12
O ESPAÇO RURALE A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO NA AMAZONIA THE RURAL AREA AND THE MAN X BIOPHYSICAL ENVIRONMENT RELATION IN THE AMAZON Apresentação: Comunicação Oral Manoel Júlio Albuquerque Filho 1 ; Camila Suely Leite do Vale 2 ; Carlos Anderson Sousa de Carvalho 3 Brendo Wilson da Silva Lima 4 ; Louise Ferreira Rosal 5 DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00172 Resumo O trabalho objetivou analisar por meio da vivencia as atividades desenvolvidas pelos produtores rurais, bem como as atividades vegetais e animais; sobretudo a sua interação familiar, cultural e social no espaço rural amazônico, tendo como eixo norteador a relação homem x meio biofísico. Logo, com o intuito de identificar os desafios da agricultura familiar na região amazônica, os discentes de agronomia do IFPA Campus Castanhal, experiêciaram a oportunidade de conhecer a rotina de uma propriedade rural localizada no município de Inhangapi- PA. Apresentando importantes diferenças em suas sociedades já constituídas, o Estado do Pará, que teve pela diversidade dos meios sociais que designaram seu apoderamento e chamaram a atenção pela influencia do meio biofísico na vida social, e faz parte desse espaço amazônico, sendo que esses processos sociais, já foram campos de observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com a precisão de recriar através da arte, na literatura, a sociedade marajoara (JURANDIR, 1992), a civilização da borracha e a batalha com indígenas (NUNES, 2003), os cacauais cultivados em Óbidos (SOUZA, 1973), entre outros. Sidersky (1990), utilizando simultaneamente os conceitos do pequeno produtor e do campesinato, estabelece três características básicas para precisar o espaço rural: o acesso aos meios de produção, entre os 1 Licenciado em Química, UFPA. Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected] 2 Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected] 3 Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected] 4 Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected] 5 Doutora em Agronomia (Fitotecnia), IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

O “ESPAÇO RURAL” E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO NA

AMAZONIA

THE RURAL AREA AND THE MAN X BIOPHYSICAL ENVIRONMENT

RELATION IN THE AMAZON

Apresentação: Comunicação Oral

Manoel Júlio Albuquerque Filho1; Camila Suely Leite do Vale

2; Carlos Anderson

Sousa de Carvalho3 Brendo Wilson da Silva Lima

4; Louise Ferreira Rosal

5

DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00172

Resumo

O trabalho objetivou analisar por meio da vivencia as atividades desenvolvidas pelos

produtores rurais, bem como as atividades vegetais e animais; sobretudo a sua interação

familiar, cultural e social no espaço rural amazônico, tendo como eixo norteador a relação

homem x meio biofísico. Logo, com o intuito de identificar os desafios da agricultura familiar

na região amazônica, os discentes de agronomia do IFPA – Campus Castanhal, experiêciaram

a oportunidade de conhecer a rotina de uma propriedade rural localizada no município de

Inhangapi- PA. Apresentando importantes diferenças em suas sociedades já constituídas, o

Estado do Pará, que teve pela diversidade dos meios sociais que designaram seu

apoderamento e chamaram a atenção pela influencia do meio biofísico na vida social, e faz

parte desse espaço amazônico, sendo que esses processos sociais, já foram campos de

observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão

distintas, com a precisão de recriar através da arte, na literatura, a sociedade marajoara

(JURANDIR, 1992), a civilização da borracha e a batalha com indígenas (NUNES, 2003), os

cacauais cultivados em Óbidos (SOUZA, 1973), entre outros. Sidersky (1990), utilizando

simultaneamente os conceitos do pequeno produtor e do campesinato, estabelece três

características básicas para precisar o espaço rural: o acesso aos meios de produção, entre os

1Licenciado em Química, UFPA. Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

2Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

3Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

4Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

5 Doutora em Agronomia (Fitotecnia), IFPA – Campus Castanhal, [email protected]

Page 2: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

quais a terra; o caráter familiar da produção; a relação com o mercado, como ligação com o

sistema global capitalista. Características essas que também foram discutidas por Romeiro

(1998). Para a obtenção de dados, utilizou - se o Diagnóstico Rápido Participativo de

Agroecossistemas, de WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995), e Ferramentas de Diálogo.

A comunidade Arajó, tem uma ligação direta com o rio Guamá, que proporciona a presença

da floresta equatorial higrófila de várzea, este fator influência de forma direta a presença de

açaizais nativos na propriedade, sendo esse o “espaço rural” de muitas famílias da região

amazônica. Das reflexões realizadas no âmbito da pesquisa, identificou-se a relação familiar

com o “espaço rural”, local de dinâmica com o meio biofísico. Observou-se que a família já

ocupa a área há 30 anos e conseguiu desenvolver estratégias de meio de vida apesar das

condições difíceis. As suas decisões por um modelo de desenvolvimento sem a necessidade

de desmatar grande parte da propriedade é uma das estratégias, até mesmo devido às boas

condições impostas pela própria natureza no caso dos açaizais nativos que são manejados

segundo recomendação técnica da EMATER – PA.

Palavras-Chave: campesinato amazônico, espaço rural, homem x meio biofísico.

Abstract

This project aimed to analyze the activities developed by rural producers through

experience, as well as vegetal and animal activities, especially their family, cultural and social

interactions in Amazonian rural space using man x biophysical environment relationship as a

guiding element. Therefore, the agronomy students from IFPA – Campus Castanhal

experienced the opportunity to know the routine of a rural property in Inhangapi – PA in order

to identify the challenges of family agriculture in the Amazonian region. Portraying important

differences in its assembled societies, the state of Pará had its take over through the diversity

of social channels that drew the attention for the influence of biophysical environment in

social life and it’s part of the Amazonian space and its social processes, which have already

been noticed by novelists that reaped characters of such singular social occupations recreating

accurately in literature the Marajoara society (JURANDIR, 1992), the rubber civilization and

the battle against the indigenous (NUNES, 2003), the cocoa trees cultivated in Óbidos

(SOUZA, 1973), among others. Sidersky (1990), employs the concepts of the small farmer

and peasantry simultaneously and establishes three basic traits to pinpoint rural space: the

access to production resources – including the land, the family nature of production, the

relationship with the market as a connection with the global capitalist system. These

characteristics were also discussed by Romeiro (1998). This data was obtained in Quick

Inclusive Diagnosis of Agroecosystems, WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995) and

Tool for Dialogue. The Arajó community has direct link with the Guamá River which enables

the presence of Equatorial Floodplain Forests. This determines directly the presence of native

açai berry trees in the property and becoming the “rural space” of many families in the

Amazonian region. From all the debates carried out in our search area, we could identify a

homelike relationship with the “rural space” which is the dynamics spot with the biophysical

environment. The family has occupied the area for 30 years and managed to develop

livelihood strategies to overcome their harsh conditions. One of these strategies is the decision

for a development model that avoids deforestation of great part of the property due to good

conditions imposed by nature itself, which is the case of the native açai berry trees that are

Page 3: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

handled according to technical advice from EMATER – PA.

Key words: amazonian peasantry, rural space, man x biophysical environment.

Introdução

A agricultura familiar é de suma importância para o país, pois cerca de 70% da

produção dos alimentos básicos consumidos pelos brasileiros vem destas propriedades rurais

(Wanderley, 2014). Conhecer a rotina de vida dos pequenos produtores rurais é essencial para

entender o seu trabalho, cultura e espaço familiar, fazendo com que se destine mais respeito e

reconhecimento a quem tem um papel de fundamental importância na manutenção alimentar

do Brasil.

Logo, com o intuito de identificar os desafios da agricultura familiar na região

amazônica, através da vivencia, os discentes do 3º período do curso de agronomia por meio

do Estágio Supervisionado I, experiêciaram a oportunidade de conhecer a rotina de uma

propriedade rural localizada no município de Inhangapi- PA.

O estágio possui como eixo norteador: Homem X Meio Biofísico, levando a

possibilitar uma análise da relação do agricultor com os agroecossistemas amazônicos,

ocasionando observações para as práticas e técnicas empregadas na agricultura familiar e o

seu desenvolvimento. Perante a necessidade de se conhecer melhor e amplamente a rotina de

uma família de produtores rurais, o presente trabalho objetivou analisar por meio da vivencia

as atividades desenvolvidas pelo produtor rural, assim como as atividades vegetais e animais

praticadas por ele, sobretudo a sua interação familiar, cultural e social.

A vivencia possibilitou analisar a percepção do olhar do agricultor para o meio no qual

esta inserido, como as condições climáticas, solo, recursos hídricos e a convivência familiar

interferem em sua rotina de trabalho. Foi possível também observar a influência cultural no

seu manejo e tratos vegetais, e entender o que significa o “espaço rural” para ele.

Fundamentação Teórica

Sidersky (1990), utilizando simultaneamente os conceitos do pequeno produtor e do

campesinato, estabelece três características básicas para precisar o espaço rural: o acesso aos

meios de produção, entre os quais a terra; o caráter familiar da produção; a relação com o

Page 4: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

mercado, como ligação com o sistema global capitalista. Características essas que também

foram discutidas por Romeiro (1998).

Apresentando importantes diferenças, em suas sociedades já constituídas, o Estado do

Pará, que teve pela diversidade dos meios sociais que designaram seu apoderamento e

chamaram a atenção pela influencia do meio biofísico na vida social. Esses processos sociais,

que foram campos de observação de romancistas de onde se extraíram personagens de

ocupações sociais tão distintas, com a precisão de recriar através da arte, na literatura, a

sociedade marajoara (JURANDIR, 1992), a civilização da borracha e a batalha com indígenas

(NUNES, 2003), os cacauais cultivados em Óbidos (SOUZA, 1973), entre outros.

O modelo de desenvolvimento atual é colonialista. Isso significa que se reconhece

como superior uma só concepção moderna de manejo e uso dos recursos naturais em

detrimento das práticas tradicionais de pequenos agricultores. Esse modelo tem enfoque

mercantilista. As ações de desenvolvimento estão diretamente projetadas para o

funcionamento e as regras do sistema de mercado. O que traz um modelo alternativo? Um

modelo de desenvolvimento alternativo pressupõem pensar em processo de

desmercantilização – portanto, a solução para essa hipótese não é simples, já que esse

processo orienta a retirar as atividades econômicas do funcionamento da lei do valor – assim,

não deveria ser identificado como desenvolvimento. O agricultor familiar, em seu “espaço

rural”, desempenha importante papel no cotidiano de vida na Amazônia por conta de sua

gestão ambiental e múltipla sócio diversificada? Então, se pode presumir que esse modelo

alternativo leva a um modelo de desenvolvimento de caráter integral, tendo além dos aspectos

econômicos, as relações harmônicas com a natureza e entre os seres humanos.

Metodologia

O estágio supervisionado I foi realizado no município de Inhangapi, situado a 95 km

da capital Paraense (Belém), na mesorregião metropolitana de Belém, nordeste paraense, na

microrregião de Castanhal, com as seguintes coordenadas geográficas latitude: - 1° 20' 54''

Sul, Longitude: - 47° 54' 38'' Oeste. A pesquisa iniciou-se no dia 05 de fevereiro de 2018 e

teve duração de dez dias na propriedade denominada Sítio Macaimbara, localizada na

comunidade Arajó. O Sítio conta com uma área total de 61, 5495 ha e prevalece a mão de

obra familiar, residem 8 pessoas, entre estes estão: o pai, a mãe, três filhos, um genro e dois

Page 5: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

netos. As atividades desenvolvidas na propriedade são realizadas pelo pai, a mãe, um dos

filhos e o genro, entretanto a única renda não-agrícola é a do bolsa família de um dos netos.

Para a obtenção de dados, utilizou - se o Diagnóstico Rápido Participativo de

Agroecossistemas, de WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995), e Ferramentas de Diálogo,

pois estas literaturas se apresentam como ferramentas didáticas, acessíveis e de fácil

entendimento para ser usada pelos discentes em questão e para serem aplicadas aos produtores

rurais. Com o apoio dos materiais citados foram realizadas, caminhadas transversais, para

discernir a propriedade e as culturas vegetais estabelecidas, observação participante, registros

fotográficos, aplicação de um questionário através do diálogo com os agricultores, mapa de

localidade e da propriedade, especificando a posição desta na comunidade e demonstrando a

produção animal e vegetal, foi realizado também um calendário sazonal, e levantamento

bibliográfico dos dados do município. Tais metodologias foram aplicadas para assegurar a

participação do agricultor em todas as fases do processo de desenvolvimento: diagnóstico,

avaliação e reprogramação de ações.

Resultados e Discussão

A comunidade Arajó, é uma das comunidades mais antigas do município. A escolha

ocorreu devido esta localidade ter uma ligação direta com o rio Guamá, que proporciona a

presença da floresta equatorial higrófila de várzea, este fator influência de forma direta a

presença de açaizais nativos na propriedade, sendo esse o “espaço rural” de muitas famílias da

região amazônica. No sítio Macaimbara existem duas casas, formando duas unidades

familiares, porém, a estadia dos discentes no período do estágio realizou-se na unidade mais

antiga, sendo esta dos proprietários da terra, que se instalaram na área em meados de 1988, já

a nova unidade familiar é formada por uma das filhas do casal.

Com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará /

EMATER – PA, escritório local de Inhangapi, se obteve acesso ao Cadastro Ambiental Rural

(CAR), do Sítio Macaimbara e então foi possível através do programa de imagens de satélite

google Earth, realizar a captura de imagens da região e mostrar uma imagem área da

propriedade, como descrevemos nas figuras 1 e 2.

Page 6: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

Figura 1. Imagem de Satélite da região do

Arajó

Fonte: google EARTH, acessado em 15 de

fevereiro de 2018, às 15:00 H.

Figura 2. Imagem de Satélite ampliada da

propriedade Sítio Macaimbara.

Fonte: google EARTH, acessado em 15 de

fevereiro de 2018, às 16:00 H.

No que tange aos fatores biofísicos relacionados à vegetação da propriedade, esta se

apresenta com uma cobertura de floresta secundária intercalada com cultivos agrícolas,

espécies ombrófilas latifoliadas, com predominância das palmeiras. Entre essas palmeiras,

destaca-se o açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.), espécie de grande importância

socioeconômica, haja vista que, a comercialização do açaí é a maior fonte de renda das

famílias da comunidade Arajó e comunidades adjacentes. Em termos climáticos o município

de Inhangapi possui clima tropical, sendo classificado segundo a THORNTHWAITE como

Af. 26.7 °C e a sua temperatura média e pluviosidade média anual de 2384 mm, tendo um

balanço hídrico bem interessante. Os solos nesta região são predominantemente argissolo

amarelo, solos que apresentam textura variando de arenosa média até muito argilosa, com o

horizonte superficial A do tipo moderado e proeminente. A vegetação de terra firme é

composta pela floresta equatorial subperenifolia densa (Embrapa, 2001). Caracteriza – se por

apresentar fisionomia e estrutura variada, com algumas espécies que perdem parcialmente a

folhagem na época de maior estiagem. Vale ressaltar que no sitio Macaimbara se encontra

uma pequena parcela deste tipo de vegetação, pois é em parte destas áreas de terra firme que a

Page 7: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

família utiliza do método de derruba e queima, para poder implantar as culturas temporárias

(de subsistência).

Ocorre, também, em maior extensão, na propriedade, a floresta equatorial higrófila de

várzea, margeando os cursos dos rios e seus afluentes. Caracterizam– se por apresentar

espécies que não perdem folhas em nenhuma época do ano. Neste tipo de cobertura vegetal, é

marcante a grande concentração de espécie de palmeira como o açaizeiro (Euterpe olerácea,

Mart.) e buriti (Mauritia flexuosa), este tipo de vegetação é classificado segundo a

EMBRAPA como floresta ombrófila.

A família detém uma relação direta com esse tipo de vegetação, principalmente com

os açaizais nativos, sendo a produção destes, em certa época do ano, a principal fonte de renda

e sustento da família, bem como culturas nativas manejadas e as culturas plantadas (Tabela 1),

para fins econômicos e de segurança alimentar.

Cultivo Espécie Destinação

Açaí Euterpe oleraceae Consumo e Venda

Acerola Malpighia emarginata Consumo

Milho Zea mays Consumo e Venda

Mandioca Manihot esculenta Consumo e Venda

Cupuaçu Theobroma grandiflorum Consumo

Castanha do Pará Bertholletia excelsa Consumo e Venda

Cajú Anacardium occidentale Consumo

Cacau Theobroma cacao Consumo

Pupunha Bactris gasipaes Consumo

Manga Mangifera indica Consumo e Fauna

Coco Cocos nucifera Consumo

Andiroba Carapa guianensis Consumo e Fauna

Patauá Oenocarpus bataua Consumo e Fauna

Limão ‘Tahiti’ Citrus latifolia Consumo

Laranja Citrus sinensis L. Osbeck. Consumo

Ingá Inga fagifolia (L.) Consumo e Fauna

Goiaba Psidium guajava L. Consumo e Fauna

Seringueira Hevea brasilensis Composição da flora

Uxizeiro Endopleura uxi (Huber) Cuatrecasas Consumo e Fauna

Jaqueira Artocarpus heterophyllus Consumo e Fauna

Tucumã Astrocaryum aculeatum Consumo e Fauna

Urucum Bixa orellana Consumo

Tabela1. Espécies vegetais presentes no Sítio Macaimbara.

Fonte própria

Page 8: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

Patichouli Pogostemon patchouly Consumo e Paisagismo

Acapu Vouacapoua americana Composição da flora

Cupiuba Goupia glabra Aubl Composição da flora

Buriti Mauritia flexuosa Composição da flora

Os recursos hídricos utilizados na propriedade têm funcionalidade para o

abastecimento doméstico e também para as atividades produtivas, através de um poço de 18 m

de profundidade em que sua água é utilizada para lavagem de roupa, louça, preparo de comida

e para o banho, também, utilizada para a lavagem da mandioca e para o amolecimento da

mesma, além de servir para abastecer os bebedouros da criação de frangos. Outro recurso de

grande utilidade na propriedade são as chuvas, já que no município de Inhangapi a taxa de

pluviosidade é bastante elevada, essa é a principal forma de manutenção hídrica das lavouras

temporárias (mandioca, milho e arroz), plantadas em áreas de terra firme. No sítio

Macaimbara, não consta nenhum igarapé de grande representatividade de uso, porém, o

mesmo contém um lago natural que deu origem ao nome da propriedade e que está ligado no

período do inverno por canais, e em virtude das altas marés, ao rio Guamá, recurso esse que

mantem a irrigação dos açaizais nativos e traz uma carga de matéria orgânica que serve como

fertilização natural para os mesmos. VALENTE (2001), ressalta que nessa região predomina

para esta aptidão das palmeiras naturais. Porém, observamos também a presença de cacauais

nativos da várzea, o que demonstra a possibilidade de realizar a construção de um arranjo com

outras frutíferas.

Na propriedade se realiza avicultura em confinamento (Figura 3), sistema não

integrado, ainda com baixa tecnologia, sendo que esta atividade iniciou recentemente. Na

criação de frangos de corte, a família garante geração de alimento e renda. Possuí um

galinheiro com aproximadamente 6 m de comprimento por 2,5 m de largura, toda a

alimentação oferecida é feita a base de ração comercial comprada no município de Castanhal.

Por estar criando neste modelo, a família possui um maior controle das doenças das aves e

através do manejo realizado de higienização na retirada de cada lote, a família da um

descanso para as instalações e utiliza o subproduto cama de aviário, para realizar adubação de

cobertura no quintal produtivo que fica em volta da casa. A venda das aves é realizada no

próprio sítio.

Page 9: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

Figura 3. Avicultura não integradora.

Fonte própria

Para a família o solo deve ser cuidado, para que possa sempre ser utilizado para novos

plantios. Esse olhar se dá principalmente para os solos presentes na área de terra firme, pois

consideram o solo de maior fragilidade e, sendo o local onde conseguem plantar as culturas

temporárias, essa percepção se dá, pois, a família realiza o método de derruba e queima na

propriedade. Como forma de cuidar do solo, após a colheita das culturas temporárias

(mandioca, milho e arroz), a família deixa a terra em descanso (pousio).

Segundo a pesquisa realizada pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas

Agropecuárias, em 2001, no trabalho intitulado: Solos e Avaliação da Aptidão Agrícola das

Terras do Município de Inhangapi, Estado do Pará. Esse trabalho mapeou os solos do

município e como resultados temos entre outros a classificação destes solos.

Com o auxílio da ferramenta metodológica conhecida como caminhada transversal

pôde - se analisar as características dos solos ao longo do diálogo com os produtores e a

vivencia na propriedade, também com o auxílio do documento publicado pela Embrapa, que

mapeou os solos do município de Inhangapi, inclusive da comunidade do Arajó. Foi visto que

a propriedade possui os solos, Argissolo Amarelo Distrófico; o Argissolo Vermelho –

Amarelo Distrófico Concrecionário (este em menor porção na propriedade) e Neossolo

Flúvico Distrófico. Estes solos ocorrem em área de relevo plano e suavemente ondulado,

justamente em áreas onde se realiza os cultivos das lavouras temporárias. Quanto à área da

propriedade composta por Neossolo Flúvico, estes são solos minerais, hidromórficos, com

alto conteúdo de material orgânico, pouco evoluídos, constituídos de sedimentos aluviais

Page 10: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

recentes depositados periodicamente durante as inundações nas margens do rio Guamá, que se

conectam com o lago da propriedade, e que no período do inverno apresenta – se como igapó.

Este é o solo onde encontramos os açaizais nativos que são manejados pela família, segundo a

orientação técnica dos extensionistas rurais da EMATER – PA.

Diante da vivencia foi possível ouvir dos agricultores familiares do sítio Macaimbara

um calendário do início do período chuvoso, o que determina a época de plantio da mandioca,

do milho e do arroz. As chuvas também ditam o período de se fazer o manejo dos açaizais

nativos, pois assim que inicia as chuvas o agricultor familiar contrata alguns diaristas da

comunidade de Arajó, para poderem lhe ajudar nesta atividade. O produtor relata que fazer o

manejo neste período da mais resultados de produção, pois facilmente as estirpes dos

açaizeiros vão se decompor devido ao acumulo de água na superfície. Já no período menos

chuvoso, a família realiza a abertura de roça, onde prática o método de derruba e queima.

Neste caso, é importante citar que tanto homens e mulheres participam ativamente das

mais variadas atividades na propriedade. Porém, no trabalho na roça (área de plantio das

culturas temporárias, é visível o trabalho familiar, mas, a presença do homem encontra-se

presente em pelo menos três etapas da roça: derruba, queimada e coivara (consiste em

empilhar os troncos meio queimados e em arrancar as raízes mais profundas que foram

queimadas). A participação da mulher na roça é mais continua ao longo do ano, salvo nessas

três etapas. Elas atuam mais em plantio, capina e colheita.

No período de fazer o manejo dos açaizais nativos, a família contrata alguns diaristas

da comunidade Arajó para poderem trabalhar nesta prática. Atividade esta realizada a cada

dois anos. Já no período da colheita da produção de açaí, também paga por produção, aos

“peconheiros” - pessoa que executa a ação de subir nos açaizeiros e colher os cachos,

também faz a debulha dos mesmos, colocando os frutos nos paneiros – aproximadamente 8

pessoas são chamadas para trabalhar nessa atividade, são esses, na maioria, moradores da

comunidade Arajó.

Desses esforços que vivenciamos sobre o uso dos recursos naturais, o resultado com

maior relevância prática em direção a um modelo alternativo, de desenvolvimento sustentável,

talvez tenha sido a relação de produção agrícola e criação de animais de pequeno porte, com o

extrativismo do açaí e a cobertura vegetal verificada na propriedade já ocupada pela família

desde 1988. Vale ressaltar que eles conseguem se enxergar como parte do meio biofísico,

Page 11: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

quando os mesmo fizeram o croqui da propriedade, como mostra a figura 4.

Figura 4. Croqui da Propriedade

Fonte própria

Conclusões

Das reflexões realizadas no âmbito da pesquisa, identificou-se a relação familiar com

o “espaço rural”, sendo este seu local de dinâmica com o meio biofísico. Visto que a família

que já ocupa a área há 30 anos conseguiu desenvolver estratégias de meio de vida apesar das

condições difíceis. As suas decisões por um modelo de desenvolvimento sem a necessidade

de desmatar grande parte da propriedade, até mesmo devido às boas condições impostas pela

própria natureza no caso dos açaizais nativos que são manejados segundo recomendação

técnica, visto que a família tem boa relação com a equipe de extensionistas rurais da

EMATER – PA, como se pode observar no decorrer do estágio, pois os mesmos realizaram

uma visita à propriedade.

O estágio de campo possibilitou vivenciar as práticas agrícolas e principalmente

trouxe o olhar dos agricultores familiares que compõem o sitio Macaimbara, com relação ao

seu modo de vida e o meio biofísico em que vivem. Com sua cultura e diversidade, a família

mantem nas suas formas de se relacionar e de se apropriar da natureza, seja internamente na

sua unidade de serviço, a roça; sobretudo, a conquista de sua permanência no local, a relação

equilibrada com a natureza e a comunidade de Arajó, sendo este o seu “espaço rural”

amazônico.

Page 12: O ESPAÇO RURAL E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO …€œESPAÇO-RURAL...observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão distintas, com

Referências

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de

Solos (5ª aproximação). Rio de Janeiro: Embrapa Solos; Brasília: Embrapa Produção da

Informação, 1999. 212p.

FARIA, A. A. C; FERREIRA, P. S. Ferramentas de Diálogo. IEB. Brasília. 33 p. 2006.

ROMEIRO, A.R. Meio ambiente e dinâmica de inovações na agricultura. São Paulo:

Annablume, FAPESP, 1998. 272 p.

JURANDIR, D. Marajó. Belém: CEJUP, 1992.

NUNES, A. C. A batalha do riozinho do Anfrísio: Uma história de índios, seringueiros e

outros brasileiros. Belém, 2003.

SIDERSKY,P. Sobre a especificidade do pequeno produtor: Introdução ao debate sobre

a unidade econômica camponesa. Olinda, 1990. (mimeografado).

SOUZA, I. de. O Cacaulista. Belém: UFPA, 1973.

THORNTHWAITE, C. W; MATHER, J. R. The Water Balance. Centerton, N. J.: Drexel

Institute Of Technology. Laboratory Of Climatology, 1955. 104 p (Publications in

Climatology, V.8, n.2).

VALENTE. M. A., et al. Solos e Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras do Município

de Inhangapi, Estado do Pará – Belém: EMBRAPA Amazônia Oriental, 2001.

WANDERLEY, M. N. B. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade.

Estudos Sociedade e Agricultura (UFRJ), Rio de Janeiro, v. 21, p. 42-61, 2004.

WEID, J.M.V.D. Metodologia de diagnóstico rápido participativo de agroecossistemas –

DRPA. In: KLAUSMEYER , A.; RAMALHO, L. (Orgs.). Introdução a metodologias

participativas: um guia prático. Recife, SACTES-DED, 1995, p 143 – 156.