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O ESPAÇO FÍSICO ESTÁ ADEQUADO? UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS FÍSICOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS SOB A ÓTICA DE SEUS USUÁRIOS Valério A. S. Medeiros (1) ; Izabela R. M. Cunha (2) ; Thaisa M. Leite (3) (1) UnB/Câmara dos Deputados/Unieuro, e-mail: [email protected] (2) Câmara dos Deputados, e-mail: [email protected] (3) Câmara dos Deputados, e-mail: [email protected] Resumo A Câmara dos Deputados, atualmente composta por 6 edifícios em seu Complexo Arquitetônico Principal, ocupa uma área construída de aproximadamente 173.000m². Alguns desses espaços já experimentaram modificações de uso e ocupação em relação ao projeto original (alguns contemporâneos à construção de Brasília) devido ao dinamismo espacial da instituição, seja em função das atividades ali desempenhadas ou do crescente número de pessoas que circulam e trabalham diariamente por esses espaços. Atualmente o cenário é de conflito, com significativos quadros de carência de espaço físico para o desempenho das atividades legislativas e administrativas da instituição. Diante desse contexto, o artigo visa analisar os espaços físicos da Casa Legislativa, em particular aqueles pertencentes ao Ed. Deputado Flávio Marcílio – o Anexo IV – que contém 432 gabinetes parlamentares. A estratégia adotada foi o estudo de caso com o suporte metodológico e ferramental da Teoria da Lógica Social do Espaço e da Avaliação Pós-Ocupação. Para a coleta de dados foram realizados levantamentos in loco, contemplando entrevistas com os usuários por meio da aplicação de fichas de coleta de informações do espaço físico sobre uso e ocupação. Os resultados obtidos geraram um banco integrado contendo informações de natureza espacial, fornecendo subsídios para projeto e manutenção do edifício Anexo IV. Palavras-chave: uso e ocupação dos espaços físicos, qualidade dos espaços físicos, plano diretor de uso dos espaços, Câmara dos Deputados. Abstract The Chamber of Deputies, currently composed by 6 buildings on its Main Architectural Complex, occupies an area of approximately 173.000m². Some of these spaces have undergone use and occupation changes in relation to its original design due to the institutional spatial dynamism, because of the activities carried out in the Parliament and the increasing number of people who work and circulate there. The result is a scenario of conflicts among units, which affects the performance of the corresponding legislative or administrative tasks. In this context, this paper aims at analyzing the built spaces of the Legislative House, particularly those belonging to Dep. Flavio Marcílio Building – Annex IV (432 parliamentary offices). The strategy adopted for the case study was associated with the Theory of Social Logic of Space, as well as the Post-Occupancy Evaluation approach. For data collection, surveys were conducted, taking into account interviews with users and application of forms for collecting information about space use and occupation. The results generated a database containing information on how use and occupancy occurs at Annex IV, offering support for design and maintenance strategies. Keywords: built space use and occupation, quality of built spaces, master plan for the use of spaces, Chamber of Deputies. XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora 3931

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O ESPAÇO FÍSICO ESTÁ ADEQUADO?UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS FÍSICOS DA CÂMARA DOS

DEPUTADOS SOB A ÓTICA DE SEUS USUÁRIOS

Valério A. S. Medeiros(1); Izabela R. M. Cunha(2); Thaisa M. Leite(3)

(1) UnB/Câmara dos Deputados/Unieuro, e-mail: [email protected](2) Câmara dos Deputados, e-mail: [email protected]

(3) Câmara dos Deputados, e-mail: [email protected]

ResumoA Câmara dos Deputados, atualmente composta por 6 edifícios em seu Complexo Arquitetônico Principal, ocupa uma área construída de aproximadamente 173.000m². Alguns desses espaços já experimentaram modificações de uso e ocupação em relação ao projeto original (alguns contemporâneos à construção de Brasília) devido ao dinamismo espacial da instituição, seja em função das atividades ali desempenhadas ou do crescente número de pessoas que circulam e trabalham diariamente por esses espaços. Atualmente o cenário é de conflito, com significativos quadros de carência de espaço físico para o desempenho das atividades legislativas e administrativas da instituição. Diante desse contexto, o artigo visa analisar os espaços físicos da Casa Legislativa, em particular aqueles pertencentes ao Ed. Deputado Flávio Marcílio – o Anexo IV – que contém 432 gabinetes parlamentares. A estratégia adotada foi o estudo de caso com o suporte metodológico e ferramental da Teoria da Lógica Social do Espaço e da Avaliação Pós-Ocupação. Para a coleta de dados foram realizados levantamentos in loco, contemplando entrevistas com os usuários por meio da aplicação de fichas de coleta de informações do espaço físico sobre uso e ocupação. Os resultados obtidos geraram um banco integrado contendo informações de natureza espacial, fornecendo subsídios para projeto e manutenção do edifício Anexo IV. Palavras-chave: uso e ocupação dos espaços físicos, qualidade dos espaços físicos, plano diretor de uso dos espaços, Câmara dos Deputados.AbstractThe Chamber of Deputies, currently composed by 6 buildings on its Main Architectural Complex, occupies an area of approximately 173.000m². Some of these spaces haveundergone use and occupation changes in relation to its original design due to the institutional spatial dynamism, because of the activities carried out in the Parliament and the increasing number of people who work and circulate there. The result is a scenario of conflicts among units, which affects the performance of the corresponding legislative or administrative tasks. In this context, this paper aims at analyzing the built spaces of the Legislative House, particularly those belonging to Dep. Flavio Marcílio Building – Annex IV (432 parliamentary offices). The strategy adopted for the case study was associated with the Theory of Social Logic of Space, as well as the Post-Occupancy Evaluation approach. For data collection, surveys were conducted, taking into account interviews with users and application of forms for collecting information about space use and occupation. The results generated a database containing information on how use and occupancy occurs at Annex IV, offering support for design and maintenance strategies. Keywords: built space use and occupation, quality of built spaces, master plan for the use of spaces, Chamber of Deputies.

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1. INTRODUÇÃOO presente artigo visa analisar os espaços físicos da Câmara dos Deputados (Brasília-DF/Brasil), em particular aqueles localizados no Ed. Deputado Flávio Marcílio (Anexo IV), que abriga 432 gabinetes parlamentares. O edifício é um dos seis pertencentes ao Complexo Arquitetônico Principal da Casa Legislativa, situada ao longo e no entorno do Eixo Monumental e da Praça dos Três Poderes, totalizando uma área aproximada de 173.000m². Oestudo objetiva investigar a relação entre a oferta de espaços físicos e o desempenho das atividades legislativas e administrativas na instituição, explorando a opinião dos usuários.

Para o desenvolvimento da pesquisa, a estratégia adotada foi o estudo de caso com o suporte metodológico e ferramental da Teoria da Lógica Social do Espaço (HILLIER e HANSON, 1984; HILLIER, 1996), bem como da Avaliação Pós-Ocupação (RHEINGANTZ et al., 2009).Para a coleta de dados foram realizados levantamentos in loco e entrevistas com os usuários(walkthrough) com a aplicação de fichas de coleta de informações do espaço físico sobre uso e ocupação, natureza do espaço físico, mobiliário, adequação ambiental, acessibilidade, qualidade do espaço de trabalho, quantidade de funcionários, dentre outros (Anexo 1). O levantamento foi realizado no ano de 2010, contando com uma equipe de arquitetos,engenheiro civil, projetistas e estagiários de arquitetura (média de 4 a 5 pessoas). Posteriormente, os dados coletados foram inseridos em um Sistema de Informação Geográfica (geoprocessamento), o que permitiu o mapeamento e análise das informações coletadas. A pesquisa sobre os espaços físicos da Casa Legislativa está vinculada aos trabalhos técnicos da Coordenação de Projetos do Departamento Técnico (CPROJ/DETEC); ao desenvolvimento do Projeto Estratégico “Plano Diretor de Uso dos Espaços” (CT01, 2010; BRASIL, 2010), integrante do planejamento da instituição; e às atividades de investigação deGrupos de Pesquisa e Extensão do Centro de Formação da Câmara dos Deputados (“A investigação da forma-espaço em edifícios complexos: estratégias para gerenciamento e planejamento de espaço físico na Câmara dos Deputados”, finalizado em julho de 2011, e “A política do espaço: uma investigação comparativa entre a estrutura espacial e o desempenho das atividades em Casas Legislativas – Congresso Nacional/Brasil e Assembleia da República/Portugal”, cujas atividades foram iniciadas em agosto de 2011).

2. CÂMARA DOS DEPUTADOS: ED. DEPUTADO FLÁVIO MARCÍLIOO Edifício Deputado Flávio Marcílio, ou Anexo IV da Câmara dos Deputados, surgiu pelanecessidade em abrigar escritórios individuais para 420 deputados e suas equipes de apoio imediato, a partir da mudança nas políticas de alocação de espaços e do aumento no número de parlamentares na Casa Legislativa no final da década de 1970. Situado na via S2, o prédio foi oficialmente inaugurando em 1981, contemplando o último acréscimo significativo ao Complexo Arquitetônico Principal da Câmara dos Deputados (CT01, 2010).

O projeto, proposto pelo arquiteto Oscar Niemeyer no período de 1977-1978, consistia em uma solução composta por um bloco retangular com dimensões aproximadas de 205m x 17m, com 11 pavimentos e garagem coberta (Figura 1). De acordo com a concepção do arquiteto, os espaços existentes do 2º ao 9º pavimento seriam destinados aos gabinetes parlamentares, com estruturação baseada em módulos de 6m x 6m(Figura 2). Esses módulos seriam “providos de divisórias removíveis, flexíveis [...], aptas portanto às modificações que cada um preferir” (NIEMEYER,1977). O térreo compreenderia as áreas de acesso e comuns, enquanto o subsolo seria destinado aos setores de mecanografia, manutenção, depósitos, etc. No 10º andar, haveria um grande restaurante com capacidade para 300 pessoas “abrindo para um grande terraço ajardinado”, a permitir ampla vista da Praça

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dos Três Poderes e do entorno imediato.Para aperfeiçoar os espaços da edificação, os dois volumes correspondentes às circulações verticais estariam destacados do bloco, onde uma seria destinada aos deputados e outra aos serviços. Pela proposta original, banheiros comuns, copas e áreas de descarte do lixo estariam contíguos à circulação vertical de serviço.

Como forma de manter uma conexão física com os demais edifícios do Complexo Arquitetônico da Câmara dos Deputados, principalmente com o Plenário do Edifício Principal, foi proposto um túnel sob a via S2, percorrível por meio de um “tapis rolant”(esteira rolante). A estratégia permitiria que o percurso entre os gabinetes e o plenário fosse realizado em torno de 3 minutos (Figura 3), amenizando o problema da distância.

Figura 1 – Croquis do Ed. Dep. Flavio Marcílio, Anexo IV. Crédito: Oscar Niemeyer, 1977.

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Figura 2 – Croquis da proposta para os gabinetes parlamentares. Crédito: Oscar Niemeyer, 1977.

Figura 3 – Corte esquemático ilustrando a ligação entre o Ed. Principal e o Anexo IV. Crédito: Oscar Niemeyer, 1977.

2.1. O contexto atualAtualmente o Edifício Anexo IV (Figura 4) mantem as características funcionais semelhantes àquelas de sua época de construção: predominam os gabinetes parlamentares, prevalecendo assim o forte caráter legislativo dos seus espaços. Do 2º ao 9º andar, além dos gabinetes (são 54 por andar), é possível encontrar áreas destinadas às comissões e frentes parlamentares, aos serviços de apoio técnico aos gabinetes e, também, copas e banheiros de uso comum (fazendo parte do bloco principal e não mais das áreas de circulação como proposto no projeto inicial), entre outros.

Anexo IVAnexo II

Ed. Principal

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No subsolo, além das áreas técnicas, existem espaços administrativos como o Centro de Informática (CENIN), unidades de apoio às atividades parlamentares, salas destinadas à lideranças partidárias e à Rádio Câmara.

No térreo, o pavimento é marcado pela presença de concessões como companhias aéreas, bancos, agência dos correios e banca de revistas/livraria, assim como espaços de apoio às atividades parlamentares. No 10º andar, encontram-se espaços destinados a restaurante (com capacidade para 300 pessoas), cafeteria, área para exposição de trabalhos artísticos, capela (inexistente na época de inauguração do edifício) e jardins.

(a)

(b)

(c)Figura 4 - Plantas baixas esquemáticas do Anexo IV: (a) subsolo, (b) térreo e (c) pavimento tipo. Fonte: acervo

SEGEP/CPROJ/DETEC/CD, 2010.

3. LEVANTAMENTO DE USO E OCUPAÇÃO: O ESPAÇO ESTÁ ADEQUADO?Para a verificação do estado dos espaços no Edifício Anexo IV, o levantamento de uso e ocupação teve início no mês de maio 2010, com finalização em outubro daquele mesmo ano. A coleta baseou-se no preenchimento de ficha de inventário para preenchimento manual, contemplando informações sobre duas categorias principais: Uso e Atividade (Geral, Específico 1, Específico 2, Concessões, Mobiliário, Adequação Ambiental, Tipos de Obras de Arte/Patrimônio Integradas, Acessibilidade) e Servidores (Geral, Servidores por Turno e Previsão de Novas Contratações). Havia campo para anotações gerais, o que serviria para relatar as observações dos usuários em relação ao seu espaço de trabalho, base portanto para as interpretações a seguir (Anexo 1).

Complementarmente, além da ficha de levantamento, utilizaram-se como apoio para a coleta dos dados, os desenhos dos arquivos de base dos pavimentos do edifício em formato CAD.

Realizados em pares, os levantamentos foram iniciados pelos pavimentos destinados aos gabinetes parlamentares. A rotina de coleta de informações tornou possível conhecer com refinamento a dinâmica de trabalho dos servidores em cada gabinete (funções, horários de trabalho, etc.) e como o espaço físico se relaciona a tal dinâmica.

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Após o levantamento e a sistematização das informações cadastradas no campo anotações gerais foi possível identificar quais os grupos de variáveis interferem e/ou se relacionam com o desempenho das atividades exercidas nesses espaços, a contar o ponto de vista dos usuários (balizado pelos registros consolidados pelos inventariantes): (a) adequação ambiental (ventilação natural e mecânica, isolamento acústico, iluminação natural e mecânica); (b) espaço físico (circulação, acessibilidade, adequação às atividades dentro de um gabinete parlamentar); (c) mobiliário; (d) componente construtivo (esquadrias, brises, divisórias); e (e) instalações prediais (elétrica e rede).a) Adequação AmbientalApesar de todos os gabinetes do Anexo IV apresentarem aberturas que permitem a ventilação natural (esquadrias do tipo guilhotina), o desempenho não é suficiente, o que obriga ao uso constante de ventilação mecânica ou ar condicionado. O sistema utilizado no edifício é do tipo central e há uma programação para o horário de funcionamento. Isso limita a forma de controle individual por gabinete, pelos usuários. Além disso, a forma de distribuição(aberturas de insuflamento e retorno) não atende todo o gabinete, promovendo maior refrigeração em certas partes do ambiente e menor em outras.

Foi recorrente também a reclamação por parte dos usuários quanto à manutenção desse sistema. Muitos apontaram apresentar quadro clínico de crises alérgicas, influenciando para uma queda no desempenho das atividades.Em relação ao conforto acústico, há inadequação quanto ao isolamento acústico entre os gabinetes. Foram cadastradas várias reclamações sobre a necessidade de ter maior privacidade e isolamento acústico, não só entre gabinetes mas dentro dos gabinetes também, inclusive por conta do espaço privativo dos deputados.A respeito da iluminação artificial, percebe-se que o leiaute das luminárias não acompanha as modificações frequentes nos espaços físicos – remanejamentos internos – gerando em algumas situações zonas/espaços escuros.

b) Espaço FísicoAo se contabilizar o número de funcionários (por categoria/por turno), percebeu-se que a média de servidores em um gabinete está em torno de 6 a 7 pessoas, sem considerar o deputado. Com a crescente diversidade de atividades (assessoria jurídica, orçamentária, política, de imprensa, atendentes, secretárias(os), motoristas, etc.) para suprir as demandas da região que o parlamentar representa, historicamente verifica-se o progressivo aumento no número de secretários parlamentares por gabinete (CT01, 2010).Ao observarmos a proposta inicial do arquiteto Oscar Niemeyer, a partir de seus croquis depreende-se que a quantidade de servidores oscilava em torno de 3 a 4 pessoas (sem considerarmos a figura do deputado). Como hoje esse número, em média, duplicou, o espaço se tornou insuficiente, o que tende a gerar conflitos e dificuldades funcionais (Figura 5).Em inúmeros ambientes visitados, foi comum o registro de solicitações de ampliação de área para os gabinetes, especialmente para recebimento de visitantes, realização de reuniões, área de convívio (incluindo copa), etc.

c) MobiliárioEm relação ao mobiliário, as observações e ponderações coletadas são aquelas referentes à inadequação das atividades de trabalho que envolvem os equipamentos utilizados atualmente, como computadores e impressoras de grande porte e, também, às questões ergonométricas.

d) Componente Construtivo

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Aqui emergiram nos registros as ponderações sobre o desempenho das esquadrias do Anexo IV. No edifício, as duas fachadas (principal e posterior) são compostas por esquadrias do tipo guilhotina que, tendo em vista a possibilidade de abertura do vão em até 50%, favorecem a ventilação (os panos de vidro apresentam aproximadamente 1,20m de altura, com 0,10m de espessura). A despeito disso, problemas de manutenção tornam o manuseio difícil, comprometendo as aparentes vantagens da solução. Outro aspecto sobre as esquadrias é a questão da estanqueidade. Os gabinetes voltados para fachada norte sofrem com vazamentos de água que ocorrem devido às fortes chuvas comvento (direção norte, noroeste). O aspecto reforçou, novamente, a questão de manutenção preventiva, pois o comprometimento de materiais é perceptível, a incluir piso e mobiliário em processo de deterioração.e) Instalações prediaisQuanto às instalações prediais, em particular as que se referem às instalações elétricas e de rede, são comuns os registros de problemas entre os equipamentos e a infraestrutura disponível. Aparentemente não há sincronia entre a tecnologia e a oferta de redes, tendo em vista a própria idade da edificação. São críticas verificadas, em alguns casos, a adoção de soluções transitórias que precisam ser melhor sincronizadas com os tipos de atividades alirealizadas.

(a) (b)Figura 5 - (a) Croqui da proposta do gabinete parlamentar, segundo o arquiteto Oscar Niemeyer e (b) layout

aproximado de um gabinete com ocupação por até 10 pessoas, incluindo o deputado. Fonte: Niemeyer, 1977; SEGEP/CPROJ/DETEC/CD, 2010.

4. CONSIDERAÇÕES FINAISOs resultados obtidos a partir do levantamento realizado nos gabinetes parlamentares do Anexo IV, Ed. Dep. Flávio Marcílio, durante o ano de 2010, geraram um banco de dados contendo informações sobre o uso e a ocupação desses espaços. São de especial interesse as observações coletadas com os usuários que servem para compor um cenário do desempenho do edifício a partir do ponto de vista daqueles que usufruem dos espaços diariamente. A partir de tais percepções, confrontadas com o olhar técnico dos integrantes da equipe de coleta, percebe-se o destaque para alguns aspectos que precisam ser revistos em estratégias de requalificação do edifício. Os resultados apontam que as variáveis apresentadas (adequação

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ambiental, espaço físico, mobiliário, componentes construtivos e instalações prediais) expõem feições que precisam ser revistos constantemente pelos correspondentes órgãos técnicos da Câmara dos Deputados, a fim de propor políticas de manutenção predial, melhorias nos espaços físicos, repensando modelos e propostas para novos projetos arquitetônicos.Importante ainda observar como resultante do estudo que a cada levantamento e análise dos espaços físicos é necessário reavaliar a metodologia de coleta dos dados, revisando as fichas de coleta. Por outro lado, a experiência, cujos resultados preliminares estão aqui apresentados, expõe a necessidade de treinar a equipe sobre a abordagem aos usuários, capacitando constantemente os servidores responsáveis pela atividade de modo a entender os espaços físicos da Câmara dos Deputados e a dinâmica dos trabalhos tanto da área legislativa quantoadministrativa. Além disso, as informações coletadas precisam ser mapeadas para que a leitura e a discussão entre os diferentes atores sejam mais claras e compreensíveis (Figura 6), o que já vem sendo iniciado por meio das ações para a implantação de uma base georreferenciada de informações espaciais na Casa Legislativa.

Figura 6 – Mapeamento das informações relativas à quantidade de funcionários no Anexo IV (plantas baixas àdireita da imagem) Fonte: acervo SEGEP/CPROJ/DETEC/CD, 2011.

A pesquisa, ainda que exposta de maneira sintética, demonstrou a riqueza em se incluir, na investigação sobre os espaços físicos, a perspectiva do usuário, especialmente quando instadoa expressar opiniões a respeito de seu próprio ambiente de trabalho. Isso permite uma melhor aproximação e cruzamento de informações comparativas entre as percepções técnicas (arquitetos, engenheiros, projetistas e estagiários) e de utilizadores, o que tende a contribuir para a melhora do desempenho espacial (se articulada a ações de projetos). Acredita-se que a abordagem contempla uma perspectiva prolífica para que sejam criadas diretrizes projetuais precisas e melhor articuladas com a realidade do ambiente construído, fornecendo adequados níveis de conforto e segurança aos usuários.

REFERÊNCIASBRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Portal da gestão estratégica: glossário. Disponível em: <http://intranet2.camara.gov.br/servidor/gestaoestrategica/glossario>. Acesso em: 28 de jun. 2010.

CT01. Caderno Técnico 01 – PDUE (planejamento dos espaços físicos). Brasília: SEGEP/NUARQ/CPROJ/DETEC/DIRAD/DG. Câmara dos Deputados, 2010 (mimeo);

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HILLIER, B. Space is the machine. London: Cambridge Univ. Press, 1996.

HILLIER, B; HANSON, J. The social logic of space. Londres: Cambridge Univ. Press, 1984.

NIEMEYER, O. Novos gabinetes para deputados. jun. 1977. Estudo preliminar. Projeto: Oscar Niemeyer. Paris, 1977.

RHEINGANTZ, P. A et al. Observando a qualidade do lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. (Coleção PROARQ)

AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer a colaboração das equipes (a) SEGEP/CPROJ/DETEC/CD (Seção de Gerenciamento e Planejamento dos Espaços Físicos/Coordenação de Projetos/Departamento Técnico/Câmara dos Deputados), (b) DIRAD/DG/CD (Diretoria Administrativa/Diretoria Geral/Câmara dos Deputados) e (c) APROGE/DG/CD (Assessoria de Projetos e Gestão/Diretoria Geral/ Câmara dos Deputados), para a realização do estudo. Além disso, deixam expresso o reconhecimento à CAPES pelo suporte financeiro na forma de bolsa de pós-doutorado concedida ao primeiro autor deste artigo, para realização de pesquisa associada ao tema.

ANEXO

Anexo 1 – Ficha de coleta de dados utilizada durante o levantamento nos gabinetes do Anexo IV. As percepções dos usuários eram complementarmente anotadas no campo Observações. Fonte:

SEGEP/CPROJ/DETEC/CD, 2010.

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