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Produção individual para o curso de pós-graduação em Docência no Ensino Superior pelo Senac - São Paulo
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Rafael Motta da Silva
O Ensino Superior no Brasil
São Paulo
2014
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo responder à proposta de reflexão baseada no trecho de uma
palestra proferida em 2010, em Florianópolis (SC), por Simon Schwartzman, membro do
Conselho de Administração e Pesquisa do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS)
do Rio de Janeiro. Em seu ponto de vista, “os sistemas de educação superior modernos
tendem a desempenhar uma pluralidade de papéis frequentemente contraditórios”, e tal
característica “se acentua ainda mais em uma sociedade tão profundamente estratificada e
diferenciada como a brasileira”.
O palestrante sugere, em sua exposição, que “parece ser mais recomendável reconhecer as
diferenças, e tratar de responder a elas de forma pluralista, do que tratar de negá-las pela via
da imposição de igualdades formais (...)”. Tais formalismos, prossegue, “tendem a intensificar
ainda mais os processos de estratificação e de desigualdade”. Ainda de acordo com
Schwartzman, “a educação superior brasileira já vem se diversificando na prática, e hoje ela
pode ser descrita a partir de algumas de suas principais funções”.
Nesta produção individual, os argumentos de Schwartzman serão confrontados com a
realidade educacional brasileira deste começo de século e com iniciativas dos segmentos
educacionais público e particular. Parte dos exemplos práticos indicados nas páginas
seguintes é alusiva ao Estado de São Paulo e à Região Metropolitana da Baixada Santista,
onde reside o autor deste trabalho. A apresentação de dados oficiais será permeada por
breves considerações particulares a respeito deles.
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2 Como as políticas públicas para a educação têm acompanhado e se diversificado para
entender as contradições e pluralidade da sociedade brasileira?
Antes de se abordar o Ensino Superior, é preciso conhecer as condições do Ensino Médio,
etapa imediatamente anterior ao possível ingresso em uma faculdade. Tomem-se como
exemplo os resultados de avaliações de estudantes da rede estadual pública paulista, a maior
do país (SÃO PAULO, 2014). De 2012 para 2013, o Índice de Desenvolvimento da Educação do
Estado de São Paulo (Idesp) caiu de 1,91 para 1,83 no antigo colegial, numa escala até dez;
39,6% dos alunos concluíram-no sabendo menos do que o básico em Português (SALDAÑA,
2014a). O objetivo é alcançar índice 5 no Idesp, mas em 2030 (SALDAÑA, 2014b).
Essa perspectiva de 17 anos, a partir de 2013, corresponde à idade em que jovens costumam
terminar o Ensino Médio. A acelerada evolução tecnológica e as novas demandas do
mercado de trabalho, que têm exigido atualização curricular em instituições de Ensino
Superior, não permitem espera tão longa. Do contrário, reforçam a importância de ações
afirmativas, como as cotas para vestibulandos oriundos de escolas públicas. Enquanto não se
melhoram as condições do ensino oficial, tais medidas parecem ser mais imediatas na
redução de desigualdades socioeconômicas que, sem essas políticas, poderiam se agravar.
Levantamento do site G1 com base em dados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) deste
ano mostra quantos estudantes poderiam ter sido excluídos da corrida por um diploma
universitário em instituições públicas. “Em 89% dos cursos, a política de cotas permitiu a
aprovação de estudantes de escola pública [no Ensino Médio] sem distinção de raça e renda
que concorreram a vagas reservadas e tiveram uma nota de corte menor que a geral”. Entre
negros, pardos e índios egressos da rede pública e com renda familiar per capita de até 1,5
salário mínimo, não se alcançou tal nota em 99,7% dos cursos (REIS; MORENO, 2014).
O sistema de cotas tem demonstrado sua eficácia em outro aspecto: o esforço dos
universitários cotistas em acompanhar os demais. A Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) constatou que, entre os matriculados em 2012, os beneficiados pelas cotas
obtiveram notas médias apenas 1,26% inferiores às dos não cotistas. No campus de Santos, o
conceito dos que entraram por cotas foi 8,71% superior. Das vagas abertas de 2005 a 2012,
10% foram reservadas para candidatos que se autodeclararam negros, pardos ou indígenas e
haviam cursado o Ensino Médio em escolas públicas (AGÊNCIA ESTADO, 2013).
Se as cotas amenizam a qualidade inferior à desejável na rede pública de ensino e reduzem o
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insucesso em vestibulares, o financiamento de alunos tem contribuído para que ingressantes
permaneçam em faculdades e concluam os cursos. O Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies), do Ministério da Educação (MEC), concede crédito para estudantes cujas famílias têm
renda total bruta de até 20 salários mínimos (porém, com financiamento de 100% do curso
limitado à renda familiar bruta de até dez salários mínimos), a juros anuais de 3,4% e
amortização em até 13 anos (BRASIL, 2011).
No Fies, também há normas de qualidade. A instituição na qual se esteja matriculado deve
ter obtido conceito igual ou superior a 3 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes). Entretanto, financiam-se apenas “cursos superiores presenciais”,
desconsiderando-se duas realidades: o emprego crescente da educação a distância (MACEDO
et al., 2005, p. 139) e deslocamentos, comumente longos, intermunicipais e em horários de
pico, entre o local do curso e os endereços de residência e de trabalho do aluno – 40% dos 2
milhões de viagens diárias na Baixada Santista são por motivo de estudo (SÃO PAULO, 2008).
Pode-se fazer outro parêntese relativo ao ensino a distância, tomando-se novamente como
exemplo a Região Metropolitana da Baixada Santista. Entre 2011 e 2012, o total de
matrículas nessa modalidade caiu 8%. Não se trata de desinteresse por formação
profissional: o número de inscritos em cursos tecnólogos (como os de Gestão e Logística,
Negócios Internacionais e de Serviço Portuário, afeitos à realidade de Santos, onde está o
maior porto brasileiro) cresceu 6,4 vezes entre 2003 e 2012 – de 1.532 para 9.837
matriculados, somadas as redes pública e privada (CALIXTO, 2014).
A maior oferta de vagas em cursos tecnólogos, a propósito, é uma demonstração de que
responsáveis por modalidades de Ensino Superior procuram trabalhar de acordo com os
desejos e necessidades de futuros profissionais, pondo à disposição cursos mais breves e
ligados ao quadro econômico regional. Contudo, se destaca a evolução mais lenta dos
governos em relação ao setor privado: enquanto em 2003 os matriculados em cursos
tecnólogos públicos eram praticamente 80% do total de alunos (1.224 entre 1.532 inscritos),
essa proporção diminuiu para pouco menos de 30% em 2012 (2.936 das 9.837 matrículas).
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3 Conclusão
A política de cotas, a oferta de financiamento estudantil e a variedade de cursos atualmente
disponível em instituições de Ensino Superior têm sido um caminho para a redução de
desigualdades raciais e socioeconômicas. Falta, no entanto, estimular o avanço da educação
a distância e com qualidade aferida por órgãos oficiais. Esta medida favoreceria ainda mais
os alunos que precisam trabalhar para o custeio de seus estudos, pois viagens longas e
cansativas para se chegar ao local de um curso presencial são, certamente, um risco ao bom
aproveitamento nas disciplinas necessárias à formação profissional do estudante.
Estado e prefeituras também devem investir na qualidade da educação básica desde o nível
fundamental, a fim de que futuros universitários egressos de escolas públicas cheguem à
faculdade com menor defasagem de conhecimento. Reduzir desigualdades, tanto entre o
ensino oficial e o privado quanto entre colégios públicos inseridos em regiões pobres e ricas,
poderá fazer com que o esforço pessoal do estudante oriundo da rede pública seja suficiente
na disputa por uma vaga no Ensino Superior. Até lá, a adoção de cotas continuará necessária.
Além disso, a burocracia da máquina pública, sujeita a concursos para admissão de
professores e a normas como a indispensável Lei de Licitações (Lei Federal 8.666, de 1993),
naturalmente impede que se acompanhe o ritmo de instituições particulares na oferta de
cursos voltados ao mercado de trabalho. Esta parece ser a senha para que o MEC e governos
estaduais direcionem esforços na formação de professores e de pesquisadores, justamente
para que se prepare de forma adequada a mão de obra necessária à realidade nacional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Último Segundo, São Paulo, 19 mai. 2013. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.
com.br/educacao/2013-05-19/na-unifesp-cotistas-e-nao-cotistas-tem-media-de-
desempenho-igual.html>. Acessado em: 22 abr. 2014.
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Disponível em: <http://sisfiesportal.mec.gov.br/index.html>. Acessado em: 22 abr. 2014.
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A-7.
MACEDO, A. R. et al. Educação superior no século XXI e a reforma universitária brasileira.
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Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v13n47/v13n47a02.pdf>. Acessado em: 21
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REIS, T.; MORENO, A.C. Aluno da rede pública passaria sem cota em 11% dos cursos do Sisu.
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