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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MUSICAIS Ao Alto! Estudo etnomusicológico sobre o Grupo de Bombos de Lavacolhos ALUNO: Carla Santos DOCENTE: Drª. Susana Sardo DISCIPLINA : Etnomusicologia: Pesquisa de Campo Set. 97

O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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Pesquisa de campo no âmbito da licenciatura em Ciências Musicais, disciplina de Etnomusicologia, na Universidade Nova de Lisboa F.C.S.H.

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Page 1: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MUSICAIS

Ao Alto!

Estudo etnomusicológico sobre o Grupo de Bombos de

Lavacolhos

ALUNO: Carla Santos

DOCENTE: Drª. Susana Sardo

DISCIPLINA : Etnomusicologia: Pesquisa de Campo

Set. 97

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Agradecimentos

A realização deste trabalho só foi possível através da colaboração de

várias pessoas, que amavelmente se disponibilizaram para ajudar.

Agradeço ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Lavacolhos,

entidade a quem pertence actualmente a administração do grupo, que me

forneceu o contacto de pessoas ligadas a este, quer directa quer indirectamente.

Ao Dr. Agostinho Janeira, secretário da Junta de Freguesia, que me

cedeu todo o material recolhido por ele sobre o grupo de bombos, fornecendo-

me alguns dos dados e contactos que levaram à pesquisa efectuada.

Ao Sr. Joaquim Simão, tocador de bombo e construtor de caixas e

bombos, que demonstrou as fases de construção de um bombo, tendo para isso

que desmontar um bombo em fase de construção para depois o montar

novamente.

Ao Sr. Abilio Guerra, tocador de pífaro, que me falou sobre questões

relacionadas com o instrumento que toca e fez algumas demonstrações.

Ao Sr. António Vasco Garcia, tocador de caixa, que me da sua

experiência como tocador deste instrumento.

Ao Sr. Joaquim Real, antigo tocador de bombo, pela simpatia com que

me recebeu, mostrando interesse em recordar os velhos tempos em que

participava no grupo ao tocar bombo.

Page 3: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

3

A todos os outros membros do grupo que participam ou nele

participaram, em particular: Paulo Gonçalves Gama, Pedro Miguel Agulha,

Pedro Miguel Gravito Garcia, Luis Filipe Barroca Simão, Fernando Miguel

Borges Barroca, David Gonçalves Gravito e António Agulha, que

simpaticamente aderiram colaborar neste projecto.

Aos moradores de Lavacolhos em geral, que tão bem me acolheram e

com tão boa vontade colaboraram por forma a que a realização deste trabalho

fosse possível.

Ao serviço cartográfico do Fundão que me cedeu gratuitamente as cartas

de Lavacolhos e do Fundão.

Ao Jornal do Fundão pela possibilidade de consulta dos jornais mais

recentes e cedencia de alguns dos números gratuitamente.

Ao Sr. Dr. Luis de Vasconcelos do Museu de Etnologia pela

possibilidade que me cedeu de observar os bombos e caixas de Lavacolhos que,

ao que parece, são os mais antigos que existem.

Ao Sr. Dr. Carlos Maduro do Museu Verdades de Faria em Cascais, que

me permitiu o acesso aos registos sonóros da R.T.P. feitos por Giacometti onde

participava o G.B.L.

Ao Elso, que me acompanhou em várias incursões ao terreno, e foi

responsável pela fotografia e algumas das imagens video.

À Srª. Drª Susana Sardo, orientadora deste projecto, que me deu um

grande apoio ao longo de todo o trabalho, sem o qual teria sido impossível a

concretização do mesmo.

Page 4: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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Indice

Introdução........................................................................................................ 5

1 - Problemática............................................................................................... 8

1.1. Objectivos...............................................................................................10

1.2. Metodologia............................................................................................11

1.2.1. Técnicas usadas.............................................................................11

1.2.2. Método aplicado e enquadramento teórico................................. 12

2 - Caracterização do espaço de inserção do grupo de Bombos de

Lavacolhos................................................................................................... 14

2.1. Localização de Lavacolhos............................................................. 14

2.2. O aglomerado populacional............................................................ 16

3 - Caracterização da unidade de observação................................................... 19

3.1. A função social............................................................................... 19

3.2. A administração do grupo................................................................24

3.3. Os instrumentos: materiais e formas de construção........................25

3.3.1.O bombo................................................................................ 27

3.3.2. A caixa.................................................................................. 33

3.3.3. O pífaro................................................................................. 36

3.4. O repertório..................................................................................... 38

4 - Aspectos da masculinidade no G.B.L.......................................................... 51

5 - Conclusão..................................................................................................... 57

6 - Glossário...................................................................................................... 60

Bibliografia.................................................................................................. 63

Anexos

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Introdução

O estudo etnomusicológico sobre o Grupo de Bombos de Lavacolhos

( G.B.L. ) que segue, integra-se no âmbito da disciplina de “Etnomusicologia:

pesquisa de campo”, do Departamento de Ciências Musicais da Universidade

Nova de Lisboa, inserindo-se a escolha do trabalho num dos domínios de

estudo propostos: Os Zés P’reiras.

Em minha opinião, a “Etnomusicologia” é uma das disciplina com mais

interesse no Curso de Ciências Musicais. Esta é uma posição muito pessoal e

que pode não estar de acordo com a opinião generalizada dos alunos que

frequentam este curso, no entanto, esta é a disciplina que abrange uma maior

área de estudo, não se sujeitando de modo algum, aos condicionalismos

impostos pelo conservadorismo de alguns musicólogos elitistas, que continuam

a argumentar que só existe um género musical digno de estudo: a música

erudita.

No ano passado, no decurso de uma aula sobre a música no contexto

português, a Dr.ª. Susana Sardo sugeriu aos alunos, de entre os quais também

eu estava incluída, uma “excursão” etnomusicológica. Na sequência desta

conversa foram sugeridos vários locais pela docente, entre os quais Lavacolhos.

Ao ouvir este nome nenhum dos alunos acusou desconhecer a localidade em

causa, mas na verdade, penso que nenhum daqueles sabia onde se situava esta

povoação. Apesar da minha insistência e da Professora, o facto é que esta não

se realizou, e, este ano, perante a oportunidade que surgiu, decidi levar a cabo

Page 6: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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um estudo que contemplasse um aspecto particular nesta região, e todo o

interesse em termos etnomusicológicos que o G.B.L. pode suscitar.

Ao recordar o desempenho do G.B.L, no decurso da sua actuação, na

Festa da Nossa Senhora da Boa Viagem na Moita (local onde habito), em

Setembro de 1996, pensei ser interessante trabalhar sobre este grupo. Associado

a esta ideia, está o meu interesse pessoal de conhecer a vida das comunidades

rurais, pela riqueza cultural que lhes está implícita e que por vezes é esquecida,

e de todas as manifestações musicais que lhe estão associadas, motivação que

foi agudizada por esta disciplina.

Este estudo é composto por seis secções. No primeiro ponto surgem os

aspectos teóricos do trabalho, relacionados com a problemática, metodologias e

objectivos. Na problemática afloram-se as questões em estudo, relacionando-se

estas com um problema muito actual que é a questão do gender 1. A

caracterização do espaço no qual o G.B.L se insere, é tratado no ponto dois, o

qual é dividido em duas secções: a localização de Lavacolhos e o aglomerado

populacional. Segue-se a caracterização do G.B.L, subdividida em quatro

secções: a função social, a administração do grupo, os instrumentos usados e o

repertório.

Terminados os aspectos etnográficos do trabalho, surgem agora os

aspectos relacionados com a problemática estudada. Assim, temos no quarto

ponto uma análise sobre aspectos da masculinidade no G.B.L, seguindo-se a

1 Gender é o género ou sexo social, tópico de estudo das ciências sociais e humanas.

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conclusão e o glossário onde existem alguns termos que foram aprofundados ao

longo do trabalho. Termina este estudo com a bibliografia e anexos.

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1 – Problemática

O G.B.L. é um grupo de membranofones que pertence a uma região onde

existem vários grupos similares: o concelho do Fundão. Este grupo é

constituído por três bombos, duas caixas e um pífaro, acompanhados de um

coro, sendo os membros do grupo exclusivamente do sexo masculino. Dizem os

habitantes de Lavacolhos com quem contactei, que o grupo tem cerca de

duzentos ou trezentos anos e que é o mais antigo da região. Em tempos mais

remotos, o grupo era administrado por uma organização de solteiros. Hoje em

dia, perante a impossibilidade de constituir este género de organização, a

administração pertence à Junta de Freguesia. O único repertório usado no

desempenho2 é a Moda do Bombo, que um coro acompanha com as cantigas

dos bombos enquanto os instrumentos produzem o tímbre que lhes foi

conferido. No bombo, principal instrumento do grupo, é usada uma técnica que,

segundo os tocadores, permite que este se evidencie dos demais da região: o

dobrar. Este é tocado de forma peculiar, pois é quase aos saltos que é atingido

pela masseta, após a elevação do instrumento pela perna do tocador. Esta forma

de desempenho não teria qualquer relevância, se o bombo não tivesse 80 cm de

diâmetro.

A questão da constituição do G.B.L. ser formada só por homens, poderá

estar relacionada com o conceito de virilidade destes, que ao não permitirem a

2 Desempenho é o termo usado actualmente na etnomusicologia para designar o acto de actuar,

executar, participar na prática musical.

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participação das mulheres estão a reclamar exclusividade para si deste

desempenho. O romper da pele do bombo significava, como é de prever, que o

executante tinha que comprar uma pele nova para o instrumento, mas o mais

importante é que, ao que parece, este romper era o símbolo dessa virilidade, e

este era um motivo de orgulho em toda a aldeia.

Hoje em dia já existem algumas mulheres que participam neste tipo de

manifestação, contudo, a sua participação circunscreve-se somente ao espaço da

aldeia, devido à população masculina não permitir a sua participação fora do

mesmo, para algumas das mulheres que não participam, o tocar o bombo é algo

que as importuna.

Será que a participação das mulheres revela que a simbologia que estava

subjacente deixou de ter importância na comunidade? Ou será que isto se deve

exclusivamente à falta de população masculina em virtude da emigração

crescente? Ou à afirmação da mulher na sociedade actual, que começa a colocar

em causa a divisão de tarefas.

O que proponho investigar neste trabalho é o G.B.L. sob o ponto de vista

etnográfico, a importância que o grupo tem na comunidade e o significado que

o gender poderá ter no grupo. Esta investigação foi efectuada através do

contacto directo com a população e com os membros do G.B.L.

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1.1 . Objectivos

O objectivo geral do presente trabalho insere-se no âmbito do estudo das

comunidades rurais, sobre a qual a etnomusicologia se debruça desde a sua

existência.

Especificamente, é objectivo principal perceber a importância do género

no G.B.L., e o significado simbólico presente no acto do desempenho. Para tal

há que:

1- Investigar a função musical do grupo na comunidade em que se

insere, bem como o seu significado no quotidiano da população de Lavacolhos

e no contexto circundante.

2- Fazer uma análise musical e poética do repertório praticado: A Moda

do Bombo, relacionando-a com várias questões levantadas ao longo do trabalho.

3- Verificar quais as condicionantes, se existirem, que colocam em causa

a existência do grupo e os factores que estão na origem da preservação do

mesmo, tendo em conta todos os problemas com que este se debate (a falta de

jovens interessados em fazer parte do grupo, a manufactura de instrumentos, a

população envelhecida, etc.).

4- Verificar o papel da mulher e do homem no G.B.L. e o reflexo da sua

participação no mesmo.

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1.2. - Metodologia

1.2.1. Técnicas usadas

Nos contactos que tive com o secretário da Junta de Freguesia de

Lavacolhos, que é um dos principais responsáveis pelo G.B.L, com os membros

do grupo, e com os vários contactados foi-me permitido gravar entrevistas,

efectuar filmagens e tirar fotografias, tendo sido estes os meios utilizados.

Hoje em dia é impensável a recolha etnomusicológica sem um suporte

audio-visual, e no caso específico deste estudo, certos movimentos do corpo

durante o desempenho são de extrema importância, para a compreensão de todo

o processo. O tocador de bombo avança deslocando alternadamente a perna

esquerda e direita, conservando sempre a esquerda à frente, para suportar o

instrumento, e ao mesmo tempo levantá-lo, e é quase aos saltos que ele atinge o

instrumento. Assim sendo, facilmente se compreende que é através da

visualização deste desempenho e de todo o contexto circundante, que se

apreende de uma forma mais completa o fenómeno sonoro inerente.

A entrevista gravada é muito útil, quando pretendemos inquirir uma ou

um número restrito de pessoas, e constitui uma fonte de informação importante

porque permite obter as respostas às questões levantadas no decurso do

trabalho; como é obvio, este método é viável apenas com um número limitado

de pessoas,e por isso usei-o apenas com os informantes que considerei serem os

mais importantes para o meu trabalho, nomeadamente alguns dos membros do

grupo, os intervenientes na manufactura dos instrumentos e alguns dos

responsáveis pela actual administração do grupo.

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A fotografia possibilita a visão estática de um acontecimento, podendo

também ser objecto de estudo e interpretação, para além de dar uma visão

panorâmica do acontecimento, tendo sido neste sentido que aqui foi utilizada.

1.2.2. Método aplicado e enquadramento teórico

Nas técnicas de pesquisa de campo usadas, optei pelo trabalho de campo

com observação participante, em virtude de ser a melhor forma de pesquisa no

domínio que estudei, tendo em conta que não existe qualquer bibliografia

específica sobre o assunto, com excepção de uma tese de licenciatura realizada

para a Universidade de Sorbone, nos anos 70, mas que está mais vocacionada

para questões relativas à povoação do que especificamente com o grupo de

bombos de Lavacolhos.

O modelo teórico de pesquisa onde melhor se enquadra este estudo, é o

modelo tripartido de Timoth Rice, na medida em que este modelo prevê a

componente histórica e a componente individual, presentes nos objectivos deste

trabalho.

Ao estudar os conceitos há que os relacionar com os comportamentos, e

da relação entre estes surge um terceiro: o som musical. Todas estas

componentes estão integradas numa perspectiva histórica, relacionando-se com

o factor social e com a experiência individual de cada pessoa. A construção

histórica compreeende dois processos: o processo de mudança através da

passagem do tempo e a recriação de formas de ligação com o passado e o

presente. Sendo as variáveis propostas inter-relacionaveis, não podemos

Page 13: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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considerar os fenómenos acima descritos isoladamente sem os interrelacionar,

porque uns dependem dos outros. O modelo adoptado tem assim as seguintes

variáveis em estudo que poderão resumir-se no seguinte esquema:

Som musical

Homem Mulher Comportamento Conceito

Construção Histórica Manutenção social

Neste modelo, homem/mulher fazem parte da experiência individual de

que fala T. Rice no seu modelo teórico de pesquisa. Homem e mulher estão

separados entre sí, contudo existe uma relação de compromisso entre ambos,

que não os pode separar do mesmo contexto. Estão separados pela construção

histórica, pela sociedade, pelos conceitos e comportamentos que foram

prendidos, mas cada um deles depende de cada um desses factores, tendo esses

influência no produto final: o som musical.

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2 - Caracterização do espaço de inserção do Grupo de Bombos de

Lavacolhos

2.1. Localização de Lavacolhos

Lavacolhos é uma aldeia do concelho do Fundão, da qual dista 13

quilómetros. Pertence ao distrito de Castelo Branco (a 50 Km), na provincia da

Beira Baixa, e depende do Bispado da Guarda (60 km), fazendo parte da

Relação juridica de Coimbra. Esta povoação eleva-se numa colina, situada a

500 metros do nível do mar, de onde se avistam as serras da Estrela, da

Gardunha, da Maunça e as aldeias circunvizinhas.

Foto nº 1 - Placa sinalizadora da localidade no sentido Silvares/Lavacolhos.

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A norte, já no vale, e a umas centenas de metros da povoação, encontra-

se a ribeira de Ximassas, chamada Ribeira Grande, que nasce numa nascente

subterrânea na Gardunha e desagua no Zêzere, perto de Silvares.

No outro extremo da ribeira, confinando com a freguesia do Barco,

situa-se o Cabeço da Argemela3, concelho da Covilhã, onde existem alguns

vestígios da civilização árabe, e das minas de estanho, que há muito

paralizaram.

A oeste, no flanco da encosta, estende-se um vale regado pela ribeira

Pequena (de 5 Km de comprimento). Esta ribeira nasce na Pedra Grande, no

sítio das malhadas, contorna a povoação de sul para norte, e desagua na Ribeira

Grande.

Mais para oeste, situa-se o Lugar da Panasqueira, onde se encontra a

mina que fez beneficiar Lavacolhos da ligação de camionetas para o Fundão. A

sul, avista-se a parede verde escura de pinheiros e soutos da Maunça,

prolongamento da Serra da Gardunha.

Na opinião de Gesuíno Martins, natural da aldeia de Lavacolhos, que

conta 88 anos, o nome de Lavacolhos tem origem na época em que os Mouros

se instalaram no Monte da Argemela, onde exploravam estanho, volfrânio e

ouro. Ao que parece, os Mouros desciam à ribeira para lavar os olhos que passa

junto à actual povoação, e assim, Lavar os olhos teria dado origem ao nome de

Lavacolhos.

3 Sobre o monte da Argemela existe uma lenda que incluí no anexo 3

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Não encontrei nenhuma referência sobre a origem etimológica do nome

“Lavacolhos”, existem contudo algumas opiniões sobre esta origem, que passo

a transcrever. A análise feita pelo Sr. Padre Abel Guerra, é baseada na origem

latina e no português arcaico do topónimo-Lavacolhos onde nos surgem

algumas suposições. Em relação à origem latina ele considera no primeiro

elemento duas possibilidades: Levo, elevar, levantar, e Levis, na acepção de

suave, belo, aprazível; e no segundo outras duas: Collum, colo ou pescoço, e

Collis, colina, outeiro, estas teriam passado para o português como Leva Collus,

que terá dado Levacolos, Lavacollos e Lavacolhos. Segundo Abel Guerra, o

sentido está na “terra que levanta cabeça”, o que quadra perfeitamente com a

localização elevada da povoação, ou ainda na “terra das suaves colinas”, porque

o monte sobre o qual fica Lavacolhos divide-se em várias colinas, que são

realmente suaves pela sua constituição geográfica de forma arredondada.

Relativamente à origem do nome segundo o português arcaico, encontramos as

palavras Levar (levantar), Colho (cabeça), e Colle (outeiro), que podem ter

elementos conotativos com significancia idêntica à primeira.

2.3. O aglomerado populacional

A população atinge, de acordo com os dados do recenceamento de 1991,

os 311 residentes, distribuidos por 274 edifícios. Tendo ao longo das últimas

décadas sofrido um esvaziamento populacional, decorrente do fenómeno da

emigração, somente em determinados períodos do ano é que a aldeia conta com

este número de residentes.

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17

Como tantas aldeias do interior, Lavacolhos é por eminência terra de

emigração. A população permanente vive essencialmente da agricultura, dos

serviços locais, ou de serviços prestados na sede do concelho, existindo ainda

uma grande percentagem de reformados.

A comunidade debate-se com o problema das vias de comunicação. A

estrada que dá acesso ao Fundão, tem vindo a degradar-se ao longo dos tempos,

e as obras de restauro nem sequer estão previstas. Este problema afecta muitas

pessoas residentes em Lavacolhos, que têm necessidade de fazer este trajecto

várias vezes por dia.

O descontentamento da população face às necessidades existentes dentro

da comunidade, refletem-se no seu pessimismo. Entre 1994 e 1995 a povoação

beneficiou de saneamento básico. Esta obra de primeira necessidade, já era

esperada há meio século e todo este tempo de espera causou um acentuado

desânimo na população. Muitos outros problemas continuam a subsistir, como é

o caso de espaços de diversão para os jovens, o que provoca o êxodo destes e

da população activa para outras freguesias, a falta de verbas para a continuação

do projecto da escola de música e do grupo coral, entre outros.

Em 1974 surgiu a Associação Recreativa de Lavacolhos, que foi

legalizada em 1978. Esta associação constitui o único espaço de encontro dos

jovens de hoje em dia, que aqui encontram um local de convívio onde podem

conversar, jogar e vêr televisão. Porém este espaço já não satisfaz as

necessidades dos seus frequentadores, que pretendem um espaço mais activo,

que vá ao encontro de novas aspirações.

Page 18: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

18

Segundo os responsáveis por esta associação, além da falta de infra-

estruturas para construir um espaço maior, existe também falta de motivação e

um certo comodismo dos seus frequentadores.

Para salvaguardar o futuro da freguesia, é necessário, segundo os

responsáveis pela Junta de Freguesia, a criação de uma dinâmica que leve à

fixação dos jovens e da população activa.

Foto nº 2 - Casa em pedra, construção típica da região de Lavacolhos, seguida de uma

construção de cimento, que começa a sobrepôr-se às construções antigas de pedra.

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3 - Caracterização da unidade de observação

3.1. A função social

“ Em Lavacolhos, cidadão que se preze ou possui um bombo em casa, ou

sai de imediato para a rua mal ouve os primeiros catrapuns-puns-puns,

esquecendo o mau ano agrícola ao som dos enormes ecos que provocam as

porradas administradas, com ganas de aflito na pele de cabra, esticada nos aros

de lata (...) em lugar de batatas, milho ou carne de porco, exporta alegria na

forma de grupos de Zés Pereiras, sendo possível encontrar os bombos de

Lavacolhos tanto a tocarem para o Presidente da República, em cerimónias de

alguma pompa e circunstância, como em festas populares.”( Medenha, 1988,

30)

O G.B.L. é o cartão de visita da aldeia, e tem funcionado como forma de

a retirar do anonimato. Apesar de os instrumentistas por vezes escassearem,

assim como os construtores de bombos, caixas e pífaro; o entusiasmo dos

jovens, motivado pelo reconhecimento do grupo fora do espaço da aldeia, não

deixa antever o risco da extinção do grupo e com ele a identidade da própria

comunidade.

Actualmente o grupo é constituido por três tocadores de bombo, duas

caixas e um pífaro, acompanhados de um coro. Devido à falta de elementos

nem sempre tem esta constituição, evitando, no entanto, que tal não aconteça

quando actuam no espaço exterior ao seu contexto, procurando sempre

representar o melhor possível a sua freguesia. Como referencía o Jornal do

Fundão, 1935 a constituição deste grupo era um pouco diferente. O seu

Page 20: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

20

instrumentário incluia dois bombos, duas caixas, um pífaro, três ferrinhos e o

coro, hoje em dia os ferrinhos desapareceram e foi adicionado outro bombo.

Segundo pude constatar junto de alguns membros do grupo, as actuações fora

da aldeia são um estímulo para a participação dos jovens, que as encaram como

uma forma de divertimento, possibilitando-lhes um modo de viajar e, por outro

lado, apercebem-se da alegria que causam nas pessoas aquando da sua

passagem.

Na aldeia, o grupo integra as principais festas: a 15 de Janeiro, a festa do

seu patrono Santo Amaro; pelo Pentecostes, a festa do Espírito Santo; a 15 de

Setembro, a romaria a Santa Luzia; e no terceiro Domingo e Segunda feira de

Agosto, o Senhor da Saúde e o mártir São Sebastião, respectivamente. Mas, tal

como foi referido, a actuação do grupo não se circunscreve apenas ao espaço da

aldeia, comtemplando, sempre que solicitado, todo o país de norte a sul.

A criação deste grupo nesta região está relacionada com uma série de

factores. Um destes factores tem a vêr com a área geográfica na qual se insere.

No triângulo da Beira interior que compreende Idanha, Castelo Branco e o

Fundão existe uma forte tradição de membranofones, existindo aqui vários

grupos de bombos. Este factor pode estar relacionado com a prática de

pastorícia existente e com as invasões a que Portugal foi sujeito, invasões essas

que tanto influenciaram os invadidos como os invasores.

Page 21: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

21

A certa altura coexistiram em Lavacolhos dois grupos de bombos. Um

era o grupo da Casa do Povo e o outro era grupo do Ti Pedro4, que foi criado na

sequência de atritos pessoais entre este e os membros do primeiro. Segundo

Abílio Guerra e Agostinho Janeira, as questões que levaram a estas

divergências foi a necessidade que o Ti Pedro tinha de inovar, através da

inclusão de várias frases secundárias e uma série de floriados muito pessoais na

Moda do Bombo, quando tocava pífaro. Do ponto de vista dos mais

conservadores, isto ia contra a tradição e por isso não era aceite pela maioria.

Como dizia este senhor ao Diário de Lisboa em 1978, muitas das cartas que

chegavam para o convidar a tocar nas festas nem sequer chegavam às suas

mãos. Em termos de constituição o grupo da Casa do Povo contava com mais

um bombo que o do Ti Pedro. No entanto, segundo a opinião deste, o facto de

ter um bombo a menos não interferia na qualidade do resultado, pois, passo a

citar: “Apesar de eles poderem fazer mais barulho, não tinham um pífaro nem

um bom tocador como nós (...)”, que se distinguia pelo remate que só ele

conseguia tirar do instrumento ( Medenha, 1988, 30 ).

Em 1978 o Cachet para o grupo era de 12 mil escudos, com as refeições

por conta da festa. Dez anos depois os dois grupos mantinham-se ainda activos,

e posteriormente o grupo do Ti Pedro foi extinto, tendo-se dedicado este senhor

à construção de instrumentos.

O que distingue este grupo dos demais da região, segundo os membros

do grupo, é a técnica usada, e esta técnica consiste no dobrar. O dobrar

4 Uso aqui o diminuitivo de Ti Pedro em substituição de Joaquim Pedro porque este é o nome como foi

Page 22: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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segundo o senhor Joaquim Pedro em entrevista na Rádio Jornal do Fundão, em

1990, o “Ti Pedro” atrás referido, era: “ Agente dá duas pancadas, e depois dá

duas ou três vezes, e depois dobra em três ou quatro vezes rapidamente. Isto

com as duas baquetes, uma num lado, outra no outro, e há grupos de vários

lados que é só com uma mão, e a outra segura no bombo. Nós não, é com a

perna é que levantamos o bombo e tocamos com a mão direita e a mão

esquerda”. A técnica do dobrar é novamente abordada no capítulo referente ao

repertório.

Segundo as informações recolhidas junto dos moradores, a origem do

G.B.L. é bem remota, e deve contar já com cerca de duzentos ou trezentos anos

de existência, contudo não existe documentação que comprove esta afirmação.

Esta, é baseada na recolha de informação junto dos moradores mais antigos,

que contam com cerca de 90 anos, que se recordam que os seus pais começaram

a tocar bombo muito novos, e que na época dos seus avós também já existia

esta prática.

A questão da antiguidade deste grupo e o sentido da linha de influência

entre o G.B.L. e os outros grupos existentes na regiâo é, tendo em conta a

informação disponível, algo difícil de investigar, chegando mesmo a ser

controversa, pelo que se demonstra em seguida: segundo os membros do grupo

e os habitantes de Lavacolhos com quem falei, estes são os bombos mais

antigos da região, e todos os outros que existem na zona foram construidos

posteriormente e à sua imagem; curiosamente, nas vésperas da entrega deste

e é conhecido este senhor na aldeia de Lavacolhos e arredores.

Page 23: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

23

trabalho, no progama do Prof. Dr. José Hermano Saraiva, Horizontes da

memória, dedicado à Cova da Beira, exibido na R.T.P. 2 em 24/8/97, assistiu-se

a uma apresentação de elementos do rancho folclórico de Silvares, que

cantaram Stª Luzia acompanhados por um conjunto instrumental similar ao

grupo de bombos de Lavacolhos e que interpretava a melodia da Moda do

bombo. A melodia do pífaro e o acompanhamento das caixas e bombos era a

mesma que o G.B.L. usa na Moda do Bombo, assim como a coreografia e a

forma do desempenho. Os bombos eram apoiados sobre a perna esquerda e

eram elevados em determinadas ocasiões. Perante isto torna-se difícil

descortinar quem imita quem, porque o grande problema que se coloca nestes

casos é a inexistência de registos mais objectivos.

A Sociedade Portuguesa de Autores, perante toda esta problemática da

autoria na música dita “tradicional”, resolve a questão dando à autoria destes

registos a denominação de “autor anónimo”. Sendo assim, opta-se por acreditar

que nenhuma destas composições pertencem a ninguém e por isso são de todos

ao mesmo tempo, pelo que nenhum grupo pode reivindicar para si a origem

desta técnica.

Giacometti e Lopes Graça, nos anos 70, fizeram recolhas deste grupo e

também de outros grupos da região, como por exemplo o de Silvares, existindo

também nos registos sonoros da R.T.P. um despique entre o grupo de bombos

de Lavacolhos e o grupo de bombos de Souto da Casa; existem também

recolhas anteriores a estas, nomeadamente aquelas que foram feitas por Artur

Page 24: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

24

Santos nos anos 50 e que contemplam entre outros, o grupo de bombos de

Lavacolhos e o de Silvares.

3.2. A administração do grupo

Segundo a tradição, só os solteiros é que podem administrar os bombos,

contudo, devido à falta de população jovem capaz de arranjar uma organização

de solteiros, esta administração foi entregue primeiro à Casa do Povo e depois à

Junta de Freguesia. Antes da administração ter sido entregue à actual entidade,

os instrumentos ficavam na posse dos solteiros que primeiro os conseguiam

agarrar, ou daqueles que eram os últimos a tocar.

Os apoios financeiros de que o grupo dispõe são produto das diversas

actuações que faz pelo país. O cachet divide-se em duas partes: uma para os

elementos do grupo, variável, geralmente proporcional ao equivalente a um dia

de trabalho, cerca de 7 a 8 contos por elemento, e outra parte que vai para um

fundo administrado pela Junta de Freguesia, destinado à manutenção dos

instrumentos ou a qualquer beneficio que a aldeia necessite. Quando as

comissões de Festas não têm possibilidades de pagar o cachet pretendido a

parte lesada é a do fundo da Junta de Freguesia. Muitas vezes o grupo participa

também em intercâmbios, e quando as actuações têm como fim a divulgação do

grupo, este participa gratuitamente.

Page 25: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

25

3.3. Os instrumentos: materiais e formas de construção

Os materiais utilizados na construção dos instrumentos presentes no

desempenho relacionam-se com a principal actividade económica da região: a

pratica da pastorícia, e, provavelmente, sempre foram manufacturados por

artesãos da aldeia. Um destes artesãos foi o Ti Pedro , assim conhecido na

aldeia, que construia instrumentos, não apenas para o G.B.L. como também

para encomendas exteriores, como é o caso de um bombo por ele construido

para a Brigada Victor Jara. Este senhor faleceu em 1990. Actualmente o único

que se dedica a este ofício é o senhor Joaquim Simão, primo do Ti Pedro.

Segundo o Ti Pedro, em entrevista à rádio da Covilhã, em 1989, no

programa Por Terras da Beira e em relatos em jornais com data anterior ao seu

desaparecimento, a manufactura dos instrumentos tinha certas regras de

construção. Assim, bombo e a caixa têm que obedecer a umas certas

proporções, pois só desta forma é que o som está equilibrado. O segredo está na

dimensão da caixa, que deve ser exactamente metade do bombo, quer no seu

diâmetro, quer na largura - como pude constatar, tal facto corresponde à

realidade. A caixa, dizia o Ti Pedro, é a voz da mulher, tem um som mais

agudo, e está afinada em Lá. O bombo é a voz do homem, tem um som mais

grave, e está afinado em Mi.

Os materiais usados também têm o seu segredo. As peles não podem ser

de uma cabra muito gorda. Esta pode durar mais, mas a qualidade do som não é

a pretendida. Assim, a pele deve ser de uma cabra com 7, 8 ou mais anos,

porque as peles das cabras velhas estão mais magras, e o som resultante tem

Page 26: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

26

maior qualidade. A cabra deve também já ter parido, porque assim esta pele tem

mais elasticidade. A pele aconselhada é a de cabra, e nunca a de chibo porque

esta exala um odor desagradável. A afinação do bombo e da caixa é feita

através do aperto dado pelos nós da corda. Esta forma de esticar a pele, segundo

o Ti Pedro, foi estudada em Lavacolhos, e as formas semelhantes que existem,

foram criadas à sua imagem.

Ao indagar junto do actual construtor de bombos e caixas, e de outros

membros do grupo, sobre todas estas questões levantadas pelo antigo construtor

e tocador de pífaro e bombo, verifiquei que estas são menospresadas pelos

mesmos. Não se dá importância à nota que a caixa ou o bombo produzem. A

afinação para obter “um bom som” é conseguida através do aperto da pele, que

necessita estar bem esticada, sem que a altura do som que produz seja muito

importante. A relação que existe entre a caixa e o bombo, tanto nas suas

dimensões como o significado simbólico que o Ti Pedro lhes atribuia e a

selecção na escolha das peles são igualmente desconhecidas. A única exigência

que se mantem é a de que a pele tem que ser de cabra e nunca de chibo, pelas

razões de caracter olfativo atrás apontadas.

Page 27: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

27

Foto nº 3 -. Porta de entrada para a antiga oficina de construção de instrumentos do “Ti

Pedro”. Os bombos deste construtor distinguiam-se por serem amarelos.

3.3.1. O bombo

Fazendo um pequeno enquadramento histórico, podemos verificar que o

uso normal do tambor na Europa não se documenta antes do século XII, os

membranofones surgem-nos descritos já em tratados medievais, como no

manuscrito de Arnault De Zwolle, 1440; em 1511 na Musica Getutscht de

Sebastian Virdung onde encontramos algumas iluminuras de bimembranofones,

Page 28: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

28

assim como no Theatrum instrumentorum do Syntagmatis Musici de Praetorius,

1620.

O uso de membranofones em Portugal é certamente muito antigo, mas o

que se sabe a seu respeio é pouco esclarecedor. Em Espanha, já o Arcipreste de

Hita, no século XIII, menciona os atambores, que com muitos outros

instrumentos saem a receber Don Amor; vários relatos dos séculos XII e XIV

descrevem cerimónias em que o concurso de instrumentos ruidosos - entre os

quais se contam sempre com os tambores - era tal, que , como se diz num deles,

“ parecia que o céu e a terra se vinham abaixo”; no século XIV, Gil Vicente, na

sua lamentação saudosa do Triunfo de Inverno, diz-nos que “só em Barcarena

havia tambor em cada moinho “.

Como se pode vêr por estes relatos, o uso dos membranofones em

Portugal está pouco documentado; em relação aos de Lavacolhos a tarefa é-nos

ainda mais dificultada uma vez que fazendo parte da tradição oral, a

documentação é inexistente, pelo que apenas nos ficam os relatos que ainda

subsistem na memória dos moradores mais antigos.

O bombo, tal como a caixa, pertence à família dos tambores embora

possuam diferentes estruturas morfológicas, sonoras e funcionais. Como diz

Ernesto Veiga de Oliveira “ Os tambores europeus são bimembranofones de

caixa de ressonância cilíndrica de dimensões e proporções variáveis mas

sempre mais ou menos altas, com peles retezadas por corda corredia ou

parafusos passados entre elas, permitindo a graduação da sua tensão, e de

percussão indirecta, pela pancada de um ou dois bastões complementares. Os

Page 29: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

29

tambores portuguses são deste tipo geral, e apresentam-se actualmente sob três

formas principais: bombos, caixas e tamborins ” ( Oliveira, 1966, p.). Os

bombos caracterizam-se pela ausência de bordões, que por isso, sob a pancada

da maceta5, vibram livremente, com uma sonoridade profunda e difusa.

A construção do bombo tem várias fases, que passo a descrever: a pele

de cabra, depois de retirada do animal, é seca, nunca curtida, e, na altura de ser

utilizada na construção do bombo, é posta de molho em água durante cerca de

meia hora. As peles são cortadas em círculo e cosidas a dois arcos de silva, de

preferência flexíveis, com cerca de 2,5 metros de comprimento - noutras

regiões estes arcos de silva são designados por arquilhos - ficando o pêlo da

pele para o lado de fora. Assim, ficam então a fechar cada um dos lados do

fuste de zinco - em Lavacolhos estes são designados por latas, e não são mais

do que aros feitos em metal. As latas, já desde o tempo do Ti Pedro, são feitas

por um latoeiro. Estas são em folha de zinco de 2,5 metros de comprimento,

que ao formar um arco fica com cerca de 80 cm de diâmetro e 32 de altura

adaptando-se assim às dimensões máximas permitidas pela pele de cabra. A

operação seguinte consiste na colocação de aros de madeira de castanheiro ou

mimosa, com dimensões aproximadas de 2,7 m de comprimento e 5 ou 6 cm de

largura. A madeira usada deve ser resistente e de veio corrido, de preferência

que vergue no sentido desse veio. Estes aros de madeira servem para manter as

peles na sua posição, juntamente com uns pequenos ganchos em ferro em forma

5 Vêr glossário.

Page 30: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

30

de “S” com 5 ou 6 cm, que através de uma corda entrelaçada em forma de “Y”,

apertam um aro contra o outro, mantendo assim a pele esticada.

As duas macetas que tocam no bombo são construídas com cabos de

madeira com cerca de 30 cm de comprimento, tendo numa das extremidades

uma cabeça larga feita de cortiça, revestida de pele de cabra com o pêlo voltado

para dentro, amarrada com uma guita. Os bombos transportam-se suspensos a

tiracolo com uma correia, que preferencialmente é um cinto que passa sobre o

ombro direito e sob o braço esquerdo ajustado à medida do executante. Os

bombos são apoiados sobre o joelho esquerdo do tocador, que o levanta a cada

passo.

Etapas na construção de um bombo:

Pele de Cabra cortada á medida

Page 31: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

31

Arcos de silva cosidos à pele

Aros de castanheiro ou mimosa

Pele e Fuste de zinco

Existem no Museu Nacional de Etnologia dois bombos, que ao que

parece são os bombos mais antigos de Lavacolhos de que há memória. O

depósito destes instrumentos data de 1962 e foram adquiridos pela Fundação

Calouste Gulbenkian, tendo sido registados em 1977 no Museu de Etnologia

com o número de colecção 147. No Museu de Arte Popular existe um bombo de

Lavacolhos no qual se lêem as iniciais S.B.L., não existindo qualquer registo

sobre a data ou qualquer outro dado sobre a proveniência deste instrumento. Os

Page 32: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

32

aros de zinco estão pintados de verde, assim como os de castanheiro; Ao lado

encontram-se as duas maçanetas com que o executante tocava.

Foto nº 4 - Bombo pequeno, encomenda do Castelejo, povoação vizinha de Lavacolhos, a

Joaquim Simão.

Page 33: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

33

Foto nº 5 - Actual construtor de instrumentos, Joaquim Simão, tendo à sua esquerda um

bombo com as dimensões dos de Lavacolhos, e à direita um bombo encomendado pelo

Castelejo. Actualmente um bombo dos pequenos custa cerca de 40 a 45 contos, e o grande

cerca de 80 contos.

3.3.2. A caixa

As caixas são feitas pelos construtores dos bombos, já que têm a mesma

técnica de construção e usam os mesmos materais, variando apenas as suas

dimensões. O fuste de zinco tem cerca de 0,44 cm de diâmetro e 0,18 de altura.

Estas são igualmente bimembranofones feitos com pele de cabra, com a

diferença de que esta se encontra com o pêlo virado para dentro, sendo a pele

Page 34: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

34

utilizada, por vezes, a que sobra da pele do bombo que foi rompida. Outro

aspecto que diferencia a caixa do bombo, são os dois bordões que estão sob a

pele e produzem um efeito a que se chama rufar. Os bordões fixam-se a um

registo que gradua a sua tensão e começaram por ser feitos com fios de pele de

tripa, para depois passarem a ser de guita, e actualmente com os bordões das

cordas das guitarras.

A caixa é tocada quase em posição horizontal, ligeiramente inclinada

para a esquerda, com duas baquetas de madeira, cuja extremidade tem forma

arredondada. As baquetas seguram-se de modo firme e solto com o polegar por

cima e o indicador e médio por baixo, batem-se ambas ou alternadamente

segundo a variedade dos rítmos e unicamente sobre a pele superior,

encontrando-se os bordões na pele inferior. O rufo das caixas que fazem parte

da colecção do Museu de Etnologia e do Museu de Arte Popular em Lisboa é

feito de guita. No Museu de Etnologia existem duas caixas com data de 1962,

adquiridas pela Fundação Calouste Gulbenkian, registadas no museu de

Etnologia em 1977 sob o número 152. No Museu de Arte Popular existe uma

caixa de Lavacolhos, da qual não existe referência à data da sua chegada. Tal

como o bombo, a caixa tem o aro de metal pintado de verde.

Page 35: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

35

Foto nº 6 -Três bombos e duas caixas que pertencem actualmente ao grupo de bombos de

Lavacolhos. Esta foto foi tirada na sede da junta de Freguesia, entidade a quem pertence a

administração dos bombos.

Page 36: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

36

3.3.3. O pífaro

O pífaro é o termo usado em Lavacolhos para designar uma flauta

transversal sem chaves, que faz parte da família dos aerofones. Este género de

flauta travessa constitui em algumas zonas um passatempo individual dos

pastores. Existe em várias regiões do país, variando o material de que é feita

conforme a região da sua proveniência. No Minho, Estremadura e Algarve é

geralmente feita de cana; na Beira Baixa é feita de sabugueiro e ferro. Os

pífaros de Lavacolhos já foram feitos de sabugueiro ou mesmo de cana,

actualmente o pífaro é feito de metal, não tem qualquer tipo de ornamentação e

está pintado com uma tinta de esmalte côr de cobre.

O pífaro toca-se com as duas mãos e fica virado para o lado direito do

tocador. A mão esquerda é a que está mais próxima da boca e para o lado de

dentro, a direita mais para a ponta e para o lado de fora; os dedos polegares e

mínimos não se usam: os polegares seguram o instrumento por baixo, e os

mínimos ficam no ar. A extremidade perto do insuflador é igualmente cilíndrica

e tem um diâmetro maior que o resto do corpo do instrumento. Nesse extremo,

uma rolha entre o insuflador e o topo permite regular a afinação do instrumento.

A distância entre o insuflador e o primeiro furo deve ser igual à distância entre

este e o último; os demais são fixados por bitola. O comprimento deste

instrumento é de cerca de 45 cm e o diâmetro anda próximo dos 20 mm. Além

do insuflador, no qual o pifareiro ao soprar produz uma coluna de ar,

Page 37: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

37

produzindo uma série de remoinhos que colocam em vibração o ar contido no

tubo, existem seis perfurações redondas, que permitem a obtenção de diferentes

alturas sonoras. A distância entre as perfurações do actual pífaro de metal de

Lavacolhos não são simétricas, contudo, isso não intrefere de forma negativa na

sua afinação. O âmbito natural deste pífaro é de uma oitava diatónica, mas os

bons tocadores, graduando a insuflação, conseguem dar outra oitava mais

aguda. A melodia do pífaro é bem aguda e sobrepõe-se ao poderoso troar dos

bombos.

Segundo um dos actuais tocadores, Abilio Guerra, os pífaros de madeira

continuam a ser bons, só que é difícil encontrar um que tenha a afinação

correcta, daí que o seu instrumento preferido seja o de ferro, mas desconhece

qual a sua proveniência. Segundo Abilio Guerra, o pífaro em que toca não tem

uma afinação específica, pois por um lado tal revela-se desnecessário uma vez

que apenas existe um único pífaro no grupo, e, por outro lado, a sua extensão é

suficiente, dado que a Moda do Bombo só tem um âmbito de oitava.

Page 38: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

38

3.4. O repertório

O repertório do G.B.L. é constituido apenas pela Moda do Bombo.

Abílio Guerra refere que “A moda do bombo é a melodia do pífaro (...), os

versos que se cantam não têm propriamente nenhum nome (...), são as cantigas

dos bombos.” ( Entrevista a Abílio Guerra 27/3/97 ). Deste modo, é apenas a

música propriamente dita, que se designa como a moda do bombo. Os versos

cantados que a acompanham são apelidados como as cantigas dos bombos. É

curioso verificar que, de certa forma, existe uma separação entre a música e a

poesia no repertório do G.B.L.. Aparentemente, com base na entrevista a Abílio

Guerra, essas cantigas, isto é, os versos, são colocadas de forma arbitrária. A

separação que existe entre as várias partes que compõe o desempenho - música

e poesia - manifesta-se no facto de os cantadores começarem a cantar sem uma

entrada préviamente estabelecida. No entanto, esta influencia aquela, na medida

em que o final de cada estrofe condiciona o dobrar dos bombos e a melodia do

pífaro. Sendo assim, sempre que termina uma estrofe os bombos dobram, o

mesmo acontece sempre que termina a frase musical do pífaro. Por outro lado,

quando a estrofe termina, também esta influencía a melodia do pífaro e

consequentemente, o dobrar.

Todavia, existem algumas ocasiões em que o G.B.L. não dispõe de vozes

- por exemplo quando faltam cantores, pois os tocadores de bombo não podem

cantar devido ao esforço requerido pelo instrumento que tocam - sendo nestes

casos somente o pífaro que condiciona o dobrar dos bombos.

Page 39: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

39

Transcrição dos versos cantados durante o desempenho, declamados por

Joaquim Simão e Gesuíno Martins.:

As cantigas dos Bombos

Ó alto, ó alto Ó alto, ó alto

Quanto mais acima maior é o salto

Refrão Ó larilolela.

Ó alto, ó alto

Eu quero, eu queria.

Eu quero, eu queria

Dormir uma noite

contigo, ó Maria

Refrão Ó larilolela.

Eu quero, eu queria.

Ó alto piu, piu.

Ó alto piu, piu.

Passarinho novo

das mãos me fugiu.

Refrão Ó larilolela.

Ó alto piu, piu.

Eu quero-te tanto.

Eu quero-te tanto

como a flôr da Murta

criada no campo.

Refrão Ó larilolela.

Eu quero-te tanto.

Senhora Maria.

Senhora Maria

Lá na sua cama

muita pulga havia

Refrão Ó larilolela.

Senhora Maria.

Page 40: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

40

Ó chula de Braga.

Ó chula de Braga

bebeste o vinho,

quebraste a malga

Refrão Ó larilolela.

Ó chula de Braga

Eu bem te dizia.

Eu bem te dizia.

Se tu não me amasses

eu logo morria.

Refrão Ó larilolela.

Eu bem te dizia.

Ó alto penedo.

Ó alto penedo.

Menina tão nova

casada tão cedo

Refrão Ó larilolela.

Ó alto penedo.

Ó Ana vem vêr.

Ó Ana vem vêr

o fogo no mar

os peixes a arder.

Refrão Ó larilolela.

Ó Ana vem vêr.

Ó Ana, tu queres.

Ó Ana, tu queres

que morram os homens

fiquem as mulheres.

Refrão Ó larilolela.

Ó Ana tu queres.

Ó Ana, ó Ana.

Ó Ana ,ó Ana.

Muita cara linda.

muita gente engana.

Refrão Ó larilolela.

Ó Ana, ó Ana.

Page 41: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

41

Senhora Maria.

Senhora Maria,

o seu galo canta,

o meu assobia.

Refrão Ó larilolela.

Senhora Maria.

Ó chula, chuleta.

Ó chula, chuleta

Dá-me cá a chave

da minha gaveta.

Refrão Ó larilolela.

Ó chula, chuleta.

Ó chula, chulão.

Ó chula, chulão

Dá-me cá a chave

do meu gavetão.

Refrão Ó larilolela.

Ó chula, chulão.

Quanto á análise poética verifica-se a existência de estâncias pares,

constituídas por sextilhas, onde predominam os versos de cinco sílabas, com a

tónica na sílaba grave e aguda. Estas sextilhas podem ser subdivididas em

quatro versos mais dois, sendo os dois últimos o refrão de cada estrófe.

A rima, por vezes consoante (Ex. 1ª sextilha: alto/salto), tem uma

estrutura inalterável ao longo de todas as sextilhas. Temos assim: os dois

primeiros versos e o último são iguais e rimam com o quarto, e o terceiro e

quinto não obedecem a qualquer tipo de rima, podendo assim ser considerados

versos soltos. Um dos recursos estílisticos usados frequentemente é a anáfora6

A exemplificar temos o seguinte verso: “Ó alto,ó alto...”.

6 Repetição de uma palavra ou expressão para fazer sobresair o que se repete, ou seja, utiliza-se a

insistência para dar mais ênfase à ideia que se pretende transmitir.

Page 42: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

42

Os versos da primeira estrofe podem ter múltiplas interpretações. Tanto

podem traduzir a forma de tocar o bombo, na qual o instrumentista o eleva com

a perna; como pode ser uma metáfora à localização geográfica de Lavacolhos.

Apesar destas terem sido recitadas por esta ordem, não existe uma ordem

específica a ser seguida, pois tal como foi referido, os versos são cantados de

forma aleatória. Muitas sextilhas evocam a mulher de forma explícita ( a 2ª, da

4 à 12ª ) e outras através de metáforas ( 3ª ). O tom que denotam algumas

estrofes é irónico ( “Senhora Maria, Lá na sua cama muita pulga havia.),

transmitindo o carácter de divertimento presente no desempenho.

Terminada a análise poética segue a análise musical, cujos instrumentos

são tratados independentemente. A escolha desta forma de análise prende-se

com o facto de, apesar de todos fazerem parte de um mesmo todo, têm uma

certa autonomia. Outra das razões que motivou a análise em separado de cada

instrumento, foi o caracter expontâneo desta música, provocando certas

alterações durante o desempenho.

A transcrição musical da voz, fi-la com algumas reservas, pois certos

intervalos não correspondem exatamente ao meio tom vulgar presente nos

instrumentos de afinação fixa e na escrita musical ocidental. A transcrição

seguinte aproxima-se do original, mas deve ser tido em conta o que foi dito

anteriormente. A tonalidade aqui usada pode corresponder em certos momentos

ao original, mas em outros pode estar longe da realidade, porque, como a

entrada da voz é feita de forma aleatória, a altura sonóra de referência que os

Page 43: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

43

cantores têm - e que possivelmente é feita através da melodia do pífaro - nem

sempre é a mesma.

O âmbito geral é de oitava, atingindo o registo mais agudo no segundo e

terceiros compassos, e o mais grave no quarto e últimos compassos. A linha

melódica do primeiro verso acompanha a ideia de subida implícita no primeiro

verso do poema. Melodicamente o intervalo predominante é a terceira,

finalizando a melodia com um intervalo de segunda, à semelhança da melodia

tocada pelo pífaro. O rítmo, baseado na colcheia e semicolcheia, apresenta-se

com duas formas: duas semicolcheias seguidas de uma colcheia, ou uma

colcheia seguida de duas semicolcheias.

A transcrição que segue é a frase principal da Moda do bombo tocada no

pífaro, e foi realizada a partir de uma demonstração feita por Abílio Guerra. As

outras frases tocadas por este instrumento são as frases secundárias, que

intercalam com esta durante o desempenho, não sendo aqui transcritas porque

são apenas variações modificadas desta.

De divisão binária simples7, a Moda do bombo tem um âmbito geral de

uma oitava. O intervalo de quarta domina o âmbito dos três primeiros

compassos, sendo este alargado para uma quinta nos três compassos que

Page 44: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

44

seguem. Nos compassos seguintes ( 7, 8 e 9 ) o âmbito é alargado à oitava,

sendo aqui que se atinge o registo mais grave da melodia, terminando a frase no

quarto gráu da tónica. Do ponto de vista melódico predominam os gráus

conjuntos e o intervalo de terceira. Rítmicamente existe uma grande variedade

de rítmos, onde a colcheia aparece subdividida de três formas: quatro fusas das

quais a primeira é uma pausa, uma semicolcheia e duas fusas ou uma tercina de

fusas.

Os modelos rítmicos do bombo e da caixa que apresento em seguida,

foram realizados a partir de uma gravação video efectuada no Seixal. Iniciarei

desta forma a apresentação dos instrumentos de percussão, começando pelo

modelo rítmico do bombo.

O rítmo do bombo mantem-se inalterável durante todo o processo

musical. É no movimento das duas colcheias que a perna esquerda eleva o

bombo, seguindo-se depois a semínima com um movimento do bombo para

baixo, representando assim o descarregar da energia exigida pelo esforço da

elevação do instrumento. À mão direita é conferida a marcação do rítmo

principal, ficando confinado à mão esquerda um movimento em contratempo

que ocorre quando o instrumento começa a descer. O exemplo seguinte

representa o dobrar dos bombos em três vezes. Este é o mais frequente ao longo

do desempenho, embora também possa ser em duplo em vez de triplo.

7 Refiro-me ao compasso 2/4.

Page 45: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

45

Como se pode verificar pelo exemplo precedente, o dobrar não é mais do

que o modelo rítmico seguido pelo bombo ao longo de todo o desempenho,

estando aqui as colcheias reduzidas a metade do seu valôr. A coreografia

também é idêntica, pois é nas semicolcheias ( equivalentes às colcheias ) que a

perna esquerda é elevada ao máximo, sendo na semínima que se verifica o

descarregar da tensão e que o bombo vai a baixo.

O próximo exemplo é o modelo rítmico seguido pela caixa. O efeito

produzido por este instrumento é o rufar, que consiste na repetição contínua de

um mesmo rítmo regular. Tocada com ambas as mãos, onde uma segue o rítmo

da outra, a caixa é um instrumento que serve de acompanhamento ao bombo.

Neste caso, e só se considerarmos estes dois instrumentos isolados de todo o

resto, é lícito dizer que o bombo é o instrumento principal, mas se analisarmos

o todo ( pífaro, caixa bombo e voz ), não podemos, em minha opinião, dizer que

o bombo é o instrumento principal, visto que é atrás o pífaro que seguem todos

os outros e é este que tem a melodia que condiciona o dobrar do bombo.

Analisando agora o todo, podemos constatar que existem pontos de

confluência entre todos os instrumentos. Do ponto de vista rítmico, existe um

rítmo comum entre o bombo, a melodia do pífaro e a voz :

A colcheia seguida das duas semicolcheias é uma constante nestes três

instrumentos, surgindo várias vezes sudividida na melodia do pífaro.

Melodicamente, se analisarmos a linha melódica do pífaro e da voz verificamos

Page 46: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

46

que os âmbitos gerais são os mesmos, assim como o intervalo predominante e a

cadência final de cada um deles.

Foto nº7 - Grupo de jovens à saida da Junta de Freguesia prepara os instrumentos para o

desempenho nas Festas do Espírito Santo.

Page 47: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

47

Foto nº 8 - Volta à aldeia pelo grupo dos tocadores

Page 48: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

48

Foto nº 9 - Volta à aldeia pelo grupo dos tocadores

Page 49: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

49

Fotos nº10 e 11 – O grupo no VIII Cantigas do Maio, no seixal.

Page 50: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

50

Fotos nº12 - Grupo de solteiros que fazem parte do grupo, com o traje próprio para actuar.

Page 51: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

51

4 - Aspectos da masculinidade no G.B.L.

Como referi na problemática apresentada, desde os primórdios da sua

existência que este grupo é constituido só por homens, e ao que parece, esta

questão relacionava-se com o facto do desempenho estar ligado à virilidade

destes. Aparentemente, todo o desempenho significava de forma indirecta o

acto sexual. A força com que o bombo era tocado talvez fosse simbolicamente

proporcional à virilidade do homem; daí que a força empregue para tocar o

bombo fosse tanta força que frequentemente a pele rebentava, este era motivo

de orgulho perante toda a aldeia. Possivelmente, o romper a pele do bombo

simbolizava o romper do himen da mulher.

É ainda de salientar, neste contexto, o facto da administração dos

bombos pertencer a uma associação de solteiros, sendo só a eles permitido

agarrar os bombos, onde também pode estar subjacente uma simbologia ligada

à virilidade do homem. Nesta ordem de ideias, poderemos concluir que aos

casados não era permitido agarrar os bombos visto que estes já não tinham

necessidade de dar provas da sua virilidade.

Actualmente existem algumas mulheres que participam neste tipo de

manifestação, contudo, esta circunscreve-se somente ao espaço da aldeia,

devido à população masculina não permitir a sua participação fora do mesmo, e

tem como finalidade o simples divertimento.

As questões levantadas pela problemática do Gender são bastante

polémicas. Pessoalmente preferia que na sociedade actual não se falasse de

Page 52: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

52

homem e mulher, mas de pessoas capazes de desempenhar, ou não, certas

funções, independentemante do seu sexo biológico. O facto é que, quer

queiramos quer não, o sexo biológico tem importância em certas formas de

conduta dos individuos.

As questões do gender são desafiadas por muitos, logo no paradigma

linguístico em que a nossa sociedade tem funcionado. Por exemplo, vejamos

isso em relação aos instrumentos usados por este grupo: “o” bombo é

masculino; “a” caixa é feminino; “o” pífaro é masculino, mas a flauta é

feminino. Quando nos referimos ao conjunto de todos estes instrumentos

usamos o artigo masculino “o” no plural, ou seja “os”. Mais uma vez se impõe

aqui a masculinidade para designar um conjunto que é composto por

masculinos e femininos, a superioridade do masculino impõe-se sempre que é

usada para designar um plural constituido pelo género feminino e masculino.

Tal como a História que foi construida na sua maioria pelos homens, também a

nossa sintaxe gramatical foi elaborada maioritariamente por homens. Se tivesse

sido relatada pelas mulheres certamente seria bem diferente.

Será que a atribuição do plural seria constituída pelo feminino para

designar o plural? Em certos circuitos académicos assistimos à substituição de

“os” por o/a. Em certos idiomas, como por exemplo em em inglês, “the” é um

artigo que é aplicado ao feminino e ao masculino.

O artigo determina à partida o género, esta separação dos géneros pode

estar na origem daquilo que falava o Ti Pedro: a caixa, é a voz da mulher, tem

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um som mais agudo, o bombo é a voz do homem, tem um som mais grave. Esta

pode ser uma razão mas não é a única. O facto da caixa ser mais pequena em

relação ao bombo poderá ser também uma representação da mulher e do

homem.

. O bombo não é visto pelo grupo como um instrumento acompanhador,

mas sim como o instrumento principal. Em minha opinião o bombo acompanha

o pífaro e a voz, sendo estes, pífaro e voz, que condicionam o dobrar, mas

como o bombo é a representação do homem, segundo dizia o Ti Pedro, nunca

poderia ser visto pelos seus executantes como um instrumento meramente

acompanhador, mas sim como o instrumento principal. As suas proporções em

relação à caixa também se adaptam à ideia da superioridade masculina que

pretende ser demonstrada pela força.

Será que o facto da participação de algumas mulheres revela que a

simbologia que estava subjacente deixou de ter importância na comunidade? Os

habitantes de Lavacolhos julgam que não, porque continuam a reivindicar para

si os bombos, e a não permitir que as mulheres façam parte do desempenho,

alegando que aqueles não lhes pertencem, porque este é um espectáculo

exclusivo dos homens.

Para Abilio Guerra a força empregue no toque dos bombos, a violência

fisica que é controlada pelo próprio rítmo, poderá estar na origem de aspectos

da virilidade dos homens, e é a função de descarregar essa força que caracteriza

a masculinidade do G.B.L.. Para tocar bombo é necessário força, violência

física que vai até aos ferimentos nas mãos, o que leva alguns tocadores a

Page 54: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

54

utilizarem protecções nos dedos, adesivos ou uma espécie de dedil. Estes

ferimentos não levam os tocadores a parar, porque eles só param quando

terminam a sua função. As razões que impedem a participação das mulheres no

desempenho do grupo, segundo o Sr. Abilio, relaciona-se com o facto de ser

ponto acente que os bombos são tocados por homens, este é um aspecto

másculo dos bombos, porque são eles que conseguem dar o espectáculo

inerente à função, sendo necessário uma demonstração de força para que o

desempenho seja conseguido.

“Às mulheres não pertencem os bombos, às mulheres pertencem é os

adufes, porque elas não têm a reacção para tocar o bombo” ( Cit. Joaquim

Real). Tentei indagar o sentido dado à palavra reacção, mas o informante não

conseguiu explicar-me o sentido. Para ele este termo tinha uma aplicação muito

óbvia e por isso não conseguiu traduzila de outra forma. Esta “reacção” que as

mulheres não têm, poderá ser algo de adquirido pelos homens ao longo de

gerações e estar de alguma forma relacionado com a dominação do macho pela

fêmea.

Estará a participação ocasional da mulher relacionada exclusivamente

com a falta de população masculina em virtude da emigração crescente? Esta

não me parece ser a razão principal porque existe da parte da população

masculina mais jovem um certo empenhamento na proliferação do grupo, como

tive ocasião de verificar, nomeadamente em Maio de 1997, nas festas do

Espírito Santo, onde um grupo de jovens constituído exclusivamente por

rapazes, participavam no desempenho. Devido à impossibilidade da presença

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55

do actual tocador de pífaro e dos membros mais velhos que constituem o grupo,

os rapazes não tiveram medo da chuva que se fazia sentir, e na primeira

oportunidade saíram para a rua. O pifareiro foi substituido por um jovem com

cerca de 14 anos, que apesar de ainda ter muito que aprender, segundo me dizia

o sr. Presidente da Junta de Freguesia, conseguiu adaptar-se ao grupo. As

raparigas da aldeia limitavam-se a assistir ao espectáculo sem que nele

participassem, tendo a posição de simples espectadoras.

A população continua a querer manter a “tradição” porque pensa que

assim consegue manter o prestígio que lhe foi conferido ao longo do tempo e

qualquer mudança é uma ameaça a ser combatida.

Será que a afirmação da mulher na sociedade actual começa a colocar

em causa a divisão de tarefas e a masculinidade do homem? A divisão de

tarefas numa aldeia do interior, e até em muitas cidades de Portugal, continua a

estar presente na sociedade. Como refere Vitor Jorge em Recuperar o espanto:

o olhar da antopologia, a masculinidade é construida através de um processo de

socialização primária através de modelos comportamentais e morais fornecidos

pelos pais, quer na escola pela divisão de tarefas e nas próprias interpretações

da história nacional, quer em muitas outras situações. A questão da

masculinidade faz parte de um sistema de relações de poder. A perda de capital

de masculinidade, por exemplo quando o homem se acobarda numa situação de

conflito físico, é uma feminização simbólica; ou quando uma mulher fica viúva,

é uma masculinização simbólica, virtual. É usual dizer-se: ela agora é o homem

e a mulher da casa.

Page 56: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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A restrição imposta às mulheres no desempenho do grupo poderá estar

relacionada com o medo da perda deste capital de masculinidade que foi

incutido aos homens através de modelos construídos pela sociedade, “... sendo

necessário uma demonstração de força para que o desempenho seja

conseguido...” (Abílio Guerra). Esta demonstração de força é a masculinidade

que faz parte de um sistema de relações de poder. É ao homem que compete a

liderança.

Não querendo entrar no campo extremista defendido por algumas

feministas, o meu objectivo não é provar a superioridade ou inferioridade de

qualquer um dos sexos, mas apenas constactar um facto existente.

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5 - Conclusão

Nos anos setenta ocorreram grandes mudanças nas Ciências Sociais e

Humanas. Conceitos como popular, exótico, primitivo, selvagem, tradicional,

entre outros, deixaram de ser válidos. Teoricamente, o desaparecimento destas

designações deixou-os os estudantes completamente desnorteados, sem saberem

que termos aplicar. Surgiram outros tópicos de estudo entre os quais o estudo

do género ou sexo social, que em etnomusicologia é o estudo da música em

função da sua sexualidade, e foi sobre este tópico que eu me debruçei.

O G.B.L. sempre teve, e continua a ter, uma grande importância na

comunidade em que se insere, fomentado pela preocupação da população, de

manter activo este grupo. Este continua a ser o cartão de visita de uma aldeia do

interior, que como tantas outras, tem caído no esquecimento, pelos poucos

atractivos que possui. Para a população mais jovem, este chega mesmo a ser,

eventualmente, a única forma de diversão dentro da aldeia, e por outro lado,

uma forma de ultrapassar os seus limites. O G.B.L. chega mesmo a ser uma

forma de exportação de cultura, que tanto agrada às camadas mais simples

como às intlectuais, podendo actuar tanto para o Presidente da República, como

nas festas mais brejeiras.

Em Lavacolhos pretende-se manter a “tradição”, e tudo o que a possa

colocar em risco é severamente banido. Segundo me foi revelado por Abílio

Guerra e Agostinho Janeira, esta foi uma das razões que aparentemente parece

ter levado aos conflitos entre o “Ti Pedro” ( Joaquim Pedro, construtor e

tocador de bombo, caixa,e pífaro ) e os mais conservadores, quando este

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pretendia inovar a melodia da Moda do Bombo, através da inclusão de várias

frases secundárias na referida melodia, e que iam contra aquilo que os

habitantes consideravam ser o verdadeiro e original.

As questões relativas à originalidade e à veracidade neste tipo de

manifestação constituem polémica porque não existem provas físicas, isto é,

documentos escritos, indicadores da prática anterior. Não querendo com isto

mostrar que a escrita musical é o mais importante, porque mesmo esta é alvo de

críticas por parte dos musicólogos, os quais têm sempre algumas dúvidas se as

formas de interpretação são as desejadas pelos compositores, facto é que elas

são uma fonte importante que permite o estudo das alterações das mentalidades

ocorridas ao longo dos tempos. A vontade dos Lavacolhenses de tentar manter

esta “tradição” parece não ter sido de todo conseguida, porque tanto a

participação das mulheres, mesmo que ocasional e circunscrita a um espaço

reduzido, bem como a administração dos bombos, não conseguiram ser

mantidos

A tradição já não é o que era, é um slogan que se enquadra

perfeitamente na actualidade e é provavelmente testemunho das constantes

mudanças ocorridas nos últimos tempos. Tal como o conceito de tradição foi

reformulado, não tendo sido encontrado até agora um conceito mais apropriado,

muitos outros aspectos da vida considerados imutáveis até agora, se preparam

para entrar neste processo de mutação, a que a manifestação musical não vai,

com toda a certeza, ficar indiferente.

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A música é uma forma de expressão extremamente fluida, que assimila

elementos de diferentes espaços, encontrando-se por isso, em perpétua

mudança. Um aspecto a não esquecer, é o facto de a comunicação entre os

diferentes povos e países ser cada vez maior e de certas características deixarem

de ser típicas em exclusivo a uma dada cultura. A “tradição” não tem um tempo

próprio, assumindo-se como tudo aquilo que através do tempo vai

caracterizando o nosso passado e o nosso presente, e não deve ser conotada em

termos culturais, porque a cultura é um conceito que só pode ser tido em conta

como um conjunto de sistemas integrados, um conjunto de diferentes elementos

constituídos por símbolos, valores e padrões de conduta, através dos quais

vivem as pessoas. Não existe uma cultura, existe sim um conceito relativizado

de cultura através de vários factores.

O simbolismo atribuído aos instrumentos pelo Ti Pedro parece ter

desaparecido. Este, poderá ter sido apenas uma mera interpretação pessoal, mas

facto é que, tanto as relações que ele fazia em relação às proporções da caixa e

do bombo, como às notas produzidas por estes instrumentos, como a selecção

das peles, se aproximam muito da realidade.

O título atribuido a este trabalho, Ao Alto, relaciona-se com o

desempenho daquele que, para os instrumentistas, é o instrumento rei do grupo:

o bombo. É este que dá o nome ao grupo (G.B.L.), e é através da técnica usada

neste instrumento - o dobrar - que o grupo se evidencia dos restantes desta

região. Efectivamente, é no dobrar que o bombo vai mais vezes “ao alto” e é

também aqui que marca o final de cada estrofe cantada.

Page 60: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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6 - Glossário

Couvada - Prato gastronómico constituido por couves afermentadas com

bacalhau, a que noutros locais se chama lagarada. É típico do magusto em

Lavacolhos, e é feito numa festa de convívio associada à quadra natalícia.

Consiste no bacalhau cozido com couve e batatas cozidas, que se juntam num

recipiente a meio da mesa e de onde cada um vai comendo com o seu garfo e o

pão, geralmente acompanhado com a broa. Está associado às zonas onde

proliferaram os lagares, sendo esta uma ocasião onde se podia provar o azeite e

determinar a sua qualidade. A couvada continua a fazer-se em Lavacolhos por

altura do Natal.

Dobrar- Segundo Tomás Borba e Fernando Lopes Graça dizem no seu

dicionário de música, o Dobrar consiste na reprodução por outro instrumento,

ao uníssono ou à oitava, um canto, uma melodia ou uma frase musical. Esta

definição não tem contudo, o mesmo significado em Lavacolhos, onde o

Dobrar faz parte da técnica usada durante o desempenho do grupo, e é ao

mesmo tempo aquilo que, segundo os seus membros, o evidencía e distingue de

todos os outros grupos de bombos. Esta técnica tão distinta, consiste na

repetição muito rápida de um rítmo efectuado com ambas as mãos, que surge

em determinados momentos: sempre que termina uma frase no pífaro, ou

termina um verso cantado. Esta repetição pode ser dupla ou tripla, daí os

executantes dizerem que se dobra a música em duas ou três vezes.

Page 61: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

61

Maceta - Instrumento com que se percute o bombo. Com um cabo de madeira

com cerca de 30 cm de comprimento, tem numa das extremidades uma cabeça

larga arredondada feita de cortiça e revestidade pele de cabra com o pêlo

voltado para dentro.

Piar o pífaro - Fazer soar o pífaro através do ar que é emitido no insuflador.

Este, ao percorrer a coluna de ar, produz vibrações que dão origem ao som.

Pífaro - Flauta travessa que constitui um passatempo individual dos pastores.

Existe em várias regiões do país, variando o material de que é feita conforme a

região da sua proveniência. No Minho, Estremadura e Algarve é geralmente

feita de cana; na Beira Baixa é feita de sabugueiro e ferro. Tem seis furos além

do insuflador.

Joeiras - De joio+eira. Hoje em dia é simplesmente um produto artezanal,

antigamente servia para fazer a limpesa dos legumes secos ( feijão, grão ). Tipo

de peneira, feita de palha e junça, toda cosida à volta com pele de cabra ou de

ovelha. Existe apenas um artesão em Lavacolhos que ainda se dedica a este

tipo de construção, mas que está com idade avançada.

Maranhos - Prato gastronómico da região da Beira Baixa ( Silvares ),

preparado com bucho de carneiro, carne de carneiro, chouriço, touçinho, vinho

branco, hortelã, sal, pimenta e água. Depois de lavado e raspado, o bucho é

Page 62: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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cortado em pedaços com cerca de 10 centimetros, que são cosidos em forma de

sacos. As carnes são cortadas em pedaços muito miudos e misturados com o

arroz. Enchem-se os sacos até meio com a mistura, e coze-se em água com sal e

hortelã. Quandos os sacos apresentarem um aspecto rígido, o prato está pronto.

Page 63: O Grupo de Bombos de Lavacolhos

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