O Filme Babies

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  • 8/13/2019 O Filme Babies

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    O filme Babies, assistido a ttulo de aula, apresenta em forma de imagens a criao de

    uma maneira de refletir sobre o desenvolvimento dos bebs enfatizando as fases dedesenvolvimento pela qual todo ser humano experiencia, independentemente da cultura,credo, classe social (...) em que este ainda pequeno ser se desenvolva. Porm, para aquelesque como eu no so marinheiros de primeira viagem, afirmo que tambm podemos observar

    outros pontos igualmente interessantes do percurso filmogrfico e que no recaemunicamente sobre o prisma das fases vividas pelos bebs. Assim, o presente texto pretendeabordar exatamente este lado, o que se encontra em aberto e que se insinua atravs do filme,

    mas que concomitantemente, pela vida, por todos ns construdo. Tudo isso, para mencionara forma particular que temos de estar sempre em luta com o mundo a fim de impor-lhe nossasidiossincrasias para que o peso da realidade no nos sujeite tanto quanto ns a ela. Digo isso

    por que ao sair do plano da imagem para o plano textual, certamente, no conseguirei manter

    o carter democrtico de acepo destas imagens. Pensando desta forma, sigo com o texto.

    Observando, numa pesquisa internet, encontrei esta figura, provavelmente doencarte de capa do DVD deste filme, e esta viso no me pode escapar de uma percepoconceptual das oposies organizadas na criao do vdeo. No limite superior do encarte est

    posto um recorte de Ponijao, o beb negro da Nambia, em contraponto, na margem inferior,est Hattie, a beb branca de olhos azuis da Califrnia, EUA, ambas figurando como pontosextremos nesta figura. Internamente dispostos, esto os outros dois recortes, acima da criana

    americana esta Bayar, beb asitico da Monglia, e abaixo de Bonijao, est Mari, a menina japonesa de Tokio.

    A criao do filme salienta as diferenas entre os contextos vivenciados por cadacriana e estabelecem uma espcie de elo de oposio entre o homem primitivo e o homemcivilizado. Podemos, inclusive, vincular as cenas em que se documenta o nascimento dos bebsao progressivo amadurecimento (nascimento) social do homem, pois intencionalmenteorganiza os vdeos em disposio econmico-ascendente partindo do Africano - que possuiuma forma de vida mais rudimentar; depois o mongol - que dispe de alguns instrumentos que

    o tornam menos dependentes do ambiente; ento o japons - que apesar de ainda manteruma cultura diferenciada de seu contraponto hemisferial comunga de um avano tecnolgicoque lhe faz fronteiras; chegando ao pice com o nascimento do beb americano padro

    social.

    Na mesma medida em que tudo se constri em cima das cenas que evidenciam asdistines entre as diferentes culturas e seus respectivos arranjos sociais, verificamos que, noobstante a todas essas oposies, existe um arco parabolar constituidor de um vrtice detangncia entre estes polos configurando um formato icnico centralizador do carter global ecomum a todos ns, enquanto seres humanos. Esta percepo me permite conceber o

    seguinte diagrama:

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    Verificamos, portanto, que o que diferencia os seres humanos na realidade so suas

    culturas, a sua forma prpria de ser e que responde primeiramente relao de sujeio como ambiente, no qual e pelo qual est apassivadamente inserido. Essa proposio adquirepropores maiores na medida em que ampliamos essa viso ao no focar essa visodiretamente em cada beb e seu desenvolvimento intrincado com seu respectivo meio social,

    mas ao focalizar o homem como um todo e a evoluo da sua forma de ser na relaco com a

    natureza em seus diferentes ambientes desde os tempos da pr-histria.

    Tendo em vista o encarte de capa do DVD como ponto de partida para as digressesque estamos fazendo a propsito do que postulamos como o que poderia ser o ponto principaldo filme, as fases da criana, e trabalhando com esse ponto como estrutura principal pela qual

    se constri o texto, proponho a seguir a realizao de uma anlise dos cenrios queconstituem os ambientes onde essas fases ocorrem.

    A partir do polo primitivo que constitui o cenrio africano da N ambia encontramos o

    beb, Ponijao, lidando diretamente com um ambiente implacvel, onde as paisagens seconstituem pela savana em uma terra seca, pobre de nutrientes e empoeirada; agua pareceno haver em abundncia; banhos parecem ser evitados; o parto da me no filmado eocorre no prprio vilarejo sem atenes mdicas; existe uma proximidade entre as mes e osfilhos e uma liberdade entre todos; a figura masculina do homem adulto no aparece emnenhum momento do vdeo; roupas parecem no ser necessrias, talvez devido ao caloraparente; a criana se desenvolve normalmente como nas outras sociedades, porm sem umcuidado extremado; no h brinquedos brinca-se de imitar os adultos; o trabalho instrumento do ser, pois no se (vivo) se no se executa o trabalho, trabalho este que sedilui entre as atividades rotineiras; os animais como cabra e cachorro sempre esto prximosporm h um contato maior com o cachorro; h poucos dispositivos, uma faca, umas latas ealgumas cordas; a carncia patente restringe a sensao de liberdade que furtada por umcondicionamento imposto pelo ambiente; as moradias no so pudorosas; no h cercas, mas

    no se pode ir aonde se quer, pois h sempre no ar um perigo de selva.

    Acessando o polo medinico do encarte em que encontramos o Beb japons emperspectiva diametralmente oposta, sem o perdo da redundncia, criana da Monglia, aexibio do filme documenta que ao mesmo tempo em que temos dois grupos que possuemuma igualdade tnica aparente, temos tambm as diferentes formas de lidar com a vida e oscenrios que os cercam. Em meio vastido das paisagens mongoloides encontramos umreceptculo onde se abriga a famlia de Bayar. Historicamente sabido que as civilizaesmongis tinham a caracterstica de serem povos nmades e esse aspecto no foge dadocumentao do vdeo, pois, a me deste beb mongol, praticante de yoga como pr-natal,d a luz em um ambiente em que assessorada provavelmente por um mdico, porm, ao sairdo que para ns seria uma maternidade, o que observamos a desmontagem de umacampamento e a me, sem aguardar um perodo de descanso, monta na moto de seu maridoe volta para o lar que tambm no uma casa fixada em determinado local, mas sim umaespcie de cabana de lona e couro de animais, essa cabana tambm no nada grande, aindamais tendo uma vastido onipresente de uma paisagem imponente ao alcance da porta de

    casa. O pai aparece pouco no trato da criana, somente no parto e na execuo de um tipo deencontro religioso; o beb se desenvolve normalmente; h poucos brinquedos, o trabalho se

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    dilui com a rotina diria; no h uma necessidade intensa de utilizao de roupas; a famlia

    possui muitos utenslios e dispositivos; h energia eltrica para atividades bsicas como cortaros cabelos e tosar as cabras, acredito; a criana tem uma liberdade razovel, os animaisrondam a casa e existe um gato domstico. Neste cenrio, contraponto de ligao entre asquatro sociedades, existe o fato de praticamente no haver a existncia, pelo menos visual, de

    cercas, o que causa uma sensao de liberdade extremada neste que elejo como o ambientemais agradvel do documentrio. Neste lugar pode-se verdadeiramente (re)pousar os olhos nohorizonte e nas montanhas, ver o nada e no ver o tudo, pode-se tambm sentir que as

    maiores fronteiras esto realmente dentro de ns mesmos.

    O cenrio japons nesta progresso escalar que construmos um cenrio de poucas

    diferenas entre seu oposto hemisferial americano, a criana nasce normalmente namaternidade. Ao contrrio do mongol o beb japons cercado por todos os lados, o Japo um pas pequeno e populoso, h poucos stios vazios, mas em compensao denota-se um

    grande respeito entre as pessoas que parece brotar das questes de honra intrnsecas milenar cultura japonesa; o pai tem um bom contato com a criana; o trabalho um localoutro, distante da vida pessoal e para poder trabalhar a criana deve ficar em creches; h todo

    o tipo de dispositivo para fazer o que necessrio e o que passa a ser; a criana tem vriosbrinquedos, mas como mostrado no vdeo no consegue interagir com estes brinquedos e sedecepciona por no conseguir entend-lo; a criana permanece sujeitada e limitada por uma

    construo prvia destes brinquedos, destas paredes, destas fronteiras.

    Por fim, a criana americana Hattie figurando como padro conceitual de nossomodelo de civilizao, topo do monte da escalada humana da primitividade civilidade mor,oposta por um planisfrio, e trazida igualdade pelas semelhanas com as grandes cidades

    japonesas, o pice da disposio e da sujeio, medida esta que a iguala ao seu contrapontodiametral africano; o bebe americano nasce com todos aparelhos na maternidade, a partir deuma cesariana se necessrio, mas fraca, no pode pegar uma poeira; existe uma imposiode um excesso de informao que lhe tolhe a capacidade imaginativa, um tpico Batman,

    pois no consegue ser o mesmo super-heri sem seus dispositivos tecnolgicos, se acabar aenergia est a p e no consegue correr. Hattie tem tudo a seu favor, mais caso no consigaou no queira se adaptar tambm tem tudo contra. A viso de sociedade americanizada eocidentalizada dominou o mundo, cercou tudo, classificou tudo e agora est trancado dentro

    deste invlucro o que continha tornou-se contedo ensimesmou-se, individuou-se.

    Por conseguinte, toda essa trajetria cinematogrfica me remete figura mtica eironicamente americana do Tarzan, sujeito que perdido na selva quando criana lanou mode sua inteligncia para manuteno de sua sobrevivncia alcanando o status de super-heridas selvas, pois com suas habilidades consegue ser de fato com o ambiente, no est sujeito dispositivao do mundo e consegue sobrepujar o homem civilizado lanando mo de umsaber corporal e instintivo, de um raciocnio lquido, construdo com o processo de vivncia eatravs de uma interao respeitosa com o ambiente selvagem que temido e protegido porele, pois sabe muito bem que dele procede a condies das quais depende para continuar a

    viver em liberdade.