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UNIVERSIDADE FEDERAL DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR O ESPORTE/LAZER NO CONTRATURNO ESCOLAR: relato de experiência JAQUELINE TRAVI FARIAS Santa Maria, RS, Brasil Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR

O ESPORTE/LAZER NO CONTRATURNO ESCOLAR: relato de experiência

JAQUELINE TRAVI FARIAS

Santa Maria, RS, Brasil Janeiro 2007

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O ESPORTE/LAZER NO CONTRATURNO ESCOLAR:

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Jaqueline Travi Farias

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar da Universidade Federal de Brasília (UNB),

como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Educação Física.

Orientadora: Profª Drª Elizara Carolina Marin Leitora: Marisete Safons

Santa Maria, RS, Brasil

2007

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Dedico este trabalho ao meu marido, Ivo Getulio Lazzari Farias, que

me ajudou muito no decorrer deste percurso; aos meus filhos, Lucas e

Tiago, pelas vezes que tive de dividir a atenção para me dedicar ao

estudo; à Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura

Teixeira Pinheiro, na qual trabalho, e à sua clientela, os alunos, que são

meu alvo principal de mudança e renovação para uma futura sociedade

mais digna.

Dedico também a meus pais e irmãos, que sempre foram “família” e me

ensinaram a amar o próximo e aceitá-lo como é, procurando ajudá-lo a

ser ainda melhor.

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração direta ou indireta de

muitas pessoas. Manifesto minha gratidão por esta nova conquista a todas elas e de forma

particular agradeço:

– a Deus, que nos dá sabedoria, por fazer parte de Seu Universo;

– à minha orientadora, Elizara Carolina Marin, professora doutora da Universidade

Federal de Santa Maria-RS, por sua dedicação, apoio e por seus constantes ensinamentos;

– à UNb, juntamente com seus profissionais, que se puseram à minha disposição,

principalmente ao professor Marcelo de Oliveira Teles, que sempre estimulou a continuidade

da capacitação via e-mail e telefonemas;

– ao Projeto Segundo Tempo, que abriu horizontes para a percepção da importância do

trabalho com os alunos no contraturno, visando a um mundo melhor e mais justo;

– à Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro,

juntamente com sua direção, a qual me incentivou para que fizesse este trabalho e mostrasse a

importância do Projeto Segundo Tempo na Escola e na vida de cada participante do mesmo.

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RESUMO

Monografia de Especialização Especialização em Esporte Escolar Universidade Federal de Brasília

O ESPORTE/LAZER NO CONTRATURNO ESCOLAR: RELATO DE

EXPERIÊNCIA AUTORA: JAQUELINE TRAVI FARIAS

ORIENTADORA: ELIZARA CAROLINA MARIN Data e Local da Defesa: Santa Maria, janeiro de 2007

Este estudo teve como objetivo enfatizar a importância do Projeto Segundo Tempo no contraturno escolar, por meio da experiência desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro (situada em Santa Maria – RS, no Bairro São José), com os alunos de 4ª a 8ª séries. Trata-se de um Relato de Experiências que busca situar o contexto escolar onde o projeto foi desenvolvido, a clientela que atendeu e resultados desta experiência para os alunos envolvidos. A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se como instrumento o questionário, contendo questões sobre a importância, benefícios, motivos que levaram os alunos a participar do Projeto, a que se dedicavam no mesmo período antes de participarem do Projeto e se gostariam que ele voltasse. A análise das respostas indicou que o Projeto teve importância significativa para os participantes, contribuindo para modificar hábitos, atitudes, auto-estima, relacionamentos e agregando mais alegria, responsabilidade, qualidade de vida e ocupação do tempo, que antes era ocioso pela maioria de seus participantes. A aprendizagem de jogos ou de esportes contribuiu, enfim, na soma de melhorias e, conseqüentemente, num futuro mais promissor para as crianças e adolescentes participantes. Contudo, vale assinalar que o Projeto Segundo Tempo parou repentinamente, sem esclarecimentos, talvez por divergências políticas, interrompendo o processo de desenvolvimento dos participantes, crianças e adolescentes em fase de crescimento. Projeto como este não poderia acabar sem mais nem menos, pois não envolvem folhas de papel que podem ter erros e serem apagadas ou substituídas por outras, antes disso, envolvem seres humanos. Como argumenta Escobar (2004), a educação é um processo que atua na formação do homem, que está presente em todas as sociedades humanas e é inerente a ele como ser social e histórico. Sua existência está fundamentada na necessidade de formar as gerações mais novas, transmitindo-lhes seus conhecimentos, valores e crenças, dando-lhes possibilidades para novas realizações. E a Educação Física, através de seus jogos e esportes, não escapa desse cenário.

Palavras-chave: Projeto Segundo Tempo, Educação Física, cidadania, esporte.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagem frontal da Escola Estadual de Ensino Fundamental Naura Teixeira

Pinheiro ...........................................................................................................

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Figura 2 – Oficina de capoeira desenvolvida na quadra da Escola durante a realização

do Projeto Segundo Tempo ......................................................................... 18

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 10

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 11

4 CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ................................... 12

4.1 A história da Escola ................................................................................................. 12

4.2 Filosofia e metodologia da Escola ........................................................................... 14

4.3 Setores da Escola ...................................................................................................... 15

4.4 Atividades complementares .................................................... ............................... 15

4.5 Aspectos físicos e materiais utilizados nas aulas de Educação Física .................. 15

4.5.1 Aspectos físicos ....................................................................................................... 15

4.5.2 Aspectos materiais .................................................................................................. 16

4.6 O Projeto Segundo Tempo desenvolvido na Escola Estadual de Ensino

Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro ..................................................... 16

5 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS .................................................... .................... 21

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 32

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 33

ANEXO A: PLANO DE AULA PARA O PROJETO 2º TEMPO .......................... 34

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1 INTRODUÇÃO

Cada vez mais os governos e as instituições sociais investem no esporte, como via de

inclusão social e de formação de cidadão, por meio de projetos sociais que envolvam alunos,

crianças de rua, menores infratores, dentre outros. Atuar com a criança desde o início do

processo de escolarização com esporte/lazer no contraturno acena como um caminho possível

de mudanças sociais. Da perspectiva que se assinala, entende-se que as mudanças ocorrem aos

poucos, mas se os futuros cidadãos tiverem essa alternativa de acesso na sua vida, ela pode ser

um recurso eficaz. Tal afirmação deriva da experiência, ainda que por um curto tempo, com o

Projeto Segundo Tempo, quando ficou visível que alunos habituados às ruas, a pedir esmola, a

roubar, a fazer uso de drogas e de prostituição, estavam participando das atividades propostas

com alegria, com motivação e alimentados, com perspectiva de melhora na sua qualidade de

vida e na sua estima.

Como cidadã e integrante deste país tão grande que é o Brasil, identifiquei-me

contribuinte, ainda que de forma parcial, na construção de novos horizontes sociais, ao

trabalhar com crianças e adolescentes que precisam de carinho, confiança e estímulo. Para

seguir o caminho da formação de cidadãos dignos, críticos e trabalhadores, há necessidade de

oportunizar aos excluídos Projetos Sociais de qualidade e eficazes, tal como o Projeto

Segundo Tempo, que objetiva democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte como

instrumento educacional de crianças e adolescentes.

A participação das crianças e dos adolescentes no universo escolar possibilita interagir

e se relacionar com uma diversidade de pessoas e de temas que podem despertar interesse.

Faz-se necessário lembrar-se da afirmação de Piaget (1976, p. 251 apud BRASIL, 2004c,

p.47) quando aponta que “tanto o aparecimento do pensamento formal quanto a idade da

adolescência em geral, isto é, a integração do indivíduo na sociedade adulta, dependem dos

fatores sociais tanto e até mais do que dos fatores neurológicos”. Também, tal como afirma

Freire e Scaglia (2003, p.21 apud BRASIL, 2004c, p.42), as crianças e adolescentes no

universo escolar descobrem “o prazer dos jogos em grupo”. O jogo, para o seu

desenvolvimento, demanda estabelecer acordos, pressupõe “reivindicar certos interesses e

abrir mão de outros”. Trata-se de um conteúdo que estimula nos alunos o aprendizado de

“valores de certo e errado, de bem e de mal, e assim por diante”. Para Souza (2003), como um

sistema que agrega intensa modificação, o jogo pressupõe a construção constante de

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estratégias, bem como adaptações, para atingir os resultados e os objetivos propostos,

passando, assim, a contribuir na construção e reconstrução dos sujeitos sociais.

Segundo Cechim (2002), é necessário que o professor oportunize aos seus alunos

diversas vivências e experiências, pois irão repercutir e modificar sua qualidade de vida,

fazendo com que esses aprendam a superar obstáculos e a vencer desafios.

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2 OBJETIVOS

Este estudo tem como objetivo geral compreender a importância do esporte/lazer para

os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro,

localizada na cidade de Santa Maria, RS, oferecido no contraturno escolar.

Como objetivos específicos, pretende:

– situar o contexto escolar onde o Projeto Segundo Tempo foi desenvolvido;

– descrever as atividades realizadas no Projeto Segundo Tempo;

– descrever o perfil da turma e as formas de resolução dos problemas que se

apresentaram no decorrer do Projeto Segundo Tempo;

– pesquisar os motivos que levaram os alunos a participarem do Projeto Segundo

Tempo no contraturno escolar;

– identificar os benefícios encontrados pelos alunos participantes do Projeto Segundo

Tempo;

– demonstrar a importância do Projeto Segundo Tempo para uma mudança de hábitos

e atitudes em seus participantes, preparando-os para um futuro mais digno, justo e desprovido

de tanta violência.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para elaborar o Relatório do Projeto Segundo Tempo, visando atender aos objetivos

propostos, buscou-se trabalhar o paradigma qualitativo, por permitir compreender e

interpretar a importância do Projeto sob o ponto de vista dos alunos. Portanto, trata-se de um

trabalho que não se prende a quantificações e a amostragens probabilísticas, mas pauta-se em

torno da exposição da abordagem adotada no desenvolvimento do Projeto Segundo Tempo e,

singularmente, de elementos focados pelos alunos na sua vivência em tal projeto.

Utilizou-se, como instrumento de pesquisa, o questionário, que permitiu aos

participantes descreverem questões ligadas ao interesse, à importância e à participação no

Projeto Segundo Tempo.

A escolha dos participantes foi realizada aleatoriamente, tendo como critérios agregar

alunos de ambos os sexos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura

Teixeira Pinheiro e com participação efetiva no Projeto Segundo Tempo. Resultaram em vinte

e seis participantes, treze meninas e treze meninos. O fato de ser professora da Escola

facilitou a entrega e o retorno, na sua totalidade, dos questionários preenchidos.

O questionário foi estruturado por meio de cinco perguntas, a seguir apresentadas:

1) Qual a importância que o Projeto Segundo Tempo trouxe para você?

2) Descreva os benefícios do Projeto Segundo Tempo na sua vida.

3) Quais os motivos que levaram você a participar do Projeto Segundo Tempo?

4) O que você costuma fazer no período que está fora da escola?

5) Você gostaria que voltasse o Projeto Segundo Tempo? Por quê?

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4 CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O campo de atuação do Projeto Segundo Tempo foi a Escola Estadual de Ensino

Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro (Figura 1), localizada na Rua João

Franciscato, 15, no Bairro São José, na cidade de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul.

Figura 1 – Imagem frontal da Escola Estadual de Ensino Fundamental Naura Teixeira

Pinheiro.

4.1 A história da Escola

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Naura Teixeira Pinheiro foi criada em 8 de

julho de 1947, com o nome de “Escola Rural Reunida São José”. Foi reconhecida através do

decreto número 11.769, de 07 de novembro de 1960.

A Escola iniciou suas atividades em um salão, dividido em duas partes: na frente

funcionava a venda do senhor Marim Calegaro e nos fundos, funcionava a escola, com duas

salas de aula. A merenda era realizada na própria casa de seu Marim Calegaro, por sua filha

Marlene. A escola começou com vinte alunos, tendo como professora a senhora Maria José de

Amarante Pedrosa. Nesse local, foram desenvolvidas as atividades até 1967.

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Nesse tempo, a comunidade se empenhou na conquista de uma nova escola. O Pe. José

Pilon, vigário da Capela São José, convidou o senhor Tarso Dutra, Deputado Federal na

época, para assistir à missa na localidade e ouvir as reivindicações dos moradores e

professores, dentre elas estava a construção da escola. Foi conseguida a verba de

Cr$20.000,00 (vinte mil cruzeiros) para sua construção. E, em 1967, aconteceu a inauguração

da escola, contando com três salas de aula, secretaria e cozinha, oferecendo ensino regular de

1ª a 5ª série. A escola foi construída no local onde está até hoje, na época, chamada Estrada

dos Pains. Atualmente, Rua João Franciscatto, n. 15. Posteriormente foi conseguida

complementação de verba de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) para construção de banheiros

e ampliação da cozinha.

Em junho de 1968, foi criado o Círculo de Pais e Mestres (CPM) da Escola, tendo

como Presidente Fundador o senhor Luiz Antônio Franciscatto.

No dia 13 de agosto de 1969, foi alterado o nome da Escola, que passou a ser

denominada de “Grupo Escolar São José”, o qual permaneceu por 11 anos.

Em 27 de março de 1980, a Escola passou a ser chamada “Escola Estadual de 1º Grau

Incompleto Professora Naura Teixeira Pinheiro”.

Como a clientela de alunos aumentou, e a pedido da comunidade, foi reivindicado que

a Escola oferecesse a 6ª série, o que foi atendido em março de 1989.

O Conselho Escolar foi criado na escola e começou a funcionar em 9 de julho de 1992,

cujo primeiro Presidente foi Walter Antônio Pilon.

A comunidade escolar continuou buscando melhorias para o educandário: solicitou a

construção de mais salas de aula e a oficialização da 7ª e 8ª séries. A partir de 6 de fevereiro

de 1995, as séries finais foram oficializadas e, em março, a escola passou a oferecer o

primeiro grau completo, passando a denominar-se “Escola Estadual de Primeiro Grau

Professora Naura Teixeira Pinheiro”.

A partir de 8 de dezembro de 2000, passou ser chamada de Escola Estadual de Ensino

Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro, pela Portaria 00303 e pela Resolução do

CEED n. 253/2000, publicada no Diário Oficial do Estado do dia 11de novembro de 2000,

data em que se comemora o aniversário da Escola.

A Escola conta, atualmente, com 10 salas de aula para o Ensino Fundamental, uma

para a Educação Infantil, uma para o Ensino Médio (que está pleiteando, sendo que o

processo já se encontra tramitando no Conselho Estadual de Educação), um laboratório de

Ciências, biblioteca, cozinha, secretaria com maior área, despensa, sala de direção, sala de

vice-direção, serviço de orientação escolar, sala dos professores, almoxarifado, quatro

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banheiros para os alunos, um para os funcionários e professores e um para os portadores de

necessidades especiais.

O Padroeiro da Escola é São Francisco de Assis, escolhido por votação dos alunos,

justificando a presença da imagem do santo no corredor da escola.

Hoje, a escola tem a satisfação de mostrar os talentos, o trabalho de seus alunos,

professores, funcionários, acompanhamento de pais, amigos da escola, enfim, a história de

cada um, pois se vive em comunidade.

4.2 Filosofia e metodologia da Escola

A filosofia da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira

Pinheiro é educar para a humanização, conscientização, transformação e integração. Tem

como objetivo geral proporcionar condições para que o aluno desenvolva-se de maneira

consciente, crítica e responsável, fazendo uso correto da liberdade, através da expressão da

criatividade e auto-realização, socializando o saber, a linguagem, a compreensão das

necessidades intelectuais, morais, psicomotoras e emocionais da criança.

A proposta metodológica da escola é assumida como tarefa do coletivo dos educadores

que nela atuam: construindo a dinâmica curricular, engajados na construção de conhecimentos

com o educando. A escola propõe-se como local de crescimento mútuo de professores e

alunos no processo de humanização e integração.

A partir do momento que se optou por uma linha de trabalho construtivista, ou seja,

que oportuniza o desenvolvimento global do aluno e respeita seu contexto sociocultural, a

metodologia utilizada gira em torno de temas geradores, indo ao encontro dos objetivos

propostos. No campo da Educação Física, tal como orienta o CENP (1990, p.18), busca-se no

aluno “explorar a gama múltipla de possibilidades educativas de sua atividade lúdica

espontânea, e gradativamente propor tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com

vistas à construção do conhecimento”.

Essa metodologia possibilita à criança construir o conhecimento e se desenvolver

integralmente dentro de um contexto lúdico. Todas as atividades giram em torno de um tema,

portanto, a escolha deste é de grande importância, devendo ser interessante, desafiador e

flexível.

A escola propõe-se como um espaço de crescimento e promoção de vida, numa ação

metodológica dinâmica, voltada para a realidade, tendo, como eixo: a humanização, a

conscientização, a transformação e a integração do educando em seu meio.

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A metodologia proposta centra-se no resgate e promoção da dignidade humana,

desafiando o aluno a ser ousado, criativo e atuante. Paralelo à busca do saber, estimula-se a

curiosidade e o gosto pelo conhecimento, explorando as potencialidades do aluno,

canalizando suas energias, dando-lhes possibilidades que os desafiem a pensar e a construir

seu próprio projeto de vida, interagindo com o meio, sendo assim sujeito da sua própria

formação.

4.3 Setores da Escola

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro oferece

turmas de Educação Infantil, Ensino Fundamental regular de 1ª a 8ª série e Ensino

Fundamental, modalidade EJA, de 1ª a 8ª série, em três turnos (manhã, tarde e noite).

4.4 Atividades complementares

Como atividades complementares ao ensino regular, a Escola oportuniza:

– Escolinha de Futsal;

– Grupo de Dança Tradicionalista;

– Grupo de Canto “Cantigas de Beija-Flor”;

– Oficina de flauta;

– Oficina de artesanato;

– Festa junina;

– Dia da Solidariedade;

– Sábados integradores da Escola com a comunidade;

– Gincanas;

– Jogos Interséries;

– Projeto Segundo Tempo ( período de setembro de 2004 a julho de 2005).

4.5 Aspectos físicos e materiais utilizados nas aulas de Educação Física

4.5.1 Aspectos físicos

A infra-estrutura escolar para a prática da Educação Física compõe-se de: quadra

aberta, caixa de areia e saguão em frente à escola.

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4.5.2 Aspectos materiais

Para a realização das atividades, a escola disponibiliza:

– bolas de borracha, de vôlei, de futsal, de basquete e de handebol;

– cordas;

– bambolês;

– colchonetes;

– garrafas pet com areia e papéis coloridos;

– jogos intelectuais e de tabuleiro.

4.6 O Projeto Segundo Tempo desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental

Professora Naura Teixeira Pinheiro – Santa Maria

O Projeto ou Programa Segundo Tempo é uma iniciativa do Ministério do Esporte em

parceria com o Ministério da Educação, com o fim de democratizar o acesso à prática

esportiva de crianças e adolescentes matriculados em escolas públicas brasileiras.

Fazem parte dos princípios gerais do Programa Segundo Tempo: a co-educação, a

reflexão crítica, o posicionamento do educando como sujeito e agente de sua aprendizagem.

Tal Projeto tem como objetivo geral democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte

como instrumento educacional, visando ao desenvolvimento da criança e do adolescente.

As diretrizes e princípios didático-pedagógicos do Projeto Segundo Tempo consistem

em: autonomia organizacional, descentralização operacional, qualidade, segurança, liberdade

de escolha, democratização da atividade esportiva.

No Rio Grande do Sul, o Programa foi implantado pelo Governo Estadual em cinco

municípios da metade Sul: Alegrete, Bagé, Cachoeira do Sul, Santa Maria e São Gabriel,

sendo que cerca de dezesseis mil crianças eram atendidas no contraturno escolar para

realizarem atividades lúdicas, envolvendo brincadeiras, jogos, pré-desportivos e esportes.

As escolas selecionadas foram beneficiadas com: material esportivo, reforço alimentar,

realização e participação dos jogos na escola e fora dela. Foram priorizadas as escolas de

periferia, onde havia grande vulnerabilidade social.

Dentro do trabalho realizado no Projeto Segundo Tempo na Escola, visou-se atender

tanto a proposta educativa do Projeto quanto a da Escola. Dessa forma, foram utilizados

métodos parcial e global de trabalho, a partir da necessidade e da coerência. Todavia, como as

atividades possuíam, em sua maioria, o caráter lúdico – por meio de brincadeiras, jogos e

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atividades pré-desportivas com as crianças de nove a doze anos – utilizou-se mais o método

global, que visa ensinar por meio do jogo, sem enfatizar, portanto, a técnica e os fundamentos

de cada esporte. Isso significa, conforme está exposto em Brasil (2004c, p.168), que no jogo

aprende-se jogando, “não se explica e se ‘treina’ as partes para depois se jogar; a graça de se

aprender o jogo está justamente em jogá-lo. Não se aprende a arremessar para depois se

aprender a jogar a queimada; o arremesso é aprendido durante o jogo”.

Já entre os adolescentes de treze a dezesseis anos, além do método global também foi

utilizado o método parcial, que consiste na aprendizagem dos fundamentos por partes, para

depois colocá-los em prática na sua íntegra. Metodologicamente, buscou-se agregar atividades

lúdicas, objetivando proporcionar aulas motivadoras e diferenciadas para garantir a

assiduidade e permanência dos alunos, para além do caráter tecnicista. Como assinala Tostão,

jogador da Seleção Brasileira de Futebol tricampeão mundial de 1970 (BRASIL, 2005b, p.

26): “Antigamente a característica do Brasil era que se jogava futebol na rua, o que

lamentavelmente tem diminuído... Hoje o que se tem são as escolinhas, nas quais tudo ocorre

de forma organizada. Procura-se exercer influência nas crianças de forma tecnicista, porém

sem sistemática, sem a alegria de jogar e isto, lamentavelmente, é um fator perturbador de seu

desenvolvimento”.

Para maior organização, o Projeto na Escola foi desenvolvido por um professor

coordenador (Professora Jaqueline Travi Farias), auxiliado por duas monitoras, alunas da

Universidade Federal de Santa Maria (Carolina Pinto Gomes e Marilei de Mello), que eram

remuneradas para exercerem a função, além de esta servir como estágio curricular.

O trabalho consistia em desenvolver atividades que envolvessem o maior número

possível de alunos da Escola que necessitavam de atividades no contraturno escolar em

virtude das condições de vida familiar e comunitária desfavoráveis, bem como que

despertassem o interesse dos alunos participantes. Eram oferecidas aulas de atletismo,

handebol, vôlei e capoeira, desenvolvendo as valências físicas, fundamentos básicos, regras

dos jogos, de convivência em grupo, conduta, limites, troca de idéias, coleguismo, tudo de

acordo com a idade dos alunos.

As oficinas eram distribuídas da seguinte forma:

a) segundas-feiras:

– das 13h30min às 14h30min: atletismo para todos;

– das 14h30min às 15h30min: vôlei para crianças de 9 a 11 anos;

– das 15h45min às 16h45min: vôlei para crianças de 12 a 14 anos;

– das 16h45min às 17h30min: vôlei para adolescentes de 14 a 16 anos.

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b) quintas-feiras:

– das 13h30min às 14h30min: capoeira para todos (Figura 2);

– das 14h30min às 15h30min: handebol para crianças de 9 a 11 anos;

– das 15h45min às 16h45min: handebol para crianças de 12 a 14 anos;

– das 16h45min às 17h30min: handebol para adolescentes de 14 a 16 anos.

Figura 2 – Oficina de capoeira desenvolvida na quadra da Escola durante a realização

do Projeto Segundo Tempo.

Nas segundas e quintas-feiras, as atividades eram desenvolvidas diretamente com os

alunos. Já as terças-feiras eram reservadas para as reuniões com o fim de preparar e avaliar as

atividades semanais (Anexo A).

O objetivo principal do Projeto Segundo Tempo era ir modificando gradualmente o

comportamento agressivo e aproveitar o tempo ocioso em que os alunos ficavam nas ruas,

oportunizando atividades prazerosas que estimulassem a interação, a disciplina, as regras, os

limites, a melhoria da qualidade de vida em termos físicos, sociais, psicológicos e intelectuais,

pois o aluno se movimentava, convivia em grupo, se motivava, melhorando sua auto-estima,

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aprendia novas atividades com regras de convivência, participava de debates com referência

aos problemas surgidos no decorrer das aulas, dando sua idéia para possíveis soluções. O

aluno era o alvo principal do Projeto Segundo Tempo.

Contudo, não era possível imaginar que um Projeto Social que estava tendo resultados

positivos pudesse desaparecer por motivos politiqueiros ou algo semelhante, prejudicando

principalmente as crianças que estavam demonstrando visivelmente mudanças de hábitos e

atitudes em função de suas responsabilidades assumidas com as atividades do contraturno. Tal

experiência assinala que um Projeto Social, quando implantado, deve ter continuidade para

obter resultados eficazes, pois o rompimento da continuidade desmotiva os envolvidos, os

professores perdem a confiança e as mudanças sociais não avançam. Afinal, como destaca

Demo (2001, p. 29, apud BRASIL, 2005b, p. 54):

As sociedades são, até certo ponto, o que conseguem fazer de si mesmas, dentro das circunstâncias dadas. Estas impõem limites, que são tomados sobretudo como desafio, não como sina. O ser humano pode aprender, sobretudo aprender a aprender. A cultura, em especial a identidade cultural, é a demonstração concreta de sua marca histórica própria. A história pode ser vista como epopéia política do homem, à medida que avança na ocupação do seu espaço como sujeito atuante. Quanto mais regredimos no passado, mais encontramos história acontecida à revelia do homem, revelando sua condição de ser frágil, de vida relativamente curta, ‘contraditória’, mais promessa do que realização plena, perdido entre pressões objetivas que o oprimem, subjugam, atemorizam e expectativas que não alcança preencher totalmente.

A assiduidade era intensa no verão, mas, no inverno, reduzia em virtude das condições

climáticas da região Sul do Brasil, de baixas temperaturas, e do baixo poder aquisitivo dos

alunos envolvidos para a compra de roupas quentes. Vale assinalar que as atividades eram

realizadas em quadra aberta, portanto, suscetível às oscilações do tempo.

O lanche, em que era oferecido, a depender do dia, suco, leite com chocolate, bolacha

ou sanduíche, ocorria após o término de cada aula.

O Projeto Segundo Tempo possibilitou o despertar de mudanças em diferentes níveis:

discentes, estagiários, docentes e na sociedade em geral. A Escola, dentro deste contexto,

precisa caminhar na direção de uma práxis que englobe aulas abertas, que se volte aos desejos

e necessidades dos estudantes, “favorecendo-lhes a emersão de processos criativos de reflexão

e ação, por meio da co-participação nas decisões concernentes a diversas etapas da ação

educativa, e porque não, do projeto de escola, que constituam através da reflexão crítica de

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sua realidade próximo-distal, formas de ação concreta de transformação” (BRASIL, 2004a,

p.103).

No que tange à atuação do professor, o sinal mais indicativo da responsabilidade

profissional é seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o

ensino e as atividades de estudo de modo que esses adquiram os conhecimentos básicos,

diferentes habilidades e desenvolvam suas capacidades físicas e intelectuais, tendo em vista

equipá-los para enfrentar os desafios da vida prática no trabalho e nas lutas sociais pela

democratização da sociedade (LIBÂNEO, 1991, p.47, apud BRASIL, 2004b, p. 90).

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5 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS

A leitura atenta das respostas dos questionários dos vinte e seis alunos participantes da

pesquisa levou a identificar o gosto pelo esporte/lazer. Gosto esse que já se expressava na

participação deles no projeto Segundo Tempo. Evidenciou-se nas respostas – ainda que

expressas de forma sucinta, característica da idade dos envolvidos – as potencialidades do

Projeto, o prazer que os alunos encontravam na participação, a aprendizagem, bem como a

solicitação pela volta do Projeto na Escola em específico.

Para melhor elucidação, a seguir serão apresentadas as respostas de cada pergunta do

questionário. É importante salientar que, por vezes, os alunos relacionaram mais de um

elemento nas suas respostas, portanto, adotou-se o critério de explicitá-los.

Questionados sobre a importância do Projeto Segundo Tempo, as respostas foram

diversas, todavia coerentes com o contexto social local, pois:

– dezenove alunos (73,07%) referendaram que, para além do aprendizado de jogos,

também aprenderam a ensinar os colegas que não sabiam jogar;

– cinco alunos (19,23%) mencionaram que o projeto abriu a possibilidade de

participação em campeonatos;

– quatro alunos (15,38%) descreveram como importante o fato de auxiliar o

afastamento de colegas das drogas;

– três alunos (11,53%) referendaram a importância da preparação do aluno para

valores como: ganhar e perder, compreender as equipes participantes do jogo como partes

necessárias para que o jogo aconteça;

– dois alunos (7,69%) explicitaram que o Projeto colaborou, por meio da prática de

atividade física, para a manutenção da saúde;

– dois alunos assinalaram a importância do Projeto na ampliação do gosto pelo jogo.

A resposta dos alunos participantes assinala que a importância do Projeto Segundo

tempo vai além da alegria dos alunos em participar de jogos. Isso repercute na necessidade de

repensar a atuação profissional na Educação Física no sentido da superação da visão

positivista, ou seja, “que o movimento é predominantemente um comportamento motor”, tal

como adverte Bracht (1992, p.65, apud BRASIL, 2004a, p. 21). O autor segue assinalando

que:

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o movimento é humano, e o Homem é fundamentalmente um ser social. (...) precisam superar a visão de infância que enfatiza o processo de desenvolvimento da criança como natural e não social. Fala-se da criança em si, e não de uma criança situada social e historicamente. (...) devem buscar o entendimento de que, o que determinará o uso que o indivíduo fará do movimento (na forma de esporte, jogo, trabalho manual, lazer, agressão a outros e a sociedade etc.) não é determinado em última análise, pela condição física, habilidade esportiva, flexibilidade, etc., e sim pelos valores e normas de comportamento introjetados, pela condição econômica e pela posição na estrutura de classes de nossa sociedade (...).

Partindo dessa afirmação, tem-se o entendimento de que a participação dos alunos nas

atividades de jogos de lazer sugere, além do movimento, uma maneira de mostrar os seus

valores de conduta. E aí entra o trabalho do professor em tentar modificar aquelas atitudes que

se demonstram desvirtuadas, mostrando o caminho da colaboração, da aceitação, do prazer

em se divertir e conviver com outras pessoas de forma sociável e honesta.

Na pergunta dois, que buscou identificar os benefícios do Projeto Segundo Tempo

para os alunos, as respostas apresentadas foram as seguintes:

– dez alunos (38,46%) fizeram menção ao conhecimento de diferentes esportes e a

possibilidade de aprender a jogar;

– seis alunos (23,07%) descreveram sobre o sentimento de alegria que despertava por

fazer o que gostam, ou seja, a vivência do jogo e dos esportes;

– quatro alunos (15,38%) manifestaram como benefício o fato de, por estarem

envolvidos com o Projeto, não saírem para as ruas;

– três alunos (11,53%) relataram melhora nas suas vidas;

– três alunos (11,53%) elucidaram sobre o emagrecimento e melhora da condição

física;

– dois alunos (7,69%) explicitaram como benefício a possibilidade de sair de casa para

fazer algo proveitoso para suas vidas, pois envolvia relações educativas e de aprendizado para

a vida;

– dois alunos (7,69%) demonstraram que durante o desenvolvimento do Projeto houve

melhora no desempenho escolar e, como conseqüência, nas notas de cada disciplina;

– dois alunos (7,69%) fizeram menção a maior tolerância na convivência grupal, por

meio do diálogo ao invés das discussões, ou, como mencionam, de “brigas”;

– um aluno (3,84%) citou como benefício o estímulo para assumir responsabilidades.

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Os benefícios citados pelos alunos são realmente importantes e alguns deles deixam

com um maior peso de responsabilidade para com o trabalho desenvolvido pelo professor de

Educação Física, que é tão valorizado por eles. Segundo Ruth Rocha (2002 apud BRASIL,

2004a, p. 40),

Criança tem que ter nome, criança tem que ter lar, ter saúde e não ter fome, ter segurança e estudar. Não é questão de querer, nem questão de concordar, os direitos da criança todos têm de respeitar. (...) Tem direito à atenção, direito da não ter medos, direito a livros e a pão, direito de ter brinquedos. (...) Carrinho, jogos, bonecas, montar um jogo de armar, amarelinhas, peteca e uma corda de pular. (...) Uma caminha macia, uma canção de ninar, uma história bem bonita, então, dormir e sonhar. Embora eu não seja rei, decreto neste país, que toda criança tem o direito de ser feliz.

Ensinando o aluno a pensar criticamente o esporte, é-lhe dada a oportunidade de

manifestar um comportamento que é fruto do seu entendimento, do seu aprendizado, fazendo

seu jogo ser não apenas a imitação e reprodução de performances existentes. De acordo com

Freire (1996, p.44, apud BRASIL, 2004b, p.14), “é pensando criticamente a prática de hoje ou

de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

A questão três tratava dos motivos que levaram os alunos a participarem do Projeto, e

obteve como respostas:

– dezoito alunos (69,23%) relataram o objetivo de aprender atividades físicas novas;

– nove alunos (34,61%) manifestaram a alegria, a diversão e o encontro com amigos e

colegas;

– três alunos (11,53%) relataram a possibilidade de realização de atividades atraentes,

tirando as crianças das ruas;

– dois alunos (7,69%) mencionaram como motivação a possibilidade de aproveitar o

tempo ocioso.

A partir dessas respostas, percebe-se que os alunos almejam praticar atividades que

lhes despertem o interesse e que tragam benefícios para suas vidas. Eles querem jogar, reunir-

se e divertir-se, apesar de alguns deles só quererem vencer, jogando de maneira competitiva.

Esses momentos de competição eram aproveitados para explicar-lhes, de maneira lúdica, o

objetivo maior do Projeto: a sociabilidade, a solução de possíveis discussões, enfim, a

preparação para um futuro competitivo, com criatividade e bom senso. Sendo assim, o jogo,

particularmente, nas diversas civilizações em que é encontrado, deixa ver o curso da sua

evolução, de atividade essencialmente lúdica para a de atividade lúdico-competitiva, hoje

qualificada como esporte (BRASIL, 2005a, p. 25). Dessa forma, essas oportunidades são

aproveitadas para explicar-lhes que no jogo a motivação não se encontra no resultado a ser

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atingido, mas no próprio conteúdo da atividade em desenvolvimento, pelo qual se pode

afirmar que a motivação do jogo é o lúdico competitivo, não apenas o vencer.

Sabe-se que os motivos que levam os alunos a participarem do Projeto Segundo Tempo

são diversos, mas principalmente a motivação em aprender e em estar num grupo maior se

divertindo. Como sugere Duflo (1999, p. 25, apud BRASIL, 2004c, p.143):

o jogo não é mais considerado como uma atividade menor e para os menores que não mereceria a atenção do homem de bom senso. Ao contrário, o jogo deve ser estudado, porque oferece um espaço privilegiado no qual se exerce a inteligência humana, por duas razões diferentes e complementares. Por um lado há o prazer, que é um incentivo formidável. (...) Por outro lado e, sobretudo, no jogo, o espírito se exerce livremente, sem o constrangimento da necessidade e do real, oferece condições puras de exercício de engenhosidade.

Na quarta pergunta, questionados sobre o que fazem no período fora da escola:

– sete alunos manifestaram destinar o tempo para assistir à televisão, ouvir música e

jogar videogame;

– sete alunos (26,92%) responderam que o tempo fica ocioso, ou seja, não há nada

para fazer;

– seis alunos (23,07%) mencionaram que costumam destinar o tempo para estudar;

– seis alunos (23,07%) costumam destinar tempo para jogos com bola entre vizinhos e

amigos;

– quatro alunos (15,38%) descreveram que colaboram com os pais com a limpeza e

cuidados da casa;

– um aluno (3,84%) destina seu tempo fora da escola para cuidar de um familiar

doente;

– um aluno (3,84%) usa este tempo para estar nas ruas.

Evidencia-se que, em sua maioria, os alunos não têm horários para estudos, ou para

atividades que auxiliem no processo educativo e no desenvolvimento humano. Então, mais do

que nunca, é preciso despertar o interesse do aluno para algo mais importante do que estar

sem fazer nada, trazendo-o para um Projeto Social de qualidade, que contribua para a sua

formação cidadã em contrapartida ao nada fazer, pois “Não se trata somente de educar para a

construção de novos valores, mas entender que a educação estética é uma necessidade e é tão

importante quanto qualquer outra perspectiva de atuação” (BRASIL, 2005a, p. 81). A

educação estética trata ainda de todos os sentidos: visão, audição, gustação, tato e audição.

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Quanto à quinta pergunta, que questiona sobre as aspirações dos alunos quanto ao

retorno do Projeto Segundo Tempo à Escola, os alunos foram unânimes em responder sobre o

desejo da volta do Projeto, pois nele aprendem, divertem-se, não ficam em casa ou nas ruas,

recebem merenda, camisetas, materiais e, ainda, tornam-se mais responsáveis.

Como ficou expresso, o Projeto Segundo Tempo é um caminho possível que

possibilita mudanças na vida de muitas crianças e adolescentes de forma significativa, no que

diz respeito aos hábitos e às atitudes, ao respeito, aos limites, à aceitação dos colegas, à ajuda

ao próximo, à auto-estima, à responsabilidade etc.

Identificou-se que, em consonância com os objetivos, princípios e diretrizes que

estruturam o Projeto Segundo Tempo, conforme exposto anteriormente, o desenvolvimento

do Projeto na Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Naura Teixeira Pinheiro

atingiu resultados satisfatórios. Todavia, faz-se necessário argumentar sobre a fragilidade de

programas como este quanto a sua continuidade, pois foi desarticulado sem explicações dos

órgãos responsáveis, quebrando o trabalho que vinha sendo feito com seriedade e que gerava

qualidade de vida aos alunos envolvidos no período de setembro de 2004 a julho de 2005.

Como explica Bobbio (1990, p. 1210, apud BRASIL, 2004a, p.64): “a sociedade civil

ou a sociedade é entendida como o terreno dos conflitos econômicos, ideológicos, sociais e

religiosos que o Estado tem a seu cargo resolver, intervindo como mediador ou suprimindo-

os”. Na esteira desse autor, é possível argumentar sobre a necessidade de programas como o

Projeto Segundo Tempo como via possível de superação de conflitos da sociedade brasileira

desde que articulados com outras medidas de intervenções sociais e que mantenham uma

regularidade na sua execução para que possam intervir de forma efetiva na democratização

social.

Para a execução do Projeto Segundo Tempo, foram planejadas aulas prazerosas,

curiosas e divertidas para aumentar a clientela no contraturno escolar. Levou-se o trabalho a

sério do início ao fim, pois se buscou a construção de futuros cidadãos mais responsáveis e

com melhor convivência em grupos, respeitando derrotas e vitórias, sem preconceitos, com

limites, criatividade, decisões e respeito ao próximo, pois, segundo Libâneo (1994), planejar é

estudar, é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema. Assim procurou-se

refletir para decidir quais as melhores alternativas de ações possíveis para alcançar

determinados objetivos a partir da realidade. Quanto mais complexos os problemas, maior a

necessidade de planejamento. Um bom planejamento orienta a prática pedagógica do

professor, em uma ordem seqüencial progressiva, com objetividade, coerência e flexibilidade.

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Os objetivos para o desenvolvimento do Projeto Segundo Tempo foram traçados de

acordo com as necessidades básicas da clientela através de entrevistas sobre os jogos e

esportes preferidos, conhecimento de esportes novos e curiosos, participação de grupo, troca

de experiências e, para isso, os objetivos são ponto de partida, as premissas gerais do processo

pedagógico (LIBÂNEO, 1994). Eles representam as exigências da sociedade em relação à

escola, ao ensino, aos alunos e, ao mesmo tempo, refletem as opções políticas e pedagógicas

dos agentes educativos em face das contradições sociais existentes na sociedade. Os objetivos

são indispensáveis para o trabalho docente, requerendo um posicionamento ativo do professor

em sua explicação, seja no planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas.

Para Libâneo (1991, p.119, apud BRASIL, 2004b, p.73): “Os objetivos antecipam os

resultados e processos esperados do trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando

conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados de acordo com as

exigências metodológicas (nível de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de

ensino e características do processo de ensino e aprendizagem)”.

Nessa caminhada, detectaram-se muitos problemas, dentre eles destaca-se o frio do

inverno, que impedia a assiduidade dos alunos às aulas, em virtude da quadra ser aberta e

localizada em descampado, onde o vento minuano sopra forte. Outro problema encontrado foi

o material de baixa qualidade fornecido pelo Projeto, tal como as bolas de voleibol, feitas de

material rígido que provocava machucadura nas crianças. Todavia, a vontade de aprender e

jogar era maior do que a dor dos vergões nos braços. Havia também alunos agressivos, não

educados para saber esperar sua vez ou para perder. Mas tais problemas foram contornados

com conversa, brincadeiras em duplas, em trios, em grupos, que despertavam o interesse pelo

coleguismo, aceitação dos colegas, ajuda, etc.

Pelos elementos explicitados, visualiza-se os Projetos Sociais como um dos caminhos

para uma sociedade mais preparada para o futuro, onde os alunos crescem com formação de

valores. Como parte integrante da sociedade, é preciso que o professor colabore nos processos

educativos visando à constituição de um cidadão que, mais tarde, vai se deparar com

problemas que deverão ser resolvidos com serenidade, discernimento, maturidade,

criatividade e responsabilidade.

Hurtado (1983) lembra que, para a criança ou para o jovem em período de

crescimento, particularmente àqueles que se encontram na faixa etária compreendida entre 4 e

16 anos de idade, as atividades físicas, em geral, são necessidades de ordem bio-psico-

fisiológica que devem ser satisfeitas por meio de uma didática específica que alcance as metas

de cada faixa etária. O autor enfatiza, ainda, que a Educação Física destina-se a promover o

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desenvolvimento físico, social, emocional e mental da criança por meio da atividade corporal.

Nesse sentido, é que se faz necessária a presença do movimento, da atividade muscular, das

destrezas neuromusculares, da coordenação, do sentido do tempo, do espírito desportivo, do

respeito por si mesmo e pelos demais e pelas regras do jogo, enfim, de inúmeras atividades

que concorrerão para o desenvolvimento integral e harmônico do indivíduo em crescimento.

A Educação Física, assim, tem por finalidade contribuir, por meio da prática de atividades

físicas variadas, para a integração e desenvolvimento equilibrado das potencialidades bio-

psicofisiológica e sociais do ser humano.

Mas somente a riqueza do aprendizado proporcionado pelas atividades motoras não se

esgota em sua realização, pois é de fundamental importância que as crianças aprendam a

refletir sobre sua prática e não apenas vivenciá-las.

Ao passar pela experiência do Projeto Segundo Tempo, no qual se preparavam aulas

criativas e prazerosas para os alunos, identificava-se a necessidade da leitura, de buscar novos

conhecimentos para oportunizar atividades variadas e que dessem conta dos desafios que

surgiam nas relações didático-pedagógicas, fazendo com que cada novo encontro agregasse

mais alunos a esse Projeto de melhoria social.

Como preconiza Paes (2002, p.91, apud BRASIL, 2004b, p.11), “a modernidade exige

que o profissional de Educação Física compreenda o esporte e a pedagogia de forma mais

ampla, transformando-se em facilitador do processo de educação de crianças e jovens. Nesse

contexto, é preciso ir além da técnica e promover a integração dos personagens, o que só será

possível se essa proposta pedagógica estiver embasada também por uma filosofia norteada por

princípios essenciais para a educação dos alunos”.

Além disso, o contexto social atual demanda que o educador assuma responsabilidades

sociais, pois, como enfatiza Florestan Fernandes (apud BRACHT, 1992, p.69), “o educador

que se nega no plano ideológico e político se nega também como educador”.

Sabe-se que os alunos estão sempre abertos àquilo que lhes chama atenção, e, no caso,

as atividades lúdicas e esportivas conseguem concentrar um grande número de adeptos, que

gostam, participam, disputam, ajudam e opinam. Isso se dá porque o ser humano não é

somente corpo, mas pensa, age, tem uma alma, enfim, é um todo que vive tentando renovar

seus pensamentos, atitudes, corpo e espírito.

O jogo necessita ser pensado como dimensão humana, portanto, como elemento

necessário na vida e formador dos futuros cidadãos, que, mais tarde, serão os trabalhadores do

país e que deverão saber lidar com as vitórias e as derrotas, com os preconceitos, com os

demais cidadãos, com os problemas diários (HUIZINGA, 1993). Complementando essa

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colocação, Makarenko (1981, p. 48, apud BRASIL, 2005a, p. 40) lembra que “para educar o

futuro homem de ação, não se deve eliminar o jogo, mas organizá-lo de tal forma que, sem

desvirtuar seu caráter, contribua para formar as qualidades do trabalhador e cidadão do

futuro”.

Ademais, as fases da formação humana são subseqüentes, argumenta Demo (2001, p.

61, apud BRASIL, 2005b, p. 62):

recomeçar pode ser visualizado como apenas repetir, fase após fase, uma sempre posterior a outra, sobretudo repetitivas. Todavia, pode ser compreendido como recriar, se atentarmos para o fato de que toda a história é gerada na anterior. Dizemos recomeçar porque não podemos propriamente criar do nada – não é histórico criar do nada. Toda fase é conseqüente e subseqüente, o que leva a reencontrar na nova pelo menos algo da velha. Por vezes, porém, predomina o novo, é o signo da revolução e da criatividade.

Nesse sentido, programas sociais que envolvem aspectos lúdicos, criativos e esportivos

– como o Projeto Segundo Tempo – tornam-se de grande importância na vida dos alunos, pois

trazem abertura para uma melhoria da convivência social, um preparo de futuros adultos

pensantes, criativos, integrados na sociedade com perspectivas do certo e do errado, preparados

para um mundo competitivo, com um leque de alternativas para seus problemas etc.

Crê-se que esse Projeto Social voltará para a Escola, pois fez sucesso nas diversas

áreas comportamentais, demonstrado pela renovação de pensamentos e ações dos

participantes.

A Educação Física, em termos gerais (escola, projeto, clube, rua, etc.), resgata muitas

pessoas, principalmente crianças que se encontram em fase de crescimento. Elas encontram

ali um escape para colocar para fora todos os seus ódios ou alegrias através de gritos,

brincadeiras, chutes ou tapas na bola, corridas, e se houver um direcionamento ético, com

metodologia adequada, preparação verbal de como deve se portar um bom jogador, a criança

vai crescer com maior preparo para aceitar o próximo e defender dos problemas que virão.

Dessa forma, será mais um cidadão de valores e, conseqüentemente, menos um assassino,

doente, preso, enfim, gasta-se muito menos com verbas governamentais com um cidadão

trabalhador e honesto do que com um problemático, sem falar nos ganhos que o país e a

sociedade têm com estatísticas positivas de seres humanos criativos e críticos.

É cada vez maior a importância do papel dos professores de Educação Física na

sociedade, por isso é preciso que eles se atualizem, propondo aulas distintas, que tragam

história e que façam história dos alunos, pois estes costumam imitar tudo e todos que gostam.

Além disso, o professor de Educação Física tem o privilégio de trabalhar fora da sala de aula,

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onde eles podem esticar as pernas, trabalhar o físico, o espírito, o social, o intelectual,

colocando em movimento o seu todo e colocando em prática tudo o que aprendem. Segundo

Bracht (1992, p.57), “não podemos permanecer mais com estas visões parciais e falseadas na

nossa prática social, produzidas por uma metodologia positivista e fragmentada. Nesse sentido

não podemos prescindir de uma análise crítica que possa identificar o papel social que a

Educação Física concretamente cumpre nesse momento histórico de nossa sociedade”.

Os Projetos Sociais enriquecem as crianças, dando-lhes oportunidade de vivenciar

atividades lúdicas que, além de alegrar, contribuem para sua formação. Em afirmação a essa

colocação, Dietrich (1974) salienta que há considerações pedagógicas acerca dos jogos de

movimento, destacando seus aspectos sócio-educativos. A inclusão e o início de programas de

esportes na escola têm sido, freqüentemente, baseados na crença comum de que a participação

no esporte é um elemento de socialização que contribui para o desenvolvimento mental e

social (BRACHT, 1992, p. 75).

O jogo e o esporte já fazem parte do cotidiano de crianças e adolescentes na escola, na

rua, na reunião em casa, no clube, na festa, dentre outros ambientes. Essa é uma tendência

cultural do ser humano a partir do momento em que ele deseja se divertir. Quando Huizinga

(1993, p. 221) afirma que “no verdadeiro jogo é preciso que o homem jogue como uma

criança”, percebe-se que todos podem participar de jogos e divertimentos nos momentos de

lazer, pois fazem parte das necessidades humanas cotidianas, assim como comer, dormir,

trabalhar etc.

Segundo Huizinga (1993, p. 221), “procurar ver se há um conteúdo lúdico na confusão

da vida moderna pode levar-nos a conclusões contraditórias. No caso do esporte temos uma

atividade nominalmente classificada como jogo, mas levada a um grau tal de organização

técnica e de complexidade científica que o verdadeiro espírito lúdico se encontra ameaçado de

desaparecimento”.

O jogo e o esporte seguem linhas diferentes, mas isso não quer dizer que os dois não

tenham características parecidas: o jogo é feito, de maneira geral, sem a intenção lucrativa,

desprovido de responsabilidade de vitória, porém com alegria e divertimento de quem o

pratica e com a melhoria na qualidade de vida; já o esporte é mais complexo, seguindo

algumas regras mundiais, levado mais a sério e com a finalidade de vencer, e até com fins

lucrativos, quando praticado em campeonatos mais avançados. Porém é também feito com

alegria e divertimento e com a intenção da melhoria da qualidade de vida. E, algumas vezes,

pode-se até encontrar talentos nesses projetos sociais que, bem orientados, podem ser futuros

atletas destaques.

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A Educação Física tem um papel relevante no que diz respeito à educação globalizada

do ser humano, pois pode, segundo Chauí (apud COLETIVO DE AUTORES, 1994, p.44),

DESESTABILIZAR, ESTRUTURAR, CONVENCER, CONSOLIDAR concepções práticas e ideológicas que delimitam o contexto sócio-histórico, confrontando-as com outras que a elas se opõem, buscando competência e objetividade para levar à frente este projeto de forma a materializá-lo, explicitando assim a conquista de uma outra qualidade de vida para os homens, entendidos enquanto sujeitos históricos e construtores de seu próprio processo de humanização.

Enfim, a Educação Física é uma disciplina indispensável no currículo escolar e deve

ser ampliada em forma de Projetos, integralizando a base educacional dos alunos. Alunos

esses que, muito em breve, estarão fazendo parte da sociedade adulta e que, com um

acompanhamento responsável, tornar-se-ão adultos repletos de qualidades, de alta auto-estima

e de perspectivas favoráveis, fazendo deles seres melhores ao mundo, tornando o mundo

melhor, com menos violência. Para corroborar tal afirmação, cita-se as palavras do professor

de Educação Física Marco Antônio Barreto (Santa Maria, RS), em entrevista publicada no

Jornal Diário, de Santa Maria, de 22/01/2007: “É muito bom ter essa possibilidade de

transformar a sociedade por meio da educação e do esporte”.

Ninguém educa a si próprio sem a convivência com outras pessoas. Deve haver uma relação

entre educador e educando para que ocorra a transformação, interagindo para aprender e ensinar.

Na perspectiva de transformação, predominam a reflexão e a crítica, levando o aluno a

conscientizar-se da responsabilidade pessoal que tem pelo próprio comportamento e pela

participação no processo educativo (FREIRE, 1980). E para que ocorra essa transformação,

basta que se dê oportunidades sócio-educativas, demonstrando o interesse na renovação social

de maior igualdade, pois o aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado

para a sua vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma

capacidade de uma ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar

sentidos e significados nesta vida através da reflexão crítica que desenvolve-se no dia a dia,

com as oportunidades dos Projetos Sociais oferecidos para a preparação de futuros adultos

instruídos, livres para escolherem um trabalho justo e gratificante para si.

A Educação Física é uma atividade transformadora, onde o professor mostra seu

espírito crítico, e não só pede para o aluno atuar, mas atua junto. Essa interação traz um

crescimento para ambos.

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Para Paulo Freire (1980), a educação é aquela que, quem ensina, ensina para a vida. O

ser humano como ser cultural produz cultura e repassa através da educação para seus

descendentes.

Com base na literatura pesquisada, fica evidente a importância da Educação, da

Educação Física e dos Projetos voltados para as atividades físicas.

Nos últimos tempos, os assuntos que mais ouvimos falar são: esporte, aquecimento

global, biodiesel e violência. Desses, o mais significativo positivamente e de fácil aplicação é

a atividade lúdica, porque todos podem fazer para obter uma melhor qualidade de vida,

contribuindo para a saúde, a beleza, a alegria. Por isso, considera-se que o Projeto Segundo

Tempo trouxe benefícios enquanto existiu, pois crianças que passavam um turno ocioso,

podiam participar de atividades que, além de despertarem seus interesses e criatividade,

garantiam alimentação, melhoria na qualidade de vida, perspectivas para o futuro. O projeto

auxiliava na sociabilidade, na formação de valores, na ética e na tolerância para com o meio.

Assim era um espaço/tempo em que as crianças colocavam para fora suas mágoas e levavam

para casa o sentimento de um dia feliz e proveitoso.

Concorda-se com Libâneo (1991, p. 47, apud BRASIL, 2004b, p. 90), quando ele diz

que:

O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos básicos e as habilidades, e desenvolvam suas forças, capacidades físicas e intelectuais, tendo em vista equipá-los para enfrentar os desafios da vida prática no trabalho e nas lutas sociais pela democratização da sociedade.

Assim, o professor de Educação Física e os projetos sociais têm um papel de suma

importância na sociedade, pois podem preparar melhor o aluno para a vida, com maneiras de

solucionar seus problemas com responsabilidade, ética e bom senso. Acredita-se que a base de

um futuro cidadão está na educação, nos projetos voltados para os valores éticos, porém

trazendo os alunos para aquilo que lhes estimula. A violência hoje está aflorada de uma forma

que a sociedade não consegue mais escapar nem mesmo trabalhando. Há mortes no trânsito,

nas repartições públicas, nas próprias casas, nas ruas, nos ônibus, enfim, por todos os lugares.

E o que entristece é que, para essas pessoas que cometem atos de violência, faltou educação

eficiente, emprego, dignidade, portanto, elas não valorizam vidas, mas matam para viverem

melhor...

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6 CONCLUSÃO

Ao final deste trabalho, percebe-se que um projeto social do porte do Projeto Segundo

Tempo tem grande importância no contexto social, pois muda hábitos, atitudes, pensamentos,

forma de agir de muitas pessoas que, em breve, farão parte do mundo adulto. Sabe-se que os

professores têm responsabilidades e contribuições relevantes no processo educacional e, o

envolvimento em um Projeto com tais características possibilita aproximar-se dos alunos, das

suas expectativas, daquilo que almejam para si e para o futuro da sociedade. Isso explica o

pedido pela volta do Projeto feito tanto por parte da Escola Naura Teixeira Pinheiro, da cidade

de Santa Maria, quanto dos seus alunos. O objetivo da Escola e dos seus professores é dar

continuidade ao trabalho, como forma de contribuir com uma parcela na construção de um

futuro mais digno à comunidade local.

O trabalho foi desenvolvido com muita seriedade e, ao mesmo tempo, de forma

prazerosa, com motivação, com pesquisa e aplicação, criando um ambiente onde os alunos

participavam das atividades com alegria, o que não significa dizer sem a presença de

conflitos, parte que é do processo educativo.

Sabe-se que, no processo educativo, para ocorrer participação, deve haver empatia

entre alunos e professores e vice-versa, nem sempre factível de ocorrer. Um elemento

facilitador dessa empatia é gostar do que se faz. A recíproca se complementa na medida em

que os alunos participaram do Projeto por vontade própria. A partir disso, vão se construindo

relações de interesse mútuo, criando responsabilidades em diferentes dimensões: de horários,

de regras, de uso de uniforme apropriado para a prática de atividades físicas, de assiduidade,

de respeito aos colegas, de cuidado com os materiais e com a escola, da criatividade, da

formação de valores, dentre outros.

Para finalizar, este trabalho integrado ao curso de Especialização em Esporte Escolar

trouxe grande enriquecimento pessoal e profissional, pois as leituras se anunciaram como

horizontes necessários e constantes quer seja nos módulos ou da entrega das várias avaliações.

A pesquisa, por meio dos questionários com os alunos, ratificou o pensamento de que eles

querem uma atividade extraclasse que seja prazerosa e que resulte em aprendizagem

entendida em sentido amplo, pois aspiram se atualizar, se aperfeiçoar nas mais variadas

oportunidades que lhes é oferecida.

É necessária a volta do Projeto Segundo Tempo, pois é um espaço de renovação de

uma comunidade carente, mas esperançosa.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL – MINISTÉRIO DO ESPORTE. Esporte e Sociedade. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004a. ________. Dimensões pedagógicas do esporte. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004b. ________. Jogo, corpo e escola. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004c. ________. Elementos do processo de pesquisa em esporte escolar. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004d. ________. Manifestações dos jogos. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2005a. ________. Manifestações dos esportes. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2005b. ________. Elementos do processo de pesquisa em esporte escolar. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2005c. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 2003. FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento. São Paulo: Moraes, 1980. HUIZINGA, J. O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1993. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. VALTER, B. Educação Física e aprendizagem social. São Paulo: Magister, 1992.

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ANEXO A: Plano de aula do Projeto Segundo Tempo

PLANO DE AULA PARA O PROJETO 2º TEMPO 1. Dados de Identificação: Escola Estadual Naura Teixeira Pinheiro. Curso: Fundamental – Currículo. Disciplina: Educação Física. Participantes do Projeto: Alunos de 4ª a 8ª série da escola, e comunidade. Ano Letivo: 2004. Professoras: Marilei de Mello e Carolina Pinto Gomes. Data da Aula: 04/10/2004. 2. Assunto Central: Atletismo. 3. Objetivos Imediatos: – Introduzir o correr como forma de movimento básico para a realização de atividades musculares, circulatórias e respiratórias, conforme as distâncias a percorrer; – Desenvolver com os alunos brincadeiras que envolvam corridas de curta e longa distâncias. 4. Conteúdos: Iniciação ao Atletismo. 5. Desenvolvimento: a) Parte Inicial: “Corrida Dinâmica”:

Alunos dispostos em duas fileiras, enquanto dois alunso ficam à frente, numa distância de 10 metros. Ao sinal do professor, os alunos da frente de cada fileira correm em direção aos colegas da frente, e escrevem seu nome num papel. A fileira que acabar primeiro será a vencedora. – Realizar uma corrida em volta da quadra (5 voltas). b) Parte Principal: – Alunos sentados dispostos no fundo da quadra, de costas para a mesma. O professor arremessará a bola e ao tocar no chão, os alunos deverão levantar e correr para pega-la. Aquele que pegar a bola será o próximo a arremessar; – Cão/Gato/Rato: alunos em círculo de mãos dadas, três alunos do mesmo porte serão escolhidos para ser o cão, o gato e o rato, o gato persegue o rato e foge do cão, o rato persegue o cão e foge do gato. Os alunos do círculo não prestam nenhuma ajuda. A corrida deverá ser feita dentro do círculo, e quando alguém for pego, escolhe-se outra trinca. c) Parte Final: “Quem é o Chefe”:

Alunos dispostos em círculo. Um aluno será mantido à distância, enquanto os demais e o professor escolhem o chefe, e este iniciará as ações que todos deverão imitar. Exemplo: bater palmas, saltar, etc. Chama-se o aluno que estava distante do grupo, que deverá adivinhar quem começa as ações, e as mude sem que ele perceba. 6. Observação:

Os alunos demonstraram ter algum conhecimento sobre a modalidade de atletismo, participando estimuladamente de todas as atividades.