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1 O Especialista Lúcidos são excepções, diz Director Nacional do Ministério da Cultura sobre artistas plásticos. páginas 6 e 7 Para Leia Langa, da Casa da Cultura, falta gente séria nos grupos de teatro do país. página 5 Piratas em Moçambique Porta-voz da polícia sugere combater a pirataria fiscalizando os músicos também. páginas 8 e 9 Poucos livros Integrantes do mercado editorial do país discutem onde estão as oportunidades de crescer. página 4 Junho de 2013 Maputo PROJECTO PARADO Conflito entre desejo de preservar tradições e necessidade de fazer valer os direitos humanos paralisa debate sobre lei para desencorajar a poligamia. páginas 14 e 15 Professores-turbo Lei da Probidade não atinge a carreira docente, permitindo que professores universitários tenham mais de um emprego. Proposta que prevê aumento de salário acima de 40% pode ser a saída para que docentes tenham dedicação exclusiva. página 16 SOCIEDADE Antropólogo defende circuncisão clínica com elementos tradicionais página 11 DESPORTO Atleta pede destaque para jogos escolares página 10 DIREITOS CIVIS 3 milhões de deficientes auditivos não têm acesso às informações páginas 12 e 13 Este é um produto dos estudantes de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes na Universidade Eduardo Mondlane, dentro do Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique, financiado pelo governo dos Estados Unidos da América, através da sua Agência Para o Desenvolvimento Internacional (USAID), e implementado pela IREX Moçambique. Visite: www.irex.org.mz OPINIÃO → O interesse tailandês → Um plano colonial → Alheios à realidade → Estudantes expulsos páginas 2 e 3 EDUCAÇÃO USAID apoia formação de jornalistas página 16 oespecialistatabloide.indd 1 15/06/13 15:21

O Especialista

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Jornal dos estudantes de jornalismo da Universidade Eduardo Mondlane, produzido na disciplina de J. Especializado.

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Page 1: O Especialista

O Especialista

1

O Especialista Lúcidos são excepções, diz Director Nacional do Ministério da Cultura sobre

artistas plásticos. páginas 6 e 7

Para Leia Langa, da Casa da Cultura, falta gente séria nos grupos de teatro do país. página 5

Piratas em MoçambiquePorta-voz da polícia sugere

combater a pirataria fiscalizando os músicos também. páginas 8 e 9

Poucos livrosIntegrantes do mercado

editorial do país discutem onde estão as oportunidades

de crescer. página 4 Junho de 2013 Maputo

PROJECTO PARADOConflito entre desejo de preservar tradições e necessidade de fazer valer os direitos humanos paralisa debate sobre lei para desencorajar a poligamia. páginas 14 e 15

Professores-turboLei da Probidade não atinge a carreira docente, permitindo que professores universitários tenham mais de um emprego. Proposta que prevê aumento de salário acima de 40% pode ser a saída para que docentes tenham dedicação exclusiva. página 16

SOCIEDADE

Antropólogo defende circuncisão clínica com elementos tradicionais

página 11

DESPORTO

Atleta pede destaque para jogos escolarespágina 10

DIREITOS CIVIS

3 milhões de deficientes auditivos não têm acesso às informações páginas 12 e 13

Este é um produto dos estudantes de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes na Universidade Eduardo Mondlane, dentro do Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique, financiado pelo governo dos Estados Unidos da América, através da sua Agência Para o Desenvolvimento Internacional (USAID), e implementado pela IREX Moçambique. Visite: www.irex.org.mz

OPINIÃO

→ O interesse tailandês→ Um plano colonial→ Alheios à realidade→ Estudantes expulsospáginas 2 e 3

EDUCAÇÃO

USAID apoia formação de jornalistaspágina 16

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Orelatório do Programa das Nações Unidas pa-ra o Desenvolvimento (PNUD) coloca o nos-so país (185º lugar) na

lista das nações com mais baixo Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), muito atrás dos países considerados fa-lhados como Guiné-Bissau (178º lugar), República Centro Africana (180ª posi-ção) e Chade (184º posto). O Índice de Desenvolvimento Humano é uma me-dida comparativa de riqueza, alfabetiza-ção, educação, esperança de vida, nata-lidade e outros factores para os diversos países do mundo. É uma maneira padro-nizada de avaliação e medida do bem-es-tar de uma população.

De acordo com o relatório sobre o ensino e educação de jovens e adultos em Moçambique, lançado no ano tran-sacto (2012), a taxa de alfabetização em Moçambique é de 48% . O mesmo rela-tório mostra que Moçambique não só é o terceiro pior país em Desenvolvimen-to Humano no mundo, como também é o pior ao nível da SADC, depois do Zim-babwe (172) e Malawi (170). A Suazilân-dia (141), a Namíbia (128), a África do Sul (121) e o Botswana (119) estão no gru-

po dos países com o Desenvolvimento Humano Médio, enquanto as Maurícias ocupam a posição 80, classificando-se co-mo o país mais bem colocado no ranking.

É um dado assutador e difícil de aceitar, mas que infelizmente retrata a re-alidade do nosso país, embora o gover-no tenha reagido, contestando os núme-ros do relatório, afirmando que os mes-mos contradizem o esforço do governo no que concerne os aspectos analisados, como a alfabetização e educação.

Politicamente, a reacção do go-verno não podia ser diferente, era su-posto que fosse assim, contestasse os da-dos apresentados pelo PNUD, que apre-sentasse argumentos contraditórios, em-bora, não verdadeiros. Isso é fazer polí-tica. Mas olhando a realidade socioeco-nómica do país, não precisamos de estu-dos aprofundados para compreender a injustiça social.

Este relatório do PNUD deve ser-vir de exemplo para o governo repensar as politicas sociais, que não são abran-gentes e muito menos inclusivas. Além do governo, o povo moçambicano deve reflectir seriamente sobre as lideranças nacionais, sobre a politica que elas pra-ticam: se é voltada para o povo ou é in-dividualista.

Mas, infelizmente, esse relatório está alheio à maioria, como diz o pró-prio presidente, aos distraídos.

A maioria alheia à realidade

Desrespeito à leiA LAM alegou que o tratamento de Maria Emília havia custado tanto dinheiro que não estava mais disposta a pagar. Maria Emília veio a morrer em casa de uma familiar. (Cristina Ndlate)

Frelimo x Renamo O esforço dos partidos, mais do que permitir que os ambiciosos tirem proveito do conflito interno, deveria ser lutar pela unidade nacional. (Nabote Frazão Langa)

Trabalho infantilDiariamente vemos crianças a trabalharem nas ruas e avenidas. Elas vendem pequenos produtos. A legislação moçambicana proíbe. (Ilauda Isaura)

opinião

Junho de 2013

Ogoverno da tailândia apresentou, no início deste ano, na cidade de Maputo, grande in-teresse em entrar para

investimentos robustos no país, particu-larmente nos sectores da agricultura e in-fraestrutura. No agronegócio, a atenção dos tailandeses vai para o processamen-to de matérias-primas, tendo em conta que muitas são as vezes que os campo-neses reclamam da falta de unidades in-dustriais para dar encaminhamento de-vido à produção excedentária.

Moçambique tem uma popula-ção de cerca de 19.4 milhões de habitan-tes, dos quais 80% vive nas zonas rurais e dependem da actividade agrícola. O País tem uma extensão de 36 milhões de hec-tares agricultáveis, dos quais apenas 3,6 milhões de hectares, correspondentes a 10%, estão a ser presentemente explora-dos. A taxa de pobreza é superior a 54%, sendo que este dado veio a ser contrasta-

do pelo actual estudo de situação de po-breza no mundo, onde o país ocupa a se-gunda posição entre as piores nações.

O sucesso do desenvolvimen-to agrário depende do melhor desem-penho do governo em prol do aumen-to da terra a ser explorada pela popula-ção e não apenas da nossa riqueza em re-cursos naturais.

Um bem público em relação ao qual o governo tem importantes papéis a desempenhar é a criação e desenvolvi-mento de um ambiente de mercado in-terno. No contexto real, este esforço não se faz sentir, uma vez que constitui mais um dos investimentos daqueles que nun-ca mudam a situação real da população, que deveria ser a beneficiária primordial dos recursos e da terra no concreto.

Quando o governo olha para a área de agroprocessamento, deveria também analisar a situação da falta de terra dispo-nível e o seu consequente investimento a favor da melhor produção pela popula-ção. Dar mais terra sem ajudar na semen-tes e nas tecnologias não fará diferença à existência de fábricas de processamentos dos produtos.

O interesse tailandês

Por Jaime Mulima Repórter de O Especialista

Por Matilde MuimelaRepórter de O Especialista

Estudantes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane durante o fecho do jornal liderado pelos futuros jornalistas.

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AA Universidade Eduar-do Mondlane, a mais an-tiga e mais reputada ins-tituição de ensino supe-rior no país, está mergu-

lhada em problemas acumulados duran-te as últimas décadas. A UEM é uma or-ganização pública de ensino superior que tem como tarefa principal formar técni-cos de nível elevado, capazes de produ-zir, aplicar, difundir a cultura, a ciência e a técnica a serviço do desenvolvimento do país e do mundo.

A UEM disponibiliza bolsas de es-tudo a todos os estudantes carenciados de recursos financeiros, destinado a supor-tar parte dos encargos com a frequência e conclusão do curso pelos que lá estudam. Para este ano, houve uma redução drásti-ca do número de bolsas completas devido a reabilitação da residência 1, que consti-tui a maior da universidade.

Entretanto, a UEM, sabendo que iria reabilitar a maior residência , preferiu colocar estudantes tanzanianos a ocupa-rem o espaço de 10 quartos de 4 pessoas em cada um deles, alegando a cooperação entre eaquele país e Moçambique. O des-

pacho teria vindo directamente do Presi-dente da Republica Armando Guebuza.

O mais agravante aqui é que com a vinda destes estudantes e com a reabili-tação da maior residência, muitos alunos de bolsa reduzida, isenção e rendeiros fi-caram sem alojamento. O novo ingresso ficou bastante afectado com esta situação devido à tamanha redução de número de bolsas completas.

Deve-se ter em conta que o valor da bolça da UEM é de 1.350 para estu-dantes de bolsa completa, 1.250 a redu-zida, não chegando para arcar com as ne-cessidades destes discentes moçambica-nos. No que concerne às condições de vi-da dos estudantes beneficiários de bolsas foram constatadas questões inúmeras e graves, até casos daqueles que se prosti-tuem para poder sobreviver no lar de es-tudantes devido à falta de condições mí-nimas.

Enquanto isso, os estudantes tan-zanianos são beneficiados com bolsas de 13.000 mt mensalmente, o que chegaria para alugar um apartamento. Os estu-dantes moçambicanos não denunciam as irregularidades por temerem represálias da universidade. Portanto, sendo a UEM uma das mais prestigiadas universidades do País, tem que voltar para aquele que é o seu objectivo: formar profissionais com excelência.

Estudantes expulsos

Trânsito em MaputoFaltam vias alternativas. O governo deve mover esforços para reverter esta situação. Para além de promessas, deve começar a agir. Não adianta apenas falar. (Dércia Melito Agostinho)

Sem tempo A educação precisa avançar. Estou a falar aqui de ocupar o estudante, o tempo inteiro, chegando a beliscar o ínfimo período que possui para repousar. (Lourino Palembe)

Inércia na saúdeO aconselhamento não deve ser feito na altura em que os números de casos de doenças são preocupantes, mas antes. As instituições estão na inércia. (Aderito Bie)

Ezequiel Mindo, prático em circuncisão tradicional

A circuncisão masculina deixa o homem mais potente sexualmente

Nyelete Mondlane, Chefe do Gabinete da Mulher Parlamentar

Nem tudo dito pelas pessoas deve ser legitimado

O jornal O Especialista é um produto experimental da cadeira de jornalismo especializado, produzido pelos estudantes do terceiro ano da licenciatura em jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Os valores editoriais que regem o produto, os temas das reportagens e as abordagens nos conteúdos foram definidos pelos futuros jornalistas durante as aticvidades acadêmicas. A impressão e distribuição foram viabilizadas pelo Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique, que é financiado pelo Governo dos Estados Unidos da América, através da sua Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), e implementado pela IREX Moçambique. As opiniões expressas nas páginas de O Especialista não representam o posicionamento das instituições envolvidas no projecto, mas tão somente o pensamento de cada um dos entrevistados e dos autores. REDACÇÃO - Conselho Editorial - Mirna Feleciano Chitsungo, Jaime Álvaro Mulima, Laque Francisco Tamo, Edson Neto Manjate, Dércia Melito Agostinho. Chefe de Redacção - Laque Francisco Tamo Editora de Cultura - Tânia Maria Pereira. Editor de Política - Orbai Dúlio Nobre Editor de Economia - Lourino Ernesto Pelembe. Editor de Desporto - Diamantino Jaime Lauchande. Coordenação Pedagógica do Produto Experimental - Ricardo Fontes Mendes/IREX. Supervisão Pedagógica do Produto Experimental - Milton Machel/IREX. Repórteres - Aderito Senetela Bie, Alberto Tomás, Albino Ernesto Gabriel, Amedi Adriano, Ananias João de Micael Langa, Bertilia Fernando Capelo Banze, Carmen Juvenal Mutisse, Célia Rosa Zefanias Sitoe, Cláudia Saimone, Cristina Jaime Ndlate, Dercia Melito Agostinho, Dércio Gilberto Mutana, Diamantino Jaime Lauchande, Dulce Alexandre Mucavel, Edmundo Ernesto Manhique, Edson Neto Manjate, Evito Filó Andrade, Fátima José Correia Langa, Flávio Chitsondzo, Ilauda da Isaura Paulo Manala, Jaime Álvaro Mulima, José Luis Chichonge Júnior, Laque Francisco Tamo, Laurino Ernesto Palembe, Lucinda da Graça Alfândega, Matilde Anna Arnaldo Muimela, Mirna Feliciano Chitsungo, Nabote Frzão Langa, Natercia Luisa Lázaro, Orbai Dúlio Nobre, Ossemane Afzal Ossemane (in memorian), Rute Estevão Langa, Sumeia Carlos Ambasse Cassino, Tânia Mária Pereira.

O Especialista O BRIC, um bloco econó-mico criado em 2002, cujo o nome se refere às inicias de quatro paí-ses em desenvolvimen-

to (Brazil, Rússia, India e China), ofere-ce indícios de que, para além de simples relações de cooperações económicas, te-nha o objectivo de estabelecer uma alian-ça, convertendo o seu crescimento numa influência política questionável.

Foram levantadas muitas espe-culações sobre o que terá impulsiona-do a entrada da África do Sul no grupo, em 2010, já que a economia daquele país corresponde apenas a um quarto do ta-manho da economia da Rússia (a nação com o menor poder entre os membros BRIC). Analistas apontam que o objec-tivo do bloco é usar a África do Sul como um portal na facilitação de cooperações.

A questão actual é: o que a cria-ção de um banco de investimentos desse grupo significaria para África e, concreta-mente, para Moçambique? Até que pon-to esse banco pode contribuir para o de-senvolvimento de Moçambique ou então para o estabelecimento de uma posição seja dependente até mesmo em decisões

internas, gerando deste modo um colo-nialismo indirecto?

É inegável a presença dos BRICS no impulsionamento do desenvolvimen-to de África e principalmente de Moçam-bique por meio da criação de investimen-tos com objectivo de explorar os recursos naturais e mineiros que vem sendo des-cobertos gradualmente no pais, respon-dendo positivamente aos financiamentos submetidos pelo governo Moçambicano.

Se o nosso olhar for superficial, li-mitando-se apenas para as promessas que estes países fazem quando propõem in-vestimentos, veremos exclusivamente ga-nhos e nenhum motivo de desconfian-ça. Afinal de contas, são países que inves-tem seu dinheiro em recursos que Mo-çambique não teria como explorar por si só e ainda garantem emprego para a população.

Basta olhar para o que realmente acontece no terreno para perceber que o que se verifica na prática é totalmente di-ferente do que se promete nos papéis. O país já vive alguns sinais de colonização por parte das nações do grupo.

Um dos exemplos claros deu-se após a transferência de mais de 700 fa-mílias de Moatize para Cateme, nos finais de 2009, para dar espaço à exploração do carvão mineral de Moatize pela empresa brasileira Vale.

Um plano colonial?

Por Orbai NobreRepórter de O Especialista

Por Lucinda AlfandegaRepórter de O Especialista

FRASES DESTA EDIÇÃO

HASSAN KARIMZADEH

Quem é o autor do cartoon na página? Director artístico, designer gráfico e cartunista freelancer, Hassan Karimzadeh trabalha para várias publicações iranianas, incluindo Etemaad-e Melli (Confiança do Povo). Hassan foi preso em 1992 por ter produzido uma caricatura representando o aiatolá Khomeini. Depois de inúmeras campanhas de protesto, representantes da organização Advogados Sem Fronteiras foram capazes de libertá-lo, após dois anos de prisão. O cartoon publicado ao lado foi disponibilizado para o jornal O Especialista como parte da campanha mundial pela liberdade de imprensa, através da Cartooning for Peace e da Associação Mundial dos Jornais (World Association of Newspapers and News Publishers). Visite os websites destas duas organizações para saber mais: www. wan-ifra.org e www. cartooningforpeace.org .

LIBERDADE DE IMPRENSA

Apenas em 2012, foram 68 os profissionais de empresas jornalísticas assassinados no mundo. Deste total, 17 foram executados na África (Nigéria, Somália, Sudão e Tanzânia). Os dados são da Associação Mundial de Jornais (WAN/IFRA).

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resumo

Artes plásticasSem público nas galerias de artes de Maputo, artistas admitem que preço de obras afasta maior parte da população, mas também critica a falta de apoio.

Sem informação 3 milhões de deficientes não têm acesso às informações transmitidas por canais de televisão. Troca de acusações entre emissora e governo dificulta solução.

Onde estão os talentos?Disputa entre treinadores e técnicos complicam a vida de jovens talentos nos jogos escolares. Sem incentivo, muitos deles deixam de seguir carreira no desporto.

Mercado de livros

tem potencial para crescer

O Instituto Nacional do Livro e Disco (INLD), responsável pelo li-cenciamento de obras literárias, tem vindo a realizar feiras de livro, nas zonas recônditas, para incentivar o hábito de leitura, com editoras do país e parceiros internacionais.

“Trinta e uma editoras funcio-nam em Moçambique e cada uma das nacionais publica cerca de seis obras, em média anual. Registaram-se 2.015 títulos, de janeiro de 2005 a setembro de 2012”, afirma Victorina Ezeri-nho, do INLD. Segundo as editoras e livrarias, manuais e textos de apoio escolares são os mais comprados e, consequentemente, mais publicados.

Os romances estão no segundo lugar, contos infantis ocupam o terceiro e obras de carácter diverso figuram no quarto.

Escritores e editores divergem quando à questão dos ganhos que ad-vem da produção literária. A parte das editoras diz que os autores ganham mais.

DEBATE

“O autor sai vitorioso, porque, após a editora aprovar a sua proposta, ele só participa da revisão e melhora-mento. Questões como avaliação de custos e pedidos de patrocínios, são da nossa responsabilidade. Depois ele recebe 15% do valor total da venda, o que não é pouco”- explicou Mário Eduardo, do departamento das artes

das editoras Ndjira e Texto Editores.No entanto, os escritores con-

sideram insatisfatório o rendimento e dizem que não é possível viver da literatura.

“Esta arte sempre foi margi-nalizada. Um escritor que acorde às cinco da manhã para escrever até vinte e quatro horas é visto como um marginal. Porém, um engenheiro que trabalhe apenas uma hora é tido como um excelente profissional”, lamentou o escritor moçambicano, Marcelo Ponguane. As editoras disponibilizam mais espaço para obras didácticas. Os livros de literatura são extraídos em 3.000 exemplares, em média. O do-mínio infantil tende a ressentir-se de falta de propostas de publicações, fac-to que se revela também no campo da procura deste género literário.

Por Ananias Langa, Fátima Langa e Nabote Langa. Secção de Cultura

7 anosOS DADOS

mais recentes sobre o mercado livreiro estão em um relatório que

reúne informações deste período

e que apontam crescimento do

mercado

2.015 É O TOTAL de

obras lançadas no país, de janeiro de

2005 a setembro de 2012, de acordo

com o Instituto Nacional do Livro

e do Disco de Moçambique

31EDITORAS

funcionam em Moçambique.

Elas lançam, em média, cinco obras

a cada ano.

OPORTUNIDADE

Livreiro acredita em incentivo à leitura como estratégiaMarcelo Panguana, colaborador do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, diz que não se pode gostar daquilo que não se conhece. “É necessário que o governo crie bibliotecas municipais e coloque livros, onde os jovens possam encontrar”, frisou.Para o Director-Geral da livraria Conhecimento, Paulo Guerreiro, não é legítima a alegação de que as pessoas não lêem devido ao alto custo do livro. Para ele, a solução seria repensar-se uma forma de atingir as pessoas, munindo os professores de ferramentas que lhes possibilitem cultivar o gosto pela leitura nos alunos.“Relativamente ao preço, deve-se vender o livro a um valor viável, no entanto, sem oferecer, sob o risco de o mesmo ser desvalorizado, por ser gratuito”, disse Guerreiro.

DIDÁTICOS

ROMANCES

CONTOS

O QUE VENDE MAIS

“É preciso que o governo crie bibliotecas”

Marcelo PanguanaColaborador

Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa

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Circuncidados Cresce o número de homens que opta pela circuncisão clínica ou científica. Como preservar as tradições do rito tradicional apesar das mudanças?

Pirataria na músicaArtistas criticam o crescimento da pirataria em Moçambique. A polícia diz que trabalha em conjunto com eles e sugere aumentar a repressão à ilegalidade fiscalizando músicos.

Lei da poligamiaO debate por uma lei contra a poligamia em Moçambique chegou a um impasse na Assembléia do Povo: defender as tradições culturais ou os direitos humanos?

Moradia estudantilEstudantes tanzanianos benefiaciados

página 3

Cultura em xequeNão se vive de arte em Moçambique

páginas 4 e 5

Docentes podem ter aumento Lei da probidade não atinge professores

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O académico e actor Dadivo José acredita que para melhorar o estágio do teatro moçambicano e aumentar a adesão do público é preciso que se trabalhe na base, pois daí é possivel educar as crian-ças, desde a infância, a contemplar “e a gostar das artes”. No entendi-mento dele, só depois disso é que os grupos poderão exigir a adesão do público.

‘‘Se houvesse a possibilidade de incluir o teatro na educação bá-sica das crianças seria uma valia. Se o teatro fosse valorizado como é o caso das aulas de educação física, onde as crianças apreendem a im-portância da prática do desporto, com certeza elas iram crescer com a ideia da necessidade e impacto das artes cênicas na vida social’’, referiu.

Nene Matola, actor e estu-dante da ECA, acredita que a exis-tência de uma Escola Superior que lecciona o curso de teatro é uma mais valia e mostra a necessidade de educação, na medida que ‘‘os grupos já não se formam somente por amizade. Agora existe técnica e cuidados específicos para se tra-balhar. Eles já percebem a necessi-dade de formar os seus elementos, para poderem competir no merca-do, levando ao palco moçambica-no uma nova abordagem’’, disse.

Já o Coordenador do grupo teatral Girassol, Joaquim Matavele, diz que outra forma de trazer o pú-blico à arena teatral é promovendo festivais que incidam directamente sobre as questões sociais.

‘‘O grupo teatral Girassol promove anualmente o Festival Te-atro de Inverno, que durante cinco finais de semana mostra o que de melhor se faz em termos de teatro amador. Isto acontece há cerca de 10 anos’’, refere Matavele. Ele acres-centa que o Festival de Inverno não

abrange apenas os grupos amado-res, mas todos que estiverem inte-ressados em participar e divulgar suas obras a um preço acessível.

Apesar de todas as dificulda-des, o actor da Companhia Teatral Gungu, Horácio Guambe, con-sidera o estágio actual do teatro positivo, pois cresce o número de grupos teatrais e a vontade de di-vulgar. “Estar na boca do povo e não mover multidões é frustran-te para a classe teatral, já que no país existe uma série de problemas sociais que merecem detaque nos palcos”, explica Guambe, para depois acrescentar que ‘‘até agora no teatro moçambicano sobrevive quem é antigo.’’

“Temos que ver até que pon-to e quais são essas multidões. O teatro, ainda que seja uma arte popular, continua a ser conotado como a arte da elite. Há a percep-ção de que não se pode patrocinar a arte da elite, mas sim das massas, para poder vender mais,’’ explicou.

Dorquinha Jaime, atriz do grupo Kensane, acredita que para trazer o público ao teatro é preciso que mude-se a mentalidade de que o espetáculo é feito para as elites, já que a sociedade tem a concepção de que quem assiste as peças tea-trais “são pessoas economicamen-tes estabelecidas e que não têm mais nada a fazer da vida”.

‘‘Podemos perguntar o que é feito das salas de espetáculo que antes pertenciam ao Estado e que agora estão paradas, como é o caso do Cinema Império e do Olímpia, que hoje foram transformados em Igrejas. Quem deve responder a es-tas questões são as autoridades que tutelam a cultura no país, para que as pessoas sintam-se motivadas a ir assistir as peças teatrais num espa-ço confortável’’, salientou Horácio Guambe.

“Solução para o teatro moçambicano passa também pela educação”

Actores criticam falta de espaços teatrais e cobram política públicaLeia Langa, da Casa da Cultura, diz em entrevista que é difícil ajudar quem não tem interesse

O teatro moçambicano está em crise. Entre as principais difi-culdades, duas são destacadas pe-los artistas: a falta de espaço para a apresentação das suas obras e a fraca adesão do público, que desestimula os produtores. A título de exemplo, o Coordenador do grupo teatral Gi-rassol, Joaquim Matavel, explica que o número reduzido de casas para espetáculos é um dos calcanhares--de-aquiles do teatro, embora o seu grupo nunca tenha deixado de fazer o que mais gosta devido por causa disto.

‘‘É preocupante visto que os grupos precisam de um lugar para os ensaios para além de apoio finan-ceiro. Existem a Casa da Cultura e a Casa Velha que dão muito suporte aos grupos amadores”, explica.

Já para o académico e actor, Dadivo José, a maior dificuldade de se fazer teatro no país não é a inexis-tência de salas. ‘‘Ter apenas três salas não é suficiente. Mas há que se olhar para outros aspectos, como é o caso da publicidade. Para todo produto que se pretende vender é preciso que os potenciais compradores saibam da sua existência e isto só pode ser efectivado se os meios de comuni-cação derem visibilidade aos espec-táculos através da publicidade e da publicação de notícias e reportagens

referentes aos eventos teatrais’’, disse.Leia Langa, da Casa da Cul-

tura, uma instituição tutelada pela Direcção de Educação e Cultura da Cidade de Maputo, diz que é difícil ajudar o teatro já que os próprios grupos não se mostram disponíveis.

‘‘Não é por falta de espaço que o nosso teatro esta a passar por estas dificuldades, mas sim por falta serie-dade por parte dos próprios grupos. A Casa da Cultura costuma apoiar um grupo interno, mas neste ano isto não existe por que simplesmente as pessoas deixaram de vir ensaiar, com a desculpa de não terem tempo, o que complica querer ajudar aqueles que não se mostram interessados’’, referiu.

Contudo, Leila Langa diz ter as portas abertas para qualquer grupo que solicitar apoio e espaço para en-saiar e para construir novos grupos teatrais sólidos e coesos.

‘‘Este ano já apoiamos mais de quatro grupos. Quem vem à Casa da Cultura e preenche os requisitos,com certeza recebe o apoio no que for possível, mas não podemos fazer muito pelos que não querem se apro-ximar,’’ salientou.

A falta de uma associação que sirva de interlocutora válida entre os fazedores do teatro e o governo é vista por alguns actores sociais como sendo um obstáculo para evolução desta arte no país.

‘‘Trinta e oito anos após a in-depedência Moçambique ainda não

possui um organismo válido que possa ser isento e independente, com os seus estatutos próprios e re-gulamentos, para viabilizar o teatro e possibilitar o seu desenvolvimento no país’’, explica Dadivo José.

Gércia Mahungue, estudante e amante de uma boa peça teatral, acredita que é impossível falar-se de um teatro verdadeiramente moçam-bicano sem que os próprios fazedo-res sentem para conversar.

‘‘Os produtores teatrais primei-ro precisam se unir para pressionar o governo a criar condições para que o teatro seja visto como uma activi-dade económica. É necessário que as universidades continuem a ensinar o teatro, para que exista um pensa-mento rigoroso e profissional da acti-vidade teatral’’, salientou Mahungue.

A Escola de Comuniação e Artes (ECA) da UEM, que tem nas artes cênicas um dos seus ramos principais, acolheu no princípio de maio um seminário com objectivo de liderar uma iniciativa para promover a constituição de uma Associação de Teatro que possa, pela primeira vez na história do país, ser a media-dora imparcial entre os seus vários associados e regular um programa de actividades que assegure aos gru-pos um mínimo de condições para a prática continua da interpretação. A ECA oferece, desde 2008, o curso su-perior de teatro, tendo graduado no ano passado o primeiro grupo, com-posto por onze estudantes.

Por Célia Sitoe, Cristina Ndlate, Rute Langa, Ilauda ManalaSecção de Cultura Apesar das dificuldades, artistas lutam para estar no palco.

Atores e produtos de teatro em Moçambique tentam criar associação para representar os seus interesses no mercado.

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Artistas plásticos buscam o artesanato como forma de subsistência. Preços dos quadros, pouca divulgação e falta de hábito estariam dificultando participação

news » politics » exclusive

Artistas de Moçambique estão a abando-nar as suas raízes em busca de alternativas para sobreviverem. A informação é de Eusébio Mpelo (leia entrevista abaixo), artista plástico e escultor. Ele diz que a desvalorização das artes no país, quer no consumo, quer na própria produção, tem levado à fabricação excessiva de artesanato para a subsistência. “Fazer quadros e esculturas acarreta custos elevados que não se adequam à realidade”.

“É notória e lastimável a fraca participação da sociedade moçambicana nas exposições ar-tísticas, o que tem criado um sentimento de não reconhecimento. A sociedade não olha para nós como pessoas de valor, de tal modo que nem se preocupa em perceber a mensagem que as nossas obras transmitem”, disse.

Mpelo realçou ainda que o Ministério da Cultura pouco faz para ajudar os artistas na pro-moção, reconhecimento e valorização dos seus produtos. E nem tem dado ajuda em termos de compra dos materiais necessários para a produ-ção das suas obras.

Por sua vez, o director nacional de Promo-ção de Indústrias Culturais, Emanuel Dionísio, afirma que um dos motivos que leva a sociedade a não participar nas exposições são os elevados custos de venda das obras.

“Os artistas produzem a pensar na classe média e alta, excluindo deste modo a maior par-te da sociedade que é da classe baixa (leia texto ao lado). É preciso fazer a um preço que se ade-que à realidade moçambicana, mas isso é difícil, porque o próprio artista trabalha de forma indi-vidual, apesar de o Ministério ajudar no reconhe-cimento, ao abrir espaços para exporem as suas obras, divulgando-as nacionalmente e interna-cionalmente”, frisou.

Emanuel Dionísio afirma ainda que o mi-

nistério tem contribuído na formação dos artis-tas, fazendo análise de projectos apresentados e também incentivando exposições nos bairros e nas escolas. “O artista deve promover o seu trabalho, expandindo-o por todos lugares, indo fazer exposições e explicando às comunidades a importância das artes, de modo a criar um espí-rito de gosto pelas artes por parte da sociedade ”, acrescentou.

SEM DINHEIRO Zaira Domingos, doméstica, aponta difi-

culdades para a compra das obras artísticas. Ela afirma que a vida em Moçambique não é fácil. Zaira diz ainda não sobrar algum valor para a compra.

“É difícil adquirir um quadro, tendo em conta o nível de vida que levamos. O salário é de 2,5 a 3,5 mil meticais, e isto não chega a um terço do valor que custa um quadro. Por isso, poucos têm vontade de participar numa exposição de artes plásticas. Daí que se verifica uma desmoti-vação por parte da sociedade para assistir a essas exposições sem dinheiro. Não vale nada eu apre-ciar se não posso ter. E o local onde são feitas as exposições não são para pobre como eu, mas sim para ricos”, disse.

Para Julieta Massimbe, directora do Museu Nacional de Arte, os que mais participam das ex-posições, por curiosidade, são os estudantes. Mas em termos de aquisição são coleccionadores de obras, muitas vezes sob o mandato de alguma instituição, como o caso dos bancos.

“A cultura de ter uma obra artística em casa ainda está a ser cultivada pela sociedade moçam-bicana. Mesmo os artistas ainda não são valoriza-dos devidamente”, afirmou Massimbe.

Apesar da fraca participação dos moçam-bicanos nas exposições, Julieta Massimbe diz que as artes em Moçambique estão em vias de desen-volvimento, destacando duas modalidades: a pin-tura e a escultura.

“Os artistas estão cada vez mais a desenvol-ver uma alta capacidade de criatividade em obras com base na cerâmica, fugindo daquilo que era o habitual onde cingiam-se apenas em produzir obras tradicionais. No que se refere à pintura, tem-se verificado grandes inovações. Além do uso do óleo e acrílico, tem-se usado outros ma-teriais que contribuem para a melhoria desta modalidade. E já trazem uma mensagem, muitas vezes educativas e relacionadas à cultura”.

Como forma de incentivar os artistas a tra-balharem mais, o Museu da Arte tem feito expo-sições, muitas vezes de carácter competitivo. Elas envolvem obras de vários artistas, com a finalida-de de fazer troca de experiências. Quando o ar-tista consegue vender várias obras, ele pode fazer uma exposição individual.

“DINHEIRO FÁCIL”

Discordando das declarações dos represen-tantes do Museu Nacional da Arte e do Ministé-rio da Cultura, João Paulo Bias, pertencente ao Núcleo de Arte, diz que as artes plásticas em Mo-çambique estão numa situação muito triste. “É lastimável, não há artistas expandidos ao longo dos país, diferentemente de outras artes como a dança e a música. Mas essa concentração deve-

A arte da sobrevivênciaEusébio Mpela, da Associação de Escultores de Arte Maconde, critica o governo e diz que muitos artistas só conseguem ter o que comer porque passaram a fazer pequenos artesanatos

“O Ministério não tem feito nada por nós, para além de usar as nossas obras para enfeitar eventos em que se fazem presentes dirigentes de fora. Isto na tentativa de criar uma imagem de uma Moçambique com o gosto pela arte, que não existe”

Quem o diz é Eusébio Mpelo, 36 anos, representante da Assema (Associação de Escultores de Artes Maconde). Natural de Cabo Delgado, ele afirma que ingressou no mundo da arte em 1998 e que aprendeu com os mais velhos a produzir as obras de escultura maconde. Hoje, ele pratica o

artesanato para a sobrevivência.O que foi que fez com que

parasse de se dedicar à escultura Maconde?

É que ao longo desses anos, fui aprendendo mais, descobri novos talentos em mim. Vi que fazer a arte vai além do que eu produzia, vi que a arte envolvia muita criatividade. E a dado momento que ia trocando experiências com outros artistas, acabei ganhando paixão por vários tipos de escultura para além da maconde. Mas mesmo com essas descobertas eu ainda faço obras com base maconde, não me desliguei totalmente dela.

“É difícilcomprar um quadro, tendo em conta o nível de vida”

Zaira DomingosDomésticaMaputo

Por Cláudia Saimone, Suméia Cassimo, Mirna Chitsungo, Bertília Banze.Secção de Cultura

“Não é possível viver de arte...

ganhamos para sobreviver”

Eusébio MpelaEscultor

Asseba

Ausência de frequentadores de galerias aponta necessidade de estímulo público

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Como artista plástico, qual é a avaliação que faz do estágio actual das artes plásticas em Moçambique?

A situação actual das artes no país é lastimável, pois ao invés de crescer, a prática da arte está a decrescer.

Isto porque as artes no nosso país estão colocadas no último plano, o Ministério da Cultura é o dos últimos a ser recordado neste país. Não está a ser dado o valor que merecem.

Olha que as plásticas são muito importantes para uma comunidade, mas na sociedade moçambicana

actual estas perderam o seu devido prestígio, de tal modo que, se fores a fazer uma exposição, são poucos os que irão, o que faz com que nos sintamos desvalorizados.

Já agora esses poucos que aparecem das exposicões quem são?

Os que mais se interessam, tanto nas exposições como no consumo das obras, são os estrangeiros, o que significa que a nossa própria sociedade aparece em menor número.

O que será que está por detrás desta fraca participação dos moçambicanos nas exposições

artísticas?Parto do princípio de que o

custo de vida é muito elevado aqui no nosso país, e existem pessoas que recebem um valor muito inferior ao preço do quadro.

Neste caso, a prioridade é para aquilo que são as necessidades básicas. Estou a falar da alimentação, educação dos filhos, energia água, entre outras necessidades.

Claro que essa pessoa não irá dar pri oridade à compra de uma obra de arte. A família e as necessidades que ja mencionei são mais importantes.

Com quantos membros conta a Assema?

O Assema conta com 25 artistas, mas devo frisar que cada um destes trabalha de forma individual, embora todos trabalhemos buscando inspiração na arte maconde.

Porquê é que diz que praticam o artesanato para a sobrevivência?

Não é possível viver de arte. Acabamos produzindo estas pequenas obras de artesanato para podermos vender o mais rápido possível e com isto ganharmos algum valor para sobreviver.

-se à dificuldade que as artes plásticas enfrentam para a sua expansão. Por exemplo, é fácil expandir a música através dos meios de comunicação, prin-cipalmente da rádio, que é mais abrangente, mas com uma obra de arte isto não é possível”.

Para ele o que acontece é que há falta de gos-to pelas artes: “Eu diria que ainda não entendem desta prática, isso deve-se à falta de conhecimen-to, de tal modo que estamos a trabalhar numa re-vista cultural. Tem muitas obras de Malangatana em Portugal e muitos viajam até lá para apreciar o nosso património. Esses sabem dar valor ao traba-lho dos artistas do nosso país. O que acontece em Moçambique é que o governo apoia projectos que ganham dinheiro fácil”, disse.

ARTE PARA A ELITE

Para Jaime dos Santos, revisor técnico da Re-vista Cultural do Núcleo de Arte, o que faz com que as obras de arte estejam a um preço elevado é o facto de a sociedade moçambicana encontrar-se numa economia de mercado muito exigente, isto é, capitalista.

“Actualmente nos encontramos numa socie-dade terrivelmente capitalista, dinâmica e globali-zante. Um artista que pinta um quadro hoje, é igual a uma empresa que vende um barril de petróleo.

Com isto estou a querer dizer que o capitalismo é o que propicia estes preços elevados, porque o cus-to de produção também é elevado, e o preço destes tem de justificar os custos de produção.”

Ele refuta a ideia de que a sociedade não tem o conhecimento das artes. “Não é verdade que as pessoas não conheçam a arte, a sociedade conhece a arte. O problema é o local onde são feitas as ex-posições. Os artistas não levam as suas obras até a maioria da sociedade, mas sim à minoria, que é a classe alta.”

“O artista devia levar as suas obras para Ma-falala, Chamanculo, Xipamanine, Maxaquene, entre outros bairros e sem se esquecer dos dis-tritos, porque é la onde mora o povo. O Instituto Camões, a Mediateca do BCI, são locais frequen-tados pela elite e o pobre tem receio de lá se fazer presente”, acrescentou o revisor.

Maputo conta com sete galerias, nomeada-mente: Casa da Cultura do Alto-Maé, Centro Cul-tural Brasil-Moçambique, Centro Cultural Franco Moçambicano, Mediateca do BCI, ICMA (Insti-tuto Cultural Moçambique Alemanha), Instituto Camões, Núcleo de Arte. Estas têm facilitado o intercâmbio entre artistas nacionais e estrangeiros através de exposições de obras de arte, workshops, palestras e debates, abrindo espaço de aproxima-ção entre o público e as artes plásticas.

O Ministério da Cultura mostra--se preocupado com a fraca presença dos moçambicanos nas exposições de artes plásticas. Para minimizar o problema diz estar em parceria com o Mileni-nium Bim de forma significativa no processo da valorização das artes.Afirma ainda estar a redobrar esforços para mudar a men-talidade dos artistas, e para tal incentivaria talentos a fazerem sua exposições nas comunida-des e escolas, para ensinarem o significado e o valor das artes, incutindo na mente das crianças a importância desta expressão cultural.Emanuel Dionísio, Director Na-cional de Promoção de Indústrias Culturais, afirma que o ministério ajuda os artistas na promoção e divulgação das sua obras através de exposicões nas feiras popula-res e de gastronomia do Fundac (Fundo do Desenvolvimenro da Cultura). Para além dessas ajudas, o ministério afirma que investe na formação dos artistas. “O Ministério apoia os artistas que apresentam seus projectos dando financiamento caso sejam aprovados. Quanto à compra do material para a produção das obras, diz respeito somente ao próprio artista, cabe a ele conseguir isto e nós somente abrimos as portas, dando espaço para expor o seu trabalho. Deve--se realçar que isso não é só feito a nível da capital, mas também para o resto das provincias. É uma das formas de evitar exclu-são de alguns artistas, o que sig-nifica que estamos a abrir novos horizontes”. Emanuel Dionisio afirma que para além da falta de

conhecimento por parte da so-ciedade sobre a importância das artes, há também o que chama de banalização, “o mau comporta-mento dos artistas plásticos, que têm conduta não satisfatória. “Por questões éticas não vou citar nomes, mas a maior parte dos artistas plásticos aqui em Mo-çambique não tem uma postura exemplar como cidadãos, andam nas barracas bêbados e drogados. Não digo que não existam figuras exemplares nas artes, aquelas que a sociedade pode seguir, claro que existem artistas lúcidos, mas infelizmente a maior parte não tem dado esse bom exem-plo. Muitos produzem obras até educativas, mas o comportamen-to deles não retrata aquilo que são as suas obras e é o que pode desmotivar a sociedade a assistir as exposições”, afirma o respon-sável pela Directoria Nacional de Indústrias Culturais.

“São bêbados... não têm postura de cidadãos exemplares; mas é claro, há os lúcidos”

Emanuel DionísioDirector de Promoção de Ind. CulturaisMinistério da Cultura

Director de Promoção de Indústrias Culturais critica postura dos artistas

Os traços marcantes de Malangatana expressos em dezenas de obras expostas ao redor do mundo são referências de talento e reconhecimento do público

Foto: reprodução | divulgação

Artista artesão trabalha na FEIMA: esforço diário para ganhar o suficiente para viver.

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Foto: Mirna Chitsungo

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Ilegalidade controla acesso de músicos ao mercado consumidor

“A falta de editoras oficiais no país, que seriam responsáveis pela distribuição e promoção da música no mercado, contribui para o aumento da pirataria”. A afirmação é do músico moçambicano Hortência Langa. Ele acrescenta ainda que os piratas são os únicos que têm a possibilidade de co-locar música no mercado. O produtor Shico Fortuna explica que a pirataria discográfica é um problema difícil de ser controlado. “A cada dia que passa cresce o número de bancas de venda de material discográfico ilegal. Para que o combate à pirataria tenha efeito é necessário reestruturar a indústria e as editoras discográficas no mercado”. A polícia, no entanto, diz que tem tra-balhado com os artistas para reprimir o crime (veja texto nesta página).

Músicos e produtores lutam contra este fenómeno que, na opi-nião de muitos, degrada a indústria cultural e destrói o esforço dos faze-dores da música em Moçambique. Entretanto, não há consenso. Gente como o compositor Azagaia defende as cópias irregulares (leia na página ao lado). Langa e Shico discordam: “os músicos que assim pensam tem uma visão errada, mas compreende-se, se olharmos para a conjuntura nacional e como funciona o negócio da música em Moçambique”. Ele diz ainda que

a pirataria é negativa também por-que não deixa a indústria criativa se desenvolver. O mesmo fenómeno faz com que os produtores não ganhem e o Estado não colete os impostos que a tem direito. Por outro lado, o público consome música em gravações de má qualidade. “Quem apoia a pirataria são pessoas que dão um tiro no seu próprio pé, impedindo o desenvolvi-mento da indústria discográfica e o seu crescimento como artista”.

Questionados sobre o papel da Sociedade dos Autores Moçambica-nos (SOMAS) no combate à pirataria, eles afirmam que a organização tem trabalhado na mobilização da socie-dade, através da expansão de mensa-gens sobre os malefícios da pirataria. A Federação Internacional da Indús-tria Discográfica (IFPI) tem apelado para a intervenção dos governos de todos países no combate a pirataria na internet, já que o negócio de música continua a perder, apesar dos esforços das editoras.

A IFPI responsabiliza as auto-ridades e cobra um combate efeitivo, através da criação de uma legislação específica contra a pirataria na Web e no mercado. China, Espanha, Fran-ça, Itália e Brasil são responsáveis por mais de 50% dos sotwares piratas no mundo, de acordo com a Entertain-ment Software Association (ESA). O estudo da entidade aponta ainda que 33 países não t6em leis adequadas de proteção à proprietade intelectual.

Carmen Mutisse, Natércia Luísa, Dule Alexandre. Secção de Cultura

Polícia sugere que o Estado combata a pirataria fiscalizando músicos também Segundo o porta-voz do comando geral da polícia municipal do Dis-trito Kapfumo, Joshua Lai, a polícia tem trabalhado em paralelo com a Associação dos Músicos Moçambi-canos para a fiscalização dos discos vendidos na cidade de Maputo, em particular na Baixa, Avenida Eduardo Mondlane e no Xiquelene. Estes locais são considerados onde as empresas clandestinas fabricam e distribuem os discos pirateados.

Para Joshua Lai, a pirataria disco-gráfica tem sido um dos casos mais delicados da polícia municipal. Para eliminá-la, as autoridades dizem que têm trabalhado para que a própria associação possa verificar pessoal-mente se os discos são pirateados, após o que eles são apreendidos e queimados.

Quanto aos resultados da fiscalização, embora não tenham sido apresen-tado dados estatísticos, Joshua Lai, afirmou que estes não estão a ser cem por cento positivos, porém tem despertado a atenção daqueles que fabricam e vendem discos pirateados a desistirem de produzir CDs de for-ma clandestina, sem pagar os direitos de autor e sem possuírem nenhuma licença para trabalhar no mercado discográfico moçambicano.

O porta-voz da polícia municipal do Distrito Kapfumo afirmou também, que a outra forma usada por eles para fiscalizar o mercado da música é identificando os produtores musicais que trabalham de forma clandestina e em locais fechados. Ele sugere que o Estado crie entidades que fiscalizem os próprios músicos.

“Assim o trabalho da fiscalização da pirataria discográfica não seria só da polícia, mas em conjunto com outras entidades governamentais”, explica.

A PRM (Polícia da República de Moçambique), segundo o portal do governo de Moçambique, está a intensificar a sua ofensiva contra a pirataria, tendo recolhido e destruído mais de dois mil discos compactos e DVDs em três províncias do país, nos últimos dias.

O porta-voz do comando geral da Polícia da República de Moçambique, revela que o material recolhido per-tence às províncias de Gaza, Maputo e Tete, cuja acção foi realizado em vias públicas e em estabelecimen-tos comerciais. em áreas de grande movimento .

Artistas criticam colegas que defendem a distribuição ilegal de CDs, comparando o crescimento da venda de cópias irregulares a “dar um tiro no próprio pé”, o que inviabilizaria o mercado

Pequim, na China, é o um dos paraísos da pirataria com produtos de todos os tipos comercailizados com a autorização do governo.

A polícia de Moçambique não divulgou estatíticas de números de CDs apreendidos.

Pirataria internacional copia marcas mundialmente conhecidas no mundo da moda.

Foto: Ricardo Fontes Mendes

Foto: MorgueFile

Foto: Ricardo Fontes M

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Internacionalização fácil é um dos aspectos destacados pelo cantor que critica o trabalho realizado pelas editoras

Azagaia vê lado positivo no crescimento da pirataria no país

O músico de intervenção social, redactor publicitário e acti-vista dos direitos humanos Edson da Luz, mais conhecido por Aza-gaia, oferece o seu ponto de vista ao jornal “O Especialista” sobre a pirataria.

Azagaia disse não ter uma opinião formal a respeito das van-tagens ou desvantagens da pirata-ria para os artistas e produtores musicais, mas acrescentou que a reprodução e venda ilegais têm um lado mau e bom.

Em qualquer lugar encon-tramos pessoas a venderem discos musicais, maquetes entre outros produtos, o facto é que, este mate-rial é reproduzido de 1 para cerca de 100 ou mais discos e são distri-buídos para dentro e fora do país, a um preço muito baixo.

Questionado se ele compra ou não os discos pirateados, aza-gaia respondeu lançando, “ risos”, “eu particularmente compro fil-mes pirateados todas as semanas pAra me deliciar ao longo do final de semana, com uma tijela de pi-pocas ao lado”.

Azagaia afirma que os músi-cos acabam por ganhar um bene-fício pois suas músicas são levadas além-fronteiras de forma rápida e

fácil, permitindo assim que eles se tornem conhecidos interna-cionalmente e desta forma se abre um espaço para uma interacção entre os mesmos.

“As discográficas têm estado a lutar para combater a pirataria no país, mas a falta de seriedade das empresas distribuidoras faz com que as editoras percam o seu campo de mercado, porque os músicos acabam por aderir à pi-rataria como uma forma de fazer sobreviver o seu trabalho. Os mú-sicos também querem obter lucro com esta arte, quem não quer se tornar milionário com música? Isso acontece nos países desenvol-vidos”, disse Azagaia.

A SOMAS (Sociedade Mo-çambicana de Autores), tem efec-tuado campanhas a sensibilizar a sociedade para não comprar os discos pirateados. Televisões, rá-dios, bem como a PRM (Polícia da República de Moçambique) também não ficam indiferentes à causa. A acção mais visível da polícia é a patrulha pelas ruas da cidade: quando encontram discos pirateados eles recolhem a merca-doria de imediato e queimam.

De acordo com o artista, al-gumas televisões e rádios apoiam a música moçambicana promo-vendo em seus recintos eventos de lançamento e venda de discos originais, com a presença dos au-tores que os autografam.

By Reporter NameTechnology Correspondent

“A falta de seriedade é o

que faz a editora perder”

AzagaiaMúsico

Moçambique

50%da piratira está

em 5 países

Carmen Mutisse, Natércia Luísa, Dule Alexandre. Secção de Cultura

O músico Azagaia: o compositor já usou a internet para fazer distribuição gratuita de suas criações sem cobrar nada dos usuários.

Em frente ao Polana Shopping, vendedores de produtos piratas oferecem CDs.

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“Moçambique não valoriza talentos em jogos escolares”Atleta coleccionador de medalhas conta como a falta de estímulo quase o fez abandonar o desporto

Salvador Maxiamo, 23 anos de idade, atleta e técnico superior de educação física, participou dos jogos escolares em 2007, quando conquis-tou a medalha de ouro na prova de lançamento de peso. Ele já levou para casa mais de trinta medalhas nacionais e internacionais.

“Entro na esfera despor-tiva em 2007, quando representei a Província de Gaza na prova de atletismo nos jogos escolares que se realizaram na Província de Sofala. Fui descoberto por um treinador cubano no distrito de Chibuto, min-ha terra natal, que me incentivou a participar dos jogos escolares.”

Salvador Maxiamo praticou basquetebol e handebol, mas como existiam muitos atletas foi obrigado a escolher o atletismo como alter-nativa. Na nova modalidade obteve boa classificação nas provas provin-ciais, o que lhe possibilitou partici-par na fase nacional dos jogos esco-lares.

Maxiamo afirmou que nos escolares os atletas são obrigados a participar de todas as provas desta modalidade, como forma de identi-ficar qual é o potencial dos alunos.

O campeão do lançamento de peso, afirma que os jogos escolares são uma excelente iniciativa para a descoberta de novos talentos nas várias modalidades que se realizam, mas lamenta igualmente por não ex-istir uma entidade e profissionais in-

teressados em ajudá-los a construir uma carreira de alta competição.

“Foi triste o que aconteceu comigo depois da realização dos jogos escolares. Não tive mais opor-tunidades de praticar atletismo por falta de clubes para me filiar na

província de Gaza”, disse.

“Não me considero uma desc-oberta dos jogos escolares, mas sim de um treinador que me viu treinar em Chibuto e me incentivou a prati-car exaustivamente desporto. Acon-selhou-me igualmente a investir nos estudos”.

A estrela critica o facto dos clubes, treinadores e empresários não assistires as provas de atletismo nos jogos escolares. Salvador Maxi-amo considera que as competições estudantis só podem produzir novos talentos para a alta competição se os clubes forem envolvidos nas provas, desde a realização da fase distrital, provincial até a nacional.

A inexistência de clubes de-sportivos para que os atletas ten-ham possibilidade de possuir um acompanhamento de um treinador preocupado em desenvolver as suas habilidades é outro factor que con-sidera de extrema importância.

“Hoje, se ainda estou no atletis-mo é graças a minha persistência, depois da conquista da medalha de ouro nos jogos escolares, continuei a treinar embora sem clube durante dois anos na província de Gaza”. Maxiamo, em 2009, ingressou na faculdade de ciência e desporto da UP na cidade de Maputo, o que lhe possibilitou fazer parte, pela primei-ra vez, de um clube. Agora, é atleta do Clube Desportivo de Madjedje na prova dos quatrocentos metros e tem na sua prateleira, trinta e quat-ro medalhas conquistadas, das quais quatro foram em competições inter-nacionais, sendo uma de ouro, duas de prata e uma de bronze.

Tânia Pereira, Flavio Chitsondzo, Orbai Nobre. Secção de Desporto.

“Hoje, se ainda estou no atletismo é graças à minha persistência”Salvador MaximianoTécnico de Educação físicaClube Desportivo Matchedje

Salvador Maximiano é atleta do Clube Desportivo de Matchedje na prova dos quatrocentos metros e tem na sua prateleira 34 medalhas conquista-das, das quais quatro foram em competições internacionais, sendo uma de ouro, duas de prata e uma de bronze.

Arrancou em abril em todo o país a fase provincial dos jogos escolares, que tem como objectivo a descoberta de novos talentos e a massificação da prática do desporto. A competição terá como ponto alto a fase nacional em junho do ano em curso.

Segundo Luís Amiel, chefe do Departamento dos Jogos Esco-lares do Ministério da Educação (MINED), neste momento estão sendo disputadas as provas provin-ciais nas modalidades de futebol, ginástica, handebol, basquetebol, voleibol, xadrez, atletismo e jogos tradicionais.

Luís Amiel disse que nesta edição dos jogos escolares foram introduzidos os jogos tradicionais, como forma de valorizar a cultura moçambicana. Entre as modali-dades estão: neca, tchuva, mura-varava, salto a corda na ginástica e participação dos deficientes nas mo-dalidades de ginástica e atletismo.

Amiel acrescentou que os jogos escolares têm sido uma grande valia no desporto nacional na desc-oberta de novos talentos para in-gressar nas competições de alto nív-el. “ São muitos os atletas que estão a disputar em altas competições em diversas modalidades e que foram descobertos nos jogos escolares”.

O responsável pelas provas avançou ainda que o MINED tem como função a descoberta de novos talentos, a integração destes nos clubes já não cabe à Educação, mas sim ao Ministério da Juventude e Desporto que se encontra repre-sentado na equipe técnica dos jogos escolares, através do Instituto Na-cional do Desporto.

“Os clubes não absorvem os talentos descobertos nos jogos es-colares, a maior parte acaba por não ingressar por falta de oportunidade. O MINED tem solicitado a com-parência dos clubes nas provas re-alizadas nas escolas e a competições nacionais, mas são poucos os clubes que comparecem”.

Para Amiel , a maior parte dos clubes do país não possui a for-mação de atletas por exiguidade fi-nanceira. Para inverter este cenário, o Ministério da Educação em parce-ria com o Ministério da Juventude e Desporto estariam a criar dois centros de treinamento, um na zona norte e outro na zona centro do país, uma vez que a zona sul já tem um no distrito de Namaacha.

Por seu turno, Ângelo Mu-cavele treinador de atletismo no clube desportivo da Universi-dade Pedagógica (UP) afirma que os jogos escolares têm revelado novos talentos na modalidade de atletismo, mas eles não chegam aos clubes por causa da rivalidade entre os professores de educação física e treinadores. Ângelo Mucavele disse que o Ministério da Educação tem envolvido os treinadores dos clubes desportivos nos jogos escolares na fase preparativa, no que diz respeito a questões técnicas, mas na procura de novos talentos os treinadores são excluídos.

Ele afirma ainda que os treina-dores têm tido oportunidade de assi-stir os treinos dos atletas e as provas entre as escolas ao nível províncial, onde há oportunidade na caça de novos talentos para os clubes. Para Ângelo Mucavele a busca de novos nomes na modalidade do atletismo não tem sido tarefa fácil, porque não é permitido pelos professores de educação física a conversa entre alu-nos e treinadores. Ângelo Mucavele disse igualmente que os professores de educação para além de não deix-arem os alunos conversarem com os treinadores, os alunos são proibidos de se filiarem aos clubes depois da participação dos jogos escolares o que faz com muitos talentos se per-cam por falta de uma preparação.

Para Luis Amiel, quem tem que levar novos levar atletas para os clubes é o Ministério do Desporto. Ele é do Minsitério da Educação.

Para o treinador Ângelo Mucavele, a falta de diálogo entre professores e técnicos dificulta a promoção de novos talentos.

“Eles não chegam aos clubes por causa da rivalidade entre atletas e profesores”

Ângelo MucaveleTreinador na Universidade Pedagógica Jurista

Ministériodiz que apoia

“Foi triste o que aconteceu comigo depois dos jogos”

Fotos: Tânia Pereira

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Antropólogo defende circuncisão clínica fundida a ritos tradicionais

Apesar da mudança de com-portamento dos homens que trocam cada vez mais o método tradicional de circuncisão pelo científico, realizado por um médico, em algumas zonas do país ainda prevalece a forma antiga de intervenção. É assim nas províncias da região norte do país, como Cabo Del-gado, Niassa e Nampula. Nestes locais, a retirada do prepúcio dos rapazes ac-ontece através dos ritos de passagem, como explica o antropólogo Chomulo Guena.

“Antigamente, a circuncisão era feita nas comunidades no processo de ritos de iniciação. Com a migração do método tradicional ao científico, mui-ta coisa muda. Os anciãos ensinavam os jovens a lidar com as questões cul-turais da sociedade a qual pertencem e este momento era considerado como uma fase importante de transição”.

O rito visava essencialmente a integração social e cultural do indi-víduo, permitindo que reunisse múl-tiplas influências do seu meio para em seguida integrá-las na sua maneira de pensar, de agir e de se comportar. Quando o método da circuncisão tradicional é deixado de lado, ainda segundo o antropólogo, ficariam para trás a transmissão de valores impor-tantes dos mais velhos para os mais novos. “De certa forma esse rompi-mento afecta a vida sociocultural de Moçambique, pois se o jovem anti-gamente era ensinado a lidar com os problemas que poderiam advir futuramente, isto acaba atingindo a convivência no seio da comunidade”, disse Chomulo.

Ele reconhece que a circun-cisão, além de passar valores culturais através dos ritos de iniciação, traz vantagens para a saúde da pessoa que busca um atendimento clínico espe-cializado. “O método clínico é eficaz à medida que foi comprovado pela Or-ganização Mundial de Saúde (OMS) que a prática reduz 60% dos riscos de infecção. Mas acredito que no caso concreto de Moçambique o método

científico tinha que buscar do tradi-cional aqueles valores culturais que eram transmitidos. A pessoa saindo da circuncisão tradicional fica saben-do do seu status na sociedade, o que não acontece na actualidade”.

“Os casos de circuncisão clínica estão crescendo devido às campanhas levadas a cabo pelos profissionais de saúde”, disse Sandra Neves, enfer-meira do Hospital Geral da Machava. Segundo Sandra a circuncisão é uma

cirurgia para cortar o prepúcio cir-cularmente. É o tecido que cobre a glande do órgão sexual masculino. A operação é rápida e simples, mas mesmo assim tem alguns riscos, prin-cipalmente quando é feita sem antes o pcaiente passar pelo profissional de saúde para exames médicos.

O método científico poré in-dicado a partir do momento em que o paciente apresenta dificuldade na erecção causada pelo anel fimótico, limitando a relação sexual por dor local. A intervenção é recomendada ainda nos casos de crianças que começam a ter dificuldade para uri-nar, por exemplo. Se o procedimento é feito sem o aconselhamento de um

profissional, ele pode gerar compli-cações, causando grandes hemorra-gias.

Os agentes de saúde têm aler-tado também que a circuncisão ajuda na prevenção das infecções nos rins e nas vias urinárias, reduz o risco de contágio do HIV, no caso de cópula vaginal, previne o cancro peniano e do cólo uterino, doenças de transmissão sexual, diminui o risco de balanite e ajuda na correcção de dificuldades da micção, ou seja, dificuldade na orien-tação do jacto urinário.

Neves disse ainda que é impor-tante que aqueles que ainda não fiz-eram a circuncisão o façam porque, tem uma finalidade preventiva: im-pede a acumulação da secreção genital chamada esmegma, no espaço entre a glande e o prepúcio que a recobre o pénis, e quando não for removido, o esmegma torna-se mal cheiroso e campo de cultivo de bactérias, que causam grande irritação e são foco de infecções.

POTÊNCIA

Ezequiel Mindo, um senhor que praticava a circuncisão masculina, viu-se obrigado a abandonar a sua ter-ra natal Inharrime (Inhambane) para mudar para Maputo. Ele acha que já não vale a pena continuar lá. O mo-tivo: ninguém mais opta pela tradição para realizar a circuncisão. Com 87 anos de idade, o entrevistado afirma que a circuncisão masculina foi a mel-hor coisa que ele fez na vida. “Eu era apaixonado pelo meu trabalho”.

“Antigamente as pessoas eram obrigadas a optar por esta prática por ser uma maneira de retirar o prepú-cio que carrega consigo algumas bactérias que podem ser prejudiciais para o próprio homem, assim como para a sua parceira no momento do acto sexual. Mas a maioria deles fazia porque a prática da circuncisão tradi-cionalmente é o forte do homem, ou seja, deixa o homem mais potente e gostoso no acto sexual.”

Mindo afirma que olhava para o seu trabalho como uma forma de ajudar as pessoas, porque antigamente elas viviam em união e solidariedade,

o que não acontece actualmente. “A ajuda resumia-se em colaborar com os outros para cumprirem com aquilo que é a nossa tradição, diferente dos médicos tradicionais (curandeiros) que cobravam um certo valor”.

Ele explicou que no inicio não se importava muito com o pagamen-to, mas mesmo assim todos que ele atendeu sempre faziam uma espécie de troca. O pagamento não era com dinheiro, mas podiam dar-lhe um lata de castanha, uma camisa ou algumas bebidas tradicionais.

Quando questionado sobre a introdução desta prática nos hospi-tais, o entrevistado respondeu que vê algo positivo porque é uma forma de ajudar as pessoas que não acreditavam na segurança do meio tradicional.

Em relação aos materiais que eram usados nesta prática ele afirmou que inicialmente usavam faca e depois a tesoura, acrescentando que todo o processo era feito na casa de banho ou num lugar bem distante das residên-cias. Em seguida, fazia-se uma festa para o circuncidado.

“Usávamos um pano para co-brir a ferida e por cima colocava-se uma folha da bananeira de modo que não ocorra nenhum problema com o pênis e o menino circuncidado tinha que ficar no mínimo cinco dias de capulana no lugar das calças”, explicou a fonte.

Com uma jeito meio longe e triste, o entrevistado disse que actual-mente não atende ninguém, acres-centando que antigamente recebia mais de quatro meninos por dia. Mas ja faz quase 7 anos que não é procura-do para realizar esta prática. Ele dest-aca que esta é uma das desvantagens que vê na introdução da circuncisão masculina nos hospitais porque “ela não me era muito rentável, mas o que me era oferecido dava para ajudar em alguma coisa”.

Os governos moçambicano e dos Estados Unidos da América (EUA) inauguraram em Maputo, a Enfermaria de Pequenas Cirurgias do Hospital Militar de Maputo, Boane e Mavalane, bem como ao Centro de Instrução Básica da Manhiça e Nam-pula.

Dércia Melito, Matilde Muimela, José Luis Chichongue. Especial.

Cresce número de homens que optam por deixar a prática tradicional para diminuir os riscos no procedimento

Apesar de reconhcer o aumento da segurança no procedimento, há quem tema que parte da cultura local esteja se perdendo.

“O científico tinha que buscar o tradicional”

Chomulo GuenaAntropólogoMoçambique

Foto: MorgueFile

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A falta e transmissão em língua de sinais nas televisões moçambicanas faz com que os deficientes auditivos não se identifiquem com as programações diárias. Agora eles preferem ter um programa específico para deficientes auditivos, que seja feito por eles e apenas para eles, porque nunca viram suas reclamações satisfeitas”, disse Juvenal Cuna, pai de um deficiente auditivo e membro da Associação de Familiares e Amigos de Surdos de Moçambique (AMOFA) .

Juvenal Cuna é pai de Berequias Bernardo Cuna, uma criança de 9 anos de idade que adquiriu a surdez gradualmente, após ter padecido de meningite associada à malária e convulsões, quando tinha um ano de idade.Cuna diz que tem exercido muita pressão junto às televisões e ministérios sem ver nenhuma reação da parte de quem tem poder de mudar a essa situação.

“Meu filho ainda não enfrenta muitas dificuldades porque é criança, só assiste desenhos animados. Mas eu não deixo de pressionar diante de quem tem poder de mudar essa situação, porque ele está a crescer e tal como os tantos deficientes auditivos espalhados pelo país, ficará totalmente desactualizado do que estiver a acontecer a sua volta e deixará de fazer muita coisa por falta de informação”, disse Juvenal Cuna.

“Chega de discriminação, essas pessoas também tem direito não apenas de serem informadas, como também de informar”, disse, Marília Tivane, presidente da AMAFO. A Associação foi criada em 1995 e conta com cerca de 400 membros. Ela tem sede em Maputo.

Para além de ser presidente da AMAFO, Marília Tivane é mãe de Marília Xerindza, uma jovem de 22 anos com problemas de audição. Tivane disse que se as televisões fizessem a transmissão em língua de sinais sua filha seria menos deprimida e teria mais opções para se divertir. “Ela só assiste programas de moda, porque não precisa fazer muito esforço para entender a mensagem”.

Para além das pressões junto aos Ministérios da Mulher e Acção Social, a associação faz o treinamento de famílias para o uso da língua de sinais por pessoas portadoras de deficiência auditiva.

Famíliares protestam

Troca de acusações entre TVM e o Ministério da Mulher e Acção Social dificulta implantação de serviço

Mais de 3 milhões de moçambicanos não têm acesso à informação

O direito à informação e à liberda-de de expressão são tidos pela legis-lação moçambicana como essenciais para o exercício da cidadania. A infor-mação é um direito fundamental e tão importante quanto os demais e deve ser oferecida igualmente a todos, com objectividade e de modo claro, impes-soal e preciso. Embora a televisão seja um veículo constituído por imagens visuais que transmitem parcialmente a mensagem, o essencial dos conte-údos é emitido com base nos sinais auditivos, o que impõe uma barreira para o acesso a informação por parte dos deficientes.

O presidente da comissão para assuntos de administração pública, poder local e comunicação social, Al-fredo Gamito, admitiu não haver ne-nhuma acção em curso actualmente para que haja uma lei específica que materialize o direito previsto na Cons-tituição da República. “A Assembleia da República não está a fazer nada nessa matéria, mas estamos a projec-tar trabalhar com a Escola Especial, articulando actividades que revertam em melhores condições para o acesso à informação”, afirmou.

Na óptica do constitucionalista Gilles Cistac, deve se fazer pressão sobre o legislador para que o antepro-jecto de lei de revisão da Constituição moçambicana, que deverá ser depo-sitado em outubro do ano em curso, incorpore nos seus artigos preceitos que possam forçar os meios de comu-nicação a incluir a língua de sinais na veiculação da programação.

“Nesta nova lei, deve ser feita pres-são para que tenhamos um artigo que

referencie tanto os surdos como os mudos, porque só assim é que pode ser feita uma pressão justa e solene aos meios de comunicação social”, disse.

Nos últimos anos, era frequente assistir-se a alguns serviços noticio-sos da Televisão de Moçambique com transmissão simultânea em língua de sinais. Trata-se de uma parceria entre o Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS) e a TVM. Ela abrangia os programas “Ver Moçambique” e “Jor-nal da Tarde”.

A experiencia foi, entretanto, inter-rompida no segundo semestre do ano passado. Enquanto a TVM diz que o problema da interrupção é do MMAS, que “criava todas condições necessá-rias”, o Ministério alega que o proble-ma é da TVM. A emissora diz que o equipamento que permitia a redução na tela da imagem do intérprete está avariado.

Emanuel Langa, jornalista e sub-chefe da redacção da TVM, afirma que a transmissão em língua de sinais não precisa de equipamento específi-co, apenas de câmera. “A interrupção deveu-se a problemas organizacio-nais no Ministério, principalmente dos intérpretes que exigiam aumento salarial. Quem devia responder a exi-gência era o Ministério, a iniciativa era do Ministério e a TVM apenas dispo-nibilizou o espaço”, disse.

O chefe do Departamento dos Assuntos da Deficiência no MMAS, Macário Dubarela, diz que o Minis-tério tem muitos intérpretes que estão disponibilizados a qualquer institui-ção que solicite. “Agora o problema não está com o Ministério, está com a TVM, que diz que não é possível transmitir, uma vez que a máquina que o permite está avariada” deu a co-nhecer Dubarela.

O certo é que um ano passa sem transmissão em língua de sinais, quer

na TVM1 ou na TVM2, para não falar de qualquer outro órgão televisivo.

Em levantamento realizado pelo O Especialista com 50 pessoas defi-cientes auditivas da cidade de Mapu-to, 75% dos inquiridos disse ter difi-culdades na leitura, mas quase todos acompanhavam quatro horas de tele-visão por dia durante a semana e 5h30 ao sábados e domingo – mais do que a média nacional, que ronda as 3h30.

Os noticiários são os programas mais vistos, seguidos dos filmes, nove-las e dos programas de desporto.

Os programas com transmissão em língua de sinais eram os preferidos e constata-se, através dos questionários, que o nível de percepção era bom.

Na pesquisa, os resultados foram divididos em dois grupos: grupo 1, com as percepções dos sujeitos em relação ao conteúdo exibido sem in-terpretação para a língua de sinais, e grupo 2, com relatos perceptuais dos deficientes sobre os produtos exibidos com tradução simultânea em língua de sinais. Não há números exactos quanto à ocorrência de deficiência auditiva na população moçambicana, mas o Recenseamento Geral de 2007 indica que 12.7% dos moçambicanos têm dificuldade em ouvir.

Em Moçambique existem cerca de 475.011 pessoas com deficiência, equivalente a 2% do total da popu-lação moçambicana estimada em 23.700.715 habitantes em 2012.

Aponta-se como causas da defi-ciência doença (57.9%), à nascença (33.1%) e outras (6.8%) e como ti-pos de deficiência pernas amputa-das (20.7%), cegueira (9.4%), mental (8.5%), braço amputado (8.2%), pa-ralisia (7.3%) e outras (35.2%), surdez (12.7%). Estes são os dados do Censo Geral da População de Moçambique realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2007.

Por Laque Francisco, Lourino ernesto, Lucinda AlfândegaSecção de Política

“Deve ser feita pressão para que tenhaum artigo na nova lei”Gilles CistacConstitucionalistaJurista

12,7%da população

não ouve bem

Programas internacionais de apoio a deficientes auditivos tentam dar algum apoio à população africana oferecendo aparelhos.

Starkey Hearing Foundation

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O historiador Egídio Vaz Ra-poso, especialista da mídia para advocacia e alianças no Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique, falou sobre a difi-culdade de acesso à informação enfrentada pelos deficientes audi-tivos. Leia, abaixo, os principais trechos da conversa.

Qual é o seu posicionamento perante este cenário? Qual devia ser o posicionamento da TVM?

A questão é mais complexa do que responder quem está cer-to e quem está errado. A missão do Estado é garantir que todos os cidadãos possam ter acesso à informação. O governo moçam-bicano tem um quadro normati-vo que o guia nesta matéria. Em 1997, o governo rubricou o seu plano de acção ou estratégia de informação, mas muitos dos as-pectos lá plasmados nunca foram postos em prática. Ou seja, antes mesmo da aplicação da lei, temos um problema sério do não cum-primento do plano na matéria do acesso à informação. A TVM é uma entidade pública e sobrevi-ve dos fundos do Estado. Como tal, vincula-se aos comandos dele em relação à sua missão. A lei da radiodifusão e a lei do direito à informação – quando aprovadas - podem reforçar mais uma vez a necessidade prover a informação

a todos.Não acha que a ausência de

uma lei específica impede esse provimento da informação?

O que falta não é a lei, mas mobilizar os recursos principais para que iniciativas previstas não parem de qualquer maneira. Es-tamos a falar aqui de um processo que movimentou todos os qua-dros do Ministério da Mulher e Acção Social e da televisão. Exis-tindo outras formas alternativas de informar, que não seja apenas por meio da voz e da imagem, é importante que os cidadãos que não conseguem ouvir possam ter acesso, por meio de língua de si-nais. Não é verdade que a TVM não tem dever muito menos res-ponsabilidade de garantir o aces-so a informação. É porém com-preensível que a TVM se exima destas responsabilidades por falta de clareza na abordagem em re-lação a estes assuntos específicos. Ou seja, estamos naquela zona de penumbra em que as pessoas fa-zem normalmente o que deviam fazer e acham que estão a fazer de graça . E quando deixam de fazer também dizem que nada lhes obrigava a continuar. Mas se formos ver, desde a Constituição até as leis específicas, existe um grupo de compromissos que o Estado deve tomar conta.

Os documentos internacio-nais orientadores que Moçambi-que ratificou recomendam que as entidades do Estado dediquem pelo menos 2% do seu orçamen-to geral para garantirem o acesso a informação.

Perante este cenário, a quem se deve imputar a responsabili-dade?

No estatuto editorial da TVM está bem claro que uma das suas missões é prover a informação para a pessoa humana, a todos moçambicanos e sem excepção. Não estamos perante um vazio legal, mas sim perante um defei-to ou não cumprimento de uma obrigação por parte daqueles que deveriam.

O subchefe de redacção da TVM afirma que “todas as con-dições para a transmissão em língua de sinais eram criadas pelo Ministério, o que falhou não foi do nosso lado, foi do lado do Ministério porque eles é que pagavam os intérpretes, formam os intérpretes. Todas as condições eram criadas pelo Mi-nistério, e nós só ajudávamos a transmitir”. Que leitura se pode fazer diante dessas declarações?

Esta é a experiência que ele teve quando se introduziu a lin-guagem de sinais na TVM, ou seja, o Ministério da Mulher e Acção Social notificou as pessoas competentes e pagou para exer-cerem aquele trabalho e a TVM criou condições técnicas para integrar a linguagem de sinais nas suas transmissões. A TVM devia, no seu plano operacional, prever as despesas para os apre-sentadores de linguagem de si-nais. Trata-se de uma questão de despesas ou orçamental.

Não é um problema técnico e nem editorial, é um problema meramente político.

“Todos são cidadãos e devem gozar dos direitos garantidos pela Constituição”, afirma especialista

Os números do CensoPrincipais causas de deficiência

2%dos moçambicanos

têm alguma deficiência

doenças contraídas57,9%

têm problemas de nascença

33,7% outras causas

6,8%

Por Laque Francisco, Lourino ernesto, Lucinda AlfândegaSecção de Política

Foto: Reprodução/African Hope Initiative

Criança africana utiliza a linguagem de sinais para se comunicar: Associação de Familiares e Surdos de Moçambique oferece cursos de preparação para dificientes e outras pessoas e estejam interessadas em aprender.

O historiador Egído Vaz Raposo defende a democrartização do acesso à informação.

Foto: Helena Cumaio/Irex

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Nova legislação pretende desencorajara poligamia

Contradição entre valores culturais e necessidade de lei que proteja os direitos humanos paralisa a discussão na Assembleia da República

A poligamia faz parte da cultu-ra de várias sociedades humanas no mundo. São apontadas como causas desta prática questões económicas, guerras, êxodo rural entre muitas ou-tras.

No caso prático das guerras, em que muitos povos africanos estiveram envolvidos e em que participavam principalmente os homens, muitas mulheres ficaram viúvas e seus filhos, órfãos. Uma forma de prestar assis-tência a essas pessoas sem meios de subsistência era o casamento. Já no caso do êxodo rural, muitos homens trocam o campo pela cidade, ou mi-gram para outros países, em busca de emprego, deixando as mulheres nas aldeias.

Em Moçambique, as principais causas originárias da poligamia pren-dem-se com as condições de vida na zona rural, isto apesar de haver casos isolados nas zonas urbanas. Quando do despertar das consequências nega-tivas da prática poligâmica, no dia 29 de abril de 2003, teve lugar, no parla-mento moçambicano, a primeira ses-são de discussão da proposta da Lei da Família.

A discussão gerou enorme po-lémica, pois alguns deputados defen-

diam a inscrição da poligamia na lei, considerando-a uma forma de pre-servar a cultura. Por outro lado, con-siderava-se o matrimónio múltiplo um atropelo dos direitos humanos e dos cidadãos. Actualmente, a discus-são da lei está interrompida porque não há consenso.

Entretanto, Nyelete Mondla-ne, Chefe do Gabinete da Mulher Parlamentar, em declarações ao O Es-pecialista, no passado dia 9 de maio, considera que a legalização da poliga-mia na lei da família é uma aberração, porque a prática é nociva. Para ela, nem tudo que é praticado na socie-dade, por razões culturais, deve ser aprovado pela Assembleia. “A Assem-

bleia da República tem um papel de educar a sociedade através de leis que aprova, valorizar todas práticas cul-turais e religiosas do país, desde que estas não entrem em confronto com os direitos humanos defendidos na nossa lei fundamental, por isso, nem tudo que é dito pelas pessoas deve ser legitimado”.

Contudo, e face a existência no país de muitos homens que tem mais de uma esposa, o Gabinete da Mulher parlamentar traçou como objectivo aceitar a prática, mas tentando estabe-lecer leis no sentido de educar as pes-soas sobre os riscos desta, de modo a desencorajá- las.

“O gabinete parlamentar da mulher notou que existe muitos ho-mens que tem mais de uma esposa, por isso o nosso objectivo é aceitar a prática, mas tentando educar as pessoas sobre os riscos desta”, disse Mondlane. Ela acrescentou também que é objectivo do gabinete estancar a poligamia e, para o efeito, promover palestras explicando as implicações.

Para a interlocutora, este é um desafio das associações e fóruns que lidam com a matéria sobre género e defesa dos direitos da mulher e da so-ciedade em geral.

“Acabar com a prática da poli-gamia é um desafio de todos nós e é um processo que levara seu tempo, não é de noite para o dia que se pode proibir”, afirmou.

Por Edson Manjate, Diamantino Lauchande, Adérito BieSecção de Política

“O desafio é de todos

Nyelete MondlaneChefe do Gabinete da Mulher ParlamentarAssembléia da República

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“A poligamia humilha as mu-lheres”, disse Vânia Pedro, antropó-loga e docente do Instituto Superior de Arte e Cultura (IsarC). Segundo a fonte, a mulher na sociedade mo-çambicana é vista como receptáculo para a reprodução sexual e uma das coisas que se espera dela é a procria-ção. “A mulher alia-se a um homem, mesmo perante a existência de ou-tras, para receber esperma e assim conseguir uma boa vida. E se isto não acontece ela fica condenada. E é por isto também que a mulher passa a ser estigmatizada, ou seja: a poligamia humilha as mulheres”, disse.

A poligamia é entendida pela pesquisadora como uma prática que desvaloriza a mulher, quebrando o princípio da igualdade do género e violando a norma constitucional de que o homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural. Por exemplo, no islamismo, mediante as declarações da antropó-loga e docente do Instituto superior de Artes e Cultura, a poligamia me-nospreza o papel das mulheres. “Em face de vários problemas que elas en-frentam depois de casar, ela é estig-matizada”.

Conceitualmente, a poligamia é entendida como casamento com mais de uma pessoa, para o caso do homem. E quando o cenário é o mesmo, mas para o caso da mulher, designa-se poliandria. Já para o caso do casamento com mais de uma pes-soa, para o homem e havendo equi-tatividade de direitos e bens entre as mulheres, está-se perante a poliginia.

Outro argumento utilizado no debate é que há pessoas que traba-lham como mineiros e viajam cons-tantemente, passando muito tempo fora de casa, longe das esposas. Por esta lógica, se uma Lei da Família só considera o casamento monogâmico estaria a se “atirar para a prostitui-ção” as mulheres que actualmente são segundas ou terceiras esposas de um casamento poligâmico.

Portanto, todos estes proble-mas seriam solucionados, na pers-pectiva dos deputados, com base na legalização da poligamia. A religião islâmica assume, mediante certas restrições, o casamento com até qua-

tro mulheres. O islamismo impõe que o homem polígamo tenha condi-ções económicas iguais para todas as suas esposas para proporcionar bens equivalentes a cada uma delas, facto que não acontece na poligamia tradi-cional. A esposa mais nova é privile-giada em detrimento das mais velhas que, apesar de deterem o governo do lar, ficam prejudicadas quanto à vida íntima e material.

Segundo a antropóloga, a poli-gamia é um “conformismo imposto pela superioridade ritual”, continua, “O consenso da mulher e da comu-nidade em relação à poligamia é aparente e uma genuína farsa porque vinca-se o refúgio no consenso para reduzir a sujeição serviçal, ou seja, o consenso decorre do beco sem saída para a mulher”, afirmou.

A poligamia é um símbolo de desigualdade entre homem e mu-lher e gera situações de desequilíbrio no usufruir de direitos constitucio-nalmente protegidos. “A família é constituída de mulher, pai e filhos, e desempenha um papel social impor-tante na medida em que há um res-peito recíproco entre ambos”, disse.

Para a pesquisadora, a Consti-tuição da República consagra no nú-mero 3 do artigo 120 que o casamen-to deve se orientar no princípio de livre consentimento entre o homem e a mulher, como na igualdade entre ambos, na medida em que a nin-guém deve ser imposta supremacia na escolha do parceiro ou do mode-lo social de vida. Esta indicação su-gere que ninguém pode legalmente achar-se patrono da relação conjugal e toda a atitude deve assentar-se na reciprocidade.

Vânia afirma ainda que um dos pontos negativos da poligamia é permitir a propagação do HIV, o que constitui uma fonte de desgraça para famílias e principalmente crian-ças que ficarão infectadas. Por causa do excesso de trabalho doméstico, há vezes em que as mulheres pedem aos seus próprios maridos para que tomem uma segunda esposa. Assim elas não se sentem sozinhas e encon-tram ajuda garantida para as inúme-ras tarefas que têm. As mais velhas governam as novas e ficam com me-nos obrigações.

“A poligamia humilha as mulheres”, afirma especialista do IsarC

O sociólogo Book Sambo olha para a discussão da especificidade da proposta de Lei da Família, em torno da aprovação da poligamia, como uma questão cultural, mas defende a sua própria contextualização. Para Book, impõe-se uma reflexão em torno dos argumentos desenvolvidos na Assembleia por parte dos deputados e noutros espaços.

Para o sociólogo, a legislação tem que respeitar a igualdade do género e a diversidade cultural do país também. “Muitas vezes as tradições acabam entrando em contradição com aquilo que são os direitos inerentes ao próprio ser humano e, neste caso, cabe a quem de direito discutir essas questões”.

Quanto à preservação das culturas e sua diversidade, Sambo disse que elas são fundamentais na constituição da identidade dos indivíduos e da nação. É nelas que, segundo ele, as pessoas se reconhecem a pensar como pessoas

humanas, daí que a sua valorização não pode ser feita atropelando os direitos humanos dos cidadãos.

Em torno das contradições que existem entre as leis tradicionais e as dos direitos humanos, Sambo afirmou que os países que possuem certa autonomia económica e não dependem de ajuda externa quando os direitos humanos entram em contraste com as suas leis, abdicam daquelas universais, predominando a legislação própria. É o exemplo da China e de alguns estados da América que estão na organização das Nações Unidas (ONU) e que praticam a pena de morte.

O interlocutor defende que para a aprovação da poligamia tem de se respeitar a questão do consentimento da própria mulher, pois o casamento monogâmico também é feito a partir do consentimento e aprovação da parceira. “A oficialização da poligamia é uma forma de acomodar o amantismo”.

Book Sambo fala em múltipla relação consentida

Foto: Divulgação/Assemb. da República

“Poligamia acomoda o amantismo”.

Mulheres usam estratégia de sobrevivência ao aceitar a poligamia, diz Vânia Pedro.

Foto:Twitter/Reprodução

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Em Moçambique, a Lei de Probidade Pública entrou em vigor a 15 de novembro do ano transacto. A proposta da LPP tinha a designação de Código de Ética do Servidor Público (CESP). A sociedade civil teve uma contribuição crucial para a aprovação da lei. Por isso é importante referir que, em parte, os propósitos desta acção foram alcançados: a aprovação da própria lei; a consagração de algumas matérias consideradas importantes; e sobretudo o facto do “Pacote Legislativo Anticorrupção” estar a conhecer avanços significativos na aprovação das propostas que abarca.

No entanto, o processo de advocacia não deve ficar por aqui. Há que ter novas formas de intervenção se entendermos que existem duas importantíssimas leis que ainda não foram revistas, mormente o Código de Processo Penal e o Código Penal. São dois instrumentos de suma importância para o reforço do quadro legal anticorrupção, sobretudo por serem portadores de importantes matérias ligadas à investigação da criminalidade no geral e dos crimes de corrupção em particular e por abarcarem novos tipos legais de crimes de corrupção, em consonância com os instrumentos legais internacionais ratificados por Moçambique.

Saiba mais sobre a nova lei de responsabilidade

Projecto que prevê elevar salários pode ser solução para docentes que precisam de dois empregos

Lei da Probidade mantém “professores-turbo”

A Lei da Probidade Públi-ca (LPP), que entrou em vigor a 15 de novembro do ano transacto, não abrange a docência e outras funções de propriedade intelectual. A lei se aplica a servidores públicos com vista a assegurar a moralidade, transparên-cia, imparcialidade e respeito na ges-tão do património do Estado.

De acordo com as disposições gerais, artigo 32 sobre proibições, número 3 da mesma lei, a docência, bem como outras funções de proprie-dade intelectual, permitem acumular remunerações de outras instituições públicas ou empresas em que o estado tenha participação, seja em forma de salário, senhas de presença ou hono-rários.

Segundo Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica, a lei da probidade pública não afecta as instituições privadas. Sendo assim, um docente pode leccionar em uma instituição pública e varias universi-dades sem nenhuma interferência. Porém, Lourenço acredita que a quali-dade do ensino constitui preocupação.

Para o académico e director da Escola de Comunicação e Artes da Universidades Eduardo Mondlane (ECA/UEM), doutor Nataniel Ngo-mane, a legislação poderia ser mais efectiva. “A lei ajudaria se realmente um docente lecionasse numa única instituição, pois teria mais tempo de preparar as aulas, daria devido acom-panhamento aos seus alunos, garan-tindo a qualidade de ensino e a apren-dizagem. Portanto, o governo deveria apurar os critérios de contratação das pessoas sérias, capazes de melhorar o nosso sistema de educação, porque muitas vezes os concursos públicos são de fingimentos”, disse.

Generosa Gonçalves Cossa José, docente UEM e directora do Centro de Coordenação dos Assun-tos do Género, defende que a lei não deve se aplicar no sector da docência, pelo menos por enquanto. “Eu acre-dito que, se ela abrangesse a docência iria criar muitos obstáculos no sector, para além dos pagamentos também, iria dificultar a expansão do ensino superior no país. Talvez em alguns anos a legislação possa abranger tam-bém essa área”, reiterou a fonte.

Elvino de Jesus Tomo, adminis-trador da faculdade de Direito da Uni-versidade Eduardo Mondlane, diz que “a lei vai trazer vantagem em termo da correcta alocação de pessoal, na me-dida em que vai racionalizar mais os

seus recursos humanos em termos de qualidade de ensino”. Ela acredita que a credibilidade da qualidade de ensino depende de planificação rigorosa das aulas e do devido cumprimento.

Elvino acrescentou que, para além da formação do professor, é pre-ciso que haja a experiência pedagógi-ca capaz de transmitir conhecimento científico de forma eficaz, porque nao basta ter grau de mestrado ou docto-ramento: a pedagogia e fundamental para uma formacao de qualidade.

SALÁRIOS

Gilles Cistac, docente e Di-rector-Adjunto para Investigação e Extensão da Universidade Eduardo Mondlane, defende que a Lei da Pro-bidade Pública não deve abranger a área da docência, pois iria violar os princípios básicos da liberdade acadé-mica, como a liberdade de expressão e a liberdade científica. Segundo Cistac,

a docência é uma propriedade intelec-tual e a lei é compatível com o sector. “A Lei da Probidade Publica é incom-patível com os princípios básicos do docente. Se a lei abrangesse a docência seria uma violação dos princípios bá-sicos do ensino, consagrados e prote-gidos pela Constituição da República”.

Gilles Cistac deu-nos a conhe-cer um projecto desenvolvido pelo o Ministério da Educação (Mined), cujo objectivo é criar estabilidade no corpo decente. “O Mined está a re-flectir sobre um projecto de lei sobre o pessoal das instituições do ensino superior público. No princípio, esse projecto de lei vai abranger o docen-te das instituições governamntais, in-vestigadores científicos e também o corpo técnico administrativo (CTA). E penso que esta lei vai tentar resolver os problemas da fraca produção cien-tífica” disse. O projecto visa também concretizar a diferenciação salarial dos docentes, introduzir incentivos de investigação, publicação e extensão.

“Alguns incentivos vão permitir

a valorização da profissão do docente, os que vão trabalhar mais e publicar mais, naturalmente vão receber mais. O projecto pode aumentar o salário do docente em mais de 40% ou 50%. Assim pode se conseguir ter um pro-fessor a tempo inteiro sem necessida-de de buscar um complemento sala-rial em outras faculdades”, completou a fonte.

Mateus Simbine docente da Universidade Politécnica acredita que a lei atinge directamente todos os do-centes que assumem cargos de chefia em várias instituições do estado. “É errado o estado pagar duas ou mais vezes o mesmo professor, entretanto não vejo mal quando um responsável de uma instituição pública assuma outras funções em universidades pri-vadas, tal como o próprio nome da lei diz, ela é uma legislação de probidade pública, sendo que não envolve secto-res privados”, acrescentou.

Francisco Nguenha, docente da Escola Superior de Jornalismo (ESJ), aponta existência de professores-tur-bos” devido à incapacidade do estado de pagar salário adequado aos docen-tes. Para Nguenha a abrangência da lei vai criar, por um lado, um caos indi-vidual, porque vai diminuir o ‘bolo’ no final do mês, pois as vagas que ele ocupava vai deixar à disposição dos outros. Por outro lado esta medida vai a judar no sistema de educação.

A turbinagem na docência é apontada como um dos factores que contribui de forma significativa para a fraca qualidade de ensino superior em Moçambique. Os “professores-turbos” são aqueles que leccionam em mais de uma instituição de ensino.

Fontes ouvidas pela nossa equi-pa de reportagem alegam duas razões para a existência de “professores-tur-bos”, a questão salarial e a suposta falta de quadros no país. Questionada em que medida os “professores turbos” influenciam negativamente na qua-lidade do ensino no país, Generosa Cossa disse: “a baixa qualidade no ensino superior não tem a ver com os professores turbos, mas sim com o re-lacionamento dos pagamentos, trata--se de um problema conjuntural”.

Segundo Cistac, não há in-centivos para os docentes. Em Mo-çambique nenhuma revista paga a publicação de artigos científicos, daí verificar-se fraca produtividade aca-dêmica.

“Do ponto de vista ético publi-car é minha obrigação, faz parte das minhas funções enquanto docente. Publicar é um pré-requisito para a progressão da carreira. Mas numa vi-são utilitarista o investigador vai pu-blicar o seu artigo numa revista que lhe paga por isso”.

Por Jaime Mulima, Alberto Tomás e Edmundo Manhique Secção de Política

“Os salários dos docentes podem aumentar em mais de 40%”Gilles CistacDiretor-Adjunto para Inv. e ExtensãoUniversidade Eduardo Mondlane

O Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique, que é financiado pelo Governo dos Estados Unidos da América, através da sua Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), implementado pela IREX Moçambique, trabalha em estreita cooperação com a Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA/UEM), tendo por base o apoio contínuo da USAID ao ensino de jornalismo naquela instituição. Este suporte acadêmico e a cooperação também inclui estreita parceria com a Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade de Rhodes, na África do Sul.

O jornal o Especialista, produto dos estudantes da licenciatura do terceiro ano da ECA, faz parte das actividades desenvolvidas pelos futuros profissionais na cadeira de Jornalismo Especializado. Durante quatro meses, os estudantes discutiram as tendências no mercado de comunicação global e como as mudanças nos modelos de negócios, segmentação de mercados e modernização do funcionamento das redacções de jornais, revistas, rádios, emissoras de televisão e portais de internet podem impactar na produção jornalística.

Também foram debatidos aspectos relativos à segmentação de mercados, dentro do contexto do jornalismo especializado em Moçambique e das empresas de comunicação locais, com a participação de profissionais convidados. Eles conversaram com os alunos e trocaram experiências.

A cadeira de Jornalismo Especializado foi oferecida pela ECA tendo Ricardo Fontes Mendes, jornalista investigativo brasileiro e sociólogo, especialista da IREX, como responsável. O trabalho contou com o apoio do diretor da Faculdade de Comunicação e Artes da UEM, professor Nataniel Ngomane; do director-adjunto para graduações, doutor João Miguel; e do coordenador do curso de jornalismo, professor Pascal Kande Nkula.

USAID apoia a formação de jornalistas na ECA

“Criaria muitos obstáculos e dificultaria a expansão”

Dadivo JoséActor e acadêmicoEscola de Comunicação e Artes da UEM

Estudantes durante fecho do jornal na UEM.

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