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Boletim 347 | 18 de novembro de 2016 | www.assibge.org.br O IBGE precisa de uma política CLARA O currículo e a atuação política no projeto de governo não deixam dúvidas sobre o que Rabello pre- tende para o IBGE. Na entrevista que concedeu ao jornal Valor Econômico (27/10/2016), Rabello de Castro abriu o jogo: sua meta é ampliar as informações coletadas pelo IBGE, sem mexer na es- trutura de pessoal, para vender serviços, produtos e pesquisas a grupos privados. Para isso, pretende manter a filoso- fia implantada pela administração Was- mália Bivar, de "fazer mais com menos". Em sua entrevista, Rabello deixou claro que o IBGE já está preparado para isso, bastando agora implantar o sistema "Pesque e Pague". O projeto preconizado pelo novo Pre- sidente é claro. Ele cita o caso do Stat- Can, órgão oficial de estatística do Ca- nadá, "que tem de 20% a 30% de sua re- ceita provenientes de atividades de convênios, de trabalhos espe- ciais, que são pedagiados". Desde a posse do empresário Paulo Rabello de Castro na Presidência do IBGE, a ASSIBGE-SN apontou o risco daquela nomeação para um instituto público de estatística e geografia, que deve se orientar pela independência de interesses privados. Neste modelo, com pouco pessoal efetivo rodeado de temporários por todos os lados, caberá ao Presidente do IBGE fazer o que mais gosta: cum- prir o papel de garoto-propaganda do governo junto à mídia, do modelo que imagina ser o melhor para o IBGE e o serviço público. Na entrevista ao Valor Econômico, PRC deixou evidente que para implan- tar sua filosofia no serviço público, pretende alterar a base legal que sus- tenta a função do IBGE enquanto um Instituto (cuja missão é prestar servi- ços à sociedade), ou seja, pretende modificar o estatuto do IBGE. E isso só é possível através de Projeto de Lei. Daí porque, desde que chegou ao IBGE, PRC prioriza toda uma costura política com governadores, senadores e deputados em favor do que chama de "GEMA", uma frente parlamentar para tratar da Geografia, da Estatísti- ca e do Meio-Agroambiental, que deve oficializar ainda este ano. Foi com este objetivo que PRC reali- zou o pré-lançamento da GEMA, em Brasília, em 9 de novembro, que terá como coordenador o deputado ficha suja Carlos Melles (DEM/MG), de acordo com o Movi- mento Ficha Limpa. Ibegeanos aguardam respostas às suas reivindicações PÁGINA 4 Nem autoritarismo, nem omissão, nem GEMA:

O IBGE precisa de uma política CLARA - … · Em nosso caso o que foi reduzido nos últi-mos anos foi o quadro de efetivos. No entanto, o qua-dro de pessoal se manteve, só que com

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Page 1: O IBGE precisa de uma política CLARA - … · Em nosso caso o que foi reduzido nos últi-mos anos foi o quadro de efetivos. No entanto, o qua-dro de pessoal se manteve, só que com

Boletim 347 | 18 de novembro de 2016 | www.assibge.org.br

O IBGE precisa de uma política CLARA

O currículo e a atuação política no projeto de governo não deixam dúvidas sobre o que Rabello pre-

tende para o IBGE. Na entrevista queconcedeu ao jornal Valor Econômico(27/10/2016), Rabello de Castro abriu ojogo: sua meta é ampliar as informaçõescoletadas pelo IBGE, sem mexer na es-trutura de pessoal, para vender serviços,produtos e pesquisas a grupos privados.

Para isso, pretende manter a filoso-fia implantada pela administração Was-mália Bivar, de "fazer mais com menos".Em sua entrevista, Rabello deixou claroque o IBGE já está preparado para isso,bastando agora implantar o sistema"Pesque e Pague".

O projeto preconizado pelo novo Pre-sidente é claro. Ele cita o caso do Stat-Can, órgão oficial de estatística do Ca-nadá, "que tem de 20% a 30% de sua re-

ceita provenientes de atividades deconvênios, de trabalhos espe-

ciais, que são pedagiados".

Desde a posse do empresário Paulo Rabello de Castro na Presidência do IBGE, a ASSIBGE-SNapontou o risco daquela nomeação para um instituto público de estatística e geografia,

que deve se orientar pela independência de interesses privados.

Neste modelo, com pouco pessoalefetivo rodeado de temporários portodos os lados, caberá ao Presidentedo IBGE fazer o que mais gosta: cum-prir o papel de garoto-propaganda dogoverno junto à mídia, do modelo queimagina ser o melhor para o IBGE e oserviço público.

Na entrevista ao Valor Econômico,PRC deixou evidente que para implan-tar sua filosofia no serviço público,pretende alterar a base legal que sus-tenta a função do IBGE enquanto umInstituto (cuja missão é prestar servi-ços à sociedade), ou seja, pretendemodificar o estatuto do IBGE. E isso sóé possível através de Projeto de Lei.

Daí porque, desde que chegou aoIBGE, PRC prioriza toda uma costurapolítica com governadores, senadorese deputados em favor do que chamade "GEMA", uma frente parlamentarpara tratar da Geografia, da Estatísti-ca e do Meio-Agroambiental, que deveoficializar ainda este ano.

Foi com este objetivo que PRC reali-zou o pré-lançamento da GEMA, emBrasília, em 9 de novembro, que terácomo coordenador o deputado fichasuja Carlos Melles (DEM/MG),de acordo com o Movi-mento Ficha Limpa.

Ibegeanos aguardam respostas às suas reivindicações PÁGINA 4

Nem autoritarismo, nem omissão, nem GEMA:

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Como fiel escudeiro de Temer e um dos que parti-ciparam da elaboração do documento "Uma pontepara o futuro", Castro usa da função que ora exer-ce a frente do IBGE para defender abertamente apolítica do governo, como a PEC 241 (agora PEC55),dentre outras. Isso é o que os membros do atualgoverno acusavam o anteri-or de fazer: aparelhamentopartidário do Estado.

Rabello se apresentou comoum representante do gover-no Temer no IBGE e comoPresidente do IBGE seguesendo um representante dogoverno Temer. Essa postu-ra ficou clara em sua entre-vista ao programa "Canal Li-vre", da Rede Bandeirantesde Televisão, no dia 9/10/2016, na qual defendeu todoo projeto do governo, a Re-forma da Previdência, a Re-forma Trabalhista e a PEC 55.

Num órgão que sempre pre-sou por sua postura essenci-almente técnica, servidoressão terminantemente proibi-dos de expressar posiciona-mentos de qualquer nature-za enquanto se identificaremcomo membros da Institui-ção. Entretanto, o próprioPresidente, em qualquermeio defende clara e ativa-mente a política governa-mental. Isto constitui uma vi-olação dos princípios funda-mentais de estatísticas ofici-ais da ONU e uma ameaça àcredibilidade do IBGE, dosseus técnicos e do produtodo seu trabalho.

Algumas pistas do queessa política representasão os recentes episódiosenvolvendo discursos dosenador Ataídes Oliveira(PSDB/TO) sobre o cálcu-lo do desemprego peloIBGE, e a crise interna noIpea, causada pelo resulta-do de uma Nota Técnica quecontraria a política econô-mica do governo Temer.

Nos dois casos o que severifica é uma evidentetentativa de enquadrar edesmoralizar o corpo téc-nico dos dois mais impor-tantes institutos públicosde pesquisa do país. Ataí-des (que não tem qualifi-

cação técnica para tal), seprestou ao papel de acusa-dor, da tribuna do Senado,levantando o dedo em ris-te contra o trabalho execu-tado pelos ibgeanos, colo-cando em risco, inclusive, acredibilidade do IBGE, aoafirmar que sempre des-confiou dos dados oficiaisdo desemprego divulgadospelo Instituto.

Como fiador de suas acu-sações, Ataídes Oliveira citouo próprio Presidente do IBGEque, de acordo com o sena-dor, teria lhe assegurado queos verdadeiros dados sobre odesemprego seriam revela-dos a partir de setembro des-te ano. Na verdade, o quehouve foi uma ampliação dosindicadores sobre o mercadode trabalho no Brasil, aten-dendo a uma orientação daOrganização Internacional doTrabalho (OIT), mas a meto-dologia de cálculo do desem-prego se manteve a mesma.

Apesar das asneiras pro-feridas pelo senador, nem o

Presidente do IBGE ou marqueteirodo governo Temer ?Em suas aparições e entrevistasRabello de Castro não prioriza assuntosrelativos ao IBGE e suas tarefas,que são inúmeras.

Senador falastrão e enquadramento do IpeaPresidente e nem o Conse-lho Diretor do IBGE se ma-nifestaram a respeito, se-quer para esclarecer o quese passa. Coube à ASSIBGE-SN cobrar uma postura dadireção do órgão, que per-manece calada.

Já no Ipea um estudosobre os efeitos da PEC241 na área da saúde pú-blica, divulgado na NotaTécnica 28, foi atacadopelo Presidente do órgão,que publicou declaraçãooficial contrária, além dechamar os autores paraque desmentissem o traba-lho, o que resultou em pe-dido de exoneração da pes-quisadora que coordenavaa área de saúde.

Portanto, é evidente queexiste uma sinalização deque, tanto no IBGE quantono Ipea, haverá uma políti-ca de patrulhamento e des-moralização do corpo técni-co, quando suas conclusõese estudos contrariarem ogoverno Temer.

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No terreno dapolítica interna doIBGE, Rabello deCastro delega aoConselho Diretor(CD) as tarefas dodia a dia, tanto dapolítica de pessoalquanto a deadministrar verbas edemandascotidianas.

Isso indica que houve umaespécie de acordo de divisãode tarefas entre o CD e onovo Presidente: enquantoRabello de Castro dá a linhade ação mais geral e buscaparceiros para essa políticaprivatista no IBGE, os mem-bros do CD tocam o barcointernamente.

Uma rápida análise nasituação do IBGE mostra queas bases para a implantaçãoda política do governo Te-mer estão dadas, com umquadro de pessoal e um or-çamento enxuto, como oSindicato já vinha denunci-ando nos últimos anos. A ta-refa foi facilitada pela admi-nistração Wasmália, com

Conselho Diretor precisa se posicionar

anuência do governo Dilma,que apostou na redução depessoal efetivo e sua substi-tuição por mão de obra tem-porária, além do contingen-ciamento de verbas para aspesquisas.

Como reconhece o pró-prio Rabello, os recursos doIBGE em termos reais são30% inferiores aos de seteanos atrás e o custeio do Ins-tituto não acompanhou ogasto médio do governo fe-deral. Apesar de ressaltar aredução do quadro de pes-soal (de 7.359 em dezembrode 2007 para 5.265 em se-tembro de 2016), Rabello re-conhece que o IBGE produzduas vezes mais pesquisas

do que há dez anos atrás.Ao contrário do que afir-

mou Rabello de Castro, nopré-lançamento da GEMA,o Instituto de pesquisas ofi-ciais do México não traba-lha com grande quantidadede pessoal, se comparadoao IBGE. Em nosso caso oque foi reduzido nos últi-mos anos foi o quadro deefetivos. No entanto, o qua-dro de pessoal se manteve,só que com o aumento demão de obra temporária,ganhando muito menos ecom quase nenhum bene-fício. Esse é o modelo queo governo Temer pretendeimplantar em todo o servi-ço público?

É evidente que o IBGEnão só precisa de um orça-mento compatível com suastarefas, como também deconcurso público para suprira carência de pessoal efeti-vo, além de um Plano deCarreira que dê estímulo aosseus servidores.

No entanto, o ConselhoDiretor continua mudo so-bre o projeto de IBGE queRabello pretende implan-tar. Este Conselho, na me-dida em que não se posici-ona, é corresponsável portudo o que esse Presiden-te fizer nessa instituição.Os presidentes passam,como tantos já passaram,mas o IBGE fica.

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Jogo Rápido • Boletim Informativo da ASSIBGE-SN | Sede: Av. Presidente Wilson, 210 - 8º andar - Castelo - Rio de Janeiro/RJ | CEP 20030-021www.assibge.org.br | [email protected] | Jornalista responsável: Henrique Acker (MTb 17.635) | Diagramação/arte: Juarez Quirino

Nenhuma mudança no IBGEsem debate com o corpo técnicoEstá delineado o que Paulo Rabellode Castro pretende para o IBGE: umaagência de estatística transformadaem organização social (integral ouparcialmente), fazendo projetos seminteresse para a população, para

• Quando será a instalação do Grupo deTrabalho sobre carreira e o que a Direçãodo IBGE tem feito a este respeito?

• Em quanto o Orçamento do IBGE seráafetado, caso a PEC do congelamento deinvestimentos públicos for aprovada?

• Haverá verba para a realização do CensoAgropecuário em 2017, como prometeuo Presidente do IBGE?

• Quando será pago o adicional de campopara os servidores temporários?

• A Direção do IBGE vai continuar negandoa liberação de ponto dos temporáriospara participar nos fóruns do Sindicato?

• Até quando serão impostas restriçõesàs atividades sindicais no IBGE, comoa limitação de assembleias ao horáriode almoço?

atender aos setores privados, um"Pesque e Pague". Nesta condição,parcela dos servidores poderá ter,inclusive, outro regime de trabalhoque não o Regime Jurídico Único(RJU), sem necessidade de concur-so público.

Consideramos absurda a im-plantação de mudanças instituci-onais sem a participação do corpotécnico e sem um amplo debateque se instale na casa, através deum Congresso Institucional, comoreivindica a categoria. A ASSIBGE-SN exige esclarecimentos da Dire-ção sobre seu projeto de IBGE e co-bra a defesa dos ataques que temrecebido, protegendo a credibilida-de da Instituição, algo que seus tra-balhadores têm construído com sa-

crifício ao longo de 80 anos.Os servidores do IBGE não estão

dispostos a compactuar com essapolítica de privatização, imposta decima para baixo, disfarçada de "novomodelo", com apoio de parlamenta-res que pouco ou quase nada enten-dem da missão do Instituto. Ao con-trário de uma GEMA, que sirva parasatisfazer os interesses de políticose reduzir direitos da população, que-remos uma POLÍTICA CLARA, queamplie a atuação do IBGE cada vezmais, visando a prestando serviçosestratégicos de planejamento de po-líticas públicas.

Mais uma vez, a ASSIBGE-SN co-bra da Direção atendimento à soli-citação de reunião do Sindicato como Presidente.

Os ibgeanos querem saber: