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O Evangelho Da Prosperidade - Alan B. Pieratt

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Um analise e refutação dessa heresia

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O evangelho daPROSPERIDADEAlan B. Pieratttraduo deRobinson MalkomesDigitalizado e revisado por Micscan

Para: semeador.forumeiros.com

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVACaixa Postal 21.406 CEP 04698-970 So Paulo-SPCopyright 1993 de Alan B. PierattArte de capa: Melody Pieratt e bis RoxaneCoordenao editorial: Robinson MalkomesCoordenao de produo: Eber Cocareli

Primeira edio: abril de 1993

Todos os direitos de publicao reservados porSOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVACaixa Postal 21486 - 04698-970 So Paulo-SPContedoCaptulo 1. Consideraes Introdutrias 08

1. Viso Geral 092. Antecedentes Histricos 163. Prvia do Contedo 28

Captulo 2. Os Ensinos da Teologia da Prosperidade 31

1. Autoridade Espiritual 332. Sade e Prosperidade 473. A Confisso Positiva 61

Captulo 3. Respostas ao Evangelho da Prosperidade 90

1. Autoridade Espiritual 952. Sade e Prosperidade 1253. A Confisso Positiva 153

Captulo 4. A Cosmologia da Prosperidade 173

1. O Dualismo do Corpo e do Esprito 1762. O Dualismo no Conhecimento 1833. O Dualismo na Salvao 1964. O Dualismo de Deuses 2035. O Problema do Mal 209

Captulo 5. A Espiritualidade do Evangelho da Prosperidade 220

1. Promessas e Exigncias 2212. Teologia da Glria Teologia da Cruz 228

Bibliografia 230PREFCIO DOS EDITORES

Uma das caractersticas do sculo XX na esfera teolgica a extensa produo das chamadas "teologias de genitivo". A elaborao de reflexes cada vez menos sistemticas e mais especulativas fez surgir no cenrio teolgico do nosso tempo as Teologias "do Processo", "da Esperana", "da Morte de Deus", "da Libertao", dentre outras. Por meio de um processo progressivo de fuga da teologia sistemtica tradicional, essas teologias, com suas diversas nfases, alcanaram autonomia em relao s diferentes confisses de f crists, tornando-se, em maior ou menor grau dependendo da cultura onde esto inseridas objetos de opo pessoal.Esse mtodo de fazer teologia influenciou e incentivou, ainda que no intencionalmente, o surgimento de "novas descobertas" no campo das relaes entre Deus e o homem. H alguns anos, por exemplo, descobriu-se que determinados ensinos que nos foram transmitidos desde a era apostlica estavam errados. Os filhos de Deus so filhos do Rei, e nessa condio que devem viver. A perspectiva de uma vida crist repleta de restries, sofrimentos e tribulaes por amor a Cristo no corresponde ao verdadeiro plano de Deus para Seus filhos amados. Ao contrrio, Ele deseja que Seus filhos sejam em tudo bem sucedidos, vitoriosos e triunfantes sobre todas as vicissitudes da vida. Afinal, toda espcie de mal incluindo as doenas e a pobreza fruto da ao direta de Satans e, portanto, destinada apenas aos que se encontram sob o seu sinistro domnio, nunca aos verdadeiros crentes. A razo de existirem muitos cristos que ainda padecem dos males deste mundo tenebroso a sua ignorncia quanto a seus direitos como filhos de Deus e ao poder divino disponvel nas palavras daqueles que conhecem os segredos da confisso positiva. Os mritos dessa descoberta so reivindicados pelo norte-americano Kenneth Hagin, autor de vrios livros sobre o assunto, muitos deles j traduzidos para o portugus.

No Brasil, essa nova teologia tem recebido designaes variadas, tais como: "Movimento Palavra da F", "Teologia da Confisso Positiva" ou "Teologia da Prosperidade". Travamos conhecimento com esses novos ensinos inicialmente por meio do tele-evangelista norte-americano Rex Humbard e, atualmente, mediante pregaes em rdio e televiso e nos plpitos de grandes igrejas que se encontram em evidncia. Milhares de cristos, membros de denominaes tanto pentecostais quanto histricas, tem abraado com entusiasmo os ensinamentos dessa nova teologia. H tambm variantes mais msticas do mesmo pensamento, representadas por aqueles que enfatizam exausto a necessidade de o crente conhecer os mistrios ligados batalha espiritual e ministrao de cura interior. O impacto disso tudo se faz sentir no grau de confuso, desorientao e assombro presentes em quase toda a comunidade evanglica brasileira. Mesmo a atividade pastoral tem se ressentido da falta de referenciais teolgicos, bblicos e eruditos que confrontem satisfatoriamente o problema.

O Evangelho da Prosperidade Anlise e Resposta tem por objetivo iniciar um debate srio, honesto, bblico e imparcial sobre o tema. Para tanto, o autor analisa criteriosamente a trplice base da nova doutrina: 1) as alegaes de Hagin sobre sua autoridade espiritual de carter proftico; 2) as promessas de sade e riqueza; e 3) o mtodo da confisso positiva. Cada uma dessas bases analisada separadamente, com numerosas citaes que enriquecem sobremaneira esta obra. No captulo 4, discute-se a cosmologia do evangelho da prosperidade, analisando-se seus pressupostos ontolgicos, antropolgicos e. epistemolgicos de forma altamente elucidativa. Ali o autor tambm expe a teodicia de Hagin, apresentando sua soluo para o problema do mal e contrapondo-a soluo crist tradicional de origem agostiniana.O Dr. Alan Pieratt, telogo, Ph.D. em Cincias da Religio, professor na Faculdade Teolgica Batista de So Paulo, onde leciona as disciplinas de Hermenutica e Teologia Contempornea, traz com seu O Evangelho da Prosperidade Anlise e Resposta uma contribuio inestimvel ao labor teolgico atual, marcado por tantas controvrsias absolutamente desnecessrias e por uma injustificvel ausncia de erudio. Edies Vida Nova espera, com este livro, ajudar queles que sinceramente procuram trilhar o caminho apertado e estreito que conduz salvao.Rev. Eber Cocareli

Captulo

UmCONSIDERAES INTRODUTRIASDe onde veio o evangelho da prosperidade? Como ele se relaciona com o pentecostalismo? Quem so Kenneth Hagin e E. W. Kenyon e por que so importantes para este movimento? Fornecemos aqui uma breve introduo histrica ao movimento da prosperidade.

1. Viso GeralA igreja protestante no Brasil de hoje enfrenta numerosos problemas inerentes Amrica Latina, incluindo catolicismo cultural, pobreza, analfabetismo, espiritismo, religies africanas, corrupo poltica, etc. Do lado de fora, cada um desses desafios confronta a igreja como uma forma diferente do "mundo" contra o qual o apstolo Joo advertiu que nos prevenssemos (1 Jo 2.15). Entretanto, como o prprio ttulo indica, esta obra trata de um desafio para a igreja, que est surgindo dentro dela e, portanto, constitui uma ameaa de natureza completamente distinta. Uma interpretao do evangelho, nova e extremamente atrativa, cruzou as fronteiras para invadir o cristianismo brasileiro. Ela tem recebido vrios nomes, a saber: "Palavra da F", "Ensino da F", "Confisso Positiva" ou "Evangelho da Prosperidade". Destes, o ltimo parece o mais exato, pois esse movimento surge para oferecer uma compreenso distinta do evangelho de Cristo como um todo. A semelhana do conhecido evangelho, ele proclama boas novas. Mas as novas no so de que temos o perdo dos pecados e paz com Deus por meio de Cristo. So de que podemos ter a soluo de nossos problemas e viver com sade e prosperidade. Esta mudana no contedo da esperana crist, passando do porvir para o aqui e agora, tem conseqncias de to grande alcance que o nome "evangelho da prosperidade" parece apropriado.As razes desse evangelho encontram-se no Primeiro Mundo. Talvez isto seja justo, uma vez que sua nfase est naquilo que os pases do norte tanto parecem ter prosperidade financeira. Mas ele foi rapidamente bem recebido aqui no Brasil e, apesar de ainda estar em sua infncia, parece crescer a passos gigantescos. claro que a atrao no contexto brasileiro no exercida pela presena da prosperidade, mas por sua ausncia. De qualquer forma, o evangelho da prosperidade uma mensagem de muito poder e esperana que no est limitada a nenhum continente, igreja ou denominao.O propsito deste livro analisar esse novo movimento e oferecer uma resposta a ele. O leitor atento perceber que, ao cham-lo "novo", colocamo-lo sob suspeita desde o princpio. Em matria de f, raramente o novo melhor. Voltaremos a esse ponto no captulo trs. Basta afirmar agora que a teologia tem como tarefa principal a transmisso fiel da mensagem recebida pelos Doze (1 Co 15.3). O leitor que concordar comigo neste ponto desejar ento saber qual meu ponto de vista sobre a teologia. De que perspectiva sero feitas essa crtica e essa anlise? Esta uma pergunta justa e necessria. A teologia que est por trs deste livro foi formulada na Reforma e pode ser chamada "protestantismo clssico". Seu princpio fundamental de que somente a Bblia o nico guia para conhecermos a Deus e apenas Cristo a nica esperana de salvao. Desses dois critrios, o primeiro suficiente para fornecer a base da crtica teologia da prosperidade. O leitor que se encaixa na tradio protestante logo se sentir vontade com essa abordagem. Entretanto, quaisquer que sejam suas convices teolgicas, espero que ele se digne a ler o argumento at o fim. Qualquer pessoa que tenha desembolsado dinheiro para comprar este livro deve ser um pastor, um obreiro cristo ou um leigo inteligente. Neste caso, voc um dos lderes de sua igreja e, conforme Paulo afirmou h muito tempo, tem a responsabilidade tanto de "exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem" (Tt 1.9). Para realizar essa tarefa, precisamos, em primeiro lugar, entender com clareza nossa prpria teologia e, depois, a de nosso opositor.Algumas obras norte-americanas, escritas contra a teologia da prosperidade, tratam-na como se fosse uma heresia ou uma seita (McConnell, 1988). A posio que adotamos aqui de que, certamente, ela no uma seita. Uma seita composta por um grupo bem definido de pessoas, assim como as testemunhas de Jeov ou os mrmons, que se chamam cristos, mas negam doutrinas bsicas da Bblia, tais como a trindade e a divindade de Cristo. A compreenso defeituosa que tm do cristianismo suficientemente sria para coloc-las fora do crculo da f. Isso, porm, no se aplica aos ensinos do evangelho da prosperidade. Seus adeptos no negam nenhuma doutrina bsica nem buscam outro fundamento que no seja Cristo e os apstolos. Antes, trata-se de uma forma de compreender a Bblia que, conforme mostrarei, abandona em alguns pontos as possibilidades de interpretao permitidas pela prpria Bblia. Eu acrescentaria que ela e uma forma bem moderna de interpretao, que reflete pressuposies contemporneas sobre aquilo que o homem pode esperar da vida. Seus ensinos podem ser comparados a outro fenmeno moderno: o vrus de computador. Ambos so capazes de se espalhar em qualquer sistema, danificando aquilo que tocam, mas raramente destruindo por completo o objeto da infeco. De modo semelhante, esta interpretao do evangelho altera a mensagem crist, mas no a torna irreconhecvel ou irrecupervel.Na histria da igreja, novas interpretaes da Bblia ou de uma nica doutrina apareceram em dimenses e formas diferentes. Algumas comearam em crculos pequenos e continuam assim, tal como o reduzido grupo de igrejas "apostlicas" de hoje, que crem que a doutrina da trindade no bblica. Outros, tais como os adventistas do stimo dia, desenvolvem interpretaes o bastante para atrair adeptos que chegam a formar uma denominao por si mesmos. Cada caso e diferente, mas, de modo geral, uma nova interpretao da Bblia ir se expandir se atender uma ou mais das seguintes condies: 1) ter um lder "carismtico" (ou lderes) que expresse com eloqncia a nova doutrina; 2) satisfazer as necessidades e esperanas das pessoas; e 3) corresponder bem ao ambiente cultural. A teologia da prosperidade atende com excelncia cada uma dessas trs condies. dirigida por um grupo relativamente pequeno de lderes talentosos e que esto em evidncia. Ela tem resposta para algumas das esperanas mais profundas que as pessoas tm na vida, ou seja, o desejo de ter sade e prosperidade financeira. Alm disso, encaixa-se bem nas pressuposies culturais da sociedade ocidental, no sentido de que as boas coisas da vida no devem ser evitadas, mas buscadas e aproveitadas. Dentre esses fatores, os mais importantes so o segundo e o terceiro. O evangelho da prosperidade est fadado a se expandir por algum tempo e a ser ouvido e acatado por muitos, pois diz aquilo que as pessoas querem escutar. Novos movimentos crescem porque satisfazem alguma necessidade do corao humano expressa na cultura de determinada poca. Na igreja primitiva, os primeiros convertidos eram quase todos judeus. Durante dcadas os apstolos lutaram contra a inclinao que eles apresentavam, como seguidores de Cristo, de continuar sendo judeus antes de mais nada. No segundo e terceiro sculos, o gnosticismo dizia aos gregos e romanos recm-convertidos que havia um conhecimento secreto que estava disposio daqueles que o buscassem. Isso exercia uma enorme atrao sobre aqueles que haviam sido educados segundo o pensamento grego, pois tais pessoas haviam aprendido que as verdades mais elevadas sobre as realidades espirituais estavam disposio daqueles que as buscassem. Em nossa poca, parece que a promessa de sade e riqueza vai de encontro s mais profundas esperanas culturais e pessoais do homem atual.

O evangelho da prosperidade aproveita-se das pressuposies de nossa cultura e das esperanas pessoais de forma extremamente agressiva. Observe o seguinte anncio, colocado em dois jornais que atendem a colnia brasileira da costa leste dos Estados Unidos, o Brazilian Voice e o Brazilian Times. O anncio prometia soluo para os seguintes casos:Desemprego, caminhos fechados, dificuldades financeiras, depresso, vontade de suicidar, solido, casamento destrudo, desunio na famlia, vcios (cocana, crack, lcool, etc), doenas incurveis (cncer, aids, etc), dores constantes (de cabea, coluna, pernas), insnia, desejos homossexuais, perturbaes espirituais (voc v vultos, ouve vozes, tem pesadelos, foi vtima de bruxaria, macumba, inveja ou olho grande), m sorte no amor, desnimo total, obesidade, etc. ... Ns! Sim, ns temos a soluo para voc! (Ultimato, janeiro de 93, 14.)

Dificilmente existe um problema conhecido pela humanidade que no esteja includo nessa lista. Qual a pessoa que, margem de uma sociedade estranha, sentindo-se deslocada e alienada, no ficaria curiosa para buscar maiores informaes?Parte da fascinao dos ensinos sobre prosperidade est no fato de eles, aparentemente, prometerem tantas coisas e exigirem to pouco em troca. Eles afirmam que a sade e as riquezas so nossas; basta que sigamos os passos apropriados da confisso positiva. A maioria das religies e pseudo-religies exige mais de seus seguidores. O marxismo oferece um bom contraste. No incio e at meados deste sculo, ele exerceu forte atrao sobre as sociedades que estavam desencantadas com a liberdade poltica de que gozavam e cansadas da pobreza econmica. O marxismo atraa seus adeptos por meio de promessas quase religiosas de justia, liberdade e cumprimento para toda a sociedade do futuro. Entretanto, ele no prometeu que a utopia futura viria sem um preo. Dificuldades econmicas, perda de liberdade pessoal e governos ditatoriais faziam parte do preo que a gerao daquele momento deveria pagar. Muitos aceitaram aquilo de boa vontade, pensando que assim trariam uma sociedade melhor para seus filhos (Hyde, 1966). Mas isso no aconteceu. A questo que, ao contrrio do marxismo, os pregadores do evangelho da prosperidade parecem oferecer tudo e exigir quase nada em troca, exceto, talvez, que o fiel seja mais generoso na hora de abrir a carteira durante a oferta. No ltimo captulo, verificaremos que as reais exigncias so bem maiores do que essa, embora, a princpio, sejam ocultadas.Com esse tipo de mensagem possvel formar uma igreja grande em pouco tempo. Dos que esto doentes, quem no vir para ouvir promessas de cura? Satans observou h muito tempo que a oferta de cura irresistvel: "... e tudo quanto o homem tem dar pela sua vida" (J 2.4). Dentre os pobres, quem no vir para ouvir promessas de prosperidade? Dentre aqueles que no tm certeza do que fazer e de qual direo dar vida, quem no seguir prontamente os que afirmam ter autoridade divina? Resta saber por quanto tempo essas pessoas permanecero fiis a tal mensagem.

Iniciamos este exame do evangelho da prosperidade com a conscincia de que, junto com este trabalho, aparecem duas responsabilidades. Primeira, os ensinos do evangelho da prosperidade devem ser apresentados da forma mais justa e exata possvel. No deve haver exageros ou distores daquilo que est sendo dito e pensado. Segunda. aqueles que consideram este novo evangelho atraente devem ser tratados como irmos. Qualquer um que afirme ser cristo deve ser tratado como tal, at que atos ou palavras provem o contrrio. A responsabilidade dos pastores e lderes na igreja de examinar e avaliar cuidadosamente qualquer doutrina que desafie o cristianismo bblico. Mas essa responsabilidade no envolve, o questionamento da salvao de algum. Aqueles que afirmam ser seguidores de Cristo devem ser recebidos, tanto quanto possvel, como irmos na f. Isso significa que eles devem ser amados, no odiados, incentivados por meio da correo, no amaldioados ou expulsos. luz dessas consideraes que devem ser lidos os comentrios crticos presentes nesse trabalho.

2. Antecedentes HistricosO evangelho da prosperidade algo novo na histria da igreja. Parece que nada como ele j foi visto antes. Mas isso no quer dizer que ele tenha surgido de modo repentino ou aparecido totalmente formado. Como todo movimento, ele se desenvolveu com o tempo, e isso significa que tem razes ligadas a pessoas, pocas e lugares diversos. Nesta parte, identificaremos alguns de seus personagens principais e estabeleceremos o papel que tiveram na expanso do movimento. Uma vez feito isso, o leitor ter um fundamento histrico a partir do qual poder entender melhor a ramificao brasileira desse movimento contemporneo.Amplas pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre o assunto revelam que existem duas razes histricas e filosficas do evangelho da prosperidade: pentecostalismo (Barron, 1987) e vrias seitas metafsicas do incio do sculo XX, que floresceram na rea de Boston (McConnell, 1988). Dessas duas fontes, o pentecostalismo forneceu a base ou o grupo onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os pressupostos filosficos propriamente ditos foram fornecidos pelas seitas metafsicas. de suma importncia que o leitor pentecostal inquiridor perceba essa importante distino. Desde seu incio, a teologia da prosperidade encontrou nas igrejas pentecostais e carismticas uma acolhida maior do que a de qualquer outro contexto, mas foram as seitas metafsicas que forneceram os ensinos distintivos e a cosmoviso geral que deram forma ao evangelho da prosperidade. Desses dois elementos, estamos mais preocupados com o ltimo, ou seja, a cosmoviso estranha que a doutrina da prosperidade absorveu. Entretanto, antes de passarmos a consider-la em detalhes, precisamos olhar brevemente para as razes histricas nas denominaes pentecostais e carismticas.

2.1 A Conexo PentecostalO movimento pentecostal um fenmeno relativamente novo e teve suas origens no incio do sculo XX, nos Estados Unidos. Mas o evangelho da prosperidade ainda mais novo. Suas origens remontam com certeza at, no mximo, os dias de E. W. Kenyon, que alcanou o auge de sua carreira nos anos 30 e 40. A doutrina da prosperidade to recente que apenas nos anos 70 ela havia se desenvolvido o bastante para ser identificada como um movimento constitudo. No Brasil, ela ainda mais recente. Entretanto, a questo histrica mais importante no o fato de ela ser nova, mas que o pentecostalismo no foi o pai desse novo evangelho, embora talvez possa ser chamado de padrasto, por causa da forma como o abraou e seguiu seus ensinos. Ento, a primeira pergunta que se levanta por que as denominaes pentecostais tm sido mais abertas a esse ensino do que qualquer outro grupo protestante. A resposta parece estar na tendncia que elas tm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para vises, revelaes e orientaes espirituais contnuas fora da Bblia, cria-se um espao para a entrada das afirmaes do evangelho da prosperidade. Isso traz uma importante implicao para o leitor que est tentando identificar as razes e sutilezas da doutrina da prosperidade no h necessariamente nenhuma ligao entre o pentecostalismo e os ensinos do evangelho da prosperidade. Todavia, por causa das associaes histricas, em vez de conceptuais, vale a pena traar brevemente a histria do pentecostalismo, com nfase sobre aqueles que, dentro do movimento, afirmavam curar pela f e apoiavam essa prtica.

As razes histricas do movimento pentecostal remontam aos meados do sculo XIX na Europa e incio do sculo XX nos Estados Unidos. Os primeiros pregadores que afirmavam ter os atuais dons de cura e de lnguas apareceram nas dcadas de 1850 e 1860, na Inglaterra e na Alemanha. Entre eles estavam o pregador escocs Edward Irving, Dorothea Trudel, uma camponesa sua, Johann Christian Blumhardt, ministro luterano, e Otto Stockmayer, pastor suo (Holleweger, 1988). Esses indivduos no estavam ligados como partes de um movimento constitudo, mas a fama do ministrio deles espalhou-se pelo mundo e chamou ateno para suas afirmaes de cura por meio da f somente. Embora afirmassem possuir o dom espiritual da cura, aquelas pessoas no ensinavam completamente um evangelho de sade e prosperidade. Isso apareceu muito mais tarde.

No final do sculo XIX, vrios pregadores na Amrica do Norte tambm comearam a afirmar que possuam dons de cura e, alm disso, que todos os cristos tinham direito sade como parte da expiao. A. J. Gordon, fundador de uma respeitada instituio de ensino teolgico, e A. B. Simpson, fundador da Aliana Crist e Missionria, foram dois lderes importantes. Ambos escreveram livros sobre cura que at hoje so utilizados como fontes bsicas por aqueles que ensinam a cura pela f (Gordon, 1881; Simpson, 1925). Por meio da liderana deles, junto com muitos outros que pregavam idias semelhantes, o nmero de pessoas que curavam pela f havia crescido dramaticamente no final do sculo XIX, e a expresso "cura pela f" havia se tornado quase um chavo na Europa e nos Estados Unidos. Alguns pregadores da cura ganharam reconhecimento nacional, incluindo Dowie, Parham, McPherson, Wigglesworth, Seymour, Bosworth e alguns outros. Esses homens (e mulheres) trabalhavam de modo independente, como evangelistas itinerantes que afirmavam ter vrios dons especiais, incluindo invariavelmente lnguas e cura. (Eles tambm partilhavam da caracterstica de no terem treinamento teolgico formal.) Embora tenham levado grandes multides a seus encontros, o principal segmento da igreja evanglica nunca aceitou realmente suas afirmaes de que tinham poder para curar. surpreendente que nesse segmento estavam includas as jovens denominaes pentecostais daquela poca. Aparentemente elas consideravam sem substncia e muito radicais as afirmaes dos detentores de dons de cura (Barron, 1987). Mais ou menos em meados da dcada de 1930, parecia que a cura pela f iria cair no esquecimento. Em vez disso, ela encontrou nova vida no movimento carismtico.O leitor se lembrar de que a palavra "carismtico" aplica-se queles que afirmam ter o dom de lnguas ou outros dons espirituais extraordinrios, mas que permanecem filiados s denominaes tradicionais. Nos Estados Unidos, o movimento carismtico floresceu nos anos 50 e 60, e foi nas principais igrejas que a mensagem de cura e prosperidade encontrou um novo pblico. Esse foi um ponto crtico para aqueles evangelistas e pregadores que utilizavam o rdio, tais como Osborn, Lindsay e Hagin, pois lhes conferiu uma audincia muito mais ampla e um acesso bem maior s contribuies financeiras. Foi com o impulso dado pelo movimento carismtico que a mensagem de f e prosperidade no desapareceu, mas cresceu em alcance e influncia.Resumindo, os ensinos de prosperidade no tiveram origem dentro do pentecostalismo. Todavia, a tendncia das denominaes pentecostais de aceitarem afirmaes de autoridade proftica criou um espao teolgico onde a doutrina da prosperidade pde se firmar e crescer. Aps um perodo de rejeio, muitos que faziam parte das denominaes pentecostais estavam seguindo os lderes que afirmavam ter tal autoridade e que, com base nela, ensinavam a doutrina da prosperidade. Nossa primeira concluso histrica, ento, que o pentecostalismo foi o portador dessa doutrina, mas ela necessariamente no faz parte das crenas pentecostais.2.2 As Razes nas Seitas Metafsicas

A crena de que a cura um direito do cristo h muito tempo faz parte de vrias igrejas. Mas o ensino de que o cristo tambm tem direito prosperidade e de que deve reivindic-lo por meio da confisso positiva encontra razes diferentes. O ncleo conceptual do evangelho da prosperidade est numa cosmoviso que remonta no doutrina pentecostal, mas a alguns pequenos movimentos heterogneos do incio do sculo XX conhecidos como "seitas metafsicas" (McConnell, 1988). Talvez essas seitas possam ser consideradas o equivalente antigo daquilo que hoje conhecemos como movimento da Nova Era. Nesta parte de nossa introduo, verificaremos brevemente como as crenas dessas seitas puderam influenciar as idias de milhes de cristos de nossa poca. A ligao doutrinria entre elas e o ensino do evangelho da prosperidade converge para apenas dois homens: Kenneth Hagin e E. W. Kenyon.Kenneth HaginHagin nasceu em 1918, prematuro de alguns meses. Parece que isso o deixou com uma leso congnita no corao que nunca foi exatamente diagnosticada. certo que ele foi frgil e doente em sua infncia. Para complicar mais as coisas, ele foi educado num ambiente de relativa pobreza, porque aquela foi uma poca difcil na histria dos Estados Unidos e tambm porque seu pai abandonou a famlia, quando Hagin tinha seis anos de idade.

Quando ele atingiu a adolescncia, sua sade piorou. Aos 16 anos foi confinado a uma cama e recebeu esperana de pouco tempo de vida. Segundo seu testemunho, ele ficou ali durante 16 meses, antes que sua vida mudasse radicalmente para melhor. Aconteceram duas coisas para inverter sua sorte: primeira, ele afirma ter recebido uma srie de vises nas quais foi levado primeiro ao inferno e depois ao cu, trs vezes em seguida. As viagens para o inferno afugentaram-no para o arrependimento, e as visitas ao cu conduziram-no f e converso. Discutiremos com mais detalhes essa e outras vises nos captulos dois e trs.) Ele diz a seus seguidores que, logo depois disso, recebeu uma revelao do "verdadeiro" significado de Marcos 11.23, 24 e da natureza da f crist. A essncia dessa revelao era que, para obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido respondidos, mesmo que as evidencias fsicas no indiquem que a orao foi atendida. Uma vez feita a orao, o fiel deve afirmar constantemente a resposta, at que surja a prova. Essa , por certo, a essncia daquilo que hoje ensinado como "confisso positiva". Hagin afirma que a fonte disso no foi outra seno o prprio Senhor.

Ele nos conta que, na condio de um adolescente preso cama, comeou a colocar em prtica essa nova compreenso do evangelho. Depois de pedir ao Senhor que o curasse, ele comeou a declarar todos os dias que havia sido curado, repetindo sempre para si prprio que Deus tinha respondido sua orao e que ele estava bem, no importando como se sentisse. Por fim, depois de afirmar sua sade durante oito meses, ele saiu da cama e deu alguns passos. A cada dia ele andava um pouco mais e foi se fortalecendo aos poucos. Embora Hagin tenha tido uma sade frgil durante muitos anos depois daquilo, ele realmente no morreu como os mdicos haviam previsto e, segundo seu testemunho, nunca mais ficou doente.

As vises na adolescncia de Hagin e as melhoras posteriores em sua sade foram um ponto crtico em sua vida. Ele decidiu que iria consagr-la ao Senhor e ganhar a vida pregando o evangelho. Ele no freqentou um seminrio, mas depois de se formar no segundo grau comeou imediatamente a pastorear uma igreja batista. O primeiro pastorado no durou mais do que alguns meses depois de sua posse e, aps recontar suas histrias das vises de Deus, afirmou tambm ter recebido o dom de lnguas. Foi ento convidado a sair. Ele se juntou Assemblia de Deus, pelo fato de haver ali uma poltica de maior abertura diante de vises e dons espirituais. Nos 12 anos seguintes, ele pastoreou vrias igrejas pentecostais na regio sul dos Estados Unidos. Com a idade de 30 anos, decidiu deixar o pastorado e se tornar pregador da cura itinerante. Aqueles eram os anos 50, poca nos Estados Unidos em que, como observamos acima, o movimento carismtico estava crescendo rapidamente, e assim comearam a aparecer os grandes nomes de hoje da cura pela f. Hagin fez um pouco de sucesso e, tendo facilidade de ensinar num estilo simples e despretensioso, comeou a circular um boletim mensal. Seu pblico leitor cresceu com o passar do tempo e, no incio dos anos 70, seu ministrio tinha tamanho suficiente para justificar a construo de sua prpria escola, conhecida at hoje como Instituto Bblico Rhema.

bom enfatizar que Hagin no tem nenhum treinamento teolgico formal. Ele nunca estudou os pais da igreja, nem os reformadores, nunca teve de prestar um exame de teologia sistemtica ou fazer uma lista das regras bsicas de hermenutica. Pelo contrrio, Hagin afirma ter superado a necessidade de tal treinamento. semelhana do apstolo Paulo, ele diz que nenhum homem lhe ensinou sua doutrina, uma vez que ele a recebeu diretamente de Cristo. (Em contraste com isso, temos Paulo, que, antes de se converter, era um rabino judeu altamente treinado.) De importncia fundamental a alegao de, instruo divina feita por Hagin. Antes de qualquer outra coisa, isso coloca o selo de aprovao de Deus sobre sua mensagem e ministrio. Com efeito, discutir com Hagin discutir com Deus. Em segundo lugar, ele nega qualquer ligao com grupos ou pessoas ou mesmo influncia da parte deles. Tendo se originado na boca de Deus, seu ensino de prosperidade no tem razes histricas, mas simplesmente caiu pronto do cu. Pelo menos isso que ele afirma. Entretanto, aqueles que tm pesquisado a doutrina da prosperidade percebem que os ensinos de Hagin so notavelmente parecidos com os de E. W. Kenyon, pregador da cura que viveu uma gerao antes. E para ele que agora nos voltamos.E. W. Kenyon

Kenyon participa de nossa histria, porque parece que ele foi a verdadeira fonte dos ensinos de Hagin sobre a confisso positiva. Mais ou menos como Hagin, ele teve pouco treinamento teolgico formal e comeou seu ministrio pastoreando vrias igrejas, incluindo metodistas, batistas e pentecostais. Contudo, sua teologia era diferente das de todas elas e, por fim, tornou-se um evangelista itinerante sem vnculos com nenhuma denominao. Com o passar do tempo, comeou a atingir um grande pblico por meio de seu programa de rdio e de um boletim peridico, tendo chegado ao ponto mximo de audincia no final dos anos 30 e incio da dcada de 40. Para ns, o que mais importa que ele produziu 18 livretos sobre seus ensinos. So esses livretos que nos permitem traar sua ligao com Hagin. Antes de discutirmos o contedo deles, ser bom saber algo mais dos antecedentes teolgicos de Kenyon.

Embora no tenha freqentado um seminrio teolgico, ele estudou em uma escola de nvel inferior ao universitrio. Quando jovem, matriculou-se no Emerson College, em Boston, o ncleo do movimento "transcendental" do final do sculo XIX e incio do XX. As vrias sociedades filosficas que floresceram durante certo tempo naquele campus, quela poca, so hoje reunidas sob o ttulo "seitas metafsicas". Muitas tiveram vida curta, e poucas sobreviveram depois da Segunda Guerra Mundial. Mas durante os anos 20 e 30, quanto estavam em seu auge, elas incluam em seu rol pequenas sociedades conhecidas como "Escola da Unidade do Cristianismo", "Cincia Divina", "Igreja da Cincia Religiosa", "Lar da Verdade", "Igreja da Verdade", "Liga da Igreja de Cristo", "Sociedade do Cristo que Cura" e "Assemblia Crist". Para o leitor brasileiro difcil compreender as sutilezas dessas seitas orientais e as distines entre elas, assim como no fcil explicar para um norte-americano os diferentes tipos de espiritismo aqui no Brasil. Cada um desses grupos caracterstico de sua prpria cultura. Para nossos fins, no necessrio conhecer detalhes de suas crenas, mas apenas captar a maneira como eles enxergam o mundo.

Em primeiro lugar, aqueles grupos eram conhecidos como "metafsicos", por ensinarem que a verdadeira realidade "meta-fsica", ou seja, vai alm da realidade fsica. Isto significa que a esfera do esprito no somente maior do que o mundo fsico, mas tambm controla cada aspecto dele e a causa de todos os efeitos por ele sofrido. Alguns de seus ensinos centrais foram registrados como declaraes com efeito de credo e incluem as seguintes proposies:Todas as causas primrias so foras internas... A mente primria e causativa... A soluo para todo defeito ou desordem metafsica, alm do elemento fsico, na esfera das causas, que so mentais e espirituais... Deus imanente, Esprito que habita, Todo-Sabedoria, Todo-Bondade, sempre presente no universo. Portanto, o Mal no pode ter espao no mundo como realidade permanente; ele a ausncia do bem... (McConnell, 1988, 39, 40).

O leitor notar que o destaque dado esfera espiritual foi casado com a crena de que a mente humana pode control-la. fundamental para as crenas desses grupos sustentar que o homem tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influencia sobre o espiritual. Bastam conhecimento e f. Se o homem compreender corretamente as leis espirituais da vida e tiver f para agir segundo elas, poder atingir resultados espantosos,

Em segundo lugar, para eles a cura constitua o principal ponto de destaque. No artigo sobre essas seitas metafsicas, a Encyclopedia Britannica descreveu-as como um "movimento de cura pela mente..." (15a edio). Diziam eles que, se pensarmos de modo certo, podemos controlar nossa sade e, se nossa capacidade mental for especialmente grande, podemos dar forma a cada aspecto de nossa vida, decidindo-nos por ter sade e prosperidade. O leitor perspicaz observar que alguma coisa parecida com isso est sendo ensinada hoje pelo movimento da Nova Era e, em sua forma secular, pela grande variedade de livros de auto-ajuda e de motivao ao sucesso. A maioria das pessoas que l esses livros no tem conscincia de que eles contm uma viso metafsica distinta, que pressupe que a mente humana tem controle sobre a esfera espiritual. Kenyon, enquanto estudava no Emerson, tornou-se um seguidor fiel desses ensinos "transcendentais". Ele acreditava que essa forma de ver o mundo no somente era compatvel com o cristianismo, mas tambm oferecia um aperfeioamento da espiritualidade crist tradicional. Decidiu, ento, reunir a f crist na redeno por meio de Cristo e o ensino transcendental de que a mente pode controlar a realidade. Mediante o uso correto da mente, os benefcios da redeno podiam ser reivindicados pelo fiel. Durante o restante de sua vida, ele fez questo de ensinar essa nova interpretao das Escrituras, certo de que aquilo representava um aperfeioamento maravilhoso da tradio crist e de que traria tona um cristianismo melhor, no qual todos os que seguissem a Cristo gozariam de sade e prosperidade durante toda a vida. No havia limite para as possibilidades talvez surgisse uma super-raa de cristos que no mais estariam presos doena ou a pobreza. Conscientes do poder que estava disposio deles na esfera espiritual, esses cristos poderiam assumir o controle do mundo nos ltimos dias antes da volta de Cristo (McConnell, 1988, 51).Retornemos agora a Hagin e sua interpretao de Marcos 11, que ele afirma ter recebido enquanto estava doente, em 1934. Ele diz que aquela viso foi o incio de sua nova compreenso da Bblia e, tendo sado da boca do Senhor, era a Palavra de Deus autntica. Entretanto, existe outra explicao, que deriva do fato de que os escritos de Hagin so muito parecidos com os de Kenyon, e isso no coincidncia. Parece que, enquanto era jovem. Hagin leu muita coisa escrita por Kenyon. As semelhanas entre os livros que Kenyon escreveu sobre cura, prosperidade, e confisso positiva e aqueles que Hagin mais tarde escreveu, afirmando terem vindo diretamente de Deus, ficam evidentes para qualquer pessoa que tenha em mos as duas colees de livros. De fato, em alguns casos, Hagin no somente leu os textos de Kenyon; ele copiou palavra por palavra e, depois, lanou os resultados como se fossem fruto de seu trabalho. Por exemplo, quase 75% da edio original do livro A Autoridade do Crente coincide palavra por palavra com um livreto anterior de Kenyon, publicado em sua origem com o mesmo ttulo. Desse modo, no nos causa nenhuma surpresa o fato de os ensinos de ambos serem os mesmos. claro que nem todos os livros de Hagin so cpias dos de Kenyon mas as semelhanas so grandes. Depois de fazer uma comparao entre os escritos dos dois, McConnell escreveu: "At as doutrinas que fizeram de Kenneth Hagin e do Movimento da F uma fora poderosa e distintiva dentro do movimento carismtico independente so plagiadas de E. W. Kenyon" (1988, p.7).

Hagin nega de modo inflexvel que isso seja verdade. Ele diz que nunca plagiou Kenyon e que seus ensinos vieram diretamente da boca do Senhor. Somente depois de 1979, quando as semelhanas entre os livros foram apontadas por vrios leitores, ele veio a admitir ter lido as obras de Kenyon. Mesmo assim, ele tem certeza de que no estudou nenhum dos escritos de Kenyon antes de 1950, ou seja, 13 anos depois de ter recebido a revelao que fez seu ministrio decolar. Ento, como ele explica as semelhanas? Hagin diz que elas se devem ao fato de ambos os escritos serem a Palavra de Deus.

A concluso dessa histria que a teologia de Hagin tem suas razes nos escritos de Kenyon, os quais, por sua vez, esto baseados numa cosmoviso estranha ao cristianismo. Por isso, constitui ponto de destaque nessa introduo dizer que, apesar de o evangelho da prosperidade ter se difundido dentro do crculo pentecostal, ele no teve ali sua origem e no faz obrigatoriamente parte de seus ensinos. Parte do alvo deste trabalho isolar essa influncia estranha e demonstrar sua incompatibilidade com o cristianismo bblico.

3. Prvia do ContedoOs quatro captulos restantes deste livro assumem a seguinte forma: no captulo dois, os ensinos da teologia da prosperidade sero apresentados de maneira sistemtica. As fontes estaro quase inteiramente limitadas aos escritos de Hagin, muitos dos quais se encontram em portugus. Estes sero ocasionalmente complementados com aquilo que escrevem R. R. Soares ou Ken Copeland, mas Hagin merecidamente conhecido como o pai da doutrina da prosperidade, e at esta data seus escritos fornecem a melhor exposio de suas idias.

O leitor poder fazer a objeo de que existem diferenas importantes entre Hagin e outros indivduos que pregam a doutrina da prosperidade. verdade que o evangelho da prosperidade antes um movimento, no uma denominao, e, portanto, cada pessoa faz e ensina aquilo que acha mais apropriado. Entretanto, parece haver um grau razovel de homogeneidade nas crenas. Este livro teve origem num ambiente de aulas de seminrio, e uma das tarefas que cada aluno recebeu foi a de ir a uma igreja que estivesse ensinando a doutrina da prosperidade e depois fazer um relatrio sobre aquilo que ouviu. Os resultados confirmaram a suspeita de que o evangelho da prosperidade pode ser um movimento que cruza as fronteiras denominacionais, mas seus verdadeiros ensinos variam muito pouco e so muito bem abrangidos pelos escritos de Hagin.

O captulo dois considerar a teologia da prosperidade sob trs aspectos diferentes: l) autoridade espiritual; 2) sade e prosperidade; 3) confisso positiva. Os mesmos ttulos sero usados como temas divisores no captulo trs, onde ser oferecida uma resposta a cada ponto em particular. Na diviso intitulada "Autoridade Espiritual", provarei que as afirmaes de Hagin e outros quanto autoridade proftica no resistem ao escrutnio. Em segundo lugar, na seo chamada "Sade e Prosperidade", tentarei mostrar que as promessas feitas so baseadas numa exegese da Bblia que se revela defeituosa e de qualidade inferior. Em terceiro lugar, na parte intitulada "Confisso Positiva", procurarei demonstrar que as regras e os mtodos dessa prtica tem suas razes numa cosmoviso que tem mais a ver com as seitas metafsicas do que com o cristianismo bblico.

O captulo quatro analisar com mais detalhes a cosmoviso que est por trs da doutrina da prosperidade. Embora os tpicos desse captulo raramente sejam pregados nos plpitos da prosperidade, eles so essenciais para compreendermos a razo pela qual essa teologia faz as afirmaes que vemos. A discusso ser dividida em cinco reas: o dualismo da natureza humana, do conhecimento humano, da salvao, dos deuses e, por fim, do problema do mal.

No final, no captulo cinco ser oferecido um resumo que compara a espiritualidade da doutrina da prosperidade com a espiritualidade da Bblia.Captulo DoisOS ENSINOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Qual a mensagem do evangelho da prosperidade como um todo? Como ele justifica sua afirmao de que uma nova e melhor interpretao da Bblia? O que o cristo precisa fazer para conseguir gozar a promessa de sade e prosperidade? Neste captulo, tentaremos apresentar de forma ordenada os ensinos da doutrina da prosperidade, comeando com sua alegao de autoridade espiritual, seguida pelas promessas feitas com base nessa autoridade, at chegarmos s regras ou mtodo necessrio para a obteno daquilo que prometido.

Introduo

Conforme observamos acima, o evangelho da prosperidade ser considerado de acordo com as trs divises seguintes: "Autoridade Espiritual", "Sade e Prosperidade" e "Confisso Positiva". Juntas, elas perfazem um sistema coeso. claro que o leitor no ir encontrar esse tipo de apresentao em nenhum dos livros de Hagin nem ouvi-lo num sermo, pois essas categorias so extradas a partir de uma anlise cuidadosa de seus livros, vistos como um todo e organizados de maneira lgica. O leitor descobrir que, uma vez que a teologia de Hagin e assim organizada, seus escritos fazem mais sentido.Presume-se que muitos leitores deste livro leram poucos ou nenhum dos livros sobre prosperidade que se encontram venda. Talvez voc tenha tido contato com a doutrina da prosperidade somente por meio do rdio ou da televiso ou ouvido falar sobre ela em conversas com amigos e membros de sua igreja, sem nunca hav-la conhecido de forma direta. Por isso, forneceremos citaes extensas das obras de Hagin. Isso dar condies ao leitor de julgar por si prprio se as anlises e respostas aqui oferecidas so justas e convincentes. O leitor deve manter em mente que o propsito do captulo dois somente de expor a doutrina da sade e da prosperidade e no apresentar uma resposta a ela. Todos os comentrios crticos foram colocados no captulo seguinte, onde se encontra uma resposta a cada questo levantada.Uma palavra sobre as citaes: as de Hagin sero seguidas pela palavra principal extrada do ttulo do livro que est sendo citado. Para localizar o texto, o leitor precisa simplesmente encontrar o ttulo completo do livro na bibliografia no final deste volume e, ento, verificar o nmero da pgina. Por exemplo, a referncia (Uno, 9) significa que a citao foi extrada da pgina 9 do livro de Hagin chamado Compreendendo a Uno. Todos os demais livros citados seguiro este padro: nome do autor, data de publicao e, se necessrio, nmero da pgina.

1. Autoridade EspiritualA semelhana de muitas igrejas carismticas e pentecostais, Hagin ensina que Deus est ungindo profetas nos dias de hoje. Tais homens so porta-vozes de Deus e, portanto, trazem consigo a autoridade do prprio Senhor. "Deus ainda est ungindo profetas hoje. Esses profetas so porta-vozes dEle..." (Uno, 9). Ele ridiculariza aquelas denominaes que ensinam que a autoridade apostlica cessou com a morte dos Doze, dizendo que "o diabo j ludibriou denominaes inteiras", fazendo-as pensar que esse dom cessou com os Doze (Nome, 51), No nos surpreende o fato de Hagin afirmar ser um desses porta-vozes escolhidos, e seus sermes e escritos esto repletos de mensagens e vises da parte de Deus. As expresses encontradas com maior freqncia em seus livros so: "tive uma viso", "tive uma viso espiritual rpida" ou "o Senhor me disse". Algumas vezes essas vises so de natureza espetacular, semelhana da vez em que ele foi levado ao inferno trs vezes num nico dia.

... conforme j preguei muitas vezes, eu mesmo fui para o inferno. Foi no dia 22 de abril de 1933, s 19:30 do sbado... meu corao parou em meu peito, e senti a circulao desligada... tive a sensao de pular para fora do meu corpo... Comecei a descer. Desci cada vez mais fundo, como se fosse em direo ao fundo de um poo. Olhei para cima, e ainda via as luzes da Terra, muito acima de mim. Quanto mais descia, tanto mais escuro ficava. Finalmente, as trevas me envolveram... Minha mente, minha alma, estava intacta... Vi l longe, na minha frente, uma chama alaranjada gigante, com uma crista branca. Ento cheguei ao porto, entrada, aos portais do prprio inferno. Algum tipo de criatura estava me esperando no fundo do poo... a criatura... agarrou o meu brao... No momento em que aquela criatura me pegou pelo brao para me escoltar para dentro, uma voz falou... No consegui compreender o que a voz dizia... Quando, porm, Ele falou aquilo, seja o que for... aquele local inteiro tremeu e estremeceu como uma folha no vento. Ento aquela criatura largou o meu brao, e alguma coisa como uma suco, puxando-me irresistivelmente pelas costas, sem me virar, me puxou para trs, para longe da entrada do inferno e das trevas do abismo, e subi... O cenrio inteiro repetiu-se trs vezes (Crescimento, 38-40).

A mesma experincia repetiu-se algum tempo depois, mas dessa vez a direo foi para cima, em vez de para baixo:

E quatro meses mais tarde, no dia 16 de agosto de 1933, s 13:30, fiquei sabendo de novo que estava morrendo... tive a mesma sensao que j tivera antes. Mas desta vez, eu era salvo!... Dessa vez a viagem no era para baixo, mas para cima (Crescimento, 41; veja tambm Nome, 63).

Muito mais importantes do que essas viagens para o cu e para o inferno so suas afirmaes de ter sido instrudo pessoalmente por Jesus em assuntos de doutrina. Ele alega ter recebido no menos do que oito visitas pessoais de Jesus que visavam ensinar-lhe a verdade. As seguintes passagens so bem caractersticas:

Em dezembro de 1952, enquanto eu e um pastor orvamos na cozinha da sua casa pastoral, o Senhor Jesus Cristo apareceu diante de mim numa viso. Disse: "Vou-lhe ensinar a respeito do diabo, dos demnios, e dos espritos maus"... Fiquei arrebatado naquela viso durante uma hora e meia enquanto Jesus me ensinava. (Nome, 78.)

Certa noite, enquanto alguns amigos se preparavam para servir um lanche depois de um culto em Phoenix, Estado da Arizona, recebi da parte do Esprito Santo um impulso excepcionalmente forte para orar... "Estou obrigado a orar agora", falei aos meus amigos. "Oremos todos ns, portanto", concordaram. Mal meus joelhos tocaram no cho, e eu j estava no Esprito... Durante 45 minutos, orei em lnguas, com gemidos... Em seguida, tive uma viso... Ento, o prprio Senhor Jesus apareceu a mim. Vi-O to claramente quanto poderia ver voc. Ele ficou menos de um metro de distncia de mim. Tratou de assuntos que diziam respeito ao meu ministrio e minha situao financeira, e at mesmo ao nosso governo dos Estados Unidos... Terminando, Ele me exortou: "Seja fiel e cumpra seu ministrio, meu filho, pois o tempo est curto". Essa viso me foi dada em dezembro de 1953. Jesus virou-Se, e comeou a afastar-Se, mas falei: "Querido Senhor Jesus, antes de ires embora, posso fazer-Te uma pergunta? Jesus deu uns passos de volta, ficou em p perto de onde me ajoelhava, e disse: "Pode." (Crescimento, 75, 76.)

Quero voltar... para aquilo que Jesus me disse em fevereiro de 1959 em El Paso, Texas. Eram seis e meia da tarde. Eu estava sentado na cama, estudando... Ouvi passos. A porta do meu quarto estava semi-aberta, uns 30 ou 40 centmetros. Olhei, portanto, para ver quem estava entrando no meu quarto. Esperava ver alguma pessoa fsica, literal. Mas quando olhei para ver quem era, vi Jesus. Parecia que os cabelos do meu pescoo e da minha cabea ficaram eriados, totalmente em p. Caroos de arrepio surgiram de repente em todas as partes do meu corpo. Vi-O. Ele estava usando vestes brancas. Estava usando sandlias romanas. (Jesus apareceu na minha frente oito vezes. Em todas as demais ocasies, seno esta, Seus ps estavam descalos. Desta vez, Ele usava sandlias; foram as sandlias que eu escutara). Ele parecia medir cerca de 1 metro 80 centmetros, e dava a impresso de pesar cerca de 82 kg. Ele passou pela porta e a empurrou para trs at quase fech-la. Andou em derredor do p da minha cama. Eu O seguia com os olhos quase fascinado. Ele pegou uma cadeira de costas retas e a puxou para perto da minha cama. Depois, sentou-se nela, dobrou as mos, e comeou Sua conversa, dizendo: "Disse-lhe anteontem noite no automvel pelo Meu Esprito"... (Dirigido, 29, 30; veja tambm Planos, 99; Uno, 39.)

Tais sesses educativas devem ter grande importncia no reino celestial, pois Hagin relata que, s vezes, demnios tentam impedir que ele tenha percepo do ensino de Jesus durante essas visitas.

Em 1952, o Senhor Jesus Cristo me apareceu numa viso... No final daquela viso, um esprito maligno que parecia um macaquinho ou um duende correu entre mim e Jesus, espalhando alguma coisa parecida com fumaa ou nuvem escura. Ento este demnio comeou a pular, gritando com uma voz estridente: "Iaqueti-iac, iaqueti-iac, iaqueti-iac". Eu no podia ver a Jesus, nem entender o que Ele dizia. (Durante todo o tempo dessa experincia, Jesus estava me ensinando alguma coisa... No podia compreender por que Jesus permitia ao demnio fazer tanta algazarra... (Autoridade, 37.)

As entrevistas de Hagin com o Senhor so to profundas e ele levado para to longe da terra que, s vezes, tem medo de entrar demais na dimenso espiritual, a ponto de no poder voltar.

No sei se voc j teve alguma experincia no Esprito, ou no, mas eu j tive muitas, e posso falar-lhe com a mais perfeita sinceridade: Quando vem aquela uno, quase ficamos com medo do ponto de vista natural, porque temos medo de no podermos voltar. (Uno, 145.)

A autoridade espiritual de Hagin apoiada no apenas por afirmaes de vises do cu e do inferno e instrues pessoais com Cristo. Ele tambm descreve com alguns detalhes unes especiais de espiritualidade. Estas apresentam vrios aspectos diferentes; por exemplo, ele diz que, s vezes, fica em orao durante horas, sem ter noo do tempo que passa (Planos, 36, 99). Outras vezes, ele sente uma uno de grande poder, enquanto prega, e descreve-a como sendo semelhante a uma capa ou manto caindo sobre seus ombros. H oportunidades em que tal sentimento muito intenso, e ele entra em xtase:

s vezes no ministrio, quando a uno vem sobre mim, parece que um manto desce sobre mim. Parece que estou vestindo um manto, um casaco, quando na realidade, no estou. Mas o poder de Deus a uno me envolve tanto que me sinto vestido assim. (Uno, 99; veja tambm 125.)

... veio sobre mim a uno. De novo, era como se algum tivesse passado por mim correndo e jogado uma capa sobre mim. Sentia-a em todo o corpo. Sabia, de novo, que a uno no duraria por muito tempo, porque eu no poderia agent-la fisicamente... Fiquei arrebatado naquela glria, e me contaram depois, que toda pessoa tocada por mim caiu... (Uno, 141.)

Em Dezembro de 1962, eu estava pregando em Houston... De repente, senti um vento soprando sobre mim. Veio com tamanha fora que me derrubou ao cho e ca em xtase... Vi... Jesus. (Planos, 34.)

H vezes em que ele se v cercado por uma nuvem de glria, enquanto prega.

Certo domingo de noite... tinha pregado durante uns 15 minutos, ungido pelo Esprito Santo, quando, ento, o poder de Deus entrou naquele auditrio da igreja e o encheu como nuvem. No consegui ver nem um s membro estava dentro da nuvem. Escutava o som da minha voz, mas no reconhecia uma nica palavra daquilo que dizia... Finalmente, consegui enxergar pessoas nas trs primeiras fileiras de assentos. Ento, a uno comeou a desaparecer. (Uno, 50; veja tambm 54, 83.)

Hagin afirma que h vezes em que seus seguidores vem seu rosto brilhar, pelo fato de estar na nuvem de glria (Uno, 51). Ele diz que, depois dessas experincias de xtase, no consegue andar durante algum tempo nem dirigir um carro. Antes, prefere simplesmente ficar sozinho, sem falar com ningum nem ser tocado por nenhuma pessoa, a fim de que no seja trazido de volta muito rapidamente de seu xtase espiritual (Uno, 143).

Alm de uma espiritualidade profunda e poderosa, Hagin tambm alega ter recebido dons especiais de inteligncia e prescincia. Depois de sua converso, sua inteligncia aumentou entre 30 e 60% (Dirigido, 54), e ele recebeu o dom de uma memria perfeita (Uno, 58). Como se isso no bastasse para transform-lo num erudito de primeira linha, ele tambm recebeu diretamente do Senhor o dom de ensino e o de cura:

Lembro-me, porm, de certa quinta-feira s trs horas da tarde... Enquanto atravessava a sala... e estava bem no centro dela, algo caiu sobre mim e para dentro de mim. Desceu dentro de mim com um "clique," como quando a ficha telefnica recebida... Sabia do que se tratava. Era um dom de ensino... Falei: "Agora sei ensinar". (Uno, 58, 59.)

Quando o Senhor apareceu a mim naquela primeira viso em 2 de setembro de 1950... Ele tocou nas palmas das minhas mos com o dedo da Sua mo direita... e disse: "Chamei-te e te ungi e te dei uma uno especial para ministrar aos enfermos". (Uno, 137, 138.)

Hagin sempre recebe conhecimento do futuro, principalmente quando se trata de prever uma desgraa iminente. Por exemplo, ele diz que Deus o avisa de um problema que se aproxima, sempre que se hospeda na casa de algum:

Na realidade, at agora nunca fiquei hospedado na casa de ningum sem Deus me advertir no tocante a qualquer tragdia iminente. Se estivesse para haver alguma morte entre aquela famlia dentro dos dois anos futuros, Ele me contava. (Uno, 89.)

Ele soube com antecedncia, por meio de uma viso, com quem iria se casar e os filhos que iria ter (Planos, 33).

Os mais espetaculares milagres de Hagin encontram-se relatados nos boletins enviados regularmente aos seguidores nos Estados Unidos. Eles ainda no foram publicados no Brasil, mas apresentam afirmaes muito mais dramticas, incluindo milagres de levitao e at ressurreio dos mortos. D. R. McConnell, responsvel pela produo dos mais bem pesquisados relatos do ministrio de Hagin, descreve alguns desses acontecimentos miraculosos:

Em 1937, Hagin foi ordenado ministro da Assemblia de Deus e pastoreou vrias igrejas pequenas no estado do Texas. Por ser pentecostal, seu ministrio cresceu ainda mais para o lado abertamente sobrenatural. Alm da nuvem de glria e das pregaes em estado de suspenso temporria das funes vitais, Hagin descreve reunies em que, numa delas, uma mulher levitou meia-altura, enquanto danava, e outra ficou fisicamente congelada, num transe de catalepsia, durante 8 horas e 40 minutos. As curas eram freqentes, e no ministrio pastoral de Hagin chegaram a acontecer at supostas ressurreies dos mortos. (McConnell, 1988, 60.)

Talvez a afirmao mais notvel de Hagin seja a de que, em 45 anos, ele nunca ficou desanimado, preocupado ou enfrentou alguma luta.

Ouo as pessoas, Deus abenoe o corao delas, que falam a respeito de estar no vale, e depois, de estar na montanha, para ento voltarem ao vale. Eu nunca fui para o vale. Faz 45 anos que sou salvo, e nunca fui para lugar algum seno para o cume das montanhas... Oh, sim, tem havido provas e provaes, mas eu fiquei no cume da montanha, gritando a vitria o tempo todo vivendo acima dos problemas! (Dirigido, 73, 74.)

Muito mais pode ser dito. Na verdade, se extrassemos todos os relatas de sinais e maravilhas daqueles textos j publicados no Brasil poderamos formar um livreto de tamanho razovel. Aqueles citados aqui servem para que o leitor tenha um quadro geral. A esta altura, precisamos nos lembrar do motivo dessas vises, sinais e maravilhas. Eles so fornecidos para dar substncia alegao de Hagin no sentido de ser um profeta de Deus dos dias de hoje, que recebeu uma revelao nova para os ltimos tempos. Suas afirmaes de vises e dons de profecia justificam seu ministrio pblico e colocam o selo de aprovao divina sobre seus ensinos.

Vale notar que Hagin no tolera qualquer questionamento de seus ensinos. Ele no permite que suas vises sejam objeto de discusso por parte de seus seguidores. O relato seguinte de um confronto com sua prpria esposa ilustra dramaticamente essa questo:

Aps um caso sobrenatural de levitao em um de seus cultos, a prpria esposa de Hagin, o irmo e a esposa do pastor, em cuja igreja ele estava ministrando, questionaram se aquele fenmeno era de Deus. No dia seguinte, enquanto ele orava, a "palavra do Senhor" veio a Hagin, instruindo-o a tocar levemente a testa dos trs com seu dedo mnimo. Ao tocar sua esposa, ela caiu de costas no cho, "como se tivesse sido atingida por um taco de beisebol". semelhana dela, os outros dois tambm foram "abatidos no Esprito". As trs vtimas paralisadas ficaram "coladas no cho". Quando o pastor, logicamente preocupado, tentou levantar sua esposa, ele "no conseguiu sequer levantar o brao dela do cho, muito menos seu corpo". Ento, uma voz deu instrues a Hagin para que se ajoelhasse diante de cada um deles. Diga-lhes que tentem se levantar. Depois, pergunte-lhes se admitem que o que est acontecendo deve-se ao poder de Deus". Ao tentarem se mexer e verem que estavam completamente imobilizados, os trs, claro, dispuseram-se a admitir que o poder e o ministrio de Hagin eram de Deus. Ento, a voz instruiu a Hagin para que os "soltasse", tocando novamente a testa de cada um com seu dedo. Eles haviam sido convencidos. Se, obedecendo voz interior, Hagin podia fazer tudo isso somente com seu dedo mnimo, era inevitvel que tais julgamentos profticos aumentassem, medida que seu ministrio crescia. Em 1959, em sua sexta viso de Jesus, o Senhor disse a Hagin... (que) se uma igreja se recusasse a aceitar seu ministrio, Deus iria retirar dela seu candeeiro. Por mais srias que sejam essas conseqncias para a igreja, elas no so nada se comparadas ao julgamento pronunciado sobre o ministrio de um indivduo que desafie o trabalho proftico de Hagin. Afirmando que "se um pastor no aceitar essa mensagem, ento lhe sobrevir julgamento", Hagin escreve; "O Senhor me disse: Se eu lhe der uma mensagem destinada a um indivduo, igreja ou pastor e eles no a aceitarem, voc no ser responsvel. Eles sero responsveis. Haver ministros que no a aceitaro e cairo mortos no plpito".

Aqueles que pensam que essas declaraes no passam de vs ameaas ou de hiprbole proftica devem ouvir mais o "profeta": "Digo isso com relutncia, mas realmente aconteceu num lugar onde eu havia pregado. Duas semanas depois da reunio, o pastor caiu morto no plpito. Eu havia sado chorando da igreja e disse ao pastor da igreja seguinte, onde eu fora dirigir uma reunio: "Aquele homem vai morrer no plpito". E isso aconteceu pouqussimo tempo depois. Por qu? Porque ele no aceitou a mensagem que Deus me deu para lhe entregar diretamente do Esprito". Se um ministro pode ter um destino assim, o que dizer de um mero leigo que ouse questionar a mensagem de Hagin? Na publicao original deste material, Hagin tambm avisou que "nos ltimos dias, haver leigos que cairo mortos na igreja, semelhana de Ananias e Safira. Eles mentiram para Deus". (McConnell, 1988, 66. 67.)

Hagin diz que aqueles pregadores e leigos que rejeitarem seu ensino sero atingidos de morte, como Ananias e Safira, e que a ira divina cair sobre aqueles que no seguem suas idias. Desse modo, no somente sua teologia vem diretamente de Jesus, mas tambm a ira divina arde contra aqueles que se opem a seu ministrio de ensino.

Hagin um bom exemplo do tipo de autoridade que os lderes do movimento da prosperidade alegam ter, e seus escritos demonstram bem o destaque extraordinrio que dado aos sinais e maravilhas dentro do movimento. Vises, profecias, entrevistas com Jesus, curas, palavras de conhecimento, falar em lnguas, ser abatido no Esprito, nuvens de glria, rostos que brilham com luz sobrenatural, conhecimento do futuro, rejeio de dores de cabea e gripes por meio de uma palavra de comando, etc; esses so os elementos que tornam emocionante a doutrina da prosperidade. Eles no apenas verificam que Deus est presente e em atividade, mas tambm contribuem para sermes fascinantes.

Entretanto, essas histrias e casos no esto sozinhos. Eles so sustentados pelo pressuposto teolgico de que sinais e maravilhas tm um lugar importante na igreja, pois se afirma que o poder de Jesus para operar milagres foi cedido para o uso da igreja. O argumento que apia essa afirmao tem dois aspectos diferentes. Primeiro, observa-se que os milagres so um fator importante do ministrio de Jesus, a maioria dos quais constituda de curas. Na verdade, dos 33 milagres registrados nos evangelhos, 17 so curas e quatro outros so exorcismos que envolviam cura. A leitura dos autores dos evangelhos deixa claro que Jesus era capaz de curar quando quisesse e que ele curou todos os que o procuraram com esse propsito. Mateus 9.35 diz que "percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando... pregando... e curando toda sorte de doenas e enfermidades". Em nenhum lugar se v Jesus mandar embora uma pessoa que desejasse ser curada. Nas ocasies em que se diz que Jesus operou poucos milagres ou mesmo nenhum, a incredulidade apresentada como causa imediata daquilo, embora isso no queira dizer que Jesus no poderia ter exercido seu poder se quisesse (Mc 6.5, 6). Com base nessa nfase no Novo Testamento, a doutrina da prosperidade afirma que o mesmo poder para realizar milagres encontra-se hoje disposio da igreja. O raciocnio este: uma vez que Jesus permanece o mesmo (Hb 13.8), ele deve estar disposto a curar agora, como estava naquela poca. Sobretudo, o prprio Jesus afirmou que seus seguidores fariam obras maiores do que as dele (Jo 14.12). Assim, alega-se que a concluso disso tudo a seguinte: os cristos devem ser capazes de realizar aquilo que Cristo realizou enquanto estava presente em seu corpo sobre a terra (Duffield, 1983, II: 137-218).

O segundo aspecto desse argumento que o poder de cura revelado pelos apstolos, enquanto viveram, mostra que Jesus, de fato, concedeu seu poder igreja. A misso que Cristo deu aos doze (Mt 10.1; Lc 9.1) e aos setenta (Lc 10.9), ao envi-los para pregar, inclui a ordem de curar os doentes. Essa incumbncia renovada pelo Cristo ressurreto, em Marcos 16.18, que ordena a imposio de mos sobre os doentes e acrescenta a promessa de que estes sero curados. Afirma-se que Lucas registra o cumprimento dessa promessa em seu livro de Atos, pois ele est repleto de milagres, incluindo as narrativas em que Pedro cura o homem coxo, na porta do templo (3.1ss.), da cura de Enias, em Lida (9.32ss.), e de Tabita, em Jope (9.36ss.). Lucas tambm registra a cura de um paraltico em Listra (14.8ss.), do pai de Pblio, em Malta (28.7, 8), e a restaurao de utico vida, em Trade (20.9ss.). Conclui-se que Atos revela aquilo que Deus espera de sua igreja, pois o mesmo poder concedido aos apstolos tambm foi dado igreja. Portanto, o poder de Jesus para a realizao de milagres um dom permanente concedido igreja, e esta deve manifestar tais sinais e maravilhas em seu dia-a-dia.

Os prprios escritos de Hagin so incomuns, por causa da quantidade e de sua natureza dramtica, mas no deixam de ser coerentes com a teologia que se encontra por trs deles, a qual garante a possibilidade de autoridade e autenticao apostlicas nos dias de hoje. Isso traz duas implicaes para aquelas igrejas e pastores que seguem Hagin e os ensinos sobre prosperidade. Primeira, eles so obrigados a aceitar a responsabilidade que decorre do fato de crerem que a autoridade proftica ou apostlica encontra-se presente na igreja de hoje, pois exatamente isso que Hagin afirma. Qualquer pessoa que aceite a doutrina da prosperidade, est aceitando Implicitamente a afirmao de Hagin de que essa nova doutrina foi-lhe ensinada por Jesus Cristo em pessoa. Segunda, as alegaes de Hagin de autoridade apostlica so apoiadas por suas histrias miraculosas. Aquelas igrejas e pastores que seguem os ensinos da prosperidade so obrigados a aceitar a responsabilidade de garantir a validade dos sinais e maravilhas entre seus membros. Voltaremos a esse ponto no captulo seguinte para oferecer algumas idias que recomendam prudncia no consentimento com tais afirmaes.2. Sade e ProsperidadeChegamos agora s promessas centrais da doutrina da prosperidade: o direito que todo cristo tem de gozar de sade e riqueza. Hagin no se cansa de dizer que as duas coisas representam sempre a vontade de Deus para o cristo:

Ns, como cristos, no precisamos sofrer reveses financeiros; no precisamos ser cativos da pobreza ou da enfermidade! Deus prover a cura e a prosperidade para Seus filhos se eles obedecerem aos Seus mandamentos... Deus quer que Seus filhos... tenham o melhor de tudo. (Limiares, 66.)

So essas promessas que tornam to atraente o evangelho da prosperidade. Embora estejam logicamente ligadas, faremos distino aqui entre as afirmaes quanto sade e aquelas que dizem respeito riqueza ou prosperidade.

2.1 Sade

A teologia da prosperidade no se cansa de repetir que nem doenas nem problemas financeiros so da vontade de Deus para o cristo, nem necessrio que este se confronte com eles durante a vida.

As doenas e as enfermidades no so da vontade de Deus para o Seu povo. Ele no quer que a maldio paire sobre os Seus filhos por causa da desobedincia; Ele quer abeno-los com a sade... No da vontade de Deus que fiquemos doentes. Nos dias do Antigo Testamento, no era da vontade de Deus que os filhos de Israel ficassem doentes, e eles eram servos de Deus. Hoje, somos filhos de Deus. Se Sua vontade era que nem sequer Seus servos ficassem doentes, no pode ser Sua vontade que Seus filhos fiquem doentes! As doenas e as enfermidades no provm do amor. Deus amor... Nunca diga a ningum que a enfermidade a vontade de Deus para ns. No ! A cura e a sade so a vontade de Deus para a humanidade. Se a enfermidade fosse a vontade de Deus, o cu estaria cheio de enfermidades e doenas. (Redimidos, 18-20.)

Se a vontade de Deus sempre de que o cristo esteja bem, ento o contrrio deve ser verdade; a doena nunca da vontade de Deus para o fiel. O testemunho de Hagin nesta rea um bom exemplo. Ele alega no ter sofrido mais do que uma dor de cabea em toda a fase adulta de sua vida: "A ltima dor de cabea que senti foi em agosto de 1933" (Uno, 31). Mas, o que falar daquelas passagens bblicas que se referem aos problemas na vida, tais como, por exemplo, 2 Corntios 6.4-6, onde Paulo diz que o cristo pode esperar aflies de todo tipo? Isso no inclui as vrias espcies de doena? Hagin diz que no. O cristo pode passar por problemas, embora Hagin no os defina, mas eles nunca incluem as doenas.

Falamos em pessoas "aflitas" com enfermidades. Mas a palavra grega aqui traduzida "aflies" significa "nas provas" ou "nas provaes". (Necessrio, 12.)

Quando a Bblia fala no sofrimento, no se refere "enfermidade". No temos nenhum motivo para sofrermos com enfermidades e doenas, porque Jesus nos redimiu delas. (Necessrio, 8.)

Sim, h sofrimento, mas no doena e enfermidades. Graas a Deus que no precisamos padecer tais coisas, porque Cristo carregou sobre Si as nossas enfermidades. (Necessrio, 43.)

A interpretao de 2 Corntios 11.23-31, onde Paulo se refere aos sofrimentos que ele suportou por Cristo, da mesma natureza. Paulo conclui, no versculo 30: "Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito minha fraqueza". Hagin diz que a idia que Paulo tem de fraqueza, nessa passagem, "nada tem que ver com enfermidades; trata-se das provas e provaes que o apstolo acaba de mencionar" (Necessrio, 13). Outras passagens que se referem a aflies so interpretadas de maneira semelhante. Salmos 34.19, por exemplo, diz: "Muitas so as aflies do justo, mas o Senhor de todas o livra". Este o comentrio que Hagin faz dessa passagem:

No Antigo Testamento, essa palavra "aflio" no significa doena nem enfermidade; a palavra hebraica realmente significa "teste" ou "provao". isso que nossos problemas so: testes e provaes". (El Shaddai, 22.)

E aquelas passagens nas Escrituras onde algum mencionado de forma especfica como estando doente, a exemplo de Timteo (1 Tm 5.23), Epafrodito (Fp 2.27) e Trfimo (2 Tm 4.20)? Hagin responde a isso de duas maneiras diferentes em ocasies distintas. Uma resposta diz que as referncias enfermidade no Novo Testamento sempre destacam a cura, em vez da doena. Esta mencionada apenas para mostrar que a cura de Deus estava a caminho. A segunda resposta, sem demonstrar necessria coerncia com a primeira, afirma que aquelas poucas passagens que se referem a um cristo doente devem ser interpretadas no sentido de que faltava f pessoa enferma. Se esta possusse f suficiente, no haveria qualquer registro de enfermidade. Permanece a passagem onde Paulo descreve a si prprio como tendo um espinho na carne (2 Co 12.7). Mas aparentemente, esse trecho no apresenta tamanha dificuldade, pois Hagin responde que o espinho de Paulo no se referia a uma enfermidade fsica. Antes, ele est falando de algum outro tipo de problema, tal como perseguio, um demnio ou alguma tentao ao pecado.

Essas respostas podem ser satisfatrias se aplicadas aos personagens bblicos, mas o que dizer de um cristo que adoece nos dias de hoje? Como ele deve interpretar a doena, se a sade faz parte de seus direitos como cristo? A resposta mais comum, seja de Hagin ou de qualquer outro pregador da doutrina da prosperidade, esta: a doena no um problema com o qual devamos nos preocupar. Se algum ficar doente, essa pessoa sempre ter a cura sua disposio. Um pregador da cura dos dias de hoje citado como autor das seguintes palavras: "Ser curado de cncer to fcil quanto ter os pecados perdoados" (Biederwolf, 1934, 10). Entretanto, bvio que muitos cristos adoecem e alguns deles morrem. Por que isso acontece? Razes diversas so mencionadas por diferentes pregadores da cura, mas todas elas se encaixam numa lista de cinco: primeira, semelhana dos personagens bblicos, as pessoas de hoje adoecem por falta de f. Se elas crerem, a cura estar espera dela. Segunda, muitas pessoas esto doentes por desconhecerem seus direitos como crists. Elas seriam curadas imediatamente, se conhecessem a interpretao correta da Bblia. Terceira, alguns esto doentes simplesmente porque no pedem ajuda. Em quarto lugar, em alguns casos, existe pecado no confessado, e isso bloqueia o poder da cura. Por fim, h quem permanea doente por deixar de expulsar a Satans mediante a confisso positiva. provvel que esta ltima razo seja a mais ouvida. So freqentes os casos em que o pastor da prosperidade afirma que h um "esprito de misria que paira sobre as pessoas" e, ento, faz um verdadeiro show de expulso de demnio(s) e de libertao das enfermidades por eles causadas. Entretanto, de qualquer modo, a causa principal est no cristo ou no diabo; nunca se trata de uma questo da vontade de Deus. Com efeito, Hagin insinua que, alm do sofrimento que procede do fato de estar doente, o cristo tem de enfrentar a realidade de que as doenas exaltam o diabo.

Muitos cristos nascidos de novo e cheios do Esprito vivem num baixo nvel de vida, vencidos pelo diabo. Na realidade, falam mais no diabo do que em qualquer coisa. Cada vez que contam uma desventura, exaltam o diabo. Cada vez que contam quo doentes se sentem, exaltam o diabo (ele o autor das doenas e das enfermidades e no Deus). Cada vez que dizem: "Parece que no vamos conseguir", exaltam o diabo. (Nome, 19.)

Conclui-se que desnecessria toda e qualquer enfermidade entre cristos:

Por que, pois, o diabo a depresso, a opresso, os demnios, as enfermidades, e tudo mais que provm do diabo est dominando tantos cristos e at mesmo igrejas? porque no sabem o que pertence a eles. (Nome, 37.)

A Morte e os Mdicos

Embora os cristos tenham direito sade, isso no significa que possamos evitar a morte ou que ela no seja real, conforme ensina a Cincia Crist. Hagin interpreta a morte como parte da maldio decorrente da queda de Ado, a qual todos temos de enfrentar. Mas, embora o cristo precise morrer, a morte deve ser uma experincia indolor, no ligada s doenas, que ocorre depois de uma vida "plena e longa" (Zoe, 37), sendo que sua durao de "70 ou 80 anos" (El Shaddai, 39). Uma conseqncia disso e que h pouca necessidade de mdicos entre os cristos adeptos da doutrina da prosperidade. exatamente essa a concluso a que Hagin chega. Para aqueles que atingiram uma f madura, nem a medicina nem os conselhos mdicos devem ser necessrios.

claro que estamos a favor da cincia mdica, e que damos graas a Deus por aquilo que ela consegue fazer. Certamente no nos opomos aos mdicos. Mas algumas pessoas confundem a cincia mdica com os dons de curas. J ouvi alguns dizerem que os dons de curas eram os mdicos e os conhecimentos da medicina que Deus lhes deu. Se a cincia mdica o mtodo divino da cura, no entanto, os mdicos no deviam cobrar seus servios deviam ser gratuitos... Alm disso, a cincia mdica estaria livre de erros. Os mdicos no cometeriam enganos. (Dons, 102.)

No me compreenda mal: no sou contra os mdicos. Dou graas a Deus por eles. A cincia mdica ajudar as pessoas tanto quanto puder. Se eu tivesse tido necessidade de ir a um mdico nestes ltimos cinqenta anos, teria ido mas nunca foi necessrio. Por outro lado, j mandei outras pessoas aos mdicos, paguei as contas, e comprei os remdios (muitas vezes, os mdicos conseguem manter as pessoas com vida at que possamos colocar dentro delas uma dose suficiente da Palavra para receberem a cura divina total). (Uno, 31.)

Outros pregadores da prosperidade, tais como R. R. Soares, assumem uma posio mais rgida e defendem a idia de que, para o cristo, errado procurar um mdico, sob quaisquer circunstncias. Aqueles que apelam para um mdico, que so internados em hospitais, demonstram uma falta de f que desonra a Deus. Os mdicos destinam-se apenas aos descrentes, e a profisso que eles exercem um testemunho da bondade de Deus para com o mundo pago.

Algum uma vez me disse: Mas, Deus no colocou os mdicos no mundo?... Eu respondi: verdade. Ele to bom que pensou nos crentes incrdulos. (Soares, 1987. 40.)

R R. Soares oferece sua prpria experincia como norma para todos os cristos, dizendo que, desde que entendeu o ensino da prosperidade, nunca mais ficou doente.

Um dia li o livro "O Nome de Jesus" de Kenneth Hagin. Acabei de l-lo no dia 2 de dezembro de 1984 e de l para c nunca mais tomei um comprimido sequer, com exceo de um anticido que tomei 15 dias aps, numa madrugada por causa de uma indisposio estomacal... (Soares, 1987, 16.)

O ensino do evangelho da prosperidade claro e sem qualificaes: todo cristo deve gozar de sade durante toda sua vida. Qualquer coisa que esteja aqum disso s pode significar que existe um problema espiritual na vida do cristo. Ele desconhece o meio de obter a sade, ou no tem f, ou est em pecado, ou encontra-se sob o domnio do diabo.

2.2 Prosperidade

No campo das finanas, Hagin segue exatamente o mesmo raciocnio que utiliza em suas afirmaes sobre sade. A prosperidade financeira um direito do cristo, pois faz parte da expiao efetuada por Cristo. Assim como o cristo tem direito sade, ele tambm tem direito de ser prspero. Exatamente da mesma forma como as enfermidades nunca representam a vontade de Deus para o fiel, assim tambm a pobreza ou as dificuldades financeiras de qualquer espcie. O pastor de hoje tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua fora, pois no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da salvao. O direito de sermos financeiramente prsperos precisa ser cada vez mais proclamado dos plpitos. Depois de citar Josu 1.8, Hagin diz:

Voc quer ser bem sucedido? Deus nos conta como prosperar, neste versculo. Ele diz que se a Sua Palavra enche o nosso corao ao ponto de "meditarmos nela dia e noite", acharemos prosperidade. Subentende-se que o homem cheio da Palavra de Deus prosperar espiritualmente. Mas o aspecto que quero enfatizar aqui a promessa que Deus deu da prosperidade fsica, e no somente espiritual. (Esprito, 15.)

Para defender sua idia, Hagin aponta vrias passagens bblicas. Em Filipenses 4, por exemplo, onde Paulo diz que havia aprendido a "viver contente em toda e qualquer situao", Hagin afirma que deve ser dado destaque no tanto ao contentamento, mas proviso que Deus faz de nossas necessidades financeiras e materiais.

Paulo disse, escrevendo igreja em Filipos: "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glria, h de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Fp 4.19). Todas as suas necessidades incluem as necessidades financeiras, materiais, e as demais. Na realidade, nesse captulo, Paulo est falando a respeito das coisas financeiras e materiais. (Redimidos, 5, 6.)

Ele oferece uma interpretao semelhante de 3 Joo 2: "Amado, acima de tudo fao votos por tua prosperidade e sade, assim como prspera a tua alma". Hagin afirma que, nesse versculo, Joo no est simplesmente fazendo uma saudao ou expressando um desejo pessoal, mas revelando a vontade de Deus no sentido de que todos os cristos gozem de prosperidade financeira.

A orao aqui traduzida "fao votos" "orar" no grego original. Logo, Joo disse aqui. Amado, acima de tudo ORO por tua prosperidade e sade, assim como prspera a tua alma. Se ele foi motivado pelo Esprito para orar assim, esse deve ser o desejo do Esprito para todas as pessoas. correto, portanto, orar pedindo prosperidade financeira, porque Joo disse: Acima de tudo ORO... A orao de Joo aqui diz respeito a trs dimenses da nossa vida: a fsica, a espiritual, e a material. Ele disse: ... oro por tua prosperidade [bnos materiais] e sade [bnos fsicas] assim como prspera a tua alma [bnos espirituais]. Assim, vemos que Deus deseja abenoar todas as partes da vida do crente. (Paz, 99.)

comum ouvirmos os pregadores da prosperidade afirmarem que "Deus quer que seus filhos comam a melhor comida, vistam as melhores roupas, dirijam os melhores carros e tenham o melhor de todas as coisas". Hagin diz que Jesus dirigiria um Cadillac, se estivesse desempenhando seu ministrio messinico nos dias atuais:

... muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possua humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: "Isso no ser humilde isso ser ignorante!" A idia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: "Sabe, Jesus e os discpulos nunca andaram num Cadilac." No havia Cadilac naquela poca. Mas Jesus andou num jumento. Era o "Cadilac" da poca o melhor meio de transporte existente. Os crentes tm permitido ao diabo les-los em todas as bnos que poderiam usufruir. No era inteno de Deus que vivssemos em pobreza. Ele disse que ramos para reinar em vida como reis. Quem jamais imaginaria um rei vivendo em estrita pobreza? A idia de pobreza simplesmente no combina com reis. (Autoridade, 48.)

natural que Hagin oua crticas contra uma pregao que parece to materialista. Sua resposta que somos filhos do rei e, nessa posio elevada, devemos esperar viver no apenas com as necessidades bsicas da vida, mas abundantemente. Devemos aproveitar todas as coisas boas do mundo, sem impor limites s riquezas que os cristos podem acumular. A histria a seguir ilustra bem esse fato:

Tenho uma fita-cassete de ensino que ajudou muitas pessoas neste mbito. Certo jovem, que conheo bastante bem, deu seu testemunho de como a fita o ajudou, durante uma de nossas reunies recentes. H apenas uns poucos anos, quando ele tinha 31 ou 32 anos de idade, entrou nos negcios. Deixou seu emprego assalariado, tendo em mos um total de USS 5.500... Deu o seguinte testemunho: "Escutei as fitas do irmo Hagin. Havia trs sobre a f e a confisso, e uma que se chamava: Como Treinar o Esprito Humano. Deitava-me todas as noites ouvindo aquela fita. Ligava-a de manh e a escutava enquanto fazia a barba. Escutei-a repetidas vezes provavelmente centenas de vezes at que aquela mensagem entrasse no meu esprito. Depois, por meio de escutar o meu esprito e de usar a minha f, j tenho um patrimnio cujo valor total ultrapassa USS 30 milhes. Este jovem senhor tem apenas 38 anos, mais ou menos, hoje. Ele no pregador. negociante. Contou-me como seu esprito lhe tem falado e lhe ensinado como investir e como comprar terras. (Dirigido, 129, 130.)

Isto se aplica aos ministros da palavra e tambm s pessoas leigas. Um pregador que possua cem casas, por exemplo, coerente com o cristianismo bblico.

Voc j deve ter lido a respeito de pessoas que murmuram porque um pregador tem uma casa bonita. E se ele tivesse uma centena de casas? Isto seria bblico. (Necessrio, 20.)

Se somos filhos do rei e temos no apenas o privilgio, mas o dever de ser prsperos, ento, novamente, o contrrio deve ser verdade: um cristo que seja pobre tem somente a si para culpar.

Amigos, vocs sabem que a maioria de ns no to pobre por ter honrado a Deus mas por t-lo desonrado. Vocs devem tambm dizer amm, pois isso assim. Dei-lhes passagens bblicas como prova. (Authority, 22.)

Com todas essas promessas bblicas de riqueza e prosperidade, a mente inquiridora levada a indagar, como fizemos acima, na parte sobre sade, por que tantos cristos no esto prosperando financeiramente. Se h um motivo, este deve ser que os cristos de todo o mundo, aparentemente, procedem mais das classes baixas e continuam a sofrer todos os problemas financeiros prprios da posio social. Por que isso assim? Uma vez que esta pergunta tem a mesma essncia daquela formulada acima, sobre sade, ento a resposta parece ser a mesma aqui. Ou o cristo desconhece seus direitos prosperidade ou falta-lhe f para afirmar tais direitos ou o diabo o est impedindo de receb-los. Se houver uma suspeita de que a ltima causa o problema, uma sonora repreenso ir liberar tudo aquilo que o cristo tem por direito. "... tudo quanto voc precisa fazer dizer: 'Satans, tire suas mos do meu dinheiro'. (Limiares, 67.)

Nas mensagens pregadas sobre o assunto, existe mais uma razo que freqentemente aparece para explicar a falta de prosperidade entre cristos. Ela surge na mesma hora, a cada domingo, quando se diz, durante a oferta, que alguns cristos esto sofrendo com dificuldades financeiras porque no esto dando o suficiente para a obra de Deus. A regra espiritual das finanas e essa: se queremos mais, precisamos dar mais.

Voc gostaria de ver maiores bnos financeiras na sua vida? Aumente suas contribuies e ofertas, porque as Escrituras dizem que a sua colheita ser... recalcada, sacudida, transbordante... porque com a medida com que tiverdes medido vos mediro tambm. Por outro lado, podemos estorvar nossas oraes em prol da prosperidade financeira, se no cooperamos com Deus; se no entramos pelas portas que Deus abriu para ns. (Paz, 111.)

No uma questo de graa, mas de lei, pois se afirma que o retorno proporcional oferta do indivduo. Muitos pregadores da prosperidade fazem uso de Marcos 10.29, 30 como a principal passagem sobre finanas para a igreja:

Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ningum h que tenha deixado casa, ou irmos, ou irms, ou me, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que no receba, j no presente, o cntuplo de casas, irmos, irms, mes, filhos e campos, com perseguies; e no mundo por vir a vida eterna.

Essa a chamada lei do retorno cem vezes maior: receberemos cem vezes mais do que damos. Kenneth Copeland, herdeiro provvel de Hagin nos Estados Unidos, usa muito essa passagem em suas pregaes. Ela faz parte integrante de sua cosmoviso financeira, evidenciando-se a partir da interpretao que ele d a Marcos 10.17-23, onde o jovem rico se recusa a vender suas propriedades e se tornar um discpulo de Cristo:

E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ningum bom seno um s, que Deus. Sabes os mandamentos: No matars, no adulterars, no furtars, no dirs falso testemunho, no defraudars ningum, honra a teu pai e a tua me. Ento ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. Mas Jesus, fitando-o, o amou e disse: S uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, d-o aos pobres, e ters um tesouro no cu; ento, vem, e segue-me, Ele, porm, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Ento Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discpulos: Quo dificilmente entraro no reino de Deus os que tm riquezas!

Essa histria parece oferecer excelentes instrues sobre o valor do dinheiro e preo do discipulado. Mas Copeland encontra nela outro significado. Ele diz que, em seu estudo dessa passagem, o Senhor lhe falou e explicou que aquele jovem era rico por ter sido fiel na observncia da lei judaica. Ele teria se tornado ainda mais rico, se tivesse dado suas riquezas ao Senhor. Copeland conclui: "Aquela era a maior transao financeira que poderia' ter sido oferecida ao jovem, mas ele se afastou dela, por no conhecer o sistema financeiro de Deus" (Copeland, 1985, 62).Conclumos o resumo das promessas do evangelho da prosperidade na rea de sade e riquezas, fazendo uma observao sobre sua coerncia. Uma vez que se afirma que a vontade do Senhor para o cristo envolve todas as coisas boas da vida, no h imposio de condies nem se volta atrs naquilo que prometido, mas apenas a promessa clara de que qualquer um que recorrer a Cristo receber o que pede. As promessas tm uma amplitude maravilhosa e uma extenso sem limites. Mas h um porm: a "confisso positiva".

3. A Confisso PositivaNunca demais enfatizar que o direito que o cristo tem s riquezas e sade no desfrutado automaticamente. H condies a serem satisfeitas e procedimentos a serem seguidos. Conforme gostam de dizer os economistas, "no existe almoo gratuito". Isto se aplica at mesmo ao evangelho da prosperidade. No basta apenas crer em Cristo, ser batizado, freqentar uma igreja, orar e viver uma vida piedosa. Esses elementos sozinhos no podem trazer aquilo que o cristo tem por direito. A maneira como vive a maioria dos cristos torna isso bvio. A maior parte deles em todo o mundo pobre e, semelhana dos no-cristos que os cercam, passa por todos os problemas fsicos e doenas conhecidos pela sociedade em que vive. Na questo da sade ou da prosperidade, h poucas diferenas entre cristos e no-cristos. Sempre foi assim. Se existe alguma diferena, esta se encontra no fato de, atravs dos sculos, os cristos tenderem a ser, como observam Paulo e Tiago (1 Co 1.26; Tg 2.5), menos sbios, menos poderosos, menos prsperos. Entretanto, segundo a doutrina da prosperidade, os apstolos estavam enganados quanto vontade de Deus nesse sentido. Deus pode ter escolhido os pobres e os de condio inferior deste mundo, mas nunca pretendeu que eles continuassem assim.

A grande descoberta de Hagin e dos mestres da prosperidade foi a do elemento perdido do cristianismo, um elemento que pode livrar os cristos da condio miservel em que vivem, e ele nada mais e do que certo conjunto de regras e procedimentos muito simples, porm rgido. A doutrina da prosperidade entende que este conjunto faz parte da expresso "confisso positiva". Desse modo, a confisso positiva atua em ambas as direes; a ddiva por meio da qual a sade e a prosperidade so recebidas, mas, ao mesmo tempo, uma exigncia que no pode ser evitada. Se, para Lutero a justificao pela f vista como a tnica do evangelho, assim como a predestinao para Calvino, ento nesse ponto, nessas regras e procedimentos, que se encontra o corao do evangelho da prosperidade.

A fim de esclarecer tudo o que englobado pelo termo "confisso positiva", ele ser dividido em trs categorias: conhecimento, f e confisso propriamente dita. Para antecipar nossa concluso, diremos que a confisso positiva ensina que o cristo ser prspero segundo aquilo que ele conhece sobre seus direitos, de acordo com a firmeza com que ele acredita neles e pelo modo como os confessa.3.1 O Conhecimento de Nossos Direitos

Hagin diz que a razo de muitos cristos continuarem a sofrer com os problemas na vida, depois de se converterem, est em desconhecerem aquilo que lhes pertence por direito.

Por que, pois o diabo a depresso, a opresso, os demnios, as enfermidades, e tudo mais que provm do diabo est dominando tantos cristos e at mesmo igrejas? porque no sabem o que pertence a eles. (Nome, 37.)

No Velho Testamento, afirmou Deus: O meu povo est sendo destrudo, porque lhe falta o conhecimento (Osias 4.6). Em outras palavras, o Senhor est dizendo que, se os israelitas tivessem conscincia do que realmente representavam e do que Deus representava para eles, no seriam destrudos. Se conhecessem seus direitos, privilgios e domnios no teriam sido submetidos a tantas angstias... voc tem direitos garantidos junto a Deus. (Zoe, 71, 72.)

Conforme vimos na seo anterior, no precisamos esperar a outra vida para usufruir desses direitos. Eles visam nosso benefcio aqui e agora.

Bem, graas a Deus, iremos para o cu e ser maravilhoso, mas