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FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO Pós-Graduação Lato Sensu LUCAS PRATA FORTES O FORRÓ ELETRÔNICO: BREVE HISTÓRIA ESTÉTICA E MERCADOLÓGICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Comunicação Social com Especialização em Jornalismo. SÃO PAULO 2013

O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

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TCC de Pós-Graduação em Comunicação Social com especialização em Jornalismo. Faculdade Cásper Líbero. Um resumo mercadológico e estético sobre o fenômeno musical Forró Eletrônico, que há mais de duas décadas compõe uma cadeia cultural milionária através de metodologias de negócios e divulgação que passeiam pela indústria independente e o mainstream, mantendo o ritmo no topo das paradas de sucesso regional sem o apoio de grandes conglomerados de comunicação.

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Page 1: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO

Pós-Graduação Lato Sensu

LUCAS PRATA FORTES

O FORRÓ ELETRÔNICO:

BREVE HISTÓRIA ESTÉTICA E MERCADOLÓGICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Comunicação Social com

Especialização em Jornalismo.

SÃO PAULO

2013

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LUCAS PRATA FORTES

O FORRÓ ELETRÔNICO:

BREVE HISTÓRIA ESTÉTICA E MERCADOLÓGICA

Trabalho de conclusão de curso no formato de

livro-reportagem para a obtenção de

certificado do Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Comunicação Social com

Especialização em Jornalismo da Faculdade

Cásper Líbero.

Coordenador: Prof. Dr. Dimas Antonio Künsh

Orientador: Prof. Dr. Welington Wagner

Andrade

SÃO PAULO

2013

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LUCAS PRATA FORTES

O FORRÓ ELETRÔNICO:

BREVE HISTÓRIA ESTÉTICA E MERCADOLÓGICA

Trabalho de conclusão de curso para a

obtenção de certificado do Curso de Pós-

Graduação Lato Sensu em Comunicação

Social com Especialização em Jornalismo da

Faculdade Cásper Líbero.

Coordenador: Prof. Dr. Dimas Antonio Künsh

Orientador: Prof. Dr. Welington Wagner

Andrade

Data da aprovação: __/__/__

Nota:____________________

Banca Examinadora

__________________________

__________________________

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RESUMO

Este trabalho documenta a origem e o funcionamento do gênero fonográfico Forró Eletrônico,

que há mais de 20 anos se mantém como um dos ritmos mais populares da região Nordeste do

Brasil. Destaca os modelos mercadológicos por trás do sucesso de bandas do segmento, como

Mastruz com Leite e Aviões do Forró, apontando as visionárias estratégias encontradas por

seus empresários para transformar seus negócios em fenômenos de venda e sucesso de

público por todo o Nordeste, mesmo sem o apoio de grandes meios de comunicação de porte

nacional. Aponta também os mecanismos encontrados para superar a chegada do

compartilhamento de músicas online, transformando as mídias sociais e a distribuição gratuita

de arquivos presentes nelas em aliados para divulgação. Por fim, realça a evolução melódica

do ritmo, traçando um panorama sobre o cenário futuro do gênero.

Palavras-chave: Forró. Indústria Fonográfica. Nordeste.

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ABSTRACT

This project documents the origin and functioning of the phonographic gender “Forró

Eletrônico” (Eletronic Forro), which remains one of the most popular rhythms in the

Northeast region of Brazil for more than 20 years. It shows the marketing behind the success

of bands such as “Mastruz com Leite” and “Aviões do Forró”, pointing out the strategies

found by visionary entrepreneurs to transform their business into blockbuster sales throughout

the Northeast, even without the support of traditional nationwide media vehicles. It also

identifies the mechanisms they found to overcome the advent of online music sharing, turning

social media and free distribution of files in allies to disseminate the segment bands. Finally,

it also highlights the evolution of melodic rhythm, drawing an overview of the future scenario

of the genre.

Keywords: “Forró”. Phonographic Industry. Northeast.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6

1 A ORIGEM ESTÉTICA DO FORRÓ ELETRÔNICO ................................................ 10

1.1 EMANOEL GURGEL E O MASTRUZ COM LEITE ................................................... 10

1.2 OS ELEMENTOS DA NOVA ESTÉTICA .................................................................... 12

1.3 A REAÇÃO INTELECTUAL ........................................................................................ 15

2 A PRIMEIRA FASE MERCADOLÓGICA DO FORRÓ ELETRÔNICO .................. 19

2.1 O GRUPO SOMZOOM ................................................................................................. 19

2.1.1 A SomZoom Records e a SomZoom Sat ................................................................... 19

2.1.2 As Outras Frentes de Negócio ................................................................................... 24

2.2 ENTRE MAJORS E INDIES ......................................................................................... 25

2.3 O DECLÍNIO DO MODELO SOMZOOM .................................................................... 27

3 A SEGUNDA FASE MERCADOLÓGICA DO FORRÓ ELETRÔNICO ................... 29

3.1 A ERA DA DISTRIBUIÇÃO DE DISCOS .................................................................... 29

3.2 A INDÚSTRIA DO ALÔ ............................................................................................... 32

4 O PADRÃO ESTÉTICO PÓS-AVIÕES DO FORRÓ .................................................. 34

4.1 O PROTAGONISMO DO SHOW ................................................................................. 34

4.1.1 A Performance........................................................................................................... 34

4.1.2 Metalinguagem .......................................................................................................... 36

4.2 O NOVO PADRÃO SONORO ...................................................................................... 38

4.3 O PADRÃO COMMODITY ........................................................................................... 40

5 O FUTURO DO GÊNERO ............................................................................................. 44

5.1 DIFERENCIAR PARA RENOVAR .............................................................................. 44

5.2 A ÚLTIMA BARREIRA ............................................................................................... 46

6 A GRANDE MÍDIA E O FORRÓ ELETRÔNICO: UMA NOVA RELAÇÃO ........... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 53

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 55

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INTRODUÇÃO

As ruas ao redor do Centro de Tradições Nordestinas, popular ponto de encontro da

comunidade nordestina moradora de São Paulo, estavam lotadas naquela noite de sexta-feira,

12 de agosto de 2012. Naquele espaço popular onde, diariamente, centenas de nordestinos

procuram matar a saudade de sua terra natal pelos bares, restaurantes ou assistindo às atrações

culturais que de alguma maneira emulam o estilo de vida de sua região original, iria se

apresentar um dos maiores fenômenos musicais brasileiros dos anos 2000.

O número de carros que chegavam ao local atestava o tamanho da atração. As vias de

acesso ao espaço, localizado ao lado da Ponte do Limão, zona norte da capital paulista,

estavam intrafegáveis e o congestionamento chegava até o bairro da Pompéia, do outro lado

da Marginal Tietê. Congestionamento este que servia de ponto de venda para centenas de

cambistas que negociavam ingressos para a noite por mais de cem reais, já que aqueles

vendidos na bilheteria haviam sido esgotados uma semana antes.

O motivo para tamanha movimentação tinha um nome, a banda cearense Aviões do

Forró, que naquela noite chegava a São Paulo para fazer um dos seus mais de 30 shows

agendados para aquele mês.

Surgida no ano de 2002, o Aviões é, hoje, o principal nome do gênero Forró

Eletrônico ou Estilizado, também conhecida caricaturalmente no sudeste como a “Oxente

Music”, “New Forró” ou “Forrock”. Original do começo dos anos 90, o ritmo se transformou

nas últimas duas décadas em um dos produtos culturais mais relevantes do Nordeste, mesmo

sem ter o suporte mercadológico da tradicional indústria fonográfica e seus principais

stakeholders, as gravadoras.

Para chegar a esse patamar, partiu de duas premissas. A primeira delas, estética.

Combalido pela morte de seu principal intérprete, Luiz Gonzaga, e diminuído pelo estereótipo

de “brega”, o forró se defasava no final da década de 80. O ritmo se concentrava em cantar os

problemas do sertão e ganhava sobrevida graças aos festejos juninos.

Com a chegada da primeira banda do novo gênero, o Mastruz com Leite, o cenário

mudou. A base melódica do forró formada pelo tradicional trio pé-de-serra - zabumba,

sanfona e triângulo - ganhou a companhia de instrumentos eletrônicos como teclado, guitarra,

bateria e baixo acústico.

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As letras, antes focadas na vida do nordestino sertanejo, abriram espaço para as

mesmas pautas dos ritmos populares daquele momento. Agora, as nuances do relacionamento

amoroso eram o foco, cantadas por vocalistas jovens que fortaleciam o aspecto atualizado do

grupo. A tradição se modernizava.

A segunda premissa é mercadológica. O forró eletrônico possui uma cadeia

econômica atípica que explica seu sucesso e suas cifras milionárias, mesmo sem o apoio dos

grandes veículos de mídia. Aquela tradicional imagem do grupo de amigos que se juntam para

formar uma banda e encontram um empresário que procura vendê-la para uma gravadora ou

produzi-la de maneira independente, por exemplo, quase não existe no gênero.

Aqui, é o empresário e sua equipe ou empresa quem forma as bandas. Quase que

como um time de futebol, são eles que contratam os músicos (que podem nunca ter tocado

juntos) e os tratam como funcionários com salários mensais pré-estabelecidos.

São eles também que selecionam o repertório, ditam o estilo de roupa a ser usado

pelos músicos e a abordagem dos cantores, decidem qual a estrutura técnica do palco, além de

se responsabilizarem por todo o gerenciamento comercial da agenda e do faturamento dos

conjuntos.

Essas bandas fazem parte de um complexo sistema de produção, divulgação e

distribuição regional, que soube, graças à criatividade desses mesmos empresários, atualizar

seu funcionamento, sobreviver de maneira prioritariamente autônoma e enfrentar a crise pós-

Napster, com a chegada da distribuição gratuita de canções pela internet e o consequente fim

do peso do CD no faturamento de qualquer grupo.

Mais que isso, essa criatividade transformou a tecnologia e até o comércio informal

de música, como a pirataria, em fiéis aliados para o fortalecimento da divulgação do ritmo.

É a partir da compreensão destas premissas estéticas e mercadológicas que este

projeto buscará documentar em seis capítulos um pouco da história do gênero forró

eletrônico. Com esse livro-reportagem, tentarei fazer uma linha do tempo do estilo, e

descobrir as respostas para uma dúvida que me acompanhou ao longo de toda minha

juventude. Abro aqui, então, um espaço para um depoimento estritamente pessoal.

Cresci em Aracaju, Sergipe, e passei toda minha adolescência ouvindo as canções de

grupos como Calcinha Preta, Cavaleiros do Forró, Limão com Mel e Cavalo de Pau sendo

protagonistas de qualquer lista das músicas mais tocadas das rádios locais. Inúmeras vezes,

deparei-me em shows gratuitos dessas bandas lotados, principalmente no mês de junho, época

das festas juninas, onde é até natural um grupo se apresentar mais de duas vezes em uma

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mesma noite. O sucesso era ululante, mas não estava na televisão e em seus principais

programas de auditório, onde outros ritmos de mesmo público-alvo, como o sertanejo, eram

presenças rotineiras. Resistia em mim sempre a pergunta: como o forró eletrônico se

transformou em um fenômeno cultural e comercial regional sem precisar do apoio maciço dos

grandes veículos de comunicação nacional?

As tentativas de respostas serão apresentadas no primeiro capítulo deste livro-

reportagem no qual a origem da estilização do forró será explicada. Aqui, serão detalhados os

primórdios do gênero buscando explicações sobre como o cenário cultural nordestino do final

da década de 80 influiu na fundação do ritmo. Entrará em cena a figura de Emanoel Gurgel, o

folclórico empresário cearense responsável pela criação da primeira banda de forró eletrônico,

o Mastruz com Leite.

No segundo capítulo, a premissa mercadológica ganhará forma. Entenderemos como

o modelo de negócio autônomo e verticalizado transformou o Mastruz com Leite em um

fenômeno de vendas e em referência copiada por diversas outras bandas por todo o Nordeste.

Esse modelo o colocou em uma zona intermediária entre a independência e o mainstream e

sustentou o ritmo enquanto o principal produto e fonte de renda da música eram as vendas de

vinis e CDs.

O terceiro capítulo documentará a resposta do forró estilizado ao surgimento e

avanço da pirataria e da distribuição gratuita de músicas pela internet que, se diminuiu a

relevância da venda de mídias tradicionais, transformou-se em uma das principais ferramentas

de divulgação das bandas. Aqui, o protagonismo será de Isaias Duarte, o criador e dono da

banda Aviões do Forró, que elevou sua banda ao patamar de principal expoente do ritmo no

novo século, graças ao modelo de distribuição gratuita de discos criada por ele. É esse modelo

de distribuição que deu origem à “Indústria do Alô”, um curioso e forte mercado em toda

região Nordeste, sem o qual nenhuma banda de forró eletrônico conseguiria sobreviver hoje.

Seu funcionamento será explicado, destacando-se a relevância para ele das mídias sociais, o

papel de cada um de seus atores e como ele se tornou vital para o negócio de qualquer banda

do gênero, independente de seu tamanho.

No quarto capítulo, a premissa estética volta à cena. Entenderemos como a

aceleração melódica do ritmo, baseada em uma mistura de forró com o vaneirão gaúcho criou

um padrão estético que aos poucos diminuiu a originalidade das bandas. Isto, somado à

distribuição rápida de canções via redes sociais, inicia um processo de pasteurização do ritmo,

no qual a música de uma banda pode, no dia seguinte, já estar no repertório de outra. Aqui

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também veremos a alta relevância que os shows possuem para o ritmo, virando inclusive,

assunto principal das letras de música do forró eletrônico.

No quinto e penúltimo capítulo, abrirei um espaço para reflexão sobre o futuro do

forró eletrônico. Descreverei as saídas encontradas por bandas para vencer a padronização do

ritmo e a forte competição entre os grupos musicais e seus empresários - a ponto de adotarem

polêmicas práticas para a obtenção de novos sucessos - podem atrapalhar a expansão do ritmo

e o sonho de ele ser aceito pela classe média do Sudeste.

Por fim, o último capítulo condensará o histórico da relação do ritmo com a grande

mídia destacando o recente amadurecimento de suas ligações e quais dividendos positivos ela

pode imprimir ao novo momento do ritmo.

Todo o projeto contará com o apoio de consultas bibliográficas a livros, matérias de

jornais e revistas, textos de blogs sobre o assunto, além de consultas a materiais acadêmicos.

Com e a partir delas, mais que documentar um pouco da fundação, do crescimento e da

atualização do forró eletrônico, este projeto procurará fortalecer o atendimento à carência de

documentos sobre um dos mais interessantes capítulos da história cultural nordestina.

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1 A ORIGEM ESTÉTICA DO FORRÓ ELETRÔNICO

1.1 EMANOEL GURGEL E O MASTRUZ COM LEITE

O bem-sucedido empresário do ramo de confecções da cidade de Fortaleza e ex-

árbitro de futebol, Emanoel Gurgel, nunca deixou de aproveitar um de seus maiores hobbies

desde a época de estudante de educação física da primeira faculdade particular da capital

cearense, a UNIFOR: os famosos bailes dos clubes da cidade.1

Esta tradição cearense tinha como grande expoente a banda Os Faraós, que, na

década de 80, lotava os clubes da elite da cidade com uma platéia ansiosa pelo ecletismo de

seu repertório, como aponta o pesquisador Francisco José Gomes Damasceno no artigo “As

cidades da juventude em Fortaleza”2:

Os bailes nos quais diversas sonoridades eram experimentadas em partes específicas para cada estilo musical eram uma prática comum na Fortaleza dos anos 70 e dos

anos 80. Assim, os amantes de cada tipo de música tinham uma parte específica das

festas para se deleitar, e a elas recorriam, nos mais diversos cantos da cidade.

Os set-lists das bandas de baile contavam com repertório que podia ir dos sucessos

de Roberto Carlos, passar pelas guitarradas paraenses de Pinduca e terminar nos populares

sucessos internacionais. Sua variedade musical ficou ainda mais relevante quando estes

grupos decidiram adotar uma novidade, a abolição dos intervalos. Grupos como os de Paulo

Nery e João Bandeira viram na necessidade de tocar por horas ininterruptas a oportunidade de

reservar um espaço para algumas canções de forró, ritmo quase sempre trabalhado apenas em

épocas próximas aos festejos juninos.3

Emanoel, apesar de fã confesso de bandas como Beatles e Credence Clearwater

Revival, nunca deixou de perceber que os principais momentos de agito dos salões eram

quando o ritmo nordestino capitaneado por Luiz Gonzaga era tocado. Era naquela meia-hora

reservada ao forró que a pista de dança fervia.4

1 MARCELO, Carlos; RODRIGUES, Rosualdo. O fole roncou!: uma história do forró. Rio de Janeiro: Zahar,

2012. p.363. 2 DAMASCENO, Francisco José Gomes. “As cidades da juventude em Fortaleza”. Revista Brasileira da

História. Vol.27. n. 53, São Paulo, jan-jul, 2007. 3 MARCELO; RODRIGUES, op. cit., p.364. 4 ROCHA, Pedro. O Forró tá Estourado!. Revista Digital Overmundo, Fortaleza, v.1. Maio, 2011.

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O curto período de execução dessas canções pelas bandas de baile, porém, irritava

Gurgel: “Eles só tocavam forró por volta da uma e meia e no final das apresentações. Então

eu só conseguia dançar oito músicas por noite”5.O incômodo se transformou em percepção.

Ali ele começou a enxergar o grande potencial comercial que poderia ter uma banda que só

tocasse forró ininterruptamente durante uma noite. Mesmo sem nunca ter vivido qualquer

experiência no ramo fonográfico, Gurgel decidiu encontrar parceiros para tirar a ideia do

papel. Frequentador assíduo dos bailes do grupo chamado Black Banda, acabou virando

amigo de seus músicos, com quem logo propôs sociedade e bancou a produção de um disco

no estúdio do cantor de lambadas e futuro governador do estado do Pará, Carlos Santos, o

local de gravações até então mais próximo de Fortaleza.

Mesmo fazendo papel de mecenas do álbum da Black Banda, sua vontade não se

impôs. Com o argumento de que forró era “brega”, os músicos fizeram do primeiro long-play

do grupo uma mistura de diversos ritmos.

Gurgel fracassou pela segunda vez ao montar a Banda Aquarius que, segundo ele,

teve como erro ser a reunião de músicos com“cabeça” de baile. Mas, mesmo assim, não

desistiu da ideia. Com o dinheiro arrecadado com o conjunto, o empresário resolveu dar a sua

última cartada indo em busca da formação da futura banda que faria shows de cinco horas

ininterruptas de forró.

“Vou formar agora uma banda de pessoas humildes, que não têm vergonha de tocar

forró, que tenham intuição de forrozeiro e não de roqueiro ou de banda de baile”.6 Com esse

pensamento na cabeça achou na pequena cidade de Iguatu, a mais de 300 quilômetros de

Fortaleza, um quinteto de músicos que contratou com a promessa de trabalho com carteira

assinada e de “um dia chegar no Faustão”7. Começava aí a criação da banda Mastruz com

Leite8, cuja estruturação foi o marco inicial do forró eletrônico, gênero que pretendia

apresentar uma nova estética para o forró tradicional.

5 MARCELO; RODRIGUES, 2012. p.365. 6 Ibid. p.367. 7 Ibid. p.367. 8 Mastruz com Leite era o antigo nome do time de Handball que Emanoel Gurgel era membro nos seus tempos

de estudante universitário. (Retirado do site da banda < www.forromastruzcomleite.com.br>. Acesso: 8 de

Janeiro de 2012).

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1.2 OS ELEMENTOS DA NOVA ESTÉTICA

O primeiro elemento da nova estética se desenhou quando o empresário resolveu

apostar em vocalistas jovens. A surpresa que isso proporcionaria seria a chave para chamar a

atenção do público para a nova banda, começando, então, a romper com os conceitos de

“brega” e de expressão cultural periférica embutidos no ritmo. Como meninos e meninas

bonitas não queriam cantar forró, ele encontrou o nome Kátia Cilene, de apenas quinze anos,

através de um concurso promovido em um programa na TV Educativa de Fortaleza9. Com ela

à frente da banda, o Forró Mastruz com Leite fez o seu primeiro show no dia 22 de dezembro

de 1990 no Mangueira Clube de Fortaleza. Um ano e quatro meses depois da morte do seu

principal nome, Luiz Gonzaga, o forró via ali, pela primeira, sua nova roupagem.

O rejuvenescimento e a modernização das características dos membros de uma banda

de forró se transformaram em premissas levadas à risca pelo empresário que, no auge do

sucesso de sua banda, chegou a oferecer tratamento odontológico gratuito para os seus

músicos, afastando de vez qualquer lembrança do estereótipo do forrozeiro maltrapilho10

.

O segundo elemento adotado por Gurgel no Mastruz com Leite se originou de

resquícios do know-how adquirido ao acompanhar as apresentações dos conjuntos de baile.

Idealizou, então, unir o apelo dançante dos ritmos nordestinos a todo o aparato comum a

bandas como Os Faraós e Banda Black, inibindo a tradicional imagem de apresentações com

pouca iluminação e som de qualidade baixa comuns às bandas de forró da época.

“Vamos botar uma luz boa, vamos botar um ônibus bom, igual a um artista

bom”.11

Com isto em mente, trouxe de São Paulo todo o equipamento que levou o Mastruz

com Leite além das fronteiras da capital cearense, começando o processo de preocupação com

a infraestrutura que até hoje é um dos principais motores do sucesso do gênero forró

eletrônico, como aponta o pesquisador Felipe Trotta, da Universidade Federal Fluminense:

O sucesso do forró eletrônico tem a ver com uma pegada jovem das bandas. A coisa

de uma estrutura de palco e de performance de shows que vai buscar inspiração nos grandes shows de música pop. Desde os internacionais, Madonna, Michael Jackson,

9 Disponível em: <http://espiritosantornemfoco.wordpress.com/2011/01/18/conheca-a-historia-de-katia-cilene-

cantora-do-forro-do-bom-ex-matruz-com-leite>. Acesso em 8 de Janeiro de 2012. 10 MORAES, Jonar. Forró Milionário. Revista EXAME. São Paulo. Ed. 710. Março de 2000. 11 GURGEL, Emanoel em entrevista a MARCELO, Carlos e RODRIGUES, Rosualdo. O fole roncou!: uma

história do forró. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.p. 368.

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com dança, luzes performances, até os artistas da música brasileira, que já há muitos

anos começaram a cidade.12

O terceiro elemento diz respeito ao repertório. Gurgel havia encontrado os músicos

que não tinham vergonha de tocar forró que tanto procurara, além da cantora jovem para o

front da banda. Agora, era preciso achar canções próprias para, então, lançar o primeiro disco

do Mastruz. Para isso, um primeiro passo foi dado com a ajuda do já popular cantor da época,

Alcymar Monteiro, famoso pela alcunha “o rei do forró”. Ao gravar um programa de rádio em

Fortaleza, ele acabou recebendo a ligação de um funcionário de Gurgel, incumbido de

solicitar canções para o também compositor, Alcymar, que, ao ouvir uma gravação de um

show do Mastruz com Leite, interessou-se pela banda e intermediou o contato entre ela e a

sua gravadora, a Continental.13

O primeiro disco da banda, intitulado “Arrocha o Nó” chegaria ao mercado pelo selo

em 1991. Todo o repertório fora escolhido a dedo por Gurgel, em uma prática que se repetiria

nos lançamentos posteriores, seguindo sempre a sua teoria que uma música “ou dá no pé ou

dá no coração”, como disse em entrevista concedida para Andréa Pinheiro e Flávio Paiva no

livro “A Trilha do Disco”:

Não sei tocar uma nota musical, só sei dizer o que dá certo ou não dá certo. Eu

escolho música de um meio lógico pegando um tema que serve pra todo mundo,

digamos, universal. Porque só existem dois tipos de música, a que dá no pé e a que dá no coração. Por exemplo, música que fala em primeiro beijo, dá pra mim, dá pra

você, dá pra veado [sic], dá pra sapatão, velho, dá pra todo mundo.14

Saíam de cena as comuns letras sobre o sofrimento do nordestino, típicas de grandes

sucessos de ícones como Luiz Gonzaga - como “Asa Branca” e “Vida de Viajante”- e entrava

a abordagem de dois temas principais. Primeiro, o romance, com pautas como decepção

amorosa, primeiro beijo, namoro e outras familiares a qualquer relacionamento que quando

trabalhados em letras de música resultam em canções de fácil compreensão e alto potencial de

sucesso. E segundo, as vaquejadas15

, símbolos de um Nordeste onde o rural e o urbano cada

12 TROTTA, Felipe em entrevista para MARQUES, Fábio. Para pesquisador, forró eletrônico renova a

tradição. Diário do Nordeste. Fortaleza: Novembro de 2012. 13 MARCELO; RODRIGUES, 2012. p.373. 14 GURGEL, Emanoel. Em entrevista para PINHEIRO, Andrea; PÁVIA, Flávio.“Somzoom: música para fazer a

festa” publicado no livro “Na Trilha do Disco: Relatos sobre a indústria fonográfica no Brasil”. Organização:

Irineu Guerrini Jr. e Eduardo Vicente. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. 15 Competições de vaqueiros cujos circuitos percorrem cidades de médio porte de todo o Nordeste, contando

sempre com atrações musicais para animar os espectadores após a prática do esporte em um modelo similar ao

dos Rodeios.

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vez mais se misturavam. O maior sucesso da banda, o hit “Meu Vaqueiro, Meu Peão” é um

exemplo claro de simbiose das duas abordagens:

Já vem montado em seu alazão

Chapéu de couro, laço na mão

Seu belo charme me faz cantar

No rosto um grande lutador

Que trabalha com calor

Com toda dedicação...

Oh! meu Vaqueiro, meu Peão

Conquistou meu coração

Na pista da paixão

E valeu o boi...16

O quarto elemento girava em torno do papel dos instrumentos musicais. É bem

verdade que já na década de 80 os astros do forró tradicional utilizavam instrumentos que iam

além do tradicional trio pé-de-serra formado por sanfona, triângulo e zabumba.

Dominguinhos no disco “Isso Aqui Tá Bom Demais”, lançado em 1985 pela RCA, já tinha

em suas canções a companhia de guitarra elétrica, violão, baixo, bateria e percussão. Todavia,

a sanfona ainda era a grande protagonista. Com a chegada do Mastruz com Leite e a formação

do gênero estilizado, o eixo principal do ritmo muda, aproximando-se da música pop, como

sintetiza o pesquisador Felipe Trotta:

Musicalmente, as diferenças em relação ao forró tradicional, resguardados pelos

trios pé-de-serra, analisa o pesquisador, são bem definidas: há menos sanfona e mais

naipes de metais; o ritmo deixa de ser conduzido pela zabumba e o triângulo, em

prol do baixo e da bateria. A sonoridade, valorizando os graves do baixo, com

teclados, sopros, explica, também são elementos herdados dessa música pop que dão

esse ar mais atual ao som.17

A soma do rejuvenescimento do padrão estético de uma banda, ao investimento em

infraestrutura, à modernização do repertório e à valorização de novos instrumentos,

aproximou o ritmo forró ao cenário pop e consolidou no Mastruz com Leite aquilo que seria a

essência estética do forró eletrônico, que, em outubro de 1994, foi assim resumida pela

Revista Veja:

16 CÁSSIA, Rita de. Meu Vaqueiro, Meu Peão. In: Mastruz com Leite, Só Para Xamegar: SomZoom Records,

1992. 17 TROTTA, Felipe em entrevista para MARQUES, Fábio. Para pesquisador, forró eletrônico renova a

tradição. Diário do Nordeste. Fortaleza: Novembro de 2012.

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O forró ganhou um banho de loja para virar o que hoje se chama „oxente music‟.

Além do tradicional acompanhamento de sanfona, zabumba e triângulo, foram

incorporados sintetizadores eletrônicos, guitarras, baixo e bateria. No new forró não

se fala de seca, miséria ou fome. A alegria e o descompromisso dão o tom.18

Essa essência logo se expandiu por toda a região. Um exemplo veio da cidade de

Salgueiro, interior de Pernambuco, onde o empresário Ailton Souza, empolgado com o

sucesso dos pioneiros cearenses, resolveu transformar a sua banda de baile “Talismã Musical”

no “Forró Limão com Mel”, grupo que até hoje percorre o Brasil divulgando o ritmo.

O próprio Emanoel Gurgel formou novas bandas. Logo lançou o “Forró Mel com

Terra”, a segunda das oito bandas que ele criaria até o ano de 1999.19

Em 1999, só no Ceará, mais de 200 bandas de forró eletrônico haviam gravados CDs

próprios. No Nordeste, o número de grupos chegava a mais de 50020

: “Cegos que antes

tocavam sanfona pedindo esmola hoje são músicos profissionais” gabava-se Gurgel em

entrevista para a Revista Época21

.

O sucesso era ululante, mas ele não vinha apenas da nova interface que o forró

eletrônico adotou. Um complexo sistema mercadológico de distribuição e divulgação das

bandas apoiados por artifícios que passeiam tanto por elementos da tradicional indústria

fonográfica, quanto por elementos do mercado independente deram o suporte para que o

gênero chegasse a esses números. Números estes que incomodavam a crítica mais

intelectualizada e os defensores do forró tradicional, como será apresentado a seguir.

1.3 A REAÇÃO INTELECTUAL

À medida que a nova estética trazida pelo Mastruz com Leite se expandia pela

região, o forró eletrônico flertou com a hegemonia do mercado musical no Nordeste.

Fenômenos de vendas apontavam isso. A banda paraibana Magníficos, por exemplo, surgiu

em 1995 e em apenas dois anos chegou ao disco de platina duplo, graças às mais de 500 mil

18 MASSON, Celso. A Volta da Zabumba. Revista Veja, ed. 1345. São Paulo, outubro de 1994. 19 ADEODATO, Sérgio. A revolução do Forró. Revista Época, Fortaleza. Ed. 47. Abril de 1999 20 Ibid. 21 Ibid. Entrevista Emanoel Gurgel.

Page 17: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

16

cópias vendidas do seu segundo álbum “Me Usa”, lançado pela gravadora multinacional Sony

Music em 199722

.

O sucesso de público era inversamente proporcional à maneira com que a crítica

enxergava o gênero. Em seu artigo “Autonomia estética e mercado de música: reflexões sobre

o forró eletrônico” (2010), Felipe Trotta aponta três motivos principais que ainda pavimentam

a percepção negativa de intelectuais sobre a nova estética que despontava.

O primeiro deles é o confronto natural com o forró tradicional. O “legítimo”

representante da musicalidade nordestina, que tinha seu legado mantido vivo graças ao

trabalho de artistas como o cantor Flávio José, ganhava um rival de alto apelo comercial e que

incomodava ao misturar os itens de sua matriz, como o próprio trio pé-de-serra, a elementos

modernos ligados à cultura pop. O radialista Adelzon Alves, apresentador do programa “Fole

Viola” da Rádio MEC, colaborava com essa posição:

Existe um grupo predador na música nordestina [as bandas de forró eletrônico] que tem muita força para botar no ar uma coisa altamente destrutiva, que corrói o tecido

criado por grandes artistas. Mas existe outro grupo que continua a obra do Jackson

[do pandeiro] e do [Luiz] Gonzaga, numa visão atual. É o grupo de Petrúcio

Amorim, Maciel Melo, Flávio José, Adelmário Coelho, Eudes Fraga... Eles têm uma

obra grande, densa mas que, com essa invasão, ficou à margem. São eles que

formam a resistência.23

O deslocamento no repertório das bandas de forró eletrônico dos valores intrínsecos

à tradição forrozeira configurou o segundo motivo para a insatisfação. Os referenciais idílicos

e comunitários naturais do sertanejo perdiam agora espaço para a apologia ao amor, à

individualidade e à proximidade com o espaço urbano.

Por fim, o argumento de que o ritmo não se desenvolvia a partir de uma prática

musical espontânea, autêntica e criativa, sendo pensado para atender demandas comerciais,

completava a tríade dos argumentos mais comuns contra o forró estilizado.

Esses argumentos ganhavam apoio de membros da classe artística do forró

tradicional. Alcymar Monteiro, após intermediar o contato do Mastruz com Leite com a

gravadora Continental, virou-se contra a “oxente music” quando viu suas canções sendo

trabalhadas “indiscriminadamente”, segundo ele, pelas novas bandas. Resolveu, então,

escrever carta aberta contra o novo forró onde firmava posição: “Sou totalmente contra o

22 Em: <www.magnificos.com.br> Acesso em 8 de Janeiro de 2012. 23 Em: MARCELO; RODRIGUES, 2012.p.383.

Page 18: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

17

forró eletrônico, pois o considero um forró lambadeado, mal tocado, mal cantado, que não

vale um tostão furado”.24

O maior ícone do ritmo tradicional vivo, Dominguinhos, acompanhou Alcymar,

comparando o ritmo estilizado à lambada, que graças a bandas como o “Kaoma” foi hit no

começo da década de 90.25

:

A lambada acabou, e o cearense continuou tocando lambada através do baião, isto é

do baião dos anos 1960, que é aquele „baião quadrado‟, parecendo um samba... Eles

passaram a dizer que estavam tocando forró, e, logicamente, as pessoas de bom

senso vão perceber quem é que toca forró. Aí tem campo para todos.26

A crítica chegou aos anos 2000. Chico César, cantor e compositor paraibano, quando

no cargo de secretário de cultura do seu estado, decidiu não investir em bandas que “não

compactuavam com a valorização da música nordestina de raiz” para a programação dos

festejos juninos de 2011 patrocinados pelo governo da Paraíba. Justificou da seguinte

maneira:

É um investimento num plantio da nossa cultura, porque essa cultura tem sido

desprezada, escamoteada, tratada com indiferença e o estado tem que chamar a

atenção. Essas coisas que já são vistas e ouvidas não precisam do estado. Nós não

queremos proibir, mas se alguém quiser fazer que pague do seu próprio bolso. Nós

queremos lutar por um espaço da arte nordestina, paraibana, nessa festa que é a festa

mais bonita que o povo da Paraíba mais gosta que é a festa de São João27

Os comentários negativos naturalmente despertavam defesas de quem fazia o forró

eletrônico acontecer. Em entrevista à Revista Época em 1999, Emanoel Gurgel retrucou os

críticos ousando comparar sua principal banda ao símbolo máximo do forró: “Os tempos

mudaram e o gosto do público também. Hoje o Mastruz é o Luiz Gonzaga de 20 anos atrás.

Sejamos práticos: se o forró estilizado vende 180 mil discos por mês e o tradicional 30 mil,

qual está certo?”28

.

Em meio ao fogo cruzado, dois dados passaram despercebidos por muitos. Na carona

da ascensão do novo forró, gravadoras voltaram seus holofotes ao Nordeste e acabaram

24Ibid. Depoimento de MONTEIRO, Alcymar. p.380. 25 LIMA, João Gabriel. O batuque mundial. Revista Veja, São Paulo: Ed. 1227. Março 1992. 26DOMINGUINHOS. Entrevista concedida a Expedito Leandro Silva. In: Forró no Asfalto: mercado e identidade sociocultural. São Paulo, Annablume/FAPESP, 2003. 27DANTAS, Paulo e BRAZ, Fernando. Chico César reafirma: não vai patrocinar „forró de plástico‟; motivo é

financeiro e de preservação da cultura. Disponível em: < http://www.paraiba.com.br/2011/04/19/50419-chico-

cesar-reafirma-nao-vai-patrocinar-forro-de-plastico-motivo-seria-financeiro-e-preservacao-cultural>. Acesso em

8 de Janeiro de 2013. 28GURGEL, Emanoel. A revolução do Forró. Revista Época, Fortaleza. Ed. 47. Abril de 1999. Entrevista

concedida a Sérgio Adeodato.

Page 19: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

18

investindo também no forró tradicional. Em 1994, a Polygram enviou seu diretor artístico

para Fortaleza para reconhecer o promissor terreno29

. No mesmo ano, a Polydor lançou “Só

Forró”, disco que resgatou a cantora Amelinha que não gravava álbuns desde 1987. Fagner

voltava para o gênero após período no qual cantou principalmente músicas românticas, com o

lançamento de “Caboclo Sonhador”.

Além disso, o próprio Mastruz com Leite lançou uma série de CDs homenageando os

nomes que fizeram do forró o principal gênero do país. São exemplos disso: “Mastruz com

Leite no Forró de Gonzagão” de 1996, “Mastruz com Leite canta Trio Nordestino” de 1998 e

“Mastruz com Leite canta Dominguinhos” de 1999.

Em suma, enquanto críticos e defensores da vertente tradicional e da estilizada se

digladiavam, curiosamente, os dois lados acabaram se acostumando a se ajudar tanto no

campo mercadológico, quanto no estético.

29 MASSON, Celso. A Volta da Zabumba. Revista Veja, São Paulo. Ed. 1345. Outubro de 1994.

Page 20: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

19

2. A PRIMEIRA FASE MERCADOLÓGICA DO FORRÓ ELETRÔNICO

2.1 O GRUPO SOMZOOM

2.1.1 A SomZoom Records e a SomZoom Sat

Não foi apenas de inovações estéticas que Emanoel Gurgel conseguiu transformar o

Mastruz com Leite na “maior banda de forró do mundo”, slogan que o conjunto carregou

durante toda a década de 90. A interface musical e visual ganhou um forte aliado: uma

estrutura mercadológica autônoma e verticalizada capaz de concentrar toda a estrutura de

produção, divulgação e distribuição do Mastruz com Leite e suas co-irmãs sob a custódia de

Gurgel, o que impulsionou o gênero como um todo.

Gurgel sempre se gabou de seu histórico de empresário visionário. Em “O Fole

Roncou, uma história do forró”, os pesquisadores Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues

narram três passagens que autenticam essa fama. Quando ainda estudante de Educação Física

na UNIFOR, Gurgel percebeu que seus colegas adoravam expor em camisetas o curso que

faziam. Começou então a comercializar camisas pólo com os nomes das graduações. Com o

dinheiro adquirido com as vendas pagou as mensalidades da faculdade e abriu seu primeiro

empreendimento comercial, a confecção Cactus.

Enquanto dava seus primeiros passos no mercado do entretenimento como sócio da

Black Banda, o empresário, incomodado com os baixos rendimentos que as bandas de baile

tinham em comparação com o lucro dos produtores dos shows, resolveu se transformar em

sócio dos eventos em que a banda iria se apresentar, como lembrou para os pesquisadores:

“Eles cobravam mais ou menos mil reais por festa. O cara fazia o evento, apurava dez mil

reais, ganhava nove mil, e eles [Black Banda] iam só com o cachê. Eu não concordava com

essa filosofia, achava que o artista tinha que ser sócio do evento.”30

.

Esta filosofia atravessou a história dos negócios musicais do empresário. Com o

Mastruz com Leite crescendo, deixou de dividir em meio a meio os dividendos da

30 MARCELO; RODRIGUES, 2012. p.366.

Page 21: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

20

apresentação, ficando com 90% do faturamento de um evento assegurados pela garantia de

cobertura completa dos gastos em caso de prejuízo.

Foi neste mesmo período de crescimento inicial do Mastruz com Leite que Emanoel

viu uma oportunidade publicitária se transformar em peça de divulgação de sua banda. A

empresa de café Santa Clara queria usar a banda para produzir um jingle que divulgasse seus

produtos. O empresário topou, com a condição de que no fim da letra os cantores citassem o

nome do grupo. Resultado: o jingle fez tanto sucesso que virou instrumento para uma

mecânica promocional especial em que trocar embalagens do produto dava direito a ingressos

para apresentações do Mastruz31

.

O histórico aguçou o apurado faro por negócios que Emanoel Gurgel cultivava. Este

seu “marketing intuitivo” o levou à criação de seu principal empreendimento, o grupo de

entretenimento SomZoom, que chegou a ter mais de dez unidades de negócio32

e em 1999

chegou a faturar 25 milhões de dólares33

. Dois acontecimentos específicos com a banda

Mastruz com Leite deram origem aos principais braços do negócio, a gravadora SomZoom e a

rede de emissoras de rádio SomZoom Sat.

O primeiro disco da banda, “Arrocha o Nó”, foi sucesso de vendas. Segundo dados

da revista Veja, naquela época, suas 400 mil cópias vendidas o colocavam à frente de discos

como “O Descobrimento do Brasil” da Legião Urbana e “Paratodos” do Chico Buarque, que

venderam respectivamente 240 mil e 268 mil cópias34

. Mas sua gravadora, a Continental, não

se apressava para colocar no mercado um segundo disco da banda. Irritado com a demora da

empresa, Gurgel resolveu pôr em prática uma ideia que havia tido quando fora à Belém gravar

o disco da Black Banda e investiu, assim, cerca de 150 mil dólares para criar um estúdio em

Fortaleza que servisse tanto de base para gravação dos discos de suas bandas, quanto como

suporte para o segmento fonográfico local35

.

Com a estrutura pronta, cancelou o contrato do Mastruz com Leite com a Continental

e logo gravou o primeiro disco da história do estúdio e segundo do conjunto, intitulado “Só

pra Chamegar”. Surgia ali o selo SomZoom Records que, no ano de 1999, chegou a deter 8%

do mercado fonográfico brasileiro.36

31 MARCELO; RODRIGUES, 2012. p.371 32OLIVEIRA LIMA, Maria Érica. Somzoom Sat: do local ao global. Tese de doutorado defendida na

Universidade Metodista de São Paulo. São Paulo: UMESP, 2005. 33 MORAES, Jonar. Forró Milionário. Revista EXAME, São Paulo. Ed. 710. Março de 2000. 34 MASSON, Celso. A Volta da Zabumba. Veja, São Paulo. Ed. 1345. Outubro de 1994. 35 MARCELO; RODRIGUES. op. cit. p.377. 36 PINHEIRO; PÁVIA, 2010.

Page 22: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

21

Para isso, adotou como estratégia o baixo custo. Uma produção SomZoom chegava

ao lojista ao preço de 5,50 reais, enquanto um disco da Sony Music não era comprado por

menos de 12 reais37

. O preço abaixo da média de mercado levou o selo a vender 1.1 milhões

de cópias em um único mês, março de 199838

.

O principal instrumento de divulgação das bandas e dos seus discos produzidos pela

SomZoom Records era a rede de rádio SomZoom Sat. Na primeira vez que o Mastruz com

Leite havia se apresentado fora do estado do Ceará, a bilheteria registrou parcos 49

pagantes39

. O insucesso na venda de ingressos serviu de sinal para a necessidade de criação de

uma estrutura midiática que tocasse forró eletrônico o ano inteiro divulgando as bandas do

gênero. Como havia um preconceito das rádios tradicionais sobre a veiculação de músicas de

forró, conforme apontamento do gerente comercial da SomZoom em 1998, Enivaldo Barbosa,

para matéria da Revista Época40

, Gurgel resolveu montar a sua própria estação e rede,cujo

sinal seria distribuído por outras emissoras em um modelo inspirado nas de cadeias de

emissoras de música pop, como a Transamérica e a Jovem Pan Sat41

.

A matriz da rede, localizada no bairro de Passaré em Fortaleza, não se tratava de uma

emissora de rádio nos moldes tradicionais. Como não possuía concessão legal para arrendar

um espaço no dial local, o empresário alugou o sinal da Rádio Capital de Fortaleza e a

transformou em uma espécie de geradora de conteúdo replicado em emissoras de porte

pequeno em todo Nordeste, cuja grade baseada em programas de forró, brega e sucessos

populares do momento, programas de humor como o “Programa o Mução”, shows ao vivo e

até transmissões de vaquejadas, diminuía os custos de produção destas rádios42

.

As metodologias de filiação de uma emissora à rede eram diversas. No começo, o

próprio Emanoel chegava a pagar 30 mil reais mensais para que estações, principalmente

localizadas no interior, retransmitissem seu sinal43

. Depois, as negociações mudaram suas

características, como apontou o diretor comercial do grupo SomZoom em 2003, Roger

Martins, em entrevista concedida à doutora de comunicação social pela UMESP, Maria Érica

de Oliveira Lima:

37 MORAES, Jonar. Forró Milionário. Revista EXAME, São Paulo. Ed. 710. Março de 2000. 38 RODRIGUES, Apoenam. Oxente Music. Revista Istoé. Abril de 1998. 39 PINHEIRO; PÁVIA. op. cit. 40 ADEODATO, Sérgio. A revolução do Forró. Revista Época, Fortaleza. Ed. 47. Abril de 1999 41 Ibid.. 42 OLIVEIRA LIMA, Maria Érica. Somzoom Sat: do local ao global. Tese de doutorado defendida na

Universidade Metodista de São Paulo. São Paulo: UMESP, 2005. 43 ADEODATO. op. cit.

Page 23: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

22

Existe um processo de negociação, como existe em qualquer outro meio de

comunicação, se pode fazer através de pagamento, através de interesse de alguma

programação, às vezes, normalmente, hoje, nós mantemos nossas afiliadas não com

pagamento, mas com uma programação. Sendo bem feita, atrai outra afiliada à rede.

Coisa que isso, antes, para nós iniciarmos a rede, as pessoas não acreditavam.

Chegamos a pagar para que essas rádios nos transmitissem. Hoje não, elas solicitam

pra se filiarem até de graça, pra se refletir na programação que acha interessante,

além das bandas Mastruz com Leite, Cavalo de Pau, Mel com Terra, Catuaba com

Amendoim. Ou seja, além de nós mostrarmos a nossa programação, também

mostramos as nossas bandas. 44

Até faturamento em shows se transformou em barganha para negociação. Parcerias

com emissoras também foram feitas, sendo a produção de eventos elemento central para o

negócio. A emissora, além de retransmitir a programação, divulgava os shows que produzia

com as bandas do grupo SomZoom como atrações principais. No final, os dividendos do

evento eram divididos entre os dois.45

Em 1999, a rede SomZoom Sat chegou a ter 92 afiliadas, alcançando 900 cidades46

e

um público de quase 40 milhões de ouvintes47

. Logo no seu começo, fez com que as vendas

de discos da Mastruz com Leite subissem de 30 mil para 180 mil por mês48

. Seus números a

elevaram ao status de principal rede de divulgação tanto de bandas novas de forró estilizado,

quanto das já consagradas, pois, além das bandas do grupo de Gurgel, músicas de Calcinha

Preta, Limão com Mel, Saia Rodada também fazem parte de seu conteúdo49

.

O surgimento da SomZoom Sat e da SomZoom Records foi importante para

evolução tecnológica e cultural do Ceará. Ela permitiu que o estado se transformasse em

autônomo, principalmente em relação ao eixo Rio-São Paulo, no que se refere à indústria

cultural, já que agora estava dotado de instrumentos próprios para produção e distribuição de

produtos originais do estado, transformando-se em um típico caso de contra fluxo, onde o

conteúdo local alcança penetração regional e até nacional.

A Rede SomZoom faz parte das novas tecnologias aplicadas à mídia, além

claramente, do processo de globalização que vai determinar o “contra fluxo”de um

grupo de mídia regional, enquanto negócio econômico e também cultural. (...) A

emissora, além da proposta de uma identidade tipicamente nordestina – ressaltando em sua programação a cultura segmentada e industrial do Nordeste, através do forró,

- também aponta para o cenário nacional, mas carregando uma programação

tipicamente regional. No Brasil, não há condições de grupos regionais virem a

44 MARTINS, Roger In: OLIVEIRA LIMA, Maria Érica. Somzoom Sat: do local ao global. Tese de doutorado defendida na Universidade Metodista de São Paulo. São Paulo: UMESP, 2005. 45 PINHEIRO, Andrea e PÁVIA, Flávio: “Somzoom: música para fazer a festa”. 46 ADEODATO, Sérgio. A revolução do Forró. Revista Época, Fortaleza. Ed. 47. Abril de 1999 47 Ibid.. 48 Ibid.. 49 PEDROZA, Ciro José. Mastruz com Leite for all: folk-comunicação ou nova indústria no Nordeste brasileiro?

Trabalho apresentado no XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Campo Grande/MS, 2001.

Page 24: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

23

apresentar uma dimensão nacional, enquanto formato, conteúdo, aceitação,

distribuição. Grupos regionais possuem alcance nacional, enquanto presença física

em algumas partes do território, mas buscam comunidades específicas que os

identifiquem. (...) Neste ponto, o rádio é o meio através do qual o empresário

Emanoel Gurgel promove seus negócios: venda de discos, promoção de shows,

produção.50

O alcance da rede de emissoras em cidades de 14 estados da federação, incluindo a

capital São Paulo, onde 19% dos residentes entre 30 e 60 anos são naturais das regiões Norte

e Nordeste51

, também serviu para fortalecer vínculos entre migrantes nordestinos e sua região

original. Segundo John Thompson (1988), a mídia é um meio capaz de sustentar a

continuidade cultural de um povo deslocado espacialmente52

.

A partir deste ponto de vista, podemos considerar que as músicas de forró tocadas

pelas afiliadas da SomZoom Sat na década de 90 também funcionaram como uma conexão

entre aqueles que saíram de sua região original com as suas tradições deixadas por lá.

2.1.2 As outras frentes de negócio:

A competente estrutura comercial arquitetada por Emanoel Gurgel sedimentou o

sucesso de suas bandas, mesmo sem o apoio dos veículos de mídia tradicionais, mas não

terminou apenas na formação da rede de emissoras e da gravadora. Outras unidades de

negócio do grupo surgiam à medida que Gurgel enxergava oportunidades regionais para

ganhar dinheiro e tratava a verticalização de toda a estrutura por trás de suas bandas como

objetivo principal para manutenção de seu sucesso: “O segredo pra mim é não ter

intermediário, eu banco tudo, da gravação, ao show.”53

.

A editora Passaré, que hoje tem cerca de 11.500 músicas editadas, surgiu para que

suas bandas ficassem independentes da exploração de valores e até do preconceito estético

que elas tinham na hora de liberar uma canção para uma gravação.54

50 LIMA, Maria Érica de Oliveira. O Sertão vira mar no “contra fluxo” regional. Revista Acadêmica do Grupo

Comunicacional de São Bernardo. Ano 2 – nº 4 (julho/dezembro de 2005). 51 Comunicado IPEA. O Perfil do Migrante em São Paulo. São Paulo, Outubro de 2011. 52 THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Tradução Wagner de Oliveira

Brandão. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998. 53 PINHEIRO; PÁVIA, 2012. 54 Ibid.

Page 25: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

24

Para aproveitar o grande crescimento que o turismo no estado do Ceará teve a partir

do meio da década de 90, Gurgel também resolveu se tornar proprietário da casa de shows

Mansão do Forró. A casa entrou para os guias de turismo da região e todo final de semana

uma de suas bandas se apresentava por lá.

Sua visão ia além dos negócios tradicionais. Se o calor nordestino danificava os

aparelhos de som que acompanhavam suas bandas, lá ia Emanoel Gurgel criar a marca de

amplificadores Mastruz com Leite para dar suporte às prolongadas apresentações delas. Sua

resistência e os custos 70% mais baratos que os importados atraíram artistas de outros ritmos

como Milton Nascimento que começaram a usá-los em seus shows.55

Se as vaquejadas se tornavam cada vez mais populares em todo Nordeste, Gurgel

resolveu então criar o seu próprio circuito de competições que também abriam espaço para

apresentações de seu elenco de conjuntos musicais. O Circuito Nacional de Vaquejadas teve

faturamento previsto em seis milhões de reais e patrocinadores como Kaiser, Ford e

Parmalat56

.

Para fazer todas as frentes de atuação acontecerem, o grupo SomZoom chegou a

empregar 528 funcionários, sua maioria escolhida a dedo pelo próprio empresário57

.

Essa participação efetiva que Gurgel exercia em quase todas as partes da operação de

seu grupo virou modelo copiado por outros empresários do Nordeste. O romantismo da

formação de uma banda por amigos que escolhiam repertório a partir de suas influências e

encontravam em um produtor a sua ponte para uma gravadora não tinha espaço no forró

estilizado. Figuras como Gilton Andrade, empresário sergipano criador e mentor da banda

Calcinha Preta, e Ailton Souza, o fundador pernambucano do Limão com Mel, consolidavam

a tendência criada pelo fundador do grupo SomZoom em que as bandas são propriedades

completas de seus donos, agregando sob sua responsabilidade o gerenciamento de todas as

etapas estéticas e comerciais de seus conjuntos e tratando músicos como funcionários com

carteira assinada, salário, plano de saúde e bônus por apresentações58

.

O protagonismo destes empreendedores e a gama de negócios que envolvem a

produção de seus conjuntos as elevaram ao status de marcas empresariais nas quais a

55 ADEODATO, Sérgio. A revolução do Forró. Revista Época. Fortaleza. Ed. 47. Abril de 1999 56 MORAES, Jonar. Forró Milionário. Revista EXAME, São Paulo. Ed. 710. Março de 2000. 57MARCELO; RODRIGUES (2012). p.377. 58 TROTTA, Felipe e MONTEIRO, Márcio. O novo mainstream da música regional: axé, brega, reggae e forró

eletrônico no Nordeste. Revista da Associação Nacional dos programa de Pós-Graduação em Comunicação. E-

compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago.2008.

Page 26: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

25

autonomia criativa de seus cantores e músicos não é mais o relevante na construção da

legitimidade artística dos grupos. O pesquisador Felipe Tratto detalha melhor este ponto:

No universo cultural do forró eletrônico, o prestígio estético aferido pelo público

encontra-se lado a lado com a sua consagração comercial, numa negação absoluta

dos ideais de legitimidade estética do campo artístico possibilitada pela posição

dominante do empresário.59

Isto explica, por exemplo, como a transferência de cantores entre bandas, algo

comum no mercado do forró, não diminuía naquela época a relação de afeto do público com

os grupos, já que não significava necessariamente a descontinuidade estética do conjunto, cuja

manutenção de suas características ficava sob responsabilidade de empresários e seus grupos

de entretenimento. O cearense Zildemberg de Souza Rabelo60

, conhecido pelo nome artístico

de Berg Rabelo, é um exemplo deste fenômeno. Ele começou sua carreira cantando na banda

Caviar com Rapadura, passou por Calcinha Preta e pelo Forró Gatinha Manhosa até se

aposentar na banda Anjo Azul da qual era sócio. Nenhuma delas, contudo, sofreu mudanças

significativas em suas características musicais com as suas passagens.

2.2 ENTRE MAJORS E INDIES

O contexto mercadológico em que o forró eletrônico se consolidou- com o apoio de

grandes corporações regionais administradas por empresários protagonistas em todo o

processo de manutenção de suas bandas- abre espaço para a sua localização em uma inusitada

área do setor fonográfico nacional.

Durante todo o século XX o mercado de música esteve conceitualmente dividido

entre dois extremos. De um lado, o protagonismo dos conglomerados multinacionais

musicais, responsáveis pela circulação da maioria da oferta de produções sonoras do mercado

fonográfico mundial. Seus principais atores, as gravadoras (majors), balizavam seus

resultados a partir dos números de vendas alcançados pelos discos, fatores preponderantes

para a classificação de consagração e popularidade de um artista. Para isso, dotavam suas

produções de um poderoso processo de planejamento comercial que, ao mesmo tempo em que

59 Ibid. 60 Em: < http://www.forrodicumforca.com/noticia,cantor-berg-rabelo-anuncia-saida-dos-palcos-6337> . Acesso

em 9 de Janeiro de 2013.

Page 27: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

26

procurava atender às demandas do público, inibia a autonomia artística de cantores e grupos

musicais61

.

Do outro lado, surgiu a indústria independente (indie), formada no começo da década

de 1970 por artistas que se organizaram em selos de tamanho inferior e que buscavam

comercializar suas produções sonoras em espaços reduzidos não contemplados pelas majors.

Sua principal preocupação era a de relativa autonomia no processo produtivo e criativo, de

contratação e divulgação dos seus artistas, que ali se viam livres para trabalhar conceitos

estéticos não considerados pelo mercado tradicional da indústria fonográfica62

.

Aos poucos, o romântico heroísmo que configurava esta produção independente,

realizada até então por alguns agitadores culturais, tornou-se uma espécie de prática produtiva

institucionalizada através de redes e empresas alijadas pelo circuito musical hegemônico63

. O

barateamento dos meios tecnológicos para produção e divulgação facilitou esse processo, que

configurou uma zona intermediária que o autor Leonardo de Marchi64

intitulou produção

autônoma.

É nessa zona de intersecção entre as produções de majors e de indies que o forró

eletrônico se estabeleceu. Emanoel Gurgel nunca escondeu que sempre tratou suas bandas

como negócios em busca de fins lucrativos. Em entrevista a Revista Digital Overmundo,

afirmou: “Eu sempre tratei música como mercadoria de prateleira. Música é uma mercadoria.

Eu vou provar para você. Toca o Mastruz com Leite na rádio, eu vou vender show, direito

autoral, vou vender fonograma, vou fazer mais shows. A música em si é um comercial”65

.A

afirmação corrobora com a ideia de que a autonomia estética é irrelevante para os produtores

do forró eletrônico, que enxergam em suas produções o atendimento de demandas comerciais

de seu público e se utilizam de ferramentas comuns à indústria fonográfica tradicional, como

as cadeias de rádio, para divulgar seus “produtos”. Essa pouca preocupação com a função

estética que os agentes do ritmo possuem, os distancia do cenário independente, mesmo que

seus negócios não possuam interferência direta de capital de grandes conglomerados de

entretenimento do mundo, como afirma Trotta (2008):

61 SHUNKER, Roy. Vocabulário de música pop. São Paulo: Hedra, 1999. 62 Ibid. 63 TROTTA; MONTEIRO. (2008). 64 DE MARCHI, Leonardo. “Indústria fonográfica independente brasileira: debatendo um conceito.” In: Anais

do XXVII Congresso Brasileiro de Ciência da Comunicação, 2005: Rio de Janeiro. 65 ROCHA; (2011).

Page 28: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

27

A caracterização do ambiente do forró eletrônico como música independente parece

inadequada. Apesar de sua estrutura comercial prescindir do apoio do capital dos

grandes conglomerados transnacionais de entretenimento, seu intencional afastamento

dos critérios de autonomia artística e independência estilística colocam essa produção

numa zona ambígua de classificação estética. Por outro lado, sua gigantesca projeção

em eventos, feiras, festas e shows de grande porte em todas as cidades das regiões

Norte e Nordeste (além de sua robusta divulgação radiofônica) colocam o forró

eletrônico como uma música regional compartilhada em larga escala, seguindo

modelos e quantitativos análogos aos do mainstream das multinacionais do disco.66

Podemos encarar essa substancial redução da autonomia artística promovida pelos

grupos de entretenimento por trás das bandas de forró como um jeito alternativo e autônomo

“para se fazer o mesmo”67

que as majors, ou seja, alcançar projeção popular e público de

consumo consideravelmente numeroso, seja de shows ou gravações.

2.3 O DECLÍNIO DO MODELO SOMZOOM

Esta posição intermediária entre majors e indies se mantém até hoje no cenário do

forró eletrônico. O que não se mantém igual é a relevância do grupo SomZoom e de suas

bandas nos negócios do forró eletrônico. Emanoel Gurgel sempre conseguiu assegurar a

relevância de seus conjuntos, mesmo com a multiplicação de bandas do mesmo gênero, até

porque detinha sob sua posse a principal emissora que propagava o ritmo pelo Nordeste.

Todavia, sucumbiu ao enfrentar a concorrência da pirataria.

No começo, ele driblava a chegada da cópia de seus produtos ao mercado paralelo

utilizando-se de períodos curtos para um novo lançamento. Quando um álbum chegava ao

comércio pirata, logo um novo disco oficial era lançado por uma de suas bandas, inibindo a

relevância do produto falsificado. É essa a explicação para o alto número de discos que o

Mastruz com Leite, por exemplo, lançou até o ano 2000. Foram 29 volumes, ou uma média de

quase um álbum a cada quatro meses68

.

Mas a velocidade com que as gravações piratas chegavam ao mercado aumentou em

virtude do avanço tecnológico. Para se ter uma ideia, em 1997, de cada 19 fitas cassetes

vendidas no país, apenas uma era legal69

. Quando o fenômeno se expandiu para o comércio de

66 TROTTA; MONTEIRO. (2008). 67Ibid. 68 Disponível em: < mastruzcomleite.com.br>. Acesso: 10 de Janeiro de 2013. 69 FRANZINI, Renato. Brasil na rota do tráfico de CDs. Folha de São Paulo, São Paulo, 04 fevereiro 1998,

Page 29: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

28

CDs, Gurgel perdeu o controle e a SomZoom encolheu. Os 528 funcionários viraram 200, e as

vendas de discos que atingiram a média de 300 mil por mês despencaram para apenas mil70

.

Se o Mastruz e o grupo SomZoom saíram de cena por não conseguirem encontrar

uma saída para contornar os prejuízos trazidos pelo avanço dos falsificados, o mesmo não se

pode dizer de Isaías Duarte, o ex-funcionário da própria empresa de Gurgel que encontrou na

distribuição gratuita de discos, apoiada pelas redes sociais, a saída para manutenção do forró

eletrônico como um lucrativo segmento fonográfico, alçando sua banda, o Aviões do Forró ao

patamar de maior conjunto do gênero e modelo para as outras a partir dali.

70 MARCELO, Carlos e RODRIGUES, Rosualdo. O fole roncou!: uma história do forró – Rio de Janeiro:

Zahar, 2012.p.402

Page 30: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

29

3. A SEGUNDA FASE MERCADOLÓGICA DO FORRÓ ELETRÔNICO

3.1 A ERA DA DISTRIBUIÇÃO DE CDS

O começo do século XXI para a indústria fonográfica foi marcado por um profundo

momento de modificações. A chegada do Napster71

, programa que permitiu a transferência de

arquivos musicais no formato mp3 por usuários conectados na internet, somou-se ao avanço

da pirataria, diminuindo progressivamente o valor comercial das músicas gravadas nos

fonogramas tradicionais. Segundo o pesquisador Chris Anderson, o novo contexto criou uma

aguda transformação nos negócios fonográficos impulsionado pela crescente popularização de

modelos alternativos de circulação de músicas pela sociedade. Neles, mercados regionais ou

dedicados a “nichos” ganharam valor diversificando a oferta do segmento que antes não dava

abertura para produções oriundas de espaços considerados periféricos72

. Em meio a esse

contexto, alguns players destas zonas, aproveitando modelos de negócios inovadores, alta

estrutura tecnológica e a nova descentralização do mercado musical, acabaram se

transformando em protagonistas dentro do sistema73

. É o caso do Aviões do Forró, banda

criada em 2003 que chegou a este grau de destaque se apoiando em uma ideia mercadológica

de um dos seus criadores, Antônio Isaias Paiva Duarte, popularmente conhecido como Isaias

CDs. Ideia essa que a fez sucessora do Mastruz com Leite no status de maior banda do forró

eletrônico.

Nascido e criado na pequena Santa Quitéria, distante 222 km da capital Fortaleza, o

ex-vendedor de pastel e vaqueiro Isaias sempre gostou de festas e vaquejadas. Quando jovem

conheceu a sobrinha de Rita de Cássia, a compositora dos principais sucessos da banda

Mastruz com Leite. Sem emprego fixo até então, foi apresentando por ela a Emanoel Gurgel,

que o contratou para trabalhar primeiro para cuidar de sua granja, e, logo em seguida, para

virar zelador dos escritórios da SomZoom. Acabou passando a servir cafezinho para o

empresário, o que o fez criar uma relação de intimidade com Gurgel, relação essa que em

71 Napster sofre nova derrota na justiça. Folha de São Paulo, São Paulo: Março de 2001. 72 ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. São Paulo: Campus,

2006. 73 TROTTA, Felipe. O forró eletrônico no Nordeste: um estudo de caso. Revista InTexto. Porto Alegre: UFRGS,

2009.

Page 31: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

30

menos de um ano e meio se transformou em negócios, como ele destaca em entrevista ao

jornal O Povo: “Sempre que ele tava ouvindo um CD, me pedia opinião e sempre que eu dava

uma opinião, a coisa acontecia. Fiz muitos eventos com ele, comecei a vender discos e logo

fui pegando gosto pela coisa”74

.

Com o tino apurado para reconhecer o que seria sucesso ou não e os anos de

amadurecimento de expertise através da relação direta que nutria com Emanoel Gurgel, Isaías

resolveu investir tudo o que tinha para formar o seu próprio negócio fonográfico. Após

fracassar na sua primeira tentativa, ao montar o Gaviões do Forró75

, fechou sociedade com o

empresário Carlos Aristides, filho de Zequinha Aristides, popular produtor de festas de forró

eletrônico na década de 90, montando em 2003 a banda Aviões do Forró, justamente no

momento em que o mercado fonográfico vivia repleto de incertezas. Diante da derrocada do

valor comercial da venda de CDs, motivo que levou os negócios da SomZoom quase à

falência, fazia-se preciso criar uma estrutura de negócios que garantisse o lucro para a nova

banda que acabava de ser criada.

Enquanto bandas internacionais como Metallica76

em parceria com suas corporações

fonográficas iam à justiça tentar reverter legalmente os prejuízos causados pelo novo

panorama mercadológico, atrasando-se para criar novas soluções para um modelo que se

tornaria insustentável em pouco tempo, em pleno Nordeste do Brasil, Isaías Duarte tinha a

ideia que modificaria em definitivo a história do forró eletrônico, como ele mesmo contou ao

jornal o Povo:

Quando vi a pirataria crescendo, vi que não se vendia mais discos. Pensei “vou é

dar”. É uma moeda de troca que vai volta. Dou o CD e volta na bilheteria. Todos os

donos de loja me procuraram perguntando se eu tava maluco. Diziam que ia acabar

com as lojas. Mas quem ia acabar, e acabou, era a pirataria.77

A estratégia de Isaias era simples: transformar a distribuição gratuita de discos na

principal ferramenta de divulgação do Aviões do Forró. O formato tático dela funcionava da

seguinte maneira: antes de uma turnê, os empresários da banda mapeavam os locais em que a

banda iria tocar. Dias antes dos shows, um representante do grupo ia até as cidades e

distribuía os “CDs promocionais” – nome como ficou popularmente conhecido os discos que

serviam para documentar o repertório que a banda estava tocando em determinado período,

74 DUARTE, Isaias em entrevista concedida ao Jornal O Povo em 23 de maio de 2011. 75 O Dono do Forró. Jornal O Povo, Fortaleza: Maio de 2011. 76 Metallica x Napster aconteceu há 8 anos. Revista Rolling Stone Brasil. São Paulo, Spring Publicações: Abril

de 2008. 77 DUARTE, Isaias em entrevista concedida ao Jornal O Povo em 23 de maio de 2011.

Page 32: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

31

cujo titulo vem comumente associado a “volume”- gratuitamente entre a população ou a

camelôs, que podiam revender as gravações a preços módicos. As músicas caíam no gosto da

população e eram tocadas rádios locais, que também recebiam gratuitamente os discos, e

acabavam lotando as apresentações do grupo. O investimento para isso era relativamente

baixo. Mil discos eram prensados por 500 reais em média. Em 2010 a banda chegava a

prensar 50 mil discos por mês.78

Curiosamente, a estratégia de distribuir fonogramas gratuitamente não era

necessariamente uma novidade no forró eletrônico. Emanoel Gurgel, no começo da década de

90, comprou uma máquina que prensava fitas cassetes antes mesmo de montar a SomZoom

Records. Com ela, gravava canções de suas bandas e distribuía para caminhoneiros. Nas

boléias dos caminhões, as músicas do Mastruz com Leite ganhavam estrada e ficavam mais

conhecidas em outras regiões79

. Todavia, essa prática logo passou e a gratuidade na

distribuição em nenhum momento se configurou em peça central no modelo de negócios de

Gurgel. Ao contrário do que acontece no caso do Aviões do Forró. Aqui, ela é protagonista, e

mais que isso exemplifica claramente aquilo que Chris Anderson em seu livro Free: grátis -

O Futuro dos Preços convencionou a chamar de estratégia de subsídio. Nela, a gratuidade

vira uma espécie de isca do consumidor para um segundo momento de lucro financeiro. Ou

seja, ao distribuir os discos em uma cidade a banda fica conhecida e cria interesse da

população, que depois paga ingressos para assistir futuras apresentações do grupo, gerando

receitas aos seus empresários.

Graças à ideia de CDs promocionais, o Aviões do Forró cresceu se transformando

em ator principal de um milionário negócio, impulsionado também por práticas populares no

segmento na década de 90. Isaías e Carlos Aristides criaram a sua empresa de entretenimento,

a A3 Entretenimentos, que, hoje, empresaria outras três bandas, o Forró do Muído, o Forró

dos Plays e o Solteirões do Forró. Montaram duas rádios em Fortaleza, a A3 FM e a Rádio

100, além de serem donos das casas de show Galpão G4 e Kangalha, onde lucram divulgando

o ritmo para os visitantes da capital cearense80

. Negócios que, juntos, faturam 200 milhões de

reais por ano81

. O modelo virou tendência em todo o segmento. Bandas como Garota Safada

o repetem e também se aproveitam do potencial das redes sociais para distribuir suas

gravações.

78 Upgrade do Bate Coxa. Revista Billboard Brasil. Ed. 9. São Paulo: Junho, 2010. 79 MARCELO; RODRIGUES. (2012). p.370. 80 Disponível em:< www.a3entretenimentos.com.br>. Acesso em 8 de Janeiro de 2013. 81 CABRAL, Otávio. Forró Milionário. Revista Veja, São Paulo. Ed. 2281. Agosto de 2012.

Page 33: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

32

3.2 A INDÚSTRIA DO ALÔ

Como os CDs promocionais têm o papel de apenas documentar o repertório de

determinado período, não sendo ferramenta para fins lucrativos diretos e sim peças de

divulgação, os grupos de empresários por trás das bandas nunca tiveram como preocupação a

qualidade fonográfica destas gravações82

. Esse pouco valor dado à qualidade dos discos fez

com que as gravações de eventos ao vivo, mais baratas que aquelas feitas após o aluguel de

estúdios independentes, se tornassem a fonte da maioria dos CDs promocionais das bandas de

forró eletrônico do Nordeste. Essas gravações de shows ao vivo introduziram na

mercadologia do segmento um novo personagem: o gravador de shows, que transforma os

intervalos entre as músicas das bandas em espaços comerciais do seu negócio e do de

anunciantes.

Já na década de 90, a utilização dos intervalos das músicas para divulgação de nomes

das bandas era algo comum. O programa Forrozão 93, da antiga rádio FM 93 de Fortaleza,

transmitia shows ininterruptos de forró nas madrugadas cearenses sem ajuda de locução. Para

as bandas se identificarem, elas lançavam entre as músicas vinhetas com os seus nomes83

.

Frases como “É o Forró Mastruz Com Leite” ficavam conhecidas em todo o Nordeste. Com a

chegada dos CDs promocionais, as vinhetas viraram espaços publicitários graças a figuras

como, “Henrique CDs”, “Stenio CDs”, “Tiago Gravações, “China CDs”, e “Junior Moral”

cujas empresas gravam shows das bandas e os distribuem na internet ou repassam a camelôs.

Ao entrar em contato com uma banda, o gravador pode pagar ou até negociar de

graça o direito de ter acesso à mesa do som do show para gravar a apresentação. Com o

acesso liberado, leva à apresentação uma série de promotores que ficam responsáveis em ir

para frente do palco segurando placas com nomes de anunciantes previamente negociados

com o gravador. Ao ler estas placas entre as músicas, os cantores das bandas divulgam o

nome da marca em questão, o popular “alô”, além de repetir exaustivamente o nome do

gravador ou de sua empresa. No outro dia, a gravação do show com o repertório atual da

banda, os anúncios e as vinhetas do gravador já estão nos seus sites, em comunidades e

páginas das redes sociais, além de estarem sendo prensadas para distribuição de camelôs. Para

82 TROTTA, Felipe. Autonomia estética e mercado de música: reflexões sobre o forró eletrônico contemporâneo.

In: Rumos da cultura da música: negócios, estéticas, linguagens e audibilidades. Simone Pereira de Sá (org.).

Porto Alegre: Sulina, 2010. 83 MARCELO; RODRIGUES. (2012). p.369.

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33

se ter uma ideia de como o processo é rápido, o show do Aviões do Forró na cidade de

Parelhas, Rio Grande do Norte, acontecido no dia 13 de janeiro de 2013, já estava no site da

Elite CDs, no dia 14 de janeiro.84

Assim, graças à inusitada “Indústria do Alô”, a banda reduz seus custos, pois não

precisa investir alto para gravar suas músicas. O anunciante local – uma loja de autopeças, um

motel, uma madeireira - paga mensalidades no valor de mil reais85

para os gravadores e tem

seu nome falado por artistas consagradas regionalmente em discos que circulam o Nordeste

todo. Já o gravador, recolhe o investimento com as propagandas, além de ficar popularmente

conhecidos pelos fãs do ritmo.

A popularidade é motivo, inclusive, de disputa ferrenha entre os gravadores. Seus

slogans costumam sempre reiterar status que autentiquem sua fama. “Junior Moral”, por

exemplo, intitula-se “O Rei da Internet”. “Stenio CDs” é o “Estourado em todo Brasil”,

enquanto “Henrique CDs” é o “Gerador de Sucessos”. A rivalidade entre eles chega até a

discussão de quem foi responsável por iniciar a Indústria do Alô. Em matéria do programa

Profissão Repórter, em maio de 2010, entrevistou-se Henrique, Stenio e Junior. Por lá, todos

eles se autoproclamaram os pioneiros a gravar e distribuir shows de forró, além, é claro, de

vender seus equipamentos como os melhores do Nordeste. De certo mesmo, só o fato deles

terem se tornado figuras vitais para os negócios das bandas de forró eletrônico.

84 Disponível em: <http://elitecds.com.br/cd-avioes-do-forro-em-parelhas-rn-13012013/>. Acesso em 12 de

Janeiro de 2013. 85 BREGA. Profissão Repórter. São Paulo, Rede Globo, 10 de maio de 2010. Programa de TV.

Page 35: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

34

4. O PADRÃO ESTÉTICO PÓS-AVIÕES DO FORRÓ

4.1 O PROTAGONISMO DO SHOW

4.1.1 A Performance

O modelo de negócio introduzido por Isaías Duarte transformou os shows no ponto

central de faturamento de suas bandas, principalmente no caso de Aviões do Forró. Seguindo

o “guru” Emanoel Gurgel, Isaías adotou a prática de entrar como sócio das apresentações,

recebendo não só o cachê – que hoje é o mais caro do forró eletrônico, na casa dos 180 mil

reais por apresentação86

- mas também percentuais da bilheteria87

. Com os CDs promocionais

e o apoio das rádios próprias ou de terceiros que divulgam as suas canções, criou uma

estrutura de atração de público para o foco dos seus negócios, as apresentações musicais ao

vivo.

Este protagonismo dos shows encaixa o modelo adotado por Isaías para o Aviões do

Forró naquele conceito que B. Joseph Pine e James H. Gilmore, em sua obra “The Experience

Economy”, chamou de “economia de experiência”. Uma metodologia comercial em que o

consumidor não paga para comprar um produto ou serviço, mas para participar de uma série

de eventos memoráveis que o afetam de uma maneira particular, lidando com suas heranças

individuais e sensações. Essa experiência se torna, então, em algo único, que constrói uma

memória afetiva no “comprador” e gera altos lucros para quem lhe oferece.

Para que essas experiências sejam únicas e especiais, o Aviões do Forró condensa em

suas apresentações um coletivo de artifícios que seduzem o seu público. Segundo o

pesquisador Felipe Trotta em “O Forró Eletrônico no Nordeste: estudo de caso”, a banda faz

uso da performance para se diferenciar.

Todos os shows, além de estruturas de iluminação e palco comuns aos grandes

artistas da indústria fonográfica tradicional, contam com um direcionamento para a dança. O

corpo de baile do Aviões, formado por oito bailarinas, dinamiza a apresentação sem

atrapalhar o protagonismo dos cantores Alexandre e Solange. A comunicação direta com o

86 Disponível em: < http://forrozaonanet.blogspot.com.br/2012/05/avioes-tem-o-cache-mais-caro-do-forro.html>.

Acesso em 12 de Janeiro de 2013. 87 DUARTE, Isaias em entrevista concedida ao Jornal O Povo em 23 de maio de 2011.

Page 36: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

35

público é garantida pela exploração da sensualidade destas personagens, que ainda produzem

semelhança visual com duas imagens habituais por parte do público: a de corpos de baile de

estrelas pop, como também de programas de auditório televisivos, como o Domingão do

Faustão. Ou seja, a exploração da dança faz com que “o Aviões dialogue com regras formais

do universo do forró eletrônico, e ao mesmo tempo, com padrões vigentes na indústria do

entretenimento, negociando significados e valores” (TROTTA, 2009).

A atmosfera festiva e animada das apresentações é documentada através da

“indústria do alô”, que circula os shows pela internet permitindo que o frequentador daquela

apresentação religue sua memória afetiva através de um documento vivo do que presenciou.

Isto transforma um instrumento de divulgação – o CD promocional do show - em peça de

fidelização para futuras apresentações, afinal a gravação traz boas recordações ao

frequentador do show e, ao mesmo tempo, comunica o repertório da banda e serve de

estímulo para que o fã se sinta atraído a voltar para um novo evento, e assim vivenciar novas

experiências rentabilizadas pelos empresários das bandas.

A ênfase na performance é adequável a oportunidades mercadológicas. Antes

considerado períodos de baixa no faturamento, o verão, o Carnaval e o forte mercado de

micaretas88

nas cidades do Nordeste se abriram ao Aviões do Forró e a outras bandas do

gênero, como o Cavaleiros do Forró, Saia Rodada e até Calcinha Preta, graças à aceleração de

seu ritmo. Em cima dos tradicionais trios elétricos, as batidas das músicas do forró eletrônico

ganham andamento similar a uma mistura do axé music com o arrasta-pé, emulando o caráter

animado dos ritmos carnavalescos. O subgênero intitulado “elétrico” - o Aviões do Forró,

inclusive se auto intitula Aviões Elétrico nesses eventos - garante calendário cheio de

apresentações o ano inteiro, além da exploração de formatos comerciais comuns a esses

períodos, com a criação de blocos cujo “ingresso” são as vendas de abadás, as típicas

vestimentas que permitem o ir e vir de foliões dentro dessas agremiações. O Bloco Aviões

Elétrico se apresenta em micaretas como o Pré-Caju, em Aracaju, e o Fortal, em Fortaleza,

além de, desde 2009, sair no tradicional circuito Barra-Ondina do Carnaval de Salvador, com

abadás no valor de 180 reais89

.

88 Nome como popularmente são conhecidos os “carnavais fora de época” destas cidades. 89 Disponível em: < http://www.foliabahia.com.br/abada/Avioes-Eletricos.aspx> . Acesso em 12 de Janeiro de

2013.

Page 37: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

36

4.1.2 Metalinguagem

O protagonismo dos shows é evidenciado também no foco temático das canções do

Aviões do Forró. Se, na primeira década do forró eletrônico, o amor se misturava com a

figura do vaqueiro e das vaquejadas, no repertório do Aviões, ele vive simbiose com o sexo e

principalmente com a própria festa, como cita Trotta (2009):

É através do trinômio festa-amor-sexo que a banda busca atingir o maior número de

pessoas, seduzindo o seu público para os momentos de lazer coletivo. Apesar de a

grande maioria de suas letras narrarem de alguma forma ações protagonizadas pelo

casal, a sonoridade dançante e a estrutura geral das músicas está o tempo todo

vinculada ao momento coletivo da experiência social e musical dos shows.90

Assim, essas três vertentes constantemente intercambiam valores nas letras que

fazem sucesso da banda, tendo o suporte de elementos que inserem as canções ainda mais no

contexto de ambientes festivos, como o consumo de bebida alcoólica. Um exemplo claro

dessa união é a canção “Risca-faca” – popular apelido nordestino para bares com festejos

regados a bebida - que condensa em sua letra a atmosfera da festa e o flerte amoroso típico

dessas experiências:

De bar em bar

De mesa em mesa

Bebendo cachaça,

Tomando cerveja.

Foi assim...

Que eu te conheci.

Olha que

Foi no risca faca

Que eu te conheci

Dançando...

Enchendo a cara

Fazendo farra

Tô nem aí...

As próprias canções que não destacam momentos específicos de uma festa, mas

situações amorosas como o fim de um namoro, a traição ou outras características de uma

relação, não têm grandes diferenças sonoras de outras canções de uma apresentação,

remetendo ao mesmo padrão das músicas em que o show e a “farra” são enfatizados.

90 TROTTA. (2009).

Page 38: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

37

Outro elemento de suporte ao trinômio festa-amor-sexo são as populares letras de

duplo sentido e bem-humoradas, que não são novidade na história da música brasileira. Já no

Carnaval de 1920 o sucesso “Racha Lenha” era um típico exemplar deste tipo de prática, que,

com os anos, ganhou adeptos em diversos gêneros, como Genival Lacerda, no forró

tradicional, Luiz Caldas, no axé music e Raimundos, no rock‟n‟roll. No caso do Aviões, o

duplo sentido é temperado pela sensualidade das dançarinas da banda e por construções

linguísticas favoráveis à memorização, que se consolidam como importantes iscas para

conquistar a simpatia de seu público, como na canção “Dá Beijinho que Passa”, hit em 2011:

Mamãe tá dodói?

Papai dá, dá beijo que passa

Dá, dá, dá beijo que passa

Papai tá dodói?

Mamãe dá, dá beijo que passa

Mamãe dá, dá beijinho que passa

Tá dodói a barriguinha

Dá beijinho, dá beijinho

Tá dodói o umbiguinho

Dá beijinho, dá beijinho

Mas se descer mais um pouquinho

Aí o bicho pega né painho?

Por fim, é importante salientar a manutenção de pautas que inserem as músicas do

Aviões no cenário nordestino urbano, longe espacial e temporalmente do estereótipo clássico

trabalhado pelos seguidores de Luiz Gonzaga, algo já comum na obra do Mastruz com Leite.

Seca, fome e itens materiais relacionados àquela época, como pau-de-arara, dão lugar a

imagens dos pujantes centros urbanos de cidades como Caruaru e Feira de Santana. A música

do Aviões aterrissa em citações do cotidiano moderno dos cidadãos dessas cidades como na

canção “Novo Namorado”, lançada em 2008:

Pintei o meu cabelo, me valorizei

Entrei na academia

Malhei, malhei

Dei a volta por cima

E hoje eu mostrei

Meu novo namorado

Page 39: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

38

4.2 O NOVO PADRÃO SONORO

A ênfase na performance das suas apresentações e a tríade show-amor-sexo que

envolve todo o contexto temático de suas canções consolidaram um padrão sonoro

característico que virou marca registrada do Aviões do Forró e tendência em todo segmento.

Este padrão nasce da forte influência da mistura do forró eletrônico com o ritmo do

vaneirão, típico gênero popular do Rio Grande do Sul. Ela foi proporcionada pela banda

Brasas do Forró, que, em 1998, lançou um disco pela gravadora Warner Music em parceria

com um dos estandartes deste ritmo, o cantor Gaúcho da Fronteira. Em “Forroneirão Ao Vivo

– Brasas do Forró e Gaúcho da Fronteira”91

, a sanfona, que dividia com teclado e guitarra a

relevância harmônica em bandas como Mastruz com Leite e Limão com Mel, perdeu destaque

para a bateria como principal condutora do ritmo.

Carlos Aristides, o mentor “musical” do Aviões, gostou da sonoridade e acrescentou

outros dois elementos: a linha de baixo, que no começo dos anos 2000 era responsável pela

levada harmônica de bandas de pagode baiano como Harmonia do Samba, e os metais (sax,

trompete e trombone)92

, que estão quase sempre presentes em blocos e são popularmente

chamados de “metaleiras”93

.

A condução harmônica liderada por bateria e baixo promove à banda poucas

variações melódicas entre as canções, que servem de base para os metais desenharem a

maioria das introduções e desenhos rítmicos das faixas do Aviões do Forró. Nas gravações, os

timbres graves de baixo e bateria são colocados em destaque, seguindo a cartilha de diversas

produções do cenário pop mundial, veiculadas em larga escala pela indústria de

entretenimento tradicional94

. Essa condução ainda alça figuras como o popular Riquelme,

baterista da banda, ao estrelato regional95

. Como o regimento sonoro da banda surge do som

de suas baquetas, é comum seu nome ser citado no início ou durante as canções.

Segundo Trotta (2009), esse padrão sonoro cria uma zona de conforto para o ouvinte

em razão de certa previsibilidade do repertório da banda.

91 Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Ga%C3%BAcho_da_Fronteira>. Acesso em 13 de Janeiro de 2013. 92 O Dono do Forró. Jornal O Povo, Fortaleza: Maio de 2011. 93 Por exemplo, a “metaleira” da banda Saia Rodada se apresenta no seguinte vídeo – com a percussão e a

bateria: < http://www.youtube.com/watch?v=c-b7Y2_qgjY>. Acesso em Janeiro de 2013. 94 TROTTA (2009). 95 Riquelme possuiu dezenas de comunidades de fãs no Orkut, como a “Riquelme não toca, humilha” <

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=29513695> que possui mais de 17 mil membros.

Page 40: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

39

Todo esse conjunto de elementos estabelece um padrão auditivo fortemente

caracterizado pela previsibilidade. De acordo com o musicólogo Richard Middleton, “podemos dizer que uma canção é previsível não no sentido de, sem conhecê-la,

sabermos exatamente o que vem a seguir, mas no sentido que, ao ouvir a frase

seguinte, nossa reação é „sim, eu imaginava que algo semelhante estaria porvir”

(1990, p. 48). Nesse sentido, a previsibilidade sonora de Aviões resulta em uma

escuta caracterizada pelo reconhecimento contínuo de elementos. Indo além da

teoria apocalíptica da estandardização de modelos, é possível pensar no

desenvolvimento de uma escuta confortável e confortante, na qual os padrões

técnicos e musicais repetidos e conhecidos estimulam o ouvinte a relacionar essa

experiência com sua bagagem musical e afetiva anterior, devidamente catalogada e

associada a símbolos e sentidos continuamente construídos. Acionam, assim, uma

memória musical na qual a identificação de modelos no repertório desencadeia complexos processos de compartilhamento afetivo.96

Tal compartilhamento afetivo é enriquecido pela sinergia que os vocalistas da banda

construíram com o público. O potiguar Alexandre, o popular Xand Avião, e a baiana Solange

Almeida, conseguiram se transformar em peças chave para o sucesso do Aviões, excluindo

aquela característica comum dos conjuntos de forró eletrônico da década de 90, nos quais o

vocalista era apenas elemento coadjuvante para construção da identidade da banda. Aqui, eles

são protagonistas graças a um conjunto de fatores que vão desde a coloquialidade com que

dialogam nos intervalos das canções das gravações ao vivo, criando uma relação de conversa

que os aproximam do público, até as suas características vocais facilmente reconhecíveis -

Solange, dotada de boa técnica vocal com forte exploração de vibratos e Xand, que trata com

espontaneidade a maioria de suas canções97

. A relevância dos dois para os negócios da banda

é tanta que o blog “Cabaré do Timpin: música original brasileira”, famoso por divulgar os

gêneros populares não contemplados pela indústria fonográfica tradicional brasileira, alçou a

informação de que Solange quase trocou de banda em 2010, mas Isaías Duarte ofereceu dez

milhões de reais para a manter no Aviões do Forró98

. Hoje, tanto Solange quanto Xand são

sócios da banda, detendo cada um 10% dos negócios99

.

96 TROTTA (2009). 97 Ibid. 98 Disponível em < http://musicaoriginalbrasileira.blogspot.com.br/2012/03/solange-almeida-vai-sair-dos-avioes-

do_02.html>. Acesso em 12 de dezembro de 2012. 99 O Dono do Forró. Jornal O Povo, Fortaleza: Maio de 2011.

Page 41: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

40

4.3 O PADRÃO COMMODITY

O modelo de sucesso do Aviões do Forró não demorou para virar tendência no

segmento do forró eletrônico, através de bandas como Saia Rodada, Forró Sacode, Forró dos

Plays e Solteirões do Forró. Todas elas adotaram o formato sonoro e mesmo performático da

banda da A3 Entretenimentos em suas apresentações. São vários os sinais que autenticam

isso. De 2006 para cá, por exemplo, uma série de canções que evocavam o consumo de

bebidas alcoólicas em shows se tornou hit em todo o Nordeste, como “Simbora Beber” e

“Beber, cair e levantar”, cantadas por diversas dessas bandas. Até as citações de nomes de

bateristas por parte dos cantores viraram mania, fazendo com que os músicos como “Pé de

Ferro” ex-Saia Rodada e hoje na Calcinha Preta100

e “Rod Bala”101

, ex-Garota Safada e hoje

no Forró do Muído, virassem estrelas dentro desse mercado, seguindo os passos de Riquelme

do Aviões do Forró.

A padronização dessas bandas se transformou em uma armadilha para o mercado.

Com arranjos similares e cantores com afinação parecida, o ritmo aos poucos vem se tornado

um commodity, como afirma o atual cantor da banda Mastruz com Leite, Neto Leite, em

entrevista à revista O Globo: “Todo mundo tem a mesma voz, a mesma levada. Coloque pra

ouvir, sem ver as imagens, as bandas a, b, c, d... Não dá para identificar quem está tocando.

Falta identidade”. Informação reiterada pela própria Solange Almeida, cantora do Aviões, na

mesma edição: “Confesso que muitas vezes se torna mesmice. Mas não é somente no

universo do forró. Acontece no pagode, no axé, no sertanejo...” 102

.

A falta de originalidade da maioria das bandas confunde a sua audiência. Como as

gravações originais da “Indústria do Alô” se tornaram o principal ator no processo de

divulgação das bandas, é comum uma canção ser replicada por mais de um conjunto,

complicando a identificação por parte do público do responsável original da primeira

gravação. Fica difícil, então, saber qual banda lançou e é verdadeiramente proprietária autoral

daquela canção. Por exemplo, buscar no Youtube, plataforma virtual comumente utilizada

pelos empresários para divulgação de músicas, a canção “Elas Ficam Loucas” significa

100 Pé de Serra, o batera do povão, em vídeo: <http://www.youtube.com/watch?v=je1rGal2HmY>. Acesso em

Janeiro de 2013. 101 Rod Bala no Forró do Miúdo: < http://www.youtube.com/watch?v=TDMSZ4Z7Yl8>. Acesso em Janeiro de

2013. 102 GIANETTE, Cecília. Wikileaks do Forró. Revista O Globo. Rio de Janeiro. Ed.348: Março de 2011.

Page 42: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

41

encontrar mais de seis gravações de bandas diferentes, que tiveram seus uploads feitos em um

período entre 2 de novembro de 2010 e 18 de janeiro de 2011.

Se isso é ruim para as bandas, pior para os compositores das canções. Como a

maioria das gravações não tem regulamentação adequada, o segmento, que na década de 90

tinha grandes editoras responsáveis por catalogar as músicas do gênero como a Passaré do

Grupo Somzoom, é, hoje, terreno fértil para veiculação de canções sem o consentimento de

seus autores. Em maio de 2011, por exemplo, o compositor Tony Guerra (que também é

vocalista da banda Forró Sacode) denunciou à Delegacia de Defraudações e Falsificações de

Fortaleza a banda Garota Safada por colocar em seu repertório de shows a sua música

“Perigueti” sem a devida autorização103

. O mesmo aconteceu com a banda Saia Rodada, cuja

canção “Parede de Vidro”, comprada dos compositores Neto Barros e Jota Reis, foi tocada

pela banda Solteirões do Forró no programa Forrobodó do canal TV Diário de Fortaleza sem

a sua liberação. A banda acusadora pediu em carta aberta a retratação dos danos materiais à

editora KCG Edições, de sua propriedade, por parte da A3 Entretenimentos, dona do

Solteirões104

.

Curiosamente, alguns compositores se aproveitam dessa confusa situação para

saírem no lucro. Foi o caso do cantor de música brega pernambucano Reginho. Ao descobrir

que a canção “Minha Mulher Não Deixa Não”, de autoria de músicos de seu conjunto de

apoio, Banda Surpresa, não era registrada, ele a colocou em seu nome. Gravou um clipe com

a música que, pelo visual trash de sua produção, acabou virando coqueluche na internet. A

banda Garota Safada se interessou pela canção e negociou o direito de tocá-la com

exclusividade pelo valor de 25 mil reais. Dias depois, a banda a revendeu pelo valor de 50 mil

reais para a A3 Entretenimentos, ainda participando do clipe gravado com o Aviões do Forró.

O resultado disso foi que as duas bandas registraram a música com a diferença de um dia em

seus discos promocionais, como informou Timóteo Timpin Pinto, dono do blog “Cabaré do

Timpin: música original brasileira” à revista O Globo em maio de 2011105

.

Os problemas com os direitos autorias aumentam à medida que a distribuição de

canções pela internet, baseada na “Indústria do Alô”, demanda maior velocidade no

lançamento de novas músicas. Karlúcio Lima, empresário da banda Canários do Forró,

corroborou com o ponto de vista em entrevista para a revista Overmundo, em maio de 2011:

103Em: < http://dialogospoliticos.wordpress.com/2011/05/23/wesley-safadao-x-tony-guerra-briga-entre-cantores-

de-forro-vira-caso-de-policia/>. Acesso em 17 de dezembro de 2012. 104 Em: < http://www.fm93.com.br/2011/05/09/polemica-entre-saia-rodada-e-solteiroes-do-forro/>. Acesso em

17 de dezembro de 2012. 105 GIANETTE, Cecília. Wikileaks do Forró. Revista O Globo. Rio de Janeiro, ed.348, março de 2011.

Page 43: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

42

“O forró hoje passou a ser consumido mais ligeiro. Uma música é sucesso hoje, daqui a um

mês não é mais. Uma música que poderia ter seis meses de vida útil, hoje só tem um. Tem

muito material no meio da rua, ela toca muito e cansa”106

. O problema é que a necessidade de

se lançar novos discos promocionais de maneira cada vez mais rápida e com repertório

totalmente inédito – hoje, por exemplo, um disco promocional com inéditas do Aviões sobe

no Youtube mensalmente - abre espaço para práticas ilegais de obtenção de repertório. Foi o

que apontou o próprio Timóteo Timpin Pinto em seu blog sobre o caso intitulado “Wikileaks

do Forró”107

- cujo nome traça um paralelo ao famoso site/organização Wikileaks (que lançou

na internet uma série de documentos secretos de políticos e empresas sobre assuntos

sensíveis) - com a denúncia da utilização de “olheiros” por parte da A3 Entretenimentos para

“roubar” canções para o seu grupo.

Segundo Timpin, o esquema funciona da seguinte maneira108

: a A3 Entretenimentos

possui uma rede de “olheiros” em cidades estratégicas do Nordeste. Quando um deles percebe

que uma canção está começando a fazer sucesso no entorno delas, ele compra um CD

promocional do grupo que a canta e o envia em formato MP3 para os escritórios da empresa

em Fortaleza. Por lá, a canção é escutada e, se aprovada, enviada para o ônibus da banda, que

a ensaia e já a toca nos shows a seguir. Uma coleção de gravações desses shows é enviada

para o olheiro, que compra todos os discos da banda original dos camelôs locais e entrega

gratuitamente os CDs com a versão do Aviões. Como a maioria desses sucessos é de bandas

de pequeno porte, elas não conseguem autenticar posteriormente o fato de serem as

responsáveis originais do sucesso, por vezes por medo do poder que a A3 Entretenimentos

tem em toda região.

A denúncia repercutiu em veículos de todo o Brasil, como em matérias na revista O

Globo e no jornal O Povo e despertou calorosas respostas do staff do Aviões do Forró.

Solange Almeida escreveu carta aberta no seu blog defendendo a banda das acusações:

Eu, Solange Almeida prefiro ficar calada a me igualar com pessoas desse tipo. Não

chegamos aqui à toa, isso é fato!! E quando se está por cima realmente se é alvo de

comentários absurdos e mentiras infundadas. Só queria fazer uma pergunta a quem

ler esse comentário: - Já pensou se o artista (independente de ritmo) fosse executar

apenas seus sucessos e não cantasse sucessos de outros artistas? Acho que seria

quase impossível.109

106 ROCHA, Pedro. O Forró tá Estourado!. Revista Digital Overmundo.. v.1. Fortaleza: maio de 2011. 107Em: <http://musicaoriginalbrasileira.blogspot.com.br/2010/12/wikileaks-do-forro.html>. Acesso em 15 de

dezembro de 2012. 108 Em: <http://musicaoriginalbrasileira.blogspot.com.br/2010/12/minha-mulher-nao-deixa-nao-mas-

mesmo.html>. Acesso em 15 de dezembro de 2012. 109 Em: <http://blog.solangealmeida.com.br/2010/12/belem-pa.html>. Acesso em 15 de dezembro de 2012.

Page 44: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

43

Verdade ou mentira, a prática dos olheiros abre espaço para a discussão sobre o

futuro do ritmo. Conglomerados de entretenimento como a A3 Entretenimentos e sua

principal rival, a Luan Produções, dona da Garota Safada, disputam acirradamente um

mercado cada vez mais reduzido de players que, ao mesmo tempo em que se padrão em torno

de uma linha estético, inibe a ascensão de bandas iniciantes, que não possuem o aporte

financeiro necessário para ofuscar os gigantes do gênero. Gigantes estes que na distribuição

de discos ao vivo, responsáveis pela massificação de seu trabalho, impõem por vezes a autoria

de uma canção que originalmente pode não ser sua. Um confuso cenário que autentica a

complexidade de um modelo comercial fonográfico alternativo, capaz de “amplificar pela

sociedade sonoridades, valores, ideias e visões de mundo peculiares” (TROTTA, 2009), mas

que expõe desafios para a própria renovação do estilo.

Page 45: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

44

5 O FUTURO DO GÊNERO

5.1 DIFERENCIAR PARA RENOVAR

Desde 2008, duas bandas de forró eletrônico surgiram ofuscando a hegemonia do

Aviões do Forró. Ambas possuem peculiaridades, indo além do padrão agora estabelecido por

bandas como Solteirões do Forró e Saia Rodada. A primeira delas, cria da própria A3

Entretenimentos, foi formada pelas jovens irmãs Simária e Simone. Nascidas no interior da

Bahia, na pequena Uibaí, elas começaram a carreira em concursos de calouros de sua cidade e

se consolidaram no segmento musical como backing vocals do cantor Frank Aguiar. Por

intermédio de um amigo produtor, acabaram conhecendo Isaías Duarte e Carlos Aristides que,

ao invés de as colocarem como segundas vozes do Aviões, resolveram iniciar um projeto

especial com elas110

. Surgia, então, o Forró do Muído, banda que trouxe de volta a relevância

do trio pé-de-serra no protagonismo do som, acompanhado pela força melódica romântica do

saxofone. O ritmo foi o pano de fundo ideal para as canções de autoria de Simária, que

evocavam principalmente os dramas vividos pelas jovens mulheres em relacionamentos

amorosos. O reconhecimento desses sentimentos nas letras por parte do público transformou o

Forró do Muído em sucesso – um dos vídeos do hit “Mentes tão bem” no Youtube, música

que foi regravada posteriormente pelas estrelas do sertanejo Zezé Di Camargo e Luciano111

,

possui mais de 3,5 milhões e meios de visualizações112

- formando uma legião de fãs que

eram carinhosamente apelidadas pelas cantoras de “coleguinhas”. Este nome era comumente

citado nas gravações de shows pelas cantoras, que, além de virar marca registrada, fortaleceu

a relação de intimidade com o seu público.

Foi justamente o nome “coleguinhas” que desencadeou uma disputa entre os

empresários da A3 Entretenimentos e as irmãs do Forró do Muído que resultou na saída delas

da banda. Tentando capitalizar em cima do sucesso da expressão, Isaías Duarte lançou uma

nova banda chamada “Forró das Coleguinhas”, com duas outras cantoras. Os fãs de Simária e

Simone, revoltados com a utilização da expressão não registrada em cartório pelas irmãs,

110 Em: <http://simariamendes.blogspot.com.br/2010/02/grande-carreira-de-simone-e-simaria.html>. Acesso em

12 de Janeiro de 2013. 111 GUILHERME, Luiz. Mentes Tão Bem. Intérpretes: Zezé di Camargo e Luciano. In: Double Faces. São

Paulo: Sony Music, 2010. Faixa 6. 112Vídeo da música “Mentes tão bem” disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=l4kN32sqzKc>.

Page 46: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

45

colocaram hashtags de apoio a elas no Trending Topic mundial, ranking das principais

citações da rede social Twitter113

. A confusão acabou fazendo com que elas deixassem a A3 e

montassem sua própria banda, que hoje leva o nome das cantoras – Simária e Simone, As

Coleguinhas – e é apoiada comercialmente pela Luan Promoções, principal rival de mercado

do grupo de Isaías Duarte e Carlos Aristides, mas mantém a mesma linha melódica e o

mesmo estilo de letras da época do Forró do Muído.

É também da Luan Promoções a outra banda que conseguiu de alguma maneira fugir

do padrão estabelecido pelo Aviões do Forró, o Garota Safada. A banda pode até seguir o

mesmo modelo sonoro baseado na cadência da bateria e do baixo, nos desenhos das

“metaleiras” e nas canções com o foco nas experiências atreladas a shows, mas tem no seu

vocalista um ponto fora da curva no gênero. O jovem fortalezense Wesley Oliveira, de apenas

24 anos, conhecido artisticamente como “Wesley Safadão”, se adapta ao padrão estético de

“galãs” de outros ritmos musicais. Este padrão, além de chamar a atenção do público

feminino, transfere a sensualidade inerente apenas às dançarinas e às letras de outras bandas,

para o protagonista do show. Wesley se torna um ídolo pop nordestino e adiciona ao

repertório da banda canções que vão além do forró eletrônico, como o pagode baiano e o

sertanejo universitário. Esse status obtido rende altos lucros. Hoje, o Garota Safada recebe o

segundo maior cachê do gênero. Uma apresentação da banda não sai por menos de 80 mil

reais114

.

Simária, Simone e Wesley tangem características que podem significar a chave para

renovação do forró eletrônico. Cada um deles, de sua forma, traz inovações não comuns ao

ritmo, que diferenciam o seu trabalho, angariando novas formas para atender demandas

específicas de públicos não contemplados por outros conjuntos. É o exemplo das letras

sentimentais das irmãs “coleguinhas”, que condensam situações compartilhadas por outras

mulheres. O jornalista Pedro Rocha, em matéria na Revista Digital Overmundo resume: “As

diferentes roupagens das bandas são uma das estratégias para atrair os mais diversos

públicos”. São elas que formalizam uma marca registrada capaz de facilitar o reconhecimento

do público em meio à seara de CDs promocionais de outros conjuntos que circulam pela

internet, consolidando o espaço de seus grupos em meio a este competitivo cenário

mercadológico.

113Em: <http://musicaoriginalbrasileira.blogspot.com.br/2012/01/simone-e-simaria-sairam-do-forro-do.html>.

Acesso em 12 de Janeiro de 2013. 114 Em: <http://www.forrodicumforca.com/noticia,avioes-tem-o-show-mais-caro-do-forro-6151>. Acesso em 12

de Janeiro de 2013.

Page 47: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

46

5.2 A ÚLTIMA BARREIRA

Ao contrário de outros ritmos populares de origem periférica com modelos de

negócios também apoiados à internet e ao comércio informal, como o tecnobrega, o forró

eletrônico ultrapassou regionalmente a barreira das classes sociais, transformando-se em

produto consumido pelas classes altas nordestinas.

Se o gênero paraense que mistura as batidas da música eletrônica a movimentos

musicais locais como o brega, a guitarrada e o calypso tem na periferia o principal espaço de

consumo e divulgação115

- apesar de aos poucos alcançar novas esferas de popularidade

graças aos esforços comerciais por trás da cantora Gaby Amarantos e do grupo Gang do

Eletro – o forró eletrônico ainda na década de 90 já era moda nas casas de show e discotecas

frequentadas pela classe media alta de cidades como Fortaleza e Recife116

. Isto graças a suas

letras que retratam o cotidiano urbano dessa região, além de relações sentimentais universais a

qualquer público, facilmente reconhecidas por membros de todas as classes117

.

A tendência seguiu pelo novo século. O Aviões do Forró possui, por exemplo, um

formato de show mais intimista em praias das principais cidade do Nordeste, chamado

“Aviões Beach” 118

. Entrar na área vip de um evento como este significa desembolsar no

mínimo 80 reais, o preço comumente pago em eventos para classes com alto poder aquisitivo

na região.

O fácil acesso às classes altas nordestinas não se estende pelas outras regiões do

Brasil. Nos principais centros urbanos do sudeste, bandas como Aviões do Forró e Garota

Safada fazem parte apenas do roteiro comercial das casas de shows freqüentadas por

migrantes do Nordeste, como a Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro, o Centro de

Tradições Nordestinas e o Expresso Brasil, em São Paulo. Suas canções têm espaço na cadeia

de rádios locais em emissoras de programação exclusiva do ritmo, como a paulistana Rádio

Imprensa119

, financiada principalmente pela divulgação de eventos nestes “guetos”

nordestinos.

115 CASTRO, Oona; LEMOS, Ronaldo. Tecnobrega: O Pará reinventando o negócio da música. Rio de Janeiro:

Aeroplano, 2008. 116 MASSON, Celso. A Volta da Zabumba. Revista Veja, ed. 1345. São Paulo, Outubro de 1994. 117 TROTTA (2009). 118 < http://www.forrodicumforca.com/noticia,avioes-beach-aterrissa-em-aracaju-em-dezembro-6446>. Acesso

em 13 de Janeiro de 2013. 119 < http://goelabaixo.com/radio-imprensa-a-globo-do-forro/>. Acesso em 13 de Janeiro de 2013.

Page 48: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

47

Ser aceito pelo público original do sudeste se transformou na maior barreira para

consolidação do forró eletrônico nacionalmente. O desafio até fez as principais bandas

mudarem em algum momento de sua história sua estratégica comercial. Foi o caso do Aviões

do Forró que lançou o disco intitulado “Aviões do Forró Volume 7” em 2010, seguindo os

padrões vigentes da indústria fonográfica “oficial” do Brasil. O álbum saiu comercialmente

pela gravadora Som Livre e foi vendido apenas em lojas do ramo120

. O site da banda, que

disponibilizava discos gratuitos para serem baixados, teve esses links retirados. A estratégia

deu acesso ao Aviões a diversas apresentações em programas da Rede Globo, emissora

proprietária da gravadora. Solange e Xand Avião viraram figuras comuns em programas

como “Domingão do Faustão”121

, “Estrelas”122

e “Encontros com Fátima Bernardes”123

, todos

da principal televisão do país. Isto, porém, não significou a saída definitiva da banda ao

modelo de gravações de discos promocionais, que se mantém até hoje abastecendo,

sobretudo, o mercado nordestino. Apenas foi uma saída para acelerar a consolidação da

imagem da banda no universo de consumo musical do público do sudeste, que teve seu ápice

na inclusão da canção “Você correndo atrás de mim” na trilha sonora da novela “Avenida

Brasil”, seguindo os passos da Calcinha Preta, que já em 2009 havia emplacado a canção

“Você não vale nada” na trilha da novela “Caminho das Índias”.

Mesmo fazendo parte do repertório musical do principal programa do horário nobre,

a “novela das oito”, a participação dessas músicas nos folhetins pode ter se tornado uma

armadilha para desvinculação do forró eletrônico ao principal motivo pelo qual enfrenta

problemas para se fortalecer no centro-sul, o preconceito. Tanto a personagem Suellen, de

Avenida Brasil, interpretada por Ísis Valverde, quanto Norminha, de Caminho das Índias,

interpretada por Dira Paes, personagens a quem as músicas foram dedicadas na trama, eram

suburbanas e caricatas, com origem humilde. É esta imagem atrelada ao ritmo que Xand

Avião considera o grande problema a ser contornado pelas bandas para se consagrarem em

cidades como São Paulo, segundo afirmou em matéria da Revista Billboard:

A questão é que em São Paulo, apesar de tudo, existe preconceito contra o

nordestino. As pessoas podem até ouvir e gostar de forró, mas não assumem isso

120Upgrade do Bate Coxa. Revista Billboard Brasil. Ed. 9. São Paulo: Junho, 2010. 121Sobre em: <http://tvg.globo.com/programas/domingao-do-faustao/Apresentacoes-

musicais/noticia/2012/09/sucessos-de-avenida-brasil-levantam-galera-do-domingao-do-faustao.html>. Acesso

em 15 de Janeiro de 2013. 122 Sobre em: < http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/04/gravida-angelica-grava-estrelas-com-avioes-do-

forro.html>. Acesso em 15 de Janeiro de 2013. 123 Sobre em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/encontro-com-fatima-bernardes/v/avioes-do-forro-cantam-

barangadam/2348690/>. Acesso em 15 de Janeiro de 2013.

Page 49: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

48

porque na cabeça deles esse tipo de música está ligado às pessoas mais humildes, ao

trabalhador, à doméstica, ao porteiro do prédio. Então elas preferem ignorar o tipo

de música que a gente faz. Por isso ele fica restrito à periferia. Mas eu tenho o maior

prazer de tocar aqui para essas pessoas. São nordestinos que vieram de longe, que

sentem saudades de casa e que matam essa saudade indo a nossos shows. A classe

média, a classe alta, eles não vêm, têm preconceito.124

Vencer o preconceito é a missão que o Aviões do Forró e as outras bandas do gênero,

como a própria Garota Safada, que lançou, em 2012, DVD também pela Som Livre,

participando, assim, do circuito de programas da Globo125

, possuem para se tornarem, enfim,

relevantes no comércio musical do sudeste. Para isso, além de adequar seu modelo de

negócios em situações específicas ao modelo vigente na indústria fonográfica tradicional,

moderniza-se com o apoio em credibilidade de artistas de gêneros mais consumidos pelas

classes altas da região a ser desbravada. É o caso da parceria da banda da A3 Entretenimentos

com Ivete Sangalo, que originou a canção “Sintonia e Desejo”, lançado no CD e DVD da

cantora baiana “Pode Entrar”, o mesmo que conta com parcerias com artistas bem aceitos pela

elite intelectual brasileira, como Lulu Santos, Carlinhos Brown e Marcelo Camelo. Ou

também na canção “Colo Colo” com os cantores João Bosco e Vinícius, uma das principais

duplas do fenômeno sertanejo universitário, ritmo amplamente consumido por jovens de

classe média do sudeste126

. A última empreitada do Aviões neste modelo foi o lançamento de

um pout-pourri com a bateria da escola de samba Grande Rio127

, conhecida por ser

frequentada por muitos famosos.

É através da ampliação da sua credibilidade no centro-sul e do surgimento de grupos

diferenciados da padronização que o ritmo idealizado por Emanoel Gurgel e reformatado por

Isaías Duarte e Carlos Aristides chega a sua terceira década, preparando o campo para, quem

sabe, alcançar os rumos que o inventor do gênero um dia idealizou: “O sucessos do ritmo foi

até menos do que eu esperava. Eu imaginava que ia invadir o mundo com o Mastruz. O forró

não invadiu ainda o mundo, porque ele ainda é menosprezado.”128

.

124 XAND, Avião em entrevista para matéria “Upgrade do Bate Coxa”. Revista Billboard Brasil. Ed. 9. São

Paulo: Junho, 2010. 125Como no programa matutino “Mais Você” da apresentadora Ana Maria Braga. Sobre em:

<http://tvg.globo.com/programas/mais-voce/v2011/MaisVoce/0,,MUL1665672-10345,00.html>. Acesso em 14 de Janeiro de 2013. 126 Sobre em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/sertanejo-conquista-jovens-da-classe-media-do-

rio/n1237617007911.html>. Acesso em 15 de Janeiro de 2013. 127 Sobre em: < http://www.jangadeiroonline.com.br/diversao/famosos/avioes-do-forro-grava-clipe-com-a-

bateria-da-grande-rio/>. Acesso em 15 de janeiro de 2013. 128 GURGEL, Emanoel. O Forró tá Estourado!. Revista Digital Overmundo, Fortaleza. V.1. Maio, 2011..

Entrevista concedida a Pedro Rocha.

Page 50: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

49

6. A GRANDE MÍDIA E O FORRÓ ELETRÔNICO: UMA NOVA RELAÇÃO

O sonho de Emanoel de levar o forró eletrônico além do Brasil soa distante, mas um

primeiro passo para sua realização ocorre com o amadurecimento de sua relação com a grande

mídia nacional. Ela, apesar de conviver com a concorrência de novos modelos de divulgação

cultural que ganharam espaço graças à internet, ainda goza de posição relevante na

consolidação de sucessos da indústria cultura nacional. Como vimos no segundo capítulo

deste trabalho, com a criação da SomZoom Sat e da SomZoom Records, o ritmo se conduziu,

logo em sua primeira década, por meio de uma cadeia de negócios autossuficiente, que se

apoiava em um complexo modelo próprio de produção e divulgação para se rentabilizar. A

necessidade de suporte de grandes veículos foi então naturalmente preterida.

A atualização do modelo de negócio feita por Isaías Duarte e seus parceiros da A3

Entretenimento retirou um dos pilares de faturamento de cena, os discos, tornando os shows

os protagonistas da cadeia produtiva de uma banda do gênero. Ganhar dinheiro com forró

eletrônico passou a significar, prioritariamente, lotar suas apresentações. Com o mercado

nordestino de consumo do gênero em estado de maturidade, olhar para o sudeste foi a saída

encontrada para atingir um público ainda não consumidor, que no futuro pode se tornar

audiência dos shows de bandas como Aviões do Forró. Como visto no capítulo anterior,

alcançar esse público significa vencer a barreira do preconceito inerente ao ritmo, seja pelos

elementos considerados “bregas” em sua estética, ou pelo fato de seu público majoritário

ainda ser de migrantes nordestinos de classes baixas.

Rever a relação e se fazer presente com mais frequência dentro da programação dos

players da grande mídia, um dos principais elementos de estímulo ao consumo cultural deste

público do sudeste, tornou-se prioridade e aos poucos direcionou novas aplicações às bandas

de forró estilizado, como parcerias com artistas já consagrados do hit parade nacional e até

adequação parcial a modelos de negócios de gravadoras com relação estreita com estes

veículos, como a Som Livre, coisa que a já não mais operante SomZoom Records nunca

possuiu.

Historicamente, na televisão, os poucos espaços reservados a estas bandas eram de

duas espécies: programas populares com audiência fortemente ligada a classes mais baixas,

Page 51: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

50

como o “Programa do Ratinho”129

, e aqueles dedicados a homenagear regiões ou documentar

fenômenos periféricos, como edições especiais do “Som Brasil”130

e o “Central da

Periferia”131

. Participações em outros programas de maior audiência funcionavam mais para

autenticar a relevância da banda para seus próprios empresários, do que para funcionar como

um agente vetorial nos seus negócios. Segundo passagem do livro “O Fole Roncou, uma

história do forró” dos pesquisadores Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, o próprio

Emanoel Gurgel ao contratar a primeira formação do Mastruz com Leite apostou com os

músicos que os colocaria no “Programa do Faustão”, fato que se concretizou anos depois132

.

Ou seja, chegar a se apresentar nesses programas era considerado um título de notoriedade, e

não um passo natural dentro de uma cadeia de produção.

Essa rarefeita presença nas principais atrações dos grandes veículos causou um

curioso fenômeno. Músicas que fizeram sucesso primeiramente em escala regional por meio

de bandas de forró eletrônico viravam hits nacionais após ganharem nova roupagem de

conjuntos e artistas de ritmos com veiculação mais comum na mídia tradicional. A música

“Coração”, por exemplo, um dos primeiros sucessos locais do Aviões do Forró presente no

CD promocional “Volume 2”, de 2003, ficou conhecida nacionalmente na versão do grupo de

axé music Rapazolla e foi considerada a melhor canção do Carnaval de Salvador de 2005,

segundo o tradicional Troféu Dodô e Osmar cedido pelo jornal A Tarde133

. O mesmo

aconteceu com a música “Pode Chorar”, canção presente no CD promocional “Volume 4” do

Aviões do Forró, lançado em 2005, que chegou às paradas nacionais na voz do cantor de

pagode romântico Alexandre Pires em seu disco “Mais Além Ao Vivo” de 2010134

.

A parceria que a A3 Entretenimentos estabeleceu com a Som Livre tende a modificar

este panorama, amadurecendo a relação entre grande mídia e forró eletrônico. Aos poucos, o

Aviões do Forró vem se transformando em figura constante em programas de não habitual

participação de outras bandas do gênero. Em menos de cinco meses, a banda já apareceu duas

129Mastruz com Leite no Programa do Ratinho. Disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=HP8G7e4mdB8> Acesso: 5 de fevereiro de 2013. 130Mastruz com Leite – Som Brasil – Fortaleza. 1994. Disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=KXLnLg0SSS4> Acesso: 5 de fevereiro de 2013. 131MEMÓRIA GLOBO. Central da Periferia. Disponível em <http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-253057,00.html> Acesso: 3 de fevereiro

de 2013.> 132 MARCELO;RODRIGUES. (2012). 133 TROFÉU DODÔ E OSMAR. Vencedores 2004. Disponível em

<http://www.trofeudodoeosmar.com.br/vencedores.html>. Acesso: 3 de fevereiro de 2013. 134 DANTAS, Dorgival. Pode Chorar. Intérprete: Alexandre Pires. In: Mais Além Ao Vivo. São Paulo: EMI

Music, 2010.

Page 52: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

51

vezes em uma das principais apostas de audiência da Rede Globo135

, o programa “Encontros

com Fátima Bernardes”, que tirou a respeitada apresentadora da bancada do Jornal Nacional

após 14 anos136

. Bandas como o Garota Safada também seguem a trilha.

Transformar participações nesses programas em um hábito de sua agenda de

divulgação proporciona dois dividendos a estas bandas. O primeiro é o de se apossar do

respeito que estes programas têm com o público. O segundo é o de, aos poucos, não ser

divulgado apenas como metonímia de um fenômeno regional, abordagem comum trabalhada

principalmente nas aparições de bandas de forró eletrônico em programas com edições que

homenageiam o Nordeste, que se aproveitavam da proximidade dos festejos juninos ou

documentavam os fenômenos periféricos, mas sim como um grupo musical trazendo

novidades para o seu público. Se, na primeira vez em que o Aviões do Forró foi ao

“Encontros” no dia 31 de agosto de 2012137

, Fátima Bernardes apresentou a banda como o

maior símbolo de sucesso do popular ritmo nordestino, na segunda aparição, no dia 16 de

janeiro de 2012138

, a abordagem já era a de um grupo trazendo as últimas notícias para os seus

fãs, imprimindo um tom mais natural e de exploração menos peculiar a sua participação ali.

Esta naturalidade com que as bandas começam a ser tratadas pela grande mídia se reflete até

na participação dos protagonistas destes grupos em campanhas publicitárias nacionais.

Wesley Safadão, por exemplo, foi garoto-propaganda de campanha da marca de refrigerante

Kuat no segundo semestre de 2012, dividindo participação nos comerciais com o humorista

da MTV Marcelo Adnet e com o popular cantor Latino139

.

Essa nova relação mais íntima com a mídia tradicional enquadra o gênero em um

peculiar contexto, uma espécie de terceira escala de sua evolução. Após a primeira era da

exploração comercial focada na venda de CDs com todas as etapas da cadeia produtiva

independentes de grandes conglomerados de entretenimento multinacionais, e a segunda em

que o show virou foco e o disco em artigo gratuito de divulgação, o forró eletrônico adentra

uma etapa em que, mesmo que de modo lento, torna-se consideravelmente conhecido em

escala nacional. Para isto, adota algumas práticas comuns a artistas com trabalhos

135 Disponível em: <http://bardoaviao.blogspot.com.br/2013/01/avioes-do-forro-participa-do-encontro.html>

Acesso: 3 de Fevereiro de 2013. 136 PEREIRA JR., Alberto. Globo aposta em Pedro Bial e Fátima Bernardes como âncoras de novos programas.

Folha de São Paulo, São Paulo, 26 de Junho de 2012. 137 Disponível em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/encontro-com-fatima-bernardes/v/avioes-do-forro-

cantam-da-agua-para-o-vinho/2116286/> Acesso: 25 de Janeiro de 2013. 138Disponível em: < http://globotv.globo.com/rede-globo/encontro-com-fatima-bernardes/v/banda-avioes-do-

forro-canta-correndo-atras-de-mim/2348515/ />Acesso: 3 de Fevereiro de 2013. 139ÉPOCA/MUNDO DO MARKETING. Kuat leva consumidores para festa no iate. Disponível em

<http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/kuat-leva-consumidores-para-festa-em-iate> Acesso: 3 de

Fevereiro de 2013.

Page 53: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

52

consolidados por estes meios tradicionais de mídia ao mesmo tempo em que mantém

operando seu modelo de negócio baseado na informalidade e no apoio da internet na região

Nordeste. Por enquanto, as duas vertentes do negócio conseguem funcionar paralelamente,

como no caso do Aviões, em que a banda continua inundando semanalmente a internet com

seus discos promocionais gravados em shows pela “Indústria do Alô”, mas, simultaneamente,

divulga o DVD e CD “Ao Vivo em Salvador”, gravado pela Som Livre em 2010 nos shows

que faz pelo Sudeste e nas apresentações de televisão. Resta saber se estes dois lados

continuarão sobrevivendo separadamente ou se um dia irão se misturar fundamentando uma

nova plataforma de negócios para banda e modelo para o gênero. Isso, só o tempo e o já

costumeiro criativo aproveitamento das constantes metamorfoses do segmento fonográfico

por parte da mente dos empresários por trás deste lucrativo negócio irão dizer.

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53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com apenas duas décadas de vida, o forró eletrônico atualizou a matriz musical

rítmica que fora consagrada por Luiz Gonzaga e se transformou em um fenômeno regional de

público e de faturamento. Como seus antecessores do ritmo pé-de-serra, o forró eletrônico se

consolidou por apresentar um retrato fonográfico fiel do cotidiano do Nordeste. Se outrora o

sertanejo, a seca e os enlaces amorosos eram cantados por Jackson do Pandeiro,

Dominguinhos e Marines, esses temas deram espaço a situações típicas de uma região cada

vez mais urbana e pujante, cujo progresso econômico leva seus habitantes a quererem

consumir imagens otimistas do seu cotidiano, como as vaquejadas e os shows, amplamente

contemplados pelas músicas de bandas como Aviões do Forró, Calcinha Preta, Garota Safada

e Mastruz com Leite.

Este projeto procurou documentar as mudanças estéticas trazidas pelo ritmo, que em

um primeiro momento colocou o protagonismo da sanfona dividindo espaço com guitarras e

teclados, e, em um segundo, influenciado pelo vaneirão, fez com que bateria e baixo se

transformassem em protagonistas. Tudo isto foi acompanhado de uma padronização estrutural

de apresentações com ênfase em performances com ampla influência da música pop

internacional.

Além disso, mostrou as artimanhas utilizadas por empresários locais, centralizadores

da maioria das decisões das atividades de suas bandas, para transformá-las em negócios

amplamente rentáveis sem necessariamente precisar se encaixar no tradicional modelo

fonográfico.

A começar pelo império do grupo Somzoom, criado por Emanoel Gurgel, o ex-

árbitro de futebol, que além de idealizar os moldes iniciais do forró eletrônico com a sua

banda Mastruz com Leite, montou uma estrutura baseada em uma rede de emissoras

difundidas por quase uma centena de afiliadas em todo o Nordeste para tocar

ininterruptamente as canções de suas bandas. Bandas estas gravadas, produzidas e editadas

pelas suas próprias gravadoras e editoras.

Vencido pela pirataria, Gurgel deixou um discípulo, Isaías Duarte, empresário criado

nas estruturas da Somzoom, que se juntou com o empresário Carlos Aristides e transformou

em benefício aquilo que a maioria da indústria fonográfica enxergava como inimigo. Ao

distribuir gratuitamente discos de sua banda, Aviões do Forró, seja no mercado informal ou na

Page 55: O Forró Eletrônico - Breve História Estética e Mercadológica

54

internet, Isaías a transformou na principal banda do gênero no novo século, um modelo para

suas concorrentes.

Hoje, o gênero discute sua padronização commodity. O modelo sonoro do Aviões,

repetido a exaustão por outras bandas, e o alto número de discos compartilhados na internet,

confundem a audiência e dificulta até a compreensão de quem é responsável original por

lançar muitos dos sucesso que disputam os top hits da emissoras de rádio do Nordeste.

Diferenciar pode ser a chave para a renovação do estilo. Bandas que adotam

características especiais arranjam de maneira mais natural seu espaço no competitivo mercado

do forró eletrônico.

É com essa diferenciação, atrelada a uma série de táticas de modernização, com o

apoio de estandartes de outros ritmos musicais em parcerias que transferem credibilidade ao

gênero e o estreitamento de sua relação com os veículos de mídia tradicionais, que as bandas

chegam a esta terceira década em busca da vitória sobre a última barreira, o preconceito das

classes dominantes do Sudeste.

Todo esse panorama consolida o forró eletrônico como uma das mais genuínas

plataformas musicais nacionais, que soube vencer de forma autoral uma crise que até hoje

combali os formatos tradicionais da indústria fonográfica, criando um modelo de negócios

funcional apoiado por uma curiosa indústria de gravações de shows e distribuição na internet,

capaz de transformar intervalo de canção em anúncio publicitário, e não fechando seu padrão

estético a referências de outros ritmos nacionais e até internacionais. Em suma, um dos mais

valiosos exemplos – mesmo que essa afirmação não seja corroborada por boa parte da classe

intelectual - do potencial criativo tanto para a música, quanto para os negócios do povo

nordestino.

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Encontros com Fátima Bernardes: Aviões do Forró cantam „Barangandam‟. Disponível em

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PROGRAMA DE TV

BREGA. Profissão Repórter. São Paulo, Rede Globo, 10 de maio de 2010. Programa de TV.