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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS DE BOTUCATU O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLÂNTICA RENATA EVANGELISTA DE OLIVEIRA Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Ciência Florestal. BOTUCATU - SP Maio - 2011

O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLÂNTICA

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CINCIAS AGRONMICAS

    CAMPUS DE BOTUCATU

    O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAO E SUA RELAO COM A RESTAURAO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLNTICA

    RENATA EVANGELISTA DE OLIVEIRA

    Tese apresentada Faculdade de Cincias Agronmicas da UNESP Campus de Botucatu, para obteno do ttulo de Doutor em Cincia Florestal.

    BOTUCATU - SP Maio - 2011

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CINCIAS AGRONMICAS

    CAMPUS DE BOTUCATU

    O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAO E SUA RELAO COM A RESTAURAO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLNTICA

    RENATA EVANGELISTA DE OLIVEIRA

    Orientadora: Prof. Dr. Vera Lex Engel

    Tese apresentada Faculdade de Cincias Agronmicas da UNESP Campus de Botucatu, para obteno do ttulo de Doutor em Cincia Florestal.

    BOTUCATU - SP Maio - 2011

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA SEO TCNICA DE AQUISIO E TRATAMENTO DA INFORMAO SERVIO TCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP) Oliveira, Renata Evangelista, 1971- O48e O estado da arte da ecologia da restaurao e sua relao

    com a restaurao de ecossistemas florestais no bioma Mata Atlntica / Renata Evangelista de Oliveira. Botucatu : [s.n.], 2011

    xix, 241 f. : grfs. (alguns color.), tabs. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Cincias Agronmicas, Botucatu, 2011 Orientador: Vera Lex Engel Inclui bibliografia 1. Mata Atlntica. 2. Restaurao ecolgica. 3. Restaurao

    florestal. I. Engel, Vera Lex. III. Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (Campus de Botucatu). Faculdade de Cincias Agronmicas. IV. Ttulo.

  • III

    Catarina, pela alegria de todos os dias

  • IV

    "Sucede que a floresta no pode dizer. A floresta no anda. A selva fica onde est. Fica merc do homem...

    Thiago de Mello

    A todos aqueles, que nessa vida ou em outras, j plantaram uma semente...

  • V

    AGRADECIMENTOS

    Todo e qualquer trabalho de pesquisa s possvel de ser realizado com a contribuio e ajuda de outros, e essa uma verdade tambm com relao a este trabalho. Eu jamais poderia conclu-lo sem a ajuda e imensa generosidade de muitas pessoas...

    Agradeo a todos aqueles que de alguma forma contriburam com a realizao desta pesquisa, e, especialmente:

    - Prof. Dra Vera Lex Engel, por acreditar que aquele monte de idias e perguntas na minha cabea pudessem vir a se tornar uma tese de doutorado, e pela orientao e confiana elogiosa, nesses quatro anos;

    - Ainda Vera, pela amizade de tantos anos, por inspirar este trabalho e pela acolhida generosa quando ele realmente se tornou um projeto de pesquisa; - Aos professores Flvio Bertin Gandara e Sergius Gandolfi pelas correes e sugestes por ocasio do exame de qualificao;

    - Ao Joo Dagoberto dos Santos, Sergius Gandolfi, Flvio Bertin Gandara, Luiz Fernando Duarte de Moraes e Vera Lex Engel pela contribuio na construo da lista de indicadores de monitoramento;

    - A todos que se propuseram a gastar um tempo precioso (e muita pacincia) para participar desta pesquisa, contribuindo com a avaliao dos indicadores e com as entrevistas para caracterizao dos estudos de caso: Ademir Reis, Amlcar Marcel de Souza, Cludia Mira Attanasio, Girlei Costa Cunha, Giselda Durigan, Ingo Isernhagen, Joo Dagoberto dos Santos, Joo Henrique Pinheiro Dias, Jos Marcelo Torezan, Lauro Rodrigues Nogueira Jnior, Ludmila Siqueira, Luiz Fernando Duarte de Moraes, Luiz Mauro Barbosa, Mariana Carvalhaes, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Tiago Pavan, Vera Lex Engel, e Washington Geres.

    - Aos queridos Sergius, Flvio e Luiz Fernando pelas sugestes, leituras sugeridas, e pelo apoio em todas as etapas desse trabalho;

    - Maria Jos Brito Zakia, pela ajuda na construo da linha do tempo, pela confiana no meu trabalho e pelos (tantos e sbios) conselhos;

    - Ao Edgar de Souza Vismara pelo enorme auxlio nas anlises dos indicadores;

    - Ao Flvio Gandara e ao Luiz Fernando Duarte de Moraes pela ajuda nas anlises de vrios conjuntos de artigos, que ajudaram na divulgao desta pesquisa;

  • VI

    - Ao Joo Dagoberto dos Santos (novamente), pela leitura atenciosa do texto, pelas sugestes e pelas muitas horas filosofando comigo sobre a restaurao florestal, a realidade rural no Brasil, os objetivos e resultados desse projeto e os caminhos a partir da; - Ao Vtor Moretti pela elaborao da figura da pgina 195;

    - Ao Departamento de Recursos Naturais Cincias Florestais da FCA/UNESP, por abrigar esta pesquisa;

    - Ao pessoal do LERF Laboratrio de Ecologia e Restaurao Florestal da FCA, em especial Ana Maria, Jlia e Paquel pela acolhida;

    - Ao assessor annimo do meu processo na FAPESP, pelo acompanhamento do trabalho, avaliaes realizadas e sugestes;

    - FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo, pela bolsa concedida e pelo auxlio financeiro (reserva tcnica), que possibilitou a realizao desta pesquisa.

  • VII

    Cabe ressaltar que a construo e elaborao de uma tese, ou a participao em um curso de doutorado, esto inseridas num contexto muito maior, so fruto de escolhas pessoais e profissionais de toda uma vida... Nesses quatro anos de doutorado, muitas influncias, vivncias e muitas pessoas foram de enorme importncia, simplesmente por fazerem parte da minha vida e partilharem da minha jornada....

    Agradeo, muito

    - Catarina, por ser o meu maior presente e pela imensa sabedoria e pacincia nesses quatro longos anos;

    - Aos meus antepassados, em especial s mulheres que trilharam seus caminhos antes de mim, permitindo que hoje eu faa minhas prprias escolhas; - minha famlia (aos meus pais e aos meus irmos), sempre um porto seguro pra onde voltar, e pelo apoio, incondicional, sempre...;

    - Ao Joo, por me mostrar que a vida tambm no tem uma trajetria previsvel, em direo a um clmax pr-determinado... por ser um abrao disponvel em todas as manhs... e por conseguir enxergar comigo cavaleiros e drages nas madrugadas estreladas de Carava;

    - Agradeo ao Joo tambm pelo apoio, pelo colo, por me aturar nos momentos de extremo cansao, e pela comidinha pronta, caf quentinho e taas de vinho que me esperaram nos momentos em que eu, finalmente, resolvi dar uma pausa, no longo processo de construo deste texto;

    - s queridas muito queridas Jussara, Lcia, Zez e Mariana, pelo apoio, sempre! Pelas longas conversas, pelo colo, pela terapia, pela jornada. Pelo apoio em todas as comdias e tragdias nesses anos e na vida toda...e por continuarem sendo minhas amigas, mesmo depois delas (e pelas margheritas!);

    - Mari, minha gema, por todos os momentos, seja enfiadas no LASTROP, nos babauais do Piau, em Lisboa ou no Delta do Parnaba;

    - Lcia, por me incentivar e valorizar em todas as etapas deste trabalho e em tantas outras empreitadas, por estar sempre presente, e pelo apoio incondicional, mesmo quando eu nem mereci. Por todas as partilhas... Gracias!

  • VIII

    - Zez, por tornar a vida sempre mais divertida (mesmo depois de dez horas seguidas de trabalho), pela amizade, por toda a vivncia nesses anos todos (enorme aprendizado!) e por todo o vinho e suco de maracuj minha espera; - Jussara, minha irm em esprito, por ser minha famlia em Piracicaba....e nossa, por tudo! - Ao Adauto, Flvio e Mariana, que tornaram muito mais ricas vrias das viagens que fiz nesses quatro anos;

    - Ao Flvio, pela amizade e pacincia (h dezesseis anos!) e por todas as manhs, tardes e noites de anlise de dados, elaborao de palestras, aulas, cursos, resumos e artigos, planos e conspiraes...;

    - Bete Gabbi, pela amizade, pela convivncia, pelo apoio em vrias fases (difceis), pelas viagens a Pocinhos, pelos risotos, pelos papos (deliciosos) e por ser um exemplo de calma, pacincia e quietude (estgio evolutivo que ainda no atingi....);

    - Ao pessoal da Rosa dos Ventos (Brando, Andr, Leopoldo e Valria) pela experincia, aprendizado, convivncia e amizade partilhados durante o processo voluntrio de construo do Curso de Educao Popular Comunitria, que mudaram meu jeito de olhar pra vida; - Valria, em especial, pela oportunidade de vivenciar a Amaznia, to de perto... pela experincia maravilhosa na Arapixi, e por cada um dos entardeceres no Purus, que entraram em minhas veias para sempre;

    - A todos os meus grandes amigos e queles que, injustamente, deixei de citar nesses agradecimentos...

    Finalizando, ouso parafrasear o Prof. Carlos Brando, e citar Manoel de Barros, ao declarar que ...sim, o melhor de mim so os outros...

    Muito obrigada a todos!

    Que estejamos juntos....... pois ainda h muito por viver e fazer.... Pro desejo do meu corao, o mar uma gota...(Adlia Prado)

  • IX

    SUMRIO

    Agradecimentos ....................................................................................................................... iii Sumrio .................................................................................................................................... ix Lista de figuras ........................................................................................................................ xii Lista de tabelas........................................................................................................................xiv Lista de quadros.......................................................................................................................xvi Resumo...................................................................................................................................xvii Summary..................................................................................................................................xix

    INTRODUO ....................................................................................................................... 1

    Captulo I: As bases cientficas da restaurao ecolgica .................................................. 7

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 8 1.1 A cincia e prtica da restaurao ................................................................................. 8 1.2 Restaurao ecolgica, limiares de transio e filtros ecolgicos ................................. 12 2 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................. 19 2.1 Avaliao das publicaes relacionadas cincia e prtica da restaurao de ecossistemas ............................................................................................................................ 19 2.1.1 Ecologia da Restaurao ........................................................................................ 19 2.1.2 Restaurao ecolgica de ecossistemas ................................................................. 21 2.2 Anlise cronolgica das pesquisas ................................................................................ 22 3 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................................ 25 3.1 Avaliao das pesquisas em Ecologia da Restaurao, a partir de anlise bibliogrfica ................................................................................................................................................. 25 3.1.1 A Restaurao ecolgica de ecossistemas naturais .............................................. 25 3.1.2 Aes de restaurao em ecossistemas florestais ................................................. 31 3.2 Restaurao ecolgica - anlise histrica e construo de linha do tempo ................... 40 3.2.1 O conceito ............................................................................................................. 40 3.2.2 O contedo ............................................................................................................ 48 3.2.2.1 Anlise dos editoriais................................................................................ 48 3.2.2.2 Anlise das palavras-chave ....................................................................... 54 4 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 57

  • X

    Captulo II: Pesquisas e aes em restaurao na Mata Atlntica brasileira: anlise e estudos de caso

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 64 1.1 A restaurao de florestas tropicais ............................................................................... 64 1.2 Histrico das aes de restaurao florestal na Mata Atlntica Brasileira .................... 67 2 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................. 75 2.1. Avaliao das pesquisas e aes em restaurao, a partir de anlise bibliogrfica ...... 75 2.1.1 Anlise a partir de trabalhos publicados em reunies cientficas .......................... 76 2.1.2 Anlise a partir de dissertaes e teses .................................................................. 78 2.1.3.Anlise cronolgica da terminologia da restaurao florestal no Bioma Mata

    Atlntica ................................................................................................................ 79 2.2 Construo de linha do tempo ....................................................................................... 79 2.3 Caracterizao das pesquisas e aes em restaurao florestal, a partir de anlise de

    estudos de caso ............................................................................................................ 80 3 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................................ 86 3.1. Avaliao das pesquisas e aes em restaurao florestal, a partir de anlise bibliogrfica ..................................................................................................................... 86 3.1.1 Anlise a partir de trabalhos publicados em eventos cientficos ............................ 86 3.1.2 Anlise a partir de dissertaes e teses..................................................................101 3.1.3 Discusso complementar sobre os resultados obtidos ..........................................112 3.1.4 Anlise cronolgica da terminologia da restaurao florestal no Bioma Mata

    Atlntica.........................................................................................................................120 3.2 Construo de linha do tempo.......................................................................................125 3.3 Caracterizao das pesquisas e aes em restaurao florestal, a partir de estudos de

    caso..............................................................................................................................136

    4 CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................154

  • XI

    Captulo III: Avaliao da restaurao ecolgica: indicadores aplicveis restaurao florestal na Mata Atlntica Brasileira

    1 INTRODUO..................................................................................................................163 1.1. Avaliao da restaurao, monitoramento e indicadores .............................................165 1.2. Indicadores aplicveis ao monitoramento da restaurao florestal na Mata Atlntica Brasileira.................................................................................................................................168 2 MATERIAL E MTODOS................................................................................................171 2.1. Seleo de indicadores para o monitoramento da restaurao florestal.......................171 2.2. Avaliao dos indicadores pelos atores da restaurao na Mata Atlntica Brasileira.................................................................................................................................172

    3 RESULTADOS E DISCUSSO........................................................................................176 3.1. Seleo de indicadores para avaliao da restaurao florestal...................................176 3.2. Avaliao dos indicadores pelos atores da restaurao na Mata Atlntica

    Brasileira.....................................................................................................................182

    3.2.1. Participao dos atores sociais da restaurao na avaliao dos indicadores..............................................................................................................................182 3.2.2. Anlise da importncia dos indicadores selecionados pelos atores....................184 4 CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................199

    CONSIDERAES FINAIS..................................................................................................203

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................209

    APNDICE.............................................................................................................................242

  • XII

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Modelo conceitual ilustrando a presena de limites para a restaurao, controlados por fatores biticos e abiticos, em diferentes estados funcionais de um ecossistema................................................................................................................................12

    Figura 2 Critrios adotados para classificao e anlise dos artigos .......................................23

    Figura 3 Nmero de artigos publicados, ano a ano, no perodo analisado (1980 a 2008) ...... 27

    Figura 4 Ecossistemas-alvo enfocados nos estudos de caso, em porcentagens....................... 29

    Figura 5 Classificao de aes de restaurao referentes a filtros ambientais, nos ecossistemas estudados ............................................................................................................ 37

    Figura 6 Classificao de aes de restaurao referentes a filtros ambientais, em ecossistemas florestais nos Trpicos ....................................................................................... 37

    Figura 7 Nmero total de trabalhos divulgados, por ano, nas reunies cientficas analisadas

    ................................................................................................................................................. 87

    Figura 8 Nmero de trabalhos divulgados, nos diferentes eventos, por dcada analisada ...... 88

    Figura 9 Contribuio dos diferentes eventos, em nmero de resumos publicados/divulgados, por perodo analisado............................................................................................................... 91

    Figura 10 Participao das diferentes categorias de instituies, como responsveis ou co-responsveis pelos trabalhos divulgados ................................................................................. 93

    Figura 11 Nmero de trabalhos, relacionados aos temas escolhidos para categorizao do enfoque geral dos mesmos ....................................................................................................... 95

    Figura 12 Mtodos/tcnicas de restaurao utilizadas nos estudos de caso analisados .......... 98

    Figura 13 Nmero de trabalhos realizados por estado, e apresentados nos eventos analisados................................................................................................................................100

    Figura 14 Representatividade das diferentes fisionomias da Mata Atlntica, descritas como a vegetao original ou de ocorrncia, ou mesmo presente nas reas de estudo....................................................................................................................................100

    Figura 15 Nmero de trabalhos (dissertaes e teses defendidas), no perodo analisado..................................................................................................................................101

    Figura 16 Nmero de dissertaes e teses, relacionadas aos temas escolhidos para categorizao do enfoque geral dos mesmos....................................................................................................................................104

  • XIII

    Figura 17 Mtodos/tcnicas de restaurao utilizadas nas pesquisas analisadas................................................................................................................................109

    Figura 18 Representatividade das diferentes fisionomias da Mata Atlntica, descritas como a vegetao original ou de ocorrncia, ou mesmo presente nas reas de estudo.....................................................................................................................................111

    Figura 19 Representatividade dos estados brasileiros, dentro da cobertura do bioma Mata Atlntica, citados como local de estudo nas dissertaes e teses analisadas................................................................................................................................111

    Figura 20 Linha do tempo incluindo eventos relevantes, que determinaram ou influenciaram os rumos das aes e pesquisas em restaurao florestal no Bioma Mata Atlntica.................................................................................................................................126

    Figura 21 Participao dos diferentes atores sociais, na avaliao dos indicadores propostos

    .................................................................................................................................................183

    Figura 22 Porcentagem de atores (especialistas) por estado (UF) .................................................................................................................................................183

    Figura 23 Comparao entre a importncia dos indicadores, conferida por diferentes categorias de atores sociais da restaurao.............................................................................................................................195

  • XIV

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Artigos analisados (artigos tericos e/ou conceituais e estudos de caso) por peridico

    ................................................................................................................................................. 26

    Tabela 2 Quantificao de artigos (estudos de caso) por tipo de ecossistema-alvo das aes ou da discusso da restaurao ..................................................................................................... 28

    Tabela 3 Localizao geogrfica dos ecossistemas florestais enfoca pelos artigos categorizados como estudos de caso (ECs) ............................................................................ 34

    Tabela 4 Compilao de conceitos e definies do termo Restaurao Ecolgica em diferentes momentos no tempo, desde 1980 at o presente ..................................................... 45

    Tabela 5 Palavras-chave levantadas, nos artigos tericos (ATs), e o nmero artigos em que foram citadas, em valores absolutos, para os perodos considerados, e no total ..................... 55

    Tabela 6 Contextualizao dos trabalhos abordando a restaurao florestal, nos eventos avaliados .................................................................................................................................. 90

    Tabela 7 Nmero de instituies envolvidas nos trabalhos divulgados .................................. 92

    Tabela 8 Participao das diferentes categorias de instituies, em diferentes instncias, como responsveis ou co-responsveis pelos trabalhos divulgados.................................................. 92

    Tabela 9 Abordagem dos trabalhos, descrita atravs do nmero de trabalhos e porcentagem, dentro de cada tema, por dcada analisada .............................................................................. 96

    Tabela 10 Instituies responsveis pelas pesquisas realizadas, resultantes em dissertaes e teses defendidas, no perodo analisado..................................................................................................................................102

    Tabela 11 Instituies identificadas como financiadoras das pesquisas analisadas, e relativo nmero de trabalhos que as citaram.....................................................................................................................................103

    Tabela 12 Abordagem das dissertaes e teses, descrita atravs do nmero de trabalhos e porcentagem, dentro de cada tema, por dcada analisada..................................................................................................................................108

    Tabela 13 Utilizao (em nmeros absolutos) dos diferentes termos usados na rea da restaurao ecolgica, considerando os ttulos dos resumos analisados................................................................................................................................123

  • XV

    Tabela 14 Utilizao (em nmeros absolutos) dos diferentes termos usados na rea da restaurao ecolgica, considerando os ttulos das dissertaes e teses analisadas................................................................................................................................123

    Tabela 15 Anlise geral de comparao entre as etapas da restaurao, a partir das notas fornecidas................................................................................................................................184

    Tabela 16 Relao dos indicadores por categoria e relativa nota mdia das categorias listadas, na etapa inicial .......................................................................................................................186

    Tabela 17 Relao dos indicadores por categoria e relativa nota mdia das categorias listadas, a curto prazo............................................................................................................................186

    Tabela 18 Relao dos indicadores por categoria e relativa nota mdia das categorias listadas, a mdio prazo..........................................................................................................................187

    Tabela 19 Relao dos indicadores por categoria e relativa nota mdia das categorias listadas, a longo prazo...........................................................................................................................187

    Tabela 20 Notas mdias dos dez indicadores mais importantes, a partir de comparao entre os 53 indicadores avaliados, na etapa inicial.......................................................................................................................................193

    Tabela 21 Notas mdias dos dez indicadores mais importantes, a partir de comparao entre os 53 indicadores avaliados, a curto prazo........................................................................................................................................193

    Tabela 22 Notas mdias dos dez indicadores mais importantes, a partir de comparao entre os 53 indicadores avaliados, a mdio prazo........................................................................................................................................194

    Tabela 23 Notas mdias dos dez indicadores mais importantes, a partir de comparao entre os 53 indicadores avaliados, a longo prazo........................................................................................................................................194

  • XVI

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Filtros e fatores ambientais que influenciam a composio de comunidades, propostos por diferentes autores (retirado de Nuttle, 2007) ................................................... 16

    Quadro 2 Filtros ambientais em que foram categorizadas as aes de restaurao, descritas nos trabalhos analisados .......................................................................................................... 24

    Quadro 3 Lista dos eventos analisados, por dcada, com identificao do ano e local de realizao dos mesmos ............................................................................................................ 77

    Quadro 4 reas de restaurao e responsveis, selecionadas para caracterizao e descrio de estudos de caso em restaurao florestal na Mata Atlntica brasileira.................................... 84

    Quadro 5 Caracterizao geral dos projetos e estudos de caso..........................................................................................................................................138

    Quadro 6 Caractersticas gerais da restaurao florestal nesses projetos, quanto a mtodo e espcies utilizadas...................................................................................................................141

    Quadro 7 Caractersticas gerais da restaurao quanto ao manejo e manuteno.............................................................................................................................145

    Quadro 8 Caracterizao do monitoramento nos projetos, e indicadores utilizados.................................................................................................................................152

    Quadro 9 Lista das instituies dos atores envolvidos na restaurao, selecionados para essa pesquisa, sua categorizao e estados de origem.....................................................................................................................................174

    Quadro 10 Lista de indicadores (categorizados em indicadores fsicos e estruturais, de biodiversidade, de processos ecolgicos, de servios ambientais e/ou ecossistmicos, econmicos e sociais) ................................................................................................................................................178

    Quadro 11 Paralelo entre os atributos de um ecossistema restaurado definidos pela Society for Ecological Restoration (SER, 2004) e os indicadores listados...................................................................................................................................181

  • XVII

    O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAO E SUA RELAO COM A RESTAURAO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLNTICA. Botucatu, 2011. 247 p. Tese (Doutorado em Cincia Florestal) Faculdade de Cincias Agronmicas, Universidade Estadual Paulista. Autora: RENATA EVANGELISTA DE OLIVEIRA Orientadora: VERA LEX ENGEL

    RESUMO

    O presente trabalho teve como objetivos (i) Levantar e analisar as pesquisas desenvolvidas em ecologia da restaurao, com foco nos pressupostos para o desenvolvimento da restaurao ecolgica; (ii) Analisar o estado da arte da restaurao florestal no Brasil, tendo como foco principal as publicaes e aes de restaurao de ecossistemas florestais no Bioma Mata Atlntica. Para isso, foi realizada (i) uma investigao terico-conceitual, anlise documental e cronolgica com foco na restaurao ecolgica e na restaurao florestal no Brasil, (ii) uma anlise comparativa entre o arcabouo bibliogrfico existente para a Ecologia da Restaurao, em diferentes regies no mundo e as publicaes e aes realizadas no Brasil; (iii) uma anlise da evoluo histrica da pesquisa em restaurao florestal no Brasil, com foco no Bioma Mata Atlntica; (iv) o desenvolvimento de uma metodologia para anlise situacional de estudos de caso (projetos e aes em restaurao florestal); (v) o levantamento de indicadores de monitoramento e avaliao, para discusso sobre os atributos de ecossistemas restaurados e de caractersticas de uma boa restaurao ecolgica. No Captulo I foram analisados 617 artigos e 76 textos editoriais, publicados em 14 peridicos de 1980 a 2008. Desses artigos, 26 referiram-se a pesquisas em ecossistemas florestais tropicais. Foi observado aumento crescente de artigos com o tempo, e a maioria das pesquisas se referiu a ecossistemas temperados. Uma anlise dos filtros ecolgicos enfocados demonstrou que, para ecossistemas tropicais, as aes de restaurao esto relacionadas regenerao natural, interaes ecolgicas e manuteno de um pool de espcies mnimo para as comunidades estudadas. O Captulo II traz uma caracterizao e anlise cronolgica das aes de restaurao na Mata Atlntica, a partir de 189 resumos publicados em 18 reunies cientficas, 108 dissertaes e 17 teses, de 1980 a 2009. Traz ainda a caracterizao de 09 estudos de caso, em 4 estados brasileiros, e a construo de uma linha do tempo,

  • XVIII

    incluindo os principais eventos, aes, publicaes e marcos legais relacionados restaurao, desde 1980. No Captulo III foi gerada uma lista de 52 indicadores, relacionados a 28 aspectos ecolgicos, econmicos e sociais para monitoramento da restaurao. Esses indicadores foram avaliados por atores sociais, responsveis por pesquisa e ao em restaurao florestal em vrias instituies brasileiras (universidades, institutos de pesquisa, rgos governamentais e no governamentais e outros), para diferentes fases no processo de restaurao. Na fase inicial (at 3 anos) destacam-se os indicadores econmicos e sociais. Nas fases seguintes, as categorias mais importantes referem-se a indicadores ecolgicos, principalmente indicadores de biodiversidade.

    __________________________________

    Palavras chave: restaurao ecolgica, restaurao florestal, Mata Atlntica

  • XIX

    O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA RESTAURAO E SUA RELAO COM A RESTAURAO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS NO BIOMA MATA ATLNTICA. Botucatu, 2011. 247 p. Tese (Doutorado em Cincia Florestal) Faculdade de Cincias Agronmicas, Universidade Estadual Paulista. Author: RENATA EVANGELISTA DE OLIVEIRA Adviser: VERA LEX ENGEL

    SUMMARY

    This study aimed to (i) Analyze the research conducted in Restoration Ecology, focusing on the assumptions for the development of ecological restoration, (ii) analyze the state of art of forest restoration in Brazil, focusing mainly on publications and actions to restore forest ecosystems in the Brazilian Atlantic Forest. For this, we performed (i) a theoretical-conceptual research, documental and chronological analysis focusing on ecological restoration and forest restoration in Brazil, (ii) a comparative analysis between the existing framework for the literature of Restoration Ecology, in different regions in the world and the publications and actions taken in Brazil; (iii) an analysis of the historical evolution of research on forest restoration in Brazil, focusing on the Atlantic Forest Biome; (iv) the development of a methodology for situational analysis of study cases (projects and activities in forest restoration), (v) the provision of monitoring and evaluation indicators for discussion about the attributes of restored ecosystems and characteristics of a good ecological restoration. In Chapter I we analyzed 617 articles and 76 editorial texts, published in 14 journals from 1980 to 2008. Of these articles, 26 referred to research in tropical forest ecosystems. We observed an increasing number of articles in time, and most researches have referred to temperate ecosystems. An analysis of ecological filters focused shown that for tropical ecosystems, the restoration actions are related to natural regeneration, ecological interactions and the maintenance of a minimum pool of species in the communities studied. Chapter II provides a chronological analysis and characterization of restoration activities in the Atlantic Forest (with analyses of 189 abstracts published in 18 scientific meetings, 108 dissertations and 17 theses), from 1980 to 2009. This chapter also brings the characterization of 09 case studies in four Brazilian states, and the construction of a timeline, including major events, actions, publications and legal marks related to forest restoration in Atlantic Forest,

  • XX

    since 1980. In Chapter III a list of 52 indicators was elaborated, related to 28 ecological, economic and social aspects for monitoring of the restoration. These indicators were evaluated by stakeholders, responsible for researches and actions on forest restoration in several Brazilian institutions (universities, research institutes, governmental and non-governmental organizations and others) to different stages/phases in the restoration process. The results show that, according to these stakeholders, in the initial phase (until 3 years) the economic and social indicators have higher importance than others. In the following stages, the most important categories refer to ecological indicators, especially indicators of biodiversity.

    ___________________________________

    Key words: ecological restoration, forest restoration, Atlantic Rainforest.

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    INTRODUO A importncia da restaurao ecolgica, enquanto rea do

    conhecimento tem sido debatida, analisada e discutida por diversos autores e refere-se, principalmente, necessidade de recuperao de certas caractersticas (principalmente relacionadas estrutura e funcionamento) de ecossistemas naturais em processo de degradao ou j degradados. vista ou encarada como uma cincia (ou como uma rea da cincia), bastante recente, que surgiu em funo dos desafios de se recuperar e/ou manter a capacidade desses ecossistemas fornecerem o que se considera bens e servios, e garantir sua perpetuidade no tempo.

    Embora seja encarada como um tema ou rea em que se estabelece e desenvolve o pensamento cientfico, muitos de seus pressupostos se baseiam na prtica da restaurao, o que pode levar sua categorizao ou classificao como uma cincia aplicada. Entretanto, vrios autores lhe remetem as caractersticas de imaturidade e fragilidade, e encaram com ceticismo sua categorizao como uma cincia emergente. Para muitos, embora tenha desabrochado nas ltimas dcadas, como um ramo da cincia ecolgica, a ecologia da restaurao parece ainda no estar sedimentada. Sua auto-imagem enquanto arte, rea aplicada

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    ou cincia, traz certas incertezas quanto ao seu futuro, e demonstra certa imaturidade (HALLE & FATTORINI, 2004; HALLE, 2007, CHOI, 2007).

    Um dos principais desafios nos debates atuais sobre a exatido da restaurao ecolgica est em definir se a restaurao compreende uma cincia (considerando que essa definio envolve uma austeridade tal no termo cincia, que implica em eliminar as influncias cultural, artstica ou outras), ou se deve integrar o conhecimento prtico daqueles que realizam aes de restaurao, ou desenvolvem projetos na rea. A prtica de dividir essa rea de conhecimento em ecologia da restaurao (como uma cincia, rea da ecologia) e restaurao ecolgica (como um conjunto de prticas, incluindo fatores estticos, culturais, e outras dimenses sociais), para muitos, j caracteriza essa dificuldade e a atualidade dessa questo (GROSS, 2007).

    Palmer (2006) discute a relao entre teoria ecolgica, ecologia da restaurao e restaurao ecolgica: A teoria ecolgica apresenta conceitos, modelos preditivos e modelos matemticos para explicar padres e processos em sistemas ecolgicos. A Ecologia da restaurao o processo cientfico de desenvolver teorias para guiar a restaurao; uso da restaurao para o avano da ecologia. E a restaurao ecolgica a prtica de restaurar sistemas ecolgicos degradados.

    Para a autora, os benefcios desta interao so: (i) oportunidades para estudo do ecossistema em um contexto manipulativo; (ii) oportunidade de testar e expandir teorias que so centrais para a Ecologia; (iii) oportunidades para contribuir efetivamente para esforos vitais de restaurao em todo o mundo; (iv) proviso de uma estrutura intelectual para a restaurao; (v) clarificao de interaes mltiplas que podem operar mesmo em um projeto simples de restaurao; (vi) melhoria da qualidade e efetividade de esforos de restaurao.

    Muitos trabalhos cientficos tm recorrido anlise de dados secundrios para responder a vrias perguntas e para discutir temas diversos, incluindo-se, entre esses, trabalhos direcionados restaurao ecolgica (ORMEROD, 2003; HOLL ET AL., 2003; RUIZ-JAEN & AIDE, 2005; ARONSON, 2009; REY BENAYAS ET AL., 2009).

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    Para Moreira (2004), observa-se nos dias atuais um crescimento exponencial de fontes potenciais de informao. Para o autor, na mesma medida em que cresce o nmero de objetos de informao, quer seja quantitativo ou qualitativo, preciso aumentar o nmero de ndices e cuidar para que estes lhes agreguem valor. Outra preocupao refere-se ao gigantismo dos prprios ndices, como acontece, por exemplo, com as bases de dados criadas pelos mecanismos de busca na internet e os catlogos de bibliotecas de referncia. Neste cenrio, as revises de literatura, por seu aspecto sumarizador, principalmente, assumem importante funo.

    Trabalhos de reviso so estudos que analisam a produo bibliogrfica em determinada rea temtica, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma viso geral ou um relatrio do estado da arte sobre um tpico especfico... (NORONHA & FERREIRA, 2000, apud MOREIRA, 2004). Whitmore (1988) afirma que um trabalho de reviso busca a construo de uma sntese. Trata-se inicialmente de um trabalho especulativo, audacioso at, que busca padres gerais num determinado tema. Permite o desenvolvimento de todo um arcabouo de conhecimento e compreenso de um tema ou rea do conhecimento. O trabalho de sntese e de reviso baseia-se em uma quantidade de dados consistentes, e marca e/ou demonstra a maturidade de um campo de conhecimento, consolidando-o. Muitas vezes a reviso aponta lacunas e pode tambm, indicar caminhos e alternativas.

    Godoy (1995 apud NEVES, 1996) descreve a pesquisa documental e os estudos de caso entre as possibilidades oferecidas pela pesquisa qualitativa. A pesquisa documental constitui-se do exame de materiais que ainda no receberam um tratamento analtico ou que podem ser reexaminados para uma nova interpretao. A anlise de documentos propcia para estudos de longos perodos de tempo. Os estudos de caso so muito utilizados em situaes onde os fenmenos analisados so atuais e s fazem sentido dentro de um contexto especfico.

    Depois de quase vinte anos de pesquisas em restaurao florestal no Brasil, interessante se analisar os rumos dessa rea/cincia. Numa primeira anlise, aparentemente muitos dos questionamentos e pressupostos colocados historicamente em relao restaurao ecolgica parecem enquadrar-se perfeitamente restaurao florestal hoje realizada no Brasil.

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    Por exemplo, a dificuldade em se definir objetivos e metas para a restaurao, a dificuldade em se estabelecer as caractersticas desejadas num ecossistema restaurado, o envolvimento poltico, social, cultural e econmico necessrio s iniciativas e projetos de restaurao, a dificuldade de comparao e de replicabilidade de resultados em diferentes projetos, a dificuldade de envolvimento entre mtodos e resultados cientficos e as prticas de restaurao, e mesmo a confuso entre o que pode ser definido como pesquisa/cincia e como prtica/ao em restaurao.

    Neste trabalho, a restaurao ecolgica colocada como tema objeto de estudo, bem como a restaurao de ecossistemas florestais no Brasil, com nfase no Bioma Mata Atlntica.Dessa forma, as principais questes que nortearam o desenvolvimento desse trabalho, desde sua concepo, foram:

    - Existe um paralelo ou similaridade entre as pesquisas em restaurao florestal realizadas no Brasil e os pressupostos tericos e bases cientficas, vinculados Ecologia da Restaurao, j aceitos internacionalmente?

    - Podemos fazer um paralelo entre as questes colocadas mundialmente, referentes restaurao ecolgica e a restaurao florestal? Por exemplo, questes quanto aos rumos, tendncias, crticas e questionamentos cabem para a restaurao florestal no Brasil?

    - O que pode caracterizar a restaurao florestal no Brasil, como uma cincia em construo/consolidao, ou como um apanhado de aes, voltados prtica da restaurao?

    - Quais as principais questes que nortearam as pesquisas, nos ltimos vinte anos?

    - Quais seus principais resultados levando-se em conta os objetivos da restaurao ecolgica? Estes so suficientes para a construo de um arcabouo terico capaz de sustentar aes de restaurao para os diferentes biomas no Brasil?

    - Qual a real contribuio das aes de restaurao j desenvolvidas no Brasil para o avano da ecologia da restaurao?

    - Quais os principais desafios atualmente, para o sucesso da restaurao florestal no Brasil?

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    A partir dessas questes definiram-se os seguintes objetivos: - Levantar o arcabouo terico desenvolvido para a restaurao

    ecolgica em nvel mundial, e discutir como os diferentes conceitos ecolgicos norteiam a cincia da restaurao;

    - Caracterizar, descrever e analisar a pesquisa em restaurao florestal j realizada e em andamento no Brasil, analisar a histria e o estado da arte tendo como foco principal as pesquisas, aes, mtodos e tcnicas desenvolvidos para os ecossistemas florestais presentes no Bioma Mata Atlntica (alvo da maior parte das pesquisas e aes em restaurao j realizadas no pas);

    - Analisar a contribuio das prticas em restaurao florestal, desenvolvidas e/ou em desenvolvimento, para com o desenvolvimento e o avano da Ecologia da Restaurao no pas;

    - Detectar e discutir os chamados pressupostos para a boa restaurao ecolgica, a partir da discusso dos atributos ideais para um ecossistema restaurado e levantamento de indicadores.

    A fim de tentar responder s questes colocadas, e atingir os objetivos acima descritos, foram definidas para esta pesquisa as seguintes atividades:

    (i) investigao terico-conceitual, pesquisa e anlise bibliogrfica sobre a ecologia da restaurao e a restaurao florestal em vrias partes do mundo e no Brasil;

    (ii) anlise cronolgica dessas reas e sua relao com o desenvolvimento da cincia ecolgica;

    (iii) seleo e descrio de estudos de caso (projetos de pesquisa e aes de restaurao desenvolvidos em ecossistemas florestais inseridos no Bioma Mata Atlntica);

    (iv) anlise, discusso e definio de pressupostos e atributos para avaliao de estudos de caso e monitoramento da restaurao.

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    Foi definido como data inicial o ano de 1980, j que se considera, consensualmente, que na dcada de 80 tiveram incio as pesquisas em restaurao no Brasil. Dessa forma, todo o trabalho de reviso bibliogrfica e anlise documental aqui apresentado rene informaes baseadas em levantamento de pesquisas e aes em restaurao ecolgica e florestal que geraram publicaes na rea, desde a dcada de 80. Boa parte dos mtodos utilizados nesta pesquisa e de seus resultados foi obtida atravs de mtodos de pesquisa qualitativa, como reviso sistemtica e anlise bibliogrfica, ou seja, a partir da avaliao de dados secundrios.

    A reviso bibliogrfica realizada neste trabalho foi expositiva, histrica e analtica, j que expe um tema a partir de anlise e sntese de vrias pesquisas, documenta o desenvolvimento da pesquisa em determinada rea e que foi realizada com o intuito de revisar um tema em especfico (no caso, a restaurao ecolgica de ecossistemas), de modo a fornecer, a partir da somatria desses estudos, um panorama geral do desenvolvimento da rea (conforme MOREIRA, 2004). Essa reviso assume ainda um aspecto temporal, j que define um perodo especfico para anlise (no caso, de 1980 a 2009). O presente trabalho enfoca ainda a gerao e avaliao de dados primrios, referentes caracterizao de estudos de caso, e levantamento e avaliao de indicadores para o monitoramento da restaurao.

    Este trabalho foi organizado em trs captulos. O primeiro captulo aborda a caracterizao da restaurao ecolgica de ecossistemas, a partir da coleta, seleo e anlise de artigos publicados em peridicos internacionais. Aborda ainda a caracterizao das pesquisas em restaurao de ecossistemas florestais, em ecossistemas temperados e tropicais. O segundo captulo discute as aes e pesquisas em restaurao florestal no Bioma Mata Atlntica, atravs do levantamento de resumos publicados em eventos e reunies cientficas no pas, desde 1980, e de dissertaes e teses defendidas sobre o tema, nesse mesmo perodo. Aborda ainda a apresentao de estudos de caso diversos, descrevendo projetos de restaurao na Mata Atlntica, sob responsabilidade de diferentes instituies. O terceiro, e ltimo, traz a discusso sobre os atributos de um ecossistema restaurado, a partir da seleo e avaliao de indicadores, passveis de utilizao para o monitoramento da restaurao florestal na Mata Atlntica brasileira.

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    Captulo I: As bases cientficas da restaurao ecolgica

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    1- INTRODUO 1.1. A cincia e prtica da restaurao

    Para Higgs (2005), a ecologia da restaurao todo o processo de prtica e experienciao cientfica que constitui uma disciplina ou sub-rea emergente da Ecologia. A restaurao ecolgica, por sua vez, o conjunto de prticas que compem todo o campo da restaurao, incluindo a base cientfica da ecologia da restaurao, e todo o arcabouo poltico, tecnolgico, econmico, social e cultural do envolvimento humano nesse campo. O sucesso da restaurao, ento, depende de manter as qualidades advindas dos pressupostos da restaurao ecolgica, mas sem submeter a prtica s questes meramente cientficas.

    De qualquer forma, pode-se afirmar que o desenvolvimento de prticas, na tentativa de se cumprir o objetivo de recuperar determinadas caractersticas, perdidas durante o processo de degradao de diversos ecossistemas, e toda a pesquisa relativa a essas prticas, tornaram-se um campo bastante atual dentro da cincia ecolgica.

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    O colocado por Morin (1999), sobre a complexidade da cincia e prtica, e relao com demandas e contextos sociais se aplica ecologia da restaurao/restaurao ecolgica. As discusses atuais tecem inmeras colocaes sobre a necessidade de um permanente dilogo entre a teoria e a prtica (ou entre a cincia e a tcnica), e a influncia da sociedade (em termos culturais, econmicos, sociais, polticos) nas demandas, necessidades e desafios dessa rea atualmente. Para Choi (2007), os objetivos e escopo da restaurao so definidos pela aceitao da sociedade.

    O campo da ecologia da restaurao se desenvolveu nas ltimas dcadas, gerando novas idias e oportunidades, e tem sido encarada como uma nova estratgia para conservao da biodiversidade e integridade dos ecossistemas, alm de compreender uma oportunidade de testar a aplicabilidade prtica de diversas teorias ecolgicas (CHOI, 2007, BRADSHAW, 2002; HOBBS 1998).

    Para Ormerod (2003) a restaurao tem hoje um papel mais ativo, e melhor definido, dentro da Ecologia Aplicada. H uma viso j desenvolvida dos atributos exigidos para ecossistemas restaurados, noes de condies de referncia ecolgica que ajudam a estabelecer metas de restaurao, um aumento da sntese de quais os recursos para a restaurao de ecossistemas diferentes, melhor conhecimento sobre as necessidades de avaliao, e uma idia mais clara do que constitui a restaurao, em comparao com atividades como a recuperao, mitigao e criao de habitats.

    Para o autor, as noes de reabilitao, restaurao e recuperao esto implcitas na realizao de aes e pesquisas diversas, em vrias reas dentro da Ecologia Aplicada, como: na restaurao de populaes ameaadas (Biologia da Conservao); na recuperao da qualidade do ar ou da gua; na restaurao da conectividade em paisagens fragmentadas (Ecologia de paisagens); no planejamento de reas agrcolas produtivas incorporando a restaurao de espcies e habitats especficos (Agroecologia); eliminao de espcies exticas indesejveis por controle biolgico (Invaso de espcies), e muitas outras.

    A necessidade de restaurao advm de um ou de um conjunto de fatores que causem alteraes de grande vulto ou impactos/distrbios que vetam ou impossibilitam a dinmica, o funcionamento e a sustentabilidade dos diferentes ecossistemas.

  • 10

    Bradshaw (2002) classifica a degradao como um processo concomitante ao desenvolvimento das sociedades humanas:

    A humanidade nunca foi capaz de sobreviver com um certo nvel de conforto e bem estar, sem subtrair a natureza de alguma forma. As primeiras atividades de caa e coleta causaram danos relativamente pequenos aos ecossistemas existentes, mas ainda dentro dos limites de recuperao possibilitados pelas condies naturais. Entretanto, como resultado de um aumento crescente das populaes humanas, inevitavelmente exigindo maior quantidade de recursos, e o desenvolvimento de novas tcnicas de explorao dos mesmos, levaram a um esgotamento desse equilbrio entre degradao e possvel recuperao. A domesticao de animais e plantas possibilitou o crescimento das populaes humanas e o desenvolvimento das sociedades atuais, mas com concomitante destruio dos ecossistemas originais, perfazendo uma necessidade incidental ao processo.

    Essa situao ainda exacerbada, pensando-se nas necessidades humanas vinculadas ao modelo de desenvolvimento atual que, aliadas viso estabelecida de que o homem foi feito para subjugar a natureza (sem o menor tipo de respeito pelos recursos naturais), aumenta o quadro de degradao. As demandas humanas atuais (voltadas necessidade de alimentao/agricultura, madeira, transporte, recreao) trouxeram prejuzos vegetao, ao solo e aos recursos hdricos (BRADSHAW, 2002).

    Para Aronson & van Andel (2006), existem trs razes fundamentais para a restaurao de ecossistemas: (i) preservao da diversidade nativa; (ii) manuteno ou melhoria de uma produtividade econmica sustentvel; (iii) proteo ou aumento nos estoques do chamado capital natural, ou seja, a partir de um fluxo de bens e servios que nos beneficie, e a todas as outras espcies.

    Para esses autores, existem grandes desafios para a restaurao, pensando-se na cincia e na prtica.

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    Entre os aspectos a serem mencionados, a partir da ecologia terica, esto: (i) a biodiversidade e seu papel no funcionamento dos ecossistemas; (ii) regras de montagem das comunidades e estruturao dos ecossistemas; (iii) ectonos e fronteiras na paisagem; (iv) resilincia dos ecossistemas; (v) sade e integridade dos ecossistemas; (vi) ecossistemas emergentes; (vii) sistemas scio-ecologicos e sua relevncia na definio de objetivos da restaurao e suas referncias; (viii) integrao com a sustentabilidade e servios ecossistmicos (ARONSON & VAN ANDEL, 2006).

    O desafio atual o de desenvolver prticas e estratgias efetivas de restaurao que auxiliem a reparar os grandes danos ecolgicos, em larga escala, que nos foram deixados no ltimo milnio. Uma restaurao efetiva requer uma ampla compreenso dos sistemas naturais degradados e do que vm a ser os sistemas-alvo (pretendidos pela restaurao), das caractersticas particulares do stio degradado e da auto-ecologia das espcies-alvo ou seja, de todo um conhecimento emprico adquirido, e diretamente aplicvel a determinadas situaes e locais especficos. (HOBBS & HARRIS, 2001; BELYEA, 2004).

    Para que essa restaurao seja efetiva, existem quatro questes (ou componentes) entre as quais deve haver grande coerncia (ARONSON & VALLEJO, 2006): (i) compreenso dos aspectos histricos, geogrficos e ecolgicos do processo de degradao; (ii) recursos tcnicos e institucionais para reagir transformao e degradao dos ecossistemas; (iii) recursos tcnicos e institucionais de monitoramento; (iv) oramentos factveis com objetivos ecolgicos e econmicos, para reparao dos ecossistemas (a partir de uma viso holstica do processo).

    O interesse pela restaurao vem crescendo nas ltimas dcadas (ORMEROD, 2003), e uma forma de se acompanhar o interesse pelo tema, suas principais questes, rumos e desafios, o levantamento, anlise e avaliao das publicaes que enfocam pesquisas e aes em diferentes locais e ecossistemas.

    Essa avaliao, aqui, serve como subsdio para a discusso sobre os rumos da restaurao ecolgica e sua relao com as aes de restaurao de ecossistemas florestais no Brasil.

  • 1.2. Restaurao ecolgica,

    reas naturais seriamente degradadas recursos, perdem a capacidade de se autoesto aptas a se prevenir contra novas degradaes (

    Whisenant (1999) props um modelo conceitual, apresentando as transies entre um ecossistema considerado degradado e o ecossistema intacto. Para o autor, existem limites de transio (ou determinam os tipos de aes necessrias para funcionalidade e sade do ecossistema.

    Figura 1: Modelo conceitual ilustrando a presena de limites para a restaurao, controlados por fatores biticos e abiticos, em diferentes estadMoraes, 2005)

    Esses

    pequenas alteraes nas condies ambientais levam a mudanas maiores ou descontnuas em outras variveis que caracterizam o seu estado. Dessa forma, esses tornam-se relevantes para a restaurao, quando iniciam uma sequncia de mudanasefeito-cascata) que levam a novas configuraes de mltiplos componentes do sistema(SUDING ET AL., 2004; KING & WHISENANT, 2009

    Restaurao ecolgica, limiares de transio e filtros ecolgicos

    reas naturais seriamente degradadas perdem o controle sobre seus recursos, perdem a capacidade de se auto-reparar perante a ocorrncia de distrbios e no esto aptas a se prevenir contra novas degradaes (WHISENANT, 1999).

    Whisenant (1999) props um modelo conceitual, apresentando as ies entre um ecossistema considerado degradado e o ecossistema intacto. Para o autor,

    (ou thresholds) controlados por fatores biticos e abiticosdeterminam os tipos de aes necessrias para recuperao de caractersticas efuncionalidade e sade do ecossistema.

    Modelo conceitual ilustrando a presena de limites para a restaurao, controlados por fatores biticos e abiticos, em diferentes estados funcionais de um ecossistema (

    Esses thresholds so pontos, na trajetria do ecossistema, onde pequenas alteraes nas condies ambientais levam a mudanas maiores ou descontnuas em outras variveis que caracterizam o seu estado. Dessa forma, esses thresholds

    se relevantes para a restaurao, quando iniciam uma sequncia de mudanas) que levam a novas configuraes de mltiplos componentes do sistema

    , 2004; KING & WHISENANT, 2009).

    12

    de transio e filtros ecolgicos

    perdem o controle sobre seus reparar perante a ocorrncia de distrbios e no

    Whisenant (1999) props um modelo conceitual, apresentando as ies entre um ecossistema considerado degradado e o ecossistema intacto. Para o autor,

    fatores biticos e abiticos, que caractersticas e melhoria da

    Modelo conceitual ilustrando a presena de limites para a restaurao, controlados por os funcionais de um ecossistema (retirado de

    so pontos, na trajetria do ecossistema, onde pequenas alteraes nas condies ambientais levam a mudanas maiores ou descontnuas em

    thresholds ou limites se relevantes para a restaurao, quando iniciam uma sequncia de mudanas (um

    ) que levam a novas configuraes de mltiplos componentes do sistema.

  • 13

    Na Figura 1, que traz o modelo adaptado de Whisenant (1999) por Moraes (2005), podem ser observados degraus, descrevendo a recuperao gradual de caractersticas do ecossistema, atravs de aes de restaurao voltadas a ultrapassar os limites fsicos e biolgicos construdos a partir da degradao chamados de limites de transio, controlados por interaes biticas e por limitaes abiticas.

    Isso quer dizer que se o ecossistema em questo foi degradado principalmente como resultado de alteraes biticas, ento as aes de restaurao deveriam enfocar manipulaes biticas para remoo do fator de degradao e ajustar a composio bitica. Por outro lado, para um ecossistema que foi degradado a partir de alteraes nas caractersticas abiticas, ento a restaurao deve, inicialmente, concentrar esforos na remoo do fator de degradao e reparao do ambiente fsico e/ou qumico. (HOBBS & NORTON, 2004).

    O modelo inicial de Whisenant pode ser considerado falho, no sentido de definir uma nica trajetria para a recuperao das caractersticas do ecossistema, como se sempre, necessariamente, os limites fsicos devessem ser transpostos antes dos limites biticos. Embora isso seja verdade para muitos casos - por exemplo, em projetos de restaurao florestal com introduo de espcies vegetais a partir do plantio, necessariamente devem ser realizadas previamente aes que garantam um substrato adequado em termos de fertilidade, umidade s vezes a transposio de limites biticos pode auxiliar na adequao do ambiente fsico. A presena de rvores no sistema pode garantir um microclima adequado, a partir do sombreamento e garantia da umidade, e mesmo a melhoria da fertilidade do solo, a partir da deposio de matria orgnica pela queda e acmulo de serapilheira sobre o solo. Hobbs & Norton (2004) citam a utilizao de espcies-chave ou engenheiros do ecossistema, necessrias para a alterao do ambiente fsico, ou seja, existem situaes em que pode ser utilizada uma manipulao bitica para transpor um limite fsico.

    De qualquer forma, parece bvio que, se as caractersticas de degradao envolvem limites fsicos e biticos especficos, as aes de restaurao devem enfocar, ento, a transposio desses limites.

    Dependendo do estado de degradao de um determinado ecossistema, esses limites sero transpostos com maior ou menor facilidade, e importante lembrar que pode haver um limite irreversvel, a partir do qual a restaurao no mais possvel.

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    Tambm fica claro que esses limites podem ser minimizados e alterados com o tempo e, pensando-se na caracterstica dinmica dos ecossistemas, limites podem ser criados ou no em diferentes momentos no tempo, e so alterados por aes de restaurao e manejo, ou mesmo por distrbios, medida que um determinado ecossistema evolui ou manejado.

    Existe um gradiente de situaes entre ambientes mais ou menos degradados, e diferentes filtros ecolgicos (fsicos e biolgicos) que variam em importncia ao longo desse gradiente. Esses filtros compreendem um conjunto de razes pelas quais as espcies podem ou no ingressar e sobreviver num local, com base em fatores-chave relacionados a aspectos fsicos, biolgicos e a distrbios especficos; e a resistncia do ecossistema degradado restaurao, ou seja, o nvel de esforo necessrio para obter um determinado estado do ecossistema, varia ao longo desses gradientes (HOBBS & NORTON, 2004).

    Diversos autores (FATTORINI & HALLE, 2004; HOBBS & NORTON, 2004; NUTTLE, 2007) encaram as aes realizadas durante o processo de restaurao do ecossistema como ajustes dos filtros biticos e abiticos a uma determinada configurao desejada. Essas aes de restaurao permitem a abertura desses filtros, com o consequente estabelecimento de um pool de espcies na reaalvo da restaurao, a partir da entrada de espcies alctones e do estabelecimento de espcies autctones, quando excludas as variveis que impediam esse estabelecimento. Ou seja, os filtros ecolgicos, propostos por esses autores, exercem influncia sobre a composio de espcies em um determinado ecossistema, em processo de restaurao.

    A composio, ou pool de espcies, definido por vrios fatores. resultado da ao de vrios tipos de filtros, considerando a composio potencial total de espcies para o local. Essa composio potencial chamada de pool total de espcies; total no sentido de compreender todas as espcies que poderiam estar presentes, considerando processos ecolgicos e evolutivos. Num processo seletivo, o pool total de espcies colonizadoras potenciais vai sendo reduzido gradualmente at uma parcela da composio original. A partir de restries quanto disperso, possibilidade de adaptao a caractersticas abiticas e dinmica interna do ecossistema, sobra uma pequena parcela da composio potencial (BELYEA, 2004).

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    O pool total de espcies determinado por biogeografia e evoluo, e suas componentes incluem todas as espcies de uma regio. Uma parcela dessa composio limitada por restries quanto disperso ou seja, permanecem somente aquelas espcies que podem atingir o local por migrao, disperso ou liberao por fontes de propgulos. A partir da, as restries ambientais definem a composio incluem-se as espcies capazes de se adaptar s condies abiticas do local. A parcela de espcies que realmente integram uma comunidade ou ecossistema, o chamado pool atual limitado pela dinmica interna dos organismos que j esto no local, ou seja, suas componentes incluem aquelas espcies capazes de se integrar comunidade previamente existente no local (KELT ET AL., 1995; BELYEA, 2004).

    Cabe colocar que a degradao do ecossistema pode afetar uma ou vrias dessas etapas, com conseqentes efeitos sobre a composio de espcies (BELYEA, 2004).

    No caso de comunidades vegetais naturais e aqui esse um enfoque importante, j que o foco so as aes voltadas restaurao de comunidades e ecossistemas florestais- a dinmica sucessional da vegetao (e conseqentemente a composio final de espcies num determinado local) dada ou governada por trs processos (disponibilidade do stio, disponibilidade de espcies e desempenho dessas espcies), interagindo numa matriz espacialmente heterognea, que reflete a natureza dos distrbios sofridos, que pontuam a dinmica da comunidade e as caractersticas de vizinhana, no local onde essa sucesso ocorre. Os distrbios afetam os filtros abiticos e alteram os filtros biticos, atrasando a sequncia ou as etapas sucessionais, ou mesmo criando condies (atravs da criao de ncleos livres de competio) para espcies invasoras. Por definio, os distrbios rompem com a estrutura de populaes, comunidades e ecossistemas, e alteram a disponibilidade de recursos e mesmo o ambiente fsico. Cada perturbao gera novos efeitos de filtro, que dependem do tipo de distrbio, sua intensidade, durao, freqncia, escala espacial afetada e poca em que ocorre; da interao entre eventos ou distrbios distintos, sincrnicos ou no; do histrico de perturbao; das caractersticas do habitat e tambm do pool de espcies local e regional (WHITE & PICKETT, 1985; FATTORINI & HALLE, 2004).

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    Os processos que governam a seqncia sucessional so compostos por mecanismos mais especficos que descrevem as caractersticas do stio, e as interaes e disperses de e entre espcies. Os caminhos e ou trajetrias possveis da sucesso so resultado de como esses processos interagem e da especificidade de cada um. Stios naturais, manejados - ou mesmo degradados comportam processos sucessionais que combinam esses processos de formas diferentes (BAKKER, 2005).

    Esse processo sucessional tambm deve ocorrer durante o processo de restaurao de ecossistemas ou comunidades florestais. A intensidade de degradao sofrida determina quais os limites (thresholds) fsicos e biolgicos resultantes desse processo de degradao, que por sua vez apresentam ou so compostos por filtros ecolgicos (Quadro 1) a serem enfocados pelas aes de restaurao. A superao desses limites e abertura dos filtros vo determinar a disponibilidade de espcies (autctones ou alctones), seu potencial de adaptao e permanncia no local, e conseqentemente, o estabelecimento dessas espcies.

    Quadro 1: Filtros e fatores ecolgicos que influenciam a composio de comunidades, propostos por diferentes autores (retirado de NUTTLE, 2007).

    Fattorini & Halle (2004)

    Hobbs & Norton (2004) Nuttle (2007)

    Filtro abitico Filtros abiticos Filtros abiticos Filtro bitico - Clima - Clima Stress ambiental - Substrato - Substrato Distrbios - Estrutura da paisagem - Estrutura da paisagem Pool de espcies Filtros biticos Filtros biticos

    - Competio - Competio

    - Predao - Predao/herbivoria

    - Disponibilidade de propgulos

    - Disponibilidade de propgulos/disperso

    - Mutualismos - Mutualismos

    - Distrbios - Distrbios

    - Ordem de chegada de espcies

    - Ordem de chegada de espcies

    - Legado ambiental - Legado ambiental

    - Pools de espcies

    - Remoo de espcies indesejveis

    - Outros

  • 17

    Os modelos de filtros dinmicos baseiam-se na idia que novas espcies podem ingressar um pool de espcies j estabelecidas num local, se forem ou estiverem aptas a passar por determinados filtros biticos e abiticos, e que a permeabilidade desses filtros altera-se dinamicamente. importante se detectar quais os efeitos de filtro mais importantes, porque vrios componentes dos filtros biticos e abiticos podem impedir o estabelecimento de determinadas espcies, e esses componentes e efeitos mudam para espcies diferentes (FATTORINI & HALLE, 2004).

    importante destacar que esses filtros e as respostas sua abertura- tambm so dinmicos, afetando-se mutuamente, devido ampla capacidade de resposta do pool de espcies estabelecido na comunidade. Seria mais apropriado descrev-los como mutuamente dependentes, j que a dinamicidade na capacidade de resposta no tem a ver com um filtro em si e seu efeito local to somente, mas com as mltiplas respostas, sincrnicas ou

    no, de um filtro para e sobre outros, e a resposta das espcies, representada por um maior ou menor estabelecimento das mesmas. Para Fattorini & Halle (2004), os filtros so auto-ajustveis, e so dependentes uns dos outros, porque esto conectados pelo pool de espcies estabelecido.

    No caso da restaurao florestal, cada ao, enfocando um filtro especfico, ou um conjunto deles, afeta e/ou altera outros filtros. Dessa forma, o planejamento da restaurao deve considerar a integrao de aes conjuntas, a partir dos efeitos de cada uma delas sobre as condies do stio, disponibilidade e estabelecimento de espcies, facilitao da disperso, atrao ou repulso de espcies desejveis e indesejveis. As aes de restaurao tambm so, muitas vezes, mutuamente dependentes. E, o planejamento da restaurao deve avaliar qual a melhor sequncia de aes a serem implementadas, a partir do efeito esperado de cada uma sobre as condies locais e sobre o pool de espcies resultante. Esse processo contnuo, e deve ser monitorado, j que a trajetria da sucesso, a partir das aes de restaurao, no previsvel.

    O final da sucesso que se pretende, pensando-se no processo de restaurao, no definido somente por um estdio clmax determinado ecologicamente, mas de alguma forma pela compreenso e aceitao do objetivo inicial da restaurao.

  • 18

    Ou seja, enfoca o estado final desejado para o ecossistema (entendendo-se aqui o final como se referindo ao processo de restaurao, s caractersticas mnimas desejadas para o ecossistema, findas as etapas projetadas para a restaurao, e no a um estado final esttico a ser atingido pelo ecossistema restaurado). O ecossistema alvo (ou ecossistema desejado) no se constri ao acaso, por si mesmo; e futuras trajetrias a serem desenvolvidas por esse sistema dependem das condies advindas da degradao. Alm disso, os stios de restaurao no so compartimentos isolados, esto lincados com o ambiente circundante por conexes abiticas, como fluxos de nutrientes, agentes dispersores, e outros. Cada local tem sua prpria (e nica) histria, o que leva a efeitos de resposta distintos (FATTORINI & HALLE 2004; HALLE, 2007).

    Cada stio nico, tem caractersticas prprias e responde de formas distintas s aes de restaurao e a todo e qualquer evento advindo de estocasticidade ambiental, ou mesmo de novos eventos degradadores, naturais ou antrpicos.

    Os filtros ecolgicos podem ser utilizados para avaliar o estado de ecossistemas degradados comparativamente aos no degradados, e podem compreender uma forma de se comparar aes de restaurao em diferentes ecossistemas, localizados em diferentes regies e com situaes mais ou menos semelhantes de degradao.

    No caso deste trabalho, que faz uma tentativa de analisar os rumos das pesquisas em restaurao, essa pode ser uma forma interessante de avaliar se, diferentes projetos, em diferentes ecossistemas ao redor do mundo - principalmente aqueles que se caracterizam como ecossistemas florestais, foco desta pesquisa- utilizam prticas semelhantes ou enfocam os mesmos objetivos no que se refere s aes voltadas aos diferentes elementos e processos formadores dos ecossistemas.

  • 19

    2. MATERIAL E MTODOS 2.1. Avaliao das publicaes relacionadas com a cincia e a prtica da restaurao

    de ecossistemas

    2.1.1. Ecologia da Restaurao

    Para observao dos rumos das pesquisas em restaurao ecolgica, em diferentes ecossistemas, num contexto mundial, foi feito um levantamento, utilizando a base bibliogrfica ISI Web of Knowledge, dos artigos cientficos, publicados em ingls, que apresentassem, em seus ttulos, o termo restoration. O intervalo de tempo analisado foi de vinte e oito anos, de 1980 a 2008.

    Para incluir artigos que se relacionassem diretamente discusso sobre a restaurao ecolgica, ou descrio de projetos de restaurao em diferentes ecossistemas, optou-se pela seleo de treze peridicos referentes rea ecolgica/biolgica, disponveis na base utilizada. Foram selecionados, os seguintes peridicos: Restoration Ecology; Ecological Engineering; Conservation Biology; Biodiversity and Conservation; Journal of Applied Ecology; Forest Ecology and Management; Environmental Management; Science; Applied Vegetation Science; Biotropica; Oecologia; Landscape Ecology e Ecology.

  • 20

    Todos os artigos foram includos numa lista para verificao, e, a partir dos seus ttulos, foi feita uma primeira triagem, de forma a excluir os artigos que no se referiam restaurao ecolgica ou restaurao de ecossistemas. Dessa forma, foram excludos artigos referentes rea mdica e odontolgica, a obras de engenharia ecolgica, e tambm artigos na rea biolgica, cujo enfoque do termo restaurao no condizia com aquele proposto para esta pesquisa.

    Os artigos selecionados foram categorizados, inicialmente, em artigos tericos ou conceituais (AT) e estudos de caso (EC), como em Petenon & Pivello (2008).

    O intuito aqui foi o de selecionar e categorizar os arquivos em (i) aqueles que poderiam embasar a discusso sobre as bases tericas da restaurao ecolgica, bem como seus principais conceitos e definies, e auxiliar na construo de um histrico e linha do tempo sobre a restaurao ecolgica (AT); e (ii) aqueles que apresentassem mtodos e tcnicas para a restaurao de diferentes ecossistemas, e que discutissem o planejamento da restaurao, bem como o processo de avaliao do sucesso da restaurao, a seleo de indicadores, e outras questes pertinentes para a restaurao desses ecossistemas (EC).

    Todos os artigos foram ordenados no tempo, a partir do ano de publicao, e foi feita a contabilizao de artigos por peridico.

    Os artigos tericos e/ou conceituais foram acessados e checados um a um, para confirmao da categorizao. Vrios categorizados inicialmente como ATs foram repassados para a categoria ECs. O mesmo ocorreu para vrios artigos inicialmente categorizados como ECs. Para os artigos cujo acesso via internet no foi permitido, foram checados os abstracts disponveis.

    Como muitos dos artigos inicialmente classificados em estudos de caso, referiam-se recuperao de reas degradadas e a mtodos e projetos de remediao ambiental, e no necessariamente ao assumido aqui como restaurao ecolgica (tendo por base a definio de restaurao ecolgica difundida pela SER Society for Ecological Restoration), os artigos foram divididos em trs categorias: estudos de caso em restaurao, com enfoque na restaurao ecolgica, recuperao de reas degradadas e remediao ou biorremediao.

  • 21

    O enfoque dos estudos de caso foi investigado, inicialmente, a partir dos ttulos dos mesmos, a partir da busca por palavras-chave (por exemplo: evaluation, success, indicators, soil, forest, policies ou political, social, participation, alien ou exotic species

    Os artigos categorizados como estudos de caso em restaurao ecolgica foram checados ainda, para registro do tipo e localizao (ocorrncia) do ecossistema-alvo.

    Os ecossistemas restaurados ou em processo de restaurao descritos foram agrupados em: (i) Campos, pradarias, e outros ecossistemas dominados por gramneas e herbceas; (ii) Ecossistemas florestais (florestas nativas e plantaes florestais); (iii) Ecossistemas Costeiros; (iv) reas midas; (iv) Ecossistemas riprios; v) Ecossistemas lticos (rios, riachos e canais); (v) Ecossistemas lnticos (lagos) e (vi) Outros ecossistemas.

    Nos estudos de caso (ECs) levantados, foi feita uma verificao, a partir dos ttulos e abstracts, para saber quantos e quais desses artigos (i) referem-se a discusses ou estudos e projetos em ecossistemas florestais, (ii) referem-se a ecossistemas florestais em regies tropicais.

    No que concerne aos artigos tericos e/ou conceituais, pretendeu-se que a leitura criteriosa e avaliao dos mesmos pudessem auxiliar na definio dos principais pressupostos tericos, e bases conceituais, que relacionem a cincia ecolgica com a restaurao de ecossistemas naturais degradados.

    2.1.2. Restaurao ecolgica de ecossistemas

    Para a avaliao dos artigos referentes restaurao de ecossistemas florestais, a idia foi a de se fazer uma anlise mais aprofundada dos estudos de caso, quanto ao enfoque principal, pressupostos, mtodos descritos, dificuldades, demandas e desafios.

    Foram listados todos os artigos categorizados como estudos de caso, que abordaram a restaurao de ecossistemas florestais, em vrios pases. Destes, foram selecionados os artigos que apresentaram ou discutiram aes de restaurao realizadas, a fim de suplantar caractersticas especficas advindas do processo de degradao e conseqente necessidade de restaurao, ou aqueles que apontaram enfoques especficos para a necessidade de restaurao.

  • 22

    Como nem todos os artigos esto disponveis na ntegra para consulta, e a inteno foi a de se utilizar a mesma metodologia de anlise para todos os artigos, optou-se por consultar os abstracts dos mesmos, onde foram checadas as prticas e aes de restaurao apontadas (ou mesmo citadas) pelos autores.

    Essas aes foram analisadas e categorizadas segundo as doze categorias de filtros ecolgicos propostos por Hobbs & Norton (2004) e Nuttle (2007) Quadro 02.

    As aes descritas foram categorizadas pelo tipo de filtro a que se referiram, dentro das categorias de filtros biticos e abiticos. As aes que teriam ou tiveram efeito sobre mais de um filtro, foram classificadas em mais de uma categoria. Posteriormente, os artigos que se referiram restaurao de ecossistemas florestais tropicais, foram ainda lidos e analisados segundo seu enfoque principal.

    Os critrios adotados para a avaliao e classificao dos artigos analisados nesta pesquisa encontram-se resumidos na Figura 2.

    2.2. Anlise cronolgica das pesquisas

    A anlise da cincia ou rea da restaurao ecolgica, a partir de uma perspectiva temporal, foi considerada interessante para compreender os rumos dessa rea do conhecimento nas ltimas dcadas. Essa anlise compreende, inicialmente, e de forma muito incipiente, uma descrio das discusses sobre restaurao ecolgica e ecologia da restaurao, e uma tentativa de se construir uma linha do tempo, com os principais avanos e tendncias, no perodo definido para essa pesquisa, ou seja, de 1980 at o presente.

    Essa anlise foi dividida em dois temas-chave: (i) o conceito de restaurao, e (ii) o contedo da restaurao, ao longo do tempo.

    Para desenvolvimento do item (i) conceito, foi feita uma coletnea, dos diferentes conceitos e definies publicados para a Restaurao Ecolgica, no tempo, e avaliao de suas principais abordagens e enfoques.

  • 23

    E, para discutir o item (ii) contedo, foram lidos e analisados os editoriais publicados, no perodo, em dois peridicos-referncia na rea, e que tm a restaurao como carro-chefe, ou como temtica principal: Ecological Restoration (publicada desde 1981) e a Restoration Ecology (publicada desde 1993).

    A partir da leitura criteriosa dos editoriais, foram levantadas as questes discutidas, dcada a dcada, pelos autores (editores das revistas e convidados).

    Complementarmente, foi feito um levantamento quantitativo das palavras-chave mais utilizadas, nos artigos categorizados como artigos tericos, por dcada analisada. Para isso, foram levantadas todas as palavras-chave, em todos os 78 artigos tericos e conceituais (ATs), e levantado o nmero total de vezes em que as mesmas foram citadas, assim como o nmero de citaes por dcada analisada.

    Figura 2: Critrios adotados para classificao e anlise dos artigos.

  • 24

    Quadro 2: Filtros ecolgicos em que foram categorizadas as aes de restaurao, descritas nos trabalhos analisados.

    Tipos de filtros enfocados pelas aes

    de restaurao

    Descrio

    Referncia

    Filtros abiticos Clima Gradientes de chuva e temperatura, especialmente

    tolerncia a condies locais (congelamento, por exemplo).

    Hobbs & Norton, 2004

    Substrato Fertilidade, disponibilidade de gua no solo, toxicidade.

    Hobbs & Norton, 2004

    Estrutura da paisagem Posio na paisagem, prvio uso do solo, tamanho de manchas ou fragmentos, isolamento.

    Hobbs & Norton, 2004

    Filtros biticos Competio Com espcies preexistentes e potencialmente

    invasoras e entre espcies plantadas e introduzidas.

    Hobbs & Norton, 2004

    Predao/herbivoria No descritos pelo autor, mas supostamente envolvem interaes trficas entre espcies

    Nuttle, 2007

    Disponibilidade de propgulos

    Refere-se disponibilidade de sementes (de fora do stio ou presente no local), presena de banco de sementes ou proximidade a fontes de sementes

    Hobbs & Norton, 2004

    Mutualismos Micorrizas, rizbios, polinizao e disperso, defesa.

    Hobbs & Norton, 2004

    Distrbios Presena de regimes de perturbao (novos ou prvios)

    Hobbs & Norton, 2004

    Ordem de chegada de espcies

    Facilitao, inibio, tolerncia, efeitos de prioridade, efeitos aleatrios.

    Hobbs & Norton, 2004

    Legado ambiental Refere-se a quanto da biodiversidade original e estrutura bitica e abitica permanecem. Considera efeito da biodiversidade do passado.

    Hobbs & Norton, 2004; Nuttle, 2007.

    Pools de espcies Trs tipos: interno, externo ou estabelecido. Refere-se a aes que envolvem introduo ou remoo de indivduos (e no de sementes e outros propgulos).

    Nuttle, 2007 (adaptado)*.

    Remoo de espcies indesejveis

    No descrito pelo autor considera-se aqui a remoo de espcies exticas ou invasoras.

    Nuttle, 2007.

    * Adaptado no sentido de considerar a introduo de indivduos (como plantios e enriquecimento), alterando o pool de espcies no local. Nuttle (2007) utilizou essa categoria especificamente para a introduo e remoo de indivduos adultos.

  • 25

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1. Avaliao das pesquisas em Ecologia da Restaurao, a partir de anlise bibliogrfica

    3.1.1. A restaurao ecolgica de ecossistemas naturais

    O primeiro levantamento levou a uma listagem de mais de 700 artigos. Numa primeira triagem, a partir somente dos ttulos, foram descartados os artigos que no se referiam restaurao ecolgica, mas tinha um enfoque na rea mdica, ou de engenharia ecolgica, ou mesmo na restaurao de cadeias alimentares, resultando em 672 artigos. Uma segunda anlise, a partir da conferncia dos ttulos e abstracts, levou a 617 artigos cientficos, que referiram-se ao tema Restaurao Ecolgica, no perodo considerado.

    Desses, 78 (13%) foram considerados artigos tericos ou conceituais, e 539 (87%) estudos de caso.

    Dos estudos de caso, 496 artigos (92%) referiram-se restaurao ecolgica de ecossistemas propriamente dita, 37 descrio de projetos de recuperao de reas degradadas (reas mineradas, depsitos, reas de emprstimo), e 06 de remediao ou biorremediao.

  • 26

    Ormerod (2003) descreve um aumento na submisso de trabalhos relacionados restaurao nos ltimos quarenta anos, e afirma que estes contribuem anualmente com 8 a 12%, pelo menos dos artigos publicados (considerando o peridico Journal of Applied Ecology). Segundo o autor, a referncia a alguns temas, como a biologia da conservao, poluio, modelagem ecolgica, e tambm recuperao e restaurao de ecossistemas, demonstra que estes encontram-se atualmente implcitos na filosofia da ecologia aplicada.

    Tabela 1: Artigos analisados (artigos tericos e/ou conceituais e estudos de caso) por peridico

    Peridico Nmero de estudos de caso (EC)

    Nmero de artigos

    tericos (AT) Journal of Applied Ecology 61 5 Environmental Management 42 8 Forest Ecology and Management 44 0 Oecologia 01 0 Applied Vegetation Science 29 2 Biodiversity and Conservation 18 1 Ecological Engineering 47 1 Conservation Biology 14 8 Restoration Ecolology 236 53 Biotropica 1 0 Landscape Ecology 5 0

    Neste levantamento, conforme esperado, foi observado que o maior nmero de artigos publicados aumentou a partir do final da dcada de 1990, e vem aumentando, gradativamente, nos ltimos anos, com a expanso da ecologia da restaurao enquanto rea do conhecimento (conforme descrevem HOLL et al., 2003) e de pesquisa (Figura 3).

    Foram 06 artigos publicados de 1980 a 1989 (um terico- ATs- e 05 estudos de caso - ECs); 127 artigos de 1990 a 1999 (28 ATs e 99 ECs), e 441 de 2000 a 2008 (sendo 49 ATs e 392 ECs).

    Cabe ressaltar, nesse perodo, o peridico Restoration Ecology, especfico para essa rea, publicado a partir de 1993, que, conforme esperado, apresenta o nmero mais expressivo de trabalhos publicados entre todos os peridicos analisados so 289 artigos (Tabela 2).

  • 27

    No que se refere ao enfoque abordado por artigos relacionados restaurao, Ormerod (2003) descreve que vrios se referem busca por solues tcnicas para problemas especficos relacionados restaurao. Outros se distinguem por seu valor seminal e frequentemente demonstram que as intervenes descritas so preferveis conduo da sucesso natural considerando-se a possibilidade de sucesso dos projetos.

    Os artigos abordam vrios nveis, de espcies a ecossistemas, e evidenciam que a restaurao ecolgica em larga escala pode ser facilitada por instrumentos polticos.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    A T

    E C

    Figura 3: Nmero de artigos publicados, ano a ano, no perodo analisado - 1980 a 2008 (AT = artigos tericos e EC = estudos de caso).

    A grande maioria dos estudos de caso analisados discute, apresenta ou descreve aes e mtodos de restaurao para ecossistemas especficos. Como afirma Allen (2003), editora-chefe da Restoration Ecology, 80% dos artigos publicados na revista, at essa data, referem-se a experimentos de restaurao ou observaes em stios restaurados.

    A quantidade de artigos por ecossistema (dos que puderam ser identificados, no caso, 450 dos estudos de caso) encontra-se apresentada na Tabela 2

    Os ecossistemas mais estudados ou que apresentaram maior quantidade de referncias foram os ecossistemas florestais, os formados por campos, pradarias e outros, dominados por gramneas e herbceas, e as reas midas (29%, 19%, e 16%, respectivamente).

  • 28

    A restaurao ecolgica de ecossistemas florestais foi enfocada em 130 dos artigos publicados (ou seja, estes abordam plantaes florestais, florestas homogneas ou heterogneas, espcies florestais, reflorestamentos) (Figura 4).

    Tabela 2: Quantificao de artigos (estudos de caso) por tipo de ecossistema-alvo das aes ou da discusso da restaurao.

    Tipo de ecossistema Nmero de artigos (EC)

    Campos, pradarias, e outros ecossistemas dominados por gramneas e herbceas

    87

    Ecossistemas florestais (florestas nativas, exticas e plantaes florestais, ou projetos envolvendo espcies florestais)

    130

    Ecossistemas costeiros 41 reas midas 71 Ecossistemas riprios 28 Ecossistemas lticos (rios, riachos, canais,...) 35 Ecossistemas lnticos (lagos) 11 Outros ecossistemas (estepes, recifes de coral, turfa, ...)

    47

    Exemplos de questes abordadas por parte desses trabalhos so: potencial de plantaes florestais para a restaurao, avaliao da dinmica em ecossistemas florestais, avaliao e monitoramento, com uso de indicadores, e restaurao de habitat para a fauna. Muitos trabalhos apresentam e/ou descrevem estratgias, mtodos e tcnicas de restaurao aplicadas a vrias espcies e fi