O Exercício Profissional Do Serviço Social

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    1/12

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    345

    pg 345 - 356

    O Exerccio profissional do Servio Socialno capitalismo contemporneo: desafios e

    possibilidades para a efetivao do Projetotico-Poltico

    Josy Ramos de Oliveira Amador1

    ResumoO presente artigo busca analisar o exerccio profissional do Servio Social

    inserido na dinmica contraditria do cenrio contemporneo, identificando osprincipais limites e desafios para efetivao dos direitos sociais dos usurios, bemcomo a luta pela efetivao do projeto tico-poltico do Servio Social. Para fa-zermos uma crtica terica do momento presente com o objetivo de esclarecertendncias e identificar, na realidade, limites e possibilidades faz-se necessriocaptar o movimento do real, na sua historicidade, pois no real que as tendncias,

    limites e possibilidades vo estar sinalizados. Assim, o presente artigo objetivauma anlise acerca da profisso inserida na sociedade capitalista atual, identifican-do os principais desafios para efetivao, nos espaos do cotidiano, dos princpiose diretrizes do projeto profissional.

    Palavras-chaveExerccio profissional; Capitalismo contemporneo; Projeto tico-Poltico.

    The professional exercise of the Social Work in the capitalismcontemporary: challenges and possibilities for effectuation of theProject Ethical-Politician

    AbstractThe present article searchs to analyze the professional exercise of the in-

    serted Social Service in the contradictory dynamics of the scene contemporary,

    being identified the main limits and challenges for effectuation of the socialrights of the users, as well as the fight for the effectuation of the project ethi-cal-politician of the Social Work. To make a critical theoretician of the present

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    2/12

    346 Josy Ramos de Oliveira Amador

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    moment with the objective to clarify trends and to identify, in the reality, limitsand possibilities one becomes necessary to catch the movement of the real, inits historicity, therefore it is in the real that the trends, limits and possibilities

    go to be signaled. Thus, the present objective article an analysis concerning theinserted profession in the current capitalist society, identifying the main chal-lenges for effectuation, in the spaces of the daily one, of the principles and linesof direction of the professional project.

    KeywordsProfessional exercise; Capitalism contemporary; Project Ethical-Politician.

    As transformaes no cenrio contemporneo: algumas questes paraanlise da sociedade capitalista

    Para um melhor entendimento acerca dos desafios postos profisso de Ser-vio Social na atualidade, bem como as novas exigncias e competncias postasaos Assistentes Sociais no cotidiano de trabalho profissional, faz-se necessrio

    melhor analisarmos (ainda que de forma breve) a dinmica capitalista atual eas transformaes societrias ocorridas nas ltimas dcadas no pas, objetivandouma melhor compreenso crtica dos fundamentos scio-histricos da profissona sociedade capitalista burguesa.

    Os espaos scio-ocupacionais onde se inserem os Assistentes Sociais estoinseridos na totalidade histrica considerando as formas assumidas pelo capitalno processo de revitalizao da acumulao em um cenrio de crise mundial.Iamamoto (2009) ao analisar o cenrio contemporneo de crise mundial, nos

    afirma que as medidas de superao da crise sustentam-se no aprofundamento daexplorao e expropriao dos produtores diretos, com a ampliao da extraodo trabalho excedente, incidindo radicalmente no universo do trabalho e dosdireitos da maioria da populao.

    Em tempos neoliberais como o que vivemos atualmente, h a reafirmao domercado como rgo regulador supremo das relaes sociais e a prevalncia doindivduo produtor, o que alm de impulsionar a competio e o individualismo,

    desarticula as formas de luta e negociao coletiva dos trabalhadores. H ainda,uma intensa privatizao e mercantilizao da satisfao das necessidades sociaisfavorecendo a produo e a circulao das mercadorias-capitalistas e sua realizao.

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    3/12

    O Exerccio profssional do Servio Social no capitalismo contemporneo: desafos e ...

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    347

    As transformaes operadas nos paises capitalistas dos ltimos trinta anos,oriundas da crise mundial estrutural do capital, produzem alteraes no mundo dotrabalho, as quais se traduzem nas particularidades histricas da profisso de Ser-

    vio Social, redimensionando as polticas sociais como espaos scio-ocupacionaisdos Assistentes Sociais. Tais espaos decorrem das complexas relaes entre Estadoe sociedade civil, derivando um novo padro de enfrentamento da Questo Social,caracterizado por polticas pontuais e paliativas de combate pobreza, com o cres-cimento do terceiro setor e do voluntariado.

    Ao analisar a transformao poltico-econmica do capitalismo, ocorrida no scu-lo XX, Harvey (2009) afirma que o modelo de acumulao flexvel marcado peloconfronto direto com a rigidez do fordismo; apoiando-se na flexibilidade dos pro-

    cessos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padres de consumo.Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos, novasmaneiras de fornecimento de servios financeiros, novos mercados e, sobretudo, ta-xas altamente intensificadas de inovao tecnolgica e organizacional do trabalho.

    Para Harvey (2009) o modelo de acumulao flexvel implica nveis altos dedesemprego estrutural, rpida destruio e reconstruo de habilidades, retrocessodo poder sindical, bem como o aumento da grande quantidade de mo de obra ex-

    cedente para impor regimes de trabalho mais flexveis. H ainda a reduo significa-tiva do trabalho regular, com as devidas garantias trabalhistas, em favor do crescenteuso do trabalho em tempo parcial, temporrio ou subcontratado.

    Desse modo, a acumulao flexvel vem impulsionando uma significativa re-estruturao, como dito anteriormente, no gerenciamento da produo e nasrelaes de trabalho. As mudanas no mundo do trabalho tm se fundamentado,sobretudo, no modelo japons (toyotismo), o qual objetiva o aumento dos super-lucros com menores custos.

    Vemos que o cenrio contemporneo, fortemente marcado pelo iderio neoli-beral, tem sido marcado pelo exaurimento do projeto societrio contrrio ao siste-ma capitalista de produo, enfatizando, ao contrrio novas formas de sociabilidadee tendncias de interpretar o capitalismo como o ltimo e nico modo de vida emsociedade. Neste cenrio, cresce exponencialmente o desemprego estrutural quealimenta a expanso da populao excedente, ao lado da desregulamentao e in-formalizao das relaes de trabalho, com fortes rebatimentos na organizao dostrabalhadores assalariados.

    Iamamoto (2008), ao analisar o capitalismo contemporneo, bem como as ca-ractersticas assumidas por este no cenrio atual, nos mostra que o carter alienado

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    4/12

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    5/12

    O Exerccio profssional do Servio Social no capitalismo contemporneo: desafos e ...

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    349

    desse cenrio tem sido uma flagrante regresso dos direitos sociais e das polticaspblicas correspondentes, atingindo as condies e relaes sociais que orientam arealizao do trabalho dos Assistentes Sociais.

    Uma importante contribuio sobre a nova dinmica societria e a reestrutura-o do capital, nos dada por Mota (2000) ao analisar a reestruturao produtiva eas novas modalidades de subordinao do trabalho na atualidade. Segundo a autora,a atual recomposio do ciclo de reproduo do capital ao determinar um conjuntode mudanas na organizao da produo material e nas modalidades de gesto econsumo da fora de trabalho, provoca impactos nas prticas sociais que intervmno processo de reproduo material e espiritual da fora de trabalho, onde pode-mos incluir o trabalho profissional dos Assistentes Sociais.

    Vemos, portanto, que o reordenamento da dinmica capitalista atual expressaas estratgias utilizadas pelo capital na direo do enfrentamento da crise2, atravsda reorganizao do processo de produo das mercadorias e aumento dos lucros.Trata-se de uma reorganizao das fases do ciclo global da mercadoria e da criaode mecanismos scio-polticos, culturais e institucionais necessrios manutenodo processo de reproduo social. Assim, podemos depreender que o processo dereestruturao produtiva faz parte da necessidade de resposta do capital s suas

    crises, reconstruindo permanentemente a relao entre as formas mercantis e oaparato estatal que lhe d sustentao.Para Mota (2000) as mudanas ocorridas em prol da flexibilizao nos proces-

    sos e nas condies de trabalho, surgem como uma alternativa ao modelo fordista,alterando substantivamente o mundo do trabalho com aumento do desemprego es-trutural, terceirizao, precarizao do trabalho e dos vnculos formais de trabalho.Tais mudanas determinam novas formas de domnio do capital sobre o trabalho,determinando a construo de uma nova cultura do trabalho, bem como uma nova

    racionalidade poltica e tica compatvel com o projeto do capital.Ao mencionar os impactos negativos da reestruturao produtiva no Brasil,

    Mota nos afirma que:

    (...) a marca da reestruturao produtiva no Brasil a reduo de postos de tra-

    balho, o desemprego dos trabalhadores do ncleo organizado da economia e a sua

    transformao em trabalhadores por conta prpria, trabalhadores sem carteira assi-

    nada, desempregados abertos, desempregados ocultos por trabalho precrio, desa-

    lento, etc. (2000, p. 35).

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    6/12

    350 Josy Ramos de Oliveira Amador

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    Devemos mencionar que a reestruturao produtiva expresso de um mo-vimento internacional, que marcado pela globalizao e pelo pensamentoneoliberal. Porm, consolidou-se no Brasil como uma cultura moderna, tendo

    como pontos principais a competncia e a eficincia do setor privado, a des--responsabilizao do Estado com a proteo do trabalho, a empregabilidade eas parcerias do capital com o trabalho, destruindo gradativamente as conquistashistricas das classes trabalhadoras.

    As transformaes operadas no mbito da produo capitalista, desde os finaisdos anos 1970, trouxeram mudanas significativas nas condies de trabalho dapopulao em todo mundo. Nesse cenrio, devemos mencionar que uma das maio-res perdas, segundo Mota (2000) foi para os trabalhadores, comprometendo o seu

    potencial poltico-organizativo e fragmentando o mundo do trabalho.Ao analisar o novo desenho multifacetado do mundo do trabalho na atualidade,

    Antunes (2002) afirma que, nos dias atuais, o trabalhador instigado a se auto-con-trolar, auto-recriminar e at mesmo se auto-punir quando a produo no atinge ameta desejada, ou ainda quando no atinge a qualidade total. Dentro desse iderioas resistncias, as rebeldias e as recusas so inaceitveis, sendo consideradas atitudesanti-sociais, contrrias ao bom desempenho da empresa.

    Assim, no mbito das mudanas ocorridas no padro de acumulao capitalista,vemos que recai sobre os trabalhadores o nus de todo esse processo com a crescen-te excluso do mundo do trabalho, especificamente dos postos de trabalho formalcom a garantia de direitos.

    Porm, devemos ressaltar que ao analisarmos os desafios colocados para os tra-balhadores em tempos neoliberais, veremos que apenas a organizao poltica e aconstruo de alianas sociais slidas com vistas a um projeto de resistncia ao capi-talismo contemporneo sero capazes de cont-lo. A defesa pela garantia dos direi-

    tos conquistados historicamente, bem como ampliao e consolidao da cidadaniae da democracia, sero desafios rduos que os trabalhadores tero de enfrentar naluta cotidiana contra o capital.

    O Servio Social e o Projeto tico-Poltico: reflexes sobre o exerccioprofissional nos espaos scio-ocupacionais.

    Como vimos anteriormente, nas anlises sobre o cenrio contemporneo,

    na tenso entre a produo da desigualdade que os Assistentes Sociais traba-lham. Situados nesse terreno perpassado por interesses sociais distintos, dosquais no possvel fugir, uma vez que so eles que tecem a vida em sociedade

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    7/12

    O Exerccio profssional do Servio Social no capitalismo contemporneo: desafos e ...

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    351

    e embasam a profisso, os profissionais vivenciam, nos diferentes espaos scio--ocupacionais, inmeros desafios para a efetivao/consolidao dos direitossociais da populao usuria.

    O aumento do desemprego, do subemprego, da precarizao do trabalho, asnovas formas de contratao por tempo determinado, por projeto, por hora, portempo parcial, e outras interferem na qualidade das demandas de segmentos daclasse dominante, dos usurios, das instituies, da profisso que por meio demuitas mediaes chegam ao profissional de Servio Social exigindo novas compe-tncias e qualidade na interveno profissional (GUERRA, 2007).

    Bem sabemos que h, nas atividades profissionais, demandas fundamentais rela-cionadas s necessidades sociais dos sujeitos, que condicionadas pelas lutas sociais e

    pelas relaes de poder, se transformam em demandas profissionais, re-elaboradasna tica dos empregadores no embate com os interesses dos usurios que recebemos servios profissionais.

    Porm, ainda que os Assistentes Sociais disponham dessa relativa autonomia3na conduo de suas atividades, os empregadores articulam um conjunto de con-dies que interferem no exerccio profissional e condicionam a possibilidadede realizao dos resultados projetados, estabelecendo as condies sociais em

    que ocorre a materializao do projeto profissional do Servio Social em espaosscio-ocupacionais especficos.Os profissionais de Servio Social so chamados a acompanhar as novas exign-

    cias de qualificao para uma insero qualificada nos espaos ocupacionais, taiscomo: o domnio de conhecimento para realizar diagnsticos socioeconmicos demunicpios, para leitura e anlise dos oramentos pblicos, identificando seus alvose compromissos, bem como recursos disponveis para projetar aes; domnio doprocesso de planejamento; competncia no gerenciamento e avaliao de progra-

    mas e projetos sociais; capacidade de negociao; assessoria e consultoria em de-terminadas reas de trabalho; pesquisas, entre outras funes.

    Para Iamamoto (2009) orientar o trabalho profissional nesta direo, requerum perfil de profissional crtico, propositivo, capaz de formular, recriar e avaliarpropostas que apontem para a progressiva democratizao das relaes sociais. Hainda a exigncia com o compromisso tico-poltico, bem como com a teoria socialcrtica na sua lgica de explicao da vida social.

    A realidade brasileira demanda profissional comprometido em reforar a vin-culao existente entre tica, poltica, vida social e vida profissional, pois umarealidade complexa e bastante contraditria que exige um posicionamento tico de

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    8/12

    352 Josy Ramos de Oliveira Amador

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    todos os cidados. Sendo assim, podemos dizer que o Cdigo de tica torna-se uminstrumento fundamental no estabelecimento de normas que procuram garantirum suporte ao exerccio profissional.

    Quando analisamos o projeto tico-poltico do Servio Social, devemos terclaro que este vem sendo construdo pela categoria desde as dcadas de 1970 e1980, comprometido com os interesses das classes trabalhadoras. Segundo Netto(2000), esse perodo marca um momento importante no desenvolvimento doServio Social brasileiro, assinalado principalmente pela recusa e crtica ao con-servadorismo profissional. Assim, ser neste processo de recusa e crtica que es-to as razes do projeto profissional.

    O processo de consolidao do projeto profissional pode ser circunscrito

    dcada de 1990, explicitando a maturidade profissional do Servio Social atravsde um escopo significativo de centros de formao (em especial a ps-graduao)que ampliou a produo de conhecimentos no Servio Social. Nesta poca, tam-bm se atesta a maturidade poltico-organizativa da categoria, atravs de suasentidades e seus fruns deliberativos.

    Devemos ressaltar que o projeto tico-poltico do Servio Social bem claro eexplcito quanto aos seus compromissos. Ele tem em seu ncleo o reconhecimen-

    to da liberdade como valor tico central esta concebida historicamente comopossibilidade de escolher entre alternativas concretas; da um compromisso coma autonomia, emancipao e a plena expanso dos indivduos sociais. Desse modoo projeto profissional vincula-se a um projeto societrio que prope a construode uma nova ordem social, sem dominao e explorao de classe, etnia e gnero,como pode ser observado nos princpios do cdigo de tica profissional de 1993.

    Uma importante contribuio sobre o projeto profissional nos dada porBraz (2006), quando afirma que os profissionais individualmente podem operar

    o projeto tico-poltico atravs de vrias modalidades interventivas da profis-so, isto , o projeto pode ser concretizado nas aes cotidianas dos assistentessociais. No entanto, existem alguns elementos que sistematizam as variadasaes profissionais, aparentemente isoladas, emprestando materialidade aoprojeto profissional, tais como:

    Dimenso da produo de conhecimentos no Servio Social

    Dimenso poltico-organizativa da categoria Dimenso jurdico-poltica da profisso

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    9/12

    O Exerccio profssional do Servio Social no capitalismo contemporneo: desafos e ...

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    353

    Segundo Braz (2006) a dimenso da produo de conhecimentos no interiordo Servio Social refere-se, sobretudo, sistematizao das prticas profissio-nais, nas quais se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional. Essa

    dimenso investigativa do Servio Social tem como parmetro a afinidade comas tendncias terico-crticas do pensamento social. Assim, no cabem no Proje-to tico-Poltico posturas conservadoras embasadas em pressupostos filosficoscujo horizonte a manuteno da ordem.

    Na dimenso poltico-organizativa do Servio Social, temos tanto os fruns dedeliberao, quanto as entidades representativas da profisso. O conjunto CFESS/CRESS, a ABEPSS e as associaes poltico-profissionais comprometidas com osprincpios e diretrizes do projeto profissional, alm do movimento estudantil re-

    presentado pelo conjunto de CAS e Das e ENESSO, tambm fazem parte dessadimenso poltica. Vemos, portanto, que o projeto tico-poltico pressupe um es-pao democrtico aberto em construo e em permanente tenso e conflito.

    Temos, na dimenso jurdico-poltica da profisso, um aparato que envolve umconjunto de leis e resolues, documentos e textos consagrados na profisso. Nestadimenso h duas esferas diferenciadas, porm articuladas entre si. So elas: umaparato poltico-jurdico de carter estritamente profissional e um aparato jurdico-

    -poltico de carter abrangente. No primeiro, temos determinados componentesconstrudos e legitimados pela categoria dos assistentes sociais, como: Cdigo detica profissional, Lei de Regulamentao da Profisso (8.662/93) e as novas dire-trizes curriculares para o curso de Servio Social da ABEPSS.

    No segundo, temos um conjunto de leis advindas da Constituio Federal de1988 que, mesmo no sendo exclusivo da categoria, foi fruto de intensas lutas queenvolveram os profissionais de Servio Social, fazendo parte do cotidiano profissio-nal de tal forma que funciona como instrumento viabilizador de direitos atravs de

    polticas sociais que executamos ou planejamos no cotidiano das aes profissionais.Devemos ressaltar que essas dimenses fornecem materialidade ao projeto

    tico-poltico profissional, o qual deve ser compreendido como uma construocoletiva que como tal, tem uma determinada direo social que envolve valores,compromissos sociais e princpios que so objetos permanentes de reflexo, porserem participantes do movimento vivo e contraditrio das classes em sociedade.

    Os profissionais de Servio Social lidam, no seu trabalho cotidiano, com situ-aes singulares vividas por indivduos e suas famlias, grupos e segmentos popu-lacionais, que so atravessadas por determinaes de classes. Os Assistentes Sociaisso desafiados a desentranhar da vida dos sujeitos singulares que atendem a dimen-

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    10/12

    354 Josy Ramos de Oliveira Amador

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    ses universais e particulares, que a se concretizam, como condio de transitarsuas necessidades sociais da esfera privada para a luta por direitos na cena pblica.

    Dessa forma, a luta pela concretizao do projeto profissional, nos espaos do

    cotidiano, um desafio que se coloca hoje ao Assistente Social, pois exige uma an-lise crtica e rigorosa da realidade na qual se insere, bem como captar o que est pordetrs das demandas trazidas pelos usurios ao Servio Social.

    Para Vasconcelos (2002):

    A questo decisiva que se coloca para os assistentes sociais, diante da complexidade

    da realidade, conhecer sob quais condies o Servio Social tem possibilidade de

    contribuir na construo de formas de acesso aos recursos e informaes sociais e

    culturais tendo em vista uma nova forma de produo e reproduo social. Para queisso se torne possvel, os assistentes sociais tero de avanar para alm das medidas

    paliativas e/ou imediatas, destinadas somente a quebrar galho, fazer remendos,

    solucionar momentaneamente o que no tem soluo: a questo social, produto

    da economia capitalista (p. 518).

    Assim, cabe mencionar que os Assistentes Sociais so desafiados a tornar este

    projeto como um guia efetivo para a conduo das aes profissionais. Para tanto,se faz necessrio articular as dimenses organizativas, acadmicas e legais que lheatribuem sustentao com a realidade do exerccio profissional cotidiano.

    Uma importante contribuio nos dada por Guerra (2000) ao analisar a di-menso tcnico-operativa do exerccio profissional. Segundo ela, as demandas comas quais trabalham os Assistentes Sociais so totalidades saturadas de determina-es (econmicas, polticas, culturais, sociais e ideolgicas) que exigem mais doque aes imediatas, instrumentais e manipulatrias. Elas exigem intervenes que

    emanem de escolhas, que passem pelos condutos da razo crtica e da vontade dossujeitos, que se inscrevam no campo dos valores universais (ticos, morais e po-lticos); exigindo ainda aes que estejam conectadas ao projeto profissional doServio Social que tem princpios ticos de cunho coletivo.

    Diante do exposto acima, podemos depreender que necessrio aos Assisten-tes Sociais a busca pelo desvendamento da realidade nas situaes singulares docotidiano que se apresentam no exerccio profissional. necessrio demonstrarnas situaes com que nos defrontamos diariamente na profisso, a viabilidade doprojeto tico-poltico do Servio Social; seu potencial renovador na afirmao dosdireitos sociais dos usurios.

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    11/12

    O Exerccio profssional do Servio Social no capitalismo contemporneo: desafos e ...

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    355

    Contudo, gostaramos de ressaltar que mesmo diante de um quadro societrioadverso e contraditrio, que influencia diretamente os espaos scio-ocupacionaisonde atuam os Assistentes Sociais, acreditamos que de fundamental importncia

    aos profissionais impulsionarem pesquisas e projetos que favoream um melhor co-nhecimento do modo de vida e de trabalho dos segmentos populacionais atendidospelo Servio Social, buscando avanar cada vez mais na busca pela qualificao dotrabalho profissional.

    Referncias

    ANTUNES, R. O desenho multifacetado do trabalho hoje sua nova morfologia. In: Servio

    Social e Sociedade n 69, ano XXIII. So Paulo: Cortez, 2002.BRAZ, M. Notas sobre o Projeto tico-poltico do Servio Social. Coletnea de Leis eResolues. CRESS 7 regio RJ, 2006.

    CFESS. Cdigo de tica prossional do Assistente Social. Braslia, CFESS, 1993.

    ______. Lei 8.662/1993, que regulamenta a profisso de Servio Social. Braslia,CFESS, 1993.

    GUERRA,Y. O Projeto Prossional Crtico: estratgia de enfrentamento das condiescontemporneas da prtica profissional. Servio Social e Sociedade n 91. So Pau-lo: Cortez, 2007.

    ______.As racionalidades do capitalismo e o Servio Social. In: 100 anos de ServioSocial. Coimbra: Quarteto, 2001.

    ______. Instrumentalidade do Servio Social. In: Programa de Capacitao continuadapara Assistentes Sociais. Capacitao em Servio Social e Poltica Social, mdulo 4: O

    trabalho do assistente social e as polticas sociais. Braslia: CFESS-ABEPSS-CEAD, 2000.HARVEY, D. Condio ps-moderna.. So Paulo Loyola, 2009 (18 Ed).

    IAMAMOTO, M. V. O servio social na contemporaneidade: trabalho e formao profis-sional. So Paulo: Cortez, 2001 (4 ed.).

    ______. Servio Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e ques-to social. So Paulo: Cortez, 2008.

    ______. Os espaos scio-ocupacionais do assistente social. In: Servio Social: direitose competncias profissionais. In: Programa de Capacitao continuada para assistentessociais. Braslia: CFESS/ABEPSS/CEAD, 2009.

    pg 345 - 356

  • 7/24/2019 O Exerccio Profissional Do Servio Social

    12/12

    356 Josy Ramos de Oliveira Amador

    O Social em Questo - Ano XIV - n 25/26 - 2011

    ______. O Servio Social na contemporaneidade:trabalho e formao profissional. SoPaulo: Cortez, 2001 (4 ed.).

    MOTA, A. E. Cultura da Crise e Seguridade Social: Um estudo sobre as tendn-

    cias da previdncia e da assistncia social brasileira nos anos 80 e 90. So Paulo:Cortez, 2000.

    NETTO, J. P.A construo do Projeto tico-poltico do Servio Social frente crise contem-pornea. In: Programa de Capacitao continuada para assistentes sociais. Braslia:CFESS/ABEPSS/CEAD, 2000.

    VASCONCELOS, A .M. A prtica do Servio Social:cotidiano, formao e alternati-vas na rea da sade. So Paulo: Cortez, 2002.

    Notas

    1 Mestre em Servio Social pela UERJ. Assistente Social da prefeitura municipal de Armao dosBzios/RJ. Professora do curso de Servio Social da Universidade Veiga de Almeida (UVA) campusCabo Frio/RJ.

    2 Para um melhor esclarecimento sobre a conjuntura de crise vivida pelo capitalismo nas ltimasdcadas do sculo XX, ver: MOTA, (1995).

    3 Para maiores esclarecimentos sobre o tema da autonomia relativa do profissional de Servio So-cial, ver IAMAMOTO. M. V. Servio Social na contemporaneidade: trabalho e formao profissional.So Paulo, Cortez, 2001.

    Submetido em janeiro de 2011, aceito em maio de 2011.

    pg 345 - 356