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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA O Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto” Ana Rita da Costa Pereira Marques MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde) Volume II - ANEXOS 2014

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Homicídio Conjugal como Sintoma

“Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

Ana Rita da Costa Pereira Marques

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde)

Volume II - ANEXOS

2014

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Homicídio Conjugal como Sintoma

“Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto.”

Ana Rita da Costa Pereira Marques

Dissertação orientada por:

Professora Doutora Constança Maria Sacadura Biscaia da Silva Pinto

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde)

2014

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

iii

INDICE

ANEXO I - Retrato jurídico e estatístico do homicídio conjugal…………………

iv

ANEXO II - Pedido de colaboração para levantamento de reclusos

detidos por homicídio conjugal……………………………………… x

ANEXO III - Tabela de caracterização da amostra………………………………. xi

ANEXO IV - Guião de entrevista semi – estruturada……………………………. xiii

ANEXO V - Pedido de autorização DGSP……………………………………….. xv

ANEXO VI - Despacho do Diretor Geral dos Serviços Prisionais……………….

xvi

ANEXO VII - Consentimento informado, livre e esclarecido……………………. xviii

ANEXO VIII - Grelha de categorização…………………………………………..

xx

ANEXO IX - Análise ideográfica………………………………………………… xxii

ANEXO X - Grelhas de análise de conteúdo……………………………………..

xxxv

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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ANEXO I - RETRATO JURÍDICO E ESTATÍSTICO DO HOMICÍDIO CONJUGAL

“Matei-a porque não fazia o jantar”

Jornal Correio da Manhã 2014-02-20

“Homem mata mulher a tiro em Ferreira do Alentejo” Jornal Diário de Notícias 2014-02-22

“Homem condenado a 18 anos por homicídio conjugal,

aborto e violência doméstica”

Jornal Correio da Manhã 2014-05-05

“ Foi a casa da ex-companheira e

esfaqueou-a até à morte”

Jornal Correio da Manhã 2013-03-16

“Detido homem que matou mulher grávida”

Jornal Diário de Notícias 2013-03-27

“Homem de 40 anos matou mulher

com quem mantinha relação amorosa”

Notícia SIC 2013 – 12-10

“Homem mata mulher com tiro

na cara e foge armado”

Notícia TVI 2012 – 09-03

I.1. Breve apontamento jurídico

O homicídio conjugal, como foi referido anteriormente, não possui uma

tipificação jurídica autónoma sendo interpretado à luz da tipologia jurídico-legal geral

do homicídio. Deste modo, o homicídio conjugal é abordado, ao nível jurídico, como

um homicídio em que a vítima é a cônjuge ou companheira ou ex- cônjuge, podendo ser

considerado homicídio simples, qualificado, privilegiado, tentado e concomitante de

vários homicídios. No entanto, com as alterações ao Código Penal Português 1995 (DL

n.º 59/2007, de 04/09), a passagem ao ato homicida contra a cônjuge ou ex-cônjuge vem

contemplada como ato suscetível de especial censurabilidade e como circunstância

agravante. O capítulo I do Código Penal Português relativo aos Crimes contra a Vida

define o homicídio da seguinte forma “Quem matar outra pessoa é punido com pena de

prisão de 8 a 16 anos” (Art.131º do DL 59/2007, de 04/09). Este homicídio pode ser

qualificado1 (Art.132º do DL 59/2007, de 04/09) ou homicídio privilegiado

2 (Art.133º

do DL 59/2007, de 04/09).

1 O homicídio qualificado é definido do seguinte modo: 1 — Se a morte for produzida em circunstâncias que revelem

especial censurabilidade ou perversidade, o agente é punido com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos; 2 — É

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

v

Para alguns autores, a generalidade dos homicídios conjugais seriam

premeditados estando inscritos num quadro de lucidez, de planificação e utilitarismo

(Goetz, Shackelford, Romero, Kaighobadi & Miner, 2008; Bénézech, 1987 cit. in

Lefebvre, 2006). No entanto, é também destacada uma segunda categoria inscrita nos

homicídios conjugais, que seria a passagem ao ato homicida justiceiro sem caráter

utilitário e na sequência de um conflito extremo entre o amor e ódio face à vítima

(Bénézech, 1987, De Greef, 1973 e Lagache, 1997 cit. in Lefebvre, 2006). Assim,

seriam raros os homicídios conjugais involuntários e por acidente (Goetz et al., 2008).

I.2. Breve retrato estatístico do homicídio conjugal

Ao analisar os dados fornecidos em Novembro de 2013 pela Direção Geral da

Política de Justiça, do Ministério da Justiça, sobre as condenações por homicídio

conjugal em processos crime na fase de julgamento findos nos tribunais de 1ª instância

entre 2007 e 2012 verifica-se que a percentagem dos homicídios em que a vítima é a

cônjuge ou a companheiro apresentou uma variação num intervalo de valores entre

8,2% (valor atingido em 2012) e 13,9% (valor atingido em 2009) (Direção Geral da

Política da Justiça [DGPJ], 2013).

suscetível de revelar a especial censurabilidade ou perversidade a que se refere o número anterior, entre outras, a

circunstância de o agente: a) Ser descendente ou ascendente, adotado ou adotante, da vítima; b) Praticar o facto

contra cônjuge, ex-cônjuge, pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha

mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação, ou contra progenitor de descendente

comum em 1.º grau; c) Praticar o facto contra pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença

ou gravidez; d) Empregar tortura ou ato de crueldade para aumentar o sofrimento da vítima; e) Ser determinado por

avidez, pelo prazer de matar ou de causar sofrimento, para excitação ou para satisfação do instinto sexual ou por

qualquer motivo torpe ou fútil; f) Ser determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem

étnica ou nacional, pelo sexo ou pela orientação sexual da vítima; g) Ter em vista preparar, facilitar, executar ou

encobrir um outro crime, facilitar a fuga ou assegurar a impunidade do agente de um crime; h) Praticar o facto

juntamente com, pelo menos, mais duas pessoas ou utilizar meio particularmente perigoso ou que se traduza na

prática de crime de perigo comum; i) Utilizar veneno ou qualquer outro meio insidioso; j) Agir com frieza de ânimo,

com reflexão sobre os meios empregados ou ter persistido na intenção de matar por mais de vinte e quatro horas; l)

Praticar o facto contra membro de órgão de soberania, do Conselho de Estado, Representante da República,

magistrado, membro de órgão de governo próprio das Regiões Autónomas, Provedor de Justiça, governador civil,

membro de órgão das autarquias locais ou de serviço ou organismo que exerça autoridade pública, comandante de

força pública, jurado, testemunha, advogado, todos os que exerçam funções no âmbito de procedimentos de resolução

extrajudicial de conflitos, agente das forças ou serviços de segurança, funcionário público, civil ou militar, agente de

força pública ou cidadão encarregado de serviço público, docente, examinador ou membro de comunidade escolar, ou

ministro de culto religioso, juiz ou árbitro desportivo sob a jurisdição das federações desportivas, no exercício das

suas funções ou por causa delas; m) Ser funcionário e praticar o facto com grave abuso de autoridade.

2 Por seu lado o homicídio privilegiado é definido da seguinte forma: Quem matar outra pessoa dominado por

compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, que diminuam

sensivelmente a sua culpa, é punido com pena de prisão de um a cinco anos.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

vi

Constata-se que, ao longo dos seis anos, o número de condenações tem vindo a

manter-se estável, apresentando um ligeiro decréscimo a partir do ano 2009. No ano de

2007 registou-se 45 condenações e no ano de 2008 observou-se 38 condenações por

homicídio conjugal. Comparativamente ao ano de 2009 onde se registou o valor mais

elevado de condenações por homicídio conjugal (48 condenações) denota-se, a partir do

ano de 2010, um ligeiro decréscimo no total de condenações por homicídio (40

condenações) e no ano de 2011 (37 condenações). O valor mais baixo registado,

segundo a DGPJ, surge no ano de 2012 com 29 condenações.

No entanto, se nos debruçarmos nos dados publicados pelo Observatório de

Mulheres Assassinadas (OMA) da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR)

encontramos disparidades no número total de homicídios por ano e na estabilidade

apresentada pela DGPJ. (Tabela I)

Segundo a UMAR, o valor mais baixo foi no ano de 2007 onde foram

contabilizados 22 homicídios e o valor mais alto foi em 2008 com o registo de 46

homicídios conjugais. Assim o decréscimo realçado pela DGPJ a partir do ano de 2010,

não se verifica se considerarmos os dados apresentados pela UMAR.

Se analisarmos a totalidade dos dados publicados pela DGPJ entre 2007 – 2012

foram registadas 237 condenações por homicídio em que a vítima é cônjuge ou

companheira sendo que , segundo a UMAR ,registaram-se 207 mulheres assassinadas

TABELA 1: HOMICÍDIOS CONJUGAIS REGISTADOS ENTRE 2007-2012

PELA DGPJ E UMAR

Anos

2007

2008

2009

2010

2011

2012

Totais

DGPJ

Condenações

45

38

48

40

37

29

237

UMAR

Homicídios

consumados

22

46

29

43

27

40

207

Tentativas

de homicídio

59

40

28

39

44

53

263

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

vii

no contexto da conjugalidade e relações de intimidade e 263 mulheres sujeitas a

tentativas de homicídio no contexto da conjugalidade. 3

No levantamento do relatório da UMAR sobre o femicídio e tentativas de

femicídio ocorridas em Portugal no ano de 2013 teriam sido registados 37 homicídios e

36 tentativas de homicídios. Dos homicídios registados, 28 teriam ocorrido numa

relação de intimidade o que indicia uma diminuição deste tipo de homicídio quando

comparado com o ano de 2012.

Se nos centrarmos numa análise do número de condenações e na diferenciação

de género por tipo de homicídio entre 2007 e 2012, de acordo com o relatório da DGPJ,

verificamos que, quando se compara o número de condenações em que a vítima é a

cônjuge ou a companheiro, segundo o sexo do condenado, observa-se uma forte

prevalência dos casos em que a pessoa condenada é do sexo masculino. A

correspondente proporção nunca é inferior a 86% do total, chegando mesmo a ser

superior a 95% em 2007. Assim, os casos em que o condenado é do sexo masculino

variam entre 95% em 2007 e 93,1% em 2012. Por contraponto, os casos em que a

pessoa condenada é do sexo feminino não superam em nenhum dos anos os 14%.

No que respeita à tipologia jurídico-legal de homicídio, entre 2007 e 2012,

predominou a categoria referente aos homicídios qualificados (oscilações em torno de

29,2% e 45,9%). Verifica-se que, em 2007, predominava o homicídio simples (28,9%),

o homicídio na forma tentada (28,9%) e o homicídio qualificado (31,3%). Em 2008,

houve um decréscimo dos homicídios simples (23,7%), e homicídio na forma tentada

(15,8%) aumentando os homicídios qualificados (36,8%). O ano de 2008 é o único ano

entre 2007 e 2012 onde se regista uma percentagem de 2,6% de condenações por

homicídio privilegiado. Em 2009, o homicídio qualificado e homicídio qualificado de

3 Na análise comparativa dos dados da DGPJ e da UMAR são observadas disparidades de valores que levam a

interpretações contraditórias dos anos de maior ocorrência dos homicídios conjugais e respetivo total de ocorrências.

Uma primeira hipótese explicativa surge pelo fato da DGPJ apresentar os valores de condenações em processos crime

na fase de julgamento findos nos tribunais de 1ª instância por homicídio conjugal o que não corresponderia à

ocorrência nesse ano dos mesmos homicídios conjugais, uma vez que a realidade processual e jurídica transita por

alguns anos as respetivas condenações, ao passo que a UMAR regista o número de ocorrência de homicídios contra

as mulheres no próprio ano. Outra hipótese explicativa centra-se no fato do homicídio conjugal não possuir

tipificação jurídica autónoma, e existirem diferenças sobre a autonomização e inclusão das novas relações entre a

pessoa arguida e a vítima, nomeadamente ex-cônjuge, ou companheiro(a), namorado(a) e ex-namorado(a). De facto,

ao contrário da DGPJ que contempla apenas as condenações por homicídio em que a vítima era cônjuge ou

companheira, a UMAR inclui no levantamento dos seus dados os homicídios e tentativas de homicídio (femicídio e

tentativa de femicídio) em que na designação de vítima é contemplada todas as mulheres vítimas de homicídio, ou

seja, a cônjuge, companheira, namorada, a mulher com quem se possui uma relação de intimidade, ex-conjuge, ex-

companheira, ex-namorada e ainda descendentes diretos, outros familiares, ascendentes diretos, relação desconhecida

e relação não correspondida.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

viii

forma tentada representam 29,2% do total de condenações e observa-se um decréscimo

da percentagem de condenações por homicídios simples (10,4%) e a existência de 2,1%

de condenações por homicídio privilegiado na forma tentada. No ano de 2010 constata-

se um aumento substancial da percentagem de condenações por homicídio qualificado

na forma tentada (40%), e um aumento de condenações por homicídio qualificado

(32,5%) No ano de 2011 observa-se um novo aumento, desta vez da percentagem de

condenações por homicídio qualificado (45,9%) e um decréscimo das condenações por

homicídio qualificado na forma tentada (21,6%). A percentagem de condenações por

homicídio privilegiado na forma tentada mantem-se estável nos três referidos anos

(2009 era de 2,1%, no ano 2010 era de 2,5% e no ano 2011 era de 2,7%). No ano de

2012 destaca-se uma total extinção de condenações por homicídio privilegiado e

privilegiado na forma tentada, observando-se 41,4% de condenações por homicídio

qualificado e novamente um aumento da percentagem das condenações por homicídio

qualificado na forma tentada (27,6%). Já Pais (1998) considerou, no seu estudo sobre o

homicídio conjugal, que o tipo de homicídio mais cometido nos anos 90 teria sido o

homicídio qualificado com 60% e em segundo lugar o homicídio simples com 24,7%.

Sublinha que nestes dois tipos de homicídios não se registariam diferenças significativas

de género. Relativamente ao homicídio privilegiado, embora apresentando valores

percentuais mais baixos, não se encontrou nenhum homem que tivesse cometido este

tipo de crime. Relativamente ao homicídio tentado e à ocorrência de vários homicídios

concomitantes, constata-se não haver nenhuma mulher a cometer esse tipo de crime.

Por outro lado, uma análise mais aprofundada dos dados publicados pela UMAR

entre 2004 e 2013 permite-nos realçar outros aspetos relacionados com os fatores

sociodemográficos, situacionais e contextuais.

A maior percentagem de homicídios conjugais é praticada pelos homens com os

quais as mulheres mantinham um relacionamento de intimidade e no contexto da

conjugalidade. Na verdade confirma-se que “ mantêm-se a tendência de maior

vitimação das mulheres às mãos daqueles com quem ainda mantinham uma relação,

fosse ela de casamento, união de facto, namoro ou outro tipo relação de intimidade, logo

seguido pelo grupo dos ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados” (UMAR, 2013,

p. 8). Em suma, o grupo dos homens com quem as mulheres mantêm uma relação de

intimidade surge com maior expressividade, seguindo-se o grupo daqueles de quem elas

já se tinham separado, ou mesmo obtido o divórcio.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

ix

Em relação à faixa etária das vítimas onde ocorre uma maior prevalência do homicídio

conjugal, destaca-se uma oscilação do grupo etário mais vitimado. Em 2013, é o grupo

de idades maior de 50 anos o mais vitimado, tal como nos anos de 2004 e 2005,

seguido do grupo etário entre os 36 aos 50 anos. No que diz respeito à faixa etária dos

agressores, e segundo o relatório da UMAR, as idades dos agressores seguem o mesmo

padrão das vítimas, e apresentam também oscilações ao longo dos anos.

Assim, em 2013, o grupo etário dos agressores com maior prevalência é o grupo

com idades superiores a 50 anos tal como registado nos anos de 2005, 2011e 2012. No

entanto, nos anos 2008, 2009, 2010 verifica-se um número semelhante e elevado de

homicidas com idades compreendidas entre os 36 e os 50 anos.

Em relação aos meses da maior ocorrência dos homicídios, o ano de 2013 veio

contrariar a tendência generalizada até então de uma maior taxa de homicídios nos

meses do verão, assistindo-se a uma dispersão da ocorrência do crime por quase todos

os meses do ano.

Segundo o referido relatório, “ cruzando a prevalência do homicídio com a

presença de violência doméstica nas relações de conjugalidade ou de intimidade,

verificamos que 59% das mulheres assassinadas em 2013 foi vítima de violência nessa

relação” (UMAR, 2013, p. 22). Acrescenta que “ nas situações em que foi possível

identificar a presença de episódios abusivos na relação a mesma era conhecida por

familiares, vizinhos, amigos e muitas delas denunciadas aos órgãos competentes.

Verificamos ainda que tal não foi suficiente na prevenção da revitimização e

consequente homicídio”. (UMAR, 2013, p. 12)

No entanto, se confrontarmos as estatísticas dos casos sinalizados de violência

conjugal, dos casos de tentativa de homicídio e dos casos de homicídio conjugal

observamos claramente que o elemento significativo a salientar é a existência de uma

relação de intimidade ou anterior historial de relacionamento amoroso.

Na verdade, parece-nos que a pertinência do tipo de vínculo de intimidade

ultrapassa a questão de género e a existência de violência conjugal.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

x

ANEXO II – PEDIDO DE COLABORAÇÃO PARA LEVANTAMENTO DE

RECLUSOS DETIDOS POR HOMICÍDIO CONJUGAL

Cara Colega

No âmbito da tese de mestrado sobre o “Homicídio Conjugal como Sintoma” a realizar

pela psicóloga Rita Pereira Marques e sob a orientação da Professora Drª Constança

Biscaia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, solicita-se a sua

colaboração no levantamento dos reclusos por si acompanhados detidos por homicídio

conjugal. Os objetivos principais são compreender o funcionamento psicológico do

homicida conjugal, analisar o modelo de relação afetiva com a vítima e perceber a

motivação do ato homicida. Para isto é necessário proceder à recolha de alguns dados

sobre os reclusos para a qual contamos com a sua colaboração. A elaboração da tese de

mestrado passa também pela realização de entrevistas aos participantes que terá a

duração aproximada de 1h30m. A entrevista será sujeita a anonimato e para uso

exclusivo de investigação.

Obrigada pela sua disponibilidade.

Técnica:

Pavilhão -

Número

Nome

Pena Atribuída

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xi

ANEXO III

TABELA 2: CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA PARTICIPANTE 1

H.C.1 H.C.2 H.C.3 H.C.4 H.C.5

Caraterização

Pessoal

Sexo M M M M M

Idade 39 45 33 35 52 2

Caraterização

Académica

9ºano

Superior

Secundário

9ºano

Analfabeto

Caraterização

da Relação Conjugal

Estatuto Conjugal/

Tipo de União

Casamento

Casamento

Casamento

União de fato

Casamento

Duração da Relação

Conjugal

8 anos

3 anos 3

3 anos e meio.

3 anos

18 anos e 6 m

Idade da Cônjuge no

momento do homicídio

28 anos

38 anos

27 anos.

20 anos.

35 anos

Número de Filhos 2 filhos 1 filha (2 anos

e meio)

1 filho (2 anos

e meio.)

Não 3 filhos (21, 17

e 14 anos)

Caracterização

de Sentença

Tipologia do Homicídio

Qualificado 4

Qualificado 5

Qualificado 6

Qualificado

Simples7

Pena Atribuída

25 anos e 6 m 8

19 anos

22 anos

22 anos

11anos e meio

Acesso Cuidados de

Saúde Psicológicos

e/ou Psiquiátricos no

período pré-reclusão

Duração

3 de Psiquiatria

Não

Não

Não

Não

Motivo

A.S. 9

Não

Não

Não

Não

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xii

Notas: 1 Os dados apresentados na tabela foram fornecidos pelos participantes do estudo. Alguns dos dados não correspondem à realidade dos factos jurídicos e/ou outros. Optou-se por repor na

tabela a realidade dos fatos obtida em articulação com as técnicas de reeducação social e remeter para nota quando os dados fornecidos pelos participantes entravam em discrepância ou o

apelavam a um esclarecimento adicional. 2 Optou-se pela idade relativa à data de nascimento (1961), uma vez que a data de registo do H.C.5 terá ocorrido apenas 5 anos depois do nascimento (1966) como o próprio referiu.

3 Segundo o H.C.2 o homicídio ocorreu passados 2 anos de separação efetiva.

4 H.C.1 referiu a designação jurídica de Homicídio Passional.

5 H.C.2 afirmou estar em desacordo com a sentença atribuída e entregou à entrevistadora uma pequenina fotocópia onde se podia ler “ Artigo 133 – Homicídio Privilegiado – Quem matar

outra pessoa dominado por compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, que diminuam sensivelmente a sua culpa, é punido com pena

de prisão de um a cinco anos.” Considera que o seu crime deveria ter sido sentenciado como homicídio privilegiado e não homicídio qualificado. 6 H.C.3 referiu a designação de Homicídio Premeditado (na realidade é homicídio qualificado uma vez que a premeditação é critério de acusação para definição da tipologia do crime)

7 H.C.5 esclarece que inicialmente tinha sido atribuído Homicídio Qualificado mas que, como terá “colaborado com a justiça” (sic), passou para Homicídio Simples.

8 A pena atribuída foi de 25 anos e 6 meses e não de 19 anos e 6 meses como foi referido por H.C.1.

9 Dos dados recolhidos junto de H.C.1 parece ter havido uma sinalização por parte dos Serviços Sociais (Assistente Social) e um pedido de emissão de mandado de condução para

internamento compulsivo do mesmo que não foi ativado pelo Delegado de Saúde Pública o que despoletou um acompanhamento breve de 3 consultas pela psiquiatria um mês antes de ser

cometido o homicídio conjugal.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xiii

ANEXO IV - GUIÃO DE ENTREVISTA SEMI - ESTRUTURADA

Nome: ________________________________________ Nº: ___/_______

Data __/__/__

PERGUNTAS

a.1 - Que idade tem?

a.2 - Qual a sua escolaridade?

a.3 - Teve acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico antes da reclusão? Se sim, qual a

duração e o motivo?

a.4 - Que tipologia foi atribuída para o seu homicídio?

a.5 - Qual a pena atribuída ?

a.6 - Qual a duração do seu relacionamento amoroso antes de cometer o homicídio?

a.7 - Que idade tinha a sua companheira?

a.8 - Tem filhos da sua companheira?

b.1 - Se lhe pedisse para dizer-me que tipo de pessoa é que, como é que o X se descreveria?

b.2 - O que é que acha que é esperado de um homem num relacionamento conjugal? E o que

é esperado de uma parceira num relacionamento conjugal ?

b.3 - Teve outros relacionamentos amorosos antes de estar com a sua parceira? Existem

diferenças ou semelhanças entre os relacionamentos anteriores e o relacionamento com a sua

parceira?

b.4 - Como é que descreveria o seu relacionamento com a sua parceira?

b.5 - Como é que descreveria a sua parceira e o que pensa que ela esperava de si?

b.6 - Quanto tempo esteve com a sua parceira? ; O que é que o fez interessar-se por ela?

Porque é que decidiram juntar-se? ; Como é que estava o relacionamento com a sua parceira

antes do homicídio?

b.7 - Como recorda a sua parceira no ato do homicídio? Como se recorda da sua parceira

após o homicídio? Recorda-a de forma diferente?

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xiv

c.1 - Como é que se recorda de si, como é que acha que estava nos dias antes de agir

mortalmente sobre a sua parceira?

c.2 - O que é que acha que o levou a agir de forma a provocar a morte da sua parceira?

c.3 - O que sente quando pensa no momento em que agiu mortalmente contra a sua parceira?

O que sente com o facto de já não estar com a sua parceira pelo facto dela estar morta?

c.4 - Quais são as consequências para a sua vida o facto de ter vindo detido pela morte da sua

parceira?

c.5 - O que acha da pena atribuída ao seu crime?

c.6 - O facto de estar em reclusão ajudou-o de alguma forma para a compreensão do que se

passou?

d.1 - No seu relacionamento acha que existiu alguma vítima e algum agressor? Quem foi a

vítima e quem foi o agressor?

d.2 - Olhando para trás o que acha do ato que cometeu? Acha que a morte da sua parceira

poderia ter sido evitada?

d.3 - No seu dia-a-dia recorda-se da sua parceira e do que o levou a esta reclusão?

Obrigada pela sua colaboração.

Rita Pereira Marques

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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ANEXO V – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO DGSP

Lisboa, 03 de Abril 2012

Exmo. Senhor Diretor –Geral

Direção Geral dos Serviços Prisionais

REQUERIMENTO

Rita Pereira Marques, psicóloga clínica com a cédula profissional nº 3199 a exercer no

Estabelecimento Prisional X vem por este meio requerer a V.Exa., no âmbito da

elaboração da Tese de Mestrado “O Homicídio Conjugal como Sintoma”, autorização

para a realização de entrevistas semi - estruturadas gravadas à população reclusa detida

neste estabelecimento por homicídio conjugal.

Desde já informo que a confidencialidade e a privacidade dos dados fornecidos serão

asseguradas pelo anonimato da identificação da população entrevistada.

Remete-se em anexo o projeto de tese aprovado pela orientadora Professora Drª

Constança Biscaia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, o guião de

entrevista semi-estruturada e por último o modelo consentimento informado a aplicar à

população reclusa.

Pede deferimento

Rita Pereira Marques

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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ANEXO VI – DESPACHO DIRETOR GERAL DOS SERVIÇOS PRISIONAIS

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

ESTE DOCUMENTO É COMPOSTO DE 2 PÁGINA/S E FEITO EM DUPLICADO: UMA VIA PARA O/A INVESTIGADOR/A, OUTRA PARA A PESSOA QUE CONSENTE xviii

ANEXO VII - CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO

PARA PARTICIPAÇÃO EM INVESTIGAÇÃO

Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se achar que algo está incorreto ou

que não está claro, não hesite em solicitar mais informações. Se concorda com a

proposta que lhe foi feita, queira assinar este documento.

Nome: ________________________________________ Nº: ___/_______

Data __/__/__

No âmbito da tese de mestrado sobre o “Homicídio Conjugal como Sintoma” a realizar

pela psicóloga Rita Pereira Marques e sob a orientação da Professora Drª Constança

Biscaia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, solicita-se a sua

colaboração nesta investigação. Os objetivos principais são compreender o

funcionamento psicológico do homicida conjugal, analisar o modelo de relação afetiva

com a vítima e perceber a motivação do ato homicida. Para isto é necessário proceder à

realização de entrevistas à população reclusa detida por homicídio conjugal. A

entrevista terá a duração aproximada de 1h30m. Os dados recolhidos ao longo da

entrevista são sujeitos a anonimato e são para uso exclusivo da investigação.

A participação neste estudo é livre e voluntária, não existindo quaisquer prejuízos

disciplinares ou outros caso o entrevistado não queira participar.

Obrigada pela sua participação.

----------------------------------- _____________________

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

ESTE DOCUMENTO É COMPOSTO DE 2 PÁGINA/S E FEITO EM DUPLICADO: UMA VIA PARA O/A INVESTIGADOR/A, OUTRA PARA A PESSOA QUE CONSENTE xviii

-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-

Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais que

me foram fornecidas pela/s pessoa/s que acima assina/m. Foi-me garantida a

possibilidade de, em qualquer altura, recusar participar neste estudo sem qualquer tipo

de consequências. Desta forma, aceito participar neste estudo e permito a utilização dos

dados que de forma voluntária forneço, confiando em que apenas serão utilizados para

esta investigação e nas garantias de confidencialidade e anonimato que me são dadas

pelo/a investigador/a.

Assinatura: … … … … … … … …... … … … … ... … … … … … … … … … … …

Data: …… /…… /………..

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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ANEXO VIII

TABELA 3: GRELHA DE CATEGORIZAÇÃO

Tema Categoria Sub-categorias

Tema A

Dinâmicas da

relação afetiva e

conjugal

A.1. Fundamentos da relação afetiva e

conjugal

A.1.1. Confiança e Diálogo

A.1.2. Fidelidade e Honestidade

A.1.3. Respeito e Cumprimento da Lei

A.1.4. Agir em Prol da Família

e ser Boa Dona de Casa

A.1.5. Objetivos Partilhados

A.2. Significado atribuído à relação

afetiva e conjugal

A.2.1. Importância atribuída à relação conjugal

A.2.2. (In)Existência de sentimento amoroso

A.2.3. Constituição de família

A.3. Fatores despoletadores da relação

afetiva e conjugal

A.3.1. Problemas com família de origem

A.3.2. Vínculo de dependência com família

da cônjuge

A.3.3. Vínculo de dependência da cônjuge

A.3.4. Partilha de projeto de vida

A.4. Principais dificuldades na relação

afetiva e conjugal

A.4.1. Dificuldade em ligar-se a alguém/

Medo da Dependência

A.4.2. (Des)Investimento e (Des)Erotização

na relação conjugal

A.4.3. Infidelidade Conjugal

A.4.4. Nascimento dos filhos e aspetos

relacionados com a parentalidade

A.4.5. Conflitualidade/Separação

A.5. Auto - representação do homicida

conjugal

A.5.1. Tipo de auto-representação

A.5.2. Ver – se/Sentir-se como

Honesto/Responsável

A.5.3. Ver – se/Sentir-se como Trabalhador

A.5.4. Ação em Prol dos Outros

A.5.5. Valores e (Des)confiança

A.6. Representação mental do homicida

conjugal sobre a cônjuge nos períodos

pré e pós homicídio

A.6.1. Resistência à evocação da representação

mental sobre a cônjuge

A.6.2. Idealização da cônjuge

A.6.3. Vulnerabilidade/Desvalorização da cônjuge

A.6.4. Questões relacionadas com vinculação

A.6.5. Expectativas atribuídas a cônjuge

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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Tema B

Ato homicida e eixo

motivacional

B.1. Auto - avaliação do homicida

conjugal no período anterior ao ato

homicida

B.1.1. Instabilidade psicológica

B.1.2. Ver-se/ Sentir-se como

vítima/Vulnerabilidade Narcísica

B.1.3. Medo de ser usado e enganado/ Manipulação

atribuída à cônjuge

B.2. Fatores despoletadores do

mecanismo de passagem ao ato

homicida

B.2.1. Introdução da lei/terceiro elemento como

regulador da relação afetiva e conjugal

B.2.2. Infidelidade conjugal

B.2.3. Conflitualidade/ Separação

B.2.4. Evocação de ferida narcísica

B.2.5. Questões relacionadas com Masculinidade

B.2.6. Perda de controlo da impulsividade/

Ruminação homicida

B.3. Evocação do ato homicida

B.3.1. Resistência ao pensamento sobre o ato

homicida

B.3.2. Paz e Tranquilidade

B.3.3. Arrependimento

B.3.4. Horror e Sentimentos de Despersonalização

B.3.5. Conflito entre ato e valores

B.3.6. Orfandade dos filhos/Perda dos familiares da

cônjuge

Tema C

Elaboração sobre o

ato homicida e

prevenção

C.1. Atribuição dos papéis de vítima e

de agressor

C.1.1. Papéis atribuídos a si próprio/ Considerações

do homicida conjugal como vítima e

agressor na relação conjugal

C.1.2. Papéis atribuídos à cônjuge

C.2. Significado da reclusão para o

homicida conjugal

C.2.1. Vivência da reclusão

C.2.2. Impato sobre o bem estar psicológico

C.2.3. Resistência em pensar em si como recluso

C.3. Considerações sobre o acordão da

sentença

C.3.1. (Des)acordo sobre pena atribuída/ tipologia

do crime

C.3.2. Abuso e Desinvestimento da Lei na procura

da verdade

C.4. Prevenção do ato homicida

C.4.1. Evitabilidade/Previsibilidade

C.4.2. Feminismo e o machismo

C.4.3. Comunicação/Respeito entre os cônjuges

C.4.4. Cumprimento das leis pelas figuras de

autoridade/ Intervenção da justiça

C.4.5. Intervenção dos meios de comunicação

social

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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ANEXO IX – ANÁLISE IDEOGRÁFICA

IX.1. PARTICIPANTE H.C.1

Na análise Dinâmica da Relação Afetiva e Conjugal verificamos que H.C.1 dá

particular ênfase à confiança e diálogo, ao respeito e cumprimento da lei e aos objetivos

partilhados centrados na atenção, dedicação e surpresa como fundamentos para a

relação com a cônjuge. Quando se explora o significado atribuído à relação afetiva e

conjugal, constata-se que H.C.1 subvaloriza a importância atribuída à relação conjugal

centrando o seu discurso na inexistência de sentimento amoroso face a cônjuge. Acresce

a isto o fato de não destacar a relação conjugal como veículo para a constituição de

família.

H.C.1 enfatiza que os problemas com família de origem, o vínculo de

dependência com família da cônjuge bem como o vínculo de dependência da cônjuge

foram preponderantes para o despoletar da relação afetiva e conjugal, rejeitando a

partilha de projeto de vida como um fator despoletador da relação.

No que diz respeito às principais dificuldades na relação conjugal, H.C.1 atribui

particular relevância à dificuldade em ligar-se a alguém/medo da dependência, ao

desinvestimento e deserotização da relação conjugal, bem como ao nascimento dos

filhos e aspetos relacionados com a parentalidade. Destaca também a

conflitualidade/separação como principal dificuldade. H.C.1 não faz referência à

existência de infidelidade conjugal.

Predomina uma representação positiva de si próprio sustentada no ver-se/sentir-

se como honesto/responsável e como trabalhador. Afirma agir em prol dos outros,

sobretudo em relação ao género feminino e refere ser ligeiramente desconfiado e

detestar a hipocrisia, a mentira e a falsidade.

H.C.1 demonstra alguma resistência à evocação da representação mental sobre a

cônjuge revelando que “não pensa na morte da sua companheira mas antes de uma

pessoa que não devia ter morrido”. Apresenta uma oscilação intensa entre a idealização

e a desvalorização e vulnerabilidade da cônjuge, ao representá-la como uma “miúda

inocente, pessoa excecional, boa mãe, boa parceira, muito trabalhadora, grande

profissional, boa dona de casa” sublinhando em simultâneo “a fragilidade” e a

“inocência”. Observa-se o que parece ser uma vinculação ambivalente oscilando entre a

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xxiii

representação da cônjuge como “mulher frágil” sobre a qual possui “enorme carinho” e

a pessoa da qual já se sente desvinculado. Considera que a cônjuge “esperava tudo de

si” designando-se como um “príncipe encantado que a dececionou”.

No estudo do Ato homicida e Eixo-Motivacional na perspetiva de H.C.1, este

refere que no período anterior ao homicídio encontrava-se em intensa instabilidade

psicológica fundamentada por um enorme “transtorno, incompreensão e desorientação”.

Nesse período estaria a fazer uma terapêutica farmacológica e terá tido “2 ou 3

consultas com um psiquiatra”. Afirma sentir-se vítima e vulnerável perante os

acontecimentos sublinhando o sentimento de abandono e falta de apoio por parte dos

familiares. É também patente no discurso de H.C.1 o sentimento de “estar a ser usado

há muito tempo “ e “que a mesma estaria a enganá-lo e manipulá-lo”.

Constatamos que a introdução da lei/terceiro elemento como regulador da

relação afetiva e conjugal é referida como um primeiro fator despoletador do

mecanismo de passagem ao ato homicida, neste caso a introdução da polícia e o recurso

a uma casa de acolhimento e ao advogado por parte da cônjuge no seguimento de

queixas de violência doméstica e psicológica. H.C.1 faz também referência à existência

de conflitualidade aquando da separação e evoca sentir-se ferido narcisicamente

interpretando as ações da cônjuge como um “jogo” e uma “mentira” e que teriam

questionado a sua credibilidade como homem. Afirma que deveria ter existido diálogo

de forma a não se sentir ferido com as ações da cônjuge. H.C.1 dá particular destaque às

questões relacionadas com a masculinidade sublinhando a luta das várias gerações das

mulheres contra a violência como um fator despoletador do descontrolo da

impulsividade por parte do homem. A perda de controlo da impulsividade e a

ruminação homicida para H.C.1 surge no momento em que o “lobo” se sente atacado

despoletando uma luta em que “a ideia é deitar abaixo o inimigo”, neste caso a cônjuge.

Quando H.C.1 se confronta com a evocação do ato homicida é patente

resistência ao pensamento sobre o ato homicida. Sobressai a oscilação entre a tentativa

de negação e clivagem das memórias/imagens associadas ao crime cometido e a

recordação frequente referindo que “ as coisas más não devem ser recordadas” e relata

sentimentos de horror e de susto face à recordação sobre o ato praticado. Sublinha

sentimentos de despersonalização manifestando dúvidas sobre o que seria real ou

fantasia nas suas recordações. Insiste também no conflito entre o ato e valores

apresentando-se como um “defensor das mulheres”.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xxiv

Na análise da Elaboração do ato homicida e prevenção H.C.1 descreve-se como

vítima da cônjuge pela violência psicológica de que seria alvo e pelo facto de se ter

exposto a um relacionamento que não desejava e que não o fazia feliz. Assume que ele

próprio se colocou no papel da vítima aceitando a relação conjugal nos moldes

descritos. Acrescenta que foram ambos vítimas e agressores salientando que, a partir do

momento em que agiu mortalmente sobre a cônjuge, ter-se-á tornado o agressor.

H.C.1 define a sua vivência da reclusão como um acontecimento do qual quer

retirar aspetos positivos para o seu futuro e sublinha a importância do tempo de reclusão

para a leitura, para o estudo e para a reflexão. Salienta que a reclusão o ajudou a

diferenciar o bem do mal e a mobilizar-se para constituir futuramente uma família com

amor, paz e harmonia.

Por outro lado alerta para o fato da reclusão provocar um impacto sobre o bem

estar psicológico, sublinhando o sentimento de que sairá “ferido”, “magoado” e

“incapacitado” nas suas competências para acompanhar a evolução dos tempos.

Demonstra resistência em pensar em si como recluso uma vez que “não pensa como

recluso porque é um sonhador” e procura se focar no exterior.

Afirma estar em desacordo sobre a pena atribuída/tipologia do crime definindo-a

como um “abuso”. Atribuí à Lei uma atitude autoritária e desinvestida na procura da

verdade assumindo uma atitude de submissão e não de compreensão face ao acórdão de

sentença.

Para H.C.1 o crime cometido poderia ter sido evitado “ A morte poderia ter sido

evitada? …sim, sem dúvida”. Defende que o homem necessita de ajuda para fazer face à

sua falta de formação e ao sentimento de ameaça perante a luta pelos direitos das

mulheres. O homem sentiria a sua honra em causa perante uma mudança tão repentina

de poder da parte da mulher. Apresenta o Homem como o elemento que se encontraria

em desvantagem e numa situação de inferioridade. Para a prevenção e evitabilidade do

homicídio conjugal sublinha a extrema importância a comunicação/respeito entre os

cônjuges. Descreve o Homem como uma “criança chateada que tem de ser ouvida,

acariciada e acalmada”. Realça como fulcral o cumprimento das leis pelas figuras de

autoridade/ intervenção da justiça, cabendo à justiça e à sociedade defender a igualdade

das regras e a coerência das leis. Apresenta também como sendo essencial para a

prevenção do ato homicida conjugal a intervenção dos meios de comunicação social

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xxv

uma vez que têm, segundo H.C.1, um papel contraditório potenciador V.S. preventivo

do homicídio conjugal. Se por um lado, apresentam o homicídio conjugal com

naturalidade por outro podem ser um aliado na sua prevenção.

IX.2. PARTICIPANTE H.C.2

Na análise da Dinâmica da Relação Afetiva e Conjugal, H.C.2 apresenta como

fundamentos essenciais da relação afetiva e conjugal a fidelidade e honestidade, o

respeito e cumprimento da Lei, o agir em prol da família e ser boa dona de casa, bem

como uma relação centrada no afeto, sensibilidade e amor. Destaca como elementos

significativos do interesse pela cônjuge “a educação, a formação e o equilíbrio”.

Apresenta como fator único despoletador da relação afetiva e conjugal, o vínculo

de dependência da cônjuge. Sublinha que as principais dificuldades centravam-se no

desinvestimento e deserotização na relação conjugal “foi um relacionamento artificial.

Não existia entusiasmo” e no nascimento dos filhos e aspetos relacionados com a

parentalidade uma vez que no seguimento da separação não teria autorização de ver a

sua filha. Destaca como principal dificuldade a conflitualidade severa no decurso da

separação.

Apresenta uma representação positiva sobre si próprio, destacando a sua

bondade e definindo-se como “uma pessoa de índice de honestidade elevado”. Realça

como principais valores o choque face aos maus-tratos dos animais.

H.C.2 nega existir resistência sobre o pensamento sobre a cônjuge sublinhando

que “ foi um ato contra alguém sem qualquer valor”. Centra o seu discurso na

desvalorização da cônjuge descrevendo-a como uma pessoa “maquiavélica” que não

poderia ser considerada como “um ser humano”. Refere-se à cônjuge como

“maquiavélica, hipócrita, matreira, sádica, egoísta, delinquente, sem auto-estima”.

Demonstra o que parece ser uma vinculação desorganizada e negativa. H.C.2 constata

que a cônjuge esperava o que todas as mulheres esperam “que seria ser feliz com o

outro”.

No estudo do Ato homicida e Eixo-Motivacional H.C.2 enfatiza um estado de

enorme instabilidade psicológica no período anterior ao crime cometido, fundamentado

por um estado de angústia, indignação, revolta, desespero e alterações psicossomáticas.

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xxvi

H.C.2 considera que, quer ele quer a filha estariam a ser vítimas de falta de

respeito e de “incumprimento da regulação do poder paternal” por parte da cônjuge.

Conclui-se também no discurso de H.C.2 o medo de ser usado e enganado/manipulação

atribuída à cônjuge, sublinhando que da parte da cônjuge era tudo “encenação e

representação”.

H.C.2 destaca como fatores despoletadores do mecanismo de passagem ao ato a

introdução da lei/terceiro elemento como regulador da relação afetiva e conjugal pela

figura do advogado, bem como existência da conflitualidade/separação e a evocação da

ferida narcísica. Define a falta de cumprimento da regulação de poder paternal

decretada pelo Tribunal, a falta de acesso à filha e a falta de cuidados da parte da

“progenitora” para com a filha como aspetos insuportáveis e de difícil elaboração.

Apresenta a passagem ao ato homicida como a única hipótese para ele e a filha

terem “paz”. Contesta o favorecimento do papel da mãe em detrimento do pai no

reconhecimento jurídico e social. Relata uma grave perda de controlo da impulsividade

e ruminação homicida centrada num sentimento de desespero e pensamentos repetitivos

sobre o prejuízo que a cônjuge lhe estaria a causar, o desprezo sentido pela filha

interpretando os comportamentos da cônjuge como manifestações de ódio para si e para

a filha.

Este participante não demonstra resistência ao pensamento sobre o ato homicida,

justificando o seu ato devido à “conduta delinquente da progenitora” e que não terá sido

um ato cometido por vingança na medida em que “não sente que tenha tirado nada de

valor”. Face à evocação do ato cometido surgem sentimentos de horror, paz e

tranquilidade. H.C.2 considera que ao ter agido mortalmente contra a cônjuge terá

criado “condições” para a família ter uma vida sã.

Na análise da Elaboração do ato homicida e prevenção, H.C.2 imputa de forma

inequívoca o papel de agressor à cônjuge atribuindo a si e à sua filha o papel de vítimas.

Centra o seu discurso na falta de escrúpulos demonstrada pela cônjuge e nas

consequências negativas sobre si e sobre a sua filha. Interpreta os atos da cônjuge como

agressões e manifestações de desprezo e ódio. Conclui que terão sido estes atos de

agressão da parte da cônjuge que o terá levado ao homicídio.

H.C.2 caracteriza a sua vivência de reclusão como “irrelevante”. Centra o

impacto da reclusão na destruição da sua vida e na promoção da separação com a sua

filha. Demonstra uma forte resistência em pensar em si como recluso culpabilizando a

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

xxvii

cônjuge e a sua “falta de escrúpulos” pelo sucedido. Considera-se vítima e refém do

sistema jurídico. No seguimento disto, designa como “absurda” a pena atribuída e

sublinha o seu desacordo face à tipologia definida para o seu crime. Para H.C.2 o seu

homicídio deveria ter sido considerado homicídio privilegiado, e não homicídio

qualificado, uma vez que considera ter agido sobre “um estado alterado de consciência”.

Responsabiliza a justiça e intitula-a de “justiça delinquente”. Reitera um abuso da Lei

na procura da verdade sublinhando que a instituição do Tribunal não estava orientado

para a descoberta da verdade.

Para H.C.2 o crime cometido poderia ter sido evitado “ Claro que a morte

poderia ter sido evitada”. Apresenta como aspetos primordiais para a evitabilidade do

ato homicida a comunicação/respeito entre os cônjuges e o cumprimento das leis pelas

figuras de autoridade/ intervenção da justiça. Para este participante teria sido essencial

uma atitude de cumprimento, respeito pela filha e pela família por parte da cônjuge.

Refere também a necessidade de uma justiça operante que tivesse cumprido as suas

obrigações em tempo útil “A justiça é inoperante, fica na expectativa da tragédia para,

quando acontecer, delinquir. E se não houvesse advogados sem escrúpulos a explorar,

abusar das fragilidades do sistema de justiça.”

IX.3. PARTICIPANTE H.C.3

Na Dinâmica da Relação Afetiva e Conjugal, H.C.3 destaca como fundamentos

essenciais da relação afetiva e conjugal a confiança e diálogo, a fidelidade e

honestidade, o respeito e cumprimento da lei e a luta pelos mesmos objetivos. Realça a

estabilidade, a calma, e tranquilidade e os pontos de identificação quando se refere à

importância atribuída à relação com a cônjuge. Define a cônjuge como sendo a mulher

da sua vida, e estabelece uma ligação direta entre a relação afetiva e a possibilidade de

constituir de família.

H.C.3 considera que o vínculo de dependência com a família da cônjuge e a

partilha de projeto de vida foram os fatores preponderantes para o despoletar da relação

afetiva e conjugal.

Indica como principais dificuldades do relacionamento a dificuldade em ligar-se

a alguém/medo da dependência, o desinvestimento e a deserotização na relação conjugal

por parte da cônjuge. Complementa com a existência de conflitualidade severa

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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decorrente da vontade da cônjuge em separar-se, da infidelidade conjugal e da

instabilidade emocional da cônjuge no seguimento do nascimento do filho.

Sublinha possuir uma representação positiva de si próprio, definindo-se como

“tranquilo…amigo do amigo…dou mais do que recebo” e como trabalhador. Apresenta

como principais valores a intolerância à traição e mentira, bem como a crítica à

violência. Considera que age segundo os seus princípios.

Demonstra resistência à evocação da representação mental sobre a cônjuge

defendendo-se da culpa face ao seu ato pela evocação das “palavras” que o terão

despoletado. Apresenta uma forte oscilação entre a idealização da cônjuge descrevendo-

a como uma “mulher 5 estrelas, boa companheira, boa amiga, boa mãe com um coração

de oiro” e a desvalorização da cônjuge descrevendo-a como pessoa vulnerável,

“desequilibrada”, “confusa” e “sem cuidado na linguagem que teve”. H.C.3 parece

possuir uma vinculação ambivalente face à cônjuge oscilando entre o amor e a zanga.

Demonstra dificuldade em descentrar-se de si próprio atribuindo à cônjuge as suas

próprias expectativas enfatizando que aquela procuraria “ um marido cinco estrelas”.

No estudo sobre o Ato Homicida e Eixo-Motivacional, H.C.3 faz referência a

um estado de profunda alteração e de stress no período anterior ao crime. Sublinha

sentir-se vítima e vulnerável quando observa o total investimento efetuada da sua parte

na relação conjugal e o desinvestimento da sua vida em prol da cônjuge. Manifesta

elementos que substanciam a existência do medo de ser usado e enganado/manipulação

atribuída à cônjuge ressaltando que “ a pessoa que mais gostava estava a gozar comigo”.

H.C.3 afirma a presença de traição ao nível sexual e conjugal por parte da cônjuge.

Os fatores despoletadores do mecanismo de passagem ao ato homicida parecem

centrar-se na infidelidade conjugal, uma vez que terá descoberto que a cônjuge tinha um

relacionamento extra-conjugal. Aborda a conflitualidade/separação decorrentes da

existência de um terceiro elemento e das dificuldades de diálogo e zanga entre ambos.

Parece existir a evocação de ferida narcísica pelo fato de sentir se gozado pela pessoa

amada e de imaginar este terceiro elemento a ter contato com o filho. Surgem também

elementos relacionados com a masculinidade, centrados na competição com o terceiro

elemento. Realça a perda de controlo da impulsividade e a ruminação homicida

confirmando a existência de pensamentos circulares sobre o que a cônjuge faria com o

terceiro elemento na intimidade, bem como sentimentos de raiva e de desespero com

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impossibilidade de se descentrar dos mesmos “era só eu e ela e a minha raiva”. No que

diz respeito à resistência ao pensamento sobre o ato homicida, H.C.3 manifesta uma

oscilação entre a negação e clivagem e a recordação frequente sobre o ato cometido

relatando que se “recorda muitas vezes”. Verbaliza sentimentos de arrependimento e

horror. Apresenta como justificação para o ato cometido e diminuição do seu

sentimento de culpa as palavras trocadas com a cônjuge no período pré-homicídio.

Considera o seu ato, “um ato bárbaro”. Refere ainda um conflito entre o ato e os valores

uma vez que é contra a violência e portanto contra o ato cometido. Destaca a orfandade

dos filhos/perda dos familiares da cônjuge relembrando o fato do filho “não ter mãe”

por sua causa.

No que diz respeito à Elaboração sobre o ato cometido e Prevenção, H.C.3

diferencia os papéis atribuídos ao longo da relação conjugal afirmando que ele terá sido

a vítima e a cônjuge a agressora devido ao seu empenho total na relação e os papeis

atribuídos no momento em que agiu mortalmente contra a cônjuge a partir do qual

passou a ser ele o agressor. Oscila entre designar-se como vítima quando confrontado

com os sentimentos de agressão e ódio face às palavras da cônjuge ou como agressor

quando confrontado com o arrependimento perante a morte da mesma.

A vivência da reclusão é sentida por H.C.3 como um período de clarificação e de

fortalecimento sobre os motivos pelos quais agiu mortalmente contra a cônjuge, e como

um acontecimento que trará consequências na relação com o seu filho. O fato de ter

vivenciado a reclusão devido ao crime cometido contra a cônjuge é algo que ficará

marcado para o resto da sua vida. Destaca sobretudo a falta de atividade durante o

período de reclusão, como fator que teria impato no seu bem estar psicológico.

Demonstra resistência em pensar em si como recluso focando-se sobretudo na opinião

pública e na manifestação de apoio perante o ato cometido.

Afirma estar em desacordo com a pena atribuída/tipologia do crime

caracterizando-a como “pesada demais” quando comparada com crimes que, segundo o

H.C.3, seriam praticados por psicopatas. Sente ter existido abuso/ desinvestimento da lei

na procura da verdade, uma vez que sente que não foram tidas em conta as atenuantes

de ter cooperado com a polícia e não ter quaisquer antecedentes criminais.

H.C.3 sublinha que o crime poderia ter sido evitado “ Sim, poderia ter sido

evitado”. Considera que para isso teria sido fulcral a comunicação/respeito entre os

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cônjuges. Acentua a importância da atitude de diálogo e calma da parte da cônjuge para

a evitabilidade e prevenção do ato homicida.

IX.4. PARTICIPANTE H.C.4

Na análise Dinâmica da Relação Afetiva e Conjugal apurou-se que H.C.4

destaca como principais fundamentos o respeito e cumprimento da lei, o agir em prol da

família, ser boa dona de casa e a partilha de objetivos centrados no amor e na amizade.

Ressalta como elemento mais significativo a juventude e a beleza da cônjuge. Apresenta

como único fator despoletador da relação o vínculo de dependência da mesma.

Para H.C.4 as principais dificuldades da relação centravam-se na existência de

infidelidade conjugal, e concomitante conflitualidade/separação. Associada à

infidelidade conjugal, refere a ocorrência de violência conjugal e consumos elevados de

álcool.

Possui uma representação positiva sobre si próprio, contextualizando-a no

momento presente “sim considero-me uma boa pessoa embora esteja aqui” e

justificando-a pela diminuição da impulsividade que diz verificar-se no momento atual.

Manifesta resistência à evocação da representação mental sobre a cônjuge

assumindo que “evita pensar” sobre a companheira e que procura negar a evocação

constante de uma imagem traumática. Parece existir uma vinculação ambivalente pelo

facto da cônjuge ter sido alguém que amou e que matou. H.C.4 possui dificuldades em

pensar sobre as expectativas da cônjuge por sentir que existia uma contradição entre as

palavras de amor e o atos de traição da mesma.

No que diz respeito ao Ato homicida e Eixo Motivacional, HC.4 faz referência à

instabilidade psicológica sustentada por um intenso stress e desorientação. É de

salientar que nesse período H.C.3 estaria a fazer uma terapêutica farmacológica. Define-

se como vítima e vulnerável pelo facto de ser perseguido pela cônjuge e por esta

manifestar dificuldades na separação que estariam a prejudicar a sua vida. Parece

manifestar medo de ser usado e enganado/manipulação atribuída à cônjuge pela

contradição entre os seus atos e palavras.

H.C.4 apresenta como fatores despoletadores do ato homicida a existência de

infidelidade conjugal que terá ocorrido de ambas as partes e a conflitualidade/separação

daí decorrentes. Afirma que o relacionamento estava “péssimo” e que a cônjuge não

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aceitava a separação fazendo uma espécie de perseguição, criando problemas na família

e no relacionamento amoroso que teria na altura. Observa-se a evocação da ferida

narcísica uma vez que H.C.4 considera-se incapaz de travar o prejuízo familiar,

amoroso e pessoal que a cônjuge lhe estaria a provocar. Apresenta a perda de controlo

da impulsividade e a ruminação homicida no seguimento de se sentir “cercado”, e como

única forma de se “livrar daquela pressão toda”. Associa ainda a perda de controlo da

impulsividade e o nível de violência da passagem ao ato homicida ao consumo de

álcool.

H.C. 4 manifesta uma intensa resistência ao pensamento sobre o ato homicida

oscilando entre a negação e tentativa de clivagem e a recordação frequente sobre o

crime cometido. H.C.4 refere que “evita pensar na companheira” e que possui “uma

imagem muito forte” que não deseja partilhar e ao mesmo tempo que “pensa naquele

minuto sempre”. Relata arrependimento sublinhando que “desgraçou a sua vida e a

dela” bem como sentimentos de horror/ despersonalização. Realça um conflito entre o

seu ato e valores enfatizando que “ ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém” e

de ser chocante ter sido uma mulher a ser morta. Coloca-se no lugar dos familiares da

cônjuge quando confrontados com a perda.

Na análise da Elaboração do ato homicida e Prevenção, H.C.4 atribuí a ambos os

papéis de vítima e de agressor, afirmando que se “atacavam” mutuamente na relação

conjugal. Ao sentir-se como agressor e vítima na relação conjugal, oscila entre o

sentimento de prejuízo e de perseguição por parte da cônjuge e o sentimento de

responsabilidade perante o seu ato mortal.

Para H.C.4 a vivência da reclusão é sentida como positiva uma vez que

provocou uma forte mudança na sua forma de ser, na capacidade de pensar, bem como a

extinção dos comportamentos etanólicos e a diminuição do grau de violência que

manifestava em determinadas situações. Centra o impacto sobre o bem estar psicológico

da reclusão nos sentimentos de incerteza sobre a forma como a nova companheira irá

recebê-lo tendo conhecimento de que esteve detido por homicídio conjugal. Verbaliza

dúvidas e antecipa dificuldades no confronto com a verdade. H.C.4 assume-se como

recluso em cumprimento de pena pelo homicídio da sua companheira, ao mesmo tempo

que afirma querer esquecer este acontecimento na sua vida.

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Encontra-se em total acordo com a pena atribuída/tipologia do crime salientando que

“Acho pouco…e fico revoltado quando vejo crimes como o meu e piores terem menos

pena do que eu(…)”.

H.C.4 considera que o crime poderia ter sido evitado caso existisse um terceiro

elemento como mediador do conflito e caso não estivesse sob o efeito do álcool.

Apresenta como elemento essencial para a prevenção do ato homicida a

comunicação/respeito entre os cônjuges. Para H.C.4 a atitude de respeito por parte da

cônjuge teria sido a aceitação da separação.

IX.5. PARTICIPANTE H.C.5

Na análise da Dinâmica da Relação Afetiva e Conjugal é possível constatar que

para H.C.5 o fundamento da relação afetiva e conjugal é o respeito e o cumprimento da

lei. Destaca como elemento significativo o fato de sempre ter desejado ter uma

companheira para o resto da vida realçandoo desejo de constituir família como aspeto

central. H.C.5 assinala como fatores despoletadores da relação afetiva e conjugal o

vínculo de dependência com a família da cônjuge e a partilha de projeto de vida

centrado no trabalho. Realça como principais dificuldades o desinvestimento e

deserotização na relação conjugal, o nascimento dos filhos e aspetos relacionados com a

parentalidade e sobretudo a infidelidade conjugal e a conflitualidade/separação.

H.C.5 possui uma representação positiva de si próprio descrevendo-se como

“um camarada simples e humilde”, e como trabalhador. Define como principais valores

a intolerância à traição ressalvando, no entanto, não ser ciumento. Não refere

resistência na evocação da representação mental sobre a cônjuge e centra a sua

descrição na desvalorização e vulnerabilidade sublinhando que seria uma mulher “muito

ambiciosa” e que teria perdido a cabeça por causa do dinheiro. Parece existir uma

vinculação ambivalente com oscilação de afetos de amor e zanga atribuindo à cônjuge a

expectativa de “subir na vida”.

No estudo sobre o Ato homicida e Eixo Motivacional H.C.5 considera que, no

período anterior ao homicídio, não sentia qualquer instabilidade psicológica. Descreve-

se, no entanto, como vítima e vulnerável pela falta de reconhecimento do seu esforço de

trabalho por parte da cônjuge. Faz alusão ao medo de ser usado e

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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enganado/manipulação atribuída à cônjuge focando-se na desconfiança relativamente ao

usufruto dos bens.

Apresenta como fator despoletador do mecanismo de passagem ao ato homicida

a infidelidade conjugal e o confronto repentino com a traição. De facto, H.C.5 foi

confrontado com o relacionamento extra-conjugal da cônjuge. Apesar do fator

despoletador parece ter existido uma associação entre este e a conflitualidade. H.C.5

refere que seria a cônjuge a ter “ciúmes” de si e no discurso fica patente a suspeita de

eventual traição anterior aos acontecimentos. Observa-se a evocação de ferida narcísica

pelo confronto repentino com o terceiro elemento e com a luta que afirma ter travado ao

longo da vida para que isso não acontecesse. Apesar de negar o poder de um homem

retirar a vida a uma mulher, não terá encontrado neste aspeto um travão para o seu ato

homicida. Torna-se evidente uma perda de controlo da impulsividade assumindo que foi

um ato imediato que não foi sujeito ao pensamento e à ponderação.

Não demonstra resistência ao pensamento sobre o ato homicida sublinhando que

pensa todos os dias no que se passou, e questiona-se do porquê de não poder viver com

a sua cônjuge uma longevidade semelhante à dos seus avós. É patente o sentimento de

arrependimento face ao crime cometido e o desalento por não poder, deste modo, viver

para sempre junto com a sua companheira. Observa-se um conflito entre ato e valores e

destaca a orfandade dos filhos. Considera que um “homem não deve tirar a vida a uma

mulher por causa de uma traição” e coloca-se no lugar dos filhos empatizando com o

seu sofrimento por não terem mãe.

No que diz respeito à Elaboração do ato homicida e Prevenção, H.C.5 atribui o

papel de agressor à cônjuge e sublinha as consequências nefastas da traição por parte da

mesma “ Para mim eu sinto que agressão foi dela (…)”. Sustenta que a cônjuge terá

estragado a vida de ambos e manifesta dificuldade de compreensão sobre a traição

consumada.

Sublinha que a sua vivência da reclusão permitiu perceber a

desproporcionalidade do seu ato face a uma traição e a necessidade de evitar futuras

reincidências. Assegura que, em reclusão, manteve a responsabilidade que já existia

anteriormente face aos seus filhos. Por outro lado, afirma que a reclusão terá provocado

uma perda dos objetivos delineados para a sua vida. Realça o impacto sobre o bem estar

psicológico vendo intensificada a responsabilidade do seu ato face aos seus filhos, bem

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Homicídio Conjugal como Sintoma “Se eu amasse a minha mulher não a tinha morto”

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como os sentimentos de culpabilidade associados. H.C.5 não demonstra resistência de

pensar em si como recluso chegando mesmo a sublinhar que entregou-se de forma

voluntária às autoridades por assumir caracter criminoso do seu ato “ Eu entreguei-me

porque sei que fiz errado(…)”. H.C.5 confirma que, apesar da reclusão provocar

consequências negativas sobre a sua vida, encontra-se de acordo com a pena

atribuída/tipologia do crime por corresponder à verdade dos fatos.

Corrobora que o crime poderia ter sido evitado assumindo que, da sua parte, deveria ter

existido uma atitude de ponderação, pensamento e de separação da cônjuge “Sim, eu

penso que naquela hora eu podia ter virado as costas e ter batido com a porta e pegava

nas minhas roupas…mas infelizmente só pensamos depois de acontecer…”. H.C.5

parece centrar o seu crime no ato de honra do homem face à traição da mulher.

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ANEXO X – GRELHAS DE ANÁLISE DE CONTEÚDO