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O G20, a América Latina, e o Futuro da Integração Regional Junho, 2011 Por Nancy Alexander, Heinrich Böll Foundation North America “*Agradecemos os dados fornecidos pela equipe da Fundação Heinrich Boell e Aldo Caliari do “Center of Concern” 1

O G20, a América Latina, e o Futuro da Integração Regional · • No documento “A participação do México, da Argentina e do Brasil no G20”, Graciela Rodriguez, da International

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O G20, a América Latina, e o Futuro da Integração Regional

Junho, 2011Por Nancy Alexander, Heinrich Böll Foundation North America

“*Agradecemos os dados fornecidos pela equipe da Fundação Heinrich Boell e Aldo Caliari do “Center of Concern”

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Este informativo apresenta os seguintes documentos:

• Em “Prioridades do G20 para 2011” Nancy Alexander, da Heinrich Boell Foundation-North America.” examina algumas das implicações da agenda do G20 para a América Latina sobre a política monetária, a regulação da especulação sobre produtos primários, o emprego e a proteção social, e a integração do comércio.

• No documento “A participação do México, da Argentina e do Brasil no G20”, Graciela Rodriguez, da International Gender and Trade Network, examina os diferentes modelos de desenvolvimento privilegiados pela Argentina e pelo Brasil, de um lado, e pelo México do outro. Analisando a questão da segurança alimentar, Graciela Rodriguez compara a abordagem da China com as abordagens da Argentina e do Brasil.

• No artigo “O G20 e a Arquitetura Financeira Regional da América Latina” Graciela Rodrigues defende o ponto de vista de que o ímpeto no sentido da integração regional está se desacelerando desde que o Brasil e a Argentina entraram para o G20.

• Em “O Brasil Ameaça a Hegemonia dos Estados Unidos e testa sua força no G20” Nancy Alexander descreve não apenas as novas relações de poder entre os Estados Unidos e o Brasil, mas o grau em que o Brasil tem influenciado as decisões das reuniões do G20.

• No artigo “México, Brasil e Argentina: requisitos para o ingresso no Clube do G20,” Nancy Alexander descreve os compromissos políticos que esses países tiveram de assumir e como esses compromissos são monitorados pelo FMI. Os três países assumiram também novas responsabilidades em prol do desenvolvimento internacional.

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Prioridades do G20 para 2011por Nancy Alexander

O G20 é um organismo que congrega 19 países, além da União Europeia. Foi criado em 1999 para responder à crise financeira asiática. 1 Durante cerca de uma década, restringiu-se a uma reunião anual de ministros das finanças e de presidentes de bancos centrais. Em 2008, o G20 transformou-se em um fórum de presidentes e primeiros-ministros para tratar da crise financeira global desencadeada pelos Estados Unidos.

173 países-membros da ONU estão excluídos do G20, mas muitas pessoas consideram que a criação desse grupo de países, ao expandir o G8, trouxe aprimoramentos à governança econômica global. Além disso, destacam a legitimidade do G20, já que os países-membros do Grupo representam 85% da produção mundial e dois terços da população do planeta.

Embora um G20 seja preferível a um G8, o G20 carece de uma representação regional equilibrada. Por exemplo, a Região da América Latina e do Caribe é representada apenas por três países: Argentina, Brasil e México. Por sua vez, o Continente Africano é representado apenas pela África do Sul. E na maioria das vezes, cada país do G20 representa apenas seus próprios interesses, e não os de seus vizinhos.

A despeito de sua falta de representatividade, o G20 se declara “o fórum central para a cooperação econômica internacional.” Agora, no pináculo das estruturas de governança, o G20 emite diretrizes para dezenas de outras instituições globais (como por exemplo o Banco Mundial, a OMC, e diversos organismos da ONU), que têm agora de prestar contas ao Grupo. Trata-se de uma questão problemática, já que essa situação marginaliza ainda mais os países que não são membros do G20.

A primeira das duas próximas reuniões de cúpula será realizada na França, em novembro de 2011, e a segunda no México, no primeiro semestre de 2012. As prioridades da cúpula da França serão:

1. A reforma do sistema monetário internacional (IMS). A Presidência Francesa do Grupo propõe uma reforma do sistema monetário internacional para estabelecer respostas coletivas na prevenção das “guerras monetárias” (desvalorizações monetárias competitivas) e para reequilibrar a economia global. Essa agenda é importante para a América Latina. Os valores do dólar americano e do yuan renminbi chinês relativamente às moedas da América Latina (por exemplo, o real brasileiro, estão solapando a competitividade da Região Latino-Americana. Por exemplo, as importações da China estão 1 O G20 é formado: pelos países do G8 - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido, e Estados Unidos; por nove países de mercado emergente - Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, África do Sul, Coreia do Sul, e Turquia; pela Austrália e pela Arábia Saudita; e pela União Européia.

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contribuindo para a desindustrialização do Brasil e para a reorientação da economia brasileira em direção às matérias-primas.

Enquanto isso, o dólar cada vez mais enfraquecido, os altos preços dos produtos primários e as oportunidades de investimento estão carreando um fluxo maciço de capitais em direção às economias de mercado emergentes, particularmente para o Brasil. À medida que essas economias vão se superaquecendo, os governos tentam se preparar para impedir a saída maciça e destruidora desses fluxos de capitais.

2. O fortalecimento da regulação financeira. Embora os governos procurem empreender reformas no sentido de evitar o desencadeamento de outra recessão ou depressão global, o poder da indústria financeira bloqueia a maior parte dessas reformas. Mesmo assim, a Presidência Francesa está tentando fortalecer a regulação financeira em áreas onde esta demonstrou ser ineficiente, como no mercado de produtos primários.

Além disso, ela está propondo a criação de novas fontes inovadoras de financiamento, entre as quais uma Taxa Financeira sobre Transações (FTT), que poderia fornecer recursos críticos para programas de atenuação e adaptação às mudanças climáticas, e para os programas de proteção social.

3. Melhoramentos na Segurança Alimentar e no Combate à Volatilidade dos Preços.Muitos fatores estão contribuindo para o aumento da volatilidade dos preços dos produtos primários agrícolas, fenômeno que, por sua vez, amplia a incidência da fome e da desnutrição. A iniciativa da Presidência Francesa concentra-se em três pontos: 1) como lidar com o aumento dos preços dos alimentos; 2) que medidas estabelecer para elevar a produção global de alimentos; e 3) que regras sobre os investimentos no setor agrícola precisam ser estabelecidas (para a questão, por exemplo, da apropriação de terras). A Presidência vai também propor um novo sistema, o Sistema de Informações sobre o Mercado Agrícola (AMIS) que coletaria informações sobre os estoques e mercados de alimentos em todo o mundo, incentivando assim maior transparência e um melhor compartilhamento de informações em comparação com o que se faz atualmente.

Muitos grupos da sociedade civil estão instando o G20 a criar um sistema de reserva de alimentos; a impedir as alocações de terras para o plantio de vegetais biocombustíveis em detrimento da produção de alimentos; a apoiar o acesso das mulheres à terra e ao crédito, e a investir na atenuação e na adaptação às mudanças climáticas, inclusive com base na agricultura orgânica.

Além disso, a Presidência Francesa quer identificar soluções coletivas visando reduzir a volatilidade excessiva dos preços – principalmente dos preços dos produtos primários agrícolas e energéticos, que prejudicam o crescimento mundial e ameaçam a segurança alimentar. Há evidências conclusivas ligando a especulação excessiva – especialmente através dos fundos indexados – à volatilidade dos preços dos produtos primários. Como veremos mais abaixo, muitos governos negam a existência dessa conexão. O governo francês, portanto, merece um crédito, pelo fato de buscar regular a especulação excessiva.

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4. Apoio ao emprego e fortalecimento da dimensão social da globalização.A reunião de cúpula na França irá propor quatro metas prioritárias: o emprego, especialmente para os jovens e os mais vulneráveis; a consolidação do piso de proteção social; o respeito aos direitos trabalhistas e sociais; e estratégias mais coerentes por parte das organizações internacionais. Os Ministros do Trabalho e do Emprego encontrar-se-ão para discutir essa agenda no fim de setembro de 2011.

Empregos. Os Ministros deverão insistir no sentido de que os líderes do G20 e as organizações internacionais concentrem suas atenções não apenas nos déficits fiscais, mas também no déficit de empregos decentes. Na América Latina, o crescimento do emprego se dá particularmente no setor de serviços, onde as mulheres e os homens são desigualmente representados. Além disso, os empregos precários constituem prática bastante disseminada. Se não houver uma conjugação de esforços nesse sentido, a necessidade de programas de proteção social continuará a crescer.

Proteção Social. No dia 10 de maio de 2011, representantes da Argentina, do Brasil e do México assinaram a “Declaração de Brasília sobre o Piso de Proteção Social” por ocasião de uma reunião de consulta do G20 organizada pelos governos do Brasil e da França com o apoio da OIT. Os governos pediram:

• o desenvolvimento de uma melhor cobertura de proteção social;• a cooperação entre as organizações internacionais e os países, com vistas a facilitar a

construção de sistemas nacionais de proteção social sustentáveis;• o apoio da OIT aos países, para que possam monitorar a implementação de pisos de

proteção social;• maior cooperação e intercâmbio de conhecimentos sobre a proteção social e maior

apoio aos países de baixa renda para que possam implementar políticas de proteção social.

Em outro encontro, nos dias 2 e 3 de maio de 2011, A OCDE reuniu-se com a Rússia, o Brasil, a Indonésia e a África do Sul para gerar recomendações ao G20. 2

2 Comunicado Final da Reunião Ministerial sobre política social da OCDE: Construindo um futuro mais justo: o Papel das Políticas Sociais http://www.oecd.org/document/0,3746,en_21571361_47089446_47746169_1_1_1_1,00.html

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5. Ações para o desenvolvimento

Em novembro de 2010, por ocasião da Reunião de Cúpula do G20 em Seul, Coreia do Sul, o G20 aprovou um Plano de Ação Multianual sobre o Desenvolvimento (DAP). Com vistas à implementação desse plano, as duas maiores prioridades da Presidência Francesa são a infraestrutura e a segurança alimentar nos países mais vulneráveis. Quatro problemas graves afetam o DAP:

a- Democracia. O DAP foi planejado pelo G20 com dados inadequados a respeito dos países de baixa renda (inclusive os dados relativos aos parlamentos e à sociedade civil), que são os países beneficiários previstos pelo Plano.

b- Políticas Econômicas Desacreditadas. O DAP promove uma agenda de liberalização e de privatizações que, em determinados aspectos, assemelha-se à agenda do antigo e desacreditado “Consenso de Washington”.

c- Dimensão Social Enfraquecida. Como observado mais acima, o G20 precisa reconhecer que o déficit de “empregos decentes” e a proteção social são tão sérios quanto alguns déficits orçamentários. Entre outras coisas, isto significa assegurar que os programas de austeridade orçamentária não irão afetar injustamente os programas dessas áreas.

d- Clima. A despeito da ênfase dada pelo DAP à infraestrutura (p.ex., na energia e no transporte), o G20 não tem, aparentemente, programas para assegurar um caminho de desenvolvimento de baixo carbono. 3

Integração do ComércioOutra das prioridades do G20 é a criação de instituições destinadas a promover a integração regional, incluindo mecanismos para conceber e financiar projetos regionais de intraestrutura na Ásia, na África e na América Latina. É imperativo que a sociedade civil e os parlamentares desempenhem um papel-chave na elaboração desses planos4

O progresso em direção à integração é lento na América Latina, se comparado com outras regiões. Na Europa Ocidental, o comércio no interior da própria região (“comércio intra-regional”) corresponde a mais de 60% do comércio total. Na Ásia e na América Latina, o comércio intra-regional representa pouco mais de 35% e 20% de todas as exportações, respectivamente.3 Todavia, o G20 solicitou ao Banco Mundial que trabalhe com uma variedade de instituições (especialmente o FMI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e outros bancos regionais de desenvolvimento) para analisar as fontes de financiamento para as mudanças climáticas.4 No âmbito do primeiro encontro do Conselho Sul-Americano de Economia e Finanças da UNASUL, diversas organizações e movimentos sociais da América Latina se reuniram no dia 9 de junho, com o objetivo de chegar a uma proposta comum para abordar as temáticas vinculadas à integração econômica regional. Na ocasião, eles solicitaram uma audiência aos funcionários assistentes ,com o objetivo de levar as propostas e demandas sobre a discussão de uma nova arquitetura financeira regional que possa atender aos interesses da maioria dos povos da América Latina. Adolfo Pérez Esquivel, SERPAJ – AL; Nora Cortiñas, Jubileo Sur – Américas; Enrique Daza; Alianza Social Continenta; Rev. Angel Furlan; Federación Luterana Mundial - Programa Deuda Ilegítima; María Elena Saludas; ATTAC - CADTM-AYNA; Victoria Donda, Deputada Federal - Presidenta. da Comisión de Derechos Humanos y Garantías; Adolfo Aguirre, Central de Trabajadores de la Argentina

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Para fomentar uma integração regional sustentável, são suscitadas várias questões importantes5, entre as quais:

• O Brasil representa cerca de metade da produção total da América do Sul (60% do valor industrial total e cerca de metade da produção agrícola). Como a posição dominante do Brasil poderia ser canalizada de forma a produzir benefícios mútuos para a Região?

• De que modo a exportação de produtos industrializados pode ser aumentada mantendo-se uma via de desenvolvimento de baixo carbono? Grande parte das exportações brasileiras destinadas a outros países da Região e para os Estados Unidos é de produtos industriais. Por outro lado, suas exportações primárias para a Europa e para a Ásia são de produtos primários.

• Que tipos de prioridades de infraestrutura devem ser apoiados: produtos industriais “trade in” (valor agregado) ou comércio de produtos primários (p. ex. minério de ferro, de cobre, e concentrados, e derivados da soja)? b) comércio na própria região ou comércio com outras regiões do mundo?

• Como a Região da América Latina e do Caribe representa apenas 6% da produção total mundial (produto interno bruto), qual é o potencial de integração? Qual a importância das economias de escala para os padrões de produtividade sustentável?

• Qual a importância da redução da pobreza e do aumento da população de classe média para a América Latina, não somente porque é o caminho certo, mas também porque aumenta a demanda de produtos e serviços para a Região?

• No que tange ao desenvolvimento de baixo carbono, de que forma seria possível passar da atual dependência da agricultura industrial para métodos orgânicos de plantio? Como o direito à soberania alimentar pode ser satisfeito?

• Acordos preferenciais de comércio como o MERCOSUL estabelecem prioridades e padrões. Que tipos de acordos comerciais preferenciais existem neste momento? Os acordos futuros deverão ser concentrados entre os países que pertencem à Região?

• É possível ou desejável que os padrões de comércio das empresas transnacionais (ETNs) sejam modificados? As empresas subsidiárias de ETNs representam 50% das exportações totais e a maioria das exportações de produtos de conteúdo tecnológico médio a alto.

O G20 não deve seguir os passos do G8, que promoveu o ”fundamentalismo do mercado”com consequências negativas para a sociedade e para o meio ambiente natural, inclusive o clima. Contudo, até hoje a dimensão social da agenda do G20 ainda é modesta, não possuindo, tampouco, qualquer dimensão ambiental!

Além disso, o G20 deve procurar não enfraquecer os processos democráticos com o estabelecimento de regras em demasia no contexto global. Para que a democracia funcione, os governos devem ser capazes de atender aos anseios do povo – o eleitorado – em nível nacional, regional e local. Os parlamentos e os grupos da sociedade civil devem assegurar

5 Ver especialmente Renato Baumann, “The Geography of Brazilian External Trade: Right Option for a BRIC?” UN/ECLAC e Universidade de Brasilia. Sem data.

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que o G20 democratize a governança e preserve um “espaço político” para que a democracia possa funcionar nesses níveis.

Destaque 1A China e a América Latina

A China se tornou membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Além disso, o BID e o Export-Import Bank of China (Eximbank da China) firmaram uma carta de intenções para estabelecer mecanismos de investimentos em infraestrutura para financiar projetos públicos e do setor privado nos países-membros do BID que solicitam empréstimos.

As duas instituições assinaram também um Memorando de Entendimento que foi um passo importante para o estabelecimento de um fundo de investimentos para explorar oportunidades em setores-chave de interesse de ambas as regiões. http://www.iadb.org/en/annual-meeting/2011/annual-meeting-article,2836.html?amarticleid=9323

O comércio sino-americano passou de 12 bilhões de dólares em 2000 para mais de 140 bilhões em 2010. A China é o maior mercado de exportação do Brasil e do Chile, e o segundo maior mercado da Argentina, da Colômbia, do Peru e da Venezuela. Noventa por cento (90%) das exportações da América Latina para a China provêm de quatro países apenas - Argentina, Brasil, Chile e Peru. A China tem concedido empréstimos a diversos países da Região (em 2010, 10 bilhões de dólares à Argentina para renovar seu obsoleto sistema de ferrovias). 6

As aquisições de terra pela China têm sido mais relevantes na África, mas nos últimos anos a América Latina tem também recebido a atenção desse país. Em 2010 um contrato de arrendamento de 320.000 hectares de terras argentinas criou um movimento de oposição logo que o contrato firmado veio a público. 7

6 Sebastian Castaneda, “Chinese Take-Over of South America,” Foreign Policy In Focus, 18 de abril de 2011.7 Ibid.

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A participação da América Latina no G20Por Graciela Rodriguez, International Gender and Trade Network

Quando o G8 foi ampliado para constituir o G20, três países latino-americanos – Brasil, México e Argentina – foram convidados a participar do Grupo. Esses três países, nessa ordem, são as maiores economias do continente e, por esse motivo, foram convidados a fazer parte desse clube seleto.

A América Latina detém poder de barganha na cena mundial porque a Região possui mais de 600 bilhões de dólares em reservas de divisas estrangeiras, a metade das quais no Brasil. Com reservas de 328 bilhões, o Brasil é o sétimo pais no ranking mundial de volume de reservas de divisas. 8 Essa situação permite influenciar a regulação do sistema financeiro, o gerenciamento dos fluxos de capital e o financiamento do déficit fiscal. Por esse motivo, e apesar dos elevados custos tanto políticos quanto financeiros, os três países têm defendido a legitimidade de sua estratégia de acumulação de reservas. Os países do G20 do Norte gostariam que a América Latina recorresse ao FMI em ocasiões de emergência, mas os países dessa região, da mesma forma que os da Ásia, preferem contar com suas próprias reservas.

Os três países latinos não compartilham uma visão coordenada ou um plano de ação para sua participação no G-20, inclusive porque os dois países do Sul seguem princípios econômicos fundamentalmente diferentes daqueles do México. O México celebrou 44 acordos de livre comércio, a começar pelo Nafta, enquanto que o Brasil e a Argentina assinaram poucos acordos de liberalização do comércio. Vale lembrar, por exemplo, o caso da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. O episódio constituiu um importante divisor de águas que diferenciou o México de seus vizinhos do Sul.

Apesar do fato de o México ter assinado muitos acordos de livre comércio, 80% de suas exportações têm um destino único – os Estados Unidos. Enquanto isso, as duas economias sul-americanas, Argentina e Brasil, escolheram uma via que favorece o comércio no seio do próprio MERCOSUL, enquanto diversificam seus mercados de exportação com a adoção de uma estratégia Sul-Sul. Isto reduziu a importância relativa de seu comércio com os Estados Unidos e a Europa e ampliou seu comércio com a China e outros países.

Como parte essencial da solução da desaceleração de sua economia, os Estados Unidos e muitos outros países desenvolvidos gostariam que a China, a Alemanha e outros países como o Brasil e a Argentina reduzissem seu superávit comercial. Contudo, e de certa forma, a estratégia sul-americana foi bem sucedida em evitar a crise mundial graças à distância que esses países mantiveram do receituário de livre comércio.Uma questão que facilitou a reaproximação entre as posições latino-americanas no seio do G20, e muito especialmente entre o Brasil e a Argentina, foi a regulação do preço dos produtos primários. Em maio de 2011, a Argentina sediou uma reunião de altos funcionários do G20 para tratar da volatilidade dos preços dos produtos primários. Ao anunciar a reunião,

8 Os países com o maior volume de reservas no primeiro trimestre de 2011 são: a China (2,6 trilhões de dólares); o Japão (1,3 trilhões), a Zona do Euro (850 bilhões), a Rússia (500 bilhões), a Arábia Saudita (456 bilhões), Taiwan (387 bilhões) e o Brasil.

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o Ministro das Finanças argentino revelou que existia um G4 formado por Brasil, Austrália, África do Sul e Argentina, todos produtores e exportadores de produtos primários agrícolas.O Brasil e a Argentina são eloquentes defensores da necessidade de enfrentar o problema da volatilidade do mercado de produtos primários e o da insegurança alimentar, combatendo a especulação excessiva e os mercados de derivativos. Há sinais de que o México está se alinhando também com essa posição (ver destaque).

O Brasil e a Argentina sugeriram também políticas orientadas para o fortalecimento da agricultura familiar, de constituição de estoques e de compra de alimentos, entre outras, que produziram bons resultados nesses dois países. Na verdade, as posições dos dois governos são de certa forma ambíguas, já que essas políticas constituem na verdade uma tentativa de acomodação entre os interesses conflitantes e frequentemente contraditórios dos setores do agronegócio e os dos movimentos sociais.

Enquanto isso, o Brasil opõe-se ao tipo de regulação de preços dos produtos primários praticado pela China. Embora, por um lado, a China seja o país que mais importa produtos agrícolas no mundo, outros membros dos BRICs estão entre os maiores exportadores de recursos naturais. Os BRICs continuarão a trabalhar para chegar a uma posição comum no que diz respeito à questão da volatilidade dos preços dos produtos primários.

O México pretende conter a especulação excessiva em relação aos produtos primáriosExcerto da declaração de Ernesto Cordeiro, Secretário de Finanças e Crédito Público, “Comentários sobre a Agenda do Comitê de Desenvolvimento do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial”, 16 de abril de 2011.

“ Na América Central, El Salvador está ampliando em 30% seus programas de combate à pobreza para compensar os aumentos no preço dos alimentos. A Guatemala está contemplando a possibilidade de retaliação, estabelecendo uma tarifa de importação sobre o trigo, e está distribuindo alimentos e vales aos camponeses sem-terra. No México, o governo comprou contratos futuros de milho para dezembro, buscando proteger-se contra os aumentos de preços até o quarto trimestre de 2011.”

“ Se a elevação dos preços pode ser boa para os agricultores, e se a redução dos preços é boa para o consumidor, a volatilidade dos preços não é boa para ninguém, a não ser – talvez – para alguns atores no mercado. Prever o futuro dos mercados é sempre difícil, mas a incerteza combinada com a volatilidade dos preços está promovendo uma aversão ao risco em todos os níveis da cadeia de suprimento, e seu custo está agravando a pobreza, a desnutrição e a instabilidade...”

“Estamos de acordo… no caso presente, que embora a especulação possa estar desempenhando um papel preponderante, muitos outros fatores fundamentais estão amplificando atualmente o problema, tais como as mudanças e os choques climáticos, a evolução do preço do petróleo e o papel dos biocombustíveis, a depreciação do dólar

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americano, o encurtamento dos estoques, e principalmente a demanda, que tende a crescer mais do que a população, em razão da urbanização e das alterações na renda do consumidor e da modificação de seus hábitos, particularmente nos países emergentes.

“Os derivativos não são algo de ruim em si; eles foram criados para servir de salvaguarda contra circunstâncias imprevistas, e nessa qualidade são necessários. Mas se estiverem em mãos erradas, ou se usados para fins duvidosos, esses instrumentos podem abrir portas para a especulação. Essa especulação vem sendo possibilitada pela desregulamentação dos mercados de derivativos dos produtos primários que ocorreu em 2000. A comunidade internacional deve, pois, trabalhar no sentido de assegurar que tais derivativos sejam restringidos o quanto possível a investidores qualificados e conscientes, que comerciam mais na base de expectativas ligadas aos fundamentos do mercado, do que somente – ou unicamente – para auferir ganhos especulativos a curto prazo.

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O G20 e a arquitetura financeira regional da América LatinaPor Graciela Rodriguez, International Gender and Trade Network

A crise global e o surgimento do G20 criaram um dilema no que diz respeito aos processos regionais de integração. Especificamente, a participação do Brasil e da Argentina no G20 introduziu mudanças sutis porém importantes na evolução desses processos.

Desde que o Brasil entrou para o G20, seu papel regional tem, de certa forma, diminuído. A participação mais ativa e direta na governança global, principalmente no G20, mas também no processo dos BRICS, tornou-se aparentemente uma prioridade nas intervenções políticas e diplomáticas do Brasil, transferindo a ênfase para além do espaço regional.

E, conquanto o governo brasileiro continue a participar das negociações e dos esforços de coordenação ligados ao processo de integração regional, ele está procurando, aparentemente, manter um nível mais baixo de institucionalização nesses arranjos, visando assegurar maior liberdade de ação no nível multilateral. O Brasil, sinalizando suas prioridades, contribuiu com 14 bilhões de dólares para ampliar a base de capital do FMI – quando, na verdade, esses recursos poderiam ter sido investidos no Banco do Sul, que ainda aguarda a contribuição do Brasil para seu capital.

A participação da Argentina no G20 pode ter esfriado suas intenções de integração, possivelmente devido às últimas notícias do Wikileaks que levantaram a possibilidade de sua expulsão do seleto grupo do G20, em razão de sua fraca economia (em comparação com os outros atores do G20) e de suas posições políticas “radicais”.

Por outro lado, o falecimento do Secretário da UNASUL – o ex-presidente da Argentina Nestor Kirchner – e a nova presidência da Guiana na Secretaria rotativa desse projeto, são fatores que abrandaram o ritmo e reduziram a iniciativa política de levar adiante esse processo.

Na verdade, as tensões e as contradições sobejam, e de forma tal que estão prejudicando o processo de obtenção de acordos, especialmente entre a Argentina e o Brasil, o que está atrasando ainda mais os processos de integração, particularmente no que se refere ao MERCOSUL, à UNASUL, e ao lançamento do Banco do Sul.

Há, entretanto algumas notícias mais encorajadoras, que poderiam indicar um retorno ao caminho da integração. No momento em que o Presidente da Colômbia assinou o Tratado de Constituição da UNASUL, em maio de 2011, o tratado entrou plenamente em vigor, o que trouxe novo impulso à consolidação dessa instituição. Adicionalmente, a designação da nova secretária da UNASUL – Maria Emma Mejia – e a eleição do candidato progressista Ollanta Humala no Peru – são indícios de perspectivas positivas no sentido da integração.

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Progresso Lento mas Firme no Lançamento do Banco do Sul

Embora o Banco do Sul esteja operacional, seu desenvolvimento ainda se dá lentamente. Segundo os acordos até agora acertados, o objetivo do Banco será de recircular as poupanças regionais, não para projetos de infraestrutura, mas para aqueles ligados ao desenvolvimento de políticas econômicas regionais (por exemplo, alimentação, saúde, meio ambiente). O ponto de partida desses esforços será uma análise dos danos causados pelas políticas tradicionais dos bancos multilaterais e o impacto dessas políticas na autonomia nacional.

Há também uma proposta inicial de criação de um Fundo do Sul que buscaria desempenhar um papel contra-cíclico nas economias e protegeria a região de ataques especulativos. Essa proposta ainda não foi discutida nos organismos responsáveis pela tomada de decisão, como a UNASUL. O Brasil e a Argentina estão debatendo um sistema de pagamentos em moedas nacionais; o sucre, aliás, já é uma moeda comum em circulação entre os países da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas).

Desde a incorporação de potências emergentes ao G20 – um grupo mundial de elite – muitas dessas potências foram cooptadas. Isto significa que, ao invés de concentrar-se em uma nova ordem mundial multipolar, o G20 se engajou na completa reconfiguração do sistema global de finanças e de comércio. Essa ação acabou minando as frágeis alianças Sul-Sul e enfraquecendo as iniciativas de integração regional.

Em um tal cenário, o processo de integração regional na América Latina, particularmente na América do Sul, e a construção de uma nova arquitetura financeira regional estão atualmente em compasso de espera. Os movimentos sociais na Região continuam a intervir em favor da construção de uma arquitetura regional que transformaria o atual modelo regional, baseado na extração de recursos e obtenção de lucros, em outro modelo fundado no desenvolvimento sustentável.

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O Brasil ameaça a Hegemonia dos Estados Unidos e Testa seu Poder no G20Por Nancy Alexander

O processo do G20 constitui um prisma através do qual podemos testemunhar a notável transição em curso de uma ordem mundial unipolar para uma ordem mundial multipolar. Como afirma um recente documento de Bruce Jones, da The Brookings Institution, “Os Estados Unidos não são mais nem o Presidente nem o Diretor Executivo da Mundo Livre S.A. Os Estados Unidos ocupam agora uma posição semelhante à do maior acionista minoritário da Ordem Global Ltda.” Da mesma forma que um acionista minoritário em uma empresa, os Estados Unidos dependem agora da construção de alianças para alterar ou bloquear as iniciativas dos outros acionistas.

Representação aproximada dos PIBs com base em estimativas do CIA Factbookcc: by-sa by HBF Washington DC office

Como exemplo, um relatório dando conta das discussões entre o Sherpa (representante, no G8, dos Chefes de Estado) dos Estados Unidos no G20, e seus pares europeus, mostra como os Estados Unidos consideram imprescindível uma forte aliança com a Europa para bloquear as iniciativas dos países do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China). Segundo esse despacho, o Sherpa americano disse aos representantes europeus:

“ é notável a estreita coordenação que os países do grupo BASIC mantêm, e que se transformou em fórum internacional. Eles se revezam para impedir as iniciativas americanas e europeias, colocando inclusive os Estados Unidos e a União Europeia um contra o outro. Os países do grupo BASIC têm interesses que diferem largamente de país para país, disse ele, mas têm subordinado esses interesses à sua meta comum de curto prazo, que é de bloquear determinadas iniciativas ocidentais.Os Estados Unidos e a União Europeia precisam extrair lições dessa coordenação, disse ele, e trabalhar juntos, de maneira muito mais estreita, para lidar de melhor forma com o obstrucionismo de outros países e evitar futuros ”choques de trens”na área climática, nas rodadas de Doha, ou nas reformas regulatórias da área financeira.”

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Japão Alemanha França Reino Unido Brasil China Estados Unidos

Crescimento do Brasil na Nova Hierarquia do G7

Ao mesmo tempo, Os Estados Unidos vêem os países individuais do grupo BASIC não somente como concorrentes, mas também como potenciais aliados. Na verdade, os Estados Unidos, em cada continente, têm pela frente uma importante potência com a qual precisam aliar-se para atingir suas ambições.

Dentro desse espírito, o Presidente Obama visitou o Brasil em março de 2022 e propôs: “Vamos seguir juntos – não como parceiros maiores ou menores, mas como parceiros iguais.” Obama poderá ter melhores oportunidades de parcerias com a nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do que com o ex-presidente Lula, que acusou os Estados Unidos de adotar uma atitude “imperial”, e declarou que “nada havia mudado” com Obama.

Em um evento público em Washington, D.C., onde se discutia a viagem de Obama à região, autoridades americanas manifestaram expectativas no que diz respeito à cooperação Estados Unidos-Brasil no G20, na construção da agenda de desenvolvimento global, atuando como parceiros em questões ligadas ao clima e à energia, e construindo relações “trilaterais” entre os Estados Unidos, o Brasil e outras nações sul-americanas.

O Brasil está exercitando sua musculatura política e econômica. Na área política, em 2010 Brasil e Turquia decidiram opor-se ao pedido formulado pelos Estados Unidos de sanções contra o Irã. Além disso, o Brasil recusou-se a reconhecer o governo pós-Zelaya de Honduras, mesmo depois do reconhecimento pelos Estados Unidos. As duas ações foram consideradas como atos de provocação por parte do Brasil.

Na área econômica, o Ministro da Economia do Brasil, Guido Mantega, está marcando posição. No início de março de 2011, Mantega declarou que o Brasil havia ultrapassado o Reino Unido e a França, tornando-se a quinta maior economia mundial. Antes da reunião de outubro de 2010 com seus pares do G20, Mantega sacudiu a elite política ao alertar para uma “guerra entre moedas”. Em janeiro de 2011, classificou a avaliação do FMI sobre a situação fiscal do Brasil como “totalmente equivocada” e “uma bobagem”.

Nos preparativos para a reunião de abril de 2011 dos Ministros da Economia do G20 realizada em Washington, D.C., Mantega mostrou-se inflexível, declarando que cada país devia ser livre para aplicar os controles de capital como medida para lidar com a excessiva liquidez global vigente nos dias de hoje. Na reunião de abril, ele influenciou a decisão final dos ministros do G20 no sentido de retirar uma proposta que estabelecia limites para os controles de capital.

Recentemente, Mantega indicou que poderia apoiar o Secretário do Tesouro americano Geithner na contestação da proposta do governo francês no G20 de regular os mercados de operações a termo de produtos primários. No dia 14 de fevereiro, um grupo internacional de organizações não governamentais enviou correspondência ao ministro brasileiro Guido Mantega, solicitando que ele discutisse com as autoridades francesas uma proposta que haviam apresentado à Comissão Europeia para o estabelecimento de um órgão regulador de produtos primários na União Europeia. As ONGs argumentavam que era do interesse de todos os membros do G20 regular a especulação excessiva em torno dos produtos primários, a fim de evitar o aparecimento das bolhas especulativas que tanto prejudicaram a segurança dos alimentos e da área energética. A proposta francesa, se implementada, ajudaria a evitar essas bolhas nos mercados de produtos primários da União Europeia. (Para mais

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informações, ver: http://triplecrisis.com/commodity-market-reform-wall-street-versus-the-regulators/.).

Nos últimos anos, o Brasil vem dando primazia à sua estratégia no sentido de estabelecer-se como ator global independente, promovendo uma vigorosa defesa de seus interesses comerciais nas esferas multilaterais ou globais. Nesse sentido, priorizou recentemente sua participação no processo da Reunião de Cúpula dos BRICS, que se constitui em um espaço de articulação fundamental, considerando-se as mudanças na geopolítica internacional dos últimos tempos.

O Brasil ainda não coordenou suas ações nas Reuniões de Cúpula dos BRICS com seus parceiros regionais da América Latina. Isto poderia afetar consideravelmente seus tradicionais esforços para coordenar ações com a Argentina, e até mesmo o papel que ele desempenha na integração regional.

Em suma, a presença da América Latina nos processos das Reuniões de Cúpula do G20 e dos BRICS está suscitando importantes discussões, embora continuemos a enfatizar a falta de legitimidade de fóruns exclusivos como estes.

Instituições para a Integração Regional:IIRSA, UNASUL e BNDESIIRSA. Os bancos de desenvolvimento – Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial e Fundo de Desenvolvimento Andino – promovem um modelo de comércio e integração fundamentado na IIRSA 9 (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana). A IIRSA está financiando a integração das redes de transporte, energia e comunicação entre 12 nações sul-americanas. UNASUL. A integração da América do Sul tem se constituído em um processo contínuo, principalmente desde que a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) – organização regional que congrega os 12 países sul-americanos - entrou em vigor, integrando duas uniões aduaneiras existentes: o MERCOSUL e a Comunidade Andina de Nações. A sede da União ficará localizada em Quito, no Equador. O Parlamento Sul-Americano estará localizado em Cochabamba, na Bolívia, e a sede do seu banco, o Banco do Sul, ficará em Caracas, na Venezuela.Até agora, a UNASUL já ajudou a aliviar tensões na Bolívia; atuou como agente facilitador entre Venezuela e Colômbia; e tratou da questão das Malvinas (Ilhas Falkland). A UNASUL conta com uma vantagem em relação à Organização dos Estados Americanos (OEA) porque pode implementar políticas aprovadas por consenso, e não por unanimidade. Atualmente, a UNASUL estuda a criação de um centro para solução de disputas, e um centro de assessoria jurídica para arbitragem em investimentos. Hoje, as disputas sobre investimentos são arbitradas primordialmente em Washington, Londres e Paris. BNDES. Outro importante agente integrador é o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil – empresa pública com desembolsos que chegaram a US$ 100 bilhões (R$ 168.4 bilhões) em 2010, um aumento de 23% com relação aos valores do ano

9 http://www.iirsa.org/index.asp?CodIdioma=ESP

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anterior. As atividades industriais foram responsáveis por 47% dos desembolsos totais do banco, seguidas pela área de infraestrutura, com 31%, e pelas áreas de comércio e serviços, com 16%.

Embora a maior parte dos projetos do BNDES esteja circunscrita ao Brasil, o banco também financia projetos de infraestrutura da IIRSA, atualmente em andamento no Brasil, e apoia empresas brasileiras em outros países da região. A edição de agosto de 2010 do Economist indaga se o BNDES seria um “Ovo no Ninho, ou o Ovo da Serpente?”, sugerindo que o Banco é grande demais; subsidiado demais; e que concede empréstimos a algumas das maiores empresas brasileiras da região de forma pouco transparente. 10

A sociedade civil protestou contra a falta de transparência e de normas sociais e ambientais do BNDES, e contra a aplicação insuficiente dessas normas por parte dos bancos multilaterais de desenvolvimento. Os Bancos funcionam de forma altamente integrada. Recentemente, 31 grupos da sociedade civil de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru e Estados Unidos escreveram para o Banco Mundial solicitando a suspensão de um desembolso de US$1,3 bilhões em favor do BNDES, no âmbito do Empréstimo para a Política de Desenvolvimento de Gestão Ambiental Sustentável. Entre outras coisas, a carta suscita sérias questões com relação à grave falta de transparência e à participação da sociedade civil na elaboração e implementação do empréstimo11.

10 http://www.economist.com/node/1674899011 http://www.bicusa.org/en/Article.12320.aspx

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México, Argentina e Brasil: Requisitos para Ingressar no Clube do G20Por Nancy Alexander

Para fazer parte do “clube” do G20, México, Argentina e Brasil, assim como outros países do G20, devem assumir compromissos de políticas, que são monitorados pelo FMI. Também devem assumir responsabilidades com vistas à promoção do desenvolvimento internacional.

1.Políticas de Comércio e Investimentos. Em cada Reunião de Cúpula, as políticas relativas ao comércio e aos investimentos de cada país do G20 são analisadas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a fim de desestimular o protecionismo.

O Quarto Relatório sobre Medidas de Investimentos do G20, de outubro de 2010, observa, por exemplo, que o Brasil adotou duas medidas relativas aos investimentos: 1) reintegração das restrições sobre propriedade rural para estrangeiros, e 2) redução dos fluxos de capitais voláteis, dobrando os impostos que incidem sobre investimentos feitos por não residentes em títulos de renda fixa para 4%. Tais medidas são consideradas “protecionistas”. Para surpresa de muita gente, as políticas nacionais aplicáveis à propriedade de terra e ao controle de capital estão no âmbito das medidas relativas a “comércio e investimentos”, e às vezes são regidas por acordos de comércio e investimentos.

O relatório acompanha também o número cumulativo de acordos de investimento de cada país, mas nem todos foram transformados em lei.

Tratados de Investimentos Bilaterais (BITs)

Outros Tratados de Investimentos Internacionais

Total

Argentina 58 16 74Brasil 14 16 38

México 28 16 44

2. Medidas Financeiras, Fiscais, Estruturais e Monetárias. Cada país membro do G20 assume compromissos sobre políticas (por ex., fiscais, financeiras, estruturais, e taxas monetárias e cambiais), que são incluídos na Estrutura para um Crescimento Forte, Sustentável e Equilibrado do G20. Coletivamente, tais compromissos pretendem promover a recuperação e o reequilíbrio econômico. O G20 encarregou o FMI de monitorar o desempenho de cada país no que diz respeito a esses compromissos.

O documento do FMI que monitora o desempenho dos países é denominado “Processo de Avaliação Mútua” (MAP). Alguns países ignoram os conselhos do FMI, porém em outros casos esses conselhos podem exercer alguma influência.

No MAP de novembro de 2010, (www.imf.org/external/np/g20/pdf/111210.pdf), o FMI emitiu um parecer particularmente negativo sobre os parcos progressos alcançados sobre

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políticas estruturais, que algumas pessoas acreditam que possam reforçar o diferencial competitivo das economias do G20. As políticas estruturais incluem: reforma de direitos, investimentos em infraestrutura, desregulamentação e privatização nos mercados de produtos e serviços, e flexibilidade de mão de obra.

Excertos do Plano de Crescimento Forte, Sustentável e Equilibrado Texto completo:http://www.gmfus.org/galleries/default-file/Seoul_Commitments_Chart.pdf

Argentina Brasil México· Aumentar as verbas do orçamento referentes a investimento em educação · Aumentar o número de empregos formais e promover a criação de empregos, em particular de jovens trabalhadores, e também de empregos nas PMEs, principalmente através de incentivos financeiros.

· Plano de energia para aumentar a produção nacional de energia, utilizando principalmente fontes renováveis, e para melhorar os canais de distribuição.· Desenvolvimento da infraestrutura de transportes para reduzir seus custos e promover o comércio com países vizinhos. · Medidas destinadas a promover a inovação e aprimorar a infraestrutura tecnológica. · Reforçar as redes de segurança social através de medidas voltadas para famílias e pensionistas de baixa renda.

· A estratégia de desenvolvimento em curso baseia-se no conceito de integração de crescimento econômico e redução das desigualdades sociais.· Estão sendo adotadas medidas para promover a inclusão social, pesquisa e inovação tecnológica, educação, moradia e infraestrutura.- Manutenção e expansão de programas de assistência social, como o Bolsa Família e a Lei Orgânica de Assistência Social e Renda Mensal Vitalícia. - Mais iniciativas visando inovações em pesquisa e tecnologia. - Reforçar programas para a educação.- Aperfeiçoar o clima de investimentos.· O Brasil obteve os investimentos necessários em infraestrutura para atingir um crescimento econômico forte, sustentável e equilibrado. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) foi dividido em seis principais áreas de investimento: (i) PAC Minha Casa, Minha Vida - US$ 19,4 bilhões; (ii) PAC Melhor Cidade; (iii) PAC Comunidade Cidadã;( iv) PAC Água e Eletricidade para Todos; (v) PAC Transportes; e (vi) PAC Energia. O Governo aumentou a verba do programa em 45,5%, chegando a US$ 545,71 bilhões para o período de 2011-2014, e US$ 360,8 bilhões para o período de

O governo do México apresentou recentemente uma série de iniciativas destinadas a aumentar o potencial de crescimento econômico, principalmente com medidas destinadas aos mercados de mão de obra e produtos, juntamente com maior abertura do comércio e um programa para reduzir a carga regulatória sobre a economia.Os investimentos públicos em infraestrutura também aumentaram substancialmente.

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2011-2014, e US$ 360,8 bilhões após 2014, totalizando US$ 906,51 bilhões. · Investimentos de US$ 36,5 bilhões para preparar o Brasil para a Copa das Confederações de 2013, para a Copa do Mundo da FIFA de 2014, e para os Jogos Olímpicos de 2016.

3. Infraestrutura O Banco Mundial monitora os planos de infraestrutura dos nove países de mercado emergente que fazem parte do G20. Por exemplo, na Reunião de Cúpula de Seul, o Banco Mundial elaborou este estudo, que inclui os planos de infraestrutura em um anexo: Growth and Development in Emerging Markets and Other Developing Countries.

Este documento descreve os planos de infraestrutura para Argentina, Brasil e México como abaixo:

Argentina Brasil MéxicoAumento dos investimentos em infraestrutura pública de 1% do PIB (anos 1990) para 3,1% hoje. -Foco no setor de Energia, incluindo investimentos em eletricidade, gás, energia hídrica e nuclear. -Lançamento do Programa Nacional de Uso Racional e Eficiente de Energia. Transporte: Estradas regionais em várias províncias mais pobres; transporte urbano em Buenos Aires.

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e 2). - O PAC 1 de US$375 bilhões e 46 % foi concluído em maio de 2010. -Seis principais áreas de investimento, incluindo melhorias urbanas, moradia, transporte, energia e água. - Os investimentos em energia, moradia e transporte respondem por 95% do valor total do PAC 2. -Eventos Esportivos: Copa do Mundo/Copa das Confederações (US$ 21,7 bilhões); Olimpíadas (US$ 14,9 bilhões.

-Investimentos em infraestrutura atualmente de 5% do PIB, maior do que a média de 3,5% nos países da OCDE. - Aumento de 40% no índice de investimentos/PIB durante os 3 primeiros anos da atual administração, em comparação com a média de 2000-2006. -Investimentos federais em estradas: aumento de quase 100% em relação ao valor de 2006; investimentos em recursos hídricos, mais de 60%. -Maiores investimentos a serem complementados por uma série de reformas jurídicas (no Congresso), inclusive uma lei sobre PPPs.

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Por fim, os membros do G20 assumem responsabilidades específicas com relação à promoção do desenvolvimento, em particular entre os países de baixa renda.

Responsabilidades relativas ao Plano de Ação Multianual para o Desenvolvimento (DAP). Na Reunião de Cúpula de novembro de 2010, o G20 adotou o DAP a fim de auxiliar países de baixa renda. A Argentina, Brasil e México assumiram as seguintes responsabilidades para a implementação do Plano.

País Colaboradores Assunto MissãoArgentina UE, Reino

UnidoComércio a) Acesso ao Mercado Duty-Free Quota-

Free (DF/QF) ; b) Facilitação do Comércio; c) Finanças Comerciais ; d) Integração do Comércio Regional

Brasil França, Canadá, Japão

Segurança a)Aprimorar a coerência e a coordenação das políticas reforçando os sistemas de pesquisa agrícola; reforçar a responsabilidade. b)Atenuar os riscos de volatilidade dos preços, e reforçar a proteção aos mais vulneráveis, reduzindo/gerenciando a volatilidade; nutrição/acesso a provisões humanitárias; e promover investimentos agrícolas responsáveis.

México Coreia Intercâmbio de Conhecimentos

Aumentar a escala, incluindo a transferência de conhecimentos no eixo Sul-Sul

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