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Ano XXIV Nº 299 julho de 2014 H ardi Filho completou, em 5 de julho deste 2014, seus 80 anos de idade e 50 de poesia e literatura. Poeta e cronista, observador arguto, com o toque do jornalism o que praticou. Mas na crônica não deixa de lado o tempero dos sonhos. Além disto faz crítica literária quando a obra e o instante lhes aprazem. Contamos, sempre com ele, a Academia e a comunidade literária, na organização, ajuda e preparo dos concursos e outros misteres. Tendo em vista o seu valor humano e literário, aAcademia Piauiense de Letras, no último sábado, promoveu a comemoração do seu aniversário, fechando solenemente o semestre acadêmico. Um dia festivo m arcante. E, nesta crônica que prom ete ser longa, relembro algumas coisas tiradas do baú da memória e ligadas à nossa vivência de am igos e poetas, que m arcam o perfil ps icológico e m oral do homenageado. Direi, de início, com o disse na festa acadêmica comemorativa, que Hardi Filho é um exemplo de probidade, generosidade, homem desprendido das coisas materiais e preso aos amigos. Nestes 50 anos de vida e vivência não tivemos sequer uma só “diferença”, na am izade, na camaradagem e no bem-querer, tudo batizado e carimbado desde o dia 5-7-1964, quando me ofereceu seu livro Cinz as e Orvalhos, com autógrafo firm e de quem estava em plena forma. Logo que chegara da Bahia, aqui o encontrei e sua poesia adulta, forte, grandiosa, num estilo simbolista, cujas raízes adivinhávamos estar em Augusto dos Anjos e Celso Pinheiro, grandes mestres,o primeiro mais conhecido, o outro menos. Hardi Filho, em seu começo, é um simbolista equiparado ao que houve de m elhor na literatura brasileira. Acitação dos dois grandes nom es é apenas pra dizer que suas leituras eram das melhores, pois que se começa a conhecer o poeta por seus antecedentes de leitura. Quem lê bem, escreve bem ; quem não lê, nunca virá a escrever – eis a minha glosa ao dito popular. Hardi leu bem e estreou impecavelmente com “Cinzas e Orvalhos”, em 1964. Há algum tempo venho tentando convencer a Academia Piauiense de Letras a incluir “Cinzas e Orvalhos” na lista de suas publicações com emorativas do centenário, a ser comemorado em 2017. Primeiramente, HARDI FILHO, SUA VIDA, NOSSA VIDA E A POESIA Francisco Miguel de Moura Francisco Miguel de Moura é escritor, poeta, membro da Academia Piauiense de Letras e do Circulo Literário Piauiense. Divulgação porque o livro do Hardi Filho é ótimo, ganhou um concurso da Prefeitura Municipal de Teresina e foi julgado pelos acadêmicos João Nonon Fontes de Moura Ibiapina, Júlio Martins Vieira e Mário José Batista com o o prim eiro lugar e m erecedor do prêmio. Segundo, porque está completando 50 anos de publicada a primeira edição e possivelmente jam ais será editado, pelo cálculo que se tem referente a reedições. Terceiro, porque Hardi Filho tem s ido generoso na sua vida com um e na literatura; ele atende a todos que o procuram com prazer e bonomia; recebe todos em sua casa, conversa sabiamente sobre o fazer poético e o amor ao belo. Tudo isto, sem deixar de lado o seu propósito: Não procurar ninguém ,não pedira ninguém , quem quiser que o procure. Diante destas razões, meu apelo à APL, se vingar a idéia de publicação de alguns vivos, é editar Hardi Filho. Antes que me esqueça, reabro o baú da memória e das saudades para acrescentar: Quando morei na Bahia (meus filhos fazendo o curso superior em Salvador e eu a minha pós- graduação em “Crítica de Arte”), meu dilem a era não querer hospedar-me em hotel. Teresina, cidade onde fizera tantas amizades, me ia parecer estranha, quando a ela voltasse por férias ou outro m otivo. Hardi Filho e dona Adélia ofereceram sua residência, com dormida e alimentação da melhor, não apenas a mim e dona Mécia, mas para qualquer dos meus filhos que aqui vies sem . Es te é um exemplo vivo, irrefutável. A no ss a fam ília, o favor tinha o gos to d o p ro vé rb io de que “vinhos e amigos, quanto mais velhos melhores”. Mas sei de tantas outras pessoas por eles recebidas de muito bom grado, mesmo não parentes, não por uns dias ou meses, por muito mais. Não caberia,neste espaço enumera- los e indicá-los pelo nome, se lembrasse. Também sobressaem as viagens domingueiras ao balneário “Roncador”, no Maranhão, onde passávamos o dia com nossos filhos, tomando banho, alm oçando, conversando e tirando fotos. A ida de manhã e a volta à tarde era sempre no mesmo transporte: o velho e saudoso jeep do Hardi. Outras tantas vezes ele nos levou ao Parque Nacional das Sete Cidades, visto que Hardi Filho era funcionário do IBDF, por cuja repartição pública federal aposentou-se. Mas a maioria dos nossos encontros ficou por conta dos movimentos literários, primeiramente do CLIP; depois, da UBE. O velho Círculo Literário Piauiense já completa 50 anos hoje. Ele já existia a partir de 1964, quando nós, os “três mosqueteiros”, por coincidência ou não, armamos a amizade e a luta: Hardi, Chico Miguel e Herculano, já poetas de livros publicados ou procurando fazê-lo. Tarciso Prado é culpado de tudo isto: ele me apresentou ao Hardi Filho e ao Herculano Morais. E continuamos na amizade e no gosto literário de diversas facetas, nas conversas sobre a vida, a literatura, as artes e a filosofia, não obstante os percalços do golpe m ilitar de 1964. Como já foi dito noutras partes, o CLIP não tinha sede e reunia-se inicialmente na casa do Herculano Morais, e muito mais na casa do Hardi Filho e sua esposa, dona Adélia, que patrocinavam a bolacha, o café e o gosto de estarmos em família. O que há de notar-se é que nunca, nestes anos todos, houve “diferenças” na família - toda amiga - nem des avenças entre nós, embora sejamos bastante diferentes em pessoa e na poesia. Finalizo, por falta de espaço para dizer tudo, escolhendo uma frase que o próprio Hardi Filho diz em determinadas ocasiões: “Eu não sirvo de exemplo pra ninguém”. Que humildade, amigo! Você é um exemplo de grande poeta, um dos maiores entre o que estão vivos e produzindo, no Piauí. Exemplo de pai, de esposo e de am igo, meu irmão! Gracias! Hardi Filho

º HARDI FILHO, SUA VIDA, NOSSA VIDA E A POESIA · “diferença”, na amizade, na camaradagem e no bem-querer, tudo batizado e carimbado desde o dia 5-7-1964, quando me ofereceu

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Page 1: º HARDI FILHO, SUA VIDA, NOSSA VIDA E A POESIA · “diferença”, na amizade, na camaradagem e no bem-querer, tudo batizado e carimbado desde o dia 5-7-1964, quando me ofereceu

Ano XXIV Nº 299 julho de 2014

Hardi Filho completou, em 5 de julhodeste 2014, seus 80 anos de idadee 50 de poes ia e literatura. Poeta e

cronista, observador arguto, com o toque dojornalism o que praticou. Mas na crônica não deixade lado o tempero dos sonhos. Além disto fazcrítica literária quando a obra e o instante lhesaprazem. Contamos, sem pre com e le, aAcadem ia e a com unidade li terá ria, naorganização, ajuda e preparo dos concursos eoutros misteres. Tendo em vista o seu valorhumano e literário, a Academia Piauiense deLetras , no úl tim o sábado, prom oveu acomemoração do seu aniversário, fechandosolenemente o semestre acadêmico. Um diafes tivo m arcante. E, nesta crônica que prom eteser longa, relembro algumas coisas tiradas dobaú da memória e ligadas à nossa vivência deam igos e poetas, que m arcam o perfil ps icológicoe m oral do homenageado. Direi, de início, com odisse na festa acadêmica comemorativa, queHardi Filho é um exem plo de probidade,generosidade, homem desprendido das coisasmateriais e preso aos amigos. Nestes 50 anosde vida e vivência não tivemos sequer uma só“diferença”, na am izade, na camaradagem e nobem-querer, tudo batizado e carimbado desde odia 5-7-1964, quando me ofereceu seu livroCinzas e Orvalhos, com autógrafo firm e de quemestava em plena forma. Logo que chegara daBahia, aqui o encontrei e s ua poesia adulta, forte,grandiosa, num estilo simbolista, cujas raízesadivinhávamos estar em Augusto dos Anjos eCelso Pinheiro, grandes mestres, o primeiro maisconhecido, o outro menos. Hardi Filho, em seucomeço, é um simbolista equiparado ao quehouve de m elhor na literatura brasileira. A citaçãodos dois grandes nom es é apenas pra dizer quesuas leituras eram das melhores, pois que secom eça a conhecer o poeta por s eusantecedentes de leitura. Quem lê bem, escrevebem ; quem não lê, nunca virá a escrever – eis aminha glosa ao dito popular. Hardi leu bem ees treou impecavelmente com “Cinz as eOrvalhos”, em 1964. Há algum tempo venhotentando convencer a Academia Piauiense deLetras a incluir “Cinzas e Orvalhos” na lis ta desuas publicações com emorativas do centenário,a ser comemorado em 2017. Primeiramente,

HARDI FILHO, SUA VIDA, NOSSA VIDA E A POESIAFrancisco Miguel de Moura

Francisco Miguel de Moura é escritor,poeta, membro da Academia Piauiense deLetras e do Circulo Literário Piauiense.

Div

ulga

çãoporque o livro do Hardi Filho é ó timo, ganhou um

concurso da Prefeitura Municipal de Teresina efoi julgado pelos acadêmicos João Nonon Fontesde Moura Ibiapina, Júlio Martins Vieira e MárioJosé Batis ta com o o prim eiro lugar e m erecedordo prêmio. Segundo, porque es tá completando50 anos de publicada a primeira edição eposs ivelmente jam ais será editado, pelo cálculoque se tem referente a reedições. Terceiro,porque Hardi Filho tem s ido generoso na sua vidacom um e na literatura; ele atende a todos que oprocuram com prazer e bonomia; recebe todosem sua casa, conversa sabiamente sobre ofazer poético e o amor ao belo. Tudo is to, semdeixar de lado o seu propósito: Não procurarninguém , não pedir a ninguém , quem quiser queo procure. Diante destas razões, meu apelo àAPL, se vingar a idéia de publicação de algunsvivos, é editar Hardi Filho.

Antes que me esqueça, reabro o baú damemória e das saudades para acrescentar:Quando m orei na Bahia (m eus filhos fazendo ocurso superior em Salvador e eu a minha pós-graduação em “Crítica de Arte”), meu dilem a eranão querer hospedar-me em hotel. Teresina,cidade onde fizera tantas amizades, me iaparecer estranha, quando a ela voltasse porférias ou outro m otivo. Hardi Filho e dona Adé liaofereceram sua residência, com dormida ealimentação da melhor, não apenas a mim e donaMécia, mas para qualquer dos meus filhos queaqui vies sem . Es te é um exemplo vivo, irrefutável.A noss a fam ília , o favor tinha o gos to do prové rb iode que “vinhos e amigos, quanto mais velhosmelhores”. Mas sei de tantas outras pessoaspor eles recebidas de muito bom grado, m esmonão parentes, não por uns dias ou meses, pormuito mais. Não caberia, neste es paço enumera-los e indicá-los pelo nome, se lembrasse.Também sobressaem as viagens domingueirasao balneário “Roncador”, no Maranhão, ondepassávamos o dia com nossos filhos, tomandobanho, alm oçando, conversando e tirando fotos.A ida de m anhã e a volta à tarde era sem pre nomesmo transporte: o velho e saudoso jeep doHardi. Outras tantas vezes ele nos levou aoParque Nacional das Sete Cidades, visto queHardi Filho era funcionário do IBDF, por cujarepartição pública federal aposentou-se. Mas amaioria dos nossos encontros ficou por contados movimentos literários, primeiramente doCLIP; depois, da UBE. O velho Círculo Literário

Piauiense já completa 50 anos hoje. Ele já existiaa parti r de 1964, quando nós, os “trêsmosqueteiros”, por co incidência ou não,armamos a amizade e a luta: Hardi, Chico Miguele Herculano, já poetas de livros publicados ouprocurando fazê-lo. Tarciso Prado é culpado detudo is to: ele me apresentou ao Hardi Filho e aoHerculano Morais . E continuamos na amizade eno gosto literário de diversas facetas, nasconversas sobre a vida, a literatura, as artes e afilosofia, não obstante os percalços do golpem ilitar de 1964. Com o já foi dito noutras partes ,o CLIP não tinha sede e reunia-se inicialmentena casa do Herculano Morais , e muito mais nacasa do Hardi Filho e sua esposa, dona Adélia,que patrocinavam a bolacha, o café e o gos to deestarmos em fam ília. O que há de notar-se éque nunca, nestes anos todos , houve“diferenças” na fam ília - toda amiga - nemdes avenças entre nós, embora sejamos bastantediferentes em pessoa e na poes ia. Finalizo, porfalta de espaço para dizer tudo, escolhendo umafrase que o próprio Hard i Filho d iz emdeterminadas ocasiões: “Eu não sirvo deexemplo pra ninguém”. Que humildade, amigo!Você é um exemplo de grande poeta, um dosmaiores entre o que estão vivos e produzindo,no Piauí. Exemplo de pai, de espos o e de am igo,meu irmão! Gracias!

Hardi Filho

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Página 2 - julho de 2014

Quando escrevi o romanceO sal da terra, tema queaborda a vida dura e

sofr ida dos taref eiros das salinasdos subúrbios de Fortaleza, hojedesaparecidas , permanecendo asgrandes salinas do Rio Grande doNorte, int itulei o meu trabalho, dif ícilde realizá-lo, de Sal verde, porqueassim chamavam o sal que estavasendo apurado nos cristalizadores.Ou seja: estava verde ainda e nãomaduro para ser recolhido. Tal frutaverde e fruta madura.

A Editora Civiliz ação Brasileira,que o aprovou e lançou, sugeriu queeu mudasse o título, porque Salverde era um tanto poét ico e setratava de tema ás pero e doído. Nãoencontrei outro. O esc ritor LuizToledo Machado, então v ice-presidente da União Bras ileira deEsc ritores, suger iu-me o t ítulo umtanto bíblico de O sal da ter ra .A ceitei-o porque eu não saí daenrascada e o verde me perseguia.A editora concordou. Tirou uma belaedição de quatro mil exemplares, omeu saudoso amigo escritor JoãoA ntônio f ez as orelhas e —desculpem — o liv ro “estourou” emvenda e comentários favoráveis.Mas dentro de mim permanec ia,espicaçando-me, o Sal verde, porqueeu v ia, para além do tí tulo, o“demônio branco” nascendo emar tir izando tanta gente com ocloreto de sódio.

Contei isso ao Renzo Mazzone,recentemente falec ido, poeta e donoda Editora I.L.A. Palma, de Palermo,que lançou o livro em italiano. Ele,que traduz iu tantos poetas eescritores brasileiros, vinha muito aoBrasil e ligou-se à União Brasileirade Esc ritores, pensou no que eudisse, pensou, pensou, coçou oqueixo, apontou-me o indicador emriste e decidiu:

Caio Porfírio Carneiro

Do Título

Caio Porfírio Carneiro é escritor,contista, historiador e membro do

Instituto Histórico e Geográficode São Paulo.

- Pois emitaliano o título doseu romance seráSale verde dellaterra.

Alcançou otítulo exato, quedesc ia f undo omundo branco salineiro: Sal verde daterra. Comovi-me. E com este títulofoi lançado, na Itália, em bela edição.

No Bras il, novas edições sesucederam: duas seguidas pelaEditora Ática, e a quarta, com capaexpressiva e excelente divulgação,pela Editora LetraSelvagem, doescr itor Nicodemos Sena, sediadaem Taubaté, São Paulo. O livrochegou, em resumo, ao árabe. Todoscom o títu lo original — O sal da terra.Foi tema de estudo em Boulogne etraduzido para o f rancês, mas aindanão publicado. Duas adaptaçõespara o cinema e não f ilmado, porvários motivos, particularmente of inanceiro. Nesse caminhar tortuososegue o livro, sempre com títulooriginal de O sal da terra.

Vendo aqui, à minha frente, umexemplar da edição LetraSelvagem,sindto saudade do que me disse,dedo em riste, o saudoso editoritaliano Renzo Mazzone: “O título éSale verde della terra” Ou s eja: Salverde da terra. Encolho os ombros.Fazer o quê? Um livro com doistítulos?

Vai, livro meu! Você continuaverde, cumpr indo o que af irmouPedro aos Gálatas : “Tornei-me,porventura, vosso inimigo, por vosdizer a verdade?” e exclamava onegro Valério, o tarefeiro: “Salina écaiada como cemitério.” E continuamaduro aos que acolherem eacolhem favoravelmente.

Conforta.

Profa. Sonia Adal da Costa

Revisão - Aulas Particulares - Digitação

Tel.: (11) 2796-5716 - [email protected]

Linguagem Viva completará em se-tembro 25 anos de c irculaçãoininterrupta. Homenagens aos editoresdo jornal já estão sendo programadas.

Adriano Nogueira (1928 - 2004) eRosani Abou Adal serão homenageadospelo Sarau Literário Piracicabano, nodia 15 de julho, terça-feira, às 19h30, noMuseu Histórico Pedagógico Prudentede Moraes , Rua Santo Antônio, 641,Centro de Piracicaba. O Sarau é coor-denado por Ana Marly de Oliveira Jacobino.

O Clip - Centro Literário de Piracicaba prestará homenagem a AdrianoNogueira na próxima reunião, dia 26 de julho, sábado, das 15 às 17 horas,na Biblioteca Municipal de Piracicaba. Estão progrmadas leituras de tex-tos do homenageado e a intervenção de membros do Clip e de RosaniAbou Adal que falarão sobre a vida e obra de Adriano Nogueira.

No mês de setembro serão programados eventos em comemora-ção ao aniversário de 25 anos de f undação do jornal, em São Paulo ePiracicaba.

Homenagem aosEditores do LV

Adriano e Rosani na Livraria Teixeira

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Página 3 - julho de 2014

Perto dos 50 anos, uma fazendeira do interior de São Paulo, com uma vida aparentemente estável e bem resolvida, rompe com

um casamento de 27 anos que lhe trouxera seis filhose parte para desbravar o mundo, não hesitando, em-bora nascida numa fam íl ia abastada, em ganhar a vidacomo babá e cozinheira na Europa, onde permanecepor uma década. É este, em linhas gerais, o eixo de“Voo livre”, primeiro l ivro de Ignez Baptistella, que afez nacionalmente conhecida e referência para mui-tas mulheres que se enxergam em sua corajosa sagapor liberdade.

Angelo Mendes Corrêa: Por que escrever um li-vro de memórias? Ao escrevê-lo, houve algum receiode não ser compreendida pelas pessoas que nele fi-guram como personagens e estiveram ou estão inti-mamente ligadas à sua historia?

Ignez Ba ptistella: Eu não escrevi um livro dememórias e sim um depoimento dos motivos que melevaram a ser chamada de louca. Escre vi, para quedepois da minha morte, meus fi lhos encontrassem omanuscrito e se inteirasse m da história de sua mãe.Meus fi lhos nunca me questionaram nos meus noveanos e meio de ausência, pelo contrario, eles me res-peitaram. Eu estive ausente, mas nunca distante. Erapreciso dizer tudo sem esperar perdão ou compreen-são. Ao escrever, eu abria a minha alma como se abreuma caixa de segredos, cada passagem que eu nar-rava era reviver o passado como se fosse ontem. Foimuito sofrido sentir as mesmas emoções, as lembran-ças, que tocadas, vertiam as lágrimas já choradas.Meufilho Eduardo pegou o cd com o texto e sem mesmoler entregou ao jornalista Sérgio Kobayashi, dizendoa ele: “veja aí o que min ha mãe escreveu”.Dias de-pois, Sergio disse que t inha em mãos um diamantebruto, que precisava apenas polir para ter ser um gran-de l ivro.

AMC:A ruptura de um casamento aparentemen-te estável e consolidado, no universo conservador deuma pequena cidade do interior de São Paulo, teveum custo alto.   Apesar dele, ao ler “Voo livre”, fica asensação de que valeu a pena bancá-lo. E isso mes-mo? Faria tudo igual novamente?

IB: Tudo igual hoje? Eu não fiz nenhuma contaem valore s materiais. Eu t inha saúde, era forte, terque trabalhar não me alarmava, eu já trabalhava tanto.Tirei o avental para ser l ivre e nada mudou o meu pro-jeto. Eu era um soldado indo para gue rra, não paraser heró i , apenas vencer, sem me importa r com oscustos. Bancar uma separação é morrer um pouco, édespir-se de toda vaidade, é não olhar pra trás, é lutarcom determinação e persistência na busca de um novocaminho, sabendo que terá que desbravá-lo sozinha.

AMC: Avançamos muito nas questões de gêne-ro nos ú l timos 50 anos, mas ainda somos um paísmachista e conservador no que se refere a padrõesmorais. A que atribui isso?

IB: Na questão da presumida superioridade mas-culina, e m que imperam co stumes, religião , raça ecultura. O h omem ainda julga ocupar uma posiçãomais alta, acreditando, por exemplo, que pode trair efica tudo bem. A mulher, no entanto, é ap edrejada,mesmo que simbolicamente, como nos tempos da Ida-de Média, por qualquer eventual deslize.

Ignez Baptistella e seu voo da maturidadeAngelo Mendes Corrêa

Angelo Mendes Corrêa é Mestre em LiteraturaBrasileira pela Univ ersidade de São Paulo-USP.

AMC: Concorda com a ideia de qu e a mulherbrasileira, em significativa parcela, também tem umapratica e um discurso machistas?

IB: Sim. No entanto, a  mulher tem provado aomundo ma chista que ela é tão capaz quan to o ho-mem de liderar em qualquer campo profissional, comuma aguçada inteligência e o sexto sentido que lhesão pecul iares. Ao ocupar um alto posto d e chefia,além de se equiparar ao homem por sua competên-cia, tem a sensibil idade mais aguçada, o que a favo-rece em vários setores. Mais ainda, não podemosesquecer que a mulher tem sempre jornada dupla emuitas vezes tripla, pois ela é a responsável pela casa,fi lhos, marido e ainda trabalha, o que prova sua imen-sa força.

AMC: Comumente tendemos a absolver as rela-ções ext raconjugais dos homens e a incri minar asmulheres que as elas se entregam. A que creditar talpostura?

IB: Quando acontece um desvio conjugal, cabeao homem tanto quanto à mulher ser honesto e abrir ojogo. Já dizia meu avô, cem anos atrás: “ninguém querjantar outra vez se a refei ção foi boa”. Muitos casaisvivem na hipocrisia e isso vem desde os tempos deAdão e Eva. Ou seja, o m achismo é muito antigo ejustamente por isso não vai acabar de uma hora paraoutra. Se o homem traiu é porque foi ludibriado, masse a mulh er faz a mesma coisa, ela não presta e érechaçad a pela sociedade .  Será que a cu lpa é damaçã?

AMC: A subalternidade das mulheres tem forteorigem religiosa, l igada que está aos mitos propaga-dos por diferentes doutri nas. Concorda que no maisdas vezes a religião aprisiona, quando deveria l iber-tar?

IB: Discordo da ideia do “juntos até que a mortenos separe”. Durante muito tempo, eu briguei comigomesma, me questionei ajoelhada diante de Deus. Sersubmissa, aceitar ordens, tem seus limites. A religiãodireciona o caminho, mas a escolha é nossa. Há reli-giões, as mais radicais, que colocam a mulher comosubjugada pelo homem. Não acredito, por exemplo,que Deus aprovasse a ideia de uma mulher que fosseproibida de estudar e fosse humilhada por isso. O pro-blema não é a religião, mas o homem que se faz pas-sar por Deus.

AMC: Controle da natalidade, aborto e homos-sexualidade continuam, em nosso século, sendo ta-bus imensos, até em função da mitolog ia religiosa.Algum antídoto pra isso?

IB: “Cada cabeça uma sentença”.Controle da na-talidade deveria ser ace ito como um processo semrestriçõe s. É uma decisão séria a ser tom ada pelocasal. Já o aborto, cabe à mulher a ultima palavra. Hácasos especiais e únicos para dizer sim ou não a umaborto. Homossexualidade pode ter um componentegenético ou mesmo uma busca emocional, indepen-dentemente de ser tabu. O mais importante é que cadapessoa possa decidir e assumir todas as conseqüên-cias. Que atire a primeira pedra...

AMC: A leitura de “Voo Livre” permite-nos perce-ber que a pesar dos desaju stes ainda visíveis entrehomem e mulher em nosso país, no século XXI, asrelações entre eles já foram bem piores, muito maisopressoras. Como era ser mulher meio século atrás?

IB: Ser mulher era cop iar o modelo d e nossasavós e mães. Nelas eu me espelhava. Cuidar da casae da famíl ia, sempre pronta para o marido, avental na

cintura . Ter os fi l hos queDeus mandasse. Vaidadeera um luxo desnecessá-rio. A mulher não existiapara si própria, sem direi-to a nada era completa-mente dependente do paie depois do marido. Mas,o cená rio foi mu dando.Eu nasci à frente da minhaépoca e por i sso fui cha-mada de louca.

AMC: Em suas andanças pelo mundo (e forammuitas) o que mais lhe chamou atenção sobre o com-portamen to das mulheres? Que país destaca comomais avançado nas questões de gênero? E o que maisa chocou?

IB: As m ulheres mais jo vens dos paíse s desen-volvidos, de um modo geral, são mais soltas, têm vozativa, dizem o que querem e impõem suas decisõesdesmitificando o reinado dos homens. O que me ad-mirou foi ver a presença da mulher ao lad o de seumarido em tod as as conversas sociais e financeiras.Não tem essa de em reuni ões sociais as mulheresfazerem uma rodinha e os homens outra. Eu destacoa Inglaterra. O que realmente mais me chocou foi vermulheres com burca. Eu me senti pequena diante detamanha obediência.

AMC:Como vê o movimento feminista? Acha queo papel que tem a desempenhar ainda é extenso ouque seu discurso teria esgotado?

IB: O movimento feminista a meu ver perdeu oencanto com o passar dos anos. Isso se deu devido aalgumas conqu istas das mulheres. Porém, o discur-so pelos direitos da mulher é sempre vál ido. O idealseria não o querer andar na frente de um homem, masa seu lado. Maior ideal ainda é que se sozinha for, quea mulher ande sempre com a cabeça erguida.

AMC: As estatísticas m ostram que mui tas mu-lheres continuam vítimas de violência conjugal e porvergonha ou medo não denunciam seus maridos, atéporque a estrutura do estado para defendê-las é pre-cária e caro é o acesso a advogados.Não faz muitotempo, muitos assassinos de mulheres eram absolvi-dos em nome da legitima defesa de honra. Que saí-das vê para isso?

IB: Difícil! A mulher tem que sair do casulo, de-sabrochar, encontrar em si mesma motivação para nãodepender do homem e ser completa. Há um ditadoque diz “numa mulher não se bate nem com uma flor”.O cumprimento das leis em defesa da mulher deveriaser mais atuante. O assunto é muito complexo, ficarí-amos horas dialogando. Dar opinião é fácil, difícil éestar no lugar daquela mulher que tem fi lhos, que játeve pais castradores, que não teve acesso à educa-ção, que não tem como se sustentar.

AMC:Novos projetos de l ivros? As vésperas dos84 anos, algum sonho ainda não realizado? 

IB: Sim, estou escrevendo outro l ivro.O meu ladoprofessora e o convívio com os alunos, ao s poucoscompõem suas páginas. Não há mais te mpo parasonhar e sim recordar. Ho je sou uma mulhe r feliz,conquistei meu lugar a duras penas, valeram todas asbatalhas, as feridas estão cicatrizadas e o coraçãoestá inteiro.

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Página 4 - julho de 2014

Uma educadora nata. Talvezessa seja a qua lifi caçãomais certeira a atribuir à pro-

fe ssora e ju rista Esthe r Fig uei re doFerraz (1915-2008). Além de seu legadona pedagogia, a trajetória de Esther i lus-tra as conquistas da mulher na socieda-de no sécu lo XX, já que foi a primeiramulher ministra de Estado da história daRepública, a primeira reitora de Univer-sidade da América L atina e a primeiraprofessora da Faculdade de Direito doLargo de São Francisco.

Quando do seu falecim ento em2008, amigos e colegas da famíl ia jurí-dica prestaram seu tributo à sua acen-tuada cultura humanística, à sua robus-ta erudição fi losófica e ao fato de ter sidouma das m aiores criminalistas de seutempo. Homenagearam seu equilíbrio,sua generosidade, sua elegância, suamodéstia. Era doce, mas perfeccionista,discreta e revelava impressionante ca-pacidade de trabalho.

Nascida em São Paulo e m 06 defevereiro de 1915 e tendo vivido a infân-cia em Mococa (SP), iniciou seu magis-tério no Grupo Escolar Paulo Eiró, nobairro paulistano de Santo Amaro, alfa-betizando crianças da primeira série. De-pois, foi professora do Curso Normal doInstituto de Educação Caetano de Cam-pos.

Bacharel em Direito pela Faculda-de de Direito do Largo de São Franciscoem 1945, também colou grau em Filo-sofia na Faculdade de São Bento. Nocurso jurídico, destacou-se como primei-ra da classe em todas as disciplinas.

Esther, a v oz e a v ez da mulher- Pa ra p u xa r a f i l e ira d o s se u spioneirismos, vencendo preconceitos, aprofessora , Teté para os ínti mos, foi aprimeira mulher a ocupar o Conselho daOrd e m d os Ad vog ad o s d o B ra sil ,seccional São Paulo, em 1949.

Livre-docente de Direito Penal pelaUniversidade de São Paulo por concur-so de provas e títulos, na su a primeiraaula, para sua surpresa, a nova profes-sora das Arcadas foi ovacionada quandoentrou na sala. Temia encont rar resis-tências. Na mesa, a esperava uma maçã,com um bilhete escrito “an apple for theteacher”.

Esther de Figueiredo Ferraz foi umadas artífices da modernização da legis-lação penal e civil enquanto integranteda Comissão de Reorganização Peniten-ciária de São Paulo, que levou adiante aimplantação dos Institutos Penais Agrí-colas e da Casa de Custódia.

Rompeu tabus ao abraçar nos anos50 a advocacia criminal, um metier pre-d o mi n a n te m e nte m ascu l in o .Protagonizou defesas empolgantes no

Esther de Figueiredo Ferraz, pioneiríssimatribunal do júri , produzindo provas e am-parando seus clientes. Ad vogou atéquando sua saúde permitiu. Comenta-va que em nenhum lugar do mundo sesentia tão à vontade quan to em seuescritório, na Praça João Mendes.

Defendeu na Justiça, p or exem-plo, o ex-governador Adhemar de Bar-ros proce ssado em virtude d os escân-dalos do roubo de uma urna marajoarae do desvi o dos Chevrolets e dos “ca-minhões da Força Pública”.

Numa de suas obras, Esther deFigueiredo Ferraz ocupou-se meticulo-samente do tema da explo ração daprostituição, examinando com lupa ascausas e efeitos do meretrício, que con-siderava uma “forma remanescente deescravatura feminina.” Igualmente im-perecíveis são suas lições e teses re-lativas à individualização administrati-va das penas.

Clássico do Direito Pen al é seulivro ded icado à codelinquência. “Aquestão da codelinquência, na verda-de, evoluíra com o surgimento de no-vas formas, entre as quais as dos deli-tos societários e a proliferação de situ-ações a nôma l a s, d e d i fíci lenquadramento, que constituíam novi-dades a serem apre ciadas nessa revi-são dos a ntigos estudos. O tratamen-to atualizado do tema concedeu a esseestudo um renovado valor e util idade queperduram na Doutrina Penal brasileirada atualidade, transformando-o numclássico d e referência obrig atória naÁrea Jurídica e acadêmica”, avalia aprofessora titular de Direito Penal daFaculdade de Direito da USP, IvetteSenise Ferreira.

A partir de 1961, lecionou DireitoJudiciário Penal na Faculdade de Direi-to da Un iversidade Macke nzie. Em1965, foi elevada a reitora dessa Uni-versidade. Nessa condição, vivenciou aconjuntura de radicalização, em outu-bro de 1968, com o confronto entre es-tudantes de Filosofia da USP e os doMackenzie na Rua Maria Antônia. Naadministração da Universidade deu omelhor de si.

Ensinou Direito Judiciário Penaltambém na Faculdade de Direi to de SãoBernardo do Campo e em cursos deespecialização na USP.

Integrou o Conselho Estadual deEd ucação d e 196 3 a 19 64 e foiconselhei ra do Conselho Federal deEducação (hoje Conselho Nacional deEducação) de 1969 a 1982. Naquelecolegiado , em muitos dos pareceresque apresentou ofereceu soluções sá-bias para problemas que desafiavam osconselheiros.

O magistério no DNA de Esther– Esther de Figueiredo Ferraz assumiua Secretaria Estadual da Educação em1971, no governo Laudo Natel. Deixou

o cargo em solidariedade a seu irmão,o engenhe iro José Carlos FigueiredoFerraz, demitido pelo governador Nateldo cargo de prefeito de São Paulo. Apóso gesto, declarou ao jornal O Estado deS.Paulo: “Deixar um cargo bem e comdignidade é também uma forma de edu-car. Nós, professores, devemos educarpelo que fazemos e pelo que dizemos,mas muito mais pelo que fazemos doque pelo que dizemos. Entendo que, nomomento, minha saída se impõe.”

Acreditava que cabia à educação,como pressuposto da l iberdade, formardemocratas.

Era uma entusiasta da juventude.Disse, certa vez: “Apaixonei-me, assim,pela educação e em consequência, peloeducando, fazendo-me cada vez maisatenta à necessidade de se dar a todosmais e melhor educação, e dispondo-me, também, cada vez mais, a me in-clinar, pressurosa, em direção ao alu-no, tentando penetrar-lhe a intimidadeda alma, não por curiosidade, ainda quecientífica, mas por melhor conhecê-lo,assisti-lo, defendê-lo, amá-lo e em úl ti-ma anál ise, tentar promover-lhe a felici-dade, que todo homem, desde o maissimples fi lho de Deus, tem direito a serfel iz.”

Mas apesar de reconhecer algu-mas deficiências no ensino não vacila-va no seu otimismo quanto ao futuro daedu cação. A profe ssora defendi a aredefinição da missão da Universidadepara que haja maior interação com a so-ciedade e para preparar os universitári-os para os desafios do século XXI. Paraela, a educação era a “arma de comba-te à criminalidade”.

Em seu livro Alternativas da Edu-cação (1976), dedicado ao estudo doensino superior brasileiro, submeteu arealidade educacional a verdadeira radi-ografia. Nesta obra, também esmiuçouos ensinos de primeiro e segundo grau,a pós-graduação e a problemática dasbolsas de estudo reembolsáveis. Comopesquisadora e gestora, sempre se pre-ocupou com o problema do financiamen-to do sistema de ensino.

Para satisfação do movimento fe-minino, a professora se surpreendeu aoser convidada em 1982 pelo presidenteJoão Figueiredo a assumir o Ministérioda Educação, em que permaneceu até1985. A primeira ministra do Brasil.

Na sua gestão, foi decisiva para aregulamentação da Emenda Calmon,q ue pe la pri me ira ve z e st ip u lo upercentuais mínimos obrigatórios parainvestir na educação recursos proveni-entes dos impostos, um verdadeiro mar-co na história educacional d o Brasil.Como mini stra, foi uma alia da da im-plantação de escolas técnicas em âm-bito federal . Também foi responsável peloaprimoramento dos planos de carreirapara os professores.

Diante da greve de uma universi-dade pela não liberação de uma verbaprevista no Orçamento, pediu que suachefe de gabinete agendasse uma reu-nião com o ministro da Faze nda, pro-metendo: “Ou volto com a verba ou nãovolto ministra.”

Ao transmitir o cargo a seu suces-sor no Min istério, Marco Maciel, des-pediu-se com estas palavras:

“A esta a ltura da vida, i ngressan-do - não há como impedi-lo - em suaúl tima qua dra, passo a capta r, mais emelhor do que nunca, o íntimo segredodas palavras de Sócrates quando, ins-tado a se definir acerca dos conceitosde justiça e de injustiça, respondeu sa-biamente, antecipando-se de algunsséculos a o ensinamento de Cristo: setivesse de optar entre sofrer uma injus-tiça ou praticá-la, eu preferiria sofrê-la.Não quero ser injusta: obrigada, assim,indistintamente, a todos quantos comi-go trabalharam durante os dois anos emeio que permaneci nesta Casa. Anosde tensão, de luta e mesmo de algumsofrimento, sim, mas que valeu a penahaverem sido vividos”.

Em 16 de outubro de 1999, rece-beu o Prêmio P rofessor Emérito – Tro-féu Guerreiro da Educação, concedidopelo jornal O Estado de S.Paulo e peloCentro de Integração Empresa-Escola

Gabriel Kwak

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a personalidades que se destacaramna educação. Antes, em 1993, foi con-decorada com o Colar de Mérito Judi-ciário, concedido pelo Tribunal de Jus-tiça do Estado de São Paulo.

“Especialista em especialida-des” – A jurista escreveu Os De litosQualifi cados pelo Resultado, A Co-Delinquência no Direito Penal Brasilei-ro , O Perdão Judicial , O Meno r e osDireito s Hu mano s, Prost itui ção eCriminal idade Feminina , Caminhos Per-corridos, A Filosofia de João MendesJr., Mulheres Fre quentemente, e Fa-las de Ontem e Hoje. Seus t rabalhosde feição literária abriram-lhe as por-tas da Academia Paulista d e Letras,para a qual foi eleita para a cadeira nº36. Mesmo com a idade avançada ecom a capacidade auditiva um poucocomprometida, não costumava faltaràs reuniões da Academia, onde estrei-tou seu convívio com VIPs da nossaliteratura e intelectualid ade, comoLygia Fagundes Telles, Paulo Bomfim,Miguel Reale, João de Scantimburgoe Marcos Rey. Publicou d ezenas edezenas d e conferências, razões fo-renses, monografias, artigos e ensai-os, e cuidava escrupulosamente do aca-bamento dos seus textos.

“Esther era querida amiga. De mi-nha mulher, Ruth, e minha. Na Acade-mia, nos jantares de fim de ano, faziaquestão de ficar em nossa mesa. Lem-bro-me que, durante minha presidên-cia na Academia Paulista d e Letras,fazia questão, com Miguel Reale, denão fal tar às sessões, sempre com pon-derações profundas e pertinentes so-bre os assuntos tratados”, lembra ojurista e “imortal” da APL, Ives GandraMartins, amigo de Esther de mais de30 anos. Durante anos, Ives teve es-critório no mesmo edifício em que aamiga Esther mantinha o seu e aindaprefaciou o l ivro da professora inti tuladoFalas de Ontem e Hoje (2000 ). Naapresentação, Ives Gandra assinalou:“Esther é autora que invade, com inte-ligência e perspicácia, os mais varia-dos campo s das ciências sociais. Éjurista, fi lósofa, poeta, socióloga e po-lítica, sempre atuando com rara pro-priedade. É uma ‘especialista em es-pecialida des’, como o eram os gran-des humanistas do passado.”

Esther ma nteve-se solteira a vidatoda. Costumava justificar sua solteiricerenitente, dizendo: “Casar é melhor do quenão casar, mas é melhor não casar doque casar mal.”

Tinha o piano como distração. Gos-tava, ainda, de recepcionar os amigos esobrinhos (que encarava como fi lhos) paraalmoços e jantares, ocasião em que oscompanheiros saboreavam suas receitasde cozinheira de forno e fogão.

“No fim da vida, repetidas vezes, re-feriu-se a uma obra que estava preparan-do, à guisa de compêndio do que produ-zira. Mas, em função da idade e da do-ença que a acometeu no fim da vida, nãopôde concluí-la”, recorda Ives Gandra.

Esther faleceu em 23 de setembrode 2008, aos 93 anos, em de corrênciade um AVC e do Mal de Alzheimer. Tal-ve z su a pág i n a m a i s te rn a , se uensinamento mais expressivo tenha sidosua profissão de fé na advocacia, prati-camente uma declaração de amor à nemsempre compreensível relação advogado-cliente. Vejam:

“Entra-me pela porta do e scritórioum homem cujo nome, idade, profissão,condição social, vida pregressa, ignorocompletamente. Também para ele souuma desconhecida; exceção feita a meunome e a meu título profissi onal, nãosabe quem eu seja na realidade: qual mi-nha exata maneira de pensar, de sentir,quais meus antecedentes pessoais e fa-miliares, se estou ou não em condiçõesde o comprometer ou ajudar. No entanto,essa criatura cuja própria existência físi-ca eu ign orava momentos at rás, a umsimples gesto meu autorizando-o a falar,se põe a narrar-me minudentemente suavida, confessando-me o que jamais ou-saria confessar ao pai, à esposa, a umpadre ou mesmo a si próprio. Desnuda-me a alma , mostrando-me em toda suamiséria, sem me esconder uma ferida,uma chaga, um carcinoma. Leva-me atéa intimidade de sua alcova e me permitedefrontar o segredo de seu fracasso ma-trimonial. Ou então, cabeça baixa e olharesquivo, e xplica-me como furtou, comofalsificou um cheque, como se deixou cor-romper no exercício de função pública,como e onde escondeu o produto do cri-me. Outras vezes, enfim, afirma-se víti-ma de injusta acusação, revelando o te-mor de não poder provar convincentemen-

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te sua inocência posta em dúvida. E emtodos esses casos exibe as provas quelhe socorrem ou lhe comprometem o di-reito, que o incriminam ou lhe amparama absolvi ção. Sabe – embo ra não meconheça – que, ain da que eu não lheaceite a causa, jamais usarei dessasinformações em seu prejuízo. Fornece-me documentos preciosos e únicos quesão a chave de sua defesa ou que, aocontrário, constituem a prova materialde sua cu lpa. Confia-nos sem mesmoexigir um recibo , e tem a certeza – sem-pre sem me conhecer – de que nem portodo o ouro do mundo eu os sonegariaou os dei xaria cair em mãos da parteadversa.

Encerra-se a entrevista e, pela por-ta do escritório, sai um homem que paramim já não é mais u m estranho. Eu, aocontrário, continuo a ser para ele o mes-mo enigma inicial. Ainda não sabe quemeu seja na realidade: qual minha exatamaneira de pensar, de agir, de sentir,quais meu s antecedentes p essoais efamiliares, se estou ou não realmente,em condições de ajudá-lo. Mas de umacoisa está certo: não o trai rei. Tem aabsoluta e sól ida convicção de queaquela desconhecida que ficou para trás– depositária do seu segredo, senhorado seu destino e de sua felicidade – deagora em diante preferirá sacrificar-sea sacrificá-lo, deixar-se-á, se necessá-rio, mata r, mas não permiti rá que umsó ato seu desmereça a confiança comque a honrou o desconhecido de minu-tos a trás.

Bastariam esses poucos minutos– essa poeira de tempo escoada entreo abrir e o fechar de uma po rta – paranos convencer de toda a beleza e gran-deza da profissão de advogado. A ho-menagem que a cada um de nós e, con-seqüentemente, à carreira que abraça-mos, presta cada cliente qu e nos en-trega o patrocínio de uma causa é tãoeloquente que bem se comp reende oalcance da expressão de Voltaire quan-do, referindo-se a sua verdadeira ten-dência vocacional, suspirou: “Eu quise-ra ter sido advogado, é a mais bela pro-fissão deste mundo”

Não importa que os profissionaisde outro ofício injustamente nos repre-sentem, como diz Henri Robe rt ‘sob afigura de insuportáveis falastrões, intri-

gantes, amantes da chicana, das frau-des, das demandas, hábeis em defen-der todas as causas, pleiteando o reco-nhecimento da inocência mesmo quan-do convencidos da culpabilidade dosclientes’. Ou que o público leigo vejaem nossa carreira a ‘arte de legalizar afraude’, o u a ‘defesa sofista do que étorto’. Que os demais membros da fa-míl ia judiciária às vezes subestimem aimportância de nossa contribuição, sejaao desenvolvimento do Direito, seja àprópria obra da distribuição da Justiça.Pouco imp orta, enfim, que o cliente,uma vez servido, num gesto de ingrati-dão que já não nos surpreende mas ain-da nos consegue ferir, nos vire as cos-tas e nos atire pedras, atribuindo a ou-tros fatores – ao seu bom dire ito, à ci-ência e à superioridade dos juízes, aodesleixo da parte contrária – o êxito dacausa por nós patrocinada. Tudo issonada significa. Enquanto houver sobrea face da terra o gesto incessantemen-te renova do de um homem q ue bate àporta de um desconhecido e lhe confiaa defesa de sua liberdade, de sua hon-ra, de sua famíl ia, de seu p atrimônio,bens supremos que constituem a razãode ser de nossa existência, estará sen-do feita a apologia da profissão de ad-vogado”.

Gabriel Kwak é jornalista, escritore membro da Academia de Letras

de Campos do Jordão.

di vulgação

Esther de Figueiredo Ferraz

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a essência da frutatingindo o navioo convés

fragmentos de pólendublagem de frasesflashes faces fases

apressadacomo um filmesem imagem

guardei o silênciode cada palavra

Caminho entre acácias, papiros,ébanos orientais, ciprestes e alfarrobeiras.Admiro a beleza dos falcões, águias,cotovias e poupas.Percorro o leito do Nilomontada em meu camelo aladoem busca de fertilidade,não é época das cheias.Minha taça está vazia,preciso receber para dar,sem trocas não semeio tâmaras.Voamos até às pirâmides de Gizeh.Nos túmulos de Queóps, Quéfren e Miquerinosnão encontramos a taça para me conceber.Ela está distante das belezas de Imhotep.Procuro o objeto de ouronas ruínas de Mênfis, no Colosso de Mêmnone continuo de mãos abanandosem dividir, multiplicar, subtrair e somar.Monto novamente no animal beduíno,minha taça ferve com o sol quente do deserto.Tenho miragens, tenho sedee não tenho água para beber.Mato minha sede no oásis.Estou perto de fragilidadee não alcanço a fertilidade.sou uma escrava carregando pedras,construindo tumbas e túmulos.Estou delirando com a miragem.Parto com meu corcunda paraa terra dos cedros, pinheiros e carvalhoscom destino à bacia do Eufrates.Eu e meu camelo alado,cansados e frágeis de procurar,avistamos-te nos Montes Líbanos.Estavas a me esperarsegurando f irme nas mãosa taça transbordando fertilidade.Colhemos frutos e semeamos tâmaras.

Je marche parmi des acacias, papyrus,ébènes orientales, cyprès et caroubiers.J ´admire la beauté des faucons, aigles,alouettes et huppes.Je parcours le lit du Nilmontée sur mon chameau ailéà la recherche de fertilité,il n ést pas époque des inondations.Ma coupe est vide ,j ´ai besoin de recevoir pour donner,sans échanges je ne sème pas des dattes.Nous volons jusqu´ à les pyramides de Gizèh.Dans les tombeaux de Quéops, Quéfren et Miquerinoson ne trouve pas la coupe pour me concevoir.Elle est loin des beautés de Imhotep.Je cherche l´objet d ´ordans les ruines de Mênfis, dans le Colosse de Memnonet je continue avec les mains branlantessans diviser, multiplier, soustraire et sommer.Je monte de nouveau sur l ´animal bédouine,ma coupe bout avec le soleil chaud du désertJ ´ai de mirages , j́ ái soifeet je n ´ai pas de l ´eau pour boire.Je tue ma soif dans l ´oasis.Je suis prochaine de fragilitéet je n ´atteindre la fertilité.je suis une esclave en chargeand de pierres,en construiand des tumulus et des tombeauxJe délire avec le mirage.Je pars avec mon bossu pourla terre des cèdres, pins et chênesavec destin à la bassin du Eufrates.Moi et mon chameau ailéfatigués et fragiles de chercher,nous voyons toi dans les Montes Libans.Tu m ´attendraisen ténant f irme dans les mainsla coupe débordante de fertilité.Nous cueillons des fruits et semeons des dattes.

FERTILIDADERosani Abou Adal

FERTILITÉVersão francesa de Genésio Cândido Pereira Filho

Rosani Abou Adal é jornalista, publicitária,escritora, poeta e vice-presidente do Sindicato

dos Escritores do Estado de São Paulo.

Genésio Cândido Pereira Filho é escritor, advogado,jornalista, historiador e membro do Instituto

Histórico e Geográfico de São Paulo.

N É V O ABeatriz H. R. Amaral

Beatriz H. R. Amaral é escritora,poeta, adv ogada, musicista eMestre em Literatura e CríticaLiterária pela PUC-SP (2005).

Desenho de Xavier, publicado no livro Catedral doSilêncio, de Rosani Abou Adal (1996, Scortecci Edito-

ra, São Paulo). Xavier é desenhista, caricaturista,ilustrador e artista plástico. Atua na área de comuni-cação visual, cenários de peças, figurinos, capas e

ilustrações para livros poéticos e didáticos, projetosgráficos e pintura em telas. www.xavi.com.br

Erramos: Então Vamos Prosear,publicado na edição nº 298, junho de2014, L.V., não é de H ilda Gouv eia. É deH ilda Mendonça, escritora e membro f un-dador da Ac adem ia Taguat inguens e de Le-tras (DF) e da Associação dos Escritoresde Passos e região.

Santos e profetasApóiam-se em cajados,Longas varas recurvadas naponta,Pontos de apoioE de poder.

O cajado sus tenta o corpo,Asa presa ao chãoPor imã.

Os cajados,Galhos secos,Bordões retorcidos ,Podem dar frutos e floresQuando seguros pelos poetas.

CAJADORaquel Naveira

Raquel Nav eira é professora,escritora, Mestre em

Comunicação e Letrase membro da Academia

Sul-Mato-Grossense de Letrase do PEN Clube.

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Livros

Indicador Profissional

JOÃO BARCELLOSentre a história e a

tecnologia

Mariana d´Almeida y Pinõn

Mariana d´Almeida y Pinõn – MAyP é professora de Artes Visuais / Paris-Fr.

Com as pesquisas acerca das “gentes deserr´acima” (leia-se, que subiram a serra deParanapiacaba pelo do Piabiyu litorâneo) para com-por o livro “Caucaia do Alto” e a compilação de pa-lestras e pesquisas tecnológicas para o livro “Al-quimia, Moda & Comunicação Visual ”, JoãoBarcellos atingiu um nível de conhecimentos e umcurrículo literário que o colocam como mestre desaberes, além de ser há muito tempo, e desde osseus tempos de parceria com o poeta FranciscoIgreja, no Rio de Janeiro, uma “referência entre aintelectualidade alternativa, livre de preconceitosm ercantis ”, como dele dizia Aziz Ab´Sáber.

“João Barcellos mergulhou na metropolitanaSão Paulo fazendo dela um templo de pesquisasem poes ia e em his tória, sem esquecer os mean-dros tecnológicos dos quais é oriundo”, anotou Te-reza de Oliveira, sua com panheira na form ação doGrupo Granja, hoje denom inado Grupo de DebatesNoé tica (noetica.com.br). O livro “Alquim ia, Moda &Comunicação Visual” (de 2014, com lançamentoem Blum enau, Santa Catarina) serviu-m e de basepara montar uma sequência de aulas para as mi-nhas classes em Paris , da mesma maneira que olivro “Do Fabuloso Araçoiaba Ao Bras il Industrial”permitiu-me demonstrar a face verdadeira da his -tória luso-americana a intelectuais franceses. Istomostra a importância do trabalho intelectual de João Barcellos que, a cadaconferência, surge com novas revelações .

Poesia do Brasil, antologia poé tica,coordenada por Adem ir Antonio Bacca eCláudia Gonçalves, Proyecto Cultural SurBras il, volum e 17, Bento Gonçalves, RS, 420páginas.

A obra é a antolog ia oficia l do XXICongresso Brasileiro de Poesia, que foirealizado em Bento Gonçalves (RS) de 30 desetembro a 5 de novembro de 2013. A poetahomenageada do evento foi Marina Colasanti.

Proyecto Cultural Sur/Brasil:[email protected] - Caixa Pos tal 41 - BentoGonçalves - RS - 95700-000.

O Mel de Ocara - Ler, viajar, comer, deIgnácio de Loyola Brandão, Global Editora, 232páginas , São Paulo. ISBN: 978-85-260-1890-7.

O autor é jornalista, escritor, romancista,contis ta e cronis ta.

A obra reúne crônicas que mostram o ricocampo da múltipla cultura brasileiras, suasrealidades e diferenças. Os textos foram escritos ,no ano passado, quando Loyola percorreu 46cidades bras ileiras e traduzem sua impressão daviagem.

Global Editora: www.globaleditora.com.br

Efêmera, poem as de Is abel CintraNepom uceno, Es crituras Editora, São Paulo, 150páginas . IS BN: 9788575315262.

A autora é poeta, adm inistradora eprofessora de inglês e francês .

Segundo Raquel Naveira, “Em Efêmera,além das intertextualidades eruditas, a poetautiliza antíteses, cadeias de paradoxos paraexpressar a tragédia do desencontro: Tomeiveneno/ m as você me depurou/ Cortei os pulsos/mas você a dor estancou.”

Escrituras: www.escrituras.com.br

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Prof. Sonia

Notíciasdi vulgação

Claudio Wille r lançou Os rebel des :geração beat e anarquismo místico, ensaio, pelaL&PM Editores, na Liv raria Mar tins FontesPaulis ta, em São Paulo. A obra aborda adimensão mística e revela a histór ia depersonagens-personalidades da geração beat.O mov imento, comandado por um grupo depoetas e esc ritores ditos marginais surgido nosEUA da década de 1950, rejeitou os padrõesburgueses – artísticos e comportamentais – doamer ican w ay of life pós -Segunda GuerraMundial. claudiow iller.w ordpress.com

Ivan Junqueira, poeta, jornalista, tradutore membro da Academia Bras ileira de Letras,faleceu no dia 3 de julho, vítima de insuficiênciarespiratória, no Hospital Pró-Cardiac o, no Rio deJaneiro. Nasceu no dia 3 de novembro de 1934,no Rio de Janeiro. Exerceu os cargos depresidente da Academia Brasileira de Letras, deeditor executivo da revista Poesia Sempre, daFundação Biblioteca Nacional. Foi agraciado coma Medalha de Richelieu da Académie Française,em 2005. Seus poemas foram traduzidos parao espanhol, alemão, francês , inglês, italiano,dinamarquês, russo, turco, búlgaro, esloveno,provençal, croata e chinês.

O Prêmio Machado de Assis , da A cademiaBras ileira de Letras , pelo conjunto da obra,agraciou Vamireh Chacon, c ientis ta polít ico,pesquisador e professor pernambucano, com aimpor tânc ia de R$ 100 mil. A láurea seráentregue no dia 17 de julho, no Salão Nobre doPetit Trianon da Academia, no Rio de Janeiro.Gabriel Nascente foi o vencedor na categoriaPoesia, pe lo livro A biografia da cinza; em Ficção(Romance, Teatro e Conto), Luiz Vilela, Vocêverá; Ensaio e Crítica Literária, João Cezar deCastro Rocha, Machado de Ass is : por umapoét ica da emulação; Literatura infantojuvenil,Tatiana Salem Levy, por Tanto mar e MirnaPinsky, por Um menino, sua amiga, um fichárioe dois preás; Tradução, Saf a Jubran, E nóscobrimos seus olhos; História e Ciências Sociais,Lília Moritz Schw arcz, Batalha do Avaí; Cinema,dividido entre Matthew Chapman e Julie Sayres,pelo roteiro do f ilme Flores Raras, dirigido porBruno Barreto.

Robe rto Parmeggiani lançou Lição dasÁrvores, com ilustrações de Attilio Palumbo, pelaEditora DSOP. O liv ro recebeu o selo MelhoresLi vros da CRESCER.

Alberto da Costa e Silva organizou Livrodos Ex- libris, pela Imprensa Oficial do Es tadode São Paulo em coedição com a AcademiaBras ileira de Letras . A obra apresentareproduções fac-similares completa da coleçãode ex-líbris do Barão, da coleção da AcademiaBras ileira de Letras , além de ex - líbr isselec ionados de três grandes coleçõesnacionais, pertencentes a Paulo Bodmer, SantosSobrinho e Luiz Felipe Stelling.

Eduar do Coutinho , documentaris ta ecineasta que faleceu em 2 de fevereiro de 2014,será homenageado pelo Oficina Literária da Flip,na Festa Literária Internacional de Paraty.

Homer o: uma aventura mitológica, deLuiz Antonio Aguiar, selo Galera, foi lançado peloGrupo Editorial Record.

O 5º Congress o Internacional CBL doLivro Digital será realizado de 21 e 22 de agosto,no A uditór io Elis Regina - Palác io dasConvenções do Anhembi, A v. Olavo Fontoura,1209, em São Paulo.

Os Editais do Minis tério da Cultura estãodisponíveis em http://w w w.cultura.gov.br/editais.Saíram os resultados de três editais da Diretoriade Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas e deApoio ao Circuito de Feiras de Livros e EventosLiterários.

O Observatório da L íngua Portuguesa eo Legis-PALOP, base de dados jurídica of icial dosPALOP, celebram, no dia 8 de Julho, Protocolode Cooperação ao abrigo do qual passam aapoiar-se mutuamente em ações de divulgaçãoe atividades des tinadas a promover a línguaportuguesa e o acesso a fontes de informaçãojurídica em português (legislação, jurisprudênciae doutr ina dos PA LOP) . http://observator io-lp.sapo.pt

Gr am át ica da L íngua Por tugue s aPadrão: com Comentários e Exemplários, deAmini Boainain Hauy, foi lançada pela EditoraEdusp (Coleção Didática). A autora é mes tra edoutora em Filologia e Língua Portuguesa pelaUniversidade de São Paulo.

Sim ples Cidade, peça baseada emcrônicas e poemas de Guilherme de Almeida,es tá em car taz aos sábados até o dia 2 deagos to, às 17 horas, na Casa Guilherme deA lmeida. A entrada é gratuita. O elenco écomposto por Letícia Tomazella e Marcos Reis.

A Feira Literária Internacional de Paraty,que será realizada de 30 de julho a 3 de agostoem Paraty (RJ) , contará com as part icipaçõesda Câmara Brasileira do Livro e do Senac.

Lóla Prata lançou Entrelaços, primeiro livrodigital completo de trovas, publicado no sistemaKINDLE. A obra reúne 94 trovas revisadas quepodem ser baixadas no celular, computador etablet, ao preço de um dólar e meio, em torno deR$ 3,00 reais , e pago no car tão.w w w.amazon.com/dp/B00KH7ATXY

A Homenagem ao Professor Eduardo deOlive ir a, promovida pelo Sindicato dosEscritores do Estado de São Paulo, Sindicatodos Jornalistas no Es tado de São Paulo eCongresso Nacional Afro-Brasileiro, no dia 26 dejunho, lotou o auditór io V ladimir Herzog doSindicato dos Jornalistas , em São Paulo. JoséAugusto Camargo, presidente do Sindicato dosJornalis tas , Nilson A raú jo, pres idente doSindicato dos Esc r itores , Ubirac i Dantas ,presidente do CNA B, José Francisco, f ilho doprof essor Eduardo, Carlos Lopes , diretor deredação da Hora do Povo e a poeta RaquelTrindade falaram sobre o homenageado. Ajornalis ta Ana Lúcia rec itou o poema Banzo eRosani Abou Adal, vice-presidente da Sindicatodos Esc ritores , dec lamou o poema Vozemudecida, de Eduardo de Olive ira. A solenidadefoi encerrada com a apresentação do Hino àNegr itude, cantado por Gabr iela A raújo,acompanhada ao violão por Felipe Mota. O eventocontou com as presenças de Audálio Dantas,Flávio Carranca, de Claudia Alexandra (daComissão de Jornalistas pela Igualdade Racial),entre outras personalidades. O mestre decerimônia foi Nathaniel Braia, diretor do Sindicatodos Escritores.

João Scortecci ministrará a palestra ComoMontar e Administrar com Sucesso uma Editora,organizada pela Escola do Escritor, no dia 9 deagosto, sábado, das 9 às 16 horas, no EspaçoScortecc i, Rua Dep. Lacerda Franco, 96, emSão Paulo. w w w.escoladoescritor.com.br

Carpinejar lançou Me aj ude a chorar,crônicas, pela Editora Bertrand Brasil.

A 23ª Bienal Internacional do Livro deSão Paulo será realizada de 22 a 31 de agosto,das 10 às 22 horas, no Pavilhão de Exposiçõesdo Anhembi, Av. Olavo Fontoura, em São Paulo.w w w.bienaldolivrosp.com.br

Crivo de papel, obra de Benedito Nunes,relançada pela Edições Loyola, reúne quinzeensaios do escritor, f ilósofo e cr ítico literár io.A lguns têm como núc leo a literatura deGuimarães Rosa, Carlos Drummond de Andradee a histor iografia literár ia do Brasil) . Outroscolocam em f oco a f ilosofia e seus vínculos coma história, a teologia, a ética e a poesia. 

Claudio Willer

Emerson M

oino Martins

Ubiraci Dantas, José Francisco, Guto Camargo,Nilson Araúj o, Carlos Lopes e Raquel Trindade.

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Page 9: º HARDI FILHO, SUA VIDA, NOSSA VIDA E A POESIA · “diferença”, na amizade, na camaradagem e no bem-querer, tudo batizado e carimbado desde o dia 5-7-1964, quando me ofereceu