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O fim das Escolas de Negócio ? Jeffrey Pfeffer Chritina Fong

O fim das Escolas de Negócio

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O fim das Escolas de Negócios

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O fim das Escolas

de Negócio ?

Jeffrey Pfeffer Chritina Fong

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Seminário de Pesquisa Professor: Thomaz Wood Jr. Autor: Moysés Simantob Texto resenhado: O fim das Escolas de Negócio ? Autor (es): Jeffrey Pfeffer e Chritina Fong SP. 19.09.05 Idéias centrais e comentários O artigo do Dr. Pfeffer e da doutoranda Fong, publicado pela RAE,em junho de 2003, faz parte de um dos artigos exemplares publicados na edição especial que a revista dedicou à Educação em Administração. O histórico do Dr. Pfeffer com este tema não data de hoje. Já em 1997 ele publicava, e ainda continua estudando, sobre os efeitos de um MBA e suas origens socioeconômicas nas escolas de negócio. Interessante notar que, neste, e em outros trabalhos, o foco se mantém na relevância dos produtos educacionais e no questionamento sobre o efeito nas carreiras dos alunos e na prática empresarial. A questão, abordada pelos autores não é apenas curricular e de imagem destes cursos, mas, vai além, reflete sobre a própria legitimidade acadêmica, na medida em que aborda, nessa mesma reflexão, a produção científica e sua aderência à realidade e aos desafios da gestão. A introdução do artigo apresenta vários estudos de pesquisadores e, como não poderia faltar, alguns gurus da administração, que também debruçaram sobre essa questão para nos mostrar que o design (utilizado no sentido de criação e reinvenção, que o semiólogo Décio Pignatari gosta de usar) como um todo de um curso de MBA precisa ser repensado. As implicações dos autores terem relacionado dezenas de estudos para respaldar os seus próprios pontos de vista (ter um MBA não garante sucesso e nem previne fracasso nos negócios) são legítimas e eficazes, e ganham enorme impacto quando retomam para a nossa lembrança o artigo Why CEO´s Fail. Os autores não perdem de vista a tarefa central do artigo: revisar as evidências empíricas sobre o que as escolas de negócio efetivamente fazem e quais são os efeitos produzidos. O foco de análise para este fim mostra dois resultados de extrema relevância: a carreira de seus alunos e o conhecimento que eles produzem. Ainda na introdução os autores já revelam o veredicto: os cursos de MBA revelam uma imagem desoladora. Para estabelecer uma questão de pesquisa clara, os autores definiram que examinariam as evidências do que as escolas de Administração não fazem e as possíveis mudanças e reformas que poderiam realizar. Em termos de foco de argumentação, concentraram suas análises sobre o impacto das pesquisas em Administração e seus efeitos nas carreiras dos privilegiados em cursar um MBA. Nas seções seguintes, serão apresentadas as razões que farão, alguns dos problemas apontados pelos autores, persistirem nos próximos anos e caminhos possíveis para alavancar à relação entre a academia e as empresas.

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O artigo está estruturado em três partes. Na primeira , “Os programas de MBA e os resultados na carreira” , considerando as evidências de aspectos relacionados à performance de alunos e seus aspectos no seu desempenho profissional. No segundo, “Por que há tão pouco efeito do MBA em seus alunos?”, discute-se a qualidade, o rigor e as características e necessidades econômicas da maioria das universidades, que tratam esse tipo de curso como a vaca leiteira do seu portfólio de programas, dando mais ênfase as funções dos negócios do que à prática da gestão. Na terceira parte, são apresentadas idéias sobre ‘O Impacto das Pesquisas das Escolas de Negócio’, onde se analisa o vínculo entre os objetivos da pesquisa, com o aumento do prestígio das próprias escolas em que a pesquisa é realizada e sua baixa influência na prática empresarial. A última parte do artigo trata da “Perspectiva e abordagem diferentes para a educação nas escolas de negócio”; “Barreiras às mudanças” e “E Pra Onde irão às escolas de negócio”. Analisar os efeitos do diploma de MBA na carreira de profissionais, parece tão complexo quanto estudar o efeito de dietas em atletas de alta performance. O que funciona pra um, nem sempre funciona para o outro. Generalizar, nestes casos, é muito difícil. Ainda assim, um dos aspectos mais interessantes da primeira seção do artigo, se desenvolve em cima da questão de consultorias que contratavam profissionais das áreas, por exemplo, de medicina e filosofia, dando-lhes treinamento em gestão de negócios, por não mais de duas semanas, e como num passe de mágica, lá estavam eles diante de clientes, ao lado dos MBAs, desempenhando papéis digno de experts em Administração. Detalhe: sua performance não deveu , em nada , aos ‘masters’. Mágica ou uma realidade crua da vulnerabilidade destes cursos? A questão talvez seja mais profunda e recorra aos modelos mentais de cada indivíduo, alguns mais bem aparelhados para o exercício de um pensamento sistêmico e integrado, desenvolvidos por uma formação menos técnica e mais holística do mundo. O destaque desta seção: ‘não é a educação em Administração, mas a seleção que está sendo avaliada.’ Ou seja, MBAs tem acesso e , digamos, ‘portas abertas’, às boas posições em bancos de investimento e em consultorias, quanto mais elevada forem suas credenciais , entenda-se escolas de primeira linha em Administração. Valorizam-se mais habilidades pessoais e menos aprendizado, uma vez que os currículos das escolas são cada vez mais parecidos. Notas é outro fator estudado por vários autores. No levantamento feito neste artigo, os estudos mostram que não há sustentação entre o domínio, caracterizado por notas altas, de matérias ensinadas nos cursos, com a performance subseqüente nos negócios. Caso isso acontecesse, deveria haver mais consistência e conexões mais fortes entre o sucesso nos negócios e o domínio de conteúdo relevante. Talvez um dos pontos mais polêmicos das pesquisas de Jeffrey e Fong relaciona-se com o fato de as matérias de programas MBA mudaram muito pouco dos anos 1960 para os anos 1990. As mudanças substanciais acabaram ocorrendo na distribuição de materiais pela internet e no acesso ao conteúdo via mecanismos de educação a distância. Como dizem os autores ‘não se trata de dizer que os currículos não mudaram para incorporar novos conhecimentos, mas que a estrutura básica dos cursos e os conceitos básicos têm permanecido notavelmente similares.’ A seção mais atraente de todo artigo, me pareceu as discussões sobre o processo de ensino, uma vez que, questionam o desafio entre ensinar e aprender e o desenho das escolas de negócio sem campos de prática. As implicações deste processo têm levado os alunos a aprenderem a falar de negócios não ficando claro se eles aprenderam sobre os negócios. Certamente , muitos docentes lerão esse trecho

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com um sorriso sarcástico , deliciando-se em lembrar da enormidade de asneiras que os alunos reproduzem em frases rebuscadas de ‘administrês’ , sem nenhum tipo de significado. Mintzberg, repetidamente citado no artigo, reconhecidamente critico mordaz das escolas de negócio, defende que administrar é uma arte prática e que as escolas estão longe disso, mas quem presenteia os leitores com um ponto de vista, dos mais requintados é Schon (1983, 1987) ao afirmar ‘ que a prática é caracterizada pela indeterminação, e o que distingue um “bom praticante” de um “simplesmente adequado” é a habilidade de transformar situações incertas em certas.’ Pessoalmente, concordo com a afirmação que, sem um grande componente clínico ou prático, não fica claro se as escolas de negócio irão algum dia fornecer conhecimento duradouro que afete a performance de seus alunos. A reflexão sobre o impacto das pesquisas das escolas de negócio na prática empresarial pode ser resumida pelo sugestivo argumento dos autores, que suspeitam que embora os acadêmicos sejam influenciados pela prática, pouca influência flui da academia para a indústria. E para tanto, analisaram listas de melhores livros escritos por professores de escolas de negócio, que, de fato, afetaram o pensamento administrativo das empresas. Puro bom senso, dado que muitos acadêmicos escrevem para seus pares lerem e para o avanço do conhecimento e, não necessariamente, para o usufruto da comunidade empresarial. O resultado não surpreende e atesta que apenas uma pequena fração dos livros de negócios, que são presumidamente influenciadores da prática, vem da academia. Esta constatação é coerente com a observação de que a conexão entre as escolas de negócio e a profissão de gestor tem diminuído ao longo do tempo. Outra prática também comum explicada por Lawrence, (1992,p.140) é que muitas pesquisas são orientadas pela teoria, enquanto que os melhores trabalhos vieram de pesquisas orientadas pelos problemas, uma prática não muito apreciada pelos que prezam o purismo acadêmico. Na última parte, o artigo discute que é o grau de separação de certos temas (concentração em alunos mais experientes, design multidisciplinar, foco em negócios, processo experimental voltado para a ação) que diferencia as escolas de Administração das demais escolas profissionalizantes. São, de fato, diferentes modelos para um público, que se espera, seja também diferente. Implicações e Análise A principal idéia em relação às barreiras às mudanças no modelo educacional dos MBAs, segundo os autores, está no custo , que se relaciona diretamente com a crescente escassez de alunos nas escolas de negócio, ocasionando pressão no aumento de salários dos professores e maiores recursos de auxílio à pesquisa para evitar o êxodo de cérebros. O aumento das salas de aula, como faz a indústria da aviação, com o aumento de assentos por aeronave, também se mostrou uma saída para reduzir os custos. Porém há implicações sérias aí. Salas cheias impactam o método de ensino, que senão for mudado, provoca insatisfação do aluno, que reage acenando com o canhoto do talão de cheque nas mãos. Outra barreira, e esta é cultural (status, poder, prestígio etc), é encontrar nessas escolas pessoal preparado para lidar com o binômio ensino e prática. Atrair professores com alguma experiência

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profissional anterior, cria uma certa tensão institucional, na medida em que professores com carreiras dedicadas em tempo integral à escola, se sentem desvalorizados em suas habilidades técnicas. O artigo é provocador o suficiente para gerar a seguinte reflexão: como mudar se, as regras estabelecidas anos atrás são as que levaram essas mesmas escolas ao topo? Há , ao mesmo tempo , um interessante círculo vicioso e virtuoso, na medida em que, alunos buscam escolas de prestígio, que por sua vez geram posições de primeira linha para seus alunos, que são contratados por ex-alunos daquela mesma instituição, que divulgam cases contando os feitos desses ex-alunos, que fazem doações às escolas e que assim retroalimentam o mesmo sistema. Todo esse sistema encontra respaldo em certificações e acreditações internacionais que validam o status quo. Diante desse cenário, com cara de jogo amistoso da Fifa, entre Inglaterra e França, pouco se pode esperar, em termos de iniciativas. A saída, segundo os autores, seria romper com os elementos institucionalizadores que prendem as escolas à racionalidade técnica e às estruturas e políticas inerciais. E a razão pra isso é a de encontrar um modelo que auxilie na prosperidade econômica das nações. Como não poderia deixar de ser, dado que se trata de um artigo saído do berço da América, o apelo dos autores pela redenção das escolas de negócio é a tão presente competição. Esta exige melhores gestores, que serão bem pagos por demonstrarem habilidades e alta performance, aptos em construírem mais valor oferecido em bandeja de prata aos acionistas. Voltando aos campos de futebol, talvez o que precise surgir nesse campeonato acadêmico, cheio de estrelas, é um time como foi (ou ainda é) a alegre e criativa equipe de Camarões, que encantou à todos, não pela maneira normativa de jogar, mas pela arte de despertar a paixão de jogar. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------