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O ESTABELECIMENTO DE UM PROGRAMA DE SERVIÇO PÓS-VENDA: UM ESTUDO DE CASO NO SETOR DE CONCESSIONÁRIAS DE AUTOMÓVEIS NO BRASIL Fernando César Vieira Nogueira Instituto COPPEAD de Administração Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Orientador: Professor Dr. Kleber Fossati Figueiredo Novembro de 2002

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O ESTABELECIMENTO DE UM PROGRAMA DE SERVIÇO PÓS-VENDA:

UM ESTUDO DE CASO NO SETOR DE CONCESSIONÁRIAS DE

AUTOMÓVEIS NO BRASIL

Fernando César Vieira Nogueira

Instituto COPPEAD de AdministraçãoUniversidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Orientador: Professor Dr. Kleber Fossati Figueiredo

Novembro de 2002

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O ESTABELECIMENTO DE UM PROGRAMA DE SERVIÇO PÓS-VENDA:

UM ESTUDO DE CASO NO SETOR DE CONCESSIONÁRIAS DE

AUTOMÓVEIS NO BRASIL

Fernando César Vieira Nogueira

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD deAdministração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, comoparte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Presidente da Banca

Prof. Kleber Fossati Figueiredo – COPPEAD/UFRJ

Profa. Letícia Moreira Casotti – COPPEAD/UFRJ

Prof. Marie Agnes Chauvel – IBMEC

Rio de Janeiro

2002

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Nogueira, Fernando César Vieira.

O estabelecimento de um programa de serviço

pós-venda: um estudo de caso no setor de

concessionárias de automóveis no brasil/ Fernando

César V. Nogueira. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD,

2002.

xi, 114p.; il.

Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPEAD, 2002.

1. Marketing de serviços 2. Operações de serviços

– Tese. I. Título. II. Tese (Mestr. – UFRJ/COPPEAD)

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À Denise, minha esposa, cuja o apoio foifundamental na minha caminhada até aconclusão desta dissertação.

Ao meu pai cuja honestidade, força ededicação moldaram meu caráter. À minhamãe cuja luta, abstenção e amor sempre meconduziu adiante e marcou minhaformação. À minha irmã gêmea quesempre esteve ao meu lado como grandeamiga e conselheira. Às minhas sobrinhasCamila e Júlia, cujos sorrisos me fazemesquecer as dificuldades e me dão forçaspara seguir em frente.

A Deus, pela vida e pela transformação dosonho em realidade.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Kleber Figueiredo, meu orientador pelo tempo que dedicou a este

trabalho e pela sua orientação tranqüila, rara paciência e apoio permanente. A

sua sabedoria e experiência iluminaram o meu caminho durante toda a

trajetória até a conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos do escritório regional Rio de Janeiro que compreenderam o

meu sonho e tiveram uma colaboração incansável para viabilizar o meu curso

de mestrado, especialmente o Carlos Rezende e o João Batista.

A equipe do pós-venda da fábrica de Betim que me forneceram um rico

arcabouço de informações importantes para este trabalho, especialmente o

Márcio Fonseca e o Antônio Sérgio.

Ao grande amigo Claudio Souza, da diretoria de produto, pela rica colaboração

dada na análise dos dados.

E ao amigo La Câmera, que mesmo morando em Miami, deu sua parcela de

colaboração.

Aos demais professores e funcionários da COPPEAD, que, de alguma maneira,

contribuíram para a realização deste trabalho.

A todos aqueles cujos nomes não foram citados, mas direta ou indiretamente

colaboraram na realização deste trabalho.

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RESUMO

Nogueira, Fernando C. Vieira. O Estabelecimento de um programa deserviço pós-venda: um estudo de caso no setor de concessionárias de

automóvel no Brasil. Orientador: Kleber Fossati Figueiredo. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação ( Mestrado em Administração).

Em 1998, uma das quatro grandes montadoras de automóveis que

operam no Brasil, iniciou a implantação de um programa de padrões de

atendimento de pós-venda na sua rede de concessionárias. O objetivo deste

estudo exploratório é verificar se o programa implantado é aderente a um

modelo de estratégia de serviços pós-venda construído a partir de uma revisão

de literatura.

O estudo inclui uma análise da literatura, procurando conceituar o

serviço pós-venda no setor de concessionárias de automóveis, a sua

importância e as etapas para a implantação de um programa de padrões de

atendimento na rede de concessionárias. Uma vez identificados tais conceitos,

foram realizadas entrevistas em profundidade com profissionais da fábrica de

automóveis e da rede de concessionárias, além de uma pesquisa documental

nos arquivos da montadora.

A pesquisa concluiu que o programa de serviço pós-venda implantado

pela montadora está bem estruturado e mostrou ter aderência ao modelo de

estabelecimento de um programa de serviço pós-venda citado na revisão de

literatura.

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ABSTRACT

Nogueira, Fernando C. Vieira. O Estabelecimento de um programa deserviço pós-venda: um estudo de caso no setor de concessionárias de

automóvel no Brasil. Orientador: Kleber Fossati Figueiredo. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação ( Mestrado em Administração).

In 1998, one of the four large automobile producers operating in Brazil

initiated the implementation of a post-sales standard service program in its

dealerships’ network. The objective of this exploratory study is to determine

whether this program is consistent with a strategic model of post-sales services

derived from an analysis of related readings.

This analysis aimed first at understanding the post-sales service in the

automobile dealerships sector and its importance and the steps required to

implement a standard service program in a dealerships’ network. With this

understanding in place, we performed a series of in depth interviews with

professionals from the automobile producer and from its dealers as well as a

documental research on the producer’s files.

The study concludes that the post-sales service program implemented by

the automobile producer is well structured and consistent with the

implementation models of post-sales programs mentioned in the related

readings that were analyzed.

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Lista de Figuras

Figura 1 -- Um modelo de comportamento de mudança de serviço........................................... 28

Figura 2 – As oito fases dos padrões de atendimento .............................................................. 58

Figura 3 -- Mapa do processo de agendamento ......................................................................... 58

Figura 4 – Mapa dos processos de recepção e atendimento.................................................... 59

Figura 5 -- Mapa do processo de reparo..................................................................................... 60

Figura 6 – Mapa do processo de verificação do reparo.............................................................. 61

Figura 7 -- Mapa do processo de entrega................................................................................... 61

Figura 8 – Mapa do processo de pesquisa de satisfação ......................................................... 62

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Fases do ciclo de posse do automóvel .................................................................... 20

Tabela 2 – CSI assitência técnica ano 1998.............................................................................. 80

Tabela 3 – Agendamento de acordo com a disponibilidade do cliente...................................... 82

Tabela 4 – Serviço executado corretamente de uma só vez..................................................... 82

Tabela 5 – Tempo de serviço..................................................................................................... 83

Tabela 6 – Clientes contatados pela concessionária................................................................. 83

Tabela 7 – Clientes que tiveram o carro liberado no mesmo dia ficaram mais satisfeitos ........ 84

Tabela 8 – Serviços executados corretamente na primeira vez ................................................ 84

Tabela 9 – Clientes contatados pela revenda............................................................................ 85

Tabela 10 – Resultados obtidos até novembro de 2001............................................................ 87

Tabela 11 – Análise de correlação dos padrões de atendimento .............................................. 88

Tabela 12 – Cumprimento do padrões....................................................................................... 94

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

1.1 O ASSUNTO E SUA IMPORTÂNCIA .................................................................................... 11.2 OBJETIVO DO ESTUDO ..................................................................................................... 21.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................................................ 31.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.............................................................................................. 51.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO........................................................................................ 7

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 8

2.1 O QUE É O SERVIÇO PÓS-VENDA...................................................................................... 82.2 A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO PÓS-VENDA ................................................................... 122.3 ETAPAS DO SERVIÇO PÓS-VENDA .................................................................................. 182.3.1 GARANTIA DO PRODUTO ........................................................................................... 192.3.2 PEÇAS E SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA.......................................................... 212.3.3 RECLAMAÇÕES DO CLIENTE E A IMPORTÂNCIA DA RECUPERAÇÃO DO SERVIÇO...... 262.4 EVITANDO A DESERÇÃO DE CLIENTES EM SERVIÇOS PÓS-VENDA .............................. 272.5 ESTABELECIMENTO DE UM PROGRAMA DE SERVIÇO PÓS-VENDA .............................. 322.5.1 EXECUÇÃO EFICAZ .................................................................................................... 372.5.2 PADRÕES DE SERVIÇO PÓS-VENDA............................................................................ 392.6 RESUMO E PROPOSTA DE MODELO PARA A PESQUISA ................................................. 41

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 44

3.1 PERGUNTA DA PESQUISA ............................................................................................... 443.2 TIPO DE PESQUISA.......................................................................................................... 443.3 EMPRESA SELECIONADA ............................................................................................... 463.4 COLETA DE DADOS ......................................................................................................... 463.5 TRATAMENTO DOS DADOS............................................................................................. 483.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ............................................................................................. 49

4 DESCRIÇÃO DO CASO .................................................................................................... 51

4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 514.2 MAPEAMENTO DO PROCESSO DE PÓS-VENDA DA CONCESSIONÁRIA .......................... 574.3 ANTECEDENTES E EVOLUÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-VENDA.................................... 624.4 DEFINIÇÃO DOS PADRÕES DE ATENDIMENTO .............................................................. 654.5 IMPLANTAÇÃO E LANÇAMENTO DO PROJETO ............................................................. 754.6 PRIMEIROS RESULTADOS ALCANÇADOS....................................................................... 804.7 FASE 2 : UM NOVO SALTO DE QUALIDADE NO ATENDIMENTO.................................... 89

5 ANÁLISE DO CASO .......................................................................................................... 95

5.1.1 TER UMA MOTIVAÇÃO ESTRATÉGICA:....................................................................... 95

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5.1.2 CONHECER A NECESSIDADE DOS CLIENTES............................................................... 965.1.3 PREPARAÇÃO; ........................................................................................................... 985.1.4 EXECUÇÃO; ............................................................................................................. 1005.1.4.1 Gerenciar os momentos da verdade;................................................................. 1015.1.4.2 Ter uma estratégia de recuperação do serviço;................................................. 1025.1.4.3 Ter uma política de preços; .............................................................................. 1035.1.5 MONITORAMENTO DOS PROCESSOS E ESTABELECIMENTO DE PADRÕES................. 104

6 RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ........... 106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 110

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O assunto e sua importância

No mercado competitivo dos dias atuais, o relacionamento entre as

empresas e seus clientes tem sido marcado por notáveis transformações. O

acirramento da competição clama por diferenciação; as empresas procuram se

aproximar de seus clientes com a oferta de produtos ampliados através de um

sem número de iniciativas de serviço ao cliente. Esta nova forma de competir,

mais focada em serviço do que na fabricação de produtos, está ajudando uma

ampla variedade de empresas a atraírem novos clientes e fidelizar os clientes

existentes. Além disso, muitas organizações – incluindo aquelas cujas ofertas

primárias envolvem bens físicos tais como automóveis e computadores –

instituíram indicadores e abordagens gerenciais para melhorar os seus

serviços aos clientes (ZEITHAML, 1996, p.31).

O serviço ao cliente pode tomar diversas formas desde um simples

oferecimento de respostas às perguntas de clientes até a sofisticada oferta de

uma ampla gama de serviços associados à venda de produtos complexos

como sistemas de computadores, plataformas de exploração de petróleo e

outros. De fato, desenvolver e expandir ofertas lucrativas de serviços são

estratégias chave em muitas indústrias não voltadas para serviços. Esta idéia é

apoiada pelo líder da General Electric Jack Welch, que declara: “O nosso

negócio é vender mais do que apenas produtos... nós estamos no negócio de

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serviços para expandir nossa fatia de mercado” (Smart, 1996). Uma razão

para o interesse crescente na oferta de serviços pelas empresas voltadas

para produtos é que os seus bens são freqüentemente vistos como

commodities, e os serviços permitem maior diferenciação, e por sua vez

maiores margens (BRIONES, 1999).

Reconhecendo a importância do serviço ao cliente como diferencial

competitivo, passou-se a identificar, na literatura especializada, diversas

“receitas” estratégicas a disposição das empresas interessadas em implantar

em suas operações um programa de serviço ao cliente. Alguns dos mais

referenciados programas são os de Takeuchi e Quelch (1983), Armistead e

Clark (1992), e Christopher (1997). Estes três últimos autores diferenciam

serviço ao cliente em atividades que ocorrem antes, durante e depois da

venda, introduzindo então o conceito de serviço pós-venda.

1.2 Objetivo do Estudo

Em 1998, uma das grandes montadoras de automóveis que atua no mercado

brasileiro, com a preocupação de melhorar o serviço pós-venda a seus clientes,

iniciou a implantação de um programa de padrões de atendimento na sua rede

de concessionárias com o objetivo de fidelizar os clientes através do aumento

de sua satisfação com os serviços de pós-venda. Este trabalho tem por

objetivo verificar se o programa implantado é aderente a um modelo de

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estratégia de serviços pós-venda construído a partir de uma revisão da

literatura sobre o tema.

Para atingir este objetivo, o estudo se propõe a responder a uma

pergunta de pesquisa: como a Fiat projetou e executou a reformulação de seu

serviço de pós-venda?

1.3 Relevância do Estudo

Segundo a FENABRAVE1, o setor de varejo de veículos automotores no

Brasil é composto por 4.576 empresas de pequeno e médio porte com capital

100% nacional. É uma atividade altamente pulverizada pelos municípios de

todo o território nacional e emprega 274.560 funcionários que foram

responsáveis por um faturamento de R$ 61,1 bilhões e uma arrecadação de R$

16,7 bilhões em impostos durante o ano 2001.

Para Yale Gieszl, vice-presidente da Toyota Motors Sales nos Estados

Unidos, o setor automotivo está entrando em uma era de crescente expectativa

e sofisticação dos clientes e precisa estar preparado para atender aos novos

requisitos. Ainda de acordo com Gieszl, “o futuro pertencerá àqueles que

combinarem o melhor produto com o melhor processo, àqueles que oferecerem

tanto grandes veículos como um serviço ao cliente personalizado.”

(GIESZL,1997, p.36)

No Brasil, até o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, o

mercado de automóveis era um oligopólio composto por quatro players:

1 FENABRAVE – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores

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Volkswagem, Fiat , Chevrolet e Ford. Além do fato de só existirem estas quatro

empresas com parque industrial instalado, a importação de automóveis era

proibida. Com isto os consumidores brasileiros dispunham de poucos modelos

para escolher e o seu poder de barganha era muito pequeno. Dentro deste

contexto o ex-presidente chegou a denominar os automóveis brasileiros

daquela época como sendo ”carroças”.

Após a abertura do mercado e com o aquecimento da economia

brasileira devido à implantação do plano real, novas montadoras foram se

instalando no Brasil (Mercedes-Benz, Chrysler, Toyota, Honda, Peugeout,

Renault, Mitsubishi e Citröen) e, aquelas já instaladas, investiram em aumento

de capacidade inaugurando novas fábricas. Com isto, a concorrência

aumentou drasticamente e o consumidor passou a dispor de uma gama

bastante variada de produtos para escolher. As montadoras criaram os seus

próprios bancos e tornaram-se bastante agressivas também na oferta de

crédito direto ao consumidor para fomentar o varejo de seus automóveis. Em

2002, as taxas de juros dos financiamentos bancários eram muito similares.

Com o desenvolvimento da tecnologia embarcada e dos processos de

produção, os veículos (dentro de cada segmento) estão se tornando bastante

semelhantes no que diz respeito aos itens de conforto e motorização. Por

exemplo, todas as marcas oferecem o seu modelo popular (equipado com

motor de 1.0 litro) com os mesmos opcionais de conforto como: os vidros com

comandos de abertura elétricos, ar-condicionado, direção hidráulica, alarme

anti-furto, trava elétrica, dentre outros.

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Devido às semelhanças entre preços e características de desempenho

dos veículos, os fatores que influenciam a escolha do consumidor passaram a

ser o design, a qualidade do veículo (imagem da marca), a capilaridade do

sistema de distribuição e o nível de atendimento da rede de distribuidores.

De acordo com Cristopher (1997), em um número crescente de

mercados, o poder da marca declinou e os clientes estão dispostos a aceitar

substitutos; mesmo as diferenças tecnológicas foram removidas, de modo que

ficou mais difícil manter uma posição competitiva através do próprio produto.

Em situações como esta, é o serviço ao cliente que pode proporcionar a

diferença entre a oferta de uma empresa e a de seus concorrentes.

Assim, tornou-se vital para as montadoras e para os seus varejistas não

somente atender bem aos seus clientes, mas estudar cuidadosamente os

processos e estruturas inerentes ao atendimento de pós-venda de forma a

otimizar os esforços e se diferenciar da concorrência.

Um fato que vem reforçar a relevância deste tema é o volume de

reportagens publicadas nos principais jornais e nas revistas de automóveis

sobre clientes insatisfeitos com o atendimento prestado pelas concessionárias

de todas as marcas disponíveis no mercado.

1.4 Delimitação do Estudo

Uma maneira de se verificar se determinado conceito está sendo

aplicado se dá por meio da verificação de suas atividades. O estudo em

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questão pretende identificar a aplicação de alguns conceitos de estratégias de

serviço pós-venda.

Este trabalho está inserido na linha de pesquisa de satisfação e

retenção de clientes com serviços de pós-venda no varejo de automóveis. Seu

foco está na avaliação de um programa de serviço de pós-venda que uma

montadora começou a implantar em suas concessionárias a partir de 1998 com

o objetivo de melhorar a prestação do serviço pós-venda e a retenção de seus

clientes.

As fontes mais utilizadas para este estudo foram as pesquisas de

satisfação de clientes (CSI - Consumer Satisfaction Index), realizadas por uma

empresa contratada pela montadora, e as bases de dados Proquest, Emerald e

periódicos CAPES com publicações canadenses, norte-americanas e

européias, além dos sites da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes

de Veículos Automotores) e FENABRAVE (Federação Nacional dos

Distribuidores de Veículos).

O estudo limitou-se a uma montadora de automóveis que atua no

mercado brasileiro e algumas concessionárias representantes da sua marca

por ter sido a pioneira no Brasil a implantar e divulgar uma programa de

padrões de atendimento. Os resultados deste estudo são específicos para a

indústria automobilística e estão restritos ao caso pesquisado e não podem ser

generalizados para empresas de outros segmentos.

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1.5 Organização do trabalho

No capítulo inicial, busca-se justificar a importância do tema escolhido

e delimitar o universo do estudo.

No segundo capítulo, a literatura especializada sobre o tema é revista,

destacando-se os conceitos, importância e modelo para implantação de um

programa de serviço pós-venda.

O terceiro capítulo aborda a metodologia da pesquisa detalhando suas

diversas fases.

No quarto capítulo, é descrito o caso da implantação do programa de

serviço pós-venda por uma montadora de automóveis no Brasil.

No quinto capítulo, é apresentada a análise do caso e a sua

congruência com a revisão de literatura.

Finalmente, no sexto capítulo, são descritas as conclusões e as

sugestões para pesquisas futuras

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo deste capítulo é apresentar o referencial teórico da

pesquisa. Inicialmente será apresentado o conceito de serviço pós-venda. Em

seguida é destacada a sua importância para a lealdade e retenção dos clientes

e por fim é feita uma recomendação de como se estabelece um programa de

serviço pós-venda.

2.1 O que é o serviço pós-venda

De acordo com Mohamed (1996) em seu estudo sobre as melhores

práticas de serviço pós-venda para automóveis, o serviço pós-venda pode ser

definido como “todas as atividades voltadas para manter a qualidade e a

confiabilidade do automóvel executadas depois que o veículo foi adquirido, com

o objetivo de garantir a satisfação do cliente. Tais atividades podem ser

subdivididas entre aquelas que são desempenhadas pelo fabricante e pelos

distribuidores.”

Segundo Ehinlanwo e Zairi (1996) o pós-venda é composto por

produtos (peças e acessórios) e por serviços. O termo “produto” se refere a

todo componente que pode ser instalado no automóvel para atender às

exigências de seu proprietário enquanto que o termo “serviço” está relacionado

com toda interação humana requerida para informar ou possibilitar a instalação

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de um produto no automóvel, incluindo conselhos, informações e toda

interação com o proprietário ou com o usuário do veículo.

O serviço de pós-venda de automóvel é prestado através de um

sistema de marketing vertical, também utilizado para a venda de carros novos.

As atividades principais neste sistema de marketing giram em torno de

políticas, processos e estratégias empregadas pelos fabricantes para garantir

que os seus concessionários estejam adequadamente preparados para atender

o consumidor. Ehinlanwo e Zairi (1996) identificaram em seu estudo as

seguintes políticas como sendo críticas ou cruciais para a prestação do serviço

pós-venda:

Política de produto: Baseados no sistema de marketing vertical os

fabricantes de automóveis têm o direito de obrigar o concessionário a vender

somente peças ou produtos originais. A concessionária, no entanto, é obrigada

a comprar do fabricante da marca representada, mesmo quando os preços não

são favoráveis. As peças e os produtos são aspectos representativos do

serviço pós-venda e as condições em que a concessionária adquire estes

produtos são muito importantes para o seu sucesso.

Política de preço: Esta política baliza o mercado e é muito importante

tanto para a concessionária quanto para o fabricante. Um dos principais

problemas enfrentados no ponto de vendas é a imagem que as

concessionárias têm de cobrarem muito mais caro do que o mercado paralelo.

Um ponto chave entre todos os fabricantes pesquisados é o esforço de

apresentar políticas de preços transparentes no ponto de venda. E, mais ainda,

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o preço final cobrado no serviço pós-venda prestado pelas concessionárias é

bastante influenciado pelas condições de preços oferecidas pelo fabricante.

Segundo Takeuchi e Quelch (1993), o estabelecimento de políticas de preços

e contratos de serviços opcionais que sejam justos e fáceis do cliente entender

é mais importante e eficaz do que oferecer serviço gratuito.

Política de promoção: Para que o público alvo se mantenha bem

informado das possibilidades oferecidas pelo pós-venda das concessionárias e

dos fabricantes, é necessário uma política de promoção bem planejada.

Mesmo as melhores políticas, se não comunicadas ao público alvo, podem ser

condenadas a falhar. Tradicionalmente, na cadeia de marketing de automóveis,

os fabricantes desempenham um papel dominante na concepção de medidas

promocionais e as recentes ações voltadas para reforçar a identidade com a

marca de muitos fabricantes demonstram a importância das ações

promocionais de pós-venda. As políticas promocionais do fabricante são

críticas para o sucesso das suas políticas de pós-venda e das concessionárias.

Política de distribuição: A disponibilidade de peças e produtos é

crucial para a prestação do serviço pós-venda. A qualidade percebida do

serviço é influenciada diretamente pelo intervalo de tempo que o cliente espera

para ter o produto desejado instalado no seu automóvel. Do ponto de vista do

concessionário, a lucratividade é afetada pelo número de produtos que as suas

lojas possuem no estoque. Quanto menos itens, menor o custo fixo de

manutenção do estoque. As políticas de distribuição e a sua eficiência são

críticas para o plano de marketing de pós-venda.

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Políticas de serviço: A tecnologia dos automóveis está se tornando

universal e os serviços se revelaram como uma maneira de se diferenciar da

concorrência através das políticas e ofertas. Uma vez que todas as outras

políticas funcionem efetivamente, a política de serviço representa a técnica de

diferenciação mais importante disponível para os fabricantes e para as

concessionárias. Com os consumidores se tornando mais homogêneos em

suas exigências, é muito importante que a política de serviço esteja voltada

para oferecer algo mais que possa encantar o cliente. O serviço prestado pelo

fabricante à concessionária pode incluir, por exemplo, as atividades de

treinamento e consultoria dos fabricantes para ajudá-la a competir de forma

mais eficiente e satisfazer o cliente final. A competição no ponto de venda e a

evolução técnica contínua dos automóveis têm exigido que os fabricantes

ofereçam aos seus concessionários uma cobertura total de suporte e

treinamento para garantir um suporte adicional necessário para satisfazer e

fidelizar os clientes (EHINLANWO, ZAIRI ,1996).

Os resultados do estudo de Ehinlanwo e Zairi (1996), suportam estas

políticas críticas. Em seu estudo, 1.120 concessionárias vinculadas a 28

fabricantes foram pesquisadas para fazer um ranking dos aspectos críticos

para o sucesso de suas operações e para a satisfação dos clientes. Os

seguintes aspectos constavam entre os fatores críticos identificados pelos

concessionários como críticos para o sucesso deles:

1. Políticas de preço de pós-venda;

2. Políticas de distribuição de pós-venda;

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3. Tamanho de mercado adequado (área de influência de cada

concessionária);

4. Políticas de serviço de pós-venda;

5. Promoções de pós-venda.

O trabalho mostra ainda que o principal problema do pós-venda é que

na percepção do cliente final as concessionárias cobram um preço muito alto.

Entretanto, esta imagem pode ser parcialmente combatida por políticas que

visem divulgar melhor o custo benefício do serviço de pós-venda para o cliente

final juntamente com melhorias no processo visando reduções de custo.

2.2 A importância do serviço pós-venda

Segundo Mathe e Shapiro (1993), o fornecimento de serviço pós-venda

de boa qualidade para os consumidores de bens duráveis é importante para o

sucesso destes bens no mercado, visto que complementa a qualidade dos

produtos e encoraja a lealdade ao produto e a disseminação de comentários

positivos por consumidores satisfeitos. Levine (1987) e Muller (1991) citam que

um particular setor industrial que tem atraído muito interesse devido aos seus

problemas de qualidade é a indústria automobilística, onde as montadoras

americanas perderam participação de mercado devido a entrada dos

fabricantes japoneses. De acordo com Hampton e Shiller (1987), enquanto

uma parte deste território está sendo recuperado por melhorias na qualidade do

veículo, a competição em qualidade envolve também as atividades de

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marketing, vendas e o fornecimento de serviços de manutenções no pós-

venda. A avaliação do impacto destas atividades na satisfação do consumidor

determina onde são necessárias as melhorias.

Para medir a satisfação do cliente, os fabricantes de veículos

automotores utilizam agências de pesquisas independentes para reunir os

dados dos consumidores em uma base regular (ARMSTRONG,1991). As

perguntas abordam não apenas os veículos, mas um conjunto de atributos

envolvendo a performance de vendas e serviços das concessionárias. Tem

sido presumido (LEVINE, 1987) que os proprietários de veículos não fazem

distinção entre concessionário e fabricante. Woodruff (1994) também declara

que enquanto os fabricantes de automóveis tem se esforçado para melhorar a

lealdade dos clientes aos seus veículos, “o serviço prestado pelos

concessionários é o elo fraco da cadeia”. Se estas suposições são verdadeiras,

então o fabricante deve monitorar às performances de vendas e pós-venda das

suas concessionárias com a mesma atenção que o controle de qualidade é

usado para monitorar a produção na fábrica.

A satisfação do cliente com a qualidade do serviço e o seu impacto na

intenção de compra futura do cliente tem sido investigada em detalhes. Os

trabalhos de Parasuraman et al (1985), Salomon et al (1985), Woodside et al

(1989), Reichheld e Sasser (1990), Collier (1991) e Davis (1991) seguem esta

linha. A relação entre qualidade do produto e satisfação do cliente também tem

sido investigada Zeithaml (1988), Narasimhan et al (1993) e Selnes (1993).

Segundo estes autores, a percepção que o cliente tem do produto e do

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fabricante se desenvolve durante o tempo de posse do produto, e depende

tanto da qualidade do produto quanto da qualidade do serviço. Este é

especialmente o caso de aparelhos eletrônicos e equipamentos mecânicos

complexos como automóveis, aviões, equipamentos industriais e

computadores, os quais requerem garantia e manutenções regulares ao longo

de sua vida útil.

Takeuchi e Quelch (1983) destacam que qualidade do serviço pós-

venda é tão importante quanto a qualidade do produto. Para estes autores, um

excelente serviço pós-venda nunca poderá compensar a fraqueza de um

produto, mas um serviço pós-venda pobre pode anular rapidamente todas as

vantagens associadas a um produto de qualidade superior.

Archer e Wesolowsky (1996) estudaram o efeito combinado

envolvendo a qualidade do automóvel e do serviço associado na intenção de

compra e recomendação dos proprietários com relação ao produto, a

concessionária e a marca. Os dados foram colhidos através de um questionário

aplicado a 659 proprietários de automóveis de todas as grandes marcas em

diversas concessionárias canadenses. A pesquisa investigava a partir do

método de incidentes críticos as intenções de compra futura e questionava se o

proprietário do veículo recomendaria o fabricante ou a concessionária. As

perguntas sobre as intenções de compra futuras avaliavam se o cliente

compraria outro veículo como o que ele possuía atualmente, se ele compraria

outro veículo da mesma marca e se ele compraria outro veículo na mesma

concessionária.

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A primeira conclusão da pesquisa foi que os proprietários de veículos

tendem a ser tolerantes com um único incidente negativo relacionado ao

veículo mantendo-se fiel ao veículo ou à marca, mas não são tolerantes a mais

do que um incidente negativo. São relativamente tolerantes a pequenas falhas

que ocorrem com o produto, mas perdem a paciência se o serviço prestado

pela concessionária também for ruim. Então, um incidente crítico positivo com o

veículo pode ajudar a reparar o dano causado à percepção do cliente por um

incidente crítico negativo com o veículo, mas será necessário um ótimo veículo

ou fabricante para compensar a percepção causada por um serviço ruim

prestado pela concessionária.

A outra conclusão foi que incidentes críticos positivos podem anular

incidentes críticos negativos. A concessionária está em uma posição chave

para criar incidentes de serviço positivos e evitar incidentes de serviços

negativos, melhorando dessa forma a lealdade do cliente à concessionária e

cancelando incidentes negativos com o veículo que afetam a lealdade ao

fabricante. A análise dos dados da pesquisa mostrou também que os clientes

não são tão tolerantes às falhas de serviços prestados pela concessionária

quanto são tolerantes com o fabricante com relação às falhas do veículo.

Estas conclusões da pesquisa de Archer e Wesolowsky (1996) indicam

que para medir e melhorar a satisfação dos clientes com o automóvel e com a

qualidade dos serviços, os fabricantes devem desenvolver, administrar e

monitorar a política de prestação de serviços de suas concessionárias ao longo

de todo o tempo que o cliente possuir o automóvel.

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Ehinlanwo e Zairi (1996) concordam com esta idéia e reforçam que as

melhorias no pós-venda das montadoras e concessionárias só podem ocorrer

com a compreensão de que a satisfação futura dos clientes é fortemente

influenciada pela qualidade da entrega do serviço pós-venda. Segundo estes

autores, as ofertas de design, tecnologia e preço dos automóveis estão se

tornando cada vez mais difíceis de se diferenciar e o pós-venda apresenta um

grande potencial de diferenciação que os fabricantes podem utilizar para

fortalecer as suas operações

Diversos estudos, como por exemplo Tax (1998) e Brown (1997),

indicam que clientes insatisfeitos podem comentar a sua experiência com o

serviço recebido com aproximadamente 10 a 20 pessoas. Com o crescente uso

da Internet, a comunicação entre os clientes se tornou ainda mais rápida e

abrangente.

Liu (1998) demonstrou que um serviço de pós-venda favorável melhora

o nível de serviço percebido pelo cliente em 8%, a qualidade geral do serviço

em 7% e as intenções comportamentais em 20%. Estas descobertas são

especialmente importantes quando se considera que as intenções

comportamentais incluem recomendações positivas a outros consumidores e

repetição da compra, ambos fatores que contribuem para aumento das vendas

através do aumento na retenção de clientes e atração de novos clientes.

Reichheld e Sasser (1993) alegam que clientes leais são mais

lucrativos para a empresa. Os autores afirmam que essa lucratividade é

gerada por custos reduzidos com o serviço, menor sensibilidade a preço,

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aumento nos gastos e recomendações favoráveis passadas para outros

clientes potenciais por compradores leais. Acrescentam ainda que é muito

mais caro atrair um novo cliente para fazer negócios com uma empresa do que

fazer um cliente existente comprar novamente, e a estratégia de ganhar e

manter a lealdade parece ser fonte de vantagem competitiva sustentável.

Cristopher (1999) cita que um estudo no setor norte-americano de

automóveis revelou que é provável que um cliente satisfeito fique com o

mesmo fornecedor por mais de 12 anos depois da primeira compra satisfatória

e que, durante esse período, compre mais quatro carros da mesma marca.

Segundo Inglis (2002), cada vez mais o serviço pós-venda é

reconhecido como parte integrante da cadeia de valor. Ele cria valor

econômico, uma vez que freqüentemente representa a melhor oportunidade de

maior margem de lucro. Também mostra ser um excepcional mecanismo para

reunir informações sobre os clientes e acompanhar o desempenho dos

produtos. E, quando ajustado apropriadamente, serve de plataforma sobre a

qual as empresas podem alimentar fortes e crescentes relacionamentos com

seus mais desejados clientes, os lucrativos.

O mesmo autor afirma que empresas que superam as expectativas em

suas atividades de pós-venda também conseguem aumentar a lealdade dos

clientes e a sua retenção de longo prazo, o que representa um benefício

significativo, uma vez que o custo de conquistar um novo cliente é estimado em

três a seis vezes o custo de manter um cliente existente. Apesar desse custo,

muitas companhias perdem mais da metade de seus clientes a cada cinco

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anos. Pelo fato dos serviços serem menos suscetíveis a comoditização, eles

oferecem às empresas a oportunidade de estancar a deserção dos clientes e

promover a extensão da marca.

Segundo Ehinlanwo e Zairi (1996), a demanda cíclica e estagnada, a

forte consciência de custo/benefício, o aumento da ênfase em serviços e as

pressões econômicas gerais reduziram o poder de compra e têm forçado que

a indústria automobilística desenvolva estratégias voltadas para o aumento da

lealdade à marca entre os consumidores. Existe uma necessidade de garantir

que os consumidores presentes estejam não apenas satisfeitos, mas

continuamente encantados. O setor de pós-venda representa um meio de

manter um contato contínuo entre os fabricantes e os clientes através das

concessionárias. Como resultado do sistema singular de marketing vertical

praticado na indústria automobilística e o fato do balanço de forças favorecer

aos fabricantes de automóveis, eles têm sido forçados e devem assumir a

liderança no processo de pós-venda voltado para a retenção dos clientes finais

através de sua satisfação total. Ehinlanwo e Zairi enfatizam ainda que além de

ser lucrativo, o mercado de pós-venda é menos sujeito às variações dos ciclos

econômicos.

2.3 Etapas do serviço pós-venda

Para Cristopher (1997), o serviço ao cliente pode ser dividido em

atividades que ocorrem antes, durante e depois da venda. Em seu estudo

sugere que o serviço ao cliente poderia ser examinado sob três títulos:

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1. Elementos da pré-transação;

2. Elementos da transação;

3. Elementos da pós-transação.

Os elementos da pré-transação do serviço ao cliente relacionam-se às

políticas ou programas da corporação, ou seja, declarações escritas da política

de serviço, adequação da estrutura organizacional e flexibilidade do sistema.

Os elementos da transação são aqueles variáveis do serviço ao cliente

diretamente envolvidos no desempenho da função de distribuição física, como

a confiabilidade do produto e da entrega. Os elementos da pós-transação são

geralmente aqueles que apoiam o produto enquanto este estiver em uso,

introduzindo então o conceito de serviço pós-venda. Para o autor, o pós-venda

é composto das seguintes etapas:

• Garantia do produto;

• Peças e serviços para assistência técnica;

• Procedimentos para reclamações do cliente e recuperação do

serviço.

2.3.1 Garantia do produto

De acordo com Archer e Wesolovsky (1996) há um ciclo distinto no

processo de posse de um automóvel, que inclui as seis fases mostradas na

tabela 1 abaixo. A avaliação do produto e do serviço de suporte a este produto

ocorre durante as fases do histórico de sua posse devido as interações com

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as funções de venda e pós-venda da concessionária. Podem ocorrer ainda

interações com o fabricante em casos que envolvem disputas sobre cobertura

de garantia.

Tabela 1 – Fases do ciclo de posse do automóvel

Fase Serviços de suporte Cobertura de garantia

1. Aquisição Vendas -

2. Entrega Vendas e Manutenção Sim

3. Break in Manutenção Sim

4. Early Life Manutenção Sim

5. Mid Life Manutenção Estendida

6. Desgaste/Obsolescência Manutenção Nenhuma

Fonte: Archer e Wesolovsky (Journal of Operations Management, 14 , 1996).

Para estes autores, o serviço pós-venda inicia-se na fase de entrega

quando o automóvel chega ao concessionário e é inspecionado e preparado

para ser entregue ao cliente.

Durante o período inicial, enquanto o consumidor está se familiarizando

com o produto, alguns incidentes críticos podem ocorrer devido às falhas ou

problemas iniciais que são descobertos, ou porque o produto não é exatamente

o que o cliente esperava. Os defeitos não relacionados com o design são

normalmente cobertos pela garantia e a concessionária é responsável por

repará-los. Durante as fases nova e meia-vida dos produtos, a cobertura

normal de garantia provavelmente cobrirá as falhas em componentes do

automóvel. Se o automóvel for coberto por garantia estendida, a cobertura

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poderá se estender até o meio da vida do produto. Finalmente, quando o

automóvel já se tornou velho, não será mais coberto pela garantia e o seu

proprietário deverá arcar integralmente com os custos dos reparos.

Segundo Blischke e Murthy (1994), a garantia do produto desempenha

um papel importante no complexo relacionamento entre fabricante,

concessionário e proprietário do veículo. De acordo com estes autores, a

maneira como os serviços de garantia são executados podem afetar a

percepção do proprietário do veículo com relação ao concessionário, ao

automóvel e ao fabricante, com um impacto potencial na repetição das vendas.

Também pode resultar em uma propaganda boca a boca feita pelos

proprietários a qual influenciará a possibilidade de compras futuras por outros

consumidores.

Em algumas indústrias, como a automobilística, por exemplo, as

solicitações de serviços em garantia representam uma parte substancial do

lucro do distribuidor. Este é um mercado essencialmente cativo, uma vez que

somente os distribuidores autorizados pelo fabricante podem prestar o serviço

de assistência técnica coberto pela garantia.

2.3.2 Peças e serviços de assistência técnica

Esta etapa do serviço pós-venda ocorre no momento que o cliente

necessita ir até uma concessionária levar o seu veículo para fazer um serviço

de manutenção ou simplesmente comprar uma peça para ser substituída em

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seu automóvel. É neste momento que ocorre o encontro de serviço e o cliente

interage com a concessionária. Os ambientes aonde o cliente passa a maior

parte do tempo interagindo com a concessionária são a recepção da oficina e o

balcão de venda de peças e acessórios.

De acordo com Bitner (1990) os encontros de serviços são momentos

críticos da verdade durante os quais os clientes desenvolvem uma impressão

indelével da empresa. De fato, do ponto de vista do cliente, muitas vezes o

encontro é o serviço. Encontros de serviços têm sido definidos como o

momento de interação entre o cliente e a empresa por Bitner et al (1994),

Keaveney (1995), Shostack (1985), Winsted (1997). Segundo estes autores,

cada encontro é uma oportunidade que a empresa tem de se vender, reforçar

suas ofertas e satisfazer o consumidor. Entretanto, cada encontro é também

uma oportunidade de desapontar o cliente.

Pesquisas prévias têm ilustrado como são importantes os encontros de

serviços individuais para o sucesso de uma empresa. Os encontros de

serviços têm afetado importantes resultados tais como a satisfação dos clientes

(PARASURAMAM et al 1985; BITNER et al 1990; BITNER e HUBBERT, 1994;

SMITH e BOLTON, 1998), a intenção de recompra (BITNER, 1990;

KEAVENEY, 1995; SMITH e BOLTON, 1998; MEUTER et al 2000),

comunicação boca a boca (BITNER,1990; KEAVENEY, 1995; TAX et al 1998;

MEUTER et al 2000), qualidade do relacionamento (CZEPIEL, 1990; BOLTON,

1998) e lealdade (GREMLER e BROWN, 1999). Encontros de serviços mal

sucedidos ou frustrados podem resultar em custos significativos para a

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empresa tais como executar o serviço novamente, ter que compensar o

cliente por baixa performance, perda de clientes e gerar um boca a boca

negativo (BITNER et al 1994; KEAVENEY,1995; TAX e BROWN,1998).

Pesquisas empíricas também afirmam a importância dos encontros de serviços

para a avaliação global da qualidade dos serviços (PARASURAMAN et al

1994). “Em muitos serviços, a qualidade ocorre durante a entrega do serviço,

freqüentemente na interação entre o cliente e o pessoal de contato da

empresa prestadora do serviço” (ZEITHAML et al 1988).

Para Bitner (1995), Kotler e Armstrong (1997) a importância dos

encontros de serviços é visível nos sistemas estratégicos usado para gestão de

serviços. Segundo estes autores, para entregar o serviço de forma bem

sucedida, é preciso também um marketing interno efetivo. A empresa deve

concentrar-se em capacitar os empregados para fornecer serviços satisfatórios

com o uso de recursos apropriados tais como: treinamento e incentivos. Para

Bitner et al (2000), do ponto de vista do consumidor estes encontros são o

serviço. Citando diversos exemplos de encontros de serviços, os autores

afirmam que enquanto os encontros desempenham diferentes papéis, em cada

caso o encontro individual pode ser crítico na determinação do comportamento

futuro do cliente com relação à companhia. O foco das pesquisas sobre

encontro de serviços em fatores interpessoais não é surpresa uma vez que

muitos encontros de serviços têm sido tradicionalmente facilitados pelo contato

interpessoal.

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O trabalho de Bitner et al (2000) mostra que a tecnologia pode ser

utilizada por ambos, empregados e clientes, como um facilitador da satisfação

com o encontro de serviços. Os autores afirmam que com o uso efetivo da

tecnologia é possível melhorar a percepção do cliente ao experimentar o

serviço. Quando utilizado pelo fornecedor, a tecnologia pode tornar os

empregados mais eficientes. Por exemplo, em situações de serviços ao

cliente, a tecnologia pode possibilitar que informações e dados sobre o cliente

sejam armazenados e facilmente acessados pelos empregados para criar mais

valor nas suas interações com os clientes. Uma quantidade muito grande de

informações que não seriam mais recordadas, armazenadas e ordenadas no

passado, hoje são disponibilizadas para os funcionários através de um simples

toque numa tecla de computador. (BITNER et al 2000)

De acordo com Bettencourt e Gwinner (1996), Bitner (1990) e Kelley

(1993) os clientes esperam “customização” e flexibilidade nos encontros de

serviços. Os clientes não gostam de regras rígidas, eles querem serviços que

combinem com as suas necessidades individuais, e não entendem quando as

regras não podem ser quebradas ou adaptadas. Além do mais, os clientes

também apreciam a característica única dos serviços de permitir ao prestador

ajustar e fazer adaptações durante a produção do serviço para atender à

necessidade individual do consumidor. A habilidade de adaptar em tempo real

é uma vantagem distinta para prestadores de serviços que se empenham em

ser compreensivos com o desejo dos clientes por serviços individualizados.

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Segundo Fisher (1998), Hart (1996), Peppers, Rogers (1997) e Pine

(1993), uma customização bem sucedida tem sido largamente refletida na

habilidade dos funcionários de contato em reconhecer uma situação e adaptar

a entrega ou o próprio serviço de acordo com esta. De qualquer forma,

pesquisadores e executivos reconhecem o papel crítico que a tecnologia pode

desempenhar na habilidade de uma empresa personalizar as suas ofertas de

serviços. De fato, tem sido argüido que a habilidade de personalizar é um dos

benefícios chaves de se implementar a tecnologia na entrega dos serviços

(QUINN, 1996). Este autor afirma que a flexibilidade na entrega dos serviços é

“um dos mais importantes ganhos que a tecnologia produz”. E, mais ainda, a

tecnologia também permite aos empregados de contato lidar com situações

complexas, que jamais poderiam ser conduzidas manualmente.

Empresas em todas as indústrias podem personalizar as suas ofertas

provendo seus funcionários da linha de frente com ferramentas tecnológicas

afiadas. Esta automação da linha de frente inclui diversas ferramentas tais

como poderosos bancos de dados, automação da força de vendas,

gerenciamento de call-centers, ferramentas de configuração e muitas outras

aplicações. Estas ferramentas permitem que as grandes empresas

personalizem os encontros de serviços de forma a assemelhar-se ao

atendimento prestado pelas pequenas empresas.

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2.3.3 Reclamações do cliente e a importância da recuperação do serviço

Ainda que as empresas melhorem continuamente as suas ofertas e a

entrega dos serviços, nem todos os encontros são bem sucedidos. Os clientes

esperam uma recuperação efetiva do serviço quando ocorrem as falhas

(BITNER, 1990; SMITH e BOLTON, 1998; TAX e BROWN 1998). Recuperação

do serviço tem sido descrito como as ações que o prestador toma em resposta

a uma falha no serviço (SMITH e BOLTON, 1998). Segundo Tax e Brown

(1998), falhas em recuperar efetivamente podem levar a resultados negativos

tais como a perda de clientes, gerar boca a boca negativo e diminuição dos

lucros. De acordo com os trabalhos de Smith e Bolton (1998) e Tax e Brown

(1998), a recuperação do serviço é um momento crítico da verdade e uma

oportunidade para as empresas agradarem e reterem clientes. Segundo Hart

et al (1990) e Tax e Brown (1998), os esforços de recuperação precisam ser

aprimorados pois a maioria dos clientes que reclamaram estão insatisfeitos

com a forma como as suas reclamações recentes foram tratadas.

Diversos estudos qualitativos têm explorado a importância de uma

recuperação efetiva do serviço e as suas ligações com resultados benéficos.

Bitner (1990) e Johnston (1995) mostraram que uma reação positiva de um

funcionário a uma falha no sistema de entrega do serviço pode levar

diretamente à satisfação do cliente. Bitner (1990) mostrou que um estudo de

incidentes críticos, 23% dos encontros satisfatórios foram devido diretamente à

resposta do funcionário à falha do serviço. Um estudo de Johnston (1995)

descobriu que 53% dos casos satisfatórios examinados estavam baseados em

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recuperação de falha de serviço bem sucedida. De fato, Johnston (1995)

percebeu que a maioria das experiências satisfatórias surgiu do resultado de

algo que deu errado e a organização recuperou efetivamente. Isto mostra que

uma experiência adversa com um encontro de serviços pode ser corrigida com

um esforço efetivo de recuperação. Isto torna também aparente que um esforço

de recuperação ineficaz irá causar um descontentamento ao cliente.

Pesquisas recentes tem investigado os benefícios de se incentivar as

reclamações dos clientes (LOVELOCK, 1994; CHU, 1998; TAX e BROWN,

1998). As reclamações são necessárias para se instituir um esforço de

recuperação. Sem um sistema para receber e tratar as reclamações, uma

empresa pode não ter ciência dos problemas existentes e não tomar nenhuma

atitude para apaziguar os clientes insatisfeitos. De acordo com Tax e Brown

(1998, p.77) “A maior barreira a uma efetiva recuperação do serviço e para o

aprendizado organizacional é o fato que apenas 5 a 10% dos clientes

insatisfeitos reclamam em seguida a uma falha do serviço”.

2.4 Evitando a deserção de clientes em serviços pós-venda

Em seu estudo sobre comportamento de substituição de serviço,

Keaveney (1995) desenvolveu um modelo de comportamento de mudanças

realizados pelos clientes em setores de serviços. A figura 1 ilustra este

modelo. O objetivo de sua pesquisa foi ajudar gerentes e pesquisadores a

entender a deserção do ponto de vista do cliente. O trabalho de Keaveney

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(1995) evidenciou e classificou os principais motivos pelos quais os clientes

trocam de prestador de serviço.

Inconveniência• Locação/horas• Esperar por encontro• Esperar por serviço

Falha de serviço nuclear• Erros no serviço• Erros na cobrança• Catástrofe no serviço

Problemas éticos• Trapaça• Venda difícil• Insegurança• Conflito de interesse

Concorrência• Encontrou serviço

melhor

Mudança involuntária• Cliente mudou• Prestador fechou

Preço• Preço alto• Aumento de preço• Formação de preço

injusta• Formação de preço

ilusória

Resposta a falha noserviço• Resposta negativa• Sem resposta• Resposta relutante

Falhas no encontro deserviço• Insensibilidade• Descortesia• Falta de reação• Falta de conhecimento• Formação de preço

ilusória

Comportamentode mudança deserviço

Busca por novoserviço• Boca a boca• Comunicação de

marketing

Boca a boca sobremudança de serviço• Histórias pessoais• Reclamação

Figura 1 – Um modelo de comportamento de mudança de serviço

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A categoria “formação de preço” incluiu todos os comportamentos de

mudanças críticos envolvendo preços, taxas, honorários, cobranças,

sobretaxas, cobrança de serviço, multa, preços especiais, cupons ou preços

promocionais. O preço foi a terceira categoria que mais levou o consumidor a

trocar de prestador de serviço.

A categoria “inconveniência” inclui todos os incidentes críticos nos quais

o cliente sentiu-se incomodado pela localização do prestador de serviço, o

horário de funcionamento, o tempo de espera pelo serviço ou o tempo de

espera para conseguir uma hora marcada. A categoria que mais levou os

consumidores a mudar de prestador de serviço foi a de falhas no núcleo do

serviço. Falhas no núcleo do serviço incluíram todos os incidentes críticos que

foram devidos a erros ou outros problemas técnicos com o serviço

propriamente dito. Para a autora da pesquisa, encontros de serviços foram

definidos como interações pessoais entre clientes e funcionários de empresas

prestadoras de serviço. Falhas em encontros de serviços foram a segunda

principal categoria de motivos para a mudança de prestador de serviço.

A categoria “resposta de funcionários a falhas de serviço” inclui

incidentes críticos de mudança nos quais os clientes mudaram não por causa

de uma falha no serviço, mas porque os prestadores de serviço deixaram de

controlar a situação de maneira adequada. A categoria “atração por

concorrentes” incluiu incidentes críticos de mudança nos quais os clientes

contaram histórias sobre mudar para um prestador de serviço melhor, e não

por estarem insatisfeitos com um determinado prestador de serviços. Os

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clientes mudaram para prestadores de serviços que eram mais agradáveis,

mais confiáveis ou forneceram mais qualidade. Muitos clientes mudaram para

um serviço melhor mesmo quando o novo prestador era mais caro ou menos

conveniente. A categoria “problemas éticos” incluiu incidentes críticos de

mudança que descreveram comportamentos ilegais, imorais, perigosos,

insalubres ou outros que se afastaram muito dos padrões sociais. Mais de 7%

de todos os incidentes críticos referiam-se a comportamento antiético do

prestador de serviços como pelo menos parte do motivo para a mudança. Esse

percentual aumentou para quase 9% quando se acrescentam formação ilusória

de preço e práticas para atrair clientes (categorizadas como formação de

preço). A categoria mudança involuntária incluiu histórias que descreveram

mudanças devidas a fatores altamente fora do controle do cliente ou do

prestador de serviço. Elas incluíram mudanças involuntárias devidas a

mudança de localização do prestador de serviço, do cliente ou mudança de

adesão da seguradora ou outra pagadora.

Este modelo de comportamento de mudança dos clientes em setores

de serviços oferece várias implicações para os executivos de empresas

prestadoras de serviços. A necessidade de desenvolver estratégias de

retenção de clientes pode ser mais premente em serviços freqüentemente

mencionados na pesquisa como é o caso de conserto de automóveis e

relacionamento com seguradoras; entretanto, até serviços com

relacionamentos mais intensos não ficaram imunes a mudanças de clientes.

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Uma aplicação importante do modelo é a de que seis dos oito

geradores de mudança de fornecedor de serviço são controláveis do ponto de

vista da empresa prestadora. As categorias sugerem áreas nas quais os

gerentes podem tomar medidas para prevenir a mudança dos clientes.

Segundo Fitzsimmons e Fitzsimmons (1994), para se reduzir a deserção de

clientes devido a falhas no núcleo de serviços deve-se prestar um serviço

tecnicamente correto através de uma filosofia de “ausência total de erros”. Os

trabalhos de Berry e Parasuraman (1991) e Hart et al (1990) defendem a

importância de se desenvolver políticas para recuperações eficazes de serviço

para se evitar a mudança de clientes devido a falhas em resposta para

problemas em serviços. A proposta de que a mudança dos clientes pode ser

causada por inconveniência implica em que o gerenciamento eficaz de filas, a

prestação rápida do serviço e o gerenciamento eficiente de sistemas de

reservas poderiam reduzir deserções.

Segundo Keaveney (1995), as deserções de clientes causadas por

interações insatisfatórias funcionário/cliente poderiam ser reduzidas ensinando-

se os funcionários a ouvir os clientes, retornar telefonemas rapidamente,

manter os clientes informados e explicar procedimentos e proporcionando-se

conhecimento técnico de ponta para funcionários. Para a autora, a proposição

de que os clientes podem mudar de serviços por motivos relacionados a preços

determina uma necessidade de gerenciamento cuidadoso de políticas de

formação de preço, principalmente quando as empresas prestadoras de

serviços cobram preços acima da concorrência ou se estão pensando em

aumentar os preços dos serviços ou multas. No caso das questões reunidas

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32

na categoria de “problemas éticos”, Hunt e Vasquez-Parraga (1993), sugerem

que as empresas prestadoras de serviços poderiam desenvolver sistemas de

controle baseados em comportamento para premiar condutas éticas e

desencorajar condutas não éticas entre funcionários de contato.

2.5 Estabelecimento de um programa de serviço pós-venda

Segundo Takeuchi e Quelch (1983), mesmo produtos bem desenhados

e livres de defeitos podem ser um fracasso se não se encaixam nas

percepções que os clientes têm de alta qualidade e se não dispõe de um

serviço de pós-venda apropriado. Neste sentido, os autores argumentam que

as empresas devem seguir atentamente as mudanças na percepção de

qualidade por parte dos clientes e proporcionar um bom serviço pós-venda.

Dado que as necessidades de serviços variam ao longo da vida do produto, as

empresas devem se manter em contato com os clientes para saber quais são

as suas necessidades mais importantes. Antes de desenvolver um programa

de serviço pós-venda, a empresa deve realizar uma auditoria de serviços, que

consiste na análise dos serviços que a empresa está prestando em

comparação com a concorrência. Conhecendo estes dados, as empresas

podem saber se os serviços que prestam são adequados.

As empresas devem assegurar-se que oferecem aquilo que os clientes

buscam. A qualidade deve estar baseada no que os clientes querem. No

desenvolvimento de programa de serviço pós-venda as empresas devem ter

em conta dois grupos de questões fundamentais. O primeiro grupo consiste em

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33

como definem a qualidade os clientes e por que estão exigindo mais qualidade

que no passado. O segundo se refere a importância que tem a qualidade do

serviço pós-venda.

De acordo com Inglis (2002), as empresas devem encarar o serviço

pós-venda do ponto de vista estratégico e lhe conferir a atenção e o nível de

investimentos necessários. No entanto, o maior desafio está na capacidade de

fornecer ao consumidor os resultados prometidos.

Para este autor, para que uma empresa transforme seu departamento

de serviços em uma fonte valiosa de vantagem competitiva, a empresa precisa

criar uma estratégia de serviços voltada para o cliente que gere receitas e

lucros significativos e crescentes. Em seguida, elas têm de executar essa

estratégia de forma a ampliar significativamente a eficiência e aumentar a

retenção de clientes a longo prazo.

Inglis (2002) enfatiza que as empresas líderes devem alinhar seus

processos internos em torno das expectativas e da satisfação do consumidor.

Elas devem criar um ambiente voltado para a lealdade e a retenção de clientes.

Concentrar-se em ser as “melhores da classe” em satisfação dos clientes. E,

finalmente, desenvolverem parâmetros de negócios com base em

relacionamentos e lucratividade de longo prazo, em vez de focalizar transações

isoladas.

Desenvolver uma estratégia que antecipe e atenda com sucesso às

necessidades pós-venda dos consumidores é uma tarefa complexa. De acordo

com o autor, o primeiro passo em direção à excelência nos serviços é criar uma

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estratégia de serviços que esteja bem “amarrada” à estratégia corporativa da

companhia.

As empresas que compreendem as nuanças do atendimento ao

consumidor começaram a se mover em direção à personalização em massa

há poucos anos, à medida que fizeram a personalização de seus produtos.

Segundo Mathe e Shapiro (1993), essa abordagem de fazer as coisas sob

medida, entretanto, requer monitoramento ativo do uso do produto,

acompanhamento acurado dos estágios de ciclo de vida e gerenciamento

estratégico dos contatos com os clientes.

Inglis (2002) afirma que somente as empresas capazes de gerenciar

informações e de executar serviços - capacidades estas que lhes permitem

operar em um nível bem específico - vêm sendo bem sucedidas.

A informação é essencial para a eficácia do serviço (que se pode

traduzir na rapidez de resposta e em altos índices de acerto na primeira vez) e

para sua eficiência. A informação é mais que um elemento capacitador, ela é

fundamental para aumentar o sucesso do serviço. E quanto mais falta faz um

produto que quebra, mais valiosos são os canais de conteúdo informativo e de

comunicação.

Ainda segundo Inglis (2002), para proteger seu mercado, é

fundamental comparar suas ofertas de serviços com as de seus concorrentes e

refocalizar as capacidades de modo a diferenciar suas ofertas e a gerar

barreiras para a entrada de concorrentes neste mercado.

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35

Estabelecer preços de acordo com a estratégia também é vital. Uma

política eficaz de precificação de serviços leva em consideração tanto

estratégias baseadas em produtos como a economia do ciclo de vida.

Por sua vez, Cristopher (1999) afirma que os relacionamentos

duradouros com os clientes baseiam-se na constante prestação de um serviço

superior. Alcançar o nível e a qualidade de serviço que os clientes esperam

requer uma clara compreensão das principais questões relacionadas ao

serviço, combinada com o compromisso de cumprimento do serviço prometido.

A considerar que a retenção de clientes é um fator determinante da

rentabilidade a longo prazo e que a qualidade do atendimento ao cliente está

claramente relacionada à retenção, o autor afirma que o principal determinante

da satisfação dos clientes é o grau de sua satisfação em relação ao serviço

que ele recebe.

Um requisito fundamental para uma organização que busca se tornar

líder em serviço é saber, de maneira detalhada e objetiva, como os clientes

definem serviço. Sabendo isso, as estratégias podem ser traçadas e os

sistemas desenvolvidos para atender ou, de preferência, superar as

expectativas do cliente.

O raciocínio proposto é que as organizações precisam definir o serviço

baseadas no que é relevante para os clientes, adotar as definições de serviço

deles e reinventar os processos de maneira a direcioná-los para o

cumprimento dessas metas de serviço.

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36

Em seu outro livro, Cristopher (1997) afirma que todas as estratégias e

sistemas de prestação de serviço ao cliente deveriam ser planejados na

seqüência abaixo:

1. Identificar as necessidades de serviço do cliente;

2. Definir os objetivos do serviço ao cliente;

3. Projetar o serviço.

Para o autor, esta seqüência deve ser tal que um entendimento

detalhado das necessidades dos clientes conduza a uma definição dos

objetivos do serviço ao cliente. Posteriormente, esta relação de objetivos do

serviço ao cliente deve se tornar o ponto focal em torno do qual o serviço deve

ser projetado.

Cristopher (1997) enfatiza que o serviço ao cliente é perceptivo.

Qualquer que seja o desempenho de serviço avaliado pelas medidas internas,

somente as percepções representam a realidade. Embora estas medidas

internas proporcionem medidas úteis de produtividade, muitas vezes não

refletem realmente o que o cliente valoriza. Daí ser crítico o desenvolvimento

de um conjunto de critérios de serviços que seja significativo para os clientes.

O autor enfatiza ainda que é primordial o entendimento dos fatores que

influenciam o comportamento do comprador e, no contexto do serviço ao

cliente, quais os elementos específicos que são vistos por ele como os mais

importantes.

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Cristopher (1997) sugere que a abordagem da estratégia de serviço

pós-venda mais adequada ao atual enfoque na qualidade total é a idéia de que

a meta de qualquer organização deve ser sempre cumprir a promessa de

serviço. Essa abordagem evidentemente requer uma compreensão das

necessidades dos clientes, assim como do valor que eles atribuem a cada

elemento do serviço. Também requer certo grau de flexibilidade organizacional,

para o fornecimento desses pacotes de serviços, e uma revisão dos métodos

de avaliação do desempenho dos serviços.

2.5.1 Execução eficaz

O diferencial competitivo de qualquer estratégia está na capacidade de

execução. Levar a cabo uma estratégia de serviço pós-venda com eficácia é

algo que requer o mesmo grau de comprometimento e atenção que o

planejamento.

Inglis (2002) afirma que empresas líderes em excelência de serviços

seguem as seguintes ações chaves:

1. Gerenciam os contatos com os clientes para aumentar a eficácia e

a eficiência;

2. Estruturaram a organização para esta ser mais voltada para o

cliente;

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3. Gerenciam a força de trabalho para atender à demanda de modo

confiável e eficaz;

4. Constróem a competência de seu pessoal ;

5. Gerenciam o desempenho para equilibrar custos, qualidade e

atendimento.

Ao gerenciar melhor os contatos com os clientes, os departamentos de

serviços podem aumentar sua eficiência e satisfazer melhor - ou até exceder –

as expectativas dos clientes. Coerência é outra questão fundamental. Os

clientes devem receber o mesmo nível de serviço de todos os funcionários da

empresa, assim como respostas coerentes entre si para todas as perguntas

que fizerem, mesmo que mudem de um canal de comunicação para outro (por

exemplo, do telefone para o e-mail).

Por meio do ativo gerenciamento das necessidades dos clientes no que

tange a produtos ou serviços, a unidade de serviço de pós-venda pode atender

à demanda de forma mais confiável. A força encarregada dos serviços em si

geralmente é uma excelente fonte de informação sobre o que acontecerá com

o desempenho dos produtos. Garantir a qualificação da força de trabalho com

treinamento e programas de retenção é essencial para ter funcionários eficazes

e ligados no negócio. À medida que uma empresa reforça seu foco no cliente,

torna-se necessário estruturar sua organização para dar apoio ao novo foco.

Mesmo a mais seleta estratégia e o modelo operacional escolhido com

cuidado dependem da capacidade de captar e gerenciar ativamente as

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informações sobre o desempenho de produtos. Sem isso, a eficácia e a

eficiência dos serviços vão rapidamente erodir. Um bom programa de

mensuração de desempenho deve ter foco bem definido e abranger a

organização inteira. Além disso, as medidas escolhidas têm de ser específicas,

baseadas em fatores críticos e controláveis e alinhadas com metas

estratégicas. Também devem fornecer à empresa informações úteis que sejam

relevantes para os resultados. Por fim, a informação sobre a mensuração do

desempenho é um elemento chave, uma vez que revela as áreas e habilidades

que precisam de aperfeiçoamento.

2.5.2 Padrões de serviço pós-venda

Para Cristopher (1997), a maneira pela qual a qualidade total do

resultado de qualquer processo pode ser alcançada é controlando

constantemente esse processo. Normalmente, em um ambiente de produção

que busca a melhoria da qualidade, os gerentes tentam conhecer os elementos

fundamentais do processo no qual, se ocorrer uma falha a qualidade da

produção é afetada. Portanto, uma vez conhecidos esses “pontos de falhas”

potenciais, a prioridade é monitorá-los e controlá-los constantemente. As

mesmas técnicas de controle de processo podem ser aplicadas com sucesso

ao controle dos processos de prestação de serviços, o que exige que o

processo seja claramente compreendido e definido. Em geral, isso envolve um

mapeamento detalhado e a construção do fluxograma de cada aspecto de um

processo.

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Quando se evidenciam as áreas problemáticas, quase sempre são

encontrados meios de introduzir sistemas de “proteção a falhas”. Em todo caso,

é essencial que esses pontos problemáticos sejam monitorados

constantemente, para que possíveis problemas sejam identificados com

rapidez. Para este autor, todas as definições de serviço deveriam ser geradas

pelos clientes e todas as avaliações de desempenho do serviço deveriam ser

comparadas com os padrões de avaliação dos clientes.

Para Cristopher (1997), os padrões de serviço devem ser controlados,

e isto deverá ser feito de acordo com padrões pré-determinados. O autor afirma

que em última análise, o único padrão a ser alcançado é aquele que

proporciona 100% de conformidade com as expectativas do cliente. Isto requer

um entendimento claro e objetivo das exigências do cliente e ao mesmo tempo

obriga o fornecedor do serviço a atendê-la.

Para se determinar quais são os elementos do serviço ao cliente para

os quais devem ser estabelecidos padrões é preciso considerar se os padrões

internos refletem os padrões exigidos pelos clientes externos. No que diz

respeito aos padrões externos eles devem ser definidos pelos próprios clientes.

Citando que o ideal para as organizações seria estabelecer padrões e

monitorar o desempenho através de uma gama de medidas de serviço ao

cliente, o trabalho de Cristopher (1997) utiliza como exemplo de padrões

valiosos, para indicadores de desempenhos, o índice de conserto na primeira

chamada, a reclamação dos clientes e a disponibilidade de peças

sobressalentes. Para o autor, estes índices podem ser uma ferramenta útil de

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gerenciamento, particularmente para a comunicação interna do desempenho

do serviço.

Segundo Harvey (1988), as empresas de serviços precisam de formas

de cristalizar, simplificar, comunicar e controlar a implementação de suas

escolhas relativas à qualidade. Os padrões de serviço referem-se a estas

escolhas. O autor define um padrão de serviço como um guia ao qual os

prestadores sempre se referem para determinar se estão fornecendo o nível

certo de serviço. Possui significado operacional para os prestadores e permite

a rápida detecção e correção de qualquer curso adverso. Os índices permitem

que se rastreie o progresso ao longo do tempo, para comparações interfiliais e

para benchmarking externo. Um sistema de mensuração finamente sintonizado

detectará desvios ou tendências enquanto ocorrem e possibilitará a correção

mais cedo, reduzindo o impacto adverso para o cliente.

Takeuchi e Quelch (1983) destacam também a importância de se

estabelecer padrões de performance quantitativos para elementos do pacote

de serviço e sugerem que se deve fazer uma análise dos desvios entre os

resultados reais obtidos e os padrões propostos.

2.6 Resumo e proposta de modelo para a pesquisa

Durante este capítulo foram apresentados o conceito de serviço pós-

venda, sua importância, suas etapas e algumas propostas de como estabelecer

um programa de serviço pós-venda.

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42

Consolidando as diversas opiniões dos autores pesquisados e

considerando as particularidades do setor onde a pesquisa foi realizada, este

capítulo se encerra com uma proposição de modelo para o serviço pós-venda

de concessionárias de automóveis. Tal modelo será usado para analisar o caso

que será descrito no capítulo 4.

O quadro abaixo resume as etapas que o modelo para implantação de

um programa de serviço de pós-venda deve contemplar e os principais tópicos

citados na revisão de literatura relativos a cada etapa.

Quadro 1 – Modelo proposto para um programa de serviço pós-venda.

Etapas Tópicos importantes

1

Motivaçãoestratégica:

• Lealdade ao produto e disseminação de comentários positivos(MATHE e SHAPIRO,1993);

• Rentabilidade a longo prazo e extensão da marca (INGLIS,2002;CRISTOPHER, 1997; KEAVENEY,1995)

• Potencial de diferenciação e retenção de clientes (EHINLANWO eZAIRI,1996);

2

Conhecimento danecessidade do

cliente:

• O serviço é perceptivo e deve ser definido baseado no que érelevante para os clientes (CRISTOPHER ,1997);

• As empresas devem alinhar seus processos internos em torno dasexpectativas e da satisfação do consumidor (INGLIS,2002);

• As empresas devem seguir atentamente as mudanças na percepçãode qualidade por parte dos clientes pois as necessidades de serviçovariam ao longo da vida do produto (TAKEUCHI e QUELCH ,1983).

3

Preparação:

• Antes de desenvolver um programa de serviço de pós-venda aempresa deve realizar uma auditoria de serviços TAKEUCHI eQUELCH,1983);

• Refocalizar as capacidades de modo a diferenciar suas ofertas egerenciar informação para ter rapidez de resposta e alto índice deacerto na primeira vez (INGLIS, 2002);

• Utilizar a tecnologia para melhorar a percepção do cliente (BITNERet al 2000).

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43

Etapas Tópicos importantes

4

Execução:

• Os relacionamentos duradouros com os clientes baseiam-se naconstante prestação de um serviço superior (CRISTOPHER,1999);

• Capacidade de fornecer ao consumidor os resultados prometidos(INGLIS, 2002);

• Garantir a qualificação da força de trabalho (INGLIS, 2002);

• Gerenciar os contatos com os clientes (INGLIS, 2002).

• Importância de se executar o serviço corretamente da primeira vez(ARCHER e WESOLOWSKY,1996).

4.1

Gerenciamentodos momentos

da verdade:

• Importância do encontro de serviços para avaliação da qualidadeglobal do serviço (PARASURAMAN et al, 1994);

• Marketing interno efetivo para entregar o serviço de forma bemsucedida (BITNER et al 1994; KOTLER e AMSTRONG ,1997);

• Gerenciamento eficaz de filas e treinamento dos funcionários(KEAVENEY,1995).

4.2

Estratégia derecuperação do

serviço:

• Incentivar as reclamações dos clientes, ter ciência dos problemasexistentes e instituir um esforço de recuperação (LOVELOCK, 1994;CHU, 1998; TAX e BROWN, 1998);

• Oportunidade para agradar e reter clientes (SMITH e BOLTON ,1998;TAX et al 1998);

• Importância de se desenvolver políticas para a recuperação eficaz doserviço para se evitar a mudança do cliente devido a falhas emrespostas para problemas (BERRY e PARASURAMAN,1991; HARTet al 1990).

4.3

Política depreços:

• Política de preços justa e transparente para o cliente (TAKEUCHI eQUELCH ,1983; EHINLANWO e ZAIRI, 1996);

• Análise da concorrência (KEAVENEY,1995);

5

Estabelecimentode padrões e

monitoramentodos processos:

• Monitoramento constante para que possíveis problemas sejamidentificados com rapidez (CRISTOPHER, 1997);

• Os padrões devem ser definidos pelos clientes (CRISTOPHER,1997);

• Ferramenta de gerenciamento e comunicação interna dodesempenho do serviço (HARVEY,1988);

• Análise dos desvios entre os resultados reais obtidos e os padrõespropostos (TAKEUCHI e QUELCH,1983).

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3 METODOLOGIA

O objetivo deste capítulo é descrever a metodologia na qual está

embasada esta pesquisa.

3.1 Pergunta da pesquisa

Como uma empresa montadora de automóveis projeta, organiza, e

executa a reformulação do serviço pós-venda prestado por sua rede de

concessionárias?

3.2 Tipo de pesquisa

Vergara (1997) apresenta dois critérios para tipificar uma pesquisa:

quanto aos fins e quanto aos meios de investigação. Baseando-se nestes

critérios, esta pesquisa é do tipo exploratória - uma vez que há pouco

conhecimento acumulado e sistematizado sobre serviço pós-venda dentro do

setor de concessionárias de automóveis no Brasil - e não visa testar nenhuma

hipótese, podendo, entretanto, surgir hipóteses ao longo da investigação.

Busca-se analisar como a montadora projetou e executou a reformulação do

serviço pós-venda da sua rede de concessionárias, por isto caracterizada como

uma investigação “ex post facto”.

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Segundo Gil (1987, p.44), a pesquisa exploratória tem como finalidade,

entre outras: “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vista

na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses para estudos

posteriores”.

O autor sugere ainda que a pesquisa exploratória é a que apresenta

menor rigor no planejamento, podendo envolver investigação bibliográfica,

entrevistas não padronizadas e estudo de caso. Segundo ele, este tipo de

pesquisa é realizada quando o tema da mesma é muito amplo, tendo como

objetivo apresentar uma visão global aproximada de determinado fato.

Quanto aos meios de investigação, de acordo com Vergara (1997), a

pesquisa é do tipo documental, de campo e estudo de caso. Foi realizada uma

pesquisa de campo na montadora e em algumas de suas concessionárias

autorizadas. O trabalho engloba a realização de entrevistas e uma investigação

documental nos arquivos da área de pós-venda da montadora.

Como método de pesquisa empírica, será adotado o estudo de caso. O

estudo de caso se caracteriza pelo estudo profundo e exaustivo de

determinados objetos ou situações, segundo Vergara (1997) e Gil (1987),

permitindo um detalhamento que os outros métodos não conseguem obter.

Para Gil (1987, p.79), este método “possibilita o estabelecimento de

bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa”, sendo

muito utilizado em pesquisa social pela relativa simplicidade e economia, de

maneira que é bastante recomendado para estudos exploratórios.

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46

3.3 Empresa selecionada

O interesse em realizar esse estudo na Fiat Automóveis S.A. vem do

fato de a empresa ter conquistado a liderança no varejo brasileiro de

automóveis em 2001, e ter conseguido mudar a percepção que os seus

clientes têm da qualidade dos seus produtos, e do serviço pós-venda prestado

por sua rede de concessionárias.

A principio, outras montadoras que implantaram programas de

melhorias no atendimento prestado por suas concessionárias poderiam fazer

parte deste estudo. Entretanto, optou-se por analisar aquela em que o

pesquisador conseguiu acesso às informações. Deve ser destacado também

que o foco do estudo foi apenas no programa implantado na área de pós-

venda.

3.4 Coleta de dados

Dado que a pesquisa tem como objeto de estudo o programa de

padrões de atendimento implantado por uma montadora em sua rede de

concessionárias e que seu objetivo caracteriza-se pela descrição e análise

deste programa, de acordo com Mattar (1996), Green e Tull (1978), o melhor

instrumento para a coleta das informações foi a observação.

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Aaker e Day (1990, p.175) argumentam que apesar da técnica

observacional ser limitada, por estar restrita a um estado corrente, ela

apresenta pontos positivos: ser um importante método exploratório, poder ser

complementar a outros métodos, poder ser mais barata e acurada para coleta

de dados comportamentais e em muitos casos ser a única alternativa

disponível.

Mattar (1996, p.76) classifica a técnica de observação segundo a sua

estruturação. Para ele a observação estruturada é utilizada em pesquisas em

que os problemas e os objetivos já estejam claramente definidos, a fim de

permitirem uma especificação clara, a priori, dos comportamentos ou situações

que serão observados e de suas categorizações para registrar o objeto

observado. Segundo o autor, essa técnica é mais utilizada em pesquisas

conclusivas ou causais.

Por outro lado, a observação não estruturada é utilizada em pesquisas

em que o problema e os objetivos não estejam claramente definidos, havendo,

por isso, necessidade de uma grande flexibilidade para analisar os

comportamentos e situações em observação. Essa técnica é utilizada em

pesquisas exploratórias, pois ela ajudará a definir categorizações para registrar

o que será observado.

Aaker e Day (1990, p.178) apontam como principais limitações desta

técnica o fato dela não permitir a identificação de motivos, atitudes ou

intenções, o que é extremamente útil para diagnósticos; ter alto custo e

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48

consumo de tempo e poder gerar resultados viesados se ocorrerem problemas

amostrais ou se o observador estiver subjetivamente envolvido.

Os dados foram obtidos através de observação de relatórios gerenciais

da montadora e das principais concessionárias do Rio de Janeiro, Minas Gerais

e Espirito Santo e entrevistas individuais com alguns funcionários da área de

pós-venda da montadora e das concessionárias. Foram entrevistados

principalmente os funcionários da área de pós-venda dos escritórios regionais e

os funcionários do departamento de padrões de atendimento que se reportam

à gerência de marketing de pós-venda na fábrica de Betim (MG). Para entender

os aspectos estratégicos do programa foi realizada uma entrevista com o

diretor de pós-venda da montadora.

3.5 Tratamento dos dados

Gil (1987, p.166) sugere alguns passos a serem seguidos,

independentemente do tipo de tratamento a ser dado, tais como:

estabelecimento de categorias; codificação; tabulação; análise estatística dos

dados; avaliação das generalizações obtidas com os dados; inferência de

relações causais e interpretação dos dados.

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, nem todos os passos foram

seguidos nesta pesquisa, pois não se pretende, por exemplo, fazer

generalizações dos resultados obtidos, não é o objetivo de uma pesquisa

exploratória.

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Os dados obtidos nesta pesquisa foram tratados de forma qualitativa,

uma vez que se justifica pelos objetivos propostos e pelo próprio tipo de

pesquisa realizada.

Os escritórios regionais da montadora e suas respectivas

concessionárias foram identificadas por números ( 1,2,3,4,5,6,7,8 e 9), a fim de

se manter o caráter confidencial das informações. As suas sedes ficam nas

seguintes cidades: Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife,

Curitiba e Porto Alegre.

3.6 Limitações do método

Green e Tull (1978, p.66) alertam que uma pesquisa exploratória é

caracterizada por grande flexibilidade e versatilidade ad hoc. Por definição, o

pesquisador está envolvido na pesquisa de um tema sobre o qual ele não tem

conhecimento suficiente para formular a pergunta da pesquisa detalhadamente.

Portanto, não há o desenvolvimento de hipóteses claras sobre o problema. Ao

contrário, o pesquisador procura por informações que o auxiliarão a formular

perguntas e hipóteses mais precisas em pesquisas futuras.

A limitação do estudo diz respeito à impossibilidade de se generalizar,

dado ser de natureza exploratória. Portanto, no máximo poderão ser

desenvolvidas hipóteses para pesquisas futuras. Quanto a isto, Gil (1987, p.44)

acrescenta que os estudos exploratórios constituem a primeira etapa de uma

investigação mais ampla. Eles são desenvolvidos quando o tema em estudo é

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pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses e problemas a

serem pesquisados em estudos posteriores.

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51

4 DESCRIÇÃO DO CASO

4.1 Introdução

Por questões legais2, a distribuição de automóveis no Brasil é

realizada de maneira indireta, ou seja, os fabricantes de automóveis são

impedidos de realizar a distribuição dos veículos diretamente ao varejo. O

canal de distribuição é formado por concessionários que assinam um contrato

de concessão com determinada montadora para comercializar veículos e

peças originais e prestar assistência técnica aos produtos da marca

representada. Desta forma, estas firmas independentes têm direitos e deveres

contratuais para com a montadora. Além disto, todos os anos as

concessionárias assinam um plano de ação onde se comprometem a alcançar

os objetivos comerciais traçados junto com a montadora e as melhorias na

estrutura e na operação de seu negócio. Os interesses comuns fazem com que

a venda seja o primeiro elo da longa corrente que forma a parceria. Desta

forma, as concessionárias de automóveis são, para o consumidor final, a face

visível do fabricante.

A Fiat foi fundada em Turim, Itália, em 1899, e nos 103 anos seguinte

produziu mais de 70 milhões de veículos. É uma das maiores empresas da

Itália e um dos principais fabricantes de automóveis do mundo, vendendo cerca

2 Lei Renato Ferrari número 6279/79

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de 2,5 milhões de veículos por ano. Em 1973, a Fiat SpA italiana assinou o

acordo de comunhão de interesses com o Governo de Minas Gerais

constituindo a Fiat Automóveis S.A. No dia 9 de julho de 1976 inaugurou a

fábrica de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Com o passar dos

anos, a empresa foi nomeando concessionários de forma a cobrir

geograficamente todo o mercado nacional. No ano 2001 a Fiat Automóveis

S.A. faturou 3,7 bilhões de dólares, sendo a décima quinta3 maior empresa em

faturamento no Brasil e a montadora com maior participação de mercado

(27,1%). O Gráfico abaixo ilustra a evolução de sua participação de mercado

de automóveis no Brasil.

Gráfico 1 – Evolução da participação de mercado da Fiat no Brasil

Fonte: Relatório de vendas varejo - ANFAVEA

3 Fonte: Revista Exame 500 maiores e melhores, julho 2002

Evolução da participaçõo de mercado 1990-2002Evolução da participaçõo de mercado 1990-2002Evolução da participaçõo de mercado 1990-2002Evolução da participaçõo de mercado 1990-2002

0,2580,271

0,2570,2520,2530,269

0,152

0,2010,206

0,224

0,287

0,2590,265

0,264

0,2850,2760,273

0,2890,2920,2960,284

0,31

0,243

0,220,214

0,161

0,22

0,189

0,162

0,136

0,082

0,1250,1180,119

0,162

0,128

0,1350,142

0,116

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002jan / jul

TOTALAutos

Pick ups

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53

Em agosto de 2002, existiam 428 concessionárias representantes da

marca Fiat em funcionamento no Brasil. Para fazer o trabalho de campo

inerente ao acompanhamento de todos estes contratos de concessão e cuidar

das novas nomeações, o Brasil foi dividido em nove4 regiões geográficas de

vendas, com um escritório regional da Fiat em cada uma delas.

Cada região de vendas contém em torno de 50 concessionárias. Estas

regiões são divididas em setores com dez concessionária em média. Dentro da

estrutura do escritório regional cada dupla de representantes (um de vendas e

outro de pós-venda) é responsável por dar cobertura a um setor de

concessionárias. Eles realizam o trabalho de campo fazendo o

acompanhamento da operação e estrutura das concessionárias do seu setor no

que diz respeito a:

• Vendas de veículos novos;

• Vendas de peças;

• Estoques de peças e automóveis;

• Assistência técnica aos veículos da marca;

• Qualidade do atendimento prestado aos clientes;

• Padronização visual e utilização da marca.

Os homens de campo são treinados continuamente dentro do programa

de formação denominado “professional”. Este programa está voltado para o

desenvolvimento das competências dos funcionários e engloba diversos cursos

4 Em 2000 reduziu para 8 escritórios regionais

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54

como por exemplo: marketing básico e avançado, marketing de serviços e

gerência de projetos.

Para a Fiat Automóveis, o pós-venda faz parte do “core business” da

empresa juntamente com o projetar, produzir e vender automóveis. A diretoria

da empresa entende que o pós-venda pode realmente fidelizar clientes

tornando-os leais à marca e reduzindo o custo de captação de novos clientes.

Em termos financeiros, o pós-venda tem áreas que consomem capital como a

área de garantia e o customer care e áreas que geram faturamento como é o

caso da venda de peças que em 2002 deve fechar o ano com um faturamento

de 400 milhões de reais. Em termos de concessionárias, o pós-venda

representa em torno de 43% da sua lucratividade.

Para avaliar a satisfação dos clientes com o serviço de pós-venda

prestado pelas concessionárias, a Fiat utiliza uma empresa de pesquisa

terceirizada encarregada de realizar a pesquisa do CSI (Consumer Satisfaction

Index). Um aspecto importante é que no critério de amostragem da pesquisa o

tempo de posse do veículo varia de 2 meses a 2 anos, para avaliar as

mudanças de necessidades de serviço dos clientes ao longo da vida do

automóvel. Os resultados destas pesquisas são divulgados semestralmente,

com prévias trimestrais. Cada vez que sai uma nova pesquisa os homens de

campo dos escritórios regionais analisam os resultados juntamente com a

diretoria de cada concessionária do seu setor. Após esta análise, é assinado

um plano de ação para corrigir as falhas identificadas no processo de

atendimento e se buscar a melhoria contínua na satisfação do cliente. Como

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55

outras montadoras também realizam a pesquisa do CSI, a Fiat compara o

serviço das suas concessionárias com o das concessionárias da concorrência

e estabelece como objetivo sempre ter o maior índice de satisfação da classe.

Os treinamentos contínuos são uma ferramenta que a Fiat

Automóveis disponibiliza às suas concessionárias. Quando há novos

lançamentos, principalmente, há um grande empenho da montadora para que

os técnicos das concessionárias passem a conhecer profundamente o produto.

Além disto, a fábrica exige o comparecimento rotineiro dos técnicos da rede de

concessionárias aos cursos de motores, caixa de marchas, suspensão,

eletrônica embarcada e tapeçaria, de forma a buscar uma especialização

contínua da sua mão-de-obra. Há também treinamentos administrativos e

comportamentais para os funcionários administrativos e da recepção,

envolvendo todas as operações e situações cotidianas.

As informações sobre os produtos, contidas em manuais, são

constantemente atualizadas - cada mudança é comunicada imediatamente ao

concessionário pelo computador ou por meio da TV FIAT, um canal exclusivo

de TV para os concessionários. Qualquer dificuldade no diagnóstico de um

problema pode ser solucionado por um telefonema à montadora, onde

profissionais especializados ficam a postos num hot line. Pelo monitoramento

de queixas e sugestões dos usuários, vindas diretamente ou por questionários

entregues pelas lojas, a montadora toma conhecimento de problemas com os

produtos ou com as concessionárias, e as providências são tomadas

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56

rapidamente – seja a busca de soluções que são transmitidas às lojas, seja o

esclarecimento do pessoal quanto aos padrões a serem seguidos.

O fornecimento de ferramentas de última geração, as peças originais e

os padrões de atendimento oferecidos para que o cliente seja atendido rápida

e eficientemente, são fatores de segurança e apoio para a rede de

concessionários Fiat.

O armazém de peças de Betim possui 54.000 itens em estoque. Para

manter o foco na venda de peças e melhorar a disponibilidade e o tempo de

entrega das peças de reposição, a Fiat terceirizou a operação do seu armazém

de peças para a TNT, um operador logístico com grande experiência dentro da

indústria automobilística. Com esta terceirização, ocorreram melhoras

significativas nos índices de first-fill (primeiro atendimento), giro do estoque, e

disponibilidade de peças nas concessionárias. Em 2000, a Fiat lançou uma

nova política comercial de peças, reduzindo a margem e os preços das peças

de alto giro, conhecidas como “very fast moving”. Com isto, a empresa passou

a participar de mercados que não entrava anteriormente, como é o caso da

venda de amortecedores e embreagens para veículos com mais de 2 anos de

uso.

O objetivo da área de pós-venda é buscar a satisfação do cliente com a

concessionária e com marca Fiat e fazer com que ele procure a concessionária

não somente no momento da compra do carro mas também para realizar as

manutenções ao longo da vida útil do seu automóvel. Um dos desafios que os

funcionários da montadora têm, na hora de levar os projetos da montadora

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para serem implantados na rede de concessionárias, é a diferença de cultura

empresarial entre os concessionários e a fábrica. Como o relacionamento é

contratual e não hierárquico, o sucesso dos projetos depende muito de um bom

diálogo com o dono da empresa e da capacidade dos seus funcionários

cumprirem o que foi especificado. Como a diversidade de concessionários é

extensa, são encontrados grandes dispersões na forma de operar o negócio e

atender os clientes.

O presente estudo de caso ilustra como a Fiat definiu e implantou um

programa de padronização do atendimento de pós-venda na sua rede de

concessionárias envolvendo o trabalho do centro5, dos escritórios regionais e

das concessionárias.

4.2 Mapeamento do processo de pós-venda da concessionária

O atendimento de pós-venda estende-se desde o momento em que o

cliente entra em contato por telefone com uma concessionária, para agendar a

manutenção do seu veículo, até quando ele é pesquisado sobre a sua

satisfação após a execução do serviço.

O processo de atendimento no pós-venda das concessionárias pode

ser dividido nas seguintes etapas:

5 O centro refere-se a toda estrutura localizada em Betim

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58

Figura 2 – As oito fases dos padrões de atendimento

1. Agendamento: Tem início quando o cliente telefona para a

concessionária para marcar o horário mais conveniente para levar o

seu veículo para a manutenção. A figura 3 ilustra o processo de

agendamento.

Figura 3 – Mapa do processo de agendamento

2. Recepção: A etapa de recepção do cliente inicia quando o cliente

chega na concessionária e é feito o primeiro contato com o

recepcionista ou com o atendente ;

3. Atendimento: Logo após ter sido feito o primeiro contato com o

cliente, o recepcionista abre a ordem de serviço e registra os

inconvenientes relatados pelo cliente. Estas duas fases do

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59

atendimento ocorrem em seqüência na área da recepção da

concessionária e estão ilustradas na figura 4.

Figura 4 – Mapa dos processos de recepção e atendimento

4. Diagnóstico: É o processo de análise do veículo e determinação da

causa dos inconvenientes relatados pelo cliente;

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60

5. Reparo: Refere-se a intervenção realizada no veículo para eliminar

os inconvenientes relatados na ordem de serviço. A figura 5 ilustra

o mapa do processo de reparo.

Figura 5 – Mapa do processo de reparo

6. Verificação do reparo: Após os técnicos da oficina da

concessionária realizarem o reparo é preciso que se faça o controle

de qualidade para averiguar se os defeitos do veículo foram

resolvidos. O mapa do processo de verificação do reparo é ilustrado

na figura 6.

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61

Figura 6 – Mapa do processo de verificação do reparo

7. Entrega: O processo de entrega do veículo se inicia no momento

em que o cliente é avisado que o veículo está pronto e se estende

até a entrega física do automóvel ao cliente, conforme ilustrado na

figura 7.

Figura 7 – Mapa do processo de entrega

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8. Pesquisa de satisfação: Até 72 horas após a entrega do veículo,

as funcionárias do SAC6 da concessionária entram em contato com

o cliente para pesquisar se ele ficou satisfeito com o serviço

executado no seu veículo. Esta pesquisa é realizada diariamente e

o relatório gerado denomina-se SMD - Serviço de Medição Diária.

Este processo está ilustrado na figura 8.

Figura 8 – Mapa do processo de pesquisa de satisfação

4.3 Antecedentes e evolução do programa de pós-venda

Criado em 1998, o programa de padrões de atendimento de pós-venda

nas concessionárias da marca Fiat teve como objetivo uma melhoria no

atendimento prestado aos clientes na área de pós-venda, com prazos

compatíveis e serviços de alta qualidade. Esta ação visava garantir aos seus

6 Serviço de atendimento ao cliente

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63

clientes um atendimento melhor, mais rápido e com a certeza do menor tempo

de reparo em seu veículo.

Gráfico 2 – Evolução CSI – Pós-venda

Fonte: Fia Automóveis s.a - Diretoria de produto

Na época havia grande demanda pelo serviço nas oficinas das

concessionárias, com filas para atendimento e nível da satisfação (CSI) 7 em

queda. Além disto, o mercado paralelo estava se especializando. Neste

cenário, o mercado indicava uma necessidade de agilidade no atendimento

comprovando assim o questionamento do cliente sobre a sua falta de tempo.

Não havia no Brasil uma marca de automóveis que fosse percebida como

padrão de atendimento em pós-venda. Existia então uma grande oportunidade

de sair na frente e agregar o valor da excelência no atendimento em pós-venda

à marca Fiat, colaborando para o sucesso da empresa na conquista e

fidelização dos clientes e criando um diferencial para a marca. A proposta da

Fiat Automóveis foi, então, o desenvolvimento de padrões visando a

7 CSI-Consumer satisfaction index. Pesquisa que mede o índice de satisfação do consumidor.

CSI - Assistencia Técnica

8,35

8,43

8,63

8,41

8,60

8,538,48

8,52

8,208,258,308,358,408,458,508,558,608,658,70

2º Semestre 97 1º Semestre 98 2º Semestre 98 1º Semestre 99 2º Semestre 99 1º Semestre 00 2º Semestre 00 1º Semestre 01

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64

homogeneização do atendimento e criando um diferencial das

concessionárias Fiat no mercado.

Além disso, era clara a importância dada pelo cliente a fatores

relacionados ao tempo de parada do veículo para o reparo.

No segundo semestre de 1997, a consultoria Boucinhas e Campos

realizou uma pesquisa, junto aos clientes das concessionárias de automóveis

da marca Fiat no Brasil, para descobrir o que eles desejavam do serviço

prestado pela concessionária. A pesquisa demonstrou que o cliente desejava :

• Rapidez no atendimento;

• Serviço realizado corretamente na primeira vez;

• Pontualidade na entrega;

• Preço.

Esta mesma consultoria realizou uma pesquisa sobre o atendimento na

recepção da rede de concessionárias de automóveis da marca Fiat no Brasil e

encontrou o seguinte cenário:

• 45% do tempo o consultor técnico8 não se encontrava na

recepção;

• 20% do tempo o consultor técnico estava ao telefone;

• 10% do tempo o consultor técnico estava sem clientes;

• Somente em 25% do tempo o consultor técnico se encontrava

junto ao cliente.

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65

Na execução do serviço, 20% dos veículos estavam sendo trabalhados

enquanto os 80% restantes estavam:

• aguardando o orçamento (20%);

• esperando por peças (10%);

• aguardando para entrar em serviço (50%).

O tempo médio de reparação era de 2 a 3 horas, mas os veículos

permaneciam em média de 2 a 4 dias na concessionária.

Com relação aos preços cobrados do cliente existia um potencial de

redução dos custos através de um aumento da eficiência na prestação e

entrega dos serviços de pós-venda.

4.4 Definição dos padrões de atendimento

Com base na pesquisa da consultoria e nos antecedentes já citados,

foram definidos, então, os padrões de atendimento de pós-venda. Cada etapa

dos padrões de atendimento foi detalhada de forma clara e objetiva, permitindo

a integração de todas as áreas da concessionária envolvidas na entrega do

serviço pós-venda (back-office e front-office). O front-office compreende a área

de recepção e o back-office envolve a oficina, a programação dos serviços, a

apontadoria e o departamento de peças.

8 Funcionário da concessionária que trabalha na recepção, também chamado de recepcionista

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66

Um outro aspecto que é levado em conta é a satisfação do cliente

interno. Na interação do front-office com o back office é fundamental que o

recepcionista descreva de forma clara os inconvenientes na ordem de serviço

para que o funcionário do back-office compreenda rapidamente o

inconveniente, não perdendo tempo tentando identificar o problema e possa ter

uma boa produtividade utilizando seu tempo efetivamente na reparação do

veículo. Da mesma forma, após a realização do serviço, o mecânico deve

descrever, de forma clara, no verso da ordem de serviço, as operações

executadas para que o recepcionista possa explicar ao cliente os serviços

executados no veículo.

Este relacionamento de cliente/fornecedor entre a oficina e a recepção

é fundamental para que a concessionária consiga cumprir os prazos definidos

nos padrões de atendimento.

O Padrão de atendimento de pós-venda é composto das oito fases

seguintes:

Agendamento: O cliente tem a possibilidade de marcar dia e hora

mais conveniente para levar o seu automóvel para fazer a manutenção na

concessionária. Os objetivos desta fase são:

• Facilitar o contato do cliente com as pessoas

responsáveis pelo atendimento;

• Efetuar o agendamento em tempo reduzido, bem como

horários adequados às suas exigências;

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67

• Possibilitar a redução do tempo de atendimento do

veículo na recepção, permitindo desta forma, melhor

organização e planejamento dos trabalhos oferecidos

aos clientes.

Esta etapa envolve a telefonista da concessionária e os recepcionistas. A

telefonista é orientada a transferir a ligação do cliente para um recepcionista

específico que é o agendador. Toda semana um recepcionista fica responsável

pela agenda, e o único contato do cliente com a concessionária para

agendamento é feito através deste agendador para se evitar sobreposição de

tarefas. Após o agendamento do cliente, o agendador prepara uma ficha de

agendamento em quatro vias. A primeira via é encaminhada para o

recepcionista responsável pelo atendimento. A segunda via é encaminhada

para a oficina programar o serviço e a terceira via é direcionada para o

departamento de peças preparar o pacote de peças necessárias. Finalmente, a

quarta via é encaminhada para o departamento de vendas para o vendedor

estudar uma proposta para aquele cliente.

Direcionamento do serviço em até 2 minutos: O recepcionista

deverá iniciar o atendimento ao cliente no máximo em dois minutos. Nos

horários de pico de demanda, em que os recepcionistas não conseguem

atender imediatamente o cliente que chega à concessionária, o gerente

desloca alguns funcionários do escritório e da oficina com perfil de atendentes

para auxiliar a equipe de atendimento. Os atendentes têm a função básica de

direcionar os clientes para o recepcionista disponível ou solicitado pelo cliente.

Estes atendentes abordam imediatamente o cliente fazendo um pré-

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68

atendimento e conferindo o veículo. São orientados a priorizar clientes críticos

tais como retrabalhos, veículos que chegam rebocados à concessionária e

clientes nervosos e exigentes. O padrão de atendimento exige que eles

estejam devidamente identificados por colete e uniforme e com o nome bem

visível no crachá. Tanto os recepcionistas quanto os atendentes devem

apresentar-se corteses, participativos e competentes sabendo ouvir o cliente e

sempre com um sorriso simpático. No caso de clientes agendados, os

atendentes devem identificar o veículo pela placa e modelo e tratar o cliente

pelo nome. Os objetivos desta fase são:

• Facilitar ao cliente rápida identificação e acesso à

recepção;

• Abordar de forma imediata o cliente, assumindo a

responsabilidade de resolver seu problema;

• Garantir um eficiente sistema de programação que

permita o tempo de parada do veículo coerente com a

natureza da operação;

• Assegurar que o cliente atendido saia da concessionária

com uma solução adequada ao seu problema.

Atendimento em no máximo 15 minutos: Em até 15 minutos o

cliente deve sair da concessionária com um pré-orçamento e a previsão do

tempo de serviço. Com a utilização do sistema informatizado de abertura da

ordem de serviço, o recepcionista acessa os dados do cliente (pela placa do

veículo) na tela de seu terminal e concentra-se em ouvir os inconvenientes

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69

relatados e transcrever na ordem de serviço. Na ordem de serviço, a descrição

do problema deve ser muito detalhada e explicativa para que os mecânicos

possam resolver o problema. Imediatamente, o recepcionista consulta o

departamento de peças para verificar a disponibilidade das peças a serem

trocadas, antes do serviço ser aceito. Além da Fiat determinar que a

concessionária tenha uma boa identificação visual, os padrões de atendimento

exigem uma tabela de preços, em local claro e visível para o cliente, com o

valor da mão-de-obra, valor das revisões e os preços dos principais serviços e

promoções. Os orçamentos deverão descrever claramente as peças e os

serviços a serem executado e é imprescindível que tenham a aprovação prévia

do cliente. Antes de liberar o cliente, o recepcionista deve informar as formas

de pagamento e recolher informações para verificações de crédito. Estas

informações devem ser transmitidas para o funcionário do caixa que irá agilizar

a entrega do veículo e evitar as filas quando o cliente for retirar o veículo. Os

objetivos desta fase são:

• Garantir um eficiente sistema de programação que

permita o tempo de parada do veículo coerente com a

natureza da operação;

• Garantir que o recepcionista apresente-se cortês,

participativo e competente, sabendo ouvir o cliente,

interpretando corretamente suas necessidades e

transmitindo-lhe segurança;

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70

• Assegurar que o cliente saia da concessionária com

uma solução adequada ao seu problema.

Diagnóstico correto do inconveniente: A concessionária utiliza um

box (devidamente identificado e com equipamentos de diagnose)

exclusivamente para achar a causa dos inconvenientes e eliminá-las

definitivamente. Por uma questão de fluxo de trabalho, o box de diagnóstico

deverá estar localizado entre a recepção e a oficina. Antes dos padrões de

atendimento, o diagnóstico era realizado pelo próprio mecânico na oficina,

agora o processo foi redesenhado e o diagnóstico é feito por um profissional

especializado, denominado diagnoser. Os objetivos desta fase são:

• Identificar e resolver o inconveniente na primeira vez,

para que o cliente não fique insatisfeito por ter que

retornar à concessionária para reclamar do mesmo

problema;

• Avaliar de forma precisa o inconveniente declarado

pelo cliente na sua presença;

• Transmitir de forma clara e objetiva, através da ordem

de serviço, as intervenções previstas para a correção

do inconveniente.

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71

Acompanhamento do reparo: Consiste em treinar o funcionário, que

executa a manutenção do veículo, a controlar a qualidade do seu trabalho para

certificar-se se aquilo que o cliente pediu está realmente sendo feito. Os

objetivos desta fase são:

• Assegurar a completa eliminação dos inconvenientes

reclamados pelo cliente, na primeira vez;

• Respeitar o prazo de entrega do veículo ao cliente;

• Manter os valores a serem cobrados iguais ou

inferiores àquele combinado com o cliente;

• Assegurar uma boa apresentação do veículo reparado.

Verificação do reparo: Certificar-se que o problema foi realmente

solucionado. Após realizada a intervenção no veículo, o mesmo deverá ser

testado em um circuito de prova já conhecido e com capacidade de simular o

ambiente de uso do cliente. Além dos inconvenientes relatados na ordem de

serviço, o controlador de qualidade deverá verificar a funcionalidade completa

do veículo para se eliminar as reclamações mais comuns dos clientes depois

da entrega dos veículos tais como: lâmpadas queimadas, níveis de fluidos

baixos, engate difícil de marchas e falhas no desempenho do veículo. A

concessionária deverá ter uma área de armazenagem de veículos prontos e

uma programação de entrega para que o veículo seja rapidamente localizado

quando o recepcionista for entregá-lo ao cliente. Os objetivos desta fase são:

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72

• Garantir que todas as intervenções necessárias para a

correção dos problemas apontados pelo cliente foram

executadas;

• Garantir ao cliente que o seu veículo seja entregue em

perfeitas condições de funcionamento, uso,

conservação e limpeza.

Entrega do veículo: A oficina deve entregar 70% dos veículos no

mesmo dia, 20% no dia seguinte e 10% em até 3 dias. O tempo de retirada do

veículo pelo cliente deve ser de no máximo 15 minutos. A área de entrega do

veículo deve ser limpa e bem arrumada, próxima à recepção e com espaço

suficiente para o cliente circular e verificar o seu carro. As peças substituídas

deverão estar acondicionadas no porta-malas do veículo e caso o cliente não

deseje levar, o recepcionista deverá jogá-las no lixo na sua presença. O caixa

da concessionária deverá estar localizado em uma posição bem visível e

devidamente demarcado e deverão ter guichês em número suficientes para

evitar espera do cliente. Os funcionários do caixa são orientados a tratar o

cliente pelo nome e devem ter capacidade de resolver, de forma imediata,

qualquer dúvida do mesmo. Os objetivos desta fase são:

• Ilustrar de forma clara, objetiva e transparente os

reparos executados, esclarecendo os preços cobrados;

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73

• Assegurar e demonstrar ao cliente que o veículo

encontra-se em perfeitas condições de uso e

funcionamento;

• Enfatizar a garantia dos reparos executados;

• Garantir a entrega do veículo ao cliente no menor tempo

possível.

Pesquisa do cliente: As funcionárias do SAC devem entrar em

contato com 100% dos clientes em um prazo máximo de 72 horas após a

entrega do serviço. Mesmo quando o cliente se mostra satisfeito na pesquisa,

a pesquisadora pede sugestões sobre os pontos a serem melhorados. Quando

a pesquisadora se depara com um cliente insatisfeito ela providencia o retorno

urgente do veículo à concessionária e passa a informação para a recepção e

para a oficina que deverão priorizar o reparo do inconveniente mantendo o

cliente informado sobre o estado do seu veículo. Os objetivos desta fase são:

• Dar conhecimento e certeza ao cliente de que sua

opinião é fundamental no processo de melhoria dos

serviços prestados pela concessionária;

• Assegurar o retorno do cliente também após o término

da garantia do veículo;

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74

• Fidelizar o cliente até a troca do veículo, garantindo a

confiança na marca;

• Apontamento e estratificação das possíveis falhas do

processo.

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75

4.5 Implantação e lançamento do projeto

Uma vez desenhados os padrões, a gerência de pós-venda da Fiat

reuniu todos os seus homens de campo para apresentá-los ao projeto e iniciar

o treinamento de toda a equipe. Cada um deles recebeu um material de

suporte para ajudá-los no processo de implantação e manutenção dos padrões

nas concessionárias. Este material detalhava o processo de atendimento em

cada fase e mostrava os requisitos e causas de insatisfação dos clientes.

Também continha sugestões de ações para cumprimento dos padrões. Assim

que os RPV´s9 foram treinados, cada escritório regional da Fiat montou um

cronograma de certificação das suas concessionárias e iniciou o trabalho. O

escritório regional de Curitiba foi utilizado como piloto, realizando as primeiras

certificações.

O processo da implementação na concessionária começava com uma

análise das pesquisas de satisfação dos clientes da concessionária. A próxima

fase era o lançamento do projeto com uma apresentação para a diretoria da

concessionária, explicando os objetivos, os resultados esperados, a

metodologia de trabalho e envolvendo as pessoas chaves. A etapa seguinte

era um mapeamento dos processos chaves da concessionária e o

levantamento das criticidades. A seguir eram definidas as alterações na

estrutura e nos fluxos das atividades e montado o plano de ação. Finalmente

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76

verificava-se o cumprimento do plano evidenciando as variações e identificando

as causas.

Após o lançamento do projeto era realizada uma reunião com toda a

equipe de pós-venda da concessionária para informá-la do projeto. A partir

deste ponto a equipe de pós-venda da concessionária era dividida em turmas

de 20 alunos para realização do curso “ Movidos pelo cliente” .

Neste curso os homens de campo da Fiat explicavam detalhadamente

os padrões de atendimento e sensibilizavam a equipe para a importância das

pesquisas de satisfação dos clientes. No final do curso havia um jogo em

forma de grande prêmio aonde a turma era dividida em quatro equipes e

promovia-se uma disputa baseada em perguntas sobre o assunto do curso.

Além dos brindes distribuídos para todos os alunos do curso, a Fiat dava um

relógio de pulso como prêmio para cada integrante da equipe vencedora. Esta

forma lúdica de testar os conhecimentos ao final do curso, fazia com que os

funcionários da concessionária prestassem muita atenção e fixassem os

conceitos e necessidades dos padrões, pois se concentravam para tentar

ganhar o relógio. Além dos brindes, os funcionários das concessionárias que

faziam o curso ganhavam um guia de bolso dos padrões de atendimento.

Após o curso, os funcionários faziam uma prova e aqueles que

tirassem nota menor do que sete eram obrigados a refazer o curso. Com todo o

pessoal treinado e a concessionária teoricamente preparada para receber o

certificado, o homem de campo da Fiat fazia uma visita à concessionária para

9 RPV- responsáveis de pós-venda. É a denominação dos engenheiros de campo da Fiat.

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77

preencher um check list. Este check list era uma avaliação dos quesitos

necessários para o cumprimento dos padrões de atendimento pela

concessionária, visando adequar o atendimento ao cumprimento dos padrões.

O RPV avaliava a situação da concessionária e quando necessário montava

um plano de ação junto com o gerente da concessionária para eliminar as

carências. Feito este check list, o centro enviava um cliente oculto à

concessionária para avaliar o atendimento. Quando o cliente oculto não ficava

satisfeito com o atendimento, era gerado um plano de ação para correção dos

processos. Caso o atendimento fosse satisfatório era marcada então a data da

cerimônia de entrega da placa dos padrões de atendimento para aquela

concessionária.

A cerimônia de entrega da placa era como uma cerimônia de

formatura, que contava com a presença dos homens de campo da montadora,

do gerente do escritório regional da Fiat daquela região e do diretor de pós-

venda da Fiat. Eles abriam a cerimônia discursando sobre a importância do

atendimento aos clientes e parabenizavam a equipe da concessionária pelo

trabalho realizado. Depois entregavam um diploma do curso “Movido pelo

cliente” para cada funcionário e um certificado em forma de placa metálica para

o diretor da concessionária. Esta placa servia para divulgação da homologação

da concessionária ao cumprimento dos padrões de pós-venda. A partir deste

dia a concessionária passava a ser certificada como uma concessionária com

padrões de atendimento de pós-venda.

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78

A estratégia adotada para a implantação do projeto junto à rede de

concessionárias foi atribuir a responsabilidade pelo sucesso dos padrões ao

diretor da concessionária. O responsável de pós-venda do escritório regional

trabalharia como o consultor da Fiat para assessorá-lo. O seu papel era ser

um agente catalisador da mudança de cultura e comportamento das

concessionárias da sua região. Para dar andamento à implantação e

divulgação, foi constituído o comitê dos tutores dos padrões de pós-venda da

concessionária formada por :

• Diretor da concessionária;

• Gerente de assistência técnica;

• Gerente de peças;

• Atendimento a clientes;

• Responsáveis de pós-venda.

Estes grupos de trabalho tinham encontros quinzenais com a função

de avaliar o andamento da implantação do projeto, analisar as pesquisas de

satisfação dos clientes (SMD10 e CSI) e cuidar do marketing de pós-venda

ligado aos padrões.

A prioridade seria começar a trabalhar as fases que acontecem na

recepção e acompanhar a seqüência do atendimento. De acordo com as

pesquisas do CSI, o comitê de trabalho da concessionária daria prioridade

aos processos mais fáceis de serem corrigidos ou os mais críticos.

10 SMD - Serviço de Medição Diária. Pesquisa de satisfação realizada diariamente pela concessionária.

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79

Para fazer a divulgação do padrões de pós-venda para o público

interno das concessionárias foram utilizados banners decorativos e foram

afixados cartazes em áreas visíveis das concessionárias. Alguns brindes

também foram utilizados para fixar a imagem dos padrões na cabeça dos

funcionários da concessionária. Como exemplo destes brindes tinham

camisetas, sacolas, canetas, chaveiros e broches. Foi criado o dia dos

padrões, uma vez por semana, em dias alternados com toda a equipe de

atendimento uniformizada.

Para o público externo foram enviadas malas diretas e foram

veiculados anúncios nos principais jornais. Os homens de campo dos

escritórios regionais da Fiat orientavam as concessionárias a utilizarem a

logomarca dos padrões de atendimento em todas as suas mídias.

Em 1998 toda a rede de concessionárias Fiat foi treinada nos padrões

de pós-venda. No mês de fevereiro o programa foi lançado nas

concessionárias de Curitiba e em dezembro 78% das concessionárias do Brasil

já estavam homologadas nos padrões de atendimento. O tempo médio do

agendamento era de 4 dias, os veículos permaneciam em média 3,4 dias na

oficina; 32,4 % dos veículos eram entregues no mesmo dia e somente 29,9%

dos clientes eram pesquisados pela concessionária (média Brasil). A tabela a

seguir mostra a evolução do CSI de assistência técnica durante o ano de 1998.

Na primeira coluna da tabela constam a média das notas do CSI de todas as

concessionárias do Brasil. Na segunda coluna constam as médias das notas

do CSI somente das concessionárias que já estavam homologadas nos

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padrões de atendimento até aquela data. A tabela mostra que os clientes das

concessionárias homologadas nos padrões de atendimento estavam mais

satisfeitos com o serviço pós-venda, apresentando desta forma uma satisfação

média superior aos clientes das concessionárias não homologadas.

Tabela 2 – CSI assistência técnica ano 1998

CSI Brasil CSI homologadas

Julho 1997 8,11 -

Janeiro 1998 8,06 -

Abril 1998 8,2 8,4

Outubro 1998 8,41 8,5

Dezembro 1998 8,44 8,52

Fonte: Pesquisa CSI Jul 1997 a Dez 1998 - média Brasil. Escala de 0-10.

4.6 Primeiros resultados alcançados

Em dezembro de 1999, a Fiat já tinha homologado 95% de suas

concessionárias com os padrões de atendimento de pós-venda. Esta ação

garantiu a seus clientes um atendimento melhor, mais rápido e com a certeza

de menor tempo do veículo parado para reparo. Foi a primeira montadora do

país a definir e divulgar a seus clientes de forma direta, objetiva e voltada a

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satisfação de seus clientes um padrão de atendimento. A pesquisa do índice de

satisfação do cliente (CSI) de dezembro de 1999 mostrou que:

• 97% dos serviços eram agendados de acordo com a solicitação docliente;

• 97% dos clientes eram recepcionados em até 2 minutos;

• 77% dos clientes eram atendidos em até 15 minutos;

• 77% dos veículos eram entregues no mesmo dia;

• 63% dos veículos eram entregues em até 15 minutos;

• 45% dos clientes eram contatados pela concessionária em até 72horas após a realização do serviço, para responder a pesquisa desatisfação com o serviço (SMD).

As tabelas a seguir ilustram como foi a evolução da pesquisa do CSI de

dezembro de 1997 para dezembro de 1999. Comparando as duas pesquisas

nota-se que houve uma grande melhoria na facilidade de agendamento dos

clientes (Tabela 3) e na execução correta dos serviços de uma só vez (tabela

4). O percentual de veículos entregues no primeiro dia (tabela 5) subiu de 57%

para 77%. Embora o percentual de clientes contatados pela concessionária

praticamente não tenha mudado os índices mostram que em todas as regiões

do Brasil a satisfação dos clientes que foram pesquisados pelas

concessionárias (pesquisa do SMD) foi maior do que aqueles que não foram

pesquisados.

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Tabela 3 – Agendamento de acordo com a disponibilidade do cliente

Dez 1997 Dez 1999

Regional 01 65% 98%

Regional 02 77% 98%

Regional 03 60% 98%

Regional 04 71% 98%

Regional 05 52% 98%

Regional 06 74% 98%

Regional 07 72% 98%

Regional 08 60% 98%

Regional 09 62% 98%

Brasil 66% 98%

Fonte: Pesquisa CSI jul/Dez 1999.

Tabela 4 – Serviço executado corretamente uma só vez

Dez 1997 Dez 1999

Regional 01 62% 84%

Regional 02 56% 78%

Regional 03 68% 87%

Regional 04 59% 81%

Regional 05 63% 86%

Regional 06 62% 83%

Regional 07 62% 82%

Regional 08 64% 82%

Regional 09 61% 84%

Brasil 62% 83%

Fonte: Pesquisa CSI jul/Dez 1999

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Tabela 5 – Tempo de serviço

Entreguesno 1o dia

(Dez 1997)

Entreguesno 2o dia

(Dez 1997)

Entreguesno 1o dia

(Dez 1999)

Entreguesno 2o dia

(Dez 1999)Regional 01 57% 25% 77% 16%

Regional 02 38% 34% 54% 31%

Regional 03 71% 19% 84% 11%

Regional 04 49% 29% 73% 19%

Regional 05 71% 20% 86% 11%

Regional 06 59% 24% 81% 14%

Regional 07 58% 23% 78% 15%

Regional 08 68% 22% 85% 11%

Regional 09 56% 27% 75% 18%

Brasil 57% 25% 77% 16%

Fonte: Pesquisa CSI Jul/Dez 1999

Tabela 6 – Clientes contatados pela concessionária

Dez 1997 Dez 1999 CSI CSIpesquisados

Regional 01 46% 41% 8,52 8,95

Regional 02 40% 47% 7,92 8,27

Regional 03 58% 52% 8,83 9,07

Regional 04 47% 40% 8,25 8,71

Regional 05 56% 45% 8,59 8,86

Regional 06 49% 44% 8,50 8,91

Regional 07 52% 48% 8,39 8,70

Regional 08 51% 47% 8,46 8,73

Regional 09 47% 43% 8,49 8,86

Brasil 49% 45% 8,45 8,80

Fonte: Pesquisa CSI Jul/Dez 1999

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Fazendo uma estratificação de acordo com o tempo de entrega do

veículo, nos dados da pesquisa do CSI Brasil do período que inicia no mês de

julho de 1999 e encerra-se em dezembro do mesmo ano, os resultados da

pesquisa mostram uma tendência da satisfação dos clientes diminuir à medida

que o tempo de entrega do veículo aumenta, conforme a tabela 7 abaixo:

Tabela 7 – Clientes que tiveram o carro liberado no mesmo dia ficaram maissatisfeitos

Clientes com veículos entregues Média das notas da pesquisa

No mesmo dia 8,59

No segundo dia 8,25

No terceiro dia 7,79

Fonte: Pesquisa CSI Jul/Dez 1999

De forma análoga, a tabela abaixo ilustra que os clientes que tiveram o

serviço executado corretamente da primeira vez deram nota mais alta nas

pesquisas, o que veio a reforçar a coerência dos padrões.

Tabela 8 – Serviços executados corretamente na primeira vez

Serviço executado corretamenteda primeira vez Média das notas da pesquisa

Sim 8,76

Não 7,02

Fonte: Pesquisa CSI Jul/Dez 1999- média Brasil

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Por fim, separando os dados da pesquisa dos clientes que foram

contatados pela concessionária daqueles que não foram, percebeu-se

claramente que os clientes deram maior nota para aquelas concessionárias

que o contataram conforme ilustrado na tabela abaixo:

Tabela 9 – Clientes contatados pela revenda

Clientes contatados pela revenda Média das notas da pesquisa

Sim 8,80

Não 8,18

Fonte: Pesquisa CSI Jul/Dez 1999- média Brasil

Estas análises da pesquisa do CSI ajudaram a confirmar o fato de que

os padrões de atendimento criaram um diferencial de satisfação para os

clientes da rede de concessionárias Fiat.

Em 2000 a pesquisa do CSI confirmou que as principais necessidades

dos clientes eram:

• Serviço realizado corretamente da primeira vez;

• Tempo de atendimento;

• Pontualidade na entrega;

• Transparência no relacionamento;

• Preço do serviço.

Nesta época, as oficinas estavam com ociosidade e o índice de

satisfação dos clientes (CSI) apresentava uma tendência de crescimento.

Além disto, 95% das concessionárias já estavam homologadas e era muito

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importante que os padrões de atendimento fossem utilizados como um

diferencial da rede Fiat. Foi iniciado, então, o programa de recertificação dos

padrões de atendimento de pós-venda nas concessionárias com objetivo de:

• Aumentar e manter o grau de envolvimento da rede de

concessionários quanto a importância dos padrões da atendimento;

• Reforçar a imagem do consultor de negócios – RPV, aumentando

sua referência dentro da concessionária, do dealer ao porteiro;

• Divulgar os resultados obtidos nos dois últimos anos através dos

padrões de pós-venda, reforçando-o como instrumento básico na

manutenção da lucratividade e sobrevivência do negócio através do

aumento da satisfação dos clientes.

Tão importante quanto a implementação do programa, foram as ações

para a sua manutenção. Para isto foi fundamental o comprometimento da

diretoria e a motivação da equipe de pós-venda das concessionárias. A

diretoria deveria passar a acompanhar diariamente os relatórios de

acompanhamento dos padrões de atendimento, os retornos de serviços e os

relatórios de atendimento de clientes. Além disto, deveria acompanhar as

pesquisas do CSI e cuidar da divulgação e envolvimento com toda a equipe da

concessionária sobre a importância dos padrões de atendimento.

Para motivar a equipe de pós-venda, foi muito importante o

reconhecimento dos resultados alcançados, o incentivo para participar do curso

“Movidos pelo cliente II” e o programa motivacional de pós-venda. No

programa motivacional as duas melhores concessionárias de cada escritório

regional eram selecionadas como o destaque do mês e além de ganhar alguns

brindes o funcionário destaque era convidado a visitar a fábrica da Fiat em

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Betim. O curso “Movidos pelo cliente II” era uma reciclagem para os

funcionários das concessionárias da metodologia e importância dos padrões de

pós-venda.

O centro treinou os responsáveis de pós-venda e os coordenadores de

treinamento para serem os multiplicadores do curso. Estes por sua vez iriam

aplicar o curso em todas as concessionárias do Brasil. Os multiplicadores

apresentavam o programa para os donos das concessionárias e para os seus

gerentes. Aproveitavam também para mostrar a evolução do CSI e a sua

correlação com a implantação dos padrões nas concessionária já

homologadas.

Em Novembro de 2001, a consolidação dos relatórios de

acompanhamento dos padrões de atendimento que os homens de campo

enviaram para o centro mostrava o seguinte quadro comparativo com a fase

inicial do programa:

Tabela 10 – Resultados obtidos até novembro de 2001

1998 2001

Tempo médio de agendamento 4 dias Imediato

Tempo médio de parada do veículo 3,4 dias 1,3 dias

Veículos entregues no mesmo dia 32,4 % 77,3%

Clientes pesquisados pela concessionária 29,9% 78,1%

Fonte: Fiat Automóveis/Diretoria de pós-venda - Relatórios de acompanhamento dos

padrões.

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A diretoria de produto da Fiat fez uma análise da correlação entre os

percentuais de cumprimento dos padrões de atendimento com a satisfação dos

clientes. A amostra continha 30.889 clientes pesquisados em 2001. A tabela

abaixo mostra o resultado desta análise.

Tabela 11 – Análise de correlação dos padrões de atendimento

Padrão Coeficiente decorrelação

Desempenhodos padrões

(%)

Inconvenientes eliminados 0,383901193 77,1

Explicação dos serviços 0,259292174 75,1

Tempo de agendamento 0,22704632 97,1

Tempo na oficina (%entrega 1 dia) 0,164953898 68,8

Informação dos custos 0,117594627 77,2

Contato com o cliente 0,191591204 41,2

Fonte: Pesquisa do CSI Jan/Dez 2001

A conclusão desta análise é que ações de melhorias no processo das

concessionárias para eliminar o inconveniente do veículo na primeira vez é

uma prioridade, pois apresenta alta correlação com o índice de satisfação dos

clientes e o seu percentual de cumprimento ainda pode melhorar bastante. Já

os itens tempo de agendamento e explicações dos serviços realizados são

ações que requerem uma boa manutenção, pois apresentam alto percentual

de cumprimento e média correlação com a satisfação do cliente.

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4.7 Fase 2 : Um novo salto de qualidade no atendimento

Os padrões de atendimento foram criados para atender as

necessidades que os clientes da Fiat possuíam em 1988. A resposta positiva

do cliente logo após a implantação dos padrões de atendimento mostrou que

nesta época a Fiat estabeleceu uma boa conexão com os seus clientes. Em

sintonia com as novas tendências de mercado, a fase 2 dos padrões de

atendimento, veio para manter e fortalecer esta conexão trazendo para os

padrões de atendimento novos conceitos e uma abordagem atual da dimensão

“TEMPO”, principal foco da fase 1.

Os conceitos amadureceram e foram estendidos para os

departamentos de funilaria/pintura e peças, ou seja, os padrões serão

percebidos pelos clientes em todo o pós-venda. Os novos conceitos são:

• Pronto atendimento: valorização do tempo do cliente;

• Preço conhecido: transparência no relacionamento com o cliente;

• Disponibilidade de peças de reposição: segurança;

• Rapidez e segurança no serviço: profissionalismo e qualidade;

• Rapidez e transparência na entrega: qualidade

• Verificação para a garantia da sua satisfação: comprometimento.

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Desta forma, os padrões de atendimento foram redefinidos da seguinte

forma:

1. Pronto atendimento:

• Agendamento conforme conveniência do cliente;

• Recepção nas oficinas (Mecânica e Funilaria) em até 2 minutos;

• Atendimento imediato no balcão de peças.

2. Preço conhecido:

• Oficina Mecânica: Informação antecipada do custo dos serviços

solicitados;

• Oficina de funilaria e pintura: em até 24 horas o cliente receberá

um orçamento dos serviços solicitados;

• Garantia da realização de eventuais serviços adicionais sempre

com prévia autorização.

3. Disponibilidade de peças de reposição:

• Compromisso de disponibilizar as peças em no máximo 24 horas,

a partir da confirmação do pedido.

4. Rapidez e segurança no serviço:

• Corrigir os inconvenientes da primeira vez;

• Compromisso de minimizar o tempo que o cliente fica sem o

veículo, entregando no mínimo:

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Oficina mecânica: 75% no mesmo dia

20% no segundo dia

5% no terceiro dia

Oficina de funilariae pintura:

60% em 5 dias

25% em 8 dias

15% em 10 dias

5. Rapidez e transparência na entrega

• Devolução do veículo em até 15 minutos;

• Esclarecimento de todos os serviços realizados

• Todas as peças substituídas a disposição do cliente

6. Verificação para garantia da sua satisfação

• Em até 72 horas após o serviço, todos os clientes deverão ser

consultados sobre a satisfação quanto ao atendimento da

concessionária. O serviço de medição diária (SMD) propicia a

imediata correção do processo de atendimento. Os desvios

verificados podem ser corrigidos diariamente, estabelecendo

assim uma sintonia entre a concessionária e o cliente;

• A equipe da concessionária efetivará todas as ações necessárias

para adequação de qualquer desvio identificado.

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A missão da segunda fase dos padrões é atingir um novo salto de

qualidade no atendimento do pós-venda, adaptando-se às atuais expectativas

dos clientes. No cenário atual o atendimento é percebido cada vez mais como

fator de diferenciação e os princípios de conveniência, rapidez e segurança

devem nortear a prestação de serviço pós-venda nas concessionárias. Além

disto, os custos devem ser competitivos e transparentes. Na primeira fase a

Fiat teve um papel fundamental de mudança de cultura e disseminação dos

conceitos de atendimento na sua rede de concessionárias. Nesta nova fase

dos padrões de atendimento, a principal mudança é que a rede de

concessionárias já tem a cultura do atendimento e com um bom treinamento de

metodologia básica, para análise de processos, possam aprimorar o

atendimento e verificar quais etapas devem ser ajustadas para atender aos

novos padrões. Para isto, foi criada a figura do satélite padrões de atendimento

pós-venda. Este é um funcionário da concessionária que será o responsável

por implantar, acompanhar e promover ações (encontros, reuniões e debates),

que visem aprimorar o processo de atendimento na concessionária. O

responsável de pós-venda do escritório regional da Fiat deverá auxiliar o diretor

da concessionária na escolha do satélite. Além de funcionar como um canal de

comunicação entre a concessionária, e o escritório regional da montadora, e o

centro, as suas principais atividades são a realização do diagnóstico do

processo de atendimento da concessionária, coordenação de reuniões para

correção dos desvios deste processo, além de motivar a equipe para o

conhecimento e cumprimento dos padrões e divulgar os resultados alcançados.

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O satélite é um funcionário que acredita nos padrões de atendimento e

tem o seguinte perfil:

• Dinâmico e comunicativo para orientar e coordenar reuniões, debates

e outra atividades com a equipe;

• Acessível: permitir a colaboração de toda a equipe;

• Fácil relacionamento: principalmente no pós-venda;

• Negociador: para propiciar a implementação das ações propostas

pelo grupo;

• Motivador;

• Interessado;

• Que goste de trabalhar em equipe.

A Fiat vem continuamente acompanhando o cumprimento dos padrões

de atendimento através dos relatórios gerados no campo pelos responsáveis

de pós-venda dos escritórios regionais, operações de cliente oculto e

analisando as pesquisas do CSI. A tabela abaixo resume os principais

resultados da pesquisa do CSI em março de 2002.

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Tabela 12 – Cumprimento do padrões

Padrão (%)

Veículos entregues no primeiro dia 68,7

Serviços executados corretamente da primeira vez 77,3

Clientes contatados pela concessionária 41,8

Fonte: pesquisa do CSI de março de 2002.

Como pode ser constatado na tabela acima, o percentual de veículos

entregues no primeiro dia está muito próximo do objetivo de 70%. Já a

execução correta do serviço da primeira vez não está ocorrendo em 22,7%

dos veículos. Por fim, o percentual de contato pela concessionária está muito

abaixo do objetivo de 100%.

Como o programa é de longo prazo, os resultados são medidos pela

média Brasil e a segunda fase ainda está em fase de implantação. A diretoria

de pós-venda da montadora prevê que esta segunda fase dos padrões esteja

madura em meados de 2003, início de 2004.

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5 ANÁLISE DO CASO

Neste capítulo é analisado o caso descrito frente ao quadro conceitual

apresentado com base no referencial teórico do estudo. Para cada etapa do

programa de serviço pós-venda proposto é verificado se há coerência entre o

programa implantado no caso citado e o modelo sugerido.

5.1.1 Ter uma motivação estratégica

Inglis (2002) afirma que as empresas devem encarar o serviço pós-

venda do ponto de vista estratégico e lhe conferir a atenção e o nível de

investimentos necessários. Para o autor, a empresa precisa criar uma

estratégia de serviço voltada para o cliente, e executar essa estratégia de

forma a ampliar significativamente a eficiência e aumentar a retenção de

clientes a longo prazo. Na entrevista com o diretor de pós-venda da montadora,

conforme consta no caso, foi verificado que o pós-venda faz parte do core

business da montadora juntamente com o projetar, produzir e vender

automóveis e que a empresa entende que o pós-venda pode realmente

fidelizar clientes e torná-los leais à marca.

Inglis (2002) afirma ainda que as empresas líderes devem concentrar-

se em ser as melhores da classe. Este aspecto ficou evidenciado no critério de

estabelecimento do objetivo do índice de satisfação do cliente. A diretoria da

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empresa sempre estabelece como objetivo quantitativo ser a montadora com o

maior índice de satisfação do mercado.

Tanto os trabalhos de Ehinlanwo e Zairi (1996) como Archer e

Wesolowsky (1996) afirmam que os fabricantes devem assumir a liderança no

processo de pós-venda monitorando a política de prestação de serviços de

suas concessionárias ao longo de todo o tempo que o cliente possui o

automóvel. No caso ficou claro o grande envolvimento da montadora com o

pós-venda de sua rede. Os homens de campo dos escritórios regionais da

montadora estão freqüentemente visitando as concessionárias e, além de

fazerem o acompanhamento da sua operação e dos serviço prestado aos

clientes, têm um papel de consultores e multiplicadores de inovações.

5.1.2 Conhecer a necessidade dos clientes

Um ponto que chamou atenção no caso analisado é a forma bem

estruturada que a montadora definiu e projetou o programa de padrões de

atendimento de pós-venda. De acordo com o modelo de Cristopher (1997),

como o serviço ao cliente é perceptivo, qualquer que seja o desempenho de

serviço avaliado pelas medidas internas, somente as percepções representam

a realidade. O autor afirma que embora estas medidas internas proporcionem

medidas úteis de produtividade, muitas vezes não refletem realmente o que o

cliente valoriza. Daí ser crítico o desenvolvimento de um conjunto de critérios

de serviços que sejam significativos para os clientes. De forma coerente com

o modelo apresentado por Cristopher (1997), a empresa demonstrou entender

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a importância de seus clientes e se baseou em uma pesquisa para saber

como eles estavam percebendo o serviço de pós-venda prestado pela rede de

concessionárias. À partir deste ponto, foram identificados os aspectos da

prestação de serviço que deveriam ser revistos para que o serviço de pós-

venda das concessionárias se tornasse mais alinhado com as expectativas dos

clientes. Então, os objetivos do serviço foram definidos e os processos foram

redesenhados, em coerência com o que foi abordado na revisão de literatura.

Takeuchi e Quelch (1983) argumentam que as empresas devem seguir

atentamente as mudanças na percepção de qualidade por parte dos clientes e

proporcionar um bom serviço pós-venda. Dado que as necessidades de

serviços variam ao longo da vida do produto, as empresas devem se manter

em contato com os clientes para saber quais são as suas necessidades mais

importantes. O critério de amostragem para a pesquisa do índice de satisfação

dos clientes contempla clientes que compraram o seu veículo a 2 meses, 7

meses, 12 meses, 18 meses e 24 meses. Com isto, são pesquisados

continuamente clientes que acabaram de comprar o seu automóvel e estão

tendo os primeiros contatos com o pós-venda da concessionária, até clientes

cujo automóvel já está fora da garantia e tiveram um contato mais extenso

com o pós-venda da concessionária. Entretanto, a amostra da pesquisa do

índice de satisfação dos clientes deveria incluir clientes que possuem o veículo

há mais de dois anos, inclusive pesquisando clientes que não levam mais o seu

veículo à concessionária. Estes clientes podem fornecer importantes

informações sobre os motivos da deserção e ainda ajudar a concessionária a

desenvolver uma estratégia de resgate destes clientes.

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98

5.1.3 Preparação

Para Takeuchi e Quelch (1983), antes de desenvolver um programa de

serviço pós-venda, a empresa deve realizar uma auditoria de serviços, que

consiste na análise dos serviços que a empresa está prestando em

comparação com a concorrência. Conhecendo estes dados, as empresas

podem saber se os serviços que prestam são adequados. A montadora

iniciou o seu novo programa de pós-venda contratando uma consultoria para

realizar uma auditoria de serviço e saber como os clientes estavam percebendo

o serviço pós-venda prestado pelas concessionárias da sua marca.

Inglis (2002) afirma que somente as empresas capazes de gerenciar

informações e de executar serviços vêm sendo bem sucedidas. A informação

é essencial para a eficácia do serviço (que se pode traduzir na rapidez de

resposta e em altos índices de acerto na primeira vez) e para sua eficiência. A

informação é mais que um elemento capacitador, ela é fundamental para

aumentar o sucesso do serviço. E quanto mais falta faz um produto que

quebra, mais valiosos são os canais de conteúdo informativo e de

comunicação. Foi visto no caso que a montadora dá uma importância muito

grande ao gerenciamento e transmissão da informação para sua rede de

concessionárias, tanto que, além das trocas eletrônicas de informações a

montadora utiliza um canal de televisão para informar e treinar seus

funcionários.

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99

O trabalho de Bitner et al (2000) mostrou que a tecnologia pode ser

utilizada como um facilitador da satisfação com o encontro de serviços. Os

autores afirmam que com o uso efetivo da tecnologia é possível melhorar a

percepção do cliente ao experimentar o serviço. Com a utilização do sistema

informatizado de abertura da ordem de serviço, o recepcionista acessa os

dados do cliente que chega na recepção da concessionária na tela de seu

terminal e além de personalizar o atendimento - tratando-o pelo nome - ainda

melhora a agilidade do atendimento, pois ganha tempo, uma vez que os dados

já estão na tela e ele só precisa relatar os inconvenientes reclamados pelo

cliente.

No que diz respeito ao grau de flexibilidade organizacional, observa-se

coerência entre o trabalho da montadora e o referencial teórico. O fluxograma

do processo de atendimento no pós-venda foi redesenhado com uma

importante modificação na fase de diagnóstico. Como citado no caso, antes da

implantação dos padrões de atendimento, o diagnóstico era realizado pelo

funcionário da oficina que executava a reparação do veículo. Isto fazia com que

este funcionário desperdiçasse uma boa parte do seu tempo com técnicas de

tentativa e erros até descobrir a causa do defeito do veículo. Com a

implantação dos padrões, o processo foi redesenhado e o diagnóstico passou a

ser realizado por um profissional especializado. Este profissional, por ser mais

qualificado e treinado, é mais preciso e eficiente para realizar o diagnóstico dos

inconvenientes reclamados pelos clientes. Com isto, quando o automóvel

segue para a oficina, o mecânico utiliza o seu tempo somente para executar as

operações já definidas pelo diagnoser. Esta mudança colaborou para diminuir o

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100

tempo médio de reparação dos veículos e melhorar a produtividade dos

funcionários da oficina da concessionária.

5.1.4 Execução

A pesquisa de Archer e Wesolowsky (1996) mostrou que os

proprietários de veículos perdem a paciência se o serviço prestado pela

concessionária for ruim. Cristopher (1999) sugere que a abordagem de serviço

pós-venda mais adequada é a idéia de que a meta de qualquer organização

deve ser sempre cumprir o serviço prometido. É natural que o cliente que leva

o seu veículo ao pós-venda de uma concessionária espere que o problema

seja prontamente resolvido. Quando se observa no caso a definição dos

padrões de atendimento, a fase de acompanhamento do reparo enfatiza que

deve haver um acompanhamento do reparo com o objetivo de assegurar a

completa eliminação dos defeitos reclamados pelo cliente na primeira vez.

Nota-se uma ênfase muito forte em se controlar a qualidade do trabalho dos

funcionários da concessionária para certificar-se que o serviço solicitado pelo

cliente está realmente sendo cumprido e que ele não tenha que voltar a

concessionária gerando retrabalho e insatisfação para o cliente. Foi observado

no caso, que a montadora acompanha o percentual de inconvenientes não

eliminados através das pesquisas do CSI com os clientes e através dos

relatórios gerenciais das oficinas da rede de concessionárias. Este

procedimento também é coerente com o que foi citado no modelo de Keaveney

(1995), “para se reduzir a deserção de clientes devido a falhas no núcleo de

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101

serviços deve-se prestar um serviço tecnicamente correto através de uma

filosofia de ausência total de erros”.

5.1.4.1 Gerenciar os momentos da verdade

Inglis (2002) afirma que as empresas devem gerenciar os contatos com

os clientes para aumentar a eficácia e a eficiência. Os padrões de atendimento

implantados pela empresa em estudo dão uma ênfase muito grande a um

contato produtivo e eficiente entre o cliente a equipe de linha de frente das

concessionárias de forma a tentar superar as expectativas dos clientes. O

treinamento contínuo dos funcionários da rede de concessionárias e o

programa de desenvolvimento dos homens de campo busca garantir a

qualificação da força de trabalho das concessionárias e a motivação dos

homens de campo. Finalmente, o acompanhamento contínuo dos percentuais

de cumprimentos dos padrões de atendimento fornece uma boa mensuração

do desempenho das concessionárias.

A montadora ao padronizar que o atendimento ao cliente deve iniciar

em no máximo 2 minutos e que não dure mais do que 15 minutos, deslocando

alguns funcionários para a recepção nos horários de pico, demonstra um

gerenciamento eficaz de filas e uma preocupação com uma prestação rápida

do serviço. Além disto, ao sugerir que as concessionárias ofereçam a

possibilidade do agendamento dos serviços implica em gerar comodidade para

o cliente e redução do tempo de atendimento do veículo na recepção.

Keaveney (1995) cita em seu modelo que estas inconveniências que a Fiat

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procura evitar é um dos principais motivos que levam os clientes a trocar de

prestadores de serviço.

Segundo Keaveney (1995), as deserções de clientes causadas por

interações insatisfatórias funcionário/cliente poderiam ser reduzidas

proporcionando-se conhecimento técnico de ponta para funcionários,

ensinando-os a ouvir os clientes, retornar os telefonemas rapidamente, manter

os clientes informados e explicar os procedimentos. Nas etapas dos padrões

de atendimento relacionados com a recepção de clientes, mais precisamente, o

direcionamento dos serviços e o atendimento propriamente dito, nota-se uma

preocupação de que tanto os recepcionistas quanto os atendentes devem

apresentar-se corteses, participativos, competentes e sabendo ouvir o cliente.

O caso mostra que a montadora entendeu a importância dos encontros de

serviço para conseguir sucesso na implantação dos padrões de atendimento e

investiu bastante esforço no marketing interno das concessionárias,

capacitando os seus funcionários com o curso “Movidos pelos clientes” e com o

programa motivacional de pós-venda.

5.1.4.2 Ter uma estratégia de recuperação do serviço

A última etapa dos padrões de atendimento de pós-venda determina

que os funcionários do serviço de atendimento das concessionária devem

entrar em contato com 100% dos clientes, atendidos em um prazo máximo de

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72 horas após o término do serviço. O trabalhos de Lovelock (1994), Chu et al

(1998), Tax e Brown (1998) mostram que as empresas devem incentivar as

reclamações dos clientes, ter ciência dos problemas existentes e instituir um

esforço de recuperação.

O padrão de atendimento estabelece que mesmo quando o cliente se

mostra satisfeito, o pesquisador da concessionária pede sugestões de

melhorias. Quando o pesquisador se depara com um cliente insatisfeito,

providencia o retorno urgente do veículo à concessionária e além de priorizar o

reparo do veículo, procura manter o cliente informado sobre o estado de seu

automóvel. Isto está de acordo com uma das aplicações do trabalho de Berry,

Parasuraman (1991) e Hart et al (1990) que destacam a importância de se

desenvolver políticas para recuperação eficaz do serviço para se evitar a

mudança do cliente devido a falhas em resposta para problemas. Isto está de

acordo também com as conclusões do trabalho Archer e Wesolowsky (1996)

de que a concessionária está em uma posição chave para criar proativamente

incidentes críticos de serviços positivos, melhorando a lealdade do cliente à

concessionária.

5.1.4.3 Ter uma política de preços

Takeuchi e Quelch (1983) afirmam que um programa de serviço pós-

venda deve contemplar uma política de preços justos e transparentes para o

cliente. O trabalho de Ehinlawo e Zairi (1996) também mostrou que um ponto

chave para as montadoras é o esforço de apresentar políticas de preços

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transparentes no ponto de venda. Além da Fiat determinar que a

concessionária tenha uma boa identificação visual, os padrões de atendimento

exigem uma tabela de preços, em local claro e visível para o cliente, com o

valor da mão-de-obra, valor das revisões e preço dos principais serviços e

promoções. Os orçamentos deverão descrever claramente as peças e os

serviços a serem executado e é imprescindível que tenham a aprovação prévia

do cliente. Com isto o programa da Fiat mostrou a preocupação da empresa

para que os preços praticados por suas concessionárias sejam totalmente

transparentes para os clientes.

5.1.5 Monitoramento dos processos e estabelecimento de padrões

Com a implantação do programa de padrões de atendimento, as

avaliações de desempenho dos serviços foram revistas pela montadora.

Juntamente com as concessionárias, a montadora passou a acompanhar

através da pesquisa do índice de satisfação dos clientes os percentuais de

cumprimento das diversas fases dos padrões de atendimento. Estas avaliações

são comparadas com os padrões definidos pelos clientes. À partir da análise

dos “gaps” entre os percentuais da pesquisa e o objetivo dos padrões, os

gerentes das concessionárias e os homens da campo da montadora

estabelecem as ações de correção e melhorias do processo de atendimento

no pós-venda.

Cristopher (1999) sugere que a maneira pela qual a qualidade total do

resultado de qualquer processo pode ser alcançada é controlando

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105

constantemente este processo. Na implantação do programa de padrões de

atendimento da Fiat uma das primeiras etapas foi o mapeamento dos

processos chaves das concessionárias e o levantamento das criticidades. Para

garantir um bom acompanhamento dos padrões, a Fiat comprometeu a

diretoria das concessionárias a acompanhar diariamente os relatórios de

medição dos padrões de atendimento e as pesquisas realizadas pelos SAC das

concessionárias. Os homens de campo dos escritórios regionais da montadora

fazem um acompanhamento mensal dos percentuais de cumprimento do plano

juntamente com a concessionária. Um outro ponto que mostra o cuidado que a

montadora teve no acompanhamento dos processos, foi o treinamento de

metodologia básica de análise de processos ministrados para os funcionários

da rede de concessionárias na segunda fase dos padrões de atendimento.

Takeuchi e Quelch (1983) destacam a importância de se estabelecer

padrões de performance quantitativos para elementos do pacote de serviços e

sugerem que se deve fazer uma análise dos desvios entre os resultados reais

obtidos e os padrões propostos. No caso analisado, fica claro a força dos

padrões numéricos. No ambiente da concessionária, foi observado que os

gerentes comparam as medidas dos percentuais de cumprimento dos padrões

com o estabelecido no programa e fazem reuniões com a equipe para procurar

diminuir o gap entre o desempenho da concessionária e o desempenho

esperado pelo cliente. No âmbito da montadora, foi verificado que tanto os

funcionários do centro quanto dos escritórios regionais acompanham as curvas

de tendência do índice de satisfação dos clientes (CSI) e do percentual de

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cumprimento dos padrões de atendimento para traçarem planos de ação de

melhoria do atendimento prestado aos clientes.

6 RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS

FUTURAS

Este trabalho teve como objetivo investigar como a Fiat projetou e

executou a reformulação de seu serviço pós-venda. Foi verificado se o

programa de padrões de atendimento de pós-venda implantado é aderente a

um modelo de estratégia de serviços pós-venda construído à partir de uma

revisão de literatura.

Nota-se pela pesquisa realizada que o programa de serviço pós-venda

implantado pela montadora está bem estruturado e mostrou ter aderência aos

modelos de estabelecimento de programas de pós-venda citados na revisão de

literatura da pesquisa.

Conforme citado na revisão de literatura deste trabalho, segundo

Woodruff et al (1994), enquanto os fabricantes de automóveis têm se

esforçado para melhorar a lealdade dos clientes aos seus veículos, “o serviço

prestado pelos concessionários é o elo fraco da cadeia”. A análise do caso

mostrou que o programa desenvolvido pela montadora e implantado nas suas

concessionárias está muito coerente com os pontos levantados na revisão de

literatura. Entretanto, durante as entrevistas, ficou claro que as concessionárias

cumprem relativamente bem as etapa dos programa desenvolvidos pela

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107

montadora, mas os aspectos da gestão do negócio que a montadora não tem

gerenciamento se mostraram o ponto crítico do processo.

Alguns concessionários, demonstraram grande ênfase nos resultados

de curto prazo, em detrimento de uma visão estratégica de longo prazo. Foi

observado que o foco da gestão é o faturamento e a rentabilidade. Em todas

as concessionárias visitadas, os funcionários são comissionados com base no

faturamento gerado. Esta forma de remuneração motiva o funcionário a se

esforçar para tentar alcançar os seus objetivos de venda, o que tem um risco

de que a qualidade do serviço prestado fique em segundo plano. Um fato que

chamou atenção foi as concessionárias investirem bastante em estrutura,

equipamentos e ferramentas mas praticamente não investirem em

treinamentos comportamentais para os seus funcionários. Basicamente, os

funcionários das concessionários fazem os cursos oferecidos pela montadora.

Outro aspecto que chamou atenção foi a forma de recrutamento e seleção, dos

profissionais da rede de concessionárias, muito baseada na indicação e na

experiência anterior. Não são considerados atributos de personalidade como

tolerância, flexibilidade e empatia pelo cliente.

Em 2002, a distribuição de automóveis no Brasil foi um setor composto

integralmente por empresas nacionais de pequeno e médio porte. Entretanto

observa-se uma tendência à concentração do setor em um número menor de

empresas de maior porte, o que os executivos da montadora denominam de

“mega-dealer”. Além disto, já há interesses de empresas de capital

multinacional de entrar neste negócio no Brasil. Este fato provavelmente

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mudará a forma de gestão do negócio, deixando de ter um foco imediatista

voltado para o faturamento no curto prazo para um foco maior no longo prazo e

portanto com uma gestão mais voltada aos programas de retenção dos

clientes.

Examinando os índices de satisfação do consumidor, o programa

colaborou para um aumento da satisfação dos clientes com o serviço pós-

venda prestado pelas concessionárias. Entretanto, no que diz respeito à

retenção e fidelização dos clientes, não foi encontrado durante a pesquisa

nenhuma informação relevante que mostre um aumento da retenção de

clientes. Com relação às informações disponíveis até a realização deste

trabalho, o que pode ser constatado é que a empresa teve um bom

crescimento de participação de mercado nos últimos anos. A participação de

mercado crescente, mostra um balanço positivo entre captação e evasão de

clientes, entretanto não ficou claro se este crescimento se deu devido a um

aumento da repetição de compra de clientes fieis ou se foi devido à grande

captação de novos clientes.

Como a venda de automóveis depende de muitas variáveis: tais como

o lançamento de novos produtos, as ações de marketing da empresa e dos

concorrentes, a situação econômica do país e diversas outras, não estava no

escopo deste trabalho investigar como a implantação do programa de serviço

pós-venda afetou a fidelização dos clientes e a venda de veículos novos.

Devido ao caráter exploratório deste estudo, uma sugestão natural para

pesquisa futura seria o levantamento quantitativo dos aspecto que estão

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relacionados com o volume de vendas de automóveis novos, a satisfação dos

clientes e a retenção de clientes, criando um modelo que considere também

variáveis externas à empresa como os ciclos econômicos e as ações da

concorrência. Uma outra pesquisa sugerida seria uma pesquisa com clientes

de todas as montadoras para entender os motivos que levam o consumidor

brasileiro à deserção tanto em vendas como no pós-venda. Durante a fase de

revisão de literatura, não foi encontrada nenhuma pesquisa desta linha

realizada no Brasil. As pesquisas citadas neste trabalho foram realizadas no

Canadá (Archer e Wesolowsky), Alemanha (Ehinlanwo e Zairi) e Estados

Unidos (Keaveney). A terceira pesquisa que poderia dar continuidade a este

trabalho seria uma análise dos programas de melhorias do serviço pós-venda

implementados por outras montadoras que operam no Brasil e um comparativo

mostrando as melhores práticas do mercado.

Tendo compreendido melhor o que os clientes das concessionárias

necessitam, seria muito interessante utilizar uma abordagem sistemática, como

o desdobramento das funções da qualidade (QFD), para tentar criar um novo

desenho do serviço pós-venda dos fabricantes de automóveis e dos aspectos

da prestação de serviços pós-venda das concessionárias baseadas nas

dimensões dos serviços importantes para os clientes.

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