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Paula Luiza Ferreira O Funcionalismo da arquitetura moderna- Um estudo sobre o Pilo- tis e a estrutura Dom-ino. Trabalho Integrado apresentado à professoraAna Cristina Farias como com ênfase em obra civil no segundo se- mestre de 2013 no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João Del Rei

O Funcionalismo da Arquitetura moderna

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O Funcionalismo da Arquitetura moderna

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Paula Luiza Ferreira

O Funcionalismo da arquitetura moderna- Um estudo sobre o Pilo-

tis e a estrutura Dom-ino.

Trabalho Integrado apresentado à professoraAna Cristina Farias como com ênfase em obra civil no segundo se-mestre de 2013 no curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de São João Del Rei

Introdução

A arquitetura pode ser entendida como uma forma de ex-pressão artística que transmite valores, concepções do período que representa. Nesse sentido, a arquitetura mod-erna representa a síntese da união forma/função; técni-ca/arte. As novas formas propostas por essa arquitetura foram respostas ao novo cotidiano na era da tecnologia e essa se desligava das formas arquitetônicas do passado, se contrapondo a arquitetura com ornamentos decorativos.

A Revolução industrial teve influencia e valor inestimável para a arquitetura. O surgimento da tecnologia do aço foi proveniente da Inglaterra e França, desenvolvidas para a necessidade do transporte ferroviário, das estações e das pontes e aplicadas mais tarde na arquitetura junta-mente com o concreto, que se desenvolveu mais inten-samente no período entre 1870 e 1900 na Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e França. Surge então, a id-eia de criar o concreto armado, que consiste na mistura do concreto, resistente à compressão, com o aço, forte a tração, utilizados tanto para vigas como para pilares, no qual trouxe uma grande evolução na construção civil, sendo ainda hoje o material mais utilizado. Para Mies:

“A tecnologia é muito mais que um mé-todo, é um universo em si. Enquanto mé-todo é superior em quase todos os aspec-tos. Contudo, é somente ao ser deixada consigo mesma, como nas gigantescas estruturas de engenharia, que a tecnolo-gia revela sua verdadeira natureza. [...] Sempre que a tecnologia atinge sua real-ização plena, ela transcende a si mesma

A cidade agora é pensada como organismo produtivo, político, social e tecnológico que necessita de soluções. Neste momento passa a ser extremamente importante o papel do arquiteto não somente como construtor, mas tam-bém como pensador do espaço urbano. Produto do caos pós-guerra, o funcionalismo e o agravamento das questões urbanísticas causadas principalmente pelo crescimento desenfreado de algumas cidades têm como objetivo tor-nar as cidades mais funcionais. A partir dessa concepção, entende-se tanto nas artes, quanto na arquitetura e no ur-banismo, a forma deve resultar da adequação a função de-terminando, por exemplo: prioridade de planejar o espaço urbano para sobre o planejamento arquitetônico; uso das tecnologias industriais na estandardização e à pré-fabri-cação em série; soluções estéticas que conhecida com as funções do edifício em articulação com as necessidades práticas de um cotidiano urbano cada vez mais massificado.

como arquitetura. É verdade que a ar-quitetura depende de fatos, mas seu ver-dadeiro campo de atividade é a esfera do significado.”( FRAMPTON, op. cit. p. 282.)

O funcionalismo é produto das novas experiências in-seridas entre grandes guerras. Essas experiências são consequências das mudanças na sociedade em relação a política, economia, tecnologia e principalmente das relações sociais. As questões urbanas, arquitetônicas e artísticas agora ganham força, já que não é possível pen-sar e aceitar a cidade como em períodos anteriores às Guerras.

A construção encontrou seus meios de libertação, uma revolução no modo de construir. O concreto e o ferro trans-formaram as organizações construtivas já conhecidas, e se adaptaram com exatidão à teoria do cálculo, trazendo a cada dia resultados cada vez mais encorajadores.

Muitos arquitetos vanguardistas acreditavam que a mecan-ização da produção arquitetônica não era uma questão de gosto ou opção pessoal, mas sim uma necessidade gera-da pela grande demanda de habitações que surgiram nas grandes cidades, a moradia digna e a pré-fabricação na construção foi um meio de satisfazer a grande demanda populacional e melhorar a vida da classe trabalhadora. A fabricação em série, especialmente as casas em série deveriam ser extremamente simples, de acordo com as demandas da moderna produção mecanizada.

A construção encontrou seus meios de libertação, uma revolução no modo de construir. O concreto e o ferro trans-formaram as organizações construtivas já conhecidas, e se adaptaram com exatidão à teoria do cálculo, trazen-do a cada dia resultados cada vez mais encorajadores.

Como projeto científico adotado por muitos arquitetos, a arquitetura racional (baseadas no conhecimento e na razão), baseava-se na ideia do projeto sólido e objetivo, na consideração da estrutura como cerne da forma edi-ficada, com um uso hábil dos meios disponíveis, o que obrigou os arquitetos a revisar seus conhecimentos so-bre a mecânica aplicada, ventilação, a eficiência e à eco-nomia do projeto, além da busca por uma arquitetura que apresentasse a estética baseada no método con-strutivo, e a relação da beleza, materiais e tecnologia.

Para compreensão da nova arquitetura do século XX e de sua trajetória, podemos citar Mies Van der Rohe, na Alemanha, Frank LIoyd Wright dos Estados Unidos e Le Corbusier na França. Na Tentativa de unir frentes diferen-ciadas no mundo dessa arquitetura e a propósito de dis-cussões, foi criado o CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), que realizou pesquisas em torno das novas tecnologias, a criação da residência mínima e

o design. Das correntes espalhadas pelo mundo, algumas possuíam características unanimes “padronizadas”, en-tre elas a arquitetura limpa, sintética, funcional e racional.

Le Corbusier fundou uma estética fundamentalmente nova em seu programa dos cinco pontos da nova arquitetura, entre eles a janela em fita, o terraço jardim, planta livre da estrutura, a fenestração horizontal e o pilotis. Em es-pecial a estrutura de pilotis, que tomou um partido sig-nificativo nas faces estéticas arquitetônicas e funcionais nas urbanistas, marcou um período caracterizado por in-fluentes modificações. A estrutura pilotis se tornou parte do projeto, relacionando-se também com o espaço, cri-ando um conjunto de relações entre forma e função.

“A casa é uma máquina para viver.” Esta afirmação de Cor-busier simplesmente não se traduz em um projeto de uma linha de montagem em uma escala humana, e não o projeto começa a adquirir qualidades inovadoras e progresso com base em outros campos da indústria, em busca de eficiência.

Em relação ao urbanismo nessa época, para CAR-VALHO (1964) a ideia das “cidades-pilotis” mostrou-se ex-cepcional quando idealiza a separação do pedestre e do veículo, pregando a construção sobre colunas. O cresci-mento desordenado das cidades e da população, para Corbusier seria solucionado com as construções sobre os pilotis, que liberaria espaços no térreo da cidade.

A estrutura designa as partes de um edifício que re-cebem as cargas do mesmo e transmitem essas para as fundações. As paredes tem objetivo de dividir, setorizar espaços podendo ter função estrutural ou não. Segundo REBELLO (2000), a estrutura significa uma junção de el-ementos que possuem uma relação para desempenhar uma função, podendo ser permanente ou não. Se referindo à estrutura das edificações, a força deve ser posta como evidência, pois o conjunto de elementos é o caminho pelo qual ela fará até chegar ao solo, que é o seu destino final. Ainda afirma que o pilar se tornou peça fundamental nas estruturas, no posicionamento e na forma dos projetos.

As casas Dom-ino e os pilotis podem ser entendidos como a busca pela expansão do interior, onde a estrutura inde-pendente propicia a liberdade do espaço interno. Além disso, o fundamento técnico do estilo era a estrutura inde-pendente denominada que assinala seu caráter de com-binação do jogo arquitetônico. ENGEL (2001) afirma que o espaço definido apoia-se na função do sistema, sendo a estrutura assim, autora do espaço, pois sem estrutura não existe construção. A estrutura independente tipo Dom-ino se constitui em uma prescrição genérica dos traços que fundamentam a arquitetura moderna na sua essência.

O modelo padronizado Dom-ino tem uma laje de piso de concreto, com pilares recuados e uma escada em bal-anço em uma das extremidades. A laje é nervurada, com caixões perdidos e reforço de aço. Elas eram desenvolvi-das em 1916 para atender essas demandas possuíam o sistema estrutural desenvolvido com concreto armado, este composto por pilares, lajes e escada era independ-ente da setorização dos espaços (paredes), como fichas de dominó. Baseado nas técnicas do concreto armado, esse sistema combinava as propriedades da resistência

à compressão do concreto e a resistência à tração do aço, que por consequência a peça resiste a grandes esforços de flexão, liberando espaços em seu interior. O concreto armado é um material barato em relação a outros mate-riais estruturais usados na arquitetura, possuindo grande durabilidade, fácil modelagem e manipulação.

Dom-ino pode ser interpretada como a precisão sobre essa estrutura independente, demandada como condição de norma na arquitetura moderna, caracterizada pela sua horizontalidade, sua regularidade, ortogonalidade e repet-itividade, causadas pela introdução de um vazio vertical, onde os espaços gerados entre as colunas são diferencia-dos, com balanços distintos nos lados compridos e estrei-tos das lajes. gerando uma variedade de possibilidades construtivas. A configuração da vedação não obedece necessariamente a raciocínios idênticos em pavimentos diferentes.

Protótipo da casa Domi-ino

Tomando como exemplo Le Corbusier, A Villa Savoye, pos-sui a liberação do espaço em seu interior e da fachada. As cargas são transmitidas diretamente às colunas e lajes de concreto armado, dividindo as funções de estrutura e vedação. As funções de estrutura e vedação são desliga-das quando as cargas são transmitidas diretamente as col-unas e lajes de concreto armado, tonando seus elementos independentes. A estrutura de concreto armado suporta esforços, as paredes definem os espaços, essa concep-ção do arquiteto força a ideia de que a organização mono-funcional dos elementos construtivos não precisa traduzir uma arquitetura sem vigor.

Villa SavoyeFonte:http://www.plataformaarquitectura.cl/2010/11/02/

ville-savoye-le-corbusier/

A ideia da edificação com espaço interior total-mente livre pode ser observada no projeto do Tea-tro Nacional, em Mannheim na Alemanha (1953) onde a estrutura é mantida fora do espaço.

Teatro Nacional – Projeto Mies Van der RoheFonte: http://www.historiaenobres.net/ficha.php?idioma=es&id=48

As colunas eram adotadas como marca pessoal nos pro-jetos de Le Corbusier e Mies Van der Rohe. Enquanto nas obras de Corbusier eram adotadas colunas em seções cir-culares, os projetos de Mies possuíam os pilotis em forma de “H” e “I” como no projeto Crown Hall Illinois Institute of Technology, Chicago, onde a coluna em forma de “H” é li-gada por uma rede de vigas, que através de uma retícula, o sistema estrutural do edifício é composto de eixos longi-tudinais e transversais que formam três setores paralelos encobertos por um forro plano que deixou a vista somente nos locais de união de vigas com pilares.

Crown Hall Illinois Institute of tecnology, Chicago, IllinoisFonte: http://tshkbarc1a.wordpress.com/ludwig-mies-van-

der-rohe/

Analisando a casa Shodan, percebemos que Le Corbusier mantém a localização colunar típica das obras residenciais dos anos 1920, mas com uma malha ligeiramente retangu-lar que conforma uma planta com forma celular e teto mar-cado por vigas alinhadas com o sentido maior dos pilares retangulares. A casa mantém os balanços das lajes em to-das as faces, garantindo uma percepção de continuidade e rompimento com a frontalidade entre fachadas adjacentes.

Fonte: Le Corbusier, Jeanneret, 1995.

Como característica geral do desenvolvimento da arquitetu-ra no século XX, a valorização da técnica é um elemento di-retamente influente na concepção do projeto, no agencia-mento de materiais de elementos da construção (elementos de vedação e estrutura), assim como na composição dos resultados espaciais, visuais e econômicos do projeto.

A estrutura como elemento compositivo juntamente com o domínio das técnicas construtivas foi, e continua sen-do, elemento de maior expressão na arquitetura. A ideia de composição no modernismo está ligada a aceitação e manipulação dos elementos compositivos e também a associação da ideia de estilo a de composição. A ar-quitetura moderna foi revolucionaria em relação a liber-ação dos elementos estruturais dos demais que fazem parte do edifício. A estrutura independente tem papel de definir e referenciar a criação da forma edificada.

Referencias:

CARVALHO, B. A. A História da Arquitetura. Rio de Ja-neiro: Edições Ouro, 1964.

ENGEL, H. Sistemas Estruturais. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 2001.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura mod-erna. São Paulo:Martins Fontes, 2000.

REBELLO, Y. C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetu-ra. São Paulo: Zigurate Editora, 2000.