteúdo dos temasou seja, essas verdades acabadas, apresentem-se sob uma novaroupagem mais ilustrada e atrae~te, a fim de melhor captar aatenção dos alunos.

Dentro dessa concepçaode história, que é a da maiorparte dos professores entrevistados, o ensino de história seconstitui muito mais num momentode memorização do que num exercicio de reflexão. Necessário sefaz, portanto, que questões comoessas sejam refletidas pelos prQ'fessores, a fim de que possamjuntamente com os alunos, selecionarem melhor o conteúdo histórico a ser utilizado em salade aula e possam também trabalha r esse conteúdo de forma maisdinâmica e criativa.

3.6 - História do MaranhãoQuestão

em

A última pergunta do

questionário leV\lI'l.tauma que:3.tão sobre o ensin~ de Históriado Maranhão nas séxi~s maisadiantadas do 19 grau. A pergu~ta é, mais precisamente, a seguinte - Vocé acha que o alunodeveria estudar mais Históriado Maranhão nas séries p~steri~res?

Todos os professores,com éxr~ção apenas de 6 deles,conco rde,n que o a I uno deve estudar mais História do Maranh~Qnas séries posteriores. Muitosdesses professores justificaramsua resposta, afirmando que oaluno deve receber mais informaçoes sobre seu Estado nas series seguintes, uma vez que oensino ministrado em apenas umaou duas séries (3a. e 4a.) naoé suficiente para possibilitarao estudante um conhecimentomais amplo da realidade de seuEstado. Vejamos algumas dessasrespostas:

"Sim. porque a História do Maranhão só é estudadana 3a. e 4a. série do 199rau.Os alunos da 5a.,6a,.,7a., 8a.(19 grau) também deveriam saber um pouco do Maranhão,poisencontramos alunos das sériesadiantadas que nao sabem nemos limites do seu Estado".

"Sim, pois numa só série, não sabemos a nossa his

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tória" •"Lógico, pois pouco se

sabe sobre a História do Maranhão e sabemos que é de sumaimportância saber a Históriade sua própria Terra".

"Devem continuar comhistória do Maranhão, porque éimportante conhecer o nosso Estado" .

"Perfeitamente pois énotório a desinformação do nosso aluno sobre a história doseu Estado".

No ~inal do questionªrio, apos a última pergunta, de~xamos espaço, onde solicitamosaos professores que o preenchessem com alguma informação ( naosolicitada nas questões anteriores) ou com qualquer experiênciaque fossem pertinentes com o assunto pesquisado.

Infelizmente, na maioria dos questionários respond~dos, esse espaço permaneceu vazio, sendo preenchido apenas porum pequeno grupo de professores.

Desse grupo apenas aito professores aproveitaram oespaço para narrar alguma exp~riência vivenciada no campo dahistória. Um deles (que trabalhanuma escola da cidade de Balsas)narrou um trabalho realizado, em1983, na escola em que leciona

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va, onde um grupo de professores, do qual fazia parte, ernp~nhou-se na reformulação dos pr~gramas de História, da 5a. aSa.série. Diz esse professor que"foi um trabalho longo e cansativo, mas que dinamizou e conseguiu motivar um pouco mais oensino de História".

Dois professores quetrabalham na única escola da rede federal pesquisada descrevem, de forma bastante resumida, a metodologia que seguem noensino de História. Devido àmaneira sintética como narraramessa experiência, ela não nosficou muito clara. O essencial,contudo, desse trabalho, pareceser o fato de que são os alunos, ajudados pelo professor,que, de um certo modo,solicitamo que desejam estudar sobre História do Maranhão.

Os outros 5res restantes(todos

profess~trabalham

numa mesma escola da rede part~cular) narram que realizam, comseus alunos, pesquisas de campo para estudarem alguns fatoshistóricos no próprio local onde ocorreu o evento. Fazem também "dramatizações de fatos, envolvendo personagens, épocaslugares".

Os outros professores

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desse pequeno grupo apenas focalizam algumas questões que julg~mos pertinentes e que devem seraqui registradas. Alguns deleslevantam a questão da falta decursos de História, tão necessarios para o enriquecimento dosprofessores que desejam adquirirmais conhecimentos. Vejamos oque diz sobre esse assunto umdesses professores.

"Faltam cursos sobreHistória para a preparaçao doprofessor na Sala de Aula".

Outros ainda alegamque as escolas carecem de recursos didáticos e os alunos naopossuem livros. Um deles refere-se sobre essa questão da seguinte forma:

"Preciso que o orgaocompetente se preocupe com adistribuição completa dos livros didáticos nas redes estaduais e municipais de ensinode 19 grau. A maioria das Escolas Municipais de ensino de19 grau receberam os livros incompletos, faltando para toda3a. série o livro de Integr~çao Social."

Outros ainda manifestam o desejo de aprender e dever a história, cada vez mais,ensinada nas escolas. Assim seexpressam dois deles:

"Experiências eu naoas tenho, mas t~nho uma graE.de curiosidade de ver a nossahistória em ação".

"Estamos sem exp~riªncia ~ sem conhecimento noassunto. Esperamos adquiri-Iaatravés de vocªs".

Como se pode observar, as últimas respostas dadaspelos F~ofessores consultadosreforçam ainda mais o que vimosconcluindo a respeito do ensino de História do Maranhão. Naverdade, há uma grande necessidade de dinamização desse ensino. Os professores, muito delesdespreparados, carecem, dentreoutros elementos, como eles mesmos focalizaram, de cursos, derecursos didáticos, de livrosadequados, de serem dignamenteremunerados, etc, para poderemministrar suas aulas de formaeficiente e enriquecedora.

Estamos, pois, cadavez mais certos da necessidadedo debate em torno do ensino deHistória do Maranhão nas 3a. e4a. séries, visando à renovaçao e à melhoria desse ensino.

4 - CONCLUSÕESQueremos aproveitar

esse espaço para ressaltar alg~mas questões que vimos levantando ao longo dos itens 2 e 3.

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Uma delas diz respeitoaos programas adotados nas escolas de 19 grau (3a. e 4a. series) e aos livros didãticos utilizados pelos professores. A nosso ver, há uma necessidade pr~mente de se reformular esses pr~gramas. Essa reformulação, entr~tanto, não deve ser um trabalhorealizado apenas por um grupo detécnicos das Secretarias de Educação com a participação mínimados professores, elementos maisenvolvidos na questão. Esse repensar dos programas deve serapoiado pelas Secretarias, mastem que ser, antes de tudo, umatarefa que os professores devemassumir amplamente, de forma reflexiva e sistemãtica, se queremrealmente melhorar o ensino deEstudos Sociais no 19 grau ( 3a.e 4a. séries). O trabalho de elaboração dos programas, por partedas escolas, elevará, sem dGvida, o nível das aulas, pois osprofessores muito se enriquec~rao com essa experiência.

Quanto aos livros didáticos, destacamos aqui oenfatizamos anteriormente.

que JaDe

acordo com nossa concepção, o livro didático é apenas um, dentreos inGmeros instrumentos de consulta que devem ser utilizadospelo professor e pelos alunos,demaneira critica e criativa. Somos

de opinião também que, ao longodas aulas, os alunos devem escrever pequenos textos, a paE.tir do exame dos lementos levantados, com o auxilio dos profe~sores, sobre a realjdade em estudo. Esse exercício de reflexao e de criação de conhecimento produzirá, com certeza, ummaior questionamento e melhorutilização do livro didáticopor parte dos alunos e dos pr~fessores.

Quanto ao conteúdo aser ministrado em sala de aula,achamos que o professor, juntamente com os alunos devem,a pa~tir de suas experiências dentroda realidade em que Vlvem, sel~cionar os assuntos que julgampertinentes e que têm interesseem conhecer. O estudo desse conteGdo deve ser feito a partirde um levantamento e de um exame crítico das vá~ias fontes deconsulta disponíveis e que p~dem ser, comojá salientamos noinício desse trabalho,além doslivros didáticos, informaçõesda família, tradição oral, j0E.nais, revistas, livros de literatura, filmes, documentos históricos, etc.

Gostaríamos de ressaltar ainda que um trabalho deelevação do nível de ensino deHistória do Maranhão nas 3a. e

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4a. séries (19 grau) é uma tarefa árdua, lenta, que exige o esforço e a participação, sooretudo,dos professores e dos alunos,elementos mais envolvidos nesseprocesso. Métodos prontos, cap~zes de realizar tal façanha, nãoexistem, uma vez que o caminhopara se atingir tais objetivostem que ser descoberto, criado,sobretudo,por professores e alunos a partir da realidade que osrodeia e de suas experiênciasAcreditamos, porem, que a discussão ampla sobre esse ensino ,sustentada especialmente pelosprofessores,constitui-se em umd~5 importantes passos que contribuem para a descoberta e utilização de meios que levem a umamaior dinamização o ensino deHistória do Maranhão nas 3a. e4a. s~ries do 19 grdu.

SUMMARYThe Teaching of Maranhão Historyin the 1st grade (3rdand 4th years)

This research isstudy done in forty(40) schoolsof 1st grade in the oficial andprivate nets of Maranhão stateabout the teaching of MaranhãoHistory. Regarding to thatteaching a reflexion was daneabout the contents adopted inthose schools,text-books used bythe teachers, as wellas the

participation a{the studentsand the historkal vision ShOVi~'1oy the interviewen~eachers. Th8critical examination of thesequestions aims at a discussionabout the teaching of MaranhãoHistory in the 1st grade schools(3rd and 4td levels) .

5 - REFE~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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v.6, n. 11, p. 117-118, set.1985/fev. 1986.

ENDEREÇO DO AUTOR

MARIA DO S:XXlROO COEUD CABRAL

Departarrento de História e Geociências.

Centro de Estudos Básicos/UFMACampus UniversitáricrBacanga

Tel.: (098) 221-5433SÃO urts - MA..

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ANEXO I

QUE S T I O N ~ R I O

1. Nome do Professor:2. Nome da Escola: 3. Série •..

4. Pertence à Rede O Particular O MUnicipaloEstadualO Federal5. Que acha do Programa de Estudos Sociais?

6. Qual sua opinião sobre os livros didáticos de Estudos Sociais?

7. Como os alunos recebem as aulas de Estudos Sociais?

8. Qual a participação dos alunos nessas aulas?

9. Que temas sobre História do Maranhão voce sugere para serem escritos que sirvam de subsidio para o Professor de 19 grau?

10. Como esses temas devem ser abordados?

11. Você acha que o aluno deveria estudar mais História do Maranhãonas séries posteriores?

12. Este espaço é para você usar, dando alguma informação, ou contando alguma experiência que se relacione com o assunto investigado.

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