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UNIVERSIDADE DE ÉVORA Departamento de Pedagogia e Educação Mestrado em Ciências da Educação - Supervisão Pedagógica Dissertação de Mestrado O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico: metodologias de ensino e aprendizagem. A importância do jogo na construção do conhecimento. Mestranda: Ana Isabel Carrilho Ferreira Silva Orientadora: Professora Doutora Ana Alexandra Silva Co-Orientador: Professor Doutor António Neto Évora, 2011

O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico

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UNIVERSIDADE DE ÉVORA

Departamento de Pedagogia e Educação

Mestrado em Ciências da Educação - Supervisão Pedagógica

Dissertação de Mestrado

O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico:

metodologias de ensino e aprendizagem.

A importância do jogo na construção do conhecimento.

Mestranda: Ana Isabel Carrilho Ferreira Silva

Orientadora: Professora Doutora Ana Alexandra Silva

Co-Orientador: Professor Doutor António Neto

Évora, 2011

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

Departamento de Pedagogia e Educação

Mestrado em Ciências da Educação - Supervisão Pedagógica

Dissertação de Mestrado para a obtenção do grau de Mestre

em Ciências da Educação - Supervisão Pedagógica

O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico:

metodologias de ensino e aprendizagem.

A importância do jogo na construção do

conhecimento.

Mestranda: Ana Isabel Carrilho Ferreira Silva

Orientadora: Professora Doutora Ana Alexandra Silva

Co-Orientador: Professor Doutor António Neto

Évora, 2011

i

AGRADECIMENTOS

Porque “o saber não ocupa lugar” e porque um bom professor é

aquele que continuamente busca o conhecimento e tenta aperfeiçoar as suas

práticas, é com orgulho que vejo chegar ao fim mais uma etapa da minha

vida profissional, que há muito desejava alcançar. Ao longo desta etapa,

como em tudo na vida, encontrei pelo caminho vários obstáculos e desafios,

que pouco a pouco fui superando. Cada desafio trouxe-me novas ideias,

novas perspectivas, que no seu conjunto culminaram no trabalho que aqui

apresento.

Cabe-me agora agradecer a todos os que tornaram possível esta

investigação e que, directa ou indirectamente, conduziram ao sucesso do

meu trabalho.

Agradeço ao meu marido, pois sem a sua compreensão pelas horas

dedicadas à investigação, à análise e à escrita teria sido bem mais difícil.

Agradeço-lhe ainda todas as conversas que tivemos em torno do tema, as

ideias que comigo partilhou, enfim, a preciosa ajuda que me deu.

À minha mãe e à minha avó, pois sem o seu apoio e contributo não

teria sido possível. Foi a minha mãe que me incentivou a arriscar e a dedicar

parte do meu tempo a esta investigação.

À minha orientadora, Professora Doutora Ana Alexandra Silva, pela

amizade, por me ter guiado na direcção certa e pela disponibilidade

demonstrada. O que ao início parecia impossível, o que parecia nunca mais

ter fim, acabou por ser uma etapa extremamente importante da minha vida.

Ao meu co-orientador, Professor Doutor António Neto, por ter

partilhado comigo uma parte da sua sabedoria e com isso ter contribuído

para o aumentar da minha.

Aos colegas que aceitaram preencher o inquérito por questionário e

que assim tornaram possível a análise de dados.

A todos o meu obrigado.

ii

RESUMO

O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico:

metodologias de ensino e aprendizagem.

A importância do jogo na construção do conhecimento.

Com o presente estudo pretendeu-se analisar a implementação do

ensino do Inglês como LE nas escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico em

Portugal e reflectir sobre a adequação das metodologias utilizadas no ensino

do Inglês neste nível de ensino, mais especificamente o estudo de uma

metodologia - o jogo.

A investigação relatada nesta dissertação centrou-se na análise das

metodologias de ensino e aprendizagem utilizadas no ensino da língua

inglesa no 1º Ciclo do Ensino Básico, especificamente do jogo, na adequação

desta metodologia de ensino e aprendizagem à faixa etária em questão, na

análise das metodologias mais utilizadas pelos professores a leccionar Inglês

no 1º Ciclo do Ensino Básico no ano lectivo 2009/2010 em Évora e das

metodologias que estes consideram mais eficazes na aprendizagem dos

alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Língua Estrangeira; Inglês; 1º CEB; Metodologias; Jogo.

iii

ABSTRACT

Teaching English in Primary School – teaching techniques.

The importance of the game as a technique in building one´s

knowledge.

Our objective with this study was to investigate how the English

language, as a foreign language, was implemented in Portuguese primary

schools and to reflect upon whether the techniques used to teach English at

this level are the most adequate. We specifically targeted the game as a

methodology for teaching English.

This investigation was based on the analysis of the techniques used to

teach English in the Primary schools, specifically the game, on how adequate

the techniques used to teach English in the Primary schools are at this level,

on the analysis of the techniques more frequently used by the teachers

working in Primary schools in Évora in 2009/2010 and those they consider

to be more efficient, and the analysis of the game in the classroom.

KEY-WORDS: Foreign Language; English; Primary Schools; Techniques;

Game.

iv

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... i

RESUMO........................................................................................................................................... ii

ABSTRACT ....................................................................................................................................iii

ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................ iv

ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................... vii

ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................................... vii

ÍNDICE DE GRÁFICOS ............................................................................................................ vii

ABREVIATURAS ....................................................................................................................... viii

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1. CONTEXTUALIZAÇÃO E PERTINÊNCIA DO ESTUDO ....................................... 2

2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................................... 5

3. PLANO GERAL DA INVESTIGAÇÃO ............................................................................. 7

CAPÍTULO II - PRESSUPOSTOS TEÓRICOS GERAIS ............................................... 8

1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2 - LÍNGUA MATERNA E LÍNGUA ESTRANGEIRA ................................................... 9

3- AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS ................................................. 11

4 - PRINCIPAIS TEORIAS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 14

5 – REVISÃO DAS PRINCIPAIS PERSPECTIVAS DO ENSINO DAS LÍNGUAS

ESTRANGEIRAS .................................................................................................................... 19

6 - O ENSINO PRECOCE DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS EM PORTUGAL .... 27

7 - ORIENTAÇÕES PROGRAMÁTICAS PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM

DO INGLÊS NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO ........................................................ 32

8 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA NA SOCIEDADE

PORTUGUESA ......................................................................................................................... 35

v

CAPÍTULO III - O JOGO - A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO .................................................................................................................... 42

1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 43

2 - O INGLÊS NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO –PERTINÊNCIA DAS

METODOLOGIAS A ADOPTAR ....................................................................................... 44

3 - O JOGO NO CURRÍCULO -APRENDIZAGENS, OBJECTIVOS E

RESULTADOS ......................................................................................................................... 46

4 - O PAPEL DO JOGO NA APRENDIZAGEM DE UMA L.E. .................................. 52

5 - O JOGO E OS DIFERENTES TIPOS DE APRENDIZAGEM ............................... 53

6 - RAZÕES PARA SE ENSINAR ATRAVÉS DO JOGO ............................................. 57

7 - JOGAR UM JOGO NA SALA DE AULA - CHECKLIST – ANTES E DEPOIS DO

JOGO ............................................................................................................................................ 63

8 - O PAPEL DO PROFESSOR .......................................................................................... 69

9 - A COMPETIÇÃO ENTRE JOGADORES ................................................................... 73

CAPÍTULO IV - ESTUDO EMPÍRICO ............................................................................. 76

1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 77

2 – OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO E DESENHO METODOLÓGICO ........... 77

3 – INSTRUMENTOS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE DADOS .................. 78

4 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ......................................................................... 82

5 – ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS ................................... 86

6 – TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................................ 88

7 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS ................................................................................ 89

8 – SÍNTESE ............................................................................................................................. 94

CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 99

1. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS PARA INVESTIGAÇÕES

FUTURAS ............................................................................................................................... 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 105

DOCUMENTOS LEGAIS ...................................................................................................... 109

vi

ANEXOS .................................................................................................................................... 110

ANEXO 1 - Inquérito por questionário aplicado aos professores de Inglês

no 1º Ciclo do Ensino Básico, em Évora . ................................................................ 111

ANEXO 2 – Acessórios dos jogos ............................................................................. 113

ANEXO 3 – Os Vários Tipos de Jogo ....................................................................... 114

ANEXO 4 – Exemplos de Jogos .................................................................................... 123

vii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura nº 1 – O papel do professor num jogo em sala-de-aula ....................... 72

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela nº1 - Características que um jogo em sala-de-aula deve englobar . 60

Tabela nº 2 - Grelha de avaliação de um jogo em sala-de-aula ....................... 62

Tabela nº 3 - Caracterização dos Professores de Inglês como Actividade de

Enriquecimento Curricular em Évora, no ano lectivo de 2009/2010, em

Évora .......................................................................................................................................... 82

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico nº 1 – Distribuição da amostra por género .............................................. 83

Gráfico nº 2 – Distribuição da amostra por grupo etário ................................... 83

Gráfico nº 3 – Distribuição da amostra pela formação académica ............... 84

Gráfico nº 4 – Experiência como docentes de Inglês no 1º Ciclo .................... 85

Gráfico nº 5 – Metodologias mais utilizadas nas aulas de Inglês no 1º Ciclo,

em Évora ................................................................................................................................... 89

Gráfico nº 6 – Metodologias mais eficazes na aprendizagem dos alunos .. 90

Gráfico nº 7 – Frequência da utilização de jogos nas aulas .............................. 91

Gráfico nº 8 – Tipos de jogos usados com mais frequência nas aulas de

Inglês .......................................................................................................................................... 92

Gráfico nº 9 – Tipos de jogos usados com menos frequência nas aulas de

Inglês .......................................................................................................................................... 93

viii

ABREVIATURAS

Abreviatura Significado

AEC Actividade de Enriquecimento Curricular

APPI Associação Portuguesa de Professores de Inglês

CEB Ciclo do Ensino Básico

CLT Communicative Language Teaching ou Abordagem

Comunicativa

DGIDC Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento

Curricular

LAD Language Aquisition Device ou Mecanismo de

Aquisição de Linguagem

LE Língua Estrangeira

LI Língua Inglesa

LM Língua Materna

MAO Método Áudio-Oral

MAV Método Audiovisual

PGEI Programa de Generalização do Ensino do Inglês

QECR Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas

TPR Total Physical Response ou Método de Resposta Física

Total

ZDP Zona de Desenvolvimento Próximo

1

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

2

1. CONTEXTUALIZAÇÃO E PERTINÊNCIA DO ESTUDO

Neste trabalho propomo-nos tratar um tema que consideramos

bastante actual e que recentemente tem sido alvo de debate, estando cada

vez mais presente na sociedade portuguesa a implementação do ensino do

Inglês como Língua Estrangeira, a partir de agora designada por LE, nas

escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico. Para além de analisarmos a pertinência

desta medida, propomo-nos também reflectir sobre a correcta adequação

das metodologias utilizadas no ensino do Inglês neste nível de escolaridade,

com maior enfoque no jogo.

Comecemos então por contextualizar a medida de implementação do

ensino do Inglês como LE no 1º Ciclo do Ensino Básico, a partir de agora

designado por CEB. O Programa de Generalização do Ensino do Inglês e de

outras Actividades de Enriquecimento Curricular reconhecido sob a

designação de AEC –, foi criado por Despacho da Ministra da Educação

n.º 12591, de 16 de Junho de 2006, e surgiu na sequência da experiência

obtida no ano lectivo de 2005/2006 com o Programa de Generalização do

Ensino do Inglês nos 3.º e 4.º anos de escolaridade. Este Programa insere-se

na prioridade dada pelo Governo à implementação de uma LE desde o 1º

CEB, proporcionando, desde cedo, aos alunos a oportunidade de

aprenderem outras línguas. Antes da aplicação desta medida, a

aprendizagem de uma LE em Portugal começava no 2º CEB e assentava no

Método Tradicional ou de Tradução Gramatical, baseando-se, sobretudo, na

repetição de exercícios gramaticais, drills e de algumas traduções simples.

Actualmente, privilegia-se a abordagem comunicativa, baseada em duas

competências: listening e speaking. Strecht-Ribeiro (2005) confirma a

importância desta nova abordagem, que proporciona aos alunos um

contacto mais directo com a língua, com o objectivo de ser capaz de

comunicar nessa LE. De facto, a criação do Programa de Generalização do

Ensino de Inglês, a partir de agora designado por PGEI, constituiu um ponto

de viragem do sistema educativo português, na medida em que permitiu aos

3

alunos do 1º CEB ter um contacto mais precoce com a LE do que aquele que

teriam até ao momento. Zenhas (2005), no site educare.pt, afirma que, ainda

que seja uma medida positiva, o PGEI apresenta algumas falhas de suporte,

ao nível da sua organização curricular, sendo que uma delas é precisamente

o facto de situar o Inglês numa posição de “enriquecimento” (periférica) em

relação ao currículo nuclear.

Nesta antecipação da aprendizagem da língua inglesa, a partir de

agora designada por LI, são de extrema importância o estímulo e o

desenvolvimento de competências facilitadoras de uma posterior

aprendizagem formal da LE em questão. Neste âmbito, e de modo a evitar

sobreposição de temáticas, deve-se apostar clara e inequivocamente na

veiculação da ideia-base das Orientações Programáticas para o Ensino e

Aprendizagem do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico: a relevância da língua

inglesa enquanto língua de comunicação internacional. Assim, e de acordo

com as Orientações Programáticas, as actividades e temáticas propostas no

1º CEB têm como objectivo o aperfeiçoamento gradual das competências

necessárias para as aprendizagens que se pretende que os alunos adquiram

no 2º Ciclo. O Inglês no 1º Ciclo pode ser encarado como uma preparação,

como a transmissão das bases, que serão depois aprofundadas no 2º Ciclo. É

neste domínio que incidem os diversos usos de língua propostos nas

Orientações Programáticas, como por exemplo a audição e reprodução de

rimas, a participação em diálogos simples, a compreensão de instruções

simples ou a compreensão dos acontecimentos de uma história em registo

áudio ou audiovisual. No contexto da iniciação a uma LE no 1º CEB, o tipo de

estratégias a implementar deve ter uma maior incidência nas actividades

lúdicas, enquanto motor de aprendizagem da LI, partindo do pressuposto

que estas desempenham um papel fundamental na socialização da criança e

no aperfeiçoamento da sua relação com os outros. Numa fase em que as

crianças estão a ser iniciadas na aprendizagem da leitura e da escrita na

Língua Materna, a partir de agora designada por LM, o predomínio da

4

comunicação oral é considerado fundamental, implicando o recurso a

actividades de expressão plástica, canções, expressão dramática, histórias e

jogos. De acordo com as orientações do PGEI, as actividades não devem ser

condicionadas por um programa centrado em conteúdos obrigatórios, de

modo a possibilitar a articulação interdisciplinar e a integração dos

interesses dos alunos de cada turma. Assim, não é apresentada uma listagem

de temas e conteúdos obrigatórios, sendo sim sugeridos temas do dia-a-dia,

em articulação com os conteúdos curriculares do 1.º Ciclo. No entanto,

embora com menor incidência, surge também o uso da língua em

interacções escritas, nomeadamente na compreensão/resposta a mensagens

escritas.

A importância desta medida reflectiu-se no alargamento do ensino do

Inglês ao 1º e 2º anos, no ano lectivo de 2008/2009. Com este alargamento,

as escolas passaram a poder oferecer aos alunos dos quatro anos do 1º Ciclo

a oportunidade de aprender o Inglês, língua privilegiada de comunicação em

todo o mundo, “precocemente”, ou seja, antes da idade preconizada pelo

governo. Tal como afirma Zenhas (2005), é importante relembrar que as

nossas crianças estão diariamente expostas à língua inglesa, embora na

maior parte das vezes o façam sem se aperceberem, de uma forma

involuntária. Os jogos de computador, as canções, os filmes, os desenhos

animados e a Internet, são fontes através das quais as crianças recebem o

Inglês, funcionando como uma escola paralela, que não deve ser desprezada,

nem ignorada pela escola oficial. Tendo as crianças um contacto tão directo

com o Inglês, para Zenhas (2005) o início da aprendizagem desta língua no

1º Ciclo é uma medida positiva, cuja necessidade se fazia já sentir.

A importância que o Inglês tem vindo a adquirir na sociedade actual é

tal que algumas Universidades criaram já cursos de Especialização em

Ensino do Inglês na Educação Pré-Escolar e no 1º CEB. Estes cursos surgem

como resposta às necessidades de formação científica, didáctica e

pedagógica, sentidas pelos docentes, na sequência da aplicação do PGEI, e

5

constituem uma tentativa de sensibilizar os formandos para uma abordagem

didáctica centrada nas capacidades do listening e do speaking. Devemos

também ter em consideração o facto de a grande maioria dos professores

que lecciona Inglês no 1º CEB ter como formação pedagógica inicial a

docência no 3º Ciclo e Ensino Secundário, pelo que a necessidade de se

adaptar a este novo nível de ensino é premente. A Direcção Geral de

Inovação e de Desenvolvimento Curricular, a partir de agora designada por

DGIDC, e a Associação Portuguesa de Professores de Inglês, a partir de agora

designada por APPI, tentando dar resposta a estas necessidades, têm vindo a

promover acções de formação para os professores de Inglês a leccionar no

1º CEB, cujo objectivo é apresentar aos professores novas metodologias,

materiais e práticas passíveis de ser implementadas nas suas aulas,

partilhando ideias e experiências e contribuindo para que esta seja uma

medida bem sucedida.

2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Em Portugal, o ensino de uma LE a crianças do 1º CEB está consagrado

na legislação desde 1986 Lei de Bases de 1986, sendo apresentado como

«opcional, lúdico e com primazia dada à oralidade e sendo livre a escolha da

língua a aprender». Mais recentemente, o Currículo Nacional - Competências

Essenciais consagra um capítulo ao ensino de uma LE no 1º CEB, onde são

definidos “Alguns Princípios Orientadores”. Neste documento são

estabelecidas diversas competências específicas para as LEs, sendo

apontadas como mais adequadas ao 1º CEB as que se prendem com o

desenvolvimento de uma relação afectiva com a língua aprendida nesse

nível. Com base nestas directrizes, cabe às entidades promotoras a gestão de

todo o processo, desde a escolha da língua, ao recrutamento do professor, à

concepção ou utilização de materiais, que são ainda escassos no mercado

português, e ainda à organização dos espaços e tempos. Em Portugal, na

grande maioria dos casos, cabe às Câmaras Municipais a organização de todo

6

este processo. Contudo, cada Câmara Municipal adopta diferentes critérios

no que diz respeito ao recrutamento dos professores e à forma como as

aulas de Inglês decorrem, razão pela qual esta organização assume um

carácter tão heterogéneo a nível nacional.

Estando prevista uma sensibilização, mais do que uma aprendizagem,

importa colocar particular ênfase na oralidade e na actividade lúdica,

privilegiando a interacção oral e esperando-se que os alunos desenvolvam

competências de comunicação. Nesse sentido, a presente dissertação de

Mestrado visa investigar as metodologias de ensino e aprendizagem

utilizadas no ensino da LI no 1º CEB, especificamente do jogo; analisar da

adequação desta metodologia à faixa etária em questão; investigar as

metodologias mais utilizadas pelos professores a leccionar Inglês no 1º CEB

no ano lectivo 2009/2010, através de inquérito, e analisar as que estes

consideram mais eficazes na aprendizagem dos alunos, com maior enfoque

na metodologia do jogo. A principal questão de investigação será investigar

se existe de facto uma relação entre o jogo e uma aprendizagem de sucesso

de uma LE por parte dos alunos do 1º CEB.

O estudo em causa foi efectuado com o objectivo de aferir a existência,

ou inexistência, de uma relação entre o carácter lúdico das metodologias a

adoptar, mais especificamente do jogo, e a forma como os alunos aprendem

o Inglês, tendo sempre em consideração a idade precoce em que estes são

confrontados com a LE e o facto de este contacto ocorrer apenas durante

duas a três horas por semana.

A questão do ensino e aprendizagem do Inglês no 1º CEB envolve

aspectos psicológicos, sociológicos, didácticos e pedagógicos, na medida em

que estamos a lidar com crianças que estão ainda na fase de formação da sua

identidade. É justamente por se tratar de uma faixa etária com

características tão específicas que é necessário ter o máximo cuidado com a

forma como esta nova língua é introduzida. Todos estes aspectos estão

interligados e foram tidos em conta nesta investigação.

7

3. PLANO GERAL DA INVESTIGAÇÃO

Tendo em conta o objecto de estudo da presente dissertação, as

questões de investigação traçadas e os objectivos que se pretende atingir,

delineou-se a sua organização, ao nível da apresentação escrita, em cinco

capítulos, excluindo a bibliografia e anexos.

No Capítulo I Introdução – procedemos à contextualização do

estudo, sua pertinência e definição do problema em análise. Analisámos a

legislação em vigor e os princípios que regem as Orientações Programáticas

para o Ensino e Aprendizagem do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico,

referindo ainda o papel da APPI e da DGIDC na aplicação desta medida.

No Capítulo II apresentamos a fundamentação teórica do estudo, em

conformidade com o objecto de estudo da presente dissertação, os

objectivos e as questões de investigação traçadas, através de uma revisão da

literatura e da contextualização da problemática na sociedade portuguesa.

No Capítulo III analisamos as estratégias de ensino utilizadas e a sua

adequação às necessidades específicas desta faixa etária, centrando-nos

depois na metodologia do jogo.

No Capítulo IV, de carácter mais prático, apresentamos a análise,

interpretação e discussão dos resultados obtidos através da aplicação dos

inquéritos por questionário aos professores de Inglês a leccionar no 1º CEB,

em Évora, no ano lectivo de 2009/2010. Neste capítulo, centramos o estudo

na recolha de diferentes metodologias utilizadas no ensino do Inglês no 1º

CEB, na sua pertinência e adequação à faixa etária dos alunos.

No Capítulo V apresentamos as conclusões finais. Face aos resultados

obtidos e às questões de estudo inicialmente delineadas, infirmámos ou

confirmámos as questões de estudo levantadas.

Para completar o nosso trabalho, propusemo-nos analisar vários tipos

de jogos passíveis de serem utilizados em sala-de-aula, analisando quais os

que proporcionam melhores momentos de aprendizagem e quais os que vão

de encontro ao gosto dos alunos, sendo mais desafiantes e motivantes.

8

CAPÍTULO II

PRESSUPOSTOS

TEÓRICOS GERAIS

9

1 – INTRODUÇÃO

Apresentado o tema, justificada a sua pertinência e considerando o

objecto de estudo desta investigação – o ensino de uma LE no 1º Ciclo do

Ensino Básico e a adequação das metodologias utilizadas –, considerámos

importante iniciar a nossa investigação com uma breve contextualização

teórica. Assim, neste segundo capítulo, fazemos uma síntese da revisão de

literatura que fundamenta o trabalho desenvolvido, abordamos a questão da

Língua Materna (LM) e Língua Estrangeira (LE), os processos de aquisição e

de aprendizagem e procedemos à revisão das principais perspectivas do

ensino das línguas estrangeiras. Fazemos ainda uma síntese da evolução

metodológica no ensino das línguas, analisando as perspectivas actuais e a

influência que as teorias de aprendizagem tiveram na selecção das práticas

do professor actual. Por fim, contextualizamos a problemática na sociedade

portuguesa, analisando e debatendo a questão do ensino do Inglês no 1º

Ciclo do Ensino Básico.

2 - LÍNGUA MATERNA E LÍNGUA ESTRANGEIRA

O Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências Essenciais

(2001: 31) abre com uma referência à importância da Língua Materna como

factor de identidade nacional: «O Português é a língua oficial, a língua de

escolarização, a língua materna da esmagadora maioria da população

escolar.» A LM é a língua utilizada pela comunidade que rodeia a criança,

aquela que a criança estrutura e desenvolve ao longo dos primeiros anos de

vida, de modo espontâneo, adquirindo naturalmente o vocabulário e as

estruturas gramaticais. A LM é a língua de comunicação com a família,

resultando de um processo natural que faz com que o indivíduo partilhe de

um sentimento de pertença a uma determinada comunidade.

Por oposição, todas as outras línguas, apreendidas em contexto

escolar ou adquiridas por imersão numa outra comunidade, deverão ser

consideradas línguas não maternas. Assim, a LE é a língua não materna, a

10

que não é partilhada pela comunidade em que o indivíduo se insere, sendo

aprendida normalmente em contexto escolar. De acordo com José (1987:

79), «uma língua é acima e antes de tudo comunicação oral. Por isso chama-

se “língua” – a mesma palavra designativa do órgão da fala». O mesmo autor

acrescenta ainda que a «língua estrangeira é aquela que se estuda para

enriquecimento cultural» José (1987: 24).

Gonçalves (2003) afirma que o facto de o contacto com a LE na sala de

aula ocorrer apenas durante alguns minutos, por oposição às restantes

horas do dia, em que o falante utiliza a sua LM, e de o ambiente de

aprendizagem ser mais rígido do que aquele em que a criança adquire e

pratica a sua LM condiciona a aquisição, que desta forma não será

totalmente espontânea e global. A realidade de um falante nativo é distante

da realidade de uma sala de aula, onde o contexto é irreal, organizado para

esse fim e onde os aprendentes estão limitados por uma série de factores –

escasso número de horas de contacto com a LE, utilização de um nível de

língua com adaptações à sala-de-aula, correcção frequente dos erros e uma

prática isolada da língua. Para além disso, Gonçalves (2003) refere que este

processo de aprendizagem, em ambiente escolar, ocorre quando a criança já

adquiriu competências linguísticas na sua LM, pelo que as novas

aprendizagens devem ocorrer em articulação com essas competências. É

importante ter em conta o facto de o aprendente de uma LE ser sempre

detentor das regras de funcionamento de outra língua – a sua LM,

conhecimento este que pode influenciar, de forma positiva ou negativa, a

aquisição da LE. Inevitavelmente, o falante irá aprender a LE recorrendo a

uma tradução directa da sua LM, numa tentativa de estabelecer relações

entre ambas. Contudo, estas ligações nem sempre são directas e fidedignas.

Assim, no que concerne a aprendizagem de uma LE, cabe ao professor

de línguas a importante tarefa de promover a interligação que existe entre

os conceitos de cultura e língua, transmitindo a ideia de que as competências

culturais são tão importantes quanto as linguísticas. A Comissão Europeia do

11

Multilinguismo (documento 38) adverte os professores de língua para a sua

tarefa como embaixadores interculturais entre os alunos, a par da sua tarefa

de professores de língua:

«Os professores de línguas têm um papel fundamental na construção de

uma Europa multilingue. (…) Os professores de língua têm a

responsabilidade de ampliar os conhecimentos e as competências

interculturais dos seus alunos, assim como a sua competência

linguística. (…) As competências interculturais são tão importantes

como as competências linguísticas, especialmente numa Europa

multilingue e multicultural».

3- AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS

Aprender e tornar-se competente numa nova língua é um processo

gradual e que envolve vários factores. Para além de dominar as regras e o

vocabulário, o aprendente deve também empreender esforços numa

tentativa de desenvolver competências de comunicação e ser capaz de as

aplicar numa situação comunicacional. Esta apropriação de competências

está relacionada com dois conceitos utilizados tanto em Linguística como em

Didáctica: aquisição e aprendizagem. De acordo com o Macmillan English

Dictionary (2002) a aquisição é o processo pelo qual a criança adquire a sua

LM, podendo atingir a competência oral sem qualquer instrução formal. A

aquisição da língua envolve duas capacidades distintas: por um lado, a

capacidade de produzir um discurso de forma espontânea, por outro, a

capacidade de compreender o discurso emitido por outros. A aprendizagem,

normalmente associada a LEs, é habitualmente designada como o processo

pelo qual a língua é aprendida, através do ensino formal.

Como se pode ler no QECR (2001: 196), documento que define linhas

de orientação e abordagens metodológicas adoptadas no ensino das línguas

e cujos objectivos mais à frente abordaremos:

«Alguns teóricos acreditam que (…) o mais importante que um

professor pode fazer é fornecer um ambiente linguístico tão rico que

12

permita que a aprendizagem aconteça sem um ensino formal. (…) A

maioria dos professores seguem práticas mais eclécticas, reconhecendo

que os aprendentes não aprenderão necessariamente o que os

professores ensinam e que necessitam de informação (input) (…)

substancial e contextualizada, bem como de oportunidades de

utilização interactiva da língua».

A questão da aquisição versus aprendizagem é um tema que tem

suscitado alguma controvérsia e que tem sido alvo de vários estudos,

nomeadamente de Chomsky, citado por Gonçalves (2003) e por Nobre

(2010), que defende a existência de características universais, de uma

capacidade comum a todos os seres humanos na aquisição das línguas. De

acordo com a Gramática Universal de Chomsky, estes princípios ficaram

conhecidos por LAD – Language Aquisition Device. Numa primeira fase a

criança sujeita-se à nova informação (input), sendo essa informação depois

processada através do LAD e aplicadas regras. A criança passa por um

processo de tentativa e erro, até atingir o momento de produção da língua

(output). Contudo, o LAD não é suficiente para explicar a aquisição da língua;

a interacção social é essencial para que a língua se desenvolva.

De acordo com a teoria behaviorista, citada por Gonçalves (2003) e

por Nobre (2010), a língua é adquirida através de um processo de imitação e

de prática, prática esta que vai sendo estimulada, acompanhada e corrigida

pelos agentes educadores. Contudo, a imitação não explica a totalidade das

aquisições. Em certas situações as crianças produzem discursos que não são

imitados, mas sim fruto de experimentação, de tentativa e erro. Assim,

embora a imitação seja importante ao aprendermos uma língua, não pode

ser o único factor a ter em conta. A nossa capacidade de interiorizar o que

nos rodeia e de adaptar esses conhecimentos para uma utilização

comunicativa é essencial para um uso autónomo das línguas.

Vygotsky, citado por Gonçalves (2003) e por Nobre (2010), percebeu

esta necessidade de interacção social e incorporou-a à noção de Chomsky,

13

desenvolvendo o conceito de comunicação interpessoal. Para Vygotsky, cujo

pensamento está mais marcado pela influência da Sociologia, os factores

ambientais terão um maior peso do que factores inatos. De acordo com o

autor, o termo aquisição surge intimamente ligado à LM, processo em que a

criança adquire a língua de forma inconsciente. No caso de uma LE

aprendida na escola, o processo de aprendizagem é consciente, exige esforço

por parte do aluno e serve um propósito específico e previamente

estabelecido. Para Vygotsky, o sucesso de cada criança na interiorização das

regras das LEs está relacionado com a maturidade linguística de cada uma

na sua LM. Vygotsky defendia uma prática de metodologias de ensino das

LEs, que privilegia situações mais naturais e espontâneas, mais

comunicativas, desenvolvidas em ambientes multiculturais e motivadores,

semelhantes às práticas actuais. Um dos conceitos base da teoria de

Vygotsky é o conceito de Zona de desenvolvimento próximo ZDP , conceito

que representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver

problemas com a ajuda de outrem e a capacidade de resolver problemas por

si própria. A ZDP sugere que a aprendizagem ocorre quando a criança sente

que é necessária ajuda, o que, evidentemente, ocorre em fases diferentes de

aluno para aluno, dependendo de vários aspectos, como a sua motivação,

auto-estima e capacidade de arriscar. Quanto mais uma criança se sentir

motivada, mais arriscará, maior será o seu esforço e mais facilmente atingirá

a ZDP. No caso das línguas estrangeiras, o processo de assimilação das

regras é propositado, consciente e exige esforço.

A distinção entre aquisição e aprendizagem é uma das ideias base da

teoria de Krashen. Para Krashen, citado por Gonçalves (2003) e por Nobre

(2010), a aquisição resulta de um processo subconsciente, que ocorre

através da exposição natural da criança à língua, em situações reais. A

aquisição requer uma comunicação natural, na qual os interlocutores se

preocupam com o acto comunicativo e não com a forma. A aprendizagem

resulta de um processo consciente, que envolve a instrução formal e que

14

exige esforço. Krashen considera que existe uma ordem natural de aquisição

das estruturas das línguas, que todos os aprendentes seguem,

inconscientemente. Contudo, tal como foi referido anteriormente, essa

ordem não deve ser rigidamente seguida por parte dos professores de

línguas e deve ser tido em conta o facto de cada aprendente ter o seu próprio

ritmo de aprendizagem, assim como a sua própria individualidade e

motivação.

De um modo geral, podemos afirmar que a LM é adquirida através da

experiência (aquisição) e tem uma forte ligação com a afectividade e que a

LE é aprendida (aprendizagem), resultando, na maioria dos casos, de um

ensino formal. Todo este processo é lento e gradual no caso de uma LE em

contexto escolar, tanto mais dada a escassez de contacto com a língua na

escola, comparado com o contacto intensivo e motivador que ocorre na

aquisição da LM, em situação de verdadeira imersão linguística e afectiva.

4 – PRINCIPAIS TEORIAS DE APRENDIZAGEM

Existem várias Teorias de Aprendizagem no que respeita a

aprendizagem de uma LE. Alguns conceitos repetem-se de teoria para teoria,

sendo que muitas suportam a ideia de que o jogo faz parte da aprendizagem

e pode ser usado na sala de aula. Na opinião de El-Shamy (2001: 28) e

considerando a metodologia sobre a qual nos debruçamos – o jogo – «The

more of these criteria that are met in training games, the more effective

those training games will be in regard to reinforcing learning».

Em sintonia com El-Shamy (2001), julgamos poder considerar que o

modelo de aprendizagem ideal deve basear-se em várias teorias e estimular

o máximo de modalidades possível. Vejamos alguns exemplos citados pela

autora:

1- Accelerated Learning ou Aprendizagem Acelerada

Os defensores desta teoria sustentam a ideia de que o professor deve

ensinar de forma a maximizar o potencial dos seus alunos, tendo em conta o

facto de as pessoas processarem o pensamento, comunicarem e aprenderem

15

através dos cinco sentidos – visão, audição, tacto, olfacto e paladar. Cada um

de nós tem um sentido mais apurado, pelo que diferentes alunos reagem a

diferentes estímulos. Normalmente, os sentidos mais apurados são a visão, a

audição e o tacto. De entre as várias estratégias e técnicas defendidas por

esta teoria, o uso de jogos na sala de aula é considerado um dos mais

eficazes. Ao seleccionar um jogo para utilizar na sala-de-aula, o professor

pode apelar aos vários sentidos, recorrendo a jogos que incluam sons,

cheiros ou texturas, por exemplo.

2- Brain-Based Learning ou Aprendizagem baseada no cérebro

De acordo com El-Shamy (2001) os educadores têm assente a escolha

das metodologias a utilizar baseando-se, cada vez mais, nesta teoria. Este

facto deve-se às crescentes descobertas dos neurologistas relativamente à

forma como os humanos aprendem, sendo o cérebro visto como um

processador, que realiza diversas actividades ao mesmo tempo, processando

memórias, emoções e regras. Esta teoria defende que os educadores devem

usar jogos que envolvam os jogadores em experiências realistas, complexas,

com um desafio lógico e que proporcionem feedback imediato, onde possam

praticar de uma forma segura as novas competências e comportamentos.

3- Classic Learning Psychology ou Psicologia de aprendizagem

clássica

Esta teoria enfatiza a importância do feedback imediato, da prática e

da revisão no processo educativo. El-Shamy (2001) defende que, num

formato natural e agradável, os jogos na sala de aula podem proporcionar

boas oportunidades para aplicar estes três factores.

4- Constructivism ou Construtivismo

O Construtivismo baseia-se na ideia de que, reflectindo sobre as

nossas experiências, produzimos as nossas próprias regras e modelos,

construindo a nossa percepção do mundo em que vivemos. El-Shamy (2001)

afirma que, segundo esta teoria, os jogos podem ser usados para conduzir os

16

alunos a estabelecer relações entre factos, desenvolvendo novos

pensamentos, novas ideias.

5- Control Theory ou Teoria do Controlo

Esta teoria, defendida por William Glasser, defende que o

comportamento nunca é causado como resposta a um estímulo exterior. Em

vez disso, esta teoria encara o comportamento como inspirado pelo que uma

pessoa mais deseja, num dado momento. El-Shamy (2001) cita Glasser,

afirmando que se os alunos não estão motivados para os seus trabalhos

escolares, é porque os encaram como irrelevantes. Os professores que

seguem esta teoria tentam basear as suas práticas em técnicas cooperativas,

de aprendizagem activa, que desenvolvam o poder dos alunos.

6- Enhancement of Understanding ou Incremento da Compreensão

El-Shamy (2001) cita Howard Gardner, autor que defende que os

alunos devem ser expostos a exemplos de compreensão e que lhes devem

ser dadas várias oportunidades para pôr em prática as suas compreensões.

Gardner (2000) aborda o facto de os indivíduos possuírem diferentes tipos

de mentes, pelo que é necessário recorrer a uma variedade de técnicas de

aprendizagem que apelem a todos os tipos de compreensão. Os jogos

normalmente requerem o uso de diferentes sentidos e de diferentes formas

de percepção, razão pela qual são uma metodologia a ter em conta.

7- Learning Styles ou Estilos de Aprendizagem

Esta teoria de aprendizagem também enfatiza o facto de os indivíduos

percepcionarem e processarem as informações de formas diferentes,

podendo, de acordo com El-Shamy (2001) ser designados por concretos ou

abstractos, activos ou reflexivos. Esta escola de pensamento aconselha os

professores a desenharem as suas metodologias tendo em conta todos os

tipos de aprendizes, usando várias combinações de experiência, reflexão,

conceptualização e experimentação. Um jogo bem estruturado pode ser uma

boa escolha.

17

8- Multiple Intelligences ou Múltiplas Inteligências

Esta teoria da inteligência humana, também desenvolvida pelo

psicólogo Gardner (2000), já referido anteriormente, sugere que existem

pelo menos oito formas que as pessoas têm de percepcionar e compreender

o mundo. Gardner apelida cada uma destas formas como uma inteligência,

um conjunto de capacidades que permitem aos indivíduos encontrar e

resolver problemas reais. El-Shamy (2001) resume as oito inteligências –

verbal-linguística; lógica-matemática; visual-espacial; corpo-táctil; musical-

rítmico; interpessoal; intrapessoal e naturalista. As pessoas que têm a

inteligência verbal-linguística mais desenvolvida têm uma boa capacidade de

comunicar, de estruturar o seu pensamento através das palavras. As pessoas

com uma inteligência lógica-matemática mais desenvolvida conseguem

resolver problemas facilmente, seguindo a lógica. Na inteligência visual-

espacial, distinguem-se pessoas com uma grande criatividade artística, que

gostam de cores, formas, texturas. A inteligência corpo-táctil expressa-se na

habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção. Na inteligência

musical-rítmico as pessoas gostam de som e de movimento. As pessoas que

têm a inteligência interpessoal mais desenvolvida gostam de trabalhar em

grupo, de comunicar com os outros, enquanto que as pessoas com a

inteligência intrapessoal mais desenvolvida gostam de estar sozinhas, não

participando tanto nas aulas. Por fim, na inteligência naturalista, as pessoas

gostam de usar os sentidos para fazer novas descobertas. Gardner (2000),

defende métodos educativos que apelem a todos os tipos de inteligência. Os

jogos na sala de aula podem ser pensados de forma a apelar às oito

variedades de inteligência de Gardner.

9- Neuroscience ou Neurociência

De acordo com esta teoria, o sistema nervoso humano e o cérebro são

a base física do processo de aprendizagem humana, as bases biológicas da

nossa consciência, percepção, memória e aprendizagem. Baseando-se nesta

18

teoria, El-shamy (2001) refere que os professores devem organizar um

programa baseado em experiências reais, promovendo um ensino que

estimule o pensamento complexo e o desenvolvimento do cérebro. Os

neurocientistas defendem a utilização de jogos realistas, de simulação de

experiências reais.

10- Right-Brain, Left-Brain, Whole Brain ou Lateralização do

cérebro

Esta teoria sugere que os dois lados do cérebro controlam dois modos

diferentes de pensamento. Para promover experiências de aprendizagem

que envolvam os dois lados do cérebro, os professores devem utilizar

técnicas que utilizem e estimulem ambos.

11- Small-Group Dynamics ou Dinâmica de grupo

Small-group dynamics é uma área da psicologia educacional

particularmente pertinente para os jogos na sala de aula. De acordo com El-

Shamy (2001) ser capaz de lidar eficazmente com os grupos é uma

ferramenta-chave para todos os professores e é muito importante para pôr

em prática o jogo. As abordagens à aprendizagem colaborativa são

normalmente pouco centradas no indivíduo, enfatizando o trabalho em

grupo, promovendo as aprendizagens individuais, a responsabilização

individual e o desenvolvimento de competências sociais.

12- Social Learning Theory ou Teoria da Aprendizagem Social

Esta teoria, também chamada observational learnin, ocorre quando o

comportamento de alguém observado se altera, depois de observar o

comportamento de um modelo. A aprendizagem através da observação

envolve quatro processos individuais: atenção, retenção, produção e

motivação. Para que a aprendizagem ocorra ou aumente, os alunos devem

ter oportunidade de observar e deve haver comportamentos modelo, que

conduzam a um reforço positivo.

19

El-Shamy defende a ideia de que o modelo de aprendizagem ideal

deve basear-se em várias teorias e estimular o máximo de modalidades

possível. De facto, apesar de uma experiência curta no que respeita o ensino

de uma LE no 1º CEB, julgamos poder considerar que cabe ao professor

seleccionar as metodologias que considera mais adequadas à sua turma,

tentando maximizar o potencial dos seus alunos. É importante que o

professor tente apelar ao sentido mais desenvolvido de cada aluno,

proporcionando desafios lógicos e desafiantes, que garantam feedback

imediato, de forma a que novas ideias, novos conceitos sejam criados.

Naturalmente que todas estas teorias se sobrepõem e que, na prática, cada

professor acabará por adoptar uma mistura dos conceitos que considerar

mais adequados ao seu público-alvo. No que respeita o jogo, e em sintonia

com El-Shamy (2001), consideramos que todas as Teorias atrás citadas são

passíveis de ser adaptadas ao jogo na sala-de-aula, apelando aos vários tipos

de alunos, tentando garantir o sucesso de todos na aprendizagem de uma LE.

5 - REVISÃO DAS PRINCIPAIS PERSPECTIVAS

DO ENSINO DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Ao longo dos séculos, vários estudiosos têm investigado a questão da

aquisição e do ensino das LEs, numa tentativa de analisar as práticas

metodológicas e de melhorar o ensino das línguas em geral. Esta é uma área

interdisciplinar, que envolve domínios como a Pedagogia, a Didáctica, a

Linguística, a Sociologia e a Psicologia e que, por esse motivo, é vasta e

complexa. A maioria dos estudos realizados ao longo do século XX acerca do

ensino das línguas assentou na conceptualização dos métodos de ensino.

Actualmente pensa-se que, apesar da escolha do método a utilizar ser

determinante no sucesso ou insucesso da aprendizagem dos alunos, o

professor não pode excluir a importância de outros factores que interferem

no processo de ensino e aprendizagem. A motivação dos alunos, os meios

disponíveis e a forma como estes são utilizados, os materiais diversificados

20

que o professor pode e deve utilizar, a individualidade do próprio professor

e o modo como os aprendentes aprendem são factores que, no seu conjunto,

determinam o desenrolar da aprendizagem.

A propósito desta questão, Mira e Mira (2002: 9) referem que:

«utilizar um método como verdade única, indiscutível e

axiomática é, certamente, um enorme erro, sobretudo no campo

do ensino-aprendizagem das línguas estrangeiras».

Gonçalves (2003) e Frias (1992) referem que durante cerca de um

século, mais concretamente desde finais do século XVIII ao início do século

XX, o ensino das LEs foi dominado pelo Método Tradicional ou Método de

Tradução Gramatical, cujos principais mentores eram de origem alemã.

Este método, inicialmente concebido para ensinar línguas mortas, como o

Latim ou o Grego, baseava-se no estudo da gramática tradicional e da

tradução directa de textos. Ensinava-se a língua, mas não a falar a língua. A

tradução como exercício pedagógico ocupava o lugar central na aula de LE e

era dada uma ênfase excessiva à escrita, ao texto literário. Este método

aproximava muito o ensino da LM e da LE, havendo uma comparação

explícita entre as duas línguas e sendo a LM amplamente utilizada na

organização do trabalho na aula. O professor era o centro do processo de

ensino e aprendizagem, a autoridade na sala-de-aula. Este método foi,

posteriormente, alargado ao universo das línguas vivas, como o Inglês ou o

Francês. Contudo, o facto de se basear na tradução e na memorização das

regras gramaticais, desvalorizando a oralidade, defendendo que a língua a

aprender é um sistema de regras, estudado a partir de textos ou livros,

tornou-o alvo de duras críticas. O facto de não garantir ao aprendente

autonomia de aprendizagem e de conferir pouca importância à capacidade

comunicativa real levou a que, nos finais do século XIX, toda a reforma dos

métodos de ensino se consubstanciasse na oposição ao Método de Tradução

Gramatical.

21

Como contraponto a este método surgiram, no início do século XX,

vários métodos, como o Método Directo, o Método da Reforma, o Método

Natural, o Método Fonético, o Método Psicológico, citados por Mira e Mira

(2002) e Frias (1992). Estes pretendiam realizar uma mudança radical no

ensino das línguas estrangeiras, necessária numa época caracterizada pela

industrialização do mundo e pela educação de massas, passando «a

reconhecer-se a importância de ensinar a LE como um instrumento de

comunicação» (Frias, 1992: 20). Na época, o ensino das línguas vivas deixou

de poder ser confundido com o ensino das línguas mortas e aumentou a

necessidade de comunicar noutras línguas vivas que não apenas a LM.

Tornou-se urgente aprender uma LE, desenvolvendo a competência

comunicativa e conferindo às próximas gerações uma maior mobilidade

social. Por estas razões, tornou-se inevitável a ruptura com o método

tradicional. O ensino e a aprendizagem de uma LE, tendo como objectivo

uma funcionalidade prática, passaram a requerer novas abordagens, novos

conteúdos e novas metodologias. A linguagem escrita perdeu o seu estatuto

a favor da linguagem oral. Houve, no contexto do ensino e aprendizagem de

uma LE, um afastamento progressivo da LM e as actividades de ensino e

aprendizagem da LE passaram a implicar um contacto permanente com esta,

reproduzindo, tanto quanto possível, situações naturais. Surgiu assim o

Método Directo, originário da França e da Alemanha, que enfatizava a

importância do uso da LE como meio de instrução em situação de sala de

aula. De acordo com Gonçalves (2003) e Frias (1992), este método tinha

como objectivo o envolvimento activo do aluno em situações reais, numa

prática constante, razão pela qual era igualmente conhecido como Método

Oral ou Método Natural. Este método constituiu uma mudança de rumo da

‘língua literária’ para a língua falada diariamente pelos falantes. Defensor da

ideia de que as línguas eram vivas e, por isso, deviam ser ensinadas de forma

viva, dava primazia à oralidade. O processo era centrado no aluno e ao

professor cabia um papel de orientador e de regulador do processo de

22

aprendizagem. O uso de temas do quotidiano passou a servir de base aos

diálogos e à comunicação, aliando-se a língua à cultura, à gramática e ao

vocabulário. A LM era pouco utilizada em sala de aula, de forma a promover

a utilização da LE por parte dos alunos. Apesar de valorizar a oralidade, este

método revelou falta de consistência, inviabilizando um estatuto duradouro

e significativo. A crítica a que este método foi sujeito foi a mesma apontada

ao método directo, ou seja, o facto de o aluno continuar a ocupar um papel

secundário no espaço da aula.

O Método da Leitura, ou Reading Method, criado por razões

académicas, tinha como principal preocupação a competência leitora, não

valorizando tanto a pronúncia quanto o Método Oral. A iniciação a uma LE

era feita a partir de aulas de vocabulário, de compreensão de textos, tendo

em conta a população escolar para a qual os objectivos eram definidos.

Os anos sessenta foram férteis no que se refere a metodologias de

ensino e rapidamente se adoptaram modelos metodológicos diferenciados

para o ensino de uma segunda língua, radicalizando a separação entre a LM

e a LE. Foi feito um esforço no sentido de se encontrar uma metodologia

coerente com a relação existente entre as línguas, nomeadamente com o seu

papel e as suas funções. Contudo, as metodologias de ensino da LM e da LE

não se distanciavam muito, pois ambas incidiam primeiro na aquisição e

desenvolvimento da competência oral, seguida, depois, da competência

escrita. A linguagem oral assumiu um lugar preponderante, surgindo

primeiro que a escrita e tornando-se um pré-requisito da aprendizagem

desta. As alterações introduzidas originaram o aparecimento dos MAO -

Métodos Áudio-Orais, baseados nas teorias behavioristas e com raiz nos

Estados Unidos da América, ao invés dos métodos precedentes, originários

de países europeus. Tal como referem Gonçalves (2003) e Frias (1992), de

acordo com esses métodos, que tiveram grande influência no ensino das

línguas em todo o mundo, a aprendizagem da LE era muito semelhante à

aquisição da LM e baseava-se no reforço de estímulos, que conduziriam a

23

hábitos. A prática activa e simples, a repetição frequente e a imitação eram

as técnicas mais importantes desta abordagem, que assentava na conhecida

fragmentação da língua em quatro competências (skills) – a audição

(listening), a oralidade (speaking), a leitura (reading) e a escrita (writing). As

capacidades de audição e de produção oral tinham primazia sobre as

capacidades de grafia – daí o nome do método. Apesar das ideias defendidas

serem inovadoras, este método foi criticado por falta de resultados visíveis.

Chomsky criticou, ele próprio, a teoria behaviorista, rejeitando-a na sua

aplicação ao ensino das línguas, por reduzir a linguagem humana a um

processo mecânico e muito limitado. Para Chomsky, a imitação e reforço não

eram suficientes para justificar a nova criação que uma língua é, e a

infinidade de possibilidades que esta oferece. De entre os métodos que

surgiram no século XX, destaca-se igualmente o MAV - Método Audiovisual,

originário de França. Gonçalves (2003) refere que a aprendizagem da língua

através deste método se dividia em três fases: numa fase inicial o

aprendente familiarizava-se com a língua do dia-a-dia, numa segunda fase

era desenvolvida a capacidade de falar acerca de tópicos um pouco mais

abrangentes e, numa fase final, esta capacidade era alargada a áreas mais

específicas. A aula pretendia ser uma simulação do contexto social no qual a

língua era efectivamente usada. As críticas a este método prenderam-se com

a rigidez das sequências de aprendizagem. Ambos colocavam ênfase na

oralidade, rejeitando qualquer tipo de gramática e de tradução e defendendo

a ideia de que a LM devia ser banida, por ser uma fonte de interferência, um

meio de distracção. Defendia-se a ideia de que é preciso pensar em LE.

Nobre (2010), aborda o Método Total Physical Response, ou Método

de Resposta Física Total – TPR, desenvolvido na década de 60, nos Estados

Unidos da América. Este método obteve maior popularidade entre os

professores de crianças mais novas, nomeadamente na idade pré-escolar e

no 1º Ciclo, por permitir criar um ambiente de jogo na sala de aula, que

motivava e envolvia o aluno. A aquisição da linguagem surgia ligada a uma

24

acção física, o ritmo de aprendizagem do aluno era respeitado, a

aprendizagem da LE tentava ser paralela à da LM e era valorizada a relação

de afectividade estabelecida entre o professor e os alunos. O papel do

professor neste método era preponderante, pois sobre ele recaía a selecção

do material e a sua adequação aos objectivos propostos. Com este método

começou-se a privilegiar novos materiais, mais inovadores e atractivos para

o aluno, como figuras, fotografias, imagens, ilustrações e cartazes.

Em síntese, na segunda metade do século XX, linguistas e psicólogos

dedicaram-se ao estudo de métodos de ensino das línguas estrangeiras,

numa tentativa de analisar e implementar novas metodologias, mais eficazes

na aprendizagem de novas línguas. No início, a relação entre a aquisição da

LM e a aprendizagem da LE era intrínseca e acreditava-se que o insucesso na

aprendizagem da LE seria uma consequência dos hábitos estabelecidos na

aquisição da LM em criança, surgindo os erros por influência da LM. Nos

anos 60, tal como referimos anteriormente, novas teorias passaram a

defender a ideia de que havia diferenças significativas entre a aquisição da

LM e a aprendizagem da LE e que nem todos os erros eram provocados pela

interferência da LM. Defendia-se, portanto, que a aquisição de uma LE

passaria por um processo de experimentação, de formulação de hipóteses

acerca da língua. Na década de 70 a ênfase recaiu sobre o conceito de

competência comunicativa, numa perspectiva mais abrangente, que

integrava os conceitos de língua e cultura e se traduzia na capacidade dos

aprendentes de LEs de interagir com outros falantes, produzindo mensagens

reais, diferentes dos diálogos ensaiados nas aulas de língua. A pedagogia

passou a ser centrada no aluno, substituindo-se textos fabricados por textos

autênticos, dando-se prioridade ao diálogo e à comunicação oral, sem

exclusão da escrita e da leitura.

Mais recentemente, a Abordagem Comunicativa, ou Communicative

Language Teaching – CLT, desenvolvida tanto no continente americano

como no europeu e com grande aceitação por parte dos professores, veio

25

considerar a língua como um conjunto de acontecimentos comunicativos.

Nobre (2010), aborda a ideia de ser competente na vertente da comunicação

e conseguir comunicar através da língua passou a ser a principal

preocupação, mais do que a precisão vocabular ou o cumprimento perfeito

das regras gramaticais. Esta abordagem defende que a aquisição de uma LE

envolve mais do que a mera aprendizagem de estruturas e formas, mais do

que a prática gramatical isolada e intensiva. Contudo, para que haja uma

efectiva aquisição, o aprendente, que passou a ocupar um lugar central, deve

dominar as funções da língua e os seus diferentes contextos. O conhecimento

das regras gramaticais e do discurso não são banidos do CLT, pois a

comunicação não pode ocorrer se os intervenientes não partilharem noções

básicas do funcionamento da língua. Este novo paradigma traz consigo uma

ideia inovadora o “aprender a aprender”. A aprendizagem é vista como

contínua e da responsabilidade do aprendente, sendo o principal objectivo

conduzir à sua autonomia.

Todos os métodos acima enunciados tiveram o valor de alertar para

determinado aspecto do ensino das línguas, mas, ao longo dos anos, todos

foram alvo de críticas, críticas essas que culminaram na sua adaptação ou

reformulação.

Actualmente, a ideia estabelecida, referenciada por Gonçalves (2003)

e Mira e Mira (2002), é a de que a escola deve ser encarada como um agente

de transformação, em que todos aprendemos de maneira diferente, razão

pela qual, ao longo dos tempos, os professores devem tentar colmatar a

carência da actualização dos métodos, adaptando-os às diferentes situações

e aos diferentes alunos. O processo de ensino e aprendizagem pode sofrer

variações, de acordo com as necessidades dos alunos, ou de acordo com os

seus interesses, devendo o professor facilitar a interiorização e o contacto

com a LE. O professor deve organizar e seleccionar materiais que se

adequem aos objectivos e interesses dos alunos e tentar aumentar o grau de

26

exposição dos aprendentes à LE, diminuindo as barreiras afectivas que por

vezes surgem como obstáculo à aprendizagem.

Considerando a importância da vertente comunicativa e a necessidade

crescente dos professores em ajustar as suas técnicas, foi criado o Quadro

Europeu Comum de Referência para as Línguas, a partir de agora

designado por QECR, em 2001, e o Portfolio de Línguas. O primeiro

documento visa promover e facilitar a cooperação entre as instituições de

ensino dos diferentes países europeus e reflectir acerca das práticas

pedagógicas correntes. Com o QECR (2001) pretende-se fornecer uma base

comum para a elaboração de programas de línguas em toda a Europa,

eliminando barreiras de comunicação. Na sua abertura (QECR, 2001: 19),

podemos ler:

«O Quadro Europeu Comum de Referência (QECR) fornece uma base

comum para a elaboração de programas de línguas, linhas de orientação

curriculares, exames, manuais, (…) na Europa. Descreve

exaustivamente aquilo que os aprendentes de uma língua têm de

aprender para serem capazes de comunicar nessa língua e quais os

conhecimentos e capacidades que têm de desenvolver para serem

eficazes na sua actuação».

O Portfolio de Línguas é um documento de auto-avaliação, concebido

pelo Conselho da Europa e baseado no QECR. Tem como objectivo permitir

ao aprendente fazer a auto-regulação das suas aprendizagens, adquiridas em

contexto formal ou informal, e registar todas as experiências linguísticas e

interculturais. Permite também, aos professores de línguas, descrever o

nível de competência de uma LE dos seus alunos.

No QECR (2001: 44) pode ler-se:

«O Portfolio permitirá aos aprendentes fazer prova da sua progressão

para uma competência plurilingue, registando toda a espécie de

experiências de aprendizagem num grande leque de línguas que, de

outro modo, ficaria por certificar e por conhecer. Pretende-se que o

27

Portfolio encoraje os aprendentes a actualizarem regularmente os

registos sobre a sua auto-avaliação (em todas as línguas).»

Na prática, actualmente,. no ensino das línguas estrangeiras tenta

estabelecer-se um compromisso entre as várias abordagens e métodos. É

reconhecido o valor que a exposição à língua acarreta, é permitido aos

alunos analisarem o funcionamento da língua e são-lhes proporcionadas

oportunidades para usar a língua em situações comunicativas. Esta ideia

está presente no QECR (2001: 124), do seguinte modo:

«A finalidade do estudo das línguas modificou-se profundamente. Não

se trata já de alcançar 'mestria' em uma, duas ou mesmo em três línguas

(…) tendo como modelo final o “falante nativo ideal”. Em vez disso, a

finalidade passa a ser o desenvolvimento de um repertório linguístico

no qual têm lugar todas as capacidades linguísticas».

6 - O ENSINO PRECOCE DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS EM PORTUGAL

Neste capítulo centrámo-nos no ensino precoce de línguas

estrangeiras, termo que temos vindo a utilizar para descrever o ensino (de

carácter não obrigatório), que em Portugal tem lugar antes do 5º ano de

escolaridade, ano em que assume um carácter obrigatório e de integração no

currículo, na medida em que no programa do 5º ano de escolaridade está já

contemplada a aprendizagem de uma LE. De facto, a medida de iniciar a

aprendizagem de uma LE no 1º CEB vai de encontro ao que se pode ler no

QECR (2001: 25) «A aprendizagem de línguas deve ser feita ao longo de toda

a vida. Como tal, deve ser promovida e facilitada transversalmente pelos

sistemas de ensino, do pré-escolar à educação de adultos».

De acordo com as concepções que temos vindo a desenvolver, o

ensino precoce de LEs é o trabalho de iniciação a uma determinada língua no

1º CEB ou Jardim de Infância, através de um processo que se pretende que

seja natural, espontâneo e desencadeador de mecanismos mais de

sensibilização do que de aquisição. Tal como se pode ler no QECR (2001)

28

mais do que um processo de ensino e aprendizagem propriamente dito, o

ensino precoce de uma LE deve basear-se numa aprendizagem activa, na

sensibilização a uma ou várias línguas, na descoberta ou reconhecimento

pela escola da pluralidade das línguas e culturas, na confirmação da

identidade linguística e cultural do aprendente.

O factor idade tem sido apresentado por vários linguistas, de entre os

quais merece destaque Chomsky, citado por Gonçalves (2003), para

fundamentar a inclusão da aprendizagem das línguas estrangeiras na

infância, baseando-se na ideia de que a apetência dos alunos no 1º CEB para

a aprendizagem de uma nova língua é muito grande. Acerca deste assunto

levanta-se uma questão importante: Qual a idade ideal para as crianças

iniciarem o seu contacto com as LEs? A ideia de que a idade dos aprendentes

influencia a efectividade da aprendizagem tem sido alvo de investigação,

tendo recebido a designação de Teoria do Período Crítico (critical period

hypothesis). Embora não haja consenso relativamente à idade adequada para

iniciar esta aprendizagem, e esse período não esteja objectivamente

delimitado, enquadrada nesta linha paradigmática, é defendida a ideia de

que existe um período crítico para a aprendizagem das línguas, defendendo

que as crianças aprendem LEs com mais facilidade que os adultos. Existe a

noção de que, a partir de determinada idade, o ser humano começa a sentir

mais dificuldades em aprender uma segunda língua, ou em efectuar novas

aprendizagens, pelo que se deve começar a aprender uma segunda língua

“precocemente”, o mais cedo possível. O conceito de “aprendizagem

precoce” de uma língua é um conceito que tem gerado alguma controvérsia,

na medida em que a sua delimitação não é clara. Em termos científicos, a

questão do momento ideal para a iniciação da aquisição de uma LE e da

existência de um período crítico tem sido alvo de várias reflexões,

levantando-se a questão de que, se a aprendizagem for iniciada enquanto o

aprendente é ainda criança, as probabilidades de uma maior fluência na LE

em anos posteriores aumentarem. Cohen (1991), citado por Pereira (2010),

29

refere uma maior plasticidade das estruturas cerebrais antes da puberdade,

acrescentando que as crianças, neste nível etário, ainda não possuem

preconceitos relativamente a outras línguas e culturas e se encontram, por

isso, mais motivadas. O autor afirma ainda que as aprendizagens efectuadas

nos primeiros anos de escolaridade estão mais articuladas com a realidade.

De facto, a nossa experiência enquanto professora de Inglês no 1º CEB diz-

nos que, de um modo geral, quanto mais cedo se iniciar a exposição à língua,

maior será a abertura dos alunos face à mesma, mais facilmente os alunos

aprenderão e melhores serão os seus resultados.

Perguntamo-nos, então, como deve um professor proceder na sua

tarefa de ensinar uma LE? Cohen (1991), citado por Pereira (2010), defende

que o processo de ensino e aprendizagem das LEs deverá ser considerado

como um elemento coadjuvante no desenvolvimento global da criança. As

exigências cognitivas das actividades propostas neste processo não devem

ultrapassar a maturidade da criança nem o seu desenvolvimento. Pelo

contrário, devem ter como objectivo a abertura de novos horizontes, através

de tarefas pedagógicas estimulantes e inovadoras. Para que os aprendentes

se tornem competentes numa nova língua é necessário que conheçam o

código linguístico e cultural, fazendo uso deste de forma apropriada.

Contudo, a fluência na LE não deve ser o único objectivo deste processo. Em

consonância com o que afirma o autor, julgamos poder considerar que o

professor não se deve restringir aos conteúdos sugeridos nas Orientações

Programáticas, nem à urgência de os cumprir, devendo apostar na

motivação, na descoberta natural e no uso espontâneo de vocabulário. O

professor deve trabalhar no sentido de desenvolver nos seus alunos a já

referida ZDP, um dos conceitos base da teoria de Vygotsky, levando os seus

alunos a arriscar e a esforçarem-se.

Frias (1992) afirma que, para além de ter como principal objectivo o

acto de comunicar, a língua constitui-se como identidade pessoal, regional

ou nacional, étnica ou religiosa dos falantes, razão pela qual ensinar uma LE

30

não pode ser um processo estático, uma simples transmissão de

conhecimentos. A experiência profissional do docente é valiosa, assim como

a sua capacidade de adaptação às circunstâncias. No nível de ensino sobre o

qual se debruça o nosso estudo - o 1º Ciclo do Ensino Básico – que

corresponde à etapa escolar em que os alunos devem adquirir as noções

básicas de estrutura e funcionamento da língua, o trabalho de sensibilização

por parte do professor é uma tarefa importante, mas pouco visível aos olhos

dos pais. Cabe ao professor praticar um ensino de sucesso, reconhecendo as

diferenças existentes entre cada aluno e implementando estratégias

conducentes ao sucesso da aprendizagem. Cabe-lhe ainda fomentar a

curiosidade pelo outro, pela sua língua e cultura, levando os alunos a

encontrar afinidades entre a LE e a LM. O professor deve adoptar uma

variedade de procedimentos, exercícios e técnicas, de forma a abranger o

maior número de aprendentes e tendo em conta os vários estilos de

aprendizagem existentes. As actividades devem ser centradas no sujeito-

criança e as estratégias a utilizar devem ser lúdicas, visando sobretudo a

oralidade. Na selecção das metodologias a adoptar, o professor deve ter em

conta o facto de nem todos os alunos serem iguais e de, por isso,

aprenderem de forma diferente e a ritmos diferentes. Na área do ensino das

línguas, e de acordo com Grinder (1989), os alunos podem ser classificados

como visuais, auditivos ou sensoriais. Para os alunos tendencialmente visuais,

tal como o nome indica, a visão é o órgão principal de conhecimento, pelo

que necessitam de ver o que estão a aprender. Outros alunos têm a

capacidade da audição mais desenvolvida e interiorizam melhor ouvindo,

razão pela qual são denominados de auditivos. Para os alunos cinestéticos o

envolvimento físico constitui um precioso auxiliar de aprendizagem, o que

os leva a mostrar mais interesse por actividades que envolvam movimento

físico. Esta classificação de Grinder (1989) remete-nos para as Múltiplas

Inteligências, que referimos anteriormente, teoria da inteligência humana

desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner (2000) e que classifica os

31

alunos de acordo com as suas formas de percepcionar e compreender o

mundo. Três das inteligências referidas por esta teoria - visual-espacial;

musical-rítmico e corpo-táctil – correspondem, pelas características que as

definem, a alunos essencialmente visuais, auditivos e sensoriais,

respectivamente.

No processo de aprendizagem de uma língua torna-se fulcral o

desenvolvimento da motivação, da capacidade e da confiança. Para que a

aprendizagem ocorra, é essencial desencadear motivação nos alunos. Nesse

sentido, o jogo pode ser utilizado como incentivo. Uma atitude motivada e

interessada é comum a um aprendente com resultados positivos pelo que o

professor deve ter em mente que a motivação constitui uma atitude

fundamental no processo de aquisição de uma LE. O papel do professor é

compreender o que motiva e desmotiva os alunos e procurar condições que

favoreçam a aprendizagem da LE. Os alunos motivados participam

activamente na aula, intervêm, demonstram interesse pelas actividades, não

tendo receio de experiências novas e desafiantes. Por oposição, os alunos

desmotivados não costumam demonstrar interesse pelos materiais,

podendo reagir mal a tarefas que fujam da sua rotina. Se o aluno não se

sentir motivado, resiste às tentativas de ensino do professor e, no caso da

aprendizagem de uma LE, pode resistir à sua utilização.

Neste sentido, parece-nos importante o que diz Nobre (2010), na

medida em que, enquanto professores importa reflectir sobre se, na nossa

actuação, temos realmente em conta as necessidades dos alunos, para que

estes se sintam motivados. Os métodos de ensino e as estratégias adoptadas

pelo professor devem ser flexíveis e adequadas ao nível etário e ao nível de

desenvolvimento dos aprendentes, de forma a servir as diferentes

necessidades dos alunos. Devem ainda ser tidos em conta aspectos como a

sua proveniência social e cultural. O sucesso deve ser mais valorizado do que

o fracasso ou o erro, inevitáveis ao longo de percurso de aprendizagem,

contribuindo para que os alunos se sintam seguros relativamente à

32

exploração de novos conceitos. O professor detém um papel muito

importante na motivação dos alunos, em especial nas crianças do 1º Ciclo do

Ensino Básico. Os professores de línguas, ao ensinar no 1ºCEB, devem ter a

capacidade de adoptar as suas didácticas ao nível etário em questão, nível

esse cujos interesses e necessidades são diferentes dos dos outros níveis.

Ensinar através do jogo, como analisaremos no capítulo III deste trabalho,

oferece ao professor uma oportunidade única de ligar a individualidade do

jogo às exigências do currículo e dos alunos.

7 - ORIENTAÇÕES PROGRAMÁTICAS PARA O ENSINO

E A APRENDIZAGEM DO INGLÊS NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO

Consideramos pertinente a referência às Orientações Programáticas

para o Ensino e a Aprendizagem do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico,

elaboradas pelo Ministério da Educação, em 2005, por ser este o documento-

chave a partir do qual se regem as práticas dos professores de Inglês neste

nível de ensino. As Orientações Programáticas surgiram da necessidade de

existência de um documento de apoio à regulação do ensino e aprendizagem

do Inglês no 1º CEB e visam favorecer uma perspectiva integradora da

aprendizagem das línguas na Educação Básica. Dos Princípios Orientadores

deste documento, cujas competências compreendem aspectos de natureza

metacognitiva, afectiva e social, integrando conhecimentos, capacidades e

atitudes, merecem destaque a sensibilização à diversidade linguística e

cultural, o desenvolvimento de uma competência comunicativa integradora

das várias linguagens e a promoção de uma educação para a comunicação,

motivando para valores como o respeito pelo outro, a ajuda mútua, a

solidariedade e a cidadania.

Na abertura das Orientações Programáticas do PGEI (2005: 9-10), é

possível ler-se que a elaboração deste documento decorre do

reconhecimento da relevância da introdução da aprendizagem da Língua

Inglesa enquanto língua de comunicação internacional por excelência, do

33

seu carácter essencial para a construção de uma consciência plurilingue e

pluricultural, do seu contributo, tido por fundamental, para a construção da

cidadania. Estas orientações enquadram-se, ainda, na convicção de que ao

ensinar-se Inglês aos mais novos se está a contribuir para o

desenvolvimento global da criança, não apenas para o seu sucesso na

aprendizagem de línguas.

O tipo de estratégias, actividades e metodologias a adoptar pelo

professor de Inglês no 1º CEB deverão ir ao encontro do carácter de

sensibilização da medida e ajustar-se ao público-alvo. Estando prevista uma

sensibilização, mais do que uma aprendizagem, cabe aos professores a

leccionar Inglês no 1º CEB a tarefa de seleccionar, adaptar e implementar

estratégias, materiais e actividades, por forma a desenvolver competências

de comunicação e privilegiar a interacção oral. O professor deve adoptar

uma variedade de procedimentos, exercícios e técnicas, de forma a abranger

o maior número de aprendentes e tendo em conta os vários estilos de

aprendizagem existentes. As estratégias a utilizar devem ser lúdicas,

baseando-se na audição de canções, rimas, histórias, no uso de jogos,

recorte, colagem, desenho ou expressão dramática. A ênfase deve ser dada à

audição e à oralidade, especialmente na fase inicial, incluindo a imitação de

sons, entoações e ritmos e explorando a «produção oral». Tal ênfase poderá

ser explicada pelo facto de muitas crianças do 1º C.E.B., sobretudo as do 1º e

2º ano, não disporem ainda de bases sólidas em termos de escrita ou leitura,

pelo que a introdução de enunciados escritos nestes níveis poderia causar

eventuais interferências na aprendizagem da LM. No entanto, e segundo este

referencial, a leitura e a escrita podem desempenhar um papel de apoio

crítico e não devem ser negligenciadas. No que respeita a selecção das

metodologias a adoptar, as Orientações Programáticas do PGEI no 1º CEB

apontam para a utilização preferencial de actividades lúdicas, as quais,

segundo este documento, serão as mais apropriadas a esta fase da

aprendizagem por manterem o interesse do aluno, permitirem o seu

34

desenvolvimento global, fomentarem a necessidade de comunicar e

proporcionam uma relação positiva com a aprendizagem. O jogo deverá ser,

tanto quanto possível, utilizado nas aulas de Inglês, dado que «é uma das

actividades que ocupa a criança durante mais tempo e à qual esta dedica

maior atenção».

Também os conteúdos a abordar nas aulas de Inglês do 1º C.E.B. são

alvo de referência. Segundo este documento, é importante que as actividades

de Inglês não estejam condicionadas por um programa centrado em

conteúdos obrigatórios, mas que, pelo contrário, haja espaço para a

articulação interdisciplinar e para a integração da diversidade de

experiências e de interesses de cada turma. A adaptação dos temas e

conteúdos às diferentes turmas deve ser uma preocupação do professor de

Inglês no 1º C.E.B. Em síntese, as Orientações Programáticas sugerem temas

resultantes do mundo da criança e defendem que qualquer programa de

aprendizagem de línguas deve corresponder aos interesses dos alunos,

estimulando o seu envolvimento activo, a sua imaginação e criatividade.

Em síntese, nas Orientações Programáticas é defendida a ideia de que

qualquer programa de aprendizagem de línguas deve corresponder aos

interesses dos alunos, apelar às suas emoções, estimular o seu envolvimento

activo, a sua imaginação e criatividade, sendo os temas definidos resultantes

do mundo da criança, do Currículo Nacional do EB e da informação cultural

sobre os países de LI.

35

8 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA

NA SOCIEDADE PORTUGUESA

O 1º Ciclo do Ensino Básico é o alicerce a partir do qual se

desenvolvem e organizam todas as outras escolaridades, tempo de grandes

aprendizagens e descobertas sociais. De acordo com Strech-Ribeiro (2005),

perspectiva com a qual nos revemos, actualmente, pretende-se que as

escolas não se limitem a ser meros locais de transmissão de conhecimentos,

mas sim que se preocupem com a criação de contextos mais estimulantes

para a aquisição de saberes e competências básicas, de uma forma lúdica,

criativa e facilitadora. Para além de transmitir saberes, as escolas têm

também como função desenvolver os valores humanos e a afectividade que a

sociedade actual, cada vez mais tecnológica, necessita. Por vezes, contudo, os

professores descuram a importância das aprendizagens informais, ou seja,

as aprendizagens que os alunos realizam no dia-a-dia, fora do contexto

escolar, de forma involuntária e quase subconscientemente. Neste sentido, a

escola deve procurar modificar a sua actividade, deixando de ser um espaço

fechado, preocupando-se com o que oferece aos alunos e com as

aprendizagens que estes conseguem realizar. De facto, importa ter em conta

que ser criança é um tempo único e brincar é uma função fundamental para

o seu equilíbrio físico, psíquico e intelectual. A criança não pode nem deve

ser privada desta oportunidade pelo que esta fase não pode ser descurada. A

escola tem uma grande responsabilidade neste sentido, uma vez que uma

importante parte do dia da criança é passado dentro do espaço escola. De

facto, o tempo que a criança passa hoje em família é muito menor que o

tempo que passa na escola. A limitação de tempo e disponibilidade para os

filhos é uma realidade para os pais dos tempos modernos. Ao regressarem a

casa, ao fim de um dia de escola, as crianças ocupam muitas vezes o seu

tempo livre sozinhas e ficam, normalmente, limitadas ao espaço interior de

casa, ocupando o tempo com jogos solitários. Quando transitam da educação

pré-escolar para o ensino básico, as crianças entram numa instituição onde o

36

jogo é, muitas vezes, pouco valorizado. Por esta razão, a escola deve oferecer

aos alunos a oportunidade de brincar, num espaço adequado às suas

características e acompanhados por crianças da sua idade. Actualmente, a

escola oferece às crianças poucas oportunidades de praticarem actividades

lúdicas auto-dirigidas, e essas oportunidades, quando existem, estão

geralmente reservadas ao recreio, durante os intervalos das actividades

lectivas. O jogo, objecto de estudo desta investigação, e que

desenvolveremos mais pormenorizadamente neste capítulo, é uma

actividade que o ser humano pratica ao longo da vida, fundamental para o

desenvolvimento das crianças nos âmbitos sensorio-motor, cognitivo,

afectivo e social. Através do jogo, o indivíduo projecta as suas emoções e

desejos e manifesta a sua personalidade. Através deste, é dada às crianças a

oportunidade de partilhar experiências, brincar, aprender, competir, manter

relações sociais, criar ou fortalecer laços de amizade.

De acordo com o QECR (2001) a opção de iniciar cada vez mais cedo o

contacto com uma LE tem como objectivos, a longo prazo, a construção de

uma Europa forte, espaço de livre circulação de pessoas e bens, e a criação

de condições de mobilidade dos cidadãos europeus, de forma a aumentar

condições de empregabilidade. O ensino de línguas estrangeiras a crianças

numa idade considerada precoce” é uma situação que não é nova na Europa.

Tem tradição em escolas e colégios privados e tem sido objecto de

experimentação, em diferentes modalidades e com diferentes resultados, em

vários países europeus, desde os anos 70. Em Portugal, o conceito de “ensino

precoce” tem sido usado para descrever o processo de ensino de uma LE que

ocorre antes da “idade institucional”, ou seja, antes do 5º ano de

escolaridade. De facto, a oferta de programas de LEs destinados a crianças

mais novas tem-se tornado mais comum, o que reflecte a importância que as

LEs têm vindo a assumir na sociedade actual. Em Portugal, o Inglês tem

vindo a ser inserido no 1º Ciclo sob a forma de uma área de estudo não

obrigatória e, apesar de não fazer ainda parte dos currículos do 1º Ciclo do

37

Ensino Básico, a introdução de uma LE reflecte uma filosofia aberta à

mudança e às diferentes realidades existentes.

Inicialmente, o despacho nº 14 753/2005, de 24 de Junho, aprovou o

Programa de Generalização do Ensino do Inglês nos 3º e 4º anos do 1º Ciclo do

Ensino Básico (PGEI), por se considerar um processo essencial para a

construção de uma consciência plurilingue e pluricultural. Esta medida foi

tomada no âmbito do conceito de “escola a tempo inteiro”, tal como referem

as Orientações Programáticas, reflectindo a preocupação em ajustar o tempo

de permanência dos alunos nas escolas, de adaptar os horários escolares às

necessidades das famílias, proporcionando aos alunos aprendizagens novas

e diversificadas e assegurando que esses tempos são pedagogicamente

complementares das aprendizagens. Com este despacho, o ensino do Inglês

afirmou-se como um complemento educativo gratuito e universal, uma

actividade extra-curricular, de carácter optativo, paralelamente a outras

áreas como o Apoio ao Estudo, a Actividade Física e Desportiva, a Música, os

Jogos Matemáticos, o Hip-Hop e a Expressão Dramática.

Em 2006, tal como referido anteriormente, o despacho nº 12 591/2006

revogou o anterior despacho de 2005, alterando a denominação do

enquadramento do Programa de Generalização do Ensino do Inglês nos 3º e

4º anos do 1º Ciclo do Ensino Básico, passando a ser Actividades de

Enriquecimento Curricular (AECs). Com este novo despacho, a oferta do

Inglês para o 3º e 4º anos de escolaridade passou a ser obrigatória,

continuando, contudo, a sua frequência a ser livre. Numa fase posterior, no

ano lectivo de 2008-2009, o ensino do Inglês foi alargado aos quatro anos do

1º ciclo, mantendo a natureza facultativa e sendo ministrado em horário pós

lectivo. Consideramos que as condições desta institucionalização são, por

um lado, positivas, porque tornam possível o ensino de Inglês de forma

generalizada no 1º Ciclo, mas também negativas, na medida em que

remetem o ensino de Inglês para um espaço extra-curricular, optativo e por

isso frequentado apenas por alguns alunos. Como consequência, revestindo-

38

se esta aprendizagem de um carácter de obrigatoriedade apenas no 2º Ciclo

do Ensino Básico, e devido à moldura legal acima citada, desde a

implementação desta medida assiste-se à coexistência, no 2º Ciclo, de alunos

com experiências de aprendizagem de Inglês e de outros sem qualquer

contacto prévio com a língua. Assim, embora se procure alargar o ensino do

Inglês a todos, permite-se que este ensino seja de frequência facultativa, o

que abre espaço à criação de assimetrias nas aprendizagens do 2º Ciclo do

Ensino Básico.

Strecht-Ribeiro (1998: 43) sistematiza da seguinte forma a inclusão

do Inglês em todo o processo de ensino e aprendizagem neste nível de

ensino:

«O ensino da L.E. deve pautar-se sempre por princípios promotores da

inter e transdisciplinaridade, numa perspectiva de integração curricular

que consagre uma visão simultaneamente humanista e holística da

educação da criança, podendo consequentemente servir para

contextualizar as actividades das outras áreas curriculares ou,

opostamente, usar estas mesmas para a criação de contexto para

actividades de L.E.».

Pela sua relevância, e perante o exposto acima, consideramos

importante dar a conhecer as conclusões expressas no relatório produzido

pela Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI), instituição

responsável pelo acompanhamento do PGEI, em 2009. Em síntese, a

Associação considera urgente extinguir o estatuto de frequência facultativa e

de carácter extracurricular atribuído ao ensino de Inglês no 1º Ciclo,

sublinhando a necessidade de apostar na formação de professores de Inglês

para este nível de ensino:

«não se pode continuar a afirmar que todos os alunos têm Inglês no 1º

ciclo, não se pode continuar, simplesmente a aceitar as estatísticas que

não revelam a quantidade e a qualidade das aprendizagens adquiridas.

(…) Só faz sentido que a aprendizagem de Inglês seja integrada no

currículo do 1º ciclo».

39

Apesar de devidamente regulamentada, a questão da implementação de

uma LE no 1º ciclo tem provocado algum debate em torno das concepções

de enquadramento. Por um lado, temos a perspectiva de sensibilização, por

outro a perspectiva de uma aprendizagem formal da língua. A primeira

abrange objectivos mais gerais, de desenvolvimento de laços sócio-afectivos,

enquanto a segunda se preocupa mais com o desenvolvimento de

competências linguísticas. A legislação em vigor enuncia princípios mais

ligados à sensibilização, nomeadamente quando se refere à construção de

uma consciência plurilingue e pluricultural. O estímulo e a confiança são

palavras-chave nos documentos oficiais relativos à aprendizagem das LEs,

nomeadamente no Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências

Essenciais, o qual visa que

«o processo de ensino se centre na promoção de uma relação afectiva

com a língua estrangeira (…) e que (…) aos aprendentes sejam dadas

oportunidades de se envolverem em tarefas e actos comunicativos que

lhes proporcionem vivências estimulantes».

A implementação do Inglês como Actividade de Enriquecimento

Curricular tem sido um tema sujeito a debate nos plenários da APPI, entre os

professores de 1º Ciclo e os professores de Inglês que leccionam neste nível,

também devido à questão da adequação das metodologias utilizadas à faixa

etária em questão. As Orientações Programáticas, que colocam a ênfase no

desenvolvimento de competências e capacidades facilitadoras de uma

posterior aprendizagem formal bem sucedida, salientam a importância da

aprendizagem precoce da língua inglesa com base em actividades lúdicas e

na comunicação oral, tal como referimos anteriormente. A finalidade última

da LE deverá ser a capacidade de comunicar adequadamente, transmitindo

informações. Esta ideia remete-nos para a já referida Abordagem

Comunicativa, ou CLT, cuja ideia-chave é a de que a aprendizagem de uma LE

tem como objectivo o conseguir comunicar através da língua.

40

Contudo, tendo em conta o nível etário dos alunos e o facto de ser uma

iniciação ao Inglês, os objectivos não podem ser irrealistas. O professor deve

começar por sensibilizar as crianças para a existência de outras línguas, para

além da sua LM, bem como de outras culturas, nomeadamente através da

abordagem de festividades britânicas, que permitirão ao aluno conhecer

uma cultura diferente. Posteriormente, o professor deve encorajar as

crianças a comunicar em LE, num clima de confiança, para que o ensino

precoce da LE permita criar bases para o sucesso na aprendizagem dessa

língua no 2º Ciclo.

O debate em torno desta questão tem originado novas ideias e

conceitos. Um dos autores que se têm debruçado sobre esta questão é

Armanda Zenhas, Mestre em Educação pela Universidade do Minho e autora

de vários artigos na área da Educação, de entre os quais merecem destaque

artigos sobre a aprendizagem precoce do Inglês (Inglês no 1.º ciclo -

31/08/2005, Porquê aprender Inglês no 1.º ciclo? - 14/09/2005, O ensino do

Inglês no 1.º ciclo - 28/02/2007). Em 2005, ano em que a medida foi

implementada, a autora expressou a sua opinião no site Educare.pt, a

31.08.2005, manifestando “regozijo pelo facto de o ensino do Inglês se

iniciar finalmente numa idade mais precoce”. Contudo, no mesmo site,

Zenhas (2005) manifestava a sua satisfação, mas também alguma relutância

relativamente à forma como a medida foi implementada. A autora afirma

que «O início da aprendizagem da língua inglesa no 1.º ciclo é uma medida

positiva, cuja necessidade se fazia sentir, de há muito. Contudo, algumas

questões importantes se colocam na forma como vai ser posto em prática».

De facto, a forma como a generalização prometia processar-se levantou

algumas dúvidas e inquietações entre os professores, que não estão, ainda,

totalmente dissipadas e que estão bem patentes nos artigos de Zenha acima

citados. O carácter extracurricular da disciplina, a formação e a forma de

contratação dos professores são aspectos que têm vindo a ser debatidos pela

APPI ao longo destes seis anos. Sendo o Inglês uma disciplina

41

extracurricular, não é de frequência obrigatória, o que se pode traduzir

numa desigualdade de conhecimentos na entrada para o 5º ano de

escolaridade. Embora os dados divulgados na imprensa apontem para que

uma grande maioria das crianças opte pela sua frequência, poderá sempre

haver quem opte pelo contrário. Na entrada para o 2.º ciclo, esta disparidade

de conhecimentos a nível da língua inglesa irá tornar-se um problema, com a

possibilidade de, numa mesma turma, existirem alunos com alguns anos de

aprendizagem de Inglês e outros que nunca tiveram qualquer contacto com

essa língua na escola. Caberá então aos professores de Inglês do 5º ano a

difícil tarefa de gerir estas desigualdades.

Em suma, a implementação do ensino do Inglês no 1º CEB foi, em nosso

entender, e em sintonia com as ideias expressas por Zenhas (2005), o

primeiro passo na diminuição do atraso do nosso país no início da

aprendizagem de uma LE, visto que Portugal está entre os países europeus

em que essa aprendizagem obrigatória começa mais tarde (10 anos).

Contudo, seis anos depois, é de lamentar que esta medida do governo não

tenha tornado o ensino do Inglês efectivamente universal e não tenha

garantido aos professores condições estáveis de trabalho, para que a

aprendizagem se possa processar com a qualidade que as crianças merecem

e a importância que esta disciplina justifica.

42

CAPÍTULO III

O JOGO

_____________

A IMPORTÂNCIA

DO JOGO

NA CONSTRUÇÃO

DO CONHECIMENTO

43

1 - INTRODUÇÃO

Após abordarmos a questão da Língua Materna – Língua Estrangeira,

os processo de aquisição e de aprendizagem, analisadas algumas das

diferentes perspectivas de ensino que têm surgido ao longo dos tempos e a

forma como estas têm evoluído, numa escola que se pretende hoje que seja

uma Escola em Mudança e a forma como o Inglês tem sido ensinado no 1º

CEB nos últimos anos, decidimos analisar, neste terceiro capítulo, com base

na revisão da literatura, o papel das metodologias a adoptar neste nível de

ensino. Por considerarmos que as metodologias passíveis de serem

utilizadas numa aula de Inglês no 1º CEB são vastas (jogos, canções, rimas,

arts and crafts, fichas de trabalho), e que cada uma delas é merecedora de

uma análise individual, decidimos dar especial enfoque ao jogo. Tendo por

base a nossa experiência pessoal, enquanto professora de Inglês do 1º CEB e,

em sintonia com o que afirmam Sugar e Sugar (2002), por considerarmos

que esta será uma das metodologias que aliam o carácter lúdico a um

elevado grau de eficiência, optámos pela sua eleição para enfoque da nossa

análise. Assim, o nosso estudo centra-se especificamente na metodologia do

jogo, uma das metodologias que, de acordo com os dados obtidos através do

nosso inquérito por questionário e que apresentaremos no capítulo IV, é das

mais utilizadas pelos professores de Inglês a leccionar no 1º CEB, em Évora.

Neste terceiro capítulo, inteiramente dedicado ao jogo, foram abordadas

vantagens e condicionantes desta metodologia, bem como razões para se

ensinar através do jogo, formas de adaptar esta metodologia aos vários tipos

de aluno e o papel que o professor deve adoptar ao pôr em prática um jogo

em contexto de sala-de-aula.

44

2 - O INGLÊS NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO –

PERTINÊNCIA DAS METODOLOGIAS A ADOPTAR

Aos professores a leccionar Inglês no 1º CEB cabe a tarefa de

seleccionar, adaptar e implementar estratégias, materiais e actividades que

vão de encontro ao carácter de sensibilização da medida e que se ajustem ao

público-alvo. A pertinência das metodologias utilizadas no ensino do Inglês

no 1º CEB é crucial, uma vez que este será o primeiro contacto das crianças

com uma LE, numa fase que é ainda de formação da sua própria identidade.

A selecção das metodologias a adoptar, objecto de estudo da nossa

dissertação, tem sido alvo de vários estudos, sendo um dos exemplos o

estudo efectuado pelos professores Conceição Teixeira, Cristina Lopes,

Dalila Coelho, Florêncio Moniz e Irene Galrito, intitulado “Projecto 4ward -

Starting from square 4”, apresentado no 22º Congresso APPI, em Maio de

2008. Este projecto de investigação-acção pretendeu abordar a questão do

acompanhamento dos alunos na disciplina de Inglês na transição do 1º para

o 2º CEB. Os resultados deste estudo revelam que para 74% dos alunos

entrevistados, o Inglês é «Muito Importante» para falar com pessoas de

outros países, perceber canções, jogos, filmes e para usar o computador.

Quando interrogados sobre as actividades de que mais gostaram, os jogos na

sala de aula foram a reposta de 60% dos alunos. Os resultados deste estudo

são aqui citados na medida em que vão ao encontro do que se pretende

analisar nesta investigação, ou seja, que as metodologias poderão ser

consideradas como o elemento-chave para uma aprendizagem de sucesso

neste nível de escolaridade, com características tão peculiares.

Ao entrar na aula, cada aluno traz consigo a sua “bagagem”, a sua

personalidade, os seus conhecimentos e competências, as suas experiências

e descobertas. Todos estes elementos passaram a condicionar a selecção das

práticas pedagógicas pelo professor e cada aluno tornou-se um desafio à sua

competência. O professor é hoje em dia um gerador de situações

estimuladoras e eficazes, contexto em que, tal como afirmam Sugar e Sugar

45

(2002), o jogo ganha espaço como a ferramenta ideal de aprendizagem,

estimulando o interesse dos alunos e envolvendo-os nas aprendizagens. O

jogo é a forma mais natural das crianças aprenderem, ajudando-as a

construir novas descobertas, desenvolvendo e enriquecendo a sua

personalidade. O jogo é o método mais lúdico de se adquirir qualquer

aprendizagem, pois requer raciocínio e atenção, implicando, muitas vezes,

partilha de saberes e sentimentos. Sugar e Sugar (2002) defendem a ideia de

que os jogos são um espaço privilegiado na formação do indivíduo e através

destes os professores podem observar o comportamento social dos alunos.

Jogando, a criança entende que tem que cumprir regras, que todos os jogos

têm regras e que se não as cumprir o jogo não resulta. A criança tem que

saber tomar decisões, deve empenhar-se para alcançar a vitória e, se não o

conseguir, saber perder e aprender a melhorar. El-Shamy (2001), afirma que

todo o jogo, por mais simples que seja, envolve etapas fundamentais para a

aprendizagem social do indivíduo. Permite o relacionamento social regrado,

a compreensão e interiorização de algumas regras de conduta; auxilia o

desenvolvimento do pensamento cognitivo, assim como a coordenação

físico-motora, adaptando-se às capacidades físico-mentais dos aprendentes.

Os jogos, adequados à idade e maturidade dos alunos, são actividades que

despertam a sua atenção e motivação, implicam o trabalho com colegas,

encorajando a aprendizagem através do contacto com os outros. Servem

para ensinar o desportivismo e a honestidade e ajudam as crianças a

partilhar e a esperar pela sua vez, a ganhar e a perder, assim como a

importância de cumprir as regras.

46

3 - O JOGO NO CURRÍCULO

APRENDIZAGENS, OBJECTIVOS E RESULTADOS

Sendo no nosso trabalho atribuído especial enfoque à metodologia do

jogo, importa começar por defini-lo, interrogando-nos sobre a eficiência

desta ferramenta, utilizada por tantos educadores e que, de acordo com a

nossa experiência enquanto professora de Inglês no 1º CEB, tão eficaz se tem

revelado na aprendizagem dos alunos.

Se pesquisarmos a definição de jogo no Random House Dictionary, ou

no Oxford History of Board Games, citados por El-Shamy, (2001:7),

encontraremos a seguinte definição:

«a competitive activity involving skill, chance, or endurance played

according to rules.» No Oxford History of Board Games, David Parlett

escreve que «a formal game (…) is a contest to achieve an objective».

O jogo é uma actividade competitiva, que envolve capacidades,

paciência e regras. Há algo de universal em jogar um jogo, algo que apela a

todos nós. Há um prazer em jogar, que resulta do envolvimento, da

interacção com os outros jogadores, da competição que decorre do jogo e da

construção de competências. Todos estes factores, em conjunto, contribuem

para tornar a aprendizagem divertida. O prazer de jogar leva as pessoas a

aprender e reforça as aprendizagens. O jogo pode ser muito gratificante,

pois, à medida que jogamos, aumentamos os nossos conhecimentos e as

nossas capacidades. Se o jogo nos motivar, somos totalmente absorvidos por

este, levando-nos a querer jogar mais e melhor. Isto não significa que este

seja a resposta para todos os males da aprendizagem, mas é, de acordo com

Sugar e Sugar (2002), uma excelente ferramenta para envolver o aluno e

consolidar a aprendizagem. Os jogos são jogados no contexto de um mundo

imaginário, fechado, onde todos começamos como iguais, com o mesmo

tempo e recursos para atingir o objectivo. É importante relembrar que cada

jogo é um mundo de fantasia, com as suas regras próprias e esforços para

vencer de acordo com estas. A noção de que o jogo é um mundo à parte,

47

onde os resultados não são necessariamente iguais aos da vida real, é aceite

por todos. A fantasia dos jogos é muitas vezes posta de parte quando se trata

de jogos em sala-de-aula, mas pode ser um factor muito importante no seu

sucesso. Os jogos podem oferecer a cada um uma perspectiva dos seus

hábitos, rotinas e das suas tendências para pensar, sentir e agir em

determinadas formas. Muitos jogos simples, de papel e lápis, quase não

usam fantasia e são bastante bem sucedidos. Num jogo, nem sempre agimos

como agiríamos na vida real; agimos de acordo com as regras. Um jogo faz

muito mais do que apenas ocupar o nosso tempo ou fazer com que o tempo

passe de uma forma agradável. Um jogo realmente bom absorve-nos por

completo, fazendo-nos esquecer o tempo e o lugar em que nos encontramos.

Talvez seja a combinação de regras, equipamento, tempo, conteúdo e

elementos de fantasia que confere a sensação de “estar noutro mundo”,

desafiando a nossa imaginação e tornando os jogos tão apelativos. A

propósito desta questão Barbeiro (1998:15), citando Fillioud et al. (1981)

afirma que «O jogo é libertador, corresponde à expressão de uma

necessidade profunda, inerente à natureza humana, no mesmo plano que

o sonho, do qual é, por assim dizer, o equivalente acordado».

Em contextos informais, costuma dizer-se que, actualmente, é difícil

ensinar. É difícil manter os alunos interessados e motivados. O esforço faz

parte da aprendizagem de uma nova língua e numa faixa etária como aquela

sobre a qual se debruça o nosso trabalho, o jogo ajuda e encoraja o aluno a

aprender e a manter interesse nas suas aprendizagens. Para além disso, o

jogo também ajuda o professor a criar situações de aprendizagem

interessantes para os alunos. Os jogos não devem ser encarados como uma

metodologia a utilizar apenas em dias de mau tempo ou nas últimas aulas de

cada período. Devem ser encarados como uma metodologia eficaz na

aprendizagem dos alunos e, consequentemente, devem ser adoptados pelos

professores como prática corrente nas suas aulas. Pouco a pouco o jogo tem

vindo a ser integrado nas práticas dos professores, o que há cerca de 10

48

anos atrás não ocorria. A obrigação escolar não englobava o jogo,

tomando-o como supérfluo, como perda de tempo, como um desvio face

aos objectivos a alcançar; hoje em dia pretende-se que, ao transpor o

jogo para o processo de ensino e aprendizagem, os professores tentem

basear a sua pedagogia em métodos mais activos, numa descoberta do

mundo das crianças. As crianças têm necessidade de jogar e isso deve ser

tido em conta na sua formação. O jogo deve ser um meio para atingir a

aprendizagem, pelo que as suas actividades devem ser orientadas

segundo os objectivos que se pretende atingir. O jogo disfarça o carácter

penoso associado ao trabalho e algumas das suas características

possibilitam a sua adequação à sala-de-aula. A existência de regras torna

possível recriar no jogo regras e conhecimentos que se pretende que os

jogadores adquiram ou pratiquem. Quando o jogo termina, pretende-se que

subsistam ganhos para a aprendizagem.

Barbeiro (1998: 20) parafraseia Wallon (1965), ao afirmar que o

jogo constitui uma suspensão de «obrigações, necessidades e disciplinas

habituais da existência».

Os jogos na sala de aula têm muitas vantagens e são o veículo ideal

para aprender. Contudo, existem ainda algumas resistências quando se ouve

a frase “vamos jogar um jogo”. Muitas pessoas consideram ainda que jogar é

um desperdício de tempo e alguns professores evitam o jogo por pensarem

que os podem catalogar como pouco profissionais. Nem sempre, porém, a

aprendizagem tem de ser árdua, aborrecida, lenta ou sossegada. Da mesma

forma, jogar não tem necessariamente que estar associado a expressões

como “trivial” ou “brincadeira”. É possível jogar um jogo que, não sendo

inútil, seja divertido. É possível jogar um jogo que é, ao mesmo tempo,

divertido e instrutivo. Serão estes os jogos que devem ser utilizados em sala

de aula.

Alguns professores baseiam a sua relutância em usar jogos na sala de

aula no factor “competição” que os jogos muitas vezes envolvem. Este factor

49

tem que ser cuidadosamente abordado, para que, por um lado, não ofusque a

aprendizagem, nem, por outro, elimine o factor de diversão. Quando a

competição faz parte do jogo e este é devidamente conduzido, torna-se um

factor positivo na aprendizagem. José (1987: 79) afirma que «o espírito da

competição é parte intrínseca da natureza humana e é um dos estímulos

para o crescimento físico e intelectual dos jovens».

Existe também a conotação de os jogos serem para crianças, embora

esta ideia tenha vindo a perder importância ao longo dos tempos. Os jogos

podem envolver e motivar alunos de todas as idades. O jogo é universal,

apela a todos, envolve o jogador, que interage com os outros e compete,

aumentando as suas competências. O jogo é um processo educativo tão

poderoso que a aprendizagem ocorrerá espontaneamente. Apesar deste

reconhecimento, a sua inclusão no currículo é ainda problemática, devido à

resistência por parte de alguns professores.

Nesse sentido, parece-nos importante o que diz Barbeiro

(1998:138), quando afirma que:

«O contributo do jogo torna-se tanto mais efectivo quanto se

encontrar fundado na consciência por parte do professor das

relações que activa. A sua reflexão permite-lhe seleccionar um

determinado jogo ou então adaptá-lo, reformulá-lo, criá-lo».

Aprender através do jogo envolve os alunos e motiva-os a interagir

com o tema que está a ser trabalhado. Esta interacção leva os jogadores a

mostrar a sua compreensão do tópico, numa competição amigável entre os

vários jogadores. Durante o jogo, os jogadores põem em prática as suas

capacidades de comunicação e colaboração, seguindo instruções, assim

como as suas capacidades cognitivas, tentando resolver o problema e pensar

criticamente. Os jogos são uma forma activa de envolver os alunos na

aprendizagem, de os “manter em bicos dos pés”, sempre interessados. Os

jogos a pares, ou em equipas, dão aos alunos a oportunidade de criar laços

entre si, parte importante da experiência escolar. Os jogos podem ser usados

50

para introduzir tópicos, rever informação ensinada previamente ou para

terminar uma aula.

Em síntese, consideramos que os professores devem levar os seus

alunos a aprender brincando e devem ter em conta o facto de, actualmente,

competirem com um mundo de entretenimento, de distracções, em que o

melhor programa de educação parece ser o que incorpora uma mistura de

fantoches, histórias, desenhos animados, jogos e música. Enquanto pais e

professores, devemos tentar encontrar formas de envolver as crianças na

aprendizagem. A aprendizagem deve ser encarada como um meio para

atingir um fim, que, consoante a selecção das metodologias, pode ser

bastante lúdica.

Ao incluir um jogo na planificação, o professor deve ter em

consideração vários aspectos: a planificação, a organização, o ambiente

envolvente e os objectivos de aprendizagem. Se, por um lado, o jogo envolve

um certo grau de espontaneidade, por outro, tem que ser devidamente

preparado. Esta preparação não impede, contudo, que haja alguma margem

de manobra para a realização de ajustes necessários no decorrer do próprio

jogo. Ao apresentar um jogo novo, o professor não tem a certeza de quais

serão as potenciais respostas dos alunos, mas as suas necessidades, ideias e

interesses deverão ser valorizadas. O professor deve enfatizar a importância

da independência, da tomada de decisões, do facto de o aluno de ser capaz

de controlar a sua própria aprendizagem e de assumir responsabilidades.

O jogo é visto como o contexto ideal, no qual as crianças podem

aprender, praticar e desenvolver as suas competências através da interacção

com o grupo. É também um contexto importante para encorajar o

desenvolvimento da língua e a interacção social. Ao nível do

desenvolvimento da língua, o jogo permite aos alunos comunicar, usar

linguagem descritiva; ao nível da interacção social, permite-lhes fazer parte

da turma, ver-se como parte de um todo, partilhar competências e aprender

com os outros. É através do desenvolvimento das suas ideias, do exercício da

51

escolha, que as crianças beneficiam mais do jogo. Ao tomar decisões, as

crianças melhoram a sua autonomia, razão pela qual, no decorrer do jogo o

professor deve encorajar a criança a ser independente. Para isso, as crianças

têm que adquirir previamente as ferramentas necessárias para pensar e

aprender, estratégias de socialização e cooperação. Contudo, por vezes, a

falta de maturidade das crianças leva-as a desinteressarem-se ou a conduzir

o jogo para uma área que o professor não tinha previsto. Nesses casos, o

professor deve tentar direccionar o jogo e as respostas dos alunos no

sentido da aprendizagem. Nem tudo no jogo é livre e natural e alguns

comportamentos são considerados disruptivos, pelo que devem ser

controlados e, sempre que possível, eliminados.

Para os alunos mais jovens as descobertas têm que ter significado,

estes têm que ser capazes de relacionar os novos conhecimentos com os

seus conhecimentos prévios. A aprendizagem é um processo deliberado e as

crianças têm que estar conscientes do que estão a fazer.

Outro factor importante a ter em consideração é o objectivo do jogo,

ou seja, “o que é que o professor quer que os alunos aprendam com o jogo?”

Todos os jogos têm um objectivo e é importante que este esteja bem

definido. Todo o conceito de competição envolve medidas de alguma espécie

e o reconhecimento do que constitui a vitória. Uma das primeiras perguntas

que se levanta quando apresentamos um novo jogo é “Como vencemos?”.

Esta questão é importante para os jogadores e a resposta nem sempre é

evidente. Enquanto os jogadores jogam e tentam vencer, deve haver um

mecanismo de pontuação, para que estes possam reconhecer o seu

progresso e para que se possa definir vencedores e vencidos. O objectivo de

qualquer jogo utilizado na sala de aula deve ser facilmente percebido por

todos antes de se começar a jogar e deve ser ajustado à idade e ao nível

escolar dos alunos.

Cabe ao professor o papel fundamental de adequar o jogo aos

objectivos de aprendizagem que se pretende que sejam atingidos em cada

52

nível e de analisar a pertinência das relações activadas por cada jogo. Para

que exista competição é necessário o estabelecimento de objectivos bem

definidos, os quais são perseguidos pelos participantes, de forma a serem

encontrados os vencedores. O facto de existirem objectivos a atingir leva

os jogadores a empenharem-se, tentando alcançar os melhores

resultados.

4 - O PAPEL DO JOGO NA APRENDIZAGEM DE UMA LE

Entre os objectivos do ensino do Inglês no 1º Ciclo consta o

desenvolvimento de competências linguísticas, pelo que é essencial que os

alunos recorram à utilização da língua, sempre que possível. De facto, e de

acordo com Wright, Betteridge e Buckby (1994: 10):

«Language learning is hard work. One must make an effort to

understand, to repeat accurately, to manipulate newly understood

language and to use the whole range of known language in conversation

or written composition. Effort is required at every moment and must be

maintained over a long period of time. Games help and encourage many

learners to sustain their interest and work».

Os mesmos autores (1994) afirmam ainda que o jogo deve intervir no

processo de ensino e aprendizagem, possibilitando ao aluno a descoberta da

linguagem e tornando-se uma via para experimentar o prazer associado à

utilização da mesma. Os jogos representam uma oportunidade de utilizar a

linguagem associada a uma acção, facto importante quando se trata da

aprendizagem de uma LE. Através do jogo, através de uma brincadeira

orientada, o professor conduz as crianças ao contacto natural,

despreocupado e divertido com a LE. Sendo familiares à criança, os jogos

proporcionam-lhe um contexto atractivo para a utilização do Inglês.

Enquanto jogam em Inglês, as crianças associam o prazer e o divertimento à

língua, o que desenvolve uma atitude positiva relativamente à aprendizagem

da nova língua. Nos jogos, o Inglês torna-se um recurso necessário, usado

53

para atingir um objectivo. Os jogos trazem o Inglês para o mundo real da

comunicação, gerando esperanças, medos, excitação, e encorajando o

pensamento estratégico. Nos jogos, devido a uma necessidade real de

comunicação, os vários elementos recorrem a palavras e estruturas na LE.

Tal como acontece na aquisição da LM, na aprendizagem de uma LE as

crianças criam a sua própria forma de representar o mundo e de interiorizar

o novo código linguístico, para comunicarem entre si.

Os jogos proporcionam, igualmente, uma oportunidade para a

repetição, o que noutro contexto se poderia tornar enfadonho. A

aprendizagem de uma língua requer repetição – ouvir e repetir várias vezes;

no contexto do jogo esta repetição é desejável e agradável. Contudo, o jogo

não deve ser aplicado como uma estratégia totalmente independente de

ensino e aprendizagem; deve sim ser aplicado em relação estreita com as

outras estratégias. Os jogos têm que ser linguisticamente simples e

relevantes e devem permitir o uso automático da LE, como forma de

satisfazer exigências comunicativas. Os objectivos e os conteúdos

programáticos abordados pelo jogo têm que ser relevantes, para que a

criança sinta que o esforço por si empreendido será recompensado.

5 - O JOGO E OS DIFERENTES TIPOS DE APRENDIZAGEM

El-Shamy (2001) afirma que um dos elementos a ter em conta quando

escolhemos o jogo a usar é o público-alvo. De acordo com a autora, o jogo

deve reflectir os seus conhecimentos e capacidades e devem ser tidos em

conta aspectos como o nível dos alunos, o número de jogadores e o tamanho

da turma. O jogo deve ser adaptado, de acordo com a idade dos alunos, no

que respeita ao desafio do material utilizado, à complexidade das regras e ao

tempo do jogo. De acordo com as ideias defendidas por El-Shamy (2001)

julgamos poder considerar que o mesmo jogo pode ser utilizado com

diferentes turmas, mas deve sofrer adaptações conforme se trate de uma

turma do 1º ou do 4º ano de escolaridade. Os alunos do 1º ano estão ainda a

54

passar pela fase de aquisição da escrita e da leitura, enquanto que os alunos

de 4º ano já adquiriram as competências de base, sendo capazes de ler e/ou

escrever, caso seja necessário. O mesmo se passa com turmas de diferente

natureza. Numa turma com menos alunos será, à partida, mais fácil para o

professor controlar os seus alunos. Numa turma grande, a possibilidade de

existirem distúrbios ou conflitos é maior, pelo que o professor poderá

recorrer mais a jogos dentro da sala de aula, num ambiente a que os alunos

já estão habituados, numa tentativa de minimizar os conflitos.

El-Shamy (2001) refere ainda que, ao contrário do que seria

expectável, os jogos não servem apenas para os mais pequenos.

Independentemente da idade, há sempre alunos mais ou menos interessados

em jogar. O interesse suscitado pelo jogo vai depender, em larga escala, da

adequação deste à aprendizagem dos alunos. Nos casos em que os alunos

sentem menos apetência para o jogo, o professor pode optar por jogos a

pares ou em grupo. A postura do professor relativamente à eficácia do jogo

na aprendizagem do conteúdo em questão também influencia a aceitação

dos alunos. Cabe ao professor o papel fundamental de adequar o jogo aos

objectivos de aprendizagem que se pretende que sejam atingidos em cada

nível e de analisar a pertinência das relações activadas por cada jogo. O

professor deve conhecer vários jogos, ter reflectido acerca deles e dos seus

ingredientes e ser capaz de os alterar, de forma a originar diferentes

actividades, que promovam novas e diversas aprendizagens.

O ingrediente essencial de um jogo é o desafio. No entanto, o desafio

não tem, necessariamente, que ser sinónimo de competição. O professor

deve tentar utilizar jogos que se baseiem na cooperação e na procura de

soluções em conjunto. Os jogos criam uma ligação cognitiva entre os alunos

e o tema, sendo os momentos de sucesso sinónimo de partilha e triunfo e os

erros sinónimo de que o aluno está a ser levado ao seu limite. É

precisamente este o objectivo do professor – seleccionar jogos que

permitam aos seus alunos aprender ao mesmo tempo que se divertem e

55

testam os seus limites, esforçando-se cada vez mais. Os jogos podem

promover aprendizagens muito importantes. O aluno, agora jogador, é

desafiado com uma informação, sendo “forçado” a procurar a resposta. Esta

transferência de conhecimentos ocorre várias vezes, ao longo do jogo.

Quando a resposta certa é alcançada, a aprendizagem é imediatamente

reforçada. O “momento de aprendizagem” é importante e muitas vezes

permanece muito depois de o jogo ter terminado.

O professor deve fazer um esforço, na tentativa de ajustar as suas

metodologias aos diferentes tipos de aluno. Assim, e no que respeita ao jogo,

Sugar e Sugar (2002) dividem a “potencial audiência” em três grupos com

necessidades distintas: graus K-2, graus 3-6 e graus 7-8, sendo que K

significa Kindergarten (jardim de infância). Nos dois primeiros níveis, as

crianças estão ainda a ser introduzidas ao “modo de jogar”, como seguir as

regras e mostrar comportamento social adequado. Até aos seis anos as

crianças podem ser um pouco egocêntricas, pelo que o jogo em grupo

poderá ser um desafio. Nesta fase, os alunos aprenderão que os jogos têm

um vencedor, como ser um bom vencedor e como ser um bom vencido, e que

existe uma componente de desafio inerente ao jogo. No Grau 7-8, o jogo

pode ser uma forma de familiarizar os alunos com ordens orais e escritas,

resolução de problemas, individualmente ou em grupo e desenvolvimento

da capacidade de pensar criticamente. Empregando a divisão de Sugar e

Sugar (2002), consideramos que as crianças objecto de estudo da nossa tese

se enquadram sobretudo no grau 7-8, pois os alunos que frequentam o 1º

CEB normalmente têm idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos.

Consideramos que, à partida, os alunos do 1º CEB serão já capazes de

compreender as noções base de jogo, vencedor, vencido, desafio e

colaboração. Naturalmente, os alunos do 1º ano poderão ter mais

dificuldade no cumprimento das regras e na aceitação da derrota do que os

alunos dos anos posteriores. A este propósito, Sugar e Sugar (2002), citam

56

Grinder (1989), já referido acima, e a forma como este divide os alunos em

visuais, auditivos, kinesthetic, internos ou externos.

Grinder (1989: 4) afirma que «as educators we hope to successfully

address all three types of learners each day and with each lesson».

• Os alunos “visuais” reagem favoravelmente a estímulos visuais,

como imagens, quadros, vídeos, fichas de trabalho e jogos que envolvam

fichas. Para estes alunos, jogos que envolvam fichas e sequências visuais

permitem-lhes criar uma experiência visual que pode ser aproveitada para

reforçar as ideias presentes na actividade.

• Os alunos “auditivos”, com memória auditiva mais desenvolvida,

reagem favoravelmente à música, a histórias orais, a leituras em voz alta, a

canções, debates na sala de aula e a diálogos. Para estes alunos, instruções

orais nos jogos e jogos de pergunta-resposta criam uma experiência

memorável.

• Os alunos “sensoriais” - Kinesthetic learners - necessitam de um

contacto físico com os materiais. Muitos alunos gostam de experiências

tácteis, preferem envolver-se no processo de aprendizagem através do

toque e interacção, como normalmente ocorre durante o jogo. O movimento

físico que ocorre em alguns jogos é importante para estes alunos, assim

como a socialização requerida em jogos de competição.

. Os alunos internos são aqueles que preferem trabalhar sozinhos

para criar um produto ou uma solução. O jogo proporciona a estes alunos o

tipo de reflexão que é necessária para dar as melhores respostas.

. Os alunos externos são muito sociais e bem sucedidos em trabalhos

de grupo, que envolvam interacção. Trabalham bem com os outros e são

líderes naturais. Os jogos proporcionam-lhes uma forma de sociabilizar, ao

mesmo tempo que testam as suas capacidades de liderança.

Esta classificação de Grinder (1989) remete-nos para a já referida

Teoria de Aprendizagem Acelerada, ou Accelerated Learning, na medida em

que, de acordo com esta teoria, o professor deve ensinar tendo em conta o

57

facto de as pessoas processarem o pensamento, comunicarem e aprenderem

através dos cinco sentidos – visão, audição, tacto, olfacto e paladar e de cada

um de nós ter um sentido mais apurado, pelo que diferentes alunos reagirão

a diferentes estímulos.

6 - RAZÕES PARA SE ENSINAR ATRAVÉS DO JOGO

El-Shamy (2001) apresenta um conjunto de razões que explicam a

importância dos jogos na aprendizagem de uma LE. Baseando-nos na nossa

reflexão e experiência pessoal, de entre as razões apresentadas por El-

Shamy (2001), seleccionámos as que consideramos mais importantes, as

quais estão numeradas, de modo a facilitar a leitura.

1- Os jogos são práticos e dinâmicos.

Hoje em dia os alunos precisam de experimentar por eles próprios, de

praticar. Os jogos permitem-lhes interagir directamente com a informação e

permitem ao professor observar o comportamento dos alunos em tempo

real. Os jogos envolvem movimento e desafio contínuo, podendo abordar

diferentes temas ao mesmo tempo e envolvendo diferentes actividades.

Envolvem surpresa e desafio, trazem cor, som, movimento para a sala de

aula, envolvendo os sentidos dos alunos.

2- Os jogos são divertidos.

Os jogos proporcionam um elemento de diversão aos programas

educativos. Podem ser totalmente envolventes, gerar entusiasmo através de

desafios que têm um objectivo, uma meta. Para além disso, os jogos são

relaxantes, podendo eliminar o stress e a preocupação que o acto de

aprender cria. Os jogos podem tornar a aprendizagem agradável, até mesmo

quando o conteúdo é pouco interessante para o aluno.

58

3- Os jogos proporcionam escolhas para as aulas.

Por vezes os professores sentem-se restringidos aos conteúdos. Os

jogos permitem-lhes adicionar variedade e flexibilidade às suas aulas,

proporcionando-lhes diferentes modos de apresentar o material aos alunos.

4- Os jogos proporcionam uma área segura para praticar.

Os jogos proporcionam repetição, reforço de informação-chave e

feedback. Os jogadores podem errar e aprender com os erros; podem

facilmente errar e tentar de novo. A segurança e a estrutura das regras deste

mundo imaginário levam-nos a testar o nosso conhecimento, a explorar

diferentes ideias. No contexto do jogo, os jogadores ficam mais à vontade

para experimentar novas ideias e comportamentos.

5- Os jogos permitem que o professor controle a aprendizagem e

proporcionam feedback imediato.

Enquanto os jogadores jogam o jogo, o educador pode vê-los jogar,

observando as suas acções, a forma como evoluem e ouvindo os seus

comentários e críticas. Para além disso, os alunos querem e precisam de

feedback para as suas aprendizagens e os jogos permitem ao professor

fornecê-lo aos alunos no decorrer do jogo.

6- Os jogos tornam a aprendizagem concreta.

Os jogos são uma oportunidade para analisar e interpretar os novos

conceitos, criando discussão e diálogo. Os jogadores podem brincar com as

ideias e conceitos, de uma forma divertida e envolvente. Os jogos utilizam os

conteúdos aprendidos até ao momento e permitem aos jogadores usá-los.

Podem envolver os jogadores em experiências realistas e complexas,

permitindo-lhes melhorar os seus conhecimentos sobre os novos conceitos.

Os jogadores podem usar o conhecimento, experimentar novos

comportamentos e aplicar novas ideias. É importante ligar acção à

informação, tornando a aprendizagem concreta, e é isso que o jogo

proporciona.

59

7- Os jogos ensinam a jogar dentro das regras, encorajam a

socialização e promovem o trabalho em equipa.

Os jogos reforçam, cada vez mais, a ideia de que a única forma de

ganhar é jogar dentro das regras. Muitas vezes os jogos juntam os alunos em

equipas, treinando as regras de trabalho em conjunto, como equipa e

sublinhando o valor da colaboração. Os jogos sublinham a importância do

indivíduo e da equipa, dando aos alunos a oportunidade de trabalhar

sozinhos e depois juntando a oportunidade de partilhar as suas ideias em

pequenos grupos. Permitem-lhes ainda socializar, pois têm que ouvir a

opinião dos outros e discutir os assuntos. Um bom educador deverá

certificar-se que esta socialização acontece.

8- Os jogos promovem e reforçam as multitarefas.

Os jogos permitem aos alunos, individualmente ou em grupo,

experimentar e praticar actividades variadas. A pressão criada pelo jogo

ajuda-os a construir soluções para os problemas e promove a criatividade.

9- Os jogos podem nivelar o campo de aprendizagem.

Por vezes existem diferenças nos níveis de conhecimento e de

experiência dos alunos. Os jogos podem ajudar a equilibrar estas diferenças,

uma vez que as regras se aplicam a todos os jogadores e todos têm

oportunidade de vencer. O jogo torna os jogadores iguais.

10- Os jogos promovem o desenvolvimento das capacidades de

test-taking e tornam a aprendizagem mais apelativa.

Os jogos são uma excelente prática para testar os alunos, muito

devido ao desafio inerente a esta actividade. Os jogos podem atenuar a má

reputação que a aprendizagem por vezes tem, por serem divertidos. Para

pessoas cuja educação se baseou num processo de memorização,

culminando num teste, encontrar um programa educativo que envolva a

agradável experiência de jogar pode ser uma boa surpresa e um grande

60

alívio. Quanto mais agradável for a experiência de aprendizagem, maiores

serão as probabilidades de sucesso da aprendizagem.

11- Os jogos demonstram que a energia da sala de aula pode ser

positiva.

Muitas vezes o professor tem de lidar com a energia que as crianças

trazem para a sala de aula. A utilização de jogos reforça a ideia de que a

energia é um factor positivo e que a sala de aula é um bom local para a

gastar.

12- Os jogos podem ser usados para introduzir material novo ou

mais difícil

Os jogos têm uma incomparável facilidade em introduzir material

novo ou mais difícil. Durante o jogo, aquilo que poderiam ser “questões

insolúveis”, tornam-se apenas “parte do jogo”.

A tabela abaixo apresentada, adaptada de El-Shamy (2001:39)

sumaria as características que consideramos que um jogo em sala-de-aula

deve englobar e que devem ser tidas em conta pelo professor, para que do

jogo resultem aprendizagens significativas.

Tabela 1: Características que um jogo em sala-de-aula deve englobar

Para que um jogo em sala-de-aula seja eficaz o professor deve construí-lo,

aplicá-lo e conduzi-lo de forma a que este:

Esteja de acordo com os objectivos da aprendizagem.

Vá ao encontro das necessidades e gostos dos alunos.

Ensine às crianças as competências e as estratégias necessárias para se

tornarem independentes, escolherem e decidirem.

Repita e reforce informação-chave.

Adicione variedade às aulas.

Proporcione feedback imediato.

61

Proporcione uma prática segura das novas competências, desenvolvendo a

compreensão dos novos conceitos.

Proporcione desafios lógicos e significativos.

Estimule sentidos e construa confiança.

Promova contacto social e trabalho em grupo.

Promova a imersão em experiências realistas e complexas.

Promova análise, interpretação e reflexão.

De facto, é fácil para as crianças ficarem encantadas com alguns jogos.

Alguns jogos podem ser irresistíveis – interessantes, divertidos, envolventes,

mas também podem ser um desperdício de tempo, se não forem

devidamente enquadrados. Um programa baseado apenas em jogos não é

uma boa ideia, tal como não é uma boa ideia saltar de um jogo para outro na

mesma aula. Pode tornar-se aborrecido e dar a ideia de que não se preparou

devidamente a aula. Isto acontecerá facilmente se os jogos não forem

devidamente introduzidos e se não estiverem directamente relacionados

com os objectivos da aprendizagem. Uma vez tomada a decisão de usar um

jogo, é tempo de escolher qual o jogo que mais se adequa aos objectivos que

se pretende atingir. Devemos, em primeiro lugar, reflectir como será o jogo

ideal, tendo em conta que encontrar o jogo ideal é uma utopia. Para que um

jogo seja eficaz, é necessário ter em conta factores como o que constitui um

bom jogo, qual a sua relação com os objectivos do programa e quais as

necessidades do público-alvo.

Assim, perante o exposto, são vários os factores que podem conduzir

ao sucesso ou insucesso de um jogo em sala-de-aula. Caberá aos professores

de Inglês no 1º Ciclo a tarefa de ajustar cada jogo ao seu público-alvo. Para

que esta tarefa se torne mais fácil, apresentamos o que consideramos ser

uma ferramenta importante que os professores poderão utilizar como

prática corrente nas suas aulas. Ajustando os parâmetros que consideramos

mais relevantes, apresentamos uma tabela adaptada de El-Shamy (2001)

62

que inclui algumas das características acima citadas e que poderá ser

utilizada pelos professores, como forma de avaliar cada jogo.

Tabela 2: Grelha de avaliação de um jogo em sala-de-aula

Tabela adaptada de El-Shamy (2001;126)

Grelha de avaliação de um jogo em sala-de-aula

4- excelente; 3- bom; 2- satisfaz; 1 - fraco

Parâmetros 4 3 2 1

1- Adequa-se ao conteúdo e objectivos de

aprendizagem.

2- Apresenta resultados visíveis na aprendizagem

dos alunos.

3- Repete e reforça informação-chave.

4- Proporciona feedback imediato.

5- Proporciona uma área segura para novas

práticas e novas competências.

6- Desenvolve novos conceitos.

7- Proporciona desafios lógicos e significativos.

8- Promove o diálogo e a discussão.

9- Promove o contacto social e o trabalho em

grupo.

10 – Adequa-se ao espaço e tempo disponíveis.

11 – É desafiante, envolvente e de acordo com as

necessidades e gostos dos alunos.

12 – Funciona com um número flexível de alunos.

.

63

7 - JOGAR UM JOGO NA SALA DE AULA

CHECKLIST – ANTES E DEPOIS DO JOGO

O cuidado e preocupação de um professor relativamente ao jogo

podem ter um grande impacto nos seus resultados e na forma como os

alunos aprendem. O objectivo do professor deverá ser usar um jogo de sala

de aula que seja útil e eficaz. Neste sentido, parece-nos importante o que diz

Barbeiro (1998), quando este afirma que ao escolher cuidadosamente um

jogo para a sua aula o professor estará a contribuir para que essa

combinação ocorra. Quando despende o tempo e esforço necessários para

que o jogo decorra da melhor forma possível, está a assegurar a melhor

combinação possível.

Tal como referimos anteriormente, existem muitos factores a ter em

consideração na selecção de um jogo a usar na sala de aula, os quais estão

referenciados nas Orientações Programáticas – a sua adequação ao

programa ministrado, as qualidades do jogo em si, as aprendizagens que daí

decorrerão e aspectos relacionados com as capacidades, necessidades e

preocupações do professor. Todos estes factores são úteis na selecção do

jogo, assim como na análise e avaliação de um jogo previamente usado.

Sugar e Sugar (2002) referem que, depois de seleccionado o jogo, o

professor deve geri-lo habilmente, de forma a tentar obter dele o máximo de

aprendizagens possível. Preparar o jogo, seguir as suas instruções,

apresentá-lo correctamente, conduzi-lo enquanto decorre, pode ajudar a

reforçar as aprendizagens e, assim, tirar um maior proveito do jogo. É

também importante que o professor tenha a capacidade de alterar as suas

actividades, tornando-as um jogo para além de criar os seus próprios jogos.

Nem sempre os jogos existentes, pré-concebidos, se adaptam aos objectivos

que se pretende alcançar, pelo que é necessário que o professor produza os

seus próprios materiais. Para criar uma simples wordsearch, por exemplo, o

professor tem que escolher um tópico, inserir as palavras na vertical,

horizontal ou diagonal, adicionar um elemento de competição, regras e

64

tempo limite. Para usar um jogo com flashcards, deve decidir qual é o

conteúdo a abordar, produzir os flashcards, escolher como os vai utilizar,

quais são as regras e o tempo limite. Criar um jogo de tabuleiro é muito

semelhante a criar um jogo com cartões. O professor terá que criar um

tabuleiro, os cartões com perguntas, um dado, escrever as regras e explicar

aos alunos o que é necessário para vencer.

Em sintonia com El-Shamy (2001), consideramos que, chegado o

momento de jogar, é necessário cumprir três passos – introduzir o

jogo/prepará-lo, pô-lo em prática e analisá-lo. Os três passos são

importantes e dependem uns dos outros. Um jogo que seja devidamente

introduzido e preparado correrá de forma fluida e será muito mais fácil de

gerir. Um jogo que corra bem e que seja bem supervisionado torna mais fácil

a sua análise.

Antes do jogo - Para que a aprendizagem seja efectiva é necessário

ter em conta alguns aspectos:

Conhecer o Jogo - É necessário que o professor conheça o jogo. Quanto

mais familiarizado o professor estiver com o jogo, melhor. Na primeira vez

que o professor puser em prática um jogo, deve tentar experimentá-lo antes,

se possível pedindo a alguém que o jogue, para que lhe seja possível

observar os jogadores. Depois de jogado e de observar o comportamento

dos jogadores, o professor deve falar com eles, perguntando-lhes se

compreenderam os objectivos do jogo antes de começarem a jogar. Caso

estes respondam negativamente, o professor deve repensar a sua explicação,

tentando esclarecer o que ficou pouco claro e deve também tentar prever

problemas que possam surgir durante o jogo.

Ter todos os materiais necessários - O professor deve planear

antecipadamente o jogo, preparando os materiais necessários e tentando ter

sempre mais exemplares do que os necessários.

65

Preparar a sala antecipadamente - Sempre que possível, o professor

deve preparar o espaço onde o jogo irá decorrer, sobretudo se for necessário

mudar a disposição das mesas ou ligar algum aparelho. O professor deve

despender algum tempo a organizar a sala, a verificar se os acessórios que

pretende utilizar estão operacionais, a separar os alunos por equipas, caso

seja esse o caso e a distribuir os materiais necessários. De seguida, deve

explicar as regras aos alunos. A apresentação do jogo é muito importante;

não se resume ao acto de explicar aos alunos o que vão fazer, mas é uma

oportunidade de conduzir o jogo na direcção certa, para que os resultados

sejam positivos. Na apresentação, o professor deve adoptar uma postura

positiva, motivando os alunos, eliminando medos e apreensões e explicando

o jogo o mais claramente possível.

A atitude do professor perante o jogo é crucial. A expectativa afecta os

resultados. A certeza de que do jogo decorrerão aprendizagens deve ser

evidente. Uma postura positiva e entusiástica pode resultar numa melhor

resposta por parte dos alunos ao jogo. Por essa razão, o professor deve

apresentar o jogo com energia e entusiasmo, influenciando os alunos a

participar mais activamente neste.

Dividir a turma em grupos - Nas situações em que é necessário dividir

a turma em grupos levantam-se várias questões. À pergunta sobre quantos

alunos deve ter cada grupo corresponderá uma resposta condicionada ao

tipo de jogo e tempo disponível. Grupos pequenos permitem ao professor

reforçar as aprendizagens de uma forma mais centrada em cada aluno,

enquanto que em grandes grupos a energia e as distracções requererão mais

controlo directo por parte do professor. Nestes casos, o professor terá que

decidir se irá envolver a turma inteira no jogo ou se dividirá a turma em

pequenos grupos.

Quando os jogos são usados na sala de aula, qualquer número de

jogadores pode jogar. Embora alguns jogos pareçam mais adaptáveis a

66

grupos mais pequenos, o desafio de jogar convida ao envolvimento de

grupos mais alargados de participantes. O fazer parte de uma equipa é um

elemento importante na experiência do jogo – envolve os alunos num

ambiente de aprendizagem colaborativa. As equipas permitem reduzir a

ameaça que alguns alunos podem sentir durante o período de pergunta-

resposta. Se um aluno responder mal individualmente, pode sentir-se

envergonhado, ou mal preparado. Se for uma equipa a responder mal, esse

sentimento será partilhado pela equipa, misturado com um sentimento de

descoberta. Jogar em equipa também permite aos alunos perceber que nem

todas as aprendizagens têm que partir do professor.

Os jogos de tabuleiro e jogos de cartas funcionam, normalmente,

melhor com grupos pequenos, de 3 ou 5 alunos. Jogos que envolvam artes ou

actuações funcionam melhor com grupos ligeiramente maiores. Jogos de

simulação podem envolver grupos de 8 ou mais jogadores, ou até a turma

inteira. Jogos mais interactivos, mais físicos, principalmente os que

decorrem no exterior, normalmente funcionam melhor com grupos de 8 a

20 alunos. Regra geral, quanto maior for o grupo, mais tempo demorará o

jogo. Em relação ao número de jogadores, Sugar e Sugar (2002:13)

defendem que:

«Teams usually function better with an odd number of players, such

as three, five, or seven. Using three players allows all players to get

involved in the responses and other aspects of game play.»

Jogos no exterior normalmente resultam bem em grande grupo, pois

permitem aos alunos brincar e correr, favorecendo as aprendizagens dos

alunos que atrás definimos como “sensoriais”. Um bom exemplo é o “Simon

says”, jogo em que os alunos têm que seguir as instruções do professor e

tocar numa determinada cor ou imitar uma acção ou animal. Jogos como o

“Bingo” ou “Wordsearches” funcionam melhor a pares, ou em pequenos

grupos, pois exigem mais concentração e silêncio e normalmente decorrem

na sala-de-aula.

67

Outro aspecto que deve ser tido em consideração quando se divide os

alunos em grupo são as suas personalidades. Um grupo que misture

diferentes personalidades será uma boa opção. Não se deve agrupar todos os

alunos tímidos e sossegados num grupo, tal como não se deve agrupar todos

os alunos extrovertidos e faladores noutro. Devemos também tentar agrupar

alunos com diferentes níveis de conhecimento, de forma a equilibrar as

várias equipas.

As instruções - Depois de apresentado o jogo, é tempo de explicar o

seu objectivo e de apresentar as instruções. El-Shamy (2001) considera que

pode ser útil apresentar as instruções num poster, que se coloca na área do

jogo e que se utiliza à medida que se vai explicando o jogo. O jogo deve ser

apresentado passo a passo, tentando fazê-lo da forma mais simples possível.

As instruções devem abranger:

- O tipo de jogo e o tema abordado. O professor deve dizer aos alunos

que tipo de jogo vão jogar e dar-lhes uma ideia do tema abordado.

- Regras. As regras do jogo conduzem as acções e limitam o

comportamento dos alunos.

- Papéis e responsabilidades. Os jogadores devem saber qual é o seu

papel no jogo e o que devem fazer.

- O objectivo e o que é necessário para vencer. Os jogadores devem

saber qual é o objectivo principal do jogo e o que têm que fazer para vencer.

Esta informação deve-lhes ser apresentada de uma forma entusiasta.

- Onde e quando jogar. Os jogadores devem saber onde e quando vão

jogar.

- Recursos e tempo. Os jogadores devem saber quais os materiais que

vão utilizar e quanto tempo têm para jogar. O professor deve apresentar

exemplos dos materiais, mostrar-lhes partes do jogo – tabuleiros, cartas – e

explicar-lhes quanto tempo têm para concluir o jogo.

68

- O papel do professor. Os jogadores devem perceber qual é o papel do

professor no jogo. Em muitos jogos o papel do professor é passivo, pelo que

os jogadores devem perceber que o professor não é um jogador e que, uma

vez iniciado o jogo, afastar-se-á e deixará os jogadores responsáveis pelo seu

próprio jogo. Nestes casos, o professor manter-se-á afastado, mas numa

posição que lhe permita observar e controlar os acontecimentos.

- Quando termina o jogo. Os jogadores têm que saber e perceber

claramente quando termina o jogo. O professor deve explicar

cuidadosamente, dando exemplos quando se justificar.

Depois do jogo - Quando o jogo terminar, a análise estiver feita e a

aprendizagem tiver ocorrido o professor deverá fazer uma pequena pausa.

Esta pausa permitirá aos alunos absorver a aprendizagem e fazer a transição

para a próxima actividade.

Recolher os materiais e preparar a continuação da aula - O professor

deve recolher os materiais utilizados no jogo o mais rapidamente possível,

de forma a evitar distracções desnecessárias. Se fez algumas alterações na

sala para o jogo, deve colocar as coisas no seu lugar original. Se o jogo

envolveu a produção de algum material, o professor deve expô-lo na sala,

pois servirá como uma lembrança do jogo e das aprendizagens que daí

decorreram.

Reflexão

De acordo com Sugar e Sugar (2002), perspectiva com a qual nos

revemos, terminado o jogo, é importante reflectir para estabelecer e reforçar

as aprendizagens. Infelizmente, este é, de todos os passos que envolvem o

jogo, aquele ao qual os professores atribuem menos importância e,

consequentemente, aquele em que despendem menos tempo. A reflexão não

tem, necessariamente, de ser longa e demorada. Deve demorar o tempo

necessário para se analisar a forma como o jogo decorreu, enfatizando as

aprendizagens, mais do que repetindo o que aconteceu. Uma análise efectiva

69

deve abranger o que teve lugar, discutir a importância dos acontecimentos e

levar os alunos a aplicar o que aprenderam. A conclusão do jogo deve ajudar

os alunos a reflectir sobre as suas experiências, de forma a desenvolver

aprendizagens significativas. Independentemente do número de vezes que o

professor utilizar um jogo, os resultados serão sempre diferentes, variando

de turma para turma e até mesmo dentro da própria turma, em diferentes

situações.

Apontar os dados que recolheu através da observação do jogo - O

professor deve apontar os dados que recolheu através da observação do

jogo, para que numa próxima ocasião possa recorrer a essas notas e

melhorar aspectos que correram menos bem.

8 - O PAPEL DO PROFESSOR

Sugar e Sugar (2002) e El-Shamy (2001) abordam ainda o papel do

professor ao aplicar um jogo em sala-de-aula. De acordo com os autores, o

jogo é multifuncional, proporciona contextos de aprendizagem ricos e

variados, revela as necessidades, medos e ansiedades das crianças e permite

ao professor avaliar o seu desenvolvimento global. O jogo pode revelar

aspectos da criança que noutros contextos não seriam visíveis. Permite ao

professor avaliar em que nível os seus alunos estão, pois, ao observar os

alunos a jogar, o professor consegue obter informações importantes sobre

as suas aprendizagens e desenvolvimento. O jogo permite ao professor

avaliar como é que os seus alunos trabalham em grupo, cooperam,

negoceiam, se concentram, interagem, exploram e resolvem os problemas. É

importante que seja dada às crianças uma oportunidade e um espaço para

decidirem por elas próprias e para dominarem a sua aprendizagem. O jogo

permite-lhes expressar as suas ideias, motivando-os a aprender. Uma vez

introduzido o jogo, apresentadas as instruções e as regras, os alunos estão

prontos a começar, sendo que, muitas vezes, o professor adoptará um papel

70

passivo. Ao longo do jogo, o professor pode assumir diferentes papéis:

promotor, observador e/ou participante.

Enquanto promotor, o professor assume o papel fundamental de

proporcionar aos alunos um contexto estimulante, equilibrado e com

multiplicidade de actividades. Estes aspectos permitirão aos alunos ser

independentes, responsáveis, tomar decisões e controlar as suas

aprendizagens, ao mesmo tempo que exploram, experimentam e se

descobrem a si próprios.

O professor pode também assumir o papel de observador,

ferramenta essencial no diagnóstico e avaliação da actividade. Uma

observação cuidadosamente preparada permite ao professor interpretar o

comportamento dos alunos, tentando perceber as suas acções e avaliando a

efectividade do jogo na aprendizagem dos alunos.

Por fim, o professor pode assumir um carácter colaborativo e ao

mesmo tempo didacta, pois supervisiona o jogo, tentando conduzir os

alunos para a aprendizagem, mas colaborando, permitindo-lhes explorar as

suas descobertas.

Apesar da tentativa de afastamento e da relutância em intervir

durante o jogo, muitas vezes o professor tem que o fazer. Quando as crianças

estão a falhar, sentindo-se frustradas e desmotivadas, o apoio do professor é

fundamental. O professor deve ser um facilitador da aprendizagem, cujas

intervenções servirão de suporte para a aprendizagem das crianças. No

entanto, é preciso que o professor tenha consciência de que a utilização de

um jogo em sala de aula pode acarretar problemas e, nesse caso, é preciso

ter capacidade para lidar com eles. Os problemas podem decorrer de um

sem número de combinações de variantes, dos participantes, do ambiente

envolvente, do jogo, ou até do professor.

A avaliação envolve três ferramentas – observação, interacção e

revisão. Se o professor não tiver tempo suficiente para observar será mais

difícil avaliar a aprendizagem dos alunos. O tempo de revisão é importante

71

para fornecer feedback, mas é necessário que as crianças se lembrem do que

fizeram e do que aprenderam, o que nem sempre acontece. As crianças nesta

faixa etária têm memórias pouco fiáveis, pelo que precisam de experiências

que sejam memoráveis, a partir das quais possam construir significados.

Piaget, citado por Bennett, Wood e Rogers (1997), defende que as crianças

não conseguem adquirir facilmente novas competências e conhecimentos se

estes forem incompatíveis com a sua experiência e compreensão prévios.

De acordo com o Modelo Socio-Construtivista de Vygotsky, as crianças

constroem activamente o seu conhecimento, com grande ênfase na

interacção social, comunicação e interdependência no desenvolvimento do

pensamento e da aprendizagem. Para Vygotsky (1978), citado por Gonçalves

(2003), o ensino e a aprendizagem ocorrem na transição entre dois níveis de

desenvolvimento – o nível actual de desenvolvimento – o que a criança

consegue fazer sem ajuda – e o nível potencial de desenvolvimento – o que a

criança consegue alcançar com ajuda de outro com mais conhecimentos. A

transição entre os dois níveis é conhecida como ZPD – Zone of Proximal

Development. Através do ZPD, as crianças adquirem conhecimentos,

competências, ferramentas para pensar e aprender, tal como o professor,

pelo que a relação de aprendizagem é recíproca e não meramente didacta.

Para Vygotsky, o jogo cria situações de desenvolvimento proximal,

pois permite às crianças agir de forma diferente da forma como agiriam

numa situação de não jogo. Para Vygotsky, o que distingue o jogo é a sua

acção imaginária, o uso de motivação e o exercício da vontade.

Os professores podem criar ZPDs através dos ambientes de jogo,

recursos e oportunidades que surjam. O papel do professor é multifacetado

e proactivo e inclui estimular a linguagem e capacidades de conversação,

ajudar as crianças a criar, reconhecer e resolver problemas, e a ultrapassar

desafios cognitivos, para além de modelar comportamentos. O professor

deve ajudar as crianças a estabelecer relações entre as áreas de

aprendizagem e a experiência.

72

A teoria socio-construtivista defende um papel proactivo para todos

os professores de crianças pequenas, que, para além de proporcionar

ambientes estimulantes tenham em conta a criação de condições para

ensinar e aprender através dos jogos. As crianças têm que reconhecer as

relações entre o jogo e a aprendizagem, para se tornarem jogadores e alunos

bem sucedidos. Se as crianças conseguirem adquirir conhecimentos e

construir significados através do jogo, podemos afirmar que este alcançou os

seus objectivos.

O esquema que apresentamos em seguida, adaptado de Bennett,

Wood e Rogers (1997:36) resume os vários papéis que o professor pode

adoptar ao jogar um jogo na sala-de-aula.

Figura 1: O papel do professor num jogo em sala-de-aula

73

9 - A COMPETIÇÃO ENTRE JOGADORES

De acordo com Barbeiro (1998), é fácil perceber porque é que os

jogos são uma ferramenta de aprendizagem. Há dois elementos que se

destacam – a competição e o prazer. Toda a gente gosta de jogar. Toda a

gente gosta de vencer. No entanto, num bom jogo há mais do que apenas

vencer. Há o prazer de jogar, que deriva do grau de envolvimento, da

interacção com os outros jogadores, da competição que existe durante o

jogo, da construção de capacidades e do crescimento de competências.

Todos estes factores trabalham em conjunto para tornar a aprendizagem

divertida. O prazer de jogar atrai as pessoas, leva-as a aprender, e reforça as

aprendizagens.

Tal como nos diz El-Shamy (2001), todos gostamos de vencer, mas há

mais num bom jogo para além de vencer ou perder. Há mais ainda do que

apenas ter prazer em jogar. Juntamente com o prazer de jogar, há muitas

vantagens em jogar na sala de aula. Podemos de facto aprender jogando. Os

jogos são divertidos e dinâmicos. Com um jogo aplicado na sala-de-aula,

devidamente pensado e preparado, podemos repetir e reforçar conceitos-

chave, proporcionando uma prática das novas competências, deixando os

jogadores analisar, interpretar, discutir e reflectir sobre a nova informação –

tudo isto num contexto de desafio, estimulante e agradável. Os jogos

proporcionam aos alunos a oportunidade de praticar, de tornar as suas

aprendizagens concretas, dando-lhes tempo para interiorizar as novas

aprendizagens.

Para que um jogo seja envolvente e motivante, é necessário haver

algum desafio. Um jogo não deve ser facilmente vencível. As capacidades, a

sorte e a paciência são elementos que conferem desafio ao jogo, embora

devamos evitar que os jogos que utilizamos na nossa sala-de-aula dependam

unicamente da sorte, uma vez que o que se pretende é que haja um

desenvolvimento de capacidades.

74

Independentemente do motivo por que se joga (por diversão, para

aprender ou por competição), todos os participantes têm um papel básico -

são jogadores. Todos começam em igualdade e todos recebem os mesmos

pontos e penalidades ao longo do jogo. Contudo, o uso de competição num

cenário de aprendizagem nem sempre é visto como algo desejável. O mau

uso da competição deve ser tido em conta por quem promove o jogo. Um

jogo não deve ser posto em prática centrado apenas e sobretudo na

competição. El-Shamy (2001) apresenta a ideia de que todos nós já

experimentámos um pouco de “competição amigável” num dado momento

da nossa vida, que depois se transformou em tudo menos amigável.

Inevitavelmente, encontraremos pessoas que tiveram esta experiência e que

agora se retraem perante a perspectiva de jogar um jogo. É importante

haver competição num jogo, pois esta servirá como um desafio, estimulando

os alunos a aprender, mas o professor deve controlar o nível de competição.

Tal como noutras actividades na sala de aula, também nos jogos será

necessário dar particular atenção a alguns alunos. Se tivermos alunos

sossegados, tímidos, mais introvertidos, teremos que envolvê-los na

actividade com perguntas directas ou pedindo-lhes que comentem as

observações de outros alunos. Existe também a opção de os colocar a

trabalhar com colegas mais extrovertidos. Poderá também acontecer que um

aluno adopte uma postura negativa relativamente ao jogo, criticando e

queixando-se. Se este comportamento não se alterar à medida que o jogo

decorre, o professor deverá tomar uma atitude. Uma boa opção é perguntar

aos outros jogadores se têm a mesma opinião. Poderemos também

deparamo-nos com jogadores super-competitivos, que ficam de tal forma

obcecados com a vitória que não permitem aos outros jogadores participar,

desfrutar e aprender. Normalmente, os outros jogadores conseguem lidar

com este tipo de comportamento, que deve, então, ser discutido no final do

jogo. Se este tipo de comportamento subsistir e prejudicar o jogo, o

75

professor deve pará-lo, chamar a atenção do aluno e pedir-lhe que mude o

seu comportamento.

Barbeiro (1998) afirma ainda que o meio envolvente pode influenciar

o sucesso de um jogo. Se não houver espaço suficiente na sala de aula, o

professor deve, antecipadamente, procurar outro lugar. Se o espaço

escolhido para jogar, que nos pareceu adequado, se revelar um problema, o

professor deverá parar o jogo, fazer os ajustes necessários e então retomá-

lo. Se o jogo se tornar demasiado barulhento, prejudicando as aulas que

decorrem nas outras salas, o professor deve pará-lo e pedir aos alunos que

se acalmem.

76

CAPÍTULO IV

ESTUDO EMPÍRICO

77

1 – INTRODUÇÃO

Neste capítulo apresentamos os resultados obtidos através da

aplicação do inquérito por questionário aos professores de Inglês a leccionar

nas escolas do 1º Ciclo de Évora, no ano lectivo de 2009-2010.

Procedemos a uma breve explanação da razão de escolha da

metodologia aplicada, de carácter misto, assim como uma caracterização da

amostra inquirida. Descrevemos os procedimentos metodológicos

adoptados e a forma como se procedeu ao tratamento dos dados. No final,

procedemos a uma reflexão sobre as conclusões retiradas da análise do

questionário e em que medida estas foram de encontro aos objectivos de

investigação inicialmente previstos.

2 – OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO E DESENHO METODOLÓGICO

De entre os objectivos apresentados no início desta investigação e

que pretendíamos alcançar com este trabalho, relacionam-se directamente

com a aplicação do inquérito por questionário os seguintes:

Análise dos pontos de vista dos professores a leccionar Inglês no 1º

Ciclo do Ensino Básico no ano lectivo 2009/2010, através de inquérito, no

que respeita as metodologias de ensino e aprendizagem mais utilizadas, a

sua adequação à faixa etária em questão e as que estes consideram mais

eficazes na aprendizagem dos alunos.

Tendo em conta os objectivos acima descritos, parece-nos que a

metodologia mais adequada é uma metodologia de carácter quantitativo.

Desta forma, a nossa investigação é composta por uma parte de orientação

mais qualitativa, aquando da revisão da literatura, complementada com

contributos quantitativos, nomeadamente na análise dos questionários.

Assim, este estudo centrou-se na recolha de opiniões dos professores

a leccionar Inglês no ano lectivo 2009/2010, em Évora, acerca das diferentes

metodologias de ensino e aprendizagem utilizadas no ensino do Inglês no 1º

Ciclo do Ensino Básico, na sua pertinência e adequação ao nível de ensino

78

em questão e nas que estes consideram que melhor resultam em termos de

aprendizagem. Esta recolha de dados e de exemplos é complementada com a

recolha de informações entre os professores que se ocuparam do ensino

desta língua no 1º Ciclo, em Évora, no ano lectivo de 2009/2010. Desta

amostra fizeram parte todos os professores a leccionar nas Escolas de 1º

Ciclo do distrito de Évora, nomeadamente nos agrupamentos nº1 (EBI/JI da

Malagueira), nº2 (EB 2/3 André de Resende), nº 3 (EB 2/3 de Santa Clara) e

nº4 (EB 2/3 Condes de Vilalva).

3 – INSTRUMENTOS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE DADOS

O processo de selecção de uma técnica de recolha de dados que

garanta a fiabilidade do estudo não é simples e directo. Todas as técnicas de

recolha de dados possuem vantagens e limitações, cabendo ao investigador a

selecção da técnica que melhor se adeque ao estudo em questão. No caso do

nosso estudo, tal como referimos atrás, optámos por uma metodologia de

cariz misto, na medida em que nos propusemos conhecer e analisar a

realidade dos professores de Inglês a leccionar no ano lectivo 2009/2010,

em Évora, no que respeita as metodologias que estes utilizam, assim como

investigar a pertinência das metodologias utilizadas no ensino do Inglês

como LE nas escolas do 1º CEB, à luz da legislação em vigor. Cientes das

vantagens e desvantagens do uso do inquérito por questionário, que mais à

frente passaremos a explorar, considerámo-lo adequado aos objectivos da

nossa investigação. A selecção deste instrumento de recolha e registo de

dados prendeu-se com o facto de considerarmos que este nos permitiria

obter informação concreta sobre a realidade em estudo e tratá-la de forma a

comparar os elementos apurados. Neste sentido, parece-nos importante o

que dizem Ghiglione e Matalon, (1997: 2, 14) quando afirmam que

«Realizar um inquérito é interrogar um determinado número de

indivíduos tendo em vista uma generalização. (…) Trata-se de inquirir

visando uma generalização: não são os indivíduos pessoalmente que

79

nos interessam (…) mas a possibilidade de retirar do que eles dizem

conclusões mais vastas.» e ainda que «É igualmente preciso mencionar

(…) que o inquérito é uma técnica relativamente simples de aplicar. (…)

O inquérito pode ser realizado em praticamente qualquer lugar».

Sendo o inquérito por questionário preenchido sem ser necessária a

presença física do seu autor, foi possível recolher um grande número de

dados para o estudo. Os inquiridos preencheram o inquérito de forma

independente, seguindo as instruções, sem sentirem constrangimentos no

que respeita o tempo fornecido para o preenchimento e com a garantia de

que seria mantido o anonimato. Uma vez garantido o anonimato dos

inquiridos, acreditamos que estes tenham respondido com maior liberdade

às questões.

As respostas foram pré-codificadas, para que os inquiridos

escolhessem as suas respostas entre as opções que lhes foram propostas.

Dada a natureza objectiva deste instrumento e a limitação das respostas,

obteve-se uma maior uniformização dos dados recolhidos e um menor risco

de distorção. As respostas dos inquiridos foram passíveis de comparações

precisas e quantificáveis, o que foi de encontro à vertente quantitativa do

nosso estudo. Contudo, o inquérito por questionário também apresenta

algumas limitações, que foram tidas em conta no nosso estudo. Ghiglione e

Matalon (1997: 15-16) referem algumas dessas limitações, ao afirmar que:

«As condições práticas de realização destes inquéritos impõem (…) um

certo número de pressões: os questionários devem, muitas vezes, ser

concebidos rapidamente, (…) as perguntas devem ser pouco

numerosas, (…) devem também ser simples não só para que todas as

pessoas inquiridas as compreendam facilmente (…) mas também para

que o seu sentido e o seu alcance sejam imediatamente evidentes para

os leitores não especialistas.»

Contudo, «Esta simplicidade na concepção do questionário e na análise

das respostas não implica que os resultados obtidos não tenham

interesse».

80

O facto de termos optado por estruturar o questionário sob a forma de

perguntas de resposta essencialmente fechada poderia diminuir a riqueza

da informação recolhida, uma vez que os inquiridos não poderiam fazer

comentários nem apreciações adicionais, sendo obrigados a responder

dentro dos parâmetros de uma escala. A forma que encontrámos para

atenuar esta limitação foi incluir no questionário uma questão semi-aberta.

Nos questionários podem ser utilizados três tipos de questões: as de

resposta fechada, as de resposta aberta e as semi-abertas ou semi-fechadas.

As primeiras têm como vantagem a obtenção de resultados facilmente

comparáveis e catalogáveis. Contudo, a informação recolhida é de âmbito

restrito, não permitindo aos inquiridos expressar opiniões de forma livre. As

questões de resposta aberta dão oportunidade aos inquiridos de expressar

as suas opiniões, os seus pontos de vista usando as suas próprias palavras.

Este tipo de questionário, mais flexível, fornece informação mais rica, mas o

tratamento dos dados é mais complexo e demorado. As questões semi-

abertas ou semi-fechadas estão previamente categorizadas, mas deixam uma

opção em aberto, o que facilita a análise de dados e permite ao inquirido não

optar por nenhuma das hipóteses pré-estabelecidas, dando a sua própria

resposta. No nosso questionário e tendo em conta o objectivo do nosso

estudo, utilizámos respostas de tipo fechado, por serem mais

objectivamente tratáveis e comparáveis e por o seu preenchimento se

afigurar mais rápido. Apenas a última questão é semi-aberta, permitindo aos

inquiridos escolher mais do que uma opção e especificar a frequência da sua

utilização. Os resultados da aplicação do questionário foram objecto de

tratamento estatístico, sob a forma de gráficos. O sistema de perguntas foi

organizado de forma a apresentar coerência e a configurar-se de forma

lógica, já que segundo Ghiglione e Matalon (1997: 15-16):

«Uma vez definido o problema e equacionadas as hipóteses, logo que

nos tenhamos assegurado que é de facto o inquérito (…) que constitui o

81

método mais adequado, e depois de explicitados os seus objectivos

específicos, a primeira questão a colocar é: “Quem inquirir?”».

Através do nosso inquérito por questionário, pedimos aos professores

que descrevessem as metodologias que mais utilizam e que as classificassem

por ordem de preferência e de efectividade na aprendizagem dos seus

alunos. A preferência foi expressa em 5 graus – sendo 1 a mais utilizada e 5 a

menos utilizada.

82

4 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra usada para a aplicação dos questionários consistiu nos

professores a leccionar Inglês enquanto Actividade de Enriquecimento

Curricular no ano lectivo de 2009/2010, na cidade de Évora. Esta amostra,

constituída por vinte e três inquiridos, não pretende ser representativa das

opiniões de todos os professores a leccionar Inglês neste nível de ensino,

mas pretende contribuir para uma análise da problemática em que este

estudo se insere.

Para uma melhor compreensão da população inquirida, apresentamos

em seguida, na Tabela nº3, alguns elementos que consideramos relevantes.

Tabela 3: Caracterização dos Professores de Inglês como Actividade de

Enriquecimento Curricular em Évora, no ano lectivo de 2009/2010.

TOTAL DE INQUIRIDOS 23

GÉNERO MASCULINO 5

FEMININO 18

GRUPO ETÁRIO ENTRE OS 25 E OS 30 ANOS 22

ENTRE OS 31 E OS 35 ANOS 1

FORMAÇÃO

ACADÉMICA

LICENCIATURA EM ENSINO DE

PORTUGUÊS E INGLÊS

18

LICENCIATURA EM RELAÇÕES

INTERNACIONAIS

1

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DE

INFÂNCIA

1

LICENCIATURA EM TURISMO

2

SEM LICENCIATURA 1

EXPERIÊNCIA COMO

DOCENTE DE INGLÊS NO

1º CICLO

MENOS DE UM ANO COMPLETO 5

UM ANO COMPLETO 3

DOIS ANOS COMPLETOS 5

TRÊS OU MAIS ANOS COMPLETOS 5

83

Gráfico 1: Distribuição da amostra por género

Da amostra fizeram parte 23 professores, dos quais 18 eram

professores do género feminino (78%) e 5 eram professores do género

masculino (22%).

Gráfico 2: Distribuição da amostra por grupo etário

Relativamente ao parâmetro da idade, apenas considerámos dois

grupos. O grupo etário com maior representatividade era o dos 25 aos 30

anos (96%). Apenas um professor se situava no grupo com idades

compreendidas entre os 31 e os 35 anos, representando 4% do total.

22%

78%

Distribuição da Amostra por Género

Masculino

Feminino

96%

4%

Distribuição da Amostra por Grupo Etário

Entre os 25 e os 30 anos

Entre os 31 e os 35 anos

84

78%

5%4%

9% 4%

Distribuição da Amostra pela Formação Académica

Licenciatura em Ensino

de Português e Inglês

Licenciatura em Relações

Internacionais

Licenciatura em Educação de Infância

Licenciatura em Turismo

Sem Licenciatura

Gráfico 3: Distribuição da amostra pela formação académica

No que respeita à formação académica dos inquiridos, verificamos

que esta era bastante homogénea. Do total de 23 inquiridos, 78%. tinham o

mesmo tipo de formação - uma licenciatura em Ensino de Português e Inglês,

9% possuíam uma Licenciatura em Turismo, 5% possuíam uma Licenciatura

em Relações Internacionais e 4% possuíam uma licenciatura em Educação

de Infância. 4% dos inquiridos não possuíam qualquer licenciatura, o que se

justifica pelo facto de a legislação actual portuguesa permitir que se leccione

Inglês no 1º Ciclo sem se ser licenciado em ensino ou até mesmo sem se ser

licenciado, sendo suficiente que se possua um curso de Inglês de escolas

como Cambridge ou Oxford, facto referido aquando da contextualização da

problemática na sociedade portuguesa.

85

28%

16%28%

28%

Experiência como docentes de Inglês no 1º Ciclo

Menos de 1 ano

completo

Um ano completo

Dois anos completos

Três ou mais anos

completos

Gráfico 4: Experiência como docentes de Inglês no 1º Ciclo

Dos 23 inquiridos, 28% possuíam menos de um ano completo de

experiência enquanto professores de Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico,

16% possuíam um ano completo de serviço, 28% possuíam dois anos

completos e os restantes 28% possuíam três ou mais anos completos. Tendo

em conta o facto de o Programa de Generalização do Inglês no 1º Ciclo ter

sido aplicado no ano lectivo de 2005-2006, o ano lectivo em que foi aplicado

o questionário (2009/2010) foi o 5º ano de implementação desta medida. Os

resultados obtidos comprovam que apenas 28% dos 23 inquiridos

desempenhavam esta função há três ou mais anos, facto justificável pela

instabilidade de condições em que os inquiridos trabalham, factor que

referimos no capítulo II da nossa investigação.

86

5 – ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS

Depois de elaborados os questionários, procedemos à inscrição no site

MIME – Monitorização de Inquéritos em Meio Escolar, para validação dos

mesmos. Efectuámos o preenchimento de um formulário on-line, explicando

os objectivos do questionário, como é que este iria ser aplicado e quem seria

inquirido. Depois de analisar o questionário, a entidade competente (MIME)

considerou que este reunia as condições necessárias para ser aplicado, pelo

que o validou. Depois da validação, informámos a coordenadora da AEC de

Inglês em Évora do trabalho que pretendíamos realizar e dos nossos

objectivos, pedindo-lhe autorização para a aplicação dos questionários.

Obtida a autorização da coordenadora, os questionários foram aplicados,

directamente e em formato de papel, tendo sido entregues em mão pela

própria investigadora, a qual forneceu previamente todas as explicações

consideradas úteis. Os questionários foram devolvidos directamente à

investigadora, numa reunião de professores. A adesão dos professores

inquiridos foi de 100%, sendo que todos entregaram os questionários

preenchidos, o que nos permitiu obter uma amostra que consideramos

significativa do universo em estudo. Os questionários foram preenchidos

anonimamente pelos professores, a quem garantimos a confidencialidade

das suas respostas, o que pensamos ter servido para garantir que os

inquiridos respondessem com mais liberdade às questões apresentadas.

Nenhum inquirido apresentou dúvidas em relação ao modo de

preenchimento dos questionários, pelo que julgamos que todos terão

compreendido as questões que lhes foram colocadas e respondido com

sinceridade às mesmas.

Dos três tipos de questões passíveis de ser utilizadas num inquérito

(resposta fechada, aberta ou semi-aberta), optámos por utilizar sobretudo

questões de resposta fechada. A razão desta nossa escolha prendeu-se com a

necessidade de obter dados concretos sobre as metodologias que os

professores a leccionar Inglês em Évora no ano lectivo de 2009/2010

87

utilizavam nas suas aulas e sobre os seus pontos de vista relativamente a

quais consideravam mais eficazes na aprendizagem dos alunos. Optámos por

um questionário curto (com quatro questões fechadas e uma questão semi-

aberta), que nos pareceram suficientes para atingirmos os nossos objectivos

Nas primeiras duas questões era pedido aos inquiridos que

numerassem as suas respostas de 1 a 5, de acordo com as metodologias que

mais utilizavam nas suas aulas e de acordo com as que consideravam mais

eficazes na aprendizagem dos alunos. Assim sendo, as primeiras duas

questões eram gerais e tinham como objectivo auscultar as opiniões dos

professores no que se refere às várias metodologias (fichas de trabalho,

canções, rimas, jogos, trabalhos manuais), quer no que respeita as suas

preferências, quer no que respeita a sua frequência de utilização.

A terceira e quarta questão diziam respeito à metodologia do jogo. Na

terceira questão, era perguntado aos professores com que frequência

utilizavam jogos, em geral, nas suas aulas. Na quarta e última questão, semi-

aberta, era pedido aos professores que assinalassem os tipos de jogos que

utilizavam com mais frequência nas suas aulas e que especificassem a

frequência com que utilizavam cada um.

Tendo consciência das limitações do questionário aplicado,

consideramos que este era simples e directo, sendo as questões facilmente

compreendidas pela amostra inquirida. De facto, consideramos que o

questionário poderia ter sido mais desenvolvido se a amostra inquirida não

apresentasse uma tão curta experiência na docência do Inglês no 1º CEB.

Apesar de curto, o questionário permitiu-nos atingir os objectivos propostos

e analisar os pontos de vista dos professores de Inglês a leccionar em Évora,

no ano lectivo de 2009/2010.

88

6 – TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Após a colheita de dados, foi feita a organização e tratamento de todo

o material recolhido, de modo a analisar e interpretar os dados obtidos. Os

questionários permitiram analisar uma multiplicidade de dados, tendo sido

efectuada uma análise descritiva e qualitativa a cada questão. Através desta

recolha de dados foi possível investigar as opiniões dos professores no que

se refere às várias metodologias utilizadas nas suas aulas, quer no que

respeita as suas preferências quer no que respeita a frequência de utilização

que atribuem a cada metodologia.

A análise dos dados recolhidos foi efectuada de acordo com as

técnicas recomendadas para este instrumento de investigação, através de

gráficos. Para cada apresentação de dados estatísticos foi efectuada uma

reflexão teórica, de forma a assegurar uma ligação entre os diversos dados

obtidos ao longo do trabalho.

O nosso objectivo não foi o de generalizar os resultados obtidos a toda

a população mas sim o de encontrar dados que permitam fornecer alguns

contributos para a descrição e análise de uma realidade específica.

Procurámos, assim, analisar as escolhas dos professores de Inglês a

leccionar em Évora, à data da aplicação do inquérito e que, por isso,

responderam de acordo com as suas práticas. Depois de aplicados os

questionários e de analisados os dados obtidos, e ainda que os resultados

apresentados não sejam generalizáveis, consideramos que o nosso objectivo

com este estudo foi atingido, na medida em que os resultados apresentados

reflectem a opinião de profissionais a desempenhar a função docente à data

da aplicação do inquérito.

89

7 – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A análise apresentada incide nos dados recolhidos através dos

questionários efectuados aos professores a leccionar Inglês no 1º CEB, em

Évora.

Na questão nº1 foi pedido aos inquiridos para Numerar as

metodologias, de acordo com a sua preferência, sendo 1 para a

metodologia que mais utilizavam nas suas aulas e 5 para a metodologia que

menos utilizavam. As opções apresentadas foram Fichas de trabalho,

Canções, Rimas, Jogos e Trabalhos manuais. Os resultados obtidos

encontram-se patentes no gráfico 5.

Gráfico 5: Metodologias mais utilizadas nas aulas de Inglês

no 1º Ciclo, em Évora

Dos 23 inquiridos, 48% responderam que o jogo é a metodologia que

mais utilizavam, sendo que nenhum dos inquiridos colocou esta metodologia

em último lugar. Os resultados obtidos com esta questão podem indicar que,

tal como afirma Strecht-Ribeiro (2005), o jogo é uma estratégia lúdica muito

importante e que, por isso, pode ser considerado como uma das bases do

ensino do Inglês no 1º CEB. Em 2º lugar surgem as Fichas de Trabalho,

primeira opção de 30% dos inquiridos. A metodologia que surge mais vezes

em 5º lugar são as rimas.

90

Na questão nº 2 - Colocar por ordem de preferência as

metodologias, de acordo com a sua influência na aprendizagem dos

alunos, os inquiridos assinalaram novamente de 1 a 5 as opções

apresentadas - 1 para a metodologia que consideravam mais eficaz na

aprendizagem dos alunos e 5 para a metodologia que consideravam menos

eficaz na aprendizagem dos alunos.

Gráfico 6: Metodologias mais eficazes na aprendizagem dos alunos

Segundo os resultados patentes no gráfico nº 6, verificamos que a

maioria dos docentes - 52% - considerava o jogo a metodologia mais eficaz

na aprendizagem dos alunos, seguido das canções, com 26% e das Fichas de

Trabalho com 18%. Apenas 4% seleccionaram como metodologia mais

eficaz as rimas e nenhum dos inquiridos seleccionou os trabalhos manuais.

Se atentarmos nos resultados obtidos no gráfico nº 5, verificamos que

apesar de as rimas terem sido a única metodologia que nenhum professor

colocou em 1º lugar, 4% dos professores que afirmaram utilizá-la

consideravam-na eficaz.

18%

26%

4%

52%

0%

Metodologias consideradas mais eficazes na aprendizagem dos alunos

Fichas de Trabalho

Canções

Rimas

Jogos

Trabalhos manuais

91

Na questão nº 3 pedimos aos inquiridos que assinalassem Com que

frequência utilizavam jogos nas suas aulas. As opções apresentadas

foram “Todas as semanas / Uma vez por mês / Apenas uma vez por período,

no final / Raramente ou Nunca”. Nesta questão, os inquiridos teriam que

assinalar com um X a opção que mais se adaptasse à sua realidade.

Gráfico 7: Frequência da utilização de jogos nas aulas

Como podemos observar no gráfico nº 7, dos 23 inquiridos, 20

responderam que utilizavam o jogo como recurso pedagógico nas suas aulas

“Todas as semanas”, totalizando 87% dos inquiridos. Dois responderam

“Uma vez por mês” e apenas um respondeu “Raramente”. Perante estes

resultados, julgamos poder afirmar que o jogo é utilizado habitualmente

como método de ensino e aprendizagem, pelo grupo de professores

inquirido.

92

Na questão nº4, semi-aberta, solicitámos aos professores que

assinalassem os tipos de jogo que utilizavam com mais frequência nas

suas aulas e que especificassem a frequência com que utilizam cada tipo de

jogo.

De entre os vários tipos de jogos existentes e passíveis de serem

usados nas aulas de Inglês, apresentámos como opções: Jogos de imagens /

Jogos de memória / Jogos de True/False / Jogos de adivinhas / Jogos de

palavras / Jogos de cartas ou de tabuleiro / Jogos de sons e Jogos de

pergunta/resposta.

A análise desta questão assume um carácter mais abrangente e mais

difícil de analisar, na medida em que os inquiridos poderiam assinalar vários

tipos de jogos (todos, se assim o entendessem), e especificar a frequência

com que utilizavam cada tipo de jogo. Por esta razão, decidimos apresentar

os resultados em dois gráficos distintos. No primeiro gráfico englobámos os

jogos que obtiveram um maior número de respostas.

Consideremos então os resultados obtidos, patentes no gráfico 8.

Gráfico 8: Tipos de jogos usados com mais frequência

nas aulas de Inglês

Dos 23 inquiridos, 22 responderam que usavam com frequência jogos

de Palavras, o que corresponde a uma percentagem de 96%. 21

responderam que utilizavam com frequência jogos de Imagens, o que

corresponde a uma percentagem de 91%. 16 assinalaram jogos de Memória

96%

91%

70%

70%

Tipos de Jogos usados com mais frequência nas aulas de Inglês

Jogos de Palavras

Jogos de Imagens

Jogos de Memória

Jogos de Pergunta/Resposta

93

e jogos de Pergunta/Resposta, o que corresponde a uma percentagem de

70%.

Os jogos apresentados no gráfico nº 8 são, normalmente, bastante

utilizados nas aulas de Inglês, por envolverem conceitos que cativam as

crianças – imagens, palavras, o desafio da memória e o desafio da

pergunta/resposta, muitas vezes com um tempo limite, o que torna o jogo

mais aliciante.

Apesar de terem obtido valores menos representativos, consideramos

importante apresentar os dados relativos aos restantes tipos de jogos, na

medida em que também estes são utilizados em contexto de sala-de-aula,

podendo igualmente, e de acordo com o que nos diz El-Shamy (2001) ser

metodologias importantes para a aprendizagem dos alunos.

Gráfico 9: Tipos de jogos usados com menos frequência

nas aulas de Inglês

Assim, e de acordo com os resultados apresentados no gráfico nº9, 11

dos inquiridos afirmaram utilizar jogos de Cartas ou de Tabuleiro, o que

corresponde a uma percentagem de 48%, 8 afirmaram utilizar jogos de Sons

e de True/False, o que corresponde a uma percentagem de 35% e apenas 4

dos inquiridos afirmaram utilizar jogos de Adivinhas, o que corresponde a

uma percentagem de 17%.

94

Apesar de os jogos de cartas e de tabuleiro exigirem um grau de

concentração que os alunos neste nível etário normalmente ainda não

possuem, 11 dos inquiridos seleccionaram este tipo de jogo. Somos da

opinião que este número se deve ao facto de os alunos de 3º e 4º ano de

Évora jogarem a um jogo de tabuleiro desenvolvido pelos professores de

Inglês, em colaboração com a CME, denominado “Spider Game”. Os jogos de

adivinhas foram, de todas as opções apresentadas, os que obtiveram o

menor número de respostas, apenas 17%, o que julgamos ser justificável

pelo facto de os alunos neste nível etário não serem ainda capazes de

compreender ou de produzir frases completas em Inglês, sendo

normalmente capazes de produzir apenas vocabulário isolado.

8 – SÍNTESE

A investigação levada a cabo pretendeu contribuir para a análise das

práticas dos professores de Inglês a leccionar em Évora no ano lectivo de

2009/2010, no que respeita as metodologias utilizadas, o seu grau de

frequência e a efectividade que os professores consideram que estas têm na

aprendizagem dos seus alunos.

Para atingirmos os nossos objectivos e de modo a obter resultados

conclusivos, depois de adquiridos os conhecimentos científicos necessários,

procedemos à recolha de dados. Considerámos importante analisar em

primeiro lugar a amostra inquirida. O facto de a amostra consistir num

conjunto de profissionais a desempenhar a função de professor, de este se

encontrar a trabalhar no terreno, de lhe ter sido pedido que expressasse a

sua opinião, de acordo com as suas práticas e em conjunto com o facto de

termos entregue e recolhido os questionários em mão, levam-nos a

considerar que os resultados obtidos serão fiáveis. Após a análise da

amostra inquirida, verificámos que, no que respeita a formação profissional,

de um total de 23 inquiridos, quatro não possuíam habilitação para a

docência. Já no que diz respeito à experiência destes profissionais no 1º

95

Ciclo, apenas 5 possuíam três ou mais anos, o que corresponde a um quarto

dos professores inquiridos. Estes dados vão de encontro às preocupações

demonstradas quer pela APPI (2009), quer por Zenhas (2005) quando

referem que é urgente reformular a legislação, protegendo os professores e

proporcionando-lhes estabilidade, para que o ensino do Inglês no 1º CEB

seja, cada vez mais, uma medida bem sucedida.

Finda a análise da amostra inquirida, debruçámo-nos sobre os dados

obtidos através da aplicação dos questionários. Decidimos analisar as

questões individualmente porque, tal como referimos no ponto 5 deste

capítulo, para cada questão foi traçado um objectivo específico e também

por considerarmos que desta forma a leitura e compreensão dos resultados

seria mais acessível. As conclusões gerais, que retirámos da análise das

quatro questões, serão apresentadas nesta síntese.

Na questão nº1 apresentámos aos inquiridos um conjunto de

metodologias que, de acordo com a nossa experiência enquanto professora

de Inglês no 1º CEB, consideramos adequadas ao ensino de uma LE a alunos

do 1º CEB, cujas idades normalmente se situam entre os 6 e os 10 anos. As

opções apresentadas - Fichas de trabalho, Canções, Rimas, Jogos e Trabalhos

manuais – englobam as várias competências (ouvir/falar, ler/escrever) e são

adaptáveis aos vários anos (1º ao 4º), razão pela qual as seleccionámos.

Nesta questão os professores teriam que indicar qual a metodologia que

mais utilizavam nas suas aulas. O jogo – metodologia a que atribuímos

especial enfoque ao longo da nossa investigação, obteve 48% das respostas,

percentagem que consideramos bastante significativa. Contudo, tal como foi

referido anteriormente, e em sintonia com o que nos dizem Sugar e Sugar

(2002), os jogos não devem ser utilizados de uma forma pouco pensada ou

apenas no final dos períodos. O jogo deve ser encarado como uma

metodologia eficaz e deve ser utilizado em consonância com as restantes

metodologias, para a aula seja completa e instrutiva.

96

Na questão nº2 inquirimos os professores acerca das metodologias

que consideravam mais eficazes na aprendizagem dos alunos. Esta questão

surgiu do facto de nos interrogarmos se as metodologias que consideramos

mais eficazes serão aquelas que mais utilizamos nas nossas aulas. Assim,

enquanto que na questão nº 1 os professores teriam que expressar a sua

opinião sobre as metodologias que mais utilizavam, na questão nº 2 teriam

que indicar, dessas metodologias, quais as que consideravam mais eficazes.

A elaboração desta questão partiu da ideia de que existe um conjunto de

elementos que condicionam a selecção das metodologias a adoptar e nem

sempre o número de alunos, o seu comportamento, o espaço físico ou até

mesmo as condições atmosféricas permitem ao professor realizar uma

determinada actividade. Os jogos são disso um bom exemplo. Pela nossa

experiência enquanto professora de Inglês no 1º CEB julgamos poder

considerar que, numa turma muito grande, com um comportamento

barulhento e indisciplinado e numa sala pequena, um jogo pode não resultar.

Em casos como este, o professor poderá não colocar os seus alunos a jogar

tantas vezes como gostaria. No que concerne ao jogo, os resultados obtidos

na análise a esta questão parecem ir de encontro aos resultados obtidos na

questão nº 1 – 52% dos inquiridos consideravam o jogo a metodologia mais

eficaz e 48% seleccionaram-no como a metodologia mais utilizada. Contudo,

no que respeita outras metodologias a discrepância de valores é grande.

26% dos inquiridos consideravam as canções uma metodologia eficaz, mas

apenas 9% as colocaram em 1º lugar na frequência da sua utilização.

Considerando a pouca experiência que metade dos inquiridos possui,

pensamos que esta disparidade de valores se poderá prender com o facto de

os inquiridos considerarem as canções eficazes, lúdicas e interessantes, mas

não as utilizarem com muita frequência por afirmarem, em contextos

informais, como em reuniões de professores, não possuírem músicas que se

adequem a esta faixa etária e aos conteúdos programáticos abordados. No

que respeita as fichas de trabalho, apenas 18% as consideravam eficazes na

97

aprendizagem dos alunos, resultado bastante díspar quando comparado

com a questão nº2, em que 30% dos inquiridos afirmaram que esta é a

metodologia que mais utilizavam. Pensamos que esta discrepância de

resultados se justifica pelo facto de ser mais fácil aos inquiridos ter acesso a

fichas, quer através de manuais ou de sites na Internet, do que a canções ou

a jogos. Assim, embora as fichas não tenham sido consideradas a

metodologia mais eficaz, acabam por ser, de acordo com as respostas da

amostra inquirida, uma das mais utilizadas.

A questão nº 3 serviu para analisarmos a frequência com que os

professores utilizavam os jogos nas suas aulas. Os resultados obtidos foram

bastante significativos, dado que 87% dos inquiridos responderam que

utilizavam o jogo frequentemente.

Na 4ª e última questão especificámos os vários tipos de jogo que

consideramos adequados ao ensino do Inglês no 1º CEB. Tentámos englobar,

nas opções apresentadas, jogos que possam ser jogados na sala-de-aula, no

exterior, em grupo, a pares ou individualmente, e que, ao mesmo tempo,

apelem aos vários tipos de alunos referenciados por Grinder (1989) e

citados no ponto 5 do capítulo III desta investigação.

O facto de terem sido apresentadas 8 opções e de esta questão ser

semi-aberta, permitindo aos professores seleccionar várias opções, tornou a

análise um pouco mais complexa. Por forma a facilitar a leitura dos

resultados obtidos, decidimos dividir os vários tipos de jogo em dois grupos.

Assim, no gráfico nº8 englobámos os quatro jogos que obtiveram um maior

número de respostas - os jogos de palavras, de imagens, de memória e de

pergunta/resposta. Através dos resultados apresentados no gráfico nº8

verificámos que estes são os jogos que os professores tentam utilizar com

maior frequência nas suas aulas.

Os resultados apresentados no gráfico nº9 sugerem que os jogos de

Cartas ou de Tabuleiro, jogos de Sons e de True/False e jogos de Adivinhas

são os menos utilizados pela amostra inquirida. De acordo com a nossa

98

experiência enquanto professora de Inglês no 1º CEB, estes resultados não

nos surpreendem sobremaneira, pois os alunos normalmente respondem

melhor aos jogos referidos no gráfico anterior. Contudo, também estes são

importantes, podendo ser utilizados como meio de ensinar a LE no 1º Ciclo.

Em síntese, após a aplicação dos questionários e da análise dos dados

recolhidos, consideramos que os objectivos inicialmente traçados foram

atingidos. Através dos questionários pudemos investigar as metodologias

mais utilizadas pelos professores a leccionar Inglês no 1º CEB no ano lectivo

2009/2010 e analisar as que estes consideram mais eficazes na

aprendizagem dos alunos, com maior enfoque na metodologia do jogo.

Através da análise dos resultados obtidos pudemos verificar que o

jogo é a metodologia que a população inquirida mais utiliza nas suas aulas,

sendo, ao mesmo tempo, a que consideram a mais eficaz na aprendizagem

dos alunos. A esmagadora maioria dos inquiridos afirmou utilizar jogos de

vários tipos todas as semanas, o que parece demonstrar não só a crescente

importância que esta metodologia tem vindo a adquirir, como também o

facto de os inquiridos apostarem cada vez mas em promover aulas atractivas

e dinâmicas, numa tentativa de envolver os alunos na aprendizagem do

Inglês.

99

CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

100

1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

E PROPOSTAS PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS

Com o presente estudo pretendeu-se analisar a implementação do

ensino do Inglês como LE nas escolas do 1º CEB em Portugal. No Capítulo I

desta investigação contextualizámos o estudo, a sua pertinência e definimos

o problema em análise, procedemos a uma breve investigação sobre a

legislação em vigor e sobre os princípios que regem as Orientações

Programáticas para o Ensino e Aprendizagem do Inglês no 1º CEB, referindo

o papel da APPI e da DGIDC na aplicação desta medida.

No Capítulo II analisámos a importância que a implementação do

ensino do Inglês como LE nas escolas do 1º CEB em Portugal teve ao pôr em

prática conceitos que estavam já previstos no QECR, documento que visa

promover e facilitar a cooperação entre as instituições de ensino dos

diferentes países europeus e reflectir acerca das práticas pedagógicas

correntes. De facto, tal como afirmámos acima, e em consonância com o que

afirma Zenhas (2005), a implementação do ensino do Inglês como LE nas

escolas do 1º CEB em Portugal constituiu o primeiro passo na diminuição do

atraso do nosso país no início da aprendizagem de uma LE, visto que, antes

desta medida, Portugal estava entre os países europeus em que essa

aprendizagem obrigatória começava mais tarde. Considerámos, igualmente,

importante analisar as alterações que as metodologias utilizadas no ensino

de uma LE sofreram após a implementação desta medida, pelo que, no

Capítulo II, apresentámos a fundamentação teórica do estudo, em

conformidade com o objecto de estudo da presente dissertação, os

objectivos e as questões de investigação traçadas. Através da revisão da

literatura, pudemos aferir que, pouco a pouco, as metodologias utilizadas no

ensino de uma LE deixaram de se centrar no Método Tradicional, passando a

centrar-se mais em métodos como o CLT ou o TPR. De facto, os defensores

do CLT suportam a ideia de que ao aprender uma LE o aluno deve ter como

objectivo ser competente na vertente da comunicação e conseguir

101

comunicar através da língua, tendo a aprendizagem da gramática isolada e

da tradução directa perdido o papel central. O TPR, por sua vez, permite

criar um ambiente de jogo na sala de aula, que motiva e envolve os alunos.

Com este método, a aquisição da linguagem surge ligada a uma acção física e

é valorizada a relação de afectividade estabelecida entre o professor e os

alunos. O papel do professor neste método é preponderante, pois sobre ele

recai a selecção do material e a sua adequação aos objectivos propostos,

passando a utilizar-se novos materiais, mais inovadores e atractivos para os

alunos. Em consonância com o que afirma Nobre (2010), consideramos que

o CLT e o TPR são metodologias adequadas ao ensino de uma LE a crianças

do 1º CEB, na medida em que privilegiam as competências do listening e

speaking.

Procedemos também à análise de algumas Teorias da Aprendizagem,

baseando-nos no que diz El-Shamy (2001). Através desta análise, julgamos

poder considerar que o modelo de aprendizagem ideal deve basear-se em

várias teorias e estimular o máximo de modalidades possível, cabendo ao

professor a selecção das metodologias que considera mais adequadas à sua

turma, tentando maximizar o potencial dos seus alunos. É importante que o

professor tente apelar ao sentido mais desenvolvido de cada aluno, o que

nos remete para a classificação de Grinder (1989), proporcionando desafios

lógicos e desafiantes, que garantam feedback imediato. Naturalmente que

todas estas teorias se sobrepõem e que, na prática, cada professor acabará

por adoptar uma mistura dos conceitos que considerar mais adequados ao

seu público-alvo.

No Capítulo III analisámos as estratégias de ensino utilizadas no

ensino do Inglês no 1º CEB e a sua adequação às necessidades específicas

desta faixa etária, centrando-nos depois na metodologia do jogo. No que

respeita o jogo, em particular, e em sintonia com El-Shamy (2001)

consideramos que todas as Teorias atrás citadas são passíveis de ser

adaptadas ao jogo na sala-de-aula, apelando aos vários tipos de alunos,

102

tentando garantir o sucesso de todos na aprendizagem de uma LE. Em

consonância com alguns autores, dos quais destacamos Sugar e Sugar

(2002) e El-Shamy (2001), julgamos poder considerar que o jogo é o método

mais lúdico de se aprender, na medida em que um jogo realmente bom nos

absorve. Durante o jogo, os jogadores põem em prática as suas capacidades

de comunicação e colaboração, seguindo instruções, assim como as suas

capacidades cognitivas, tentando resolver o problema e pensar criticamente.

Neste sentido, cabe ao professor o papel fundamental de adequar o jogo aos

objectivos de aprendizagem que se pretende que sejam atingidos em cada

nível e de analisar a pertinência das relações activadas por cada jogo. De

facto, no que diz respeito à aprendizagem de uma LE no 1º CEB, enquanto

jogam em Inglês, as crianças associam o prazer e o divertimento à língua, o

que desenvolve uma atitude positiva relativamente à aprendizagem da nova

língua.

No Capítulo IV, de carácter mais prático, apresentámos a análise,

interpretação e discussão dos resultados obtidos através da aplicação dos

questionários aos professores de Inglês a leccionar no 1º CEB, em Évora, no

ano lectivo de 2009/2010. Neste capítulo, centrámos o estudo na recolha de

opiniões relativas às diferentes metodologias utilizadas no ensino do Inglês

no 1º CEB, na sua pertinência e adequação à faixa etária dos alunos. Os

resultados da aplicação dos questionários foram objecto de tratamento

estatístico e apresentados sob a forma de gráficos.

No Capítulo V apresentamos as conclusões finais da nossa

investigação. Face aos resultados obtidos e às questões de estudo

inicialmente delineadas, julgamos poder considerar que a análise que

dedicámos às metodologias de ensino e aprendizagem de uma LE no 1º CEB

foi pertinente, para além de ter sido enriquecedora, a nível profissional.

103

Julgamos, igualmente, poder considerar que a análise das Orientações

Programáticas e a análise dos prós e contras do PGEI foram pertinentes,

tendo em conta o panorama educativo nacional e considerando a escola de

hoje, que exige professores multiculturais, investigadores, atentos e flexíveis

à mudança e o facto de a evolução do mundo contemporâneo acarretar a

necessidade do conhecimento e a capacidade de utilização de diversas

línguas, com destaque para o Inglês. Contudo, através da revisão da

literatura, verificámos também que as representações dos professores não

devem ser imutáveis, devendo sim ter em conta o facto de os aprendentes

terem diferentes modos de aprender LEs. Assim, julgamos poder considerar

que o ensino actual das LEs deve privilegiar situações naturais e

espontâneas, comunicativas, desenvolvidas em ambientes multiculturais e

motivadores.

Apesar de considerarmos o PGEI uma medida positiva, importante e

cujos resultados nas aprendizagens dos alunos são visíveis, existe um

aspecto na moldura legal que consideramos merecedor de reformulação. A

legislação actual prevê que o Inglês no 1º Ciclo possa ser leccionado por

professores de Inglês, mas também por um conjunto de profissionais sem

habilitação para a docência. Através da análise dos inquéritos por

questionário verificámos que, de um total de 23 inquiridos, 4 não possuem

habilitação para a docência. Não parece ser um número muito elevado, mas

representa cerca de ¼ dos inquiridos. Tendo em conta a realidade sobre a

qual nos debruçámos, crianças numa fase de desenvolvimento da sua

identidade, consideramos essencial que sejam professores habilitados para a

docência a desempenhar funções de professor.

Em síntese, consideramos que a aplicação do Programa de

Generalização do Inglês no 1º CEB foi uma medida importante ao nível do

ensino das línguas no nosso país. Contudo, consideramos igualmente que

algumas alterações terão que ter lugar para que esta língua passe a ocupar o

lugar que merece, enquanto língua de comunicação universal.

104

Dado o carácter actual e pertinente do tema sobre o qual nos

debruçámos, e tendo em conta as limitações do nosso estudo, consideramos

que este poderá ser alvo de futuras investigações. Outros investigadores

poderão igualmente dedicar-se à análise da pertinência das metodologias a

adoptar no ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico, embora com

algumas variantes:

1 – A mesma investigação poderá ter lugar noutras localidades,

servindo como um estudo paralelo, que permita a comparação de resultados.

2- Outras metodologias poderão ser contempladas na análise,

nomeadamente as canções, as rimas, os trabalhos manuais ou as fichas de

trabalho.

3- A adopção ou não de manual e a influência nas aprendizagens dos

alunos.

4- A articulação existente entre os professores de Inglês do 1º Ciclo e

os professores titulares de turma.

5- A legislação em vigor no que respeita o recrutamento de

professores.

6- A perspectiva de pais e encarregados de educação relativamente ao

ensino do Inglês no 1º Ciclo.

105

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DOCUMENTOS LEGAIS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

______ Lei de Bases de 1986 (46/86 de 14 de Outubro).

______ Despacho 141/ME/90, 1 de Setembro.

______ Despacho nº60/SEEI/96, 24 de Outubro. D.R. II Série, nº 268.

______ Decreto -Lei nº 6/2001 de 18 de Janeiro.

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______ Comissão Europeia do Multilinguismo (documento 38)

http://ec.europa.eu/education/languages/language-teaching/doc38_pt.htm

110

ANEXOS

111

ANEXO 1

Inquérito por questionário aplicado aos professores de Inglês no 1º

Ciclo do Ensino Básico, em Évora.

O Ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico:

metodologias de ensino e aprendizagem.

A importância do jogo na construção do conhecimento.

Caros colegas

Este inquérito tem como objectivo analisar a opinião dos professores de Inglês

a leccionar nas AECs em Évora, no ano lectivo de 2009/2010, sobre a

importância das metodologias utilizadas e a sua influência na aprendizagem

dos alunos.

Agradecemos a sua colaboração. 1- Numere as metodologias abaixo apresentadas, de acordo com a sua

preferência.

(1 para a metodologia que mais utiliza nas suas aulas

5 para a metodologia que menos utiliza).

Fichas de trabalho

Canções

Rimas

Jogos

Trabalhos manuais

2- Coloque por ordem de preferência as metodologias abaixo

apresentadas.

(1 para a metodologia que considera mais eficaz na aprendizagem dos alunos,

5 para a metodologia que considera menos eficaz na aprendizagem dos alunos).

Fichas de trabalho

Canções

Rimas

Jogos

Trabalhos manuais

112

3- Com que frequência utiliza jogos nas suas aulas?

Todas as semanas

Uma vez por mês

Apenas uma vez por período, no final

Raramente

Nunca

4- Assinale com uma cruz os tipos de jogo que utiliza com mais frequência

nas suas aulas.

Com que frequência?

Jogos de imagens ___________________________

Jogos de memória ___________________________

Jogos de True/False ___________________________

Jogos de adivinhas ___________________________

Jogos de palavras ___________________________

Jogos de cartas ou de tabuleiro ___________________________

Jogos de sons ___________________________

Jogos de pergunta/resposta ___________________________

Muito obrigado pela sua colaboração

A Professora de Inglês

Ana Silva

113

ANEXO 2 - ACESSÓRIOS DOS JOGOS

Quase todos os jogos necessitam de acessórios - materiais e

equipamento que criam um ambiente adequado de aprendizagem.

Equipamento audiovisual

• Quadro – O quadro pode ser usado para reforçar pontos-chave, as

regras do jogo, o comportamento adequado ao jogo, registar as pontuações e

registar perguntas. Pode também ser utilizado para afixar posters com

informação relacionada com o jogo.

• Projector – Podem ser usados diapositivos para reforçar o conteúdo,

mostrar como se joga, quais são as regras e registar comentários e reacções.

Este equipamento é bastante eficaz quando se trata de grupos grandes.

• CDs – Os CDs podem ser usados para ouvir histórias, canções, como

música de fundo ou para jogos que envolvam música.

• Posters – Os posters podem se usados para reforçar as aprendizagens,

na medida em que permitem aos alunos visualizar a informação.

• Quadros de informação – Os quadros de informação são, normalmente,

usados para afixar regras, pontuações e outras informações. O professor pode

dedicar o quadro à unidade que está a ensinar, encorajando os alunos a falar

nessa informação enquanto esta estiver afixada.

Outros materiais

• Cronómetro – O professor pode usar um cronómetro para cronometrar

o tempo das respostas, conferindo ao jogo um carácter mais competitivo, em

que alunos ou equipas competem dentro do tempo determinado.

• Buzina – A energia resultante de um jogo pode derrubar até a voz mais

vigorosa. Uma boa alternativa para obter a atenção dos alunos é a buzina. A

buzina alerta os alunos quando começar, quando parar, e quando responder.

• Question-cards – O professor pode usar um conjunto de cartões com

perguntas, o que permite aos alunos ouvir e visualizar ao mesmo tempo.

• Itens para passar ou atirar – Estes itens, bolas por exemplo, são usados

em jogos em que é necessário passar um objecto de mão em mão. Este

acessório confere um carácter mais dinâmico à actividade.

114

ANEXO 3 - OS VÁRIOS TIPOS DE JOGO

Consideramos pertinente incluir na nossa pesquisa informação adicional

sobre os vários tipos de jogos passíveis de ser utilizados em contexto de sala-

de-aula, assim como fazer uma breve análise sobre os vários fins com que um

jogo pode ser aplicado em sala-de-aula.

Gredler (1994) escreve que os jogos usados na sala de aula podem ser

usados para quatro fins académicos:

1) Praticar e/ou aprofundar conhecimentos/competências já adquiridas;

2) Identificar falhas ou fraquezas nos conhecimentos/competências;

3) Como revisão;

4) Para desenvolver novas relações entre conceitos e/ou princípios.

No que diz respeito ao número de jogadores e à forma como estes são

organizados, de acordo com Sugar e Sugar (2002), El-Shamy (2001), Gredler

(1994), os jogos podem receber a classificação de jogos individuais, a pares

ou de grupo/turma.

Tal como o nome indica, os jogos individuais são aqueles em que cada

aluno joga individualmente, tentando atingir o objectivo proposto o mais

rapidamente possível. Nestes casos, cada aluno depende unicamente das suas

capacidades, não podendo contar com a ajuda dos colegas. Um bom exemplo

são as word-searches, exercício que requer concentração total e que, por isso, é

normalmente jogado individualmente.

Os jogos a pares, em que dois alunos jogam como equipa, são,

normalmente, fáceis de organizar e eficazes no que concerne a aprendizagem,

pois os alunos, não estando a falar para o grupo-turma, perdem as suas

inibições e concentram-se mais facilmente. Este tipo de jogo pode também ser

utilizado em casos em que há problemas de indisciplina, uma vez que

pressupõe pouca interacção entre o grupo-turma. Em caso de jogos a pares em

que exista competição, o professor deve tentar colocar dois jogadores com

níveis equilibrados de conhecimentos a competir. Assim, por um lado, o que

sabe menos não se sentirá desmotivado e o que sabe mais não perderá o

interesse por estar a competir contra alguém que saiba menos. Um aluno que

115

não se sinta pronto para jogar não deve ser forçado a fazê-lo. Neste caso, o

aluno deve ser incentivado a assistir e a participar quando estiver preparado.

Todavia, alguns jogos têm que ser jogados em grupo, pois resultam

melhor com um número maior de jogadores. Nestes casos, denominados jogos

de turma, o professor deve tentar equilibrar os grupos, distribuindo os alunos

pelo seu nível de conhecimentos, interesse e à vontade. Os jogos de turma

requerem do professor um maior grau de controlo e são mais exigentes, pois é

necessário organizar e controlar todos os alunos em simultâneo, tal como

referimos no capítulo III da nossa investigação.

Seleccionado o número de jogadores por equipa, é indispensável que o

professor explique as regras do jogo e que exemplifique, antes de pôr os alunos

a jogar. Os alunos têm que perceber não só as regras, como também o objectivo

do jogo, para que se interessem e se sintam motivados para jogar. Se as regras

não forem bem explicadas, os alunos não conseguem jogar e gera-se não só uma

situação de desordem, como também alguma desilusão.

Para além das classificações acima citadas, que se referem ao número de

jogadores, os jogos podem ser classificados de acordo com a actividade que

envolvem, sejam imagens, sons, histórias ou palavras.

Jogos de Imagens

Os jogos em que as imagens desempenham o papel principal podem ter

como objectivo comparar imagens, encontrar semelhanças, diferenças, ou

possíveis relações. Este tipo de jogo é muito eficaz na aprendizagem dos alunos,

pois permite-lhes visualizar o objecto e a palavra ao mesmo tempo. Ao associar

a imagem à palavra os alunos retêm na memória o novo conceito.

Neste tipo de jogo, o professor pode recorrer a flashcards – cartões com

imagens sobre o tópico abordado. Existe um sem número de jogos passíveis de

serem jogados com base em flashcards. O professor pode colar no quadro

flashcards com o novo vocabulário e pedir aos alunos para apontarem para a

palavra correcta; aos alunos pode ser pedido que memorizem a ordem pela

qual os flashcards se encontram, que saiam da sala e que os organizem pela

ordem correcta; podem ter que adivinhar qual o flashcard que o professor

116

retirou; podem retirar de uma caixa um flashcard e ter que fazer a mímica dessa

palavra, para que os restantes alunos adivinhem. Cabe ao professor produzir

estes materiais e adaptá-los a cada turma, maximizando a aprendizagem dos

seus alunos.

Jogos com Flashcards

Ao introduzir uma nova língua, o professor deve proporcionar aos seus

alunos o máximo de listening possível. Quanto mais os alunos ouvirem a nova

palavra, mais facilmente a conseguirão aprender e reproduzir. A utilização de

flashcards permite aos alunos associar a imagem à palavra e ajuda-os a reter na

memória o novo conceito.

Numa primeira fase, o professor pode colar no quadro flashcards com o

novo vocabulário e pedir aos alunos para apontarem para a palavra correcta.

Pode ainda mostrar as imagens aos alunos. Se a palavra corresponder à imagem

os alunos dizem Sim; se não corresponder dizem Não.

Jogos de Sons

Os jogos de sons podem ser utilizados com recurso a material áudio, mas

também pode ser o professor ou um dos alunos a formular o som. Neste tipo de

jogo pode ser pedido aos alunos que associem o som à imagem (por exemplo, a

um animal ou a um meio de transporte). À semelhança do jogo anterior, este

tipo de jogo permite aos alunos criar associações, formular hipóteses e produzir

tentativas, sabendo que no contexto do jogo o erro é admissível.

Jogos de Histórias

Neste tipo de jogo, o professor pode usar uma história como base e após

a leitura da mesma utilizar o jogo como forma de explorar os conteúdos. O

professor pode utilizar imagens de partes da história e pedir aos alunos que

associem as palavras à história. Os alunos podem produzir eles próprios

materiais relacionados com a história – fantoches, cartões com imagens,

desenhos – a partir dos quais poderão ser desenvolvidos vários jogos. Este tipo

de jogo é importante, pois permite ao professor aprofundar a história, não se

117

limitando a lê-la. Se depois de ouvirem a história os alunos jogarem utilizando a

informação que aprenderam, a aprendizagem será muito mais efectiva.

Jogos de Palavras

Nos jogos de palavras o professor pode recorrer a exercícios de

Matching, pedindo aos alunos que associem palavras da mesma categoria

(animais, por exemplo) ou que liguem a palavra à imagem. Este tipo de jogo,

por implicar o recurso à palavra escrita, adequa-se mais ao 3º e 4º ano.

Contudo, no 1º e 2º ano os alunos também poderão tentar associar imagens a

palavras, embora com a ajuda do professor, que lerá a palavra e a repetirá.

Jogos True/False

Os jogos de True or False podem ser jogados com recurso a vários

acessórios, flashcards com imagens, sons ou palavras ditas pelo professor. Os

alunos podem jogar na sala de aula, ouvindo o professor e utilizando um sinal

que levantam, indicando True ou False. Este jogo também pode também ser

jogado na rua. Neste caso, o professor poderá desenhar uma linha no chão e

escrever True de um lado, False do outro. Depois de ouvir a indicação do

professor, os alunos saltam para o lado da opção que consideram correcta. À

medida que vão errando, os alunos vão sendo eliminados, até se encontrar um

vencedor.

Susan El-Shamy (2001) divide os jogos de sala de aula em categorias,

baseando-se em dois factores: como ocorre a aprendizagem e o que é

necessário por parte do professor para jogar este jogo em sala-de-aula. Com o

primeiro factor a autora pretende saber se a aprendizagem ocorre apenas

através da interacção do aluno com o material ou se ocorre através da

experiência física que é o jogo. Com o segundo factor, a autora pretende

analisar se o professor adquire ou produz o jogo e depois o ajusta ao seu

público-alvo ou se o adquire, lhe adiciona os conteúdos necessários e apenas

depois o ajusta aos seus alunos.

118

1- Jogos centrados no conteúdo

Em termos gerais, e no que diz respeito ao que é necessário da parte do

professor, este tipo de jogo é dos mais fáceis de adquirir e utilizar. Não requer

tempo de produção e pode ser usado por professores de todos os níveis, de uma

forma eficaz. Neste tipo de jogo, os jogadores seguem as regras, num

determinado contexto e utilizam o material incluído no jogo, de forma a

atingirem um objectivo, que define o vencedor. O papel do professor é controlar

o jogo, introduzindo-o e explicando, preparando-o e analisando os resultados,

quando este terminar.

Existem muitos tipos de jogos focalizados no conteúdo, conhecidos pelo

material que contêm. Vejamos alguns exemplos.

Jogos de Papel e Lápis

Tal como o nome indica, este tipo de jogo utiliza como base papel e lápis.

Estes jogos apresentam questões, puzzles ou outro tipo de informação impressa

em papel que os alunos, individualmente ou em grupo devem resolver, num

determinado espaço de tempo e seguindo determinadas regras. Estas

actividades poderão não ser necessariamente jogos, mas podem ser adaptadas,

tornando-se jogos. Nestes casos, a aprendizagem ocorrerá porque a informação

impressa reflecte os conteúdos abordados, ou porque a actividade em si requer

o uso de uma competência desenvolvida nas aulas. Este tipo de jogo é bastante

eficaz no início de um curso/das aprendizagens, pois facilita a identificação de

falhas ou fraquezas nos conhecimentos ou competências. Por exemplo, um

exercício de True or False, que cubra uma variedade de conceitos pode ser uma

forma divertida de identificar o que os alunos sabem e não sabem acerca do

tópico em estudo. É rápido, fácil e simples. Os alunos ficam com uma rápida

ideia do que sabem e não sabem, tal como o professor.

Este tipo de jogo tem muitas vantagens. São rápidos, fáceis, flexíveis e

não são dispendiosos. Podem ser usados com praticamente todos os tópicos,

numa grande variedade de situações. Funcionam bem individualmente, em

pequenos grupos ou em grandes grupos.

119

A desvantagem dos jogos de papel e lápis é a sua tendência para

parecerem infantis, sobretudo se os materiais impressos não tiverem

qualidade. Também existe alguma inclinação por parte dos professores para

não analisar este tipo de jogos quando terminam e, consequentemente, não há

uma ligação directa aos objectivos da sala de aula. Esta atitude pode levar os

alunos a pensar que estes jogos são apenas para se divertirem, não

reconhecendo o valor de aprendizagem que estes contêm.

Jogos de Cartas

Os jogos de cartas são actividades competitivas que utilizam conjuntos

de cartas especificamente construídos para o efeito, que contêm tópicos de

interesse. Grande parte da aprendizagem resulta da interacção dos jogadores

com as cartas. O facto de estas poderem ser tocadas, manuseadas, envolve o

jogador no jogo, promovendo a aprendizagem.

Jogos de Tabuleiro

O jogo de tabuleiro, mais do que qualquer outro tipo de jogo, traz

normalmente associações positivas. Todos nós jogámos a jogos de tabuleiro na

nossa infância e muitos de nós ainda apreciam as horas de diversão que os

jogos de tabuleiro nos proporcionam enquanto adultos. Talvez por esta razão

este tipo de jogo tenha sido mais facilmente aceite por parte dos educadores.

Os jogos de tabuleiro são uma excelente forma de pôr em prática e de

aperfeiçoar os conhecimentos dos jogadores. São relativamente fáceis de

projectar, bastante portáteis, embora não sejam tão flexíveis como os jogos de

cartas. Para que um jogo de tabuleiro seja envolvente e motivante, é necessário

que haja um desafio, que não seja facilmente vencível.

Jogos de Mímica

Estes jogos incluem actividades de role-playing, nas quais são atribuídos

pontos pela utilização de determinados comportamentos, dentro de limites pré-

estabelecidos. Estes jogos são flexíveis, adaptáveis, fáceis de preparar e não são

dispendiosos. Para além disso, proporcionam momentos de energia na sala de

120

aula que fogem aos modelos do ensino tradicional. Contudo, podem ser

intimidantes para alunos mais tímidos, permitindo aos mais espontâneos e

mais ávidos de atenção um palco de actuação. Desta forma, é necessário

estabelecer regras e limites, para que todos os alunos desfrutem ao máximo

desta experiência.

Jogos de Arte

Estes jogos utilizam formas de arte, como a pintura, o desenho, a

colagem, entre outros. Estas actividades envolvem um desafio, em que os

alunos têm que produzir algum tipo de trabalho artístico relacionado com o

tema em estudo, dentro de um período de tempo estabelecido. Os alunos

podem, por exemplo, ter que produzir posters que ilustrem os temas abordados

na sala de aula, com material fornecido pelo professor, seguindo as suas

instruções e num período de tempo estabelecido. Os trabalhos produzidos

pelos alunos podem ser utilizados para decorar a sala de aula e o professor

pode recorrer a eles quando precisar de retomar aquele tema. Embora muitos

alunos não se considerem artistas e, por isso, possam sentir alguma relutância

nestes jogos, quando são jogados em pequenos grupos, todos podem participar.

Jogos de Parede

Nestes jogos, que se baseiam em posters afixados na sala de aula, os

alunos podem ter que encontrar itens nos posters ou mensagens escondidas.

Podem ainda ter que desenhar ou escrever nos posters, ou fazer um puzzle.

Estes jogos são simples, fáceis de usar e não são dispendiosos. São uma

boa variante às actividades comuns e apelam aos alunos mais visuais. Contudo,

devem ser jogados em grupos pequenos, para que todos possam ver o poster.

Jogos de Construção

Nestes jogos, que constituem uma boa variante ao currículo e que

apelam a alunos mais tácteis, os alunos podem ter que construir objectos, sendo

o objecto a construir representativo de conteúdos abordados na sala de aula.

121

2- Jogos de experimentação

Para além dos jogos centrados no conteúdo, existem jogos cujo foco da

aprendizagem é a experiência física. Nestes jogos, a aprendizagem ocorre

praticando, sentindo, experienciando. O papel do professor pode ser crucial

nesta experiência, pelo que este não se deve limitar a introduzir o jogo,

prepará-lo, supervisioná-lo, devendo também estar atento a todas as

interacções que ocorrem durante o jogo. Ao jogar, os alunos mexem-se,

interagem, experienciam o fenómeno. Grande parte da aprendizagem decorre

do facto dos alunos experienciarem o que está a ser estudado e da posterior

análise que o professor faz das suas acções. El-Shamy (2001) considera difícil

categorizar este tipo de jogo, mas avança com três categorias: jogos físicos,

jogos de actividades experimentais e jogos de simulação.

Jogos Físicos

Este tipo de jogo requer dos alunos algum tipo de actividade física. O

foco da aprendizagem são as experiências físicas, as sensações e os seus efeitos.

Estes jogos podem ser jogados no exterior e envolver corridas e muito

movimento, mas podem também ser jogados no interior, dando aos alunos a

oportunidade de se moverem, esticarem e andar. Podem exigir dos alunos algo

simples como fechar os olhos e, com os olhos fechados, escrever o nome. O

objectivo deste tipo de jogo é proporcionar aos alunos experiências físicas

imediatas, que possam depois ser analisadas e discutidas.

Há prós e contras na utilização deste tipo de jogo; podem ser bastante

eficazes, sobretudo com alunos com sentidos bem apurados, mas podem

acarretar problemas de mobilidade, que podem despoletar problemas.

Jogos de Actividades Experimentais

Estes jogos levam os jogadores a completar tarefas, de forma a vencerem

o jogo. À medida que vão avançando na realização das tarefas, os jogadores vão

encontrando obstáculos, passando por diferentes experiências. A actividade, as

experiências dos jogadores, as suas várias reacções ao depararem-se com os

desafios são o foco de aprendizagem destes jogos. Os alunos aprendem a

122

trabalhar em conjunto, a comunicar em grupo, mas a experiência da mudança

em tempo real - “real time change” – é onde reside a aprendizagem.

Estes jogos necessitam de grandes áreas para poderem ser postos em

prática, embora não exijam tanto movimento como os jogos de actividade física.

Jogos de Simulação

Os jogos de simulação são baseados em modelos reais. Nestes jogos, os

jogadores experienciam como é fazer algo. Apesar de não o estarem realmente

a fazer, têm a sensação de estar. Ken Jones, citado por s. El-Shamy (2001:68)

descreve uma verdadeira simulação como

“a classroom event which has two essential characteristics: 1. The

participants have functional roles—survivor, journalist, judge, fashion

designer, prime minister” and “2. Sufficient information is provided on

an issue or a problem—memos, maps, newspaper items, documents,

materials—to enable the participants to function as professionals.”

3- Jogos orientados para o conteúdo e experimentação

Os frame games são jogos genéricos, que podem ser utilizados com

diferentes conteúdos. Para professores que pretendam utilizar um jogo que se

adapte a um conteúdo específico, este tipo de jogo é uma boa opção. Nestes

jogos, especificamente produzidos para promover a aprendizagem do tópico

que abordam, a aprendizagem decorre da interacção com o conteúdo. O

professor tem o duplo papel de designer e de facilitador; escolhe o conteúdo do

jogo, adapta-o aos conteúdos em análise, põe-o em prática e analisa-o.

Há muitas vantagens em utilizar jogos genéricos. A maior é a de o tempo

de preparação do jogo ser mínimo, uma vez que o jogo já foi previamente

testado e aperfeiçoado. Não são dispendiosos, pois podem ser utilizados várias

vezes, em diferentes turmas e em diferentes ocasiões.

123

ANEXO 4 - EXEMPLOS DE JOGOS

Consideramos igualmente importante apresentar, a título ilustrativo,

alguns jogos que um professor de Inglês no 1º CEB pode utilizar nas suas aulas.

Dada a variedade de jogos existentes, procedemos a uma selecção, tentando

incluir jogos que possam ser jogados em sala-de-aula, no exterior,

individualmente, a pares ou em grupo e que estimulem todos os tipos de

alunos.

Apresentamos alguns jogos, a título ilustrativo, ordenados por ordem

alfabética.

• Alphabet Soup - Este jogo apela a alunos de todos os tipos – sensoriais,

visuais e auditivos. São formadas equipas e cada equipa recebe cartões, com

letras do alfabeto. Vence a equipa que, no espaço de tempo previsto, conseguir

escrever mais palavras começadas pelas letras que lhes calharam.

O aluno sensorial pode tocar nos cartões, o aluno visual pode ver as

letras combinadas em palavras e o aluno auditivo pode ver o seu esforço

reforçado pelo som das palavras ao serem ditas.

• Bring me a … - O professor pede a dois alunos que venham até ao

quadro. De seguida pede-lhes que lhe tragam algo, um lápis por exemplo, “bring

me a pencil, please.”. O primeiro aluno a chegar ao pé do professor com o

objecto correcto vence.

• Change places – O professor dispõe cadeiras em círculo, uma para

cada aluno. Os alunos sentam-se, ouvem o professor e têm que trocar de lugar

sempre que a frase do professor se adaptar a eles. Por exemplo: “Change places

if you are a girl.”

• Cops and robbers – O professor divide a turma em dois grupos – cops

(polícias) e robbers (ladrões). Os grupos ficam frente a frente, atrás de duas

linhas desenhadas no chão. No meio das duas linhas estão cartões com imagens.

O professor diz uma palavra, o ladrão tenta apanhar esse cartão e levá-lo para a

124

sua equipa antes que o polícia o apanhe. Se o polícia lhe tocar antes a sua

equipa ganha um ponto.

• Erase a word – O professor escreve no quadro um conjunto de

palavras, lê-as com os alunos e depois apaga uma. O objectivo é descobrir a

palavra que foi apagada.

• Fish – O professor desenha numa cartolina, recorta e coloca num saco

10 peixes e um caranguejo. Cada aluno tenta tirar do saco o maior número de

peixes, sem tirar o caranguejo. À medida que vai tirando os peixes vai contando

“one, two, three…”. Quando lhe sair o caranguejo diz “crab” e volta para o seu

lugar. Vence o aluno que tirar o maior número de peixes.

• Feel the object – O professor coloca dentro de um saco objectos

relacionados com as temáticas abordadas. Os alunos põem a mão no saco e

tentam dizer o nome do objecto.

• Hang man – O professor escolhe uma palavra e desenha no quadro um

traço para cada letra. Por exemplo: “fish”. _ _ _ _

Os alunos tentam adivinhar a palavra, pedindo letras. Cada vez que

erram o professor acrescenta uma parte do corpo ao boneco. Se os alunos

errarem muitas letras e o boneco ficar completo o jogo acaba.

• Jump the line – O professor traça uma linha no chão e coloca os alunos

atrás da linha. Cada um dos lados corresponde a uma categoria. Quando o

professor disser uma cor, por exemplo, os alunos saltam para a esquerda;

quando disser um número saltam para a direita. Os alunos que se enganarem

perdem.

• Letter Bingo - Este jogo encoraja os alunos a articular o pensamento

crítico e a resolução de problemas, ao construir vocabulário activamente. A

turma é dividida em equipas de dois ou três alunos. Cada equipa recebe uma

folha, com uma letra em cada quadrado. O professor dá uma pista para a

palavra e os alunos têm que desvendar a pista e depois marcar a letra com que

125

pensam que essa palavra começa. O objectivo é ser o primeiro a marcar quatro

quadrados – na vertical, horizontal ou diagonal. Este jogo é adaptável a vários

tópicos e a todos os anos do ensino primário.

O professor pode usar este jogo para reforçar o vocabulário e a

capacidade de soletrar dos alunos. Os jogadores mostram a sua compreensão

ao associar a letra inicial ao item. Quando o professor mostra um cartão com

um pássaro e pede aos alunos para taparem a letra inicial da palavra, os alunos

demonstram a sua compreensão ao tapar a letra. O reforço ocorre quando o

professor revê a resposta correcta com a turma. Devido ao grau de

envolvimento dos alunos, e baseando-se em vários métodos de comunicação, o

jogo apela a jogadores com diferentes estilos de aprendizagem.

B O K H

E D J P

M J F C

G N L A

• Memory Chain – O professor coloca no quadro flashcards com

imagens. Aponta para os cartões e os alunos vão dizendo as palavras. Depois, o

professor vira um cartão e os alunos têm que dizer toda a sequência, incluindo

o cartão que está virado para baixo.

• Mimic – Os alunos fazem a mímica de palavras em Inglês, enquanto os

restantes alunos tentam adivinhar a palavra. A mímica pode ser feita para toda

a turma ou pode dividir-se a turma em equipas.

• Musical Chairs – Para este jogo o professor dispõe várias cadeiras em

círculo, viradas para fora. Cada aluno tem a sua cadeira, excepto um. O

professor vai dizendo palavras de uma categoria. Quando o professor disser

uma palavra que não pertence a essa categoria os alunos sentam-se. O aluno

que ficar sem cadeira perde.

126

• Red light – Green light – No exterior, os alunos ficam frente a frente

com o professor, a uma distância de cerca de 30 metros. O professor vira-se de

costas, vai contando e os alunos vão andando até ao professor. Quando este diz

“stop!”, vira-se para os alunos e verifica se algum se está a mexer. Quem se

mexer volta à linha de partida. O primeiro aluno a chegar até ao professor

vence e pode ser ele a ditar as ordens.

• Simon Says – Os alunos devem seguir as ordens do professor, quando

estas forem iniciadas por “Simon says…”. Por exemplo: “Simon says touch your

face”. Se o professor disser apenas “Touch your face” os alunos não podem

tocar. Se o fizerem perdem. Este jogo permite ao professor explorar todos os

conteúdos, desde os mais simples aos mais complexos.

• Spin Off – Roda a garrafa - Neste jogo, os alunos são divididos em

grupos (entre quatro a oito jogadores) e formam uma roda. O professor roda

uma garrafa, para decidir que grupo responde à questão colocada pelo

professor.

• Stand up/Sit down – Os alunos devem ouvir o professor com atenção

e sentar-se ou levantar-se quando este manda. Para tornar o jogo mais

interessante, o professor pode pedir aos alunos que se sentem quando já estão

sentados ou pode dizer “Girls stand up; boys sit down”.

• Three-in-a-row – Este jogo é perfeito para a primeira aula, pois muitos

alunos já conhecem o formato e os restantes podem aprendê-lo facilmente.

Divide-se a turma em duas equipas. A 1ª equipa selecciona um quadrado e

responde a uma questão. Se a resposta estiver correcta, o quadrado é marcado

com um X ou 0. O jogo decorre até que uma das equipas ocupe três quadrados

numa linha.

A simplicidade deste jogo permite uma compreensão quase imediata de

como o jogo funciona, permitindo aos alunos tornar-se jogadores de imediato e

centrando-se nas questões, num formato joga-responde.